2. P. Brueghel, Parábola do semeador, 1557
O Jardim na História
da Antiguidade à Idade Média.
Profª Cássia Mariano - 2012.
3. JARDIM:
( garden, garten, giardino, jardín) Árvore / água / vida / luz / ar
GAN (hebreu arcaico) – proteger ou
defender
ODEN ou EDEN - prazer ou deleite
Jardim expressão de arte –
correspondência cultural, filosófica ou
religiosa de refinado senso estético e
simbólico (valores) da sociedade que o
constrói.
Filosofia: arquétipo da perfeição;
Manifestação artística e filosófica em
correspondência a imagem do mundo
ideal;
Religião: origem e fim da vida; espaço
de transcendência entre o céu e a terra
Jardim- associado à elite ao poder:
aristocracia e religioso, até o séc. 19.
Bosch, Jardim do Éden, 1504, Palácio do Prado.
4. Primórdios: R.A.:8.000 a.C. Concentrações humanas nos vales dos rios Tigres,
Eufrates: uso das técnicas de agricultura e de irrigação com refinado
aprimoramento estético na construção de espaços delimitados consagrados ao
luxo e ao prazer.
JARDIM como SIMBOLISMO: elementos da natureza selecionados e ordenados
no território; a natureza domesticada pelo homem (construção).
5. 3 matrizes: CIVILIZAÇÃO CENTRAL
CIVILIZAÇÃO ORIENTAL
Jardim Persa em Shiraz
CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL
Sheihoji, Kioto, Japão
Vila Adriano, Tivoli, Itália
6. Civilizações
centrais
Oriente Médio,
Islã
Islã no ocidente e no
oriente
Jardins suspensos da Babilônia, 3.500a.C.
Geometria como elemento de estruturação e de intervenção no território;
Racionalidade da paisagem construída;
Transformações no território e engenharia da paisagem;
Jardins como oásis e a natureza idealizada como harmonia;
7. Oriente Médio - Ásia Ocidental – 2.250a.C. ~ 630d.C.
O clima ameno e
bosqueado do norte da
Mesopotâmia e a
regularização de rios
estão na base das
Zigurat de Ur
cidades-estados.
Isolamento pelos desertos
– base da organização
social;
Jardim: estrutura
quadrangular sobreposta
para o desfrute da
paisagem à distância;
interior distinto do exterior
(hostil); geometria e
simetria na ordenação,
água em canal, introdução
de árvores exóticas.
Templo Bahai, Haifa, Israel
8. Mesopotâmia (Iraque)
Jardim como oásis verde: espaços
geometrizados no interior de muros,
cujos elementos principais eram os
canais de irrigação (e refrigeração) e
as árvores como objetos de
veneração, a ladeá-los; Água em canais e tanques e bosques
de árvores com plantio regular foram
Os jardins constituíam espaços
incorporados nos jardins, por motivos
exclusivos da realeza
funcionais e de conforto físico.
Palácio de Khorsabad, Mesopotâmia ~ 1.350 a.C. a 715a.C. atual Iraque Painel dos jardins de Khorsabad
9. Pérsia – 500a.C ~ 1.450 d.C – Islã.
Extraordinário desenvolvimento cultural:
astronomia, matemática (geometria), agricultura,
medicina, alquimia, filosofia: todo tipo de
ciência, sistema de ensino; literatura; filósofos
enciclopédicos;
Religião monoteísta: Deus único, cuja
existência se expressa na fundamentalidade
da própria natureza;
Ispahan, praça real
Jardim: lugar para debates capaz de “absorver”
na harmonia dos espaços os contrapontos da
religiosidade e da lógica filosófica.
“sob muros protegidos,
árvores frutíferas e flores
aromáticas cresciam em
canteiros entre riachos a
partir de uma fonte central e
formavam os 4 rios
fundamentais: símbolo da
cruz cósmica, os 4 rios
celestiais circundavam
canteiros que continham
todos os frutos da terra”.
Ali Qapu, Ispahan Representação do jardim persa
10. Ispahan, cidade dos jardins (capital da dinastia dos Safáridas) projetada por Abbas I, como
“uma flor no meio do deserto”.
Jardins geométricos de
proporções quadradas e
retangulares
construídos em
justaposição conformam
a cidade – possível
expansão pela
continuidade; Princípio
de desenho urbano.
Jardins de grande
exuberância, para a
Ispahan, plano da cidade, seqüência de jardins, palácios e mesquitas
diversão, consagrados
ao prazer, ao amor, à
saúde e ao luxo. Água
em fontes e canais –
elemento de grande
valor e simbolismo.
11. Espanha: Expansão do Islã no ocidente: 711 ~ 1492. Andaluzia, Granada.
Condição climática similar a dos territórios do oriente
médio;
Composição está baseada na vista sobre Granada
(fortificação e controle); Jardins e arquitetura:
espaços geometricamente proporcionados para a
escala humana; estreita vinculação entre espaços
interiores e exteriores; “controle climático”, frescor e
vistas panorâmicas.
Generalife: residência de verão dos reis Nazar,
Filosofia do prazer pela vida e pelo amor estão construído 300 anos após Alhambra;
expressos nos jardins – referência no Renascimento.
12. Alhambra, 1240 – 1391. (1492).
Estrutura espacial cruciforme e de
justaposição; o complexo não possui
planta unificada – simetria demasiada
poderia ser ofensiva a Alah.
Delicada composição espacial . O
interior se projeta para o exterior,
através de muros para captar vistas;
construções avarandadas; pátios como
oásis, vegetação com intenso
cromatismo; água: elemento de valor; o
passeio como deleite.
13. Alhambra: Pátios externos se expandem para o espaço construído –
referência da arte moura; uso de topiaria.
Água: extremo valor.
14. Índia: Expansão do Islã no Oriente: Taj Mahal: – Delhi e Agra – 1220 ~ 1700.
Taj Mahal – busca do equilíbrio entre terra e
céu; paisagem metafísica, centralidade,
proporcionalidade;
Conjunto desenvolvido sob referências persas;
Jardim islâmico de grande simbolismo;
princípio clássico e cruciforme; geometria de
cânones; simetria; água como elemento
central, reflexibilidade e placidez; vegetação
luxuriante; concepção é extremamente original
- forte referência no Renascimento.
Taj Mahal, margem do rio Jumna, Agra, 1632 a 1654.
15. Índia Mongol
Expansão do Islã no oriente:
Shalamar Bagh – seqüência
de jardins quadrangulares e
escalonados – adaptado à
topografia;
Serenidade: adequação ao
modelado do terreno e ao
entorno montanhoso; Shamamar Bagh, 1620
Cursos d’água percorrem os
jardins; reflexibilidade com a
arquitetura.
16. Civilizações orientais China: ciências metafísicas e da terra
fundamentam a concepção dos
Civilizações estruturadas pela religião espaços; a cosmologia enfatiza o
e pela ética: base da ordenação parentesco entre arquitetura e
espacial; sociedade: sem harmonia não pode
haver paz; os elementos são
Jardim: forma orgânica, sinuosa,
complementares – yang / yin ; todas as
sensível, espaço de corpo indivisível
formas têm forças cósmicas e estão
entre interior e exterior. Jardins são
investidas de espírito humano ou
espaços para a meditação
animal;
Japão: limites espaciais levam a
paisagem a ser contida e profunda: base
do minimalismo. Jardim: microcosmos
da paisagem natural e espaço de
veneração; casa e jardim são
indivisíveis;
Índia: As montanhas e a selva
formavam uma imensa paisagem da
qual decorre o homem espiritual –
natureza é ligada ao sentido interior.
Kinkaku-ji, Kioto, Japão, sé. 14
17. Civilizações orientais:
China
“A humanidade emergiu das
entranhas da terra”. A cosmologia
associa parentesco entre a
paisagem e a sociedade;
Valores de respeito às tradições,
aos antepassados cujos espíritos
são próximos e amistosos; Código
de conduta, moral e religioso – na
pintura e no paisagismo - retratar a
paisagem: pintura paisagística;
Jardim: espaço para meditação: Paisagem fluvial, Tung Yüan, 1.000a.C.
a quietude é essencial;
Formas relacionadas às forças cósmicas com caracteres de complementaridade
cuja presença associa-se a paz; harmonia das forças:
YANG: força masculina, estimulante e positiva: pedra, colina ou montanha,
árvores (ou bambu)
YIN: a força feminina, serena e tranquilizadora: água em repouso, vegetação em
forração;
18. Civilizações orientais:
China
Suzhou
Suzhou – unidade plurifamiliar, pequenas
residências e jardins entrelaçados, para
garantir reclusão e individualidade;
Os jardins devem ter privacidade,
tranquilidade, proporcionar proteção, e
sobretudo, ter o sentido de um santuário
interior, e a serenidade associada à
natureza em repouso;
Yu Garden, Shanghai
20. Civilizações orientais:
Japão
Religião xintoísta e budista: intelectualidade para alcançar o infinito e esclarecer
o significado e o propósito da existência, através da meditação e da
contemplação da paisagem;
O jardim japonês expressa
um microcosmos da
paisagem natural, com
sentimento de amor e
veneração; a influência
chinesa é intensa, mas ao
contrário daquela
manifestação extrovertida
e ampla, no Japão, por
razões geográficas, a
manifestação será
introvertida e expressa
com profundidade: base do
minimalismo.
Casa e jardim são
indissociáveis. Jardim de musgos do templo Seihoji, Kioto, Japão, sé. 16.
21. Civilizações orientais:
Japão
Ryoanji, Kioto, séc. 14.
Jardim Zen: espaço de meditação. Recinto
de mosteiro – solo luminoso – contraste
com o entorno arborizado.
A disposição dos grupos de pedras que
parece arbitrária tem diagrama regido por
proporções matemáticas, a transmitir
sentido de harmonia, repouso e
contemplação da natureza, só existente na
imaginação e sublimação.
23. Civilizações orientais:
Horyu-ji – mosteiro em Nara;
Pátios livres para cerimônias e
rituais vão se transformando com
a introdução de elementos
primordiais: água, pedra, árvores,
pequenas colinas, ilhas, pontes;
Geometria - eixo central;
proporcionalidade; seção áurea;
“captura” do entorno e contraste
Mosteiro Horyu-ji, Nara, japão, séc. 17
24. Civilizações orientais:
Japão
Kinkaku-ji, Kioto, 1394 – reconstruído em 1950.
Kinkaku-ji – expressão máxima de expressão pictórica.
O pavilhão dourado foi concebido como lugar de contemplação para um nobre; o
edifício parece flutuar sobre a água; o lago está dividido em 2 partes por uma ilha e a
paisagem próxima ao pavilhão está animada por várias ilhotas e pedras.
Num jogo sutil de efeitos ópticos quem está no pavilhão é induzido a concentrar a
vista na complexidade do primeiro plano; a porção por trás da ilha é vista por entre as
copas das árvores e parece desvanecer na distância.
25. Civilizações ocidentais
Egito
Grécia
Império Romano
A Idade Média na Europa
À exceção do Egito antigo, a
origem da arte dos jardins retrata a
paisagem agradável e variada do
entorno do mar Mediterrâneo,
alastrando-se para o Norte ;
Conflitos territoriais quase
contínuos nestas civilizações
compostas por estados
independentes enriqueceram a
cultura e legaram valores
resgatados no Renascimento;
Tivoli, próximo à Roma, ano 27a.C.
26. Egito – 3.000a.C. ~ 500a.C.
Estabilidade do ambiente – ciclo do Nilo e dos
fenômenos naturais (cultura autóctone)
Sociedade aristocrática e militar – Faraó: autoridade
suprema; religião politeísta;
Geometria primordial e avanços matemáticos
empíricos: visão de mundo no qual tudo estava
destinado ao seu lugar; proporções ditadas pela
relação áurea [1,6180:1], após adotada pelos gregos;
Jardim de espaços geometrizados, extremamente
vegetados e de cultivo (agrícola); água em tanques ou
canais (função doméstica, cisternas); predomínio da
horizontalidade.
Templo funerário da rainha Hathepsut, Luxor Jardim egípcio, 18a. dinastia
27. Egito
Residência do governador de Tebas, 2.000a.C. – jardim murado, estrutura axial na
base de canteiros retangulares, tamareiras e plantas exóticas como pessegueiros,
jasmim, mirra, com plantio geométrico, tanques d’água com lótus rodeados com
maciços de flores, parreiras e pergolado sob os quais se caminha para a casa.
28. Grécia
Sociedade caracterizada pelo
pensamento liberal; rígida estratificação
social; filosofia da razão pura, a
verdade embasada em conjunto
científico possível de ser deduzido
intelectualmente, não por mitos, mas
pela razão;
Divindades: mitologia e religião
politeísta; Jardim para dignificá-las.
Jardins: pátios internos às arquiteturas Jardim de Damiano, Helenístico
ou hortos em locais semi-públicos com
aleias, fontes sagradas e nas
academias;
Delfos: recinto sagrado de veneração
ao oráculo: local de peregrinação;
inspiração unificadora que expressa a
estrutura do mundo.
Cidades-estados paz só durante os
jogos olímpicos; a vida tinha caráter
doméstico e o jardim existia como
espaço de cultivo; Delfos
29. Roma
Clima e topografia acidentada na
base da construção de jardins
terraceados e escalonados– pátios
ajardinados; Jardim: extensão das
arquiteturas nas vilas ao redor de
Roma; harmonia entre a natureza
ordenada e a silvestre; uso de
estatuária e vegetação de formas
expressivas;
Espaços justapostos com finitude,
grande influência no Renascimento;
Villa Tiberius, Capri
30. Villa Adriano: 300ha nas cercanias
de Roma.
Seqüência de espaços interligados
e autônomos;
Pátios e jardins justapostos com
sentido de finitude; construções e
espaços livres interdependentes
jogos e práticas esportivas
31. Império romano / greco – jardim doméstico
Filosofia: Sentido de dever e obediência: reflexo
da disciplina familiar;
Espaço doméstico: estrutura retangular com pátio
central: flores e hortaliças para consumo;
”Pluvium”: Cisterna e iluminação
Espaços de dimensões finitas, aquilatados em
proporções geométricas (seção áurea);
Templos, suntuosamente vegetados
Pompéia
Casa de Vettii, Pompeía
32. Idade Média na Europa:
Cristianismo: força motriz – misticismo em oposição à serenidade clássica e à
razão;
Cidades fortificadas – espaços exíguos; proximidade com o campo tornam os
jardins espaços restritos da nobreza e do clero.
Jardins para cultivo de plantas medicinais e hortaliças em mosteiros, claustros e
castelos, nestes, jardim cercado por muros altos para práticas de cultura e
prazer, estrutura quadrangular, normatizações clássicas, jardim geometrizado;
plantas aromáticas e de colorido intenso: estimular os sentidos.
Mosteiro Saint-Michel, ordem Beneditinos, séc. 10
34. Idade Média na Europa:
O Jardim do Paraíso, manuscrito Romano da Rosa
Os jardins da nobreza são cercados e protegidos
(jardim secreto), nos quais atividades ligadas à cultura,
ao lazer, ao relaxamento e ao prazer são praticadas;
tranquilidade e retiro (instrospecção);
Estrutura espacial racional, geometrizado, água
(sempre presente) em chafarizes ou tanques, plantio
regular (ref. agricultura), privilegia algumas espécies.
35. Idade Média na Europa: Cidade Medieval
Espaços livres nas praças, sem vegetação(seca), espaço
de práticas cidadãs: reunião, festas:
Palácio / Igreja / Comércio; O campo estava próximo...
Piazza San Marco, Veneza, Itália.
Piazza del Campo, Siena, Itália
36. Bibliografia:
LAURIE, Michael. Introducción a la Arquitectura del Paisaje. Barcelona: GG,
1990. cap 2.
NEWTON, N. Design on the Land. Harvard: MIT Press, 1986.
JELLICOE, G. El Paisaje del Hombre. Barcelona: GG, 1995.
LAROUSSE. Gardening and Gardens. London: Hamlyn, 1988.
VIEIRA, Maria Elena. O jardim e a paisagem. São Paulo: Annablume, 2007.