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A Participação Ritual
parte 1
Prof. Júlio Rocha
Disciplina: Rádio e TV 1
Ano: 2013
3º Período de Publicidade e Propaganda
Aulas: 43 e 44
• Em meio ao universo das
mídias, sabemos o timing
comunicacional responsável pelo
montante dos investimentos
publicitários em cada meio e em
cada emissora.
A Participação Ritual
• Entretanto, não nos
interessa, por ora, a relação
direta e explícita entre timing
e capital. Escutamos, a
contrapelo, o percurso
circular que acompanha as
indicações horárias.
A Participação Ritual
• Reduzida à
desimportância, a repetição
exaustiva do nome da
emissora, das horas e dos
minutos oralizados nas
estações de rádio sugere-nos
um tipo especial de
recitação: narração com
hora e local marcados.
A Participação Ritual
• O calendário, considerado
como organizador do
tempo, das atividades
cotidianas e da vida
pública, é um objeto
social, mesmo que
religioso, quando ligado as
crenças.
A Participação Ritual
• Calendário, do latim
calendarium, designa o “livro de
contas”, pois os romanos
pagavam seus juros nas
calandae, o primeiro dia do
tempo natural, social e o
controle do poder sempre
estiveram juntos:
A Participação Ritual
• Os que controlam o calendário controlam indiretamente o trabalho, o
tempo livre e as festas (Le Goff, 1992, p. 494).
A Participação Ritual
• O poder eclesiástico, onde
existia, por muito tempo
manipulou e interpretou o
calendário o calendário:
A Participação Ritual
• Eles determinavam a liturgia, a
conduta dos dias festivos, as
comidas, a mímica, a
gestualidade, em prazos que se
repetiam ritmicamente (...) As
festas servem à economia das
forças da alma, posto que, em
virtude de suas referências
metafísicas, liberam o tormento
da
luta, diária, e, naturalmente, serv
em para a autopresentação de
quem as organizam
(Pross, 1989, p.78).
A Participação Ritual
• Por vezes, o calendário
aproxima a ordenação
simbólica à natureza; é o caso
de alguns ritos, inseridos nos
ritos do calendário, descritos
por Pross (1980, p. 130), que
seguem as trocas climáticas, a
oposição claro/escuro, as
mudanças de estação.
A Participação Ritual
• As reflexões de Pross assinalam
o caráter de coesão e coação
que o calendário imprime ao
sujeito, proporcionando-lhe
vantagens e sanções, em face
da obrigatoriedade da
participação, como sublinham
suas palavras. Também o
tempo biológico e subjetivo do
homem fica a mercê da
cronologia, „provavelmente a
suprema força simbólica da
vida cotidiana‟ (Pross, 1989, p.
76).
A Participação Ritual
• A semana, invenção humana no
calendário, só difundida no
Ocidente depois do século III
d.C., introduziu o tempo
livre, vacância na vida rotineira e
no ritmo regular do trabalho.
A Participação Ritual
• Não obstante cada cultura estabelecesse o dia de repouso em datas
diferentes:
A Participação Ritual
• A sexta-feira dos mulçumanos, o
sábado dos judeus e o domingo
dos cristãos, o tempo livre, ainda
que prescrito e legitimado por
tradições religiosas, transformou-
se, nas sociedades urbanizadas
contemporâneas, em fim de
semana de dois dias, o weeke-end
inaugurado na
Inglaterra, primeira nação
industrializada.
A Participação Ritual
• Pross (1989) considera o
tempo livre, os fins de
semana e as grandes férias
que acompanham o
verão, ritos profanos do
calendário, assim como o
tempo fixo de trabalho.
A Participação Ritual
• Edgar Morin, em suas reflexões sobre a cultura de massa, dialoga com
Pross:
A Participação Ritual
• O lazer moderno não é apenas o acesso democrático a um tempo livre que
era o privilégio das classes dominantes. Ele saiu da própria organização
do trabalho burocrático e industrial. O tempo de trabalho enquadrado em
horários fixos, permanentes, independentes das estações s retraiu sob o
impulso do movimento sindical e segundo a lógica de uma economia
que, englobando lentamente os trabalhadores em seu mercado, encontra-
se obrigada a lhes fornecer não mais apenas um tempo de repouso e de
recuperação, mas um tempo de consumo (Morin, 1987, p. 67).
A Participação Ritual
• O tempo livre transformado
em tempo de
consumo, redefinido como
lazer, obriga-nos a praticar
os ritos do calendário, pois
somos impelidos a
participar, entretendo-nos.
A Participação Ritual
• Morin (1987, p. 69) também nos diz que a ética do lazer toma corpo e se
estrutura na cultura de massa:
que não faz outra coisa senão mobilizar o lazer (através dos espetáculos, das
competições da televisão, do rádio, da leitura de jornais e revistas).
A Participação Ritual
• Menos apocalíptico que
Morin, Pross elucida a
questão das mídias
considerada como sistema
de sinais mobilizadores de
energias psicofísicas do
emissor e do receptor.
A Participação Ritual
• Valendo-se de um dos axiomas
metacomunicacionais da pragmática
da comunicação descritos por
Watzlawick (1967, p. 47): “não se pode
não comunicar”, Pross aponta a
incapacidade dos sujeitos, mesmo que
não diretamente interessados na
comunicação, de negar seu
envolvimento com os meios
eletrônicos impressos. A participação
do receptor no processo
comunicacional vale como prova de
status.
A Participação Ritual
• A necessidade de comunicar-se do sujeito converte os meios existentes de
comunicação em condições obrigatórias da vida social (Pross, 1989, p. 99).
A Participação Ritual
• O princípio que rege esta inter-
relação é o da economia do sinal.
O desenvolvimento
tecnológico, que torna
desnecessária a presença física
dos produtores da
comunicação, reduz o gasto de
sinais enviados pelos emissores
e, consequentemente, promove
aumento do esforço por parte do
receptor.
A Participação Ritual
• Além do esforço real, o preço
pago para a aquisição da
informação, o receptor também
participa com seu tempo
subjetivo e biológico, assujeitado
aos ritos modernos do
calendário: ritos de trabalho e
ritos de lazer.
A Participação Ritual
• A obrigatoriedade da
comunicação e da participação
no calendário produz o que
Pross (1989) denomina
carência psicofísica, traduzida
em desconhecimento, e em
carência emocional. Para
suprimir o déficit gerado pelo
desconhecimento, busca-se a
informação, e, por sua vez, para
superar a carência
emocional, busca-se o
entretenimento.
A Participação Ritual
• O ritual situa-se no eixo do
entretenimento: relaxamento da
consciência, perda da
vigília, automatismo, eliminação
da vida cotidiana. A participação
nos atos
comunicativos, incluídos nos
ritos do calendário, enquadra
também o receptor no rito:
A Participação Ritual
• Os ritos aligeiram a relação existente entre ordenação egocêntrica e
supra-ordenação social, ativando a primeira em benefício da segunda
(Pross, 1980, p. 134).
A Participação Ritual
• Incrustado ao lazer, ao tempo
livre, o entretenimento
crescente, sob a forma
ritual, propõe-se a compensar
os déficits emocionais, embora
nunca o faça efetivamente:
A Participação Ritual
• Os “déficits” emocionais que geram o
entretenimento não são superados.
Os meios de comunicação de massa
mantêm esses “déficits” para
continuar a procura do
entretenimento (Baitello, 1989).
A Participação Ritual
• As mídias, estimulando a
ansiedade
participativa, garantem o
poder dos produtos da
comunicação, o controle do
emissor. Atuam na vida
social:
A Participação Ritual
• A atividade social precisa ser ordenada em um rito de calendário, que
constitui o rito básico de toda sociedade (..) E aí vêm os veículos de
comunicação de massa que naturalmente se aproveitam disto
(Pross, 1992, p. 9).
A Participação Ritual
Fonte:
• NUNES, Mônica Rebecca Ferrari. O mito no rádio: a voz e os signos de renovação
periódica. 3. ed. São Paulo: Annablume, 1999.

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A participação ritual

  • 1. A Participação Ritual parte 1 Prof. Júlio Rocha Disciplina: Rádio e TV 1 Ano: 2013 3º Período de Publicidade e Propaganda Aulas: 43 e 44
  • 2. • Em meio ao universo das mídias, sabemos o timing comunicacional responsável pelo montante dos investimentos publicitários em cada meio e em cada emissora. A Participação Ritual
  • 3. • Entretanto, não nos interessa, por ora, a relação direta e explícita entre timing e capital. Escutamos, a contrapelo, o percurso circular que acompanha as indicações horárias. A Participação Ritual
  • 4. • Reduzida à desimportância, a repetição exaustiva do nome da emissora, das horas e dos minutos oralizados nas estações de rádio sugere-nos um tipo especial de recitação: narração com hora e local marcados. A Participação Ritual
  • 5. • O calendário, considerado como organizador do tempo, das atividades cotidianas e da vida pública, é um objeto social, mesmo que religioso, quando ligado as crenças. A Participação Ritual
  • 6. • Calendário, do latim calendarium, designa o “livro de contas”, pois os romanos pagavam seus juros nas calandae, o primeiro dia do tempo natural, social e o controle do poder sempre estiveram juntos: A Participação Ritual
  • 7. • Os que controlam o calendário controlam indiretamente o trabalho, o tempo livre e as festas (Le Goff, 1992, p. 494). A Participação Ritual
  • 8. • O poder eclesiástico, onde existia, por muito tempo manipulou e interpretou o calendário o calendário: A Participação Ritual
  • 9. • Eles determinavam a liturgia, a conduta dos dias festivos, as comidas, a mímica, a gestualidade, em prazos que se repetiam ritmicamente (...) As festas servem à economia das forças da alma, posto que, em virtude de suas referências metafísicas, liberam o tormento da luta, diária, e, naturalmente, serv em para a autopresentação de quem as organizam (Pross, 1989, p.78). A Participação Ritual
  • 10. • Por vezes, o calendário aproxima a ordenação simbólica à natureza; é o caso de alguns ritos, inseridos nos ritos do calendário, descritos por Pross (1980, p. 130), que seguem as trocas climáticas, a oposição claro/escuro, as mudanças de estação. A Participação Ritual
  • 11. • As reflexões de Pross assinalam o caráter de coesão e coação que o calendário imprime ao sujeito, proporcionando-lhe vantagens e sanções, em face da obrigatoriedade da participação, como sublinham suas palavras. Também o tempo biológico e subjetivo do homem fica a mercê da cronologia, „provavelmente a suprema força simbólica da vida cotidiana‟ (Pross, 1989, p. 76). A Participação Ritual
  • 12. • A semana, invenção humana no calendário, só difundida no Ocidente depois do século III d.C., introduziu o tempo livre, vacância na vida rotineira e no ritmo regular do trabalho. A Participação Ritual
  • 13. • Não obstante cada cultura estabelecesse o dia de repouso em datas diferentes: A Participação Ritual
  • 14. • A sexta-feira dos mulçumanos, o sábado dos judeus e o domingo dos cristãos, o tempo livre, ainda que prescrito e legitimado por tradições religiosas, transformou- se, nas sociedades urbanizadas contemporâneas, em fim de semana de dois dias, o weeke-end inaugurado na Inglaterra, primeira nação industrializada. A Participação Ritual
  • 15. • Pross (1989) considera o tempo livre, os fins de semana e as grandes férias que acompanham o verão, ritos profanos do calendário, assim como o tempo fixo de trabalho. A Participação Ritual
  • 16. • Edgar Morin, em suas reflexões sobre a cultura de massa, dialoga com Pross: A Participação Ritual
  • 17. • O lazer moderno não é apenas o acesso democrático a um tempo livre que era o privilégio das classes dominantes. Ele saiu da própria organização do trabalho burocrático e industrial. O tempo de trabalho enquadrado em horários fixos, permanentes, independentes das estações s retraiu sob o impulso do movimento sindical e segundo a lógica de uma economia que, englobando lentamente os trabalhadores em seu mercado, encontra- se obrigada a lhes fornecer não mais apenas um tempo de repouso e de recuperação, mas um tempo de consumo (Morin, 1987, p. 67). A Participação Ritual
  • 18. • O tempo livre transformado em tempo de consumo, redefinido como lazer, obriga-nos a praticar os ritos do calendário, pois somos impelidos a participar, entretendo-nos. A Participação Ritual
  • 19. • Morin (1987, p. 69) também nos diz que a ética do lazer toma corpo e se estrutura na cultura de massa: que não faz outra coisa senão mobilizar o lazer (através dos espetáculos, das competições da televisão, do rádio, da leitura de jornais e revistas). A Participação Ritual
  • 20. • Menos apocalíptico que Morin, Pross elucida a questão das mídias considerada como sistema de sinais mobilizadores de energias psicofísicas do emissor e do receptor. A Participação Ritual
  • 21. • Valendo-se de um dos axiomas metacomunicacionais da pragmática da comunicação descritos por Watzlawick (1967, p. 47): “não se pode não comunicar”, Pross aponta a incapacidade dos sujeitos, mesmo que não diretamente interessados na comunicação, de negar seu envolvimento com os meios eletrônicos impressos. A participação do receptor no processo comunicacional vale como prova de status. A Participação Ritual
  • 22. • A necessidade de comunicar-se do sujeito converte os meios existentes de comunicação em condições obrigatórias da vida social (Pross, 1989, p. 99). A Participação Ritual
  • 23. • O princípio que rege esta inter- relação é o da economia do sinal. O desenvolvimento tecnológico, que torna desnecessária a presença física dos produtores da comunicação, reduz o gasto de sinais enviados pelos emissores e, consequentemente, promove aumento do esforço por parte do receptor. A Participação Ritual
  • 24. • Além do esforço real, o preço pago para a aquisição da informação, o receptor também participa com seu tempo subjetivo e biológico, assujeitado aos ritos modernos do calendário: ritos de trabalho e ritos de lazer. A Participação Ritual
  • 25. • A obrigatoriedade da comunicação e da participação no calendário produz o que Pross (1989) denomina carência psicofísica, traduzida em desconhecimento, e em carência emocional. Para suprimir o déficit gerado pelo desconhecimento, busca-se a informação, e, por sua vez, para superar a carência emocional, busca-se o entretenimento. A Participação Ritual
  • 26. • O ritual situa-se no eixo do entretenimento: relaxamento da consciência, perda da vigília, automatismo, eliminação da vida cotidiana. A participação nos atos comunicativos, incluídos nos ritos do calendário, enquadra também o receptor no rito: A Participação Ritual
  • 27. • Os ritos aligeiram a relação existente entre ordenação egocêntrica e supra-ordenação social, ativando a primeira em benefício da segunda (Pross, 1980, p. 134). A Participação Ritual
  • 28. • Incrustado ao lazer, ao tempo livre, o entretenimento crescente, sob a forma ritual, propõe-se a compensar os déficits emocionais, embora nunca o faça efetivamente: A Participação Ritual
  • 29. • Os “déficits” emocionais que geram o entretenimento não são superados. Os meios de comunicação de massa mantêm esses “déficits” para continuar a procura do entretenimento (Baitello, 1989). A Participação Ritual
  • 30. • As mídias, estimulando a ansiedade participativa, garantem o poder dos produtos da comunicação, o controle do emissor. Atuam na vida social: A Participação Ritual
  • 31. • A atividade social precisa ser ordenada em um rito de calendário, que constitui o rito básico de toda sociedade (..) E aí vêm os veículos de comunicação de massa que naturalmente se aproveitam disto (Pross, 1992, p. 9). A Participação Ritual
  • 32. Fonte: • NUNES, Mônica Rebecca Ferrari. O mito no rádio: a voz e os signos de renovação periódica. 3. ed. São Paulo: Annablume, 1999.