O USO DE JOGOS DE TABULEIRO E DAS MÍDIAS ELETRÔNICAS COMO FERRAMENTA DE PARTICIPAÇÃO DE JOVENS NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL: INSTIGANDO O INTERESSE DO ALUNO E INCENTIVANDO A AUTONOMIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO.
Trabalho apresentado no XVII Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire - Educar com seriedade sim, mas com ALEGRIA!
As classes populares na Escola Pública.
Disponível em: http://forumpaulofreiresa.wix.com/santamaria2015#!trabalhos-completos/c7d3
Keynote: Emerging Startup Communities by Techstars
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Cidadania na era digital ensino fundamental IIKaty Lima
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O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O USO DE JOGOS DE TABULEIRO E DAS MÍDIAS ELETRÔNICAS COMO FERRAMENTA DE PARTICIPAÇÃO DE JOVENS NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL: INSTIGANDO O INTERESSE DO ALUNO E INCENTIVANDO A AUTONOMIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO.
1. O USO DE JOGOS DE TABULEIRO E DAS MÍDIAS ELETRÔNICAS COMO
FERRAMENTA DE PARTICIPAÇÃO DE JOVENS NO PROGRAMA DE
ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL: INSTIGANDO O INTERESSE
DO ALUNO E INCENTIVANDO A AUTONOMIA NA CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO.
DOS SANTOS DE SOUZA, Jorge Luiz
CHIODI AGOSTINI, Camila
Resumo
O presente trabalho apresenta uma análise da experiência realizada na cidade de Chapecó/SC com
crianças em vulnerabilidade social participantes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI) no turno inverso da escola, que mesclou jogos de xadrez e produção de vídeos para
veiculação na plataforma on line Youtube®.
a fim de inserir no espaço escolar formal, informal e não
formal as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). A experiência descrita procura
enfatizar as impressões observadas no projeto e a visualização da interação entre educadores e
educandos numa construção dialógica, dentro da temática da metodologia de Paulo Freire. Para isso
foi realizada breve introdução do assunto, apontando-se, em seguida, os principais dados e
metodologia do trabalho, a fim de contextualizar a questão. Na sequência, foi realizada a indicação
de toda a atividade desenvolvida, apresentando algumas considerações de destaque diante das
atividades e seus desdobramentos, além de como as mesmas podem se inserir no modelo de escola
que hoje desponta. Em um terceiro passo foi analisada a atividade e as considerações da mesma
dentro da temática e propostas de Paulo Freire, ponderando a importância do diálogo entre os
docentes e alunos numa relação de mútuo respeito aos conhecimentos e aspirações dos educandos,
incentivando a autonomia na construção deste conhecimento por parte do educando, de forma que o
mesmo seja protagonista nesse processo da busca, produção e ressignificarão dos conhecimentos
trazidos por eles e propostos pela equipe pedagógica. Por último momento foi feita uma conclusão a
fim de apontar as questões trabalhadas no presente artigo.
Palavras-chave: Jogos de Tabuleiro; TIC; Mídias Eletrônicas; Erradicação do Trabalho Infantil;
Conhecimento; Autonomia.
Introdução
Sabidamente, os problemas sociais que assolam o país advêm de longa data e se manifestam
em diversas camadas das classes sociais. A pobreza, a desnutrição, a violência, somadas com a
baixa escolaridade da população geram situações de vulnerabilidade social, as quais atingem as
2. crianças e adolescentes. Tal problemática importa muitas vezes no prejuízo do desenvolvimento
cognitivo dos mesmos, obrigado-os a abandonar a escolar e serem inseridos muito cedo no mercado
de trabalho privando-os de um desenvolvimento saudável e de no futuro obterem melhores
condições de vida, as quais se originam necessariamente de uma educação de qualidade. No
entanto, não é fácil instigar o interesse do aluno, principalmente no sentido de fazê-lo permanecer
na escola, saindo de um possível trabalho infantil, ainda mais em uma época em que os métodos de
ensino-aprendizagem convencionais são paulatinamente modificados pelo avanço da tecnologia.
Nesse sentido, o presente trabalho possui o objetivo de relatar a experiência realizada
envolvendo crianças e adolescentes da cidade de Chapecó/SC, as quais participavam do Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) em uma unidade de atendimento socioeducativo da zona
oeste da referida localidade, mantida pela Secretaria de Ação Social da Prefeitura Municipal. As
crianças e adolescentes atendidos tinham entre 07 e 14 anos no turno inverso ao da escola conforme
regras do referido programa e participaram do projeto todos em alguma das fases ou todas e na
parte audiovisual, apenas aqueles em que os pais ou responsáveis autorizaram por escrito a
participação no projeto e veiculação da imagem, contando um total de 6 alunos. Os envolvidos
provinham em sua maioria de uma comunidade de catadores de papel, outros tinham uma condição
mais favorável que estes, porém também em situação de risco social; ainda alguns estavam em
medidas protetivas devido a questões de violência/abuso. Utilizou-se o xadrez, o jogo das três
tampas e de tampas no tabuleiro, todos gravados e veiculados no portal de vídeos Youtube®.
Assim, a fim de elucidar o relato, primeiramente será feita uma indicação dos principais
dados do trabalho desenvolvido, sendo seguido este pelo efetivo relato da atividade. Na sequencia,
serão feitos breves apontamentos das implicações pedagógicas da experiência tendo-se um olhar
com base na temática Freire. Por fim, será feita a conclusão, como fechamento, porém não
esgotamento do tema ora proposto.
1. Para início de conversa: principais dados do trabalho desenvolvido
Como brevemente elucidado na introdução do presente trabalho, a atividade foi realizada na
cidade de Chapecó/SC, na unidade de atendimento socioeducativo da zona oeste da referida
localidade, como atividade do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), com crianças e
adolescentes de faixa etária entre 07 e 14 anos, em grande estado de vulnerabilidade social e
3. sujeitos ao trabalho infantil. A atividade foi autorizada pelos pais e responsáveis e ocorreu no turno
inverso da escola, justamente para valorizar a educação regular e impedir que o aluno no momento
em que não estivesse na escola, fosse inserido indevidamente no ambiente de trabalho. Conforme já
exposto, utilizou-se o xadrez, o jogo das três tampas e de tampas no tabuleiro, todos gravados e
veiculados no portal de vídeos Youtube®.
Inicialmente é importante salientar que o PETI possui caráter de um programa de
transferência de renda do governo federal, tendo o objetivo de retirar as crianças e adolescentes com
idades entre 07 a 14 anos, do trabalho formal/informal considerado perigoso, penoso, insalubre ou
degradante, ou ainda, de atividades mesmo que remuneradas no qual se coloca em risco a saúde e
segurança das crianças e adolescentes (MTE, 2015). Outro objetivo do programa é o de fomentar e
incentivar a ampliação do universo de conhecimentos da criança e do adolescente, por meio de
atividades culturais, esportivas, artísticas e de lazer no período complementar à escola
oportunizando assim acesso a outras formas de conhecimentos além do formal e dando
oportunidade de viverem uma infância mais saudável e feliz. Da mesma forma permite que a
mesma saia da vulnerabilidade em que se encontra, adquiria prazer ao estudar e gradativamente
torne-se protagonista na busca do conhecimento.
Em estreita relação com o objetivo de ampliar o universo de conhecimento da criança vemos
hoje em dia e cada vez mais a influência das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC, as
quais podem ser facilitadoras e instigadoras do processo de ensino aprendizagem. Nesse sentido, as
autoras Hammes e Bianchi (2007) definem as TIC's como ferramentas utilizadas na educação que
vão desde o giz e o quadro-negro, abrangendo também os diversos meios de aplicação da
informática desde os PC's aos Smartphones tendo como principal atrativo a internet e das mídias
tradicionais como rádio e televisão. As pesquisadoras ainda indicam que cada vez mais as TIC's se
fazem presentes no dia a dia de diversos profissionais e não é diferente no ambiente educacional,
além disto mostram que o uso das TIC's podem proporcionar o desenvolvimento de uma maior
autonomia, favorecendo o aparecimento de outras competências como organização e planejamento
do tempo, suas tarefas, fazer testes, responder a formulários entre outros. Todavia, também alertam
que pode haver um efeito contrário como o de levar a situações que geram dependência, na medida
em que as pessoas se desligam facilmente da realidade física e socioafetiva, para se ligarem em
alguma dessas “realidades virtuais”.
4. Assim, considerando o potencial de trabalhar outras competências, no sentido até mesmo de
conceder novas perspectivas aos alunos, no implemento de capacidades cognitivas, através da
utilização das TIC's, optou-se em trabalhar os jogos de estratégias em tabuleiro e mesa, pois como
sugere Grillo (2012) os jogos de estratégia como xadrez e outros proporcionam ao aluno a
elaboração de novos pensamentos e conhecimentos baseados na investigação e estudo das diversas
possibilidades do jogo indo além da concepção de jogos de azar pois abre um espaço para o
levantamento de hipóteses, análise das possibilidades de jogadas, antecipação e previsão, estudo das
jogadas do adversário e a construção de estratégias a partir desse processo de investigação durante o
jogar. As impressões das atividades desenvolvidas, então, é o que será apresentado no item a seguir.
1.1 O desenvolvimento das atividades
Com o propósito definido de trabalhar os jogos de estratégia e alguma espécie de TIC, foi
apresentado o projeto para os educandos da unidade socioeducativa, tendo por base que os mesmos
podem ser protagonistas se seus conhecimentos e disseminar o apreendido para os educadores. Tal
posicionamento claramente coaduna com a temática de Paulo Freire, o qual prega pela pedagogia da
autonomia, baseada no amor. E nada mais “freiriano” do que instar os alunos a produzir o próprio
conhecimento, valorizando inciativas e o trabalho de cada um, demonstrando acima de tudo o amor
intrínseco nesse ato. Assim, apresentada a questão, todos concordaram e sugeriram que fosse feito
filmagens dos jogos com eles apresentando cada parte e colocarem na plataforma de vídeos
Youtube®.
Para envolver todos o trabalho foi dividido por equipes sendo equipe1 – arte gráfica:
responsável por montar os materiais como elaboração de cartazes, peças entre outros; equipe 2 –
pesquisa de regras: responsáveis por pesquisar as regras do jogo; equipe 3 – roteiro: pesquisar
estratégias de escrita e comunicação para elaboração de vídeos; equipe 5 - Filmagem: responsáveis
pela filmagem e apresentação do material confeccionado, pesquisado e pelo roteiro feito pelos
demais colegas, só participaram nesta etapa aqueles que tiveram autorização de imagem expressa
dos pais ou responsáveis legais.
De início, apenas o xadrez foi escolhido, devido ao seu potencial e já conhecido uso no
ambiente escolar e suas possibilidades (OLIVEIRA e CASTILHOS, 2015; GRILLO e GRANDO,
2013; GRILLO, 2012) onde o mais conhecido é na aprendizagem da matemática como mostram
Oliveira e Castilhos (2015), além de problematizar estratégias que fomentam o aprendizado devido
5. as suas diversas possibilidades de “jogadas” (GRILLO,2012) bem como introduzir um diferencial
pedagógico sobre o xadrez e jogos de tabuleiro nas aulas de educação física (GRILLO e GRANDO,
2013). Nessa mesma seara, Aguiar (2013) ressalta que o uso do xadrez nas escolas teve um grande
aumento devido principalmente as diversas publicações científicas correlacionando sua prática com
a melhora do raciocínio lógico e da concentração. Por tais motivos foi sugerido o uso do xadrez no
projeto, tendo em vista a comprovação junto a escola de origem dos educandos a dificuldades dos
mesmos nessa área do conhecimento, bem como a dificuldade de concentração e esquemas
estratégicos foram observadas nas diversas oficinas oferecidas na unidade de atendimento
socioeducativo.
Com essa escolha, pautada no mundo do interesse sobre as mídias sociais dos pré-
adolescentes e da fantasia e arte para as crianças, o emprenho das diversas equipes e suas tarefas foi
mais do que o esperado, contrariando a visão da escola e mesmo de alguns pais que vinham até a
organização explanar sobre o desinteresse e até de “falta de capacidade” destes educandos. No
entanto, o que se percebe é que quando o educador ingressa no mundo da criança e dos adolescentes
a prática pedagógica se torna mais rica e significativa para ambos, educadores e educandos. Como
resultado foram feitos os seguintes vídeos e suas visualizações no Youtube conforme tabela 1:
Tabela 1 – Projeto Xadrez
Vídeo Duração Visualizações
Xadrez 1 - Peças 00:03:27 36
Xadrez 2 – Tabuleiro 00:02:34 26
Xadrez 3 - O cavalo 00:01:35 41
Xadrez 4 – Notação Algébrica 00:02:29 149
Xadrez 5 – Educação e 00:02:35 58
Etiqueta do Enxadrista
Projeto Xadrez Completo 00:11:20 59
Dados obtidos do relatório do Projeto.
De acordo com a tabela acima anexada, pode-se verificar alguns pontos interessantes
iniciando de como eles estruturaram o roteiro mostrando primeiro as peças do jogo, depois o
tabuleiro e um vídeo especialmente feito para a peça “cavalo” no qual na prática eles tiveram
alguma dificuldade, pois é uma peça ímpar deste jogo e eles quiseram dividir, por assim dizer, suas
angústias e soluções na aprendizagem do movimento e estratégias do cavalo no jogo. Isto chamou
6. muito a atenção da equipe da unidade pois demostrou uma dedicação especial com o outro,
inferindo-se que na concepção dos alunos, já que os mesmos tiveram dificuldades nesta
aprendizagem, outros também teriam, expondo assim uma questão de empatia com o outro, a qual é
indispensável para o bom relacionamento em sociedade. Alguns educadores envolvidos, diante
dessa situação, acabaram por se questionar se possuem esta mesma preocupação nas dificuldades de
aprendizagem em sala de aula na sua ação como docentes. Ou seja, nítida a interação entre
aprendizagem mútua de educador e educando.
Destaca-se, igualmente, a importância dada por eles para a notação algébrica, a simbologia
do jogo, que por meio da notação algébrica pode-se traduzir o jogo para o papel, reproduzindo cada
lance. Muitos praticantes de xadrez não utilizam esta notação e os educandos da unidade passaram a
utilizarem e desafiarem os outros com “jogos no papel” além do próprio jogo no tabuleiro. Todavia,
o que, sem sobra de dúvida, gratificou muito os educadores envolvidos foi o vídeo sobre educação e
etiqueta do enxadrista, já que haviam alguns problemas relacionados ao comportamento durante as
atividades e este vídeo foi a chance para problematizar diversas atitudes consideradas não
adequadas pela equipe pedagógica e pelos próprios educandos, criando bases sólidas para mudar
esse tipo de comportamento.
Com isto, percebemos na prática, e com base nas considerações de Grillo e Grando (2012)
que a intervenção pedagógica com o jogo de xadrez contribui para o desenvolvimento conceitual e
social dos alunos, desenvolvendo a criatividade, o senso crítico, o trabalho em grupo, a interação, a
tomada de decisões, o “pensar estrategicamente”. Nessa mesma concepção, também se observou
que, devido as questões relacionadas a produção audiovisual para veiculação na internet, um uso
saudável e pedagógico das TIC's cada vez mais presentes no cotidiano das crianças e adolescentes,
corroborando as afirmações de Hammes e Bianchi (2007) em todas as classes sociais, ou ao menos
objeto de desejo destes.
Como desdobramento deste projeto e a aceitação dos grupos, os próprios educandos
sugeriram (veja-se ai a autonomia na construção do conhecimento e da sua disseminação) que fosse
feito um vídeo com um jogo de tabuleiro, no qual usa-se tampas de garrafa de duas cores diferentes,
a fim de reunir o maior número de tampas da sua cor iniciando com duas no centro do tabuleiro
chamado de jogo de linha. Esta iniciativa sugere que os educandos se sentiram valorizados ao
verem seus trabalhos prontos e veiculados na internet e, a equipe de educadores, aceitando a
7. sugestão deles, demostrou o respeito com os educandos e valorização do conhecimento prévio
destes, pois era um jogo no qual os educadores não tinha conhecimento. O trabalho foi realizado
nos mesmos moldes com os grupos iguais aos utilizados para o projeto de xadrez, onde o grupo de
confecção ficou responsável por achar as tampinhas para o projeto o resultou no vídeo chamado
“Jogo de Linha no Tabuleiro” (YOTUBE, 2015), com um total de 38 visualizações.
A equipe de educadores contava com um membro de São Paulo que ensinou o jogo das 3
tampinhas na mesa para os educandos. As crianças gostaram do jogo e pediram mais uma vez para
fazerem outro video, o interessante é que eles aproveitaram o conhecimento dado pelo educador
paulista e transformaram de apenas ser realizado com “petelecos” eles fizeram uma versão soprando
as tampinhas. Este vídeo (YOTUBE, 2015-A) conta com 275 visualizações.
Foi interessante, também, a iniciativa na transformação feita por eles no jogo indicado pelo
educador da unidade e, ainda com a busca por tampinhas sugerida pelos mais novos (idades entre 7
e 11 anos) coadunando o tema reciclagem para ser trabalhado, já que vinham tendo este tema na
escola também. Com os mais velhos (de 12 a 14 anos) foi trabalhado também a edição de imagens
no computador e como resultado da edição obteve-se os vídeos acima relacionados e, também, o
vídeo “Jogos de Tabuleiro e Tampas - Completo” (YOTUBE, 2015-B) com 395 visualizações.
Interessante perceber que os vídeos relacionados ao xadrez tiveram um número muito menor de
visualizações que os propostos pelos educandos, embora tenha um interesse crescente sobre o
xadrez na escola como demostram vários autores (OLIVEIRA e CASTILHOS, 2015; GRILLO e
GRANDO, 2013; AGUIAR, 2013; GRILLO, 2012; OLIVEIRA e CASTILHOS,2015).
A experiência acima relatada foi de grande valia, já que a mesma demostrou a possibilidade
latente do uso de TIC's, a possibilidade de demonstrar novas realidades aos alunos em situação de
vulnerabilidade social e ainda, a real possibilidade dos mesmos serem protagonistas do seu próprio
conhecimento. O tema, é fato, ainda está passível de muita investigação, principalmente no que
tange ao posicionamento da escola ante as novas tecnologias e a possibilidade do aluno
gradativamente ser agente de conhecimentos. Dessa forma, será que os educadores estão “ligados”
com os interesses das novas gerações? Será que os mesmos escutando e valorizando seus
conhecimentos prévios? O caminho é longo, mas sem sobra de dúvida já se desponta um caminho
através da simples indagação dessas questões.
8. 1.2 Implicações pedagógicas sobre a experiência: um olhar com base na temática Freire
A experiência relatada como já elucidado, se mostrou como uma surpresa agradável para
todos os educadores participantes, tendo em vista que os resultados obtidos superaram todas as
expectativas. As crianças e os adolescentes envolvidos foram afastados da vulnerabilidade social
que se encontrava (ainda que por um período) e ainda apreenderam o gosto pelo conhecimento,
através de jogos e utilização das TIC's. Ficou muito nítido que os educandos, ante o entusiamo
diante da utilização dos vídeos foram efetivamente os protagonistas da construção do seu
conhecimento, ensinando e aprendendo ao mesmo tempo, aos colegas e aos docentes, numa
interação completa. Nesse sentido, puderam vivenciar a experiência clara sustentada por Freire,
como aponta Brandão (2015, p.10), a saber:
Um dos pressupostos do método é a idéia de que ninguém educa ninguém e ninguém se
educa sozinho. A educação, que deve ser um ato coletivo, solidário — um ato de amor, dá
pra pensar sem susto —, não pode ser imposta. Porque educar é uma tarefa de trocas entre
pessoas e, se não pode ser nunca feita por um sujeito isolado (até a auto-educação é um
diálogo à distância), não pode ser também o resultado do despejo de quem supõe que
possuí todo o saber, sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar que não possui
nenhum. “Não há educadores puros”, pensou Paulo Freire. “Nem educandos.” De um lado
e do outro do trabalho em que se ensina-e-aprende, há sempre educadores-educandos e
educandos-educadores. De lado a lado se ensina. De lado a lado se aprende.
A utilização de jogos como facilitador do processo de ensino-aprendizagem já é antiga, no
entanto, a experiência relatada demonstra que uma prática antiga pode ser reformulada, ganhando
novos contornos os quais podem ser mais atrativos para os jovens, contribuindo para seu
crescimento pessoal como cognitivo. A forma de ensinar, no caso em tela, do ensino da matemática,
foi amplamente reformulada, saindo da prática comum mecanizada da escola, onde, nas palavras de
Freire (2015, p. 41)
[…] a educação passa a ser “o ato de depositar”, no qual os alunos são os depósitos e o
professor aquele que deposita. Em lugar de comunicar, o professor dá comunicados que os
alunos recebem pacientemente, aprendem e repetem. É a concepção “acumulativa” da
educação (concepção bancária).
É fato, ainda, que a sociedade atual, mais politizada e com mais acesso à informação infere
uma postura mais crítica, embora ainda não seja o modelo ideal, m as o que acaba por repercutir
diretamente na escola, no sentido que a mesma paulatinamente instigue os alunos a possuírem senso
crítico, mas sem que isso implique na perda de valores sociais intrínsecos, como o bom
9. relacionamento interpessoal, por exemplo. Ou seja, é na escola a busca da formação do cidadão
consciente de seus direitos e o educador tem papel fundamental nessa formação. Nesse sentido,
afirma novamente Freire (2015, p. 41) que
[…] o educador humanista revolucionário não pode esperar que esta possibilidade se
apresente. Desde o começo, seus esforços devem corresponder com os dos alunos para
comprometer-se num pensamento crítico e numa procura da mútua humanização. Seus
esforços devem caminhar junto com uma profunda confiança nos homens e em seu poder
criador. Para obter este resultado deve colocar-se ao nível dos alunos em suas relações com
eles.
A experiência ora relatada demostrou que os alunos, quando convidados a participar do
próprio processo de conhecimento instigaram ainda mais essa busca alcançando no ambiente
escolar, dessa forma, [...] a essência fenomênica da educação, que é sua dialogicidade, a educação
se faz então diálogo, comunicação. E, se é diálogo, as relações entre seus polos já não podem ser as
de contrários antagônicos, mas de polos que conciliam.” (FREIRE, 2015-B). Portanto, o diálogo, a
valorização do aluno e oportunizar seu crescimento, estimulando a autonomia, são as principais
ferramentas para uma educação plena e de sucesso. Ademais, na sociedade moderna atual nunca a
máxima “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em
comunhão”(FREIRE, 2015-A) foi tão presente. O crescimento intelectual não é solitário e não
dispensa, portanto, a escola. No entanto, esta necessariamente deve se reformular progressivamente,
atendendo a modernidade. Educadores e educandos apreendem juntos e é isso que faz com que a
sociedade cresça como um todo.
Considerações Finais
Após tudo que foi relatado, pode-se concluir que a referida experiência foi além do
esperado. Isso porque, inicialmente o trabalho foi voltado apenas para o xadrez devido a ser o mais
trabalhado nas escolas, mas o resultado gerou surpresas positivas, pois os educandos naturalmente
demonstraram preocupação no “outro” a partir das suas dificuldades, algo que muitas vezes escapa
da prática docente. A pró atividade em trazer seu conhecimento de outros jogos e propor mais um
trabalho audiovisual foi extremamente relevante, por demonstrar e comprovar que a introdução das
TIC's no ambiente educacional é extremamente favorável, indo ao encontro dos interesses das
novas gerações. Também ai temos que destacar a valorização do conhecimento trazido pelos
educandos por parte da equipe da unidade, este é um meio muito importante na construção do
10. conhecimento pelos educandos e educadores. Ou seja, o diálogo, pautando o interesse e a
autonomia dos alunos é crucial para o bom desenvolvimento da escola na atualidade.
O desdobramento de algumas ações feitas a partir da construção desta experiência, como a
tematização da reciclagem e da violência/comportamento são de extrema relevância, além da
transformação do jogo por eles feita a partir de suas experiências de vida. Apresentando dados
quantitativos, ressalta-se nas visualizações dos vídeos na internet que os mais assistidos foram os
jogos propostos pelos educandos, mostrando, mais uma vez, a necessidade de trabalhar e valorizar o
conhecimento trazido de casa, das ruas das famílias para o ambiente educacional. Trata-se essa da
humanização do ensino através da escola, utilizando-se o amor e o diálogo, vivenciando plenamente
os valiosos ensinamento de Freire.
Valorizar o conhecimento do educando, não menosprezar suas ideias, ter humildade de
reconhecer que nenhum educador tem conhecimento de tudo e, que ensinando que o professor está
aprendendo e aprendendo está ensinado numa relação dialógica com os educandos e educadores,
sem dúvida, foi o maior conhecimento adquirido com a experiência relatada. O conhecimento pode
e deve ser construído coletivamente, não havendo mais como a escola sonegar essa tendência tão
premente. O futuro instiga a interação e o crescimento coletivo, sendo essa a maior expressão de
amor dentro do ambiente escolar. E o amor é o que, sem sobra de dúvida, devera reger o futuro.
Referências
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