O documento discute a inserção dos assistentes sociais nas Residências Multiprofissionais em Saúde na Atenção Básica. A pesquisa analisou as contribuições dos assistentes sociais para a construção da integralidade no SUS e as repercussões da Residência nessa profissão. Os resultados mostraram que os assistentes sociais realizam diversas ações na atenção básica, com foco no controle social e saúde da família. Eles também contribuem para a integralidade com sua visão crítica e totalizante da saú
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Inserção dos assistentes sociais nas Residências
Multiprofissionais em Saúde na Atenção Básica: formação
para a integralidade?
V Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
Apresentador Thaísa Teixeira Closs 1, Dra. Jane Cruz Prates 2 (orientador)
Programa de Pós-graduação da Faculdade de Serviço Social PUCRS
Introdução
O presente trabalho foi desenvolvido a partir do curso de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Serviço Social da PUCRS. O objetivo geral que norteou a pesquisa foi
analisar a inserção do Serviço Social na Residência Multiprofissional em Saúde na Atenção Básica,
com vistas a identificar as contribuições do Serviço Social para a construção da integralidade e as
repercussões da Residência nessa profissão.
Transcorridos cerca de duas décadas da implantação do SUS, muito se avançou quanto à
universalização, mas ainda permanecem desafios no que se refere às mudanças efetivas na forma
realizar a atenção em saúde, em especial no que concerne a efetivação da integralidade. Neste
horizonte, a temática do trabalhador e do trabalho realizado nessa política assume destaque nesse
processo de mudanças, demarcando a importância de profissionais sintonizados com as demandas
emergentes para esse sistema. Assim, coloca-se a necessidade de ampliação das políticas de
Recursos Humanos em Saúde, dentre as quais se situa a Residência Multiprofissional em Saúde.
A Residência trata-se de uma modalidade de formação pós-graduada, lato sensu,
desenvolvida em serviços do SUS, sob supervisão técnico-profissional. Sua potencialidade reside
em estar orientada para o atendimento ampliado às necessidades de saúde, para qualificação do
cuidado frente aos processos saúde-doença em suas dimensões individuais e coletivas. Para tal, a
formação ocorre através da integração dos eixos ensino-serviço-comunidade e da permanente inter-
relação entre os núcleos de saberes e práticas das profissões envolvidas. Além desses, a
integralidade do cuidado e a atuação em equipe interdisciplinar são eixos centrais nos processos de
ensino/trabalho realizados na Residência.
1
Assistente Social, especialista em Atenção Básica/Saúde Coletiva pelo programa de Residência Integrada da Escola
de Saúde Pública do RS, mestranda em Serviço Social da PUCRS.
2
Assistente social, mestre e doutora em Serviço Social pela PUCRS. Docente da graduação e pós-graduação da
FSS/PUCRS.
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Porém, sua conformação como política pública é recente, o que aponta para a importância de
serem ampliadas as pesquisas sobre essa formação. Dentre as profissões envolvidas nas
Residências, o Serviço Social representa a terceira maior categoria em número de bolsas
financiadas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2006). Embora se evidencie essa presença
significativa nas Residências, há uma insuficiência de dados sistematizados sobre a inserção do
assistente social nessa formação. Tal “lacuna” remete ao adensamento da produção sobre essa
temática, em especial no que se refere à integralidade na atenção básica, pois este nível do SUS
tem assumido um papel fundamental no movimento de reestruturação do modelo assistencial, pois
na rede básica se efetiva o acesso preferencial ao sistema, o estabelecimento de vínculo e
atendimento continuado da população.
Metodologia
O estudo embasa-se no método materialista dialético-crítico, o qual possibilita a
interconexão entre pensamento e ação, teoria e prática, sujeito e estrutura, objetividade e
subjetividade, quantidade e qualidade. Trata-se de pesquisa do tipo quanti-qualitativa, realizada
junto a dois programas de Residência com ênfase na atenção básica, no município de Porto Alegre.
A coleta de dados ocorreu através de questionários, respondidos por 15 assistentes sociais
residentes, e da realização de entrevistas semi-estruturadas junto a 4 supervisores e 4 assistentes
residentes dessa profissão. Para o tratamento dos dados foi utilizada a análise de conteúdo,
juntamente com o tratamento estatístico simples.
Resultados e discussão
Priorizamos, para fins deste trabalho, a apresentação parcial dos dados quanti-qualitativos
obtidos através dos questionários. No que tange ao trabalho desenvolvido na atenção básica, as
ações realizadas continuamente, por ordem de freqüência selecionada pelos assistentes sociais são:
o acompanhamento a famílias e a participação no controle social (100%), a realização de visitas
domiciliares (91,6%), o acolhimento aos usuários (83,3%), a participação em projetos
interdisciplinares e a realização de práticas grupais (75%). Os dados quanti-qualitativos sobre essa
temática apontam que há uma inserção ampla e contínua dos assistentes sociais em diferentes ações
da atenção básica, com destaque para as abordagens relativas ao controle social/mobilização
comunitária e à saúde da família. Estas ações possuem enfoque interdisciplinar, operacionalizadas
através de interfaces entre as áreas profissionais inseridas na equipe.
A análise relativa à integralidade abordou as formas de apreensão dessa diretriz do SUS
pelos assistentes sociais, assim como as contribuições do trabalho da profissão para com ela. A
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maioria dos sujeitos (93,33%) relaciona a integralidade com o conceito ampliado de saúde,
destacando a superação da fragmentação e uma abordagem que prime pela totalidade na apreensão
da necessidade da população usuária. Em menor freqüência (26,6%), os assistentes sociais também
associam a abordagem ampliada da saúde com a perspectiva da intersetorialidade e da
interdisciplinaridade. Quanto às contribuições da profissão para integralidade, foram referidos dois
eixos principais: os aportes da particularidade do Serviço Social na equipes - tais como a “visão”
crítica e totalizante da saúde (56,25%), a direção social do projeto ético-político profissional (25
%), o enfoque para o protagonismo do usuário (18,75%) – e as estratégias desenvolvidas para a
viabilização da integralidade, que abarcam o trabalho em equipe (31, 25%), a discussão de casos
entre os profissionais de diferentes áreas (12,5%), o trabalho em rede (12,5%), fortalecimentos do
acesso ao serviço (6,25%) e o controle social (6,25%).
Os dados quanti-qualitativos referentes à integralidade apontam que esta diretriz do SUS é
enfocada pelos assistentes sociais através da ênfase para o conceito ampliado de saúde, do
estabelecimento de mediações entre saúde e totalidade social, bem como sinalizam que as
contribuições para com a integralidade estão associadas à particularidades dos saberes e ações
profissionais, acionadas no trabalho em equipe pautado na interdisciplinaridade e
intersetorialidade. Dentre estas particularidades identificamos a apreensão das necessidades de
saúde através da experiência social dos sujeitos, da contextualização destas necessidades e da
centralidade da afirmação de direitos nas abordagens assistenciais.
Por fim, podemos destacar que a formação em RMS, na percepção dos assistentes sociais,
possibilita a qualificação do trabalho profissional tanto para a atuação no SUS como para outros
espaços sócio-ocupacionais. As experiências formativas proporcionadas pela RMS oferecem
aportes para o trabalho interdisciplinar e em equipe, para a compreensão/reflexão das atribuições
profissionais e para o desenvolvimento de ações assistenciais com diferentes enfoques, pautadas na
interdisciplinaridade.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Residência Multiprofissional em Saúde: Experiências, avanços e
desafios. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
MATTOS, R. A. de. Os Sentidos da Integralidade: algumas reflexões acerca de valores que
merecem ser defendidos. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. de. Os sentidos da integralidade na
atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: CEPESC/UERJ, IMS: ABRASCO, 2006, p 39-64.
MOTA, A.E. (orgs.) et al. Serviço social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo:
Cortez, 2006.