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O Estranho Jhone (Contos) - Lucian Rufo
O ESTRANHO JHONE
Jhone era alto, magro, branco e gostava de filmes. Era seu primeiro dia
naquela escola grande e cheia. Ele tinha segredos, parecia um objeto
misterioso, incógnito, indecifrável, não queria estar ali.
Tudo mudaria num instante! Sei jeito esquisito ficou mais esquisito ainda
quando avistou Laura - uma moça linda e inteligente. Laura era animada, um
pouco apegada à loucura, conhecida por quase todos ali. Era um amor
bloqueado pelo proibido. O rapaz viu-se bem longe de consegui-la.
Ele, calado, misterioso e secreto. Ela, bonita, sorridente, inteligente e
conhecida. Para Jhone a escola agora era um jardim com uma orquídea
perfeita!
Era manhã.
- Oi! - Era Laura - Aluno novo?
- É... o... Oi!
- Novo aqui?
- Si.. Sim. É... Meu nome é Jhone.
Laura estava há uns 2 metros dele. O rapazola estava trêmulo e sem jeito.
Haviam várias pessoas no pátio comprido e sem fim.
- Meu nome é Laura. Você parece ser.. É...
- É! Sim! Eu gosto de livros! Aliás, amo literatura! Estou lendo a Saga "Além
das Árvores"...
Ele foi interrompido por ela. Uma frase banal! Tudo mudaria num instante! Tudo
se tornaria mais desconfortável. Laura foi até Jhone e disse, sem jeito:
- Moço, desculpe-me, mas estou falando com o cara que está atrás de você.
Perdão.
----- * -----
O VIZINHO ESTRANHO
Laura era inteligente, não tinha medo de quase nada: nem da chuva, nem das
tempestades, nem do escuro. Seu quarto era iluminado apenas por um antigo
abajour herdado de sua avó, a qual era carinhosamente chamada de Yassanã
pelos netos mais próximos. Diziam que o jeito destemido de Laura era sangue
da avó.
Não era um quarto qualquer. Pela janela do quarto dava para ver a janela do
quarto da casa ao lado – a janela do vizinho. Esse sujeito novo ali quase não
saía de casa. Laura nunca tinha, sequer, o cumprimentado. Aquilo a
incomodava. Sempre, desde o colegial, saía fantasiada de coruja para pedir
doces aos vizinhos; “Era uma aberração! Mas era legal!”, dizia ela. Mas este
era diferente. Este vizinho era tão sólido como pedra. Nunca avistara
perfeitamente, via somente seu vulto passando pela janela de vidraça suja do
quarto.
Todos os dias ela o via caminhar pelo quarto de um lado para o outro,
embaraçosamente, sem ver direito seu rosto, sua pele, seus cabelos... Sabia
apenas que ele era alto, magro e estranho.
Era quarta-feira, noite fria. Laura lia “Além das árvores”, uma saga pouco
conhecida. Foi então, interrompida por um barulho alto vindo do quarto do
vizinho: “Crash!”.
- Já disse que não! Vamos deixar tudo como está! Vamos nos mudar daqui.
São Paulo, Goiânia... sei lá!
Era um diálogo entre o vizinho e uma mulher alta, magra e branca como neve
que despertava curiosidade aos ouvidos e olhos de Laura.
- Você quer que sejamos pegos, Ariela?! Ora! Eu já esqueci tudo aquilo e quero
que você esqueça também! – Dizia o vizinho coçando a cabeça.
- Não... Entenda! Ora bolas! É só um planinho simples. Ninguém vai precisar
saber.
Laura ficou trêmula, mas decidiu ficar calada diante daquilo. Afinal, tudo
poderia ser uma mera brincadeira. Seria um risco desvendar aquilo, um
mistério sem nexo. Pensava ela: “A vítima é desconhecida por mim, então, se
não sou eu, não devo me meter onde não sou chamada”. Ela pensava...
Pensava... E isso ia corroendo sua cabeça.
No outro dia, Laura nem se lembrava mais do que tinha visto e ouvido. Estava
no último capítulo do livro e só queria saber dele. Ouviu, de repente, batidas
em sua porta – era o tal vizinho. Branco (branco mesmo!), alto como vara, meio
magro. Embora quisesse apenas um café, foi o suficiente para deixar Laura
quase molhada (me refiro a xixi mesmo!). Ela não parecia ser corajosa como
antes. Tremia por dentro e segurava tudo isso.
Estavam na cozinha. “É só eu me virar, pegar o café pra ele e pronto!”,
pensava ela. De costas para o rapaz, ao pegar o café, sentiu uma mão gelada
em seu ombro nu.
- Moço... O que foi? – Perguntou-o, quase derrubando tudo no chão.
Não houve resposta em palavras. Laura sentiu uma forte pancada na cabeça!
Um café, um golpe!
Minutos depois... A neta preferida de Yassanã agora abria os olhos e via seu
quarto de longe, pela janela do quarto do vizinho. Mexer-se era impossível!
Não era paralisia, nem infarto, nem algum outro problema, eram cordas bem
apertadas.
---- * ----
O RATO, O GATO E O CÃO
Aquela manhã foi se passando lentamente, friamente... Todas as memórias,
todos os momentos de colegial foram se passando pela mente de Laura. Sua
colação de grau foi linda! Seu discurso memorável e plausível. Mas, aquele
rapaz... Ele não estava lá. Ela o viu cinco ou seis vezes na escola. Pensava:
"Ele era meu colega?". Num instante, veio um estouro em sua memória! Era
ele! O tal Jhone, o estranho. O rapaz alto e calado. Laura se recordava daquele
dia, ela não havia esquecido do "Moço, me desculpe, mas estou falando com o
cara que está atrás de você...". Voltou então aonde estava - acordada num
calabouço, um quarto cheio de páginas de jornais grudados na parede. Jhone
agora possuía uma barba rala, cabelos bem curtos e roupas mais estranhas.
Ao seu lado estava Ariela, a única irmã do estranho rapaz. Era misteriosa,
diferente, mas tinha uma beleza inexplicável. Ela olhava pra Laura, fixando
olhos com olhos:
- Então, Manolo, é essa aí? Vamos acabar de vez com isso.
- Não! Espera! Vamos pensar um pouco. Matá-la não será o mais apropriado. -
Jhone procurava se desviar de tudo aquilo, mas sua irmã era mais cruel que
tudo ali!
- O quê?! Ela já matou meu Jhone querido! Matou o seu coração bobo! Quer
que fique tudo como está? Não! Ela te humilhou, lembra? Mãe e Pai que estão
pedindo! Ouça eles Jhone! Acaba logo com isso!
- Não, Ariela! - Jhone retrucava com medo de tudo aquilo.
- Cale-se, Jhone! Faca ou Arma de fogo? Escolhe. - Ariela estava ali, como
abelha nos ouvidos do rapaz - Pega a arma, segura assim, firme! Isso! Agora...
Aperta o gatilho! O resto eu cuido.
- Não, Ariela... Eu... Deixa ao menos ela falar algo.
Ariela retirou o pedaço de pano da boca de Laura já alertando-a de que se ela
gritasse tudo ia ser finalizado naquele momento. Laura chorava e tentava
emendar as palavras em meio aos soluços:
- Jhone... Ouve-me... Eu nunca quis o seu mau, jamais! Aquele dia eu nem te
conhecia direito, não foi minha intenção te humilhar, juro! Podemos ser
amigos...
Ariela não se conteve e adentrou-se naquela conversa:
- Ah! Blá! Blá! Blá! Vai ficar ouvindo tudo isso da boca dela? Ignora tudo!
- Ariela, eu quero ouvi-la! Posso?
- O quê?! Vai ousar me desobedecer?! Mãe e Pai não vão gostar disso!
Laura tentava ao máximo convencer Jhone de que ele não era aquilo, que ele
tinha valores, era inteligente e capaz de viver sem todas essas mágoas:
- Jhone, você não é isso. Me solte e podemos conversar normalmente. Não
ouça ela. Naquele dia, no colegial, eu te via, sabia que você estava alí. Quando
falou que gostava de ler "Além das Árvores" eu comecei a perceber que você
era um cara legal.
- Aperta logo esse gatilho! Pirralho! - Disse Ariela, com o rosto suado.
- Cala a sua boca! - Gritou Jhone - Cala-te! Não existe Mãe e nem Pai. Eles
morreram naquele incêndio, eles não estão aqui, Ariela! Cala-te!
Ariela deu dois passos para traz, em silêncio, sentou-se numa cadeira velha.
Jhone foi até Laura, segurou em seu rostou, suavemente:
- Eu só queria te amar um ppouco ou.. A vida toda. Você é linda, atraente,
gentil... Eu só queria que me notasse.
- Mas, eu te notei, Jhone. Eu via em você um rapaz bom que sofria algo. Eu vi
em você uma alma que pedia ajuda. Deixa eu te ajudar? Me solte.
Ele chorava como uma criança. Deixou a arma cair no chão e começou a
desatar as cordas. Levantaram-se. Foi um abraço longo... De perdão? Talvez.
Mas, um abraço desfeito pelo barulho de Ariela que segurava forte aquela
arma, sem piedade, sem amor!
- Ou ela ou os dois! Cansei! Se não quer me respeitar vá descansar com Mãe e
Pai! Vamos Jhone, saia!
- Não, Ariela!
- Não? Olha pra ela! Tão nojenta, humildezinha, bonitinha... Me dá nojo. Ela
nem sequer sabe quem eu sou. Sabe? Sou eu, a menina burra da escola, a
aquela que queria ser você! Agora eu tenho nojo! Nojo de vocês dois! - Ariela
desabafava. Era uma verdadeira tempestade em copo d'água.
Laura se recordou de tudo. Ariela estava tão diferente, tão estranha desde o
colegial. Tinha crescido, pintado o cabelo de ruivo e estava mais alta.
Irreconhecível! Tudo se silenciou quando veio um barulho lá debaixo: "Toc!
Plaft!". Eram policiais, uns três ou mais.
Os homens equipados e bem armados ouviram apenas um tiro alto, vindo lá de
cima, do quarto. Um som assustador, doentil, preocupante.
Estava tudo em silêncio.
- Vamos! Abram a porta. - Diziam os policiais.
A única opção foi arrombar aquela porta de madeira.
"Pá!"
Os olhos deles foram domados por uma única imagem: um corpo no chão.
---- * ----
AMOR E CHAMAS
Aquele dia poderia ser um "Independence Day" para Jhone. Ele estava
livre de um cadeado que o prendia pela mente. Ariela era sua única irmã. Ari-
ela, ela: A moça que tirou sua própria vida. Porque? Pensar bastante era inútil
naquele momento, pois precisavam correr, correr... A única atitude que veio em
mente foi deixar aquele corpo, ainda quente, no chão. Foi um dos inúmeros
casos misteriosos que a policial local deveria desvendar. O suicídio estava
claro. Todas as pistas levavam a esse ato. A loucura daquela moça alta e ruiva
era só um lamento pela sua vida. E tudo tinha acabado ali, com um único e
incrédulo disparo. O vermelho-sangue e a cor ruiva dos cabelos enfeitaram o
chão branco do quarto. Jhone e Laura estavam longe dali.
- Pronto! Tudo acabou. Me solta agora. Pode, ao menos, me dizer pra onde
estamos indo?
Jhone ficou calado. Apenas olhava a estrada e dirigia seu antigo jeep que
cheirava a poeira deixado pelo seu falecido pai. Ele pensava em sua irmã:
"Porque ela fez aquilo?". Recordava a sua meninice, os momentos bons.
Depois, recapitulava a cena triste e negra do incêndio da primavera que levou
seus pais. Ouvia os gritos das pessoas e sentia Ariela abraçando-o,
conduzindo-o para um lugar seguro. Depois daquele incêndio eles dois nunca
mais foram os mesmos. Jhone sentiu o trauma na pele, o fogo rasgando a
madeira e os gritos das pessoas ficaram sussurrando em sua mente durante a
vida toda. Sentiu raiva do mundo, se isolou num abrigo para jovens sem pais e
logo foi adotado por um casal de Turcos que só Deus sabe aonde estão. Ariela
havia decidido viver sozinha, cuidando de si própria. Toda a sua vida foi
contada para Laura naquele momento, que, por sua vez, ficou calada, apenas
respirava e esperava um desfecho.
- Antes que eu nunca mais te veja, quero que saiba que já fui feliz. Fui tão feliz
que... É aqui! Essa fazenda. Antes do incêndio no apartamento nós morávamos
aqui, nessa fazenda. - Dizia Jhone, desligando o jeep.
Os dois desceram... Enquanto Jhone caminhava lentamente, recordando toda
uma vida tranquila, Laura mandava uma mensagem pelo celular. Quando
Jhone olhou pra traz viu que Laura o seguia disfarçadamente.
- Você está bem, Laura? Prometo que voltará pra casa. Só quero mudar sua
opinião sobre mim. Entre... Aqui era meu quarto.
- É... Lindo seu quarto. Aliás, era lindo. Não mora mais ninguém aqui? -
Perguntou Laura.
- Não. Resolvemos não vendê-la. Olha... Esses eram meus pais, ali no quadro.
E aquela é... Era Ariela. - Jhone parou por um instante.
Foi nesse instante que Jhone ouviu os barulhos de carros chegando. Sirenes e
vozes tomavam conta do lugar.
- Você chamou a polícia, Laura? Porque você não confiou em mim? Eu disse
que ia te soltar. - Jhone olhava indignado para Laura querendo uma resposta.
- Nãa.. Não! - Laura respondia, com a voz falha - Não, Jhone.. Eles..
Naquele instante momento Jhone apanha o celular de Laura e confirma que
tinha sido realmente ela a autora da denúncia. E pior ainda: a mensagem dizia:
"Socorro! Um psicopata me sequestrou!". Aquilo foi uma faca no peito de
Jhone! Todas as suas chances de conquistar Laura tinham ido pro fundo do
poço. O fogo de seu ódio se acendeu com maior fugor. Decidiu então, colocar
esse fogo pra fora num único gesto: acabar com a vida dos dois.
Haviam alguns galões de gasolina do antigo jeep no porão da casa. Laura ficou
trancada no quarto até que Jhone voltasse. Seu plano seria incendiar todo o
quarto com ambos dentro.
Lá fora a polícia esperava uma resposta, uma tentativa, uma salvação. Haviam
vários policiais e a imprensa da TV local. Os pais de Laura também estavam do
lado de fora, desesperados, confusos e esperançosos. As batidas cardíacas de
seus pais aceleram com maior força quando ouviram o grito de Laura:
"Nããão!". O cheiro de gasolina se estendia por todo o quarto. Agora era Laura,
Jhone e um palito de fósforo aceso. Tudo estava por um fio! Laura tentava
convencê-lo, mas nada adiantava:
- Não faça isso. Não destrua as nossas vidas! Elas estão em suas mãos,
Jhone.
- Mas... Você acabou de destruir a minha, Laura! Olha só! O que será de mim?
Não houveram mais palavras. O palito de fósforo caiu no chão de madeira e o
fogo começou a se alastrar pelo quarto. Jhone se encobria de fogo e
caminhava rumo à Laura, queria um abraço, um fim juntos. Laura precisava de
um ato de coragem. Percebeu que ali encontrava-se uma janela de vidro - A
única salvação. Pular em direção à vida ou à morte? O quarto era alto, lá de
cima via os rostos humanos desesperados. Foi a única esperança: Laura se
atirou pela janela, quebrando a vidraça quente e despencando do alto, do
telhado da casa antiga.
Tudo tinha se acabado? Não sabia se sobreviveria ou não.
Três dias depois...
Laura abre os olhos e vê uma forte luz. Era a lâmpada.
- Onde estou? - Perguntava.
- No hospital, Laura. Está tudo bem. - Respondia a enfermeira.
A enfermeira usava uma roupa branca e uma máscara no rosto.
- Obrigado, moça! - Laura agradecia.
- De nada, Laura! - A enfermeira abraçava-a, tentando confortá-la de tudo que
havia passado.
- Posso saber seu nome, moça? - Perguntou Laura.
A enfermeira fechou a porta, voltou-se para Laura e respondeu, tirando a
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- Ariela.
Fim.

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  • 2. O ESTRANHO JHONE Jhone era alto, magro, branco e gostava de filmes. Era seu primeiro dia naquela escola grande e cheia. Ele tinha segredos, parecia um objeto misterioso, incógnito, indecifrável, não queria estar ali. Tudo mudaria num instante! Sei jeito esquisito ficou mais esquisito ainda quando avistou Laura - uma moça linda e inteligente. Laura era animada, um pouco apegada à loucura, conhecida por quase todos ali. Era um amor bloqueado pelo proibido. O rapaz viu-se bem longe de consegui-la. Ele, calado, misterioso e secreto. Ela, bonita, sorridente, inteligente e conhecida. Para Jhone a escola agora era um jardim com uma orquídea perfeita! Era manhã. - Oi! - Era Laura - Aluno novo? - É... o... Oi! - Novo aqui? - Si.. Sim. É... Meu nome é Jhone. Laura estava há uns 2 metros dele. O rapazola estava trêmulo e sem jeito. Haviam várias pessoas no pátio comprido e sem fim. - Meu nome é Laura. Você parece ser.. É... - É! Sim! Eu gosto de livros! Aliás, amo literatura! Estou lendo a Saga "Além das Árvores"... Ele foi interrompido por ela. Uma frase banal! Tudo mudaria num instante! Tudo se tornaria mais desconfortável. Laura foi até Jhone e disse, sem jeito: - Moço, desculpe-me, mas estou falando com o cara que está atrás de você. Perdão. ----- * ----- O VIZINHO ESTRANHO Laura era inteligente, não tinha medo de quase nada: nem da chuva, nem das tempestades, nem do escuro. Seu quarto era iluminado apenas por um antigo abajour herdado de sua avó, a qual era carinhosamente chamada de Yassanã pelos netos mais próximos. Diziam que o jeito destemido de Laura era sangue
  • 3. da avó. Não era um quarto qualquer. Pela janela do quarto dava para ver a janela do quarto da casa ao lado – a janela do vizinho. Esse sujeito novo ali quase não saía de casa. Laura nunca tinha, sequer, o cumprimentado. Aquilo a incomodava. Sempre, desde o colegial, saía fantasiada de coruja para pedir doces aos vizinhos; “Era uma aberração! Mas era legal!”, dizia ela. Mas este era diferente. Este vizinho era tão sólido como pedra. Nunca avistara perfeitamente, via somente seu vulto passando pela janela de vidraça suja do quarto. Todos os dias ela o via caminhar pelo quarto de um lado para o outro, embaraçosamente, sem ver direito seu rosto, sua pele, seus cabelos... Sabia apenas que ele era alto, magro e estranho. Era quarta-feira, noite fria. Laura lia “Além das árvores”, uma saga pouco conhecida. Foi então, interrompida por um barulho alto vindo do quarto do vizinho: “Crash!”. - Já disse que não! Vamos deixar tudo como está! Vamos nos mudar daqui. São Paulo, Goiânia... sei lá! Era um diálogo entre o vizinho e uma mulher alta, magra e branca como neve que despertava curiosidade aos ouvidos e olhos de Laura. - Você quer que sejamos pegos, Ariela?! Ora! Eu já esqueci tudo aquilo e quero que você esqueça também! – Dizia o vizinho coçando a cabeça. - Não... Entenda! Ora bolas! É só um planinho simples. Ninguém vai precisar saber. Laura ficou trêmula, mas decidiu ficar calada diante daquilo. Afinal, tudo poderia ser uma mera brincadeira. Seria um risco desvendar aquilo, um mistério sem nexo. Pensava ela: “A vítima é desconhecida por mim, então, se não sou eu, não devo me meter onde não sou chamada”. Ela pensava... Pensava... E isso ia corroendo sua cabeça. No outro dia, Laura nem se lembrava mais do que tinha visto e ouvido. Estava no último capítulo do livro e só queria saber dele. Ouviu, de repente, batidas em sua porta – era o tal vizinho. Branco (branco mesmo!), alto como vara, meio magro. Embora quisesse apenas um café, foi o suficiente para deixar Laura quase molhada (me refiro a xixi mesmo!). Ela não parecia ser corajosa como antes. Tremia por dentro e segurava tudo isso.
  • 4. Estavam na cozinha. “É só eu me virar, pegar o café pra ele e pronto!”, pensava ela. De costas para o rapaz, ao pegar o café, sentiu uma mão gelada em seu ombro nu. - Moço... O que foi? – Perguntou-o, quase derrubando tudo no chão. Não houve resposta em palavras. Laura sentiu uma forte pancada na cabeça! Um café, um golpe! Minutos depois... A neta preferida de Yassanã agora abria os olhos e via seu quarto de longe, pela janela do quarto do vizinho. Mexer-se era impossível! Não era paralisia, nem infarto, nem algum outro problema, eram cordas bem apertadas. ---- * ---- O RATO, O GATO E O CÃO Aquela manhã foi se passando lentamente, friamente... Todas as memórias, todos os momentos de colegial foram se passando pela mente de Laura. Sua colação de grau foi linda! Seu discurso memorável e plausível. Mas, aquele rapaz... Ele não estava lá. Ela o viu cinco ou seis vezes na escola. Pensava: "Ele era meu colega?". Num instante, veio um estouro em sua memória! Era ele! O tal Jhone, o estranho. O rapaz alto e calado. Laura se recordava daquele dia, ela não havia esquecido do "Moço, me desculpe, mas estou falando com o cara que está atrás de você...". Voltou então aonde estava - acordada num calabouço, um quarto cheio de páginas de jornais grudados na parede. Jhone agora possuía uma barba rala, cabelos bem curtos e roupas mais estranhas. Ao seu lado estava Ariela, a única irmã do estranho rapaz. Era misteriosa, diferente, mas tinha uma beleza inexplicável. Ela olhava pra Laura, fixando olhos com olhos: - Então, Manolo, é essa aí? Vamos acabar de vez com isso. - Não! Espera! Vamos pensar um pouco. Matá-la não será o mais apropriado. - Jhone procurava se desviar de tudo aquilo, mas sua irmã era mais cruel que tudo ali! - O quê?! Ela já matou meu Jhone querido! Matou o seu coração bobo! Quer que fique tudo como está? Não! Ela te humilhou, lembra? Mãe e Pai que estão pedindo! Ouça eles Jhone! Acaba logo com isso!
  • 5. - Não, Ariela! - Jhone retrucava com medo de tudo aquilo. - Cale-se, Jhone! Faca ou Arma de fogo? Escolhe. - Ariela estava ali, como abelha nos ouvidos do rapaz - Pega a arma, segura assim, firme! Isso! Agora... Aperta o gatilho! O resto eu cuido. - Não, Ariela... Eu... Deixa ao menos ela falar algo. Ariela retirou o pedaço de pano da boca de Laura já alertando-a de que se ela gritasse tudo ia ser finalizado naquele momento. Laura chorava e tentava emendar as palavras em meio aos soluços: - Jhone... Ouve-me... Eu nunca quis o seu mau, jamais! Aquele dia eu nem te conhecia direito, não foi minha intenção te humilhar, juro! Podemos ser amigos... Ariela não se conteve e adentrou-se naquela conversa: - Ah! Blá! Blá! Blá! Vai ficar ouvindo tudo isso da boca dela? Ignora tudo! - Ariela, eu quero ouvi-la! Posso? - O quê?! Vai ousar me desobedecer?! Mãe e Pai não vão gostar disso! Laura tentava ao máximo convencer Jhone de que ele não era aquilo, que ele tinha valores, era inteligente e capaz de viver sem todas essas mágoas: - Jhone, você não é isso. Me solte e podemos conversar normalmente. Não ouça ela. Naquele dia, no colegial, eu te via, sabia que você estava alí. Quando falou que gostava de ler "Além das Árvores" eu comecei a perceber que você era um cara legal. - Aperta logo esse gatilho! Pirralho! - Disse Ariela, com o rosto suado. - Cala a sua boca! - Gritou Jhone - Cala-te! Não existe Mãe e nem Pai. Eles morreram naquele incêndio, eles não estão aqui, Ariela! Cala-te! Ariela deu dois passos para traz, em silêncio, sentou-se numa cadeira velha. Jhone foi até Laura, segurou em seu rostou, suavemente: - Eu só queria te amar um ppouco ou.. A vida toda. Você é linda, atraente, gentil... Eu só queria que me notasse. - Mas, eu te notei, Jhone. Eu via em você um rapaz bom que sofria algo. Eu vi em você uma alma que pedia ajuda. Deixa eu te ajudar? Me solte. Ele chorava como uma criança. Deixou a arma cair no chão e começou a desatar as cordas. Levantaram-se. Foi um abraço longo... De perdão? Talvez. Mas, um abraço desfeito pelo barulho de Ariela que segurava forte aquela arma, sem piedade, sem amor!
  • 6. - Ou ela ou os dois! Cansei! Se não quer me respeitar vá descansar com Mãe e Pai! Vamos Jhone, saia! - Não, Ariela! - Não? Olha pra ela! Tão nojenta, humildezinha, bonitinha... Me dá nojo. Ela nem sequer sabe quem eu sou. Sabe? Sou eu, a menina burra da escola, a aquela que queria ser você! Agora eu tenho nojo! Nojo de vocês dois! - Ariela desabafava. Era uma verdadeira tempestade em copo d'água. Laura se recordou de tudo. Ariela estava tão diferente, tão estranha desde o colegial. Tinha crescido, pintado o cabelo de ruivo e estava mais alta. Irreconhecível! Tudo se silenciou quando veio um barulho lá debaixo: "Toc! Plaft!". Eram policiais, uns três ou mais. Os homens equipados e bem armados ouviram apenas um tiro alto, vindo lá de cima, do quarto. Um som assustador, doentil, preocupante. Estava tudo em silêncio. - Vamos! Abram a porta. - Diziam os policiais. A única opção foi arrombar aquela porta de madeira. "Pá!" Os olhos deles foram domados por uma única imagem: um corpo no chão. ---- * ---- AMOR E CHAMAS Aquele dia poderia ser um "Independence Day" para Jhone. Ele estava livre de um cadeado que o prendia pela mente. Ariela era sua única irmã. Ari- ela, ela: A moça que tirou sua própria vida. Porque? Pensar bastante era inútil naquele momento, pois precisavam correr, correr... A única atitude que veio em mente foi deixar aquele corpo, ainda quente, no chão. Foi um dos inúmeros casos misteriosos que a policial local deveria desvendar. O suicídio estava claro. Todas as pistas levavam a esse ato. A loucura daquela moça alta e ruiva era só um lamento pela sua vida. E tudo tinha acabado ali, com um único e incrédulo disparo. O vermelho-sangue e a cor ruiva dos cabelos enfeitaram o chão branco do quarto. Jhone e Laura estavam longe dali. - Pronto! Tudo acabou. Me solta agora. Pode, ao menos, me dizer pra onde estamos indo?
  • 7. Jhone ficou calado. Apenas olhava a estrada e dirigia seu antigo jeep que cheirava a poeira deixado pelo seu falecido pai. Ele pensava em sua irmã: "Porque ela fez aquilo?". Recordava a sua meninice, os momentos bons. Depois, recapitulava a cena triste e negra do incêndio da primavera que levou seus pais. Ouvia os gritos das pessoas e sentia Ariela abraçando-o, conduzindo-o para um lugar seguro. Depois daquele incêndio eles dois nunca mais foram os mesmos. Jhone sentiu o trauma na pele, o fogo rasgando a madeira e os gritos das pessoas ficaram sussurrando em sua mente durante a vida toda. Sentiu raiva do mundo, se isolou num abrigo para jovens sem pais e logo foi adotado por um casal de Turcos que só Deus sabe aonde estão. Ariela havia decidido viver sozinha, cuidando de si própria. Toda a sua vida foi contada para Laura naquele momento, que, por sua vez, ficou calada, apenas respirava e esperava um desfecho. - Antes que eu nunca mais te veja, quero que saiba que já fui feliz. Fui tão feliz que... É aqui! Essa fazenda. Antes do incêndio no apartamento nós morávamos aqui, nessa fazenda. - Dizia Jhone, desligando o jeep. Os dois desceram... Enquanto Jhone caminhava lentamente, recordando toda uma vida tranquila, Laura mandava uma mensagem pelo celular. Quando Jhone olhou pra traz viu que Laura o seguia disfarçadamente. - Você está bem, Laura? Prometo que voltará pra casa. Só quero mudar sua opinião sobre mim. Entre... Aqui era meu quarto. - É... Lindo seu quarto. Aliás, era lindo. Não mora mais ninguém aqui? - Perguntou Laura. - Não. Resolvemos não vendê-la. Olha... Esses eram meus pais, ali no quadro. E aquela é... Era Ariela. - Jhone parou por um instante. Foi nesse instante que Jhone ouviu os barulhos de carros chegando. Sirenes e vozes tomavam conta do lugar. - Você chamou a polícia, Laura? Porque você não confiou em mim? Eu disse que ia te soltar. - Jhone olhava indignado para Laura querendo uma resposta. - Nãa.. Não! - Laura respondia, com a voz falha - Não, Jhone.. Eles.. Naquele instante momento Jhone apanha o celular de Laura e confirma que tinha sido realmente ela a autora da denúncia. E pior ainda: a mensagem dizia: "Socorro! Um psicopata me sequestrou!". Aquilo foi uma faca no peito de Jhone! Todas as suas chances de conquistar Laura tinham ido pro fundo do
  • 8. poço. O fogo de seu ódio se acendeu com maior fugor. Decidiu então, colocar esse fogo pra fora num único gesto: acabar com a vida dos dois. Haviam alguns galões de gasolina do antigo jeep no porão da casa. Laura ficou trancada no quarto até que Jhone voltasse. Seu plano seria incendiar todo o quarto com ambos dentro. Lá fora a polícia esperava uma resposta, uma tentativa, uma salvação. Haviam vários policiais e a imprensa da TV local. Os pais de Laura também estavam do lado de fora, desesperados, confusos e esperançosos. As batidas cardíacas de seus pais aceleram com maior força quando ouviram o grito de Laura: "Nããão!". O cheiro de gasolina se estendia por todo o quarto. Agora era Laura, Jhone e um palito de fósforo aceso. Tudo estava por um fio! Laura tentava convencê-lo, mas nada adiantava: - Não faça isso. Não destrua as nossas vidas! Elas estão em suas mãos, Jhone. - Mas... Você acabou de destruir a minha, Laura! Olha só! O que será de mim? Não houveram mais palavras. O palito de fósforo caiu no chão de madeira e o fogo começou a se alastrar pelo quarto. Jhone se encobria de fogo e caminhava rumo à Laura, queria um abraço, um fim juntos. Laura precisava de um ato de coragem. Percebeu que ali encontrava-se uma janela de vidro - A única salvação. Pular em direção à vida ou à morte? O quarto era alto, lá de cima via os rostos humanos desesperados. Foi a única esperança: Laura se atirou pela janela, quebrando a vidraça quente e despencando do alto, do telhado da casa antiga. Tudo tinha se acabado? Não sabia se sobreviveria ou não. Três dias depois... Laura abre os olhos e vê uma forte luz. Era a lâmpada. - Onde estou? - Perguntava. - No hospital, Laura. Está tudo bem. - Respondia a enfermeira. A enfermeira usava uma roupa branca e uma máscara no rosto. - Obrigado, moça! - Laura agradecia. - De nada, Laura! - A enfermeira abraçava-a, tentando confortá-la de tudo que havia passado. - Posso saber seu nome, moça? - Perguntou Laura. A enfermeira fechou a porta, voltou-se para Laura e respondeu, tirando a
  • 9. máscara do rosto: - Ariela. Fim.