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33, narrativas em primeira pessoa Por LorizaKettle
33, narrativas em primeira pessoa O documentário de KikoGoifman, 33, narrado em primeira pessoa, trata da busca do diretor pela mãe biológica. Sabendo ser filho adotivo, Goifman começou sua busca aos 33 anos e deu esse título ao filme porque, além de sua idade, a mãe adotiva era de 1933 e ele tinha 33 dias para concluir o desafio. Pelo menos três bons motivos ele tinha para a escolha.
33, narrativas em primeira pessoa Quem é KikoGoifman? De Belo Horizonte-MG, nasceu em 1968 e aos 20 anos de idade mudou-se para São Paulo. Antopólogo pela Universidade  Federal de Minas Gerais e mestre em Multimeios pela Unicamp, seu primeiro longa-metragem foi 33 (2003), selecionado para os festivais de Locarno (Suíça), Rotterdam, Marseille (França) e eleito como favorito na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Goifman começou no audiovisual ainda na faculdade, usando o vídeo como ferramenta para trabalhos acadêmicos. Aos poucos foi abandonando a Antropologia para se dedicar exclusivamente ao Cinema.
33, narrativas em primeira pessoa O documentário 33 é um relato sobre a adoção e tenta desfazer o tabu que ainda existe nesse tema. Sabendo que é muito raro alguém falar publicamente que é filho adotivo, Goifman não apenas admite sua condição mas assume, diante das câmeras, a necessidade particular de conhecer sua história. Fugindo totalmente os padrões do cinema documentário, que tem objetividade e não pode ter envolvimento emocional, 33 se caracteriza justamente pelo emoção do protagonista e também do espectador.
33, narrativas em primeira pessoa Observações relevantes de 33: ,[object Object]
Feito em gravações reais, depoimentos dos personagens e cenas noturnas da cidade
Sem segundos takes
Não tem roteiro, apenas um ponto de partida
Por isso mesmo seu desfecho não é previsto
Narrado em primeira pessoa pelo próprio diretor-protagonista
Presença da voz-over (voz de Deus)
Produzido em preto e branco, estilo noir,[object Object]
33, narrativas em primeira pessoa Ao se expor diante da câmera, Goifman não tem nenhum pudor em transmitir suas opiniões. Fala sobre suas impressões na investigação, faz considerações sobre os entrevistados e até questiona o depoimento de uma tia. Chega a se exibir para a câmera com um certo narcizismo. Talvez essa exibição não seja consciente, mas transmite uma postura arrogante.
33, narrativas em primeira pessoa Vemos aí o comportamento profílmico, citado por Claudine de France, ou seja, o comportamento adotado para a câmera no documentário. Ao saber que está sendo filmado, o personagem perde a naturalidade e passa a se exibir. No caso de Goifman parece que esse detalhe fica mais evidente, pode-se arriscar uma mise em scène na atuação do diretor.
33, narrativas em primeira pessoa Durante o filme Kiko revela ao espectador todo o processo e avanços da investigação e deixa claro que independente do seu papel, ator ou diretor, personagem ou autor, está criando uma obra, mesmo sendo essa obra sua história. Goifman só mostra no filme o que é interessante para o próprio filme.
33, narrativas em primeira pessoa A narração em forma de diário policial com imagens urbanas e noturnas, a cidade solitária na madrugada, dá ao documentário um ar de suspense. Essa atmosfera, confirmada com a música de fundo, talvez seja um dos fatores que faz de 33, um filme noir. Mas esse não é o único motivo.
33, narrativas em primeira pessoa Apesar do gênero noir estar relacionado a crimes, cenas violentas, homicídios e mulheres fatais, geralmente carregados de ciúmes, corrupção e fraqueza moral, o documentário 33 pode ser assim considerado por outras características desse gênero de filme do início da década de 40.

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33 narrativas 1a pessoa

  • 1. 33, narrativas em primeira pessoa Por LorizaKettle
  • 2. 33, narrativas em primeira pessoa O documentário de KikoGoifman, 33, narrado em primeira pessoa, trata da busca do diretor pela mãe biológica. Sabendo ser filho adotivo, Goifman começou sua busca aos 33 anos e deu esse título ao filme porque, além de sua idade, a mãe adotiva era de 1933 e ele tinha 33 dias para concluir o desafio. Pelo menos três bons motivos ele tinha para a escolha.
  • 3. 33, narrativas em primeira pessoa Quem é KikoGoifman? De Belo Horizonte-MG, nasceu em 1968 e aos 20 anos de idade mudou-se para São Paulo. Antopólogo pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em Multimeios pela Unicamp, seu primeiro longa-metragem foi 33 (2003), selecionado para os festivais de Locarno (Suíça), Rotterdam, Marseille (França) e eleito como favorito na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Goifman começou no audiovisual ainda na faculdade, usando o vídeo como ferramenta para trabalhos acadêmicos. Aos poucos foi abandonando a Antropologia para se dedicar exclusivamente ao Cinema.
  • 4. 33, narrativas em primeira pessoa O documentário 33 é um relato sobre a adoção e tenta desfazer o tabu que ainda existe nesse tema. Sabendo que é muito raro alguém falar publicamente que é filho adotivo, Goifman não apenas admite sua condição mas assume, diante das câmeras, a necessidade particular de conhecer sua história. Fugindo totalmente os padrões do cinema documentário, que tem objetividade e não pode ter envolvimento emocional, 33 se caracteriza justamente pelo emoção do protagonista e também do espectador.
  • 5.
  • 6. Feito em gravações reais, depoimentos dos personagens e cenas noturnas da cidade
  • 8. Não tem roteiro, apenas um ponto de partida
  • 9. Por isso mesmo seu desfecho não é previsto
  • 10. Narrado em primeira pessoa pelo próprio diretor-protagonista
  • 11. Presença da voz-over (voz de Deus)
  • 12.
  • 13. 33, narrativas em primeira pessoa Ao se expor diante da câmera, Goifman não tem nenhum pudor em transmitir suas opiniões. Fala sobre suas impressões na investigação, faz considerações sobre os entrevistados e até questiona o depoimento de uma tia. Chega a se exibir para a câmera com um certo narcizismo. Talvez essa exibição não seja consciente, mas transmite uma postura arrogante.
  • 14. 33, narrativas em primeira pessoa Vemos aí o comportamento profílmico, citado por Claudine de France, ou seja, o comportamento adotado para a câmera no documentário. Ao saber que está sendo filmado, o personagem perde a naturalidade e passa a se exibir. No caso de Goifman parece que esse detalhe fica mais evidente, pode-se arriscar uma mise em scène na atuação do diretor.
  • 15. 33, narrativas em primeira pessoa Durante o filme Kiko revela ao espectador todo o processo e avanços da investigação e deixa claro que independente do seu papel, ator ou diretor, personagem ou autor, está criando uma obra, mesmo sendo essa obra sua história. Goifman só mostra no filme o que é interessante para o próprio filme.
  • 16. 33, narrativas em primeira pessoa A narração em forma de diário policial com imagens urbanas e noturnas, a cidade solitária na madrugada, dá ao documentário um ar de suspense. Essa atmosfera, confirmada com a música de fundo, talvez seja um dos fatores que faz de 33, um filme noir. Mas esse não é o único motivo.
  • 17. 33, narrativas em primeira pessoa Apesar do gênero noir estar relacionado a crimes, cenas violentas, homicídios e mulheres fatais, geralmente carregados de ciúmes, corrupção e fraqueza moral, o documentário 33 pode ser assim considerado por outras características desse gênero de filme do início da década de 40.
  • 18. 33, narrativas em primeira pessoa Características dos filmes noir presentes no documentário 33 : Ambiente urbano Fotografia em preto e branco Efeitos visuais incomuns Cenários noturnos e interiores sombrios Uso da narração em voz-over Presença do protagonista em quase todas as cenas O efeito em preto e branco e as cenas noturnas talvez seja o que torna o documentário mais característico.
  • 19. 33, narrativas em primeira pessoa
  • 20. 33, narrativas em primeira pessoa Segundo Bill Nichols a voz do documentário defende uma causa e tenta nos convencer do seu ponto de vista. Nada mais é do que a maneira especial de expressar um argumento. Essa voz pode ser do próprio cineasta, que assume uma posição de respeito para nos persuadir de um aspecto do mundo histórico.
  • 21. 33, narrativas em primeira pessoa Mas qual o ponto de vista que Kiko Goifman tenta nos convencer em seu documentário? Para responder voltamos a Nichols. Ele afirma que documentário é a representação do mundo em que vivemos, uma visão de mundo que talvez nunca tenhamos deparado antes, mesmo que nos sejam familiares.
  • 22. 33, narrativas em primeira pessoa Seguindo esse raciocínio, já sabemos a intenção de Goifman em seu filme. Ele quer convencer o público e a si mesmo que é importante para ele conhecer a mãe biológica e também compartilhar a experiência de sua busca. Deixa transparecer que não se importa em ser adotado. Mas talvez esse assunto ainda esteja longe de ser resolvido.
  • 23. 33, narrativas em primeira pessoa “Documentário é o tratamento criativo da realidade.” John Griesson