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Ano I – Número 03 – Novembro de 2011        ISSN - 2236-2347




Entrevista
Haroldo Mattos
Lemos, do Pnuma:
“O mundo hoje é
dividido entre países
credores e devedores
ecológicos.”




um
novo
modelo
Agricultores como os irmãos Joab e Abdeel
Lima, de Iperó (SP), adotam boas práticas
ambientais e transformam o processo
produtivo em pequenas propriedades
Nesta edição                                                                        10

                                                            Capa                 4
   Práticas sustentáveis como a destinação correta do esgoto e uso
                 racional da natureza mudam a realidade do campo



                                                          Debate                 8
      “Qual o maior desafio para a sustentabilidade ambiental das
  propriedades rurais?”: Christino Áureo e Maria Aurigele Barbosa

                                                     Entrevista                  10
    Haroldo Mattos Lemos, presidente do Instituto Brasil Pnuma

                                                Boas Práticas                    14
        Guaçu-Virá: empreendimento transforma região capixaba
 Rejuma: jovens assumem protagonismo em ações socioambientais

                                                 Jovens em Ação                  16
         As histórias de Fabiano e Gildete, que revolucionam suas
    propriedades e comunidades rurais com iniciativas sustentáveis

                                             Instituto em Foco                   18
            IV Jornada Nacional reúne mais de 400 jovens no ES
                                                                                                                                     16
Ceará forma primeira turma de Agentes de Desenvolvimento Rural

                                                         Meu Rural               19
      O agricultor capixaba Elielson Zoboli diversifica a produção,
             refloresta área de nascente e impede a erosão do solo




                 SUSTENTABILIDADE DO CAMPO                       Coordenação: Luiz André Soares
                 Publicação trimestral do Instituto Souza Cruz   Jornalistas responsáveis:
                 Outubro/2011 - Tiragem: 2 mil exemplares        Andrea Guedes (Mtb.28246 RJ)
                                                                 e Guilherme Mattoso (Mtb.26674)
                 Rua da Candelária, 66 / 4º andar – Centro
                                                                 Projeto gráfico e produção editorial:
                 CEP 20091-900 - Rio de Janeiro (RJ)
                                                                 Via Corporativa Comunicação (www.viacorporativa.com.br)
                 Tel.: (21) 3849-9619 – Fax: (21) 3849-9778
                                                                 Foto de capa: Marina Lopes
                 institutosouzacruz@institutosouzacruz.org.br    Os conceitos emitidos nos artigos e matérias assinadas são de responsabilidade
                 www.institutosouzacruz.org.br                   dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do Instituto Souza Cruz
Liquiatu
                      Inrenomu
E   Optatia volor asit labo. Et magnita voluptati volore custo debis con-
sequodis quos sit labo. Nam eos simenit porem. Illab ilique volorio-
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porit, omnisqui tem faccum sanimi, aut adis sedis ma volorem que.

                                                                                 Luiz André Soares
                                                                                        Gerente do
                                                                              Instituto Souza Cruz
CAPA




           Consciência
           ambiental
           Conjugação de boas práticas torna a agricultura familiar um dos principais
           pilares da sustentabilidade no meio rural brasileiro



           A    té o ano passado, os irmãos Abdeel, 31
           anos, e Joab da Silva Lima, 29 anos, plantavam
                                                                 hortaliças e cereais, o que potencializou a ferti-
                                                                 lidade da terra e aumentou a biomassa (decom-
           berinjela, milho e goiaba em sua propriedade de       posição da matéria verde). Adubos sintéticos e
           oito hectares, na cidade paulista de Iperó. Por       defensivos agrícolas foram sumariamente descar-
           conta da excessiva acidez do solo, a área de culti-   tados. Em suas contas, só nesses primeiros meses,
           vo já não apresentava boas condições de fertiliza-    já conseguiram reduzir 60% dos custos da pro-
           ção e uma nascente próxima do local havia pra-        priedade. “Ao combinar esses fatores, eu conse-
           ticamente parado de jorrar água. Diante desse         gui minimizar a incidência de pragas e doenças,
           cenário pouco promissor, eles decidiram desen-        recuperar o solo degradado, passar a contar com
           volver um projeto de transição de uma agricul-        mais e melhor água na propriedade, ficar menos
           tura convencional para um sistema sustentável,        dependente de insumos externos e ter colheitas
           maximizando a produção de legumes e frutas e          alternadas ao longo do ano”, comemora Abdeel.
           apostando na criação de vaca de leite e frango.           Os produtores, que estudam Agronomia na
               Os irmãos Lima dividiram o lote em subsiste-      Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sa-
           mas (criação de gado, plantação de goiaba, euca-      bem que, ao desenvolver uma agricultura sustentá-
           lipto, banana e mexerica poncã) e promoveram o        vel, contribuem para garantir a segurança alimentar
           plantio consorciado de leguminosas com frutas,        para uma população que não para de crescer. Ou



       4   Sustentabilidade do Campo
Joab (à esq.) e Abdeel Lima iniciaram a migração da agricultura convencional
                      para um sistema sustentável: preservação ambiental e redução de custos




                          seja, entendem que para preservar os recursos natu-                         mento de coelho e utiliza a cobertura vegetal
                          rais, essenciais à existência humana, é preciso adap-                       para controle da tiririca (planta normalmente
                          tar a atividade agrícola ao meio e não o contrário.                         daninha à produção). Em Barra do Turvo (SP) e
                              Assim como os irmãos Lima, agricultores                                 Adrianópolis (PR), agricultores da Cooperaflo-
                          familiares que adotam práticas sustentáveis na                              resta, além de separar e reciclar o lixo orgânico,
                          produção não só conservam melhor os recursos                                instalaram um sistema de saneamento com fos-
                          naturais, ampliando a produtividade das áreas                               sas sépticas biodigestoras, filtragem de água com
                          exploradas, como gastam menos comparativa-                                  plantas purificadoras e banheiros secos, onde os
                          mente aos modelos tradicionais de cultivo. Isso                             dejetos, misturados com palha e compostados,
                          porque não precisam investir em tecnologias                                 servem como adubo para árvores.
                          modernas e na manutenção das mesmas. Por ou-                                    A adoção de práticas mais sustentáveis, do plan-
                          tro lado, estão em harmonia com uma tendência                               tio à colheita, evita impactos negativos ao ambien-
                          mundial: os consumidores valorizam cada vez                                 te como a erosão do solo, a poluição das águas,
                          mais os produtos fabricados em conformidade                                 a contaminação dos alimentos por produtos agro-
                          com o meio ambiente. “Aos poucos eles estão                                 químicos e a redução da biodiversidade. No entan-
                          se tornando mais exigentes, articulados e atentos                           to, para incrementar em larga escala uma agricultu-
                          ao desenvolvimento sustentável, formando uma                                ra sustentável são necessárias políticas públicas que
Fotos: Marina Lopes




                          consciência ambiental”, assinala o consultor de                             ofereçam condições para que o agricultor perma-
                          sustentabilidade empresarial Vitor Seravalli, 52,                           neça no campo com qualidade e, em comunhão
                          que já presidiu o Comitê Brasileiro do Pacto                                com o meio ambiente, empreenda a partir dele.
                          Global (ONU) e atualmente é diretor de Res-                                     Em Itapeva, Taquarivaí, Buri e Nova Cam-
                          ponsabilidade Social do Centro das Indústrias                               pina, no interior de São Paulo, 120 famílias de
                          do Estado de São Paulo (Ciesp).                                             agricultores estão instalando fossas sépticas bio-
                                                                                                      digestoras em suas propriedades para tratar dos
                          Atuação exemplar                                                            dejetos humanos e animais – o modelo foi de-
                          Com a disseminação dessa consciência, hoje já                               senvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa
                          existem inúmeras iniciativas exemplares que con-                            Agropecuária (Embrapa), instituição pública
                          ciliam produção rural com expansão econômica                                brasileira vinculada ao Ministério da Agricultu-
                          e proteção à natureza, valendo-se de princípios e                           ra. O sistema, que custa em torno de R$ 1.200,
                          técnicas relativamente simples. Na Baixada Flu-                             é uma contrapartida ambiental exigida pelo Pro-
                          minense, a Cooperativa de Agricultores Univer-                              grama Nacional de Habitação Rural.
                          de produz alimentos sem o uso de agrotóxicos,                                   “Estamos também instituindo educação am-
                          diversifica sua produção, faz adubo com excre-                              biental na região, ensinando os agricultores, por



                                                                              Agricultura sustentável é...
                                                                              •  erar o mínimo de impactos adversos ao ambiente (ar, solo e água);
                                                                                G
                                                                              •  timizar a produção com recursos do próprio agrossistema, diminuindo
                                                                                O
                                                                               a necessidade de insumos externos;
                                                                              •  reservar o solo, mantendo a sua fertilidade e evitando a erosão;
                                                                                P
                                                                              •  tilizar a água de maneira racional;
                                                                                U
                                                                              •  anter a diversidade biológica;
                                                                                M
                                                                              •  eduzir o uso de produtos agroquímicos e fertilizantes sintéticos solúveis;
                                                                                R
                                                                              •  romover a rotação de culturas e a integração lavoura-pecuária;
                                                                                P
                                                                              •  uscar novas fontes de energia;
                                                                                B
                                                                              • nstalar latas de lixo em zonas estratégicas da propriedade e depósitos de
                                                                                I
                                                                               lixo adequados, recolhendo estes ao final do dia de trabalho;
                                                                              •  lantar árvores de diversos tipos, o que contribui no combate ao
                                                                                P
                                                                               aquecimento global;
                                                                              •  atisfazer as necessidades humanas de alimentos.
                                                                                S



                                                                                                                                           Instituto Souza Cruz   5
CAPA



                                                                                                                                                  Sintraf incentiva instalação
                                                                                                                                                  de fossas biodigestoras (foto
                                                                                                                                                  à esq.) e a adoção de outros
                                                                                                                                                  cuidados ambientais; na foto,
                                                                                                                                                  Marco Antonio Pimentel,
                                                                                                                                                  dirigente do sindicato




                                                                                       Fotos: Acervo Sintraf - Itapeva
                                                                                                                         sustentável na agricultura não deve ser institu-
                                                                                                                         ída de cima para baixo. Ele alerta para o risco
                                                                                                                         de acabar funcionando como uma nova versão
                                                                                                                         da Revolução Verde, marcada pelo uso intensivo
                                                                                                                         de insumos químicos e da mecanização. “Não
                                                                                                                         cabe ao técnico especializado impor conheci-
                                                                                                                         mento dentro da propriedade. O ideal é sistema-
                                                                                                                         tizar as experiências existentes, potencializá-las
 Acervo Sintraf




                                                                                                                         e disseminá-las”, sugere o docente-pesquisador
                                                                                                                         dos programas de pós-graduação em Desenvol-
                                                                                                                         vimento Rural e em Sociologia.
                      exemplo, a protegerem as nascentes e fazerem uma                                                       Jalcione acrescenta ainda que as políticas pú-
                      destinação adequada do lixo doméstico”, conta                                                      blicas deveriam direcionar créditos somente para
                      Marco Antonio Augusto Pimentel, 44, agricultor e                                                   o agricultor que não degrada o meio ambiente.
                      dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Agri-                                                  “A política agrícola de crédito destina 80% dos
                      cultura Familiar de Itapeva (Sintraf-Itapeva).                                                     seus recursos para a agricultura de commodities
                                                                                                                         (carne bovina, soja, frango), baseada até agora na
                      Os protagonistas                                                                                   espoliação do solo e na mão de obra, sem condi-
                          Ao reconhecer os agricultores familiares como                                                  cionantes ambientais. Se o produtor paga as con-
                      protagonistas da política ambiental, o Ministério                                                  tas em dia, tem terra, maquinário e produz, basta
                      do Meio Ambiente já tem planos de criar o Pro-                                                     entrar no banco e pegar o crédito”, critica.
                      grama Nacional de Agroecologia, com o intuito                                                          Doutor em Agroecologia e Desenvolvimen-
                      de contribuir para o desenvolvimento sustentável                                                   to Sustentável e pesquisador da Embrapa, João
                      no campo. O anúncio foi feito em maio pela mi-                                                     Carlos Costa Gomes, 59, reforça que a agrope-
                      nistra Izabella Teixeira, que, na ocasião, destacou                                                cuária deve trabalhar com os ecossistemas em
                      a necessidade de ampliar o diálogo com quem usa                                                    vez de tentar dominá-los. “Além de ampliar a
                      o meio ambiente e não só com aqueles que têm                                                       renda, o agricultor que adota práticas sustentá-
                      por definição protegê-lo. “O Ministério tem de                                                     veis tem maior qualidade de vida e, assim, mais
                      aprender com quem é do campo”, declarou.                                                           motivação para permanecer no campo”, opina.
                          Jalcione Almeida, 58, professor e pesquisa-
                      dor da Universidade Federal do Rio Grande do                                                       Uma história recente
                      Sul (UFRGS), também defende que a gestão                                                               Foi a partir de 1980, com a massificação
                                                                                                                         da produção agrícola convencional e os conse-
                         Eduardo Ehlers: produtividade maior                                                             quentes danos ambientais daí decorrentes, que
                         com menor impacto ambiental                                                                     cresceu o interesse por modelos produtivos al-
                                                                                                                         ternativos, que aliam o aumento da produtivi-
                                                                                                                         dade das lavouras e a conservação dos recursos
                                                                                                                         naturais com mínimos impactos ao ambiente.
                                                                                                                         Eduardo Ehlers, 46, professor com doutorado
                                                                                                                         em Ciência Ambiental, conta que o movimen-
                                                                                                                         to provocou impactos significativos em alguns
                                                                                                                         campos do conhecimento científico e agronômi-
                                                                                                                         co. “Aos poucos vemos surgir práticas agrícolas
                                                                                                                         que reduzem o uso de agrotóxicos, aproveitam a
                                                                                                                         biomassa, fazem o controle da erosão dos solos,
                                                                                                                         buscam novas fontes de energia, integram pecu-
                                                                                                                         ária e lavoura, diversificam e instituem a rotação
                                                                                                                         de culturas”, sublinha ele.
                                                                        Marina Lopes




                                                                                                                             Na opinião da engenheira agrônoma Leonor



                  6   Sustentabilidade do Campo
Para Costa Gomes, práticas sustentáveis
                                                 ampliam a renda do agricultor




                                                                                                                                     Acervo Embrapa Clima Temperado
                      Assad, 55, professora da Universidade Federal                                                                 por levar a educação
                      de São Carlos (UFSCar) e coordenadora do                                                                      ao campo. “O agricul-
                      Programa de Pós-Graduação em Agricultura e                                                                    tor domina o conheci-
                      Ambiente, o pequeno agricultor está buscando                                                                  mento prático, mas se
                      alternativas de gestão porque lida diretamente                                                                ele tiver contato com
                      com o meio ambiente e sabe que precisa preser-                                                                o que foi produzido
                      vá-lo. Ela aponta o Programa Nacional de Edu-                                                                 no ambiente acadêmi-
                      cação na Reforma Agrária (Pronera), do Institu-                                      co e de pesquisa, poderá articular uma gestão
                      to Nacional de Colonização e Reforma Agrária                                         mais racional e inteligente dos recursos natu-
                      (Incra), como importante indutor para a mu-                                          rais”, acredita.
                      dança de mentalidade na agricultura, justamente



                       Políticas adequadas
                                                     Celso Ludwig, 32, coor-
Acervo Fetraf - Sul




                                                                                                      vai ditar o preço e o volume produzido. Todos os cus-
                                                      denador geral da Fede-                          tos acabam sobrando para ele”, enfatiza.
                                                      ração dos Trabalhadores                             Como apoia o modelo de transição agroecológica, o
                                                      na Agricultura Familiar                         movimento tem resgatado práticas agrícolas tradicionais
                                                      da Região Sul do Brasil                         e desenvolvido sistemas de diversificação da produção.
                                                      (Fetraf-Sul), acha que                          Em Santa Catarina, 900 agricultores produzem sementes
                                                      quem vive na agricultu-                         de milho e feijão de variedades crioulas em uma unidade
                                                      ra deve ser remunerado                          de beneficiamento desses produtos. “Essa experiência
                                                      por preservar os ativos                         poderia ser direcionada para outras regiões”, sugere.
                                                      ambientais (variedades                              No Piauí, os agricultores estão montando agroin-
                                                      de plantas, sementes e                          dústrias em torno da produção de caju. Eles não co-
                                                      animais). “Vamos su-                            mercializam só a fruta, mas o suco e a polpa dela,
                       Celso Ludwig, da Fetraf-Sul,   por que um agricultor                           além de doces e geleias. “Para implantar mais agroin-
                       defende remuneração a
                                                      que tenha 20 hectares                           dústrias pelo País, a legislação teria de se adequar à re-
                       quem preservar a natureza
                                                      de terra e nenhum ativo                         alidade dos pequenos agricultores. A que vigora hoje
                       ambiental plante em toda a área e ganhe R$ 500 por                             é moldada para um sistema de produção em larga es-
                       hectare/ano, ou seja, R$ 10 mil. Outro, com os mes-                            cala, que incentiva mais a soja do que milho e arroz,
                       mos 20 hectares, sendo que sete são de mata e dois                             por exemplo, dois itens básicos da alimentação”, criti-
                       com nascentes e córregos, terá apenas 11 para pro-                             ca o coordenador.
                       duzir. Pela lei, ele é obrigado a preservar a natureza.                            No momento, o MPA está discutindo a implanta-
                       Comparado ao primeiro, a sua renda anual será de R$                            ção de um sistema de produção baseada na agroener-
                       5,5 mil”, exemplifica.                                                         gia – o agricultor produziria a própria energia para o
                           O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA),                               seu sustento e comercializaria o excedente.
                       que reúne 100 mil famílias de camponeses, não ne-
                       cessariamente integradas ao mercado formal, reivin-
                       dica políticas públicas adequadas às diferentes reali-
                       dades na agricultura brasileira. Na visão de Marciano
                       Toledo da Silva, 40, coordenador de Agrobiodiversi-
                       dade da organização, a produção orgânica, muito dis-
                       cutida hoje em dia, precisa ser observada com cautela
                       porque é tida como mais um pacote tecnológico, com
                       regras rígidas em torno dos insumos e a presença de
                       um assessor técnico responsável pela certificação dos
                                                                                                                                                                      Sementes
                       produtos. “Além disso, os canais de comercialização                                                                                            e produtos
                                                                                  Fotos: Acervo MPA




                       (grandes lojas e redes) são muito fechados para o es-                                                                                          industrializados:
                       coamento da produção orgânica”, relata. “O agricul-                                                                                            atuação do
                                                                                                                                                                      MPA afasta
                       tor acaba dependendo da figura do atravessador, que
                                                                                                                                                                      atravessadores



                                                                                                                                                                      Instituto Souza Cruz   7
DEBATE




             Qual o maior   desafio para a
                       sustentabilidade
                                                            das propriedades rurais?
                    Dois especialistas apresentam seus pontos de vista acerca do tema, que tem motivado



                                                                                  Maria Aurigele Barbosa Alves
                                                                                  23 anos, filha de agricultores, é técnica em
                                                                                  Agropecuária e agente multiplicadora em Agroecologia.
                                                                                  No Ceará, atua como educadora social do Programa
                                                                                  Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR), executado
                                                                                  pela Agência de Desenvolvimento Econômico
                                                                                  Local (Adel), entidade na qual exerce a função de
                                                                                  gerente de Projetos. Como parte de suas atividades
                                                                                  profissionais, ela acompanhou no ano passado as feiras
                                                                                  agroecológicas, coordenadas pela Fundação Konrad
                                                                                  Adenauer, no semiárido cearense.
                                                                  Jovani Puntel




                                                                                  de sistemas hídricos e fazer o manejo florestal
                                                                                  adequado. A implementação de tecnologias

             O      Brasil é conhecido mundialmente por sua
             riqueza natural e ambiental, além da força eco-
                                                                                  alternativas irá melhorar a qualidade de vida e
                                                                                  produção na zona rural. Como é baixo o nível
                                                                                  de renda e de educação formal da população do
             nômica da agricultura. No entanto, a difícil re-                     campo, muitos produtores rurais promovem o
             lação homem x natureza provocou uma grande                           extrativismo predatório dos recursos naturais
             mudança no ecossistema: os recursos naturais                         para garantir a sobrevivência da família, afetan-
             passaram a ser usados para benefício próprio, o                      do a floresta e sua biodiversidade. Na Amazônia,
             que tem contribuído para a degradação do meio                        por exemplo, 90% da exportação madeireira é
             ambiente. A exploração madeireira sem manejo                         para fins comerciais e sua exploração é ilegal.
             florestal, a pecuária extensiva, a agricultura me-                   	 No Ceará, a realidade não é tão diferente, mas
             canizada em grande escala, o desmatamento e as                       notam-se avanços. Os agricultores usam tecno-
             queimadas são exemplos de problemas a serem                          logias alternativas como plantio em curvas de ní-
             superados. Nesse sentido, a necessidade de con-                      vel, agroflorestas, cobertura do solo e defensivos
             ciliar o crescimento econômico do País com a                         naturais, além de atuarem na reposição da mata
             conservação dos recursos naturais é um enorme                        ciliar e da mata nativa. Eles vêem na Agroecolo-
             desafio porque os superávits na balança comer-                       gia uma saída para recuperar áreas degradadas e
             cial dependem da exportação de produtos agrí-                        gerar melhores condições de vida. Portanto, é
             colas cultivados em grande escala (IBGE, 2004).                      necessário mudar os hábitos de cultivo agrícola,
             	 Os pequenos, médios e grandes produtores                           o que requer tempo e dedicação da sociedade ci-
             rurais precisam se sensibilizar para a importân-                     vil e, principalmente, do Poder Público na busca
             cia da sustentabilidade ambiental do campo. Ou                       de novas soluções viáveis para a sustentabilidade
             seja, utilizar de forma consciente os recursos na-                   das propriedades rurais. O comprometimento
             turais e adotar práticas como a redução do uso                       de todos os setores na defesa do meio ambiente
             excessivo de agrotóxicos, evitar a contaminação                      pode fazer a diferença para as gerações futuras.



         8   Sustentabilidade do Campo
amplas discussões



           Christino Áureo
           49 anos, é secretário Estadual de Agricultura
           e Pecuária do Rio de Janeiro e deputado
           estadual reeleito em 2010. Formado em
           Medicina Veterinária, com pós-graduação em
           Administração Rural e especialização em Políticas
           Públicas e Governo. Pertence aos quadros de
           Administradores do Banco do Brasil, onde exerceu
           diversos cargos de gestão em Brasília, Rio de
           Janeiro e outros estados. À frente da pasta desde
           abril de 2001, ele implementou importantes
           programas para o desenvolvimento do setor e da
           agricultura familiar no estado, como o Rio Leite,
           Rio Genética, Rio Rural, Estradas da Produção,
           Prosperar e Frutificar.




                                                                                                                         Robson Oliveira
     A     sustentabilidade envolve muitos aspectos
     da relação entre o setor produtivo no campo e
                                                               gam a preservação “romantizando” a questão
                                                               ambiental, nem dos que, sem qualquer tipo de
     os resultados a serem obtidos para a economia             escrúpulo, se colocam na tarefa de produzir a
     como um todo. Ao revermos a relação das ge-               qualquer preço.
     rações passadas com a natureza, o que nos salta           A experiência que vivemos no Rio de Janeiro
     aos olhos é a falta de informação reinante na-            com o Programa Rio Rural, patrocinado pelo
     quela época. A agressão ao meio ambiente nem              Banco Mundial e Governo do Estado e implan-
     poderia ser classificada dessa forma, pois o que          tado pela Secretaria de Agricultura, mostra um
     havia era um desconhecimento absoluto dos                 caminho objetivo para a questão. Os agriculto-
     seus verdadeiros impactos. Na medida em que a             res “convertidos” para esta filosofia são premia-
     sociedade evoluiu e, paralelamente, foram alcan-          dos com o apoio às suas atividades produtivas.
     çados avanços na produtividade, compreendeu-              	 Neste contexto, o Rio Rural vem fazendo um
     -se melhor o valor da preservação dos recursos            trabalho de recuperação das estradas rurais e das
     naturais. O encontro da conscientização para a            nascentes, replantio de matas ciliares e, principal-
     preservação e a própria perpetuidade do proces-           mente, adequação dos processos de produção.
     so de produção com elevadas performances no               Seja ele na atividade leiteira, de hortaliças ou
     campo, vai de alguma maneira acontecer.                   de flores, entre outras, envolvendo tudo aquilo
     	 O nosso maior desafio é fazer com que este              que gravita no universo da agricultura familiar. A
     processo se acelere, porque o planeta vem dan-            sustentabilidade real pode ser comprovada pelo
     do demonstrações de que não suporta mais viver            indicador mais indiscutível que existe: a redução
     sob intensa pressão. Para apressar a harmoniza-           da pobreza rural. Esta sim, a meta principal que
     ção dessa convivência, não podemos dar espaço             temos conseguido alcançar paulatinamente atra-
     para as visões radicais. Nem daqueles que pre-            vés dessas ações.



                                                                                                  Instituto Souza Cruz             9
Haroldo Mattos Lemos Presidente do Instituto Brasil Pnuma




                                                                                           Futuro
                                                                   sustentável
     Fotos: Domingos Peixoto




                               A
                                                                                        Lemos: com o perfil de país credor ecológico,
                                                                                        o Brasil poderá dar um salto de qualidade no futuro
                                     sustentabilidade é um caminho sem volta e
                               o Brasil tem chances de reescrever a sua história
                               por ostentar grande capacidade de produzir re-              Como a           A divisão que fizemos até aqui en-
                               cursos naturais renováveis. A afirmação é de um           humanida-
                                                                                                            tre países ricos e pobres, mais e me-
                               dos maiores especialistas brasileiros no assunto,                            nos agrícolas, não é mais adequa-
                                                                                          de poderá
                               Haroldo Mattos Lemos, presidente do Instituto                                da. A tendência agora é dividir o
                                                                                        lidar com os
                               Brasil Pnuma, o Comitê Brasileiro do Progra-                                 mundo entre credores e devedores
                                                                                          interesses
                               ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente,                                   ecológicos. Existem países, como o
                                                                                         divergentes
                               e professor de Engenharia Ambiental da Escola                                Brasil, com capacidade de produzir
                                                                                        entre países
                               Politécnica da Universidade Federal do Rio de                                recursos naturais renováveis (bioca-
                               Janeiro. Ele alerta, no entanto, que o salto à           de diferentes       pacidade) maior do que sua pegada
                               frente só será possível se o País superar gargalos        estágios de        ecológica, que inclui a área necessá-
                               na agricultura, como o desmatamento, o desper-            desenvolvi-        ria para produzir os insumos que a
                               dício de água e a erosão do solo.                           mento?           população consome e para absorver
                                   Ex-Secretário de Meio Ambiente do Minis-                                 os resíduos produzidos na geração
                               tério do Meio Ambiente e coordenador brasilei-                               dos insumos (produtos e serviços).
                               ro do Sub-Grupo de Meio Ambiente SGT-6 do                                    São os credores ecológicos. Outros
                               Mercosul, Lemos, que tem mestrado em Enge-                                   países, como os Estados Unidos e o
                               nharia Sanitária e Ambiental pela Delft Universi-                            Japão, têm pegada ecológica maior
                               ty of Technology (Holanda, 1973), afirma ainda                               que sua biocapacidade e precisam
                               que o Brasil está longe dos níveis de conscienti-                            importar matérias-primas e alimen-
                               zação dos países posicionados à frente no que se                             tos para sobreviver. São os devedo-
                               refere aos cuidados com a natureza.                                          res ecológicos.



10                             Sustentabilidade do Campo
Não. Em 1820, o PIB per capita                 O Brasil     Alguns ajustes precisavam ser feitos
  Sempre       de todas as regiões do mundo era                            no Código. Espero que a versão final
                                                          discute há al-
houve essa     bem semelhante. Depois, o cenário                           seja capaz de entender e refletir o fato
                                                           guns meses
 diferença     mudou. Países que souberam usar                             de que a agricultura depende muito
                                                          o novo Códi-
 entre os      os combustíveis fósseis desenvol-                           das florestas e dos serviços que a na-
                                                          go Florestal,
  países?      veram tecnologia e equipamentos                             tureza nos presta. Vou dar um exem-
                                                             que im-
               para aproveitar a energia gerada                            plo. Muita gente acha que as abelhas
                                                           pacta áreas
               pela queima desse recurso natural e                         só servem para produzir mel e para
                                                           produtivas.
               deram um salto. Outras regiões fi-                          nos picar quando são provocadas,
                                                             O senhor
               caram para trás. Dentro de 50 anos,                         mas elas são polinizadoras de grande
                                                          entende que
               no entanto, o petróleo estará escas-                        parte dos produtos consumidos pelos
                                                           as soluções
               so. Ainda vamos ter bastante carvão                         homens. Em algumas regiões do
               mineral, mas as questões que en-            encaminha-      mundo elas começaram a desparecer.
               volvem as mudanças climáticas vão            das vão ao     Hoje, nos Estados Unidos, tem gen-
               frear essa utilização. Países credores     encontro das     te alugando abelhas na época da flo-
               ecológicos poderão aproveitar esta         necessidades     ração na agricultura. Na minha ju-
               oportunidade. É uma chance para o          do País nessa    ventude, as pessoas endeusavam a
               Brasil reescrever a sua história.             questão?      tecnologia, como a que permitiu o
                                                                           homem chegar à lua, e até hoje acre-
               O Instituto Brasil Pnuma foi cria-                          ditam que ela pode resolver tudo. No
   Qual o      do em 1991. A partir de 2004, co-                           entanto, se perdermos as abelhas, não
trabalho do    meçou a funcionar em Brasília um                            há tecnologia que dê jeito.
Instituto no   escritório sub-regional do Pnuma
   Brasil?     para a América do Sul, que é o seu                          É um caminho sem volta. Há um
               representante oficial no País. Desde                        relatório, produzido por 29 grandes
                                                           A sustenta-
               a sua criação, a cada dois meses, o                         empresas do mundo inteiro, partici-
                                                            bilidade
               Instituto Brasil Pnuma produz um                            pantes do Conselho Empresarial
                                                           ambiental
               boletim informativo com notícias do                         Mundial para o Desenvolvimento
               trabalho que o Pnuma faz no mun-            será tema       Sustentável, que propõe metas para
               do inteiro e notícias e artigos sobre       dominante       que a humanidade saia do business
               questões nacionais. Como estou en-          daqui para      as usual atual para atingir a susten-
               volvido no desenvolvimento da Série           frente?       tabilidade até o ano 2050 nos cam-
               de Normas ISO 14000 de Gestão                               pos dos valores humanos, energia,
               Ambiental, como vice-presidente do                          agricultura, florestas, construções e
               Comitê Técnico 207 da ISO, fize-                            transportes, entre outras áreas. Uma
               mos parceria com o Sebrae para pro-                         das metas é dobrar a produção agrí-
               duzir um documento sobre avaliação                          cola, sem mais desmatamento e sem
               de ciclo de vida aplicada às pequenas                       aumentar o volume de água utiliza-
               e médias empresas e outro relatório                         da. Já existe tecnologia para isso. O
               que faz uma síntese do desenvolvi-                          documento está sendo agora adap-
               mento sustentável na prática.                               tado pelo Conselho Empresarial
                                                                           Brasileiro para o Desenvolvimento
                                                                           Sustentável (Cebds), para as con-
                                                                           dições brasileiras.



                                                           Os empresários perceberam que reduzir
                                                            desperdícios, fazendo com que o processo
                                                        produtivo gaste menos energia, água e matéria
                                                           prima, economiza dinheiro e melhora a
                                                                       competitividade.”


                                                                                                 Instituto Souza Cruz   11
Haroldo Mattos Lemos



                     Felizmente. O Programa das Na-                            A agricultura familiar precisa de
  A discussão                                                 A exploração
                     ções Unidas para o Meio Ambiente                          mais orientação técnica e tecnolo-
 se ampliou...                                                racional dos
                     produziu um relatório que propõe                          gia para explorar adequadamente
                     uma série de ações, como diminui-         recursos na-    os recursos naturais. Uma entidade
                     ção da emissão de carbono, maior         turais leva ao   modelo como a Embrapa, com suas
                     eficiência do uso de recursos natu-      melhor apro-     pesquisas e estudos, tem permitido
                     rais, redução da pobreza e a apli-        veitamento      que mais produtores rurais possam
                     cação de 2% do PIB mundial em             da proprie-     manter suas propriedades com o
                     atividades para a sustentabilidade –       dade rural.    seu próprio trabalho. Do contrário,
                     cerca de US$ 1,3 trilhão. A maior         O que deve      se não conseguem sobreviver no
                     parte desse dinheiro poderia vir         ser feito para   local, eles acabam vendendo seus
                     da substituição dos subsídios in-          disseminar     estabelecimentos, o que estimula a
                     sustentáveis, como o que é dado          essa prática?    concentração de terras. Distribuir
                     atualmente para as frotas pesquei-                        lotes para serem trabalhados por
                     ras. Em 2009, no mundo inteiro,                           pessoas que sempre viveram nas ci-
                     os governos reservaram dez vezes                          dades, sem a mesma sensibilidade
                     mais subsídios para o uso de ener-                        e conhecimento do agricultor, não
                     gia fóssil do que para o desenvolvi-                      pode dar certo.
                     mento de energias renováveis.
                                                                               Em 1975, quando criei no Rio de Ja-
 No caso do          O desmatamento, por exemplo.                              neiro a Fundação Estadual de Enge-
                                                               O brasileiro
 Brasil, quais       O Brasil tem áreas já desmatadas e                        nharia do Meio Ambiente (Feema),
                                                                 comum
  seriam os
                     tecnologia suficientes para dobrar a                      hoje Instituto Estadual do Ambien-
                                                               ainda está
                     produção agrícola sem precisar mais                       te (Inea), a visão era meio romântica
  gargalos                                                      alheio à
                     derrubar árvores. Outro é a erosão                        e só se falava da poluição da água
 no setor de                                                  preocupação
                     do solo. Um dos cuidados que esta-                        e do ar e da manutenção de peixes.
 agricultura?                                                  ambiental
                     mos começando a adotar é o plantio                        Hoje a discussão é sobre a sustenta-
                     direto, sem necessidade de revolver         ou já se      bilidade da humanidade com razoá-
                     a terra. A água também é um fator        percebe uma      vel qualidade de vida. Programas de
                     limitante e já está ficando escassa na     mudança        educação ambiental foram introdu-
                     região Sudeste. A irrigação tradicio-        nesse        zidos nas escolas e trouxeram mais
                     nal desperdiça muita água, mas já          sentido?       conscientização. Os empresários,
                     existem tecnologias, como o goteja-                       que antes só atendiam as exigências
                     mento na raiz da planta controlado                        ambientais quando eram obrigados,
                     por computador, que reduz muito                           agora avançam além do que a legis-
                     as perdas. As áreas agrícolas irriga-                     lação exige. Eles perceberam que
                     das no planeta representam 20% do                         reduzir desperdícios, fazendo com
                     total e são responsáveis por 40% dos                      que o processo produtivo gaste me-
                     alimentos produzidos. Precisamos                          nos energia, água e matéria-prima,
                     usar formas de irrigação que desper-                      economiza dinheiro e melhora a
                     dicem menos água.                                         competitividade.




                             Como para um sujeito que luta pela sobrevivência diária não
                            interessa se daqui a 40 anos os recursos naturais do planeta vão
                           acabar, dentro da estratégia de discussão da sustentabilidade, um
                                        dos primeiros passos é reduzir a pobreza.”


12   Sustentabilidade do Campo
Não chegamos ainda ao nível dos                                      letar plástico jogado nas ruas, este
  O consu-       países escandinavos. Nos supermer-                                   problema estará resolvido. Temos
 midor tem       cados de lá existem gôndolas re-                                     de colocar a economia a favor da
 procurado       servadas à produção ecológica e os                                   sustentabilidade.
  também         alimentos trazem informações até
  produtos       sobre a quantidade de gases de efei-                                 Em 1900, tínhamos apenas 1,5 bi-
                                                                       Por que sub-
que agridam      to estufa gerada durante o processo                                  lhão de pessoas na Terra e abundân-
                                                                        siste ainda
   menos         produtivo. Os que produziam com                                      cia de florestas e peixes. Todas as
                                                                         o raciocí-
   o meio        menos gás estufa tiveram a venda                                     teorias produzidas sobre a impor-
                                                                        nio de que
 ambiente?       aumentada. No Brasil já temos selos                                  tância do consumo para movimen-
                                                                         lutar pela
                 verdes, mas ainda são setoriais.                                     tar a economia levavam em conta
                                                                       preservação
                                                                                      aquela realidade. Acontece que
                 As questões ambientais são bem en-                       do meio     daqui a pouco vamos chegar a sete
De maneira       tendidas em extratos de população                      ambiente é    bilhões de habitantes no Planeta e
  geral, os      com mais qualidade de vida. Nas                       jogar contra   temos menos solos agriculturáveis,
 princípios      camadas mais pobres, o tema ainda                      o desenvol-   florestas e peixes. Para alcançar um
da sustenta-     não sensibiliza. Para um sujeito que                  vimento e o    quadro sustentável, precisaremos
bilidade são     batalha pela sobrevivência diária, não                 progresso?    adotar mudanças essenciais nas es-
 bem com-        interessa se daqui a 40 anos os recur-                               truturas de governos, na economia,
preendidos?      sos naturais do planeta vão acabar. A                                nos negócios e no comportamento
                 falta de alternativa o faz pensar assim.                             humano. Mas, infelizmente, a hu-
                 Dentro dessa estratégia de discussão                                 manidade tem o hábito de só botar
                 da sustentabilidade, um dos primei-                                  cadeado na porta depois que ela foi
                 ros passos é reduzir a pobreza.                                      arrombada. Se não tomarmos uma
                                                                                      atitude hoje, vamos precisar de sa-
                 Sem dúvida. Não adianta a popu-                                      crifícios maiores amanhã.
A atuação do
                 lação cumprir o seu papel em casa
Poder Públi-
                 separando o lixo se a prefeitura não
 co é funda-     disponibiliza um caminhão de co-
mental para      leta seletiva. O governo não precisa
estimular os     se preocupar, por exemplo, com a
consumido-       reciclagem de latas de alumínios
res a reutili-   porque esse tipo de trabalho já traz
zar e reciclar   retorno financeiro para quem vive
  materiais      disso. Lembro de uma reportagem
 e reduzir o     que mostrava um casal argentino
desperdício?     bem vestido recolhendo latinhas de
                 alumínio numa praia carioca. Eles
                 haviam conseguido estender a via-
                 gem só por conta desse trabalho.
                 No dia em que for econômico co-




                             Para o presidente do Instituto Pnuma
                            Brasil, o País tem tecnologia suficiente
                             para dobrar a produção agrícola sem
                                             precisar mais desmatar




                                                                                                         Instituto Souza Cruz   13
Vapor gerado
                                                        pelo refletor
                                                  termossolar pode
                                                      ser usado em
                                                  caldeiras e estufas




     De volta
     à natureza
     Inspirado em princípios de preservação
     ambiental, o Centro de Desenvolvimento




                                                                        Fotos: Acervo Guaçu-Virá
     Sustentável Guaçu-Virá destaca-se
     com alternativas sustentáveis voltadas
     à realidade local


     U    m aquecedor solar que esquenta a água até
     uma temperatura de 43 ºC, cuja montagem não
                                                                                                   (pesquisas do ecossistema da Mata Atlântica),
                                                                                                   minhocário (que produz o húmus, um ferti-
                                                                                                   lizante natural) e agricultura vertical (a fruta é
     custou mais do que R$ 60 e atende uma família                                                 cultivada suspensa, o que reduz a área de cultivo
     de até cinco pessoas. Um desidratador solar que                                               e o volume de água da irrigação e descarta o uso
     permite aproveitar o excedente de safra de fru-                                               de produto químico). Como não há coleta de
     tas e verduras conservando todos os seus valores                                              esgoto, foi montado um sistema de fossa filtro
     nutritivos e ampliando o prazo de validade. Um                                                que, após um processo de decantação, respon-
     refletor termossolar que, ao aquecer a água até                                               sável pela eliminação da parte sólida, purifica o
     600 ºC, gera vapor, útil para contemplar dife-                                                líquido por meio de filtragem biológica – dessa
     rentes demandas – de caldeira, para produção de                                               forma, 90% da água volta ao meio ambiente.
     geleias, à estufa, para fermentação de massas.                                                    Por ano, o centro recebe em média dois mil
         Essas são algumas das iniciativas implemen-                                               alunos, vindos das escolas da região e até de ou-
     tadas pelo Centro de Desenvolvimento Susten-                                                  tros estados, que aprendem a plantar, manusear
     tável (CDS) Guaçu-Virá, instalado em uma área                                                 hortas e criar animais (cabritos, coelhos e gali-
     de dez alqueires no município capixaba de Ven-                                                nhas). Comunidades indígenas e até uma insti-
     da Nova do Imigrante. No local, são produzi-                                                  tuição de ensino dos Emirados Árabes Unidos já
     dos morango, verduras e legumes                                                                             visitaram o lugar.
     orgânicos. O empreendimento foi                                                                                 O CDS Guaçu-Virá acolhe tam-
     criado em 1993 e é fruto da perse-                                                                          bém cerca de 600 estudantes por
     verança do argentino Júlio Alberto                                                                          ano de escolas estaduais, em uma
     Duenas, idealizador da iniciativa.                                                                          parceria com o Instituto Estadual
         “Queremos funcionar como mo-                                                                            de Meio Ambiente e Recursos Hí-
     delo para outras propriedades se es-                                                                        dricos (Iema). Eles aprendem con-
     pelharem, para que todas trabalhem                                                                          ceitos de sustentabilidade ambiental
     sem degradar o meio ambiente”,                                                                              e técnicas agrícolas e os mais talen-
     assinala a bióloga Graziele Dalbó                                                                           tosos são treinados para se torna-
     Falqueto, que atua nesse programa                                                                           rem monitores ambientais. Os pro-
     há três anos. “Nós nos dedicamos ao                                                                         gramas têm tamanha repercussão,
     estudo, pesquisa e desenvolvimento                                                                          conta Graziele, que aportaram em
     de ações sustentáveis, com equipa-                                                                          Moçambique e Angola, onde estão
     mentos de baixo custo e construção                                                                          sendo adaptados às realidades locais.
     simples, que empregam materiais
     disponíveis, reciclados ou naturais,
     na própria região”, explica.
                                                                                                                  Aquecedor de água solar (no alto)
         Além das energias alternativas,
                                                                                                                  e agricultura vertical: ações
     o CDS Guaçu-Virá desenvolve ain-                                                                             sustentáveis de baixo custo
     da projetos de educação ambiental



14   Sustentabilidade do Campo
Juventude engajada
Abrigados em uma entidade com práticas e princípios                                                             Estruturados sem
                                                                                                                hierarquia, líderes ou
socioambientais, grupos de jovens estão contribuindo                                                            coordenadores, grupos
para a construção de políticas públicas e o fortalecimento                                                      de jovens se mobilizam
                                                                                                                para formar cidadãos mais
do Movimento de Juventude e Meio Ambiente                                                                       conscientes e ativos na
                                                                                                                defesa do meio ambiente




U    ma entidade estruturada sem hierarquias, líde-
res ou coordenadores, que reúne grupos de jovens
envolvidos em ações e lutas por temas socioam-
bientais. Presente em todos os estados brasileiros e
articulada com similares latino-americanas, a Rede
da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabili-
dade (Rejuma) sensibiliza e mobiliza a juventude
para causas e questões relacionadas aos temas.
    “O intuito é engajar os jovens e motivá-los
a ter participação política ambiental, assumindo
o papel de protagonistas em relação à sustenta-
                                                       Fotos: Coletivo Jovem de MT




bilidade do planeta”, enfatiza a bióloga Elizete
Gonçalves dos Santos, que milita na organização
e integra o Coletivo Jovem de Meio Ambiente de
Mato Grosso (CJ-MT). Estes grupos informais,




                                                                                     “
também sem líderes e hierarquias, desenvolvem
atividades ligadas à melhoria do meio ambiente
e da qualidade de vida. “Em um momento de                                               Em um momento de crise ambiental
crise ambiental no mundo, é urgente a formação                                          no mundo, é urgente a formação de
de jovens cidadãos e de uma educação libertária
e inclusiva”, acrescenta.
                                                                                        jovens cidadãos e de uma educação
    Foi no Encontro Nacional da Juventude pelo                                          libertária e inclusiva”
Meio Ambiente, realizado em 2003 na cidade de
Luziânia (GO), que surgiu a ideia de abrigar to-
dos os coletivos jovens em uma única rede. Com                                       retrizes para a promoção de políticas públicas de
espírito militante, a Rejuma começou a partici-                                      juventude. “Nós conseguimos também obter um
par ativamente em diversos espaços de discussão,                                     assento na área ambiental e na construção do Es-
proposição e construção de políticas públicas                                        tatuto da Juventude”, conta a bióloga.
para a Juventude e Meio Ambiente, como o Fó-                                             Nem tudo são flores, no entanto, na cami-
rum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais                                          nhada da Rejuma. A organização ainda enfrenta
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. A                                            a incredulidade de muitos jovens e adultos, que
entidade, inclusive, tem firmado parcerias pro-                                      consideram o tema socioambiental como uma
dutivas com os ministérios da Educação e Meio                                        causa perdida. “A gente percebe que parte da
Ambiente para a realização das Conferências                                          juventude não se envolve nesse tema, o que tor-
Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. “Aos pou-                                        na mais lenta a disseminação de nossas ideias”,
cos, estamos construindo a nossa identidade e                                        conta Elizete. Tais obstáculos não inibem a atu-
autonomia”, festeja Elizete.                                                         ação da entidade, que vai prosseguir em sua luta
    Mesmo com pouco tempo de existência, a                                           pelo engajamento de mais pessoas. “O meio am-
Rejuma já apresenta bons resultados. Os jovens                                       biente, além de ser um assunto bastante atual e
da rede se mobilizaram e conseguiram, por exem-                                      conectado ao futuro do mundo, é uma maneira
plo, fomentar a criação do Conselho Nacional de                                      de os jovens exercerem sua cidadania. Por meio
Juventude (Conjuve), regulamentado em 2007                                           de pequenas ações cotidianas, podemos mudar a
pelo Governo Federal, que propõe e formula di-                                       sociedade”, finaliza.



                                                                                                                      Instituto Souza Cruz   15
JOVENS EM AÇÃO




     Mudança
            de rumo
         No Sul e Nordeste, jovens agricultores implementam projetos bem-sucedidos
         de sustentabilidade ambiental em propriedades e comunidades rurais




         Q     uem vê a propriedade de 42
         hectares da família do agricultor
         catarinense Fabiano Eller, de 24
         anos, com áreas reflorestadas e
         uma nascente de água mineral,
         não imagina como essa realidade
         era diferente há alguns anos. Resi-
         dentes em Santa Rosa de Lima,
         na região das Encostas da Serra
         Geral, eles tinham uma produção
         pouco diversificada e sem muitas
         perspectivas. Diante dessa situa-
         ção nada promissora, ao concluir
         o Ensino Médio, em 2005, Eller
         chegou a cogitar trabalhar fora        O agricultor Fabiano Eller mudou a forma de
         para garantir a própria renda.         gerir os recursos naturais de sua propriedade
             O cenário mudou, no entanto,       e está reflorestando as áreas desmatadas
         ao ingressar no Programa Empre-                                                                                    Jovani Puntel

         endedorismo do Jovem Rural
         (PEJR), do Instituto Souza Cruz,      investiu na produção de leite à                  Microbacias 2, do governo catari-
         quando se deu conta de que pode-      base de pasto (Sistema Voisin),                  nense, conseguiu mudas de árvores
         ria gerir os recursos naturais do     tema de seu projeto final no trei-               para o plantio dessa área cercada,
         estabelecimento de outra forma e      namento, e decidiu reflorestar as                protegendo as nascentes que não
         maximizar o rendimento familiar.      áreas desmatadas. “Comecei tam-                  abrigavam mais mata nativa. Não
         “Percebi que a propriedade estava     bém a separar o lixo de forma                    bastasse, ele reduziu ainda o uso de
         sendo relegada ao segundo plano.      mais adequada. O material reci-                  agrotóxicos nos cultivos de milho,
         Como só pensávamos em ganhar          clável é isolado e recolhido pela                aipim, batata, hortaliças, batata-
         dinheiro para pagar as contas, dei-   prefeitura a cada dois meses. Já o               -doce, batatinha e frutas. Boa parte
         xávamos as roças abandonadas. Vi      lixo orgânico, utilizo como adubo                da produção familiar é entregue ao
         que era preciso buscar alternativas   na produção de hortaliças e para                 Programa de Aquisição de Alimen-
         para contornar tais problemas. Re-    os animais”, explica o jovem que,                tos (PAA).
         solvi, então, estudar e trabalhar     além da atividade agrícola, partici-                 “Tudo que eu aprendi no
         para melhorar a nossa condição de     pa da direção da cooperativa de                  PEJR foi de muita importância
         vida e me tornar cada vez mais        crédito Cresol e de um sindicato.                porque notei que estávamos traba-
         uma pessoa realizada aqui mesmo,          O reflorestamento foi imple-                 lhando de forma errada na pro-
         junto aos meus familiares”, conta.    mentado por Eller a partir de pi-                priedade, mas hoje revertemos o
             Durante a formação no PEJR        quetes, que construiu também com                 quadro”, revela o jovem, que ali-
         no Centro de Desenvolvimento          o intuito de cercar os rios e banha-             menta o sonho de continuar ali.
         do Jovem Rural (Cedejor), orga-       dos para evitar a aproximação dos                “Não há lugar melhor para se viver
         nização parceira do Instituto, ele    animais. Com o apoio do projeto                  do que no meio rural”, enaltece.



    16   Sustentabilidade do Campo
incentivados a discutir coletiva-
                                                                                         mente os impactos ambientais ge-
                                                                                         rados a partir da relação do homem
                                                                                         com a natureza”, enfatiza.
                                                                                             No ano passado, ela criou o
                                                                                         Grupo de Jovens Unidos a Deus
                                                                                         (GJUD), na igreja católica da co-
                                                                                         munidade, e desde então tem de-
                                                                                         batido, também no local, soluções
                                                                                         para a destinação do lixo. Com a
                                                                                         definição de um plano de ação, o
                                                                                         grupo lançou recentemente o Dia
                                                                                         Agroecológico, uma campanha de
                                                   Acervo Equipe de Comunicação do MOC
                                                                                         incentivo e conscientização acerca
Cultivo de hortaliças em                                                                 da coleta seletiva – a turma visitou
solo preparado com adubo
                                                                                         propriedades da região, conscien-

                                   H
orgânico: compostagem
                                                                                         tizando agricultores e distribuin-
feita a partir da sobra da
                                         á alguns anos, a agricultora                    do mudas de árvores frutíferas.
produção de polpa de frutas
                                   Gildete Pereira da Silva, 21, passou                      Cada membro do GJUD é res-
                                   a observar que no entorno de sua                      ponsável pela conscientização de
                                   propriedade, localizada em Serri-                     seus vizinhos. O objetivo é fazer
                                   nha (BA), a quantidade de lixo se                     com que todos separem e direcio-
                                   avolumava, com sacolas de detritos                    nem o lixo aos pontos de recolhi-
                                   e restos penduradas nas cercas e na                   mento, de onde é encaminhado
                                   vegetação. A paisagem, relembra, a                    para uma microempresa da região




“
                                   incomodava bastante. Em sua casa,                     que compra recicláveis. “Trata-se
                                   o cuidado com a destinação do                         de um trabalho difícil porque as
        Queremos que               material descartado era outro. Isso                   pessoas ainda não têm muita cons-
                                   porque ela havia introduzido a co-                    ciência do problema”, afirma ela.
        a iniciativa de            leta seletiva e o reaproveitamento                    “Queremos que a iniciativa se tor-
                                   de resíduos, que assimilou em                         ne contínua e as famílias, com o
        separar e                  2008 no curso de capacitação feito                    tempo, compreendam a impor-
                                   no projeto Agentes Multiplicado-                      tância da ação, trabalhando juntas
        direcionar o               res de Ater (AMAs). Nesse progra-                     pela comunidade”, assinala.
                                   ma, aprendeu a fazer composta-
        lixo se torne              gem da sobra da produção de pol-
                                   pa de frutas, convertendo-a em
        contínua e as              adubo orgânico.
                                       O trabalho de separar o lixo, no
        famílias                   entanto, era prejudicado por um
                                   fator que não previra: o vento tra-
                                   zia para o seu terreno parte da su-
        compreendam                jeira espalhada pela região. “Dian-
                                   te da situação, tive que pensar em
        a importância              soluções que atendessem a comu-
                                   nidade inteira e não só a minha
        disso”                     propriedade”, conta Gildete, que
                                   concluiu nesse ano a formação no
                                   PEJR, implementado na Bahia em
                                   parceria com o Movimento de Or-
                                   ganização Comunitária (MOC).
                                   “Ao longo do programa, fomos

                                Gildete implementou em sua propriedade
                              a coleta seletiva de lixo e está disseminando
                                             a prática na comunidade local




                                                                                                            Instituto Souza Cruz   17
Jornada capixaba
     Cerca de 400 pessoas de todas
     as regiões do País participaram
     da IV Jornada Nacional do Jo-
     vem Rural, em Domingos Mar-
     tins (ES), entre os dias 23 e 26
     de agosto. Organizado pela Rede
     Jovem Rural, capitaneada pelo
     Instituto Souza Cruz, o evento,
     que teve como tema Por uma
     agricultura familiar, profissio-
     nal e inovadora, reuniu jovens,
     educadores e técnicos de 18 or-
     ganizações que trabalham com




                                                                                                                                  Jovani Puntel
     projetos de Educação no Campo.
        Diversas atividades fizeram
     parte da agenda, como painéis,               Mais de 400 jovens, educadores e técnicos de todo o País se reuniram em
     oficinas, feira regional, apresen-           Domingos Martins (ES) para discutir projetos relacionados à educação no campo
     tações culturais e visitas para
     conhecer experiências de agro-               No último dia, os participantes        anfitriã do encontro. No local,
     turismo da serra capixaba. Na             deslocaram-se para a cerimônia de         aconteceu a leitura da carta que
     ocasião, também foi lançada a             encerramento, em Vitória, onde            reúne as resoluções da jornada e
     revista Conexões Rurais, resul-           foram recepcionados por cente-            das Conferências Livres de Juven-
     tado do III Intercâmbio da Ju-            nas de alunos do Movimento de             tude, realizadas paralelamente ao
     ventude Rural Brasileira, outra           Educação Promocional do Espí-             evento. Para saber mais, visite o
     iniciativa da Rede Jovem Rural.           rito Santo (Mepes), organização           site www.jovemrural.com.br.



     Empreendedores cearenses
     O Ceará já tem sua primeira turma           Empreendedorismo do Jovem              ta de negócio sustentável para ge-
     de Agentes de Desenvolvimento               Rural (PEJR), implementado no          rar renda no campo para a família
     Rural. São 28 jovens, que conclu-           território Médio Curu, em uma          e a comunidade.
     íram a formação no Programa                 parceria entre a Agência de De-            O passo seguinte do progra-
                                                           senvolvimento Econômi-       ma, que busca ativar o empreen-
                                                     Acervo Instituto Souza Cruz




                                                           co Local (Adel), Instituto   dedorismo e o protagonismo no
                                                           Souza Cruz e Fundação        meio rural, é dar suporte para os
                                                           Konrad Adenauer. Ao          jovens materializarem seus proje-
                                                           longo de um ano, eles es-    tos. “É fundamental apoiar os
                                                           tudaram e aprenderam         no­ os agentes nesta próxima eta­­
                                                                                           v
                                                           temas e questões relacio-    pa porque esta é a primeira expe-
                                                           nados à área humana, téc-    riência empreendedora deles”,
                                                           nica e gerencial.            assinala Wagner Gomes, di­etor
                                                                                                                     r
                                                               Além de intercâm-        executivo da Adel. “Ho­e, já te-
                                                                                                                 j
                                                           bios, estágios e ativida-    mos jovens do PEJR desenvol-
                                                           des no núcleo e nas pro-     vendo empreendimentos pro­­
                                                           priedades, cada um deles     dutivos com viabilidade econô-
       Jovens do campo desenvolvem projetos sustentáveis desenvolveu uma propos-        mica”, finaliza.



18   Sustentabilidade do Campo
MEU RURAL

            Elielson Zoboli: a história da transformação, no
                interior capixaba, da propriedade da família




Cultivando
consciência
M
“
       eu nome é Elielson Zoboli e resido no muni-
cípio de Venda Nova do Imigrante, no interior do
Espírito Santo. Tenho 18 anos e estudo na Escola
Família Agrícola de Castelo, ligada ao Movimento
de Educação Promocional do Espírito Santo (Me-
pes), em regime de alternância. No período em que
estou em casa também trabalho na agricultura, im-
plantando o que aprendo na escola.
    Na nossa propriedade, com 54 hectares, vivem
sete pessoas da família – meus pais, um avô, dois ir-
mãos e uma cunhada. Temos uma produção varia-
da. Plantamos café, abacate e mexerica poncã, além
de culturas anuais, como feijão e milho. A partir dos
meus estudos, passei a diversificar ainda mais o que
produzimos, introduzindo lichia, ameixa e inhame.
Os alimentos são destinados ao sustento da família e
o excedente é comercializado.
    Aprendi na escola a cuidar melhor de nossa pro-
priedade. Os professores explicaram que preservar
o meio ambiente é essencial para a vida de todos e
                                                               Fotos: Paulo Porto




por conta disso comecei a reflorestar uma das nossas
nascentes. Pretendo, em breve, reflorestar as outras
duas existentes no terreno.”


                                             Sem queimadas
                                             “Além de fazer a averbação             rios. Até o final do ano preten-
                                             obrigatória da reserva natu-           do desenvolver esse sistema em
                                             ral, implantamos ainda ações           toda a propriedade, porque se
                                             para evitar erosões no solo. As        trata de uma região montanho-
                                             plantações, por exemplo, são           sa e suscetível à erosão.
                                             feitas em curvas de nível (siste-         Vale a pena dizer que não
                                             ma de cultivo que ajuda a reter        fazemos queimadas aqui. Sabe-
                                             os elementos solúveis do solo,         mos o quanto essa prática é pre-
                                             permitindo a intensificação da         judicial ao meio ambiente. Em
                                             produção). Para conter a água          vez de queimar, armazenamos
                                             das chuvas, instalamos caixas          todo o lixo, que é recolhido pela
                                             secas nas estradas do sítio. Essa      prefeitura municipal a cada 15
                                             técnica consiste na construção         dias. Quando concluir o Ensino
                                             de reservatórios na margem das         Médio, neste ano, pretendo cur-
                                             vias para a captação dessa água,       sar Agronomia e continuar fa-
                                             evitando enxurradas, o desgas-         zendo de nosso sítio um modelo
                                             te do solo e o assoreamento dos        de cuidado com a natureza.”



                                                                                                    Instituto Souza Cruz   19
D   ando
                                    continuidade a um
                                    dos seus objetivos
                                    estratégicos
                                    – de difundir
                                    conhecimentos
                                    sobre o processo de
                                    desenvolvimento
                                    integral dos jovens
                                    do campo – o
                                    Instituto Souza
                                    Cruz acaba de
                                    lançar Conexões
                                    Rurais. A revista
                                    apresenta dez boas
                                    práticas rurais
                                    mapeadas durante
                                    o III Intercâmbio
                                    da Juventude Rural
                                    Brasileira, realizado
                                    ano passado pela
                                    Rede Jovem Rural.



Mapeando boas
 práticas rurais

    www.institutosouzacruz.org.br

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  • 1. Ano I – Número 03 – Novembro de 2011 ISSN - 2236-2347 Entrevista Haroldo Mattos Lemos, do Pnuma: “O mundo hoje é dividido entre países credores e devedores ecológicos.” um novo modelo Agricultores como os irmãos Joab e Abdeel Lima, de Iperó (SP), adotam boas práticas ambientais e transformam o processo produtivo em pequenas propriedades
  • 2. Nesta edição 10 Capa 4 Práticas sustentáveis como a destinação correta do esgoto e uso racional da natureza mudam a realidade do campo Debate 8 “Qual o maior desafio para a sustentabilidade ambiental das propriedades rurais?”: Christino Áureo e Maria Aurigele Barbosa Entrevista 10 Haroldo Mattos Lemos, presidente do Instituto Brasil Pnuma Boas Práticas 14 Guaçu-Virá: empreendimento transforma região capixaba Rejuma: jovens assumem protagonismo em ações socioambientais Jovens em Ação 16 As histórias de Fabiano e Gildete, que revolucionam suas propriedades e comunidades rurais com iniciativas sustentáveis Instituto em Foco 18 IV Jornada Nacional reúne mais de 400 jovens no ES 16 Ceará forma primeira turma de Agentes de Desenvolvimento Rural Meu Rural 19 O agricultor capixaba Elielson Zoboli diversifica a produção, refloresta área de nascente e impede a erosão do solo SUSTENTABILIDADE DO CAMPO Coordenação: Luiz André Soares Publicação trimestral do Instituto Souza Cruz Jornalistas responsáveis: Outubro/2011 - Tiragem: 2 mil exemplares Andrea Guedes (Mtb.28246 RJ) e Guilherme Mattoso (Mtb.26674) Rua da Candelária, 66 / 4º andar – Centro Projeto gráfico e produção editorial: CEP 20091-900 - Rio de Janeiro (RJ) Via Corporativa Comunicação (www.viacorporativa.com.br) Tel.: (21) 3849-9619 – Fax: (21) 3849-9778 Foto de capa: Marina Lopes institutosouzacruz@institutosouzacruz.org.br Os conceitos emitidos nos artigos e matérias assinadas são de responsabilidade www.institutosouzacruz.org.br dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do Instituto Souza Cruz
  • 3. Liquiatu Inrenomu E Optatia volor asit labo. Et magnita voluptati volore custo debis con- sequodis quos sit labo. Nam eos simenit porem. Illab ilique volorio- recto tem quia que pe rehenissim quiasitae ommodia consendipsum rerferunti sa sinctae enit laborepelis voluptat fuga. Ut et ressenditae venimagnia et re litiossit ut fugiam eaquaeptat demodi resti quia si offic tempeli quatesc ipsaeria quias natiiscia cum venditiistis as ne et vellup- taquis ea ium intus et omnis alique voluptat eum dolut accatumet ea nobit harionsed quatiatis moditae et ipienimodis dolene es soluptatis modi tem aut latem nusam litasit iuntia comnis repudae. Et explam nihil min nonserum, officae nis eos rempore, voluptaturi nis por as aliquunt rest quam, nis estinusa nonsenis min con reicius inimin nisque nimus evellent quasinu llorehendae pre cupta debis dolenis excepre pe- ribuscient officia eos sae etur? Es autemporio tes dolecti anianih itaquia dellacc umquibus dolorentius. Umque re re perum quisiti bustiunt escia ium volorei untendi volore eium voluptatem. Nequatur? Olluptatem ea volorep errorit lab inctata- tur si teceaquat harchit lab id mo tem rempos coresed mollupt aeptur mos prehentur? Quisimo luptat odis rat faces acerferibea velibus ex et eatiatatquae quid quamus autemporro eos repudit eos excerrorio iurit re ni omnistium faccum ra sam, voluptatquas perumet eos eiciis mo- lupicipsam lande deliqui busandic tem quias venistiam dolupta quissi cullesto tesequunt exerum re consequia quatia nihitam, cus, asimolu ptatureperi doles della cum inctus nus, od ute pratae eatur adissequos nos endae eos erchit aut fugiti omnienimost, ilitia sus maiorum re cum eum voluptio es nobit, qui solor ab incipidunto bea aut verae venimust, sinctur sim sit verum sere intiur aut eveliti orrovidel essimet eum, offic temolor epudit, inctate mporuntur sum et vitatur, omnihil ipsanditio voluptat omnihit ioriatibus molori inis serum et expe omnis ari que ve- netur, illuptatius velenis experovid et officid eliciam, offic tet excerup- tatem estrum qui duciis abo. Id quis di dit, cum lacculles qui rem quis rectiatum non nulluptae si beratia porepudi to quos nonsedisque nus et apideli tatior aut adios si nus eos modi reperferibus is ape consecte porit, omnisqui tem faccum sanimi, aut adis sedis ma volorem que. Luiz André Soares Gerente do Instituto Souza Cruz
  • 4. CAPA Consciência ambiental Conjugação de boas práticas torna a agricultura familiar um dos principais pilares da sustentabilidade no meio rural brasileiro A té o ano passado, os irmãos Abdeel, 31 anos, e Joab da Silva Lima, 29 anos, plantavam hortaliças e cereais, o que potencializou a ferti- lidade da terra e aumentou a biomassa (decom- berinjela, milho e goiaba em sua propriedade de posição da matéria verde). Adubos sintéticos e oito hectares, na cidade paulista de Iperó. Por defensivos agrícolas foram sumariamente descar- conta da excessiva acidez do solo, a área de culti- tados. Em suas contas, só nesses primeiros meses, vo já não apresentava boas condições de fertiliza- já conseguiram reduzir 60% dos custos da pro- ção e uma nascente próxima do local havia pra- priedade. “Ao combinar esses fatores, eu conse- ticamente parado de jorrar água. Diante desse gui minimizar a incidência de pragas e doenças, cenário pouco promissor, eles decidiram desen- recuperar o solo degradado, passar a contar com volver um projeto de transição de uma agricul- mais e melhor água na propriedade, ficar menos tura convencional para um sistema sustentável, dependente de insumos externos e ter colheitas maximizando a produção de legumes e frutas e alternadas ao longo do ano”, comemora Abdeel. apostando na criação de vaca de leite e frango. Os produtores, que estudam Agronomia na Os irmãos Lima dividiram o lote em subsiste- Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sa- mas (criação de gado, plantação de goiaba, euca- bem que, ao desenvolver uma agricultura sustentá- lipto, banana e mexerica poncã) e promoveram o vel, contribuem para garantir a segurança alimentar plantio consorciado de leguminosas com frutas, para uma população que não para de crescer. Ou 4 Sustentabilidade do Campo
  • 5. Joab (à esq.) e Abdeel Lima iniciaram a migração da agricultura convencional para um sistema sustentável: preservação ambiental e redução de custos seja, entendem que para preservar os recursos natu- mento de coelho e utiliza a cobertura vegetal rais, essenciais à existência humana, é preciso adap- para controle da tiririca (planta normalmente tar a atividade agrícola ao meio e não o contrário. daninha à produção). Em Barra do Turvo (SP) e Assim como os irmãos Lima, agricultores Adrianópolis (PR), agricultores da Cooperaflo- familiares que adotam práticas sustentáveis na resta, além de separar e reciclar o lixo orgânico, produção não só conservam melhor os recursos instalaram um sistema de saneamento com fos- naturais, ampliando a produtividade das áreas sas sépticas biodigestoras, filtragem de água com exploradas, como gastam menos comparativa- plantas purificadoras e banheiros secos, onde os mente aos modelos tradicionais de cultivo. Isso dejetos, misturados com palha e compostados, porque não precisam investir em tecnologias servem como adubo para árvores. modernas e na manutenção das mesmas. Por ou- A adoção de práticas mais sustentáveis, do plan- tro lado, estão em harmonia com uma tendência tio à colheita, evita impactos negativos ao ambien- mundial: os consumidores valorizam cada vez te como a erosão do solo, a poluição das águas, mais os produtos fabricados em conformidade a contaminação dos alimentos por produtos agro- com o meio ambiente. “Aos poucos eles estão químicos e a redução da biodiversidade. No entan- se tornando mais exigentes, articulados e atentos to, para incrementar em larga escala uma agricultu- ao desenvolvimento sustentável, formando uma ra sustentável são necessárias políticas públicas que Fotos: Marina Lopes consciência ambiental”, assinala o consultor de ofereçam condições para que o agricultor perma- sustentabilidade empresarial Vitor Seravalli, 52, neça no campo com qualidade e, em comunhão que já presidiu o Comitê Brasileiro do Pacto com o meio ambiente, empreenda a partir dele. Global (ONU) e atualmente é diretor de Res- Em Itapeva, Taquarivaí, Buri e Nova Cam- ponsabilidade Social do Centro das Indústrias pina, no interior de São Paulo, 120 famílias de do Estado de São Paulo (Ciesp). agricultores estão instalando fossas sépticas bio- digestoras em suas propriedades para tratar dos Atuação exemplar dejetos humanos e animais – o modelo foi de- Com a disseminação dessa consciência, hoje já senvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa existem inúmeras iniciativas exemplares que con- Agropecuária (Embrapa), instituição pública ciliam produção rural com expansão econômica brasileira vinculada ao Ministério da Agricultu- e proteção à natureza, valendo-se de princípios e ra. O sistema, que custa em torno de R$ 1.200, técnicas relativamente simples. Na Baixada Flu- é uma contrapartida ambiental exigida pelo Pro- minense, a Cooperativa de Agricultores Univer- grama Nacional de Habitação Rural. de produz alimentos sem o uso de agrotóxicos, “Estamos também instituindo educação am- diversifica sua produção, faz adubo com excre- biental na região, ensinando os agricultores, por Agricultura sustentável é... • erar o mínimo de impactos adversos ao ambiente (ar, solo e água); G • timizar a produção com recursos do próprio agrossistema, diminuindo O a necessidade de insumos externos; • reservar o solo, mantendo a sua fertilidade e evitando a erosão; P • tilizar a água de maneira racional; U • anter a diversidade biológica; M • eduzir o uso de produtos agroquímicos e fertilizantes sintéticos solúveis; R • romover a rotação de culturas e a integração lavoura-pecuária; P • uscar novas fontes de energia; B • nstalar latas de lixo em zonas estratégicas da propriedade e depósitos de I lixo adequados, recolhendo estes ao final do dia de trabalho; • lantar árvores de diversos tipos, o que contribui no combate ao P aquecimento global; • atisfazer as necessidades humanas de alimentos. S Instituto Souza Cruz 5
  • 6. CAPA Sintraf incentiva instalação de fossas biodigestoras (foto à esq.) e a adoção de outros cuidados ambientais; na foto, Marco Antonio Pimentel, dirigente do sindicato Fotos: Acervo Sintraf - Itapeva sustentável na agricultura não deve ser institu- ída de cima para baixo. Ele alerta para o risco de acabar funcionando como uma nova versão da Revolução Verde, marcada pelo uso intensivo de insumos químicos e da mecanização. “Não cabe ao técnico especializado impor conheci- mento dentro da propriedade. O ideal é sistema- tizar as experiências existentes, potencializá-las Acervo Sintraf e disseminá-las”, sugere o docente-pesquisador dos programas de pós-graduação em Desenvol- vimento Rural e em Sociologia. exemplo, a protegerem as nascentes e fazerem uma Jalcione acrescenta ainda que as políticas pú- destinação adequada do lixo doméstico”, conta blicas deveriam direcionar créditos somente para Marco Antonio Augusto Pimentel, 44, agricultor e o agricultor que não degrada o meio ambiente. dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Agri- “A política agrícola de crédito destina 80% dos cultura Familiar de Itapeva (Sintraf-Itapeva). seus recursos para a agricultura de commodities (carne bovina, soja, frango), baseada até agora na Os protagonistas espoliação do solo e na mão de obra, sem condi- Ao reconhecer os agricultores familiares como cionantes ambientais. Se o produtor paga as con- protagonistas da política ambiental, o Ministério tas em dia, tem terra, maquinário e produz, basta do Meio Ambiente já tem planos de criar o Pro- entrar no banco e pegar o crédito”, critica. grama Nacional de Agroecologia, com o intuito Doutor em Agroecologia e Desenvolvimen- de contribuir para o desenvolvimento sustentável to Sustentável e pesquisador da Embrapa, João no campo. O anúncio foi feito em maio pela mi- Carlos Costa Gomes, 59, reforça que a agrope- nistra Izabella Teixeira, que, na ocasião, destacou cuária deve trabalhar com os ecossistemas em a necessidade de ampliar o diálogo com quem usa vez de tentar dominá-los. “Além de ampliar a o meio ambiente e não só com aqueles que têm renda, o agricultor que adota práticas sustentá- por definição protegê-lo. “O Ministério tem de veis tem maior qualidade de vida e, assim, mais aprender com quem é do campo”, declarou. motivação para permanecer no campo”, opina. Jalcione Almeida, 58, professor e pesquisa- dor da Universidade Federal do Rio Grande do Uma história recente Sul (UFRGS), também defende que a gestão Foi a partir de 1980, com a massificação da produção agrícola convencional e os conse- Eduardo Ehlers: produtividade maior quentes danos ambientais daí decorrentes, que com menor impacto ambiental cresceu o interesse por modelos produtivos al- ternativos, que aliam o aumento da produtivi- dade das lavouras e a conservação dos recursos naturais com mínimos impactos ao ambiente. Eduardo Ehlers, 46, professor com doutorado em Ciência Ambiental, conta que o movimen- to provocou impactos significativos em alguns campos do conhecimento científico e agronômi- co. “Aos poucos vemos surgir práticas agrícolas que reduzem o uso de agrotóxicos, aproveitam a biomassa, fazem o controle da erosão dos solos, buscam novas fontes de energia, integram pecu- ária e lavoura, diversificam e instituem a rotação de culturas”, sublinha ele. Marina Lopes Na opinião da engenheira agrônoma Leonor 6 Sustentabilidade do Campo
  • 7. Para Costa Gomes, práticas sustentáveis ampliam a renda do agricultor Acervo Embrapa Clima Temperado Assad, 55, professora da Universidade Federal por levar a educação de São Carlos (UFSCar) e coordenadora do ao campo. “O agricul- Programa de Pós-Graduação em Agricultura e tor domina o conheci- Ambiente, o pequeno agricultor está buscando mento prático, mas se alternativas de gestão porque lida diretamente ele tiver contato com com o meio ambiente e sabe que precisa preser- o que foi produzido vá-lo. Ela aponta o Programa Nacional de Edu- no ambiente acadêmi- cação na Reforma Agrária (Pronera), do Institu- co e de pesquisa, poderá articular uma gestão to Nacional de Colonização e Reforma Agrária mais racional e inteligente dos recursos natu- (Incra), como importante indutor para a mu- rais”, acredita. dança de mentalidade na agricultura, justamente Políticas adequadas Celso Ludwig, 32, coor- Acervo Fetraf - Sul vai ditar o preço e o volume produzido. Todos os cus- denador geral da Fede- tos acabam sobrando para ele”, enfatiza. ração dos Trabalhadores Como apoia o modelo de transição agroecológica, o na Agricultura Familiar movimento tem resgatado práticas agrícolas tradicionais da Região Sul do Brasil e desenvolvido sistemas de diversificação da produção. (Fetraf-Sul), acha que Em Santa Catarina, 900 agricultores produzem sementes quem vive na agricultu- de milho e feijão de variedades crioulas em uma unidade ra deve ser remunerado de beneficiamento desses produtos. “Essa experiência por preservar os ativos poderia ser direcionada para outras regiões”, sugere. ambientais (variedades No Piauí, os agricultores estão montando agroin- de plantas, sementes e dústrias em torno da produção de caju. Eles não co- animais). “Vamos su- mercializam só a fruta, mas o suco e a polpa dela, Celso Ludwig, da Fetraf-Sul, por que um agricultor além de doces e geleias. “Para implantar mais agroin- defende remuneração a que tenha 20 hectares dústrias pelo País, a legislação teria de se adequar à re- quem preservar a natureza de terra e nenhum ativo alidade dos pequenos agricultores. A que vigora hoje ambiental plante em toda a área e ganhe R$ 500 por é moldada para um sistema de produção em larga es- hectare/ano, ou seja, R$ 10 mil. Outro, com os mes- cala, que incentiva mais a soja do que milho e arroz, mos 20 hectares, sendo que sete são de mata e dois por exemplo, dois itens básicos da alimentação”, criti- com nascentes e córregos, terá apenas 11 para pro- ca o coordenador. duzir. Pela lei, ele é obrigado a preservar a natureza. No momento, o MPA está discutindo a implanta- Comparado ao primeiro, a sua renda anual será de R$ ção de um sistema de produção baseada na agroener- 5,5 mil”, exemplifica. gia – o agricultor produziria a própria energia para o O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), seu sustento e comercializaria o excedente. que reúne 100 mil famílias de camponeses, não ne- cessariamente integradas ao mercado formal, reivin- dica políticas públicas adequadas às diferentes reali- dades na agricultura brasileira. Na visão de Marciano Toledo da Silva, 40, coordenador de Agrobiodiversi- dade da organização, a produção orgânica, muito dis- cutida hoje em dia, precisa ser observada com cautela porque é tida como mais um pacote tecnológico, com regras rígidas em torno dos insumos e a presença de um assessor técnico responsável pela certificação dos Sementes produtos. “Além disso, os canais de comercialização e produtos Fotos: Acervo MPA (grandes lojas e redes) são muito fechados para o es- industrializados: coamento da produção orgânica”, relata. “O agricul- atuação do MPA afasta tor acaba dependendo da figura do atravessador, que atravessadores Instituto Souza Cruz 7
  • 8. DEBATE Qual o maior desafio para a sustentabilidade das propriedades rurais? Dois especialistas apresentam seus pontos de vista acerca do tema, que tem motivado Maria Aurigele Barbosa Alves 23 anos, filha de agricultores, é técnica em Agropecuária e agente multiplicadora em Agroecologia. No Ceará, atua como educadora social do Programa Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR), executado pela Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel), entidade na qual exerce a função de gerente de Projetos. Como parte de suas atividades profissionais, ela acompanhou no ano passado as feiras agroecológicas, coordenadas pela Fundação Konrad Adenauer, no semiárido cearense. Jovani Puntel de sistemas hídricos e fazer o manejo florestal adequado. A implementação de tecnologias O Brasil é conhecido mundialmente por sua riqueza natural e ambiental, além da força eco- alternativas irá melhorar a qualidade de vida e produção na zona rural. Como é baixo o nível de renda e de educação formal da população do nômica da agricultura. No entanto, a difícil re- campo, muitos produtores rurais promovem o lação homem x natureza provocou uma grande extrativismo predatório dos recursos naturais mudança no ecossistema: os recursos naturais para garantir a sobrevivência da família, afetan- passaram a ser usados para benefício próprio, o do a floresta e sua biodiversidade. Na Amazônia, que tem contribuído para a degradação do meio por exemplo, 90% da exportação madeireira é ambiente. A exploração madeireira sem manejo para fins comerciais e sua exploração é ilegal. florestal, a pecuária extensiva, a agricultura me- No Ceará, a realidade não é tão diferente, mas canizada em grande escala, o desmatamento e as notam-se avanços. Os agricultores usam tecno- queimadas são exemplos de problemas a serem logias alternativas como plantio em curvas de ní- superados. Nesse sentido, a necessidade de con- vel, agroflorestas, cobertura do solo e defensivos ciliar o crescimento econômico do País com a naturais, além de atuarem na reposição da mata conservação dos recursos naturais é um enorme ciliar e da mata nativa. Eles vêem na Agroecolo- desafio porque os superávits na balança comer- gia uma saída para recuperar áreas degradadas e cial dependem da exportação de produtos agrí- gerar melhores condições de vida. Portanto, é colas cultivados em grande escala (IBGE, 2004). necessário mudar os hábitos de cultivo agrícola, Os pequenos, médios e grandes produtores o que requer tempo e dedicação da sociedade ci- rurais precisam se sensibilizar para a importân- vil e, principalmente, do Poder Público na busca cia da sustentabilidade ambiental do campo. Ou de novas soluções viáveis para a sustentabilidade seja, utilizar de forma consciente os recursos na- das propriedades rurais. O comprometimento turais e adotar práticas como a redução do uso de todos os setores na defesa do meio ambiente excessivo de agrotóxicos, evitar a contaminação pode fazer a diferença para as gerações futuras. 8 Sustentabilidade do Campo
  • 9. amplas discussões Christino Áureo 49 anos, é secretário Estadual de Agricultura e Pecuária do Rio de Janeiro e deputado estadual reeleito em 2010. Formado em Medicina Veterinária, com pós-graduação em Administração Rural e especialização em Políticas Públicas e Governo. Pertence aos quadros de Administradores do Banco do Brasil, onde exerceu diversos cargos de gestão em Brasília, Rio de Janeiro e outros estados. À frente da pasta desde abril de 2001, ele implementou importantes programas para o desenvolvimento do setor e da agricultura familiar no estado, como o Rio Leite, Rio Genética, Rio Rural, Estradas da Produção, Prosperar e Frutificar. Robson Oliveira A sustentabilidade envolve muitos aspectos da relação entre o setor produtivo no campo e gam a preservação “romantizando” a questão ambiental, nem dos que, sem qualquer tipo de os resultados a serem obtidos para a economia escrúpulo, se colocam na tarefa de produzir a como um todo. Ao revermos a relação das ge- qualquer preço. rações passadas com a natureza, o que nos salta A experiência que vivemos no Rio de Janeiro aos olhos é a falta de informação reinante na- com o Programa Rio Rural, patrocinado pelo quela época. A agressão ao meio ambiente nem Banco Mundial e Governo do Estado e implan- poderia ser classificada dessa forma, pois o que tado pela Secretaria de Agricultura, mostra um havia era um desconhecimento absoluto dos caminho objetivo para a questão. Os agriculto- seus verdadeiros impactos. Na medida em que a res “convertidos” para esta filosofia são premia- sociedade evoluiu e, paralelamente, foram alcan- dos com o apoio às suas atividades produtivas. çados avanços na produtividade, compreendeu- Neste contexto, o Rio Rural vem fazendo um -se melhor o valor da preservação dos recursos trabalho de recuperação das estradas rurais e das naturais. O encontro da conscientização para a nascentes, replantio de matas ciliares e, principal- preservação e a própria perpetuidade do proces- mente, adequação dos processos de produção. so de produção com elevadas performances no Seja ele na atividade leiteira, de hortaliças ou campo, vai de alguma maneira acontecer. de flores, entre outras, envolvendo tudo aquilo O nosso maior desafio é fazer com que este que gravita no universo da agricultura familiar. A processo se acelere, porque o planeta vem dan- sustentabilidade real pode ser comprovada pelo do demonstrações de que não suporta mais viver indicador mais indiscutível que existe: a redução sob intensa pressão. Para apressar a harmoniza- da pobreza rural. Esta sim, a meta principal que ção dessa convivência, não podemos dar espaço temos conseguido alcançar paulatinamente atra- para as visões radicais. Nem daqueles que pre- vés dessas ações. Instituto Souza Cruz 9
  • 10. Haroldo Mattos Lemos Presidente do Instituto Brasil Pnuma Futuro sustentável Fotos: Domingos Peixoto A Lemos: com o perfil de país credor ecológico, o Brasil poderá dar um salto de qualidade no futuro sustentabilidade é um caminho sem volta e o Brasil tem chances de reescrever a sua história por ostentar grande capacidade de produzir re- Como a A divisão que fizemos até aqui en- cursos naturais renováveis. A afirmação é de um humanida- tre países ricos e pobres, mais e me- dos maiores especialistas brasileiros no assunto, nos agrícolas, não é mais adequa- de poderá Haroldo Mattos Lemos, presidente do Instituto da. A tendência agora é dividir o lidar com os Brasil Pnuma, o Comitê Brasileiro do Progra- mundo entre credores e devedores interesses ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente, ecológicos. Existem países, como o divergentes e professor de Engenharia Ambiental da Escola Brasil, com capacidade de produzir entre países Politécnica da Universidade Federal do Rio de recursos naturais renováveis (bioca- Janeiro. Ele alerta, no entanto, que o salto à de diferentes pacidade) maior do que sua pegada frente só será possível se o País superar gargalos estágios de ecológica, que inclui a área necessá- na agricultura, como o desmatamento, o desper- desenvolvi- ria para produzir os insumos que a dício de água e a erosão do solo. mento? população consome e para absorver Ex-Secretário de Meio Ambiente do Minis- os resíduos produzidos na geração tério do Meio Ambiente e coordenador brasilei- dos insumos (produtos e serviços). ro do Sub-Grupo de Meio Ambiente SGT-6 do São os credores ecológicos. Outros Mercosul, Lemos, que tem mestrado em Enge- países, como os Estados Unidos e o nharia Sanitária e Ambiental pela Delft Universi- Japão, têm pegada ecológica maior ty of Technology (Holanda, 1973), afirma ainda que sua biocapacidade e precisam que o Brasil está longe dos níveis de conscienti- importar matérias-primas e alimen- zação dos países posicionados à frente no que se tos para sobreviver. São os devedo- refere aos cuidados com a natureza. res ecológicos. 10 Sustentabilidade do Campo
  • 11. Não. Em 1820, o PIB per capita O Brasil Alguns ajustes precisavam ser feitos Sempre de todas as regiões do mundo era no Código. Espero que a versão final discute há al- houve essa bem semelhante. Depois, o cenário seja capaz de entender e refletir o fato guns meses diferença mudou. Países que souberam usar de que a agricultura depende muito o novo Códi- entre os os combustíveis fósseis desenvol- das florestas e dos serviços que a na- go Florestal, países? veram tecnologia e equipamentos tureza nos presta. Vou dar um exem- que im- para aproveitar a energia gerada plo. Muita gente acha que as abelhas pacta áreas pela queima desse recurso natural e só servem para produzir mel e para produtivas. deram um salto. Outras regiões fi- nos picar quando são provocadas, O senhor caram para trás. Dentro de 50 anos, mas elas são polinizadoras de grande entende que no entanto, o petróleo estará escas- parte dos produtos consumidos pelos as soluções so. Ainda vamos ter bastante carvão homens. Em algumas regiões do mineral, mas as questões que en- encaminha- mundo elas começaram a desparecer. volvem as mudanças climáticas vão das vão ao Hoje, nos Estados Unidos, tem gen- frear essa utilização. Países credores encontro das te alugando abelhas na época da flo- ecológicos poderão aproveitar esta necessidades ração na agricultura. Na minha ju- oportunidade. É uma chance para o do País nessa ventude, as pessoas endeusavam a Brasil reescrever a sua história. questão? tecnologia, como a que permitiu o homem chegar à lua, e até hoje acre- O Instituto Brasil Pnuma foi cria- ditam que ela pode resolver tudo. No Qual o do em 1991. A partir de 2004, co- entanto, se perdermos as abelhas, não trabalho do meçou a funcionar em Brasília um há tecnologia que dê jeito. Instituto no escritório sub-regional do Pnuma Brasil? para a América do Sul, que é o seu É um caminho sem volta. Há um representante oficial no País. Desde relatório, produzido por 29 grandes A sustenta- a sua criação, a cada dois meses, o empresas do mundo inteiro, partici- bilidade Instituto Brasil Pnuma produz um pantes do Conselho Empresarial ambiental boletim informativo com notícias do Mundial para o Desenvolvimento trabalho que o Pnuma faz no mun- será tema Sustentável, que propõe metas para do inteiro e notícias e artigos sobre dominante que a humanidade saia do business questões nacionais. Como estou en- daqui para as usual atual para atingir a susten- volvido no desenvolvimento da Série frente? tabilidade até o ano 2050 nos cam- de Normas ISO 14000 de Gestão pos dos valores humanos, energia, Ambiental, como vice-presidente do agricultura, florestas, construções e Comitê Técnico 207 da ISO, fize- transportes, entre outras áreas. Uma mos parceria com o Sebrae para pro- das metas é dobrar a produção agrí- duzir um documento sobre avaliação cola, sem mais desmatamento e sem de ciclo de vida aplicada às pequenas aumentar o volume de água utiliza- e médias empresas e outro relatório da. Já existe tecnologia para isso. O que faz uma síntese do desenvolvi- documento está sendo agora adap- mento sustentável na prática. tado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), para as con- dições brasileiras. Os empresários perceberam que reduzir desperdícios, fazendo com que o processo produtivo gaste menos energia, água e matéria prima, economiza dinheiro e melhora a competitividade.” Instituto Souza Cruz 11
  • 12. Haroldo Mattos Lemos Felizmente. O Programa das Na- A agricultura familiar precisa de A discussão A exploração ções Unidas para o Meio Ambiente mais orientação técnica e tecnolo- se ampliou... racional dos produziu um relatório que propõe gia para explorar adequadamente uma série de ações, como diminui- recursos na- os recursos naturais. Uma entidade ção da emissão de carbono, maior turais leva ao modelo como a Embrapa, com suas eficiência do uso de recursos natu- melhor apro- pesquisas e estudos, tem permitido rais, redução da pobreza e a apli- veitamento que mais produtores rurais possam cação de 2% do PIB mundial em da proprie- manter suas propriedades com o atividades para a sustentabilidade – dade rural. seu próprio trabalho. Do contrário, cerca de US$ 1,3 trilhão. A maior O que deve se não conseguem sobreviver no parte desse dinheiro poderia vir ser feito para local, eles acabam vendendo seus da substituição dos subsídios in- disseminar estabelecimentos, o que estimula a sustentáveis, como o que é dado essa prática? concentração de terras. Distribuir atualmente para as frotas pesquei- lotes para serem trabalhados por ras. Em 2009, no mundo inteiro, pessoas que sempre viveram nas ci- os governos reservaram dez vezes dades, sem a mesma sensibilidade mais subsídios para o uso de ener- e conhecimento do agricultor, não gia fóssil do que para o desenvolvi- pode dar certo. mento de energias renováveis. Em 1975, quando criei no Rio de Ja- No caso do O desmatamento, por exemplo. neiro a Fundação Estadual de Enge- O brasileiro Brasil, quais O Brasil tem áreas já desmatadas e nharia do Meio Ambiente (Feema), comum seriam os tecnologia suficientes para dobrar a hoje Instituto Estadual do Ambien- ainda está produção agrícola sem precisar mais te (Inea), a visão era meio romântica gargalos alheio à derrubar árvores. Outro é a erosão e só se falava da poluição da água no setor de preocupação do solo. Um dos cuidados que esta- e do ar e da manutenção de peixes. agricultura? ambiental mos começando a adotar é o plantio Hoje a discussão é sobre a sustenta- direto, sem necessidade de revolver ou já se bilidade da humanidade com razoá- a terra. A água também é um fator percebe uma vel qualidade de vida. Programas de limitante e já está ficando escassa na mudança educação ambiental foram introdu- região Sudeste. A irrigação tradicio- nesse zidos nas escolas e trouxeram mais nal desperdiça muita água, mas já sentido? conscientização. Os empresários, existem tecnologias, como o goteja- que antes só atendiam as exigências mento na raiz da planta controlado ambientais quando eram obrigados, por computador, que reduz muito agora avançam além do que a legis- as perdas. As áreas agrícolas irriga- lação exige. Eles perceberam que das no planeta representam 20% do reduzir desperdícios, fazendo com total e são responsáveis por 40% dos que o processo produtivo gaste me- alimentos produzidos. Precisamos nos energia, água e matéria-prima, usar formas de irrigação que desper- economiza dinheiro e melhora a dicem menos água. competitividade. Como para um sujeito que luta pela sobrevivência diária não interessa se daqui a 40 anos os recursos naturais do planeta vão acabar, dentro da estratégia de discussão da sustentabilidade, um dos primeiros passos é reduzir a pobreza.” 12 Sustentabilidade do Campo
  • 13. Não chegamos ainda ao nível dos letar plástico jogado nas ruas, este O consu- países escandinavos. Nos supermer- problema estará resolvido. Temos midor tem cados de lá existem gôndolas re- de colocar a economia a favor da procurado servadas à produção ecológica e os sustentabilidade. também alimentos trazem informações até produtos sobre a quantidade de gases de efei- Em 1900, tínhamos apenas 1,5 bi- Por que sub- que agridam to estufa gerada durante o processo lhão de pessoas na Terra e abundân- siste ainda menos produtivo. Os que produziam com cia de florestas e peixes. Todas as o raciocí- o meio menos gás estufa tiveram a venda teorias produzidas sobre a impor- nio de que ambiente? aumentada. No Brasil já temos selos tância do consumo para movimen- lutar pela verdes, mas ainda são setoriais. tar a economia levavam em conta preservação aquela realidade. Acontece que As questões ambientais são bem en- do meio daqui a pouco vamos chegar a sete De maneira tendidas em extratos de população ambiente é bilhões de habitantes no Planeta e geral, os com mais qualidade de vida. Nas jogar contra temos menos solos agriculturáveis, princípios camadas mais pobres, o tema ainda o desenvol- florestas e peixes. Para alcançar um da sustenta- não sensibiliza. Para um sujeito que vimento e o quadro sustentável, precisaremos bilidade são batalha pela sobrevivência diária, não progresso? adotar mudanças essenciais nas es- bem com- interessa se daqui a 40 anos os recur- truturas de governos, na economia, preendidos? sos naturais do planeta vão acabar. A nos negócios e no comportamento falta de alternativa o faz pensar assim. humano. Mas, infelizmente, a hu- Dentro dessa estratégia de discussão manidade tem o hábito de só botar da sustentabilidade, um dos primei- cadeado na porta depois que ela foi ros passos é reduzir a pobreza. arrombada. Se não tomarmos uma atitude hoje, vamos precisar de sa- Sem dúvida. Não adianta a popu- crifícios maiores amanhã. A atuação do lação cumprir o seu papel em casa Poder Públi- separando o lixo se a prefeitura não co é funda- disponibiliza um caminhão de co- mental para leta seletiva. O governo não precisa estimular os se preocupar, por exemplo, com a consumido- reciclagem de latas de alumínios res a reutili- porque esse tipo de trabalho já traz zar e reciclar retorno financeiro para quem vive materiais disso. Lembro de uma reportagem e reduzir o que mostrava um casal argentino desperdício? bem vestido recolhendo latinhas de alumínio numa praia carioca. Eles haviam conseguido estender a via- gem só por conta desse trabalho. No dia em que for econômico co- Para o presidente do Instituto Pnuma Brasil, o País tem tecnologia suficiente para dobrar a produção agrícola sem precisar mais desmatar Instituto Souza Cruz 13
  • 14. Vapor gerado pelo refletor termossolar pode ser usado em caldeiras e estufas De volta à natureza Inspirado em princípios de preservação ambiental, o Centro de Desenvolvimento Fotos: Acervo Guaçu-Virá Sustentável Guaçu-Virá destaca-se com alternativas sustentáveis voltadas à realidade local U m aquecedor solar que esquenta a água até uma temperatura de 43 ºC, cuja montagem não (pesquisas do ecossistema da Mata Atlântica), minhocário (que produz o húmus, um ferti- lizante natural) e agricultura vertical (a fruta é custou mais do que R$ 60 e atende uma família cultivada suspensa, o que reduz a área de cultivo de até cinco pessoas. Um desidratador solar que e o volume de água da irrigação e descarta o uso permite aproveitar o excedente de safra de fru- de produto químico). Como não há coleta de tas e verduras conservando todos os seus valores esgoto, foi montado um sistema de fossa filtro nutritivos e ampliando o prazo de validade. Um que, após um processo de decantação, respon- refletor termossolar que, ao aquecer a água até sável pela eliminação da parte sólida, purifica o 600 ºC, gera vapor, útil para contemplar dife- líquido por meio de filtragem biológica – dessa rentes demandas – de caldeira, para produção de forma, 90% da água volta ao meio ambiente. geleias, à estufa, para fermentação de massas. Por ano, o centro recebe em média dois mil Essas são algumas das iniciativas implemen- alunos, vindos das escolas da região e até de ou- tadas pelo Centro de Desenvolvimento Susten- tros estados, que aprendem a plantar, manusear tável (CDS) Guaçu-Virá, instalado em uma área hortas e criar animais (cabritos, coelhos e gali- de dez alqueires no município capixaba de Ven- nhas). Comunidades indígenas e até uma insti- da Nova do Imigrante. No local, são produzi- tuição de ensino dos Emirados Árabes Unidos já dos morango, verduras e legumes visitaram o lugar. orgânicos. O empreendimento foi O CDS Guaçu-Virá acolhe tam- criado em 1993 e é fruto da perse- bém cerca de 600 estudantes por verança do argentino Júlio Alberto ano de escolas estaduais, em uma Duenas, idealizador da iniciativa. parceria com o Instituto Estadual “Queremos funcionar como mo- de Meio Ambiente e Recursos Hí- delo para outras propriedades se es- dricos (Iema). Eles aprendem con- pelharem, para que todas trabalhem ceitos de sustentabilidade ambiental sem degradar o meio ambiente”, e técnicas agrícolas e os mais talen- assinala a bióloga Graziele Dalbó tosos são treinados para se torna- Falqueto, que atua nesse programa rem monitores ambientais. Os pro- há três anos. “Nós nos dedicamos ao gramas têm tamanha repercussão, estudo, pesquisa e desenvolvimento conta Graziele, que aportaram em de ações sustentáveis, com equipa- Moçambique e Angola, onde estão mentos de baixo custo e construção sendo adaptados às realidades locais. simples, que empregam materiais disponíveis, reciclados ou naturais, na própria região”, explica. Aquecedor de água solar (no alto) Além das energias alternativas, e agricultura vertical: ações o CDS Guaçu-Virá desenvolve ain- sustentáveis de baixo custo da projetos de educação ambiental 14 Sustentabilidade do Campo
  • 15. Juventude engajada Abrigados em uma entidade com práticas e princípios Estruturados sem hierarquia, líderes ou socioambientais, grupos de jovens estão contribuindo coordenadores, grupos para a construção de políticas públicas e o fortalecimento de jovens se mobilizam para formar cidadãos mais do Movimento de Juventude e Meio Ambiente conscientes e ativos na defesa do meio ambiente U ma entidade estruturada sem hierarquias, líde- res ou coordenadores, que reúne grupos de jovens envolvidos em ações e lutas por temas socioam- bientais. Presente em todos os estados brasileiros e articulada com similares latino-americanas, a Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabili- dade (Rejuma) sensibiliza e mobiliza a juventude para causas e questões relacionadas aos temas. “O intuito é engajar os jovens e motivá-los a ter participação política ambiental, assumindo o papel de protagonistas em relação à sustenta- Fotos: Coletivo Jovem de MT bilidade do planeta”, enfatiza a bióloga Elizete Gonçalves dos Santos, que milita na organização e integra o Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Mato Grosso (CJ-MT). Estes grupos informais, “ também sem líderes e hierarquias, desenvolvem atividades ligadas à melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida. “Em um momento de Em um momento de crise ambiental crise ambiental no mundo, é urgente a formação no mundo, é urgente a formação de de jovens cidadãos e de uma educação libertária e inclusiva”, acrescenta. jovens cidadãos e de uma educação Foi no Encontro Nacional da Juventude pelo libertária e inclusiva” Meio Ambiente, realizado em 2003 na cidade de Luziânia (GO), que surgiu a ideia de abrigar to- dos os coletivos jovens em uma única rede. Com retrizes para a promoção de políticas públicas de espírito militante, a Rejuma começou a partici- juventude. “Nós conseguimos também obter um par ativamente em diversos espaços de discussão, assento na área ambiental e na construção do Es- proposição e construção de políticas públicas tatuto da Juventude”, conta a bióloga. para a Juventude e Meio Ambiente, como o Fó- Nem tudo são flores, no entanto, na cami- rum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais nhada da Rejuma. A organização ainda enfrenta para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. A a incredulidade de muitos jovens e adultos, que entidade, inclusive, tem firmado parcerias pro- consideram o tema socioambiental como uma dutivas com os ministérios da Educação e Meio causa perdida. “A gente percebe que parte da Ambiente para a realização das Conferências juventude não se envolve nesse tema, o que tor- Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. “Aos pou- na mais lenta a disseminação de nossas ideias”, cos, estamos construindo a nossa identidade e conta Elizete. Tais obstáculos não inibem a atu- autonomia”, festeja Elizete. ação da entidade, que vai prosseguir em sua luta Mesmo com pouco tempo de existência, a pelo engajamento de mais pessoas. “O meio am- Rejuma já apresenta bons resultados. Os jovens biente, além de ser um assunto bastante atual e da rede se mobilizaram e conseguiram, por exem- conectado ao futuro do mundo, é uma maneira plo, fomentar a criação do Conselho Nacional de de os jovens exercerem sua cidadania. Por meio Juventude (Conjuve), regulamentado em 2007 de pequenas ações cotidianas, podemos mudar a pelo Governo Federal, que propõe e formula di- sociedade”, finaliza. Instituto Souza Cruz 15
  • 16. JOVENS EM AÇÃO Mudança de rumo No Sul e Nordeste, jovens agricultores implementam projetos bem-sucedidos de sustentabilidade ambiental em propriedades e comunidades rurais Q uem vê a propriedade de 42 hectares da família do agricultor catarinense Fabiano Eller, de 24 anos, com áreas reflorestadas e uma nascente de água mineral, não imagina como essa realidade era diferente há alguns anos. Resi- dentes em Santa Rosa de Lima, na região das Encostas da Serra Geral, eles tinham uma produção pouco diversificada e sem muitas perspectivas. Diante dessa situa- ção nada promissora, ao concluir o Ensino Médio, em 2005, Eller chegou a cogitar trabalhar fora O agricultor Fabiano Eller mudou a forma de para garantir a própria renda. gerir os recursos naturais de sua propriedade O cenário mudou, no entanto, e está reflorestando as áreas desmatadas ao ingressar no Programa Empre- Jovani Puntel endedorismo do Jovem Rural (PEJR), do Instituto Souza Cruz, investiu na produção de leite à Microbacias 2, do governo catari- quando se deu conta de que pode- base de pasto (Sistema Voisin), nense, conseguiu mudas de árvores ria gerir os recursos naturais do tema de seu projeto final no trei- para o plantio dessa área cercada, estabelecimento de outra forma e namento, e decidiu reflorestar as protegendo as nascentes que não maximizar o rendimento familiar. áreas desmatadas. “Comecei tam- abrigavam mais mata nativa. Não “Percebi que a propriedade estava bém a separar o lixo de forma bastasse, ele reduziu ainda o uso de sendo relegada ao segundo plano. mais adequada. O material reci- agrotóxicos nos cultivos de milho, Como só pensávamos em ganhar clável é isolado e recolhido pela aipim, batata, hortaliças, batata- dinheiro para pagar as contas, dei- prefeitura a cada dois meses. Já o -doce, batatinha e frutas. Boa parte xávamos as roças abandonadas. Vi lixo orgânico, utilizo como adubo da produção familiar é entregue ao que era preciso buscar alternativas na produção de hortaliças e para Programa de Aquisição de Alimen- para contornar tais problemas. Re- os animais”, explica o jovem que, tos (PAA). solvi, então, estudar e trabalhar além da atividade agrícola, partici- “Tudo que eu aprendi no para melhorar a nossa condição de pa da direção da cooperativa de PEJR foi de muita importância vida e me tornar cada vez mais crédito Cresol e de um sindicato. porque notei que estávamos traba- uma pessoa realizada aqui mesmo, O reflorestamento foi imple- lhando de forma errada na pro- junto aos meus familiares”, conta. mentado por Eller a partir de pi- priedade, mas hoje revertemos o Durante a formação no PEJR quetes, que construiu também com quadro”, revela o jovem, que ali- no Centro de Desenvolvimento o intuito de cercar os rios e banha- menta o sonho de continuar ali. do Jovem Rural (Cedejor), orga- dos para evitar a aproximação dos “Não há lugar melhor para se viver nização parceira do Instituto, ele animais. Com o apoio do projeto do que no meio rural”, enaltece. 16 Sustentabilidade do Campo
  • 17. incentivados a discutir coletiva- mente os impactos ambientais ge- rados a partir da relação do homem com a natureza”, enfatiza. No ano passado, ela criou o Grupo de Jovens Unidos a Deus (GJUD), na igreja católica da co- munidade, e desde então tem de- batido, também no local, soluções para a destinação do lixo. Com a definição de um plano de ação, o grupo lançou recentemente o Dia Agroecológico, uma campanha de Acervo Equipe de Comunicação do MOC incentivo e conscientização acerca Cultivo de hortaliças em da coleta seletiva – a turma visitou solo preparado com adubo propriedades da região, conscien- H orgânico: compostagem tizando agricultores e distribuin- feita a partir da sobra da á alguns anos, a agricultora do mudas de árvores frutíferas. produção de polpa de frutas Gildete Pereira da Silva, 21, passou Cada membro do GJUD é res- a observar que no entorno de sua ponsável pela conscientização de propriedade, localizada em Serri- seus vizinhos. O objetivo é fazer nha (BA), a quantidade de lixo se com que todos separem e direcio- avolumava, com sacolas de detritos nem o lixo aos pontos de recolhi- e restos penduradas nas cercas e na mento, de onde é encaminhado vegetação. A paisagem, relembra, a para uma microempresa da região “ incomodava bastante. Em sua casa, que compra recicláveis. “Trata-se o cuidado com a destinação do de um trabalho difícil porque as Queremos que material descartado era outro. Isso pessoas ainda não têm muita cons- porque ela havia introduzido a co- ciência do problema”, afirma ela. a iniciativa de leta seletiva e o reaproveitamento “Queremos que a iniciativa se tor- de resíduos, que assimilou em ne contínua e as famílias, com o separar e 2008 no curso de capacitação feito tempo, compreendam a impor- no projeto Agentes Multiplicado- tância da ação, trabalhando juntas direcionar o res de Ater (AMAs). Nesse progra- pela comunidade”, assinala. ma, aprendeu a fazer composta- lixo se torne gem da sobra da produção de pol- pa de frutas, convertendo-a em contínua e as adubo orgânico. O trabalho de separar o lixo, no famílias entanto, era prejudicado por um fator que não previra: o vento tra- zia para o seu terreno parte da su- compreendam jeira espalhada pela região. “Dian- te da situação, tive que pensar em a importância soluções que atendessem a comu- nidade inteira e não só a minha disso” propriedade”, conta Gildete, que concluiu nesse ano a formação no PEJR, implementado na Bahia em parceria com o Movimento de Or- ganização Comunitária (MOC). “Ao longo do programa, fomos Gildete implementou em sua propriedade a coleta seletiva de lixo e está disseminando a prática na comunidade local Instituto Souza Cruz 17
  • 18. Jornada capixaba Cerca de 400 pessoas de todas as regiões do País participaram da IV Jornada Nacional do Jo- vem Rural, em Domingos Mar- tins (ES), entre os dias 23 e 26 de agosto. Organizado pela Rede Jovem Rural, capitaneada pelo Instituto Souza Cruz, o evento, que teve como tema Por uma agricultura familiar, profissio- nal e inovadora, reuniu jovens, educadores e técnicos de 18 or- ganizações que trabalham com Jovani Puntel projetos de Educação no Campo. Diversas atividades fizeram parte da agenda, como painéis, Mais de 400 jovens, educadores e técnicos de todo o País se reuniram em oficinas, feira regional, apresen- Domingos Martins (ES) para discutir projetos relacionados à educação no campo tações culturais e visitas para conhecer experiências de agro- No último dia, os participantes anfitriã do encontro. No local, turismo da serra capixaba. Na deslocaram-se para a cerimônia de aconteceu a leitura da carta que ocasião, também foi lançada a encerramento, em Vitória, onde reúne as resoluções da jornada e revista Conexões Rurais, resul- foram recepcionados por cente- das Conferências Livres de Juven- tado do III Intercâmbio da Ju- nas de alunos do Movimento de tude, realizadas paralelamente ao ventude Rural Brasileira, outra Educação Promocional do Espí- evento. Para saber mais, visite o iniciativa da Rede Jovem Rural. rito Santo (Mepes), organização site www.jovemrural.com.br. Empreendedores cearenses O Ceará já tem sua primeira turma Empreendedorismo do Jovem ta de negócio sustentável para ge- de Agentes de Desenvolvimento Rural (PEJR), implementado no rar renda no campo para a família Rural. São 28 jovens, que conclu- território Médio Curu, em uma e a comunidade. íram a formação no Programa parceria entre a Agência de De- O passo seguinte do progra- senvolvimento Econômi- ma, que busca ativar o empreen- Acervo Instituto Souza Cruz co Local (Adel), Instituto dedorismo e o protagonismo no Souza Cruz e Fundação meio rural, é dar suporte para os Konrad Adenauer. Ao jovens materializarem seus proje- longo de um ano, eles es- tos. “É fundamental apoiar os tudaram e aprenderam no­ os agentes nesta próxima eta­­ v temas e questões relacio- pa porque esta é a primeira expe- nados à área humana, téc- riência empreendedora deles”, nica e gerencial. assinala Wagner Gomes, di­etor r Além de intercâm- executivo da Adel. “Ho­e, já te- j bios, estágios e ativida- mos jovens do PEJR desenvol- des no núcleo e nas pro- vendo empreendimentos pro­­ priedades, cada um deles dutivos com viabilidade econô- Jovens do campo desenvolvem projetos sustentáveis desenvolveu uma propos- mica”, finaliza. 18 Sustentabilidade do Campo
  • 19. MEU RURAL Elielson Zoboli: a história da transformação, no interior capixaba, da propriedade da família Cultivando consciência M “ eu nome é Elielson Zoboli e resido no muni- cípio de Venda Nova do Imigrante, no interior do Espírito Santo. Tenho 18 anos e estudo na Escola Família Agrícola de Castelo, ligada ao Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Me- pes), em regime de alternância. No período em que estou em casa também trabalho na agricultura, im- plantando o que aprendo na escola. Na nossa propriedade, com 54 hectares, vivem sete pessoas da família – meus pais, um avô, dois ir- mãos e uma cunhada. Temos uma produção varia- da. Plantamos café, abacate e mexerica poncã, além de culturas anuais, como feijão e milho. A partir dos meus estudos, passei a diversificar ainda mais o que produzimos, introduzindo lichia, ameixa e inhame. Os alimentos são destinados ao sustento da família e o excedente é comercializado. Aprendi na escola a cuidar melhor de nossa pro- priedade. Os professores explicaram que preservar o meio ambiente é essencial para a vida de todos e Fotos: Paulo Porto por conta disso comecei a reflorestar uma das nossas nascentes. Pretendo, em breve, reflorestar as outras duas existentes no terreno.” Sem queimadas “Além de fazer a averbação rios. Até o final do ano preten- obrigatória da reserva natu- do desenvolver esse sistema em ral, implantamos ainda ações toda a propriedade, porque se para evitar erosões no solo. As trata de uma região montanho- plantações, por exemplo, são sa e suscetível à erosão. feitas em curvas de nível (siste- Vale a pena dizer que não ma de cultivo que ajuda a reter fazemos queimadas aqui. Sabe- os elementos solúveis do solo, mos o quanto essa prática é pre- permitindo a intensificação da judicial ao meio ambiente. Em produção). Para conter a água vez de queimar, armazenamos das chuvas, instalamos caixas todo o lixo, que é recolhido pela secas nas estradas do sítio. Essa prefeitura municipal a cada 15 técnica consiste na construção dias. Quando concluir o Ensino de reservatórios na margem das Médio, neste ano, pretendo cur- vias para a captação dessa água, sar Agronomia e continuar fa- evitando enxurradas, o desgas- zendo de nosso sítio um modelo te do solo e o assoreamento dos de cuidado com a natureza.” Instituto Souza Cruz 19
  • 20. D ando continuidade a um dos seus objetivos estratégicos – de difundir conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento integral dos jovens do campo – o Instituto Souza Cruz acaba de lançar Conexões Rurais. A revista apresenta dez boas práticas rurais mapeadas durante o III Intercâmbio da Juventude Rural Brasileira, realizado ano passado pela Rede Jovem Rural. Mapeando boas práticas rurais www.institutosouzacruz.org.br