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ESTE NOSSO BRASIL
                                                    LYA LUFT

                                       Revista VEJA, 22/6/2011



   Não gosto do meu ceticismo e assombro
diante de muitas coisas, no que diz respeito
ao Brasil, mas eles existem. Cada vez mais
me espanto, e cada vez menos acredito. Não
funciona, comigo, aquela conhecida frase dos
mais velhos "a mim, nada mais me espanta".
Pois a mim tudo ainda me choca, ou intriga,
faz rir ou chorar ou me indignar como sempre,
pois, vivendo mais, conheço mais as dores
humanas,        nossa   responsabilidade,            nossa
miséria,   nosso    dever    de    solidariedade            e
trabalho, a necessidade de competência e
honradez, de exemplo e seriedade. Seja como
for, coisas bizarras acontecem neste Brasil
nosso tão amado e tão negligenciado. Ao qual
faltam,    quem    sabe,    atenção,        consciência,
indignação, exigências junto dos que nos
lideram    ou     governam,       ou     representam,
educam ou deveriam educar, amparam ou
deveriam amparar.
       Outro dia escrevi sobre o tal livro com
erros de português, metade aplaude, metade
diz que a gente não entendeu nada, ou que é
isso    mesmo.       Autoridades      fazem    as    mais
estapafúrdias afirmações. Logo apareceram
outros livros escolares com erros crassos. Não
são novidade livros didáticos com erros, e
ninguém dava bola. Ninguém percebia, quem
percebia     ficou      na   moita,    para     que    se
incomodar? O mundo é assim, a vida é assim,
o Brasil é assim. Aí eu protesto. O Brasil é
bem melhor que isso, mas tem gente que
gosta     que     ele   pareça     assim,     alegrinho,
divertido,      hospitaleiro   e    alienado.       Afasta
preocupações e cobranças, e atrai turistas.
       No governo,       no Senado,      na Câmara,
pessoas altamente suspeitas, condenadas ou
não, sendo processadas ou não, continuam
em altos cargos ou voltam a eles, e são
aplaudidas de pé enquanto nós,           os que
tentamos ser honestos e pagamos pelo circo
todo trabalhando às vezes até o anoitecer da
vida e das forças, se não cuidarmos levamos
multa cuspida, advertência, punição, ainda
que esta venha através de impostos cruéis.
   Às vezes parece que nem sabemos direito
quem nos governa, quem são os lideres, os
grandes cuidadores do país. Saber causaria
angústia,    então    fechamos      os    olhos.
Desconhecidos, ou sabidamente ruins, alguns
meras promessas, estão em altíssimos postos,
parte de nosso destino depende deles.
   Nas pesquisas, nas quais nunca acreditei
muito, a opinião pública consagra tudo isso na
maior naturalidade. E eu me pergunto se
realmente observamos, refletimos, concluímos
algumas coisas, disso que acontece e tanto
nos diz respeito, como o pão, o café, o salário,
a vida. Temos uma opinião formada e firme?
Lutamos     pela     honra,      pela    melhor
administração, pela segurança, pela decência,
pela confiança que precisamos depositar nos
líderes,     nos   governantes,   nos    nossos
representantes ... ou nos entregamos ao fluxo
das ondas, interessados muito mais no novo
celular, no iPod, no iPad, no tablet, na fofoca
da vizinhança, na troca da geladeira, na TV
plana, no carrinho dos sonhos, pago em
oitenta prestações impossíveis?
      Acho   que   andamos   otimistas   demais,
omissos demais, alienados demais. Devemos
ser pacíficos e ordeiros, mas atentos. Aplaudir
o erro é insensatez, valorizar o nebuloso é
burrice, achar que tudo está ótimo é tiro no
pé.
      Logo não teremos mais pé para receber a
bala, e vamos atirar na cabeça, não do erro,
do     desmando,    da   improvisação    ou   da
incompetência, mas na nossa própria cabeça
pouco pensante e, eu acho, nestes dias,
otimista demais. Sofremos e torcemos pelo
nosso país ou, ao primeiro trio elétrico que
passa,                ao          primeiro               show             espetacular,
esquecemos tudo (ser sério é tão chato...) e
saímos                nos          requebrando,                     e      aplaudindo,
aprovando sempre, não importa o quê?
            Começo a ter medo. Não o medo que
temos diante de um cano de revólver, ou do
barulho de um assaltante na casa, não o
medo de que algum mal aconteça às pessoas
amadas, mas um receio difuso, sombrio, de
que estejamos bailando feito alucinados ou
crianças inconscientes à beira de um abismo
disfarçado                      por            nuvenzinhas                       coloridas
chamadas alienação, para dentro do qual vão
escorregando, ou despencando, os nossos
conceitos de patriotismo, decência, firmeza,
lucidez, liderança, e uma esperança sem
ufanismo tolo.


Fonte:      http://www.miranteconstrucao.com.br/noticias/ver/page/2011-06-30__este-nosso-brasil-por-
lya-luft-

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Este nosso brasil lia luft

  • 1. ESTE NOSSO BRASIL LYA LUFT Revista VEJA, 22/6/2011 Não gosto do meu ceticismo e assombro diante de muitas coisas, no que diz respeito ao Brasil, mas eles existem. Cada vez mais me espanto, e cada vez menos acredito. Não funciona, comigo, aquela conhecida frase dos mais velhos "a mim, nada mais me espanta". Pois a mim tudo ainda me choca, ou intriga, faz rir ou chorar ou me indignar como sempre, pois, vivendo mais, conheço mais as dores humanas, nossa responsabilidade, nossa miséria, nosso dever de solidariedade e trabalho, a necessidade de competência e honradez, de exemplo e seriedade. Seja como for, coisas bizarras acontecem neste Brasil nosso tão amado e tão negligenciado. Ao qual faltam, quem sabe, atenção, consciência, indignação, exigências junto dos que nos lideram ou governam, ou representam,
  • 2. educam ou deveriam educar, amparam ou deveriam amparar. Outro dia escrevi sobre o tal livro com erros de português, metade aplaude, metade diz que a gente não entendeu nada, ou que é isso mesmo. Autoridades fazem as mais estapafúrdias afirmações. Logo apareceram outros livros escolares com erros crassos. Não são novidade livros didáticos com erros, e ninguém dava bola. Ninguém percebia, quem percebia ficou na moita, para que se incomodar? O mundo é assim, a vida é assim, o Brasil é assim. Aí eu protesto. O Brasil é bem melhor que isso, mas tem gente que gosta que ele pareça assim, alegrinho, divertido, hospitaleiro e alienado. Afasta preocupações e cobranças, e atrai turistas. No governo, no Senado, na Câmara, pessoas altamente suspeitas, condenadas ou não, sendo processadas ou não, continuam em altos cargos ou voltam a eles, e são
  • 3. aplaudidas de pé enquanto nós, os que tentamos ser honestos e pagamos pelo circo todo trabalhando às vezes até o anoitecer da vida e das forças, se não cuidarmos levamos multa cuspida, advertência, punição, ainda que esta venha através de impostos cruéis. Às vezes parece que nem sabemos direito quem nos governa, quem são os lideres, os grandes cuidadores do país. Saber causaria angústia, então fechamos os olhos. Desconhecidos, ou sabidamente ruins, alguns meras promessas, estão em altíssimos postos, parte de nosso destino depende deles. Nas pesquisas, nas quais nunca acreditei muito, a opinião pública consagra tudo isso na maior naturalidade. E eu me pergunto se realmente observamos, refletimos, concluímos algumas coisas, disso que acontece e tanto nos diz respeito, como o pão, o café, o salário, a vida. Temos uma opinião formada e firme? Lutamos pela honra, pela melhor
  • 4. administração, pela segurança, pela decência, pela confiança que precisamos depositar nos líderes, nos governantes, nos nossos representantes ... ou nos entregamos ao fluxo das ondas, interessados muito mais no novo celular, no iPod, no iPad, no tablet, na fofoca da vizinhança, na troca da geladeira, na TV plana, no carrinho dos sonhos, pago em oitenta prestações impossíveis? Acho que andamos otimistas demais, omissos demais, alienados demais. Devemos ser pacíficos e ordeiros, mas atentos. Aplaudir o erro é insensatez, valorizar o nebuloso é burrice, achar que tudo está ótimo é tiro no pé. Logo não teremos mais pé para receber a bala, e vamos atirar na cabeça, não do erro, do desmando, da improvisação ou da incompetência, mas na nossa própria cabeça pouco pensante e, eu acho, nestes dias, otimista demais. Sofremos e torcemos pelo
  • 5. nosso país ou, ao primeiro trio elétrico que passa, ao primeiro show espetacular, esquecemos tudo (ser sério é tão chato...) e saímos nos requebrando, e aplaudindo, aprovando sempre, não importa o quê? Começo a ter medo. Não o medo que temos diante de um cano de revólver, ou do barulho de um assaltante na casa, não o medo de que algum mal aconteça às pessoas amadas, mas um receio difuso, sombrio, de que estejamos bailando feito alucinados ou crianças inconscientes à beira de um abismo disfarçado por nuvenzinhas coloridas chamadas alienação, para dentro do qual vão escorregando, ou despencando, os nossos conceitos de patriotismo, decência, firmeza, lucidez, liderança, e uma esperança sem ufanismo tolo. Fonte: http://www.miranteconstrucao.com.br/noticias/ver/page/2011-06-30__este-nosso-brasil-por- lya-luft-