SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  5
SISTEMATIZAÇÃO DE INSTRUMENTO DE ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO FAMILIAR:
A ESCALA DE COELHO

Joana Lourenço Lage, médica de família e comunidade de Contagem- MG, jlage.bh@terra.com.br
Flávio Lúcio Gonçalves Coelho, médico de família em Contagem-MG, flgcoelho@gmail.com
Leonardo Cançado Monteiro Savassi, médico de família e comunidade, leosavassi@gmail.com


                                          Introdução

A Escala de Coelho é um instrumento de estratificação de risco familiar, desenvolvido no
município de Contagem-MG, que, aplicado às famílias adscritas a uma equipe de saúde,
pretende determinar seu risco social e de saúde, refletindo o potencial de adoecimento de cada
núcleo familiar. Utiliza os dados relacionados na tabela 1, presentes na ficha A do SIAB e outros,
disponíveis na rotina das equipes de saúde da família. Estes dados foram definidos como
Sentinelas de Risco1.

                     Dados da ficha A SIAB                      Escore
                      (Sentinelas de Risco)                     de risco
                     Acamado                                          3
                     Deficiência Física                               3
                     Deficiência Mental                               3
                     Baixas condições de saneamento                   3
                     Desnutrição grave                                3
                     Drogadição                                       2
                     Desemprego                                       2
                     Analfabetismo                                    1
                     Indivíduo menor de seis meses de idade           1
                     Indivíduo maior de 70 anos de idade              1
                     Hipertensão Arterial Sistêmica                   1
                     Diabetes Mellitus                                1
                     Relação morador/ cômodo maior que 1              3
                     Relação morador/ cômodo igual a 1                2
                     Relação morador/ cômodo menor que 1              0
                    Tabela 1: Dados da ficha A SIAB e escore de risco1.


A partir da soma dos escores de risco de cada família, elas são classificadas em risco menor a
máximo (tabela 2)1.


                     Escore total                Risco Familiar
                     5e6                         R1- risco menor
                     7e8                         R2- risco médio
                     Acima de 9                  R3- risco máximo
                    Tabela 2: Risco familiar


As sentinelas de risco utilizadas pela Escala foram selecionadas por sua relevância
epidemiológica, sanitária e pelo potencial de impacto na dinâmica familiar, através de distintos
mecanismos (impacto sócio-econômico, nas interrelações entre os indivíduos do núcleo familiar,
no trabalho).
A disponibilidade dos dados na ficha A do SIAB e na rotina da equipe apresenta- se como um
diferencial facilitador no uso deste instrumento.
Nas equipes de saúde da família em que foi aplicada, a escala mostrou-se útil na reorganização
da demanda e promoveu uma percepção mais apurada, objetiva e quantificada do risco das
famílias avaliadas, impactando de maneira positiva o trabalho em equipe 1,2. Além disso, a Escala
de Coelho corroborou, em nível local e micro-regional, os dados do Índice de Vulnerabilidade à
Saúde, nas equipes em estes estavam disponíveis3. Este índice “evidencia as desigualdades no
perfil epidemiológico de grupos sociais distintos”4 e é utilizado em nível macro-regional, nos
municípios de Belo Horizonte e Contagem.
Estas observações apontam para o potencial de aplicabilidade da Escala de Coelho e,
consequentemente, para a necessidade de sua sistematização, visando à padronização para
ampliação de seu uso.
As sentinelas de risco foram analisadas e discutidas individualmente quanto a: 1) definição
precisa, baseada preferencialmente no manual da ficha A do SIAB e, quando inexistente nele, na
literatura; 2) justificativa para a inserção de cada evento como um indicador a ser pontuado pela
Escala.
Foram descritos os critérios de pontuação, definindo-se a forma de aplicação dos pontos
conforme as sentinelas de risco presentes em cada família e a obtenção do escore familiar final.
Foram sugeridas, ainda, formas de utilização prática da Escala de Coelho nas equipes de saúde.
Também foram feitas recomendações sobre a aplicação em situações peculiares.


                              Sentinelas de Risco: Definições

   1. Acamado: segundo a Organização Mundial de Saúde, define-se como “toda pessoa
       restrita ao seu próprio domicílio, por qualquer inabilidade e/ou incapacidade de
       locomover-se por si só a qualquer centro de atenção à saúde". 8

   2. Deficiências Física e Mental: conforme o manual para preenchimento da ficha A do SIAB,
       é o “defeito ou condição física ou mental de duração longa ou permanente que, de
       alguma forma, dificulta ou impede uma pessoa da realização de determinadas atividades
       cotidianas, escolares, de trabalho ou de lazer. Isto inclui desde situações em que o
       indivíduo consegue realizar sozinho todas as atividades que necessita, porém com
       dificuldade ou através de adaptações, até aquelas em que o indivíduo sempre precisa de
       ajuda nos cuidados pessoais e outras atividades”.5

   3. Baixas condições de saneamento: o conceito utilizado é o de saneamento ambiental, que
       segundo a OMS define: “Saneamento constitui o controle de todos os fatores do meio
       físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu estado de
       bem estar físico, mental ou social”.
       São utilizados os seguintes itens relacionados no verso da ficha A do SIAB: destino do
       lixo, tratamento da água no domicílio e destino de fezes e urina e a sentinela é pontuada
       como (3) quando presentes ao menos uma das seguintes situações: lixo a céu aberto,
       água sem tratamento e esgoto a céu aberto.

   4. Desnutrição Grave: segue a classificação por percentil de Peso/Idade proposta pelo
       Sistema de Vigilância Nutricional (SISVAN) estabelecidos para crianças menores de 7
       anos: Percentil menor que 0,1: Peso Muito Baixo para a Idade9;

   5. Drogadição: Utilização compulsiva de drogas lícitas e /ou ilícitas, que apresentem
       potencial para causar dependência química. Neste grupo inclui-se o álcool, tabaco,
       benzodiazepínicos, barbitúricos e drogas ilícitas.
6. Desemprego: segundo a definição do manual da ficha A do SIAB, o item ocupação refere-
   se a: “tipo de trabalho que exerce, independente da profissão de origem ou de
   remuneração, mesmo que no momento do cadastramento o indivíduo esteja de férias,
   licença ou afastado temporariamente por qualquer motivo. A realização de tarefas
   domésticas caracteriza o trabalho doméstico, ainda que este não seja remunerado. Se o
   indivíduo referir mais de uma ocupação, deverá ser anotada aquela a que ele dedica o
   maior número de horas na semana, no seu período de trabalho”5. Portanto , define-se
   como desemprego qualquer situação que não se encaixe neste critério.

7. Analfabetismo: o manual da ficha A do SIAB define como alfabetizado “o indivíduo que
   sabe ler e escrever no mínimo um bilhete. O indivíduo que apenas assina o nome não é
   considerado alfabetizado”5. Toda situação distinta a esta definição é considerada como
   analfabetismo, a partir da idade escolar.

8. Menor de seis meses: todo lactente com idade até 5 meses e 29 dias.

9. Maior de 70 anos

10. Hipertensão Arterial Sistêmica: “Pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e
   pressão arterial diastólica maior ou igual a 90 mmHg, em indivíduos que não estejam em
   uso de medicação antihipertensiva”6.

11. Diabetes Mellitus: “grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e
   associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente
   olhos, rins, cérebro, coração e vasos sanguíneos”7

12. Relação morador/cômodo: É definida pelo número de cômodos na residência dividido
   pelo número de moradores do domicílio. O número de cômodos é contado conforme
   descrito no manual da Ficha A do SIAB: “todos os compartimentos integrantes do
   domicílio, inclusive banheiro e cozinha, separados por paredes, e os existentes na parte
   externa do prédio, desde que constituam parte integrante do domicílio, com exceção de
   corredores, alpendres, varandas abertas e outros compartimentos utilizados para fins não
   residenciais como garagens, depósitos etc.”5
Sentinelas de risco: Justificativas

       A utilização das sentinelas de risco da Escala de Coelho justifica-se com base nas
       características relacionadas na tabela 3.

                   Justificativa
                                                                                Impacto na
                                                  Relevância       Relevância
                                                                                 dinâmica
                                                epidemiológica      sanitária
                                                                                  familiar
               Sentinelas de Risco
      Acamado                                          x                            x
      Deficiências física e mental                     x                            x
      Baixas condições de saneamento                   x                 x
      Desnutrição grave                                x                 x          x
      Drogadição                                       x                            x
      Desemprego                                       x                 x          x
      Analfabetismo                                    x                 x          x
      Menor de seis meses                              x                            x
      Maior de 70 anos                                 x                            x
      Hipertensão arterial sistêmica                   x                            x
      Diabetes mellitus                                x                            x
      Relação morador/cômodo                           x                 x          x
                              Tabela 3: sentinelas e suas justificativas


                                     Critérios de pontuação

As famílias são avaliadas a partir da Ficha A do SIAB, sendo que para cada sentinela de risco
presente corresponde o valor definido na Escala de Coelho. No caso das sentinelas de caráter
individual (por exemplo acamado, deficiência física, etc.), quando ela estiver presente em mais
de um indivíduo na mesma família, esta recebe a pontuação referente a cada indivíduo portador
da condição. Veja o exemplo: uma família possui dois acamados, sendo que um deles é um
idoso de 75 anos de idade e hipertenso. O outro acamado é deficiente físico (amputação
traumática de membros inferiores). Ambos são analfabetos. Não existem outras sentinelas de
risco nesta família. O escore familiar final é 13 (3+3+1+1+3+1+1).

       Sugestões para aplicação da Escala nas Equipes de Saúde da Família

Sugere-se a seguinte metodologia de aplicação da Escala:
      • Um ou mais membros da equipe familiarizar-se com o instrumento, sendo possível,
          inclusive, o intercâmbio com os autores da Escala. Este membro encarrega-se de
          apresentar a Escala à equipe, inclusive com introdução dos conceitos de sentinela de
          risco, situação de risco, risco familiar, planejamento de ações, organização de
          demanda, entre outros que forem pertinentes à discussão;
      • Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) encarregam-se de aplicar a Escala nas
          famílias adscritas a sua micro-área. Verificou-se nas equipes nas quais os autores
          aplicaram a Escala, que este procedimento torna a avaliação mais confiável, pois este
          profissional é o que geralmente mantém um contato mais estreito com todas as suas
          famílias.2 Recomenda-se que as primeiras famílias sejam classificadas sob supervisão
          do profissional familiarizado com a Escala, para que eventuais dúvidas possam ser
          sanadas.
•   A Equipe deve ter em mente que esta classificação tem um caráter dinâmico, assim
           como as famílias o são. Portanto, é importante que periodicamente, as famílias sejam
           revisadas para verificar-se se seu risco modificou-se ou manteve-se.
       •   A inserção do risco familiar no prontuário da família mostrou ser uma informação
           importante e significativa no trabalho diário da equipe.2


                             Situações Peculiares: Recomendações

Algumas situações peculiares podem acontecer e assim recomenda-se:
   • Áreas com alta prevalência de determinadas sentinelas de risco, como por exemplo, baixa
      condição de saneamento: recomenda-se que a sentinela seja desconsiderada no estudo,
      feita a devida ressalva no relatório final. A classificação passa a ser de área de risco para
      aquela sentinela.
   • Áreas onde as famílias apresentem no geral escore familiar final muito elevado, como por
      exemplo zona rural precária, ou aglomerados não urbanizados: recomenda-se elevar o
      ponto de corte para a priorização das famílias, e considerar aquela microárea (ou área)
      como de risco.


                                            Conclusões

A sistematização da Escala de Coelho visa a sua utilização de maneira independente por
profissionais e equipes de saúde familiarizados com o SIAB, em especial a ficha A, e abre
perspectivas quanto ao seu uso em um número ampliado de equipes. Ambas características são
fundamentais para a verificação e determinação de sua aplicabilidade como instrumento de
estratificação de risco familiar.




                                                Bibliografia:
1) Coelho, Flávio Lúcio G.; Savassi, Leonardo C. M. Aplicação de escala de risco familiar como
instrumento de organização das visitas domiciliares. RBMFC, vol. 1, número 2, p.19- 26.
2) Lage, Joana L. e col.; Aplicação da escala de Coelho em equipe de saúde da família. In: Anais do 8o
Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade. São Paulo, 15 a 18 de junho de 2006.
3)Lage, Joana L., Hadad, Salime C.; Utilização de indicadores no planejamento de ações de saúde em
centro urbano. In: Anais do 8o Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade. São Paulo, 15
a 18 de junho de 2006.
4) Índice de Vulnerabilidade à Saúde 2003, Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Gerência de
Epidemiologia e Informação - GEREPI.
5) SIAB: manual do sistema de informação de atenção básica/ Secretaria de Assistência à Saúde,
Coordenação de Saúde da Comunidade. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. 98p.
6) Hipertensão arterial sistêmica para o Sistema Único de Saúde/ Ministério da Saúde, SAS, DAB .-
Ministério da Saúde, 2006. 58p. (Cadernos de Atenção Básica, 15)
7) Diabetes Mellitus/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção á Saúde, Departamento de Atenção
Básica.- Ministério da Saúde, 2006. 64p. il. (Cadernos de Atenção Básica, 16)
8) Lichtenfels, Patrícia; dos Santos, Luciano Tonetto; Fernandes, Carmen Luíza Corrêa. Percepção da
Doença: A Visão do Paciente Acamado. Mom. & Perspec. Saúde - Porto Alegre 17 (1): 13-19.
9) Ministério da Saúde. SISVAN. Vigilância alimentar e nutricional - Sisvan: orientações básicas para a
coleta, processamento, análise de dados e informação em serviços de Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
120 p

Contenu connexe

Tendances

Aula 09 oxigênioterapia
Aula 09  oxigênioterapiaAula 09  oxigênioterapia
Aula 09 oxigênioterapia
Rodrigo Abreu
 

Tendances (20)

Doenças mais comuns na infância
Doenças mais comuns na infânciaDoenças mais comuns na infância
Doenças mais comuns na infância
 
Visita domiciliar
Visita domiciliarVisita domiciliar
Visita domiciliar
 
Caso clínico avc
Caso clínico   avc Caso clínico   avc
Caso clínico avc
 
EPIDEMIOLOGIA
EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA
EPIDEMIOLOGIA
 
A rede de atenção psicossocial (raps)
A rede de atenção psicossocial (raps)A rede de atenção psicossocial (raps)
A rede de atenção psicossocial (raps)
 
O Cuidar
O CuidarO Cuidar
O Cuidar
 
Precauções e isolamentos
Precauções e isolamentosPrecauções e isolamentos
Precauções e isolamentos
 
Apresentação hiperdia
Apresentação hiperdiaApresentação hiperdia
Apresentação hiperdia
 
PROTOCOLO PARA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO BÁSICA
PROTOCOLO PARA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO BÁSICA PROTOCOLO PARA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO BÁSICA
PROTOCOLO PARA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO BÁSICA
 
Evolução de UTI
Evolução de UTIEvolução de UTI
Evolução de UTI
 
Genograma e Ecomapa
Genograma e EcomapaGenograma e Ecomapa
Genograma e Ecomapa
 
SLIDE - CUIDADOR DE IDOSO -[4892].pptx
SLIDE - CUIDADOR DE IDOSO -[4892].pptxSLIDE - CUIDADOR DE IDOSO -[4892].pptx
SLIDE - CUIDADOR DE IDOSO -[4892].pptx
 
Saúde da Criança - UFMG
Saúde da Criança - UFMGSaúde da Criança - UFMG
Saúde da Criança - UFMG
 
Doença de Chagas
Doença de ChagasDoença de Chagas
Doença de Chagas
 
Aula 09 oxigênioterapia
Aula 09  oxigênioterapiaAula 09  oxigênioterapia
Aula 09 oxigênioterapia
 
Pnps
Pnps   Pnps
Pnps
 
Profilaxia Raiva Ministerio Saude Brasil 2011
Profilaxia Raiva Ministerio Saude Brasil 2011Profilaxia Raiva Ministerio Saude Brasil 2011
Profilaxia Raiva Ministerio Saude Brasil 2011
 
Teoria das 14 necessidades fundamentais, de Virginia Henderson - No Caminho d...
Teoria das 14 necessidades fundamentais, de Virginia Henderson - No Caminho d...Teoria das 14 necessidades fundamentais, de Virginia Henderson - No Caminho d...
Teoria das 14 necessidades fundamentais, de Virginia Henderson - No Caminho d...
 
Aula Indicadores
Aula IndicadoresAula Indicadores
Aula Indicadores
 
Semninário Febre Amarela
Semninário Febre AmarelaSemninário Febre Amarela
Semninário Febre Amarela
 

Similaire à Sistematização de Instrumento de Estratificação: A Escala de Risco de Coelho

Apresentação caderneta 2009.1
Apresentação caderneta 2009.1Apresentação caderneta 2009.1
Apresentação caderneta 2009.1
Anna Paula Tenorio
 
Risco e prevenção aula 27-05-13
Risco e prevenção   aula 27-05-13Risco e prevenção   aula 27-05-13
Risco e prevenção aula 27-05-13
Inaiara Bragante
 
Adolescentes articulação odivelas_ivone patrao
Adolescentes articulação odivelas_ivone patraoAdolescentes articulação odivelas_ivone patrao
Adolescentes articulação odivelas_ivone patrao
Ana Ferraz
 
íNdice de desenvolvimento humano
íNdice de desenvolvimento humanoíNdice de desenvolvimento humano
íNdice de desenvolvimento humano
Abmael Rocha Junior
 
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptxenfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
FabianeSousa11
 

Similaire à Sistematização de Instrumento de Estratificação: A Escala de Risco de Coelho (20)

Escalas de risco e vulnerabilidade familiar
Escalas de risco e vulnerabilidade familiarEscalas de risco e vulnerabilidade familiar
Escalas de risco e vulnerabilidade familiar
 
Depression and health behaviors in brazilian adults PNS 2013
Depression and health behaviors in brazilian adults   PNS 2013Depression and health behaviors in brazilian adults   PNS 2013
Depression and health behaviors in brazilian adults PNS 2013
 
Apresentação caderneta 2009.1
Apresentação caderneta 2009.1Apresentação caderneta 2009.1
Apresentação caderneta 2009.1
 
Manual de transtornos_mentais_-_infantis
Manual de transtornos_mentais_-_infantisManual de transtornos_mentais_-_infantis
Manual de transtornos_mentais_-_infantis
 
Saúde Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de Saúde Primários
Saúde Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de Saúde PrimáriosSaúde Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de Saúde Primários
Saúde Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de Saúde Primários
 
Espectro Autista- Protocolo Clinico de Acolhimento
Espectro Autista- Protocolo Clinico de Acolhimento Espectro Autista- Protocolo Clinico de Acolhimento
Espectro Autista- Protocolo Clinico de Acolhimento
 
Visita Domiciliar - I Congreso Nordeste de MFC
Visita Domiciliar - I Congreso Nordeste de MFCVisita Domiciliar - I Congreso Nordeste de MFC
Visita Domiciliar - I Congreso Nordeste de MFC
 
Risco e prevenção aula 27-05-13
Risco e prevenção   aula 27-05-13Risco e prevenção   aula 27-05-13
Risco e prevenção aula 27-05-13
 
Adolescentes articulação odivelas_ivone patrao
Adolescentes articulação odivelas_ivone patraoAdolescentes articulação odivelas_ivone patrao
Adolescentes articulação odivelas_ivone patrao
 
Aula_03.ppt
Aula_03.pptAula_03.ppt
Aula_03.ppt
 
Aula_03 (1).ppt
Aula_03 (1).pptAula_03 (1).ppt
Aula_03 (1).ppt
 
íNdice de desenvolvimento humano
íNdice de desenvolvimento humanoíNdice de desenvolvimento humano
íNdice de desenvolvimento humano
 
Apresentacao claudia mascarenhas
Apresentacao claudia mascarenhasApresentacao claudia mascarenhas
Apresentacao claudia mascarenhas
 
Cuidador Domiciliar e Sobrecarga
Cuidador Domiciliar e SobrecargaCuidador Domiciliar e Sobrecarga
Cuidador Domiciliar e Sobrecarga
 
1 epidemiologia saude
1   epidemiologia saude1   epidemiologia saude
1 epidemiologia saude
 
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptxenfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
 
DEPRESSÃO: EPIDEMIOLOGIA E ABORDAGEM EM CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDE
DEPRESSÃO: EPIDEMIOLOGIA E ABORDAGEM EM CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDEDEPRESSÃO: EPIDEMIOLOGIA E ABORDAGEM EM CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDE
DEPRESSÃO: EPIDEMIOLOGIA E ABORDAGEM EM CUIDADOS PRIMÁRIOS DE SAÚDE
 
Apresentando a caderneta do Idoso
Apresentando a caderneta do IdosoApresentando a caderneta do Idoso
Apresentando a caderneta do Idoso
 
2016 abordagem familiar 1 savassi
2016 abordagem familiar 1   savassi2016 abordagem familiar 1   savassi
2016 abordagem familiar 1 savassi
 
Visita Domiciliar: PET-Saúde UFOP
Visita Domiciliar: PET-Saúde UFOPVisita Domiciliar: PET-Saúde UFOP
Visita Domiciliar: PET-Saúde UFOP
 

Plus de Leonardo Savassi

Plus de Leonardo Savassi (20)

Savassi LCM. Cuidados Paliativos e Atenção Domiciliar (LACP e Ubuntu 2023)
Savassi LCM. Cuidados Paliativos e Atenção Domiciliar (LACP e Ubuntu 2023)Savassi LCM. Cuidados Paliativos e Atenção Domiciliar (LACP e Ubuntu 2023)
Savassi LCM. Cuidados Paliativos e Atenção Domiciliar (LACP e Ubuntu 2023)
 
2021 "A importância da MFC para a Saúde Pública do país". UBUNTU Liga acadêmi...
2021 "A importância da MFC para a Saúde Pública do país". UBUNTU Liga acadêmi...2021 "A importância da MFC para a Saúde Pública do país". UBUNTU Liga acadêmi...
2021 "A importância da MFC para a Saúde Pública do país". UBUNTU Liga acadêmi...
 
2021 Medicina e Arte Liga Saude Espiritualidade.pptx
2021 Medicina e Arte Liga Saude Espiritualidade.pptx2021 Medicina e Arte Liga Saude Espiritualidade.pptx
2021 Medicina e Arte Liga Saude Espiritualidade.pptx
 
Ventilacao Mecanica Domiciliar - Especificidades da Criança
Ventilacao Mecanica Domiciliar - Especificidades da CriançaVentilacao Mecanica Domiciliar - Especificidades da Criança
Ventilacao Mecanica Domiciliar - Especificidades da Criança
 
Atencao Domiciliar e Vulnerabilidade - III Congresso MT de MFC
Atencao Domiciliar e Vulnerabilidade - III Congresso MT de MFCAtencao Domiciliar e Vulnerabilidade - III Congresso MT de MFC
Atencao Domiciliar e Vulnerabilidade - III Congresso MT de MFC
 
Aula Prevenção Quaternária - UFOP - Disciplina Medicina de Família e Comunidade
Aula Prevenção Quaternária - UFOP - Disciplina Medicina de Família e ComunidadeAula Prevenção Quaternária - UFOP - Disciplina Medicina de Família e Comunidade
Aula Prevenção Quaternária - UFOP - Disciplina Medicina de Família e Comunidade
 
Aula sobre conceitos básicos de rastreamento - UFOP - Disciplina MFC (MED195)
Aula sobre conceitos básicos de rastreamento - UFOP - Disciplina MFC (MED195)Aula sobre conceitos básicos de rastreamento - UFOP - Disciplina MFC (MED195)
Aula sobre conceitos básicos de rastreamento - UFOP - Disciplina MFC (MED195)
 
Facebook: estratégia pedagógica sobre evidências na disciplina “Medicina de F...
Facebook: estratégia pedagógica sobre evidências na disciplina “Medicina de F...Facebook: estratégia pedagógica sobre evidências na disciplina “Medicina de F...
Facebook: estratégia pedagógica sobre evidências na disciplina “Medicina de F...
 
Avaliação clínico-assistencial das Visitas Domiciliares por Profissionais da ...
Avaliação clínico-assistencial das Visitas Domiciliares por Profissionais da ...Avaliação clínico-assistencial das Visitas Domiciliares por Profissionais da ...
Avaliação clínico-assistencial das Visitas Domiciliares por Profissionais da ...
 
Análise das práticas de Acolhimento entre profissionais da Atenção Primária a...
Análise das práticas de Acolhimento entre profissionais da Atenção Primária a...Análise das práticas de Acolhimento entre profissionais da Atenção Primária a...
Análise das práticas de Acolhimento entre profissionais da Atenção Primária a...
 
2017 ufop rastreamento
2017 ufop rastreamento2017 ufop rastreamento
2017 ufop rastreamento
 
2017 2 aula tabagismo
2017 2 aula tabagismo2017 2 aula tabagismo
2017 2 aula tabagismo
 
2017 2 vd aula disciplina mfc ufop
2017   2 vd aula disciplina mfc ufop2017   2 vd aula disciplina mfc ufop
2017 2 vd aula disciplina mfc ufop
 
2017 2 ab fam 2 disciplina mfc ufop
2017   2 ab fam 2 disciplina mfc ufop2017   2 ab fam 2 disciplina mfc ufop
2017 2 ab fam 2 disciplina mfc ufop
 
14o CBMFC Curitiba-PR - Mesa AD na APS - Desafios
14o CBMFC Curitiba-PR - Mesa AD na APS - Desafios14o CBMFC Curitiba-PR - Mesa AD na APS - Desafios
14o CBMFC Curitiba-PR - Mesa AD na APS - Desafios
 
Princípios da aps slides selecionados
Princípios da aps slides selecionadosPrincípios da aps slides selecionados
Princípios da aps slides selecionados
 
Medicina Baseada em Evidências - Oficina UFOP buscando evidencias para subturmas
Medicina Baseada em Evidências - Oficina UFOP buscando evidencias para subturmasMedicina Baseada em Evidências - Oficina UFOP buscando evidencias para subturmas
Medicina Baseada em Evidências - Oficina UFOP buscando evidencias para subturmas
 
IAPS 3 UFMG Educação em saúde mudança de comportamento e habilidade de comuni...
IAPS 3 UFMG Educação em saúde mudança de comportamento e habilidade de comuni...IAPS 3 UFMG Educação em saúde mudança de comportamento e habilidade de comuni...
IAPS 3 UFMG Educação em saúde mudança de comportamento e habilidade de comuni...
 
Iaps 3 UFMG habilidade de comunicação na vd
Iaps 3 UFMG  habilidade de comunicação na vdIaps 3 UFMG  habilidade de comunicação na vd
Iaps 3 UFMG habilidade de comunicação na vd
 
Habilidade de comunicação para entrevistas
Habilidade de comunicação para entrevistasHabilidade de comunicação para entrevistas
Habilidade de comunicação para entrevistas
 

Dernier

8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
Leila Fortes
 

Dernier (7)

Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
 
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
 
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
 
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
 
aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.pptaula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
 
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdfInteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
 
ENFERMAGEM - MÓDULO I - HISTORIA DA ENFERMAGEM, ETICA E LEGISLACAO.pptx.pdf
ENFERMAGEM - MÓDULO I -  HISTORIA DA ENFERMAGEM, ETICA E LEGISLACAO.pptx.pdfENFERMAGEM - MÓDULO I -  HISTORIA DA ENFERMAGEM, ETICA E LEGISLACAO.pptx.pdf
ENFERMAGEM - MÓDULO I - HISTORIA DA ENFERMAGEM, ETICA E LEGISLACAO.pptx.pdf
 

Sistematização de Instrumento de Estratificação: A Escala de Risco de Coelho

  • 1. SISTEMATIZAÇÃO DE INSTRUMENTO DE ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO FAMILIAR: A ESCALA DE COELHO Joana Lourenço Lage, médica de família e comunidade de Contagem- MG, jlage.bh@terra.com.br Flávio Lúcio Gonçalves Coelho, médico de família em Contagem-MG, flgcoelho@gmail.com Leonardo Cançado Monteiro Savassi, médico de família e comunidade, leosavassi@gmail.com Introdução A Escala de Coelho é um instrumento de estratificação de risco familiar, desenvolvido no município de Contagem-MG, que, aplicado às famílias adscritas a uma equipe de saúde, pretende determinar seu risco social e de saúde, refletindo o potencial de adoecimento de cada núcleo familiar. Utiliza os dados relacionados na tabela 1, presentes na ficha A do SIAB e outros, disponíveis na rotina das equipes de saúde da família. Estes dados foram definidos como Sentinelas de Risco1. Dados da ficha A SIAB Escore (Sentinelas de Risco) de risco Acamado 3 Deficiência Física 3 Deficiência Mental 3 Baixas condições de saneamento 3 Desnutrição grave 3 Drogadição 2 Desemprego 2 Analfabetismo 1 Indivíduo menor de seis meses de idade 1 Indivíduo maior de 70 anos de idade 1 Hipertensão Arterial Sistêmica 1 Diabetes Mellitus 1 Relação morador/ cômodo maior que 1 3 Relação morador/ cômodo igual a 1 2 Relação morador/ cômodo menor que 1 0 Tabela 1: Dados da ficha A SIAB e escore de risco1. A partir da soma dos escores de risco de cada família, elas são classificadas em risco menor a máximo (tabela 2)1. Escore total Risco Familiar 5e6 R1- risco menor 7e8 R2- risco médio Acima de 9 R3- risco máximo Tabela 2: Risco familiar As sentinelas de risco utilizadas pela Escala foram selecionadas por sua relevância epidemiológica, sanitária e pelo potencial de impacto na dinâmica familiar, através de distintos mecanismos (impacto sócio-econômico, nas interrelações entre os indivíduos do núcleo familiar, no trabalho).
  • 2. A disponibilidade dos dados na ficha A do SIAB e na rotina da equipe apresenta- se como um diferencial facilitador no uso deste instrumento. Nas equipes de saúde da família em que foi aplicada, a escala mostrou-se útil na reorganização da demanda e promoveu uma percepção mais apurada, objetiva e quantificada do risco das famílias avaliadas, impactando de maneira positiva o trabalho em equipe 1,2. Além disso, a Escala de Coelho corroborou, em nível local e micro-regional, os dados do Índice de Vulnerabilidade à Saúde, nas equipes em estes estavam disponíveis3. Este índice “evidencia as desigualdades no perfil epidemiológico de grupos sociais distintos”4 e é utilizado em nível macro-regional, nos municípios de Belo Horizonte e Contagem. Estas observações apontam para o potencial de aplicabilidade da Escala de Coelho e, consequentemente, para a necessidade de sua sistematização, visando à padronização para ampliação de seu uso. As sentinelas de risco foram analisadas e discutidas individualmente quanto a: 1) definição precisa, baseada preferencialmente no manual da ficha A do SIAB e, quando inexistente nele, na literatura; 2) justificativa para a inserção de cada evento como um indicador a ser pontuado pela Escala. Foram descritos os critérios de pontuação, definindo-se a forma de aplicação dos pontos conforme as sentinelas de risco presentes em cada família e a obtenção do escore familiar final. Foram sugeridas, ainda, formas de utilização prática da Escala de Coelho nas equipes de saúde. Também foram feitas recomendações sobre a aplicação em situações peculiares. Sentinelas de Risco: Definições 1. Acamado: segundo a Organização Mundial de Saúde, define-se como “toda pessoa restrita ao seu próprio domicílio, por qualquer inabilidade e/ou incapacidade de locomover-se por si só a qualquer centro de atenção à saúde". 8 2. Deficiências Física e Mental: conforme o manual para preenchimento da ficha A do SIAB, é o “defeito ou condição física ou mental de duração longa ou permanente que, de alguma forma, dificulta ou impede uma pessoa da realização de determinadas atividades cotidianas, escolares, de trabalho ou de lazer. Isto inclui desde situações em que o indivíduo consegue realizar sozinho todas as atividades que necessita, porém com dificuldade ou através de adaptações, até aquelas em que o indivíduo sempre precisa de ajuda nos cuidados pessoais e outras atividades”.5 3. Baixas condições de saneamento: o conceito utilizado é o de saneamento ambiental, que segundo a OMS define: “Saneamento constitui o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu estado de bem estar físico, mental ou social”. São utilizados os seguintes itens relacionados no verso da ficha A do SIAB: destino do lixo, tratamento da água no domicílio e destino de fezes e urina e a sentinela é pontuada como (3) quando presentes ao menos uma das seguintes situações: lixo a céu aberto, água sem tratamento e esgoto a céu aberto. 4. Desnutrição Grave: segue a classificação por percentil de Peso/Idade proposta pelo Sistema de Vigilância Nutricional (SISVAN) estabelecidos para crianças menores de 7 anos: Percentil menor que 0,1: Peso Muito Baixo para a Idade9; 5. Drogadição: Utilização compulsiva de drogas lícitas e /ou ilícitas, que apresentem potencial para causar dependência química. Neste grupo inclui-se o álcool, tabaco, benzodiazepínicos, barbitúricos e drogas ilícitas.
  • 3. 6. Desemprego: segundo a definição do manual da ficha A do SIAB, o item ocupação refere- se a: “tipo de trabalho que exerce, independente da profissão de origem ou de remuneração, mesmo que no momento do cadastramento o indivíduo esteja de férias, licença ou afastado temporariamente por qualquer motivo. A realização de tarefas domésticas caracteriza o trabalho doméstico, ainda que este não seja remunerado. Se o indivíduo referir mais de uma ocupação, deverá ser anotada aquela a que ele dedica o maior número de horas na semana, no seu período de trabalho”5. Portanto , define-se como desemprego qualquer situação que não se encaixe neste critério. 7. Analfabetismo: o manual da ficha A do SIAB define como alfabetizado “o indivíduo que sabe ler e escrever no mínimo um bilhete. O indivíduo que apenas assina o nome não é considerado alfabetizado”5. Toda situação distinta a esta definição é considerada como analfabetismo, a partir da idade escolar. 8. Menor de seis meses: todo lactente com idade até 5 meses e 29 dias. 9. Maior de 70 anos 10. Hipertensão Arterial Sistêmica: “Pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e pressão arterial diastólica maior ou igual a 90 mmHg, em indivíduos que não estejam em uso de medicação antihipertensiva”6. 11. Diabetes Mellitus: “grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, cérebro, coração e vasos sanguíneos”7 12. Relação morador/cômodo: É definida pelo número de cômodos na residência dividido pelo número de moradores do domicílio. O número de cômodos é contado conforme descrito no manual da Ficha A do SIAB: “todos os compartimentos integrantes do domicílio, inclusive banheiro e cozinha, separados por paredes, e os existentes na parte externa do prédio, desde que constituam parte integrante do domicílio, com exceção de corredores, alpendres, varandas abertas e outros compartimentos utilizados para fins não residenciais como garagens, depósitos etc.”5
  • 4. Sentinelas de risco: Justificativas A utilização das sentinelas de risco da Escala de Coelho justifica-se com base nas características relacionadas na tabela 3. Justificativa Impacto na Relevância Relevância dinâmica epidemiológica sanitária familiar Sentinelas de Risco Acamado x x Deficiências física e mental x x Baixas condições de saneamento x x Desnutrição grave x x x Drogadição x x Desemprego x x x Analfabetismo x x x Menor de seis meses x x Maior de 70 anos x x Hipertensão arterial sistêmica x x Diabetes mellitus x x Relação morador/cômodo x x x Tabela 3: sentinelas e suas justificativas Critérios de pontuação As famílias são avaliadas a partir da Ficha A do SIAB, sendo que para cada sentinela de risco presente corresponde o valor definido na Escala de Coelho. No caso das sentinelas de caráter individual (por exemplo acamado, deficiência física, etc.), quando ela estiver presente em mais de um indivíduo na mesma família, esta recebe a pontuação referente a cada indivíduo portador da condição. Veja o exemplo: uma família possui dois acamados, sendo que um deles é um idoso de 75 anos de idade e hipertenso. O outro acamado é deficiente físico (amputação traumática de membros inferiores). Ambos são analfabetos. Não existem outras sentinelas de risco nesta família. O escore familiar final é 13 (3+3+1+1+3+1+1). Sugestões para aplicação da Escala nas Equipes de Saúde da Família Sugere-se a seguinte metodologia de aplicação da Escala: • Um ou mais membros da equipe familiarizar-se com o instrumento, sendo possível, inclusive, o intercâmbio com os autores da Escala. Este membro encarrega-se de apresentar a Escala à equipe, inclusive com introdução dos conceitos de sentinela de risco, situação de risco, risco familiar, planejamento de ações, organização de demanda, entre outros que forem pertinentes à discussão; • Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) encarregam-se de aplicar a Escala nas famílias adscritas a sua micro-área. Verificou-se nas equipes nas quais os autores aplicaram a Escala, que este procedimento torna a avaliação mais confiável, pois este profissional é o que geralmente mantém um contato mais estreito com todas as suas famílias.2 Recomenda-se que as primeiras famílias sejam classificadas sob supervisão do profissional familiarizado com a Escala, para que eventuais dúvidas possam ser sanadas.
  • 5. A Equipe deve ter em mente que esta classificação tem um caráter dinâmico, assim como as famílias o são. Portanto, é importante que periodicamente, as famílias sejam revisadas para verificar-se se seu risco modificou-se ou manteve-se. • A inserção do risco familiar no prontuário da família mostrou ser uma informação importante e significativa no trabalho diário da equipe.2 Situações Peculiares: Recomendações Algumas situações peculiares podem acontecer e assim recomenda-se: • Áreas com alta prevalência de determinadas sentinelas de risco, como por exemplo, baixa condição de saneamento: recomenda-se que a sentinela seja desconsiderada no estudo, feita a devida ressalva no relatório final. A classificação passa a ser de área de risco para aquela sentinela. • Áreas onde as famílias apresentem no geral escore familiar final muito elevado, como por exemplo zona rural precária, ou aglomerados não urbanizados: recomenda-se elevar o ponto de corte para a priorização das famílias, e considerar aquela microárea (ou área) como de risco. Conclusões A sistematização da Escala de Coelho visa a sua utilização de maneira independente por profissionais e equipes de saúde familiarizados com o SIAB, em especial a ficha A, e abre perspectivas quanto ao seu uso em um número ampliado de equipes. Ambas características são fundamentais para a verificação e determinação de sua aplicabilidade como instrumento de estratificação de risco familiar. Bibliografia: 1) Coelho, Flávio Lúcio G.; Savassi, Leonardo C. M. Aplicação de escala de risco familiar como instrumento de organização das visitas domiciliares. RBMFC, vol. 1, número 2, p.19- 26. 2) Lage, Joana L. e col.; Aplicação da escala de Coelho em equipe de saúde da família. In: Anais do 8o Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade. São Paulo, 15 a 18 de junho de 2006. 3)Lage, Joana L., Hadad, Salime C.; Utilização de indicadores no planejamento de ações de saúde em centro urbano. In: Anais do 8o Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade. São Paulo, 15 a 18 de junho de 2006. 4) Índice de Vulnerabilidade à Saúde 2003, Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Gerência de Epidemiologia e Informação - GEREPI. 5) SIAB: manual do sistema de informação de atenção básica/ Secretaria de Assistência à Saúde, Coordenação de Saúde da Comunidade. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. 98p. 6) Hipertensão arterial sistêmica para o Sistema Único de Saúde/ Ministério da Saúde, SAS, DAB .- Ministério da Saúde, 2006. 58p. (Cadernos de Atenção Básica, 15) 7) Diabetes Mellitus/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção á Saúde, Departamento de Atenção Básica.- Ministério da Saúde, 2006. 64p. il. (Cadernos de Atenção Básica, 16) 8) Lichtenfels, Patrícia; dos Santos, Luciano Tonetto; Fernandes, Carmen Luíza Corrêa. Percepção da Doença: A Visão do Paciente Acamado. Mom. & Perspec. Saúde - Porto Alegre 17 (1): 13-19. 9) Ministério da Saúde. SISVAN. Vigilância alimentar e nutricional - Sisvan: orientações básicas para a coleta, processamento, análise de dados e informação em serviços de Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 120 p