Padre António Vieira, o Imperador da Língua Portuguesa
1. Padre António Vieira
Quem foi Padre
António Vieira?
"Os portugueses
têm um pequeno
país para berço
e o mundo todo
para morrerem. "
2. Introdução
Com este trabalho pretendesse introduzir o estudo do Sermão
de Santo António aos Peixes, descobrindo referências
cronológicas da sua vida e a importância que este teve na época
em que viveu e que tem nos dias de hoje.
3. Biografia:
• António Vieira viveu durante grande parte do século XVIII. Foi um
religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Tinha
origem alentejana e sua mãe tinha descendências africanas. Este era o
mais velho de quatro filhos. Viveu no Brasil imensos anos mas viajava para
Portugal e outros países europeus sempre que necessário. Destacou-se
como missionário nas terras brasileiras sendo uma das personagens mais
influentes do século nos assuntos de política. Defendeu
incondicionalmente os direitos humanos dos povos indígenas do Brasil
(índios), combatendo e acabando com a sua exploração e escravização. Era
conhecido por muitos como “Paiaçu”, que traduzindo de tupi para
português significa Grande Pai/Padre. Defendeu também os judeus,
provocou com deixasse de haver distinção entre cristãos-novos e cristãos-
velhos, aboliu a escravatura e criticou a própria Inquisição. Este foi
acusado de traição por defender os índios e os judeus convertidos (novos-
cristãos). Os sermões que escreveu possuem referências importantes ao
barroco brasileiro.
5. Vida de Padre António Vieira
• Padre António Vieira nasceu a 6 de fevereiro de 1608
em Lisboa. Aos seis anos (1614), emigrou para a Baía,
no Brasil, com a sua família. Estudou no Colégio dos
Jesuítas da Baía onde teve um ensino rígido. Com
quinze anos, fugiu dos pais para ingressar na
Companhia de Jesus. A 5 de maio desse ano (1623),
inicia um noviciado. Passados três anos, tomava uma
posição importante na Companhia. Aos dezoito anos
foi convidado para escrever a anua, isto é, escrever o
relatório anual dos feitos do colégio, em latim, que
seria enviado para o papa de Roma. Em 1633, com
vinte e cinco anos, iniciou-se oficialmente como
pregador. Tornou-se sacerdote, passando a exercer a
função de pregador em algumas aldeias baianas
durante cinco anos. Os sermões desta altura tinham
como temas principais a religião, política e os
problemas da época. Em 1641, partiu para Portugal
acompanhando o filho do vice-rei do Brasil com a
intenção da colónia aderir ao novo rei e à restauração.
6. Vida de Padre António Vieira
• «A vida é uma
lâmpada acesa, vidro
e fogo. Vidro que com
um sopro se faz e
fogo que com um
sopro se apaga.»
7. Vida de Padre António Vieira
• Este tornou-se amigo fiel de D. João IV e ainda inicia a sua carreira pública e política. Iniciou,
em 1646, várias missões diplomáticas oficiais (tentou negociar com chefes políticos e
comunidades judaicas a fim de cativá-los para a fundação de companhias comerciais
portuguesas) por toda a Europa. Em 1649, formou uma política com novos ideais constituídas
pelos cristãos-novos de todo mundo. No ano de 1653, regressa ao Brasil como missionário no
estado de Maranhão, após vários conflitos na companhia de Jesus, que quase lhe valeram a
expulsão. Torna-se ativo no secular antagonismo entre jesuítas e colonos com o propósito de
utilizar mão-de-obra indígena.
8. Vida de Padre António Vieira
• A 13 de junho de 1654, prega o Sermão de Santo António e parte ilegalmente para
Lisboa. Volta ao Brasil, em 1655, com a lei que beneficiava a autoridade dos jesuítas
sobre os índios. Passado um ano, redige a carta Esperanças de Portugal, Quinto Império
do Mundo, defendendo as trovas de Bandarra e prevendo a ressurreição de D. João IV.
Esta carta foi a base do processo que o Santo Ofício levantou contra ele, visto que
constava as suas opiniões profanas. Com cinquenta e três anos de vida, é, juntamente
com todos os jesuítas, expulso de Maranhão. Padre António Vieira é desterrado no
Porto. (1663) Após dois anos, entra na prisão do tribunal do Santo Ofício em Coimbra.
• Citando a sua sentença: “ (…) seja privado para sempre de voz ativa e
passiva e do poder de pregar, e recluso no colégio ou casa de sua religião
que o Santo Ofício lhe ordenar, e de onde, sem ordem sua não sairá.”
9. Vida de Padre António Vieira
• Um tempo depois, foi perdoado e recomeçou com as suas pregações em Lisboa. Em 1669,
embarcou para Roma, onde obteve bastante êxito. Realizou uma campanha de
desmascaramento, contra o tribunal do Santo Ofício, lutando a favor das missões no Brasil.
Com setenta e um anos, é publicado o primeiro volume dos seus Sermões. Entre 1681 e
1688, retorna para a Baía, já que não encontrava um bom ambiente em terras portuguesas.
Lá é nomeado Visitador da Província do Brasil. Morre, aos oitenta e nove anos, na Baía, após
ter revisto o décimo terceiro volume dos Sermões, sem conseguir finalizar a obra Clavis
Prophetarum
12. Obras
• As obras de Padre António Vieira podem ser divididas em profecias, cartas
e sermões. Este escreveu cerca de quinhentas cartas que relatam assuntos
acerca da relação entre Portugal e Holanda, sobre a inquisição e os judeus
convertidos (cristãos-novos) e cerca de duzentos sermões, com o estilo
barroco brasileiro presente. Algumas das suas obras são:
• - Sermão da Sexagésima
- Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra Holanda
- Sermão de Santo António aos peixes
- Carta nº 16
13. • Sermão da Sexagésima
• “(…) Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos pelo Mundo, disse-lhes
desta maneira: Euntes in mundum universum, praedicate omni creaturae:
«Ide, e pregai a toda a criatura». Como assim, Senhor?! Os animais não
são criaturas?! As árvores não criaturas?! As pedras não são criaturas?!
Pois hão os Apóstolos de pregar às pedras?! Hão-de pregar aos troncos?!
Hão-de pregar aos animais?! Sim, diz S.Gregório, depois de Santo
Agostinho. Porque como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do
Mundo, muitas delas bárbaras e incultas, haviam de achar os homens
degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de achas homens,
haviam de achar homens brutos, haviam de achar homens troncos,
haviam de achar homens pedras. (…)”
Obras
14. • Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra Holanda
• “Com estas palavras piedosamente resolutas, mais protestando, que orando, dá
fim o Profeta Rei ao Salmo quarenta e três. Salmo, que desde o princípio até o fim,
não parece senão cortado para os tempos e ocasião presente. O Doutor Máximo
S. Jerónimo, e depois dele os outros expositores, dizem que se entende à letra de
qualquer reino ou província católica, destruída e assolada por inimigos da Fé. Mas
entre todos os reinos do Mundo a nenhum lhe quadra melhor que ao nosso Reino
de Portugal; e entre todas as províncias de Portugal a nenhuma vem mais ao justo
que à miserável província do Brasil. Vamos lendo todo o Salmo, e em todas as
cláusulas dele veremos retratadas as da nossa fortuna: o que fomos e o que
somos. Deus, auribus nostris audivimus, Patres nostri annuntiaverunt nobis, opus,
quod operatus es in diebus eorum, et in diebus antiquis. Ouvimos (começa o
profeta) a nossos pais, lemos nas nossas histórias e ainda os mais velhos viram, em
parte, com seus olhos as obras maravilhosas, as proezas, as vitórias, as conquistas,
que por meio dos portugueses obrou em tempos passados vossa omnipotência,
Senhor. Manus tua gentes disperdit, et plantasti eos; afflixisti populos et expulisti
eos. “
Obras
15. •
• Sermão de Santo António aos peixes
• “Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da
terra: e chama-lhe sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz
o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão
corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal,
qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou porque o sal não
salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e
os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não
deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não
querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores dizem uma
coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes
querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque
o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a
terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a
seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal. (...)”
Obras
16. • Carta nº 16
• “Ao Padre Francisco de Morais Do Maranhão, a 6-V-1653
• Enfim, amigo, pôde mais Deus que os homens, e prevaleceram todos os
decretos divinos a todas as traças e disposições humanas. A primeira vez
vinha contra a vontade de El-rei; desta segunda vim até contra a minha,
para que nesta obra não houvesse vontade mais que a de Deus. Seja ele
bendito, que tanto caso faz de quem tão pouco vale, e, tanto ama a quem
tanto mal lho merece. Ajudai-me, amigo, a lhe dar infinitas graças, e a
pedir a sua divina bondade ma dê, para que ao menos neste último
quartel da vida lhe não seja ingrato, como fui tanto em toda. Ah! Quem
pudera desfazer o passado, e tornar atrás o tempo e alcançar o impossível,
que o que foi não houvera sido! Mas já que isto não pode ser, Deus meu,
ao menos seja o futuro emenda do passado, e o que há de ser emenda do
que foi. Estes são, amigo, hoje todos os meus cuidados, sem haver em
mim outro gosto mais que chorar o que tive, e conhecer quão falsamente
se dá este nome aos que, sobre tantos outros pesares, ou hão de ter na
vida o do arrependimento ou na eternidade o do castigo.”
Obras
17. • “ As obras de
um herói,
postas a uma
luz escura da
razão e da
vontade, são
borrões que
ofendem; à
melhor luz do
entendimento
são primores
que admiram.”
Obras
18. • Podemos concluir no final deste trabalho que Padre António Vieira foi um homem
importantíssimo no século XVIII e que este ainda é valorizado e admirado nos dias
de hoje. Fernando Pessoa chamava-o de Imperador da Língua Portuguesa devido à
riqueza e qualidade das suas obras. Para além de todas as obras que escreveu,
Padre António Vieira provocou um grande impacte no mundo devido aos seus
feitos. Este defendeu os povos indígenas do Brasil, percorrendo fronteiras para
conseguir com que a lei acerca dos escravos mudasse e também defendeu os
judeus convertidos, mais conhecidos por cristãos-novos, que eram perseguidos
pela Inquisição.
Conclusão