SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  21
Folhas de
OUTONO    A viagem continuava e a cada
minuto nossa angústia aumentava. Não
sabíamos o que seria de nós, isso nos
dava uma sensação de impotência, não
podíamos fazer nada para reverter à
situação.
          Passaram-se vários dias, não
sabíamos quantos, pois estávamos sem
noção de tempo naquele lugar, a cada
dia, mais pessoas morriam entre
nós, aquela situação já estava sufocante.
Folhas de
OUTONO    O navio finalmente atraca, uma
leve e falsa sensação de alivio tomava
meu coração, aquela terrível viagem havia
terminado, mas nosso desconhecido e
temido futuro havia apenas começando.
          A porta então é aberta por um
homem franzino e de aparência ruim, ele
ordena para que nós saiamos do navio,
repleto de cadáveres.
Folhas de
OUTONO    Prontamente, obedecemos à
ordem daquele desconhecido, saímos
daquele navio, e ficamos a espera de
novas ordens. Minha mãe estava
visivelmente abalada, seu olhar estava
fixo no nada, parecia estar morta, seca
por dentro. Lágrimas salgadas saiam de
seus olhos e escorriam por seu angelical
rosto, terminando no chão
desconhecido, já eu, estava tão
assustada, sentindo-me como um bicho
do mato, acuado na presença de
estranhos.
Folhas de
OUTONO   Após uma longa espera, vimos
no horizonte, um velho e desgastado
caminhão seguir em nossa direção, o
homem franzino então acena, para indicar
nossa localização.
         Não demora muito para que o
caminhão chegue até nós, ele estaciona a
beira da praia e dele sai um homem alto e
bastante encorpado, com um chapéu para
se proteger do sol.
Folhas de
OUTONO    _São eles Riam? – Perguntou
com um estranho sotaque ao homem
esguio, se referindo a nós.
         _Sim, estes são os que
sobreviveram – Responde
suavemente, como um empregado
respondendo a seu patrão – O que
fazemos com os que não resistiram? –
Perguntou Riam
Folhas de
OUTONO     Jogue no mar, ninguém dará
falta – Disse friamente o homem, como se
aquelas vidas perdidas não valessem
nada
          Após o dialogo, Riam então
começa a árdua tarefa de descartar
dezenas de cadáveres, os jogando no
mar. O robusto homem de sotaque
estranho nos ordena a entrar em seu
veículo, e seguimos viagem.
Folhas de
OUTONO   Todos estão perplexos e
paralisados com o que estava
acontecendo, eu era a única criança em
meio a todos. Desde que havíamos
chegado minha mãe não pronunciara
nenhuma única palavra, sua face
permanecia a mesma, seu olhar ainda se
encontrava fixo no nada, algo assustador
para mim.
Folhas de
OUTONO   Após cerca de quarenta minutos
de viagem, chegamos a uma grande
fazenda, rodeada por cafezais. Descemos
do veículo e somos enfileiradas pelo
robusto homem, que nos ordena que
ficássemos ali, paradas, ele então segue
rumo a uma grande casa, que ficava ao
centro da enorme plantação.
Folhas de
OUTONO     O sol forte e escaldante indicava
que o inverno já havia terminado, ao
contrario de nossa angústia, que
aumentava a cada milésimo de segundo.
Não demora muito e o homem volta, com
um grande saco em suas mãos, repleto
de panos velhos
          _Vamos, vistam isto – Nos
ordena, obedecemos prontamente. Após
isso, ele chama a um homem negro, forte
e alto, que usava os mesmos panos
velhos que nós acabávamos de vestir
Folhas de
OUTONO   _Levem-nos e ensine o trabalho
– Ordena
        _Sim Sr. Mackenzie – Responde
o escravo
        _Espere! – Ordena novamente o
senhor Mackenzie – Qual é seu nome? –
Questiona, direcionando a pergunta para
minha mãe
Folhas de
OUTONO   _Susan, Susan McCraine –
Responde, com a voz trêmula
         _Esta não, ela permanecerá
aqui, será minha! – Ordena Mackenzie a
seu súdito
         _Sim senhor – Responde o
escravo
Folhas de
OUTONO   _Susan, Susan McCraine –
Responde, com a voz trêmula
         _Esta não, ela permanecerá
aqui, será minha! – Ordena Mackenzie a
seu súdito
         _Sim senhor – Responde o
escravo
Folhas de
OUTONO   No mesmo momento, o
desespero toma conta de minha alma, o
que seria de minha mãe nas mãos
daquele tenebroso homem? Tento
impedir, corro em direção ao horrível
homem, e tento golpeá-lo com socos e
pontapés, mas de nada adianta, pois era
apenas uma garotinha de seis anos.
Folhas de
OUTONO
Ele então me golpeia com um rápido tapa
em meu rosto, me jogando ao chão no
mesmo instante. O que mais me chamou
a atenção, foi o desprezo que minha mãe
deu a situação, permaneceu a parte de
tudo, não se impôs e nem me
defendeu, eu estava ali, caída no
chão, esperando por uma ação dela, que
não aconteceu, talvez ela tenha
enlouquecido com o que estava
ocorrendo, era o mais provável.
Folhas de
OUTONO   O escravo então me pega pelos
braços e me leva rumo aos
outros, seguimos então até os cafezais.
         _Você não poderia ter feito
aquilo – Me alertou o escravo, logo após
se apresentar como Rasul, um pobre
africano que foi contrabandeado assim
como a mim e a todos os presentes –
Aqui, são eles que mandão, e nós que
acatamos.
Folhas de
OUTONO    _O que é isso? Onde estou? –
Pergunto, ainda com os olhos cheios de
água
          _Estamos no sul da Irlanda, eles
nos sequestram e nos trazem aqui
ilegalmente, para trabalharmos nos
cafezais – Disse Rasul – É lucrativo para
eles, que economizam com a mão de
obra utilizando o tráfico humano – Explica
novamente Rasul
Folhas de
OUTONO    O que deveria fazer? Submeter-
me ou lutar para me ver livre daqueles
aproveitadores? Meu único momento de
rebeldia rendeu uma terrível
situação, meu rosto ainda se encontrava
dolorido com a bofetada que levara há
alguns minutos atrás, a única forma de
ainda me ver com vida, era recorrer à
submissão. Começo então a trabalhar nos
cafezais, aquilo não era novo para
mim, confesso que a experiência de
trabalhar na pequena plantação do senhor
coronel me ajudara muito.
Folhas de
OUTONO   O que poderia fazer? Nada, essa
era a única e absoluta resposta para esta
questão, o que o destino guardava para
mim? Era o que temia, pois este já
mostrou não ser meu amigo.
©2013 Portal Machado de

Contenu connexe

Tendances

SILENTIUM | Chapter 1
SILENTIUM | Chapter 1 SILENTIUM | Chapter 1
SILENTIUM | Chapter 1 heyitsjota
 
Artur azevedo a melhor amiga
Artur azevedo   a melhor amigaArtur azevedo   a melhor amiga
Artur azevedo a melhor amigaTulipa Zoá
 
SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4heyitsjota
 
Curso de Como Fazer Humor
Curso de Como Fazer HumorCurso de Como Fazer Humor
Curso de Como Fazer Humormomengtonoticia
 
Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...
Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...
Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...Junior Ferreira
 
Fabio.fabricio.fabreti.super.santas
Fabio.fabricio.fabreti.super.santasFabio.fabricio.fabreti.super.santas
Fabio.fabricio.fabreti.super.santasAriane Mafra
 
Um conto de Vampiro, por L.S Vieira.
Um conto de Vampiro, por L.S Vieira. Um conto de Vampiro, por L.S Vieira.
Um conto de Vampiro, por L.S Vieira. silvers28
 
O quotidiano da idade média mariana monteiro nº21 7ºa
O quotidiano da idade média  mariana monteiro nº21 7ºaO quotidiano da idade média  mariana monteiro nº21 7ºa
O quotidiano da idade média mariana monteiro nº21 7ºaMariana Monteiro
 
Desafio de C.J. Redwine
Desafio de C.J. RedwineDesafio de C.J. Redwine
Desafio de C.J. RedwineNanda Soares
 
17302798 Espiritismo Infantil Historia 73
17302798 Espiritismo Infantil Historia 7317302798 Espiritismo Infantil Historia 73
17302798 Espiritismo Infantil Historia 73Ana Cristina Freitas
 
Pecado #1- Primeiro capítulo
Pecado #1- Primeiro capítuloPecado #1- Primeiro capítulo
Pecado #1- Primeiro capítulonino1234
 

Tendances (19)

SILENTIUM | Chapter 1
SILENTIUM | Chapter 1 SILENTIUM | Chapter 1
SILENTIUM | Chapter 1
 
Artur azevedo a melhor amiga
Artur azevedo   a melhor amigaArtur azevedo   a melhor amiga
Artur azevedo a melhor amiga
 
Cap 15
Cap 15Cap 15
Cap 15
 
vadiao
vadiaovadiao
vadiao
 
SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4
 
A ilha do tesouro
A ilha do tesouroA ilha do tesouro
A ilha do tesouro
 
Curso de Como Fazer Humor
Curso de Como Fazer HumorCurso de Como Fazer Humor
Curso de Como Fazer Humor
 
Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...
Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...
Bâ, Amadou Hampâté. “Amkoullel, o menino fula”. São Paulo. Pallas Athena Casa...
 
Fabio.fabricio.fabreti.super.santas
Fabio.fabricio.fabreti.super.santasFabio.fabricio.fabreti.super.santas
Fabio.fabricio.fabreti.super.santas
 
Carta da noiva
Carta da noivaCarta da noiva
Carta da noiva
 
EM DOMICILIO completo
EM DOMICILIO completoEM DOMICILIO completo
EM DOMICILIO completo
 
Um conto de Vampiro, por L.S Vieira.
Um conto de Vampiro, por L.S Vieira. Um conto de Vampiro, por L.S Vieira.
Um conto de Vampiro, por L.S Vieira.
 
O quotidiano da idade média mariana monteiro nº21 7ºa
O quotidiano da idade média  mariana monteiro nº21 7ºaO quotidiano da idade média  mariana monteiro nº21 7ºa
O quotidiano da idade média mariana monteiro nº21 7ºa
 
Desafio de C.J. Redwine
Desafio de C.J. RedwineDesafio de C.J. Redwine
Desafio de C.J. Redwine
 
17302798 Espiritismo Infantil Historia 73
17302798 Espiritismo Infantil Historia 7317302798 Espiritismo Infantil Historia 73
17302798 Espiritismo Infantil Historia 73
 
Como manter viva as chamas
Como manter viva as chamasComo manter viva as chamas
Como manter viva as chamas
 
Turma 72
Turma 72Turma 72
Turma 72
 
Rapto11
Rapto11Rapto11
Rapto11
 
Pecado #1- Primeiro capítulo
Pecado #1- Primeiro capítuloPecado #1- Primeiro capítulo
Pecado #1- Primeiro capítulo
 

En vedette

Paradigmas en el sistema de salud
Paradigmas en el sistema de saludParadigmas en el sistema de salud
Paradigmas en el sistema de saludAlelina
 
Guernica: Creación de un icono cultural
Guernica: Creación de un icono culturalGuernica: Creación de un icono cultural
Guernica: Creación de un icono culturalHarry Velez
 
Jericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und Geschichte
Jericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und GeschichteJericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und Geschichte
Jericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und Geschichtejericoa
 
La Revisteca News 0102 V3
La Revisteca News 0102 V3La Revisteca News 0102 V3
La Revisteca News 0102 V3larevisteca
 
Evolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicosEvolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicosFrancisco Pinto
 

En vedette (13)

Paradigmas en el sistema de salud
Paradigmas en el sistema de saludParadigmas en el sistema de salud
Paradigmas en el sistema de salud
 
AnushaKadiyala_Recommendation_1
AnushaKadiyala_Recommendation_1AnushaKadiyala_Recommendation_1
AnushaKadiyala_Recommendation_1
 
Guernica: Creación de un icono cultural
Guernica: Creación de un icono culturalGuernica: Creación de un icono cultural
Guernica: Creación de un icono cultural
 
Jericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und Geschichte
Jericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und GeschichteJericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und Geschichte
Jericoa slideshare - Cachaca: Herstellung und Geschichte
 
Evidencia1
Evidencia1Evidencia1
Evidencia1
 
C1329 bracos erguidos
C1329 bracos erguidosC1329 bracos erguidos
C1329 bracos erguidos
 
C1328 obrigado senhor
C1328 obrigado senhorC1328 obrigado senhor
C1328 obrigado senhor
 
transcript 3
transcript 3transcript 3
transcript 3
 
C1333 levantai a_cabeca
C1333 levantai a_cabecaC1333 levantai a_cabeca
C1333 levantai a_cabeca
 
Vocabulari hivern
Vocabulari hivernVocabulari hivern
Vocabulari hivern
 
La Revisteca News 0102 V3
La Revisteca News 0102 V3La Revisteca News 0102 V3
La Revisteca News 0102 V3
 
Evolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicosEvolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicos
 
SALU
SALUSALU
SALU
 

Similaire à Cap 5

Aúltimaviagemdetaxi
AúltimaviagemdetaxiAúltimaviagemdetaxi
AúltimaviagemdetaxiMaria Helena
 
A ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxiA ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxiLouro Arara
 
A ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxiA ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxiLouro Arara
 
Robinson crusoe
Robinson crusoeRobinson crusoe
Robinson crusoeMorganauca
 
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃUM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃAdriana Matheus
 
Meu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terra
Meu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terraMeu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terra
Meu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terraUma Luz além do Mundo
 
Textos do principezinho e o confinamento 10 lh4
Textos do principezinho e o confinamento   10 lh4Textos do principezinho e o confinamento   10 lh4
Textos do principezinho e o confinamento 10 lh4Maria Paredes
 
Aula 1 Técnica CRI.pdf
Aula 1   Técnica CRI.pdfAula 1   Técnica CRI.pdf
Aula 1 Técnica CRI.pdfEdmarCarlos7
 
Seja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagemSeja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagemjosihy
 
Ilha do Tesouro
Ilha do TesouroIlha do Tesouro
Ilha do Tesourobloggerfph
 
Cativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdf
Cativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdfCativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdf
Cativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdfsilvana938032
 

Similaire à Cap 5 (20)

Cap 7
Cap 7Cap 7
Cap 7
 
Cap 4
Cap 4Cap 4
Cap 4
 
Conto-meu tio jules
Conto-meu tio julesConto-meu tio jules
Conto-meu tio jules
 
Revista Hermes
Revista HermesRevista Hermes
Revista Hermes
 
Aúltimaviagemdetaxi
AúltimaviagemdetaxiAúltimaviagemdetaxi
Aúltimaviagemdetaxi
 
A ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxiA ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxi
 
A ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxiA ultima viagem_de_taxi
A ultima viagem_de_taxi
 
Robinson crusoe
Robinson crusoeRobinson crusoe
Robinson crusoe
 
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃUM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
 
As mães de todos nós
As mães de todos nósAs mães de todos nós
As mães de todos nós
 
Meu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terra
Meu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terraMeu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terra
Meu caminho para a mensagem sagrada e para o senhor até ele deixar esta terra
 
Textos do principezinho e o confinamento 10 lh4
Textos do principezinho e o confinamento   10 lh4Textos do principezinho e o confinamento   10 lh4
Textos do principezinho e o confinamento 10 lh4
 
Piquenique
PiqueniquePiquenique
Piquenique
 
Aula 1 Técnica CRI.pdf
Aula 1   Técnica CRI.pdfAula 1   Técnica CRI.pdf
Aula 1 Técnica CRI.pdf
 
Seja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagemSeja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagem
 
Oficinas de escrita
Oficinas de escritaOficinas de escrita
Oficinas de escrita
 
Ilha do Tesouro
Ilha do TesouroIlha do Tesouro
Ilha do Tesouro
 
Contato: Mais Provas!
Contato: Mais Provas!Contato: Mais Provas!
Contato: Mais Provas!
 
Lágrimas no rio (preview)
Lágrimas no rio (preview)Lágrimas no rio (preview)
Lágrimas no rio (preview)
 
Cativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdf
Cativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdfCativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdf
Cativos_e_Libertos_psicografia_Vera_Lucia_Marinzeck_de_Carvalho.pdf
 

Plus de Leandro Gonçalves (20)

Cap 8
Cap 8Cap 8
Cap 8
 
Cap 18
Cap 18Cap 18
Cap 18
 
Cap 7
Cap 7Cap 7
Cap 7
 
Cap 6
Cap 6Cap 6
Cap 6
 
Cap 5
Cap 5Cap 5
Cap 5
 
Cap 4
Cap 4Cap 4
Cap 4
 
Cap 14
Cap 14Cap 14
Cap 14
 
Cap 3
Cap 3Cap 3
Cap 3
 
Cap 13
Cap 13Cap 13
Cap 13
 
Cap 2
Cap 2Cap 2
Cap 2
 
Cap 1
Cap 1Cap 1
Cap 1
 
Cap 11
Cap 11Cap 11
Cap 11
 
Cap 10
Cap 10Cap 10
Cap 10
 
Cap 10
Cap 10Cap 10
Cap 10
 
Cap 9
Cap 9Cap 9
Cap 9
 
Cap 9
Cap 9Cap 9
Cap 9
 
Cap 8
Cap 8Cap 8
Cap 8
 
Cap 8
Cap 8Cap 8
Cap 8
 
Cap 7
Cap 7Cap 7
Cap 7
 
Cap 6
Cap 6Cap 6
Cap 6
 

Cap 5

  • 1.
  • 2.
  • 3. Folhas de OUTONO A viagem continuava e a cada minuto nossa angústia aumentava. Não sabíamos o que seria de nós, isso nos dava uma sensação de impotência, não podíamos fazer nada para reverter à situação. Passaram-se vários dias, não sabíamos quantos, pois estávamos sem noção de tempo naquele lugar, a cada dia, mais pessoas morriam entre nós, aquela situação já estava sufocante.
  • 4. Folhas de OUTONO O navio finalmente atraca, uma leve e falsa sensação de alivio tomava meu coração, aquela terrível viagem havia terminado, mas nosso desconhecido e temido futuro havia apenas começando. A porta então é aberta por um homem franzino e de aparência ruim, ele ordena para que nós saiamos do navio, repleto de cadáveres.
  • 5. Folhas de OUTONO Prontamente, obedecemos à ordem daquele desconhecido, saímos daquele navio, e ficamos a espera de novas ordens. Minha mãe estava visivelmente abalada, seu olhar estava fixo no nada, parecia estar morta, seca por dentro. Lágrimas salgadas saiam de seus olhos e escorriam por seu angelical rosto, terminando no chão desconhecido, já eu, estava tão assustada, sentindo-me como um bicho do mato, acuado na presença de estranhos.
  • 6. Folhas de OUTONO Após uma longa espera, vimos no horizonte, um velho e desgastado caminhão seguir em nossa direção, o homem franzino então acena, para indicar nossa localização. Não demora muito para que o caminhão chegue até nós, ele estaciona a beira da praia e dele sai um homem alto e bastante encorpado, com um chapéu para se proteger do sol.
  • 7. Folhas de OUTONO _São eles Riam? – Perguntou com um estranho sotaque ao homem esguio, se referindo a nós. _Sim, estes são os que sobreviveram – Responde suavemente, como um empregado respondendo a seu patrão – O que fazemos com os que não resistiram? – Perguntou Riam
  • 8. Folhas de OUTONO Jogue no mar, ninguém dará falta – Disse friamente o homem, como se aquelas vidas perdidas não valessem nada Após o dialogo, Riam então começa a árdua tarefa de descartar dezenas de cadáveres, os jogando no mar. O robusto homem de sotaque estranho nos ordena a entrar em seu veículo, e seguimos viagem.
  • 9. Folhas de OUTONO Todos estão perplexos e paralisados com o que estava acontecendo, eu era a única criança em meio a todos. Desde que havíamos chegado minha mãe não pronunciara nenhuma única palavra, sua face permanecia a mesma, seu olhar ainda se encontrava fixo no nada, algo assustador para mim.
  • 10. Folhas de OUTONO Após cerca de quarenta minutos de viagem, chegamos a uma grande fazenda, rodeada por cafezais. Descemos do veículo e somos enfileiradas pelo robusto homem, que nos ordena que ficássemos ali, paradas, ele então segue rumo a uma grande casa, que ficava ao centro da enorme plantação.
  • 11. Folhas de OUTONO O sol forte e escaldante indicava que o inverno já havia terminado, ao contrario de nossa angústia, que aumentava a cada milésimo de segundo. Não demora muito e o homem volta, com um grande saco em suas mãos, repleto de panos velhos _Vamos, vistam isto – Nos ordena, obedecemos prontamente. Após isso, ele chama a um homem negro, forte e alto, que usava os mesmos panos velhos que nós acabávamos de vestir
  • 12. Folhas de OUTONO _Levem-nos e ensine o trabalho – Ordena _Sim Sr. Mackenzie – Responde o escravo _Espere! – Ordena novamente o senhor Mackenzie – Qual é seu nome? – Questiona, direcionando a pergunta para minha mãe
  • 13. Folhas de OUTONO _Susan, Susan McCraine – Responde, com a voz trêmula _Esta não, ela permanecerá aqui, será minha! – Ordena Mackenzie a seu súdito _Sim senhor – Responde o escravo
  • 14. Folhas de OUTONO _Susan, Susan McCraine – Responde, com a voz trêmula _Esta não, ela permanecerá aqui, será minha! – Ordena Mackenzie a seu súdito _Sim senhor – Responde o escravo
  • 15. Folhas de OUTONO No mesmo momento, o desespero toma conta de minha alma, o que seria de minha mãe nas mãos daquele tenebroso homem? Tento impedir, corro em direção ao horrível homem, e tento golpeá-lo com socos e pontapés, mas de nada adianta, pois era apenas uma garotinha de seis anos.
  • 16. Folhas de OUTONO Ele então me golpeia com um rápido tapa em meu rosto, me jogando ao chão no mesmo instante. O que mais me chamou a atenção, foi o desprezo que minha mãe deu a situação, permaneceu a parte de tudo, não se impôs e nem me defendeu, eu estava ali, caída no chão, esperando por uma ação dela, que não aconteceu, talvez ela tenha enlouquecido com o que estava ocorrendo, era o mais provável.
  • 17. Folhas de OUTONO O escravo então me pega pelos braços e me leva rumo aos outros, seguimos então até os cafezais. _Você não poderia ter feito aquilo – Me alertou o escravo, logo após se apresentar como Rasul, um pobre africano que foi contrabandeado assim como a mim e a todos os presentes – Aqui, são eles que mandão, e nós que acatamos.
  • 18. Folhas de OUTONO _O que é isso? Onde estou? – Pergunto, ainda com os olhos cheios de água _Estamos no sul da Irlanda, eles nos sequestram e nos trazem aqui ilegalmente, para trabalharmos nos cafezais – Disse Rasul – É lucrativo para eles, que economizam com a mão de obra utilizando o tráfico humano – Explica novamente Rasul
  • 19. Folhas de OUTONO O que deveria fazer? Submeter- me ou lutar para me ver livre daqueles aproveitadores? Meu único momento de rebeldia rendeu uma terrível situação, meu rosto ainda se encontrava dolorido com a bofetada que levara há alguns minutos atrás, a única forma de ainda me ver com vida, era recorrer à submissão. Começo então a trabalhar nos cafezais, aquilo não era novo para mim, confesso que a experiência de trabalhar na pequena plantação do senhor coronel me ajudara muito.
  • 20. Folhas de OUTONO O que poderia fazer? Nada, essa era a única e absoluta resposta para esta questão, o que o destino guardava para mim? Era o que temia, pois este já mostrou não ser meu amigo.