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Revista D semanal
1. Índice
Fale da gente 6 Entrevista Arte
nossa equipe
Flagra 9
Diretor-presidente: Jader Filho
Diretor de redação: Gerson Nogueira
De tudo um pouco 12 Editora responsável: Esperança Bessa
Editora assistente: Aline Monteiro
Todos querem 37 Produção: Elianna Homobono
Textos: Aline Monteiro, Anna Carla Ribeiro, Esperança
Bessa, Luly Mendonça Ishak e Tássia Almeida
Drauzio 42 Colunistas: Carmem Souza, Danuza Leão, Drauzio
Varella, Janjo Proença e Robsom Lima
Editor executivo de arte: Atorres
Projeto gráico: Anna Leal
Diário Vip 43 Design: Anna Leal e Rubens Alex
14 As personas de Maeve Jinkings Cuba pelos olhos de Walda Marques 32 Editores de fotograia: Alberto Bitar, Marcelo Lelis,
e Octávio Cardoso
Luxo 44 Fotos: Abraão Ferreira, Lailson Santos, Neto Soares,
Decoração Saúde Paulo Liebert/Estadão Conteúdo, Rogério Uchôa e
Baladas & Badalados 48 Walda Marques
Ilustrações: Luciano Meskyta e Dálcio Machado
Tratamento de imagem: Fabrício Dias
Danuza 50 Revisão: Lívia Magno e Rodrigo Porto Neves
Estagiárias: Andréa França e Isabela Lima
Finalização: Dirceu Reis
Impressão: Gráica Santa Marta
A opinião dos colunistas não relete necessariamente a
opinião da D Semanal.
Fale conosco: dsemanal@diariodopara.com.br
20 Um toque da Turquia na sua casa Conheça o ‘cruvidorismo’ do raw food 34
Top Secret Moda
24 A Polinésia Francesa de Michele e André Godinho Nos bastidores da Semana de Moda de Paris 36
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2. Entrevista
Foto: Lailson Santos
Rapte-me,
camaleoa
camaleoa
Rapte-me,
Para entender a atriz Maeve Jinkings é preciso
jogar vários ingredientes em um caldeirão, misturar
música, sonho, autoconiança, ousadia e mais um
monte de lugares onde ela já esteve
Texto: Luly Mendonça Ishak | Fotos: Lailson Santos/divulgação Design: Rubens Alex
alvez seja de batismo mesmo. estiveram recentemente em cartaz em Belém);
T
Seu nome remete a um mito e os ainda inéditos ‘Amor plástico e barulho’, de
celta, a Deusa da Guerra, Renata Pinheiro, e ‘Loja de répteis’, de
cultuada por ser forte, senhora da Pedro Severien.
própria feminilidade. ‘Intoxicante’
é o seu signiicado. A certidão é Mesmo sabendo que a proissão de ator não
do Distrito Federal, o RG é do Pará, a carteira é fácil, Maeve é determinada o suiciente para
de habilitação, de São Paulo, e o título eleitoral, correr atrás e tem colhido bons frutos de sua
de Pernambuco. Foi assim a vida inteira e são escolha. Mas não mete os pés pelas mãos
as mudanças e a constante adaptação que e vai vivendo uma vitória de cada vez. No
deinem a atriz Maeve Jinkings. “A vida me fez fundo, Maeve desconia que sua escolha pela
um pouco camaleoa, me trouxe a necessidade proissão tenha a ver, na verdade, com sua
constante de adaptação”, diz. paixão por pessoas, por gente, por tentar sempre
compreender como elas se comportam de
Ela nasceu em Brasília, mas foi criada em formas tão diversas.
Belém do Pará. Mudou-se para São Paulo, mas
caiu de amores por Recife. E mesmo tendo se “Não há como ser artista e não olhar diretamente
formado em Publicidade e Propaganda, foi a seus medos, sua fragilidade”, ensina. Como a
paixão pelo teatro que bateu mais forte. Por deusa que deu origem ao seu nome, Maeve
ela, largou tudo e foi em busca de seu sonho. parece não ser nada frágil, mas dona de si e
Já participou de ilmes como ‘Falsa loura’, de de seu destino. E parafraseando Bidu Queiroz,
Carlos Reichembach; ‘Boa sorte, meu amor’, que escreveu um roteiro especialmente para a
do estreante Daniel Aragão, ‘O som ao redor’, moça, ela “é uma mulher misteriosa. Ninguém
de Kléber Mendonça Filho; ‘Era uma vez eu, sabe quem é, de onde veio, para onde vai”. Mas a
Verônica’, de Marcelo Gomes (os dois últimos gente desconia que ela vai longe.
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3. Fotos: divulgação
Fotos: Lailson Santos
Você nasceu em Brasília, foi criada no Pará, morou em parei. Até hoje meu trabalho como atriz é profundamente
São Paulo e em Recife. Onde você está agora? Como se ligado à musica e a utilizo em todas as minhas preparações.
deu essa misturada danada? Os cadernos dos personagens são cadernos de música. É algo
Pois é, sou uma salada cultural. Minha casa ica em São que me mobiliza muito.
Paulo, mas tenho trabalhado muito em Recife e lá passo Precisei resgatar muito de minha
Você chegou a fazer teatro em Belém?
longas temporadas. Desde agosto não consigo voltar para
São Paulo e agora estou em Alagoas ilmando com a equipe Em Belém nunca tive uma relação forte com o teatro local. É
memória com Belém. Pegar bastante
pernambucana. Para ter ideia, minha certidão é do Distrito curioso, queria ser atriz, mas achava que precisava ir buscar sol e resgatar uma sensualidade
fora. Desconio que minha escolha pelo ofício do ator tem a
Federal, meu RG do Pará, minha habilitação é de São Paulo e
meu título eleitoral, de Pernambuco! (risos). É que minha mãe ver com uma paixão por pessoas, por gente, por tentar sempre
natural de quem vive o
é paraense, mas estudou e se casou em Brasília, onde nasci compreender como as pessoas se comportam de formas tão universo do brega
e morei até meus 6 anos. Aí, voltamos para Belém e somente diversas, de como suas histórias e entorno as coniguram em
ao 23 anos, formada em Comunicação Social pela Unama, milhões de possibilidades. A mim isso parece fascinante e em
fui para São Paulo a im de estudar interpretação. Dez anos São Paulo o teatro me proporcionou o início dessa pesquisa,
depois, fui a Recife com minha mãe e meu padrasto, que é que continua até hoje, independente do meio de expressão.
natural do sertão pernambucano. Era para passar apenas 20 outros atores fantásticos. Era um musical.
dias, mas foi tão forte que passei sozinha cerca de três meses! Em São Paulo você estudou interpretação com nomes
Nasceu uma relação forte com a cidade, onde iz grandes como Antunes Filho. Como foi? E teve o ilme ‘Falsa loura’, de Carlos Reichembach.
amigos e parceiros de trabalho. É incrível, hoje Recife é uma
casa para mim. E minha mãe e padrasto agora vivem lá, o
Desconio que minha escolha pelo Foi um renascimento. Sinto que nasci de novo em cada nova
cidade e São Paulo me colocou em outra dimensão com
Como veio a oportunidade de interpretar Lígia?
‘Falsa loura’ veio apenas em 2006. Cursava EAD há dois
que facilita muito também. Acho que essa misturada acabou ofício do ator tem a ver com uma o mundo. No Antunes iquei pouco, apenas cinco meses, o anos e já conhecia a produtora do ilme, Sara Silveira. Temos
suiciente para me transformar muitíssimo. Costumo dizer
sendo muito positiva, a vida me fez um pouco camaleoa, me
trouxe a necessidade constante de adaptação. E isso é ótimo
paixão por pessoas, por gente, por que a escola dele é um serviço social, porque te coloca em
amigos em comum e ela produzia a peça do meu marido, na
época. Então me chamou para fazer teste para um pequeno
em minha proissão. tentar sempre compreender como contato com livros e ilmes básicos para formação de um personagem que aparecia numa cena apenas. Mas Carlão
(Carlos Reichembach) viu meu material e decidiu que eu faria
Você se sente mais brasiliense ou paraense?
as pessoas se comportam ator. É fantástico, estimula um ator pensador, crítico e autor
de sua própria cena, cabe a você saber o que fazer disso. Ali o teste para Lígia, uma personagem maior e que leva o nome
Sei lá... Uma candango-marajoara (risos). No Pará, formei sofri dores que lembro até hoje, mas que foram e ainda são da esposa dele. Deu certo.
toda uma identidade cultural que é muito forte, me sinto fundamentais. Minha primeira lição foi essa: não há como ser
muito ligada a elementos da cultura paraense, aos cheiros, artista e não olhar diretamente seus medos, sua fragilidade. A partir daí que rumo sua vida foi tomando?
ao clima, à comida, música e dança. Quando saí daí é que E é também muito curativo. Mas a formação mais sólida veio Depois de ‘Falsa loura’ ainda fui terminar a EAD. Tinha esse
pude notar que somos abertos ao contato físico de uma Cênicas em Belém. Então me formei, iz estágio durante a da EAD (Escola de Arte Dramática/USP), onde iquei cinco compromisso comigo mesma e a escola não me deixava
forma muito natural e muitas vezes ingênua. Gosto disso. Sim, faculdade, trabalhei por um ano no departamento de mídia anos. Estudamos muito, com uma disciplina rara, durante muito espaço para fazer outras coisas, me alimentava muito
me sinto mais paraense. Estou nesse momento veriicando de duas agências, mas não tinha nada a ver comigo. Inclusive cinco dias por semana, cinco horas por dia. Aquele lugar é artisticamente. Além disso, trabalhava como produtora
meus brincos indígenas, meu perfume de priprioca e um preciso ir buscar meu diploma, até hoje não iz isso. Estou bem muito especial, tem professores fantásticos pelos quais tenho cultural em São Paulo. Passava o dia no trabalho e à noite
jeito bem tropical de vestir. Ah, e acabo de escutar um brega atrasada, né? gratidão enorme, e uma infraestrutura cenotécnica que te ia para a USP. Fiz ‘Falsa loura’ porque meu chefe me deixou
que estava enviando a um amigo norte-americano. Ele quer permite experimentar de tudo, se quiser. Pessoas que amam o tirar férias, ele foi bem generoso. Mesmo assim, o inal
entender o que é isso. É, sou bem caboquinha, sim! (risos) E como tudo começou em relação ao teatro? De onde que fazem, muito dedicadas. É uma pequena ilha da fantasia. das ilmagens foi feito trabalhando de dia e ilmando de
veio a paixão? madrugada! Lembro que, logo após ilmar ‘Falsa loura’, o SBT
É tão difícil responder isso, porque sinto que fui sendo Qual foi sua primeira experiência atuando? me convidou para um pequeno personagem ixo na novela
Você disse q ue se formou em Comunicaçao Social em envolvida pelas artes, desde pequena. Tudo começou pela Em 1995, ainda em Belém, tive experiências em comerciais e ‘Amigas e rivais’, mas eu tinha a escola e estávamos em cartaz
Belém. Chegou a exercer a proissão? música, pelos concertos de música clássica a que meu pai me testes de curtas. Mas a primeira experiência proissional foi em no teatro. Perguntei para o pessoal do SBT se poderiam
Bem pouco. Cursei publicidade sabendo que queria mesmo é levava em Brasília. Foi onde chorei de emoção pela primeira 2002, numa peça infanto-juvenil dirigida por Vladimir Capella, garantir que eu estaria todo dia às 18h na USP. Obviamente
estudar interpretação, mas não havia a graduação para Artes vez, aos seis anos. Comecei a estudar violão aos 10 anos, mas ‘Miranda’. Caio Blat e Caco Ciocler estavam no elenco, além de disseram que não, isso não existe na TV e respondi que, nesse
4. caso, não poderia fazer. Depois me chamaram de Na verdade, o mais recente foi no curta ‘Loja de répteis’, corpo, e assim, tentar icar de igual para igual com Em algum momento você pensou em desistir?
novo para fazer uma participação na mesma novela, de Pedro Severien, em novembro de 2012. Filmei em homem. Durante esse processo me perguntei muito Ah! Quase todos os dias desses anos! (risos). Acho
não me tomaria tanto tempo, mas aí o problema apenas 15 dias depois de concluir ‘Amor plástico e o quanto abrimos mão de características nossas e que é natural, vida de artista de teatro e cinema só
foi no trabalho. Meu chefe disse que não daria mais barulho’, provavelmente a experiência mais desaiadora marginalizamos alguns aspectos de nossa sexualidade tem glamour na foto de estreia postada no Facebook
para conciliar com os trabalhos de atriz e esse foi o que já vivi como atriz. Jaqueline Carvalho, a personagem, para nos impor diante de homens e evitar ‘abusos’. (risos). Mas se é vital, você segue. Precisa ser vital, do
momento em que tive que escolher entre a segurança é uma cantora de brega, que é paraense, mas vive em Eu mesma tive diiculdade de me sentir à vontade contrário acho mais saudável tentar outra proissão.
do emprego ixo e a instabilidade da vida do artista. Recife e passa por um momento de decadência, de nas roupas de Jaqueline, de não julgá-la, de seduzir Pelo que sei, ser ator em qualquer lugar do mundo é
Sofri muito e, apesar das crises inevitáveis, aqui estou crise pessoal em vários aspectos, como cantora, como descaradamente, jogar o cabelo, usar unhas enormes, um desaio...
eu. É isso que me traz sentido. mulher, como mãe... Sofre de alcoolismo, bem diferente de usar esse poder feminino. Uma cantora de brega
de mim, que bebo pouco. Foi difícil, precisei estabelecer de Recife, com quem fui conversar no período de E as lembranças que você tem do Pará?
E falando em mudanças, mudar-se para Recife teve um método de trabalho para dar conta de tudo. laboratórios, me disse “sou muito grata ao brega, me Amo o Pará, amo. Tenho lembranças da infância ao
a ver com o curta ‘Passageira S8’, de 2009? Também tinha que cantar e gravamos a trilha sonora ensinou a ser mulher”. E ela tinha lágrimas nos olhos início da vida adulta. Muita coisa, né? Morei quase toda
Eu já tinha passado aqueles primeiros três meses original feita pelo DJ Dolores. Jaque é muito densa e quando disse isso, me comoveu. Acredito que Jaqueline vida no bairro de Batista Campos, onde meus avós
em Recife no início de 2009, quando conheci Bidu precisei olhar para sombras profundas, foi um processo me ensinou a não esconder minha feminilidade e de tinham a livraria Jinkings, cresci usando o depósito de
Queiroz. Voltei a São Paulo e meses depois ele me doloroso que me levou até mesmo a adoecer ao inal certa forma me proporcionou um reencontro com isso. livros como pula-pula, para depois levar palmadas.
escreveu dizendo que havia um roteiro para mim, das ilmagens, mas que, sem dúvida nenhuma, foi Também acho que foi um reencontro com minha origem Tenho tanto carinho por essas palmadas... Ainda tenho
inspirado em minha história, nessa passagem por também curativo. amazônica, que estava sufocada depois de 13 anos fora. tios, primos e muitos amigos de infância, de faculdade e,
Recife. Nas palavras dele, a personagem era “uma inclusive, amigos que iz depois de sair daí. Estou sempre
mulher misteriosa, que ninguém sabe quem é, de Então você teve q ue voltar às suas raízes paraenses Como você se sente hoje, ao olhar para trás e ver indicando Belém como destino.
onde veio, para onde vai”. Em agosto de 2009 passei para compor a personagem. Como foi este q ue tomou uma escolha e vem conseguindo aos
um mês ilmando ‘Passageira S8’, ao mesmo tempo processo? poucos realizar seu sonho? Tem alguma produção em vista na terra?
comecei a namorar um pernambucano, e minha mãe Precisei resgatar muito de minha memória com Belém, Juro que não sei muito qual era meu sonho lá atrás. Nada em vista no Pará, mas confesso que tenho planos
mudou para Recife com meu padrasto. Então pensei que estava bastante adormecida. Pegar bastante Acho também que muito desse sonho se reconigurou, de passar um período estudando nossas danças
que deveria mesmo viver um pouco nessa cidade que sol, coisa que há anos não fazia, e resgatar uma sou outra pessoa e sonho diferente hoje. Mas me sinto folclóricas. Gostaria de passar um mês acompanhando
estava me acolhendo tanto. Havia recém concluído a sensualidade natural de quem vive o universo do muito feliz de trabalhar com o que amo, com o que grupos, visitando lugares e pesquisando. Essas danças
EAD, terminei um casamento em São Paulo, precisava brega, com letras sempre muito sensuais e livres do acredito que sei fazer, e com o tanto que tenho para e músicas me interessam como possibilidade estética,
de tempo respirando fora. Foi o que iz em dezembro de julgamento da classe dita de ‘bom gosto’. Uma relação fazer e aprender ainda. Também aprendi que na vida de como vocabulário corporal da região onde cresci, e
2009. E foi maravilhoso! Exatamente seis meses depois com o próprio corpo, do poder feminino passando um artista nada está conquistado. É uma luta sem im, que é uma das mais ricas do Brasil. O lundu, o siriá
estava ilmando ‘O som ao redor’. pela sexualidade. Tenho impressão de que poucas de renascer e refazer sempre, por isso é preciso estar me encantam profundamente. Já usei o lundu num
mulheres se atrevem a viver essa relação com o disposto. As pessoas esquecem você rapidamente e é espetáculo na EAD e um dia desses vi no Youtube uma
Seu mais recente papel foi no ainda inédito ‘Amor corpo. As mulheres normalmente buscam se colocar preciso estar em paz com isso. Importante é fazer seu apresentação de um casal dançando tecnobrega num
plástico e barulho’. Como foi essa experiência? proissionalmente desviando o olhar para longe do trabalho da melhor forma. palco. Achei sensacional!
Foto: divulgação Foto: Lailson Santos
Vida de artista de teatro e cinema
só tem glamour na foto de
estreia postada no Facebook .
Mas se é vital, você segue
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