REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Plasticidade sináptica
1. Plasticidade Sináptica
A conectividade entre os neurônios é constantemente alterada em resposta à atividade neural e outras influências.
PLASTICIDADE SINÁPTICA DE CURTA DURAÇÃO:
Duram poucos segundos ou menos.
Existem quatro tipos de plasticidade sináptica de curta duração e elas diferem em seus cursos temporais e mecanismos subjacentes.
Facilitação sináptica: Rápido aumento na eficácia sináptica que ocorre quando dois ou mais potenciais de ação invadem o terminal pré-sináptico de modo sucessivo, um a poucos milissegundos do outro. A facilitação dura dezenas de milissegundos. Ela é resultado do atraso nos mecanismos de retorno do cálcio aos níveis de repouso fora da célula, ocasionando em um acúmulo de cálcio no terminal pré-sináptico, permitindo que mais neurotransmissores sejam liberados por um potencial de ação subsequente.
Depressão sináptica: Redução na liberação de neurotransmissor durante a atividade sináptica sustentada, devido ao esgotamento de vesículas dentro do terminal axônico.
Aumentos sinápticos: Também causam aumento da quantidade de neurotransmissor liberada dos terminais pré-sinápticos por ações repetitivas. Contudo, após o estímulo, a liberação de neurotransmissor volta ao normal em poucos segundos.
Potenciação: Basicamente igual ao aumento sináptico, mas o período de tempo para voltar ao normal dura de dezenas de segundos à minutos. Como resultado do seu curso mais lento, a potenciação pode durar por um tempo bem maior do que o tétano (muitos potenciais de ação em um curto período de tempo), sendo frequentemente denominada de potenciação pós-tetânica.
PLASTICIDADE SINÁPTICA DE LONGA DURAÇÃO:
Em função da sua maior duração, essas formas de plasticidade podem ser consideradas correlatos celulares do aprendizado e da memória.
Podem ser do tipo: Potenciação de Longa Duração ou Depressão de Longa Duração.
Ocorre em hipocampo, córtex, amígdala e cerebelo.
Estudo feito in vitro de fatias do hipocampo vivo, local importante na formação e evocação de algumas formas de memórias.
Regiões distintas dentro do hipocampo: CA1 e CA3, onde CA3 manda estímulos através dos Colaterais de Schaffer (axônios de CA3) para os neurônios de CA1.
A estimulação dos Colaterais de Schaffer produz potenciais excitatórios pós-sinápticos nas células em CA1. Se os Colaterais de S. são estimulados duas ou três vezes por minuto, a amplitude dos potenciais excitatórios pós- sinápticos evocados nos neurônios de CA1 permanece constante. Contudo, quando um tétano atua sobre os mesmos, ocorre a produção de uma Potenciação de Longa Duração, que pode durar por mais de um ano (mecanismo de armazenamento de longa duração da informação).
2. As potenciações de Longa Duração tem três propriedades: Dependentes do estado: o grau de despolarização da célula pós-sináptica determina se a Potenciação irá ocorrer ou não.
Especificidade aos sinais de entrada: quando a Potenciação é induzida pela estimulação de uma sinapse, ela não ocorre nas outras sinapses inativas que contatam o mesmo neurônio (isso determina a seletividade que temos para armazenar informações específicas).
Associatividade: essa propriedade é esperada em qualquer rede neuronal que associe um conjunto de informações ao outro.
Mecanismos moleculares de Potenciação de Longa Duração:
Dois tipos de receptores na membrana do neurônio pós-sináptico: receptores AMPA (permeáveis ao Ca²+ através da ligação com o neurotransmissor) e NMDA (canal dependente de voltagem não é permeável ao Ca²+ somente pela ligação com o neurotransmissor; ele é bloqueado por concentrações fisiológicas de Mg²+).
Durante transmissões sinápticas de baixa frequência, o glutamato liberado (neurotransmissor) pelos Colaterais de Schaffer liga-se a ambos os tipos de receptores. Contudo, se o neurônio estiver em seu potencial de membrana de repouso normal, os canais de NMDA permanecerão fechados, bloqueados pelo Mg²+. Nessas condições, a Potenciação não ocorre, já que o influxo de Ca²+ é mediada somente pelos receptores AMPA. Contudo, quando a célula pós- sináptica está despolarizada (seja pela aplicação direta de uma corrente induzida ou por outro mecanismo natural – convergência de estímulos de vários neurônios para um só), os receptores NMDA perdem a conexão com o Mg²+ e ficam liberados para a passagem de Ca2+
O aumento resultante na concentração de Ca²+ dentro dos espinhos dentríticos da célula pós-sináptica é o fator fundamental
para o disparo da Potenciação de Longa Duração.
Mais receptores AMPA podem ser adicionados à membrana do neurônio pós sináptico através da ativação das proteínas-cinases dependentes de Ca²+ / calmodulina e proteína-cinase C.
Depressão a Longo Prazo:
Se as sinapses continuassem a ter sua eficácia aumentada como resultado da Potenciação de Longa Duração, elas atingiriam um nível máximo de eficácia, tornando difícil a codificação de novas experiências. Assim, para que o aumento da eficácia sináptica seja útil, outros processos devem enfraquecer, de forma seletiva, conjuntos específicos de sinapses. A depressão de longa duração é um desses processos.
Ocorrem quando as Colaterais de Schaffer são estimuladas em uma frequência mais baixa e por períodos mais longos.
Aumentos pequenos e lentos de Ca²+ levam à depressão, enquanto que aumentos rápidos de Ca²+ levam à potenciação.
Está associada à perda de receptores AMPA sinápticos da membrana do neurônio pós-sináptico.
Plasticidades dependentes de tempo de disparo:
Outro determinante importante para a ocorrência de Potenciação ou da Depressão, além da frequência de disparos, é a relação temporal de
3. atividade nas células pré e pós- sinápticas.
A depressão ocorre se a antes da atividade pré-sináptica, ocorrer a aplicação de um potencial de ação na célula pós-sináptica se o potencial de ação pós-sináptico ocorre antes do potencial de ação pré-sináptico, então a despolarização associada ao potencial de ação pós-sináptico terá cessado no momento em que ocorrer o potencial excitatório pré-sináptico. Isso reduzirá a quantidade de Ca²+ que entra através dos receptores NMDA, levando à depressão.
A potenciação ocorre se o potencial de ação pós-sináptico se segue à atividade pré-sináptica Se o potencial de ação pós-sináptico ocorrer após a atividade pré-sináptica, a despolarização resultante retirará o bloqueio dos receptores NMDA, provocando um influxo de Ca²+ relativamente, ocasionando a potenciação.