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A minha palavra favorita
      Este textos foram tarefa de uns últimos vinte minutos de uma aula
de Português das turmas 10.º 1.ª, 10.º 2.ª, 10.º 4.ª, 10.º 5.ª e 10.º 6.ª.
Pouco antes, lêramos página de diário de José Saramago, em que este
apresentava o verbo alanzoar como uma espécie de palavra de
              estimação.
                    Vimos então exemplos de palavras favoritas
              escolhidas, e comentadas, por escritores, artistas,
jornalistas, etc. Reparámos também nos resultados de um inquérito sobre
palavras preferidas dos ingleses.
      Os textos que entretanto se fizeram foram
depois corrigidos e, de novo, reformulados pelos
seus autores. Faltaram vinte, os dos alunos que se
esqueceram de os devolver a tempo.
Só há duas palavras que são referidas por mais do que um
aluno. Mar é apontada três vezes; Sempre foi escolhida por dois
alunos. Com mar se relacionam outras das palavras apontadas:
Ericeira, Surfar, Concha. Além de sempre, são indicados os
seguintes advérbios: Hoje, Não, Supostamente, Talvez. Há uma
palavra que tem o mérito de aparecer ao lado do seu antónimo,
aliás dela derivado: Conspícuo e Inconspícuo.
     Há uma série de substantivos mencionados mais pelo que
referem do que pela palavra em si: Eternidade, Céu, Felicidade,
Garra, Universo, Destino, Perfeição, Passado, Literatura, Gelado,
Viagem, Quotidiano, Paz, Vida, Sabedoria, Voluntariado, Desejo,
Amizade, Amor. Embora de outras classes, Desfrutar, Amigo,
Mim, remetem também para gostos mais do que para a própria
imagem gráfica ou som da palavra. Adulto, ao contrário, é
escolhida por irritar a sua autora.
     Além de Ericeira, há mais dois topónimos: Merdaleja e
Carvalhal. Também Aldeia e Aldear aludem ao campo. Vemos
uma dezena de antropónimos (em geral, nomes adoptados como
nomes de pessoas, mesmo quando não o eram originalmente): o
primeiro nome Marta; o apelido Garrido; os nomes de carinho
Chuca, Mimi, Qué-Qué, Pipoquinha, Vrandovsky; mas também
Bisnaga, Caracol, Birotes, Apendicite. Gordjé pode entrar neste
grupo ou no dos neologismos, juntamente com Arlingas,
Totocarro, Percular, Pequenalmoçar e Amorar.
     Já que falei em processos de formação, noto que há uma
sigla, Lol, e mais umas cinco palavras de outras línguas ou só
recentemente portuguesas: o moldavismo Ciuvac, o galicismo
Gaufre, a expressão latina Lorem Ipsum, o anglicismo Post-it, o
japonesismo Zen. Palavras que vêm do léxico científico são três:
Árgon, Desoxirribonucleico e Néon. Otorrinolaringologista e
Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose foram lembradas
decerto por serem grandes (e difíceis de dizer).
     Uma exacta dezena de palavras está mencionada por se
ligar a dificuldades ou erros de pronúncia: Hades, Lula,
Mealheiro, Merdinha, Bigo, Chinamen, Cóquina, Dona Carmo,
Doche, Espilro. Interjeições ou palavras com função interjectiva:
Xé, Raios, Catano, Epá, Oias, Afinfa-lhe, Bananinhas, Purée.
Algumas destas constituem uma espécie de palavras privativas,
que alguém se habituou a usar como passe-partout: Ganso,
Idiota, Sublime, Ridículo. Dentro do grupo de palavras-fétiche
castiças, inesperadas, pelo próprio som, estão Balandrau,
Bazófia, Chinchila, Surripiar, Pedestal, Gimbra, Halibute,
Macambúzio, Onomatopeia, Xenofobia, Lagartixas. Tipo é uma
caricatura de tique linguístico. Três palavras foram sugeridas por
serem ditas por outros, em contextos «narrativos»: Posso,
Salteadores, Tranquilidade.
     Três palavras podem parecer obscenas ou ousadas —
Fónix, Escroto, Procriar — mas, como se verá, foram adoptadas
pelos seus autores com toda a lhaneza (aliás, palavra que é pena
ninguém ter citado). A escatologia está representada com Caga-
na-saquinha, Urinol — e não está com Cocó porque a Carlota se
esqueceu de entregar o seu texto. Já só me falta enquadrar Arroz
e Azedo (palavras com A e Z?) e, finalmente, a palavra Palavra.




Adulto
      É uma das palavras que mais me enlouquecem, não pela
palavra em si mas pelo contexto em que é utilizada.
      Tanto a minha avó como a minha mãe usam a palavra, quando
lhes é favorável. Segundo o que as senhoras dizem, eu sou muito
adulta, para umas coisas, e, para outras, uma indefesa criança que é
necessário proteger dos perigos existentes.
      Sou muito adulta para cuidar das minhas primas e da minha
irmã, quando elas saem. Sou adulta o suficiente para ajudar e/ou
gerir uma casa cheia de pessoas de diferentes idades e feitios. Sou
adulta, quando sentem que precisam da minha ajuda para trabalhos
“mais adultos”. Sou adulta para compreender melhor as coisas que
se passam à minha volta.
Mas já não sou adulta para andar de metro sozinha. Viajar de
autocarro só às quintas-feiras para ir para a escola. Sair à noite sem
a presença da progenitora está fora de questão, porque sou
demasiado nova e não tenho idade para essas coisas.
     Afinal, o que sou? Uma pessoa que já deve ser tratada com um
pouco mais de maturidade ou uma simples criança que necessita de
cuidados apropriados à sua idade?
                                                    Catarina (10.º 5.ª)




Afinfa-lhe
      É a minha palavra preferida — aliás verbo e pronome —, mas
não sei bem o que significa. Acho que é uma espécie de incentivo
para uma acção (pelo menos, sempre lhe atribuí esse sentido).
      Adoro o som que tem. «Afinfa-lhe». Não é giro? Voltando à
origem da expressão... A primeira vez que a ouvi veio da boca do
meu primo. Ora, desde pequena que vejo o meu primo como o meu
ídolo, porque, para além de ele só dizer coisas estúpidas, faz-me
sempre rir, mesmo quando não quero. Sempre hei-de afinfalhar
«afinfa-lhe» às pessoas a quem quero incentivar. A palavra «força»
já perdeu a piada.
                                                  Marta F. (10.º 5.ª)




Aldear
      «Aldear» vem da palavra «aldeia» e tem dois sentidos, que são
o de refúgio e o de calma. Explicando melhor: esta palavra surge-me
sobretudo nos verões, quando eu vou para a aldeia dos meus avós,
onde “fujo” da cidade e que é um medicamento contra o stress, visto
que é uma aldeia deveras calma e tranquilizante onde o barulho dos
carros e a poluição sonora é quase nula. Lá tenho um tanque que foi
adaptado a piscina. É que lá faz muito calor no Verão, que é quando
eu costumo ir refrescar-me.
      «Aldear» é uma palavra que visa a tranquilidade, o canto dos
pássaros e a brisa das montanhas (que até sabe bem quando faz
calor no Verão). As pessoas também se conhecem todas, já que a
aldeia é pequena, socializam muito. É lá que também como o melhor
pão: a minha avó fá-lo quando é preciso, lá temos um forno onde ela
o coze.
      Os sons emitidos pela natureza também são muito bonitos e é
a tranquilidade no seu estado mais puro.
      Uma palavra que me lembra muita alegria e traz saudades…
                                                   Afonso (10.º 4.ª)




Aldeia
      É uma palavra que, para os outros, pode não ter nada de
especial, mas que, para mim, é das palavras mais bonitas de se
dizer e escrever. «Aldeia», «al… + …deia», simplesmente adoro-a.
Talvez seja da maneira como é dita ou das boas recordações que
me traz à memoria, mas é das palavras de que mais gosto.
      A palavra «Aldeia» faz-me lembrar o mundo dos meus bisavós,
que viviam no campo, na aldeia do Carregal, perto de Viseu. Depois
de a minha avó crescer, veio para Lisboa. Agora, as tradições ainda
se mantêm, passamos o Natal todos juntos na aldeia. Gosto muito da
cidade e não consigo ficar indiferente ao seu barulho e ao
movimento, mas basta-me pensar na aldeia e fico muito mais calmo
pois lembro-me de toda a tranquilidade de uma aldeia e das boas
recordações que a palavra marca.
      Voltando um bocadinho atrás: “aldeia” fica no ouvido e fica bem
em qualquer texto. Toda a gente já escreveu “aldeia”, o que quer
dizer que a palavra é muito vulgar. Mas, mesmo assim, não perde a
sua piada. É a minha palavra-fétiche.
                                                      Diogo (10.º 5.ª)




Amigo
     A palavra sempre esteve na minha vida, desde muito
pequenina. Até aos meus sete, oito anos, não lhe dava muita
importância, mas, a partir dos doze, treze anos, já comecei a ter por
ela mais interesse.
      Agora, com quinze, dezasseis anos, já dou imenso valor à
palavra «amigo», se bem que haja bons e maus amigos.
      «Amigo» é uma palavra a que os adolescentes em geral dão
muita importância, embora, por vezes, a palavra em causa seja
desilusão para muita gente.
      Esta palavra faz-me sentir muito bem e dou-lhe muita
importância, mas outras vezes não.
       «Amigo» é uma palavra que não se deve estragar.
                                                Vanessa C. (10.º 6.ª)




Amizade
      Disseram-me que demoramos muito a construir uma amizade,
mas que, em pouco tempo, a destruímos. Eu digo também que todos
erramos, caímos e nos magoamos, mas que, de maneira alguma,
devíamos deixar aqueles que amamos.
      Amizade é amor, é amar. Amizade é mais do que uns simples
bons momentos, vivências ou experiências, é a presença constante
em todos os momentos da nossa existência. É, também, o apoio
falado ou silencioso, é a mão que limpa a lágrima e o sorriso que se
ilumina junto do nosso! É a partilha total, a transparência e a
mudança.
      É na amizade que se baseia tudo o que somos, bem como a
nossa própria felicidade.
                                                 Margarida (10.º 4.ª)




Amor
      A palavra «amor» não se caracteriza apenas por ser uma
sequência de duas sílabas, mas também por poder servir para
disfarçar a falta de engenho de qualquer pessoa que não consiga
dar-se bem com o sexo oposto e que queira ser querido, amoroso.
Talvez ao dizer «amor» o consiga ser.
«Amor» não serve apenas para chamar a «cara-metade»,
serve também para caracterizar o que sentimos. Até pode ser um
cliché, o que é certo é que é bom amar e ser amado. Posso não
passar de um adolescente, mas sei o que é amar e não tenho dúvida
alguma de que o sinto. «Amor» será palavra pequena mas não o é o
sentimento que representa.
                                                 João A. (10.º 6.ª)




Amorar
      Tudo começou há cerca de um ano, quando o verbo «adorar»
se tornou demasiado banal. Por tudo e por nada, pessoas que mal
se conheciam utilizavam a palavra «adorar» para descrever o quanto
gostavam umas das outras.
      Foi nesta altura que eu e uma amiga minha decidimos arranjar
uma palavra que descrevesse a nossa relação sem recorrermos à
banalidade. «Amor» seria usado demais e também não muito
indicado; resolvemos então juntar «amar» com «adorar» e ficou
«amorar».
      «Amorar» tem grande significado para mim, não só por
descrever a nossa relação, mas também por ser uma palavra
bastante engraçada de dizer, pois parece que conjugamos a palavra
«amor», e também por causa do «rar» no final.
                                                  Sara C. (10.º 2.ª)




Apendicite
      Sempre que dela me lembro, ou alguém cita a palavra
“apendicite”, dá-me vontade de rir, mas, ao mesmo tempo, vontade
de fugir ou de cavar um buraco para me esconder. Tudo porque eu e
uma amiga costumávamos dizer que éramos o apêndice uma da
outra. Dizíamos: “Somos o apêndice uma da outra, tu absorves os
meus problemas e eu absorvo os teus e, separadas, não servimos
para nada.” A primeira vez que ouvi a frase fiquei encantada, tanto
que, por tudo e por nada, lhe chamava “apêndice”. Certo dia, durante
uma troca de mensagens, ela chamou-me apêndice, e eu, querendo
retribuir-lhe, chamei-lhe apendicite. Como podem calcular, só me
apetecia fugir. Desde então parece que essa palavra me persegue.
                                                   Cláudia (10.º 1.ª)




Árgon
      Esta palavra tem-me fascinado desde que a encontrei. Árgon é
o nome de um gás nobre da Tabela Periódica, ensinada nos livros de
Química. Gostei particularmente do seu som, ao pronunciá-la,
deixando um rastro de mistério no ar, à volta da pessoa que a
pronuncia.
      A primeira vez que a escutei foi ao ser pronunciada
apressadamente, pelos lábios da professora de Física e Química,
ainda no oitavo ano. O som Árgon fez e faz-me lembrar imagens
distorcidas de um dragão, embora isto pareça estranho. Desde
então, sou perseguida por este dragão imaginário ou, de uma forma
mais realista, pela palavra Árgon e o som de mistério que a envolve.
                                                      Eliana (10.º 1.ª)




Arlingas
       Estava eu numa aula de Matemática no nono ano, quando ouvi
pela primeira vez a palavra arlingas. Inventada por um amigo meu,
servia para interromper as conversas dos outros, quando não as
considerávamos interessantes.
       Quando a ouvi, achei esquisito e pensei que tinha sido desta
que o meu amigo tinha ficado maluco. Ele já tinha inventado outras
palavras mas que, ao menos, tinham algum sentido. Esta não tinha
significado e só cerca de duas semanas mais tarde lhe demos
alguma utilidade.
       Com o passar do tempo, a palavra arlingas foi-se espalhando
pela escola e, no final do ano, era conhecida por quase todos os
oitavos e nonos anos.
Hoje, quando essa palavra é dita, já ninguém se lembra da sua
utilidade mas de quem a inventou. Com a maioria das outras
palavras sucede o contrário, lembramo-nos quando as devemos
aplicar e não como elas surgiram. Pelo menos, esse meu colega já
tem esse mérito.
                                                      Hugo (10.º 1.ª)




Arroz
      Porque será que uma das minhas palavras favoritas é "arroz"?
      Há tantas palavras na nossa língua tão bonitas, como, por
exemplo, "amor", "paz", com significados muito importantes, mas o
arroz não tem um significado que salte à vista. O arroz pode
acompanhar muitas coisas, como tomate, camarão, feijão, cenoura,
entre muitos outros. Um aspecto positivo é que tudo isto é comida.
      Porém, o que me faz gostar da palavra “arroz” é que dizem que
é a maior palavra do mundo. Mas porquê? Porque começa em A e
acaba em Z.
      É por estas razões que eu aprecio a palavra "arroz", porque
tem um bocadinho de tudo o que é importante, o arroz é necessário
e a palavra até chega a ser cómica.
                                                      Tiago (10.º 5.ª)




Azedo
      Palavra bastante utilizada pelos adolescentes, quando querem
dizer que alguém não está sóbrio, quando se bebe demasiado ou
quando alguém está de mau humor, e o dia não lhe está a correr
bem, ou responde mal às pessoas. Ou seja, quando alguém está
bêbado ou amuado, diz-se então que está azedo.
                                                       Júlia (10.º 5.ª)
Balandrau
      Esta deve ser a palavra mais caricata de que me recordo. Não
conheço mais ninguém neste mundo que a diga sem ser a minha avó
Emília, que pronuncia outras tantas palavras igualmente engraçadas
e mirabolantes como “degringolada”, “esfrangalhado” ou mesmo
“esbotenado”. Mas “balandrau” é especial, principalmente porque ela
a aplica em diferentes contextos: lá em casa, quando vem à
conversa, “balandrau” (a maioria das vezes durante o visionamento
do telejornal, momento de reunião familiar) pode significar uma roupa
largueirona ou então uma indumentária que seja pouco comum,
esquisita ou muito feia.
      Quando, durante uma conversa, falo em “balandrau”, as outras
pessoas não me entendem. Deve ser essa umas das razões para
achar tanta piada a esta palavra, mas acho que também gosto dela
pelo som que deixa no ouvido: aquele AU soa-me diferente,
divertido.
      Gosto de “balandrau”, porque sei que, enquanto continuar a
ouvir esta deliciosa palavra, vou continuar perto da minha querida
avó.
                                                         Inês (10.º 2.ª)




Bananinhas
      Gosto da palavra “bananinhas” porque tem um som engraçado
e também porque tem vários significados: não é só a fruta em si —
banana —, que sempre foi a minha fruta preferida; também uso esta
palavra noutros contextos, um tanto desagradáveis. Lembro-me de
vários episódios em que pessoas da minha idade ou pouco mais
velhas falavam ou gritavam comigo (portanto, se me dirigiam de uma
forma desagradável). Respondo-lhes baixo, para evitar problemas ou
mais confusão, mas também com um certo desprezo: “Olha,
bananinhas!”. É uma palavra que me ajuda a acalmar e a não discutir
com as pessoas e, mesmo que não a diga em voz alta, digo-a para
mim mesma, acalmo-me e falo normalmente com as pessoas.
Quando comecei a usar esta expressão um tanto estranha, não
discutia tanto com as pessoas, o que é muito bom.
      Também uso esta palavra quando tento criticar alguém. É uma
forma de não usar nenhuma palavra e expressão mais feia e poder
assim “libertar” os meus pensamentos menos agradáveis sobre
alguém! Assim, uso a expressão: “Ele/Ela é um/uma bananas”.
                                               Catarina T. (10.º 2.ª)




Bazófia
     Sempre ouvi alguém, algures, pronunciar esta palavra. Até a
silabam gostosamente. Por vezes, suspeito que se sentem mais
importantes, ao ponto de salivarem sensualmente.
     Disse “bazófia”, dizem eles para si num acto de glória.
Consegui.
     Sempre apalpei a palavra e gostei de a ver ser apalpada, no
entanto, nunca percebi muito bem o seu significado. Tenho a
perspicácia de a conseguir soletrar no momento oportuno, mas, por
vezes (quase sempre), não me lembro dela. Foge-me da língua. No
momento próximo, tenho-a na boca. Falhei.
     É uma palavra com gesto integrado num movimento bastante
simples. Não o consigo explicar. Implica um dedo que escorrega pela
garganta em direcção à boca e que fica no ar. Depois, não sabemos
onde o pôr (o dedo). Ficamos constrangidos com tal acto e
começamos a falar de qualquer outra coisa estúpida, sem sentido.
     Já tentei encontrar o seu significado, ainda não o encontrei.
Encontrei, mas não o fixei. Fixei, mas ainda não o utilizei. Utilizei,
mas mal utilizado.
                                                  Pedro M. (10.º 2.ª)




Bigo
       Desde pequenina, até chegar a uma idade em que o meu
português era suficientemente bom, pensava que aquele pequeno
orifício que se encontra na nossa barriga se chamava bigo. E era
lógico para mim, visto que só tínhamos um! Logo um bigo fazia todo
o sentido. Até para as outras crianças durante os nosso tempos de
„descoberta‟ eu dizia “mostra-me o teu bigo!”
      Foi uma das muitas palavras que me embaraçaram ao longo
da minha infância. Apesar de já não cometer tal erro absurdo, ainda
tenho quem goze comigo por este tamanho disparate. E acho que
não fui a única criança a cometer este erro. Afinal, o português é
tudo menos fácil.
                                                  Joana L. (10.º 1.ª)




Birotes
     Esta palavra sempre me fez rir, a mim e ao meu grupo de
amigos. Nenhum de nós sabe bem porquê, mas nós os seis
gostámos tanto desta palavra que não hesitámos em chamar ao
nosso grupo, “os birotes”. O meu melhor amigo (Zilhão) é que nos
ensinou esta palavra. Desde logo, gostámos dela e estávamos
sempre estupidamente a usá-la, até despropositadamente.
     Penso que este fascínio pela palavra se deve ao seu som, mas
não sei bem.
                                                  António (10.º 1.ª)




Bisnaga
      É uma palavra cujo significado é „carinho‟. O meu padrinho,
sempre que me via, chamava-me «Ó bisnaga». E eu ria-me, pois,
mesmo não sabendo o significado dessa palavra, achava piada à
maneira como ele a usava, em vez de «Bárbara», para me tratar.
Pequenina, pensava onde teria ele ido buscar aquela palavra. O meu
irmão mais velho gozava comigo: «és tão tola: não vês que é o
padrinho a gozar contigo?». E eu ficava toda exaltada e enxofrada.
Um dia, perguntei à minha mãe o que é que afinal queria dizer a
palavra. Riu-se, dizendo-me que era uma palavra carinhosa com que
ele gostava de me tratar. E eu sorri, com o meu sorriso ingénuo.
                                                    Bárbara (10.º 6.ª)
Caga-na-saquinha
     Nunca mais me esqueço do dia em que vi esta palavra pela
primeira vez. Estava a meio de uma aula de Área de Projecto do 8.º
ano e fora-me atribuída a tarefa de ir à procura no dicionário das
palavras cujo significado não sabíamos.
     Estava na letra “c”, quando vi uma palavra que, à partida, me
parecera estranha: “caga-na-saquinha”. Verifiquei o seu significado e
constava: “pessoa medrosa; aquele que tem medo de algo”.
     Caga-na-saquinha é uma palavra invulgar que, a partir daquele
momento, passou a constar no meu vocabulário. Agora percebo que,
quando se chama a alguém «cagão», é porque essa pessoa é uma
medrosa.
                                              Francisco D. (10.º 2.ª)




Caracol
      Lembro-me perfeitamente: andava eu no quinto ano, na Escola
Básica dois mais três Pedro de Santarém, quando me puseram a
alcunha mais simpática que alguma vez tivera.
      Sim, porque sempre fui reconhecida como “guedelhuda”,
“piolhosa” e até frases me punham do género de “lava o cabelo com
sabão azul e branco a ver se entra”, muito longas algumas delas. É
escusado dizer que aquela frase personalizada em honra do meu
cabelo não foi a única mas, se fosse enumerá-las todas, aí é que
nunca mais lavava o cabelo!
      Voltando à palavra caracol: foi uma ideia que a minha
professora de Educação Física teve. No momento em que ia fazer o
serviço e estávamos a meio de um jogo de voleibol), a bruta e
carismática professora gritou: “Força aí, Mica caracol!”. Foi a minha
salvação às alcunhas, digamos, parvas.
      Passei a ser conhecida por ter caracóis e não piolhos ou
cabelo embaraçado. Devo esta honra à Paula Banano, alcunha que
eu própria dei à professora.
Micaela (10.º 1.ª)




Carvalhal
       Existem dezenas de localidades com o nome “Carvalhal”.
Embora a pronúncia seja um pouco estranha, este nome soa bem ao
ouvido de qualquer um. Lembro-me de quando era mais novo e dizia
Ca-va-lhal pois ainda não conseguia pronunciar bem os “erres”.
       Este “Carvalhal” de que falo situa-se na Serra de Tomar,
concelho de Santarém. É lá que tenho uma moradia onde passo a
maior parte das minhas férias, que incluem actividades muito
variadas e divertidas.
       A maior parte dos “Carvalhais” que existem em Portugal têm
esse nome porque são zonas que têm ou já tiveram muitos
carvalhos. Infelizmente, o meu “Carvalhal” não tem carvalhos, mas
não é por isso que o nome se vai alterar. Lá predominam os
pinheiros e os eucaliptos que dão à paisagem frescura e cor.
       Há três anos houve, em Agosto, um devastador incêndio, mas
não foi por isso que os moradores baixaram os braços. Pelo
contrário, esta tragédia fez com que todos se unissem e lutassem
ainda mais pela sua terra, o “Carvalhal”.
       Embora seja uma aldeia pequena e sem saída, tem um rio
maravilhoso que fica para lá do fim do “Carvalhal”, seguindo-se por
uns caminhos de terra batida. É uma aldeia sossegada, pacata e
acolhedora, de que guardo excelentes memórias.
       Segundo o meu avô, o nome desta terra já existe há cerca de
cento e vinte anos. Foi aí que ele nasceu e é para lá que continua a
ir todos os meses, pois tem pela sua terra um carinho especial.
                                                         Gil (10.º 4.ª)




Catano
     É uma palavra que foi ouvida pela primeira vez na televisão. A
minha mãe começou por a dizer a brincar, mas a verdade é que me
entrou no ouvido e, até hoje, já lá vai um ano, ainda não consegui
deixar de a dizer. Vim das férias com o “catano” e, agora, até já a
Rita Melo, a Mariana Silva, a Cláudia Afonso e muito mais pessoas
usam a palavra. Até posso dizer que, se ganhasse alguma coisa pela
sua difusão, agora estava rica, “c‟um catano!”. Confesso: é uma
palavra labrega, mas a verdade é que consegue substituir todas as
outras interjeições.
     Passou de um anúncio da PT para a vida de muitas pessoas
da Escola Secundária José Gomes Ferreira, e não, não consigo
desprender-me desta estranha palavra cujo significado desconheço.
Nem sei, sequer, onde é que a poderão ter ido buscar.
                                                    Soraia (10.º 1.ª)




Céu
       Sempre me fascinou a palavra “céu” por ser um substantivo
pequeno, em termos de quantidade de letras, e que se torna numa
palavra imensamente grande, quando nos referimos ao verdadeiro
significado da mesma.
       Sou capaz de, à noite, me afastar dos meus amigos, ir dar uma
volta sozinho, deitar-me num muro e observar a grandeza e a beleza
de um céu limpo de Verão, carregado de pontos brilhantes e
cintilantes, alguns deles cheios de energia, a moverem-se de um
lado para o outro.
       De dia, limito-me a desfrutar do esforço que o céu faz para
afastar as nuvens carregadas de chuva e de mau ambiente.
                                                   Pedro A. (10.º 1.ª)




Chinamen
      Era comum ouvir-se, esporadicamente, “chiii men!”. Não tão
habitual era dizer-se “china men”. A expressão entrou no meu
vocabulário durante umas férias da Páscoa, quando, por brincadeira,
eu e umas amigas começámos a imitar outra, que pensava que o
correcto era dizer-se “china men”. Ao fim de poucos dias, exclamar
“china men” tornou-se um vício, e assim ficou, constante nas nossas
frases. Nas nossas e nas de muito mais gente que conviveu
connosco nos meses seguintes.
      “China men” serve para qualquer estado afectivo e em
qualquer situação: utiliza-se para demonstrar descontentamento,
satisfação, orgulho, para agradecer algo, como manifestação de
adrenalina… Para tudo, enfim.
                                               Carolina (10.º 5.ª)




Chinchila
      Sempre a achei uma das palavras mais parvas da língua
portuguesa (não é uma palavra portuguesa, mas também não tem
qualquer tradução). De facto, a procura por palavras idiotas sempre
foi um passatempo, mas, quando pensava que tinha arrumado o
assunto com a palavra “bidé” (que não só é uma palavra parva, como
se refere a um dos objectos mais inúteis e dispensáveis do
quotidiano), ouvi falar em “chinchila”.
      Pois bem, sou sincero, não sei o que significa, não sei se é um
animal ou uma planta, não sei mesmo (para dizer a verdade, e
graças à brilhante intervenção do professor, agora já sei). Contudo, é
sem dúvida a candidata principal ao título de palavra mais estúpida,
visto que nem consigo imaginar duas pessoas terem uma conversa
séria sobre “chinchilas”. Até mesmo se fosse assunto delicado, como
uma morte ou um rapto, penso sinceramente que a palavra
“chinchila” retiraria qualquer componente dramático à conversa.
                                                    Tiago P. (10.º 1.ª)




Chuca
       Esta palavra, para dizer a verdade, não sei muito bem o que
significa, é o que o meu pai me chama. A única coisa que sei é que é
uma forma carinhosa de me chamar. Mas digo já que não gosto
muito que ele me chame assim.
       Quando atendo o telefone, toda a gente confunde a minha voz
com a do meu irmão. O meu pai começou por chamar «chuco» ao
meu irmão, mas, um dia, quando fui ao telefone, o meu pai
perguntou:
     — Chuco?
     — Não! — respondi eu.
     Foi então que ele disse “Chuca” e,a partir daí, começou a
chamar-me assim. Agora, sempre que atendemos o telefone, eu ou o
meu irmão, o meu pai diz logo: “Chuco ou Chuca?”. Já é hábito.
     E até as mensagens ele começa com «Chuca»!
                                                  Sara M. (10.º 2.ª)




Ciuvac
       Esta palavra entrou na minha cabeça há dois anos atrás,
quando estava numa competição da minha escola. Significa „melhor
amigo de todo o mundo‟. E eu não conheço nenhuma palavra mais
“fixe” do que esta. Eu usava a palavra com os meus amigos da turma
da minha escola na Moldávia. E estes amigos eram: Andrei D., Denis
T., Mihai C., Grigore V., Ion Casapciuc, Andrei G., Ghita P., Igor V.,
Andrei Z., Dumitru R., Vasile L., Igor C. e o meu amigo “Max”. E eu
não quero esquecer esta palavra.
                                                        Ion (10.º 5.ª)




Cocó
      O cocó está desde sempre na minha vida. Dizem que, quando
era bebé, cada vez que fazia cocó apontava alegremente para o meu
rabiosque, repetindo inúmeras vezes: “Cocó! Cocó! Cocó!”.
      O cocó serve de forma de tratamento para com os meus
amigos mais próximos. É útil também para evitar o uso de palavrões
como “merda”, que acaba por ter o mesmo significado que cocó, mas
é sentido de uma maneira mais grosseira. Em vez de dizer, frustrada,
“Merda!”, digo, com a mesma indignação e sentimento, “Que cocó!”.
      Para além de todas estas razões, “cocó” é uma palavra que
soa foneticamente bem. Tem um som engraçado, que me faz rir
como uma miúda de seis anos cada vez que ouve a palavra “pilinha”.
Se me quiserem pôr feliz quando estou num dia menos bom, basta
dizerem a palavra “cocó” para, instantaneamente, surgir um sorriso
nos meus lábios.
                                                  Carlota (10.º 2.ª)




Coiso
      A minha palavra preferida é «coiso», porque, ao longo da
minha vida, ela tem-me ajudado e estado incondicionalmente a meu
lado nas situações mais dificeis e embaraçosas. Sempre que não sei
o nome de um objecto, «coiso»; sempre que não sei o nome de
alguém, «coiso»; sempre que quero fazer algo e não me lembro do
verbo, «coisar»; sempre que preciso de adjectivar, «um bocado
coiso». Aliás, nem sabia que nome dar a este ficheiro e,
evidentemente, chamei-lhe «coiso».
                                                   Alexis (10.º 2.ª)




Concha
       Além de me fazer lembrar o mar, a praia e, obviamente, o tão
conhecido bodyboard, concha é também, em parte, uma das minhas
alcunhas. Tudo porque, no ano passado, tive uma pequena história
com uma.
       Ao voltar de um dia de surf, o meu olho, aparentemente,
avermelhou e inflamou pouco tempo depois. O meu pai, “muito
sabedor”, aconselhou-me a pôr uma pomada que ele já tinha usado
e que funcionara numa situação parecida com a minha. A pomada
aliviou-me, mas, poucos dias depois, voltei ao mesmo. Voltei a
aplicá-la de novo, mas de nada serviu. E fui passando assim, aos
altos e baixos, até que decidi ir ao médico. O oftalmologista começou
a rir quando tirou do meu olho uma pequena concha, provavelmente,
vinda de uma valente “porrada“ nas ondas daquele outro dia. Desde
essa altura me chamam “puto concha”.
A palavra concha traz-me, por isso, lembranças da praia, dos
amigos que me gozavam, das dores que passei e, claro, dos
“conhecimentos” do meu querido pai.
                                                Gonçalo (10.º 4.ª)




Conspícuo
      Porque é que o meu avô sabia tudo? Para qualquer que fosse
a palavra, até para aquelas que eu achava impossíveis, o meu avô
arranjava sempre um significado.
      Sentia frustração de cada vez que dizia “não sei”. Um dia, com
vontade de colocar o meu avô em dificuldade, fui procurar uma
palavra no dicionário.
      Abri na letra “C” e olhei para aquelas duas páginas repletas de
palavras que ninguém conhece. A meio da segunda coluna da
primeira página, encontrei “conspícuo”.
Não me lembro do significado da palavra, mas, quando o perguntei
ao meu avô, notei que a sua cara ficou temporariamente ruborizada,
antes de dizer “não sei”.
      A partir daí, sempre que me encontro com ele, pergunto-lhe
sempre a mesma coisa: “então avô, hoje está conspícuo?”
                                                   Pedro S. (10.º 2.ª)




Cóquina
      Eu era bem pequenina e só pronunciava as palavras «mamã»
e «papá», até que, um dia, decidi que já era bem crescidinha e tentei
soletrar o meu nome. Cheguei perto da minha «mamã» e pronunciei
«Cóquina», sem pensar que, até hoje, me tratariam por esse mesmo
nome. Hoje, posso dizer que é uma palavra muito importante para
mim, porque, de cada vez que é pronunciada pela minha mãe ou
pelo meu pai, me faz voltar aos meus tempos de pequenina, em que
não tinha de me adaptar ao mundo e em que era ele que se
adaptava a mim e à minha maneira esquisita de falar.
                                                    Mónica (10.º 6.ª)
Desejo
      Talvez não seja tão importante, mas foi algo marcante. Escolhi-
a pois é, sem dúvida, a palavra que mais me faz recordar as tardes
passadas na companhia daquele fascinante livro. Relembro, não só
o desejo proibido que os protagonistas sentem um pelo outro, mas
também o desejo que senti de que aquela história não tivesse fim,
que pudesse continuar a fazer-me companhia, todas as tardes e
noites em que nela me perdia.
                                                      Cátia (10.º 6.ª)




Desoxirribonucleico
      Palavra difícil de dizer para os destreinados. Ácido
desoxirribonucleico. Ou, simplesmente, ADN. Aprendi-a numa aula
de Ciências do nono ano. Tão depressa se tornou num hábito
(repetia-a vezes sem conta) como deixou de o ser (cansei-me de a
repetir). Mas não deixou de ser uma palavra que me fascina, por ser
grande e um bocado complicada.
      Uma vez, tive um bicho-da-seda de estimação muito
engraçado, por volta da altura em que aprendi a palavra
desoxirribonucleico, aliás, “irmã” de uma outra, ribonucleico. Ora, tal
animal precisava de um nome. É óbvio o nome que recebeu: “Ácido
desoxirribonucleico”. Também teve direito a uma alcunha, “Bob”,
nome pelo qual o chamava quando não me apetecia usar o Ácido
desoxirribonucleico.
      O Ácido desoxirribonucleico era uma boa companhia. Passava
o dia a comer folhas de amoreira, a dormir, a andar, a defecar e a
ouvir, sem protestos, o que eu lhe contava. Costumava também
pegar-lhe e fazer festas na pele fofa.
      Algumas semanas depois de o ter adquirido, começou a fazer
um casulo e, rapidamente, se fechou neste, preparado para entrar na
fase final da sua vida, a de borboleta.
Quando morreu, o Bob foi enterrado no vaso onde habita o
limoeiro. Fiquei triste.
                                               Brigitta (10.º 1.ª)




Destino
      Destino é uma palavra conhecida por toda a gente: muitas
acreditam nela, outras rejeitam-na e alguns ignoram-na. Destino tem
um som agradável e transmite-me paz, faz-me pensar no amanhã,
no que me vai acontecer na vida daqui para a frente. Faz-me
recordar o passado e pensar que “aquilo” tinha de ter acontecido.
      Nem todos os dias ouvimos a palavra, que, na minha opinião,
nos acompanha sempre; porém, quando alguém tem o prazer e a
honra de a utilizar, ficamos a pensar no seu significado.
      Assim que ouvimos «destino», comparamo-lo a algo da nossa
vida, qualquer coisa nos dá coragem, tristeza, que nos faça continuar
em frente. Pelo menos, é o que acontece comigo.
      Para mim, esta palavra é assim. Poderosa, misteriosa, repleta
de magia, significado ou, mesmo, de desespero. É uma palavra que
vai continuar sempre presente.
                                                    Alexandra (10.º 1.ª)




Desfrutar
      Desde pequenina, a minha avó sempre me ensinou a
aproveitar tudo ao máximo, até ao limite. Isto, porque, normalmente,
quando se faziam bolos lá em casa ou se compravam bolachas, a
minha irmã comia-os todos, sem sequer pensar em mim.
      Neste dois últimos anos, aprendi a “desfrutar”, a nunca tomar
nada como certo, pois, se o fizesse, escapar-me-ia tudo pelos dedos,
como as rédeas de um cavalo, quando não as agarramos
correctamente.
      “Desfrutar” para mim, também é dar o litro, tanto nas aulas de
equitação e nos respectivos concursos, como nos estudos
antecedentes a um exame, por exemplo.
“Desfrutar” tornou-se assim a minha palavra preferida, mas
também um modo de vida.
                                              Joana O. (10.º 6.ª)




Dona Carmo
      É claro que, quando somos mais novos, crianças, achamos
muita piada às palavras “caras” que os adultos dizem com muita
tranquilidade. Foi o que aconteceu.
      Enquanto conversava com uma amiga minha, lá pelos os meus
dez anos, sobre roupinhas e pulseirinhas e esses assuntos que
estão sempre presentes nas conversas das meninas daquelas
idades, ouvi uma professora dizer que tinha ido aos Estados Unidos
da América e que tinha comprado imensas coisas. Logo a minha
atenção se direccionou para a conversa das professoras. Ouvi-as
dizer que eram marcas muito boas e caras, salientando-se a Dona
Karen New York (DKNY).
      Quando cheguei a casa acompanhada da minha mãe, disse-
lhe que queria comprar qualquer coisa da Dona Carmo (tendo eu
percebido assim a palavra que as professoras disseram). Muito bem,
fui ao centro comercial e, de loja em loja, perguntei se tinham essa
marca. Como é óbvio, todos diziam que não, até que desisti. No dia
seguinte, ao chegar ao colégio, encontrei as professoras e, aí, elas lá
me corrigiram, quando lhes disse que não encontrava nada da Dona
Carmo e que também queria ter uma peça de roupa dessa marca.
                                                      (Filipa, 10.º 6.ª)




Doche
      Estávamos eu e a minha mãe numa praia, sozinhos; nada se
via num raio de cem metros, a não ser areia e água; o calor que se
abatia sobre nós era infernal e o tédio era como um parasita que não
largasse o seu hospedeiro. Até que, ao fundo, avisto umas sombras
que se aproximavam.
Era uma família inglesa nossa conhecida, nossos vizinhos,
constituída por apenas dois elementos, uma mãe e uma filha, da
minha idade, ambas belas e divertidas, nada como outros ingleses,
hostis.
       Assim, do nada, começou uma entretida conversa, entre a
minha mãe e a “mãe” inglesa, a Dawn, em que tentavam
mutuamente ensinar-se; eu gostava de observar e ouvir essas lições.
Uma delas destacava-se, uma em que a minha mãe tentava fazer
com que Dawn interiorizasse os números em português; a minha
mãe dizia, fluentemente, “um” e Dawn contorcia-se, dizendo, numa
fracção de segundos, “hum”. Até que este número era fácil, mas,
quando chegou ao número dois, Dawn passou cinco minutos a dizer
“doche”.
       Eu não percebia como tal número podia representar tão grande
dificuldade. Sei que era divertido ouvir Dawn pronunciar os números.
Era melhor que ver um filme ouvir a maneira elegante de Dawn falar,
abrindo a boca toda, mostrando toda a dentição e, depois, soltando
um número, mal dito, mas com pureza e divertimento.
       Ao fim de uma hora, Dawn tentou pronunciar os números de
um até dez. Conseguiu pronunciar nove deles com total sucesso,
mas um ainda lhe faltava, o maldito dois, que lhe dera o nome de
“doche”, o maldito. Assim me lembro desse número, acompanhado
da fantástica imagem de Dawn, abrindo a boca, exibida em todos os
detalhes.
       Na realidade, ouvia esta conversa, mas o meu principal foco
era a escultural filha de Dawn, que só a Vénus se podia comparar.
                                                    Rodrigo (10.º 4.ª)




Epá
        Não faço a mínima ideia de quando comecei a utilizar esta
palavra, mas, actualmente, digo-a frequentemente e, na maioria das
vezes, já nem dou por ela.
        Certamente, conheci a palavra quando era bem pequenina,
por causa do gelado, de que gostava muito (não só pelo sabor, que,
diga-se de passagem, é bem bom, mas também porque, no final,
havia uma pastilha com um sabor magnífico).
Hoje em dia, a utilização da palavra “epá” já nada tem a ver
com o gelado, mas sim com o estado de espírito com que me
encontro em várias situações, talvez quando me sinto mais
aborrecida. Digo “epá” para não dizer “poças”, pois considero esta
palavra muito mais feia. Também sei que há muita gente que odeia a
palavra “epá”. Exemplo é a minha mãe pois, sempre que a digo, faz
uma cara arreliada.
        Mas, ainda assim, eu continuo a dizê-la: a palavra sai-me
quase instantaneamente.
                                                   Catarina (10.º 6.ª)




Ericeira
       Mais conhecida por terra de surfistas. Desde há muito tempo
que me apaixonei por esta palavra, Ericeira. Todas as suas
consoantes são elegantes e as vogais criam uma ligação com o
leitor. É uma palavra forte e rara, sendo também muito antiga.
Ericeira representa uma vila, no litoral, pertencendo à cidade de
Mafra e com velhas tradições. A Ericeira remete-me para o verde,
para o azul, para as árvores, para as pranchas, para jovens de
ambos os sexos.
       A palavra tem origem em “ouriço do mar”. Como a Ericeira é
uma povoação marítima, julgo que o mais provável é vir mesmo de
“ouriço do mar” ...
       “Ericeira” é uma palavra bonita e, ao mesmo tempo, simples.
Considerada uma palavra moderna? Talvez... Não sei bem, mas,
quando se fala em “Ericeira”, pensa-se em pedras, naquelas lajes,
deformadas pelo bater da água, ao longo do seu litoral. A sua
essência é mais do que se pensa, uma coisa original, única...
       Confesso que também me faz lembrar o “bodyboard”. Também
podia colocar neste trabalho “Praia Grande”, “Carcavelos”, “Costa da
Caparica”, mas não! Ericeira é especial, é uma palavra que faz parte
de mim, está presente nas minhas características.
                                                  Bernardo (10.º 4.ª)
Escroto
      Julgo que esta palavra não tem outro significado senão mesmo
“a pele que envolve os testículos”. Não escolhi a palavra por fazer
parte do órgão sexual masculino, mas por ser uma palavra hilariante,
com a qual convivo diariamente. A sua composição enquanto palavra
é completamente estranha. Ora vejam: começa com o “esc” , as
pessoas ficam na dúvida se o indivíduo se refere à tecla Esc —
escape — dos teclados comuns, mas não. O indivíduo faz uma
malandrice, ao acrescentar o “roto”, e é nessa altura que as pessoas
se apercebem da estupidez que o indivíduo queria dizer: «escroto»!
      Tenho um amigo que tem o hobby de citar e inventar palavras.
Certo dia, e fora de contexto, disse: “Escroto!”. Mal o ouvi dizer
aquilo, parti-me a rir e, desde então, uso a palavra em qualquer
contexto, tentando sempre arranjar pretexto só para a poder citar. Só
de há uns tempos para cá é que descobri o verdadeiro significado da
palavra. Assim se passam anos felizes — parvos também — da
minha vida.
                                                     João C. (10.º 6.ª)




Espilro
      Esta palavra surgiu uma vez numa conversa em casa da
Teresa. Estava eu, a Matilde e a Teresa a conversarmos, quando
dou um espirro enorme. E, sem querer, disse: «já estou farta de
“espilrar”!». Começaram-se a rir e eu, sem perceber, perguntei o
porquê de tanta risota. Responderam-me:
      — Rita, não é «espilro», é «espirro»!
      Então, também eu desatei a rir e percebi que me tinha
enganado. A partir desse dia, cada vez que alguma de nós espirra
lembramo-nos da palavra “espilro” e fartamo-nos de rir!
                                                        Rita (10.º 2.ª)
Eternidade
      Será que a “eternidade” existe, ou é apenas um conceito
inventado pelo Homem, simplesmente relativo, proveniente do seu
desejo de que as coisas durem mesmo para sempre, na sua
realidade privada que, ao mesmo tempo, é também de toda a
sociedade?
      Eu acredito que nada é “eterno”. A vida é o menos “eterno” que
existe. Está dependente de tudo, pode acabar a qualquer altura,
transformando-se em morte, como quando as lagartas, nos seus
casulos, passam a borboletas. Depois, temos os sentimentos, que
são como a vida; têm prazo de validade. Aquelas frases que
supostamente têm uma beleza profunda, como „Amar-te-ei para a
“eternidade”‟, são tão irreais como o Bicho Papão. É que, para além
de o amor ser outra coisa relativa, afirmá-lo para a “eternidade”
chega a ser ridículo, apesar de a paixão dos amantes poder ser
compreensível.
      E se a vida fosse “eterna”? Teríamos de começar por algum
lado, claro. Será que, passados mais anos do que aqueles que
podemos contar, seríamos capazes de sentir saudade do começo de
coisas nossas? Sentir a falta de alguma coisa. A não ser que essa
alguma coisa fosse também “eterna”, que tudo o fosse! Aí, não
saberíamos o que é saudade, nem daríamos o valor necessário às
coisas, apesar de já não o fazermos constantemente. E com razão,
já que tudo faria parte da “eternidade”.
                                                    Ana M. (10.º 6.ª)




Felicidade
      Diria, até, que uso esta palavra todos os dias. Não com os
outros, mas para comigo. Desenvolvo histórias à volta dela todas as
noites, à hora de deitar. Aconchego-me entre os cobertores e
embarco no meu mundo de pensamentos. A felicidade é sempre a
protagonista das histórias. Penso sempre como será que a vou
alcançar e que batalhas terei de travar para o conseguir. A felicidade
é o meu ideal. É tudo o que procuro e tudo o que espero ter no
futuro.
      Quando penso na palavra “felicidade”, fascina-me a sua
complexidade. Como pode uma palavra tão simples como esta ser
tão abrangente? Quando a tento decifrar, consigo dividi-la em
inúmeras outras palavras importantes para mim: «amor», «verdade»,
«amizade», «justiça», «bem-estar»… É uma palavra quase adoptada
por cada um. Tem significados diferentes aos olhos de quem a vê. É
clara, mas profunda. Quase um mundo inteiro, uma utopia. Todos a
procuramos, mesmo sem disso nos apercebermos. Eu apercebi-me,
por isso foi esta a palavra que eu escolhi e que vou continuar a tentar
compreender.
                                                      Beatriz (10.º 5.ª)




Fónix
      Tinha cerca de sete anos quando a ouvi. Estava no meu
segundo acantonamento dos escuteiros. Enquanto arrumava as
minhas coisas no abrigo, ouvi rapazes mais velhos a conversar.
Comentavam os corpos de algumas estrelas da pop internacional.
Deixei-me ficar a ouvir a conversa, discretamente. Nunca havia
escutado conversas de pessoas mais velhas (e quem me conhece
sabe que não sou coscuvilheiro), mas esta estava a ser muito
divertida. De repente, um chefe gritou:
      — Fónix! Já chega de conversa, não?!
      Após ter recuperado do valente susto que apanhara, reflecti
sobre a palavra que o meu superior havia dito. Experimentei repeti-la
em conversa com os meus amigos, nesse mesmo dia. No dia
seguinte, quando acordei, todos os lobitos (primeira secção dos
escuteiros que inclui miúdos dos seis aos dez anos) repetiam aquela
palavra, em qualquer expressão que utilizassem.
      Resolvi usá-la na escola, na semana seguinte. Ficou moda
usar essa palavra.
      Recentemente, surgiu uma nova operadora telefónica
homófona de “fónix”. Não usara esta palavra desde criança, mas o
aparecimento da operadora („phone-ix”) fez renascer o hábito que
tinha em miúdo.
                                                   João G. (10.º 1.ª)
Ganso
      É uma palavra engraçada e que faz parte dos meus dias. Não
é pelo animal em questão que gosto dela, mas antes como forma de
expressão entre amigos.
      Uso-a há dois anos. Um dos meus grupos de amigos costuma
dizê-la para dar ânimo ou coragem. Por exemplo, se estamos num
karaoke e há um que está envergonhado, ao usarmos a palavra, é
como se estivéssemos a dizer «Vá lá, canta, força!». Ou quando
estamos a jogar na consola e o jogo é interessante; ou quando
estamos ansiosos por uma festa ou algum evento.
      Usamos a palavra como modo de apreciação, para dar ânimo,
quando estamos à espera de uma coisa boa. É uma expressão do
grupo e compreendo que, para os outros, seja difícil entendê-la.
                                                  Zé Diogo (10.º 6.ª)




Garra
      “Garra” foi a primeira. A 6 de Junho de 92, nasci eu e a minha
palavra. Ela já existia, mas só a conheci quando saí da barriga da
minha mãe. Cruzámo-nos nos primeiros segundos da minha vida.
      Contam ainda hoje os meus pais — como também me
contaram este episódio que, obviamente, não poderia conhecer de
outra forma — que o médico era homem de poucas falas. Mal acabei
de nascer, o médico, em vez de — e vejam lá do que me privaram —
dizer “Pesa três quilos e novecentas gramas e tem os vinte dedos
perfeitinhos”, disse: “Este rapazinho tem garra”.
      Não é todos os dias que um médico diz uma frase destas,
ainda por cima se é homem de poucas falas.
      “Garra” passou a ser uma palavra minha. Não sei se a adquiri
por mérito, mas o empenho com que a conservo permite-me firmá-la
de novo.
      Sempre me acompanhou e há-de acompanhar-me, com muita
“garra”.
João Maria (10.º 4.ª)




Garrido
      Pensando na origem desta palavra, reconheço a sua
invulgaridade. “Garrido” provém de uma Família Real da Galiza, que
se terá deslocado para o Norte de Portugal (Bragança), onde
permaneceu durante o tempo suficiente para a palavra passar a
pertencer à Língua Portuguesa. Etimologicamente, “Garrido” provém
de uma palavra galaico-portuguesa, muito utilizada no termo “cores
garridas”, que significa „cores vivas, alegres‟. Raramente encontrei
esta palavra escrita, senão quando relacionada com familiares meus
ou, simplesmente com pessoas que nunca vi na vida.
      Contudo, este ano encontrei nesta escola um outro aluno com
este apelido, o que achei bastante interessante e, ao mesmo tempo,
estranho. Mesmo reconhecendo a invulgaridade da palavra, é de
salientar que, nos dias de hoje, ela é-me tão natural como qualquer
outra.
                                                    Tiago G. (10.º 4.ª)




Gaufre
      Quando, na minha primeira viagem à Bélgica, conheci o meu
primo, reparei que ele, quando falava, carregava demasiado nos
erres. Isso fazia-me rir: divertia-me imenso, quando o ouvia
pronunciar o meu nome. Era giro!
      Uma vez, fomos a um restaurante e o pequeno, sempre feliz e
contente, pediu uma gaufre… Oh! Aquela pronúncia era de mais! —
gaufre; gaufrrre. Que forma estranha de falar, dando tanto ênfase
aos erres. Era bonito; gaufre ganhava um certo ar aristocrata. É uma
bela palavra e, quando comi pela primeira vez o bolo quentinho,
fiquei a gostar muito dele também.
                                                    Mariza (10.º 1.ª)
Gelado
      “Gelado” é a palavra que, neste momento, mais significado tem
para mim, pois representa as minhas férias de Verão no Algarve e o
dia “17” de cada mês.
      Quando pronuncio esta palavra tão fria, um arrepio percorre-
me a espinha: faz-me recordar as tardes quentes de Verão passadas
com os meus avós no Algarve. E, por momentos, aquece-me.
Passear na avenida, do outro lado das docas, com um cone de duas
bolas de gelado na mão é o final de tarde por que mais gosto de
passar. E nem é muito pelos inúmeros sabores de gelado que há,
mas pelas sensações e sentimentos que a palavra me traz.
      O outro significado que “gelado” tem para mim é mais pessoal:
tudo começou com uma discussão entre amigas. Para resolvermos
as coisas, decidimos combinar passarmos uma tarde juntas. Nessa
mesma tarde, ao resolvermos os nossos problemas e desabafarmos,
comemos um gelado, que representou a celebração da nossa
amizade. Tudo isto se passou num dia 17 e, por isso, nesses dias,
comemoramos a nossa amizade e comemos um gelado.
      Assim, acho que posso dizer que “gelado” é uma das minhas
fontes de equilíbrio.
                                                      Inês (10.º 6.ª)




Gimbra
      Esta palavra surgiu há uns anos na minha vida, ao ver um
programa de humor na TVI. Significa uma pessoa idosa e que, além
disso, já está senil. Gostei desta palavra e repeti-a ao meu irmão,
que também achou piada.
      Esperando que o meu pai não soubesse o seu significado (e
não sabia), utilizei-a à sua frente. Ele não ligou, mas, durante vários
dias, utilizei-a constantemente, e aí o meu pai começou a ficar
perturbado, chegando ao ponto de me proibir de a utilizar.
                                                     Bernardo (10.º 2.ª)
Gordjé
      A palavra persegue-me há pouco tempo, mas já faz parte do
meu dia-a-dia. Não sei explicar como a inventei ou como a comecei a
dizer. Foi de um dia para o outro, em brincadeira com a minha irmã
mais nova, que me veio esta palavra à cabeça, talvez por me parecer
um nome carinhoso ou uma alcunha estúpida, que ao princípio ela
ignorara e detestara. Mas, com o tempo, habitou-se. Das muitas
vezes que me esqueço de a tratar assim fica furiosa e eu, sorrindo,
orgulho-me da palavra que inventei só para não lhe chamar
“gordinha”.
                                                   Carolina (10.º 1.ª)




Hades
       Recurso frequente no vocabulário do português comum,
utilizada por gente comum, saloia, casta e erudita, “hades” sai,
inconsciente, invocando um desejo pessoal em relação a alguém.
       Noto o “hades” em todo o lado, especialmente na escola.
Mesmo agora, antes de começar este parágrafo, perguntaram-me o
que significava “hás-de”, pois esta expressão, já tinha sido
substituída pela contracção de ambos os elementos que constituem
a expressão, originando o neologismo “hades”. Nestas situações,
não emendo os meus colegas, receoso de que o contraste entre a
sua ignorância e a minha sapiência me leve à exclusão social. Mas é
certamente um erro que me impossibilita a indiferença e, por vezes,
desisto, emendo, superior àquele que proferira tal blasfémia.
       Já no seio familiar, as repreensões são constantes, quase sem
significado, confesso que irritantes talvez mas necessárias, e
constato que os meus pais se esforçam por utilizar o “hás-de”.
       Desde que me apercebi de tal erro, que tento exterminá-lo,
sem sucesso: cada vez mais a palavra é adoptada pelos
portugueses, em breve será oficial nos dicionários mais recentes, tal
como o “bué”. Nesse momento, terei de desistir, mas, até lá, vou
fazer com que o “hás-de” seja aprendido. Porque eles hadem
aprender tal expressão.
                                             João C. (10.º 4.ª)




Halibute
      Desde a mais remota infância habituado a ouvir ou a ler esta
palavra, não foi senão aos doze anos que esta para mim maravilhosa
obra de arte fonética se revelou com todo o potencial que aparentava
ter, escrita na embalagem das pomadas para rabinhos de bebés em
aflição.
      Aproveitando os tempos mortos passados na casa de banho
para ler as bulas dos medicamentos, espantou-me que figurasse
“óleo de halibute” na composição de Halibut: antes pensando que
seria apenas um trocadilho com o inglês para rabo, butt, uma
exaustiva busca veio dar-me a descobrir que halibute era, na
verdade, um peixe, um majestoso linguado de dois metros pescado
no Alasca e nos frios mares da Noruega, vendido como bacalhau aos
incultos mercadores mediterrânicos ansiosos por mais do seu peixe
de eleição.
      Foi o suficiente para que a partir daí inúmeros significados
surgissem para halibute, até mesmo adjectivos como «halibúteo»
(sem qualquer significado objectivo).
      Halibute é a grande lenda na enorme lista de termos sem
sentido no meu idiótico vocabulário.
                                                   Gonçalo (10.º 1.ª)




Hezbollah
     Comecei a gostar desta palavra devido aos atentados no
Líbano, porque a ouvia todos os dias nos telejornais e a lia em quase
todos os jornais.
     Este «palavrão» não significa nada para mim, mas, de facto,
entrou na minha cabeça com uma velocidade fascinante, talvez por
causa da pronúncia dos libaneses. Apesar de o nome ser de uma
organização terrorista, eu apenas gosto da maneira como é dita a
palavra, não do tipo de actividade a que esta se refere.
      Acho que a primeira vez que ouvi «Hezbollah» foi numa quente
tarde de Junho, mais propriamente no ano 2006, quando três
soldados isrealitas foram raptados pelo Hezbollah. A partir desse dia,
foi declarada guerra ao Líbano, onde ainda hoje se podem ver as
marcas de devastação causadas pelo exército israealita.
Frederico (10.º 5.ª)




Hoje
      Acho que só percebi quanto o “hoje” significa para mim há um
ano atrás, depois de viver uma das piores alturas da minha vida (até
hoje). Comecei então a dar mais importância ao presente (o hoje),
deixando para trás o ontem e não criando demasiadas expectativas
para o futuro, o amanhã. Desta forma, depois de ver um filme que
me marcou muito — O Clube dos Poetas Mortos —, aprendi o que
me dizia a sua mensagem, “aproveita o dia” (“Carpe Diem”). Assim
vivo cada dia como se fosse o último, aproveitando o máximo, sem
demasiadas preocupações.
                                                 Guilherme (10.º 4.ª)




Idiota
      Certo dia, estava na rua e ouvi da boca de alguém, não sei
quem, a palavra “idiota”. Não sabia qual era o significado, na altura,
mas, da primeira vez que a usei, apliquei-a da melhor forma possível.
Olhei para o meu pai, após ele ter refilado comigo, e disse:
      — Idiota!
      Mas não é só por memórias ou recordações que a aprecio.
Gosto de a repetir vezes sem conta até trocar as sílabas e começar a
dizer uma palavra nova. I-di-o-ta. A última sílaba fica como se a porta
da boca se fechasse e fosse obrigada a sair pelo nariz. (Digo as
palavras de uma maneira estranha).
Bárbara (10.º 5.ª)




Inconspícuo
     É uma palavra relativamente recente no meu vocabulário.
Encontrei-a, certo dia, a navegar na internet, quando acabei por
reparar numa cómica imagem de um homem dentro de uma caixa,
“escondido”, a dizer-se inconspícuo.
     A palavra original em inglês lia-se “inconspicuous” e atingiu-me
como se fosse um “raio de curiosidade”.
     Imediatamente procurei no dicionário pelo seu significado, que,
aparentemente, é “quase invisível/difícil de notar/algo que não é
prontamente notado”.
     Na verdade, nunca verifiquei se a forma como a uso em língua
portuguesa está correcta: limitei-me a partir do princípio de que na
minha língua se escreveria “inconspícuo”.
     Mais tarde, descobri a palavra “conspícuo”, mas não provocou
o mesmo fascínio, apesar de, teoricamente, ser “inconspícuo” a
palavra derivada. Para mim, suponho que “inconspícuo” irá ser
sempre a palavra original, da qual a outra deriva. Na minha mente,
“conspícuo” é uma espécie de derivado regressivo.
     Talvez um dia venha a descobrir que a palavra não existe, ou
que a tenha usado incorrectamente, mas, por agora, continuarei a
aproveitá-la sempre que possível.
                                                    Ricardo (10.º 1.ª)




Lagartixas
     Gosto muito desta palavra, porque, para mim, sempre teve
uma certa vertente cómica. A sua entoação também me desperta
alguma atenção na passagem da terceira para a quarta sílaba.
     Para além das razões acima referidas, esta palavra tem o
condão de me fazer regressar à infância, lembrando-me as caçadas
que eu e o meu primo realizávamos para tentar recolher uma
amostra deste repugnante réptil.
Embora confesse que não existe nenhuma palavra que me
fascine particularmente, esta parece-me ser uma das que me suscita
mais a atenção.
                                                  João M. (10.º 6.ª)




Literatura
       Não é propriamente o seu som ou o facto de ser original que
me atrai, mas o que esta palavra representa mais exactamente.
Quando penso nesta palavra, uma selecção de novas palavras
inunda-me a mente: “ler”, ”livro”, ”saber”, ”conhecimento”.
       A verdade é que, para mim, a palavra “literatura” é um símbolo
para aquilo que eu mais prezo, um livro. Nos livros encontro páginas
cobertas de fantásticas histórias que me levam a sonhar e a fantasiar
com os mundos criados pelos escritores.
       Isto leva-me a duas outras palavras de que gosto,”sonhar” e
”criar”. ”Sonhar” é uma palavra de que gosto, não só pelo que
representa como também pelo seu som e porque tenho como hábito
sonhar; sonhar com novos locais, novas histórias, novas
personagens, todos criados por mim. Afinal, são estas duas outras
palavras a razão do meu apreço pela palavra “literatura”.
                                                  Francisco F. (10.º 2.ª)




Lol
       É, provavelmente, uma palavra de que pouca gente sabe o
significado ou usa nas alturas certas. Tomei conhecimento de tal
palavra, na época “Olha, vemo-nos no MSN”. No início, pensei que
fosse um jogo ou coisa assim, pois, para mim, a internet só servia
para jogar. “Pouco sabia como belíssima seria ela para o meu
futuro”.
       Meti-me no msn, comecei a falar com o Baila, até que disse
uma piada; e ela apareceu, em todo o seu esplendor, ou talvez nem
tanto (porque não percebia patavina daquilo). Perguntei o seu
significado e, de repente, surge outro “lol”.
“Lol” (lots of laughing), muitos risos. E, num futuro próximo,
descobriria que tinha também o significado de (laughing out loud), ri
para fora muito alto.
       E aí pensei: “ora, esta será a minha palavra de estimação”. Vá-
se lá a perceber porquê, eu sou uma pessoa que acredita que diz
umas graçolas para os outros rirem. “Piadas secas”, estão a ver o
género?!...
       A coisa passa por escrever umas “bacoradas” e receber “lots of
lol‟s” de retribuição.
       Esta coisa anima-me e, de vez em quando, até sou criativo…
“Puxa por mim, topam?”. Tipo, uma pessoa até se sente com
capacidade para vir a ser o argumentista dos Gato Fedorento.
       Enfim, esta minha imaginação, que não pára e peca pelo
exagero, e que tenho alguma dificuldade em controlar.
       Voltando à minha palavra de estimação, “o meu lol”, até estou
a pensar em chamar ao meu próximo animal de estimação “lolito”…
       Perceberam o trocadilho? Digam lá que não merece um
comentário? E qual é ele? Qual é?
       Somente, “lol”.
                                                      Ricardo (10.º 2.ª)




Lorem ipsum
      A minha palavra favorita não existe, são antes duas palavras:
Lorem ipsum. A sequência é do Latim e é usada em exemplos
tipográficos ou quando não se sabe o que escrever.
      “Lorem Ipsum” é o começo desse texto, único no mundo, que
fala sobre várias coisas aleatórias. Escolhi esta expressão, porque
me identifico com ela, dado que várias vezes tenho de servir de
exemplo, mesmo quando não quero. A minha língua favorita é o
latim, embora não o saiba falar. Os meus amigos acham-me
aleatório e sem sentido, e eu considero-me único. Uma expressão
que me define perfeitamente, melhor do que outro termo qualquer.
                                                     David (10.º 4.ª)
Lula
      Tal como para muitos portugueses, a palavra lula é para mim
implacável carrasco que decide punir nas mais incómodas situações
e que leva a um profundo embaraço. A sequência da consoante “L”
com a vogal “O” ou “U” é de extrema dificuldade fonética para mim.
Lula sai da minha boca como um disparo agonizante que mais se
parece com a onomatopeia de uma sirene, Ouoa, do que com o
substantivo de um molusco aquático que tem vários tentáculos
pegajosos e vive no fundo dos oceanos.
      Esta embaraçosa palavra (também existem outras) é sempre
forçada a sair do meu vocabulário fonético, mas muitas são as vezes
em que sou obrigado a demonstrar os meus dotes (inexistentes) a
toda uma multidão. “A ouoa (lula) vive no fundo dos oceanos. A sua
rotina diária não é influenciada pelas marés, que, toda a gente o
sabe, são modificadas pela Ouoa (lua). Risos e gozo.
      Mas eu já não me importo. Muitos são os portugueses como eu
e espero, um dia, saber dizer esta palavra sem nenhum incómodo.
“Lula”. Muito simples. Antes de me deitar, na profunda escuridão do
meu quarto, dito em baixo tom, repetidamente, lula. E sempre que
estou prestes a adormecer, vem-me em estranhos sonhos um
gigantesco molusco, cheio de tentáculos pegajosos, que vive nas
profundezas do mar. “Eu sou a ouoa gigante e vim apanhar-te.
Hahahaha!”
                                                     Bruno (10.º 4.ª)




Macambúzio
       Lembro-me desde pequena de ouvir a minha mãe dizer,
quando eu ou o meu irmão estávamos com um ar triste ou cansado,
que estávamos macambúzios. Nunca fui ao dicionário ver o que
significava nem sequer lhe perguntei o que queria dizer. Não uso a
palavra e de poucas pessoas a ouvi, mas acho-a engraçada. Quando
era pequena, pensava que era um tipo de concha ou búzio:
lembrava-me o mar; não percebia porque é que a minha mãe a
utilizava. É claro que depois, à medida que fui crescendo,
compreendi que tinha a ver com um estado de espírito nosso,
quando estávamos com um ar “macambúzio”.
                                           Matilde (10.º 2.ª)




Mar
       “Mar” é um substantivo e designa um local, à superfície
terrestre, que contém água. É uma palavra bela e robusta, por
designar uma grandeza da natureza; e evocar o poder do planeta.
      Gosto também desta palavra, porque, cada vez que penso
nela, recordo-me dos grandes passeios que fazia quando era
pequeno. Cada vez que alguém falava em passear, eu dizia, de
forma entusiasmada, “Vamos ao mar!”. A palavra “mar” saía e ainda
hoje sai quase que automaticamente da minha boca. Desde pequeno
que ando com a palavra “mar” dentro da minha boca, pronta a sair cá
para fora. “Mar” é uma palavra requintada e que me traz à memória
muitos passeios de infância e de agora.
      A palavra persegue-me há quinze anos e gosto de a observar
quando aparece nalgum livro, texto ou dicionário. A minha palavra de
estimação irá estar eternamente no meu coração e no meu
pensamento, sempre ligada aos meus passeios e ir-me-ei encontrar
com ela entusiasmado, sempre nos livros, nos textos e nos
dicionários.
                                                       Luís (10.º 1.ª)




Mar
      Sempre que me sinto confusa, sem saber o que fazer, tento ir
para junto dele. Faz-me pensar e tomar decisões importantes.
Persegue-me desde que sou pequena, mas ainda bem. Graças a
ele, sou a pessoa que sou, tomei as decisões que tomei, fiz tudo o
que fiz.
      Adoro o mar desde que me lembro, sou capaz de dizer que, se
me tiram o mar, tiram-me tudo. É a única coisa que me acalma.
A importância da palavra «mar» reflecte-se na imensidão que
ela representa. Uma imensidão de água: é nela que o céu e a terra
se encontram.
      Adoro olhar para o horizonte e perguntar-me o que haverá para
além daquela linha que definimos, pois a nossa visão não consegue
alcançar mais.
                                                      Ana (10.º 5.ª)




Mar
      Não é original como palavra (só três letras, "Mar", que simples!)
nem como objecto (não podemos pôr mar dentro de um frasco). Eu
chamo-lhe um fenómeno.
      Mar. Uma faca de dois gumes. Persegue, motiva, desafia,
arrasta, prende, corrói, avassala.
      Para mim, ele tem mais poderes do que Deus. Ele tira e dá
vida, repõe a ordem, completa um ciclo."Mar" transmite tranquilidade,
refresca, dá adrenalina, lembra-nos que não somos omnipotentes. É
um arco-íris molhado. Misturado com a nossa essência e derretido
numa onda. É a melhor droga.
      Mar. Poderoso, influente, intimidador. Há quem já tenha
nascido, vivido e morrido por ele. Mesmo que nunca o vejamos,
estamos sempre "mergulhados" num mar de ideais, num mar de
ideias. Acompanha-nos sempre, mesmo que nunca vejamos o
horizonte delineado a azul.
      Mar. Tem sabor, tem corpo, tem vida, tem força, tem mente.
      Mar. O cúmulo da originalidade. Lima as arestas do original.
Não é original, é único.
                                                     João G. (10.º 5.ª)




Marta
     Escolhi este nome não por um gosto particular mas por, por
detrás dele, haver uma engraçada história.
A minha avó, com a mania das poupanças, nunca compra
canetas. Aproveita sempre as que lhe dão nos supermercados e
talhos. E, sempre que estas deixam de escrever, ela tenta inventar
mil e umas maneiras de que voltem a escrever. De umas delas,
lembro-me com um certo gozo; mas, atenção, o que aqui vou
escrever não é invenção minha, é pura realidade.
       Certo dia, quando andava no quinto ano, perdi a única caneta
com que andava no estojo. E, como tinha de fazer uma composição
a esferográfica azul, perguntei à minha avó se ela, por acaso, teria
uma que me pudesse emprestar. Passados alguns minutos, lá veio
ela com três canetas de tinta azul, apesar de eu só lhe ter pedido
uma. No entanto, reparei que nenhuma delas escrevia. Aborrecida
com a minha infeliz sorte, desatei a barafustar, extremamente
revoltada. A minha avó saiu da cozinha, ao ouvir toda aquela
barulheira, e perguntou o que se passava. Depois de lhe ter
explicado o sucedido, pegou suavemente numa das canetas e
começou a escrever, na sua letra manuscrita, “Marta”. E não é que
no papel começaram a aparecer vestígios de tinta que, de letra em
letra, ficava mais fluida! Fez isso com as restantes duas, e com elas
se passou o mesmo. Fiquei deslumbrada com a perícia da minha
avó.
       Actualmente, faço isso com todas as canetas, imitando o seu
gesto único, e continua a resultar sempre. E, sempre que conheço
alguma rapariga que tem este nome, lembro-me deste episódio.
“Marta” ficou para mim como uma palavra de estimação.
                                                      Raquel (10.º 1.ª)




Mealheiro
      Eu escolhi esta palavra porque ela perseguiu-me, e persegue-
me, desde que eu comecei a falar. A perseguição desta palavra
acontece pela minha dificuldade em dizê-la correctamente.
      Sempre que experimento dizer “mealheiro”, ouço risos à minha
volta e tento disfarçar o meu erro com alguma piada. Às vezes, a
minha mãe pede-me para tentar dizê-la, mas, quando o faço, à
primeira sai-me “Milhalheiro”. O meu irmão, quando mo pede, sei que
é para eu ficar embaraçado à frente de outras pessoas, por isso,
quase sempre evito dizê-la.
António(10.º 4.ª)




Merdaleja
      É uma velha terra, em Viseu, pela qual aprendi a ter grande
afecto. O meu amigo Manuel e a sua esposa, Dorinda, mostraram-
me essa bela aldeia, Merdaleja, que, cedo, despertou a mim e à
minha família interesse e gosto. Detentora de alguns doces regionais
de paladar fantástico, era impossível esquecer-me do seu nome,
“Merdaleja”.
      Povo hospitaleiro, paisagem fabulosa, é assim esta
maravilhosa terra, pela qual aprendi a ter grande estima.
                                                      Daniel (10.º 4.ª)




Merdinha
       Descobri que a dizia há uns anos. Não a dizia por mal mas
porque, simplesmente, era muito novo e, ao tentar dizer “Madrinha”,
acabava sempre por dizer “Merdinha”. Soube que utilizava a palavra
há sensivelmente três anos.
       Na altura, fiquei embaraçado e pensei que a minha mãe e a
minha madrinha estivessem a meter-se comigo. Elas disseram que
era verdade, mas, mesmo assim, fiquei desconfiado.
       Uns dias depois, confirmei-o com o meu pai. Como ele estava
divorciado da minha mãe, tinha a certeza de que jamais combinariam
tal coisa e que, sendo assim, ficaria a saber se era mesmo verdade o
que elas diziam. Para minha surpresa, afinal eu usava mesmo essa
palavra, e com uma pessoa de que gosto tanto.
                                                       Tiago (10.º 2.ª)




Mim
Palavra estranha para dizer sozinha, eu sei, mas adoro dizê-la
assim mesmo. É egocêntrico, talvez. Na minha mente, não.
Caracteriza-me, mas não sei como explicar: talvez por estar sempre
relacionada comigo, quando a digo; por ser simples na forma escrita
e dita; por ser simples, mas ter a letra «m», que, sendo comprida,
alarga a palavra.
      Que mais posso dizer sobre esta palavra? Sinceramente, para
mim é inexplicável!
                                                    Patrícia (10.º 5.ª)




Mimi
      A palavra “Mimi” acompanha-me desde a minha infância.
Quando tinha uns três ou quatro anos e me sentia mais adulta que
nunca, a minha mãe decidiu trocar o “Joana” por “Mimi”, o que, na
altura, me deixou profundamente revoltada. “Mimi” era nome para
bebés… E, apesar de todas as minhas pragas, a palavra instalou-se
mesmo na minha vida.
      Comecei a ser a “Mimi da mãe” e, quando dei por mim, já
respondia quando a minha mãe me chamava esse tão querido nome
inventado por si.
      Hoje, quando oiço “Joana”, suplico-lhe que me chame “Mimi”.
                                                  Joana O. (10.º 2.ª)




Não
      Esta é a palavra que mais me intriga e fascina. É daquelas
palavras que aprendemos muito facilmente quando somos
pequenos. Para alguns, até foi a sua primeira palavra.
      Gosto dela, porque, a meu ver, impõe-se perante as outras.
Sendo ela tão pequena, à primeira vista não parece ser tão
importante.
      Usamo-la quando queremos negar algo, mas eu uso-a para me
afirmar perante os outros. Sei que, por vezes, esta palavra pode ferir
susceptibilidades, mas sem ela não me conseguiria expressar.
Por isso, digo: — Não!
      Devias fazer o mesmo, sozinho ou perante aqueles que te
rodeiam. Vais ver que és bem capaz de te sentir melhor.
                                                 Marta M. (10.º 5.ª)




Néon
      Néon, gás raro. Achei piada a esta palavra durante uma aula
de Química. A sua pronúncia, acho-a bastante engraçada. Tem um
som anasalado que me fascinou.
      Estávamos durante uma aula de turnos, na Câmara Escura, a
ver os variados espectros de determinados elementos, incluindo o
hidrogénio, o hélio e também o néon. O néon foi o que mais nos
impressionou a todos por ter um espectro bonito e de múltiplas
cores. Ficámos “apaixonados” pelo espectro deste elemento e
pedimos à professora para mostrar-no-lo mais uma vez. “O Néon,
„stôra‟, por favor, o Néon”.
      A partir dessa aula, “Néon” ficou uma palavra só nossa.
Qualquer conversa era “Néon, Néon, Néon”. Tudo era Néon, tudo se
relacionava com a palavra “Néon”. Ficou assim a minha palavra
preferida.
                                               Catarina F. (10.º 2.ª)




Oias
       No princípio da minha adolescência surgiu uma palavra nova,
“oias”. Sem dúvida, era um neologismo. “Oias” significa „olá, oi,
boas‟. É uma palavra que, não sei bem porquê, gosto de dizer vezes
sem conta. É viciante. Vejo os meus amigos e “oias, tudo bem?”; vou
ao msn, “oias”. Fico viciado nela. Talvez seja pelo som da junção de
“oi” com “as” que dá algo muito harmónico.
       “Oias” é, para mim, uma palavra importante, porque só a digo
quando estou bem-disposto. É uma palavra que, devido ao som,
acho ser muito alegre. Julgo que até contagiei algumas pessoas à
minha volta, sobretudo os mais próximos. O “oias” está agora
sempre presente nas conversas com os meus melhores amigos. É,
realmente, a minha palavra-fétiche.
                                              Duarte (10.º 4.ª)




Onomatopeia
      Lembro-me de decorar as classes gramaticais quando era mais
novo. Contudo, houve um termo — não de classe, mas sobre
processos de formação de palavras — cujo nome sempre me ficou
na memória. Era a onomatopeia.
      No início, comecei por me perguntar quem teria sido o
energúmeno que inventara aquela palavra para definir um tipo
gramatical. Seguramente, não era para nos facilitar o estudo.
      O que mais me atrai na palavra é a ideia de movimento, de
actividade, de vida! Sempre detestei lugares desertos, onde se vê
meia-dúzia de pessoas em cada quilómetro quadrado. Esses
espaços deixam-me deprimido e a única coisa que me vem à cabeça
é um devaneio filosófico, que se torna num verdadeiro ciclo de
pensamentos negativos.
      O ruído do motor de um carro, o constante barulho dos sapatos
das outras pessoas a bater no chão... Bastam simples sinais sonoros
do quotidiano para poder afirmar a mim próprio: “Aqui há vida.”.
      Uma onomatopeia simboliza sempre o barulho de algum
objecto. O tocar de um sino, por exemplo. Se existir uma
onomatopeia que possa transcrever para o papel, é sinal de
movimento. E onde há movimento há vida.
      Sinceramente, não sei de quem herdei esta constante
obsessão por um dia-a-dia agitado. Se perguntar aos meus pais, e
mesmo aos meus tios, qual seria o lugar perfeito para viver, eles
responderiam: “No campo, no meio da paz e do sossego”. Discordo
completamente. Se pudesse escolher, optaria por viver perto de
Londres, não num prédio, mas numa daquelas casas espaçosas,
com dois andares e garagem privada. Enfim, são opiniões.
      Esta é a minha palavra preferida. Não a escolhi por gostar de
Português, mas por, apesar de uma grafia e som peculiares, adorar o
que ela nos pode transmitir.
                                                       José (10.º 4.ª)
Otorrinolaringologista
        Conheço-a há algum tempo, mas nem por isso a consigo
pronunciar muito bem. Pudera, para o som das vinte e duas letras
sair como deve de ser, tenho de abrir e fechar a boca repetidamente,
tal como um peixe num aquário. Quando a dizemos, emitimos um
som engraçado, principalmente na primeira parte: “oto”. Para uma
palavra que significa „especialista de ouvidos, nariz e garganta‟, até
já representa a poupança de algumas sílabas.
        Os mais novos — da primária, como a minha irmã —, como
têm muita dificuldade em pronunciá-la, chegam a fazer desafios para
ver quem diz melhor. E os que puseram recentemente aparelhos na
boca? Esses, coitados…
        Mas há sempre uma possibilidade de aproveitar uma palavra
difícil. Quando jogo ao jogo da forca, escolho-a sempre, quase nunca
ninguém acerta. E há também outra vantagem: otorrinolaringologista
é uma palavra tão comprida, que basta repeti-la duas ou três vezes
para termos uma página cheia.
                                                       Laura (10.º 1.ª)




Palavra
       Uma palavra define tudo o que possamos denominar na
escrita, desde que se consiga escrever. Palavra pode ser usada em
todo o tipo de textos! Narrativas, poesia, teatro… Tem imensos
significados, para variadíssimas situações. Palavra mais complexa
não há. É daquelas palavras que as próprias mães usam para
encorajar os filhos a falarem. Palavra! Pode ser usada em sentido de
promessa. Gosto desta palavra, pela sua simples complexidade. Não
é preciso grande esforço nem pronúncia para dizer: palavra. A nível
de escrita é inevitável, a que nenhuma palavra escapa! Se a
colocássemos numa folha, milhões de setas provinham dela, com
imensas palavras de todo o tipo. Palavra é simplesmente um
componente que se pode aplicar a tudo o que o homem queira
expressar, por escrito ou oralmente. É palavra que caracteriza todas
as outras palavras, por mais estranhos ou comuns que sejam os
significados das mesmas.
                                                  Ana (10.º 1.ª)




Passado
      Ontem, em tempo remotos, outrora, no passado. São as
palavras que me fazem recordar aquilo que sou, fui e serei para o
resto da minha vida. Considero-me uma pessoa nostálgica. Vivo do
passado, respiro recordações, inspiro o meu quotidiano nas minhas
memórias. Recordo passagens da minha vida: que me causam
anseio de voltar atrás e resolvê-las; outras, simplesmente, gosto de
as recordar, pois fazem-me sentir o rei do meu destino; mas a maior
parte das minhas memórias causa-me angústia, transtorno e
sofrimento.
      As minhas memórias, o meu passado, é aquilo que melhor me
caracteriza. Quando penso no passado, prevejo um futuro melhor,
vejo a resolução da minha vida, o desfecho e explicação do meu
destino. Passado é a palavra mais bela e com mais valor. Quando
olhamos para trás, e vemos o que temos vindo a “construir” ao longo
da nossa vida, apercebemo-nos de que fomos postos na terra por
algum motivo, e isso (falo por mim) traz-nos uma vontade imensa de
viver e desvendar os mistérios que há muito nos fazem questionar.
      Os nossos relatos de vida podem ser lições de vida, não só
para nós, como também para os outros que lidam connosco. É
também olhando para o passado que vemos os nossos erros,
tentando corrigi-los, e é através deste que se aprende a viver, pois
nunca se cai duas vezes no mesmo erro e é com um erro que se
corrigem as nossas acções.
                                                      Pedro (10.º 6.ª)




Pausado
A minha palavra favorita é «pausado», porque é pausada.
Comecei a usar esta palavra no início do décimo ano e, a partir daí,
comecei a pegar esta “mania” aos meus colegas.
      «Pausado» passou a ser uma palavra característica do Castro,
é como uma marca pessoal. Algumas pessoas podem não conhecer
a palavra, mas pausado significa „uma coisa engraçada‟.
      «Pausado» é um estilo de vida.
                                                    Nuno (10.º 2.ª)




Paz
      Nem tanto pelo significado, que por acaso até é muito
importante, gosto da palavra “paz”. Não se trata só do valor, é mais
até a palavra em si. “Paz”. É bonita ao ouvir. E é bonita ao escrever,
seja em maiúsculas, minúsculas, à máquina ou à mão… “PAZ”,
“paz”, “Paz”, “Paz”. “PAZ”! Soa bem, sim, soa muito bem. E, se a
quisermos virar ao contrário, “ZAP”! E já está! É uma palavra
engraçada, “paz”.
                                                    Joana L. (10.º 6.ª)




Pedestal
      E, tal como noutros dias, escrevia. E, tal como nos outros dias,
expunha os meus pensamentos, fascínios, desagrados ou,
simplesmente, lembranças.
      Após anos de abertura da minha vida com a folha de papel e
caneta, apercebi-me, estupidamente de maneira repentina, que
repetia bastante vezes a palavra “base”. Mas eu não sei sequer
explicar o meu desagrado pela referida palavra. Não gosto da
palavra. Não gosto, simplesmente, da palavra. Talvez mais por
teimosia, ao não querer novamente escrever aquele “B”, seguido de
um “A” e um “S”, com um “E” no fim, fiz o que outra pessoa, talvez,
fizesse. Ou talvez só porque a minha teimosia me mandou: peguei
no dicionário.
Lá estava a tal palavra. Passei os olhos pelas linhas e linhas de
sinónimos. E sim, encontrei “pedestal”, entre muitas outras. Mas,
agora também inexplicavelmente, essa agradou-me mil vezes mais
do que as outras todas. A partir desse dia, troquei, no meu
vocabulário, a palavra “base” por “pedestal”. E, sempre que a usava,
vinham-me perguntar: “Filipa, pedestal? O que queres dizer?”. E eu
ficava bem orgulhosa de mim mesma. Tinha aprendido mais uma
palavra que, pelos vistos, aos ouvidos dos outros, não era assim tão
comum no vocabulário de crianças de treze ou catorze anos.
                                                     Filipa A. (10.º 5.ª)




Pequenalmoçar
      Este verbo acompanha-me desde pequena. Penso que era de
manhã e tinha acabado de acordar, quando ouvi a minha mãe dizer:
“Filha, anda pequenalmoçar!”.
      Desde então, cada vez que estou acompanhada e o utilizo,
olham-me surpreendidos e, de seguida, repetem o verbo, muito
duvidosos: “Pequenalmoçar?!
      Se o verbo existe ou não, não sei bem, embora comece a
pensar que sim, de tanta gente já me ter corrigido: “Pequenalmoçar?!
Não! Vais tomar o pequeno-almoço!”.
      Mas o que é certo é que, além de ser mais curto, evitando
assim a complicada frase “Vou tomar o pequeno-almoço”, já me
afeiçoei e habituei à sua aplicação.
                                                       Sofia (10.º 6.ª)




Percular
     Aprendi esta palavra com o meu pai. Nos dias de viagem, em
que as horas passam lentamente enquanto estamos no carro, ou
mesmo nos jantares ou almoços em restaurantes, enquanto
esperamos pela refeição, para nos entretermos durante a espera
podemos sempre jogar ao percular. Um dos jogadores pensa num
verbo difícil ou engraçado, e os restantes têm de adivinhá-lo, fazendo
perguntas com respostas de “sim” ou “não”, usando o verbo
“percular” para substituir o verbo em que a pessoa pensou. Por
exemplo: já perculaste hoje? Gostas de percular?
     Foi uma palavra que marcou a minha infância, uma palavra
para brincar.
                                                 Joana R. (10.º 2.ª)




Perfeição
       A palavra “perfeição” sempre foi uma das que mais me
intrigaram. Significa o máximo dos máximos atingido, o mais belo. Da
palavra surgem muitas discussões mas sempre ouvi dizer que nada
é verdadeiramente perfeito, que, ao examinarmos os detalhes de um
objecto, se revelam as imperfeições, portanto, no verdadeiro sentido
da palavra, de acordo com a sua descrição no dicionário, nada é
realmente perfeito. Então, se esta é a verdade, estaremos nós a usar
uma palavra cujo significado nunca poderemos atingir
verdadeiramente? Estaremos a descrever um estado impraticável
pois na realidade ele não existe, a não ser claro, se acreditarmos no
Paraíso que, mesmo assim, creio que terá as suas imperfeições? É
por esta razão que esta palavra me deslumbra tanto e me fez
escolhê-la como a minha palavra de estimação.
                                                       Pedro (10.º 5.ª)




Pipoquinha
      Foi a alcunha que me puseram, devido ao facto de gostar muito
de pipocas.
      Não me lembro muito bem do dia em que eu e os meus
colegas decidimos ir ao cinema, mas posso contar que foi no sexto
ano. Tudo estava a correr lindamente, até que um dos meus colegas
teve uma triste ideia. Em vez de ver o filme e estar sossegado no seu
canto, optou por começar a atirar pipocas pelo ar. Ao princípio tudo
estava muito bem, até que começaram a atirar as minhas pipocas e
comecei a chorar, em pleno cinema. Acho que naquele momento o
cinema passou a ser um circo, pois todos se riam das minhas
figuras. E eu a chorar pelas minhas pipocas... Pode-se dizer que são
brincadeiras parvas, mas são estas brincadeiras que nos fazem rir
dos nossos momentos de crianças.
      Graças a esta brincadeira, ainda hoje sou conhecida por
“Pipoquinha”. Acho que nem eu nem os meus amigos vamos
esquecer este dia.
                                                     Tânia (10.º 6.ª)




Pneumoultramicroscopi
cossilicovulcanoconiose
      A primeira vez que vi esta grande palavra foi num e-mail que a
mãe de um amigo meu lhe enviara. Vi-a na caixa de correio dele, há
vários anos, enquanto ainda andava nos Maristas. Quando vi a
palavra, pensei que não existisse por ser tão extensa e nem me
lembrava das primeiras cinco letras depois de a ter visto. Esse meu
amigo e outro que também estava comigo deram-se ao trabalho de
decorar a palavra que lhes serviu, por acaso, para uma espécie de
jogo para encontrar as maiores palavras da língua portuguesa.
      Nas maiores palavras estava o “otorrinolaringologista” e o
“esternocleidomastoideu”,       até      que        apareceu         o
“pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico”, pessoa que sofre
de pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose, que é uma
doença pulmonar provocada pela respiração de cinzas vulcânicas.
      Nunca mais tive contacto com a palavra, até ao nono ano,
quando o meu professor de Português pôs numa ficha as maiores
palavras da língua portuguesa. Quando a vi, decidi fixá-la logo para
não me voltar a esquecer e corrigir as pessoas que pensam que a
maior palavra da língua portuguesa é “otorrinolaringologista”. É, sim,
“pneumoultrami-croscopicossilicovulcanoconiótico”, pessoa que sofre
de pneumoultramicroscopicossili-covulcanoconiose.
                                                     João A. (10.º 1.ª)
Posso
       A palavra em si tem toda uma aura de grandeza, mas o que a
torna especial para mim é o seu aparecimento nas duas melhores
frases de O Senhor dos anéis.
       “Tu não podes passar!” é o que Gandalf diz antes de se
sacrificar pelo bem da irmandade, como fosse a sua última vontade.
Era a última coisa que ele tinha esperança de fazer mas, mesmo
assim, manteve o tom autoritário e intimidador ao dar a ordem.
       “Eu posso ver-te”. Esta frase é um misto de “big brother” e de
espionagem e o resultado é assustador. Basicamente, o que
transmite é a possibilidade de se aniquilar a nossa privacidade, mas
não o faz, porque somos insignificantes.
                                                     Cosme (10.º 4.ª)




Post-it
       “Post-it” é uma palavra de origem inglesa, mas está a ser muito
utilizada na língua portuguesa; porém, as pessoas transformam-na
em “postit” (tudo junto).
       Escolhi esta palavra por causa do seu som tão engraçado. Este
som, lido rapidamente, até parece “bostic”.
       A sua utilidade é enorme, pois, com “post-it”, conseguimos
colar em qualquer parte. Apenas com um podemos localizar-nos
entre milhares de páginas de um livro, podemos lembrar-nos de algo
importante como os tepecês de Português. Como eu disse, a sua
utilidade é quase infindável.
       “Post-it”, ainda por cima, faz-me lembrar a infância, pois,
quando era pequeno, tinha a mania de colar “post-it” em tudo o que
era sítio. Os meus pais só viam era etiquetas de diversas cores —
amarelas, laranjas, rosas, azuis — em tudo o que fosse livros,
revistas, mesas, em tudo o que era sítio.
       E tudo se resume a um simples papelinho com cola num dos
lados.
                                                      Carlos (10.º 4.ª)
Princesa
      É uma palavra com um enorme valor sentimental e afectivo
para mim, pois que, desde que comecei a ver filmes de desenhos
animados em que as personagens eram princesas, com longos
cabelos loiros e saias compridas, e moravam em grandes castelos,
quando me perguntavam qual seria a meu futuro de sonho,
respondia sempre, de maneira convicta, que iria ser uma princesa.
      É também uma palavra com grande valor para mim, porque
desde pequena e, por vezes, até hoje em dia, a minha mãe, contente
com alguma boa atitude minha, me chamava «princesa», ou deixava
bilhetes no frigorífico, que, no final, diziam sempre «beijinhos,
princesa».
      Outra, e última, razão para ser uma palavra de estimação é o
facto de estar presente numa música que representa momentos
felizes da minha vida.
                                                   Mariana (10.º 1.ª)




Procriar
     Verbo da primeira conjugação. Tem como sinónimos palavras
como ”germinar”, ”reproduzir”. Uso-a com muita regularidade. A
palavra, para mim, substitui expressões como ”fazer amor”, “fazer
sexo”. Soa melhor “procriar” do que outras palavras mais ordinárias;
porém, “procriar” tem mais o sentido de fazer amor, para gerar
descendência.
     Arrisco-me a dizer que uso esta palavra, na maior parte das
vezes, com alguma ironia. Já faz parte do meu vocabulário diário.
                                                  Joana B. (10.º 5.ª)




Purée
Ao ler esta palavra, pode pensar-se que estava a falar de
culinária, mas não é o caso. Trata-se de uma expressão francesa
que, muitas vezes, os jovens utilizam para demonstrar o seu
desagrado com algo que aconteceu. Se a irritação for muito grande
podem dizer “purée” cada vez que fazem uma frase. A primeira vez
que ouvi tal coisa, confesso que fiquei chocada. Porquê usar uma
comida para expressar um sentimento de raiva? A lógica é pouca.
Mas o facto é que, quando esta palavra é usada, até mesmo na
cantina, o sentimento nunca é positivo: nem no prato “purée” é aceite
com um sorriso.
                                                      Dulce (10.º 5.ª)




Qué-qué
       Sendo eu a primeira neta — de cinco, actualmente —, fui
também a primeira a receber uma alcunha. Verdade seja dita, a
minha mãe sempre conseguiu formar bons neologismos. E, hoje em
dia, já com um vasto número de alcunhas, esta permanece, apesar
de serem poucos aqueles que ainda me chamam «Qué-qué». Talvez
a versão mais doce desta palavra seja a da minha irmã mais nova
que, ainda estreante no campo oral, me chama «Té-té».
       Não há nada de fantástico nesta palavra, apenas o facto de ela
permanecer ainda no vocabulário familiar.
                                                    Raquel (10.º 6.ª)




Quotidiano
        Escolhi esta palavra, por ter estado sempre presente na minha
vida.
      Ao recuar no tempo, verifico que, mesmo quando era criança, a
minha vida quotidiana já existia, porque o meu dia-a-dia era sempre
igual, excepção feita aos fins-de-semana, pois, todos os dias úteis,
tinha de acordar cedo e a minha mãe deixava-me logo às oito horas
na escola. Depois, já mais velho, o “quotidiano” começou a estar
mais presente na minha vivência. Agora que estava no primeiro ciclo,
a minha responsabilidade tinha aumentado, e a responsabilidade do
“quotidiano” era, cada vez mais, minha.
       Presentemente, quando olho para a minha vida, verifico que,
quanto mais velho fico, mais o tédio do “quotidiano” aumenta.
       Não sei porquê, mas, sempre que penso nela ou ouço a
palavra “quotidiano”, parece que me fica no ouvido e vou-a repetindo
interiormente vezes sem conta.
                                                    Tiago S. (10.º 4.ª)




Raios
      Raios, não os que existem nas trovoadas, mas sim a palavra
que uso desde há muito tempo, quando algo desagradável acontece.
Penso que a primeira vez que disse “raios” foi aos oito anos, quando
me queimei numa frigideira. Com a dor no dedo, consegui travar o
comboio de asneiras e gritos que queria libertar e gritei simplesmente
“raios!”. Desde esse momento que, sempre que me esqueço de
alguma coisa, me aleijo ou me engano, digo apenas “raios” ou, mais
raramente, “fogo”. Penso que a razão por que uso esta palavra é que
me permite exprimir raiva e dor sem incomodar as pessoas com
asneiras e outras profanações.
                                                       Miguel (10.º 2.ª)




Ridículo
       Já o digo quase que inconscientemente.
       Penso que devo ter começado a dizer “ridículo”, no início deste
ano lectivo, quando uma amiga minha disse essa palavra a meio de
uma frase. Lembro-me que parei por uns instantes, admirando a sua
fonética. Adoptei-a nesse preciso momento. Desde esse dia, digo
“ridículo” constantemente. Acabo por não ter muito em conta o seu
significado, pois uso a palavra para situações que de ridículo não
têm nada.
       Por vezes, chego a irritar algumas pessoas, de tantas vezes a
dizer. No entanto, tenho vindo a reparar que algumas pessoas que
me são mais próximas têm começado a dizer “Ridículo” mais
frequentemente. Muito provavelmente, influência minha…
                                                    Marta (10.º 2.ª)




Sabedoria
      «Sabedoria» é uma palavra de que gosto, devido à sua origem,
o saber, e à sua sonoridade.
      A «sabedoria» é o que toda a gente procura. Eu não fujo à
regra.
      É uma palavra que aprendi logo na minha infância. Quando me
perguntavam que profissão queria seguir, eu, na minha ingenuidade,
respondia que ainda não a tinha escolhido. Queria aprender para
enriquecer a minha sabedoria.
      Durante estes anos todos que estudo, é para alcançar este
meu objectivo, a sabedoria total, que trabalho.
                                                  Ricardo (10.º 6.ª)




Salteadores
       Talvez não tenha grande aparência nem som ou imagens
originais, mas talvez nela reveja os melhores tempos que já passei.
«Salteadores» gritava o guia da excursão que, juntamente com os
meus pais e outros amigos, fizemos às minas do sal na Alemanha.
Penso que tudo esteja relacionado: a visita às minas e a própria
constituição da palavra «salteador», sendo que estávamos nas
minas do sal e, numa certa parte da visita, que era constituída por
um passeio de comboio, passeios a pé, etc. Tínhamos de saltar para
um escorrega inclinado, que percorria em curvas uma longa
distância, por entre um apertado túnel. Dentro das minas, era
necessário utilizar este túnel para trocar de piso e percorrer todo o
percurso estipulado.
       Ao mesmo tempo, o guia alemão apelava à atenção dos
visitantes, gritando «salteadores», pois, apesar de ser alemão, a
visita era em inglês e a única palavra em português que ele sabia
pronunciar era «salteadores». Não sei porquê, nunca lhe perguntei.
O que é certo é que todas as aventuras dessa visita me marcaram
muito. Talvez por isso tenha grande admiração pela palavra
«salteadores».
                                                 Susana (10.º 5.ª)




Sempre
      Lembro-me da quantidade de vezes que ouvi esta palavra.
      É tão bom ouvi-la da parte de alguém de que realmente
gostamos em relação a uma situação que, igualmente, desejamos.
Hoje em dia, essa palavra chove entre as pessoas e cria um enorme
sorriso.
      Mas também me lembro da quantidade de vezes em que esta
palavra não foi cumprida. As pessoas utilizam-na por todos os
motivos e mais alguns e, na maior parte dos casos, no dia seguinte
já não se lembram dessa promessa.
      Muitas vezes, admito, também digo “sempre” sem qualquer
nexo. Mas começo a ter uma noção do meu significado da palavra.
Adquiro-o todos os dias e todos os dias o vou aperfeiçoando.
      Talvez seja melhor não o dizer. É uma palavra estranha: causa
muita alegria mas, às vezes, faz medo.
                                                  Joana G. (10.º 1.ª)




Sempre
      “Sempre” é uma palavra de que sempre gostei. Gosto dela pois
é o contrário de “nunca” e eu acho que nunca devemos desistir.
      “Sempre” é das primeiras palavras que me lembro de dizer e
escrever, logo a seguir a “mãe” e “pai”, pois sempre gostei do seu
som e entoação.
      “Sempre” é uma palavra de que todos devíamos gostar para
evitar que tantas coisas acabassem (como as amizades, os
casamentos, a vida, o mundo…).
                                                  Mariana (10.º 2.ª)
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A Minha Palavra Favorita Do 10 º Ano De 2007 2008

  • 1. A minha palavra favorita Este textos foram tarefa de uns últimos vinte minutos de uma aula de Português das turmas 10.º 1.ª, 10.º 2.ª, 10.º 4.ª, 10.º 5.ª e 10.º 6.ª. Pouco antes, lêramos página de diário de José Saramago, em que este apresentava o verbo alanzoar como uma espécie de palavra de estimação. Vimos então exemplos de palavras favoritas escolhidas, e comentadas, por escritores, artistas, jornalistas, etc. Reparámos também nos resultados de um inquérito sobre palavras preferidas dos ingleses. Os textos que entretanto se fizeram foram depois corrigidos e, de novo, reformulados pelos seus autores. Faltaram vinte, os dos alunos que se esqueceram de os devolver a tempo.
  • 2. Só há duas palavras que são referidas por mais do que um aluno. Mar é apontada três vezes; Sempre foi escolhida por dois alunos. Com mar se relacionam outras das palavras apontadas: Ericeira, Surfar, Concha. Além de sempre, são indicados os seguintes advérbios: Hoje, Não, Supostamente, Talvez. Há uma palavra que tem o mérito de aparecer ao lado do seu antónimo, aliás dela derivado: Conspícuo e Inconspícuo. Há uma série de substantivos mencionados mais pelo que referem do que pela palavra em si: Eternidade, Céu, Felicidade, Garra, Universo, Destino, Perfeição, Passado, Literatura, Gelado, Viagem, Quotidiano, Paz, Vida, Sabedoria, Voluntariado, Desejo, Amizade, Amor. Embora de outras classes, Desfrutar, Amigo, Mim, remetem também para gostos mais do que para a própria imagem gráfica ou som da palavra. Adulto, ao contrário, é escolhida por irritar a sua autora. Além de Ericeira, há mais dois topónimos: Merdaleja e Carvalhal. Também Aldeia e Aldear aludem ao campo. Vemos uma dezena de antropónimos (em geral, nomes adoptados como nomes de pessoas, mesmo quando não o eram originalmente): o primeiro nome Marta; o apelido Garrido; os nomes de carinho Chuca, Mimi, Qué-Qué, Pipoquinha, Vrandovsky; mas também
  • 3. Bisnaga, Caracol, Birotes, Apendicite. Gordjé pode entrar neste grupo ou no dos neologismos, juntamente com Arlingas, Totocarro, Percular, Pequenalmoçar e Amorar. Já que falei em processos de formação, noto que há uma sigla, Lol, e mais umas cinco palavras de outras línguas ou só recentemente portuguesas: o moldavismo Ciuvac, o galicismo Gaufre, a expressão latina Lorem Ipsum, o anglicismo Post-it, o japonesismo Zen. Palavras que vêm do léxico científico são três: Árgon, Desoxirribonucleico e Néon. Otorrinolaringologista e Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose foram lembradas decerto por serem grandes (e difíceis de dizer). Uma exacta dezena de palavras está mencionada por se ligar a dificuldades ou erros de pronúncia: Hades, Lula, Mealheiro, Merdinha, Bigo, Chinamen, Cóquina, Dona Carmo, Doche, Espilro. Interjeições ou palavras com função interjectiva: Xé, Raios, Catano, Epá, Oias, Afinfa-lhe, Bananinhas, Purée. Algumas destas constituem uma espécie de palavras privativas, que alguém se habituou a usar como passe-partout: Ganso, Idiota, Sublime, Ridículo. Dentro do grupo de palavras-fétiche castiças, inesperadas, pelo próprio som, estão Balandrau, Bazófia, Chinchila, Surripiar, Pedestal, Gimbra, Halibute,
  • 4. Macambúzio, Onomatopeia, Xenofobia, Lagartixas. Tipo é uma caricatura de tique linguístico. Três palavras foram sugeridas por serem ditas por outros, em contextos «narrativos»: Posso, Salteadores, Tranquilidade. Três palavras podem parecer obscenas ou ousadas — Fónix, Escroto, Procriar — mas, como se verá, foram adoptadas pelos seus autores com toda a lhaneza (aliás, palavra que é pena ninguém ter citado). A escatologia está representada com Caga- na-saquinha, Urinol — e não está com Cocó porque a Carlota se esqueceu de entregar o seu texto. Já só me falta enquadrar Arroz e Azedo (palavras com A e Z?) e, finalmente, a palavra Palavra. Adulto É uma das palavras que mais me enlouquecem, não pela palavra em si mas pelo contexto em que é utilizada. Tanto a minha avó como a minha mãe usam a palavra, quando lhes é favorável. Segundo o que as senhoras dizem, eu sou muito adulta, para umas coisas, e, para outras, uma indefesa criança que é necessário proteger dos perigos existentes. Sou muito adulta para cuidar das minhas primas e da minha irmã, quando elas saem. Sou adulta o suficiente para ajudar e/ou gerir uma casa cheia de pessoas de diferentes idades e feitios. Sou adulta, quando sentem que precisam da minha ajuda para trabalhos “mais adultos”. Sou adulta para compreender melhor as coisas que se passam à minha volta.
  • 5. Mas já não sou adulta para andar de metro sozinha. Viajar de autocarro só às quintas-feiras para ir para a escola. Sair à noite sem a presença da progenitora está fora de questão, porque sou demasiado nova e não tenho idade para essas coisas. Afinal, o que sou? Uma pessoa que já deve ser tratada com um pouco mais de maturidade ou uma simples criança que necessita de cuidados apropriados à sua idade? Catarina (10.º 5.ª) Afinfa-lhe É a minha palavra preferida — aliás verbo e pronome —, mas não sei bem o que significa. Acho que é uma espécie de incentivo para uma acção (pelo menos, sempre lhe atribuí esse sentido). Adoro o som que tem. «Afinfa-lhe». Não é giro? Voltando à origem da expressão... A primeira vez que a ouvi veio da boca do meu primo. Ora, desde pequena que vejo o meu primo como o meu ídolo, porque, para além de ele só dizer coisas estúpidas, faz-me sempre rir, mesmo quando não quero. Sempre hei-de afinfalhar «afinfa-lhe» às pessoas a quem quero incentivar. A palavra «força» já perdeu a piada. Marta F. (10.º 5.ª) Aldear «Aldear» vem da palavra «aldeia» e tem dois sentidos, que são o de refúgio e o de calma. Explicando melhor: esta palavra surge-me sobretudo nos verões, quando eu vou para a aldeia dos meus avós, onde “fujo” da cidade e que é um medicamento contra o stress, visto que é uma aldeia deveras calma e tranquilizante onde o barulho dos carros e a poluição sonora é quase nula. Lá tenho um tanque que foi adaptado a piscina. É que lá faz muito calor no Verão, que é quando eu costumo ir refrescar-me. «Aldear» é uma palavra que visa a tranquilidade, o canto dos pássaros e a brisa das montanhas (que até sabe bem quando faz
  • 6. calor no Verão). As pessoas também se conhecem todas, já que a aldeia é pequena, socializam muito. É lá que também como o melhor pão: a minha avó fá-lo quando é preciso, lá temos um forno onde ela o coze. Os sons emitidos pela natureza também são muito bonitos e é a tranquilidade no seu estado mais puro. Uma palavra que me lembra muita alegria e traz saudades… Afonso (10.º 4.ª) Aldeia É uma palavra que, para os outros, pode não ter nada de especial, mas que, para mim, é das palavras mais bonitas de se dizer e escrever. «Aldeia», «al… + …deia», simplesmente adoro-a. Talvez seja da maneira como é dita ou das boas recordações que me traz à memoria, mas é das palavras de que mais gosto. A palavra «Aldeia» faz-me lembrar o mundo dos meus bisavós, que viviam no campo, na aldeia do Carregal, perto de Viseu. Depois de a minha avó crescer, veio para Lisboa. Agora, as tradições ainda se mantêm, passamos o Natal todos juntos na aldeia. Gosto muito da cidade e não consigo ficar indiferente ao seu barulho e ao movimento, mas basta-me pensar na aldeia e fico muito mais calmo pois lembro-me de toda a tranquilidade de uma aldeia e das boas recordações que a palavra marca. Voltando um bocadinho atrás: “aldeia” fica no ouvido e fica bem em qualquer texto. Toda a gente já escreveu “aldeia”, o que quer dizer que a palavra é muito vulgar. Mas, mesmo assim, não perde a sua piada. É a minha palavra-fétiche. Diogo (10.º 5.ª) Amigo A palavra sempre esteve na minha vida, desde muito pequenina. Até aos meus sete, oito anos, não lhe dava muita
  • 7. importância, mas, a partir dos doze, treze anos, já comecei a ter por ela mais interesse. Agora, com quinze, dezasseis anos, já dou imenso valor à palavra «amigo», se bem que haja bons e maus amigos. «Amigo» é uma palavra a que os adolescentes em geral dão muita importância, embora, por vezes, a palavra em causa seja desilusão para muita gente. Esta palavra faz-me sentir muito bem e dou-lhe muita importância, mas outras vezes não. «Amigo» é uma palavra que não se deve estragar. Vanessa C. (10.º 6.ª) Amizade Disseram-me que demoramos muito a construir uma amizade, mas que, em pouco tempo, a destruímos. Eu digo também que todos erramos, caímos e nos magoamos, mas que, de maneira alguma, devíamos deixar aqueles que amamos. Amizade é amor, é amar. Amizade é mais do que uns simples bons momentos, vivências ou experiências, é a presença constante em todos os momentos da nossa existência. É, também, o apoio falado ou silencioso, é a mão que limpa a lágrima e o sorriso que se ilumina junto do nosso! É a partilha total, a transparência e a mudança. É na amizade que se baseia tudo o que somos, bem como a nossa própria felicidade. Margarida (10.º 4.ª) Amor A palavra «amor» não se caracteriza apenas por ser uma sequência de duas sílabas, mas também por poder servir para disfarçar a falta de engenho de qualquer pessoa que não consiga dar-se bem com o sexo oposto e que queira ser querido, amoroso. Talvez ao dizer «amor» o consiga ser.
  • 8. «Amor» não serve apenas para chamar a «cara-metade», serve também para caracterizar o que sentimos. Até pode ser um cliché, o que é certo é que é bom amar e ser amado. Posso não passar de um adolescente, mas sei o que é amar e não tenho dúvida alguma de que o sinto. «Amor» será palavra pequena mas não o é o sentimento que representa. João A. (10.º 6.ª) Amorar Tudo começou há cerca de um ano, quando o verbo «adorar» se tornou demasiado banal. Por tudo e por nada, pessoas que mal se conheciam utilizavam a palavra «adorar» para descrever o quanto gostavam umas das outras. Foi nesta altura que eu e uma amiga minha decidimos arranjar uma palavra que descrevesse a nossa relação sem recorrermos à banalidade. «Amor» seria usado demais e também não muito indicado; resolvemos então juntar «amar» com «adorar» e ficou «amorar». «Amorar» tem grande significado para mim, não só por descrever a nossa relação, mas também por ser uma palavra bastante engraçada de dizer, pois parece que conjugamos a palavra «amor», e também por causa do «rar» no final. Sara C. (10.º 2.ª) Apendicite Sempre que dela me lembro, ou alguém cita a palavra “apendicite”, dá-me vontade de rir, mas, ao mesmo tempo, vontade de fugir ou de cavar um buraco para me esconder. Tudo porque eu e uma amiga costumávamos dizer que éramos o apêndice uma da outra. Dizíamos: “Somos o apêndice uma da outra, tu absorves os meus problemas e eu absorvo os teus e, separadas, não servimos para nada.” A primeira vez que ouvi a frase fiquei encantada, tanto que, por tudo e por nada, lhe chamava “apêndice”. Certo dia, durante
  • 9. uma troca de mensagens, ela chamou-me apêndice, e eu, querendo retribuir-lhe, chamei-lhe apendicite. Como podem calcular, só me apetecia fugir. Desde então parece que essa palavra me persegue. Cláudia (10.º 1.ª) Árgon Esta palavra tem-me fascinado desde que a encontrei. Árgon é o nome de um gás nobre da Tabela Periódica, ensinada nos livros de Química. Gostei particularmente do seu som, ao pronunciá-la, deixando um rastro de mistério no ar, à volta da pessoa que a pronuncia. A primeira vez que a escutei foi ao ser pronunciada apressadamente, pelos lábios da professora de Física e Química, ainda no oitavo ano. O som Árgon fez e faz-me lembrar imagens distorcidas de um dragão, embora isto pareça estranho. Desde então, sou perseguida por este dragão imaginário ou, de uma forma mais realista, pela palavra Árgon e o som de mistério que a envolve. Eliana (10.º 1.ª) Arlingas Estava eu numa aula de Matemática no nono ano, quando ouvi pela primeira vez a palavra arlingas. Inventada por um amigo meu, servia para interromper as conversas dos outros, quando não as considerávamos interessantes. Quando a ouvi, achei esquisito e pensei que tinha sido desta que o meu amigo tinha ficado maluco. Ele já tinha inventado outras palavras mas que, ao menos, tinham algum sentido. Esta não tinha significado e só cerca de duas semanas mais tarde lhe demos alguma utilidade. Com o passar do tempo, a palavra arlingas foi-se espalhando pela escola e, no final do ano, era conhecida por quase todos os oitavos e nonos anos.
  • 10. Hoje, quando essa palavra é dita, já ninguém se lembra da sua utilidade mas de quem a inventou. Com a maioria das outras palavras sucede o contrário, lembramo-nos quando as devemos aplicar e não como elas surgiram. Pelo menos, esse meu colega já tem esse mérito. Hugo (10.º 1.ª) Arroz Porque será que uma das minhas palavras favoritas é "arroz"? Há tantas palavras na nossa língua tão bonitas, como, por exemplo, "amor", "paz", com significados muito importantes, mas o arroz não tem um significado que salte à vista. O arroz pode acompanhar muitas coisas, como tomate, camarão, feijão, cenoura, entre muitos outros. Um aspecto positivo é que tudo isto é comida. Porém, o que me faz gostar da palavra “arroz” é que dizem que é a maior palavra do mundo. Mas porquê? Porque começa em A e acaba em Z. É por estas razões que eu aprecio a palavra "arroz", porque tem um bocadinho de tudo o que é importante, o arroz é necessário e a palavra até chega a ser cómica. Tiago (10.º 5.ª) Azedo Palavra bastante utilizada pelos adolescentes, quando querem dizer que alguém não está sóbrio, quando se bebe demasiado ou quando alguém está de mau humor, e o dia não lhe está a correr bem, ou responde mal às pessoas. Ou seja, quando alguém está bêbado ou amuado, diz-se então que está azedo. Júlia (10.º 5.ª)
  • 11. Balandrau Esta deve ser a palavra mais caricata de que me recordo. Não conheço mais ninguém neste mundo que a diga sem ser a minha avó Emília, que pronuncia outras tantas palavras igualmente engraçadas e mirabolantes como “degringolada”, “esfrangalhado” ou mesmo “esbotenado”. Mas “balandrau” é especial, principalmente porque ela a aplica em diferentes contextos: lá em casa, quando vem à conversa, “balandrau” (a maioria das vezes durante o visionamento do telejornal, momento de reunião familiar) pode significar uma roupa largueirona ou então uma indumentária que seja pouco comum, esquisita ou muito feia. Quando, durante uma conversa, falo em “balandrau”, as outras pessoas não me entendem. Deve ser essa umas das razões para achar tanta piada a esta palavra, mas acho que também gosto dela pelo som que deixa no ouvido: aquele AU soa-me diferente, divertido. Gosto de “balandrau”, porque sei que, enquanto continuar a ouvir esta deliciosa palavra, vou continuar perto da minha querida avó. Inês (10.º 2.ª) Bananinhas Gosto da palavra “bananinhas” porque tem um som engraçado e também porque tem vários significados: não é só a fruta em si — banana —, que sempre foi a minha fruta preferida; também uso esta palavra noutros contextos, um tanto desagradáveis. Lembro-me de vários episódios em que pessoas da minha idade ou pouco mais velhas falavam ou gritavam comigo (portanto, se me dirigiam de uma forma desagradável). Respondo-lhes baixo, para evitar problemas ou mais confusão, mas também com um certo desprezo: “Olha, bananinhas!”. É uma palavra que me ajuda a acalmar e a não discutir com as pessoas e, mesmo que não a diga em voz alta, digo-a para mim mesma, acalmo-me e falo normalmente com as pessoas.
  • 12. Quando comecei a usar esta expressão um tanto estranha, não discutia tanto com as pessoas, o que é muito bom. Também uso esta palavra quando tento criticar alguém. É uma forma de não usar nenhuma palavra e expressão mais feia e poder assim “libertar” os meus pensamentos menos agradáveis sobre alguém! Assim, uso a expressão: “Ele/Ela é um/uma bananas”. Catarina T. (10.º 2.ª) Bazófia Sempre ouvi alguém, algures, pronunciar esta palavra. Até a silabam gostosamente. Por vezes, suspeito que se sentem mais importantes, ao ponto de salivarem sensualmente. Disse “bazófia”, dizem eles para si num acto de glória. Consegui. Sempre apalpei a palavra e gostei de a ver ser apalpada, no entanto, nunca percebi muito bem o seu significado. Tenho a perspicácia de a conseguir soletrar no momento oportuno, mas, por vezes (quase sempre), não me lembro dela. Foge-me da língua. No momento próximo, tenho-a na boca. Falhei. É uma palavra com gesto integrado num movimento bastante simples. Não o consigo explicar. Implica um dedo que escorrega pela garganta em direcção à boca e que fica no ar. Depois, não sabemos onde o pôr (o dedo). Ficamos constrangidos com tal acto e começamos a falar de qualquer outra coisa estúpida, sem sentido. Já tentei encontrar o seu significado, ainda não o encontrei. Encontrei, mas não o fixei. Fixei, mas ainda não o utilizei. Utilizei, mas mal utilizado. Pedro M. (10.º 2.ª) Bigo Desde pequenina, até chegar a uma idade em que o meu português era suficientemente bom, pensava que aquele pequeno orifício que se encontra na nossa barriga se chamava bigo. E era
  • 13. lógico para mim, visto que só tínhamos um! Logo um bigo fazia todo o sentido. Até para as outras crianças durante os nosso tempos de „descoberta‟ eu dizia “mostra-me o teu bigo!” Foi uma das muitas palavras que me embaraçaram ao longo da minha infância. Apesar de já não cometer tal erro absurdo, ainda tenho quem goze comigo por este tamanho disparate. E acho que não fui a única criança a cometer este erro. Afinal, o português é tudo menos fácil. Joana L. (10.º 1.ª) Birotes Esta palavra sempre me fez rir, a mim e ao meu grupo de amigos. Nenhum de nós sabe bem porquê, mas nós os seis gostámos tanto desta palavra que não hesitámos em chamar ao nosso grupo, “os birotes”. O meu melhor amigo (Zilhão) é que nos ensinou esta palavra. Desde logo, gostámos dela e estávamos sempre estupidamente a usá-la, até despropositadamente. Penso que este fascínio pela palavra se deve ao seu som, mas não sei bem. António (10.º 1.ª) Bisnaga É uma palavra cujo significado é „carinho‟. O meu padrinho, sempre que me via, chamava-me «Ó bisnaga». E eu ria-me, pois, mesmo não sabendo o significado dessa palavra, achava piada à maneira como ele a usava, em vez de «Bárbara», para me tratar. Pequenina, pensava onde teria ele ido buscar aquela palavra. O meu irmão mais velho gozava comigo: «és tão tola: não vês que é o padrinho a gozar contigo?». E eu ficava toda exaltada e enxofrada. Um dia, perguntei à minha mãe o que é que afinal queria dizer a palavra. Riu-se, dizendo-me que era uma palavra carinhosa com que ele gostava de me tratar. E eu sorri, com o meu sorriso ingénuo. Bárbara (10.º 6.ª)
  • 14. Caga-na-saquinha Nunca mais me esqueço do dia em que vi esta palavra pela primeira vez. Estava a meio de uma aula de Área de Projecto do 8.º ano e fora-me atribuída a tarefa de ir à procura no dicionário das palavras cujo significado não sabíamos. Estava na letra “c”, quando vi uma palavra que, à partida, me parecera estranha: “caga-na-saquinha”. Verifiquei o seu significado e constava: “pessoa medrosa; aquele que tem medo de algo”. Caga-na-saquinha é uma palavra invulgar que, a partir daquele momento, passou a constar no meu vocabulário. Agora percebo que, quando se chama a alguém «cagão», é porque essa pessoa é uma medrosa. Francisco D. (10.º 2.ª) Caracol Lembro-me perfeitamente: andava eu no quinto ano, na Escola Básica dois mais três Pedro de Santarém, quando me puseram a alcunha mais simpática que alguma vez tivera. Sim, porque sempre fui reconhecida como “guedelhuda”, “piolhosa” e até frases me punham do género de “lava o cabelo com sabão azul e branco a ver se entra”, muito longas algumas delas. É escusado dizer que aquela frase personalizada em honra do meu cabelo não foi a única mas, se fosse enumerá-las todas, aí é que nunca mais lavava o cabelo! Voltando à palavra caracol: foi uma ideia que a minha professora de Educação Física teve. No momento em que ia fazer o serviço e estávamos a meio de um jogo de voleibol), a bruta e carismática professora gritou: “Força aí, Mica caracol!”. Foi a minha salvação às alcunhas, digamos, parvas. Passei a ser conhecida por ter caracóis e não piolhos ou cabelo embaraçado. Devo esta honra à Paula Banano, alcunha que eu própria dei à professora.
  • 15. Micaela (10.º 1.ª) Carvalhal Existem dezenas de localidades com o nome “Carvalhal”. Embora a pronúncia seja um pouco estranha, este nome soa bem ao ouvido de qualquer um. Lembro-me de quando era mais novo e dizia Ca-va-lhal pois ainda não conseguia pronunciar bem os “erres”. Este “Carvalhal” de que falo situa-se na Serra de Tomar, concelho de Santarém. É lá que tenho uma moradia onde passo a maior parte das minhas férias, que incluem actividades muito variadas e divertidas. A maior parte dos “Carvalhais” que existem em Portugal têm esse nome porque são zonas que têm ou já tiveram muitos carvalhos. Infelizmente, o meu “Carvalhal” não tem carvalhos, mas não é por isso que o nome se vai alterar. Lá predominam os pinheiros e os eucaliptos que dão à paisagem frescura e cor. Há três anos houve, em Agosto, um devastador incêndio, mas não foi por isso que os moradores baixaram os braços. Pelo contrário, esta tragédia fez com que todos se unissem e lutassem ainda mais pela sua terra, o “Carvalhal”. Embora seja uma aldeia pequena e sem saída, tem um rio maravilhoso que fica para lá do fim do “Carvalhal”, seguindo-se por uns caminhos de terra batida. É uma aldeia sossegada, pacata e acolhedora, de que guardo excelentes memórias. Segundo o meu avô, o nome desta terra já existe há cerca de cento e vinte anos. Foi aí que ele nasceu e é para lá que continua a ir todos os meses, pois tem pela sua terra um carinho especial. Gil (10.º 4.ª) Catano É uma palavra que foi ouvida pela primeira vez na televisão. A minha mãe começou por a dizer a brincar, mas a verdade é que me entrou no ouvido e, até hoje, já lá vai um ano, ainda não consegui
  • 16. deixar de a dizer. Vim das férias com o “catano” e, agora, até já a Rita Melo, a Mariana Silva, a Cláudia Afonso e muito mais pessoas usam a palavra. Até posso dizer que, se ganhasse alguma coisa pela sua difusão, agora estava rica, “c‟um catano!”. Confesso: é uma palavra labrega, mas a verdade é que consegue substituir todas as outras interjeições. Passou de um anúncio da PT para a vida de muitas pessoas da Escola Secundária José Gomes Ferreira, e não, não consigo desprender-me desta estranha palavra cujo significado desconheço. Nem sei, sequer, onde é que a poderão ter ido buscar. Soraia (10.º 1.ª) Céu Sempre me fascinou a palavra “céu” por ser um substantivo pequeno, em termos de quantidade de letras, e que se torna numa palavra imensamente grande, quando nos referimos ao verdadeiro significado da mesma. Sou capaz de, à noite, me afastar dos meus amigos, ir dar uma volta sozinho, deitar-me num muro e observar a grandeza e a beleza de um céu limpo de Verão, carregado de pontos brilhantes e cintilantes, alguns deles cheios de energia, a moverem-se de um lado para o outro. De dia, limito-me a desfrutar do esforço que o céu faz para afastar as nuvens carregadas de chuva e de mau ambiente. Pedro A. (10.º 1.ª) Chinamen Era comum ouvir-se, esporadicamente, “chiii men!”. Não tão habitual era dizer-se “china men”. A expressão entrou no meu vocabulário durante umas férias da Páscoa, quando, por brincadeira, eu e umas amigas começámos a imitar outra, que pensava que o correcto era dizer-se “china men”. Ao fim de poucos dias, exclamar “china men” tornou-se um vício, e assim ficou, constante nas nossas
  • 17. frases. Nas nossas e nas de muito mais gente que conviveu connosco nos meses seguintes. “China men” serve para qualquer estado afectivo e em qualquer situação: utiliza-se para demonstrar descontentamento, satisfação, orgulho, para agradecer algo, como manifestação de adrenalina… Para tudo, enfim. Carolina (10.º 5.ª) Chinchila Sempre a achei uma das palavras mais parvas da língua portuguesa (não é uma palavra portuguesa, mas também não tem qualquer tradução). De facto, a procura por palavras idiotas sempre foi um passatempo, mas, quando pensava que tinha arrumado o assunto com a palavra “bidé” (que não só é uma palavra parva, como se refere a um dos objectos mais inúteis e dispensáveis do quotidiano), ouvi falar em “chinchila”. Pois bem, sou sincero, não sei o que significa, não sei se é um animal ou uma planta, não sei mesmo (para dizer a verdade, e graças à brilhante intervenção do professor, agora já sei). Contudo, é sem dúvida a candidata principal ao título de palavra mais estúpida, visto que nem consigo imaginar duas pessoas terem uma conversa séria sobre “chinchilas”. Até mesmo se fosse assunto delicado, como uma morte ou um rapto, penso sinceramente que a palavra “chinchila” retiraria qualquer componente dramático à conversa. Tiago P. (10.º 1.ª) Chuca Esta palavra, para dizer a verdade, não sei muito bem o que significa, é o que o meu pai me chama. A única coisa que sei é que é uma forma carinhosa de me chamar. Mas digo já que não gosto muito que ele me chame assim. Quando atendo o telefone, toda a gente confunde a minha voz com a do meu irmão. O meu pai começou por chamar «chuco» ao
  • 18. meu irmão, mas, um dia, quando fui ao telefone, o meu pai perguntou: — Chuco? — Não! — respondi eu. Foi então que ele disse “Chuca” e,a partir daí, começou a chamar-me assim. Agora, sempre que atendemos o telefone, eu ou o meu irmão, o meu pai diz logo: “Chuco ou Chuca?”. Já é hábito. E até as mensagens ele começa com «Chuca»! Sara M. (10.º 2.ª) Ciuvac Esta palavra entrou na minha cabeça há dois anos atrás, quando estava numa competição da minha escola. Significa „melhor amigo de todo o mundo‟. E eu não conheço nenhuma palavra mais “fixe” do que esta. Eu usava a palavra com os meus amigos da turma da minha escola na Moldávia. E estes amigos eram: Andrei D., Denis T., Mihai C., Grigore V., Ion Casapciuc, Andrei G., Ghita P., Igor V., Andrei Z., Dumitru R., Vasile L., Igor C. e o meu amigo “Max”. E eu não quero esquecer esta palavra. Ion (10.º 5.ª) Cocó O cocó está desde sempre na minha vida. Dizem que, quando era bebé, cada vez que fazia cocó apontava alegremente para o meu rabiosque, repetindo inúmeras vezes: “Cocó! Cocó! Cocó!”. O cocó serve de forma de tratamento para com os meus amigos mais próximos. É útil também para evitar o uso de palavrões como “merda”, que acaba por ter o mesmo significado que cocó, mas é sentido de uma maneira mais grosseira. Em vez de dizer, frustrada, “Merda!”, digo, com a mesma indignação e sentimento, “Que cocó!”. Para além de todas estas razões, “cocó” é uma palavra que soa foneticamente bem. Tem um som engraçado, que me faz rir como uma miúda de seis anos cada vez que ouve a palavra “pilinha”.
  • 19. Se me quiserem pôr feliz quando estou num dia menos bom, basta dizerem a palavra “cocó” para, instantaneamente, surgir um sorriso nos meus lábios. Carlota (10.º 2.ª) Coiso A minha palavra preferida é «coiso», porque, ao longo da minha vida, ela tem-me ajudado e estado incondicionalmente a meu lado nas situações mais dificeis e embaraçosas. Sempre que não sei o nome de um objecto, «coiso»; sempre que não sei o nome de alguém, «coiso»; sempre que quero fazer algo e não me lembro do verbo, «coisar»; sempre que preciso de adjectivar, «um bocado coiso». Aliás, nem sabia que nome dar a este ficheiro e, evidentemente, chamei-lhe «coiso». Alexis (10.º 2.ª) Concha Além de me fazer lembrar o mar, a praia e, obviamente, o tão conhecido bodyboard, concha é também, em parte, uma das minhas alcunhas. Tudo porque, no ano passado, tive uma pequena história com uma. Ao voltar de um dia de surf, o meu olho, aparentemente, avermelhou e inflamou pouco tempo depois. O meu pai, “muito sabedor”, aconselhou-me a pôr uma pomada que ele já tinha usado e que funcionara numa situação parecida com a minha. A pomada aliviou-me, mas, poucos dias depois, voltei ao mesmo. Voltei a aplicá-la de novo, mas de nada serviu. E fui passando assim, aos altos e baixos, até que decidi ir ao médico. O oftalmologista começou a rir quando tirou do meu olho uma pequena concha, provavelmente, vinda de uma valente “porrada“ nas ondas daquele outro dia. Desde essa altura me chamam “puto concha”.
  • 20. A palavra concha traz-me, por isso, lembranças da praia, dos amigos que me gozavam, das dores que passei e, claro, dos “conhecimentos” do meu querido pai. Gonçalo (10.º 4.ª) Conspícuo Porque é que o meu avô sabia tudo? Para qualquer que fosse a palavra, até para aquelas que eu achava impossíveis, o meu avô arranjava sempre um significado. Sentia frustração de cada vez que dizia “não sei”. Um dia, com vontade de colocar o meu avô em dificuldade, fui procurar uma palavra no dicionário. Abri na letra “C” e olhei para aquelas duas páginas repletas de palavras que ninguém conhece. A meio da segunda coluna da primeira página, encontrei “conspícuo”. Não me lembro do significado da palavra, mas, quando o perguntei ao meu avô, notei que a sua cara ficou temporariamente ruborizada, antes de dizer “não sei”. A partir daí, sempre que me encontro com ele, pergunto-lhe sempre a mesma coisa: “então avô, hoje está conspícuo?” Pedro S. (10.º 2.ª) Cóquina Eu era bem pequenina e só pronunciava as palavras «mamã» e «papá», até que, um dia, decidi que já era bem crescidinha e tentei soletrar o meu nome. Cheguei perto da minha «mamã» e pronunciei «Cóquina», sem pensar que, até hoje, me tratariam por esse mesmo nome. Hoje, posso dizer que é uma palavra muito importante para mim, porque, de cada vez que é pronunciada pela minha mãe ou pelo meu pai, me faz voltar aos meus tempos de pequenina, em que não tinha de me adaptar ao mundo e em que era ele que se adaptava a mim e à minha maneira esquisita de falar. Mónica (10.º 6.ª)
  • 21. Desejo Talvez não seja tão importante, mas foi algo marcante. Escolhi- a pois é, sem dúvida, a palavra que mais me faz recordar as tardes passadas na companhia daquele fascinante livro. Relembro, não só o desejo proibido que os protagonistas sentem um pelo outro, mas também o desejo que senti de que aquela história não tivesse fim, que pudesse continuar a fazer-me companhia, todas as tardes e noites em que nela me perdia. Cátia (10.º 6.ª) Desoxirribonucleico Palavra difícil de dizer para os destreinados. Ácido desoxirribonucleico. Ou, simplesmente, ADN. Aprendi-a numa aula de Ciências do nono ano. Tão depressa se tornou num hábito (repetia-a vezes sem conta) como deixou de o ser (cansei-me de a repetir). Mas não deixou de ser uma palavra que me fascina, por ser grande e um bocado complicada. Uma vez, tive um bicho-da-seda de estimação muito engraçado, por volta da altura em que aprendi a palavra desoxirribonucleico, aliás, “irmã” de uma outra, ribonucleico. Ora, tal animal precisava de um nome. É óbvio o nome que recebeu: “Ácido desoxirribonucleico”. Também teve direito a uma alcunha, “Bob”, nome pelo qual o chamava quando não me apetecia usar o Ácido desoxirribonucleico. O Ácido desoxirribonucleico era uma boa companhia. Passava o dia a comer folhas de amoreira, a dormir, a andar, a defecar e a ouvir, sem protestos, o que eu lhe contava. Costumava também pegar-lhe e fazer festas na pele fofa. Algumas semanas depois de o ter adquirido, começou a fazer um casulo e, rapidamente, se fechou neste, preparado para entrar na fase final da sua vida, a de borboleta.
  • 22. Quando morreu, o Bob foi enterrado no vaso onde habita o limoeiro. Fiquei triste. Brigitta (10.º 1.ª) Destino Destino é uma palavra conhecida por toda a gente: muitas acreditam nela, outras rejeitam-na e alguns ignoram-na. Destino tem um som agradável e transmite-me paz, faz-me pensar no amanhã, no que me vai acontecer na vida daqui para a frente. Faz-me recordar o passado e pensar que “aquilo” tinha de ter acontecido. Nem todos os dias ouvimos a palavra, que, na minha opinião, nos acompanha sempre; porém, quando alguém tem o prazer e a honra de a utilizar, ficamos a pensar no seu significado. Assim que ouvimos «destino», comparamo-lo a algo da nossa vida, qualquer coisa nos dá coragem, tristeza, que nos faça continuar em frente. Pelo menos, é o que acontece comigo. Para mim, esta palavra é assim. Poderosa, misteriosa, repleta de magia, significado ou, mesmo, de desespero. É uma palavra que vai continuar sempre presente. Alexandra (10.º 1.ª) Desfrutar Desde pequenina, a minha avó sempre me ensinou a aproveitar tudo ao máximo, até ao limite. Isto, porque, normalmente, quando se faziam bolos lá em casa ou se compravam bolachas, a minha irmã comia-os todos, sem sequer pensar em mim. Neste dois últimos anos, aprendi a “desfrutar”, a nunca tomar nada como certo, pois, se o fizesse, escapar-me-ia tudo pelos dedos, como as rédeas de um cavalo, quando não as agarramos correctamente. “Desfrutar” para mim, também é dar o litro, tanto nas aulas de equitação e nos respectivos concursos, como nos estudos antecedentes a um exame, por exemplo.
  • 23. “Desfrutar” tornou-se assim a minha palavra preferida, mas também um modo de vida. Joana O. (10.º 6.ª) Dona Carmo É claro que, quando somos mais novos, crianças, achamos muita piada às palavras “caras” que os adultos dizem com muita tranquilidade. Foi o que aconteceu. Enquanto conversava com uma amiga minha, lá pelos os meus dez anos, sobre roupinhas e pulseirinhas e esses assuntos que estão sempre presentes nas conversas das meninas daquelas idades, ouvi uma professora dizer que tinha ido aos Estados Unidos da América e que tinha comprado imensas coisas. Logo a minha atenção se direccionou para a conversa das professoras. Ouvi-as dizer que eram marcas muito boas e caras, salientando-se a Dona Karen New York (DKNY). Quando cheguei a casa acompanhada da minha mãe, disse- lhe que queria comprar qualquer coisa da Dona Carmo (tendo eu percebido assim a palavra que as professoras disseram). Muito bem, fui ao centro comercial e, de loja em loja, perguntei se tinham essa marca. Como é óbvio, todos diziam que não, até que desisti. No dia seguinte, ao chegar ao colégio, encontrei as professoras e, aí, elas lá me corrigiram, quando lhes disse que não encontrava nada da Dona Carmo e que também queria ter uma peça de roupa dessa marca. (Filipa, 10.º 6.ª) Doche Estávamos eu e a minha mãe numa praia, sozinhos; nada se via num raio de cem metros, a não ser areia e água; o calor que se abatia sobre nós era infernal e o tédio era como um parasita que não largasse o seu hospedeiro. Até que, ao fundo, avisto umas sombras que se aproximavam.
  • 24. Era uma família inglesa nossa conhecida, nossos vizinhos, constituída por apenas dois elementos, uma mãe e uma filha, da minha idade, ambas belas e divertidas, nada como outros ingleses, hostis. Assim, do nada, começou uma entretida conversa, entre a minha mãe e a “mãe” inglesa, a Dawn, em que tentavam mutuamente ensinar-se; eu gostava de observar e ouvir essas lições. Uma delas destacava-se, uma em que a minha mãe tentava fazer com que Dawn interiorizasse os números em português; a minha mãe dizia, fluentemente, “um” e Dawn contorcia-se, dizendo, numa fracção de segundos, “hum”. Até que este número era fácil, mas, quando chegou ao número dois, Dawn passou cinco minutos a dizer “doche”. Eu não percebia como tal número podia representar tão grande dificuldade. Sei que era divertido ouvir Dawn pronunciar os números. Era melhor que ver um filme ouvir a maneira elegante de Dawn falar, abrindo a boca toda, mostrando toda a dentição e, depois, soltando um número, mal dito, mas com pureza e divertimento. Ao fim de uma hora, Dawn tentou pronunciar os números de um até dez. Conseguiu pronunciar nove deles com total sucesso, mas um ainda lhe faltava, o maldito dois, que lhe dera o nome de “doche”, o maldito. Assim me lembro desse número, acompanhado da fantástica imagem de Dawn, abrindo a boca, exibida em todos os detalhes. Na realidade, ouvia esta conversa, mas o meu principal foco era a escultural filha de Dawn, que só a Vénus se podia comparar. Rodrigo (10.º 4.ª) Epá Não faço a mínima ideia de quando comecei a utilizar esta palavra, mas, actualmente, digo-a frequentemente e, na maioria das vezes, já nem dou por ela. Certamente, conheci a palavra quando era bem pequenina, por causa do gelado, de que gostava muito (não só pelo sabor, que, diga-se de passagem, é bem bom, mas também porque, no final, havia uma pastilha com um sabor magnífico).
  • 25. Hoje em dia, a utilização da palavra “epá” já nada tem a ver com o gelado, mas sim com o estado de espírito com que me encontro em várias situações, talvez quando me sinto mais aborrecida. Digo “epá” para não dizer “poças”, pois considero esta palavra muito mais feia. Também sei que há muita gente que odeia a palavra “epá”. Exemplo é a minha mãe pois, sempre que a digo, faz uma cara arreliada. Mas, ainda assim, eu continuo a dizê-la: a palavra sai-me quase instantaneamente. Catarina (10.º 6.ª) Ericeira Mais conhecida por terra de surfistas. Desde há muito tempo que me apaixonei por esta palavra, Ericeira. Todas as suas consoantes são elegantes e as vogais criam uma ligação com o leitor. É uma palavra forte e rara, sendo também muito antiga. Ericeira representa uma vila, no litoral, pertencendo à cidade de Mafra e com velhas tradições. A Ericeira remete-me para o verde, para o azul, para as árvores, para as pranchas, para jovens de ambos os sexos. A palavra tem origem em “ouriço do mar”. Como a Ericeira é uma povoação marítima, julgo que o mais provável é vir mesmo de “ouriço do mar” ... “Ericeira” é uma palavra bonita e, ao mesmo tempo, simples. Considerada uma palavra moderna? Talvez... Não sei bem, mas, quando se fala em “Ericeira”, pensa-se em pedras, naquelas lajes, deformadas pelo bater da água, ao longo do seu litoral. A sua essência é mais do que se pensa, uma coisa original, única... Confesso que também me faz lembrar o “bodyboard”. Também podia colocar neste trabalho “Praia Grande”, “Carcavelos”, “Costa da Caparica”, mas não! Ericeira é especial, é uma palavra que faz parte de mim, está presente nas minhas características. Bernardo (10.º 4.ª)
  • 26. Escroto Julgo que esta palavra não tem outro significado senão mesmo “a pele que envolve os testículos”. Não escolhi a palavra por fazer parte do órgão sexual masculino, mas por ser uma palavra hilariante, com a qual convivo diariamente. A sua composição enquanto palavra é completamente estranha. Ora vejam: começa com o “esc” , as pessoas ficam na dúvida se o indivíduo se refere à tecla Esc — escape — dos teclados comuns, mas não. O indivíduo faz uma malandrice, ao acrescentar o “roto”, e é nessa altura que as pessoas se apercebem da estupidez que o indivíduo queria dizer: «escroto»! Tenho um amigo que tem o hobby de citar e inventar palavras. Certo dia, e fora de contexto, disse: “Escroto!”. Mal o ouvi dizer aquilo, parti-me a rir e, desde então, uso a palavra em qualquer contexto, tentando sempre arranjar pretexto só para a poder citar. Só de há uns tempos para cá é que descobri o verdadeiro significado da palavra. Assim se passam anos felizes — parvos também — da minha vida. João C. (10.º 6.ª) Espilro Esta palavra surgiu uma vez numa conversa em casa da Teresa. Estava eu, a Matilde e a Teresa a conversarmos, quando dou um espirro enorme. E, sem querer, disse: «já estou farta de “espilrar”!». Começaram-se a rir e eu, sem perceber, perguntei o porquê de tanta risota. Responderam-me: — Rita, não é «espilro», é «espirro»! Então, também eu desatei a rir e percebi que me tinha enganado. A partir desse dia, cada vez que alguma de nós espirra lembramo-nos da palavra “espilro” e fartamo-nos de rir! Rita (10.º 2.ª)
  • 27. Eternidade Será que a “eternidade” existe, ou é apenas um conceito inventado pelo Homem, simplesmente relativo, proveniente do seu desejo de que as coisas durem mesmo para sempre, na sua realidade privada que, ao mesmo tempo, é também de toda a sociedade? Eu acredito que nada é “eterno”. A vida é o menos “eterno” que existe. Está dependente de tudo, pode acabar a qualquer altura, transformando-se em morte, como quando as lagartas, nos seus casulos, passam a borboletas. Depois, temos os sentimentos, que são como a vida; têm prazo de validade. Aquelas frases que supostamente têm uma beleza profunda, como „Amar-te-ei para a “eternidade”‟, são tão irreais como o Bicho Papão. É que, para além de o amor ser outra coisa relativa, afirmá-lo para a “eternidade” chega a ser ridículo, apesar de a paixão dos amantes poder ser compreensível. E se a vida fosse “eterna”? Teríamos de começar por algum lado, claro. Será que, passados mais anos do que aqueles que podemos contar, seríamos capazes de sentir saudade do começo de coisas nossas? Sentir a falta de alguma coisa. A não ser que essa alguma coisa fosse também “eterna”, que tudo o fosse! Aí, não saberíamos o que é saudade, nem daríamos o valor necessário às coisas, apesar de já não o fazermos constantemente. E com razão, já que tudo faria parte da “eternidade”. Ana M. (10.º 6.ª) Felicidade Diria, até, que uso esta palavra todos os dias. Não com os outros, mas para comigo. Desenvolvo histórias à volta dela todas as noites, à hora de deitar. Aconchego-me entre os cobertores e embarco no meu mundo de pensamentos. A felicidade é sempre a protagonista das histórias. Penso sempre como será que a vou alcançar e que batalhas terei de travar para o conseguir. A felicidade
  • 28. é o meu ideal. É tudo o que procuro e tudo o que espero ter no futuro. Quando penso na palavra “felicidade”, fascina-me a sua complexidade. Como pode uma palavra tão simples como esta ser tão abrangente? Quando a tento decifrar, consigo dividi-la em inúmeras outras palavras importantes para mim: «amor», «verdade», «amizade», «justiça», «bem-estar»… É uma palavra quase adoptada por cada um. Tem significados diferentes aos olhos de quem a vê. É clara, mas profunda. Quase um mundo inteiro, uma utopia. Todos a procuramos, mesmo sem disso nos apercebermos. Eu apercebi-me, por isso foi esta a palavra que eu escolhi e que vou continuar a tentar compreender. Beatriz (10.º 5.ª) Fónix Tinha cerca de sete anos quando a ouvi. Estava no meu segundo acantonamento dos escuteiros. Enquanto arrumava as minhas coisas no abrigo, ouvi rapazes mais velhos a conversar. Comentavam os corpos de algumas estrelas da pop internacional. Deixei-me ficar a ouvir a conversa, discretamente. Nunca havia escutado conversas de pessoas mais velhas (e quem me conhece sabe que não sou coscuvilheiro), mas esta estava a ser muito divertida. De repente, um chefe gritou: — Fónix! Já chega de conversa, não?! Após ter recuperado do valente susto que apanhara, reflecti sobre a palavra que o meu superior havia dito. Experimentei repeti-la em conversa com os meus amigos, nesse mesmo dia. No dia seguinte, quando acordei, todos os lobitos (primeira secção dos escuteiros que inclui miúdos dos seis aos dez anos) repetiam aquela palavra, em qualquer expressão que utilizassem. Resolvi usá-la na escola, na semana seguinte. Ficou moda usar essa palavra. Recentemente, surgiu uma nova operadora telefónica homófona de “fónix”. Não usara esta palavra desde criança, mas o aparecimento da operadora („phone-ix”) fez renascer o hábito que tinha em miúdo. João G. (10.º 1.ª)
  • 29. Ganso É uma palavra engraçada e que faz parte dos meus dias. Não é pelo animal em questão que gosto dela, mas antes como forma de expressão entre amigos. Uso-a há dois anos. Um dos meus grupos de amigos costuma dizê-la para dar ânimo ou coragem. Por exemplo, se estamos num karaoke e há um que está envergonhado, ao usarmos a palavra, é como se estivéssemos a dizer «Vá lá, canta, força!». Ou quando estamos a jogar na consola e o jogo é interessante; ou quando estamos ansiosos por uma festa ou algum evento. Usamos a palavra como modo de apreciação, para dar ânimo, quando estamos à espera de uma coisa boa. É uma expressão do grupo e compreendo que, para os outros, seja difícil entendê-la. Zé Diogo (10.º 6.ª) Garra “Garra” foi a primeira. A 6 de Junho de 92, nasci eu e a minha palavra. Ela já existia, mas só a conheci quando saí da barriga da minha mãe. Cruzámo-nos nos primeiros segundos da minha vida. Contam ainda hoje os meus pais — como também me contaram este episódio que, obviamente, não poderia conhecer de outra forma — que o médico era homem de poucas falas. Mal acabei de nascer, o médico, em vez de — e vejam lá do que me privaram — dizer “Pesa três quilos e novecentas gramas e tem os vinte dedos perfeitinhos”, disse: “Este rapazinho tem garra”. Não é todos os dias que um médico diz uma frase destas, ainda por cima se é homem de poucas falas. “Garra” passou a ser uma palavra minha. Não sei se a adquiri por mérito, mas o empenho com que a conservo permite-me firmá-la de novo. Sempre me acompanhou e há-de acompanhar-me, com muita “garra”.
  • 30. João Maria (10.º 4.ª) Garrido Pensando na origem desta palavra, reconheço a sua invulgaridade. “Garrido” provém de uma Família Real da Galiza, que se terá deslocado para o Norte de Portugal (Bragança), onde permaneceu durante o tempo suficiente para a palavra passar a pertencer à Língua Portuguesa. Etimologicamente, “Garrido” provém de uma palavra galaico-portuguesa, muito utilizada no termo “cores garridas”, que significa „cores vivas, alegres‟. Raramente encontrei esta palavra escrita, senão quando relacionada com familiares meus ou, simplesmente com pessoas que nunca vi na vida. Contudo, este ano encontrei nesta escola um outro aluno com este apelido, o que achei bastante interessante e, ao mesmo tempo, estranho. Mesmo reconhecendo a invulgaridade da palavra, é de salientar que, nos dias de hoje, ela é-me tão natural como qualquer outra. Tiago G. (10.º 4.ª) Gaufre Quando, na minha primeira viagem à Bélgica, conheci o meu primo, reparei que ele, quando falava, carregava demasiado nos erres. Isso fazia-me rir: divertia-me imenso, quando o ouvia pronunciar o meu nome. Era giro! Uma vez, fomos a um restaurante e o pequeno, sempre feliz e contente, pediu uma gaufre… Oh! Aquela pronúncia era de mais! — gaufre; gaufrrre. Que forma estranha de falar, dando tanto ênfase aos erres. Era bonito; gaufre ganhava um certo ar aristocrata. É uma bela palavra e, quando comi pela primeira vez o bolo quentinho, fiquei a gostar muito dele também. Mariza (10.º 1.ª)
  • 31. Gelado “Gelado” é a palavra que, neste momento, mais significado tem para mim, pois representa as minhas férias de Verão no Algarve e o dia “17” de cada mês. Quando pronuncio esta palavra tão fria, um arrepio percorre- me a espinha: faz-me recordar as tardes quentes de Verão passadas com os meus avós no Algarve. E, por momentos, aquece-me. Passear na avenida, do outro lado das docas, com um cone de duas bolas de gelado na mão é o final de tarde por que mais gosto de passar. E nem é muito pelos inúmeros sabores de gelado que há, mas pelas sensações e sentimentos que a palavra me traz. O outro significado que “gelado” tem para mim é mais pessoal: tudo começou com uma discussão entre amigas. Para resolvermos as coisas, decidimos combinar passarmos uma tarde juntas. Nessa mesma tarde, ao resolvermos os nossos problemas e desabafarmos, comemos um gelado, que representou a celebração da nossa amizade. Tudo isto se passou num dia 17 e, por isso, nesses dias, comemoramos a nossa amizade e comemos um gelado. Assim, acho que posso dizer que “gelado” é uma das minhas fontes de equilíbrio. Inês (10.º 6.ª) Gimbra Esta palavra surgiu há uns anos na minha vida, ao ver um programa de humor na TVI. Significa uma pessoa idosa e que, além disso, já está senil. Gostei desta palavra e repeti-a ao meu irmão, que também achou piada. Esperando que o meu pai não soubesse o seu significado (e não sabia), utilizei-a à sua frente. Ele não ligou, mas, durante vários dias, utilizei-a constantemente, e aí o meu pai começou a ficar perturbado, chegando ao ponto de me proibir de a utilizar. Bernardo (10.º 2.ª)
  • 32. Gordjé A palavra persegue-me há pouco tempo, mas já faz parte do meu dia-a-dia. Não sei explicar como a inventei ou como a comecei a dizer. Foi de um dia para o outro, em brincadeira com a minha irmã mais nova, que me veio esta palavra à cabeça, talvez por me parecer um nome carinhoso ou uma alcunha estúpida, que ao princípio ela ignorara e detestara. Mas, com o tempo, habitou-se. Das muitas vezes que me esqueço de a tratar assim fica furiosa e eu, sorrindo, orgulho-me da palavra que inventei só para não lhe chamar “gordinha”. Carolina (10.º 1.ª) Hades Recurso frequente no vocabulário do português comum, utilizada por gente comum, saloia, casta e erudita, “hades” sai, inconsciente, invocando um desejo pessoal em relação a alguém. Noto o “hades” em todo o lado, especialmente na escola. Mesmo agora, antes de começar este parágrafo, perguntaram-me o que significava “hás-de”, pois esta expressão, já tinha sido substituída pela contracção de ambos os elementos que constituem a expressão, originando o neologismo “hades”. Nestas situações, não emendo os meus colegas, receoso de que o contraste entre a sua ignorância e a minha sapiência me leve à exclusão social. Mas é certamente um erro que me impossibilita a indiferença e, por vezes, desisto, emendo, superior àquele que proferira tal blasfémia. Já no seio familiar, as repreensões são constantes, quase sem significado, confesso que irritantes talvez mas necessárias, e constato que os meus pais se esforçam por utilizar o “hás-de”. Desde que me apercebi de tal erro, que tento exterminá-lo, sem sucesso: cada vez mais a palavra é adoptada pelos portugueses, em breve será oficial nos dicionários mais recentes, tal como o “bué”. Nesse momento, terei de desistir, mas, até lá, vou
  • 33. fazer com que o “hás-de” seja aprendido. Porque eles hadem aprender tal expressão. João C. (10.º 4.ª) Halibute Desde a mais remota infância habituado a ouvir ou a ler esta palavra, não foi senão aos doze anos que esta para mim maravilhosa obra de arte fonética se revelou com todo o potencial que aparentava ter, escrita na embalagem das pomadas para rabinhos de bebés em aflição. Aproveitando os tempos mortos passados na casa de banho para ler as bulas dos medicamentos, espantou-me que figurasse “óleo de halibute” na composição de Halibut: antes pensando que seria apenas um trocadilho com o inglês para rabo, butt, uma exaustiva busca veio dar-me a descobrir que halibute era, na verdade, um peixe, um majestoso linguado de dois metros pescado no Alasca e nos frios mares da Noruega, vendido como bacalhau aos incultos mercadores mediterrânicos ansiosos por mais do seu peixe de eleição. Foi o suficiente para que a partir daí inúmeros significados surgissem para halibute, até mesmo adjectivos como «halibúteo» (sem qualquer significado objectivo). Halibute é a grande lenda na enorme lista de termos sem sentido no meu idiótico vocabulário. Gonçalo (10.º 1.ª) Hezbollah Comecei a gostar desta palavra devido aos atentados no Líbano, porque a ouvia todos os dias nos telejornais e a lia em quase todos os jornais. Este «palavrão» não significa nada para mim, mas, de facto, entrou na minha cabeça com uma velocidade fascinante, talvez por
  • 34. causa da pronúncia dos libaneses. Apesar de o nome ser de uma organização terrorista, eu apenas gosto da maneira como é dita a palavra, não do tipo de actividade a que esta se refere. Acho que a primeira vez que ouvi «Hezbollah» foi numa quente tarde de Junho, mais propriamente no ano 2006, quando três soldados isrealitas foram raptados pelo Hezbollah. A partir desse dia, foi declarada guerra ao Líbano, onde ainda hoje se podem ver as marcas de devastação causadas pelo exército israealita. Frederico (10.º 5.ª) Hoje Acho que só percebi quanto o “hoje” significa para mim há um ano atrás, depois de viver uma das piores alturas da minha vida (até hoje). Comecei então a dar mais importância ao presente (o hoje), deixando para trás o ontem e não criando demasiadas expectativas para o futuro, o amanhã. Desta forma, depois de ver um filme que me marcou muito — O Clube dos Poetas Mortos —, aprendi o que me dizia a sua mensagem, “aproveita o dia” (“Carpe Diem”). Assim vivo cada dia como se fosse o último, aproveitando o máximo, sem demasiadas preocupações. Guilherme (10.º 4.ª) Idiota Certo dia, estava na rua e ouvi da boca de alguém, não sei quem, a palavra “idiota”. Não sabia qual era o significado, na altura, mas, da primeira vez que a usei, apliquei-a da melhor forma possível. Olhei para o meu pai, após ele ter refilado comigo, e disse: — Idiota! Mas não é só por memórias ou recordações que a aprecio. Gosto de a repetir vezes sem conta até trocar as sílabas e começar a dizer uma palavra nova. I-di-o-ta. A última sílaba fica como se a porta da boca se fechasse e fosse obrigada a sair pelo nariz. (Digo as palavras de uma maneira estranha).
  • 35. Bárbara (10.º 5.ª) Inconspícuo É uma palavra relativamente recente no meu vocabulário. Encontrei-a, certo dia, a navegar na internet, quando acabei por reparar numa cómica imagem de um homem dentro de uma caixa, “escondido”, a dizer-se inconspícuo. A palavra original em inglês lia-se “inconspicuous” e atingiu-me como se fosse um “raio de curiosidade”. Imediatamente procurei no dicionário pelo seu significado, que, aparentemente, é “quase invisível/difícil de notar/algo que não é prontamente notado”. Na verdade, nunca verifiquei se a forma como a uso em língua portuguesa está correcta: limitei-me a partir do princípio de que na minha língua se escreveria “inconspícuo”. Mais tarde, descobri a palavra “conspícuo”, mas não provocou o mesmo fascínio, apesar de, teoricamente, ser “inconspícuo” a palavra derivada. Para mim, suponho que “inconspícuo” irá ser sempre a palavra original, da qual a outra deriva. Na minha mente, “conspícuo” é uma espécie de derivado regressivo. Talvez um dia venha a descobrir que a palavra não existe, ou que a tenha usado incorrectamente, mas, por agora, continuarei a aproveitá-la sempre que possível. Ricardo (10.º 1.ª) Lagartixas Gosto muito desta palavra, porque, para mim, sempre teve uma certa vertente cómica. A sua entoação também me desperta alguma atenção na passagem da terceira para a quarta sílaba. Para além das razões acima referidas, esta palavra tem o condão de me fazer regressar à infância, lembrando-me as caçadas que eu e o meu primo realizávamos para tentar recolher uma amostra deste repugnante réptil.
  • 36. Embora confesse que não existe nenhuma palavra que me fascine particularmente, esta parece-me ser uma das que me suscita mais a atenção. João M. (10.º 6.ª) Literatura Não é propriamente o seu som ou o facto de ser original que me atrai, mas o que esta palavra representa mais exactamente. Quando penso nesta palavra, uma selecção de novas palavras inunda-me a mente: “ler”, ”livro”, ”saber”, ”conhecimento”. A verdade é que, para mim, a palavra “literatura” é um símbolo para aquilo que eu mais prezo, um livro. Nos livros encontro páginas cobertas de fantásticas histórias que me levam a sonhar e a fantasiar com os mundos criados pelos escritores. Isto leva-me a duas outras palavras de que gosto,”sonhar” e ”criar”. ”Sonhar” é uma palavra de que gosto, não só pelo que representa como também pelo seu som e porque tenho como hábito sonhar; sonhar com novos locais, novas histórias, novas personagens, todos criados por mim. Afinal, são estas duas outras palavras a razão do meu apreço pela palavra “literatura”. Francisco F. (10.º 2.ª) Lol É, provavelmente, uma palavra de que pouca gente sabe o significado ou usa nas alturas certas. Tomei conhecimento de tal palavra, na época “Olha, vemo-nos no MSN”. No início, pensei que fosse um jogo ou coisa assim, pois, para mim, a internet só servia para jogar. “Pouco sabia como belíssima seria ela para o meu futuro”. Meti-me no msn, comecei a falar com o Baila, até que disse uma piada; e ela apareceu, em todo o seu esplendor, ou talvez nem tanto (porque não percebia patavina daquilo). Perguntei o seu significado e, de repente, surge outro “lol”.
  • 37. “Lol” (lots of laughing), muitos risos. E, num futuro próximo, descobriria que tinha também o significado de (laughing out loud), ri para fora muito alto. E aí pensei: “ora, esta será a minha palavra de estimação”. Vá- se lá a perceber porquê, eu sou uma pessoa que acredita que diz umas graçolas para os outros rirem. “Piadas secas”, estão a ver o género?!... A coisa passa por escrever umas “bacoradas” e receber “lots of lol‟s” de retribuição. Esta coisa anima-me e, de vez em quando, até sou criativo… “Puxa por mim, topam?”. Tipo, uma pessoa até se sente com capacidade para vir a ser o argumentista dos Gato Fedorento. Enfim, esta minha imaginação, que não pára e peca pelo exagero, e que tenho alguma dificuldade em controlar. Voltando à minha palavra de estimação, “o meu lol”, até estou a pensar em chamar ao meu próximo animal de estimação “lolito”… Perceberam o trocadilho? Digam lá que não merece um comentário? E qual é ele? Qual é? Somente, “lol”. Ricardo (10.º 2.ª) Lorem ipsum A minha palavra favorita não existe, são antes duas palavras: Lorem ipsum. A sequência é do Latim e é usada em exemplos tipográficos ou quando não se sabe o que escrever. “Lorem Ipsum” é o começo desse texto, único no mundo, que fala sobre várias coisas aleatórias. Escolhi esta expressão, porque me identifico com ela, dado que várias vezes tenho de servir de exemplo, mesmo quando não quero. A minha língua favorita é o latim, embora não o saiba falar. Os meus amigos acham-me aleatório e sem sentido, e eu considero-me único. Uma expressão que me define perfeitamente, melhor do que outro termo qualquer. David (10.º 4.ª)
  • 38. Lula Tal como para muitos portugueses, a palavra lula é para mim implacável carrasco que decide punir nas mais incómodas situações e que leva a um profundo embaraço. A sequência da consoante “L” com a vogal “O” ou “U” é de extrema dificuldade fonética para mim. Lula sai da minha boca como um disparo agonizante que mais se parece com a onomatopeia de uma sirene, Ouoa, do que com o substantivo de um molusco aquático que tem vários tentáculos pegajosos e vive no fundo dos oceanos. Esta embaraçosa palavra (também existem outras) é sempre forçada a sair do meu vocabulário fonético, mas muitas são as vezes em que sou obrigado a demonstrar os meus dotes (inexistentes) a toda uma multidão. “A ouoa (lula) vive no fundo dos oceanos. A sua rotina diária não é influenciada pelas marés, que, toda a gente o sabe, são modificadas pela Ouoa (lua). Risos e gozo. Mas eu já não me importo. Muitos são os portugueses como eu e espero, um dia, saber dizer esta palavra sem nenhum incómodo. “Lula”. Muito simples. Antes de me deitar, na profunda escuridão do meu quarto, dito em baixo tom, repetidamente, lula. E sempre que estou prestes a adormecer, vem-me em estranhos sonhos um gigantesco molusco, cheio de tentáculos pegajosos, que vive nas profundezas do mar. “Eu sou a ouoa gigante e vim apanhar-te. Hahahaha!” Bruno (10.º 4.ª) Macambúzio Lembro-me desde pequena de ouvir a minha mãe dizer, quando eu ou o meu irmão estávamos com um ar triste ou cansado, que estávamos macambúzios. Nunca fui ao dicionário ver o que significava nem sequer lhe perguntei o que queria dizer. Não uso a palavra e de poucas pessoas a ouvi, mas acho-a engraçada. Quando era pequena, pensava que era um tipo de concha ou búzio: lembrava-me o mar; não percebia porque é que a minha mãe a
  • 39. utilizava. É claro que depois, à medida que fui crescendo, compreendi que tinha a ver com um estado de espírito nosso, quando estávamos com um ar “macambúzio”. Matilde (10.º 2.ª) Mar “Mar” é um substantivo e designa um local, à superfície terrestre, que contém água. É uma palavra bela e robusta, por designar uma grandeza da natureza; e evocar o poder do planeta. Gosto também desta palavra, porque, cada vez que penso nela, recordo-me dos grandes passeios que fazia quando era pequeno. Cada vez que alguém falava em passear, eu dizia, de forma entusiasmada, “Vamos ao mar!”. A palavra “mar” saía e ainda hoje sai quase que automaticamente da minha boca. Desde pequeno que ando com a palavra “mar” dentro da minha boca, pronta a sair cá para fora. “Mar” é uma palavra requintada e que me traz à memória muitos passeios de infância e de agora. A palavra persegue-me há quinze anos e gosto de a observar quando aparece nalgum livro, texto ou dicionário. A minha palavra de estimação irá estar eternamente no meu coração e no meu pensamento, sempre ligada aos meus passeios e ir-me-ei encontrar com ela entusiasmado, sempre nos livros, nos textos e nos dicionários. Luís (10.º 1.ª) Mar Sempre que me sinto confusa, sem saber o que fazer, tento ir para junto dele. Faz-me pensar e tomar decisões importantes. Persegue-me desde que sou pequena, mas ainda bem. Graças a ele, sou a pessoa que sou, tomei as decisões que tomei, fiz tudo o que fiz. Adoro o mar desde que me lembro, sou capaz de dizer que, se me tiram o mar, tiram-me tudo. É a única coisa que me acalma.
  • 40. A importância da palavra «mar» reflecte-se na imensidão que ela representa. Uma imensidão de água: é nela que o céu e a terra se encontram. Adoro olhar para o horizonte e perguntar-me o que haverá para além daquela linha que definimos, pois a nossa visão não consegue alcançar mais. Ana (10.º 5.ª) Mar Não é original como palavra (só três letras, "Mar", que simples!) nem como objecto (não podemos pôr mar dentro de um frasco). Eu chamo-lhe um fenómeno. Mar. Uma faca de dois gumes. Persegue, motiva, desafia, arrasta, prende, corrói, avassala. Para mim, ele tem mais poderes do que Deus. Ele tira e dá vida, repõe a ordem, completa um ciclo."Mar" transmite tranquilidade, refresca, dá adrenalina, lembra-nos que não somos omnipotentes. É um arco-íris molhado. Misturado com a nossa essência e derretido numa onda. É a melhor droga. Mar. Poderoso, influente, intimidador. Há quem já tenha nascido, vivido e morrido por ele. Mesmo que nunca o vejamos, estamos sempre "mergulhados" num mar de ideais, num mar de ideias. Acompanha-nos sempre, mesmo que nunca vejamos o horizonte delineado a azul. Mar. Tem sabor, tem corpo, tem vida, tem força, tem mente. Mar. O cúmulo da originalidade. Lima as arestas do original. Não é original, é único. João G. (10.º 5.ª) Marta Escolhi este nome não por um gosto particular mas por, por detrás dele, haver uma engraçada história.
  • 41. A minha avó, com a mania das poupanças, nunca compra canetas. Aproveita sempre as que lhe dão nos supermercados e talhos. E, sempre que estas deixam de escrever, ela tenta inventar mil e umas maneiras de que voltem a escrever. De umas delas, lembro-me com um certo gozo; mas, atenção, o que aqui vou escrever não é invenção minha, é pura realidade. Certo dia, quando andava no quinto ano, perdi a única caneta com que andava no estojo. E, como tinha de fazer uma composição a esferográfica azul, perguntei à minha avó se ela, por acaso, teria uma que me pudesse emprestar. Passados alguns minutos, lá veio ela com três canetas de tinta azul, apesar de eu só lhe ter pedido uma. No entanto, reparei que nenhuma delas escrevia. Aborrecida com a minha infeliz sorte, desatei a barafustar, extremamente revoltada. A minha avó saiu da cozinha, ao ouvir toda aquela barulheira, e perguntou o que se passava. Depois de lhe ter explicado o sucedido, pegou suavemente numa das canetas e começou a escrever, na sua letra manuscrita, “Marta”. E não é que no papel começaram a aparecer vestígios de tinta que, de letra em letra, ficava mais fluida! Fez isso com as restantes duas, e com elas se passou o mesmo. Fiquei deslumbrada com a perícia da minha avó. Actualmente, faço isso com todas as canetas, imitando o seu gesto único, e continua a resultar sempre. E, sempre que conheço alguma rapariga que tem este nome, lembro-me deste episódio. “Marta” ficou para mim como uma palavra de estimação. Raquel (10.º 1.ª) Mealheiro Eu escolhi esta palavra porque ela perseguiu-me, e persegue- me, desde que eu comecei a falar. A perseguição desta palavra acontece pela minha dificuldade em dizê-la correctamente. Sempre que experimento dizer “mealheiro”, ouço risos à minha volta e tento disfarçar o meu erro com alguma piada. Às vezes, a minha mãe pede-me para tentar dizê-la, mas, quando o faço, à primeira sai-me “Milhalheiro”. O meu irmão, quando mo pede, sei que é para eu ficar embaraçado à frente de outras pessoas, por isso, quase sempre evito dizê-la.
  • 42. António(10.º 4.ª) Merdaleja É uma velha terra, em Viseu, pela qual aprendi a ter grande afecto. O meu amigo Manuel e a sua esposa, Dorinda, mostraram- me essa bela aldeia, Merdaleja, que, cedo, despertou a mim e à minha família interesse e gosto. Detentora de alguns doces regionais de paladar fantástico, era impossível esquecer-me do seu nome, “Merdaleja”. Povo hospitaleiro, paisagem fabulosa, é assim esta maravilhosa terra, pela qual aprendi a ter grande estima. Daniel (10.º 4.ª) Merdinha Descobri que a dizia há uns anos. Não a dizia por mal mas porque, simplesmente, era muito novo e, ao tentar dizer “Madrinha”, acabava sempre por dizer “Merdinha”. Soube que utilizava a palavra há sensivelmente três anos. Na altura, fiquei embaraçado e pensei que a minha mãe e a minha madrinha estivessem a meter-se comigo. Elas disseram que era verdade, mas, mesmo assim, fiquei desconfiado. Uns dias depois, confirmei-o com o meu pai. Como ele estava divorciado da minha mãe, tinha a certeza de que jamais combinariam tal coisa e que, sendo assim, ficaria a saber se era mesmo verdade o que elas diziam. Para minha surpresa, afinal eu usava mesmo essa palavra, e com uma pessoa de que gosto tanto. Tiago (10.º 2.ª) Mim
  • 43. Palavra estranha para dizer sozinha, eu sei, mas adoro dizê-la assim mesmo. É egocêntrico, talvez. Na minha mente, não. Caracteriza-me, mas não sei como explicar: talvez por estar sempre relacionada comigo, quando a digo; por ser simples na forma escrita e dita; por ser simples, mas ter a letra «m», que, sendo comprida, alarga a palavra. Que mais posso dizer sobre esta palavra? Sinceramente, para mim é inexplicável! Patrícia (10.º 5.ª) Mimi A palavra “Mimi” acompanha-me desde a minha infância. Quando tinha uns três ou quatro anos e me sentia mais adulta que nunca, a minha mãe decidiu trocar o “Joana” por “Mimi”, o que, na altura, me deixou profundamente revoltada. “Mimi” era nome para bebés… E, apesar de todas as minhas pragas, a palavra instalou-se mesmo na minha vida. Comecei a ser a “Mimi da mãe” e, quando dei por mim, já respondia quando a minha mãe me chamava esse tão querido nome inventado por si. Hoje, quando oiço “Joana”, suplico-lhe que me chame “Mimi”. Joana O. (10.º 2.ª) Não Esta é a palavra que mais me intriga e fascina. É daquelas palavras que aprendemos muito facilmente quando somos pequenos. Para alguns, até foi a sua primeira palavra. Gosto dela, porque, a meu ver, impõe-se perante as outras. Sendo ela tão pequena, à primeira vista não parece ser tão importante. Usamo-la quando queremos negar algo, mas eu uso-a para me afirmar perante os outros. Sei que, por vezes, esta palavra pode ferir susceptibilidades, mas sem ela não me conseguiria expressar.
  • 44. Por isso, digo: — Não! Devias fazer o mesmo, sozinho ou perante aqueles que te rodeiam. Vais ver que és bem capaz de te sentir melhor. Marta M. (10.º 5.ª) Néon Néon, gás raro. Achei piada a esta palavra durante uma aula de Química. A sua pronúncia, acho-a bastante engraçada. Tem um som anasalado que me fascinou. Estávamos durante uma aula de turnos, na Câmara Escura, a ver os variados espectros de determinados elementos, incluindo o hidrogénio, o hélio e também o néon. O néon foi o que mais nos impressionou a todos por ter um espectro bonito e de múltiplas cores. Ficámos “apaixonados” pelo espectro deste elemento e pedimos à professora para mostrar-no-lo mais uma vez. “O Néon, „stôra‟, por favor, o Néon”. A partir dessa aula, “Néon” ficou uma palavra só nossa. Qualquer conversa era “Néon, Néon, Néon”. Tudo era Néon, tudo se relacionava com a palavra “Néon”. Ficou assim a minha palavra preferida. Catarina F. (10.º 2.ª) Oias No princípio da minha adolescência surgiu uma palavra nova, “oias”. Sem dúvida, era um neologismo. “Oias” significa „olá, oi, boas‟. É uma palavra que, não sei bem porquê, gosto de dizer vezes sem conta. É viciante. Vejo os meus amigos e “oias, tudo bem?”; vou ao msn, “oias”. Fico viciado nela. Talvez seja pelo som da junção de “oi” com “as” que dá algo muito harmónico. “Oias” é, para mim, uma palavra importante, porque só a digo quando estou bem-disposto. É uma palavra que, devido ao som, acho ser muito alegre. Julgo que até contagiei algumas pessoas à minha volta, sobretudo os mais próximos. O “oias” está agora
  • 45. sempre presente nas conversas com os meus melhores amigos. É, realmente, a minha palavra-fétiche. Duarte (10.º 4.ª) Onomatopeia Lembro-me de decorar as classes gramaticais quando era mais novo. Contudo, houve um termo — não de classe, mas sobre processos de formação de palavras — cujo nome sempre me ficou na memória. Era a onomatopeia. No início, comecei por me perguntar quem teria sido o energúmeno que inventara aquela palavra para definir um tipo gramatical. Seguramente, não era para nos facilitar o estudo. O que mais me atrai na palavra é a ideia de movimento, de actividade, de vida! Sempre detestei lugares desertos, onde se vê meia-dúzia de pessoas em cada quilómetro quadrado. Esses espaços deixam-me deprimido e a única coisa que me vem à cabeça é um devaneio filosófico, que se torna num verdadeiro ciclo de pensamentos negativos. O ruído do motor de um carro, o constante barulho dos sapatos das outras pessoas a bater no chão... Bastam simples sinais sonoros do quotidiano para poder afirmar a mim próprio: “Aqui há vida.”. Uma onomatopeia simboliza sempre o barulho de algum objecto. O tocar de um sino, por exemplo. Se existir uma onomatopeia que possa transcrever para o papel, é sinal de movimento. E onde há movimento há vida. Sinceramente, não sei de quem herdei esta constante obsessão por um dia-a-dia agitado. Se perguntar aos meus pais, e mesmo aos meus tios, qual seria o lugar perfeito para viver, eles responderiam: “No campo, no meio da paz e do sossego”. Discordo completamente. Se pudesse escolher, optaria por viver perto de Londres, não num prédio, mas numa daquelas casas espaçosas, com dois andares e garagem privada. Enfim, são opiniões. Esta é a minha palavra preferida. Não a escolhi por gostar de Português, mas por, apesar de uma grafia e som peculiares, adorar o que ela nos pode transmitir. José (10.º 4.ª)
  • 46. Otorrinolaringologista Conheço-a há algum tempo, mas nem por isso a consigo pronunciar muito bem. Pudera, para o som das vinte e duas letras sair como deve de ser, tenho de abrir e fechar a boca repetidamente, tal como um peixe num aquário. Quando a dizemos, emitimos um som engraçado, principalmente na primeira parte: “oto”. Para uma palavra que significa „especialista de ouvidos, nariz e garganta‟, até já representa a poupança de algumas sílabas. Os mais novos — da primária, como a minha irmã —, como têm muita dificuldade em pronunciá-la, chegam a fazer desafios para ver quem diz melhor. E os que puseram recentemente aparelhos na boca? Esses, coitados… Mas há sempre uma possibilidade de aproveitar uma palavra difícil. Quando jogo ao jogo da forca, escolho-a sempre, quase nunca ninguém acerta. E há também outra vantagem: otorrinolaringologista é uma palavra tão comprida, que basta repeti-la duas ou três vezes para termos uma página cheia. Laura (10.º 1.ª) Palavra Uma palavra define tudo o que possamos denominar na escrita, desde que se consiga escrever. Palavra pode ser usada em todo o tipo de textos! Narrativas, poesia, teatro… Tem imensos significados, para variadíssimas situações. Palavra mais complexa não há. É daquelas palavras que as próprias mães usam para encorajar os filhos a falarem. Palavra! Pode ser usada em sentido de promessa. Gosto desta palavra, pela sua simples complexidade. Não é preciso grande esforço nem pronúncia para dizer: palavra. A nível de escrita é inevitável, a que nenhuma palavra escapa! Se a colocássemos numa folha, milhões de setas provinham dela, com imensas palavras de todo o tipo. Palavra é simplesmente um componente que se pode aplicar a tudo o que o homem queira expressar, por escrito ou oralmente. É palavra que caracteriza todas
  • 47. as outras palavras, por mais estranhos ou comuns que sejam os significados das mesmas. Ana (10.º 1.ª) Passado Ontem, em tempo remotos, outrora, no passado. São as palavras que me fazem recordar aquilo que sou, fui e serei para o resto da minha vida. Considero-me uma pessoa nostálgica. Vivo do passado, respiro recordações, inspiro o meu quotidiano nas minhas memórias. Recordo passagens da minha vida: que me causam anseio de voltar atrás e resolvê-las; outras, simplesmente, gosto de as recordar, pois fazem-me sentir o rei do meu destino; mas a maior parte das minhas memórias causa-me angústia, transtorno e sofrimento. As minhas memórias, o meu passado, é aquilo que melhor me caracteriza. Quando penso no passado, prevejo um futuro melhor, vejo a resolução da minha vida, o desfecho e explicação do meu destino. Passado é a palavra mais bela e com mais valor. Quando olhamos para trás, e vemos o que temos vindo a “construir” ao longo da nossa vida, apercebemo-nos de que fomos postos na terra por algum motivo, e isso (falo por mim) traz-nos uma vontade imensa de viver e desvendar os mistérios que há muito nos fazem questionar. Os nossos relatos de vida podem ser lições de vida, não só para nós, como também para os outros que lidam connosco. É também olhando para o passado que vemos os nossos erros, tentando corrigi-los, e é através deste que se aprende a viver, pois nunca se cai duas vezes no mesmo erro e é com um erro que se corrigem as nossas acções. Pedro (10.º 6.ª) Pausado
  • 48. A minha palavra favorita é «pausado», porque é pausada. Comecei a usar esta palavra no início do décimo ano e, a partir daí, comecei a pegar esta “mania” aos meus colegas. «Pausado» passou a ser uma palavra característica do Castro, é como uma marca pessoal. Algumas pessoas podem não conhecer a palavra, mas pausado significa „uma coisa engraçada‟. «Pausado» é um estilo de vida. Nuno (10.º 2.ª) Paz Nem tanto pelo significado, que por acaso até é muito importante, gosto da palavra “paz”. Não se trata só do valor, é mais até a palavra em si. “Paz”. É bonita ao ouvir. E é bonita ao escrever, seja em maiúsculas, minúsculas, à máquina ou à mão… “PAZ”, “paz”, “Paz”, “Paz”. “PAZ”! Soa bem, sim, soa muito bem. E, se a quisermos virar ao contrário, “ZAP”! E já está! É uma palavra engraçada, “paz”. Joana L. (10.º 6.ª) Pedestal E, tal como noutros dias, escrevia. E, tal como nos outros dias, expunha os meus pensamentos, fascínios, desagrados ou, simplesmente, lembranças. Após anos de abertura da minha vida com a folha de papel e caneta, apercebi-me, estupidamente de maneira repentina, que repetia bastante vezes a palavra “base”. Mas eu não sei sequer explicar o meu desagrado pela referida palavra. Não gosto da palavra. Não gosto, simplesmente, da palavra. Talvez mais por teimosia, ao não querer novamente escrever aquele “B”, seguido de um “A” e um “S”, com um “E” no fim, fiz o que outra pessoa, talvez, fizesse. Ou talvez só porque a minha teimosia me mandou: peguei no dicionário.
  • 49. Lá estava a tal palavra. Passei os olhos pelas linhas e linhas de sinónimos. E sim, encontrei “pedestal”, entre muitas outras. Mas, agora também inexplicavelmente, essa agradou-me mil vezes mais do que as outras todas. A partir desse dia, troquei, no meu vocabulário, a palavra “base” por “pedestal”. E, sempre que a usava, vinham-me perguntar: “Filipa, pedestal? O que queres dizer?”. E eu ficava bem orgulhosa de mim mesma. Tinha aprendido mais uma palavra que, pelos vistos, aos ouvidos dos outros, não era assim tão comum no vocabulário de crianças de treze ou catorze anos. Filipa A. (10.º 5.ª) Pequenalmoçar Este verbo acompanha-me desde pequena. Penso que era de manhã e tinha acabado de acordar, quando ouvi a minha mãe dizer: “Filha, anda pequenalmoçar!”. Desde então, cada vez que estou acompanhada e o utilizo, olham-me surpreendidos e, de seguida, repetem o verbo, muito duvidosos: “Pequenalmoçar?! Se o verbo existe ou não, não sei bem, embora comece a pensar que sim, de tanta gente já me ter corrigido: “Pequenalmoçar?! Não! Vais tomar o pequeno-almoço!”. Mas o que é certo é que, além de ser mais curto, evitando assim a complicada frase “Vou tomar o pequeno-almoço”, já me afeiçoei e habituei à sua aplicação. Sofia (10.º 6.ª) Percular Aprendi esta palavra com o meu pai. Nos dias de viagem, em que as horas passam lentamente enquanto estamos no carro, ou mesmo nos jantares ou almoços em restaurantes, enquanto esperamos pela refeição, para nos entretermos durante a espera podemos sempre jogar ao percular. Um dos jogadores pensa num verbo difícil ou engraçado, e os restantes têm de adivinhá-lo, fazendo
  • 50. perguntas com respostas de “sim” ou “não”, usando o verbo “percular” para substituir o verbo em que a pessoa pensou. Por exemplo: já perculaste hoje? Gostas de percular? Foi uma palavra que marcou a minha infância, uma palavra para brincar. Joana R. (10.º 2.ª) Perfeição A palavra “perfeição” sempre foi uma das que mais me intrigaram. Significa o máximo dos máximos atingido, o mais belo. Da palavra surgem muitas discussões mas sempre ouvi dizer que nada é verdadeiramente perfeito, que, ao examinarmos os detalhes de um objecto, se revelam as imperfeições, portanto, no verdadeiro sentido da palavra, de acordo com a sua descrição no dicionário, nada é realmente perfeito. Então, se esta é a verdade, estaremos nós a usar uma palavra cujo significado nunca poderemos atingir verdadeiramente? Estaremos a descrever um estado impraticável pois na realidade ele não existe, a não ser claro, se acreditarmos no Paraíso que, mesmo assim, creio que terá as suas imperfeições? É por esta razão que esta palavra me deslumbra tanto e me fez escolhê-la como a minha palavra de estimação. Pedro (10.º 5.ª) Pipoquinha Foi a alcunha que me puseram, devido ao facto de gostar muito de pipocas. Não me lembro muito bem do dia em que eu e os meus colegas decidimos ir ao cinema, mas posso contar que foi no sexto ano. Tudo estava a correr lindamente, até que um dos meus colegas teve uma triste ideia. Em vez de ver o filme e estar sossegado no seu canto, optou por começar a atirar pipocas pelo ar. Ao princípio tudo estava muito bem, até que começaram a atirar as minhas pipocas e comecei a chorar, em pleno cinema. Acho que naquele momento o
  • 51. cinema passou a ser um circo, pois todos se riam das minhas figuras. E eu a chorar pelas minhas pipocas... Pode-se dizer que são brincadeiras parvas, mas são estas brincadeiras que nos fazem rir dos nossos momentos de crianças. Graças a esta brincadeira, ainda hoje sou conhecida por “Pipoquinha”. Acho que nem eu nem os meus amigos vamos esquecer este dia. Tânia (10.º 6.ª) Pneumoultramicroscopi cossilicovulcanoconiose A primeira vez que vi esta grande palavra foi num e-mail que a mãe de um amigo meu lhe enviara. Vi-a na caixa de correio dele, há vários anos, enquanto ainda andava nos Maristas. Quando vi a palavra, pensei que não existisse por ser tão extensa e nem me lembrava das primeiras cinco letras depois de a ter visto. Esse meu amigo e outro que também estava comigo deram-se ao trabalho de decorar a palavra que lhes serviu, por acaso, para uma espécie de jogo para encontrar as maiores palavras da língua portuguesa. Nas maiores palavras estava o “otorrinolaringologista” e o “esternocleidomastoideu”, até que apareceu o “pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico”, pessoa que sofre de pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose, que é uma doença pulmonar provocada pela respiração de cinzas vulcânicas. Nunca mais tive contacto com a palavra, até ao nono ano, quando o meu professor de Português pôs numa ficha as maiores palavras da língua portuguesa. Quando a vi, decidi fixá-la logo para não me voltar a esquecer e corrigir as pessoas que pensam que a maior palavra da língua portuguesa é “otorrinolaringologista”. É, sim, “pneumoultrami-croscopicossilicovulcanoconiótico”, pessoa que sofre de pneumoultramicroscopicossili-covulcanoconiose. João A. (10.º 1.ª)
  • 52. Posso A palavra em si tem toda uma aura de grandeza, mas o que a torna especial para mim é o seu aparecimento nas duas melhores frases de O Senhor dos anéis. “Tu não podes passar!” é o que Gandalf diz antes de se sacrificar pelo bem da irmandade, como fosse a sua última vontade. Era a última coisa que ele tinha esperança de fazer mas, mesmo assim, manteve o tom autoritário e intimidador ao dar a ordem. “Eu posso ver-te”. Esta frase é um misto de “big brother” e de espionagem e o resultado é assustador. Basicamente, o que transmite é a possibilidade de se aniquilar a nossa privacidade, mas não o faz, porque somos insignificantes. Cosme (10.º 4.ª) Post-it “Post-it” é uma palavra de origem inglesa, mas está a ser muito utilizada na língua portuguesa; porém, as pessoas transformam-na em “postit” (tudo junto). Escolhi esta palavra por causa do seu som tão engraçado. Este som, lido rapidamente, até parece “bostic”. A sua utilidade é enorme, pois, com “post-it”, conseguimos colar em qualquer parte. Apenas com um podemos localizar-nos entre milhares de páginas de um livro, podemos lembrar-nos de algo importante como os tepecês de Português. Como eu disse, a sua utilidade é quase infindável. “Post-it”, ainda por cima, faz-me lembrar a infância, pois, quando era pequeno, tinha a mania de colar “post-it” em tudo o que era sítio. Os meus pais só viam era etiquetas de diversas cores — amarelas, laranjas, rosas, azuis — em tudo o que fosse livros, revistas, mesas, em tudo o que era sítio. E tudo se resume a um simples papelinho com cola num dos lados. Carlos (10.º 4.ª)
  • 53. Princesa É uma palavra com um enorme valor sentimental e afectivo para mim, pois que, desde que comecei a ver filmes de desenhos animados em que as personagens eram princesas, com longos cabelos loiros e saias compridas, e moravam em grandes castelos, quando me perguntavam qual seria a meu futuro de sonho, respondia sempre, de maneira convicta, que iria ser uma princesa. É também uma palavra com grande valor para mim, porque desde pequena e, por vezes, até hoje em dia, a minha mãe, contente com alguma boa atitude minha, me chamava «princesa», ou deixava bilhetes no frigorífico, que, no final, diziam sempre «beijinhos, princesa». Outra, e última, razão para ser uma palavra de estimação é o facto de estar presente numa música que representa momentos felizes da minha vida. Mariana (10.º 1.ª) Procriar Verbo da primeira conjugação. Tem como sinónimos palavras como ”germinar”, ”reproduzir”. Uso-a com muita regularidade. A palavra, para mim, substitui expressões como ”fazer amor”, “fazer sexo”. Soa melhor “procriar” do que outras palavras mais ordinárias; porém, “procriar” tem mais o sentido de fazer amor, para gerar descendência. Arrisco-me a dizer que uso esta palavra, na maior parte das vezes, com alguma ironia. Já faz parte do meu vocabulário diário. Joana B. (10.º 5.ª) Purée
  • 54. Ao ler esta palavra, pode pensar-se que estava a falar de culinária, mas não é o caso. Trata-se de uma expressão francesa que, muitas vezes, os jovens utilizam para demonstrar o seu desagrado com algo que aconteceu. Se a irritação for muito grande podem dizer “purée” cada vez que fazem uma frase. A primeira vez que ouvi tal coisa, confesso que fiquei chocada. Porquê usar uma comida para expressar um sentimento de raiva? A lógica é pouca. Mas o facto é que, quando esta palavra é usada, até mesmo na cantina, o sentimento nunca é positivo: nem no prato “purée” é aceite com um sorriso. Dulce (10.º 5.ª) Qué-qué Sendo eu a primeira neta — de cinco, actualmente —, fui também a primeira a receber uma alcunha. Verdade seja dita, a minha mãe sempre conseguiu formar bons neologismos. E, hoje em dia, já com um vasto número de alcunhas, esta permanece, apesar de serem poucos aqueles que ainda me chamam «Qué-qué». Talvez a versão mais doce desta palavra seja a da minha irmã mais nova que, ainda estreante no campo oral, me chama «Té-té». Não há nada de fantástico nesta palavra, apenas o facto de ela permanecer ainda no vocabulário familiar. Raquel (10.º 6.ª) Quotidiano Escolhi esta palavra, por ter estado sempre presente na minha vida. Ao recuar no tempo, verifico que, mesmo quando era criança, a minha vida quotidiana já existia, porque o meu dia-a-dia era sempre igual, excepção feita aos fins-de-semana, pois, todos os dias úteis, tinha de acordar cedo e a minha mãe deixava-me logo às oito horas na escola. Depois, já mais velho, o “quotidiano” começou a estar mais presente na minha vivência. Agora que estava no primeiro ciclo,
  • 55. a minha responsabilidade tinha aumentado, e a responsabilidade do “quotidiano” era, cada vez mais, minha. Presentemente, quando olho para a minha vida, verifico que, quanto mais velho fico, mais o tédio do “quotidiano” aumenta. Não sei porquê, mas, sempre que penso nela ou ouço a palavra “quotidiano”, parece que me fica no ouvido e vou-a repetindo interiormente vezes sem conta. Tiago S. (10.º 4.ª) Raios Raios, não os que existem nas trovoadas, mas sim a palavra que uso desde há muito tempo, quando algo desagradável acontece. Penso que a primeira vez que disse “raios” foi aos oito anos, quando me queimei numa frigideira. Com a dor no dedo, consegui travar o comboio de asneiras e gritos que queria libertar e gritei simplesmente “raios!”. Desde esse momento que, sempre que me esqueço de alguma coisa, me aleijo ou me engano, digo apenas “raios” ou, mais raramente, “fogo”. Penso que a razão por que uso esta palavra é que me permite exprimir raiva e dor sem incomodar as pessoas com asneiras e outras profanações. Miguel (10.º 2.ª) Ridículo Já o digo quase que inconscientemente. Penso que devo ter começado a dizer “ridículo”, no início deste ano lectivo, quando uma amiga minha disse essa palavra a meio de uma frase. Lembro-me que parei por uns instantes, admirando a sua fonética. Adoptei-a nesse preciso momento. Desde esse dia, digo “ridículo” constantemente. Acabo por não ter muito em conta o seu significado, pois uso a palavra para situações que de ridículo não têm nada. Por vezes, chego a irritar algumas pessoas, de tantas vezes a dizer. No entanto, tenho vindo a reparar que algumas pessoas que
  • 56. me são mais próximas têm começado a dizer “Ridículo” mais frequentemente. Muito provavelmente, influência minha… Marta (10.º 2.ª) Sabedoria «Sabedoria» é uma palavra de que gosto, devido à sua origem, o saber, e à sua sonoridade. A «sabedoria» é o que toda a gente procura. Eu não fujo à regra. É uma palavra que aprendi logo na minha infância. Quando me perguntavam que profissão queria seguir, eu, na minha ingenuidade, respondia que ainda não a tinha escolhido. Queria aprender para enriquecer a minha sabedoria. Durante estes anos todos que estudo, é para alcançar este meu objectivo, a sabedoria total, que trabalho. Ricardo (10.º 6.ª) Salteadores Talvez não tenha grande aparência nem som ou imagens originais, mas talvez nela reveja os melhores tempos que já passei. «Salteadores» gritava o guia da excursão que, juntamente com os meus pais e outros amigos, fizemos às minas do sal na Alemanha. Penso que tudo esteja relacionado: a visita às minas e a própria constituição da palavra «salteador», sendo que estávamos nas minas do sal e, numa certa parte da visita, que era constituída por um passeio de comboio, passeios a pé, etc. Tínhamos de saltar para um escorrega inclinado, que percorria em curvas uma longa distância, por entre um apertado túnel. Dentro das minas, era necessário utilizar este túnel para trocar de piso e percorrer todo o percurso estipulado. Ao mesmo tempo, o guia alemão apelava à atenção dos visitantes, gritando «salteadores», pois, apesar de ser alemão, a visita era em inglês e a única palavra em português que ele sabia
  • 57. pronunciar era «salteadores». Não sei porquê, nunca lhe perguntei. O que é certo é que todas as aventuras dessa visita me marcaram muito. Talvez por isso tenha grande admiração pela palavra «salteadores». Susana (10.º 5.ª) Sempre Lembro-me da quantidade de vezes que ouvi esta palavra. É tão bom ouvi-la da parte de alguém de que realmente gostamos em relação a uma situação que, igualmente, desejamos. Hoje em dia, essa palavra chove entre as pessoas e cria um enorme sorriso. Mas também me lembro da quantidade de vezes em que esta palavra não foi cumprida. As pessoas utilizam-na por todos os motivos e mais alguns e, na maior parte dos casos, no dia seguinte já não se lembram dessa promessa. Muitas vezes, admito, também digo “sempre” sem qualquer nexo. Mas começo a ter uma noção do meu significado da palavra. Adquiro-o todos os dias e todos os dias o vou aperfeiçoando. Talvez seja melhor não o dizer. É uma palavra estranha: causa muita alegria mas, às vezes, faz medo. Joana G. (10.º 1.ª) Sempre “Sempre” é uma palavra de que sempre gostei. Gosto dela pois é o contrário de “nunca” e eu acho que nunca devemos desistir. “Sempre” é das primeiras palavras que me lembro de dizer e escrever, logo a seguir a “mãe” e “pai”, pois sempre gostei do seu som e entoação. “Sempre” é uma palavra de que todos devíamos gostar para evitar que tantas coisas acabassem (como as amizades, os casamentos, a vida, o mundo…). Mariana (10.º 2.ª)