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Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...
William Shakespeare




                          SILVIA                         2
Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar
sempre inteira.
Cecília Meireles




                                      SILVIA                     3
Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha
intensidade que se petrifica e nenhuma força consegue destruir.
Carlos Drummond de Andrade




                                  SILVIA                                4
Não sei quem sou que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei
com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei
se existe (se é esses outros)... Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me
ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente
me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela
julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros
espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior
realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se
sente árvore (?) e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas
alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de
todos os homens, incompletamente de cada (?), por uma suma de não-eus
sintetizados num eu postiço."
Fernando Pessoa




                                                                                5
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  • 2. Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto... William Shakespeare SILVIA 2
  • 3. Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira. Cecília Meireles SILVIA 3
  • 4. Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força consegue destruir. Carlos Drummond de Andrade SILVIA 4
  • 5. Não sei quem sou que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)... Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada (?), por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço." Fernando Pessoa 5
  • 6. SILVIA 6