Apresentação para décimo ano de 2017 8, aula 29-30
Velhice e solidão
1.
2. Tanto o sketch dos Gato Fedorento
como a canção de Mafalda Veiga
abordam o tema da velhice.
Em «No chão, não: no velhão!», cria-
se uma situação absurda, que tem de
ser vista como irónica. Portanto, a
mensagem — se é que tem de haver
alguma — será de crítica ao abandono
a que a sociedade e as famílias votam
os velhos.
3. A letra de «Velho» parece menos
preocupada com a perspectiva
sociológica. Embora o velho surja
ainda à margem da vida social, o
poema detém-se sobretudo na
psicologia. Por um lado, a solidão do
«protagonista» resulta, em parte, do
seu próprio fechamento em si mesmo
(«a recordar fragmentos do passado»;
«parado e atento à raiva do silêncio»).
4. Por outro, mais do que para sobre eles
se exercer um juízo de reprovação, os
não-velhos são referidos no texto da
canção enquanto objetos cujas
reações devem ser analisadas: «fogem
de ti», é certo, mas o mais importante é
explicar que o fazem para «não ver a
imagem da solidão que irão viver».
22. baúte aúba
nome nome
«Pegue no baúte e enfie-o no aúba»
23. As palavras propostas por Juvenal
Barbosa aproveitam pouco o léxico já
existente. Poderiam esses neologismos
seguir os processos descritos na p. 316
do manual, mas isso não acontece. O Dr.
Juvenal usa sobretudo a cunhagem, um
processo também de neologia, mas
bastante raro.
24. Ainda por cima, as palavras cunhadas
costumam ser criadas segundo os
padrões da língua em que se vão integrar,
o que não sucede com duas das palavras
de Juvenal (a que nem conseguimos
grafar e a que tem um alongamento numa
das vogais).
25. Se houvesse em outras línguas
palavras tão específicas como
pretende, o linguista-afinal-físico-
químico poderia importá-las (seriam
empréstimos, mais ou menos
adaptados ao padrão português — e, na
fase em que estivessem a ser
introduzidos, chamar-lhes-íamos, quase
pejorativamente, estrangeirismos).
26. Se preferisse as amálgamas —
designadas também palavras
entrecruzadas —, Juvenal poderia juntar
o início de «irritação» e o final de
«peúgo», formando o adjectivo
«irritugo», que serviria para ‘irritado com
as meias que descaem no calcanhar’.
27. Para o impropério com que termina o
diálogo — «Vai para o brenaca» — era
aceitável um acrónimo ou uma sigla (às
vezes, eufemística e ironicamente
substituem-se as ordinarices por
iniciais).
28. Uma das criações de Juvenal, o
adjectivo correspondente à frustração
por não haver sumo no frigorífico, talvez
se possa considerar uma onomatopeia,
na medida em que parece basear-se
num som ligado à surpresa
desagradável de não haver o que se
procura.
29. Poderia ainda Juvenal ter recorrido à
extensão semântica (passamos a usar
uma palavra num contexto tão diferente
do original, que, na verdade, se trata
também de um neologismo). «Estou frito
{pensa tu num adjectivo}» é um exemplo
de adjectivo que, por metáfora, daria
satisfatoriamente a noção de ‘estar
frustrado por não encontrar leite’.
30. • «Receita para fazer um(a) ...
[adolescente (rapaz) / adolescente
(rapariga) / bêbado / empresário rico /
político / top model / futebolista /
surfista / médico / mendigo / burocrata /
metrossexual / rasta / vizinha /
culturista / aldeão / {podes escolher
alguma outra personagem-tipo de que
te lembres}]»
33. • «cujo amor é pedra e petróleo sem fim»
| metáfora
34. • «ficaram apenas com a sua insanidade
e as suas mãos e um júri anulado» |
polissíndeto
35. • «a quem foi dado um vazio concreto de
insulina, Metrazol, eletricidade,
hidroterapia, psicoterapia, terapia
ocupacional, pingue-pongue e
amnésia» | enumeração