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PAULO FREIRE E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE SOCIOLOGIA
Thiago Ingrassia Pereira
UFFS – Campus Erechim
thiago.ingrassia@gmail.com
Eixo 6: Paulo Freire e a Formação de Professores
Resumo: a formação do professor de sociologia a partir do pensamento de Paulo Freire é o
tema deste texto que tem dois objetivos básicos: a) fomentar o debate acerca da licenciatura
em ciências sociais como espaço por excelência da formação do professor de sociologia e b)
ressaltar a dimensão metodológica na formação do professor a partir da interface entre os
campos científicos das ciências sociais e da educação. Ao apresentar algumas reflexões sobre
a relação ensino – aprendizagem em sociologia, busco aproximar a perspectiva de educação
freireana dos princípios epistemológicos contidos nas Orientações Curriculares Nacionais
para o ensino de sociologia. Assim, construo minha argumentação assumindo o pressuposto
da “do-discência”, ou seja, que o professor ao ensinar aprende e que o aluno ao aprender
ensina.
Palavras-Chave: Formação de Professores, Metodologia de Ensino, Ensino de Sociologia.
A partir da Lei 11.684/2008 o ensino de sociologia1
tornou-se obrigatório nos três anos
do ensino médio nas escolas brasileiras. Diante disso, um conjunto de desafios para a efetiva
consolidação dessa área do conhecimento nos currículos escolares passou a fazer parte da
agenda de universidades e das redes públicas e privadas de ensino básico.
Potencializar o espaço da licenciatura em ciências sociais, inclusive com a expansão
de novos cursos, se colocou como necessidade para o aprofundamento do tema formação de
professores de sociologia em termos acadêmicos e profissionais. Nesse sentido, apresento
algumas breves reflexões, com base no pensamento freireano, acerca da formação de
professores da área de ciências sociais.
Como ensinar? Pergunta central para quem se coloca na condição de ser professor. Há
várias tendências pedagógicas que, historicamente, se dispuseram a enfrentar essa questão. De
um modo geral, o ato de ensinar está associado ao ato de aprender. Somente aprendendo algo
posso ensinar algo. E nessa relação entre ensino e aprendizagem, anuncio o campo da
metodologia de ensino como uma das principais questões a serem trabalhadas na formação
dos professores de sociologia:
1
O campo científico das ciências sociais (antropologia, ciência política e sociologia) é representado pela
disciplina de sociologia. Nesse sentido, assumo a perspectiva que a disciplina escolar sociologia deve trabalhar
os conteúdos provenientes das três ciências referidas.
2
Formação do Professor de Sociologia
Nesse sentido, chego a Paulo Freire2
(1921-1997), educador pernambucano, brasileiro
e do mundo. Freire produz uma visão antropológica essencial que se desdobra em sua
pedagogia. Para ele, os seres humanos são seres inacabados, portanto, necessitam da
educação como uma forma de humanização. A partir da consciência de sua finitude, os seres
humanos buscam construir o mundo como espaço de crescimento. Nisso reside a vocação
ontológica para ser mais, tão presente na obra de Freire.
Ao ser “programado” para aprender, homens e mulheres se fazem no mundo e com o
mundo, portanto, se constituem como seres de relação, seres culturais. A educação, assim, é
uma ação cultural que permite aos humanos (re)produzirem sua existência. Qualquer
empecilho à concretização da ação educativa em uma perspectiva libertadora é uma prática
desumanizadora. Freire, durante toda sua produção acadêmica e atividade militante,
problematizou o capitalismo como um sistema desumanizante.
Dessa forma, escreveu sua Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 2005a), livro
fundamental para a compreensão de sua filosofia da educação. Mais do que um método, do
que uma didática, Freire assenta a intervenção educativa a partir de uma antropologia e de
uma filosofia. Há uma concepção de ser humano que se desdobra em uma posição política
contra a exploração dos humanos e da natureza.
Por isso, ao refletirmos, na qualidade de professores de sociologia, sobre nossa prática
pedagógica, encontramos em Paulo Freire alguns subsídios epistemológicos e metodológicos
que podem direcionar nossa atividade pedagógica.
2
Para uma biografia de Freire, acessar o Centro Paulo Freire da UFPE em
http://www.paulofreire.org.br/asp/Index.asp. Acesso em 6 fev 2013.
3
Há, portanto, uma posição política que indica uma prática educativa (pedagógica). Ao
demonstrar o caráter político da educação, Freire mostra a impossibilidade de sermos neutros,
de não tomarmos posição, ou seja, de nos perguntarmos a favor de quem e contra quem
atuamos na educação.
O respeito ao saber originário dos alunos é outro ponto fundamental da pedagogia
freireana. Partir do conhecimento que os alunos chegam à escola não significa ficar neles, ou
seja, devemos respeitar esse “saber de experiência feito” (senso comum), mas problematizá-lo
para superá-lo a partir de noções críticas acerca da realidade social.
Assim, ao buscarmos em Freire possíveis respostas à pergunta “como ensinar?”,
típicas da formação dos licenciados, chegamos a alguns pontos:
 Ensinar não é transferir conhecimento;
 Só posso ensinar aquilo que sei; portanto, para ensinar é preciso aprender;
 Apostar em uma “pedagogia da pergunta” (FREIRE; FAUNDEZ, 2002) em
detrimento de uma “pedagogia da resposta”;
 Partir do senso comum para superá-lo (sem “rupturas”);
 Construir uma ação educativa pautada na liberdade;
 Ser rigoroso e alegre em sala de aula;
 Não dicotomizar teoria e prática, ou seja, trabalhar em nível da “práxis”;
 Buscar dotar a aula de sentido, mobilizando a “curiosidade” dos estudantes;
 Assumir o diálogo como compromisso e estratégica metodológica.
Nada menos freireano do que imaginar a prática pedagógica a partir de “receitas” pré-
estabelecidas. Contudo, ao nos situarmos epistemologicamente, passamos a assumir posições.
Um exemplo: ao assumir o “construtivismo” adotamos a perspectiva de construção do
conhecimento em detrimento de sua transmissão ou simples reprodução. E o conhecimento é
parte do trabalho do professor. Em especial, o professor de sociologia, a partir dos princípios
do estranhamento e da desnaturalização (BRASIL, 2006), pode encontrar na proposta
freireana um excelente embasamento teórico-prático para suas atividades nas escolas.
Por falar nisso, para Freire a escola é um espaço especial. Por isso, defendia que a
escola precisa ser reinventada, democratizada e ser, principalmente a pública, “popular”, pois,
como instituição histórica, é um projeto em permanente disputa.
Escola é...
o lugar onde se faz amigos
não se trata só de prédios, salas, quadros,
programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente,
4
gente que trabalha, que estuda,
que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente,
O coordenador é gente, o professor é gente,
o aluno é gente,
cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
na medida em que cada um
se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém
nada de ser como o tijolo que forma a parede,
indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade,
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora , é lógico...
numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz.
(Paulo Freire)
Paulo Freire possui uma extensa produção bibliográfica disponível para pesquisa3
.
Seus livros partem de sua prática como educador na alfabetização de adultos, mas ultrapassam
apenas essa dimensão, tratando de todos os aspectos relativos à pedagogia, sociologia,
economia, cultura, ética, história etc.
O ensino de sociologia na educação básica mantém uma íntima relação potencial com
as propostas freireanas, pois ambos buscam a construção da criticidade indispensável à
compreensão e intervenção na realidade social.
É por isso que sugiro (re)estudar Paulo Freire. Apenas vale a pena lermos autores para
nos tornarmos um. O próprio Freire queria ser “reinventado” (FREIRE, 2001) e essa é nossa
missão: com criatividade, criarmos e recriarmos estratégias pedagógicas em nosso trabalho.
Particularmente, nossa comunidade docente na sociologia é ainda carente de discussões
metodológicas (didáticas) mais aprofundadas. Tal cenário é originado pela “jovialidade” da
atual obrigatoriedade da sociologia na escola, bem como de sua intermitência ao longo de
todo século XX na escola brasileira. Porém, estamos num momento fecundo para a produção
de um diálogo que possibilite avançarmos na legitimação do espaço curricular da sociologia
na educação básica.
3
Recomendo o acervo do Instituto Paulo Freire, disponível em http://acervo.paulofreire.org/xmlui. Acesso em 6
fev 2013.
5
Paulo Freire não produziu reflexões específicas sobre o ensino de sociologia, mas sua
obra nos fornece pistas preciosas de seu entendimento sobre o papel da ciência da sociedade
na formação das pessoas:
não importa em que sociedade estejamos, em que mundo nos encontremos, não é
possível formar engenheiros ou pedreiros, físicos ou enfermeiras, dentistas ou
torneiros, educadores ou mecânicos, agricultores ou filósofos, pecuaristas ou
biólogos sem uma compreensão de nós mesmos enquanto seres históricos, políticos,
sociais e culturais; sem uma compreensão de como a sociedade funciona. E isto o
treinamento supostamente apenas técnico não dá (FREIRE, 2008, p. 134).
Assim, creio que o ensino de uma ciência que se preocupa exatamente com a
compreensão de como a sociedade funciona é essencial. O ensino de sociologia possui uma
história de muitas rupturas ao longo do século XX em nosso país, até chegar ao ostracismo
durante a ditadura militar (1964-1985).
A própria sociologia como ciência e a profissão de sociólogo sofrem contestações em
seus métodos e na sua finalidade, tendo, nas palavras do sociólogo inglês Anthony Giddens
(2001, p. 11), “algo capaz de causar polêmicas jamais geradas por outras disciplinas”.
Contudo, a atual presença curricular da sociologia é ilustrativa de sua importância na
formação das pessoas, pois, queiramos ou não, estamos “condenados” à vida em sociedade e,
assim, torna-se fundamental sabermos viver nesta sociedade. Deixar de estudar sociologia
representa algo próximo a jogar um jogo todos os dias sem saber de suas regras...
Dessa forma, essas singelas reflexões sobre as concepções freireanas procuram
fomentar o debate sobre a formação de professores de sociologia. Assumo o pressuposto de
que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2005b,
p. 23) e, a partir dele, procuro contribuir4
para a formação de professores com consciência
ética e sólidos fundamentos epistemológicos e metodológicos (didáticos).
Por força de Lei a sociologia está presente nas escolas de nível médio de todo o país,
resta, portanto, examinarmos suas dimensões curriculares, carga horária, conteúdos
ministrados e estratégias metodológicas, além de trabalharmos para a superação da baixa
presença de professores com formação em ciências sociais em regência de classe. Exatamente
num contexto de “crise” do modelo escolar tradicional (CANÁRIO, 2006) e de algumas
propostas para sua superação5
, junto à desvalorização da carreira docente, é que a sociologia
passa a integrar o cenário escolar com o propósito de contribuir para a formação de sujeitos
com consciência crítica.
4
Depois de uma passagem pela docência em sociologia na educação básica, atualmente ministro as disciplinas
de Estágio Curricular Supervisionado no curso de licenciatura em ciências sociais da UFFS/Erechim.
5
Em nível nacional, temos a proposta do “Ensino Médio Inovador”; no Rio Grande do Sul, está em andamento a
reorganização curricular a partir do “Ensino Médio Politécnico”.
6
Mesmo diante dessas dificuldades e desafios, o ensino de sociologia, especialmente na
escola pública6
, pode ser um canal importante para a formação de pessoas aptas a refletirem e
tomarem posição na sociedade. Para isso, precisamos de professores comprometidos, bem
formados e com reconhecimento profissional.
Referências
BRASIL. Orientações Curriculares Nacionais – Sociologia. Brasília: MEC, 2006.
CANÁRIO, R. A escola tem futuro? das promessas às incertezas. Porto Alegre: Artmed,
2006.
FREIRE, P. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Ed. UNESP, 2001.
_____; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2002.
_____. Pedagogia do oprimido. 41 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005a.
_____. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31 ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2005b.
_____. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 15 ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2008.
GIDDENS, A. Em defesa da sociologia: ensaios, interpretações e tréplicas. São Paulo: Ed.
UNESP, 2001.
PEREIRA, T. I. O professor de sociologia como educador popular: abrindo o diálogo na
perspectiva freireana. In: 3º Encontro Estadual de Ensino de Sociologia (ENSOC). Rio de
Janeiro: Anais do 3º ENSOC, 2012.
6
A presença da disciplina sociologia na escola pública proporciona pensarmos a partir de pressupostos
construídos no movimento de educação popular. Tenho procurado pensar nesta relação entre o ensino de
sociologia nas escolas públicas e a educação popular (PEREIRA, 2012).

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Formação de professores de sociologia segundo Paulo Freire

  • 1. PAULO FREIRE E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE SOCIOLOGIA Thiago Ingrassia Pereira UFFS – Campus Erechim thiago.ingrassia@gmail.com Eixo 6: Paulo Freire e a Formação de Professores Resumo: a formação do professor de sociologia a partir do pensamento de Paulo Freire é o tema deste texto que tem dois objetivos básicos: a) fomentar o debate acerca da licenciatura em ciências sociais como espaço por excelência da formação do professor de sociologia e b) ressaltar a dimensão metodológica na formação do professor a partir da interface entre os campos científicos das ciências sociais e da educação. Ao apresentar algumas reflexões sobre a relação ensino – aprendizagem em sociologia, busco aproximar a perspectiva de educação freireana dos princípios epistemológicos contidos nas Orientações Curriculares Nacionais para o ensino de sociologia. Assim, construo minha argumentação assumindo o pressuposto da “do-discência”, ou seja, que o professor ao ensinar aprende e que o aluno ao aprender ensina. Palavras-Chave: Formação de Professores, Metodologia de Ensino, Ensino de Sociologia. A partir da Lei 11.684/2008 o ensino de sociologia1 tornou-se obrigatório nos três anos do ensino médio nas escolas brasileiras. Diante disso, um conjunto de desafios para a efetiva consolidação dessa área do conhecimento nos currículos escolares passou a fazer parte da agenda de universidades e das redes públicas e privadas de ensino básico. Potencializar o espaço da licenciatura em ciências sociais, inclusive com a expansão de novos cursos, se colocou como necessidade para o aprofundamento do tema formação de professores de sociologia em termos acadêmicos e profissionais. Nesse sentido, apresento algumas breves reflexões, com base no pensamento freireano, acerca da formação de professores da área de ciências sociais. Como ensinar? Pergunta central para quem se coloca na condição de ser professor. Há várias tendências pedagógicas que, historicamente, se dispuseram a enfrentar essa questão. De um modo geral, o ato de ensinar está associado ao ato de aprender. Somente aprendendo algo posso ensinar algo. E nessa relação entre ensino e aprendizagem, anuncio o campo da metodologia de ensino como uma das principais questões a serem trabalhadas na formação dos professores de sociologia: 1 O campo científico das ciências sociais (antropologia, ciência política e sociologia) é representado pela disciplina de sociologia. Nesse sentido, assumo a perspectiva que a disciplina escolar sociologia deve trabalhar os conteúdos provenientes das três ciências referidas.
  • 2. 2 Formação do Professor de Sociologia Nesse sentido, chego a Paulo Freire2 (1921-1997), educador pernambucano, brasileiro e do mundo. Freire produz uma visão antropológica essencial que se desdobra em sua pedagogia. Para ele, os seres humanos são seres inacabados, portanto, necessitam da educação como uma forma de humanização. A partir da consciência de sua finitude, os seres humanos buscam construir o mundo como espaço de crescimento. Nisso reside a vocação ontológica para ser mais, tão presente na obra de Freire. Ao ser “programado” para aprender, homens e mulheres se fazem no mundo e com o mundo, portanto, se constituem como seres de relação, seres culturais. A educação, assim, é uma ação cultural que permite aos humanos (re)produzirem sua existência. Qualquer empecilho à concretização da ação educativa em uma perspectiva libertadora é uma prática desumanizadora. Freire, durante toda sua produção acadêmica e atividade militante, problematizou o capitalismo como um sistema desumanizante. Dessa forma, escreveu sua Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 2005a), livro fundamental para a compreensão de sua filosofia da educação. Mais do que um método, do que uma didática, Freire assenta a intervenção educativa a partir de uma antropologia e de uma filosofia. Há uma concepção de ser humano que se desdobra em uma posição política contra a exploração dos humanos e da natureza. Por isso, ao refletirmos, na qualidade de professores de sociologia, sobre nossa prática pedagógica, encontramos em Paulo Freire alguns subsídios epistemológicos e metodológicos que podem direcionar nossa atividade pedagógica. 2 Para uma biografia de Freire, acessar o Centro Paulo Freire da UFPE em http://www.paulofreire.org.br/asp/Index.asp. Acesso em 6 fev 2013.
  • 3. 3 Há, portanto, uma posição política que indica uma prática educativa (pedagógica). Ao demonstrar o caráter político da educação, Freire mostra a impossibilidade de sermos neutros, de não tomarmos posição, ou seja, de nos perguntarmos a favor de quem e contra quem atuamos na educação. O respeito ao saber originário dos alunos é outro ponto fundamental da pedagogia freireana. Partir do conhecimento que os alunos chegam à escola não significa ficar neles, ou seja, devemos respeitar esse “saber de experiência feito” (senso comum), mas problematizá-lo para superá-lo a partir de noções críticas acerca da realidade social. Assim, ao buscarmos em Freire possíveis respostas à pergunta “como ensinar?”, típicas da formação dos licenciados, chegamos a alguns pontos:  Ensinar não é transferir conhecimento;  Só posso ensinar aquilo que sei; portanto, para ensinar é preciso aprender;  Apostar em uma “pedagogia da pergunta” (FREIRE; FAUNDEZ, 2002) em detrimento de uma “pedagogia da resposta”;  Partir do senso comum para superá-lo (sem “rupturas”);  Construir uma ação educativa pautada na liberdade;  Ser rigoroso e alegre em sala de aula;  Não dicotomizar teoria e prática, ou seja, trabalhar em nível da “práxis”;  Buscar dotar a aula de sentido, mobilizando a “curiosidade” dos estudantes;  Assumir o diálogo como compromisso e estratégica metodológica. Nada menos freireano do que imaginar a prática pedagógica a partir de “receitas” pré- estabelecidas. Contudo, ao nos situarmos epistemologicamente, passamos a assumir posições. Um exemplo: ao assumir o “construtivismo” adotamos a perspectiva de construção do conhecimento em detrimento de sua transmissão ou simples reprodução. E o conhecimento é parte do trabalho do professor. Em especial, o professor de sociologia, a partir dos princípios do estranhamento e da desnaturalização (BRASIL, 2006), pode encontrar na proposta freireana um excelente embasamento teórico-prático para suas atividades nas escolas. Por falar nisso, para Freire a escola é um espaço especial. Por isso, defendia que a escola precisa ser reinventada, democratizada e ser, principalmente a pública, “popular”, pois, como instituição histórica, é um projeto em permanente disputa. Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente,
  • 4. 4 gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz. (Paulo Freire) Paulo Freire possui uma extensa produção bibliográfica disponível para pesquisa3 . Seus livros partem de sua prática como educador na alfabetização de adultos, mas ultrapassam apenas essa dimensão, tratando de todos os aspectos relativos à pedagogia, sociologia, economia, cultura, ética, história etc. O ensino de sociologia na educação básica mantém uma íntima relação potencial com as propostas freireanas, pois ambos buscam a construção da criticidade indispensável à compreensão e intervenção na realidade social. É por isso que sugiro (re)estudar Paulo Freire. Apenas vale a pena lermos autores para nos tornarmos um. O próprio Freire queria ser “reinventado” (FREIRE, 2001) e essa é nossa missão: com criatividade, criarmos e recriarmos estratégias pedagógicas em nosso trabalho. Particularmente, nossa comunidade docente na sociologia é ainda carente de discussões metodológicas (didáticas) mais aprofundadas. Tal cenário é originado pela “jovialidade” da atual obrigatoriedade da sociologia na escola, bem como de sua intermitência ao longo de todo século XX na escola brasileira. Porém, estamos num momento fecundo para a produção de um diálogo que possibilite avançarmos na legitimação do espaço curricular da sociologia na educação básica. 3 Recomendo o acervo do Instituto Paulo Freire, disponível em http://acervo.paulofreire.org/xmlui. Acesso em 6 fev 2013.
  • 5. 5 Paulo Freire não produziu reflexões específicas sobre o ensino de sociologia, mas sua obra nos fornece pistas preciosas de seu entendimento sobre o papel da ciência da sociedade na formação das pessoas: não importa em que sociedade estejamos, em que mundo nos encontremos, não é possível formar engenheiros ou pedreiros, físicos ou enfermeiras, dentistas ou torneiros, educadores ou mecânicos, agricultores ou filósofos, pecuaristas ou biólogos sem uma compreensão de nós mesmos enquanto seres históricos, políticos, sociais e culturais; sem uma compreensão de como a sociedade funciona. E isto o treinamento supostamente apenas técnico não dá (FREIRE, 2008, p. 134). Assim, creio que o ensino de uma ciência que se preocupa exatamente com a compreensão de como a sociedade funciona é essencial. O ensino de sociologia possui uma história de muitas rupturas ao longo do século XX em nosso país, até chegar ao ostracismo durante a ditadura militar (1964-1985). A própria sociologia como ciência e a profissão de sociólogo sofrem contestações em seus métodos e na sua finalidade, tendo, nas palavras do sociólogo inglês Anthony Giddens (2001, p. 11), “algo capaz de causar polêmicas jamais geradas por outras disciplinas”. Contudo, a atual presença curricular da sociologia é ilustrativa de sua importância na formação das pessoas, pois, queiramos ou não, estamos “condenados” à vida em sociedade e, assim, torna-se fundamental sabermos viver nesta sociedade. Deixar de estudar sociologia representa algo próximo a jogar um jogo todos os dias sem saber de suas regras... Dessa forma, essas singelas reflexões sobre as concepções freireanas procuram fomentar o debate sobre a formação de professores de sociologia. Assumo o pressuposto de que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2005b, p. 23) e, a partir dele, procuro contribuir4 para a formação de professores com consciência ética e sólidos fundamentos epistemológicos e metodológicos (didáticos). Por força de Lei a sociologia está presente nas escolas de nível médio de todo o país, resta, portanto, examinarmos suas dimensões curriculares, carga horária, conteúdos ministrados e estratégias metodológicas, além de trabalharmos para a superação da baixa presença de professores com formação em ciências sociais em regência de classe. Exatamente num contexto de “crise” do modelo escolar tradicional (CANÁRIO, 2006) e de algumas propostas para sua superação5 , junto à desvalorização da carreira docente, é que a sociologia passa a integrar o cenário escolar com o propósito de contribuir para a formação de sujeitos com consciência crítica. 4 Depois de uma passagem pela docência em sociologia na educação básica, atualmente ministro as disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado no curso de licenciatura em ciências sociais da UFFS/Erechim. 5 Em nível nacional, temos a proposta do “Ensino Médio Inovador”; no Rio Grande do Sul, está em andamento a reorganização curricular a partir do “Ensino Médio Politécnico”.
  • 6. 6 Mesmo diante dessas dificuldades e desafios, o ensino de sociologia, especialmente na escola pública6 , pode ser um canal importante para a formação de pessoas aptas a refletirem e tomarem posição na sociedade. Para isso, precisamos de professores comprometidos, bem formados e com reconhecimento profissional. Referências BRASIL. Orientações Curriculares Nacionais – Sociologia. Brasília: MEC, 2006. CANÁRIO, R. A escola tem futuro? das promessas às incertezas. Porto Alegre: Artmed, 2006. FREIRE, P. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Ed. UNESP, 2001. _____; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. _____. Pedagogia do oprimido. 41 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005a. _____. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005b. _____. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 15 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. GIDDENS, A. Em defesa da sociologia: ensaios, interpretações e tréplicas. São Paulo: Ed. UNESP, 2001. PEREIRA, T. I. O professor de sociologia como educador popular: abrindo o diálogo na perspectiva freireana. In: 3º Encontro Estadual de Ensino de Sociologia (ENSOC). Rio de Janeiro: Anais do 3º ENSOC, 2012. 6 A presença da disciplina sociologia na escola pública proporciona pensarmos a partir de pressupostos construídos no movimento de educação popular. Tenho procurado pensar nesta relação entre o ensino de sociologia nas escolas públicas e a educação popular (PEREIRA, 2012).