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sumário
                                                     Editorial          03

                                                       Artigo 1         05
                                            Entrevista com Karl Wig



                                                      Artigo 2          10
                              O que há de mais humano na gestão.
                                              Por Saulo Figueiredo


                                                      Artigo 3          15
             A importância dos gerentes na condução da Gestão do
                    Conhecimento. Por Frank Astor do Nascimento


                                                      Artigo 4          20
                 Gestão estratégica do conhecimento em pequenas
                            empresas. Por Fábio Márcio Dias da Silva


                                                      Artigo 5          24
      Um breve relato da trajetória do CGECon - Um case de sucesso
             em Gestão do Conhecimento. Por Daniel Duarte Lledó


                                       Resenha de livro
                    Trabalhador do conhecimento: o que existe fora
                                                                        28
                           do quadrado. Por Jenner Luís Puia Ferreira


                       Resenha de boas práticas                         30
Gestão do Conhecimento em uma instituição de pesquisa: o caso da
         Embrapa. Por Leonardo P. M. de Oliveira e Jorge Tadeu Neves


                                                    Opiniões            37
    A professora Maria Terezinha Angeloni comenta uma entrevista
                dada pelo Sr. Jorge Guimarães, presidente da Capes.


                                                       Agenda           35
                                       Eventos internacionais de GC



                                       Palavra da SBGC                  36
expediente




                                                                   Expediente
          Uma publicação da:       Mônica Erichsen Nassif Borges
SBGC – Sociedade Brasileira de     Raquel Balceiro
    Gestão do Conhecimento         Resilda Rodrigues
            www.sbgc.org.br        Ricardo Roberto Behr
                                   Roberto Pacheco                   02
  Integrantes Permanentes do
                                   Rodrigo Baroni
  Conselho Científico da SBGC
                                   Serafim Firmo de Souza Ferraz
                    Presidente:    Silvio Aparecido dos Santos
      Maria Terezinha Angeloni     Sonisley Machado
                                   Walter Felix Cardoso Jr.

  Alberto Sulaiman Sade Junior     Editora-Chefe:
          Aline França de Abreu    Elisabeth Gomes
           Carlos Olavo Quandt
                  Chu Shao Yong    Produção Executiva:
                 Eduardo Moresi    Maria de Lourdes Martins
      Faimara do Rocio Strauhs     Supervisor Editorial:
Fernando Antonio Ribeiro Serra     Anderson Fagundes de Paula
      Hélio Gomes de Carvalho
                Gilson Schwartz    Jornalista Responsável:
          Guilherme Ary Ponski     Cristiano Pio MG 09315 JP
         Helena Pereira da Silva   Revisão:
                    Helena Tonet   Carolina de Oliveira Mansur
               João Amato Neto
   Jorge Tadeu de Ramos Neves      Editora de Imagens:
           José Ângelo Gregolin    Cristiane Avelar
                  José Rodrigues   Design:
                 Kira Tarapanoff   Quinto Elemento
    Marília M.R. Damiani Costa
           Moacir de M. Oliveira
                                   Revista GC Brasil
                                   gcbrasil@sbgc.org.br
Editorial




            Editorial

 03
            A Gestão do Conhecimento (GC) vem sendo tratada por alguns autores como uma
            disciplina puramente acadêmica, enquanto outros a encaram como um modelo de
            gestão que melhora a competitividade das organizações. Há, ainda, aqueles que a
            consideram apenas mais um modismo, como downsizing, qualidade, outsourcing e
            tantos outros nomes que surgiram e desapareceram, deixando um rastro nem sempre
            positivo nas organizações. Neste sentido, com o objetivo de esclarecer ao leitor do que
            se trata gerenciar uma organização usando adequadamente o conhecimento crítico
            e necessário, é que surge a GC Brasil – a revista da Sociedade Brasileira de Gestão do
            Conhecimento - SBGC.
            Vamos buscar e publicar artigos que abordem o tema com o intuito de permitir a todos
            aqueles interessados uma eficaz comunicação e troca de informações, colocando suas
            reflexões, pesquisas e experiências na área. Procuramos criar uma revista que atenda
            tanto à academia como às empresas, exatamente para desmistificar e esclarecer o
            que é “fazer Gestão do Conhecimento”. Mostrar que este assunto abrange pessoas,
            processos, tecnologias, liderança, mensuração e tantos outros conceitos que, com
            certeza, renderão vários artigos, em diversos números de nossa revista, a GC Brasil.
            Portanto, a GC Brasil apresentará, a cada número, artigos, estudos de caso, entrevistas
            e uma seleção de informações indispensáveis a todas as organizações, públicas ou
            privadas, pequenas, médias ou de grande porte, que pretendam se inserir de forma
            competitiva na sociedade global do conhecimento.
            Começamos em grande estilo trazendo uma entrevista com Karl Wiig, uma das
            maiores autoridades em GC no mundo. Nesta entrevista, Wiig coloca sua posição sobre
            a necessidade dos países terem uma política pública de GC e nos conta sobre suas
            experiências em implantar práticas de GC para empresas públicas e, principalmente,
            nos apresenta sua visão sobre o tema, considerando os benefícios e as dificuldades
            que podem surgir. Vale a pena ler, conferir, pensar e aplicar.
            Matéria da capa, as pessoas são as peças principais do jogo de Gestão do Conhecimento.
            Por isso, temos dois artigos sobre o tema: um que trata o que há de mais humano
            na gestão e outro que trata do papel do gerente na condução do processo de
            implementação de uma política de Gestão do Conhecimento.
            Com relação à competitividade empresarial, trouxemos para discutir este tema um
artigo que trata da “Gestão Estratégica do Conhecimento em Pequenas Empresas




                                                                                          Editorial
Brasileiras”, onde o autor analisa a dificuldade dessas empresas em competir num
mercado globalizado e como podem se utilizar do conhecimento para minimizar
estas barreiras.
Apresentamos um relato sobre a trajetória do CGECon – o Centro de Gestão Estratégica
do Conhecimento em Ciência e Tecnologia, do MRE. Este centro foi criado visando
disseminar conceitos e desenvolver novas técnicas e ferramentas de GC para a sociedade.
Tal objetivo foi cumprido e o CGECon tornou-se referência nacional no assunto. Neste
relato veremos que o centro inaugurou um novo relacionamento entre o Estado e
o usuário – notadamente o setor demandante de pesquisa e desenvolvimento que
passou a beneficiar-se, diretamente, de informações estratégicas coletadas, inclusive
no exterior.
Ainda, nesta edição uma resenha sobre o último livro de Davenport – “Pense Fora
do Quadrado”- porque temos certeza de que na sociedade globalizada do novo
milênio, terão voz e vez, aqueles que forem capazes de transformar informação em
conhecimento e utilizá-lo para aumentar o valor de seus produtos e serviços.               04
A sessão “Resenha de boas práticas” mostrará qual é a percepção de pesquisadores,
técnicos de nível superior e gestores de uma empresa de pesquisa sobre a contribuição
da gestão do conhecimento no cumprimento da missão dessa empresa. A GC Brasil
foi buscar um artigo que aborda este assunto, para mostrar a vocês que as práticas de
Gestão de Conhecimento dependem de pessoas e da sua percepção e credibilidade em
relação ao assunto. Ou seja, o que a empresa e, conseqüentemente, o colaborador
ganharão com isso? Confira no artigo dos professores Leonardo Paiva e Jorge
Tadeu Neves.
Na sessão “Opiniões”, a professora Maria Teresinha Angeloni comenta uma entrevista
dada pelo Sr. Jorge Guimarães, presidente da Capes (Coordenação de aperfeiçoamento
de pessoal de nível superior), no primeiro dia da 58ª Reunião Anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Guimarães avalia com otimismo a
produção científica brasileira e espera que o país ganhe novas posições nos próximos
anos.
Informações sobre eventos internacionais na área de Gestão do Conhecimento
completam o conteúdo técnico da revista.
Inaugurando uma nova sociedade, a do conhecimento, a revista termina com a sessão
Palavras da SBGC, na qual Heitor Pereira, presidente da SBGC enfatiza a importância
da GCBrasil como um veículo de socialização e compartilhamento do conhecimento.

Boa leitura e até o próximo número.




                                                  Elisabeth Gomes
                                               Editora da GC Brasil
                                  Diretora de Publicações da SBGC
Entrevista




                                        Entrevista com
                                        Karl Wiig


                                                                             consultor internacional
                                                                             Karl Wiig




                                                        a expressão Knowledge Management
                                                        (KM). Por e-mail, enviado a um amigo,
                                                        o Sr. teria se desculpado por não ter
                                                        encontrado uma expressão que efetivamen-
             Entrevista com o consultor internacional   te expressasse a busca por este ideal. Qual é
             Karl Wiig                                  sua posição atualmente?

             Karl Wiig é CEO e Chairman do              KW: Eu não tenho certeza se meu grupo foi
             Knowledge Research Institute, Inc.         o primeiro a utilizar a expressão ‘Knowledge
             e tem se debruçado sobre a gestão          Management’, embora tenhamos publicado
             avançada do capital intelectual nas        uma brochura no início da década de 80
             organizações. É autor de cinco livros      com tais palavras. Após todos estes anos
             e imensos artigos e é o co-fundador        já não acho que o termo KM descreva
             da International Knowledge Mana-           precisamente as atividades e domínios
             gement Network. Trabalha como              que atualmente incorporam a KM. Hoje,
             consultor e aplica perspectivas e          incluímos Tecnologia de Informação e
             princípios das Ciências Sistêmicas, de     Comunicação (TIC), Capital Intelectual,
             Gestão, de Informação, Cognitivas,         práticas relacionadas a Gestão de Conhe-
             Sociais e Econômicas.                      cimento e até mesmo gerenciamento da
                                                        filosofia e capital intelectual/conhecimento
             A GCBrasil agradece ao Dr. Cláudio         – relativo a oportunidades estratégicas – só
             Terra o acesso ao Dr Karl Wiig para        para dar alguns exemplos. Há ainda outro
             viabilizar esta entrevista.                aspecto importante que me faz hesitar
                                                        quando considero o termo KM: muitas
             1. No hemisfério ocidental o Sr. foi a     organizações pró-ativas que perseguem o
             primeira pessoa a falar sobre Gestão       que podemos considerar como um avançado
             do Conhecimento. É de sua autoria          e deliberado KM nunca utilizam este termo.
Ao invés disso, consideram seu capital            iniciativas são baseadas em TICs




                                                                                         Entrevista
intelectual/conhecimento como iniciativas         devo frisar que os participantes
relacionadas e práticas fundamentais a uma        mais importantes não são o staff
gestão integrada.                                 de tecnologia. Ao contrário, os mais
                                                  relevantes são aqueles que irão uti-
2. Em sua opinião a administração pública         lizar comunidades e os líderes dos
pode vir a ter problemas caso o Estado não        negócios que serão beneficiados.
adote uma política de KM? De que forma
esses problemas poderão ser intensificados         4. Quais os benefícios diretos que o
na falta desta política?                          estado pode obter implementando
                                                  KM?
KW: Sim, nenhum país é totalmente auto-
suficiente e isolado do restante do mundo.         KW: Devemos lembrar que implici-
Todos precisam criar valores agregados a          tamente KM vem sendo conduzido
serviços e produtos por meio de especialistas.    em todas as organizações para
                                                                                          06
Acredito, assim como muitos outros, que no        educar e construir competências. O
atual mundo globalizado, países e regiões         governo será beneficiado em vários
pequenas precisam continuar a aumentar            pontos, de diversas maneiras. Pro-
seu capital intelectual para serem aceitos a      jetos de KM usando TIC permitirão a
participar da economia global baseada no          automação de rotinas e sub-rotinas
conhecimento. Está cada vez mais evidente         conduzidas por especialistas no
que não é mais suficiente criar exportações        assunto. Tais sistemas irão prover
baseadas em mão-de-obra barata. O                 serviços mais consistentes, rápidos
crescimento da China e Índia está cons-           e baratos, por exemplo. No entanto,
truindo um modelo e outras especialidades         o mais importante é que as
baseadas em conhecimento para que                 pessoas sejam o foco do KM e per-
possam continuar sendo competitivas               mitam que os servidores públicos
nos mercados mundiais.                            construam melhores competências
                                                  e habilidades para assumir maiores
3. Quais devem ser as pessoas envolvidas na       responsabilidades a fim de atuarem
implementação de uma política pública de          em trabalhos não rotineiros de forma
KM? O envolvimento dos líderes é essencial        mais rápida,compreendendo desafios
ao processo?                                      e tomando melhores decisões.

KW: Como existem muitas iniciativas de KM,        5. O Sr. poderia nos contar alguma
a liderança e o envolvimento dependem da          experiência sua aplicando KM na
natureza da iniciativa. Na minha opinião,         administração pública?
as mais importantes iniciativas de KM
envolvem pessoas focadas em construção            KW: Tive a sorte de trabalhar com
e compartilhamento de conhecimento (tais          muitas instituições governamen-
como comunidades de prática e colaboração         tais nos Estados Unidos, Arábia
interdisciplinar). Claramente estas iniciativas   Saudita, África do Sul, Venezuela,
envolverão os participantes e seus gestores       Austrália, Sudoeste Asiático e nos
imediatos, bem como os executivos mais            Países Nórdicos nos últimos 40
antigos (seniors) cujas operações serão           anos e aprendi bastante sobre as
beneficiadas por estes esforços. Como as           complexidades e dificuldades que
estas instituições enfrentam. Parte      7. A exclusão digital é discutida no mundo
Entrevista



             do meu trabalho foi diretamente          como uma fronteira de crescimento às
             relacionado à KM, tanto com TICs         pessoas que não tem acesso à informação
             quanto com pessoas. Já outros            e ao conhecimento. No futuro, países que
             trabalhos foram em áreas correlatas,     não adotarem uma efetiva política de KM
             tais como criação de sistemas de         poderão comprometer sua atuação no
             planejamento e transferência de          cenário mundial?
             tecnologia.
                                                      KW: Bem, já que em minha opinião TIC é
             6. A gestão do conhecimento traz         apenas uma função suporte para KM, a
             consigo, no âmbito empresarial,          exclusão digital não é necessariamente
             uma ênfase em inovação, fruto da         parte das políticas de KM de uma nação.
             necessidade de sobrevivência no          Tendo isso em mente, exclusão digital
             mercado competitivo da iniciativa        (considerada como acesso reduzido a in-
             privada. Uma vez longe desta preo-       ternet ou assistentes pessoais digitais
 07          cupação - com a concorrência - os        limitados) irá certamente reduzir o acesso
             governos deverão ocupar-se em traçar     à informação e conseqüentemente reduzir
             um foco mais voltado para a política     a eficácia e aumentar a resistência de
             pública. A transparência pode ser este   muitas funções comerciais. Observe que
             foco no âmbito governamental?            informação e conhecimento não são parte
                                                      de um continuum. O objetivo da informação
             KW: Neste sentido, acredito que          é descrever situações. Já o propósito do
             estamos lidando com um enga-             conhecimento é utilizar informação para
             no relacionado ao papel dos go-          avaliar situações, decidir o que fazer com
             vernos – nacionais e regionais.          elas e realizar as decisões.
             Na minha experiência, o maior
             propósito de qualquer governo é          8. Em sua opinião existem pontos comuns
             guiar e gerenciar progressos e mu-       entre usar KM no governo e na iniciativa
             danças – de pessoas, perspectivas,       privada? Quais seriam eles?
             potencialidades, condições globais –
             todas mudam continuamente para           KW: Na prática, há muitos detalhes se-
             fazer a sociedade trabalhar melhor       melhantes ao adotar práticas de KM nos
             e para prosseguir com o restante         setores público e privado. Entretanto, tam-
             do mundo! Isto atinge um jogo            bém há muitas diferenças. Por exemplo, nos
             duplamente competitivo: um jogo          Países Nórdicos parte da estratégia de KM é
             competitivo contra uma natureza          voltada para que a assistência pré-natal seja
             passiva, porém em constante              administrada com o objetivo de assegurar
             mudança e um jogo contra a com-          que as crianças que nascem e crescem
             petição pró-ativa conduzida pelo         tenham as melhores habilidades possíveis
             homem. Tal finalidade conduz a            para aprender e se transformarem em tra-
             exigências contínuas para um co-         balhadores com conhecimentos valiosos.
             nhecimento cada vez melhor para          Em Singapura, eles têm como parte da
             apoiar uma manipulação oportuna          estratégia de KM, redesenhar seu sistema
             e competente do trabalho que varia       prisional com edifícios novos e programas
             de tarefas rotineiras para outras que    educacionais para verificar se seus cidadãos,
             requerem inovação.                       ao serem liberados do cárcere, serão capazes
de estabelecer papéis como trabalhadores          investimentos financeiros como




                                                                                        Entrevista
de conhecimento. Isto é motivado por suas         pensado previamente), é importan-
indicações de que “O único recurso que            te planejar e implementar progra-
temos aqui em Singapura é o intelecto             mas amplos para educação em ge-
das pessoas”. Além disso, o setor público         ral, de crianças a adultos como se
precisa criar leis e regulamentações para         persegue em muitas nações, desde
resguardar seu capital intelectual, tanto         Singapura e Taiwan até Alemanha,
público quanto privado. Pela perspectiva          Holanda e os Países Nórdicos como
da KM-TIC, deve haver considerações para          Dinamarca, Finlândia, Islândia, No-
criar um conhecimento de base nacional,           ruega, Suécia, seguidos de perto
adotando padrões que são conhecimentos            pela Estônia. Uma infra-estrutura
relacionados, e assim por diante.                 geral e extensa de TICs também é
                                                  muito importante.
9. O lançamento do capital intelectual
no balanço empresarial é visto de uma
forma positiva pelos acionistas? Isto tem                                                08
importância? Caso seja positivo, há exemplos
conhecidos?

KW: Neste sentido, penso estarmos ainda
no começo. Enquanto algumas companhias
avançadas (por exemplo, Skandia, Boeing,
Intergraph, General Electric, Nokia, Tata
Steel Company, Statoil, Unilever) incorporam
scorecards de capital intelectual e até mes-
mo dashboards em suas folhas de balanço,
esta prática não se espalhou extensamente.
Parece haver interesse dos acionistas no
capital intelectual e seus componentes
– e várias companhias européias têm incor-
porado tal contabilidade em seus balanços
anuais de 2004 e 2005.

10. Para encerrar, o Sr. poderia sugerir alguma
recomendação ao Governo brasileiro de como
aplicar KM em benefício da sociedade?

KW: Bem, para fornecer recomendações
específicas, precisaria me familiarizar com
os desafios que devem ser dirigidos com
iniciativas de KM no Brasil. Entretanto,
muitas considerações genéricas podem
ser endereçadas. Por exemplo, como está
sendo aceito que conhecimento – capital
intelectual – é o condutor do crescimento
econô-mico (melhor que o capital e os
Artigo 02
   A Gestão do
 Conhecimento
O que há de mais humano
               na gestão.
                                                                                  10
                                                             Saulo Figueiredo
  Diretor da Soft Consultoria - Professor do programa de Pós-Graduação da FASP
                                  Pós-graduado em Engenharia da Informação
                                                      sfigueiredo@soft.com.br
INTRODUÇÃO:                              I – CAÇA AO DESPERDÍCIO DE TALENTOS:
Artigo 02



            A necessidade de Gestão do Conhe-        É muito comum percebemos colaboradores
            cimento (GC) é uma realidade em          atuando em posições que nada tem a ver
            nossos dias, contudo, a prática dela     com suas aspirações, potencial e força de
            é uma “ficha que ainda não caiu”          trabalho. A pessoa certa no local certo é,
            para muitas organizações. A falta        portanto, fruto da mais pura GC. Pessoas
            de ampla compreensão da GC e a           atuando em local indevido ou incompatível
            adoção de práticas essencialmente        com o saber, talento e aspirações, além
            focadas na informação atrasam sua        de resul-tar em prejuízos, caracterizam
            “decolagem” no meio empresarial.         uma situação de desperdícios quando
            Infelizmente, muitos não se deram        diante da existência de postos mais apro-
            co nt a ainda que pelo fato do           priados aos interesses corporativos e ao de-
            co nhecimento ser essencialmente         senvolvimento e desempenho delas. Este
            humano, não é possível alcançar a        tipo de desarranjo pode ser considerado
            GC sem se molhar e mergulhar no          um tipo de desperdício de talentos, que é
 11         oceano da humanidade. Ir além            completamente incoerente com a GC.
            da administração dos recursos            Hoje em dia muitos dos processos su-
            tangíveis e da força e empenho           cessórios são traumáticos, não porque as
            muscular são apenas algumas das          empresas não têm sucessores à altura dos
            boas novas da administração que,         talentos a serem substituídos, mas, princi-
            em conjunto, fazem da GC o lado          palmente, por que elas não os conhecem.
            mais humano da gestão.                   Os talentos raramente são descobertos e
            E, falando, sobre oceano, nenhuma        treinados com a devida antece-dência.
            outra analogia seria tão perfeita        Além do desperdício das potencialidades
            quanto à do efeito iceberg, para         internas, as contrata-ções externas podem
            denunciar a freqüência com que           gerar desmotivação em talentos poten-
            as pessoas apenas executam o tra-        cialmente capazes para ocupar as vagas em
            balho de GC visível, acima da linha      aberto, contrari-ando a própria GC.
            d’água, fazendo e alcançando a-          Não pensando exclusiva-mente nos processos
            penas tímidos vinte por cento de         sucessórios, a atuação coerente em GC
            resultados de todo o potencial. Ain-     exige dos gerentes, a descoberta perene
            da não tão claro assim, os diferenci-    de talentos nas empresas, também para
            ais em GC, normalmente são obtidos       ocupar postos e cargos novos, resolver
            abaixo da linha d’água, sendo crítico    desafios empresariais mais complexos,
            e função nossa, explorar também          resolver problemas dos clientes e uma
            esta parte submersa do “iceberg”,        infinidade de atividades relacionadas
            de mais difícil acesso e visualização.   com a aplicação do conhecimento.
            Neste artigo, sem esgotar os oitenta     Por desconhecer, não descobrir potenci-
            por cento normalmente submersos,         alidades do conhecimento e por deixar de
            comentarei algumas atuações em           usá-las em casos específicos, tanto nossa
            GC não tão mencionadas como              nação e sociedade, quanto nossas empresas
            práticas, por se acharem quase           amar-gam perdas expressivas e prejuízos
            que completamente inundadas e            todos os anos. Com muita propriedade, a GC
            geladas neste oceano corporativo,        deve se dedicar à identificação e desenvol-
            mas que precisam ser reveladas e         vimento de potencialidades escondidas.
            trazidas à luz.
II – SÓ ATITUDE NÃO BASTA.                     ensinar e solicitar ajuda, ensina-




                                                                                                  Artigo 02
Muitos gerentes estimulam a atitude (ação)     mentos e apoio, do que outras. A
como se bastasse ao sucesso, mas se esque-     GC exige que treinemos nossos
cem que a atitude é, sim, fundamental quan-    colaboradores a se comportarem
do acompanhada de conhecimentos, habili-       pró-ativamente em favor da busca
dades, experiências, métodos e contexto.       e obtenção do saber.
Atitude por atitude, sem o conhecimento        A frase de Michel de Montaigne é
como suporte pode ser terrível. Não por        no mínimo ilustrativa em relação
acaso, Goethe afirmava não existir nada mais    a este interesse e prática: “Quem
triste do que a ignorância em ação. Embora     quiser se curar da ignorância precisa
importante, a atuação desacompanhada           confessá-la”. O fato é que precisa-
de conhecimen-tos quase sempre depõem          mos estimular nas pessoas não
contra a organização. Isso porque só a ati-    somente a curiosidade, precisamos
tude não basta. É preciso a atitude certa      fazer com que os indivíduos pas-
(com conhecimentos). Quanto mais atitudes      sem a reconhecer seus limites do
incorretas as pessoas tomam, pior para a       saber e do não saber. Precisamos                    12
empresa. O empowerment sem competência         ensinar os nossos funcionários a
é trágico. A competência sem atitude é         pedir ajuda, a explicar melhor sobre
inútil. Mas ainda pior que a competência       o que necessitam, a compartilhar
sem atitude são atitudes sem competência,      problemas,a identificar
devendo estas despertar a atenção da GC.       e localizar peritos em
                                               conhecimentos espe-          “A GC exige que
III - ESQUEÇO, ABANDONO, LOGO, EU NÃO          cíficos,a detalhar o tipo     treinemos os
USO.                                           de ajuda que precisam,       colaboradores a se
O que está abandonado pode ser considerado     a solicitar sugestões, a     comportarem
desconhecido e vice-versa. Dessa forma, a      compartilhar com os          pró-ativamente em
caça de um e de outro sempre é relevante       outros o que aprendeu        favor da busca e da
à GC. Localizar colaboradores e recursos       (mesmo que seja a            obtenção do saber”.
“abandonados” ou não considerados pela         partir de erros), a se
estratégia tem grande importância corpo-       apresentar sempre a
rativa. Se existem pessoas com potencial,      disposição para apren-
ilhadas, alocadas em trabalhos paralisantes    der e ensinar algo, a valorizar os que
que não geram crescimento, escondidas          sabem e os que pedem ajuda e etc.
em rotinas e etc, isto deve ser descoberto e
tratado à luz da GC, pois onde se encontram,   V – A DIFERENÇA ENTRE O QUE OS
jamais poderão gerar e/ou aplicar o poten-     FUNCIONÁRIOS SABEM E O QUE
cial dos conhecimentos reprimidos. O que       REALMENTE APLICAM.
está abandonado pode estar esquecido e se      Muito do “patrimônio” intelectual
está esquecido está também à margem da GC,     da companhia pode ser usado, mas
portanto, de qualquer interesse empresarial.   não pode por ela ser obtido. Esta
                                               parte importante “se torna pro-
IV – ENSINAR A ABORDAR O CONHECI-              priedade” da empresa apenas en-
MENTO, A PEDIR AJUDA E A APRENDER COM          quanto aplicada voluntariamente
OS COLEGAS.                                    a seu favor. Além de ser a soma
Algumas pessoas, e não só no ambiente          do conhecimento mobilizado (co-
corporativo, possuem mais habilidades para     locado em ação) pelos funcionários,
o Capital Intelectual compreende           e social do saber.
Artigo 02



                   e impacta a maneira de atuar, a            Concluindo este artigo, na próxima edição
                   inteligência dos processos de negó-        divulgarei outros seis exem-plos de atuações
                  cio e produção, a capacidade e a inte-      relevantes em GC.
                  ligência de relacionamento com os
                  clientes, fornecedores e parceiros, o       Bibliografia:
                  modo como opera, distribui, vende           Figueiredo, Saulo - Gestão do Conheci-mento
                  e atua na cadeia de valor, aplicações       - Estratégia Competitivas para a Criação e
                  de software, patentes registradas,          Mobilização do Conhecimento - QualityMark Ed.
                  fórmulas secretas, marcas, imagem           2005
                  e etc. Além de cuidar e cultivar os
                  ativos intangíveis de valor, a Gestão
                  do Capital Intelectual, deve se
                 certificar de que o pessoal esteja
13               aplicando o saber em benefício da
                                organização.
                                Se não houver disposi-
  “Se não houver disposição,
                                ção, motivação, empatia,
        motivação, empatia,
                                propósito e atitude da
      propósito e atitude da
                                melhor qualidade para
     melhor qualidade para
                                aplicação generalizada
     aplicação generalizada
                                de conhecimentos, de
       de conhecimentos, de
                                nada valerá o saber.
            nada valerá o saber”.

                                   CONCLUSÃO
                      Voltando à metáfora do iceberg
                      para caracterizar o estágio da GC
                      atual, a conclusão é que muitas
                      empresas apenas arranham a
                      superfície do enorme “bloco de gelo”,
                      extraindo apenas benefícios dos
                      conhecimentos localizados na parte
                      visível acima da linha d’água. Por
                      desconhecerem a amplitude de GC,
                      gastam muito tempo obtendo o que
                      todo mundo obtém, não construindo
                      diferenciais competitivos de valor
                      a partir da prática da genuína GC.
                      Ainda que seja içando os icebergs
                      ou estancando os oceanos, continua
                      premente aproveitar as riquezas lo-
                      calizadas abaixo da linha d’água,
                      pois estas serão imprescindíveis à
                      criação de um mundo melhor, em
                      um planeta, por incrível que pareça,
                      ainda tão carente da prática efetiva
A importância dos gerentes
    na condução da gestão
         do conhecimento


                                               Frank Astor do Nascimento
      Professor do Departamento de Administração da Faculdade Simonsen
  Mestre em Administração pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
                                                         fastor@oi.com.br
Artigo 03




                                                  capacidade produtiva aonde os melhores
                                                  trabalhadores deveriam ser estimulados
                                                  a serem cada vez mais produtivos através
                                                  de ganhos.
                                                  Em 1895, Taylor apresentou à sociedade
            INTRODUÇÃO.
                                                  o que é considerado o primeiro trabalho
 15         Com a evolução do mundo capi-
                                                  da administração científica : A Piece-rate
            talista, o processo de produção
                                                  system (um sistema de pagamento por
            sofreu profundas mudanças, fa-
                                                  peças) (...) ele propõe um método para
            zendo surgir, assim um novo mo-
                                                  eliminar a diminuição do valor pago por
            delo profissional, o colaborador da
                                                  peça (...) de forma que o trabalhador passou
            Gestão do Conhecimento, deixan-
                                                  a produzir o suficiente para garantir um
            do de ser somente um trabalhador
                                                  bom nível salarial. aximiano (2005, 56)
            comum voltado para a produção,
                                                  Nessa época as empresas começaram a
            para tornar-se um ser pensante e
                                                  conseguir ganhos de produtividade, deu-
            participativo.
                                                  se ênfase ao modelo do esforço repetitivo,
            Nesse novo padrão, a relação
                                                  à capacidade do desenvolvimento braçal,
            entre chefes e subordinados de-
                                                  o desenvolvimento intelectual estava
            verão ser aprimoradas, caberá
                                                  designado aos níveis hierárquico mais
            dar aos gerentes a capacidade de
                                                  altos, os administradores da época, não
            trabalhar cabeças produtivas e
                                                  davam a importância ao desenvolvimento
            pensantes, aquele que opina, mas,
                                                  da inteligência do funcionário, cabia ao
            para isso, precisa existir nos lí-
                                                  gerente a função de administrar, a função
            deres um mínimo de capacidade de
                                                  técnica cabia ao operador, aquele que era
            conhecimento, uma formação con-
                                                  responsável pela produção.
            dizente com o cargo que ocupa, para
                                                  Nos moldes daquela época aos dias de
            poder gerar um ambiente propício.
                                                  hoje, existiu uma evolução do perfil do
                                                  trabalhador, ele deixou de ser mecânico
            A EVOLUÇÃO DO PROFISSIONAL.
                                                  para se tornar pensante, trabalhando,
            A crescente evolução na produção
                                                  assim, com um capital humano não só
            nos dias atuais teve como pedra de
                                                  para torná-lo competente, mas, também,
            esquina, o processo mecanicista de
                                                  participativo, alguém que pense e seja
            produção, salientado por Frederick
                                                  competente o bastante para assumir
            Winslow Taylor e seus seguidores,
                                                  responsabilidades.
            da administração científica, tra-
                                                  Para Bahry & Tolfo (2004, 42) “a palavra
            zendo nesse período a visão
                                                  competência tem assumido significados
            do homem comparado a uma
                                                  variados no mundo do trabalho, e alguns
            máquina, incentivado pela sua
deles estão mais voltados para as pessoas      organizacional, isso requer a




                                                                                     Artigo 03
(conhecimentos, habilidades e atitudes) e      aplicação profundado conhecimen-
outros para as tarefas (resultados)”.          to ao conhecimento.”Para o referido
Como se prepara no capitalismo pós-            autor o papel do gerente terá uma
moderno a mão-de-obra produtiva? Hoje é        importância primordial.
importante destacar a relação entre traba-     Como em todo o mundo, ocorreu
lhador e a sua formação; nesse contexto,       no Brasil uma transição, embora
o maior desafio de uma organização de-         que tardia, da evolução do perfil
ve ser o de criar a cultura voltada para o     dos profissionais; aos poucos foi
aprender a aprender, segundo Zabot &           acontecendo a evolução. Hoje,
Silva (2002, 95) “para instalar a cultura da   muitas empresas tem buscado
aprendizagem, é necessária compreensão         inseminar o      desenvolvimento
clara das novas diretrizes de uma tarefa       dos seus colaboradores. Mas
educativa voltada não mais para o ensino,      como os gerentes estão lidando
mas para a aprendizagem”.                      com essa questão? Será mesmo
Não basta inserir no profissional um           que aqueles responsáveis pelo          16
conhecimento específico da empresa,            desenvolvimento do grupo, têm
ou, até mesmo, colocá-lo para realizar         realmente essa capacidade?
cursos dentro dos moldes da instituição;
existe, hoje, a necessidade de se trabalhar    RESULTADOS DA PESQUISA.
habilidades, ou, até mesmo, “gênios”,          O trabalho realizado buscou
que se não encontrarem um ambiente             observar a relação entre o chefe
propício e estimulante certamente não          e o funcionário, no que tange
permanecerão, levarão consigo toda a           o nível de escolaridade. Com
bagagem de anos de experiência, e, às          isso, observou-se que muitos
vezes, para o seu maior concorrente, (...)     gerentes não possuem uma
tornar o conhecimento produtivo requer         escolaridade condizente ao nível
que ele seja focalizado com clareza e alta     hierárquico assumido, pois, para
concentração. Quer seja feito por um           desenvolvimento de pessoal é
indivíduo ou por uma equipe, o esforço         necessário o conhecimento das
com o conhecimento requer determina-           teorias inseridas nas faculdades.
ção e organização. Não se trata de um          Não coloca-se aqui a área acadê-
“lampejo de gênio”, mas de trabalho duro.      mica, mas pelo menos um mínimo
Drucker (1999, 182).                           de nível intelectual teórico. Para
A teoria dos Recursos Humanos (RH)             Zabot & Silva (2002, 89) “todos
mostra que captar pessoas faz parte de um      esses fatores levam à necessidade
todo, não basta selecionar, realizar grandes   de mudança no perfil dos ad-
processos de seleção, mas fazer com que o      ministradores, e cabe ressaltar
escolhido, dentre centenas ou até mesmo        o papel fundamental que as
milhares, alcance os objetivos propostos       universidades exercem em sua
pela instituição, prepará-lo para o novo       formação.” Os gerentes devem
ambiente e torná-lo produtivo, isso é que      possuir um mínimo de preparo
será o grande enigma, para Chiavenato          para lidarem com o profissional
(1999, 291) “tornar o conhecimento             do capital intelectual, devem ser
produtivo é uma responsabilidade               lapidados para isso, para Dessler
gerencial. Mais do que isso, um desafio         (2003, 152) “muitas organizações
têm oferecido seminários e con-        muitos casos, torna-se desestimulante.
Artigo 03



                   ferências direcionadas ao desen-       Ao empregado que está cursando uma
                   volvimento de gerentes (...) os        faculdade cabe ter a esperança de que
                   mesmos são ministrados por uni-        um dia ele irá mudar, nem que seja de
                   versidades e faculdades”.              empresa.
                   O estudo de campo foi feito em
                   duas etapas; na primeira foi           Bibliografia.
                   perguntado o nível de escolaridade     BAHRY, C. P.; TOLFO, S. R., A gestão de com-
                   do chefe para trabalhadores em         petências e a obtenção de vantagem compe-
                   geral, indiferentemente do seu ní-     titiva sustentável em organizações bancárias.
                   vel de escolaridade. Na segunda        Revista de Administração Mackenzie, v. 5, n. 2,
                   etapa foi feita a mesma pergunta,      p. 37-54, 2004.
                   mas somente para trabalhadores         CHIAVENATO, I., Gestão de pessoas. Rio de
                   que possuíam o 3º grau completo        Janeiro: Ed. Campus, 1999.
                   ou em curso.                           DESSLER, G., Administração de Recursos Huma-
 17                Na primeira coleta, o resultado        nos. São Paulo: Prentice Hall, 2003
                   mostrou que 31% (trinta e um por       DRUCKER, P., Sociedade pós-capitalista. São
                   cento) dos trabalhadores no geral      Paulo: Ed. Pioneira, 1999.
                   possuíam chefes com até o 2ºgrau       MAXIMIANO, A.. C. A.., Teoria Geral da Ad-
                   completo. Quando se direcionou         ministração: da revolução Urbana à Revolução
                   aos alunos graduados ou em             Digital. São Paulo: Ed. Atlas, 2005.
                   curso de graduação a pesquisa          ZABOT, J. B. M. & SILVA, L. C. M. Gestão do Conhe-
                   demonstrou que 29% (vinte e            cimento. São Paulo: Ed. Atlas, 2002.
                   nove por cento) tinham chefes
                                imediatos com o nível
                                de escolaridade até 2º
     “O Conhecimento tem
                                grau completo.
   sido criados, divulgados,
                                As perguntas que de-
    publicados. Todavia, há
                                verão serem feitas são:
       poucos manuais – se
                                como um chefe gerencia
       houver – sobre como
                                uma pessoa com nível
     Implementar a Gestão
                                de escolaridade maior
          do Conhecimento
                                que a dele? Como ele
           na Organização”.
                                se comportará diante
                                disso? Será que ele
                   terá a capacidade de trabalhar
                   poten-cialidades ou até mesmo
                   de observar potencialidades? Se-
                   rá que tudo isso apontado teria
                   alguma relevância?

                CONCLUSÃO.
                A pesquisa realizada apontou a
                importância de um chefe no preparo
                do capital do conhecimento na
                iniciativa privada. Essa relação, em
Gestão Estratégica do
Conhecimento em Pequenas
      Empresas Brasileiras
                               Fabio Márcio Dias da Silva
            Bacharel em Administração de Empresas pela
                               Universidade Estácio de Sá
                    desenvolvimentogerencial@bol.com.br
Artigo 04
INTRODUÇÃO
O tema da Gestão do Conhecimento não
se constitui assunto esgotado, embora
já venha sendo tratado com muita
propriedade por diversos autores a partir
da segunda metade do século XX (SVEYBI,
1998).
Com isso, verifica-se a necessidade
constante de discussão a respeito do
assunto. Esta reflexão por sua vez é
fruto da importância do conhecimento
para as empresas em todo o mundo. No         20
entanto é preciso estabelecer o tópico
central para a discussão da Gestão do
Conhecimento. Este tópico diz respeito
à mudança de postura que as empresas
de todo o mundo estão adotando para
realizar suas atividades, considerando-
se o fato de vivenciarmos uma nova
era social, tecnológica e organizacional,
onde o elemento humano ganha
destaque capital. Toffler (1999) destaca
que o capitalismo moderno chega em
seu momento crucial, pois não há mais
fronteiras dentro ou fora da organização.
Em decorrência disso, a comunicação
e o tempo despontam como variáveis
imprescindíveis para tomada de decisão,
pois se observa que o estreitamento
geográfico, a interação entre pessoas,
organizações e países, gerada pelo gigan-
tesco avanço das telecomunicações, esta-
belecem o centro de gravidade para a
discussão da Gestão do Conhecimento.
Com o advento da Globalização tornou-se
necessária a concepção de novos modelos
de gestão, em oposição ao antagonismo
causado por este fenômeno.Tal indicação
se apresenta como um divisor de águas
para a atividade empresarial, uma vez que
não se concebe mais realizar negócios
seguindo velhos paradigmas.
Deste modo, uma economia forte é
resultado do crescimento de suas       Sendo assim, pretende-se esta-belecer as
Artigo 04



            empresas e este crescimento de-        premissas da Gestão do Conhecimento,
            ve-se à organização de negócios        voltadas para a consolidação da atividade
            voltados para a expansão e ino-        empresarial, e que possam melhorar seu
            vação de produtos e serviços, e,       desempenho por meio de critérios de
            principalmente, ao modo de ad-         simples assimilação por parte das pequenas
            ministrar os recursos que elas         empresas brasileiras da nova economia.
            têm a disposição, devendo ser          A partir da década de 1990 as empresas
            transformados em resultados atra-      brasileiras passaram a adotar um com-
            vés do conhecimento humano.            portamento mais profissional, diante das
            Nonaka e Takeushi (1997) vislum-       bruscas mudanças impostas pelo acirra-
            braram a questão do fluxo do            mento da concorrência internacional.
            conhecimento nas organizações,         A volatilidade do capital financeiro e a
            alertando para que seu geren-          escassez de recursos materiais à disposição
            ciamento se torne uma ação             fez com que o empresariado brasileiro re-
 21         empresarial.                           pensasse seus mecanismos de criação de
            Como já observado, as pessoas são      bens e serviços. Tal acontecimento trouxe à
            as responsáveis pelo desdobramen-      baila a questão da inovação constante, uma
            to da Informação em Conhecimento.      vez que a necessidade do cliente passou a
            Tal modelo visa demonstrar que, se     ser entendida como ponto central para os
            uma empresa pretende atender           negócios da Era da Informação.
            a seus clientes, onde quer que         Portanto, é de fundamental importân-cia
            eles estejam, em tempo real, com       para os pequenos empresários entenderem
            qualidade e preços adequados, é        que somente será possível extrapolar as
            essencial abrir a câmara secreta das   expectativas de seus clientes se forem
            idéias de todos aqueles que fazem      capazes de somar os esforços internos
            parte do processo organizacional.      e externos, extraindo, processando e
            Com isso, o conhecimento orga-         convertendo eficiente e eficazmente
            nizacional bem gerenciado, pode        informação em conhecimento.
            tornar as pequenas empresas brasi-     Com isso, a Gestão do Conhecimento
            leiras mais produtivas, competitivas   impulsiona-se como novo instru-mento de
            e melhor alinhadas com a realidade     tomada de decisão rápida e produtiva, por
            enfrentada pela economia global.       direcionar as empresas e seus membros
            Ressalta-se que a Gestão do Co-        para a criação de uma organização intensiva
            nhecimento, em oposição ao             em conhecimento.
            senso comum, não depende               Notadamente, os trabalhos cientí-ficos já
            exclusivamente de grande volume        encaminhados trazem uma perspectiva
            de investimento em tecnologia de       inexorável para o tema, por dar aos re-
            informação para ser implementada,      cursos intangíveis e ao conhecimento
            e que não se configura um privilégio    tácito o merecido destaque na criação do
            das grandes corporações.               conhecimento corporativo.
            Daí tratarmos deste assunto voltado    De acordo com este entendimento, adotar
            para as pequenas empresas, já que      um compromisso de difusão sistemática e
            elas representam uma parcela vital     ampla do conhecimento pela organização
            da atividade econômica em nosso        antes que seus concorrentes o façam é
            país.                                  a chave para o sucesso das pequenas
organizações brasileiras.                       Brasileiras concentrem-se em:




                                                                                      Artigo 04
Neste sentido, as organizações devem definir     • Criar um eixo estratégico desa-
suas metas e objetivos de longo prazo, a fim     fiador e facilitador da inovação
de alcançarem a perenidade de seu negócio,      permanente, tendo no tempo sua
como parte de um conjunto de atitudes que       maior ferramenta para tomada de
poderão dar solidez as suas operações.          decisão precisa e consistente;
No entanto, o campo de atuação da               • Estabelecer uma cultura inovadora
Estratégia Empresarial é muito amplo, o         e auto-desenvolvedora que estimu-
que torna a interpretação dos conceitos         le a participação dos funcionários,
um grande exercício de reflexão, dadas às        encorajando-os a contribuir com
inúmeras definições e metodologias empre-        cada processo;
gadas (COSTA, 2002).                            • Construir uma estrutura orga-
Verifica-se, então, a importância de uma         nizacional que torne possível os
gestão planejada, por parte do empre-           relacionamentos e favoreça o flu-
sariado, principalmente no que tange ao         xo de conhecimento, através de
conhecimento organizacional, voltado para                                              22
                                                processos informais de troca de
objeti-vos mais amplos. O tema ganha            experiências, permitindo o trabalho
ain-da mais relevância, se consideradas as      em equipe;
peculiaridades da economia Brasileira.          • Adotar uma estratégia de re-
Terra e Kruglianskas (2003, p. XIII) afirmam     cursos     humanos       coadunados
que “os conceitos e práticas da Gestão do       como os objetivos organizacionais,
Conhecimento podem ser aplicados, com           onde prevaleça uma política equili-
bons resultados, à realidade da pequena [...]   brada de admissões, carreiras e
empresa nacional.”                              recompensas atrativas ao capital
Este desafio das Pequenas Empresas da Nova       intelectual;
Economia somente poderá ser superado            • Desenvolvimento de uma es-
com o consenso de que o único recurso à         trutura informacional que auxilie
disposição de toda e qualquer organização,      na conversão, disseminação, com-
lucrativa ou não, são as pessoas e suas         partilhamento, armazenamento e
competências (WOOD Jr., 2004).                  reuso do conhecimento;
Tal base conceitual revela um caráter           • Adoção de métricas para reco-
prático e objetivo, que trata da criação do     nhecimento da evolução dos
conhecimento organizacional no nível do         resultados produzidos pela ação
ambiente de negócios, pautado na Estratégia     estratégica, avaliando o compo-
Empresarial, infraestrutura organizacional      nente humano ou capital humano,
e relacionamento corporativo, servindo          o componente intelectual ou
de suporte para o desenvolvimento das           capital intelectual e o componente
organizações de aprendizagem (PINHEIRO,         estrutural ou capital estrutural,
2002).                                          utilizando-se de ferramentas de
Pinheiro (idem, p.40) ressalta ainda que “o     gestão para medí-los, levando em
êxito da empresa está diretamente ligado        consideração os aspectos finan-
à capacidade de domínio do conjunto de          ceiros e não financeiros;
habilidades e competências importantes          • Já a sétima dimensão relaciona-
para seus clientes.” De modo amplo,             se ao aprendizado com outras
Terra e Kruglianskas (2003) destacam ser        organizações, através da conso-
importante que as Pequenas Empresas             lidação de alianças estratégicas
para satisfação de mútuas ne-           e de recursos humanos para que possam
Artigo 04



            cessidades.                             competir em igualdade de condições em
            Sob este enfoque, conclui-se que,       qualquer mercado e em tempo real.
            na economia do que é tangível,          Em última análise, estamos entrando na
            destaca-se apenas a quantidade          era do esforço coletivo, onde as redes de
            do que é produzido, no entanto, na      pessoas e seus conhecimentos formam a
            nova economia, o principal atributo     nova consciência empresarial, e é sob esta
            para a diferenciação é a inovação.      bandeira que as pequenas organizações
            Não somente a inovação para criar       brasileiras avançam corajosamente no
            novos produtos e serviços, mas,         novo milênio.
            sobretudo, para criar novas formas
            de se relacionar com as pessoas         Bibliografia
            e outras empresas, levando-nos          CAVALCANTI, Marcos. ALMEIDA, Eliza-beth Gomes.
            a entender que uma pequena              PEREIRA NETO, André. F. Gestão de Empresas na
            empresa da nova economia não            Sociedade do Conhecimento: Um Roteiro para a
 23         sobreviverá se desejar vencer seus      ação. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
            desafios isolada em seu universo.        CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 4 ed.
            Outra constatação que o estudo          Rio de Janeiro: Campus, 2004.
            revela é que as empresas devem          COSTA, Eliezer Arantes. Gestão Estraté-gica. 2 ed.
            buscar uma nova postura orga-           Rio de Janeiro: Saraiva, 2002.
            nizacional,mais compacta,otimizada      NONAKA, Ikujiro. TAKEUSHI, Hirotaka. Criação de
            e facilitadora do fluxo informacional,   Conhecimento na Empresa: Como as Empresas
            assumindo a forma de Empresa            Japonesas Geram a Dinâmica da Inovação.
            Intensiva em Conhecimento.              Tradução de Ana Beatriz Rodrigues, Priscila
            Com isso as pequenas empresas no        Martins Celeste. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
            Brasil contam com uma vantagem          SVEYBI, Karl E. A nova Riqueza das Organizações.
            que as grandes organizações não         Tradução de Luiz Euclides Trindade Frazão Filho.
            dispõe, que é a proximidade real        Rio de Janeiro: Campus, 1998.
            entre as pessoas, em razão de seu       SEBRAE. Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
            tamanho. Esta proximidade resulta       Empresas. Boletim Estatístico de Micro e Pequenas
            fundamentalmente na troca de            Empresas, 2005. Disponível em: <http://www.
            energia vital ao sucesso do negócio:    sebrae.com.br>. Acesso em 06 Mar. de 2006.
            o Conhecimento.                         TOFFLER, Alvim. A Terceira Onda. 2 ed. São Paulo:
            Assim, os funcionários assumem          Record,1999.
            papel de destaque pela sua              TERRA, José C. Ciryneu. Gestão do Conhecimento:
            maior interação com clientes e          O Grande desafio Empre-sarial. Rio de Janeiro:
            fornecedores, evidenciando que são      Campus, 2000.
            motor de criação de valor dentro da     Gestão do Conhecimento em Pequenas e Médias
            empresa.                                Empresas – Coordenação: José C. Ciryneu Terra,
            Conclui-se que existe um novo           Isak Kruglianskas. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
            caminho a ser seguido, uma nova         WOOD Jr., Tomaz. Gestão Empresarial: O fator
            postura, uma nova dinâmica a ser        humano. São Paulo: Atlas, 2004.
            adotada pelas pequenas empresas,
            que têm a responsabilidade de
            estabelecer novos critérios, novas
            políticas de qualidade, operações
Artigo 05
                              Um breve relato da
                            trajetória do CGECon
                   Um caso de sucesso
           em Gestão do Conhecimento
                                                                         Daniel Duarte Lledó
                                                   Consultor e Assessor Parlamentar – ABIPTI
                                                                                                 24
                                                Mestre em Direito Comunitário pela Universi-
                                                                dade Complutense de Madri
                                                Especialista em Inteligência Organizacional e
                                                   Competitiva pela Universidade de Brasília
                                                                   daniellledo@hotmail.com




O Centro de Gestão Estratégica           campo da cooperação internacional e, por
do Conhecimento em Ciência e             extensão, contribuir para o fortalecimento
Tecnologia (CGECon) teve sua             da inserção competitiva brasileira no cenário
implantação junto ao Departa-            internacional.
mento de Temas Científicos e Tec-         A parceria com o BID buscou propiciar um
nológicos (DCT), sob a direção da        novo ordenamento à área de cooperação
então Ministra Marília Sardenberg        internacional, de modo a introduzir uma
Zelner Gonçalves, do Ministério das      variável nova, representada pela criação
Relações Exteriores, autorizada pelo     do CGECon. A execução do Projeto do BID
então Secretário Geral, Embaixador       não apenas reforçou essas relações de
Sebastião do Rego Barros. Inserido       cooperação internacional, mas também
no âmbito do Projeto da Unidade          buscou contribuir para alavancar outros
Executora de Projetos com o Banco        projetos de importância estratégica para
Interamericano de Desenvolvimen-         o Ministério. Esse Projeto contemplou os
to, UEP/BID, “Fortalecimento da Ca-      seguintes objetivos: i) reestruturação do
pacidade do MRE na Área Econômica        DCT; ii) definição de política de parceria e
Internacional”, o Centro foi instituí-   recrutamento de pessoal para a área de
do com o objetivo principal de apoiar    cooperação internacional; e iii) implantação
a formulação da política externa         do CGECon. As etapas implementadas
brasileira de ciência e tecnologia, no   incluíram a elaboração de diagnóstico,
projeto lógico, projeto físico e        frutos e reconhecimento não só no âmbito
Artigo 05



                   implantação do novo modelo de           do próprio Itamaraty, mas especialmente no
                   gestão no âmbito do DCT.                âmbito externo. Nesse contexto, ressalta-
                   A implantação do Centro tornou-se       se o trabalho pioneiro da antiga equipe
                   de fato viável por meio da forma-       do CGECon que desenvolveu, a partir de
                   ção de uma equipe integrada por         um software do Massachusetts Institute of
                   bolsistas do Ministério da Ciência e    Technology (MIT), um avançado pacote de
                   Tecnologia (MCT), os quais inicial-     soluções tecnológicas totalmente baseado
                   mente representaram quase a to-         em software livre. O principal indicador
                   talidade da equipe, e de consultores    que demonstra a importância desse feito
                   do Programa das Nações Unidas           é evidenciado com a presença do nome
                   para o Desenvolvimento (PNUD).          do CGECon como o único representante
                   O grupo estruturou-se de ma-            brasileiro a constar no rol das instituições
                   neira horizontalizada, e conduziu       referenciadas no hemisfério sul em OpenACS
                   uma série de macroprocessos que         (veja em http://openacs.org/community/
 25                envolveram a gestão administra-         companies/).
                               tiva e tecnológica do       Some-se a isso, a citação do CGECon como
                               CGECon, a criação e o       um caso de sucesso pelo Programa Avança
       “Merece destaque, o
                               apoio à operação de         Brasil em função do destaque no Programa
      inestimável papel do
                               comunidades virtuais,       de Cooperação Científica e Tecnológica
     CGECon no âmbito da
                               bem como a análise          Internacional. Em sua publicação, “Histórias
      prática da Gestão do
                               de informações e a          de Sucesso”, o Programa classifica o Cen-
   Conhecimento (GC), ao
                               promoção de eventos         tro como uma “experiência inovadora,
      disseminar conceitos
                               relacionados à gestão       sem similar no mundo” (veja em http://
        e desenvolver novas
                               do conhecimento e in-       www.brasil.gov.br). O CGECon ainda foi
    técnicas e ferramentas
                               teligência competitiva.     considerado como uma referência nacional
         de GC tornando-se
                               Essa parceria com o         no tema “Negociação Internacional de
              mais uma vez
                               MCT foi fundamental,        Acordos de Compensação Comercial, In-
       referência nacional”.
                               pois a atuação desses       dustrial e Tecnológica – Offset”, ao ser o
                               bolsistas permitiu o efe-   primeiro no País a criar uma comunidade
                  tivo processo de implantação e ges-      virtual com representantes de diversas
                  tão do Centro, o monitoramento de        organizações públicas e privadas para
                  tendências e inovações tecnológicas,     tratar do assunto. Inovadora também foi
                  o auxílio nos cenários prospectivos e    a iniciativa do Centro em reunir, com a
                  a cooperação na produção de estudos      publicação do livro “Panorama da Prática do
                  e análises. Os bolsistas também          Offset no Brasil”, um conjunto abrangente
                  atuaram na articulação com atores        de depoimentos e reflexões sobre o tema.
                  do sistema de C&T no País e no           Merece destaque, igualmente, o inestimável
                  exterior, sobretudo com o MCT e o        papel do CGECon no âmbito da prática da
                  sistema acadêmico nacional, bem          Gestão do Conhecimento (GC), ao disseminar
                  como no monitoramento do PPA em          conceitos e desenvolver novas técnicas
                  seus eixos nacionais de integração e     e ferramentas de GC tornando-se mais
                  desenvolvimento e em aspectos rela-      uma vez referência nacional. Com efeito,
                   cionados aos componentes de C&T.        diversas instituições viram o Centro como
                   Todas essas ações resultaram em         um modelo no qual poderiam se basear para
                   trabalhos importantes que geraram       implementar suas estratégias de GC.
Cite-se o exemplo da Empresa Brasileira         Práticas de GC, Aprendizagem Or-




                                                                                        Artigo 05
de Pesquisa Agropecuária (Em-brapa) que         ganizacional, Gestão de Pessoas
criou um centro similar ao CGECon e, para       por Competência, Tecnologia da
tanto, contou não só com a tecnologia           Informação, entre outros.
desenvolvida pelo Centro mas também             Portanto, a implantação do CGECon
com o auxílio de seus técnicos para a           pôde vir a representar um im-
implementação do mesmo. Sendo a Embra-          portante avanço, em termos de
pa um centro de desenvolvimento de tecno-       apropriação de novas tecnologias
logia por excelência, esta parceria mostrou a   chaves, na área de C&T. Veio ainda,
capacidade do CGECon em gerar soluções.         inaugurar um novo relacionamen-
O CGECon desempenhou ainda diversas             to entre o Estado e o usuário –
outras ações também relevantes no âmbito        notadamente, o setor demandante
da prática da GC, haja visto a publicação do    de pesquisa e desenvolvimento,
livro “Gestão do Conhecimento: experiência      que passou a beneficiar-se, direta-
do Ministério das Relações Exteriores”,         mente, de informações estratégicas
bem como a presença de seus membros             coletadas, inclusive, no ex-terior. A    26
como fundadores da Sociedade Brasileira         expectativa é a de que essa Gestão
de Gestão do Conhecimento (SBGC). Em            do Conhecimento ve-nha a se cons-
virtude desse importante papel realizado,       tituir, cada vez mais, em uma variá-
o Centro passou a agir como principal ator      vel viabilizadora de mudanças que
no cerne das ações e discussões no âmbito       virão a se perpetuar em uma das
pioneiro da Gestão do Conhecimento no           novas maneiras de se instrumentar
setor público. Conseqüentemente, destaca-       a política externa, as políticas pú-
se o fato de que a Casa Civil da Presidência    blicas e as relações mais amplas
da República criou o Comitê Técnico de Ges-     entre o Governo e a Sociedade.
tão de Conhecimento e Informação Estra-
tégica (CGIE) e, posteriormente, designou
oficialmente a Ministra Marília Sardenberg
Zelner Gonçalves como coordenadora do
Comitê, conforme a Portaria Inter-ministerial
N.o 264, de 4 de março de 2004.
O CGIE - integrante do Comitê Executivo
do Governo Eletrônico – tem como missão
propor normas e recomendações sobre
conceitos, metodologias e uso das melhores
práticas de Gestão do Conhecimento ao
Governo Eletrônico e contava, até então,
com aproximadamente 400 membros, re-
presentantes de todos os órgãos tanto da
administração direta quanto da indireta
e, ainda alguns outros, representantes
de instituições privadas. Esse Comitê
está distribuído em grupos temático-
estraté-gicos, tais como: Educação Corpo-
rativa, Comunidades Virtuais, Propriedade
Intelectual, Portais Corporativos, Melhores
Resenha de Livro
 trabalhador do conhecimento:
              o que existe fora
                 do quadrado?
                                                                                         28




                                      Jenner Luís Puia Ferreira
 Mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília
Núcleo de Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação
Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do
                                         Pantanal – UNIDERP
                                        jenner@ibecon.org.br




A realidade com a qual a Sociedade do Conhecimento se impôs nos últimos anos fez
com que as organizações se voltassem para a gestão do conhecimento como fonte de
vantagem competitiva, porém, muito além de “o que” gerir está “quem” gerir. Quem é
esse profissional que surge: O trabalhador do conhecimento?
Respaldado por vários artigos e dez livros, em “Pensando fora do quadrado”, Daven-
port mostra o seu entendimento sobre o trabalhador do conhecimento, suportado por
pesquisas realizadas em centenas de empresas com esses trabalhadores, cujo foco foi
discutir não apenas características, mas, também, possíveis caminhos para aperfeiçoar
o trabalho desempenhado por eles.
No primeiro capítulo, ao definir o que é um trabalhador do conhecimento, fica claro
para o leitor, acostumado com as discussões sobre a importância do conhecimento
na economia, que as técnicas tradicionais de gerenciamento não se aplicam a esse
profissional em função da autonomia, motivação e atitudes que norteiam suas ações.
Este trabalho “tende a não ter uma     e seis, nos âmbitos organizacional e pessoal,
Resenha de Livro



                    estrutura bem definida”, alerta         respectivamente. O resultado nos leva, na
                    Davenport.                             esfera organizacional, à importância em se
                    A base para as discussões principais   identificar o tipo de trabalho a ser realizado
                    é complementada no segundo             para que a ferramenta escolhida possa
                    capítulo, ao ser apresentada uma       “ampliar o número de experts humanos
                    proposta de classificação dos tipos     e não, substituí-los”. No aspecto pessoal,
                    de trabalhadores do conhecimento       a produtividade se mostra diretamente
                    tendo em vista o grau de cola-         vinculada com a capacidade de gerir as
                    boração e expertise no trabalho.       informações utilizadas pelo trabalhador do
                    Esse entendimento, aliado aos          conhecimento.
                    tipos de atividade do conhecimento     Os estudos relatados por Daven-port
                    (descoberta, criação, compilação,      no capítulo 7 mostram a importância
                    distribuição e aplicação), já nos      do networking para o profissional do
                    permite, por exemplo, estruturar a     conhecimento que entende ser essa a
 29                 forma de abordagem a ser tomada        melhor maneira de obter informações
                    com vistas à inovação.                 importantes, reforçando a característica
                    No capítulo seguinte, a pro-           tácita desses profissionais e a importância
                    dutividade dos profissionais do         da socialização do conhecimento adquirido
                    conhecimento é questionada como        por eles.
                    justificativa para as questões:         O ambiente físico de trabalho desses
                   intervir ou não no trabalho rea-        profissionais, embora pouco estudado,
                   lizado? Por que intervir? Como          também é abordado tendo em vista
                   medir esse trabalho? As respostas       características como necessidade de
                   apresentadas já mostram o porquê        concentração, mobilidade em função do
                   de técnicas como reengenharia,          trabalho, preferência pelo trabalho em
                   elaboração de roteiros, processos       escritórios, comunicação com pessoas
                   mediados por computador e tratar        próximas e simplicidade.
                   os trabalhadores do conhecimento        Por fim, Davenport reconhece que gestão e
                   de maneira igual não trazem             gerentes continuarão a existir, entretanto,
                   resultados satisfatórios. Estaria       essa incumbência também será assumida
                   aqui uma das dificuldades em se          por um trabalhador do conhecimento, o
                   implantar gestão do conhecimento        que o coloca no papel de jogador/treinador,
                   na administração pública?               tendo que criar um ambiente adequado
                   A partir desse ponto, Davenport         e propício à produtividade e criatividade
                   organiza a intervenção no trabalho      desses profissionais, pois, caso contrário,
                   do conhecimento tratando este           quais serão as conseqüências?
                   trabalho como um processo, to-
                   mando, sim, certos cuidados, tais
                   como: tornar esse processo o
                   mais participativo possível, estar
                   adequado ao tipo de trabalho
                   além de fazer a intervenção de
                   maneira participativa, incremental
                   e contínua.
                   O papel das tecnologias da infor-
                   mação é discutido nos capítulos cinco
Resenha de Boas Práticas
         Gestão do Conhecimento em
         uma Instituição de Pesquisa:
                                  O Caso da Embrapa
                                                                                           30




                                                 LEONARDO PAIVA MARTINS DE OLIVEIRA
                                         Mestre em Administração – UNIFENAS e FUMESC
                                                              leopaiva.bh@terra.com.br



                                                       JORGE TADEU DE RAMOS NEVES
                             Pós-Doutor em Empreendedorismo e Inovação – FEAD e UFMG
                                                                   jorge.neves@fead.br
                                                                     jtrneves@ufmg.br




INTRODUÇÃO
As organizações agropecuárias, inseridas num cenário globalizado de crescente
competitividade, têm convivido com desafios cada vez maiores nos campos econômico,
social e ambiental. Tal fato tem provocado nas empresas do setor, que buscam
sobrevivência e crescimento, a necessidade de rever paradigmas de gestão e introduzir
novas práticas de aprendizagem alinhadas a princípios e idéias de contemporaneidade.
Com este propósito a busca por inovação passou a ser uma das preocupações do setor
agropecuário.
Conforme Oliveira (1990), a informação, tanto na forma de tecnologia quanto na de
conhecimento sobre recursos no processo produtivo, é o produto mais importante a
ser colocado à disposição do produtor rural pelas instituições públicas que operam
a política agrícola. Nesse sentido, a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - busca diagnosticar, interpretar, priorizar e responder às demandas
do ambiente externo quanto à produção de conhecimento no processo de inovação
tecnológica do complexo agropecuário (NACFUR; GUEDES, 2000).
A Embrapa adota algumas iniciativas de apoio à gestão do conhecimento, como: o
Resenha de Boas Práticas




  31




                                                                  Banco de Boas Práticas; o Modelo de Gestão
                                                            Estratégica; a Gestão por Processos; a Gestão de
                                                         Relacionamento com os Públicos (Customer Relationship
                                                      Management – CRM); a Agência de Informação Embrapa;
                                                  as Comunidades de Prática; o Data Warehouse; a Inteligência
                                             Competitiva; a Gestão da Propriedade Intelectual; a Gestão de Pessoas
                                       por Competências; a Educação Corporativa; a Intranet; o Site Corporativo; o
                              Portal e as Listas de Discussões (FRESNEDA, 2003; BATISTA, 2004).
                           Os objetivos desse artigo são identificar a percepção de membros da Embrapa Milho
                           e Sorgo, um dos centros de pesquisa da Embrapa, sobre estas iniciativas de gestão do
                           conhecimento na organização e comparar essa percepção com o discurso oficial da
                           organização. Para isso foi realizada uma pesquisa de caráter qualitativo e quantitativo
                           com um grupo que compreendeu 68 pesquisadores, 25 técnicos de nível superior e 8
                           gestores de área da Unidade Milho e Sorgo da EMBRAPA, totalizando 91 questionários
                           distribuídos.

                           A EMBRAPA
                           A Embrapa foi criada em 26 de abril de 1973 com a finalidade de reforçar a competência
                           nacional em pesquisa agropecuária. Desde então espalhou centros regionais e locais
                           de pesquisa por todo o Brasil, muitos dos quais em regiões periféricas, contribuindo
                           para elevar a capacitação destas regiões em ciência, tecnologia e inovação e dinamizar
                           economias locais deprimidas (BUAINAIN, 2003). É vinculada ao Ministério da
                           Agricultura, Pecuária e Abastecimento e atua por intermédio de 37 Centros de Pesquisa
                           (dentre eles a Embrapa Milho e Sorgo, objeto de estudo deste artigo), 3 serviços e 11
                           Unidades Centrais. Ela está presente em quase todos os estados brasileiros, nas mais
                           diferentes condições ecológicas. Para chegar a ser uma das maiores instituições de
pesquisa do mundo tropical, a empresa investiu sobremaneira no treinamento de




                                                                                                      Resenha de Boas Práticas
recursos humanos, e possui, hoje, 8.619 empregados, dos quais 2.221 são pesquisadores,
45% com mestrado e 53% com doutorado, operando um orçamento da ordem de R$
660 milhões anuais (EMBRAPA, 2003).

A EMBRAPA E A GESTÃO DO CONHECIMENTO
Segundo Fresneda (2002, p. 20),

                                 “a Embrapa executa, desde 1973, ano de sua fundação, ações que
                                 são consideradas hoje, componentes da gestão do conhecimento.
                                 De qualquer maneira uma organização de P&D, tal como a EM-
                                 BRAPA, nomeando ou não, formalizando ou não, é obrigada, por
                                 uma questão intrínseca exigida por seus processos internos e pelo
                                 negócio em que está envolvida, a fazer do conhecimento de uma
                                                   forma ou de outra, implícita ou explicitamente”.
                                                                                                        32
Fresneda (2003, p. 21) divide as iniciativas de gestão do conhecimento na Embrapa em
quatro grupos, acomodados no “guarda chuva GC”, em seus diversos estágios no ciclo
da vida – em operação, em implantação, em construção ou em planejamento podem
ser agrupados nas seguintes categorias: (a) Apoio à gestão; (b) Apoio ao Negócio; (c)
Gestão de Pessoas; (d) Tecnologia da Informação. De uma forma resumida, o referido
autor (2003, p. 22) cita as seguintes iniciativas da Embrapa listadas por categoria, nos
QUADROS 1 a 4, a seguir:

QUADRO 1
Categoria: Apoio à Gestão
#              INICIATIVAS                                             ESTÁGIO
1              Banco de boas práticas                                  Operação
2              Modelo de gestão estratégica                            Operação
3              Gestão por processos                                    Implantação
4              Gestão de relacionamentos com os públicos               Implantação
Fonte: Fresneda, p 22.

QUADRO 2
Categoria: Apoio ao Negócio
#              INICIATIVAS                                    ESTÁGIO
5              Agência de informação Embrapa                  Implantação
6              Comunidades de prática                         Implantação/operação
7              Data Warehouse                                 Construção
8              Inteligência Corporativa                       Planejamento
9              Gestão da Propriedade Intelectual              Operação
Fonte: Fresneda, p 22.

QUADRO 3
Categoria: Gestão de Pessoas
#              INICIATIVAS                                    ESTÁGIO
10             Gestão de pessoas por competências             Construção
11             Educação Corporativa                           Implantação/operação
Fonte: Fresneda, p 22.
QUADRO 4
Resenha de Boas Práticas



                           Categoria: Tecnologia da Informação
                           #              INICIATIVAS                                               ESTÁGIO
                           12             Intranet                                                  Operação
                           13             Site Corporativo                                          Operação
                           14             Portal (irá substituir as duas iniciativas anteriores)    Implantação
                           15             Listas de discussões                                      Operação
                           Fonte: Fresneda, p 23.

                           A METODOLOGIA APLICADA – ROAD MAP TO KNOWLEDGE MANAGEMENT RESULTS
                           A metodologia do APQC – intitulada Road Map to Knowledge Management Results
                           (Roteiro de resultados para a gestão do conhecimento) – pretende avaliar se as
                           organizações estão implementando de maneira efetiva a gestão do conhecimento
                           (APQC, 2004). Batista (2004, p. 26) apresenta a metodologia do APQC do seguinte
                           modo:
  33
                                                    “O APQC desenvolveu uma metodologia para facilitar a institucionalização
                                                    da gestão do conhecimento. O método descreve os passos fundamentais para
                                                    implementá-la de fato, ajuda a organização a identificar em que estágio en-
                                                    contra-se no processo de implementação da gestão do conhecimento e mostra
                                                    como começar a indicar a direção mais adequada. Para garantir a efetividade
                                                    do método, o instrumento foi elaborado a partir dos estudos desenvolvidos
                                                    pela APQC em parceria com organizações de referência – e que, portanto, já
                                                        eram casos de sucesso – na implementação da gestão do conhecimento”.


                           O roteiro de resultados para a gestão do conhecimento possui cinco estágios
                           de implementação: I) início; II) desenvolvimento da estratégia; III) desenho e
                           implementação de práticas de gestão do conhecimento; IV) expansão e apoio; V)
                           institucionalização da gestão do conhecimento. Cada estágio envolve a descrição –
                           por meio de assertivas – de acontecimentos importantes, objetivos, atores-chave e
                           seus papéis, estrutura organizacional, impacto da tecnologia da informação, formas
                           de medição e aspectos relacionados a orçamento e finanças (APQC, 2004).
                           Para as análises e conclusões apresentadas, tendo como referência as assertivas de
                           forma aberta e as entrevistas com os respondentes, foi feita uma análise de conteúdo
                           a qual, segundo Bardin (1997), visa enriquecer a pesquisa através da opinião pessoal
                           dos respondentes, que, protegidos pelo anonimato, relatam suas experiências na
                           organização e expressam suas opiniões livremente.

                           ANÁLISE DE RESULTADOS E CONCLUSÕES
                           Constatou-se, analisando o conteúdo das entrevistas realizadas e os dados da
                           questão específica sobre o assunto, que o interesse pela gestão do conhecimento é
                           grande. Todavia, os dados analisados apontam falta de informação e discordância
                           dos entrevistados sobre a definição de uma visão ou justificativa para implementar
                           a Gestão do Conhecimento. Por outro lado, as iniciativas da Embrapa em Gestão do
                           Conhecimento e aquelas existentes na unidade pesquisada, não são percebidas pelos
                           respondentes como parte do processo de gestão do conhecimento.
A análise dos dados obtidos com as questões relacionadas com o estágio II




                                                                                        Resenha de Boas Práticas
(desenvolvimento de estratégia) aponta para discordância e indecisão dos respon-
dentes sobre a existência na Embrapa Milho e Sorgo de uma estratégia clara visando
à implantação da gestão do conhecimento.
Sobre o estágio 3 – Desenho e Implementação de Práticas de Gestão do Conhe-
cimento -, os respondentes, numa maioria expressiva, segundo os dados coletados,
discordaram ou se mostraram indecisos sobre todas as questões formuladas. Neste
caso as consultas se relacionavam com a existência na unidade de mecanismos e
instrumentos visando à implementação da gestão do conhecimento.
O estágio 4 – Expansão e Apoio -, apresentou os mais baixos Índices de positividade.
A questão 3 consultando se todas as áreas conheciam as práticas de Gestão do
Conhecimento da Embrapa Milho e Sorgo obteve, em 50 entrevistados, 37 respostas
discordando e 10 se manifestando como indecisos com um IPR de 41%.
No estágio 5, a questão 1 – A gestão do Conhecimento está alinhada e faz parte do
modelo de gestão da Embrapa Milho e Sorgo, teve os seguintes comentários dos
respondentes: faz parte, mas não está implementada; está alinhada, mas pouco tem          34
sido feito de concreto; e, sim, faz parte das normas da Embrapa e é requisito para a
apresentação de propostas para novos dirigentes.
Finalmente, em relação aos fatores comuns de sucesso nos projetos de gestão do
conhecimento propostos por Davenport e Prusak (1998), podemos concluir:

•       Quanto à cultura orientada para o conhecimento: a percepção dos respondentes
do questionário tanto quantitativo quanto qualitativo, é de que existe esse fator
de sucesso na unidade, representada por uma política favorável à participação
em seminários, congressos, feiras e atividade de crescimento do conhecimento
organizacional. A Embrapa possui, também, programa de educação corporativa como
fator de disseminação e desenvolvimento para os pesquisadores das unidades;
•       Quanto à infra-estrutura técnica e organizacional: percebeu-se que ela é
considerada boa. Entretanto, algumas práticas e atividades poderiam ser desenvolvidas
explicitamente no sentido de auxiliar o desenvolvimento da gestão do conhecimento,
o que é, inclusive, uma demanda dos respondentes. Por outro lado, a existência
dos Núcleos Temáticos é, sem dúvida, um grande fator para apoiar a gestão do
conhecimento, tendo sido uma iniciativa desenvolvida internamente na Embrapa
Milho e Sorgo;
•       Quanto ao apoio da alta gerência: a Embrapa Milho e Sorgo conta com o
incentivo da direção para o desenvolvimento de iniciativas de gestão do conhecimento,
podendo-se citar os núcleos temáticos, os comitês de publicações e técnico interno, a
área de Comunicação Empresarial e a área de Negócios Tecnológicos;
•       Quanto ao vínculo ao valor econômico ou setorial: existe uma clara percepção
na unidade sobre o benefício econômico dos resultados dos projetos para a sociedade
e, consequentemente, para a empresa;
•       Quanto à orientação para processos: nesse aspecto, a própria empresa traz em
sua política de administração, a Gestão de Processos, que compreende o planejamento,
o acompanhamento e o monitoramento das atividades de pesquisa e desenvolvimento
de forma sistêmica e integrada;
•       Quanto à clareza de visão e linguagem: esse fator está institucionalizado na
Embrapa Milho e Sorgo através de memorandos e outras iniciativas como PDU, comitês
Resenha de Boas Práticas



                           de publicações e comitê técnico interno;
                           •      Quanto aos elementos motivadores não-triviais: os gestores de núcleos
                           temáticos têm uma remuneração diferenciada para gerenciar e para o desenvolvimento
                           das atividades dos núcleos;
                           •      Quanto ao nível da estrutura do conhecimento: na Embrapa Milho e Sorgo a
                           área de Comunicação Empresarial e a área de Negócios Tecnológicos são responsáveis
                           pela estrutura do conhecimento;
                           •      Quanto aos múltiplos canais para a transferência do conhecimento: para esse
                           fator de sucesso, pode-se perceber na empresa, entre outras iniciativas: o uso intensivo
                           da Intranet e da Internet e a Gestão por Processos

                           Identificou-se, também, o grau de consolidação dos cinco estágios da metodologia
                           APQC na Embrapa Milho e Sorgo. Percebeu-se que os dois primeiros estágios
                           receberam médias maiores, e os três últimos estágios receberam médias menores na
  35                       análise estatística deste estudo. Constatou-se que existe uma diferença de percepção
                           sobre os estágios de implantação da gestão do conhecimento entre os respondentes;
                           entretanto, não se pode afirmar que exista uma consolidação dos dois primeiros
                           estágios, mas, tão-somente, uma melhor percepção da existência desses dois primeiros
                           estágios por parte dos respondentes.

                           REFERÊNCIAS
                           APQC – American Productivy & Quality Center. Disponível em: <www.apqc.org>. Acesso
                           em: 20 maio 2004.
                           BATISTA, Fábio F. Governo que aprende: gestão do conhecimento em organizações do
                           executivo federal. Brasília: IPEA, 2004.
                           DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento empresarial. Como as
                           organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
                           EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Disponível em: www.
                           embrapa.br Online. Acesso em: 30 jun. 2003.
                           _______________. Cenários 2002 – 2012: Pesquisa, desenvolvimento e inovação para o
                           agronegócio brasileiro: Embrapa, CG, 2003.
                           _______________. Secretaria de administração Estratégica. III Plano Diretor da
                           Embrapa: realinhamento estratégico. 1992-2003. Brasília: Embrapa - SPI, 1998. 40
                           FRESNEDA, Paulo S.V. A gestão do Conhecimento em Organizações em P&D: o caso
                           Embrapa In: TERRA, José Cláudio Cyrineu (Org.). Gestão do Conhecimento e E-Learning
                           na prática. Rio de Janeiro: Negócio, 2003, P. 19-33.
                           NACFUR, Anis; GUEDES, Vicente G. F. Flexibilidade na organização e divisão do trabalho
                           A experiência da Embrapa, Brasil. Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma
                           del Estado y de la Administración Pública, 5. Santo Domingo, Rep. Dominicana: 24 – 27
                           Oct. 2000. Anais
                           OLIVEIRA, João L.M. Bases de um sistema de informação para o setor agropecuário.
                           1990, 15p. Mimeografado.
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  • 1. ������������������������������������������������������������������������������������� ������������������������� �������������� ������������������������� ����� ���������������������������������������������������������� �������������������������������������������������������� ����������� ��������� ������������������������������������������
  • 2. sumário Editorial 03 Artigo 1 05 Entrevista com Karl Wig Artigo 2 10 O que há de mais humano na gestão. Por Saulo Figueiredo Artigo 3 15 A importância dos gerentes na condução da Gestão do Conhecimento. Por Frank Astor do Nascimento Artigo 4 20 Gestão estratégica do conhecimento em pequenas empresas. Por Fábio Márcio Dias da Silva Artigo 5 24 Um breve relato da trajetória do CGECon - Um case de sucesso em Gestão do Conhecimento. Por Daniel Duarte Lledó Resenha de livro Trabalhador do conhecimento: o que existe fora 28 do quadrado. Por Jenner Luís Puia Ferreira Resenha de boas práticas 30 Gestão do Conhecimento em uma instituição de pesquisa: o caso da Embrapa. Por Leonardo P. M. de Oliveira e Jorge Tadeu Neves Opiniões 37 A professora Maria Terezinha Angeloni comenta uma entrevista dada pelo Sr. Jorge Guimarães, presidente da Capes. Agenda 35 Eventos internacionais de GC Palavra da SBGC 36
  • 3. expediente Expediente Uma publicação da: Mônica Erichsen Nassif Borges SBGC – Sociedade Brasileira de Raquel Balceiro Gestão do Conhecimento Resilda Rodrigues www.sbgc.org.br Ricardo Roberto Behr Roberto Pacheco 02 Integrantes Permanentes do Rodrigo Baroni Conselho Científico da SBGC Serafim Firmo de Souza Ferraz Presidente: Silvio Aparecido dos Santos Maria Terezinha Angeloni Sonisley Machado Walter Felix Cardoso Jr. Alberto Sulaiman Sade Junior Editora-Chefe: Aline França de Abreu Elisabeth Gomes Carlos Olavo Quandt Chu Shao Yong Produção Executiva: Eduardo Moresi Maria de Lourdes Martins Faimara do Rocio Strauhs Supervisor Editorial: Fernando Antonio Ribeiro Serra Anderson Fagundes de Paula Hélio Gomes de Carvalho Gilson Schwartz Jornalista Responsável: Guilherme Ary Ponski Cristiano Pio MG 09315 JP Helena Pereira da Silva Revisão: Helena Tonet Carolina de Oliveira Mansur João Amato Neto Jorge Tadeu de Ramos Neves Editora de Imagens: José Ângelo Gregolin Cristiane Avelar José Rodrigues Design: Kira Tarapanoff Quinto Elemento Marília M.R. Damiani Costa Moacir de M. Oliveira Revista GC Brasil gcbrasil@sbgc.org.br
  • 4. Editorial Editorial 03 A Gestão do Conhecimento (GC) vem sendo tratada por alguns autores como uma disciplina puramente acadêmica, enquanto outros a encaram como um modelo de gestão que melhora a competitividade das organizações. Há, ainda, aqueles que a consideram apenas mais um modismo, como downsizing, qualidade, outsourcing e tantos outros nomes que surgiram e desapareceram, deixando um rastro nem sempre positivo nas organizações. Neste sentido, com o objetivo de esclarecer ao leitor do que se trata gerenciar uma organização usando adequadamente o conhecimento crítico e necessário, é que surge a GC Brasil – a revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento - SBGC. Vamos buscar e publicar artigos que abordem o tema com o intuito de permitir a todos aqueles interessados uma eficaz comunicação e troca de informações, colocando suas reflexões, pesquisas e experiências na área. Procuramos criar uma revista que atenda tanto à academia como às empresas, exatamente para desmistificar e esclarecer o que é “fazer Gestão do Conhecimento”. Mostrar que este assunto abrange pessoas, processos, tecnologias, liderança, mensuração e tantos outros conceitos que, com certeza, renderão vários artigos, em diversos números de nossa revista, a GC Brasil. Portanto, a GC Brasil apresentará, a cada número, artigos, estudos de caso, entrevistas e uma seleção de informações indispensáveis a todas as organizações, públicas ou privadas, pequenas, médias ou de grande porte, que pretendam se inserir de forma competitiva na sociedade global do conhecimento. Começamos em grande estilo trazendo uma entrevista com Karl Wiig, uma das maiores autoridades em GC no mundo. Nesta entrevista, Wiig coloca sua posição sobre a necessidade dos países terem uma política pública de GC e nos conta sobre suas experiências em implantar práticas de GC para empresas públicas e, principalmente, nos apresenta sua visão sobre o tema, considerando os benefícios e as dificuldades que podem surgir. Vale a pena ler, conferir, pensar e aplicar. Matéria da capa, as pessoas são as peças principais do jogo de Gestão do Conhecimento. Por isso, temos dois artigos sobre o tema: um que trata o que há de mais humano na gestão e outro que trata do papel do gerente na condução do processo de implementação de uma política de Gestão do Conhecimento. Com relação à competitividade empresarial, trouxemos para discutir este tema um
  • 5. artigo que trata da “Gestão Estratégica do Conhecimento em Pequenas Empresas Editorial Brasileiras”, onde o autor analisa a dificuldade dessas empresas em competir num mercado globalizado e como podem se utilizar do conhecimento para minimizar estas barreiras. Apresentamos um relato sobre a trajetória do CGECon – o Centro de Gestão Estratégica do Conhecimento em Ciência e Tecnologia, do MRE. Este centro foi criado visando disseminar conceitos e desenvolver novas técnicas e ferramentas de GC para a sociedade. Tal objetivo foi cumprido e o CGECon tornou-se referência nacional no assunto. Neste relato veremos que o centro inaugurou um novo relacionamento entre o Estado e o usuário – notadamente o setor demandante de pesquisa e desenvolvimento que passou a beneficiar-se, diretamente, de informações estratégicas coletadas, inclusive no exterior. Ainda, nesta edição uma resenha sobre o último livro de Davenport – “Pense Fora do Quadrado”- porque temos certeza de que na sociedade globalizada do novo milênio, terão voz e vez, aqueles que forem capazes de transformar informação em conhecimento e utilizá-lo para aumentar o valor de seus produtos e serviços. 04 A sessão “Resenha de boas práticas” mostrará qual é a percepção de pesquisadores, técnicos de nível superior e gestores de uma empresa de pesquisa sobre a contribuição da gestão do conhecimento no cumprimento da missão dessa empresa. A GC Brasil foi buscar um artigo que aborda este assunto, para mostrar a vocês que as práticas de Gestão de Conhecimento dependem de pessoas e da sua percepção e credibilidade em relação ao assunto. Ou seja, o que a empresa e, conseqüentemente, o colaborador ganharão com isso? Confira no artigo dos professores Leonardo Paiva e Jorge Tadeu Neves. Na sessão “Opiniões”, a professora Maria Teresinha Angeloni comenta uma entrevista dada pelo Sr. Jorge Guimarães, presidente da Capes (Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior), no primeiro dia da 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Guimarães avalia com otimismo a produção científica brasileira e espera que o país ganhe novas posições nos próximos anos. Informações sobre eventos internacionais na área de Gestão do Conhecimento completam o conteúdo técnico da revista. Inaugurando uma nova sociedade, a do conhecimento, a revista termina com a sessão Palavras da SBGC, na qual Heitor Pereira, presidente da SBGC enfatiza a importância da GCBrasil como um veículo de socialização e compartilhamento do conhecimento. Boa leitura e até o próximo número. Elisabeth Gomes Editora da GC Brasil Diretora de Publicações da SBGC
  • 6. Entrevista Entrevista com Karl Wiig consultor internacional Karl Wiig a expressão Knowledge Management (KM). Por e-mail, enviado a um amigo, o Sr. teria se desculpado por não ter encontrado uma expressão que efetivamen- Entrevista com o consultor internacional te expressasse a busca por este ideal. Qual é Karl Wiig sua posição atualmente? Karl Wiig é CEO e Chairman do KW: Eu não tenho certeza se meu grupo foi Knowledge Research Institute, Inc. o primeiro a utilizar a expressão ‘Knowledge e tem se debruçado sobre a gestão Management’, embora tenhamos publicado avançada do capital intelectual nas uma brochura no início da década de 80 organizações. É autor de cinco livros com tais palavras. Após todos estes anos e imensos artigos e é o co-fundador já não acho que o termo KM descreva da International Knowledge Mana- precisamente as atividades e domínios gement Network. Trabalha como que atualmente incorporam a KM. Hoje, consultor e aplica perspectivas e incluímos Tecnologia de Informação e princípios das Ciências Sistêmicas, de Comunicação (TIC), Capital Intelectual, Gestão, de Informação, Cognitivas, práticas relacionadas a Gestão de Conhe- Sociais e Econômicas. cimento e até mesmo gerenciamento da filosofia e capital intelectual/conhecimento A GCBrasil agradece ao Dr. Cláudio – relativo a oportunidades estratégicas – só Terra o acesso ao Dr Karl Wiig para para dar alguns exemplos. Há ainda outro viabilizar esta entrevista. aspecto importante que me faz hesitar quando considero o termo KM: muitas 1. No hemisfério ocidental o Sr. foi a organizações pró-ativas que perseguem o primeira pessoa a falar sobre Gestão que podemos considerar como um avançado do Conhecimento. É de sua autoria e deliberado KM nunca utilizam este termo.
  • 7. Ao invés disso, consideram seu capital iniciativas são baseadas em TICs Entrevista intelectual/conhecimento como iniciativas devo frisar que os participantes relacionadas e práticas fundamentais a uma mais importantes não são o staff gestão integrada. de tecnologia. Ao contrário, os mais relevantes são aqueles que irão uti- 2. Em sua opinião a administração pública lizar comunidades e os líderes dos pode vir a ter problemas caso o Estado não negócios que serão beneficiados. adote uma política de KM? De que forma esses problemas poderão ser intensificados 4. Quais os benefícios diretos que o na falta desta política? estado pode obter implementando KM? KW: Sim, nenhum país é totalmente auto- suficiente e isolado do restante do mundo. KW: Devemos lembrar que implici- Todos precisam criar valores agregados a tamente KM vem sendo conduzido serviços e produtos por meio de especialistas. em todas as organizações para 06 Acredito, assim como muitos outros, que no educar e construir competências. O atual mundo globalizado, países e regiões governo será beneficiado em vários pequenas precisam continuar a aumentar pontos, de diversas maneiras. Pro- seu capital intelectual para serem aceitos a jetos de KM usando TIC permitirão a participar da economia global baseada no automação de rotinas e sub-rotinas conhecimento. Está cada vez mais evidente conduzidas por especialistas no que não é mais suficiente criar exportações assunto. Tais sistemas irão prover baseadas em mão-de-obra barata. O serviços mais consistentes, rápidos crescimento da China e Índia está cons- e baratos, por exemplo. No entanto, truindo um modelo e outras especialidades o mais importante é que as baseadas em conhecimento para que pessoas sejam o foco do KM e per- possam continuar sendo competitivas mitam que os servidores públicos nos mercados mundiais. construam melhores competências e habilidades para assumir maiores 3. Quais devem ser as pessoas envolvidas na responsabilidades a fim de atuarem implementação de uma política pública de em trabalhos não rotineiros de forma KM? O envolvimento dos líderes é essencial mais rápida,compreendendo desafios ao processo? e tomando melhores decisões. KW: Como existem muitas iniciativas de KM, 5. O Sr. poderia nos contar alguma a liderança e o envolvimento dependem da experiência sua aplicando KM na natureza da iniciativa. Na minha opinião, administração pública? as mais importantes iniciativas de KM envolvem pessoas focadas em construção KW: Tive a sorte de trabalhar com e compartilhamento de conhecimento (tais muitas instituições governamen- como comunidades de prática e colaboração tais nos Estados Unidos, Arábia interdisciplinar). Claramente estas iniciativas Saudita, África do Sul, Venezuela, envolverão os participantes e seus gestores Austrália, Sudoeste Asiático e nos imediatos, bem como os executivos mais Países Nórdicos nos últimos 40 antigos (seniors) cujas operações serão anos e aprendi bastante sobre as beneficiadas por estes esforços. Como as complexidades e dificuldades que
  • 8. estas instituições enfrentam. Parte 7. A exclusão digital é discutida no mundo Entrevista do meu trabalho foi diretamente como uma fronteira de crescimento às relacionado à KM, tanto com TICs pessoas que não tem acesso à informação quanto com pessoas. Já outros e ao conhecimento. No futuro, países que trabalhos foram em áreas correlatas, não adotarem uma efetiva política de KM tais como criação de sistemas de poderão comprometer sua atuação no planejamento e transferência de cenário mundial? tecnologia. KW: Bem, já que em minha opinião TIC é 6. A gestão do conhecimento traz apenas uma função suporte para KM, a consigo, no âmbito empresarial, exclusão digital não é necessariamente uma ênfase em inovação, fruto da parte das políticas de KM de uma nação. necessidade de sobrevivência no Tendo isso em mente, exclusão digital mercado competitivo da iniciativa (considerada como acesso reduzido a in- privada. Uma vez longe desta preo- ternet ou assistentes pessoais digitais 07 cupação - com a concorrência - os limitados) irá certamente reduzir o acesso governos deverão ocupar-se em traçar à informação e conseqüentemente reduzir um foco mais voltado para a política a eficácia e aumentar a resistência de pública. A transparência pode ser este muitas funções comerciais. Observe que foco no âmbito governamental? informação e conhecimento não são parte de um continuum. O objetivo da informação KW: Neste sentido, acredito que é descrever situações. Já o propósito do estamos lidando com um enga- conhecimento é utilizar informação para no relacionado ao papel dos go- avaliar situações, decidir o que fazer com vernos – nacionais e regionais. elas e realizar as decisões. Na minha experiência, o maior propósito de qualquer governo é 8. Em sua opinião existem pontos comuns guiar e gerenciar progressos e mu- entre usar KM no governo e na iniciativa danças – de pessoas, perspectivas, privada? Quais seriam eles? potencialidades, condições globais – todas mudam continuamente para KW: Na prática, há muitos detalhes se- fazer a sociedade trabalhar melhor melhantes ao adotar práticas de KM nos e para prosseguir com o restante setores público e privado. Entretanto, tam- do mundo! Isto atinge um jogo bém há muitas diferenças. Por exemplo, nos duplamente competitivo: um jogo Países Nórdicos parte da estratégia de KM é competitivo contra uma natureza voltada para que a assistência pré-natal seja passiva, porém em constante administrada com o objetivo de assegurar mudança e um jogo contra a com- que as crianças que nascem e crescem petição pró-ativa conduzida pelo tenham as melhores habilidades possíveis homem. Tal finalidade conduz a para aprender e se transformarem em tra- exigências contínuas para um co- balhadores com conhecimentos valiosos. nhecimento cada vez melhor para Em Singapura, eles têm como parte da apoiar uma manipulação oportuna estratégia de KM, redesenhar seu sistema e competente do trabalho que varia prisional com edifícios novos e programas de tarefas rotineiras para outras que educacionais para verificar se seus cidadãos, requerem inovação. ao serem liberados do cárcere, serão capazes
  • 9. de estabelecer papéis como trabalhadores investimentos financeiros como Entrevista de conhecimento. Isto é motivado por suas pensado previamente), é importan- indicações de que “O único recurso que te planejar e implementar progra- temos aqui em Singapura é o intelecto mas amplos para educação em ge- das pessoas”. Além disso, o setor público ral, de crianças a adultos como se precisa criar leis e regulamentações para persegue em muitas nações, desde resguardar seu capital intelectual, tanto Singapura e Taiwan até Alemanha, público quanto privado. Pela perspectiva Holanda e os Países Nórdicos como da KM-TIC, deve haver considerações para Dinamarca, Finlândia, Islândia, No- criar um conhecimento de base nacional, ruega, Suécia, seguidos de perto adotando padrões que são conhecimentos pela Estônia. Uma infra-estrutura relacionados, e assim por diante. geral e extensa de TICs também é muito importante. 9. O lançamento do capital intelectual no balanço empresarial é visto de uma forma positiva pelos acionistas? Isto tem 08 importância? Caso seja positivo, há exemplos conhecidos? KW: Neste sentido, penso estarmos ainda no começo. Enquanto algumas companhias avançadas (por exemplo, Skandia, Boeing, Intergraph, General Electric, Nokia, Tata Steel Company, Statoil, Unilever) incorporam scorecards de capital intelectual e até mes- mo dashboards em suas folhas de balanço, esta prática não se espalhou extensamente. Parece haver interesse dos acionistas no capital intelectual e seus componentes – e várias companhias européias têm incor- porado tal contabilidade em seus balanços anuais de 2004 e 2005. 10. Para encerrar, o Sr. poderia sugerir alguma recomendação ao Governo brasileiro de como aplicar KM em benefício da sociedade? KW: Bem, para fornecer recomendações específicas, precisaria me familiarizar com os desafios que devem ser dirigidos com iniciativas de KM no Brasil. Entretanto, muitas considerações genéricas podem ser endereçadas. Por exemplo, como está sendo aceito que conhecimento – capital intelectual – é o condutor do crescimento econô-mico (melhor que o capital e os
  • 10.
  • 11. Artigo 02 A Gestão do Conhecimento O que há de mais humano na gestão. 10 Saulo Figueiredo Diretor da Soft Consultoria - Professor do programa de Pós-Graduação da FASP Pós-graduado em Engenharia da Informação sfigueiredo@soft.com.br
  • 12. INTRODUÇÃO: I – CAÇA AO DESPERDÍCIO DE TALENTOS: Artigo 02 A necessidade de Gestão do Conhe- É muito comum percebemos colaboradores cimento (GC) é uma realidade em atuando em posições que nada tem a ver nossos dias, contudo, a prática dela com suas aspirações, potencial e força de é uma “ficha que ainda não caiu” trabalho. A pessoa certa no local certo é, para muitas organizações. A falta portanto, fruto da mais pura GC. Pessoas de ampla compreensão da GC e a atuando em local indevido ou incompatível adoção de práticas essencialmente com o saber, talento e aspirações, além focadas na informação atrasam sua de resul-tar em prejuízos, caracterizam “decolagem” no meio empresarial. uma situação de desperdícios quando Infelizmente, muitos não se deram diante da existência de postos mais apro- co nt a ainda que pelo fato do priados aos interesses corporativos e ao de- co nhecimento ser essencialmente senvolvimento e desempenho delas. Este humano, não é possível alcançar a tipo de desarranjo pode ser considerado GC sem se molhar e mergulhar no um tipo de desperdício de talentos, que é 11 oceano da humanidade. Ir além completamente incoerente com a GC. da administração dos recursos Hoje em dia muitos dos processos su- tangíveis e da força e empenho cessórios são traumáticos, não porque as muscular são apenas algumas das empresas não têm sucessores à altura dos boas novas da administração que, talentos a serem substituídos, mas, princi- em conjunto, fazem da GC o lado palmente, por que elas não os conhecem. mais humano da gestão. Os talentos raramente são descobertos e E, falando, sobre oceano, nenhuma treinados com a devida antece-dência. outra analogia seria tão perfeita Além do desperdício das potencialidades quanto à do efeito iceberg, para internas, as contrata-ções externas podem denunciar a freqüência com que gerar desmotivação em talentos poten- as pessoas apenas executam o tra- cialmente capazes para ocupar as vagas em balho de GC visível, acima da linha aberto, contrari-ando a própria GC. d’água, fazendo e alcançando a- Não pensando exclusiva-mente nos processos penas tímidos vinte por cento de sucessórios, a atuação coerente em GC resultados de todo o potencial. Ain- exige dos gerentes, a descoberta perene da não tão claro assim, os diferenci- de talentos nas empresas, também para ais em GC, normalmente são obtidos ocupar postos e cargos novos, resolver abaixo da linha d’água, sendo crítico desafios empresariais mais complexos, e função nossa, explorar também resolver problemas dos clientes e uma esta parte submersa do “iceberg”, infinidade de atividades relacionadas de mais difícil acesso e visualização. com a aplicação do conhecimento. Neste artigo, sem esgotar os oitenta Por desconhecer, não descobrir potenci- por cento normalmente submersos, alidades do conhecimento e por deixar de comentarei algumas atuações em usá-las em casos específicos, tanto nossa GC não tão mencionadas como nação e sociedade, quanto nossas empresas práticas, por se acharem quase amar-gam perdas expressivas e prejuízos que completamente inundadas e todos os anos. Com muita propriedade, a GC geladas neste oceano corporativo, deve se dedicar à identificação e desenvol- mas que precisam ser reveladas e vimento de potencialidades escondidas. trazidas à luz.
  • 13. II – SÓ ATITUDE NÃO BASTA. ensinar e solicitar ajuda, ensina- Artigo 02 Muitos gerentes estimulam a atitude (ação) mentos e apoio, do que outras. A como se bastasse ao sucesso, mas se esque- GC exige que treinemos nossos cem que a atitude é, sim, fundamental quan- colaboradores a se comportarem do acompanhada de conhecimentos, habili- pró-ativamente em favor da busca dades, experiências, métodos e contexto. e obtenção do saber. Atitude por atitude, sem o conhecimento A frase de Michel de Montaigne é como suporte pode ser terrível. Não por no mínimo ilustrativa em relação acaso, Goethe afirmava não existir nada mais a este interesse e prática: “Quem triste do que a ignorância em ação. Embora quiser se curar da ignorância precisa importante, a atuação desacompanhada confessá-la”. O fato é que precisa- de conhecimen-tos quase sempre depõem mos estimular nas pessoas não contra a organização. Isso porque só a ati- somente a curiosidade, precisamos tude não basta. É preciso a atitude certa fazer com que os indivíduos pas- (com conhecimentos). Quanto mais atitudes sem a reconhecer seus limites do incorretas as pessoas tomam, pior para a saber e do não saber. Precisamos 12 empresa. O empowerment sem competência ensinar os nossos funcionários a é trágico. A competência sem atitude é pedir ajuda, a explicar melhor sobre inútil. Mas ainda pior que a competência o que necessitam, a compartilhar sem atitude são atitudes sem competência, problemas,a identificar devendo estas despertar a atenção da GC. e localizar peritos em conhecimentos espe- “A GC exige que III - ESQUEÇO, ABANDONO, LOGO, EU NÃO cíficos,a detalhar o tipo treinemos os USO. de ajuda que precisam, colaboradores a se O que está abandonado pode ser considerado a solicitar sugestões, a comportarem desconhecido e vice-versa. Dessa forma, a compartilhar com os pró-ativamente em caça de um e de outro sempre é relevante outros o que aprendeu favor da busca e da à GC. Localizar colaboradores e recursos (mesmo que seja a obtenção do saber”. “abandonados” ou não considerados pela partir de erros), a se estratégia tem grande importância corpo- apresentar sempre a rativa. Se existem pessoas com potencial, disposição para apren- ilhadas, alocadas em trabalhos paralisantes der e ensinar algo, a valorizar os que que não geram crescimento, escondidas sabem e os que pedem ajuda e etc. em rotinas e etc, isto deve ser descoberto e tratado à luz da GC, pois onde se encontram, V – A DIFERENÇA ENTRE O QUE OS jamais poderão gerar e/ou aplicar o poten- FUNCIONÁRIOS SABEM E O QUE cial dos conhecimentos reprimidos. O que REALMENTE APLICAM. está abandonado pode estar esquecido e se Muito do “patrimônio” intelectual está esquecido está também à margem da GC, da companhia pode ser usado, mas portanto, de qualquer interesse empresarial. não pode por ela ser obtido. Esta parte importante “se torna pro- IV – ENSINAR A ABORDAR O CONHECI- priedade” da empresa apenas en- MENTO, A PEDIR AJUDA E A APRENDER COM quanto aplicada voluntariamente OS COLEGAS. a seu favor. Além de ser a soma Algumas pessoas, e não só no ambiente do conhecimento mobilizado (co- corporativo, possuem mais habilidades para locado em ação) pelos funcionários,
  • 14. o Capital Intelectual compreende e social do saber. Artigo 02 e impacta a maneira de atuar, a Concluindo este artigo, na próxima edição inteligência dos processos de negó- divulgarei outros seis exem-plos de atuações cio e produção, a capacidade e a inte- relevantes em GC. ligência de relacionamento com os clientes, fornecedores e parceiros, o Bibliografia: modo como opera, distribui, vende Figueiredo, Saulo - Gestão do Conheci-mento e atua na cadeia de valor, aplicações - Estratégia Competitivas para a Criação e de software, patentes registradas, Mobilização do Conhecimento - QualityMark Ed. fórmulas secretas, marcas, imagem 2005 e etc. Além de cuidar e cultivar os ativos intangíveis de valor, a Gestão do Capital Intelectual, deve se certificar de que o pessoal esteja 13 aplicando o saber em benefício da organização. Se não houver disposi- “Se não houver disposição, ção, motivação, empatia, motivação, empatia, propósito e atitude da propósito e atitude da melhor qualidade para melhor qualidade para aplicação generalizada aplicação generalizada de conhecimentos, de de conhecimentos, de nada valerá o saber. nada valerá o saber”. CONCLUSÃO Voltando à metáfora do iceberg para caracterizar o estágio da GC atual, a conclusão é que muitas empresas apenas arranham a superfície do enorme “bloco de gelo”, extraindo apenas benefícios dos conhecimentos localizados na parte visível acima da linha d’água. Por desconhecerem a amplitude de GC, gastam muito tempo obtendo o que todo mundo obtém, não construindo diferenciais competitivos de valor a partir da prática da genuína GC. Ainda que seja içando os icebergs ou estancando os oceanos, continua premente aproveitar as riquezas lo- calizadas abaixo da linha d’água, pois estas serão imprescindíveis à criação de um mundo melhor, em um planeta, por incrível que pareça, ainda tão carente da prática efetiva
  • 15. A importância dos gerentes na condução da gestão do conhecimento Frank Astor do Nascimento Professor do Departamento de Administração da Faculdade Simonsen Mestre em Administração pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro fastor@oi.com.br
  • 16. Artigo 03 capacidade produtiva aonde os melhores trabalhadores deveriam ser estimulados a serem cada vez mais produtivos através de ganhos. Em 1895, Taylor apresentou à sociedade INTRODUÇÃO. o que é considerado o primeiro trabalho 15 Com a evolução do mundo capi- da administração científica : A Piece-rate talista, o processo de produção system (um sistema de pagamento por sofreu profundas mudanças, fa- peças) (...) ele propõe um método para zendo surgir, assim um novo mo- eliminar a diminuição do valor pago por delo profissional, o colaborador da peça (...) de forma que o trabalhador passou Gestão do Conhecimento, deixan- a produzir o suficiente para garantir um do de ser somente um trabalhador bom nível salarial. aximiano (2005, 56) comum voltado para a produção, Nessa época as empresas começaram a para tornar-se um ser pensante e conseguir ganhos de produtividade, deu- participativo. se ênfase ao modelo do esforço repetitivo, Nesse novo padrão, a relação à capacidade do desenvolvimento braçal, entre chefes e subordinados de- o desenvolvimento intelectual estava verão ser aprimoradas, caberá designado aos níveis hierárquico mais dar aos gerentes a capacidade de altos, os administradores da época, não trabalhar cabeças produtivas e davam a importância ao desenvolvimento pensantes, aquele que opina, mas, da inteligência do funcionário, cabia ao para isso, precisa existir nos lí- gerente a função de administrar, a função deres um mínimo de capacidade de técnica cabia ao operador, aquele que era conhecimento, uma formação con- responsável pela produção. dizente com o cargo que ocupa, para Nos moldes daquela época aos dias de poder gerar um ambiente propício. hoje, existiu uma evolução do perfil do trabalhador, ele deixou de ser mecânico A EVOLUÇÃO DO PROFISSIONAL. para se tornar pensante, trabalhando, A crescente evolução na produção assim, com um capital humano não só nos dias atuais teve como pedra de para torná-lo competente, mas, também, esquina, o processo mecanicista de participativo, alguém que pense e seja produção, salientado por Frederick competente o bastante para assumir Winslow Taylor e seus seguidores, responsabilidades. da administração científica, tra- Para Bahry & Tolfo (2004, 42) “a palavra zendo nesse período a visão competência tem assumido significados do homem comparado a uma variados no mundo do trabalho, e alguns máquina, incentivado pela sua
  • 17. deles estão mais voltados para as pessoas organizacional, isso requer a Artigo 03 (conhecimentos, habilidades e atitudes) e aplicação profundado conhecimen- outros para as tarefas (resultados)”. to ao conhecimento.”Para o referido Como se prepara no capitalismo pós- autor o papel do gerente terá uma moderno a mão-de-obra produtiva? Hoje é importância primordial. importante destacar a relação entre traba- Como em todo o mundo, ocorreu lhador e a sua formação; nesse contexto, no Brasil uma transição, embora o maior desafio de uma organização de- que tardia, da evolução do perfil ve ser o de criar a cultura voltada para o dos profissionais; aos poucos foi aprender a aprender, segundo Zabot & acontecendo a evolução. Hoje, Silva (2002, 95) “para instalar a cultura da muitas empresas tem buscado aprendizagem, é necessária compreensão inseminar o desenvolvimento clara das novas diretrizes de uma tarefa dos seus colaboradores. Mas educativa voltada não mais para o ensino, como os gerentes estão lidando mas para a aprendizagem”. com essa questão? Será mesmo Não basta inserir no profissional um que aqueles responsáveis pelo 16 conhecimento específico da empresa, desenvolvimento do grupo, têm ou, até mesmo, colocá-lo para realizar realmente essa capacidade? cursos dentro dos moldes da instituição; existe, hoje, a necessidade de se trabalhar RESULTADOS DA PESQUISA. habilidades, ou, até mesmo, “gênios”, O trabalho realizado buscou que se não encontrarem um ambiente observar a relação entre o chefe propício e estimulante certamente não e o funcionário, no que tange permanecerão, levarão consigo toda a o nível de escolaridade. Com bagagem de anos de experiência, e, às isso, observou-se que muitos vezes, para o seu maior concorrente, (...) gerentes não possuem uma tornar o conhecimento produtivo requer escolaridade condizente ao nível que ele seja focalizado com clareza e alta hierárquico assumido, pois, para concentração. Quer seja feito por um desenvolvimento de pessoal é indivíduo ou por uma equipe, o esforço necessário o conhecimento das com o conhecimento requer determina- teorias inseridas nas faculdades. ção e organização. Não se trata de um Não coloca-se aqui a área acadê- “lampejo de gênio”, mas de trabalho duro. mica, mas pelo menos um mínimo Drucker (1999, 182). de nível intelectual teórico. Para A teoria dos Recursos Humanos (RH) Zabot & Silva (2002, 89) “todos mostra que captar pessoas faz parte de um esses fatores levam à necessidade todo, não basta selecionar, realizar grandes de mudança no perfil dos ad- processos de seleção, mas fazer com que o ministradores, e cabe ressaltar escolhido, dentre centenas ou até mesmo o papel fundamental que as milhares, alcance os objetivos propostos universidades exercem em sua pela instituição, prepará-lo para o novo formação.” Os gerentes devem ambiente e torná-lo produtivo, isso é que possuir um mínimo de preparo será o grande enigma, para Chiavenato para lidarem com o profissional (1999, 291) “tornar o conhecimento do capital intelectual, devem ser produtivo é uma responsabilidade lapidados para isso, para Dessler gerencial. Mais do que isso, um desafio (2003, 152) “muitas organizações
  • 18. têm oferecido seminários e con- muitos casos, torna-se desestimulante. Artigo 03 ferências direcionadas ao desen- Ao empregado que está cursando uma volvimento de gerentes (...) os faculdade cabe ter a esperança de que mesmos são ministrados por uni- um dia ele irá mudar, nem que seja de versidades e faculdades”. empresa. O estudo de campo foi feito em duas etapas; na primeira foi Bibliografia. perguntado o nível de escolaridade BAHRY, C. P.; TOLFO, S. R., A gestão de com- do chefe para trabalhadores em petências e a obtenção de vantagem compe- geral, indiferentemente do seu ní- titiva sustentável em organizações bancárias. vel de escolaridade. Na segunda Revista de Administração Mackenzie, v. 5, n. 2, etapa foi feita a mesma pergunta, p. 37-54, 2004. mas somente para trabalhadores CHIAVENATO, I., Gestão de pessoas. Rio de que possuíam o 3º grau completo Janeiro: Ed. Campus, 1999. ou em curso. DESSLER, G., Administração de Recursos Huma- 17 Na primeira coleta, o resultado nos. São Paulo: Prentice Hall, 2003 mostrou que 31% (trinta e um por DRUCKER, P., Sociedade pós-capitalista. São cento) dos trabalhadores no geral Paulo: Ed. Pioneira, 1999. possuíam chefes com até o 2ºgrau MAXIMIANO, A.. C. A.., Teoria Geral da Ad- completo. Quando se direcionou ministração: da revolução Urbana à Revolução aos alunos graduados ou em Digital. São Paulo: Ed. Atlas, 2005. curso de graduação a pesquisa ZABOT, J. B. M. & SILVA, L. C. M. Gestão do Conhe- demonstrou que 29% (vinte e cimento. São Paulo: Ed. Atlas, 2002. nove por cento) tinham chefes imediatos com o nível de escolaridade até 2º “O Conhecimento tem grau completo. sido criados, divulgados, As perguntas que de- publicados. Todavia, há verão serem feitas são: poucos manuais – se como um chefe gerencia houver – sobre como uma pessoa com nível Implementar a Gestão de escolaridade maior do Conhecimento que a dele? Como ele na Organização”. se comportará diante disso? Será que ele terá a capacidade de trabalhar poten-cialidades ou até mesmo de observar potencialidades? Se- rá que tudo isso apontado teria alguma relevância? CONCLUSÃO. A pesquisa realizada apontou a importância de um chefe no preparo do capital do conhecimento na iniciativa privada. Essa relação, em
  • 19.
  • 20. Gestão Estratégica do Conhecimento em Pequenas Empresas Brasileiras Fabio Márcio Dias da Silva Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Estácio de Sá desenvolvimentogerencial@bol.com.br
  • 21. Artigo 04 INTRODUÇÃO O tema da Gestão do Conhecimento não se constitui assunto esgotado, embora já venha sendo tratado com muita propriedade por diversos autores a partir da segunda metade do século XX (SVEYBI, 1998). Com isso, verifica-se a necessidade constante de discussão a respeito do assunto. Esta reflexão por sua vez é fruto da importância do conhecimento para as empresas em todo o mundo. No 20 entanto é preciso estabelecer o tópico central para a discussão da Gestão do Conhecimento. Este tópico diz respeito à mudança de postura que as empresas de todo o mundo estão adotando para realizar suas atividades, considerando- se o fato de vivenciarmos uma nova era social, tecnológica e organizacional, onde o elemento humano ganha destaque capital. Toffler (1999) destaca que o capitalismo moderno chega em seu momento crucial, pois não há mais fronteiras dentro ou fora da organização. Em decorrência disso, a comunicação e o tempo despontam como variáveis imprescindíveis para tomada de decisão, pois se observa que o estreitamento geográfico, a interação entre pessoas, organizações e países, gerada pelo gigan- tesco avanço das telecomunicações, esta- belecem o centro de gravidade para a discussão da Gestão do Conhecimento. Com o advento da Globalização tornou-se necessária a concepção de novos modelos de gestão, em oposição ao antagonismo causado por este fenômeno.Tal indicação se apresenta como um divisor de águas para a atividade empresarial, uma vez que não se concebe mais realizar negócios seguindo velhos paradigmas. Deste modo, uma economia forte é
  • 22. resultado do crescimento de suas Sendo assim, pretende-se esta-belecer as Artigo 04 empresas e este crescimento de- premissas da Gestão do Conhecimento, ve-se à organização de negócios voltadas para a consolidação da atividade voltados para a expansão e ino- empresarial, e que possam melhorar seu vação de produtos e serviços, e, desempenho por meio de critérios de principalmente, ao modo de ad- simples assimilação por parte das pequenas ministrar os recursos que elas empresas brasileiras da nova economia. têm a disposição, devendo ser A partir da década de 1990 as empresas transformados em resultados atra- brasileiras passaram a adotar um com- vés do conhecimento humano. portamento mais profissional, diante das Nonaka e Takeushi (1997) vislum- bruscas mudanças impostas pelo acirra- braram a questão do fluxo do mento da concorrência internacional. conhecimento nas organizações, A volatilidade do capital financeiro e a alertando para que seu geren- escassez de recursos materiais à disposição ciamento se torne uma ação fez com que o empresariado brasileiro re- 21 empresarial. pensasse seus mecanismos de criação de Como já observado, as pessoas são bens e serviços. Tal acontecimento trouxe à as responsáveis pelo desdobramen- baila a questão da inovação constante, uma to da Informação em Conhecimento. vez que a necessidade do cliente passou a Tal modelo visa demonstrar que, se ser entendida como ponto central para os uma empresa pretende atender negócios da Era da Informação. a seus clientes, onde quer que Portanto, é de fundamental importân-cia eles estejam, em tempo real, com para os pequenos empresários entenderem qualidade e preços adequados, é que somente será possível extrapolar as essencial abrir a câmara secreta das expectativas de seus clientes se forem idéias de todos aqueles que fazem capazes de somar os esforços internos parte do processo organizacional. e externos, extraindo, processando e Com isso, o conhecimento orga- convertendo eficiente e eficazmente nizacional bem gerenciado, pode informação em conhecimento. tornar as pequenas empresas brasi- Com isso, a Gestão do Conhecimento leiras mais produtivas, competitivas impulsiona-se como novo instru-mento de e melhor alinhadas com a realidade tomada de decisão rápida e produtiva, por enfrentada pela economia global. direcionar as empresas e seus membros Ressalta-se que a Gestão do Co- para a criação de uma organização intensiva nhecimento, em oposição ao em conhecimento. senso comum, não depende Notadamente, os trabalhos cientí-ficos já exclusivamente de grande volume encaminhados trazem uma perspectiva de investimento em tecnologia de inexorável para o tema, por dar aos re- informação para ser implementada, cursos intangíveis e ao conhecimento e que não se configura um privilégio tácito o merecido destaque na criação do das grandes corporações. conhecimento corporativo. Daí tratarmos deste assunto voltado De acordo com este entendimento, adotar para as pequenas empresas, já que um compromisso de difusão sistemática e elas representam uma parcela vital ampla do conhecimento pela organização da atividade econômica em nosso antes que seus concorrentes o façam é país. a chave para o sucesso das pequenas
  • 23. organizações brasileiras. Brasileiras concentrem-se em: Artigo 04 Neste sentido, as organizações devem definir • Criar um eixo estratégico desa- suas metas e objetivos de longo prazo, a fim fiador e facilitador da inovação de alcançarem a perenidade de seu negócio, permanente, tendo no tempo sua como parte de um conjunto de atitudes que maior ferramenta para tomada de poderão dar solidez as suas operações. decisão precisa e consistente; No entanto, o campo de atuação da • Estabelecer uma cultura inovadora Estratégia Empresarial é muito amplo, o e auto-desenvolvedora que estimu- que torna a interpretação dos conceitos le a participação dos funcionários, um grande exercício de reflexão, dadas às encorajando-os a contribuir com inúmeras definições e metodologias empre- cada processo; gadas (COSTA, 2002). • Construir uma estrutura orga- Verifica-se, então, a importância de uma nizacional que torne possível os gestão planejada, por parte do empre- relacionamentos e favoreça o flu- sariado, principalmente no que tange ao xo de conhecimento, através de conhecimento organizacional, voltado para 22 processos informais de troca de objeti-vos mais amplos. O tema ganha experiências, permitindo o trabalho ain-da mais relevância, se consideradas as em equipe; peculiaridades da economia Brasileira. • Adotar uma estratégia de re- Terra e Kruglianskas (2003, p. XIII) afirmam cursos humanos coadunados que “os conceitos e práticas da Gestão do como os objetivos organizacionais, Conhecimento podem ser aplicados, com onde prevaleça uma política equili- bons resultados, à realidade da pequena [...] brada de admissões, carreiras e empresa nacional.” recompensas atrativas ao capital Este desafio das Pequenas Empresas da Nova intelectual; Economia somente poderá ser superado • Desenvolvimento de uma es- com o consenso de que o único recurso à trutura informacional que auxilie disposição de toda e qualquer organização, na conversão, disseminação, com- lucrativa ou não, são as pessoas e suas partilhamento, armazenamento e competências (WOOD Jr., 2004). reuso do conhecimento; Tal base conceitual revela um caráter • Adoção de métricas para reco- prático e objetivo, que trata da criação do nhecimento da evolução dos conhecimento organizacional no nível do resultados produzidos pela ação ambiente de negócios, pautado na Estratégia estratégica, avaliando o compo- Empresarial, infraestrutura organizacional nente humano ou capital humano, e relacionamento corporativo, servindo o componente intelectual ou de suporte para o desenvolvimento das capital intelectual e o componente organizações de aprendizagem (PINHEIRO, estrutural ou capital estrutural, 2002). utilizando-se de ferramentas de Pinheiro (idem, p.40) ressalta ainda que “o gestão para medí-los, levando em êxito da empresa está diretamente ligado consideração os aspectos finan- à capacidade de domínio do conjunto de ceiros e não financeiros; habilidades e competências importantes • Já a sétima dimensão relaciona- para seus clientes.” De modo amplo, se ao aprendizado com outras Terra e Kruglianskas (2003) destacam ser organizações, através da conso- importante que as Pequenas Empresas lidação de alianças estratégicas
  • 24. para satisfação de mútuas ne- e de recursos humanos para que possam Artigo 04 cessidades. competir em igualdade de condições em Sob este enfoque, conclui-se que, qualquer mercado e em tempo real. na economia do que é tangível, Em última análise, estamos entrando na destaca-se apenas a quantidade era do esforço coletivo, onde as redes de do que é produzido, no entanto, na pessoas e seus conhecimentos formam a nova economia, o principal atributo nova consciência empresarial, e é sob esta para a diferenciação é a inovação. bandeira que as pequenas organizações Não somente a inovação para criar brasileiras avançam corajosamente no novos produtos e serviços, mas, novo milênio. sobretudo, para criar novas formas de se relacionar com as pessoas Bibliografia e outras empresas, levando-nos CAVALCANTI, Marcos. ALMEIDA, Eliza-beth Gomes. a entender que uma pequena PEREIRA NETO, André. F. Gestão de Empresas na empresa da nova economia não Sociedade do Conhecimento: Um Roteiro para a 23 sobreviverá se desejar vencer seus ação. Rio de Janeiro: Campus, 2001. desafios isolada em seu universo. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 4 ed. Outra constatação que o estudo Rio de Janeiro: Campus, 2004. revela é que as empresas devem COSTA, Eliezer Arantes. Gestão Estraté-gica. 2 ed. buscar uma nova postura orga- Rio de Janeiro: Saraiva, 2002. nizacional,mais compacta,otimizada NONAKA, Ikujiro. TAKEUSHI, Hirotaka. Criação de e facilitadora do fluxo informacional, Conhecimento na Empresa: Como as Empresas assumindo a forma de Empresa Japonesas Geram a Dinâmica da Inovação. Intensiva em Conhecimento. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues, Priscila Com isso as pequenas empresas no Martins Celeste. Rio de Janeiro: Campus, 1997. Brasil contam com uma vantagem SVEYBI, Karl E. A nova Riqueza das Organizações. que as grandes organizações não Tradução de Luiz Euclides Trindade Frazão Filho. dispõe, que é a proximidade real Rio de Janeiro: Campus, 1998. entre as pessoas, em razão de seu SEBRAE. Serviço de Apoio às Micro e Pequenas tamanho. Esta proximidade resulta Empresas. Boletim Estatístico de Micro e Pequenas fundamentalmente na troca de Empresas, 2005. Disponível em: <http://www. energia vital ao sucesso do negócio: sebrae.com.br>. Acesso em 06 Mar. de 2006. o Conhecimento. TOFFLER, Alvim. A Terceira Onda. 2 ed. São Paulo: Assim, os funcionários assumem Record,1999. papel de destaque pela sua TERRA, José C. Ciryneu. Gestão do Conhecimento: maior interação com clientes e O Grande desafio Empre-sarial. Rio de Janeiro: fornecedores, evidenciando que são Campus, 2000. motor de criação de valor dentro da Gestão do Conhecimento em Pequenas e Médias empresa. Empresas – Coordenação: José C. Ciryneu Terra, Conclui-se que existe um novo Isak Kruglianskas. Rio de Janeiro: Campus, 2003. caminho a ser seguido, uma nova WOOD Jr., Tomaz. Gestão Empresarial: O fator postura, uma nova dinâmica a ser humano. São Paulo: Atlas, 2004. adotada pelas pequenas empresas, que têm a responsabilidade de estabelecer novos critérios, novas políticas de qualidade, operações
  • 25. Artigo 05 Um breve relato da trajetória do CGECon Um caso de sucesso em Gestão do Conhecimento Daniel Duarte Lledó Consultor e Assessor Parlamentar – ABIPTI 24 Mestre em Direito Comunitário pela Universi- dade Complutense de Madri Especialista em Inteligência Organizacional e Competitiva pela Universidade de Brasília daniellledo@hotmail.com O Centro de Gestão Estratégica campo da cooperação internacional e, por do Conhecimento em Ciência e extensão, contribuir para o fortalecimento Tecnologia (CGECon) teve sua da inserção competitiva brasileira no cenário implantação junto ao Departa- internacional. mento de Temas Científicos e Tec- A parceria com o BID buscou propiciar um nológicos (DCT), sob a direção da novo ordenamento à área de cooperação então Ministra Marília Sardenberg internacional, de modo a introduzir uma Zelner Gonçalves, do Ministério das variável nova, representada pela criação Relações Exteriores, autorizada pelo do CGECon. A execução do Projeto do BID então Secretário Geral, Embaixador não apenas reforçou essas relações de Sebastião do Rego Barros. Inserido cooperação internacional, mas também no âmbito do Projeto da Unidade buscou contribuir para alavancar outros Executora de Projetos com o Banco projetos de importância estratégica para Interamericano de Desenvolvimen- o Ministério. Esse Projeto contemplou os to, UEP/BID, “Fortalecimento da Ca- seguintes objetivos: i) reestruturação do pacidade do MRE na Área Econômica DCT; ii) definição de política de parceria e Internacional”, o Centro foi instituí- recrutamento de pessoal para a área de do com o objetivo principal de apoiar cooperação internacional; e iii) implantação a formulação da política externa do CGECon. As etapas implementadas brasileira de ciência e tecnologia, no incluíram a elaboração de diagnóstico,
  • 26. projeto lógico, projeto físico e frutos e reconhecimento não só no âmbito Artigo 05 implantação do novo modelo de do próprio Itamaraty, mas especialmente no gestão no âmbito do DCT. âmbito externo. Nesse contexto, ressalta- A implantação do Centro tornou-se se o trabalho pioneiro da antiga equipe de fato viável por meio da forma- do CGECon que desenvolveu, a partir de ção de uma equipe integrada por um software do Massachusetts Institute of bolsistas do Ministério da Ciência e Technology (MIT), um avançado pacote de Tecnologia (MCT), os quais inicial- soluções tecnológicas totalmente baseado mente representaram quase a to- em software livre. O principal indicador talidade da equipe, e de consultores que demonstra a importância desse feito do Programa das Nações Unidas é evidenciado com a presença do nome para o Desenvolvimento (PNUD). do CGECon como o único representante O grupo estruturou-se de ma- brasileiro a constar no rol das instituições neira horizontalizada, e conduziu referenciadas no hemisfério sul em OpenACS uma série de macroprocessos que (veja em http://openacs.org/community/ 25 envolveram a gestão administra- companies/). tiva e tecnológica do Some-se a isso, a citação do CGECon como CGECon, a criação e o um caso de sucesso pelo Programa Avança “Merece destaque, o apoio à operação de Brasil em função do destaque no Programa inestimável papel do comunidades virtuais, de Cooperação Científica e Tecnológica CGECon no âmbito da bem como a análise Internacional. Em sua publicação, “Histórias prática da Gestão do de informações e a de Sucesso”, o Programa classifica o Cen- Conhecimento (GC), ao promoção de eventos tro como uma “experiência inovadora, disseminar conceitos relacionados à gestão sem similar no mundo” (veja em http:// e desenvolver novas do conhecimento e in- www.brasil.gov.br). O CGECon ainda foi técnicas e ferramentas teligência competitiva. considerado como uma referência nacional de GC tornando-se Essa parceria com o no tema “Negociação Internacional de mais uma vez MCT foi fundamental, Acordos de Compensação Comercial, In- referência nacional”. pois a atuação desses dustrial e Tecnológica – Offset”, ao ser o bolsistas permitiu o efe- primeiro no País a criar uma comunidade tivo processo de implantação e ges- virtual com representantes de diversas tão do Centro, o monitoramento de organizações públicas e privadas para tendências e inovações tecnológicas, tratar do assunto. Inovadora também foi o auxílio nos cenários prospectivos e a iniciativa do Centro em reunir, com a a cooperação na produção de estudos publicação do livro “Panorama da Prática do e análises. Os bolsistas também Offset no Brasil”, um conjunto abrangente atuaram na articulação com atores de depoimentos e reflexões sobre o tema. do sistema de C&T no País e no Merece destaque, igualmente, o inestimável exterior, sobretudo com o MCT e o papel do CGECon no âmbito da prática da sistema acadêmico nacional, bem Gestão do Conhecimento (GC), ao disseminar como no monitoramento do PPA em conceitos e desenvolver novas técnicas seus eixos nacionais de integração e e ferramentas de GC tornando-se mais desenvolvimento e em aspectos rela- uma vez referência nacional. Com efeito, cionados aos componentes de C&T. diversas instituições viram o Centro como Todas essas ações resultaram em um modelo no qual poderiam se basear para trabalhos importantes que geraram implementar suas estratégias de GC.
  • 27. Cite-se o exemplo da Empresa Brasileira Práticas de GC, Aprendizagem Or- Artigo 05 de Pesquisa Agropecuária (Em-brapa) que ganizacional, Gestão de Pessoas criou um centro similar ao CGECon e, para por Competência, Tecnologia da tanto, contou não só com a tecnologia Informação, entre outros. desenvolvida pelo Centro mas também Portanto, a implantação do CGECon com o auxílio de seus técnicos para a pôde vir a representar um im- implementação do mesmo. Sendo a Embra- portante avanço, em termos de pa um centro de desenvolvimento de tecno- apropriação de novas tecnologias logia por excelência, esta parceria mostrou a chaves, na área de C&T. Veio ainda, capacidade do CGECon em gerar soluções. inaugurar um novo relacionamen- O CGECon desempenhou ainda diversas to entre o Estado e o usuário – outras ações também relevantes no âmbito notadamente, o setor demandante da prática da GC, haja visto a publicação do de pesquisa e desenvolvimento, livro “Gestão do Conhecimento: experiência que passou a beneficiar-se, direta- do Ministério das Relações Exteriores”, mente, de informações estratégicas bem como a presença de seus membros coletadas, inclusive, no ex-terior. A 26 como fundadores da Sociedade Brasileira expectativa é a de que essa Gestão de Gestão do Conhecimento (SBGC). Em do Conhecimento ve-nha a se cons- virtude desse importante papel realizado, tituir, cada vez mais, em uma variá- o Centro passou a agir como principal ator vel viabilizadora de mudanças que no cerne das ações e discussões no âmbito virão a se perpetuar em uma das pioneiro da Gestão do Conhecimento no novas maneiras de se instrumentar setor público. Conseqüentemente, destaca- a política externa, as políticas pú- se o fato de que a Casa Civil da Presidência blicas e as relações mais amplas da República criou o Comitê Técnico de Ges- entre o Governo e a Sociedade. tão de Conhecimento e Informação Estra- tégica (CGIE) e, posteriormente, designou oficialmente a Ministra Marília Sardenberg Zelner Gonçalves como coordenadora do Comitê, conforme a Portaria Inter-ministerial N.o 264, de 4 de março de 2004. O CGIE - integrante do Comitê Executivo do Governo Eletrônico – tem como missão propor normas e recomendações sobre conceitos, metodologias e uso das melhores práticas de Gestão do Conhecimento ao Governo Eletrônico e contava, até então, com aproximadamente 400 membros, re- presentantes de todos os órgãos tanto da administração direta quanto da indireta e, ainda alguns outros, representantes de instituições privadas. Esse Comitê está distribuído em grupos temático- estraté-gicos, tais como: Educação Corpo- rativa, Comunidades Virtuais, Propriedade Intelectual, Portais Corporativos, Melhores
  • 28.
  • 29. Resenha de Livro trabalhador do conhecimento: o que existe fora do quadrado? 28 Jenner Luís Puia Ferreira Mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília Núcleo de Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP jenner@ibecon.org.br A realidade com a qual a Sociedade do Conhecimento se impôs nos últimos anos fez com que as organizações se voltassem para a gestão do conhecimento como fonte de vantagem competitiva, porém, muito além de “o que” gerir está “quem” gerir. Quem é esse profissional que surge: O trabalhador do conhecimento? Respaldado por vários artigos e dez livros, em “Pensando fora do quadrado”, Daven- port mostra o seu entendimento sobre o trabalhador do conhecimento, suportado por pesquisas realizadas em centenas de empresas com esses trabalhadores, cujo foco foi discutir não apenas características, mas, também, possíveis caminhos para aperfeiçoar o trabalho desempenhado por eles. No primeiro capítulo, ao definir o que é um trabalhador do conhecimento, fica claro para o leitor, acostumado com as discussões sobre a importância do conhecimento na economia, que as técnicas tradicionais de gerenciamento não se aplicam a esse profissional em função da autonomia, motivação e atitudes que norteiam suas ações.
  • 30. Este trabalho “tende a não ter uma e seis, nos âmbitos organizacional e pessoal, Resenha de Livro estrutura bem definida”, alerta respectivamente. O resultado nos leva, na Davenport. esfera organizacional, à importância em se A base para as discussões principais identificar o tipo de trabalho a ser realizado é complementada no segundo para que a ferramenta escolhida possa capítulo, ao ser apresentada uma “ampliar o número de experts humanos proposta de classificação dos tipos e não, substituí-los”. No aspecto pessoal, de trabalhadores do conhecimento a produtividade se mostra diretamente tendo em vista o grau de cola- vinculada com a capacidade de gerir as boração e expertise no trabalho. informações utilizadas pelo trabalhador do Esse entendimento, aliado aos conhecimento. tipos de atividade do conhecimento Os estudos relatados por Daven-port (descoberta, criação, compilação, no capítulo 7 mostram a importância distribuição e aplicação), já nos do networking para o profissional do permite, por exemplo, estruturar a conhecimento que entende ser essa a 29 forma de abordagem a ser tomada melhor maneira de obter informações com vistas à inovação. importantes, reforçando a característica No capítulo seguinte, a pro- tácita desses profissionais e a importância dutividade dos profissionais do da socialização do conhecimento adquirido conhecimento é questionada como por eles. justificativa para as questões: O ambiente físico de trabalho desses intervir ou não no trabalho rea- profissionais, embora pouco estudado, lizado? Por que intervir? Como também é abordado tendo em vista medir esse trabalho? As respostas características como necessidade de apresentadas já mostram o porquê concentração, mobilidade em função do de técnicas como reengenharia, trabalho, preferência pelo trabalho em elaboração de roteiros, processos escritórios, comunicação com pessoas mediados por computador e tratar próximas e simplicidade. os trabalhadores do conhecimento Por fim, Davenport reconhece que gestão e de maneira igual não trazem gerentes continuarão a existir, entretanto, resultados satisfatórios. Estaria essa incumbência também será assumida aqui uma das dificuldades em se por um trabalhador do conhecimento, o implantar gestão do conhecimento que o coloca no papel de jogador/treinador, na administração pública? tendo que criar um ambiente adequado A partir desse ponto, Davenport e propício à produtividade e criatividade organiza a intervenção no trabalho desses profissionais, pois, caso contrário, do conhecimento tratando este quais serão as conseqüências? trabalho como um processo, to- mando, sim, certos cuidados, tais como: tornar esse processo o mais participativo possível, estar adequado ao tipo de trabalho além de fazer a intervenção de maneira participativa, incremental e contínua. O papel das tecnologias da infor- mação é discutido nos capítulos cinco
  • 31. Resenha de Boas Práticas Gestão do Conhecimento em uma Instituição de Pesquisa: O Caso da Embrapa 30 LEONARDO PAIVA MARTINS DE OLIVEIRA Mestre em Administração – UNIFENAS e FUMESC leopaiva.bh@terra.com.br JORGE TADEU DE RAMOS NEVES Pós-Doutor em Empreendedorismo e Inovação – FEAD e UFMG jorge.neves@fead.br jtrneves@ufmg.br INTRODUÇÃO As organizações agropecuárias, inseridas num cenário globalizado de crescente competitividade, têm convivido com desafios cada vez maiores nos campos econômico, social e ambiental. Tal fato tem provocado nas empresas do setor, que buscam sobrevivência e crescimento, a necessidade de rever paradigmas de gestão e introduzir novas práticas de aprendizagem alinhadas a princípios e idéias de contemporaneidade. Com este propósito a busca por inovação passou a ser uma das preocupações do setor agropecuário. Conforme Oliveira (1990), a informação, tanto na forma de tecnologia quanto na de conhecimento sobre recursos no processo produtivo, é o produto mais importante a ser colocado à disposição do produtor rural pelas instituições públicas que operam a política agrícola. Nesse sentido, a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - busca diagnosticar, interpretar, priorizar e responder às demandas do ambiente externo quanto à produção de conhecimento no processo de inovação tecnológica do complexo agropecuário (NACFUR; GUEDES, 2000). A Embrapa adota algumas iniciativas de apoio à gestão do conhecimento, como: o
  • 32. Resenha de Boas Práticas 31 Banco de Boas Práticas; o Modelo de Gestão Estratégica; a Gestão por Processos; a Gestão de Relacionamento com os Públicos (Customer Relationship Management – CRM); a Agência de Informação Embrapa; as Comunidades de Prática; o Data Warehouse; a Inteligência Competitiva; a Gestão da Propriedade Intelectual; a Gestão de Pessoas por Competências; a Educação Corporativa; a Intranet; o Site Corporativo; o Portal e as Listas de Discussões (FRESNEDA, 2003; BATISTA, 2004). Os objetivos desse artigo são identificar a percepção de membros da Embrapa Milho e Sorgo, um dos centros de pesquisa da Embrapa, sobre estas iniciativas de gestão do conhecimento na organização e comparar essa percepção com o discurso oficial da organização. Para isso foi realizada uma pesquisa de caráter qualitativo e quantitativo com um grupo que compreendeu 68 pesquisadores, 25 técnicos de nível superior e 8 gestores de área da Unidade Milho e Sorgo da EMBRAPA, totalizando 91 questionários distribuídos. A EMBRAPA A Embrapa foi criada em 26 de abril de 1973 com a finalidade de reforçar a competência nacional em pesquisa agropecuária. Desde então espalhou centros regionais e locais de pesquisa por todo o Brasil, muitos dos quais em regiões periféricas, contribuindo para elevar a capacitação destas regiões em ciência, tecnologia e inovação e dinamizar economias locais deprimidas (BUAINAIN, 2003). É vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e atua por intermédio de 37 Centros de Pesquisa (dentre eles a Embrapa Milho e Sorgo, objeto de estudo deste artigo), 3 serviços e 11 Unidades Centrais. Ela está presente em quase todos os estados brasileiros, nas mais diferentes condições ecológicas. Para chegar a ser uma das maiores instituições de
  • 33. pesquisa do mundo tropical, a empresa investiu sobremaneira no treinamento de Resenha de Boas Práticas recursos humanos, e possui, hoje, 8.619 empregados, dos quais 2.221 são pesquisadores, 45% com mestrado e 53% com doutorado, operando um orçamento da ordem de R$ 660 milhões anuais (EMBRAPA, 2003). A EMBRAPA E A GESTÃO DO CONHECIMENTO Segundo Fresneda (2002, p. 20), “a Embrapa executa, desde 1973, ano de sua fundação, ações que são consideradas hoje, componentes da gestão do conhecimento. De qualquer maneira uma organização de P&D, tal como a EM- BRAPA, nomeando ou não, formalizando ou não, é obrigada, por uma questão intrínseca exigida por seus processos internos e pelo negócio em que está envolvida, a fazer do conhecimento de uma forma ou de outra, implícita ou explicitamente”. 32 Fresneda (2003, p. 21) divide as iniciativas de gestão do conhecimento na Embrapa em quatro grupos, acomodados no “guarda chuva GC”, em seus diversos estágios no ciclo da vida – em operação, em implantação, em construção ou em planejamento podem ser agrupados nas seguintes categorias: (a) Apoio à gestão; (b) Apoio ao Negócio; (c) Gestão de Pessoas; (d) Tecnologia da Informação. De uma forma resumida, o referido autor (2003, p. 22) cita as seguintes iniciativas da Embrapa listadas por categoria, nos QUADROS 1 a 4, a seguir: QUADRO 1 Categoria: Apoio à Gestão # INICIATIVAS ESTÁGIO 1 Banco de boas práticas Operação 2 Modelo de gestão estratégica Operação 3 Gestão por processos Implantação 4 Gestão de relacionamentos com os públicos Implantação Fonte: Fresneda, p 22. QUADRO 2 Categoria: Apoio ao Negócio # INICIATIVAS ESTÁGIO 5 Agência de informação Embrapa Implantação 6 Comunidades de prática Implantação/operação 7 Data Warehouse Construção 8 Inteligência Corporativa Planejamento 9 Gestão da Propriedade Intelectual Operação Fonte: Fresneda, p 22. QUADRO 3 Categoria: Gestão de Pessoas # INICIATIVAS ESTÁGIO 10 Gestão de pessoas por competências Construção 11 Educação Corporativa Implantação/operação Fonte: Fresneda, p 22.
  • 34. QUADRO 4 Resenha de Boas Práticas Categoria: Tecnologia da Informação # INICIATIVAS ESTÁGIO 12 Intranet Operação 13 Site Corporativo Operação 14 Portal (irá substituir as duas iniciativas anteriores) Implantação 15 Listas de discussões Operação Fonte: Fresneda, p 23. A METODOLOGIA APLICADA – ROAD MAP TO KNOWLEDGE MANAGEMENT RESULTS A metodologia do APQC – intitulada Road Map to Knowledge Management Results (Roteiro de resultados para a gestão do conhecimento) – pretende avaliar se as organizações estão implementando de maneira efetiva a gestão do conhecimento (APQC, 2004). Batista (2004, p. 26) apresenta a metodologia do APQC do seguinte modo: 33 “O APQC desenvolveu uma metodologia para facilitar a institucionalização da gestão do conhecimento. O método descreve os passos fundamentais para implementá-la de fato, ajuda a organização a identificar em que estágio en- contra-se no processo de implementação da gestão do conhecimento e mostra como começar a indicar a direção mais adequada. Para garantir a efetividade do método, o instrumento foi elaborado a partir dos estudos desenvolvidos pela APQC em parceria com organizações de referência – e que, portanto, já eram casos de sucesso – na implementação da gestão do conhecimento”. O roteiro de resultados para a gestão do conhecimento possui cinco estágios de implementação: I) início; II) desenvolvimento da estratégia; III) desenho e implementação de práticas de gestão do conhecimento; IV) expansão e apoio; V) institucionalização da gestão do conhecimento. Cada estágio envolve a descrição – por meio de assertivas – de acontecimentos importantes, objetivos, atores-chave e seus papéis, estrutura organizacional, impacto da tecnologia da informação, formas de medição e aspectos relacionados a orçamento e finanças (APQC, 2004). Para as análises e conclusões apresentadas, tendo como referência as assertivas de forma aberta e as entrevistas com os respondentes, foi feita uma análise de conteúdo a qual, segundo Bardin (1997), visa enriquecer a pesquisa através da opinião pessoal dos respondentes, que, protegidos pelo anonimato, relatam suas experiências na organização e expressam suas opiniões livremente. ANÁLISE DE RESULTADOS E CONCLUSÕES Constatou-se, analisando o conteúdo das entrevistas realizadas e os dados da questão específica sobre o assunto, que o interesse pela gestão do conhecimento é grande. Todavia, os dados analisados apontam falta de informação e discordância dos entrevistados sobre a definição de uma visão ou justificativa para implementar a Gestão do Conhecimento. Por outro lado, as iniciativas da Embrapa em Gestão do Conhecimento e aquelas existentes na unidade pesquisada, não são percebidas pelos respondentes como parte do processo de gestão do conhecimento.
  • 35. A análise dos dados obtidos com as questões relacionadas com o estágio II Resenha de Boas Práticas (desenvolvimento de estratégia) aponta para discordância e indecisão dos respon- dentes sobre a existência na Embrapa Milho e Sorgo de uma estratégia clara visando à implantação da gestão do conhecimento. Sobre o estágio 3 – Desenho e Implementação de Práticas de Gestão do Conhe- cimento -, os respondentes, numa maioria expressiva, segundo os dados coletados, discordaram ou se mostraram indecisos sobre todas as questões formuladas. Neste caso as consultas se relacionavam com a existência na unidade de mecanismos e instrumentos visando à implementação da gestão do conhecimento. O estágio 4 – Expansão e Apoio -, apresentou os mais baixos Índices de positividade. A questão 3 consultando se todas as áreas conheciam as práticas de Gestão do Conhecimento da Embrapa Milho e Sorgo obteve, em 50 entrevistados, 37 respostas discordando e 10 se manifestando como indecisos com um IPR de 41%. No estágio 5, a questão 1 – A gestão do Conhecimento está alinhada e faz parte do modelo de gestão da Embrapa Milho e Sorgo, teve os seguintes comentários dos respondentes: faz parte, mas não está implementada; está alinhada, mas pouco tem 34 sido feito de concreto; e, sim, faz parte das normas da Embrapa e é requisito para a apresentação de propostas para novos dirigentes. Finalmente, em relação aos fatores comuns de sucesso nos projetos de gestão do conhecimento propostos por Davenport e Prusak (1998), podemos concluir: • Quanto à cultura orientada para o conhecimento: a percepção dos respondentes do questionário tanto quantitativo quanto qualitativo, é de que existe esse fator de sucesso na unidade, representada por uma política favorável à participação em seminários, congressos, feiras e atividade de crescimento do conhecimento organizacional. A Embrapa possui, também, programa de educação corporativa como fator de disseminação e desenvolvimento para os pesquisadores das unidades; • Quanto à infra-estrutura técnica e organizacional: percebeu-se que ela é considerada boa. Entretanto, algumas práticas e atividades poderiam ser desenvolvidas explicitamente no sentido de auxiliar o desenvolvimento da gestão do conhecimento, o que é, inclusive, uma demanda dos respondentes. Por outro lado, a existência dos Núcleos Temáticos é, sem dúvida, um grande fator para apoiar a gestão do conhecimento, tendo sido uma iniciativa desenvolvida internamente na Embrapa Milho e Sorgo; • Quanto ao apoio da alta gerência: a Embrapa Milho e Sorgo conta com o incentivo da direção para o desenvolvimento de iniciativas de gestão do conhecimento, podendo-se citar os núcleos temáticos, os comitês de publicações e técnico interno, a área de Comunicação Empresarial e a área de Negócios Tecnológicos; • Quanto ao vínculo ao valor econômico ou setorial: existe uma clara percepção na unidade sobre o benefício econômico dos resultados dos projetos para a sociedade e, consequentemente, para a empresa; • Quanto à orientação para processos: nesse aspecto, a própria empresa traz em sua política de administração, a Gestão de Processos, que compreende o planejamento, o acompanhamento e o monitoramento das atividades de pesquisa e desenvolvimento de forma sistêmica e integrada; • Quanto à clareza de visão e linguagem: esse fator está institucionalizado na
  • 36. Embrapa Milho e Sorgo através de memorandos e outras iniciativas como PDU, comitês Resenha de Boas Práticas de publicações e comitê técnico interno; • Quanto aos elementos motivadores não-triviais: os gestores de núcleos temáticos têm uma remuneração diferenciada para gerenciar e para o desenvolvimento das atividades dos núcleos; • Quanto ao nível da estrutura do conhecimento: na Embrapa Milho e Sorgo a área de Comunicação Empresarial e a área de Negócios Tecnológicos são responsáveis pela estrutura do conhecimento; • Quanto aos múltiplos canais para a transferência do conhecimento: para esse fator de sucesso, pode-se perceber na empresa, entre outras iniciativas: o uso intensivo da Intranet e da Internet e a Gestão por Processos Identificou-se, também, o grau de consolidação dos cinco estágios da metodologia APQC na Embrapa Milho e Sorgo. Percebeu-se que os dois primeiros estágios receberam médias maiores, e os três últimos estágios receberam médias menores na 35 análise estatística deste estudo. Constatou-se que existe uma diferença de percepção sobre os estágios de implantação da gestão do conhecimento entre os respondentes; entretanto, não se pode afirmar que exista uma consolidação dos dois primeiros estágios, mas, tão-somente, uma melhor percepção da existência desses dois primeiros estágios por parte dos respondentes. REFERÊNCIAS APQC – American Productivy & Quality Center. Disponível em: <www.apqc.org>. Acesso em: 20 maio 2004. BATISTA, Fábio F. Governo que aprende: gestão do conhecimento em organizações do executivo federal. Brasília: IPEA, 2004. DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento empresarial. Como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Disponível em: www. embrapa.br Online. Acesso em: 30 jun. 2003. _______________. Cenários 2002 – 2012: Pesquisa, desenvolvimento e inovação para o agronegócio brasileiro: Embrapa, CG, 2003. _______________. Secretaria de administração Estratégica. III Plano Diretor da Embrapa: realinhamento estratégico. 1992-2003. Brasília: Embrapa - SPI, 1998. 40 FRESNEDA, Paulo S.V. A gestão do Conhecimento em Organizações em P&D: o caso Embrapa In: TERRA, José Cláudio Cyrineu (Org.). Gestão do Conhecimento e E-Learning na prática. Rio de Janeiro: Negócio, 2003, P. 19-33. NACFUR, Anis; GUEDES, Vicente G. F. Flexibilidade na organização e divisão do trabalho A experiência da Embrapa, Brasil. Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, 5. Santo Domingo, Rep. Dominicana: 24 – 27 Oct. 2000. Anais OLIVEIRA, João L.M. Bases de um sistema de informação para o setor agropecuário. 1990, 15p. Mimeografado.