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Oficina de
Estratégia
Nº 4
Oficina de Estratégia
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Setor de vinhos passa por transformações e
inspira novos negócios
O mercado mudou com a chegada dos chineses, dispostos a comprar
grandes vinícolas.
Programa Mundo SA1 Dois críticos de vinho, uma profissão
das mais respeitadas na França,
criaram um modelo de empresa em
que fazem da credibilidade que eles
http://video.globo.com/Videos/Player/No conquistaram o ponto de partida para
ticias/0,,GIM1404116-7823- outros negócios. Entre eles,
SETOR+DE+VINHOS+PASSA+POR+TRA publicações especializadas e um salão
NSFORMACOES+E+INSPIRA+NOVOS+ de vinhos que reúne os maiores
NEGOCIOS,00.html produtores do país, em um formato
que começa a ser exportado e vai
chegar ao brasil. Veja as
transformações que o setor está
passando na França, com a chegada
dos chineses, dispostos a comprar
1 Este Estudo de Caso foi veiculado no grandes vinícolas, e como uma bebida
Programa da GloboNews Mundo SA – milenar consegue ser inspiração para
http://globonews.globo.com/Jornalismo/G novos negócios que não param de ser
N/0,,MUL1639317-17665- inventados.
315,00.htmlacesso em 13/01/2011.
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vinhos finos possam ser considerados
investimento, seu comportamento não
é significativamente diferente do de
Vinhos e petróleo, outras commodities, e desse modo eles
muita coisa em podem não servir para melhorar a
diversificação de uma carteira",
comum escreveram eles.
Cevik e Sedik afirmam que fatores que
Por Javier Blas, Financial Times, de Londres - influem na oferta - como clima,
11/01/2011 qualidade das uvas, envelhecimento e
classificações de qualidade - conduzem
os preços. "Os preços dos vinhos finos
são sensíveis aos choques
Investimentos Alternativos: Estudo de macroeconômicos, assim como o
economistas do FMI mostra que aplicação em petróleo e de outras commodities",
bebida traz pouca diversificação. disseram, acrescentando que a
demanda é o que realmente importa.
"O comércio de vinhos aumentou
Jornal Valor Econômico2 rapidamente na última década, assim
como os níveis de renda, sobretudo nas
economias emergentes, estimulando os
vinhos 'investment grade' como ativo
O sabor é muito melhor, mas vinhos alternativo."
finos como os Bordeaux e os Rioja não
oferecem mais diversificação ao Os dois economistas estudaram o
investidor do que o petróleo bruto do comportamento do petróleo e os preços
tipo Brent. A constatação é de uma dos vinhos finos entre janeiro de 2002
pesquisa feita por dois economistas do e junho de 2010. A correlação entre
Fundo Monetário Internacional (FMI). eles se fortaleceu desde a crise
Os investimentos em vinhos financeira, aponta o estudo dos
aumentaram muito nos últimos anos, economistas, intitulado "A Barrel of Oil
em parte pela crença de que eles são or a Bottle of Wine: How Do Global
uma diversificação ao riscos de se ter Growth Dynamics Affect Commodity
apenas ações, bônus e commodities Prices?"
como o petróleo e o cobre.
Eles constataram que "o
Mas os economistas Serhan Cevik e comportamento estatístico do petróleo
Tahsin Saadi Sedik estão agora bruto e os preços dos vinhos finos
lançando dúvidas sobre isso. Eles demonstraram uma correlação de mais
descobriram que o comportamento dos de 90% durante o período de amostra".
preços do petróleo e dos vinhos finos Após caírem em conjunto durante a
têm uma similaridade incrível. "Nossos recessão, a recuperação do pós-crise
resultados sugerem que, embora os proporcionou uma alta aos preços do
petróleo e dos vinhos finos, que foi
respectivamente de 86% e 62% entre
2 Este Estudo de Caso foi publicado na Jornal janeiro de 2009 e junho de 2010.
Valor Econômico – –
http://www.valoronline.com.br/impresso/i
nvestimentos/119/366393/vinhos-e- Segundo as estimativas dos
petroleo-muita-coisa-em-comum acesso economistas, uma queda de pontos
em 13/01/2011.
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porcentuais no crescimento da próximo acessório fundamental para
produção industrial nos mercados todo consumidor chinês rico.
emergentes, que estão conduzindo os
preços das commodities, induziria a Vinherias estão se espalhando
uma queda de 22% nos preços do rapidamente por Xangai, a reluzente
petróleo e uma queda de 15% nos capital financeira do país, onde jovens
preços reais dos vinhos. profissionais chineses se reúnem
depois do trabalho e costumam gastar
Cevik disse ter ficado surpreso com os cerca de 1.000 iuans (152 dólares) em
resultados, que ele chamou de uma garrafa de vinho.
experimentais. Ele disse que a pesquisa
não se concentrou inicialmente na "O povo chinês tem muitas ambições e
correlação dos preços do petróleo e dos é muito materialista, portanto, tão logo
vinhos, e sim em quais eram os fatores tenha comprado a melhor marca local
mais importantes que estavam eles começam a procurar algo melhor e
conduzindo os preços das commodities mais caro", disse Ch'ng Poh Tiong,
para cima. colunista especializado em vinhos e
editor da revista The Wine Review, que
tem como base o Sudeste Asiático,
Hong Kong e China continental.
Novos ricos da China Embora a China tenha uma crescente
anseiam por vinhos produção interna de vinho, peritos do
setor dizem que está mais na moda
europeus caros beber o produto importado. Eles
prevêem que o consumo vá dobrar nos
próximos cinco anos.
Plantão | Publicada em 03/01/2011 às
Os favoritos incluem rótulos de
13h01m - Reuters/Brasil Online
vinícolas francesas como o Chateau
Por Farah Master
Lafite Rothschild, cujo preço inicial é
de 1.000 dólares uma garrafa, e o
Chateau Latour.
Jornal O Globo3 "Há pelo menos duas camadas de
apreciação de vinho na China. Se uma
pessoas está comprando e servindo o
vinho para agradecer muito a alguém
XANGAI (Reuters Life!) - Depois da que lhe fez um favor, então há uma
explosão na demanda por bolsas de classificação social que significa que ela
estilistas, ternos italianos e carros vai oferecer o vinho caro", disse Ch'ng.
velozes, os vinhos caros franceses e
italianos estão prestes a se tornarem o "Mas você tem também a mesma
pessoa bebendo com amigos e família,
e aí não há mais status ligado à
3 Este Estudo de Caso foi publicado na Jornal
garrafa".
O Globo – –
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/01 Aficcionados por vinho dizem que o
/03/novos‐ricos‐da‐china‐anseiam‐por‐vinhos‐ consumo na China continental cresceu
europeus‐caros‐923409309.asp acesso em na base de dois dígitos nos últimos dez
13/01/2011.
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anos, resultando em forte incentivo importados. O consumo de vinhos
para vinícolas e empresas que visam o tintos finos (feitos de uvas vinífera, de
lucrativo mercado chinês, o qual deve melhor qualidade) produzidos em solo
superar fortemente a demanda no nacional cresceu 14,6% em 2009, ante
Ocidente nos próximos anos. uma alta de apenas 2% do produto do
exterior.
O Chateau Lafite Rothschild
incorporou o caracter chinês do As vinícolas gaúchas, que representam
número 8 nas garrafas de sua safra 90% do mercado nacional, produziram
2008, que deverá ser colocada no 13 milhões de litros de vinhos finos
mercado em 2011. tintos, ante uma comercialização de 59
milhões de litros de vinhos finos de
Para ampliar as vendas, a vinícola não procedência internacional. Incluindo
só usou o auspicioso número "oito", vinho de mesa (de menor qualidade),
mas também a cor vermelha, além das variedades branca e rosada, a
considerada um símbolo da sorte na produção gaúcha de vinhos sobe para
tradição chinesa. 240 milhões -alta de 12% ante 2008.
O Chateau Mouton Rothschild usou "O setor vive um momento de
um design do artista chinês Xu Lei recuperação", diz Júlio Fante,
para sua garrafa vintage 2008. presidente do Ibravin (Instituto
Brasileiro do Vinho). "Nos últimos dez
Em cidades cosmopolitas como Xangai anos, foi feito um investimento forte na
e Pequim, há também robusto apetite viticultura, no plantio da uva, na
por vinho como investimento de classe. escolha dos terrenos e em termos de
variedade das mudas."
Dados inéditos compilados pelo
Ibravin mostram que a indústria
Aumenta fatia do nacional de vinhos e espumantes
vinho nacional no movimentou R$ 2,5 bilhões no ano
passado --considerando como base os
mercado valores pagos pelo consumidor final.
MARIANA BARBOSA da Reportagem Local - A importação de vinhos somou R$ 345
26/04/2010 - 11h21 milhões, segundo dados do Ministério
do Desenvolvimento.
Considerando os valores pagos pelo
Jornal Folha de São Paulo4 consumidor, o faturamento da
categoria de importados sobe para
quase R$ 900 milhões, de acordo com
estimativas do Ibravin.
Os vinhos finos nacionais estão em alta
e ganharam mercado sobre os Além de ganhar mercado em relação
aos importados, os vinhos finos
4 Este Estudo de Caso foi publicado na Jornal conquistam espaço dentro da produção
Folha de São Paulo – – nacional. O Ibravin projeta que a
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ participação dos vinhos finos em
ult91u725978.shtml acesso em relação ao total dos vinhos produzidos
13/01/2011.
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no país deve passar dos atuais 18% é da ordem de R$ 100 milhões. "Nós
para 80% até 2025. Mas isso não somos grandes no Rio Grande do Sul,
significa o fim do plantio das chamadas mas nossa ideia, para este ano, é
uvas híbridas, ou americanas, usadas conquistar o mercado de São Paulo."
para produzir vinho de mesa. Estas A cooperativa já fechou com algumas
continuarão sendo plantadas, mas com redes de supermercados, como Sonda e
foco na produção de suco. Hirota, e está investindo em
degustação no ponto de venda.
Produto saudável
Estratégia similar tem a vinícola Perini,
Com apelo de produto saudável, o suco que faturou R$ 40 milhões no ano
de uva tem crescido a taxas de 40% ao passado e planeja investimentos de R$
ano. Tradicionalmente, 30% da safra 4,5 milhões para este ano. A intenção
de uva americana é destinada à de Benildo Perini, presidente da
produção de sucos. Mas, no ano vinícola, é triplicar o faturamento em
passado, essa fatia subiu para 45% e a cinco anos.
expectativa é que, neste ano, 60% da
safra seja transformada em suco. Além Há hoje 1.200 vinícolas em atividade
da crescente demanda pelo produto, o no Brasil, o dobro de cinco anos atrás.
suco de uva garante retornos A maioria é formada por vinícolas de
financeiros melhores para as vinícolas. pequeno porte. Juntas, elas faturaram
R$ 1,2 bilhão no ano passado, alta de
Enquanto o vinho tinto de qualidade 60% em relação a 2007. "O volume de
garante prestígio para as vinícolas, o uvas se manteve praticamente igual
suco de uva e os espumantes (que nos últimos dois anos. O crescimento,
crescem 20% o ano) impulsionam o portanto, representa aumento do valor
crescimento e os novos investimentos agregado."
no setor.
A cooperativa Garibaldi reúne 340
produtores localizados em dez
municípios da Serra Gaúcha e pretende
investir R$ 7 milhões em aumento de
capacidade nos dois segmentos.
Segundo o presidente da Garibaldi,
Oscar Ló, a produção de espumantes,
que foi de 1,2 milhão de garrafas no
ano passado, deve crescer 30%. O suco
deve avançar na mesma proporção,
para 2,1 milhões de litros. "Os vinhos
de uvas viníferas também estão
crescendo, mas é um mercado mais
difícil, com forte concorrência com as
estrangeiras", diz Ló.
Com um faturamento de R$ 44
milhões no ano passado, a Garibaldi
pretende alcançar o time das grandes
vinícolas como Miolo, Salton ou
Aurora, cujo faturamento, com vinhos,
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produção, reconversão de vinhedos e
até na contratação de profissionais
mais especializados.
Setor de vinhos
precisa de “Ainda há carência de profissionais que
tenham entendimento do mercado
especialistas em para elaborar estratégias de
marketing posicionamento, comercialização e
distribuição dos vinhos nacionais”,
afirma Flávio Eduardo Martins,
Talita Abrantes, de EXAME.com - Veja São coordenador do curso de pós-
Paulo/Arquivo graduação em marketing do vinho da
Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM).
O espaço no mercado de trabalho para
quem consegue conciliar técnicas de
marketing com um profundo
conhecimento do mercado de vinhos
nacional é extenso. As opções vão
desde um trabalho mais próximo das
vinícolas e centros de distribuição até
os chamados setores no entorno do
vinho, como supermercados, hotéis e
restaurantes.
Esse ano, a ESPM que já mantém uma
pós em marketing do vinho no Rio
Revista Exame5
Grande do Sul irá lançar um curso nos
mesmos moldes em São Paulo. Já a
unidade paulista da Fundação Getúlio
Vargas deve abrir um curso de
São Paulo – De olho no crescimento do extensão em Negócios do Vinho em
consumo de vinho no Brasil, setor de março.
vinhos quer consolidar reputação do
produto brasileiro no país. E, para isso,
precisa de profissionais especializados
em posicionamento de marca.
Geridas por grupos familiares, as
principais vinícolas brasileiras viveram
uma revolução nos últimos dez anos.
As mudanças foram materializadas em
investimentos em novas tecnologias de
5 Este Estudo de Caso foi publicado na Revista
Exame – –
http://exame.abril.com.br/carreira/galerias/pr
ofissoes‐em‐alta/setor‐de‐vinhos‐precisa‐de‐
especialistas‐em‐marketing acesso em
13/01/2011.
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165,4 mil, em 2002, para um valor
estimado de cerca de US$ 2,2 milhões
em 2007, ou seja, um crescimento
Setor de vinhos finos superior a 1.200 % em cinco anos.
investe R$ 3,8
O projeto iniciou suas atividades com a
milhões na promoção adesão de apenas seis vinícolas
de exportações brasileiras. Hoje, já são 28, sendo que
75% delas já efetivaram exportações e
outras estão em processo de
preparação. O mercado internacional
tem mostrado uma tendência de
demanda por vinhos vindos de áreas de
produção mais novas, como é o caso do
Brasil. A meta de exportações do Wines
From Brazil até o final de 2009 é
chegar a US$ 4 milhões, com
crescimento ainda maior para os
próximos anos. “Queremos cada vez
mais mostrar não só para o nosso
mercado, mas também para o mundo,
que temos um produto de qualidade e
queremos poder encher a boca para
dizer que temos um dos melhores
Segunda-Feira, 03 de março de 2008
vinhos do mundo”, disse o Presidente
da Apex-Brasil, Alessandro Teixeira,
durante o evento de assinatura do
News Comex6 convênio.
Nos próximos dois anos serão De acordo com o Presidente do
investidos R$ 3,8 milhões em ações de Conselho Deliberativo do Ibravin,
marketing internacional e de Denis Debiasi, os resultados
aproximação com o comprador. As alcançados até agora atestam o sucesso
exportações brasileiras de vinhos do projeto que tem por objetivo
cresceram mais de cinco vezes nos promover internacionalmente o vinho
últimos cinco anos, passando de US$ brasileiro. Ele salienta que as ações do
772 mil em 2003 para US$ 4 milhões WFB incluindo a participação em feiras
em 2007, sendo que as empresas e eventos internacionais trouxeram
participantes do Wines From Brazil inúmeros benefícios às vinícolas
foram responsáveis por 57% deste participantes do projeto. Entre eles
valor. O Brasil começou a exportar destacam-se: o volume exportado e o
vinhos finos no início desta década. número de empresas exportadoras que
Desde então, as exportações de vinhos era de apenas duas e chegou a 14 no
finos das empresas beneficiadas pelo ano passado.
projeto de promoção passaram de US$
Outros resultados positivos
6 Este Estudo de Caso foi publicado na News
apresentados pelo Wines From Brazil
Comex – – referem-se ao Projeto Comprador e ao
http://www.newscomex.com.br/mostra_notici Projeto Imagem. O primeiro, contou
a.php?codigo=8732 acesso em com 23 participantes e uma expectativa
13/01/2011.
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de negócios de U$ 1 milhão em 12 semestre, a estimativa é que o
meses. Já o Projeto Imagem reuniu 37 crescimento médio tenha ficado em
jornalistas, resultando em 57 28% em relação ao mesmo período do
publicações na mídia especializada, ano passado.
sendo 50 só em 2007.
As razões que impulsionam esse
cenário são, de um lado, a retração do
mercado consumidor europeu, que faz
do Brasil um destino para os
Importação de produtores desovarem estoques, de
vinhos no Brasil outro, um movimento de antecipação
de compras pelos importadores para
cresce 28% no evitar gastos com a entrada em vigor,
em novembro, do novo selo fiscal de
semestre controle.
Entre janeiro e maio, segundo os dados
Retração do mercado consumidor consolidados do Instituto Brasileiro do
europeu favorece o Brasil Vinho (Ibravin), com base em
informações do Ministério do
- Consumo | 31/07/2010 11:25 Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, a importação de
vinho italiano aumentou 58,57%. A alta
nas importações de vinho português foi
de 24,8%, quase similar à compra de
vinhos espanhóis, que cresceu 22,32%.
Já a de vinhos franceses aumentou
11,76%.
Como a demanda não experimenta
uma explosão de consumo, a tendência
é que o preço do vinho caia, já que a
oferta vai se expandir e o produto é
perecível. "O mercado europeu está
Crise na Europa impulsiona exportações para o realmente muito ruim", diz o dono da
Brasil Mistral, Ciro Lilla. Ele alerta: "Há
muito vinho ruim nessa oferta,
produtores de pouca tradição e adegas
Revista Exame7 pequenas sem produto de qualidade."
A implantação do selo fiscal para
garantir maior fiscalização sobre o
São Paulo - O ritmo de entrada de contrabando e diminuir a
informalidade era uma reivindicação
vinhos importados no mercado
antiga do setor vitivinícola do País. Os
nacional acelerou. No primeiro
produtores acreditam que o selo
7 Este Estudo de Caso foi publicado na Revista servirá para estimular a
Exame – – competitividade do vinho nacional. As
http://exame.abril.com.br/economia/noticias/i informações são do jornal O Estado de
mportacao‐vinhos‐brasil‐cresce‐28‐semestre‐ S. Paulo.
583508 acesso em 13/01/2011.
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que só comem frutas e verduras que
nunca tiveram contato com substâncias
químicas podem ficar felizes ao saber
O vinho "Verde" que um dos melhores vinhos do mundo
Cresce a procura pelos vinhos é tão orgânico quanto as folhas de
orgânicos, feitos sem adição de alface, chicória e acelga que eles
adoram devorar. O Romanée-Conti é o
substâncias químicas ‐‐ e que, dizem mais célebre representante de um tipo
os admiradores, não dão dor de de bebida que vem causando frisson
cabeça no dia seguinte entre os ecochatos: o vinho orgânico.
Trata-se de uma classificação pouco
Marcelo Onaga, da EXAME - 15/12/2006 17:48 utilizada até poucos anos atrás, mas
que começou a ganhar força com a
onda natureba que vem invadindo os
mercados do mundo inteiro. A procura
é tão grande que já surgiram na Europa
lojas especializadas na comercialização
dos vinhos ecochatos.
Os vinhos naturais entraram na moda
nos últimos anos, principalmente na
França. Atualmente, são consumidos
cerca de 160 milhões de litros da
bebida, o que representa 5% do total de
3,2 bilhões de litros vendidos por ano.
Há cinco anos, a participação dos
orgânicos não chegava a 2% do
consumo total. "A divulgação dos
produtos orgânicos como um todo e a
Em alguns países da Europa, há lojas conscientização das pessoas, que se
especializadas que vendem apenas vinhos preocupam mais com a saúde e com a
orgânicos preservação da natureza, foram
decisivas para elevar o consumo de
vinhos orgânicos", diz Jean Pierre
Revista Exame8 Amoreau, dono do Château Le Puy,
que desde 1610 produz vinhos naturais.
É da vinícola de Amoreau que sai o
Barthélemy, um dos melhores vinhos
O que uma garrafa de Romanée-Conti naturais da França na opinião de
pode ter em comum com aqueles especialistas. "É um vinho sem
saquinhos estufados de rúcula que nenhuma adição de sulfito", diz o
ficam à venda nos balcões refrigerados consultor francês Jacques Trefois, um
dos supermercados? Nada, responderá, dos maiores especialistas no assunto. O
com razão, quem pensar apenas em sulfito, aliás, é uma espécie de satanás
preço e sabor. Mas os consumidores dos vinhos para um ecoenófilo.
Segundo os críticos, essa substância,
8 Este Estudo de Caso foi publicado na
utilizada para ajudar a conservar o
Revista Exame – – vinho, é a culpada pelas dores de
http://exame.abril.com.br/seu‐ cabeça que aparecem na manhã
dinheiro/noticias/o‐vinho‐verde‐m0119342 seguinte a uma noite de degustação de
acesso em 13/01/2011.
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taças e mais taças de vinhos comuns. não garante qualidade ao vinho. "Há
"Vinhos naturais não dão dor de orgânicos maravilhosos e outros que
cabeça. A ressaca é culpa do sulfito", são intragáveis", diz Veronique Raskin,
diz o cantor Ed Motta, assumidamente fundadora da Organic Wine, uma das
radical na defesa dos vinhos naturais. primeiras lojas de vinho orgânico da
"Hoje em dia só bebo vinhos orgânicos Califórnia. "O problema é que quem
da Borgonha." prova um orgânico de má qualidade
acha que todos os vinhos do tipo são
Mais sabor ruins."
A predileção de Ed Motta pelos A classificação orgânica entre os vinhos
naturais nada tem a ver com o cuidado é um pouco mais complexa que a usada
com o corpo. O cantor é um dos entre verduras, frutas e legumes. Há
entusiastas que tentam reproduzir no três divisões: orgânicos simples,
Brasil o sucesso que os vinhos biodinâmicos e naturais. Os primeiros
orgânicos fazem na França. Ele é são vinhos que usam apenas uvas
responsável, junto com o executivo cultivadas sem nenhum agrotóxico,
Marcos Mikulis, pela nova carta de mas que podem ter substâncias
vinhos do Hotel Emiliano, de São químicas adicionadas durante o
Paulo. Parte dela terá vinhos orgânicos, processo de produção da bebida (como
biodinâmicos e naturais. "Os clientes o odiado sulfito). Os biodinâmicos são
começam a procurar produtos desse uma espécie de "orgânicos esotéricos".
tipo e queremos mostrar o que há de Além de não utilizar química no
melhor entre os vinhos", diz Mikulis. plantio das uvas, os produtores
Também o restaurante paulistano respeitam o calendário lunar e fazem
D.O.M., do premiado chef Alex Atala, preparos com ervas, água da chuva e
começa a trabalhar com vinhos até chá de pêlos de rabo de cavalo e
naturais. "É uma tendência. Os vinhos raspas de chifres de boi para borrifar
naturais são melhores que seus pares nas parreiras. Mas, durante o processo
não-orgânicos", diz Celso La Pastina, de fabricação, a adição de compostos
dono da World Wine, maior químicos também é permitida. Já os
importadora de vinhos orgânicos do naturais são os xiitas, os mais radicais -
país. Por ter uma produtividade - e os mais desejados entre os
reduzida e um processo de fabricação ecoenófilos. O cultivo das uvas é feito
quase artesanal, os vinhos orgânicos com base nos preceitos orgânicos ou
são mais caros do que seus similares biodinâmicos. A grande diferença está
não-orgânicos -- chegam a custar o no processo de fabricação. "Nada pode
dobro de um vinho de qualidade ser acrescentado. É um vinho
equivalente. Muitas vezes, toda uma totalmente natural que reflete toda a
colheita é perdida porque pragas que sua origem", diz o consultor Trefois.
não foram combatidas com agrotóxicos
degustaram as uvas antes de elas
virarem vinho.
Tem até chifre de boi
Os fãs do produto dizem que vale a
pena. "São vinhos feitos por gente Não basta ser livre de agrotóxicos para
preocupada não só com dinheiro mas o vinho agradar aos enonaturistas mais
também em espalhar um estilo de vida radicais
mais saudável", diz Ed Motta. A
Orgânicos
classificação de orgânico, no entanto,
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Feitos com uvas cultivadas de forma
totalmente natural, sem inseticidas,
pesticidas nem agrotóxicos. Mas Setor de vinhos
permitem a adição de
substâncias químicas para conservação cresce e atrai
ou correção de sabor
empreendedores
Biodinâmicos
O cultivo das uvas também é
totalmente livre de produtos químicos. Por Jorge Lucki | De São Paulo - 09/09/2010
Os produtores respeitam o calendário
lunar e utilizam poções à base de ervas,
água da chuva e até raspas de chifre de
boi para borrifar nas parreiras Jornal Valor Econômico9
Naturais
São os melhores. Podem usar uvas
produzidas de forma orgânica ou Há cerca de seis anos, uma amiga que
biodinâmica, mas os produtores não trabalhava em uma importadora de
acrescentam nenhuma substância vinhos havia recebido convite de uma
(química ou não) durante e depois do concorrente com significativa presença
processo de fermentação no mercado para mudar de empresa. O
que a atraia na proposta não era, a
rigor, eventuais vantagens financeiras
nem o posto que iria ocupar, mas a
Claro, a ausência completa de possibilidade de poder dar
conservante traz reflexos negativos continuidade a um trabalho que
(por exemplo, as lesmas que desenvolvera e lhe dava prazer.
acompanham as folhas de alface Imaginava que corria o risco perder o
orgânica). A maioria dos vinhos que conquistara se ali permanecesse
naturais não pode ser guardada por em função de uma suposta tendência
muito tempo, tampouco suporta ser de concentração do setor, o que levaria
deslocada por grandes distâncias. ao enfraquecimento/desaparecimento
Qualquer variação de temperatura das pequenas e médias importadoras.
pode provocar uma nova fermentação -
- e, nesse caso, o melhor que se Tentei mostrar que no médio e longo
consegue é um vinagre para temperar a prazos o cenário seria diferente do que
rúcula orgânica. ela supunha. Argumentei que o
mercado brasileiro estava se alargando
e que havia um número cada vez maior
de novos e bons produtores surgindo
mundo afora, e que era inviável uma
importadora montar uma estrutura
que pudesse abranger tantos nomes
9 Este Estudo de Caso foi publicado na Jornal
Valor Econômico – –
http://www.valoronline.com.br/impresso/cons
umo/117/306310/setor‐de‐vinhos‐cresce‐e‐
atrai‐empreendedores?quicktabs_3=0 acesso
em 13/01/2011.
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novos e trabalhá-los com eficiência. conseguidas nas feiras Vinitaly e
Acreditava que novas importadoras Vinexpo de 2009, e no fim daquele ano
apareceriam, o que seria benéfico para chegaram os vinhos sul-africanos e
o mercado, atingindo mais e melhor o chilenos da Viña Maipo. A proposta é
consumidor, o que de fato ocorreu. chegar a 200 rótulos em 5 anos,
Favorecido pelo bom comportamento cobrindo os cinco continentes e suas
da economia, o mercado nacional de regiões mais importantes, e depois de
vinhos cresceu de forma consistente estabilizar, fazendo um trabalho de
nos últimos anos, atraindo cada vez implantação das marcas, estender um
mais interessados em abrir novas pouco a linha de produtos.
importadoras.
Como canais de atuação a Ravin
O que realmente deve ser levado em estabeleceu dividir suas atenções entre
consideração é que o setor de vinhos restaurantes, delis e lojas
importados é bastante competitivo, especializadas, e supermercados,
exigindo profissionalismo. Mais do que representando 30% cada, e 10% para o
um ou outro bom produtor, é essencial consumidor final por meio da loja
definir foco e ter um portfólio virtual (www.ravin.com.br), conjunto
adequado, além de estruturas que deve atingir receita de R$ 20
administrativa e comercial bem milhões neste ano. Nada mal para
montada. quem investiu R$ 6,5 milhões no
negócio. A boa gestão faz com que não
Atendendo esses requisitos foi haja necessidade de mais aportes, e a
montada a Ravin, importadora "máquina" está rodando com o próprio
comandada por Rogério d'Avila, que foi fluxo.
diretor comercial da Expand durante
vários anos, e Alberto Porto Alegre, O segredo para atingir essas metas é
responsável por três anos pela Wine estar bem representado nos principais
Premium, empresa do grupo Expand. centros de consumo espalhados pelo
A Ravin é tema da coluna de hoje e dá Brasil. Nesse aspecto, a Ravin conta
início a uma série de artigos abordando com representantes e equipe própria,
algumas dessas novas importadoras. essa encarregada de mercados
importantes, caso de São Paulo, capital
Rogério e Alberto - as iniciais dos dois e interior, Brasília, Rio de Janeiro,
compõem o nome da importadora - se Curitiba e Porto Alegre.
conhecem há 20 anos, desde o tempo
em que trabalhavam na antiga Na tabela, o portfólio completo da
Antarctica - um era diretor comercial e importadora, comentado, com as
o outro, diretor financeiro. Fizeram respectivas avaliações.
MBA juntos e resolveram montar a
empresa em março de 2009, trazendo colaborador-
junto alguns produtores que jorge.lucki@valor.com.br
supostamente estavam descontentes
com sua então representante no Brasil.
O primeiro nome foi a Bodega
Argentina Zuccardi, conhecida por
aqui sobretudo pelos rótulos mais
populares Santa Julia. Vieram a seguir
vinícolas italianas e francesas,
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vendido em garrafão e não era sequer
feito com uvas próprias para a
vinificação. Em suma, um desastre
A aposta na completo. Foi quando as vinícolas
qualidade familiares do sul do país decidiram
apostar com mais força em vinhos
As vinícolas nacionais lançam uma elaborados com castas européias, como
leva de vinhos considerada a melhor cabernet sauvignon e merlot, vendidos
da história do país na faixa dos 20 reais. Nada que
colocasse o Brasil em lugar de destaque
no mundo do vinho, porém.
Entendidos como o crítico americano
Tiago Lethbridge e Ricardo Cesa, da EXAME - Robert Parker jamais enfiaram o nariz
06/10/2006 17:56 numa taça que contivesse exemplar
dessa categoria. A segunda revolução,
que ainda está em andamento,
pretende levar os vinhos do país para
outro nível. Com investimento inédito
na qualidade das uvas e na tecnologia
de produção, os fabricantes nacionais
estão colocando no mercado o que os
especialistas consideram os melhores
já feitos no país. Comercializados por
cerca de 70 reais, vinhos como Talento,
da Salton, e Terroir, da Miolo,
desbravam um território desconhecido
para os nacionais, no qual a
competição com os importados pode
ser ainda mais ingrata do que nas
faixas de preço inferior. "O vinho
brasileiro vai surpreender", diz Ângelo
Salton Neto, presidente da Salton.
Barricas de carvalho na Salton: origem
francesa Para elaborar vinhos com capacidade
para disputar esse segmento de
mercado, as empresas nacionais foram
Revista Exame10 forçadas, basicamente, a passar uma
borracha no modo de produção
anterior -- e investir pesadamente na
O vinho brasileiro passou por duas
modernização das vinícolas. A Miolo,
revoluções na última década. A
por exemplo, aplicou 50 milhões de
primeira delas, iniciada em meados
reais nos últimos anos. Entre as
dos anos 90, tirou o produto nacional
práticas mais comuns estão a troca das
do patamar anterior -- o intragável. Até
videiras antigas por novas variedades,
então, o vinho brasileiro típico era
importadas da Europa, a aquisição de
barricas de carvalho produzidas na
10 Este Estudo de Caso foi publicado na
Revista Exame – – França e nos Estados Unidos e a
http://exame.abril.com.br/revista‐ adoção de novas técnicas de cultivo. A
exame/edicoes/0878/negocios/noticias/a‐ Salton, uma das maiores do país,
aposta‐na‐qualidade‐m0113175 acesso em importa 300 barricas por ano. Cada
13/01/2011.
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uma custa quase 3 000 reais. Além Paralelo 8 R$ 68
disso, os produtores estão desbravando
outras áreas, como a Campanha Por que é caro
Gaúcha e o Vale do São Francisco, o Produzido com cinco uvas do Vale do
que requer ainda mais investimento na São Francisco, o novo tinto da Expand
compra de lotes de terra. Tome-se o terá produção limitada de 3 000
exemplo da importadora Expand, do garrafas
empresário Otávio Piva de
Albuquerque. A empresa iniciou há Fonte: empresas
três anos a produção de vinhos. Em vez
de apostar no tradicional Vale dos O maior desafio dos Produtores
Vinhedos, na Serra Gaúcha, optou pelo nacionais, claro, é convencer o
Nordeste. Os primeiros exemplares consumidor de que investir 70 reais
não chamaram atenção, mas a versão num vinho brasileiro não é um ato de
reserva do Rio Sol, produzido com a loucura ou um sinal de patriotismo
uva syrah, foi vista como promissora. patológico. De acordo com os
Piva, então, tomou uma atitude rara especialistas, as prateleiras de
entre seus pares: mandou um exemplar importadoras e supermercados estão
para avaliação da conceituada revista repletas de excelentes vinhos nessa
inglesa Decanter, que então faixa de preço, especialmente
recomendou sua compra. "Nas argentinos e chilenos. "A grande
próximas semanas, vamos lançar nosso dificuldade das vinícolas é apagar a
mais ousado vinho, o Paralelo 8, que imagem do produto nacional como
custará 68 reais", diz Piva. O Paralelo 8 sinônimo de vinho de garrafão", diz
já chega com boas credenciais. Adriano Miolo. Para auxiliar nessa
Recentemente, o vinho recebeu a tarefa, os brasileiros têm contratado
classificação 83 -- de um total de 100 -- especialistas consagrados do mundo do
da prestigiada revista Wine Spectator. vinho, que atuam como consultores na
produção -- e podem servir para
convencer os consumidores céticos, já
que seus nomes são vistos como uma
As novidades dos brasileiros espécie de atestado de qualidade. O
mais destacado membro dessa turma é
Os vinhos premium que as vinícolas o francês Michel Rolland. Considerado
nacionais estão lançando no mercado um dos mais experientes enólogos do
Salton Desejo R$ 70 planeta, Rolland foi contratado há três
anos para transformar a produção da
Por que é caro Elaborado com as Miolo. Uma de suas sugestões foi um
melhores uvas merlot da Salton, teve drástico corte na produção. Com o
toda a produção acompanhada por objetivo de aumentar a concentração
enólogos estrangeiros de açúcar nas uvas, Rolland mandou
reduzir de 20 para apenas 2 quilos a
Miolo Terroir R$ 58 quantidade de uvas produzidas por
videira. As outras vinícolas fizeram o
Por que é caro mesmo. Para elaborar seu vinho mais
Com tiragem de apenas 18 000 caro, o Talento, a Salton trouxe da
garrafas, o Terroir é considerado o argentina um consultor que ganhou
melhor tinto já produzido pela Miolo fama na Trapiche, Angel Mendoza. Nos
próximos meses, a companhia lança o
primeiro vinho produzido do início ao
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fim com o auxílio de Mendoza, o Salton
Desejo, elaborado com uvas merlot e
vendido por 70 reais. "Os melhores
vinhos brasileiros são até comparáveis Hora de brindar?
aos chilenos, argentinos e australianos Depois de quase falir, a Vinícola
da mesma faixa de preço", diz Arthur Aurora volta a lucrar. Mas ainda é
Azevedo, presidente da Associação
cedo demais para comemorar
Brasileira de Sommeliers. "Isso já é um
grande feito para o Brasil, pois há
poucos anos não cabia comparação
alguma." Suzana Naiditch - 05/03/2002 17:48
Nessa aposta de qualidade, os
produtores nacionais tentam seguir
caminho semelhante ao trilhado por Revista Exame11
seus pares argentinos. Até dez anos
atrás, o vinho do país vizinho era
destinado basicamente ao consumo
interno. Empresários como Nicolás Na segunda semana de novembro do
Catena, da Catena Zapata, ano passado, a gaúcha Aurora, a maior
transformaram o vinho argentino fabricante brasileira de vinhos, não
investindo em pesquisa do solo, seleção tinha mais o espumante da marca
de videiras e, inclusive, adotando uma Marcus James para atender aos
uva "nacional", a malbec. O resultado é pedidos do varejo. As vendas
que hoje alguns vinhos argentinos alcançavam 192 mil garrafas, quase
atingem pontuações altíssimas nas 130% a mais que o volume
degustações internacionais. O malbec comercializado em 2000. Alguns
Achaval Ferrer, considerado o melhor meses antes o espumante já havia sido
da América do Sul, levou 96 pontos da aprovado pela crítica -- sua versão Brut
Wine Spectator, feito inimaginável até 2000 recebeu medalha de ouro no
uma década atrás. No Chile, a Concha y concurso Vinalies Internationales
Toro elabora o Don Melchor, que já 2001, em Paris, França. "Ganhar
ganhou 95 pontos da mesma revista e é medalha de ouro na terra do
vendido no Brasil por 250 reais. É champanhe é como ganhar um Oscar",
justamente nessa faixa de preço que os diz o advogado Hermes Zaneti, 58
brasileiros miram quando preparam anos, superintendente da empresa. "A
sua próxima investida. "Vamos lançar consagração do nosso produto
um vinho de 100 dólares nos próximos simboliza a recuperação da Aurora."
cinco anos", diz Adriano Miolo. Resta
ao consumidor torcer para que a Por recuperação entenda-se ter
qualidade cresça na mesma proporção fechado o ano passado com um lucro
do preço. de 2 milhões de reais, modesto para o
faturamento de 100 milhões, mas uma
mudança -- perdoem o trocadilho -- da
11 Este Estudo de Caso foi publicado na
Revista Exame – –
http://exame.abril.com.br/revista‐
exame/edicoes/0761/empresas/noticias/hora‐
de‐brindar‐m0052387 acesso em
13/01/2011.
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água para o vinho, já que seis anos Gonçalves. Orçado inicialmente em 6
atrás a empresa enfrentava um milhões de reais, no fim de 1995 já
prejuízo de 34 milhões de reais (veja havia consumido uma soma quase
quadro na pág. XX). Controlada por cinco vezes maior. Outro projeto, o de
uma cooperativa de produtores de uva uma fábrica de suco concentrado, foi
de Bento Gonçalves, a Aurora havia ainda mais infeliz: engoliu pelo menos
chegado a um ponto crítico: para cada 8 milhões de reais e é hoje um
real de faturamento contabilizava 2,84 esqueleto abandonado. "Queríamos
reais de dívida vencida. No início de eliminar a ociosidade dos produtores e
1996, um comitê de 12 bancos credores fugir da monocultura, mas a crise nos
liderado pelo Banco do Brasil afastou a pegou", diz José Alberici, ex-presidente
diretoria da empresa e indicou dois da Aurora e hoje dono de uma
executivos para negociar o passivo de distribuidora de vinhos. "Com a
84 milhões de reais, somente com as abertura do mercado, o setor de vinhos
instituições financeiras. No total, sofreu muito."
considerando atrasos com
fornecedores, impostos, associados e A Aurora também foi prejudicada por
outros, o débito chegava a 127 milhões. uma orientação assistencialista. Entre
1989 e 1996, cerca de 40 milhões de
Alguns meses depois, Zaneti, nascido e reais, boa parte deles emprestada por
criado entre parreirais da serra gaúcha, bancos, foram gastos com planos de
foi chamado pelos associados da saúde, odontológico e farmacêutico
cooperativa para assumir as rédeas do para os associados da cooperativa e
negócio e representá-los perante os seus familiares. "Estávamos investindo
bancos credores. Ele ficara conhecido no bem-estar do cooperado", afirma
no Rio Grande do Sul na década de 70 Alberici. Eram cerca de 6 mil pessoas
por sua atuação como líder sindical dos recebendo benefícios bancados pela
professores, quando se acostumou a empresa. "A política de assistência
comandar greves do magistério. tinha de acabar ou iria afundar de vez a
Depois, fez carreira política como Aurora", diz Zaneti. "Os associados
deputado federal e representou a estavam distanciados do negócio, e foi
região vinícola em Brasília por dois duro explicar a eles que não eram
mandatos. "Meu maior desafio passou funcionários, e sim os donos." Zeferino
a ser recuperar uma empresa que Riboldi, o presidente da cooperativa,
estava praticamente quebrada", diz. confirma a falta de informação dos
associados. "Foi um baque para nós",
Como a Aurora havia chegado a tal diz. "Os antigos gestores escondiam as
situação? A crise financeira da empresa coisas. Éramos donos de direito, mas
resultou de uma combinação de má não de fato." Uma das providências de
gestão com investimentos mal Zaneti foi criar canais de comunicação.
dimensionados e falta de condições Atualmente, os associados
para concorrer com os vinhos acompanham o dia-a-dia da empresa
estrangeiros que invadiram o mercado por um programa de rádio de cinco
brasileiro desde a abertura da minutos. Na festa dos 70 anos da
economia, na primeira metade dos Aurora, em abril de 2001, a família dos
anos 90. Um dos projetos que produtores foi convidada a visitar a
sangraram o caixa da vinícola foi o da sede, no centro de Bento Gonçalves.
construção de um vinhoduto de 4,5 Muitos cooperados nunca haviam
quilômetros de extensão entre as duas colocado os pés lá.
unidades de produção em Bento
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A ruína financeira comprometeu a tal safras passadas. "O que manteve a
ponto a competitividade da Aurora que Aurora de pé foi a confiança dos
ela perdeu seu principal contrato de cooperados", diz Cézar Lindemeyer,
exportação. Os vinhos Marcus James, hoje gerente-geral da SLC Alimentos e,
vendidos nos Estados Unidos desde na época, consultor da Aurora. "Eles
1988, garantiam à cooperativa 12 continuaram entregando sua produção
milhões de dólares em 1997. Mas, no sem saber se receberiam por ela e se as
fim daquele ano, a importadora dívidas acumuladas seriam pagas."
americana rompeu o contrato. Zaneti Para convencê-los, Zaneti promoveu 15
então reuniu sua equipe de vendedores assembléias. "Eles acabaram
e fez um discurso inflamado como nos compreendendo que precisávamos
tempos de sindicalista. Pediu a eles que pagar primeiro os fornecedores e os
conseguissem o que parecia impossível impostos atrasados", diz.
-- colocar no mercado interno os
vinhos que não iriam mais para os Mesmo há dois anos, quando faltou
Estados Unidos. Deu certo. Sem uva e os produtores da Aurora foram
exportar, a Aurora faturou em 1998 os assediados por outras vinícolas, a
mesmos 57 milhões de reais que havia maioria deles resistiu. "Outras
registrado quando ainda contava com o empresas esfregaram cheques no nariz
contrato de exportação. dos associados, oferecendo preço
superior, à vista, enquanto a Aurora
As relações políticas do ex-deputado pagava o preço de mercado em dez
foram fundamentais para conseguir vezes", diz Zaneti. Os que sucumbiram
um acordo com os bancos credores, foram expulsos da cooperativa. Alguns
firmado como protocolo de intenções saíram por vontade própria. Das 1,5
em 1997, mas só assinado dois anos mil famílias que havia em 1996, restam
depois. Ele resultou na formação de 1,2 mil. Para cortar custos, o quadro de
duas novas empresas: a Ativos e a funcionários também foi reduzido: de
Aurora Vinhos, ambas controladas pela 518 há seis anos para 280 atualmente.
Cooperativa Vinícola Aurora. A Vinhos
é a gestora do negócio. A Ativos A relação mais pragmática com os
assumiu o patrimônio, as marcas e as associados permitiu contornar um
dívidas com os bancos, hoje ainda na problema comum da cooperativa: não
casa dos 76 milhões de reais. O acordo, conseguir vender toda a produção que
atualmente sob análise da Comissão de é obrigada a receber. "A Aurora está
Valores Mobiliários (CVM), prevê a fazendo o associado produzir aquilo
abertura de capital da Ativos para que que o mercado pode absorver", diz
sejam emitidas debêntures no valor de Adolfo Lona, diretor de operações e
56 milhões de reais, com prazo de enólogo responsável da concorrente
resgate de até 20 anos. Um patrimônio Bacardi, Martini do Brasil. Adaptar a
estimado em 20 milhões de reais será produção às mudanças do mercado é
vendido para quitar o restante da vital no setor. Há poucos anos, o país
dívida. viveu a euforia dos vinhos brancos --
chegou a importar grandes volumes
Dos débitos com fornecedores e dos alemães de garrafa azul, de
impostos, que somavam 21 milhões de qualidade duvidosa. Depois, veio a
reais em 1996, mais de 85% foram onda do tinto. Foi quando faltou
quitados e o restante foi renegociado. A matéria-prima para as vinícolas. Em
cooperativa ainda deve também aos 1998, percebendo que não teria
próprios associados o pagamento de condições de atender à expansão do
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mercado, a Aurora montou uma
subsidiária no Uruguai, onde produz
vinhos tintos, como o Marcus James e DA ÁGUA PARA O VINHO
o Conde de Foucauld.
O desempenho da Vinícola Aurora
O acordo com os bancos deu fôlego à melhorou em comparação com o de
cooperativa para investir na qualidade cinco anos atrás
do produto. Os rótulos e as garrafas
1996 2001
foram renovados e a Aurora passou a
aproveitar a força dos produtos mais Faturamento* 43 100
tradicionais, como os vinhos Marcus
James, para manter a liderança. Lucro líquido* -34 2
Muitas marcas e linhas foram retiradas Dívidas* 127 91
do catálogo: dos 179 itens que vendia
em 1996, restam 62. Entre eles, marcas Volume de vendas** 25 38
populares tradicionais, como o Sangue
de Boi, que explicam por que a Aurora Funcionários 518 250
é líder do mercado em volume, com
28% da comercialização de vinhos
comuns engarrafados no país. A aposta
principal, porém, se dá nos vinhos
finos, a categoria mais rentável e que
(Quase) como na
mais tem crescido -- nos últimos dois Borgonha
anos, o consumo per capita no Brasil
aumentou 15%. Surgem no Brasil pequenos
produtores que apostam no
Ainda é cedo para dizer se a artesanato de vinhos
recuperação da empresa é sólida.
Segundo o ex-presidente Alberici, ela
se deve, principalmente, à mudança na
conjuntura, hoje propícia ao vinho Ricardo Cesar, da EXAME - 02/03/2007 17:08
nacional. Pode ser. Além de reduzir um
endividamento ainda elevado, Zaneti e Revista Exame12
seu time têm agora o desafio de tentar
recuperar a posição da Aurora como
exportadora e abrir novos mercados.
Em 2001, a Aurora faturou 500 mil Os amantes de vinhos podem ser
dólares com exportações para países divididos em duas esferas ideológicas -
como Japão, Finlândia e Paraguai. A - a pragmática e a romântica. A
meta para 2002 é exportar 6 milhões primeira é formada por defensores da
de dólares. A empresa começou o ano tecnologia e da produção em larga
embarcando sua primeira remessa de escala, combinação cujo resultado é um
vinhos e espumantes para a China. tipo de vinho moderno, sempre ao
"Meu sonho é vender uma colher de gosto dos maiores mercados
vinho para cada chinês", diz Zaneti.
12 Este Estudo de Caso foi publicado na
Revista Exame – –
http://exame.abril.com.br/revista‐
exame/edicoes/0887/consumo/noticias/quase‐
como‐na‐borgonha‐m0123036 acesso em
13/01/2011.
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consumidores. Os ídolos dessa turma estilo de vinho que ganham
são o influente crítico americano seja "natural" ao características
Robert Parker e o onipresente francês clima da região regionais e não
Michel Rolland, o mais destacado são padronizados
consultor globalizado do mundo. As
regiões produtoras onde essa ideologia Evitam uso As características
grassa são a Califórnia e a Austrália. Já excessivo de barris da uva ficam mais
o grupo dos românticos é formado de carvalho na evidentes e não
pelos adeptos da produção artesanal, produção de seus são disfarçadas
que empregam técnicas tradicionais de vinhos pelo gosto e pelo
plantio e vinificação e acham que aroma de madeira
Parker e Rolland são responsáveis por
Supervisionam São vinhos de
uma padronização dos vinhos que
toda a vinificação autor, que levam a
ameaça antigas tradições. Esse pessoal
assinatura e a
tem entre seus mais fervorosos
marca de quem
defensores os pequenos produtores
produz
italianos e franceses. Sua região-
símbolo é a Borgonha, conhecida pela
infinidade de pequenas vinícolas. Até Em sua maioria, os novos produtores
recentemente, esse embate ideológico brasileiros são tão apaixonados por
não existia entre os produtores vinho que largaram tudo e decidiram
brasileiros. Os fabricantes que estudar enologia para produzir os
dominam o mercado, como Salton e próprios rótulos. Enquanto uns
Miolo, são exemplares típicos do sonham em sair da cidade para abrir
primeiro grupo (a Miolo usa os serviços sua pousada na praia, eles decidiram
de Rolland, por sinal). Nos últimos construir vinícolas. Foi o que fizeram o
anos, porém, o pessoal pró-Borgonha administrador de empresas Luís
começou a surgir. De forma discreta, Henrique Zanini, da Vallontano;
apareceram no sul do país Werner Schumacher, da Quinta
pequeníssimos produtores artesanais, Ribeiro de Mattos, que durante 26
que fazem quantidades muito limitadas anos vendeu equipamentos e insumos
de vinhos -- e a boa notícia é que para vinícolas, mas nunca havia
alguns têm qualidade surpreendente. produzido; o economista Álvaro
Escher, da Cave Ouvidor; e o
publicitário e fotógrafo profissional
O avanço dos pequenos
Marco Danielle, da Tormentas. Todos
O que diferencia as microvinícolas das trabalham com poucos recursos,
grandes produtoras do país produção reduzida -- alguns não
chegam a 300 garrafas anuais, menos
O que eles fazem Qual o resultado de 1% do volume dos concorrentes de
Colhem e Isso evita que maior estrutura --, nenhuma verba de
selecionam os galhos ou grãos marketing e, em alguns casos, nem
grãos defeituosos sejam contam com distribuidores. Quem
manualmente, fermentados por estiver interessado tem de entrar em
enquanto as engano, contato direto para efetuar a compra. É
grandes usam melhorando a preciso muita curiosidade e
máquinas qualidade do persistência para dar-se ao trabalho de
sofisticadas produto final descobrir esses vinhos e encomendar
algumas garrafas.
Procuram um Os vinhos
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O que diferencia esses produtores das caprichada com métodos modernos de
vinícolas comerciais é que para eles o vinificação, o que resulta em vinhos
vinho não é apenas um negócio, mas que se encaixam com mais facilidade
um estilo de vida. Escher, da Cave no gosto popular. Outra vinícola que
Ouvidor, refugiou-se em um sítio sem tem recebido muitos comentários
eletricidade em Garopaba, em Santa favoráveis de especialistas é a gaúcha
Catarina, onde usa a rara uva peverella Dal Pizzol, espécie de precursora na
para produzir o branco Insólito, um fabricação de vinhos de qualidade no
dos vinhos que estão ganhando Brasil. Recentemente, o americano
entusiastas nas rodas de especialistas. Jonathan Nossiter, autor do
Seu método de produção é a antítese documentário Mondovino e notório
dos grandes projetos de Salton e Miolo. defensor do jeitão da Borgonha, levou
Alguns produtores, como Marco uma garrafa do Dal Pizzol Merlot da
Danielle, da Tormentas, exigem que a safra 1981 para que José Bonifácio de
seleção das uvas que serão vinificadas Oliveira Sobrinho, o Boni, o degustasse
seja manual, grão por grão -- e não por às cegas (ou seja, sem que soubesse de
meio de máquinas, como acontece nas que vinho se tratava). Boni, dono de
maiores vinícolas. "Quero expressar o uma das maiores adegas do país,
que o solo e o clima nos dão", diz chutou alto. "Ele achou que era um
Schumacher, da Ribeiro de Mattos. Saint-Emilion, uma sub-região de
"Meu trabalho é artesanal, nunca vou Bordeaux", diz Nossiter. Para um
competir com empresários que têm brasileiro que sonha em fazer vinhos
700 hectares de vinhedos." O resultado como na Borgonha, ver seu produto
são garrafas que, se ainda estão a anos- confundido com um Bordeaux não
luz de ícones da Borgonha, como o chega a ser má notícia.
Romanée-Conti, entusiasmam alguns
conhecedores. Um deles, o músico Ed
Motta, escreveu recentemente que o
Insólito o "emocionou além da conta" e
que o Minimus Anima, da Tormentas,
é o tinto brasileiro de maior
personalidade que já degustou.
Se os microprodutores brasileiros já
começam a conquistar os especialistas,
seu estilo nem sempre agradará
bebedores habituados aos chilenos e
argentinos que invadiram o Brasil na
década de 90. Por recusar fórmulas
modernas a que os consumidores estão
acostumados -- vinhos muito
concentrados, com uso intensivo de
barris de carvalho e teor alcoólico
elevado --, alguns produtos artesanais
podem causar estranheza em um
primeiro momento. A Villa Francioni,
da região serrana de Santa Catarina, é
vista como a com mais potencial para
agradar ao grande público. A vinícola
reúne uma produção extremamente
Oficina de Estratégia