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A ABORDAGEM DE FRACTAIS NO ENSINO MÉDIO
Pâmela Araújo de Souza (IC) e Eriko Matsui Yamamoto (Orientadora)
Apoio: PIBIC Mackenzie


Resumo

O presente artigo visa abordar o estudo da Geometria Fractal no Ensino Médio como forma de auxílio
nas aulas de matemática. A Geometria Fractal apresentada por meio de figuras, construções lúdicas
e aplicações no cotidiano, torna-se um exemplo de matemática aplicada que pode ser utilizada
durante as aulas e propiciar inúmeros benefícios aos alunos do Ensino Médio na aprendizagem da
matemática. Este trabalho traz uma breve apresentação desta Geometria, tratando da história de sua
descoberta, suas características, definição e aplicações. Mostra a importância de abordagens
diferenciadas no ensino da matemática por meio da inclusão de conteúdos como a de Geometria
Fractal para estimular os alunos a perceber as aplicações desta ciência no cotidiano. A pesquisa foi
realizada com alunos do Ensino Médio de duas escolas públicas (uma no município de São Paulo e
outra, em São Caetano do Sul) e uma particular (em São Caetano do Sul). Foram utilizados como
procedimento metodológico de coleta de dados, a observação e questionários. No início da pesquisa,
a maioria dos alunos disse que não gosta de Geometria. No entanto, após a aula sobre Geometria
Fractal, os alunos perceberam que ela tem muitas aplicações e que está presente no nosso cotidiano.
Mostraram-se motivados e afirmaram estar interessados em aprender não apenas a Geometria como
também diversos conteúdos da matemática.

Palavras-chave: geometria fractal, Matemática, ensino


Abstract

This article aims to present the study of Fractal Geometry in high school as a way to help in
mathematics classes. Fractal Geometry presented through pictures, recreational buildings and
applications in daily life becomes an example of applied mathematics that can be used during classes
and provide numerous benefits to high school students in learning mathematics. This paper gives a
brief presentation of this Geometry, the history of its discovery, characteristics, definitions and
applications. It shows the importance of different ways of teaching mathematics including contents
such as Fractal Geometry to encourage students to understand the applications of this science in
everyday life. The survey was conducted with high school students from two public schools (one in
São Paulo and another in São Caetano do Sul) and a private one (in São Caetano do Sul).
Observation and questionnaires were used as instruments for data collection. At the beginning of the
research, most of the students said that they don’t like Geometry. However, after the Fractal Geometry
lesson, the students realized that it has many applications and it is present in our daily lives. They
were highly motivated and said that they were interested in learning not only Geometry but different
contents of mathematics.

Key-words: fractal geometry, Mathematics, teaching




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje o ensino da matemática é realizado muitas vezes contemplando os
conteúdos como algo distante da realidade vivida por todos. Isso gera o descontentamento
de muitos alunos que, ao estudarem algo sem aplicação em suas vidas, permanecem
desinteressados e não valorizam a disciplina como um todo.

A realidade da visão dos alunos em relação à matemática necessita de implementação de
atividades que estimulem a aprendizagem e o interesse dos mesmos para poderem
aprender e compreender cada vez mais o mundo que os cerca, em suas dimensões sociais
e humanas, mas também em suas dimensões físicas. Por este motivo, o trabalho busca
verificar se a inclusão de conteúdos como a Geometria Fractal no Ensino Médio torna-se
interessante e útil para os alunos perceberem que a matemática está presente no nosso dia-
a-dia.

O objetivo deste trabalho é investigar qual a melhor forma para trabalhar a Geometria
Fractal, através da elaboração de um plano de aula que servirá como material útil e eficiente
para explicação dos conceitos básicos desta Geometria; mostrar os benefícios e as
oportunidades que podem surgir ao utilizar a Geometria Fractal em sala de aula para
ensinar ou reforçar algum conteúdo da matemática; despertar o interesse em relação aos
seus conteúdos, já que se trata de uma Geometria que está presente na natureza e
apresenta formas e construções que podem auxiliar durante o processo de aprendizagem.



REFERENCIAL TEÓRICO

Diversos autores, através de estudos e registros da época, afirmam que a Geometria
Euclidiana surgiu no Antigo Egito, no vale do Rio Nilo, no qual as cheias obrigavam os
faraós a nomear funcionários com o objetivo de restabelecer fronteiras entre as diversas
propriedades que eram atingidas pelas inundações. A partir daí surgia a palavra Geometria
(do grego geo = terra + metria = medida, ou seja, “medir terra”).

Esta Geometria foi nomeada Euclidiana em homenagem ao seu precursor, Euclides, que
aperfeiçoou a Geometria em sua maior parte nos moldes atuais.

Os egípcios além de usarem a Geometria na agricultura (irrigação, obras de defesa contra
inundações, etc), também a usavam na engenharia (construção de pirâmides, casas, etc) e
até os dias atuais a Geometria Euclidiana é de importância extrema por auxiliar de forma
brilhante na confecção e caracterização de formas que estão presentes no cotidiano.

É imensurável a importância da Geometria Euclidiana dentro da matemática e na vida
prática e cotidiana da população. Nela estudam-se formas mais simples e comuns como


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quadriláteros e poliedros; no cotidiano há edifícios, objetos industrializados e diversas
estruturas com esses padrões regulares e de formas suaves. No entanto, nem tudo na
natureza segue esta regra e há muitas outras formas mais complexas, não sendo possível
descrever e analisá-las a partir da Geometria Euclidiana.

No início do século XIX, houve diversos acontecimentos e críticas em relação à Geometria
proposta por Euclides e principalmente em relação ao quinto postulado por ele apresentado.
A partir deste contexto foram criadas as Geometrias não euclidianas, fato que apresentou
grande avanço nos estudos científicos e abriu portas para a apresentação de diversas
teorias.

Benoit Mandelbrot, matemático nascido na Polônia, desenvolveu uma noção inovadora e
que mudaria a visão em relação à Geometria: a idéia de fractal.

Vários pesquisadores, durante muitos anos que se seguiram, se depararam com
dificuldades para estudar ruídos, o movimento browniano de fluídos e problemas de
economia, dentre outros fatos que não conseguiam ser descritos com os modelos usuais e
que seriam solucionados mais à frente.

A Geometria Fractal surge então em 1975 da descrição matemática feita por Mandelbrot da
idéia de Euclides, mas com o incremento do conceito de dimensão.

Mandelbrot, com base nas idéias que tivera até o momento, construiu trabalhos em várias
áreas, dentre eles destacam-se um modelo matemático de simulação da bolsa, estudos
sobre turbulências atmosféricas e geografia quantitativa, pela qual calculou a medida da
costa da Grã-Bretanha.

Benoit Mandelbrot nasceu em Varsóvia (1924), integrou-se ao grupo Bourbaki, formado por
jovens matemáticos buscando a reconstrução da matemática francesa. As idéias do grupo
se difundiram por vários países, mas Mandelbrot deixou o grupo, pois não suportava a
abstração imposta pelo mesmo; em seguida estudou Ciência Aeroespacial nos Estados
Unidos e passou a trabalhar na IBM – International Business Machines – com problemas de
economia.

Na empresa, Mandelbrot soube que havia um ruído nas linhas telefônicas em rede entre os
computadores e sua aleatoriedade fazia com que os engenheiros desistissem de buscar
soluções para o problema. Ele então resolveu a situação aplicando um trabalho de Georg
Cantor, interpretando os ruídos como um conjunto de Cantor. A partir daí Mandelbrot
procurou situações em diversas áreas, atuais e antigas para aplicar suas idéias.

Motivado por suas descobertas Mandelbrot trabalhou e aperfeiçoou a Geometria Fractal,
sendo reconhecido e ocupando diversos cargos acadêmicos, além de publicar diversos



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trabalhos dentre eles: Les objects fractals, forme, hassard et dimension (Paris: Flamarion,
1975), The Fractal Geometry of Nature (New York: Freeman, 1977) e Fractals: form, chance
and dimension (San Francisco: Freeman, 1977). Benoit Mandelbrot faleceu no dia 14 de
outubro de 2010, em Cambridge.

Há indícios de que os fractais já existiam antes do século XX, mas eram chamados de
“monstros matemáticos” na região da Grécia Homérica, Índia e China. Segundo
Niedermeyer, Koefender e Roos (2009, p.4), “Mandelbrot ao definir os fractais se apoiou em
matemáticos e cientistas, que já haviam se dedicado a este estudo sistemático dos fractais,
mas não chegaram a ter uma conclusão exata dos seus estudos, dentre eles Georg Cantor
(1845-1918), David Hilbert (1862-1943), Giusepe Peano (1858-1932), Helge von Koch
(1870-1924), Waclaw Sierpinski (1882-1969), entre outros.”

                       As históricas construções fractais como Cantor, Sierpinski, von Koch,
                       Peano, etc., foram chamadas de “monstros da matemática”; mas estas
                       estranhas criações são um fato típico na natureza. Conseqüentemente,
                       fractais se tornaram componentes essenciais na modelagem e simulação da
                       natureza. (PEITGEN; JÜRGENS; SAUPE, 1992, p.10)

Segundo Barbosa (2002, p.9), “Mandelbrot as denominou fractais, baseando-se no latim, do
adjetivo fractus, cujo verbo frangere correspondente significa quebrar: criar fragmentos
irregulares, fragmentar”. A partir deste novo conceito ele desenvolveu e divulgou sua teoria
estudando formas geométricas abstratas e padrões complexos que se repetem
infinitamente, mesmo limitados em uma área finita.

Morin estuda sobre a complexidade em sua obra e define o pensamento complexo com o
objetivo de romper com a idéia de um saber parcelado, acreditando na incompletude de todo
e qualquer conhecimento (PETRAGLIA, 2005, p.58).

Para Morin (2007, p.35), “A complexidade coincide com uma parte de incerteza, seja
proveniente dos limites de nosso entendimento, seja inscrita nos fenômenos. [...] é a
incerteza no seio de sistemas ricamente organizados”. Seu conceito sobre pensamento
complexo pode ser ligado à idéia de fractal, já que este surge a partir de iterações que se
completam e formam um todo elaborado, interligado, e que busca padrões dentro de
sistemas aparentemente aleatórios e infinitos. Ainda, segundo o autor,

                       É a viagem em busca de um modo de pensamento capaz de respeitar a
                       multidimensionalidade, a riqueza, o mistério do real; e de saber que as
                       determinações – cerebral, cultural, social e histórica – que se impõem a
                       todo o pensamento co-determinam sempre o objeto de conhecimento. É isto
                       que eu designo por pensamento complexo. (MORIN, 2005, p.14)




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A Geometria Fractal está intimamente ligada à Teoria do Caos, a qual teve sua investigação
iniciada nos anos 1960, quando se descobriu que sistemas complexos, que podiam
descrever possíveis previsões do tempo, podiam ser traduzidos por equações matemáticas
simples, do mesmo modo, sistemas que eram aparentemente simples podiam levar a
problemas muito complexos.

Segundo Devaney (1991, p.23), “Através do estudo desta ciência, verificou-se que um
sistema passa facilmente de um estado de ordem para um estado caótico, podendo surgir,
por vezes de uma maneira espontânea, dentro do caos, a ordem.”

De acordo com Valim e Colucci (2008, p.3), “as principais características dos fractais, são:

• Auto-semelhança ou Auto-similaridade: Ao tomar um trecho do fractal, percebe-se que tal
trecho é semelhante ao fractal, apenas com uma redução na escala, do tamanho original.
Esta característica permanece em qualquer nível de construção do fractal;

• Estrutura fina: O grau de detalhamento de um fractal não diminui se examinada uma
porção arbitrariamente pequena do mesmo.”

Além destas, Niedermeyer, Koefender e Roos (2009, p.5) ainda ressaltam que “um fractal
apresenta as seguintes características:

• Dimensão fracionária ou não-inteira, ou seja, a dimensão fractal representa o grau de
irregularidade do objeto e o espaço que ele ocupa em dimensões euclidianas;

• Irregularidade no sentido de “não-suavidade” ou fragmentação;

• Geração por processos iterativos ou a partir de algoritmos (repetições de regras).”

Pode-se ilustrar a “auto-similaridade”, dividindo várias vezes um pedaço de couve-flor no
qual cada pedaço se parece com a forma inicial (Figura 1).




                            Figura 1: Pedaços de couve-flor apresentando
                                          auto-similaridade
                                           Fonte: Própria

Um fractal é uma figura que pode ser quebrada em pequenos pedaços, sendo cada um
desses pedaços uma reprodução do todo. Não podemos ver um fractal porque é uma figura




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limite, mas as etapas de sua construção podem dar uma idéia da figura toda. (SALLUM,
2005, p.1)

Segundo Fernandes (2007, p.4), “Na década passada, alguns estudos revelaram que um
coração saudável bate a um ritmo fractal e que um batimento cardíaco quase periódico é um
sintoma de insuficiência cardíaca”.

A Geometria Fractal tem aplicações em diversas áreas em fenômenos naturais e sociais,
tais como o formato de nuvens, relâmpagos, certas árvores e plantas, além de ser aplicada
em áreas como computação, nas engenharias, biologia (estudo de habitats), geografia,
física, arte, entre outras (Figura 2). Também na Medicina, há outras aplicações importantes
como a ajuda no diagnóstico de câncer de boca.




                                 Figura 2: Imagem de uma planta
                                    com propriedades fractais
                                     Fonte: Fernandes (2007)

Além disso, com as evoluções na informática é possível criar fractais artificiais (Figura 3),
através de softwares que, realizando inúmeras iterações de uma equação, muitas vezes
simples, criam imagens curiosas, cuja beleza é utilizada nas artes.




                              Figura 3: Exemplo de fractal criado em
                                           computador
                              Fonte: Peitgen, Jürgens, Saupe (1992)




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No início, Mandelbrot definiu fractal como um conjunto para o qual a dimensão Hausdorff-
Besiconvitch excede estritamente a dimensão topológica (BARBOSA, 2002, p.10), mas o
próprio Mandelbrot ficou descontente com esta definição, além de ter recebido muitas
críticas a respeito da mesma. Outras definições apareceram em seguida como a de Feder
(BARBOSA, 2002, p.10): “um fractal é uma forma cujas partes se assemelham ao seu todo
sob alguns aspectos”; e a de Falconer (BARBOSA, 2002, p.10): “Um conjunto F é fractal se,
por exemplo:

- F possui alguma forma de “auto-similaridade” ainda que aproximada ou estatística;

- A dimensão fractal, definida de alguma forma, é maior que a sua dimensão topológica;

- O conjunto F pode ser expresso através de um procedimento recursivo ou iterativo.”

Neste estudo será utilizada a definição de Falconer, por seu caráter mais explicativo e
completo em relação às outras.

Nos dias de hoje a abordagem da matemática nas escolas tem sido feita, em sua maioria,
sem aplicações práticas e isso gera a falta de interesse por essa disciplina da parte dos
alunos; no Ensino Médio este descontentamento com a matéria é ainda mais presente, e
isto também se deve à forma como os conteúdos são abordados dentro de sala de aula.

                      É indiscutível que, para a maioria das pessoas, a matemática é uma
                      disciplina de grande importância. Um número considerável de pessoas
                      acredita que a disciplina é útil no cotidiano. Porém, é comum ouvir, seja de
                      estudantes, seja de profissionais de diversas áreas, que a sua relação com
                      a matemática não é ou não foi harmoniosa e prazerosa. (PEREIRA, 2002,
                      p.12)

No geral, os alunos, ao atingirem o Ensino Fundamental II e a partir dele, apresentam
atitudes negativas com relação à matemática em maior grau do que no Ensino Fundamental
I (BRITO, 1996, p.5). Essas atitudes negativas parecem estar associadas a um menor
rendimento na disciplina de matemática à medida que a escolaridade avança, podendo estar
associada à mudança da formação dos professores, dos métodos de ensino utilizados e da
relação professor x aluno. (PEREIRA, 2002, p.14)

A maioria dos alunos do Ensino Médio apresenta-se na faixa etária entre 15 e 18 anos, fase
caracterizada pela adolescência, na qual os mesmos passam por diversas mudanças físicas
e psicológicas. Formadores de opinião e consciência, estes se deparam com diversas
dificuldades e possuem necessidade constante de buscar grupos e interesses individuais
para se caracterizarem de alguma forma perante a sociedade; a escola significa para estes
alunos um local para conhecer pessoas, para definir gostos e conseqüentemente seu
caráter.


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A partir das características apresentadas em cada conteúdo, os alunos se identificam com a
matéria que lhe desperta interesse e que possui aplicação em sua vida prática. É neste
contexto que surge o descontentamento com o ensino da matemática, ciência abordada
muitas vezes como algo distante e sem aplicação, tendo pouco sentido para os alunos
assimilarem-na.

                      O contexto em que as atividades propostas estão inseridas, o estudante se
                      mobiliza a trabalhar uma atividade que a princípio parece simples, mas que
                      se mostra elaborada no decorrer do seu desenvolvimento, em que
                      habilidades matemáticas são requeridas e ele se sente desafiado. O
                      conceito de mobilização implica na idéia de movimento, no engajamento em
                      uma atividade porque existem boas razões para fazê-lo (CHARLOT, 2000,
                      p.54)

Para Utsumi (2000, p.32) “acessar as atitudes dos alunos em relação à matemática é um
aspecto importante de uma tarefa maior, que é ensinar e propiciar modificações nas atitudes
dos alunos, buscando melhorar o autoconceito e o desempenho dos mesmos”. E segundo
os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – para a área de matemática, a atividade
matemática escolar não é “olhar para coisas prontas e definitivas”, mas a construção e a
apropriação de um conhecimento pelo aluno, que se servirá dele para compreender e
transformar sua realidade (BRASIL, 1997).

No entanto, o ensino de matemática se apresenta de forma desestimulante em muitas
escolas públicas e particulares do país por diversos motivos, dentre eles a exigência de
cumprimento por parte dos professores de uma extensa lista de conteúdos sobrando pouco
tempo para apresentação de aplicações, atividades práticas e motivadoras em sala de aula,
inclusive muitas escolas não possuem estrutura e condições para propor tais atividades
diferenciadas mostrando aos seus alunos onde a matemática é aplicada. Além disso, em
muitos vestibulares são cobrados apenas os conteúdos teóricos, como aplicação de
fórmulas, o que implica num foco das escolas apenas em “treinamento” de seus alunos para
o vestibular.

Para Sallum,

                      A introdução de fractais no Ensino Médio, além de satisfazer a curiosidade
                      de quantos já ouviram falar neles, propicia a oportunidade de trabalhar com
                      processos iterativos, escrever fórmulas gerais, criar algoritmos, calcular
                      áreas e perímetros de figuras com complexidade crescente, introduzir uma
                      idéia intuitiva do conceito de limite e é um excelente tópico para aplicação
                      de progressões geométricas e estímulo ao uso de tabelas. (SALLUM, 2005,
                      p.1)




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Para os fractais, em especial para a Geometria Fractal, faz-se necessário ao educador
conseguir captar o educando com o transparecer de sua própria vibração e talvez
evidenciando o êxtase na contemplação da beleza de seus visuais, conduzindo-o ao prazer
pelas informações e conhecimentos culturais da vasta variedade de fractais (BARBOSA,
2002, p.14).

Segundo Niedermeyer, Koefender e Roos (2009, p.8), alguns motivos para trabalhar fractais
na escola são:

• Trabalhar conteúdos a partir de exemplos encontrados na natureza estimula a criatividade,
o raciocínio lógico, motiva o educando e o auxilia na compreensão de conteúdos e conceitos
matemáticos;

• Deixar de usar somente quadro, giz e livro didático, em detrimento do uso de recursos
audiovisuais (computador, projeção audiovisual, lâminas), faz com que o educando se
concentre mais e visualize melhor as situações apresentadas;

• A Geometria Fractal pode ser trabalhada em qualquer nível de ensino, pois ela vai de uma
simples dobradura de papel até os entes matemáticos modernos que envolvem números
complexos, modelagem, etc.

Através da Geometria Fractal os alunos podem aprender conteúdos como contagem,
perímetros e áreas através das relações numéricas dos fractais e seus elementos; podem
trabalhar com padrões geométricos, estudando conceitos de medida, seqüências e limites;
podem analisar algoritmos e progressões, além de aprender idéias novas como a de auto-
semelhança e a dimensão fractal ou buscar intersecções entre alguns padrões
caleidoscópios e padrões fractais.

Além disso, pode-se trabalhar interdisciplinarmente com outras matérias como diz Gouvea
(2005, p.2), “pode-se trabalhar com ciências estudando as formas da natureza; desenho
geométrico, desenvolvendo as habilidades gráficas, através do manuseio de compasso e de
régua; educação artística, contribuindo no desenvolvimento do senso estético, criando e
colorindo fractais e informática, utilizando os softwares como auxiliares na aprendizagem, e
desenvolvendo no aluno habilidade no uso dos mesmos”.

Por meio da Geometria Fractal é possível integrar as ferramentas matemáticas essenciais à
formação adequada dos alunos, além de mostrar que a matemática é uma ciência que
possui amplas e diversas aplicações no cotidiano.




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MÉTODO

Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram a observação e questionários
aplicados em turmas do Ensino Médio, um antes e outro depois da apresentação da aula
sobre Geometria Fractal.

Em primeiro lugar, foi realizada uma pesquisa exploratória através de busca detalhada sobre
o tema fractais, sobre a problemática do ensino da matemática no Ensino Médio atualmente,
e sobre a união destes dois temas, utilizando como fonte diversos meios. Esta etapa,
segundo Lüdke e André (2008, p.22), é o momento de especificar as questões ou pontos
críticos, de estabelecer os contatos iniciais para entrada em campo, de localizar os
informantes e as fontes de dados necessárias para o estudo.

Visando compreender do que se tratava e se o tema estaria adequado a turmas do Ensino
Médio, foi realizada uma pesquisa aprofundada sobre fractais, desde sua origem, a história
de sua descoberta, a necessidade de se buscar um artifício para resolver problemas que até
o momento se encontravam sem solução, seus precursores e idéias iniciais até as diversas
estruturas, diferentes definições, aplicações e outros temas que exigem mais técnica e
conhecimento da matemática.

Foram consultados livros, teses de doutorado, dissertações de mestrado, sites eletrônicos,
revistas e artigos de diversos tipos e níveis de aprofundamento para verificar até que ponto
a Geometria Fractal poderia ser abordada em sala de aula objetivando benefícios ao
processo de ensino-aprendizagem sem perder o foco do conteúdo principal abordado na
aula.

Assim como na investigação sobre os fractais, foram pesquisadas diversas fontes
direcionadas à área de educação e pedagogia para compreender a percepção dos alunos
em relação à matemática, e em especial à Geometria. Ao estudar essa problemática foi
dada atenção especial aos alunos do Ensino Médio, às dificuldades pelas quais eles
passam nesta fase da vida escolar e que direta ou indiretamente influenciam na motivação,
idéias e atitudes em relação à aprendizagem.

A pesquisa exploratória se faz necessária durante a elaboração do trabalho para que novos
conceitos e idéias sejam assimilados e incorporados dentro do contexto daquilo que se
busca no trabalho, além disso, a pesquisa também tem o objetivo de esclarecer dúvidas que
possam aparecer durante a realização do trabalho.

Após esse processo de pesquisa e uma síntese de tudo o que é relevante para a elaboração
do trabalho, foi possível compreender quais pontos da Geometria Fractal poderiam ser
aprendidos no Ensino Médio de modo a auxiliar os alunos em outros conteúdos.




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Para ter uma visão mais clara do cotidiano de turmas do Ensino Médio e sua opinião em
relação à proposta, foi organizada uma primeira coleta de dados com o objetivo de obter
informações sobre a realidade dos alunos neste momento escolar.

Existem diversos tipos de instrumentos que podem ser utilizados para a coleta, entre eles, a
observação, a entrevista e o questionário. A observação, segundo Lüdke e André (2008,
p.23), ocupa um lugar privilegiado na pesquisa educacional, pois possibilita um contato
pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série
de vantagens. O observador pode recorrer aos conhecimentos e experiências pessoais
como auxiliares no processo de compreensão e interpretação do fenômeno estudado. A
introspecção e a reflexão pessoal têm papel importante na pesquisa. A observação pode ser
utilizada associando-se a outros instrumentos de coleta de dados. Segundo Dencker (2001,
p.137), o questionário e a entrevista são os mais freqüentes e possuem em comum o fato de
serem constituídos de uma lista de indagações que, se respondidas, dão ao pesquisador a
informação necessária.

Dentre as modalidades entrevista e questionário, foi escolhido o uso de questionário, pois,
segundo Dencker:

                      Permite analisar aspectos subjetivos e objetivos e, portanto, o estudo direto
                      dos fenômenos sociais; permite perguntas sobre fatos e opiniões; pode ser
                      aplicado a um grande número de pessoas simultaneamente; permite a
                      obtenção de uma grande quantidade de informações com referência a
                      aspectos bastante diversificados; garante certa uniformidade das respostas
                      devido ao caráter padronizado das perguntas, instruções etc. (DENCKER,
                      2001, p.148)

O questionário foi auto-aplicável, ”feito para ser preenchido pelos próprios respondentes”
(MAY, 2004, p.119), composto por perguntas semi-abertas, que segundo Dencker (2001,
p.150), limitam as respostas às alternativas apresentadas em uma resposta (sim ou não),
mas que possuem continuação aberta.

O questionário foi elaborado com nove perguntas, envolvendo dados escolares e faixa etária
dos alunos, perguntas sobre a visão dos mesmos em relação às aulas de matemática, os
conteúdos e a forma como eram transmitidos. O questionário trazia uma breve introdução
sobre a Geometria Fractal e os alunos eram solicitados a dar sua opinião quanto ao
interesse pelo tema abordado.

O questionário foi aplicado pela pesquisadora, primeiramente, aos alunos do 1º ao 3º ano do
Ensino Médio de uma escola pública situada em São Caetano do Sul. Houve 31
respondentes, com idades entre 15 e 18 anos, de turmas mistas do período diurno.



                                                                                                11
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Esse mesmo questionário foi aplicado também em um colégio particular em São Caetano do
Sul. Nesta escola houve 27 respondentes, do 1º ano ao 3º ano do Ensino Médio do período
diurno, sendo 19 meninas e 8 meninos, com idade de 14 a 17 anos.

Após a aplicação do questionário nas duas escolas de São Caetano do Sul, alunos de outra
escola pública, localizada no município de São Paulo, também responderam o questionário
que foi aplicado pela pesquisadora. Eram alunos do 2º ano do Ensino Médio do período
noturno, de uma turma mista composta por 18 alunos com faixa etária entre 16 e 18 anos.

A coleta de dados nas três escolas ocorreu em períodos diferentes, em escolas com
características diferentes e alunos com diversos estilos de vida, para obter opiniões em
relação à matemática.

Após aplicação do questionário foi feita uma análise qualitativa das respostas, verificando as
opiniões de cada um e se os alunos tinham em algum momento percepções parecidas com
relação ao ensino da matemática.

A partir do questionário respondido foi possível perceber quais as maiores dificuldades dos
alunos e o que eles gostariam de aprender. Então se iniciou o processo de formulação de
um plano de aula juntamente com um material para os alunos sobre fractais.

O material consta de uma pequena introdução sobre o que são fractais e breve histórico,
seguido de suas principais características e figuras contendo exemplos de fractais gerados
por computador e formas no cotidiano com características fractais (brócolis, árvore, folha,
pulmão humano). Esta primeira parte do material fornece idéias principais sobre a
Geometria Fractal para que possa estimular os alunos através das formas e mostrar a eles
algumas aplicações da matemática no cotidiano.

Após a introdução sobre fractais, o material traz dois exercícios de aplicação. Os exercícios
abordam Progressão Geométrica através da construção de um fractal, de forma que,
partindo do princípio de criação dos fractais Curva de Koch (Figura 4) e Triângulo de
Sierpinski o aluno possa perceber, ao montar uma tabela que contém o número de lados,
comprimento dos lados, comprimento das curvas e outras características, que há uma
relação entre as informações conforme ocorre a repetição das regras de construção do
fractal, e que essa relação trata-se de uma Progressão Geométrica (conteúdo revisado
antes do início da aula). Dessa forma é possível descobrir valores como, por exemplo, a
quantidade de lados do fractal depois de várias iterações sem a necessidade de desenhá-lo.




                                                                                               12
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                          Figura 4: Início da construção do fractal Curva de Koch
                                            Fonte: Sallum (2005)



O plano de aula e o material seguem o mesmo princípio, sendo o primeiro voltado para o
professor, contendo explicações mais detalhadas e resolução de exercícios, e o segundo
para os alunos, com uma linguagem mais clara e direta, e explorando mais as figuras.

Após a apresentação da aula sobre a Geometria Fractal, foi aplicado um segundo
questionário objetivando analisar a percepção dos alunos sobre o conteúdo aprendido e sua
opinião. O questionário possui nove questões abordando, além dos dados dos alunos (sem
identificação pessoal), questões sobre as idéias apresentadas na aula como alguns
princípios que definem um fractal, suas características, alguns exemplos no cotidiano para
que os mesmos assinalassem as figuras que julgavam representar um fractal, e por último
perguntava-lhes se acreditam que a matemática está presente em seu cotidiano e, assim
como no primeiro questionário (anterior à aula), se acreditam que as aulas se tornariam
mais ilustrativas e prazerosas caso fossem apresentados assuntos como a Geometria
Fractal durante as aulas.

A partir do plano de aula elaborado, foi realizada uma aula com uma turma de 2º ano do
Ensino Médio de uma escola pública do município de São Paulo (a mesma turma mista de
18 alunos, do período noturno, com faixa etária entre 16 e 18 anos, que respondeu o
primeiro questionário).

Durante a aula os alunos acompanharam o material entregue. A aula foi ministrada pela
pesquisadora e foi utilizado o recurso de lousa e giz. No decorrer da exposição da aula foi
possível observar as principais dúvidas dos alunos, o comportamento e a postura deles
perante o tema apresentado.

Após o término da apresentação foi aplicado pela pesquisadora o questionário acerca do
assunto abordado durante a aula e a opinião deles sobre a aprendizagem da matemática
após a introdução dos conceitos da Geometria Fractal.

O questionário respondido e a observação do comportamento dos alunos realizada pela
pesquisadora durante a apresentação da aula foram extremamente úteis para chegar ao
resultado da pesquisa.

Como a aula e os questionários foram aplicados em escolas, os aspectos éticos foram
seguidos, de forma que antes de qualquer procedimento foi realizada uma reunião com os



                                                                                                    13
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


diretores e professores para explicar os objetivos e finalidades da pesquisa, seguida de uma
carta do orientador explicando a atividade. Além disso, em nenhum momento os alunos
foram forçados a participar da pesquisa. Houve um trabalho em conjunto com os
professores das turmas de forma a não prejudicar o cronograma da escola. Não houve
identificação pessoal de alunos e profissionais da educação durante a pesquisa.



RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da pesquisa exploratória foi possível perceber que hoje há muito preconceito em
relação à matemática por parte dos alunos, e grande parte dos mesmos não possui um bom
aproveitamento na matéria. Isso ocorre principalmente pelo fato de a matemática ser tratada
como algo distante da realidade vivida por todos, o que incomoda os alunos ao pensarem
que são cobrados a aprender algo que “nunca utilizarão” na prática. Além disso, há
professores que acabam afirmando esse pensamento, não oferecendo aos seus alunos a
oportunidade de conhecer aplicações da matemática, outros até buscam fazê-lo, mas diante
da pressão do cumprimento dos extensos currículos escolares acabam excluindo o
momento de reflexão e exemplificação.

Nos questionários aplicados foi perguntado aos alunos se os mesmos gostavam de
Geometria, e dos 76 alunos das três escolas pesquisadas, 63% responderam
negativamente. As respostas das três escolas foram bastante diferentes em relação a essa
pergunta, na primeira escola pública pesquisada, a porcentagem de negação foi de 84%
enquanto que na escola particular foi de 37% e na segunda escola pública pesquisada foi de
67% (Gráfico 1).

                               Questão: Você gosta de Geometria?



                                                 37%
                                                                   67%
                                84%

                                                 63%
                                                                   33%
                                16%

                         Escola Pública 1 Escola Particular Escola Pública 2

                                                 Sim   Não

                    Gráfico 1: Opinião dos respondentes, em relação à Geometria

Os alunos justificaram que sua resposta negativa significa não gostar da matemática como
um todo devido à necessidade de uma quantidade muito grande de cálculos e desenhos,
além disso, muitos alunos das duas escolas públicas afirmaram que não tiveram aula de



                                                                                                        14
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Geometria, pois faltava professor e conteúdo durante as aulas. Mesmo aqueles que
responderam 'Sim' concordaram que a matéria necessitava de treino, mas que era
interessante.

Apesar de a grande maioria ter respondido que não gosta de Geometria, 51% dos
respondentes afirmaram ter facilidade no aprendizado da mesma. Aqueles que afirmaram o
contrário justificaram a dificuldade pelo fato de, nas escolas públicas, não existir suporte a
eles quando há dúvidas e pela dificuldade inerente à matemática como um todo.

Analisando as respostas da pergunta "Você gostaria que as aulas de matemática fossem
mais ilustrativas, com mais exemplos na vida prática?", observa-se que na primeira escola
pública, 77% responderam afirmativamente, enfatizando que facilitaria muito e seria mais
interessante e divertido aprender e fixar o que já foi visto. Já na escola particular, 93% dos
alunos gostariam que as aulas de matemática fossem mais ilustrativas. Na segunda escola
pública pesquisada 94% responderam afirmativamente (Gráfico 2).

                           Questão: Aulas mais ilustrativas e com exemplos na
                                             vida prática?


                                                     7%                6%
                                   23%


                                                     93%              94%
                                   77%




                            Escola Pública 1 Escola Particular Escola Pública 2

                                                    Sim    Não

                     Gráfico 2: Opinião dos respondentes em relação a aulas mais
                                     explicativas e exemplificadas.



Após uma pequena introdução sobre a Geometria Fractal e alguns exemplos de formas
encontradas no nosso cotidiano que representam fractais, foi questionado aos alunos se
eles gostariam de estudar outras Geometrias, diferentes daquelas que eles aprendem na
escola. Aqueles que responderam negativamente a essa questão justificaram que já existem
conteúdos demais na escola, outros justificaram que não pretendem seguir no ramo de
exatas futuramente. Mas a maioria dos respondentes (51%) mostrou-se motivada e
interessada pelas outras Geometrias, em especial pela Geometria Fractal.

Deve-se levar em conta que em nenhum momento o questionário dizia que este conteúdo
poderia ser incluído no currículo deles. Além disso, os alunos estavam cientes de que o
questionário não seria uma forma de avaliação cuja nota influenciaria no seu resultado
escolar.




                                                                                                          15
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Após aplicação do questionário foi realizada com uma turma de 2º ano do Ensino Médio da
escola pública de São Paulo (segunda escola pública) a apresentação de uma aula sobre a
Geometria Fractal.

Durante a explicação do conteúdo os alunos ficaram quietos e atentos à definição e
características dos fractais, após ficarem extremamente curiosos ao verem figuras como a
de um brócolis e um pulmão humano como exemplos de fractais. Alguns alunos
esclareceram dúvidas, como por exemplo, o significado da palavra “iterativo”, que foram
respondidas.

Observando o comportamento dos alunos durante a aula verificou-se que os mesmos, num
primeiro momento, ficaram receosos ao saber que aprenderiam um conteúdo de matemática
que nunca tinham ouvido falar, apesar disso, ao virem figuras e imagens presentes no seu
cotidiano mostraram-se extremamente motivados. Apesar de muitas dúvidas que os alunos
tinham sobre Progressão Geométrica, conseguiram prestar atenção e compreender os
conceitos básicos sobre fractais.

Como explica Fernandes (2007, p.211) “A princípio, pensar em algo que tenha uma
dimensão fracionária causa estranhamento.”, por isso o assunto precisa ser abordado com
cautela e de forma que corresponda com as potencialidades de um aluno de Ensino Médio.

Após a apresentação da aula, foi aplicado o segundo questionário, no qual ficou evidente
que os alunos assimilaram o conteúdo. Apesar de possuírem o material referente à aula em
mãos eles não precisaram do mesmo para responder às questões e escreveram com suas
palavras tanto na questão que dizia “O que você entende por fractal?“ quanto a que
perguntava sobre as principais características de um fractal, sendo que 90% dos alunos
compreenderam e responderam corretamente.

Na identificação de fractais, 90% da turma indicaram corretamente dentre as quatro figuras
apresentadas, as que eram exemplos de fractais no dia-a-dia. Em relação às questões
sobre a aplicação da matemática no cotidiano e se as aulas seriam mais ilustrativas e
prazerosas caso fossem apresentados conteúdos tais como a Geometria Fractal, 95% dos
alunos responderam afirmativamente, destacando que a matemática está presente em todas
as situações cotidianas, no lazer e em diversos outros momentos. Sobre a questão referente
às aulas mais prazerosas a grande maioria dos alunos afirmou ter gostado e se interessado,
assim como afirma uma aluna da turma: “Eu nunca tinha ouvido falar, mas achei muito
interessante e fiquei curiosa. Acho que seria, sim, muito prazeroso ter aulas ilustrativas”.

Diversos são os benefícios em explorar esta Geometria na sala de aula, assim como diz
Gouvea (2005, p.6), o estudo da Geometria Fractal propicia o desenvolvimento do raciocínio
lógico-matemático, a integração entre conceitos matemáticos e elementos do cotidiano, o


                                                                                                16
Universidade Presbiteriana Mackenzie


desenvolvimento do senso estético e a criatividade; além disso, esta Geometria possibilita a
interação com várias ciências.

Após a apresentação da aula e dos questionários aplicados antes e depois da explicação da
Geometria Fractal, verificou-se que os alunos inicialmente, no momento em que souberam
que iriam aprender algo novo, tinham ficado um pouco apreensivos, mas após terem
conhecido esta Geometria, com suas formas complexas, aplicações no cotidiano, e que
pode ajudar no aprendizado de conteúdos do Ensino Médio, os alunos perceberam que a
matemática não é uma ciência abstrata, e que por isso, o importante é estudá-la para
perceber onde a matemática está aplicada, sem receio de que seja complicada. Ao término
da experiência, os alunos afirmaram que gostariam de aprender mais sobre a Geometria
Fractal e que os mesmos ficariam muito mais motivados a estudar a matemática, com seus
diversos conteúdos, se durante as aulas fossem apresentadas outras aplicações.



CONCLUSÃO

Ao término desta pesquisa percebe-se que hoje há uma deficiência em muitas escolas,
quando se refere ao ensino da matemática, pois a disciplina é abordada durante as aulas
como algo distante do cotidiano dos alunos. Por este motivo é necessária a inclusão de
temas, durante as aulas, que estimulem os alunos, que os motivem e que os façam
aprender a matemática sabendo que aqueles conhecimentos que o professor transmite são
uma descrição da natureza e das relações diárias, pois assim, o processo de ensino-
aprendizagem ocorreria de forma mais satisfatória.

O estudo dos fractais, por exemplo, pode despertar um fascínio nos estudantes pelas figuras
e construções particulares, pode fazê-los acreditar na facilidade em perceber padrões e
regularidades e ao mesmo tempo a complexidade, e irá estimulá-los no momento em que
eles encontrarem muitas destas formas no seu dia-a-dia. Além disso, ao desenvolver
atividades com fractais, as dificuldades em relação à Álgebra ou Geometria podem surgir e
o professor poderá trabalhar tais conteúdos com seus alunos.

Após a aplicação e análise dos questionários verificou-se que, apesar de a grande parte dos
alunos não gostar da Geometria, fato este justificado pela dificuldade que eles apresentam
em compreender a disciplina, pela forma como os conteúdos são transmitidos, pela má
estrutura da instituição e dos currículos escolares, a maioria demonstrou sua vontade em
participar de aulas mais ilustrativas, com exemplos na vida prática.

Desta forma, os objetivos desta pesquisa foram atingidos, pois, por meio de uma
investigação com alunos, exatamente com aqueles que são diretamente afetados pelas
dificuldades de aprendizagem na escola, foi possível encontrar uma forma clara e objetiva,


                                                                                           17
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


de tratar o tema fractais trabalhando seus conceitos de uma forma não aprofundada, mas
que foi possível apresentar a idéia necessária do que é um fractal e onde ele está presente
no cotidiano.

O exemplo de atividade apresentado neste trabalho, uma aplicação de fractais no estudo de
Progressão Geométrica, é um dentre muitos outros existentes, mas conteúdos como
contagem, perímetros, áreas, padrões geométricos, conceitos de medida, seqüências,
limites, também podem ser trabalhados, gerando uma grande quantidade de oportunidades
de aplicação da Geometria Fractal nas aulas de matemática. Além disso, há diversos
benefícios nesta prática, tais como o estímulo à criatividade, ao raciocínio lógico, o aumento
da motivação em aprender matemática, dentre tantos outros benefícios proporcionados por
essa Geometria presente no nosso dia-a-dia e que encanta pela beleza de suas formas e
construções.



REFERÊNCIAS

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Tendências em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

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Matemática/Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997.

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MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2007.



                                                                                               18
Universidade Presbiteriana Mackenzie


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PETRAGLIA, I. Edgar Morin: a educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis:
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Contato: pamelaaraujos@hotmail.com e ematsui@mackenzie.br




                                                                                           19

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Pamela araujo

  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie A ABORDAGEM DE FRACTAIS NO ENSINO MÉDIO Pâmela Araújo de Souza (IC) e Eriko Matsui Yamamoto (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie Resumo O presente artigo visa abordar o estudo da Geometria Fractal no Ensino Médio como forma de auxílio nas aulas de matemática. A Geometria Fractal apresentada por meio de figuras, construções lúdicas e aplicações no cotidiano, torna-se um exemplo de matemática aplicada que pode ser utilizada durante as aulas e propiciar inúmeros benefícios aos alunos do Ensino Médio na aprendizagem da matemática. Este trabalho traz uma breve apresentação desta Geometria, tratando da história de sua descoberta, suas características, definição e aplicações. Mostra a importância de abordagens diferenciadas no ensino da matemática por meio da inclusão de conteúdos como a de Geometria Fractal para estimular os alunos a perceber as aplicações desta ciência no cotidiano. A pesquisa foi realizada com alunos do Ensino Médio de duas escolas públicas (uma no município de São Paulo e outra, em São Caetano do Sul) e uma particular (em São Caetano do Sul). Foram utilizados como procedimento metodológico de coleta de dados, a observação e questionários. No início da pesquisa, a maioria dos alunos disse que não gosta de Geometria. No entanto, após a aula sobre Geometria Fractal, os alunos perceberam que ela tem muitas aplicações e que está presente no nosso cotidiano. Mostraram-se motivados e afirmaram estar interessados em aprender não apenas a Geometria como também diversos conteúdos da matemática. Palavras-chave: geometria fractal, Matemática, ensino Abstract This article aims to present the study of Fractal Geometry in high school as a way to help in mathematics classes. Fractal Geometry presented through pictures, recreational buildings and applications in daily life becomes an example of applied mathematics that can be used during classes and provide numerous benefits to high school students in learning mathematics. This paper gives a brief presentation of this Geometry, the history of its discovery, characteristics, definitions and applications. It shows the importance of different ways of teaching mathematics including contents such as Fractal Geometry to encourage students to understand the applications of this science in everyday life. The survey was conducted with high school students from two public schools (one in São Paulo and another in São Caetano do Sul) and a private one (in São Caetano do Sul). Observation and questionnaires were used as instruments for data collection. At the beginning of the research, most of the students said that they don’t like Geometry. However, after the Fractal Geometry lesson, the students realized that it has many applications and it is present in our daily lives. They were highly motivated and said that they were interested in learning not only Geometry but different contents of mathematics. Key-words: fractal geometry, Mathematics, teaching 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 INTRODUÇÃO Nos dias de hoje o ensino da matemática é realizado muitas vezes contemplando os conteúdos como algo distante da realidade vivida por todos. Isso gera o descontentamento de muitos alunos que, ao estudarem algo sem aplicação em suas vidas, permanecem desinteressados e não valorizam a disciplina como um todo. A realidade da visão dos alunos em relação à matemática necessita de implementação de atividades que estimulem a aprendizagem e o interesse dos mesmos para poderem aprender e compreender cada vez mais o mundo que os cerca, em suas dimensões sociais e humanas, mas também em suas dimensões físicas. Por este motivo, o trabalho busca verificar se a inclusão de conteúdos como a Geometria Fractal no Ensino Médio torna-se interessante e útil para os alunos perceberem que a matemática está presente no nosso dia- a-dia. O objetivo deste trabalho é investigar qual a melhor forma para trabalhar a Geometria Fractal, através da elaboração de um plano de aula que servirá como material útil e eficiente para explicação dos conceitos básicos desta Geometria; mostrar os benefícios e as oportunidades que podem surgir ao utilizar a Geometria Fractal em sala de aula para ensinar ou reforçar algum conteúdo da matemática; despertar o interesse em relação aos seus conteúdos, já que se trata de uma Geometria que está presente na natureza e apresenta formas e construções que podem auxiliar durante o processo de aprendizagem. REFERENCIAL TEÓRICO Diversos autores, através de estudos e registros da época, afirmam que a Geometria Euclidiana surgiu no Antigo Egito, no vale do Rio Nilo, no qual as cheias obrigavam os faraós a nomear funcionários com o objetivo de restabelecer fronteiras entre as diversas propriedades que eram atingidas pelas inundações. A partir daí surgia a palavra Geometria (do grego geo = terra + metria = medida, ou seja, “medir terra”). Esta Geometria foi nomeada Euclidiana em homenagem ao seu precursor, Euclides, que aperfeiçoou a Geometria em sua maior parte nos moldes atuais. Os egípcios além de usarem a Geometria na agricultura (irrigação, obras de defesa contra inundações, etc), também a usavam na engenharia (construção de pirâmides, casas, etc) e até os dias atuais a Geometria Euclidiana é de importância extrema por auxiliar de forma brilhante na confecção e caracterização de formas que estão presentes no cotidiano. É imensurável a importância da Geometria Euclidiana dentro da matemática e na vida prática e cotidiana da população. Nela estudam-se formas mais simples e comuns como 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie quadriláteros e poliedros; no cotidiano há edifícios, objetos industrializados e diversas estruturas com esses padrões regulares e de formas suaves. No entanto, nem tudo na natureza segue esta regra e há muitas outras formas mais complexas, não sendo possível descrever e analisá-las a partir da Geometria Euclidiana. No início do século XIX, houve diversos acontecimentos e críticas em relação à Geometria proposta por Euclides e principalmente em relação ao quinto postulado por ele apresentado. A partir deste contexto foram criadas as Geometrias não euclidianas, fato que apresentou grande avanço nos estudos científicos e abriu portas para a apresentação de diversas teorias. Benoit Mandelbrot, matemático nascido na Polônia, desenvolveu uma noção inovadora e que mudaria a visão em relação à Geometria: a idéia de fractal. Vários pesquisadores, durante muitos anos que se seguiram, se depararam com dificuldades para estudar ruídos, o movimento browniano de fluídos e problemas de economia, dentre outros fatos que não conseguiam ser descritos com os modelos usuais e que seriam solucionados mais à frente. A Geometria Fractal surge então em 1975 da descrição matemática feita por Mandelbrot da idéia de Euclides, mas com o incremento do conceito de dimensão. Mandelbrot, com base nas idéias que tivera até o momento, construiu trabalhos em várias áreas, dentre eles destacam-se um modelo matemático de simulação da bolsa, estudos sobre turbulências atmosféricas e geografia quantitativa, pela qual calculou a medida da costa da Grã-Bretanha. Benoit Mandelbrot nasceu em Varsóvia (1924), integrou-se ao grupo Bourbaki, formado por jovens matemáticos buscando a reconstrução da matemática francesa. As idéias do grupo se difundiram por vários países, mas Mandelbrot deixou o grupo, pois não suportava a abstração imposta pelo mesmo; em seguida estudou Ciência Aeroespacial nos Estados Unidos e passou a trabalhar na IBM – International Business Machines – com problemas de economia. Na empresa, Mandelbrot soube que havia um ruído nas linhas telefônicas em rede entre os computadores e sua aleatoriedade fazia com que os engenheiros desistissem de buscar soluções para o problema. Ele então resolveu a situação aplicando um trabalho de Georg Cantor, interpretando os ruídos como um conjunto de Cantor. A partir daí Mandelbrot procurou situações em diversas áreas, atuais e antigas para aplicar suas idéias. Motivado por suas descobertas Mandelbrot trabalhou e aperfeiçoou a Geometria Fractal, sendo reconhecido e ocupando diversos cargos acadêmicos, além de publicar diversos 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 trabalhos dentre eles: Les objects fractals, forme, hassard et dimension (Paris: Flamarion, 1975), The Fractal Geometry of Nature (New York: Freeman, 1977) e Fractals: form, chance and dimension (San Francisco: Freeman, 1977). Benoit Mandelbrot faleceu no dia 14 de outubro de 2010, em Cambridge. Há indícios de que os fractais já existiam antes do século XX, mas eram chamados de “monstros matemáticos” na região da Grécia Homérica, Índia e China. Segundo Niedermeyer, Koefender e Roos (2009, p.4), “Mandelbrot ao definir os fractais se apoiou em matemáticos e cientistas, que já haviam se dedicado a este estudo sistemático dos fractais, mas não chegaram a ter uma conclusão exata dos seus estudos, dentre eles Georg Cantor (1845-1918), David Hilbert (1862-1943), Giusepe Peano (1858-1932), Helge von Koch (1870-1924), Waclaw Sierpinski (1882-1969), entre outros.” As históricas construções fractais como Cantor, Sierpinski, von Koch, Peano, etc., foram chamadas de “monstros da matemática”; mas estas estranhas criações são um fato típico na natureza. Conseqüentemente, fractais se tornaram componentes essenciais na modelagem e simulação da natureza. (PEITGEN; JÜRGENS; SAUPE, 1992, p.10) Segundo Barbosa (2002, p.9), “Mandelbrot as denominou fractais, baseando-se no latim, do adjetivo fractus, cujo verbo frangere correspondente significa quebrar: criar fragmentos irregulares, fragmentar”. A partir deste novo conceito ele desenvolveu e divulgou sua teoria estudando formas geométricas abstratas e padrões complexos que se repetem infinitamente, mesmo limitados em uma área finita. Morin estuda sobre a complexidade em sua obra e define o pensamento complexo com o objetivo de romper com a idéia de um saber parcelado, acreditando na incompletude de todo e qualquer conhecimento (PETRAGLIA, 2005, p.58). Para Morin (2007, p.35), “A complexidade coincide com uma parte de incerteza, seja proveniente dos limites de nosso entendimento, seja inscrita nos fenômenos. [...] é a incerteza no seio de sistemas ricamente organizados”. Seu conceito sobre pensamento complexo pode ser ligado à idéia de fractal, já que este surge a partir de iterações que se completam e formam um todo elaborado, interligado, e que busca padrões dentro de sistemas aparentemente aleatórios e infinitos. Ainda, segundo o autor, É a viagem em busca de um modo de pensamento capaz de respeitar a multidimensionalidade, a riqueza, o mistério do real; e de saber que as determinações – cerebral, cultural, social e histórica – que se impõem a todo o pensamento co-determinam sempre o objeto de conhecimento. É isto que eu designo por pensamento complexo. (MORIN, 2005, p.14) 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie A Geometria Fractal está intimamente ligada à Teoria do Caos, a qual teve sua investigação iniciada nos anos 1960, quando se descobriu que sistemas complexos, que podiam descrever possíveis previsões do tempo, podiam ser traduzidos por equações matemáticas simples, do mesmo modo, sistemas que eram aparentemente simples podiam levar a problemas muito complexos. Segundo Devaney (1991, p.23), “Através do estudo desta ciência, verificou-se que um sistema passa facilmente de um estado de ordem para um estado caótico, podendo surgir, por vezes de uma maneira espontânea, dentro do caos, a ordem.” De acordo com Valim e Colucci (2008, p.3), “as principais características dos fractais, são: • Auto-semelhança ou Auto-similaridade: Ao tomar um trecho do fractal, percebe-se que tal trecho é semelhante ao fractal, apenas com uma redução na escala, do tamanho original. Esta característica permanece em qualquer nível de construção do fractal; • Estrutura fina: O grau de detalhamento de um fractal não diminui se examinada uma porção arbitrariamente pequena do mesmo.” Além destas, Niedermeyer, Koefender e Roos (2009, p.5) ainda ressaltam que “um fractal apresenta as seguintes características: • Dimensão fracionária ou não-inteira, ou seja, a dimensão fractal representa o grau de irregularidade do objeto e o espaço que ele ocupa em dimensões euclidianas; • Irregularidade no sentido de “não-suavidade” ou fragmentação; • Geração por processos iterativos ou a partir de algoritmos (repetições de regras).” Pode-se ilustrar a “auto-similaridade”, dividindo várias vezes um pedaço de couve-flor no qual cada pedaço se parece com a forma inicial (Figura 1). Figura 1: Pedaços de couve-flor apresentando auto-similaridade Fonte: Própria Um fractal é uma figura que pode ser quebrada em pequenos pedaços, sendo cada um desses pedaços uma reprodução do todo. Não podemos ver um fractal porque é uma figura 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 limite, mas as etapas de sua construção podem dar uma idéia da figura toda. (SALLUM, 2005, p.1) Segundo Fernandes (2007, p.4), “Na década passada, alguns estudos revelaram que um coração saudável bate a um ritmo fractal e que um batimento cardíaco quase periódico é um sintoma de insuficiência cardíaca”. A Geometria Fractal tem aplicações em diversas áreas em fenômenos naturais e sociais, tais como o formato de nuvens, relâmpagos, certas árvores e plantas, além de ser aplicada em áreas como computação, nas engenharias, biologia (estudo de habitats), geografia, física, arte, entre outras (Figura 2). Também na Medicina, há outras aplicações importantes como a ajuda no diagnóstico de câncer de boca. Figura 2: Imagem de uma planta com propriedades fractais Fonte: Fernandes (2007) Além disso, com as evoluções na informática é possível criar fractais artificiais (Figura 3), através de softwares que, realizando inúmeras iterações de uma equação, muitas vezes simples, criam imagens curiosas, cuja beleza é utilizada nas artes. Figura 3: Exemplo de fractal criado em computador Fonte: Peitgen, Jürgens, Saupe (1992) 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie No início, Mandelbrot definiu fractal como um conjunto para o qual a dimensão Hausdorff- Besiconvitch excede estritamente a dimensão topológica (BARBOSA, 2002, p.10), mas o próprio Mandelbrot ficou descontente com esta definição, além de ter recebido muitas críticas a respeito da mesma. Outras definições apareceram em seguida como a de Feder (BARBOSA, 2002, p.10): “um fractal é uma forma cujas partes se assemelham ao seu todo sob alguns aspectos”; e a de Falconer (BARBOSA, 2002, p.10): “Um conjunto F é fractal se, por exemplo: - F possui alguma forma de “auto-similaridade” ainda que aproximada ou estatística; - A dimensão fractal, definida de alguma forma, é maior que a sua dimensão topológica; - O conjunto F pode ser expresso através de um procedimento recursivo ou iterativo.” Neste estudo será utilizada a definição de Falconer, por seu caráter mais explicativo e completo em relação às outras. Nos dias de hoje a abordagem da matemática nas escolas tem sido feita, em sua maioria, sem aplicações práticas e isso gera a falta de interesse por essa disciplina da parte dos alunos; no Ensino Médio este descontentamento com a matéria é ainda mais presente, e isto também se deve à forma como os conteúdos são abordados dentro de sala de aula. É indiscutível que, para a maioria das pessoas, a matemática é uma disciplina de grande importância. Um número considerável de pessoas acredita que a disciplina é útil no cotidiano. Porém, é comum ouvir, seja de estudantes, seja de profissionais de diversas áreas, que a sua relação com a matemática não é ou não foi harmoniosa e prazerosa. (PEREIRA, 2002, p.12) No geral, os alunos, ao atingirem o Ensino Fundamental II e a partir dele, apresentam atitudes negativas com relação à matemática em maior grau do que no Ensino Fundamental I (BRITO, 1996, p.5). Essas atitudes negativas parecem estar associadas a um menor rendimento na disciplina de matemática à medida que a escolaridade avança, podendo estar associada à mudança da formação dos professores, dos métodos de ensino utilizados e da relação professor x aluno. (PEREIRA, 2002, p.14) A maioria dos alunos do Ensino Médio apresenta-se na faixa etária entre 15 e 18 anos, fase caracterizada pela adolescência, na qual os mesmos passam por diversas mudanças físicas e psicológicas. Formadores de opinião e consciência, estes se deparam com diversas dificuldades e possuem necessidade constante de buscar grupos e interesses individuais para se caracterizarem de alguma forma perante a sociedade; a escola significa para estes alunos um local para conhecer pessoas, para definir gostos e conseqüentemente seu caráter. 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 A partir das características apresentadas em cada conteúdo, os alunos se identificam com a matéria que lhe desperta interesse e que possui aplicação em sua vida prática. É neste contexto que surge o descontentamento com o ensino da matemática, ciência abordada muitas vezes como algo distante e sem aplicação, tendo pouco sentido para os alunos assimilarem-na. O contexto em que as atividades propostas estão inseridas, o estudante se mobiliza a trabalhar uma atividade que a princípio parece simples, mas que se mostra elaborada no decorrer do seu desenvolvimento, em que habilidades matemáticas são requeridas e ele se sente desafiado. O conceito de mobilização implica na idéia de movimento, no engajamento em uma atividade porque existem boas razões para fazê-lo (CHARLOT, 2000, p.54) Para Utsumi (2000, p.32) “acessar as atitudes dos alunos em relação à matemática é um aspecto importante de uma tarefa maior, que é ensinar e propiciar modificações nas atitudes dos alunos, buscando melhorar o autoconceito e o desempenho dos mesmos”. E segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – para a área de matemática, a atividade matemática escolar não é “olhar para coisas prontas e definitivas”, mas a construção e a apropriação de um conhecimento pelo aluno, que se servirá dele para compreender e transformar sua realidade (BRASIL, 1997). No entanto, o ensino de matemática se apresenta de forma desestimulante em muitas escolas públicas e particulares do país por diversos motivos, dentre eles a exigência de cumprimento por parte dos professores de uma extensa lista de conteúdos sobrando pouco tempo para apresentação de aplicações, atividades práticas e motivadoras em sala de aula, inclusive muitas escolas não possuem estrutura e condições para propor tais atividades diferenciadas mostrando aos seus alunos onde a matemática é aplicada. Além disso, em muitos vestibulares são cobrados apenas os conteúdos teóricos, como aplicação de fórmulas, o que implica num foco das escolas apenas em “treinamento” de seus alunos para o vestibular. Para Sallum, A introdução de fractais no Ensino Médio, além de satisfazer a curiosidade de quantos já ouviram falar neles, propicia a oportunidade de trabalhar com processos iterativos, escrever fórmulas gerais, criar algoritmos, calcular áreas e perímetros de figuras com complexidade crescente, introduzir uma idéia intuitiva do conceito de limite e é um excelente tópico para aplicação de progressões geométricas e estímulo ao uso de tabelas. (SALLUM, 2005, p.1) 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie Para os fractais, em especial para a Geometria Fractal, faz-se necessário ao educador conseguir captar o educando com o transparecer de sua própria vibração e talvez evidenciando o êxtase na contemplação da beleza de seus visuais, conduzindo-o ao prazer pelas informações e conhecimentos culturais da vasta variedade de fractais (BARBOSA, 2002, p.14). Segundo Niedermeyer, Koefender e Roos (2009, p.8), alguns motivos para trabalhar fractais na escola são: • Trabalhar conteúdos a partir de exemplos encontrados na natureza estimula a criatividade, o raciocínio lógico, motiva o educando e o auxilia na compreensão de conteúdos e conceitos matemáticos; • Deixar de usar somente quadro, giz e livro didático, em detrimento do uso de recursos audiovisuais (computador, projeção audiovisual, lâminas), faz com que o educando se concentre mais e visualize melhor as situações apresentadas; • A Geometria Fractal pode ser trabalhada em qualquer nível de ensino, pois ela vai de uma simples dobradura de papel até os entes matemáticos modernos que envolvem números complexos, modelagem, etc. Através da Geometria Fractal os alunos podem aprender conteúdos como contagem, perímetros e áreas através das relações numéricas dos fractais e seus elementos; podem trabalhar com padrões geométricos, estudando conceitos de medida, seqüências e limites; podem analisar algoritmos e progressões, além de aprender idéias novas como a de auto- semelhança e a dimensão fractal ou buscar intersecções entre alguns padrões caleidoscópios e padrões fractais. Além disso, pode-se trabalhar interdisciplinarmente com outras matérias como diz Gouvea (2005, p.2), “pode-se trabalhar com ciências estudando as formas da natureza; desenho geométrico, desenvolvendo as habilidades gráficas, através do manuseio de compasso e de régua; educação artística, contribuindo no desenvolvimento do senso estético, criando e colorindo fractais e informática, utilizando os softwares como auxiliares na aprendizagem, e desenvolvendo no aluno habilidade no uso dos mesmos”. Por meio da Geometria Fractal é possível integrar as ferramentas matemáticas essenciais à formação adequada dos alunos, além de mostrar que a matemática é uma ciência que possui amplas e diversas aplicações no cotidiano. 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 MÉTODO Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram a observação e questionários aplicados em turmas do Ensino Médio, um antes e outro depois da apresentação da aula sobre Geometria Fractal. Em primeiro lugar, foi realizada uma pesquisa exploratória através de busca detalhada sobre o tema fractais, sobre a problemática do ensino da matemática no Ensino Médio atualmente, e sobre a união destes dois temas, utilizando como fonte diversos meios. Esta etapa, segundo Lüdke e André (2008, p.22), é o momento de especificar as questões ou pontos críticos, de estabelecer os contatos iniciais para entrada em campo, de localizar os informantes e as fontes de dados necessárias para o estudo. Visando compreender do que se tratava e se o tema estaria adequado a turmas do Ensino Médio, foi realizada uma pesquisa aprofundada sobre fractais, desde sua origem, a história de sua descoberta, a necessidade de se buscar um artifício para resolver problemas que até o momento se encontravam sem solução, seus precursores e idéias iniciais até as diversas estruturas, diferentes definições, aplicações e outros temas que exigem mais técnica e conhecimento da matemática. Foram consultados livros, teses de doutorado, dissertações de mestrado, sites eletrônicos, revistas e artigos de diversos tipos e níveis de aprofundamento para verificar até que ponto a Geometria Fractal poderia ser abordada em sala de aula objetivando benefícios ao processo de ensino-aprendizagem sem perder o foco do conteúdo principal abordado na aula. Assim como na investigação sobre os fractais, foram pesquisadas diversas fontes direcionadas à área de educação e pedagogia para compreender a percepção dos alunos em relação à matemática, e em especial à Geometria. Ao estudar essa problemática foi dada atenção especial aos alunos do Ensino Médio, às dificuldades pelas quais eles passam nesta fase da vida escolar e que direta ou indiretamente influenciam na motivação, idéias e atitudes em relação à aprendizagem. A pesquisa exploratória se faz necessária durante a elaboração do trabalho para que novos conceitos e idéias sejam assimilados e incorporados dentro do contexto daquilo que se busca no trabalho, além disso, a pesquisa também tem o objetivo de esclarecer dúvidas que possam aparecer durante a realização do trabalho. Após esse processo de pesquisa e uma síntese de tudo o que é relevante para a elaboração do trabalho, foi possível compreender quais pontos da Geometria Fractal poderiam ser aprendidos no Ensino Médio de modo a auxiliar os alunos em outros conteúdos. 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie Para ter uma visão mais clara do cotidiano de turmas do Ensino Médio e sua opinião em relação à proposta, foi organizada uma primeira coleta de dados com o objetivo de obter informações sobre a realidade dos alunos neste momento escolar. Existem diversos tipos de instrumentos que podem ser utilizados para a coleta, entre eles, a observação, a entrevista e o questionário. A observação, segundo Lüdke e André (2008, p.23), ocupa um lugar privilegiado na pesquisa educacional, pois possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens. O observador pode recorrer aos conhecimentos e experiências pessoais como auxiliares no processo de compreensão e interpretação do fenômeno estudado. A introspecção e a reflexão pessoal têm papel importante na pesquisa. A observação pode ser utilizada associando-se a outros instrumentos de coleta de dados. Segundo Dencker (2001, p.137), o questionário e a entrevista são os mais freqüentes e possuem em comum o fato de serem constituídos de uma lista de indagações que, se respondidas, dão ao pesquisador a informação necessária. Dentre as modalidades entrevista e questionário, foi escolhido o uso de questionário, pois, segundo Dencker: Permite analisar aspectos subjetivos e objetivos e, portanto, o estudo direto dos fenômenos sociais; permite perguntas sobre fatos e opiniões; pode ser aplicado a um grande número de pessoas simultaneamente; permite a obtenção de uma grande quantidade de informações com referência a aspectos bastante diversificados; garante certa uniformidade das respostas devido ao caráter padronizado das perguntas, instruções etc. (DENCKER, 2001, p.148) O questionário foi auto-aplicável, ”feito para ser preenchido pelos próprios respondentes” (MAY, 2004, p.119), composto por perguntas semi-abertas, que segundo Dencker (2001, p.150), limitam as respostas às alternativas apresentadas em uma resposta (sim ou não), mas que possuem continuação aberta. O questionário foi elaborado com nove perguntas, envolvendo dados escolares e faixa etária dos alunos, perguntas sobre a visão dos mesmos em relação às aulas de matemática, os conteúdos e a forma como eram transmitidos. O questionário trazia uma breve introdução sobre a Geometria Fractal e os alunos eram solicitados a dar sua opinião quanto ao interesse pelo tema abordado. O questionário foi aplicado pela pesquisadora, primeiramente, aos alunos do 1º ao 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública situada em São Caetano do Sul. Houve 31 respondentes, com idades entre 15 e 18 anos, de turmas mistas do período diurno. 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Esse mesmo questionário foi aplicado também em um colégio particular em São Caetano do Sul. Nesta escola houve 27 respondentes, do 1º ano ao 3º ano do Ensino Médio do período diurno, sendo 19 meninas e 8 meninos, com idade de 14 a 17 anos. Após a aplicação do questionário nas duas escolas de São Caetano do Sul, alunos de outra escola pública, localizada no município de São Paulo, também responderam o questionário que foi aplicado pela pesquisadora. Eram alunos do 2º ano do Ensino Médio do período noturno, de uma turma mista composta por 18 alunos com faixa etária entre 16 e 18 anos. A coleta de dados nas três escolas ocorreu em períodos diferentes, em escolas com características diferentes e alunos com diversos estilos de vida, para obter opiniões em relação à matemática. Após aplicação do questionário foi feita uma análise qualitativa das respostas, verificando as opiniões de cada um e se os alunos tinham em algum momento percepções parecidas com relação ao ensino da matemática. A partir do questionário respondido foi possível perceber quais as maiores dificuldades dos alunos e o que eles gostariam de aprender. Então se iniciou o processo de formulação de um plano de aula juntamente com um material para os alunos sobre fractais. O material consta de uma pequena introdução sobre o que são fractais e breve histórico, seguido de suas principais características e figuras contendo exemplos de fractais gerados por computador e formas no cotidiano com características fractais (brócolis, árvore, folha, pulmão humano). Esta primeira parte do material fornece idéias principais sobre a Geometria Fractal para que possa estimular os alunos através das formas e mostrar a eles algumas aplicações da matemática no cotidiano. Após a introdução sobre fractais, o material traz dois exercícios de aplicação. Os exercícios abordam Progressão Geométrica através da construção de um fractal, de forma que, partindo do princípio de criação dos fractais Curva de Koch (Figura 4) e Triângulo de Sierpinski o aluno possa perceber, ao montar uma tabela que contém o número de lados, comprimento dos lados, comprimento das curvas e outras características, que há uma relação entre as informações conforme ocorre a repetição das regras de construção do fractal, e que essa relação trata-se de uma Progressão Geométrica (conteúdo revisado antes do início da aula). Dessa forma é possível descobrir valores como, por exemplo, a quantidade de lados do fractal depois de várias iterações sem a necessidade de desenhá-lo. 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie Figura 4: Início da construção do fractal Curva de Koch Fonte: Sallum (2005) O plano de aula e o material seguem o mesmo princípio, sendo o primeiro voltado para o professor, contendo explicações mais detalhadas e resolução de exercícios, e o segundo para os alunos, com uma linguagem mais clara e direta, e explorando mais as figuras. Após a apresentação da aula sobre a Geometria Fractal, foi aplicado um segundo questionário objetivando analisar a percepção dos alunos sobre o conteúdo aprendido e sua opinião. O questionário possui nove questões abordando, além dos dados dos alunos (sem identificação pessoal), questões sobre as idéias apresentadas na aula como alguns princípios que definem um fractal, suas características, alguns exemplos no cotidiano para que os mesmos assinalassem as figuras que julgavam representar um fractal, e por último perguntava-lhes se acreditam que a matemática está presente em seu cotidiano e, assim como no primeiro questionário (anterior à aula), se acreditam que as aulas se tornariam mais ilustrativas e prazerosas caso fossem apresentados assuntos como a Geometria Fractal durante as aulas. A partir do plano de aula elaborado, foi realizada uma aula com uma turma de 2º ano do Ensino Médio de uma escola pública do município de São Paulo (a mesma turma mista de 18 alunos, do período noturno, com faixa etária entre 16 e 18 anos, que respondeu o primeiro questionário). Durante a aula os alunos acompanharam o material entregue. A aula foi ministrada pela pesquisadora e foi utilizado o recurso de lousa e giz. No decorrer da exposição da aula foi possível observar as principais dúvidas dos alunos, o comportamento e a postura deles perante o tema apresentado. Após o término da apresentação foi aplicado pela pesquisadora o questionário acerca do assunto abordado durante a aula e a opinião deles sobre a aprendizagem da matemática após a introdução dos conceitos da Geometria Fractal. O questionário respondido e a observação do comportamento dos alunos realizada pela pesquisadora durante a apresentação da aula foram extremamente úteis para chegar ao resultado da pesquisa. Como a aula e os questionários foram aplicados em escolas, os aspectos éticos foram seguidos, de forma que antes de qualquer procedimento foi realizada uma reunião com os 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 diretores e professores para explicar os objetivos e finalidades da pesquisa, seguida de uma carta do orientador explicando a atividade. Além disso, em nenhum momento os alunos foram forçados a participar da pesquisa. Houve um trabalho em conjunto com os professores das turmas de forma a não prejudicar o cronograma da escola. Não houve identificação pessoal de alunos e profissionais da educação durante a pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da pesquisa exploratória foi possível perceber que hoje há muito preconceito em relação à matemática por parte dos alunos, e grande parte dos mesmos não possui um bom aproveitamento na matéria. Isso ocorre principalmente pelo fato de a matemática ser tratada como algo distante da realidade vivida por todos, o que incomoda os alunos ao pensarem que são cobrados a aprender algo que “nunca utilizarão” na prática. Além disso, há professores que acabam afirmando esse pensamento, não oferecendo aos seus alunos a oportunidade de conhecer aplicações da matemática, outros até buscam fazê-lo, mas diante da pressão do cumprimento dos extensos currículos escolares acabam excluindo o momento de reflexão e exemplificação. Nos questionários aplicados foi perguntado aos alunos se os mesmos gostavam de Geometria, e dos 76 alunos das três escolas pesquisadas, 63% responderam negativamente. As respostas das três escolas foram bastante diferentes em relação a essa pergunta, na primeira escola pública pesquisada, a porcentagem de negação foi de 84% enquanto que na escola particular foi de 37% e na segunda escola pública pesquisada foi de 67% (Gráfico 1). Questão: Você gosta de Geometria? 37% 67% 84% 63% 33% 16% Escola Pública 1 Escola Particular Escola Pública 2 Sim Não Gráfico 1: Opinião dos respondentes, em relação à Geometria Os alunos justificaram que sua resposta negativa significa não gostar da matemática como um todo devido à necessidade de uma quantidade muito grande de cálculos e desenhos, além disso, muitos alunos das duas escolas públicas afirmaram que não tiveram aula de 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie Geometria, pois faltava professor e conteúdo durante as aulas. Mesmo aqueles que responderam 'Sim' concordaram que a matéria necessitava de treino, mas que era interessante. Apesar de a grande maioria ter respondido que não gosta de Geometria, 51% dos respondentes afirmaram ter facilidade no aprendizado da mesma. Aqueles que afirmaram o contrário justificaram a dificuldade pelo fato de, nas escolas públicas, não existir suporte a eles quando há dúvidas e pela dificuldade inerente à matemática como um todo. Analisando as respostas da pergunta "Você gostaria que as aulas de matemática fossem mais ilustrativas, com mais exemplos na vida prática?", observa-se que na primeira escola pública, 77% responderam afirmativamente, enfatizando que facilitaria muito e seria mais interessante e divertido aprender e fixar o que já foi visto. Já na escola particular, 93% dos alunos gostariam que as aulas de matemática fossem mais ilustrativas. Na segunda escola pública pesquisada 94% responderam afirmativamente (Gráfico 2). Questão: Aulas mais ilustrativas e com exemplos na vida prática? 7% 6% 23% 93% 94% 77% Escola Pública 1 Escola Particular Escola Pública 2 Sim Não Gráfico 2: Opinião dos respondentes em relação a aulas mais explicativas e exemplificadas. Após uma pequena introdução sobre a Geometria Fractal e alguns exemplos de formas encontradas no nosso cotidiano que representam fractais, foi questionado aos alunos se eles gostariam de estudar outras Geometrias, diferentes daquelas que eles aprendem na escola. Aqueles que responderam negativamente a essa questão justificaram que já existem conteúdos demais na escola, outros justificaram que não pretendem seguir no ramo de exatas futuramente. Mas a maioria dos respondentes (51%) mostrou-se motivada e interessada pelas outras Geometrias, em especial pela Geometria Fractal. Deve-se levar em conta que em nenhum momento o questionário dizia que este conteúdo poderia ser incluído no currículo deles. Além disso, os alunos estavam cientes de que o questionário não seria uma forma de avaliação cuja nota influenciaria no seu resultado escolar. 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Após aplicação do questionário foi realizada com uma turma de 2º ano do Ensino Médio da escola pública de São Paulo (segunda escola pública) a apresentação de uma aula sobre a Geometria Fractal. Durante a explicação do conteúdo os alunos ficaram quietos e atentos à definição e características dos fractais, após ficarem extremamente curiosos ao verem figuras como a de um brócolis e um pulmão humano como exemplos de fractais. Alguns alunos esclareceram dúvidas, como por exemplo, o significado da palavra “iterativo”, que foram respondidas. Observando o comportamento dos alunos durante a aula verificou-se que os mesmos, num primeiro momento, ficaram receosos ao saber que aprenderiam um conteúdo de matemática que nunca tinham ouvido falar, apesar disso, ao virem figuras e imagens presentes no seu cotidiano mostraram-se extremamente motivados. Apesar de muitas dúvidas que os alunos tinham sobre Progressão Geométrica, conseguiram prestar atenção e compreender os conceitos básicos sobre fractais. Como explica Fernandes (2007, p.211) “A princípio, pensar em algo que tenha uma dimensão fracionária causa estranhamento.”, por isso o assunto precisa ser abordado com cautela e de forma que corresponda com as potencialidades de um aluno de Ensino Médio. Após a apresentação da aula, foi aplicado o segundo questionário, no qual ficou evidente que os alunos assimilaram o conteúdo. Apesar de possuírem o material referente à aula em mãos eles não precisaram do mesmo para responder às questões e escreveram com suas palavras tanto na questão que dizia “O que você entende por fractal?“ quanto a que perguntava sobre as principais características de um fractal, sendo que 90% dos alunos compreenderam e responderam corretamente. Na identificação de fractais, 90% da turma indicaram corretamente dentre as quatro figuras apresentadas, as que eram exemplos de fractais no dia-a-dia. Em relação às questões sobre a aplicação da matemática no cotidiano e se as aulas seriam mais ilustrativas e prazerosas caso fossem apresentados conteúdos tais como a Geometria Fractal, 95% dos alunos responderam afirmativamente, destacando que a matemática está presente em todas as situações cotidianas, no lazer e em diversos outros momentos. Sobre a questão referente às aulas mais prazerosas a grande maioria dos alunos afirmou ter gostado e se interessado, assim como afirma uma aluna da turma: “Eu nunca tinha ouvido falar, mas achei muito interessante e fiquei curiosa. Acho que seria, sim, muito prazeroso ter aulas ilustrativas”. Diversos são os benefícios em explorar esta Geometria na sala de aula, assim como diz Gouvea (2005, p.6), o estudo da Geometria Fractal propicia o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, a integração entre conceitos matemáticos e elementos do cotidiano, o 16
  • 17. Universidade Presbiteriana Mackenzie desenvolvimento do senso estético e a criatividade; além disso, esta Geometria possibilita a interação com várias ciências. Após a apresentação da aula e dos questionários aplicados antes e depois da explicação da Geometria Fractal, verificou-se que os alunos inicialmente, no momento em que souberam que iriam aprender algo novo, tinham ficado um pouco apreensivos, mas após terem conhecido esta Geometria, com suas formas complexas, aplicações no cotidiano, e que pode ajudar no aprendizado de conteúdos do Ensino Médio, os alunos perceberam que a matemática não é uma ciência abstrata, e que por isso, o importante é estudá-la para perceber onde a matemática está aplicada, sem receio de que seja complicada. Ao término da experiência, os alunos afirmaram que gostariam de aprender mais sobre a Geometria Fractal e que os mesmos ficariam muito mais motivados a estudar a matemática, com seus diversos conteúdos, se durante as aulas fossem apresentadas outras aplicações. CONCLUSÃO Ao término desta pesquisa percebe-se que hoje há uma deficiência em muitas escolas, quando se refere ao ensino da matemática, pois a disciplina é abordada durante as aulas como algo distante do cotidiano dos alunos. Por este motivo é necessária a inclusão de temas, durante as aulas, que estimulem os alunos, que os motivem e que os façam aprender a matemática sabendo que aqueles conhecimentos que o professor transmite são uma descrição da natureza e das relações diárias, pois assim, o processo de ensino- aprendizagem ocorreria de forma mais satisfatória. O estudo dos fractais, por exemplo, pode despertar um fascínio nos estudantes pelas figuras e construções particulares, pode fazê-los acreditar na facilidade em perceber padrões e regularidades e ao mesmo tempo a complexidade, e irá estimulá-los no momento em que eles encontrarem muitas destas formas no seu dia-a-dia. Além disso, ao desenvolver atividades com fractais, as dificuldades em relação à Álgebra ou Geometria podem surgir e o professor poderá trabalhar tais conteúdos com seus alunos. Após a aplicação e análise dos questionários verificou-se que, apesar de a grande parte dos alunos não gostar da Geometria, fato este justificado pela dificuldade que eles apresentam em compreender a disciplina, pela forma como os conteúdos são transmitidos, pela má estrutura da instituição e dos currículos escolares, a maioria demonstrou sua vontade em participar de aulas mais ilustrativas, com exemplos na vida prática. Desta forma, os objetivos desta pesquisa foram atingidos, pois, por meio de uma investigação com alunos, exatamente com aqueles que são diretamente afetados pelas dificuldades de aprendizagem na escola, foi possível encontrar uma forma clara e objetiva, 17
  • 18. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 de tratar o tema fractais trabalhando seus conceitos de uma forma não aprofundada, mas que foi possível apresentar a idéia necessária do que é um fractal e onde ele está presente no cotidiano. O exemplo de atividade apresentado neste trabalho, uma aplicação de fractais no estudo de Progressão Geométrica, é um dentre muitos outros existentes, mas conteúdos como contagem, perímetros, áreas, padrões geométricos, conceitos de medida, seqüências, limites, também podem ser trabalhados, gerando uma grande quantidade de oportunidades de aplicação da Geometria Fractal nas aulas de matemática. Além disso, há diversos benefícios nesta prática, tais como o estímulo à criatividade, ao raciocínio lógico, o aumento da motivação em aprender matemática, dentre tantos outros benefícios proporcionados por essa Geometria presente no nosso dia-a-dia e que encanta pela beleza de suas formas e construções. REFERÊNCIAS BARBOSA, R. M. Descobrindo a Geometria Fractal para a sala de aula. Coleção Tendências em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática/Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997. BRITO, M. Um estudo sobre as Atitudes em Relação à Matemática em Estudantes de 1º e 2º graus. Tese de Livre Docência não Publicada, UNICAMP, 1996. CHARLOT, B. Da relação com o saber. Porto Alegre: Artmed, 2000. DENCKER, A.F.M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 2001. DEVANEY, R. The orbit diagram and the Mandelbrot set. College Mathematics Journal, New York, 1991. FERNANDES, J. Fractais: uma nova visão da matemática. Trabalho de conclusão de Curso, UNILAVRAS, Lavras, 2007. GOUVEA, F.R. Um Estudo de Fractais Geométricos através de Caleidoscópios e Softwares de Geometria Dinâmica. Dissertação de Mestrado, Unesp, Rio Claro, 2005. LÜDKE, M; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 11ª reimpressão. São Paulo: EPU, 2008. MAY, T. Pesquisa Social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004. MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2007. 18
  • 19. Universidade Presbiteriana Mackenzie ______. O método II: a vida da vida. Porto Alegre: Sulina, 2005. ______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2002. NIEDERMEYER, C.; KOEFENDER, C.; ROOS, L. Geometria Fractal e Ensino de Matemática. Encontro Gaúcho de Educação Matemática, 10., Ijuí: UNISC, 2009. PEITGEN, H.O.; JÜRGENS, H.; SAUPE, D. Fractals for the Classroom. New York: Springer- Verlag, 1992. PEREIRA, F. As atitudes de alunos do ensino básico em relação à matemática e o papel do professor. Trabalho de Conclusão de Curso, UCDB, 2002. PETRAGLIA, I. Edgar Morin: a educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis: Vozes, 2008. SALLUM, E.M. Fractais no Ensino Médio. Revista do Professor de Matemática – RPM 57. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2005. UTSUMI, M.C. Atitudes e Habilidades Envolvidas na Solução de Problemas Algébricos: Um Estudo Sobre o Gênero, a Estabilidade das Atitudes e Alguns Componentes da Habilidade Matemática. Tese de Doutorado, UNICAMP, Campinas, 2000. VALIM, J.; COLUCCI, V. Geometria Fractal no Ensino Fundamental e Médio. Semana Acadêmica da Matemática, 12., Cascavel: Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2008. Contato: pamelaaraujos@hotmail.com e ematsui@mackenzie.br 19