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Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678
PONTO DE VISTA
O que não é educação física
Prof. Ms. Conrado Augusto Gandara Federici
Colaboração: Profa. Dra. Eliana Ayoub e Prof. Laércio Claro
O objetivo deste texto é o de instigar a reflexão e desafiar cada leitor a
confrontar as próprias idéias e conceitos relativos à esta área de conhecimento
chamada Educação Física com algumas permanências e “insistências”
históricas. Por exemplo: e se ainda confundimos esporte com educação física?
E se não sabemos exatamente quais são as funções da aula de educação
física? ou se pensamos já saber tudo à respeito desta área que nos é tão
comum, concreta e visível em todo lugar?
A aula de educação física sofre deste mal: por estar quase sempre exposta, ao
ar livre, como em uma vitrine, dá a liberdade para sua ampla interpretação e
“achismo” – aos moldes da anedota, que nos diz que existem tantos técnicos
da seleção brasileira de futebol, quanto são os brasileiros! Enfim, mais do que
em outras áreas do conhecimento, o senso comum é forte influência na
formação de opiniões, as mais diversas, no nosso meio.
Pensemos rapidamente sobre o percurso histórico das aulas de educação física
na escola: sua origem passou pelos exercícios físicos de caráter militar.
Depois, seguiram-se os métodos de ginástica, (inglês, alemão, sueco e
francês, que chegou até a ser oficializado por Rui Barbosa, como o método a
ser adotado em nossas escolas em 1921). Logo após, o grande movimento
esportivo, que perpetua modelos de igualdade para todos até hoje. A
psicomotricidade e as condutas motoras ganharam fama nos anos 70.
Finalmente, à partir da década de 80 até nossos dias, o conceito de Cultura
Corporal foi desenvolvido (norteia as bases do conhecimento específico da área
Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678
de educação física com os conteúdos: jogos, ginástica, esportes, lutas, dança e
outros pertinentes à região geográfica ou social).
Pois bem, com base nestas premissas, no amplo conhecimento histórico já
estudado e na prática cotidiana do professor, podemos sugerir esclarecimentos
sobre a aula de educação física escolar, pela negativa de alguns preconceitos
formados ao longo do tempo e da tradição (baseado em Depiere, 2001):
• Arquitetonicamente, nosso espaço pedagógico, quadras e pátios - espaços
estes que não necessariamente dão conta das necessidades dos conteúdos -,
quase sempre sofre pela falta de planejamento adequado. Por isso, outras
práticas acontecem nos mesmos lugares, ou até, absurdamente, ao mesmo
tempo, como o recreio ou o tempo livre de outras classes. Tal fato gera uma
confusão óbvia e compreensível entre as crianças, as quais confundem o
momento de aula, estruturado e organizado, com o momento de recreação.
Educação física não é recreação.
• Também por uma questão de tradição, ainda hoje encontramos
metodologias de ensino baseadas exclusivamente em sala fechada. A aula de
educação física seria, por isso, a compensação da rotina da classe e o
momento (as vezes, único) de liberdade na escola. Pelo contrário, a aula de
educação física, apesar de constituir-se também em meio à liberdade espacial,
não significa descompromisso com o processo de ensino–aprendizagem próprio
da escola. Educação física não é compensação da rotina.
• Se os alunos se comportam bem, “ganham”, por merecimento, as aulas de
educação física. Caso contrário, perdem-na, como moeda de uma hipócrita
barganha educacional. Educação física não é prêmio ou castigo.
• Pelos adventos e pesquisas científicas, já nos foi mostrado que o
treinamento físico, mais próximo dos esportes de alto rendimento, geram
efeitos quando praticados com grande freqüência e especialização. Resultados
estéticos, apregoados pela mídia, não serão atingidos nas aulas de educação
física. Educação física não é fábrica de corpos.
• O conteúdo a ser ensinado nas aulas de educação física é o jogo, a
ginástica, a dança, o esporte, a luta e outros pertinentes à cultura corporal da
região. Ou seja, o conhecimento da disciplina é específico e ela não é, ou serve
de ajudante às demais matérias escolares, tão legítimas e importantes quanto
Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678
ela mesma, como criadora e inventora de jogos e brinquedos pedagógicos.
(Atenção: não confundir com um planejamento interdisciplinar, que é
altamente adequado na escola.) Educação física não é auxiliar de outras
disciplinas.
• Festa junina, gincana, feira cultural, manhãs de recreação, dia dos pais,
feira do livro, páscoa, olimpíada cultural, dia das mães... Quando organizar?
Quando fazer? Quem vai ensaiar? Quando montar? Por serem situações não
específicas a uma determinada área, as respostas a estes exemplos de
perguntas devem ser definidos também de forma interdisciplinar, pois
Educação física não é promotora de eventos.
• “-Queremos participar do campeonato interescolar! -Ótimo!!! Então teremos
que encontrar um horário extra para os treinos!” A aula de educação física é
momento de oportunidade para todos os alunos tomarem contato com o
conhecimento, e não para a melhoria e aprimoramento das habilidades de
apenas alguns poucos eleitos “do time”. Educação física não é treino das
equipes.
• As aulas de educação física são quase sempre expostas e, por isso, são
passíveis de avaliações leigas e generalizadas. Possuem também vastos
recursos pedagógicos, sistematizações, periodizações, avaliações, cronogramas
e planejamentos. Não acontecem por um mero acaso ou vontade momentânea
do professor e dos alunos. Educação física não é improviso.
• Na falta de professores, comumente se constata o direcionamento dos
alunos à educação física, como se este ato não prejudicasse a própria classe,
além de outras aulas de educação física que, por ventura, estejam ocorrendo
no mesmo tempo e espaço. Educação física não é tapa-buraco.
• “-Professor, estou dispensado da aula. Tenho o atestado médico. Virou as
costas e ligou o walkman...” A lei atual isenta, infelizmente, o aluno da
presença na aula mediante o atestado. Este fato ocorre pela confusão entre
aula e atividade física. Os problemas de doença e/ou físicos somente o serão
em caso de práticas físicas, fato este que, apesar de constituírem grande parte
de nossas aulas, não esgotam e nem encerram a metodologia da disciplina em
apenas praticar e melhorar o desempenho individual. A aula, muito além disso,
Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678
é o contato com o novo conhecimento, independente de sua natureza: prática
corporal ou conceitual. Educação física não é somente atividade física.
• A educação tradicional sempre foi baseada na ordem, assepsia e silêncio
hospitalar dos ambientes. A educação física atinge mais freqüentemente
aspectos sociais e emocionais dos alunos, intervindo pedagogicamente em um
esquema de organização diferente da maioria, com sua ordem e características
peculiares. Educação Física não é transtorno para a escola.
Sustentar nossas aulas na contemporaneidade do conhecimento da área é
responsabilidade de cada um de nós. Em qualquer âmbito da nossa vida,
esbarrar em preconceitos e “tradições irrefletidas” seria ignorar-se sujeito
atuante do e no presente. Entendermo-nos, futuros professores, como
integrantes, e não espectadores, do processo histórico que vivemos, faz-nos
transformadores do hoje. A educação física vive um momento de transição,
definição e abandono de antigos conceitos, que não mais coincidem com as
necessidades políticas, econômicas e sociais da atualidade. Atentarmos para
estas mudanças e participarmos conscientemente delas faz-nos cidadãos,
abrindo-nos a possibilidade de difusão deste conhecimento.
Referências bibliográficas
COLETIVO, de Autores. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo:
Cortez, 1992.
DEPIERI, Adriane dos Santos. A importância da Educação Física Escolar.
Monografia de graduação – FEF Unicamp, 2001.
SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física Escolar: Conhecimento e
Especificidade. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, 1996.

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O que nao e ef

  • 1. Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678 PONTO DE VISTA O que não é educação física Prof. Ms. Conrado Augusto Gandara Federici Colaboração: Profa. Dra. Eliana Ayoub e Prof. Laércio Claro O objetivo deste texto é o de instigar a reflexão e desafiar cada leitor a confrontar as próprias idéias e conceitos relativos à esta área de conhecimento chamada Educação Física com algumas permanências e “insistências” históricas. Por exemplo: e se ainda confundimos esporte com educação física? E se não sabemos exatamente quais são as funções da aula de educação física? ou se pensamos já saber tudo à respeito desta área que nos é tão comum, concreta e visível em todo lugar? A aula de educação física sofre deste mal: por estar quase sempre exposta, ao ar livre, como em uma vitrine, dá a liberdade para sua ampla interpretação e “achismo” – aos moldes da anedota, que nos diz que existem tantos técnicos da seleção brasileira de futebol, quanto são os brasileiros! Enfim, mais do que em outras áreas do conhecimento, o senso comum é forte influência na formação de opiniões, as mais diversas, no nosso meio. Pensemos rapidamente sobre o percurso histórico das aulas de educação física na escola: sua origem passou pelos exercícios físicos de caráter militar. Depois, seguiram-se os métodos de ginástica, (inglês, alemão, sueco e francês, que chegou até a ser oficializado por Rui Barbosa, como o método a ser adotado em nossas escolas em 1921). Logo após, o grande movimento esportivo, que perpetua modelos de igualdade para todos até hoje. A psicomotricidade e as condutas motoras ganharam fama nos anos 70. Finalmente, à partir da década de 80 até nossos dias, o conceito de Cultura Corporal foi desenvolvido (norteia as bases do conhecimento específico da área
  • 2. Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678 de educação física com os conteúdos: jogos, ginástica, esportes, lutas, dança e outros pertinentes à região geográfica ou social). Pois bem, com base nestas premissas, no amplo conhecimento histórico já estudado e na prática cotidiana do professor, podemos sugerir esclarecimentos sobre a aula de educação física escolar, pela negativa de alguns preconceitos formados ao longo do tempo e da tradição (baseado em Depiere, 2001): • Arquitetonicamente, nosso espaço pedagógico, quadras e pátios - espaços estes que não necessariamente dão conta das necessidades dos conteúdos -, quase sempre sofre pela falta de planejamento adequado. Por isso, outras práticas acontecem nos mesmos lugares, ou até, absurdamente, ao mesmo tempo, como o recreio ou o tempo livre de outras classes. Tal fato gera uma confusão óbvia e compreensível entre as crianças, as quais confundem o momento de aula, estruturado e organizado, com o momento de recreação. Educação física não é recreação. • Também por uma questão de tradição, ainda hoje encontramos metodologias de ensino baseadas exclusivamente em sala fechada. A aula de educação física seria, por isso, a compensação da rotina da classe e o momento (as vezes, único) de liberdade na escola. Pelo contrário, a aula de educação física, apesar de constituir-se também em meio à liberdade espacial, não significa descompromisso com o processo de ensino–aprendizagem próprio da escola. Educação física não é compensação da rotina. • Se os alunos se comportam bem, “ganham”, por merecimento, as aulas de educação física. Caso contrário, perdem-na, como moeda de uma hipócrita barganha educacional. Educação física não é prêmio ou castigo. • Pelos adventos e pesquisas científicas, já nos foi mostrado que o treinamento físico, mais próximo dos esportes de alto rendimento, geram efeitos quando praticados com grande freqüência e especialização. Resultados estéticos, apregoados pela mídia, não serão atingidos nas aulas de educação física. Educação física não é fábrica de corpos. • O conteúdo a ser ensinado nas aulas de educação física é o jogo, a ginástica, a dança, o esporte, a luta e outros pertinentes à cultura corporal da região. Ou seja, o conhecimento da disciplina é específico e ela não é, ou serve de ajudante às demais matérias escolares, tão legítimas e importantes quanto
  • 3. Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678 ela mesma, como criadora e inventora de jogos e brinquedos pedagógicos. (Atenção: não confundir com um planejamento interdisciplinar, que é altamente adequado na escola.) Educação física não é auxiliar de outras disciplinas. • Festa junina, gincana, feira cultural, manhãs de recreação, dia dos pais, feira do livro, páscoa, olimpíada cultural, dia das mães... Quando organizar? Quando fazer? Quem vai ensaiar? Quando montar? Por serem situações não específicas a uma determinada área, as respostas a estes exemplos de perguntas devem ser definidos também de forma interdisciplinar, pois Educação física não é promotora de eventos. • “-Queremos participar do campeonato interescolar! -Ótimo!!! Então teremos que encontrar um horário extra para os treinos!” A aula de educação física é momento de oportunidade para todos os alunos tomarem contato com o conhecimento, e não para a melhoria e aprimoramento das habilidades de apenas alguns poucos eleitos “do time”. Educação física não é treino das equipes. • As aulas de educação física são quase sempre expostas e, por isso, são passíveis de avaliações leigas e generalizadas. Possuem também vastos recursos pedagógicos, sistematizações, periodizações, avaliações, cronogramas e planejamentos. Não acontecem por um mero acaso ou vontade momentânea do professor e dos alunos. Educação física não é improviso. • Na falta de professores, comumente se constata o direcionamento dos alunos à educação física, como se este ato não prejudicasse a própria classe, além de outras aulas de educação física que, por ventura, estejam ocorrendo no mesmo tempo e espaço. Educação física não é tapa-buraco. • “-Professor, estou dispensado da aula. Tenho o atestado médico. Virou as costas e ligou o walkman...” A lei atual isenta, infelizmente, o aluno da presença na aula mediante o atestado. Este fato ocorre pela confusão entre aula e atividade física. Os problemas de doença e/ou físicos somente o serão em caso de práticas físicas, fato este que, apesar de constituírem grande parte de nossas aulas, não esgotam e nem encerram a metodologia da disciplina em apenas praticar e melhorar o desempenho individual. A aula, muito além disso,
  • 4. Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5, jan./dez. 2004 – ISSN 1679-8678 é o contato com o novo conhecimento, independente de sua natureza: prática corporal ou conceitual. Educação física não é somente atividade física. • A educação tradicional sempre foi baseada na ordem, assepsia e silêncio hospitalar dos ambientes. A educação física atinge mais freqüentemente aspectos sociais e emocionais dos alunos, intervindo pedagogicamente em um esquema de organização diferente da maioria, com sua ordem e características peculiares. Educação Física não é transtorno para a escola. Sustentar nossas aulas na contemporaneidade do conhecimento da área é responsabilidade de cada um de nós. Em qualquer âmbito da nossa vida, esbarrar em preconceitos e “tradições irrefletidas” seria ignorar-se sujeito atuante do e no presente. Entendermo-nos, futuros professores, como integrantes, e não espectadores, do processo histórico que vivemos, faz-nos transformadores do hoje. A educação física vive um momento de transição, definição e abandono de antigos conceitos, que não mais coincidem com as necessidades políticas, econômicas e sociais da atualidade. Atentarmos para estas mudanças e participarmos conscientemente delas faz-nos cidadãos, abrindo-nos a possibilidade de difusão deste conhecimento. Referências bibliográficas COLETIVO, de Autores. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. DEPIERI, Adriane dos Santos. A importância da Educação Física Escolar. Monografia de graduação – FEF Unicamp, 2001. SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física Escolar: Conhecimento e Especificidade. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, 1996.