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LIBRAS E ENSINO TÉCNICO: A NECESSIDADE DE NOVOS SINAIS
Irinete Maria dos Santos Silva (IC) e Beatriz Pereira de Santana (Orientadora)
Apoio: PIVIC Mackenzie/MackPesquisa


Resumo

Este artigo tem como propósito mostrar a necessidade da criação de novos sinais em LIBRAS
(Língua Brasileira de Sinais) para os termos técnicos utilizados nos cursos de mecânica e, assim,
proporcionar de fato um ensino pautado em práticas bilíngües para Surdos, para os quais a Língua de
Sinais é considerada a primeira língua, e a Língua Portuguesa escrita segunda língua; mostrar
também as diferenças existentes em relação as modalidades utilizadas, sendo a primeira visual
espacial e a segunda oral auditiva. . Para tanto, inicialmente procura explicar a estrutura da LIBRAS
que é uma língua oficial e os benefícios que esta traz para o Surdo, sendo esta um código linguístico
privilegiado de interação, que depende de um estado de atenção em diversos sentidos para ser
compreendido. Para tanto, baseia-se nos estudos de Carlos Skliar, Lucinda Ferreira Brito e outros. A
partir de uma pesquisa de campo demonstra as dificuldades dos interpretes de cursos técnicos em
conhecer e traduzir palavras técnicas de áreas específicas e suas habilidades em transformar
palavras desconhecidas em sinais compreensíveis aos alunos surdos. Como resultado, observa-se
que somente a partir da interação entre alunos surdos, interpretes e professores é possível a criação
de novos sinais e que apenas com a aprovação da comunidade surda os sinais criados se tornem
definitivos. Dessa forma, a fim de exemplificar, são apresentadas fotos de algumas máquinas e
ferramentas utilizadas do curso de mecânica e seus respectivos sinais. .Por fim, conclui-se que
criação e elaboração de novos sinais em LIBRAS poderá constituir, no futuro, o início de um glossário
lúdico.

Palavras-chave: LIBRAS; interpretes; palavras técnicas; novos sinais


Abstract

This article aims to show the necessity of creating new signs in LIBRAS (Brazilian Sign Language) for
the technical terms used in courses on mechanics and thus provide a truly bilingual education process
based on practices for the Deaf, for which Sign Language is considered the first language, Portuguese
language and second language writing; also show differences regarding the methods used, the first
visual space and the second oral hearing. . For much initially seeks to explain the structure of LIBRAS
which is an official language and the benefits that this brings for the Deaf, which is a privileged
language code interaction, which depends on a state of attention in many ways to be understood. To
do so, based on the studies of Carlos Skliar, Lucinda Ferreira Brito and others. From a field study
demonstrates the difficulties of the interpreters of technical courses in learning and translating
technical terms of specific areas and their ability to turn unfamiliar words into signals understandable
to deaf students. As a result, it is observed only from the interaction between deaf students,
interpreters and teachers is possible to create new signs and that only with the approval of the deaf
community created the signs become permanent. Thus, to exemplify, we present pictures of some
machines and tools used in mechanics course and their signs. . Finally, we conclude that the creation
and development of new signs at LIBRAS will be in the future, the beginning of a glossary of play.

Key-words: LIBRAS, interpreters; technical words, new signs




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Introdução

LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, também conhecida como LSB (Língua de Sinais
Brasileira), é a língua natural das comunidades surdas do Brasil. Ao contrário do que muitos
pensam as Línguas de Sinais (LS) não são simplesmente mímicas e gestos soltos,
utilizados pelos Surdos1 para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas
gramaticais próprias.

LIBRAS não é o português nas mãos, em que os sinais substituem as palavras. O que é
denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas são denominados sinais
nas línguas de sinais. O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua
modalidade visual-gestual. Isto é se distinguem das línguas orais porque se utilizam do
canal visual-espacial e não oral-auditivo. Por este motivo, são denominadas línguas de
modalidade gestual-visual (ou visual-espacial), uma vez que a informação linguística é
recebida pelos olhos e produzida no espaço pelas mãos, pelo movimento do corpo e pela
expressão facial.

Os surdos utilizam a língua de sinais pura entre eles, e não compreendem o significado de
determinadas palavras do português, gerando conceitos complexos e abstratos. O que faz
com que informações dadas por professores nos cursos técnicos de formação profissional
sejam difíceis de compreender, deste modo, aprender uma nova informação é tarefa árdua
para estudantes surdos, e a carência de sinais específicos de determinadas áreas de
estudos torna a interpretação da aula igualmente difícil, para o profissional interprete.

As dificuldades enfrentadas por esses profissionais são inúmeras no processo de ensino
profissional. E devido o fato de a LIBRAS ser ainda uma língua em construção, apresenta
lacunas ao se tratar de sinais específicos de algumas profissões.

Desta forma, o presente artigo tem como questão principal investigar as dificuldades e
limitações vividas por estudantes surdos, intérpretes educacionais e professores no que se
refere ao ensino técnico de mecânica e, principalmente, a terminologia específica; e, dentro
disso, verificar a possibilidade da criação de novos sinais em Libras para determinados
termos da área; avaliar os termos em uso, analisar a forma como o intérprete de Libras
expõe um novo sinal diante de uma palavra técnica e complexa no processo de construção
da aprendizagem de alunos surdos, futuros profissionais, inseridos numa sala de aula com
alunos ouvintes, dentro de uma escola que se encontra em processo de construção da
inclusão.



1
   Surdos: neste trabalho o termo Surdo com “S” maiúsculo designa um grupo cultural e uma comunidade
lingüística. Assim como Skliar (2001).


                                                                                                   2
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Referencial Teórico

A estrutura da LIBRAS

Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, ambas seguem os
mesmos princípios no sentido de que têm um léxico, isto é, um conjunto de símbolos
convencionais, e uma gramática, ou seja, um sistema de regras que rege o uso desses
símbolos. A LIBRAS apresenta regras que respondem pela formação dos sinais e pela
organização dos mesmos nas estruturas frasais e no discurso.

Mesmo tendo uma Gramática própria (Sacks, 1990, p76), as línguas de sinais, dentre elas a
LIBRAS, possuem um rico sistema de classificadores, possibilitando aos nativos dessas
línguas a construção de uma estrutura sintática cheia de relações gramaticais altamente
abstratas. Segundo Fernandes e Strobel (1998: 30), classificador (Cl):

                             é uma forma que estabelece um tipo de concordância em uma língua.
                             Na LIBRAS, os classificadores são formas representadas por
                             configurações de mão que, relacionadas à coisas, pessoas e animais,
                             funcionam como marcadores de concordância.



Os classificadores são usados para designar a forma e o tamanho dos referentes, bem
como as características dos movimentos dos seres em uma determinada situação. Nesses
casos, apresentam-se “com a função de descrever o referente do nome (adjetivo), substituir
o referente do nome ou localizar os referentes (locativos)” (Fernandes e Strobel, 1998: 30).

Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do
ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. Na LIBRAS podemos encontrar
os seguintes parâmetros que formarão os sinais: configuração das mãos, ponto de
articulação, movimento, expressão facial e/ou corporal e orientação/direção. Segundo Brito
(1995, p. 36) a estrutura da LSB é constituída a partir de parâmetros primários e
secundários que se combinam de forma sequencial ou simultânea.

Os parâmetros primários são:

a) As configurações de mãos, que são as diversas formas que as mão adquirem na
    realização de sinais, são 46 configurações de mão;
b) O ponto de articulação é o espaço em frente ao corpo ou uma região do próprio corpo,
    onde os sinais são articulados.
c) O movimento é um parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas
    e direções, desde os movimentos internos da mão, os movimentos do pulso, os
    movimentos direcionais no espaço até conjuntos de movimentos no mesmo sinal.



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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Os parâmetros secundários
              secundários:


 a) Disposição das mãos em que as articulações dos sinais podem ser feitas apenas
                   mãos,
     pela mão dominante ou pelas duas mãos.
 b) Orientação da(s) mão(s) é a direção da palma da mão durante o sinal: voltada para
     cima, para baixo,para o corpo, para frente, para a esquerda ou para a direita.
 c) Região de contato refere se à parte da mão que entra em contato com o corpo. Esse
                      refere-se
     contato pode-se dar de maneiras diferentes: através de um toque, de um risco, de um
                  se
     deslizamento, etc.



Existem 46 configurações de mão diferentes para L
 xistem                                         LIBRAS, e elas podem ser diferenciados quanto
                                                                odem
às posições, número de dedos estendidos, o contato e a contração (mãos fechadas ou
compactas) dos dedos. Conforme quadro abaixo
                                      abaixo:




Figura 1 - Configurações de mãos

Ponto de articulação é o local do corpo do sinalizador em que o sinal é realizado; assim,
uma maior especificação da posição é necessária, já que a região no espaço é muito ampla.
Esse espaço é limitado e vai desde o topo da cabeça até a cintura sendo alguns pontos
                                                    até
mais precisos, tais como a ponta do nariz, e outros, mais abrangentes, como a frente do
 ais
tórax.


                                                                                                4
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Figura 2 – pontos de articulação,   BRITO 1995



O movimento, para que seja realizado, é preciso haver um objeto e um espaço. Nas línguas
de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço em que o
movimento se realiza é a área em torno do corpo do enunciador.

Já a maneira descreve a qualidade, a tensão e a velocidade, podendo, assim, haver
movimentos mais rápidos, mais tensos, mais frouxos, enquanto a freqüência indica se os
movimentos são simples ou repetidos.

Existe outro parâmetro, que são os traços não-manuais, que envolvem a expressão facial, o
movimento corporal e o olhar.

Como ocorre em outras línguas de sinais, a Língua Brasileira de Sinais apresenta regras
que estabelecem combinações possíveis e não possíveis entre os parâmetros de
configuração das mãos, movimento, localização e orientação das palmas das mãos na
formação dos sinais. Assim, se um sinal for produzido com as duas mãos e ambas se
moverem, elas devem ter a mesma configuração,a localização deve ser a mesma ou
simétrica e o movimento deve ser simultâneo ou alternado. Trata-se da Condição de
Simetria. Exemplos são: TRABALHAR, FAMÍLIA e BRINCAR.




Figura 3 – sinais de trabalhar, família e brincar



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Se, no entanto, a configuração das mãos for diferente, aplica-se a Condição de Dominância,
ou seja, apenas uma mão, a ativa, se move; a outra serve de apoio. Exemplos: ÁRVORE,
PAPEL e VERDADE. (BRASIL, 2008)




Figura 4 – sinais de arvore, papel e verdade. (Imagens: Lira e Souza, 2005)



Os sinais não devem ser construídos de forma aleatória, mas, a utilização de sinais unidos
em frase é a forma certa de se comunicar com os Surdos, pois os sinais em conjunto
formam o contexto que facilita o entendimento.

A LIBRAS foi reconhecida oficialmente em nosso país, como língua oficial dos Surdos pela
Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 e regulamentada pelo Decreto nº 5626, de 22 de
dezembro de 2005, que não só regulamenta a Lei de LIBRAS, mas também tem como
objetivo a inclusão do Surdo.

Oficialmente a LIBRAS é considerada a primeira língua do Surdo, a segunda, é o idioma
oficial do país de origem, no Brasil, a Língua Portuguesa, em sua modalidade escrita
(BRASIL, 2005a).

Esta é a única língua que possibilita à pessoa surda entrar em contato com todas as
características linguísticas. O Ministério da Educação (MEC), pela Secretaria de Educação
Especial, afirma que:

                           [...] as línguas de sinais devem ter o mesmo status das línguas orais, uma
                           vez que se prestam às mesmas funções: podem expressar os pensamentos
                           mais complexos, as idéias mais abstratas e as emoções mais profundas,
                           sendo adequadas para transmitir informações e para ensinar. São tão
                           completas quanto as línguas orais e estão sendo estudadas cientificamente
                           em todo o mundo. Coexistem com as línguas orais, mas são independentes
                           e possuem estrutura gramatical própria e complexa, com regras fonológicas,
                           morfológicas, semânticas, sintáticas e pragmáticas (BRASIL, 2005b, p.76).



Então, a lei estabelece que a LIBRAS é língua, uma vez que apresenta estruturas sintática e
semântica próprias de uma língua. Observa-se que o decreto confirma isto, ao instituir o


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ensino de LIBRAS nos cursos de licenciatura, o que demonstra que a LIBRAS pode e deve
fazer parte do cotidiano dos futuros educadores, bem como de alunos surdos.

Conforme Gesser (2009), LIBRAS passou a ser considerada uma língua na década de 60,
quando lhe foi conferida o status linguístico e, ainda hoje, continuamos a afirmar e reafirmar
essa legitimidade. É a legitimidade da língua que confere ao surdo alguma “libertação”. Ou
seja, é por meio da sua própria maneira de ser e se comunicar que o surdo se estabelece
como sujeito.

A LIBRAS é uma língua viva, o que a torna capaz de mudanças e criações, “pode-se dizer
que as línguas de sinais são ilimitadas no sentido de que não há restrição quanto as
possibilidades de expressão.” SME 2008. Então, a LIBRAS é uma língua natural que nasceu
da interação de pessoas surdas e atende as necessidades de comunicação destas pessoas,
que podem aumentar seu vocabulário com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas de acordo com as mudanças culturais e as tecnológicas, ou seja, de acordo com as
necessidades pode surgir um novo sinal e, se este for aceito pela comunidade poderá ser
utilizado pela mesma.



Cursos técnicos e seus termos específicos

Os cursos técnicos trazem palavras complexas, condizentes com as suas especificidades, o
que torna uma aula muitas vezes desconfortante para os alunos surdos e seus interpretes,
tornando assim necessária a criação de sinais correspondentes para essas palavras.
Falaremos aqui,do curso técnico de mecânica, com suas expressões próprias de uma área
especifica, nomes de maquinas e ferramentas, equipamentos e peças variadas. As palavras
técnicas utilizadas no início das atividades de ensino e de aprendizagem da disciplina em
questão não faziam parte do léxico mental da maioria dos alunos. Por serem palavras
técnicas e de pouco uso pelos alunos do curso, inicialmente professor e alunos utilizaram-se
da datilologia2 soletração manual, que vai formando a palavra através das configurações de
mãos correspondentes à sequência de letras escritas da palavra na língua portuguesa.

Os textos interpretados em sala de aula são de conteúdos diferentes e variam de grau de
complexidade conforme o vocabulário, a extensão, os jogos de linguagem, o discurso e a
lógica (Barthes, 1977). No caso dos conteúdos pertencentes a mecânica, que abrigam
termos específicos, é frequente a inexistência de equivalentes em LIBRAS, o que transforma
a interpretação numa difícil tarefa.




2
    Datilologia: soletração manual do alfabeto.


                                                                                            7
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Vejamos a seguir alguns exemplos de maquinas e peças utilizadas nos cursos técnicos e
que não possuem sinais correspondentes em LIBRAS.




Figura 5 - Maquina fresadora – muito utilizada no curso de mecânica para fresar as peças.




Figura 6 - Torno mecânico – também utilizado nas aulas praticas nas oficinas.




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Figura 7 - Morsa de mesa utilizada para retifica e usinagem e garante afixação das peças.




Figura 8 - Diversas peças usinadas, torneadas e fresadas.

Em vista deste problema, algumas medidas devem ser tomadas pelo interprete a fim de
poupar o tempo e diminuir os obstáculos de comunicação. Então, alguns sinais são
combinados entre o interprete e os alunos, podendo cada turma gerar um sinal distinto para
o mesmo termo referente. No entanto os recursos mais empregados são a datilologia, a
indicação de palavras no quadro negro e a apresentação de ilustrações, imagens e figuras e
ainda a demonstração de maquinas e peças utilizadas no processo de aprendizagem (as
quais nem sempre estão disponíveis no ato da interpretação).



Método

Para confirmar a necessidade da criação de sinais foi feita uma pesquisa de campo entre
alunos surdos, professores e interpretes de Libras do curso técnico de mecânica na escola



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     SENAI, com a coleta de dados por meio de questionários/entrevista com os informantes
     (alunos, interpretes e professores) com o intuito de captar suas explicações sobre o
     problema. O estudo de campo foi realizado por meio de entrevista a alunos surdos, maiores
     de dezoito anos que cursam curso técnico de mecânica; interpretes de Libras da área
     educacional em questão e, atuantes em comunidades surdas e professores responsáveis
     por ministrarem aulas de mecânica para turmas inclusivas, da Escola SENAI Roberto
     Simonsen.

     A entrevista foi o procedimento escolhido por se tratar de um método flexível para obtenção
     de dados de pesquisa qualitativo. Ressalta-se que todos participaram da atividade proposta
     de forma satisfatória, expressando opiniões, respondendo as questões e mostrando muito
     interesse pelo assunto. Foram criados três roteiros de perguntas: um para guiar a entrevista
     com alunos surdos, um para os intérpretes e outro para os professores, elaborados com
     enunciados tentando enfocar as opiniões de quem fala, de quem interpreta e de quem
     recebe a interpretação. A seleção de perguntas procurou direcionar os entrevistados para o
     aspecto relevante da pesquisa, ou seja, a necessidade da criação de novos sinais.

     Para o conhecimento do conteúdo da entrevista, o quadro abaixo apresenta as perguntas
     aplicadas.

Perguntas para alunos surdos.                               Perguntas para os interpretes de Libras.
1. Como o seu intérprete traduz os termos técnicos de
                                                            1.   Como você traduz um termo técnico de mecânica?
    mecânica?
2. Quando você não conhece o termo, você pede para          2.  Depois de traduzir um termo empregado pelo
    o interprete explicar o seu significado?                    professor, você explica o seu significado?
3. Os termos técnicos utilizados na sua apostila têm        3. Você acha que a explicação de um termo atrapalha
    sinais correspondentes em Libras?                           a fluidez da interpretação?
4. Quando você esta estudando você lembra-se da             4. Geralmente você conhece os sinais dos termos
    explicação ou do sinal usado pelo interprete?               utilizados na mecânica?
5. Quando você não conhece o significado ou esquece         5. Como você procede quando o termo é desconhecido
    o sinal você procura a palavra no dicionário?               pelo aluno?
6. Você encontra a palavra em dicionários de                6. Como você procede quando o termo é desconhecido
    português?                                                  por você?
7. Você entende a explicação do dicionário de               7. Se você utiliza um sinal especifico, qual é a sua
    português?                                                  fonte de informação?
                                                            8. Os dicionários de Libras satisfazem as necessidades
8.    Você encontra a palavra no dicionário de Libras?
                                                                de informações sobre termos específicos?
                                                            9. Em sua opinião as definições determos técnicos em
9.    Você entende a explicação do dicionário de Libras?        dicionários de português são compreensíveis para
                                                                os surdos?
10. Você acha que é possível criar um sinal para cada       10. Em sua opinião como poderia ser facilitada a
    termo técnico?                                              compreensão dos termos pelos surdos?
11. Como você acha que os surdos entenderiam melhor         11. Você conhece sinais referentes a termos específicos
    os termos próprios dos cursos de mecânica?                  cujo conceito já foi interiorizado por surdos?
12. Você acredita que a criação de sinais em LIBRAS         12. Você acredita que a criação de sinais para os termos
    para os termos técnicos facilitaria o entendimento da       técnicos facilitaria a interpretação e o entendimento
    matéria?                                                    do aluno surdo?




                                                                                                                10
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Perguntas para os professores
1. Quando tem aluno surdo na sala de aula você se preocupa em usar palavras que facilitam o entendimento?
2. No caso dos termos técnicos, o que você faz para facilitar o entendimento do aluno surdo?
3. Qual o seu procedimento quando o aluno não entende um termo técnico, e este é desconhecido também pelo
interprete?
 4. Você percebe quando o interprete tem dificuldades de explicar um termo técnico ao aluno? Caso afirmativo, qual
sua atitude?
5. Você acha que a criação de novos sinais em Libras para os termos específicos da mecânica sanaria esta
dificuldade?



As perguntas dirigidas aos alunos Surdos foram devidamente traduzidas para LIBRAS.



Resultados e Discussão

A pesquisa para os alunos nos forneceu as seguintes informações:

        Para a forma mais utilizada para a interpretação de termos técnicos, os Surdos
        responderam ser a soletração manual (datilologia) o recurso mais utilizado pelos
        interpretes, os sinais em LIBRAS o segundo recurso, e o terceiro a demonstração de
        figuras ou a representação da peça. Os alunos normalmente pedem para o interprete
        explicar o significado dos termos.
        As apostilas não têm sinais correspondentes em LIBRAS, foi a maioria das
        respostas, cerca de 50% dos entrevistados disseram não se lembrar da explicação
        ou do sinal utilizado pelo interprete, e destes, apenas 30% procuram o significado
        nos dicionários de português.80% não encontram os termos em nenhum dos
        dicionários, e quando encontram não compreendem o que está escrito.
        80% acreditam que é possível a criação de sinais para os termos técnicos de
        mecânica. E 100% acreditam que esta criação facilitaria o entendimento da matéria
        em questão.




As respostas coletados dos interpretes foram as seguintes:
        Os recursos mais utilizados na interpretação de termos técnicos são os sinais em
        LIBRAS, a datilologia e por ultimo figuras/desenhos e apresentação das peças.
        80% dos interpretes complementam a interpretação fazendo a explicação dos termos
        técnicos e afirmaram que esse procedimento melhora a compreensão do aluno.
        Porem, as opiniões se dividem quando perguntados se tal procedimento atrapalha a
        fluidez da interpretação.
        80% não conhecem os sinais equivalentes aos termos técnicos e por isso se utilizam
        da datilologia ou combinam sinais com os alunos. Quando o termo é desconhecido
        por ambos (interprete e aluno), procuram o professor para mais informações a



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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


       respeito do assunto. Buscam também se informar com outros interpretes/colegas da
       área, que lhes fornecem explicações e alguns sinais já conhecidos pelos alunos.
       Os interpretes entrevistados disseram que os dicionários de LIBRAS são
       insatisfatórios e todos concordam que as definições dos termos encontrados no
       dicionário de Língua Portuguesa são incompreensíveis para os Surdos.
       100% dos entrevistados acreditam que a criação de novos sinais na área da
       mecânica facilitaria o entendimento e a compreensão dos alunos surdos.

Nas respostas dos professores obtivemos os seguintes resultados:

       Apenas 60% dos professores entrevistados se preocupam em usar palavras que
       facilitam o entendimento tendo alunos surdos em sala de aula.
       Para facilitar o entendimento do aluno surdo, 40% dos professores se utilizam de
       desenhos e representações visuais, 40% explicam os termos de formas
       diversificadas, se aproveitando dos termos usados no dia a dia do aluno e 20%
       deixam esta responsabilidade para o interprete.
       Quando o aluno não entende o termo e este também é desconhecido pelo interprete,
       80% dos professores mudam a técnica de explicação, ou seja, se utilizam de
       desenhos/figuras ou apresentam a peça correspondente ao termo; e 20% explicam
       ao interprete para que este trabalhe o conceito junto ao aluno.
       Apenas 20% dos entrevistados não percebem as dificuldades dos interprete; os80%
       tentam ajudar o interprete, reforçando a explicação e utilizam de demonstrações
       visuais, fazendo um bom trabalho junto com o interprete. Muita das vezes o próprio
       interprete é quem pede a ajuda ao professor.
       100% dos entrevistados acreditam que a criação de sinais técnicos facilitariam a
       compreensão e o entendimento da matéria por parte do aluno e também o trabalho
       do interprete.



A criação de sinais

Os Surdos são compreendidos atualmente como pessoas que se comunicam, interagem e
se posicionam na “experiência visual”. Experiência visual envolve todo tipo de significações,
representações e/ou produções, seja no campo intelectual, linguístico, ético, estético,
artístico, cognitivo, cultural, etc.” (SKLIAR, 1999)

O Surdo é uma pessoa que tem a própria língua e cultura própria (SKLIAR, 1998), isto é,
possui a sua língua, a de sinais e tem a sua cultura, porquanto, além da primeira língua, o
surdo constitui-se em um grupo cultural. A característica inicial deste grupo é estimular a
criação cultural surda e possibilitar a existência. Criar envolve toda uma simbologia e


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Universidade Presbiteriana Mackenzie


criatividades humanas: “todos os grupos humanos desenvolvem padrões culturais que
tornam possível sua existência” (Souza e Fleuri, 2003, p. 67), sobretudo, na língua. A cultura
é uma tradição que se renova e que está em contínuo movimento. Busca sempre o novo,
acrescentando valores, descobertas, signos e significados.

Como em outras línguas, a Libras aumenta o vocabulário com novos sinais introduzidos pela
comunidade surda em resposta a mudança cultural e técnica.

Para o Surdo, o acesso ao conhecimento está “intimamente ligado ao uso comum de um
código linguístico prioritariamente visual, uma vez que, de outra forma, “[...] poderá apenas
ter acesso às características físicas do objeto e não as conceituais” (BRASIL, 2005b, p. 83).

A experiência visual dos Surdos produz uma predisposição mental em que a realidade é
percebida prioritariamente a partir da totalidade em vez de sê-lo por partes. O conhecimento
visual se caracteriza pela lógica da conexão e não da separação. Essa característica visual
dos surdos permite-lhes um processamento mental em que o todo passa a ser a principal
estratégia para a produção do conhecimento.

A soletração manual é utilizada nas disciplinas num intervalo curto, até que o aluno se
familiarize com as palavras e então os alunos, interpretes e professores chegam à
conclusão de que esse procedimento lingüístico não é produtivo. A alternativa encontrada,
então, é a de criação de sinais para as palavras técnicas que eram representadas pela
soletração manual.

Vejamos : no inicio usamos as palavras em datilologia




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                                                   ;




                                                       ;




Figura 9 – soletração manual para as palavras fresadora, torno, morsa e peças.



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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Cada letra da palavra é soletrada manualmente, com as configurações de mãos
correspondentes. Com o tempo vamos criando sinais combinando forma e conteúdo, pois a
formação de sinais deve ser feita por processos que a própria língua de sinais oferece.
Lulkin (2006) afirma que o surdo possui uma linguagem dramática, constituindo assim uma
comunidade portadora de um código linguístico diferenciado, que deve ser respeitado. E,
assim, a formação e a informação compartilhada, também devem obedecer este código.
Desta forma os conteúdos específicos terão resultados positivos.(p.32)



Temos então, alguns sinais criados em sala de aula por alunos surdos e seus interpretes3.




                                                     Mão esquerda em b, palma da
                                                     mão voltada para o corpo, Mao
                                                     direita em B voltada para baixo,
                                                     fazendo movimento de vai e vem.




Figura 10 - Sinal criado para a maquina fresadora, em que a peça permanece parada enquanto a ferramenta se
move.



                                                     Mão esquerda em configuração
                                                     C e mão direita em d inclinado,
                                                     fazendo movimento em espiral.




Figura 11 - Sinal criado para torno mecânico, maquina com placa e ferramentas paradas e a peça se
movimenta.




3
    As figuras 10,11, 12, 13 e 14 têm como Fonte: A autora, 2011.



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Universidade Presbiteriana Mackenzie




Figura 12 - Sinal de peça




          Figura 13 - Sinal utilizado para eixo    Figura 14 - Sinal utilizado para técnico




Ao deixarmos a Língua de Sinais ou as expressões viso gestuais em segundo plano,
ignoramos os processos que os sujeitos surdos desenvolvem na criação de enunciados e
conceitos para as suas experiências de vida e seus significado cultural, os quais sustentam
um pensamento abstrato e complexo.



Conclusão

Percebemos que a necessidade de novos sinais na área técnica é real e a criação desses
sinais é imprescindível e urgente pois o mercado de trabalho tem aberto suas portas para os
portadores de necessidades especiais e dentre eles estão os Surdos que procuram os
cursos de mecânica cada vez mais, aumentando muito essa demanda.

Sabendo-se que há poucos sinais registrados na LIBRAS que são equivalentes a termos em
português para os termos técnicos, vemos que os recursos empregados pelos interpretes
para contornar essa escassez são de muita importância.

Contudo,os sinais criados pelos alunos, interpretes e professores, no decorrer das aulas
técnicas de mecânica, são espontâneos e de formação esporádica, ou seja, uma


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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


combinação entre ambas as partes “sob um impulso do momento, apenas para satisfazer
uma necessidade imediata”, conforme Rocha (1998) e se restringem a um grupo pequeno
de usuários, e somente no decorrer do tempo é que poderemos ter a certeza de que foram
internalizados pelos alunos, ou seja, se tornarão familiarizados e aceitos pela comunidade
surda.

Diante do exposto, propõe-se aqui para o futuro a continuação da pesquisa para a formação
de um glossário lúdico em LIBRAS.



Referências

BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1977

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002b. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº. 10406, de 10 de janeiro de 2002a. Institui o Código Civil Brasileiro.

BRASIL. Ministério da Educação - Secretaria de Educação Especial. Desenvolvendo
competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos surdos. Brasília:
MEC/SEESP, 2005b.

BRITO, Lucinda. F. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1995.

FERNANDES, Sueli e STROBEL, Karin Lilian. Aspectos lingüísticos da LIBRAS. Curitiba:
SEED/SUED/DEE, 1998.

GESSER, Audrei. Libras?:que língua é essa? crenças e preconceitos em torno da língua de
sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.

KLIMA, E.S. & BELLUGI, U. The signs of language.Cambridge: HarwardUniversity Press,
1979.

LIBRAS - Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para
Educação Infantil e Ensino Fundamental: Libras / Secretaria Municipal de Educação- São
Paulo: SME / DOT, 2008.

LIRA, Guilherme de A.; SOUZA, Tanya Amara F. de. Dicionário Digital da Língua Brasileira
de Sinais. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Educação de Surdos, 2005. Acessibilidade
Brasil.www.acessobrasil.org.br

LULKIN, Andrés Sergio. In SKLIAR, Carlos. Educação & exclusão: abordagens sócio-
antropológicas em educação especial. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006.



                                                                                               16
Universidade Presbiteriana Mackenzie


PERLIN, G. Identidades surdas. In SKLIAR, C. (org.). Um olhar sobre as diferenças. Porto
Alegre: Ed. Mediação, 1998.

SKLIAR, Carlos. Atualidade da educação bilíngüe para surdos: processos e projetos
pedagógicos. Vol.1. Porto Alegre: Mediação. 1999.




Contato: nete.santos1@yahoo.com.br e biapsantana@mackenzie.br




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Novos sinais técnicos para cursos de mecânica

  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie LIBRAS E ENSINO TÉCNICO: A NECESSIDADE DE NOVOS SINAIS Irinete Maria dos Santos Silva (IC) e Beatriz Pereira de Santana (Orientadora) Apoio: PIVIC Mackenzie/MackPesquisa Resumo Este artigo tem como propósito mostrar a necessidade da criação de novos sinais em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para os termos técnicos utilizados nos cursos de mecânica e, assim, proporcionar de fato um ensino pautado em práticas bilíngües para Surdos, para os quais a Língua de Sinais é considerada a primeira língua, e a Língua Portuguesa escrita segunda língua; mostrar também as diferenças existentes em relação as modalidades utilizadas, sendo a primeira visual espacial e a segunda oral auditiva. . Para tanto, inicialmente procura explicar a estrutura da LIBRAS que é uma língua oficial e os benefícios que esta traz para o Surdo, sendo esta um código linguístico privilegiado de interação, que depende de um estado de atenção em diversos sentidos para ser compreendido. Para tanto, baseia-se nos estudos de Carlos Skliar, Lucinda Ferreira Brito e outros. A partir de uma pesquisa de campo demonstra as dificuldades dos interpretes de cursos técnicos em conhecer e traduzir palavras técnicas de áreas específicas e suas habilidades em transformar palavras desconhecidas em sinais compreensíveis aos alunos surdos. Como resultado, observa-se que somente a partir da interação entre alunos surdos, interpretes e professores é possível a criação de novos sinais e que apenas com a aprovação da comunidade surda os sinais criados se tornem definitivos. Dessa forma, a fim de exemplificar, são apresentadas fotos de algumas máquinas e ferramentas utilizadas do curso de mecânica e seus respectivos sinais. .Por fim, conclui-se que criação e elaboração de novos sinais em LIBRAS poderá constituir, no futuro, o início de um glossário lúdico. Palavras-chave: LIBRAS; interpretes; palavras técnicas; novos sinais Abstract This article aims to show the necessity of creating new signs in LIBRAS (Brazilian Sign Language) for the technical terms used in courses on mechanics and thus provide a truly bilingual education process based on practices for the Deaf, for which Sign Language is considered the first language, Portuguese language and second language writing; also show differences regarding the methods used, the first visual space and the second oral hearing. . For much initially seeks to explain the structure of LIBRAS which is an official language and the benefits that this brings for the Deaf, which is a privileged language code interaction, which depends on a state of attention in many ways to be understood. To do so, based on the studies of Carlos Skliar, Lucinda Ferreira Brito and others. From a field study demonstrates the difficulties of the interpreters of technical courses in learning and translating technical terms of specific areas and their ability to turn unfamiliar words into signals understandable to deaf students. As a result, it is observed only from the interaction between deaf students, interpreters and teachers is possible to create new signs and that only with the approval of the deaf community created the signs become permanent. Thus, to exemplify, we present pictures of some machines and tools used in mechanics course and their signs. . Finally, we conclude that the creation and development of new signs at LIBRAS will be in the future, the beginning of a glossary of play. Key-words: LIBRAS, interpreters; technical words, new signs 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Introdução LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, também conhecida como LSB (Língua de Sinais Brasileira), é a língua natural das comunidades surdas do Brasil. Ao contrário do que muitos pensam as Línguas de Sinais (LS) não são simplesmente mímicas e gestos soltos, utilizados pelos Surdos1 para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas gramaticais próprias. LIBRAS não é o português nas mãos, em que os sinais substituem as palavras. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas são denominados sinais nas línguas de sinais. O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-gestual. Isto é se distinguem das línguas orais porque se utilizam do canal visual-espacial e não oral-auditivo. Por este motivo, são denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou visual-espacial), uma vez que a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida no espaço pelas mãos, pelo movimento do corpo e pela expressão facial. Os surdos utilizam a língua de sinais pura entre eles, e não compreendem o significado de determinadas palavras do português, gerando conceitos complexos e abstratos. O que faz com que informações dadas por professores nos cursos técnicos de formação profissional sejam difíceis de compreender, deste modo, aprender uma nova informação é tarefa árdua para estudantes surdos, e a carência de sinais específicos de determinadas áreas de estudos torna a interpretação da aula igualmente difícil, para o profissional interprete. As dificuldades enfrentadas por esses profissionais são inúmeras no processo de ensino profissional. E devido o fato de a LIBRAS ser ainda uma língua em construção, apresenta lacunas ao se tratar de sinais específicos de algumas profissões. Desta forma, o presente artigo tem como questão principal investigar as dificuldades e limitações vividas por estudantes surdos, intérpretes educacionais e professores no que se refere ao ensino técnico de mecânica e, principalmente, a terminologia específica; e, dentro disso, verificar a possibilidade da criação de novos sinais em Libras para determinados termos da área; avaliar os termos em uso, analisar a forma como o intérprete de Libras expõe um novo sinal diante de uma palavra técnica e complexa no processo de construção da aprendizagem de alunos surdos, futuros profissionais, inseridos numa sala de aula com alunos ouvintes, dentro de uma escola que se encontra em processo de construção da inclusão. 1 Surdos: neste trabalho o termo Surdo com “S” maiúsculo designa um grupo cultural e uma comunidade lingüística. Assim como Skliar (2001). 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie Referencial Teórico A estrutura da LIBRAS Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, ambas seguem os mesmos princípios no sentido de que têm um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, ou seja, um sistema de regras que rege o uso desses símbolos. A LIBRAS apresenta regras que respondem pela formação dos sinais e pela organização dos mesmos nas estruturas frasais e no discurso. Mesmo tendo uma Gramática própria (Sacks, 1990, p76), as línguas de sinais, dentre elas a LIBRAS, possuem um rico sistema de classificadores, possibilitando aos nativos dessas línguas a construção de uma estrutura sintática cheia de relações gramaticais altamente abstratas. Segundo Fernandes e Strobel (1998: 30), classificador (Cl): é uma forma que estabelece um tipo de concordância em uma língua. Na LIBRAS, os classificadores são formas representadas por configurações de mão que, relacionadas à coisas, pessoas e animais, funcionam como marcadores de concordância. Os classificadores são usados para designar a forma e o tamanho dos referentes, bem como as características dos movimentos dos seres em uma determinada situação. Nesses casos, apresentam-se “com a função de descrever o referente do nome (adjetivo), substituir o referente do nome ou localizar os referentes (locativos)” (Fernandes e Strobel, 1998: 30). Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. Na LIBRAS podemos encontrar os seguintes parâmetros que formarão os sinais: configuração das mãos, ponto de articulação, movimento, expressão facial e/ou corporal e orientação/direção. Segundo Brito (1995, p. 36) a estrutura da LSB é constituída a partir de parâmetros primários e secundários que se combinam de forma sequencial ou simultânea. Os parâmetros primários são: a) As configurações de mãos, que são as diversas formas que as mão adquirem na realização de sinais, são 46 configurações de mão; b) O ponto de articulação é o espaço em frente ao corpo ou uma região do próprio corpo, onde os sinais são articulados. c) O movimento é um parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direções, desde os movimentos internos da mão, os movimentos do pulso, os movimentos direcionais no espaço até conjuntos de movimentos no mesmo sinal. 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Os parâmetros secundários secundários: a) Disposição das mãos em que as articulações dos sinais podem ser feitas apenas mãos, pela mão dominante ou pelas duas mãos. b) Orientação da(s) mão(s) é a direção da palma da mão durante o sinal: voltada para cima, para baixo,para o corpo, para frente, para a esquerda ou para a direita. c) Região de contato refere se à parte da mão que entra em contato com o corpo. Esse refere-se contato pode-se dar de maneiras diferentes: através de um toque, de um risco, de um se deslizamento, etc. Existem 46 configurações de mão diferentes para L xistem LIBRAS, e elas podem ser diferenciados quanto odem às posições, número de dedos estendidos, o contato e a contração (mãos fechadas ou compactas) dos dedos. Conforme quadro abaixo abaixo: Figura 1 - Configurações de mãos Ponto de articulação é o local do corpo do sinalizador em que o sinal é realizado; assim, uma maior especificação da posição é necessária, já que a região no espaço é muito ampla. Esse espaço é limitado e vai desde o topo da cabeça até a cintura sendo alguns pontos até mais precisos, tais como a ponta do nariz, e outros, mais abrangentes, como a frente do ais tórax. 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie Figura 2 – pontos de articulação, BRITO 1995 O movimento, para que seja realizado, é preciso haver um objeto e um espaço. Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço em que o movimento se realiza é a área em torno do corpo do enunciador. Já a maneira descreve a qualidade, a tensão e a velocidade, podendo, assim, haver movimentos mais rápidos, mais tensos, mais frouxos, enquanto a freqüência indica se os movimentos são simples ou repetidos. Existe outro parâmetro, que são os traços não-manuais, que envolvem a expressão facial, o movimento corporal e o olhar. Como ocorre em outras línguas de sinais, a Língua Brasileira de Sinais apresenta regras que estabelecem combinações possíveis e não possíveis entre os parâmetros de configuração das mãos, movimento, localização e orientação das palmas das mãos na formação dos sinais. Assim, se um sinal for produzido com as duas mãos e ambas se moverem, elas devem ter a mesma configuração,a localização deve ser a mesma ou simétrica e o movimento deve ser simultâneo ou alternado. Trata-se da Condição de Simetria. Exemplos são: TRABALHAR, FAMÍLIA e BRINCAR. Figura 3 – sinais de trabalhar, família e brincar 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Se, no entanto, a configuração das mãos for diferente, aplica-se a Condição de Dominância, ou seja, apenas uma mão, a ativa, se move; a outra serve de apoio. Exemplos: ÁRVORE, PAPEL e VERDADE. (BRASIL, 2008) Figura 4 – sinais de arvore, papel e verdade. (Imagens: Lira e Souza, 2005) Os sinais não devem ser construídos de forma aleatória, mas, a utilização de sinais unidos em frase é a forma certa de se comunicar com os Surdos, pois os sinais em conjunto formam o contexto que facilita o entendimento. A LIBRAS foi reconhecida oficialmente em nosso país, como língua oficial dos Surdos pela Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 e regulamentada pelo Decreto nº 5626, de 22 de dezembro de 2005, que não só regulamenta a Lei de LIBRAS, mas também tem como objetivo a inclusão do Surdo. Oficialmente a LIBRAS é considerada a primeira língua do Surdo, a segunda, é o idioma oficial do país de origem, no Brasil, a Língua Portuguesa, em sua modalidade escrita (BRASIL, 2005a). Esta é a única língua que possibilita à pessoa surda entrar em contato com todas as características linguísticas. O Ministério da Educação (MEC), pela Secretaria de Educação Especial, afirma que: [...] as línguas de sinais devem ter o mesmo status das línguas orais, uma vez que se prestam às mesmas funções: podem expressar os pensamentos mais complexos, as idéias mais abstratas e as emoções mais profundas, sendo adequadas para transmitir informações e para ensinar. São tão completas quanto as línguas orais e estão sendo estudadas cientificamente em todo o mundo. Coexistem com as línguas orais, mas são independentes e possuem estrutura gramatical própria e complexa, com regras fonológicas, morfológicas, semânticas, sintáticas e pragmáticas (BRASIL, 2005b, p.76). Então, a lei estabelece que a LIBRAS é língua, uma vez que apresenta estruturas sintática e semântica próprias de uma língua. Observa-se que o decreto confirma isto, ao instituir o 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie ensino de LIBRAS nos cursos de licenciatura, o que demonstra que a LIBRAS pode e deve fazer parte do cotidiano dos futuros educadores, bem como de alunos surdos. Conforme Gesser (2009), LIBRAS passou a ser considerada uma língua na década de 60, quando lhe foi conferida o status linguístico e, ainda hoje, continuamos a afirmar e reafirmar essa legitimidade. É a legitimidade da língua que confere ao surdo alguma “libertação”. Ou seja, é por meio da sua própria maneira de ser e se comunicar que o surdo se estabelece como sujeito. A LIBRAS é uma língua viva, o que a torna capaz de mudanças e criações, “pode-se dizer que as línguas de sinais são ilimitadas no sentido de que não há restrição quanto as possibilidades de expressão.” SME 2008. Então, a LIBRAS é uma língua natural que nasceu da interação de pessoas surdas e atende as necessidades de comunicação destas pessoas, que podem aumentar seu vocabulário com novos sinais introduzidos pelas comunidades surdas de acordo com as mudanças culturais e as tecnológicas, ou seja, de acordo com as necessidades pode surgir um novo sinal e, se este for aceito pela comunidade poderá ser utilizado pela mesma. Cursos técnicos e seus termos específicos Os cursos técnicos trazem palavras complexas, condizentes com as suas especificidades, o que torna uma aula muitas vezes desconfortante para os alunos surdos e seus interpretes, tornando assim necessária a criação de sinais correspondentes para essas palavras. Falaremos aqui,do curso técnico de mecânica, com suas expressões próprias de uma área especifica, nomes de maquinas e ferramentas, equipamentos e peças variadas. As palavras técnicas utilizadas no início das atividades de ensino e de aprendizagem da disciplina em questão não faziam parte do léxico mental da maioria dos alunos. Por serem palavras técnicas e de pouco uso pelos alunos do curso, inicialmente professor e alunos utilizaram-se da datilologia2 soletração manual, que vai formando a palavra através das configurações de mãos correspondentes à sequência de letras escritas da palavra na língua portuguesa. Os textos interpretados em sala de aula são de conteúdos diferentes e variam de grau de complexidade conforme o vocabulário, a extensão, os jogos de linguagem, o discurso e a lógica (Barthes, 1977). No caso dos conteúdos pertencentes a mecânica, que abrigam termos específicos, é frequente a inexistência de equivalentes em LIBRAS, o que transforma a interpretação numa difícil tarefa. 2 Datilologia: soletração manual do alfabeto. 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Vejamos a seguir alguns exemplos de maquinas e peças utilizadas nos cursos técnicos e que não possuem sinais correspondentes em LIBRAS. Figura 5 - Maquina fresadora – muito utilizada no curso de mecânica para fresar as peças. Figura 6 - Torno mecânico – também utilizado nas aulas praticas nas oficinas. 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie Figura 7 - Morsa de mesa utilizada para retifica e usinagem e garante afixação das peças. Figura 8 - Diversas peças usinadas, torneadas e fresadas. Em vista deste problema, algumas medidas devem ser tomadas pelo interprete a fim de poupar o tempo e diminuir os obstáculos de comunicação. Então, alguns sinais são combinados entre o interprete e os alunos, podendo cada turma gerar um sinal distinto para o mesmo termo referente. No entanto os recursos mais empregados são a datilologia, a indicação de palavras no quadro negro e a apresentação de ilustrações, imagens e figuras e ainda a demonstração de maquinas e peças utilizadas no processo de aprendizagem (as quais nem sempre estão disponíveis no ato da interpretação). Método Para confirmar a necessidade da criação de sinais foi feita uma pesquisa de campo entre alunos surdos, professores e interpretes de Libras do curso técnico de mecânica na escola 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 SENAI, com a coleta de dados por meio de questionários/entrevista com os informantes (alunos, interpretes e professores) com o intuito de captar suas explicações sobre o problema. O estudo de campo foi realizado por meio de entrevista a alunos surdos, maiores de dezoito anos que cursam curso técnico de mecânica; interpretes de Libras da área educacional em questão e, atuantes em comunidades surdas e professores responsáveis por ministrarem aulas de mecânica para turmas inclusivas, da Escola SENAI Roberto Simonsen. A entrevista foi o procedimento escolhido por se tratar de um método flexível para obtenção de dados de pesquisa qualitativo. Ressalta-se que todos participaram da atividade proposta de forma satisfatória, expressando opiniões, respondendo as questões e mostrando muito interesse pelo assunto. Foram criados três roteiros de perguntas: um para guiar a entrevista com alunos surdos, um para os intérpretes e outro para os professores, elaborados com enunciados tentando enfocar as opiniões de quem fala, de quem interpreta e de quem recebe a interpretação. A seleção de perguntas procurou direcionar os entrevistados para o aspecto relevante da pesquisa, ou seja, a necessidade da criação de novos sinais. Para o conhecimento do conteúdo da entrevista, o quadro abaixo apresenta as perguntas aplicadas. Perguntas para alunos surdos. Perguntas para os interpretes de Libras. 1. Como o seu intérprete traduz os termos técnicos de 1. Como você traduz um termo técnico de mecânica? mecânica? 2. Quando você não conhece o termo, você pede para 2. Depois de traduzir um termo empregado pelo o interprete explicar o seu significado? professor, você explica o seu significado? 3. Os termos técnicos utilizados na sua apostila têm 3. Você acha que a explicação de um termo atrapalha sinais correspondentes em Libras? a fluidez da interpretação? 4. Quando você esta estudando você lembra-se da 4. Geralmente você conhece os sinais dos termos explicação ou do sinal usado pelo interprete? utilizados na mecânica? 5. Quando você não conhece o significado ou esquece 5. Como você procede quando o termo é desconhecido o sinal você procura a palavra no dicionário? pelo aluno? 6. Você encontra a palavra em dicionários de 6. Como você procede quando o termo é desconhecido português? por você? 7. Você entende a explicação do dicionário de 7. Se você utiliza um sinal especifico, qual é a sua português? fonte de informação? 8. Os dicionários de Libras satisfazem as necessidades 8. Você encontra a palavra no dicionário de Libras? de informações sobre termos específicos? 9. Em sua opinião as definições determos técnicos em 9. Você entende a explicação do dicionário de Libras? dicionários de português são compreensíveis para os surdos? 10. Você acha que é possível criar um sinal para cada 10. Em sua opinião como poderia ser facilitada a termo técnico? compreensão dos termos pelos surdos? 11. Como você acha que os surdos entenderiam melhor 11. Você conhece sinais referentes a termos específicos os termos próprios dos cursos de mecânica? cujo conceito já foi interiorizado por surdos? 12. Você acredita que a criação de sinais em LIBRAS 12. Você acredita que a criação de sinais para os termos para os termos técnicos facilitaria o entendimento da técnicos facilitaria a interpretação e o entendimento matéria? do aluno surdo? 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie Perguntas para os professores 1. Quando tem aluno surdo na sala de aula você se preocupa em usar palavras que facilitam o entendimento? 2. No caso dos termos técnicos, o que você faz para facilitar o entendimento do aluno surdo? 3. Qual o seu procedimento quando o aluno não entende um termo técnico, e este é desconhecido também pelo interprete? 4. Você percebe quando o interprete tem dificuldades de explicar um termo técnico ao aluno? Caso afirmativo, qual sua atitude? 5. Você acha que a criação de novos sinais em Libras para os termos específicos da mecânica sanaria esta dificuldade? As perguntas dirigidas aos alunos Surdos foram devidamente traduzidas para LIBRAS. Resultados e Discussão A pesquisa para os alunos nos forneceu as seguintes informações: Para a forma mais utilizada para a interpretação de termos técnicos, os Surdos responderam ser a soletração manual (datilologia) o recurso mais utilizado pelos interpretes, os sinais em LIBRAS o segundo recurso, e o terceiro a demonstração de figuras ou a representação da peça. Os alunos normalmente pedem para o interprete explicar o significado dos termos. As apostilas não têm sinais correspondentes em LIBRAS, foi a maioria das respostas, cerca de 50% dos entrevistados disseram não se lembrar da explicação ou do sinal utilizado pelo interprete, e destes, apenas 30% procuram o significado nos dicionários de português.80% não encontram os termos em nenhum dos dicionários, e quando encontram não compreendem o que está escrito. 80% acreditam que é possível a criação de sinais para os termos técnicos de mecânica. E 100% acreditam que esta criação facilitaria o entendimento da matéria em questão. As respostas coletados dos interpretes foram as seguintes: Os recursos mais utilizados na interpretação de termos técnicos são os sinais em LIBRAS, a datilologia e por ultimo figuras/desenhos e apresentação das peças. 80% dos interpretes complementam a interpretação fazendo a explicação dos termos técnicos e afirmaram que esse procedimento melhora a compreensão do aluno. Porem, as opiniões se dividem quando perguntados se tal procedimento atrapalha a fluidez da interpretação. 80% não conhecem os sinais equivalentes aos termos técnicos e por isso se utilizam da datilologia ou combinam sinais com os alunos. Quando o termo é desconhecido por ambos (interprete e aluno), procuram o professor para mais informações a 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 respeito do assunto. Buscam também se informar com outros interpretes/colegas da área, que lhes fornecem explicações e alguns sinais já conhecidos pelos alunos. Os interpretes entrevistados disseram que os dicionários de LIBRAS são insatisfatórios e todos concordam que as definições dos termos encontrados no dicionário de Língua Portuguesa são incompreensíveis para os Surdos. 100% dos entrevistados acreditam que a criação de novos sinais na área da mecânica facilitaria o entendimento e a compreensão dos alunos surdos. Nas respostas dos professores obtivemos os seguintes resultados: Apenas 60% dos professores entrevistados se preocupam em usar palavras que facilitam o entendimento tendo alunos surdos em sala de aula. Para facilitar o entendimento do aluno surdo, 40% dos professores se utilizam de desenhos e representações visuais, 40% explicam os termos de formas diversificadas, se aproveitando dos termos usados no dia a dia do aluno e 20% deixam esta responsabilidade para o interprete. Quando o aluno não entende o termo e este também é desconhecido pelo interprete, 80% dos professores mudam a técnica de explicação, ou seja, se utilizam de desenhos/figuras ou apresentam a peça correspondente ao termo; e 20% explicam ao interprete para que este trabalhe o conceito junto ao aluno. Apenas 20% dos entrevistados não percebem as dificuldades dos interprete; os80% tentam ajudar o interprete, reforçando a explicação e utilizam de demonstrações visuais, fazendo um bom trabalho junto com o interprete. Muita das vezes o próprio interprete é quem pede a ajuda ao professor. 100% dos entrevistados acreditam que a criação de sinais técnicos facilitariam a compreensão e o entendimento da matéria por parte do aluno e também o trabalho do interprete. A criação de sinais Os Surdos são compreendidos atualmente como pessoas que se comunicam, interagem e se posicionam na “experiência visual”. Experiência visual envolve todo tipo de significações, representações e/ou produções, seja no campo intelectual, linguístico, ético, estético, artístico, cognitivo, cultural, etc.” (SKLIAR, 1999) O Surdo é uma pessoa que tem a própria língua e cultura própria (SKLIAR, 1998), isto é, possui a sua língua, a de sinais e tem a sua cultura, porquanto, além da primeira língua, o surdo constitui-se em um grupo cultural. A característica inicial deste grupo é estimular a criação cultural surda e possibilitar a existência. Criar envolve toda uma simbologia e 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie criatividades humanas: “todos os grupos humanos desenvolvem padrões culturais que tornam possível sua existência” (Souza e Fleuri, 2003, p. 67), sobretudo, na língua. A cultura é uma tradição que se renova e que está em contínuo movimento. Busca sempre o novo, acrescentando valores, descobertas, signos e significados. Como em outras línguas, a Libras aumenta o vocabulário com novos sinais introduzidos pela comunidade surda em resposta a mudança cultural e técnica. Para o Surdo, o acesso ao conhecimento está “intimamente ligado ao uso comum de um código linguístico prioritariamente visual, uma vez que, de outra forma, “[...] poderá apenas ter acesso às características físicas do objeto e não as conceituais” (BRASIL, 2005b, p. 83). A experiência visual dos Surdos produz uma predisposição mental em que a realidade é percebida prioritariamente a partir da totalidade em vez de sê-lo por partes. O conhecimento visual se caracteriza pela lógica da conexão e não da separação. Essa característica visual dos surdos permite-lhes um processamento mental em que o todo passa a ser a principal estratégia para a produção do conhecimento. A soletração manual é utilizada nas disciplinas num intervalo curto, até que o aluno se familiarize com as palavras e então os alunos, interpretes e professores chegam à conclusão de que esse procedimento lingüístico não é produtivo. A alternativa encontrada, então, é a de criação de sinais para as palavras técnicas que eram representadas pela soletração manual. Vejamos : no inicio usamos as palavras em datilologia ; ; ; Figura 9 – soletração manual para as palavras fresadora, torno, morsa e peças. 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Cada letra da palavra é soletrada manualmente, com as configurações de mãos correspondentes. Com o tempo vamos criando sinais combinando forma e conteúdo, pois a formação de sinais deve ser feita por processos que a própria língua de sinais oferece. Lulkin (2006) afirma que o surdo possui uma linguagem dramática, constituindo assim uma comunidade portadora de um código linguístico diferenciado, que deve ser respeitado. E, assim, a formação e a informação compartilhada, também devem obedecer este código. Desta forma os conteúdos específicos terão resultados positivos.(p.32) Temos então, alguns sinais criados em sala de aula por alunos surdos e seus interpretes3. Mão esquerda em b, palma da mão voltada para o corpo, Mao direita em B voltada para baixo, fazendo movimento de vai e vem. Figura 10 - Sinal criado para a maquina fresadora, em que a peça permanece parada enquanto a ferramenta se move. Mão esquerda em configuração C e mão direita em d inclinado, fazendo movimento em espiral. Figura 11 - Sinal criado para torno mecânico, maquina com placa e ferramentas paradas e a peça se movimenta. 3 As figuras 10,11, 12, 13 e 14 têm como Fonte: A autora, 2011. 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie Figura 12 - Sinal de peça Figura 13 - Sinal utilizado para eixo Figura 14 - Sinal utilizado para técnico Ao deixarmos a Língua de Sinais ou as expressões viso gestuais em segundo plano, ignoramos os processos que os sujeitos surdos desenvolvem na criação de enunciados e conceitos para as suas experiências de vida e seus significado cultural, os quais sustentam um pensamento abstrato e complexo. Conclusão Percebemos que a necessidade de novos sinais na área técnica é real e a criação desses sinais é imprescindível e urgente pois o mercado de trabalho tem aberto suas portas para os portadores de necessidades especiais e dentre eles estão os Surdos que procuram os cursos de mecânica cada vez mais, aumentando muito essa demanda. Sabendo-se que há poucos sinais registrados na LIBRAS que são equivalentes a termos em português para os termos técnicos, vemos que os recursos empregados pelos interpretes para contornar essa escassez são de muita importância. Contudo,os sinais criados pelos alunos, interpretes e professores, no decorrer das aulas técnicas de mecânica, são espontâneos e de formação esporádica, ou seja, uma 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 combinação entre ambas as partes “sob um impulso do momento, apenas para satisfazer uma necessidade imediata”, conforme Rocha (1998) e se restringem a um grupo pequeno de usuários, e somente no decorrer do tempo é que poderemos ter a certeza de que foram internalizados pelos alunos, ou seja, se tornarão familiarizados e aceitos pela comunidade surda. Diante do exposto, propõe-se aqui para o futuro a continuação da pesquisa para a formação de um glossário lúdico em LIBRAS. Referências BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1977 BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002b. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. BRASIL. Lei nº. 10406, de 10 de janeiro de 2002a. Institui o Código Civil Brasileiro. BRASIL. Ministério da Educação - Secretaria de Educação Especial. Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2005b. BRITO, Lucinda. F. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. FERNANDES, Sueli e STROBEL, Karin Lilian. Aspectos lingüísticos da LIBRAS. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998. GESSER, Audrei. Libras?:que língua é essa? crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. KLIMA, E.S. & BELLUGI, U. The signs of language.Cambridge: HarwardUniversity Press, 1979. LIBRAS - Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para Educação Infantil e Ensino Fundamental: Libras / Secretaria Municipal de Educação- São Paulo: SME / DOT, 2008. LIRA, Guilherme de A.; SOUZA, Tanya Amara F. de. Dicionário Digital da Língua Brasileira de Sinais. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Educação de Surdos, 2005. Acessibilidade Brasil.www.acessobrasil.org.br LULKIN, Andrés Sergio. In SKLIAR, Carlos. Educação & exclusão: abordagens sócio- antropológicas em educação especial. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. 16
  • 17. Universidade Presbiteriana Mackenzie PERLIN, G. Identidades surdas. In SKLIAR, C. (org.). Um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Ed. Mediação, 1998. SKLIAR, Carlos. Atualidade da educação bilíngüe para surdos: processos e projetos pedagógicos. Vol.1. Porto Alegre: Mediação. 1999. Contato: nete.santos1@yahoo.com.br e biapsantana@mackenzie.br 17