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ANO LETIVO 2011-2012 - PORTUGUÊS, 11º ANO – PROF. ANTÓNIO ALVES
O tema da educação é frequentemente tratado
por Eça de Queirós e surge n’Os Maias como um
dos principais fatores comportamentais e da
mentalidade do Portugal romântico por oposição
ao Portugal novo, voltado para o futuro.
Eça apresenta dois sistemas educativos
opostos: a educação tradicionalista e
conservadora, protagonizada por Pedro da Maia
e Eusebiozinho, e a educação inglesa, ministrada
a Carlos.
A educação “à portuguesa” caracteriza-se pelo recurso à
memorização, pelo uso da cartilha (método já desatualizado e
deficiente) e do catecismo, criando uma ideologia religiosa com a
conceção punitiva do pecado.
Era dada especial atenção ao estudo do Latim, uma língua morta
muito ligada à religião. O educando não devia estar ao ar livre,
não lhe sendo permitido contactar com a Natureza; tinha de ficar
em casa, superprotegido.
Essa educação desvalorizava a criatividade e o juízo crítico,
deformava a vontade própria através do suborno e das
chantagens, acabando por arrastar indivíduos para a decadência
física e moral.
A educação “à portuguesa” e as suas características
A educação ‘à portuguesa’ tornou Pedro num fraco, incapaz de solucionar os seus
problemas, com uma devoção histérica pela mãe. Eusebiozinho fica tristonho e
molengão, corrupto, arrastado para um casamento infeliz.
O Vilaça, o Padre Custódio, a gente da casa dos Maias e a gente de Resende
aprovavam esta educação deformadora, que desagradava a Afonso e ao narrador.
Ao contrário de seu pai, Pedro da Maia, que perante o fracasso amoroso se
suicidou, Carlos procura um novo rumo, elaborando uma filosofia de vida a que
chama “fatalismo muçulmano”: “Nada desejar e nada recear”… Não se abandonar
a uma esperança nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que
foge, com tranquilidade. Ega, autêntica projeção de Eça de Queirós, tornou-se
amigo inseparável de Carlos e, tal como ele, tem grandes projetos (a revista, as
“Memórias de um Átomo, “O Lodaçal”, etc.) que nunca chega a realizar. É também
um falhado, um vencido da vida, que a sociedade lisboeta arrastou na sua onda de
corrupção, todavia progressista e sarcasticamente crítico do Portugal do
Constitucionalismo.
A EDUCAÇÃO “À INGLESA” E AS SUAS CARACTERÍSTICAS
A educação “à inglesa” desenvolve a inteligência graças ao
conhecimento experimental, que desprezava a cartilha e o catecismo.
Defendia o “amor da virtude e da honra” como é próprio de um
cavalheiro e de “um homem de bem”. Centrava-se na ginástica e na
vida ao ar livre, proporcionando um contacto direto com a Natureza.
Era dada atenção às línguas vivas, como o Inglês, em detrimento do
Latim. Fortalecia o corpo e o espírito seguindo a ideia de “corpo são
em mente sã”. Era uma educação rígida e metódica, apoiada por
Afonso e pelo narrador, desaprovada por Vilaça, Padre Custódio, gente
da casa dos Maias e gente de Resende.
Carlos da Maia preparou-se para a vida, fortalecendo o
corpo, o espírito e adquirindo os valores do trabalho e do
conhecimento experimental que o levaram a abraçar o curso
de Medicina e projetos de investigação, de empenhamento
na vida literária, cultural e cívica.
A vida e ociosidade de Carlos e o sequente fracasso dos
seus projetos de trabalho útil e produtivo não resultaram da
educação, mas da sociedade em que se viu inserido.
A Educação “à inglesa” era sem dúvida uma educação mais moderna que a
tradicional, mas que vai igualmente conter lacunas.
A educação britânica, cumprida exageradamente à risca, não serve no meio
social português. Carlos aparece, assim, como a compensação que Afonso
dá a si mesmo pelo fracasso que foi a vida do filho, fracasso esse decorrente
da sua educação que nada correspondia aos ideais alimentados por Afonso.
Não obstante a educação que recebeu, Carlos, tal como o pai, falha na vida
com uma relação incestuosa de que sai remetendo-se ao dolce fare niente
em Paris.
Pedro falhou por causa da educação, enquanto que Carlos falhou apesar da
educação.

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Os maias a educação

  • 1. ANO LETIVO 2011-2012 - PORTUGUÊS, 11º ANO – PROF. ANTÓNIO ALVES
  • 2. O tema da educação é frequentemente tratado por Eça de Queirós e surge n’Os Maias como um dos principais fatores comportamentais e da mentalidade do Portugal romântico por oposição ao Portugal novo, voltado para o futuro. Eça apresenta dois sistemas educativos opostos: a educação tradicionalista e conservadora, protagonizada por Pedro da Maia e Eusebiozinho, e a educação inglesa, ministrada a Carlos.
  • 3. A educação “à portuguesa” caracteriza-se pelo recurso à memorização, pelo uso da cartilha (método já desatualizado e deficiente) e do catecismo, criando uma ideologia religiosa com a conceção punitiva do pecado. Era dada especial atenção ao estudo do Latim, uma língua morta muito ligada à religião. O educando não devia estar ao ar livre, não lhe sendo permitido contactar com a Natureza; tinha de ficar em casa, superprotegido. Essa educação desvalorizava a criatividade e o juízo crítico, deformava a vontade própria através do suborno e das chantagens, acabando por arrastar indivíduos para a decadência física e moral. A educação “à portuguesa” e as suas características
  • 4. A educação ‘à portuguesa’ tornou Pedro num fraco, incapaz de solucionar os seus problemas, com uma devoção histérica pela mãe. Eusebiozinho fica tristonho e molengão, corrupto, arrastado para um casamento infeliz. O Vilaça, o Padre Custódio, a gente da casa dos Maias e a gente de Resende aprovavam esta educação deformadora, que desagradava a Afonso e ao narrador. Ao contrário de seu pai, Pedro da Maia, que perante o fracasso amoroso se suicidou, Carlos procura um novo rumo, elaborando uma filosofia de vida a que chama “fatalismo muçulmano”: “Nada desejar e nada recear”… Não se abandonar a uma esperança nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com tranquilidade. Ega, autêntica projeção de Eça de Queirós, tornou-se amigo inseparável de Carlos e, tal como ele, tem grandes projetos (a revista, as “Memórias de um Átomo, “O Lodaçal”, etc.) que nunca chega a realizar. É também um falhado, um vencido da vida, que a sociedade lisboeta arrastou na sua onda de corrupção, todavia progressista e sarcasticamente crítico do Portugal do Constitucionalismo.
  • 5. A EDUCAÇÃO “À INGLESA” E AS SUAS CARACTERÍSTICAS A educação “à inglesa” desenvolve a inteligência graças ao conhecimento experimental, que desprezava a cartilha e o catecismo. Defendia o “amor da virtude e da honra” como é próprio de um cavalheiro e de “um homem de bem”. Centrava-se na ginástica e na vida ao ar livre, proporcionando um contacto direto com a Natureza. Era dada atenção às línguas vivas, como o Inglês, em detrimento do Latim. Fortalecia o corpo e o espírito seguindo a ideia de “corpo são em mente sã”. Era uma educação rígida e metódica, apoiada por Afonso e pelo narrador, desaprovada por Vilaça, Padre Custódio, gente da casa dos Maias e gente de Resende.
  • 6. Carlos da Maia preparou-se para a vida, fortalecendo o corpo, o espírito e adquirindo os valores do trabalho e do conhecimento experimental que o levaram a abraçar o curso de Medicina e projetos de investigação, de empenhamento na vida literária, cultural e cívica. A vida e ociosidade de Carlos e o sequente fracasso dos seus projetos de trabalho útil e produtivo não resultaram da educação, mas da sociedade em que se viu inserido.
  • 7. A Educação “à inglesa” era sem dúvida uma educação mais moderna que a tradicional, mas que vai igualmente conter lacunas. A educação britânica, cumprida exageradamente à risca, não serve no meio social português. Carlos aparece, assim, como a compensação que Afonso dá a si mesmo pelo fracasso que foi a vida do filho, fracasso esse decorrente da sua educação que nada correspondia aos ideais alimentados por Afonso. Não obstante a educação que recebeu, Carlos, tal como o pai, falha na vida com uma relação incestuosa de que sai remetendo-se ao dolce fare niente em Paris. Pedro falhou por causa da educação, enquanto que Carlos falhou apesar da educação.