SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  20
Télécharger pour lire hors ligne
Universidade Presbiteriana Mackenzie


NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS, AUTONOMIA E CAPACITAÇÃO NAS
POLÍTICAS URBANAS PARTICIPATIVAS: O CASO EXEMPLAR DO
MOVIMENTO OÁSIS
Renata Minerbo Strengerowski (IC) e Volia Regina Costa Kato (Orientadora)
Apoio: PIBIC Mackenzie


Resumo

A pesquisa busca ampliar a reflexão sobre as ações voluntárias, assim como a política de
participação pública sobre comunidades carentes voltadas para a melhoria das condições urbanas e
fortalecimento das identidades coletivas. Junto a isso, analisar a importância dessa participação
pública, do papel dos Novos Movimentos Sociais e da rede (network), uma nova maneira de
organizar e funcionar, de caráter igualitário e democrático, que tem se mostrado muito eficiente
apesar dos desafios para se inserir na sociedade atual.

Os objetivos específicos estão voltados para a análise dos Novos Movimentos Sociais, tendo o
Instituto Elos e Oasis como exemplo de metodologia a ser aplicada em comunidades de maneira
participativa. Realizar um balanço especulativo sobre os objetivos e resultados concretos de ações
voluntárias e cooperativas dos movimentos sociais em torno da melhoria das condições urbanas de
assentamentos precários, tomando-se o caso estudado como uma experiência exemplar.

Palavras-chave: movimentos sociais, políticas urbanas participativas, empoderamento social


Abstract

The research wants to expand the reflection about the voluntary actions, as well as the policy on
public participation on poor communities, looking for better urban conditions and strengthen collective
identities. In addition, it wants to analyze the importance of public participation and the New Social
Movements and its network, as a new way of organizing and working in a democratic way, that seems
to be very efficient, even though it has difficulties penetrating in the actual society.

The specific goal of this research is to analyze the New Social Movements, using the Instituto Elos
and the Elos Oasis Methodology as an example of a methodology to be applied on communities in a
participatory way. It aims to create a speculative balance between the goals and concrete results of
the voluntary and cooperative actions of the social movements, around the improvement of urban
conditions on settlements, using it as a successful case study.

Key-words: social movements, participatory urban policies, social empowering




                                                                                                     1
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


1. INTRODUÇÃO

Os propósitos iniciais da pesquisa se configuraram em torno de um duplo interesse:
primeiramente, ampliar, como participante do Movimento Oasis associado à ONG Instituto
Elos e aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo, o entendimento pessoal sobre esta
forma específica de se envolver e buscar soluções para os problemas das comunidades
carentes e, junto a isso, investigar os resultados de algumas ações na cidade de Santos, em
especial a Vila Alemoa, onde ocorreu em 2009 uma ação que resultou em um espaço
coletivo de lazer que atendia aos desejos manifestados pelos moradores. No decorrer da
pesquisa, este escopo inicial se ampliou. O olhar investigativo sobre o caso da Vila Alemoa,
interpelou-me sobre os conteúdos e significados mais amplos dos chamados Novos
Movimentos Sociais e suas práticas, nos quais se insere o Movimento Oasis. Ao contrário
dos movimentos sociais urbanos anteriores que se caracterizavam por ações de pressão,
reivindicações e protestos, as novas formas de organização social possuem composição
mais fluida dos agentes, facilitadas redes tecnológicas de contato, apelam para ações
concretas, buscam fortalecer os elos de identidade urbana e social e fomentam capacitação
dos indivíduos nos processos de participação inerentes às políticas públicas urbanas.
Mostrar como estes aspectos se articulam na aplicação da Metodologia Elos Oasis,
configura assim os objetivos e resultados desta pesquisa, destacando casos exemplares de
sua atuação.

Com   efeito,   as   novas   conjunturas   brasileiras,   desde    os   processos     sociais    de
redemocratização que culminaram na Constituição de 1988 e posteriormente no Estatuto da
Cidade (2001), consolidam a participação social como elemento inerente das políticas
públicas urbanas. Entretanto, avaliações críticas sobre as formas de inserções dos agentes
sociais na formulação e execução destas políticas têm evidenciado processos ainda
incipientes de envolvimento participativo cujo fortalecimento dependeria de experiências
continuadas nesta direção e, portanto, de uma dinâmica histórica de aprendizagem política.
Tudo indica que os Novos Movimentos Sociais têm caminhado nesta direção, como pode
ser visualizado nos resultados desta pesquisa. À partir de alguns referenciais teóricos,
busca-se descrever e analisar atuações exemplares na Vila Alemoa, Paquetá e outras, que
podem ser entendidas como o movimento em ação.



2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O embasamento teórico da pesquisa se dá em duas dimensões fundamentais: a contextual,
onde se destacam as formas de inserção da participação popular no Brasil, e a conceitual,
destacando interpretações sobre os movimentos sociais e as características das ONGs.



                                                                                                  2
Universidade Presbiteriana Mackenzie


O século XX foi marcado pelo crescimento intenso e desordenado das áreas urbanas que se
apresentavam como reflexos de acentuadas e cumulativas desigualdades sociais. Deficits
de infraestruturas e de atendimento de demandas habitacionais, além de carências de
saneamento básico, apelam para os questionamentos de qualidade de vida e
sustentabilidade urbana global. A urbanização mundial passa a assumir contornos cada vez
mais preocupantes, não apenas pela proeminência de crescimento populacional nas
cidades (desde 2007 a população urbana já supera a população rural no mundo). Uma vez
que os processos tanto econômico como político-sociais são cada vez mais interconectados
na escala mundial, o avanço da pobreza é preocupante, sendo evidente a necessidade de
adoção de outros mecanismos de gestão urbana capazes solucionar os problemas da
cidade. Levando em conta tais fatores, desde a Conferência Urbana Mundial de 1998, A
Conferência de Istambul, a ONU vem formatando diretrizes aos Estados Nacionais no
sentido de incorporar a cooperação entre iniciativas públicas, privadas e sociais. O Plano
defende novos modelos de governança que envolvam parcerias entre atores que constroem
e operam as cidades, aproveitando os recursos e infraestruturas existentes, investindo nos
recursos humanos disponíveis como condição fundamental para o desenvolvimento de
qualquer comunidade.

                       “A Conferência [UN- Habitat] de Istambul marca uma nova era de
                       cooperação, uma era de cultura à solidariedade. Enquanto caminhamos
                       para o século XXI, oferecemos uma visão positiva de assentamentos
                       humanos sustentáveis, um sentido de esperança para um futuro comum e
                       um conselho de participar de um desafio verdadeiramente vantajoso e
                       atraente, de construirmos junto um mundo onde cada um pode viver em
                       uma casa segura com a promessa de uma vida decente de dignidade, boa
                       saúde, segurança, felicidade e esperança.” (Istambul Declaration - The
                       Habitat Agenda, 2006)


Especialmente com a Declaração do Milênio (2000) e a instituição do UN-HABITAT como
responsável por metas de atendimento da demanda habitacional no mundo, a ONU
estabelece os Fóruns Urbanos Mundiais como o principal canal de participação sócio-
política entre os Estados nacionais, mobilizando ações práticas e inovações urbanas de
minimização da pobreza mundial. (ANTONUCCI, 2010) No avanço desta perspectiva, o
Fórum Urbano Mundial de 2006, ocorrido na cidade de Vancouver declara, como um dos
seis temas fundamentais a serem debatidos internacionalmente, a necessidade de se
fomentar novas metodologias de capacitação dos movimentos sociais visando inovações
nas políticas públicas urbanas e uma efetiva inserção social das comunidades carentes.
Construir uma nova cultura cívica, significa conceber um processo em construção e que
depende entre outros aspectos, de capacitação da população e de possibilidades de acesso
a informações. (Idem, 2010: 99)




                                                                                           3
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


No Brasil, se a participação popular sempre exerceu pressões no sentido do avanço de
conquistas sociais através de protestos e mobilizações em torno das necessidades de
habitação e de infra-estruturas urbanas é, sobretudo nos anos de 1980, que as
reivindicações que acompanham as lutas pela redemocratização do país, se associam a
propostas específicas de inclusão social nas políticas públicas urbanas. Tal como situa
Gohn (2003:50):

                       “A participação popular foi definida, naquele período, como esforços
                       organizados para aumentar o controle sobre os recursos e as instituições
                       que controlavam a vida em sociedade. Esses esforços deveriam partir
                       fundamentalmente da sociedade civil organizada em movimentos e
                       associações comunitárias.(...) Tratava-se de mudar as regras do controle
                       social e de alterar a forma de fazer política no país”.



A mudança de conotação em prol de apelos participativos significa um aumento na
democratização (como defende a Constituição de 1988) e o surgimento de um mediador da
relação Estado- Sociedade e proposições de qualidade, uma vez que os civis estão
presentes no cotidiano do local, possibilitando uma real interpretação das prioridades,
estabelecendo diagnósticos e estratégias específicas para o local. Além disso, essa nova
maneira de governar significa uma mudança na postura e valores dos indivíduos em seu
habitat, que passam a abrir mão de certos interesses individuais pelo bem comum (o que
raramente vemos na política brasileira). Deve haver cooperação e coletividade, com
responsabilidades distribuídas conforme as afinidades das pessoas e de preferência com
uma organização horizontal, ou seja, sem hierarquia- em rede- para que elas cumpram seus
deveres com prazer, e não por obrigação. É nesta conjuntura de mobilização social que
desponta o conceito de empoderamento, isto é, a capacidade de autonomia para a ação e
fortalecimento de caminhos específicos aos ideais das diversas organizações sociais ao
largo de possíveis manipulações e cooptações políticas.

                       “O empoderamento de grupos e indivíduos via capacitação política e
                       organizacional, que leva ao resgate – crescimento da auto-estima – e à
                       construção da identidade, assim como ao acesso a oportunidades de
                       emprego e geração de renda, itens de grande relevância em uma
                       conjuntura de desemprego. O empoderamento torna mais fácil, também, o
                       acesso aos serviços públicos, devido à difusão de informações que gera”.
                       (Idem, 2003: 58)


De acordo com a análise crítica desta autora em torno dos processos vigentes, essas novas
práticas tendem a se defrontar com obstáculos decorrentes da cultura política nacional, em
que predominam valores como clientelismo, paternalismo, e populismo, além da
implementação de projetos privilegiando interesses particulares, a descrença na eficácia das
leis, o “jeitinho brasileiro” com percepções distorcidas como a naturalização da corrupção e



                                                                                                4
Universidade Presbiteriana Mackenzie


a valorização das estruturas corporativas, nos aspectos de vícios e privilégios que elas
carregam. Em muitos casos, os processos participativos se resumem em um grande
discurso descolado de práticas condizentes. Em suas avaliações,

                       “Observa-se que a operacionalização não plena dessas novas instâncias
                       democratizantes se dá devido à falta de tradição participativa da sociedade
                       civil em canais de gestão dos negócios públicos; a curta trajetória de vida
                       desses conselhos e, portanto, a falta de exercício prático; e ao
                       desconhecimento das possibilidades por parte da maioria da população.”
                       (GOHN, 2003: 90).



Pode-se dizer que a falta de divulgação da possibilidade de participação pública está ligada
não só à falta de tradição no país, mas também a uma estratégia para conservar os vícios
de privilégios particulares e troca de favores. A participação social, num modelo que vem
sido incorporado pelas ONGs contemporâneas, busca uma relação ideal entre sociedade e
Estado. Tem um grande poder de mobilização, e passa a ser vista como energias
canalizadas para objetivos comuns, buscando cotidianamente os resultados desejados por
todos, ainda que o conteúdo político seja quase esquecido. Questões como a de que
maneira motivar as pessoas a se envolverem com a comunidade e seu bairro estão sempre
em discussão, notando-se que o sentimento de pertencer e de identidade podem motivar tal
participação. Nota-se também que com as novas ONGs, o que une as pessoas mais do que
sua comunidade e localidade é uma causa em comum, a busca pela solidariedade, como
um valor ético que se contrapõe ás tendências predominante, competitivas e individualistas.
Sem dúvida, a identificação com a causa e a conexão com o lugar são essenciais para o
envolvimento do indivíduo, uma vez que as pessoas passam a querer fazer, e não dever. O
fato de ser uma organização mais fluida, por cada vez mais estarem organizados em rede,
deixando de lado a hierarquia, também atrai mais as pessoas. Esta é a estratégia utilizada
pela Metodologia Elos (explicada adiante), exemplo de um Novo Movimento Social que
busca o desenvolvimento comunitário através da participação da população na realização
dos sonhos coletivos e utilizando a organização em rede, que tem se mostrado muito efetiva
para catalisar as ações práticas.

Em termos conceituais, Ilse Scherer (1996) define os Novos Movimentos Socais (NMS)
como organizações a partir da sociedade civil que buscam estabelecer um novo equilíbrio
de forças entre o Estado e a sociedade, assim como dentro dela própria, entre os
dominantes e os dominados. Além disso, buscam a descentralização do poder, criando
novas relações comunitárias através da reapropriação política. “(...) tal fenômeno poderia
ser   considerado    como    estatisticamente    pouco     significativo.   Porém,   creio   que
qualitativamente é importante considerar estes focos de transformação que emergem a
partir das bases da sociedade”. (IDEM, 1996: 50)


                                                                                                5
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Unir o potencial do Estado (poder institucional) com o da população (vitalidade,
numerosidade e força) de maneira equilibrada, pode potencializar a força para a
transformação social numa dialética entre força comunitária e política participativa, como
defendem os Novos Movimentos Sociais (NMS). Entende-se aí como política participativa o
trabalho coletivo e cooperativo de três instâncias na resolução de questões da cidade: os
órgãos públicos, as entidades privadas e as organizações populares. Já a organização
comunitária requer uma responsabilidade coletiva, isto é, autonomia e pró-atividade dentro
do grupo, criando e/ ou fortalecendo uma identidade. Esta, por sua vez, é essencial para
que haja dedicação e engajamento dos indivíduos para com seus coletivos.

A partir dos anos de 1990, Scherer (1996: 51) destaca a importância da compreensão das
redes de movimento (network organizations) estabelecidas entre organizações populares e
outros movimentos culturais e políticos. “Parte-se da hipótese de que é nas articulações
entre organizações e atores políticos e nas subseqüentes criações de redes que vem se
constituindo um movimento social”. Nota-se que tais articulações criam uma identidade entre
os agentes por conta de valores e ideais comuns, mesmo que os Movimentos tenham focos
distintos. Esta identidade fortalece tal rede, conectando atores de movimentos culturais e
políticos, potencializando e unindo os focos de transformações sociais existentes, que
isolados costumam ser pouco efetivos. Conclui-se que a rede de movimentos, sejam eles
culturais ou políticos, consiste na conexão dos pequenos focos de transformação. Como
dito, esta conexão amplia a efetividade das ações vindas da sociedade civil, além de
fortalecer sua atuação no campo político e revolucionário na cultura tradicional da
população. A rede liga grupos de objetivos comuns, além de facilitar a troca de informações,
conhecimentos e contatos úteis aos mais diversos Movimentos, possibilitando o surgimento
de uma cultura de caráter mais coletivo e cooperativo.

Como aponta Scherer (Idem: 60- 63) existem desafios a serem superados por essa nova
maneira organizacional: a falta de homogeneização entre os Movimentos, até mesmo dentro
de uma mesma organização em diferentes locais, não fortalece Movimentos com mesmos
objetivos e valores que poderiam trabalhar juntos; a dificuldade de inserção na sociedade
como movimento cultural, a que questiona os valores tradicionais; o conflito entre o discurso
ideológico e a prática é comum dentro dos próprios Movimentos. Estes, possuem algumas
características comuns independentemente do que defendem ou reivindicam, como a
política participativa e o equilíbrio de forças sociais.




                                                                                                   6
Universidade Presbiteriana Mackenzie


3. O MÉTODO

A pesquisa se caracteriza por uma diversidade de métodos de levantamento de dados e de
análise, perseguindo um caminho interpretativo não linear, envolvendo revisão bibliográfica,
observação de campo, contatos e entrevistas informais e outras orientadas por uma pauta
de conteúdos. Numa primeira etapa, a pesquisa bibliográfica onde se buscava a ampliação
conceitual e análise dos movimentos sociais urbanos, possibilitou uma compreensão mais
consistente e abrangente sobre a atuação do Oasis, redirecionando os focos iniciais da
pesquisa. Ao invés de se ater a uma única ação, a análise passou a focar nas
características do próprio Movimento e no alcance de suas práticas. Sobretudo, permitiu
orientar a interpretação em termos de convergência entre o discurso do movimento e as
suas ações concretas. No que diz respeito à Metodologia Elos Oasis, foram usados sites,
materiais da formação dos jovens e entrevistas informais com Rodrigo Rubido (um dos
fundadores do Instituto Elos) e Thais Polydoro, (Guerreira Sem Arma e integrante da equipe
desde 2000), além do conhecimento pessoal adquirido nesses dois anos de prática.

Foi feita uma entrevista com Ronaldo Pereira, morador da Alemoa que recebeu os
Guerreiros Sem Armas em 2009 e que, foi tão transformado e conquistado pela
metodologia, que acabou de participar dos Guerreiros Sem Armas 2011. A entrevista foi
feita em campo, buscando observar também as características urbanas e mudanças
ocorridas depois da primeira ação do Oasis. Os dados oficiais da área foram adquiridos em
pesquisas no site da Prefeitura de Santos e em Trabalhos Finais de Graduação de
Arquitetura e Urbanismo que englobam a área em questão, referenciados na Bibliografia.



4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Metodologia Elos Oasis é um exemplo de práticas dos Novos Movimentos que utilizam-se
da participação pública para atingir seus objetivos, além de serem organizados de maneira
inovadora- em rede- e buscando parcerias para viabilizar projetos. É interessante analisar a
iniciativa dos pontos de vista de participante do Movimento e de estudante em busca de
esclarecimento dessa nova maneira de se organizar e atuar na sociedade. Abaixo consta
toda a descrição da Metodologia Elos Oasis, desde sua origem até cada etapa do processo.



4.1.   O INSTITUTO ELOS E O MOVIMENTO OASIS
4.1.1. Origem
O Oasis surgiu na mobilização de estudantes de arquitetura da FAU-Santos que discutiam a
metodologia da disciplina de projeto. Integrantes do Diretório Acadêmico, os jovens
organizaram o ENEA Santos (Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura), com o tema


                                                                                           7
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


da “arquitetura na rua”, propondo ações práticas em comunidade e dando início a um
movimento que daria muitos frutos.
Na época (1996), o Museu da Pesca de Santos estava em péssimas condições de
conservação, prestes a ser desativado caso não surgisse uma proposta eficiente e em
conta. Quatro estudantes se mobilizaram para fazer o projeto e execução por meio de
mutirão, com campanhas de divulgação e arrecadação de recursos que iam desde venda de
adesivos à grandes festas. Organizaram oficinas, conseguiram apoios estratégicos e
contaram com a participação de cerca de 100 pessoas ao longo de todo o processo, que
terminou no ano 2000, dando origem ao Instituto Elos e à Metodologia Elos Oasis que foi
sendo criada nesse processo e veio a ser oficializada em 2003. Hoje ela está patenteada no
modelo mais aberto possível- o Criative Commons- que consiste na livre manipulação,
distribuição, compartilhamento e replicação destes conteúdos.
Durante o processo, que durou quatro anos, o grupo foi se consolidando e percebendo
elementos fundamentais para que ações como essa dessem certo. Segundo Rodrigo
Rubido, um dos quarto estudantes que deram origem à metodologia e um dos fundadores
do Instituto Elos, destaca alguns destes elementos: fortalecer o jovem para agir pela
sociedade, estimular a política participativa e criar um desafio real, com resultados visíveis a
curto ou médio prazo. O desenvolvimento de uma metodologia com um passo-a-passo de
como implementar a política participativa tira do discurso e facilita a prática da mesma.


4.1.2. O Propósito

A ideia é estimular protagonistas da transformação desejada, visando a pró atividade e
ações concretas e resultados a curto ou médio prazo. Há uma extrema necessidade da
participação da sociedade civil na resolução dos problemas das cidades, uma vez que as
esferas governamentais não dão conta da demanda e muitas vezes não sabem a
necessidade real das cidades, municípios ou bairros. Como levantado anteriormente, o
envolvimento de cidadãos na política pode, não só agilizar os processos e responder
diretamente às necessidades locais, como agir em prol de questões relacionadas ao
governo brasileiro, uma vez que a politização da população é essencial para um
desenvolvimento e mudança efetivos.

       O Instituto Elos define seu propósito como “Impulsionar um movimento de fazer
acontecer já o mundo que todos sonhamos”. Em entrevista, Rodrigo explica a frase.
        “Impulsionar um movimento” pelo fato de que sozinho uma ação é muito pontual,
enquanto um movimento tem a força coletiva e promove mudanças maiores e mais efetivas
que podem ir se expandindo mais rapidamente; “Fazer acontecer já” traz para a realidade; a
materialização é um estímulo para dar continuidade ao movimento. O fato de materializar os



                                                                                                 8
Universidade Presbiteriana Mackenzie


sonhos e projetos é um estímulo para dar continuidade ao uso da metodologia, envolvendo
as pessoas cada vez mais em sua filosofia; “O mundo que todos sonhamos” é lutar pelo
melhor mundo, não apenas por um mundo melhor; buscar a utopia como realidade. É
acreditar no potencial de transformação que cada um tem dentro de si e investir para que se
materialize.


4.1.3. Definição

O Instituto Elos é responsável pela formação de jovens para que possam aplicar o jogo onde
e quando desejarem. Isso se dá de duas maneiras: a primeira, o Guerreiros Sem Armas,
que acontece a cada 2 anos e é o principal programa do Instituto, em que jovens do mundo
todo vão à Santos em uma imersão de 1 mês para serem capacitados nas tecnologias
sociais e no passo a passo da metodologia (o qual participei da edição de 2009). O segundo
formato é o Oasis Training, que é uma espécie de Guerreiros Sem Armas express, com
capacitação adaptada em 10 dias, 1 semana ou 1 fim de semana.

O Oasis é uma tecnologia social prática de desenvolvimento comunitário que convida uma
comunidade a projetar e construir de forma cooperativa um projeto desafiador escolhido
pelos moradores para satisfazer suas necessidades. O Jogo visa despertar e cultivar um
espírito de empreendedorismo social cooperativo nos membros da comunidade, mas
também enfatiza o estímulo à comunidade em si. Sob esse aspecto, dois dos principais
objetivos são restaurar e/ou fortalecer as relações e ligações afetivas que unem uma
comunidade; e cultivar um senso de oportunidade e de responsabilidade de cuidar das
pessoas e do ambiente à sua volta.

   As pessoas capacitadas são quem alimentam o Movimento Oasis, que acontece em
rede, através da união de pessoas nos ambientes virtual e presencial, considerando uma
definição ampla de comunidade e envolvendo representantes de diferentes setores da
sociedade – ONGs, governo municipal, iniciativas privadas, assim como moradores de
outras partes da cidade. Neste caso, surgem ações espontâneas em todo o mundo, não
necessariamente com o envolvimento do Instituto Elos, contando com o poder, força e apoio
da rede. As pessoas que fazem acontecer normalmente são jovens com espírito de
liderança e com uma visão crítica de sua atuação e papel na sociedade.

                      “Estimular e habilitar grupos para cooperação e empreendedorismo de
                      grupo e comunitário; promover o olhar apreciativo e ampliar a capacidade
                      de cada um propor soluções criativas para as questões críticas da nossa
                      sociedade, do nosso bairro; trazer para o cotidiano dos participantes a
                      percepção que é possível transformar o mundo sem sofrimento; sem
                      comprometer a sua liberdade ou autonomia e ainda fazer tudo com muito
                      prazer; promove a prática de valores humanos como: respeito, compaixão,
                      cooperação, aceitação de diferenças etc.; amplia o nível de informação
                      sobre estratégias de sustentabilidade ambiental e auto construção; e


                                                                                            9
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


                       restaurar ou constrói um sonho comunitário, podendo ser replicável.”
                       (INSTITUTO ELOS, 2009)


A Metodologia Elos Oasis, tal como aponta Engels (2009), foi inspirada na cultura Guarani e
no mito da Terra Sem Males, nas tradições caiçaras, nos princípios da multidisciplinaridade
e visão holística, no conceito de associativismo, cooperação e construção coletiva. Além
dessas inspirações, a metodologia foi baseada na filosofia Waldorf (antroposofia), no
conceito de capital social de Augusto de Franco, no livro Alfabetização Ecológica de Fritjof
Capra, no livro “O Teatro do oprimido” de Augusto Boal, no sentimento humano trazido por
Paulo Freire, na prática de atividades lúdicas (a arte de brincar) e na prática de fazer
perguntas (estimular as pessoas a buscar as próprias respostas).

Há alguns pré requisitos para que a ação do Oasis seja efetiva, como por exemplo, a
existência de uma organização prévia da comunidade (associação dos moradores ou ONGs
atuantes), ou ao menos um sonho comum, com um mínimo de 5 moradores encantados
com a proposta. O envolvimento e empoderamento de adultos também é essencial para que
haja continuidade e que novas ações aconteçam, sendo essencial criar metas de médio
prazo para estimular o engajamento. O contato constante para garantir o envolvimento dos
moradores assim como a disseminação da proposta para o máximo de pessoas possível
também é essencial antes da chegada dos voluntários, que por sua vez fortalecem os laços
com a comunidade e iniciam a fase da Proposição e da Ação.

A metodologia propõe, por meio de 8 tecnologias sociais e de 7 etapas, transformar espaços
degradados em espaços coletivos de maneira dinâmica e trabalhando o campo afetivo,
criando laços e reforçando a identidade daquela população para com aquele local. Em
poucos dias são implementadas soluções projetadas coletivamente a partir do levantamento
de talentos, recursos e sonhos locais. Uma vez que o projeto é feito quase que unicamente
com elementos da própria comunidade, ele funciona como uma fonte para a auto-estima
daquela população, que passa a acreditar na sua capacidade de criar e suprir seus próprios
desejos, deixando de depender do poder público, e estabelecendo uma nova possibilidade
de relação: a parceria. A transformação é principalmente interna nos indivíduos, à medida
que se mobilizam para a criação de um espaço físico que representa a materialização dessa
transformação, assim como do esforço conjunto em função de um objetivo comum. Isto
significa que a construção física não é a prioridade da ação, e sim um estímulo visual para a
transformação interna de cada indivíduo e da comunidade como unidade (comum-unidade).
Ainda assim, nota-se a importância de espaços de convivência, encontro, permanência e
lazer do ponto de vista urbanístico, uma vez que o desenho da cidade influencia diretamente
no comportamento das pessoas.




                                                                                              10
Universidade Presbiteriana Mackenzie


4.1.4 Metodologia

Como dito, a metodologia consiste em 7 passos do processo desde o diagnóstico até a
realização, que devem ser aplicados após uma conversa prévia com os moradores, com o
comprometimento e constatação da vontade de fazer acontecer. Cada passo utiliza-se de
tecnologias sociais (Comunicação Não Violenta, Olhar Apreciativo, Cafe Comunitário, Open
Space, Danças Circulares, Jogos Cooperativos, Rede e Mutirão) e que facilitam ações em
grupos, assim como auxiliam na assimilação do processo. Cada etapa é essencial para que
o processo seja efetivo, e é aplicada primeiro pelos participantes e depois pela comunidade.




                                                              Passo a Passo da metodologia.

                                                              Fonte: www.elosmaiscultura.com.br




a. O olhar (Percepção): Reeducar o olhar e a percepção dos espaços e pessoas,
através do Olhar Apreciativo (ou Investigação Apreciativa), buscando sempre o belo e a
abundância onde aparentemente só existe escassez. O exercício estimula a prática de fazer
perguntas que reforcem a capacidade de elevar o potencial positivo.

b. O afeto (Informação): Conhecer a vida da comunidade: quem são as pessoas que
produzem o belo (coisas e ações), quem são as lideranças afetivas (pelo respeito e afeto
que a comunidade tem a ela), como rezadeiras, educadores, artesãos ou anciãos. Nesse
momento são mapeados os talentos e recursos existentes no local, além de aprofundar
nas origens culturais da comunidade e nas características dos moradores locais

c. O sonho (Reflexão): Descobrir quais são os sonhos da comunidade trabalhada através
de conversas com os moradores. A abordagem é feita perguntando os sonhos das pessoas,
ao invés de perguntar dos problemas, uma vez que os sonhos normalmente são a resolução
dos problemas (eles mesmo já propõe a solução), mas abordados de maneira positiva e



                                                                                                  11
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


otimista. Fazem-se perguntas que estimulam a reflexão, até que a pessoa conclua quais
são seus sonhos mais íntimos no que diz respeito ao espaço e a sua vida naquele lugar.

d. O cuidado (Proposição): Elaborar coletivamente a proposta de ação, que deve atender
ao maior número possível de sonhos coletivos da comunidade, considerando as
informações levantadas nos processos 1 a 3. Essa proposta de ação é feita em uma
reunião com a comunidade, onde eles sistematizam seus sonhos, recursos e talentos
através do World Café. Depois disso é feita uma maquete física para que os moradores
possam visualizar o sonho coletivo escolhido a ser realizado, além de servir como um apoio
para o momento da materialização.

e. O milagre (Ação): É o momento Mão na Massa para materializar o sonho projetado. Isto
é feito através de um mutirão com uma mobilização prévia dos recursos necessários
(espaço físico, matéria-prima, ferramentas, mão de obra, alimentação, entre outros). Nesta
etapa trabalha-se principalmente a cooperação, autonomia e pró atividade, buscando a
materialização imediata dos sonhos, o fortalecimento e a articulação da rede de
parceiros.

f. A Celebração: Comemorar o milagre da transformação atingida coletivamente. A forma
de celebração fica a critério da comunidade; este é o momento de fortificar os elos criados,
compartilhando os aprendizados e desafios vivenciados no processo.

g. Re- Evolução: É o momento de colher aprendizados e planejar ações a partir da
iniciativa e autonomia de cada comunidade, conectando-a à rede de outras comunidades e
parceiros do Oasis. Inicia-se com o Encontro do Futuro, lançando novos desafios e traçando
novos objetivos com a comunidade. (www.oasismundi.ning.com)




4.2.   AÇÃO DO MOVIMENTO OASIS NA VILA ALEMOA - SANTOS



Presente na Zona Noroeste de Santos, o bairro da Alemoa possui 945400m² de área de
caratáter majoritariamente industrial. A ocupação da comunidade deu-se na década de 50,



                                                                                             12
Universidade Presbiteriana Mackenzie


   na margem da ferrovia onde atualmente passa a Rodovia dos Bandeirantes. Localizada
   estrategicamente próxima às indústrias e o matadouro, onde a maioria dos moradores
   trabalhava, a Vila Alemoa foi expandindo até atingir as dimensões que tem hoje, com 1113
   famílias cadastradas em 2009 das quais 160 foram para o CDHU. (PRADO: 2000)

   Com apenas quatro vias pavimentadas, a área ocupada pela Vila Alemoa está localizada
   sobre o mangue, que em partes foi aterrado e em partes não. Com praticamente todas as
   casas construídas por seus próprios moradores, as mais recentes datando 16 anos, suas
   tipologias variam entre o barraco (25%), a casa de alvenaria (65%) e as palafitas (10%).

                          “É uma inversão da prática projetual e de planejamento urbano: enquanto
                          nas cidades ou nos espaços urbanos projetados as plantas existem em
                          projeto antes mesmo da cidade real, nos espaços labirínticos, como as
                          favelas, é o oposto que acontece, as plantas só são produzidas a posteriori,
                          e são desenhadas a partir do espaço já existente.” (BERENSTEIN, 2002:
                          54)




Abrigos emergenciais                  Situação das palafitas                   Circulação e acesso


   Em janeiro de 2009, a Vila Alemoa foi uma das três comunidades que receberam o grupo
   Guerreiros Sem Armas. Depois de 3 semanas exercitando o Olhar, o Sonho, o Afeto e o
   Cuidado, o Milagre ia acontecer. Em 5 dias, o mão na massa teve a participação dos
   Guerreiros, pessoas da comunidade (principalmente as crianças), um grupo de jovens do
   Clube Rotary, estudantes e professor da UFABC e os Lideranças Executivas, estudantes de
   administração que vivenciam a última semana do programa. O sonho realizado pela
   comunidade e seus parceiros foi uma praça com parquinho, mesas de convivência e jogos,
   horta comunitária, pergolado, paisagismo e um mural com um logo da Alemoa.


                                                                                  À Esq: mural feito
                                                                                  na ação GSA 2009

                                                                                  À Dir: praça pronta
                                                                                  e presença de
                                                                                  inúmeras pessoas

                                                                                  (Fonte:    arquivo
                                                                                  Elos 2009)




                                                                                                     13
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


                      “A favela é um espaço em constante movimento porque os moradores são
                      os verdadeiros responsáveis por sua construção, ao contrário do morador
                      da cidade formal, que muito raramente se sente envolvido na construção do
                      seu espaço urbano e, em particular, dos espaços públicos de sua cidade. A
                      participação comunitária ocorre de forma muito mais representativa nas
                      favelas e áreas favelizadas em geral do que na cidade formal.”
                      (BERENSTEIN, 2002: 56)




Depois dessa ação, os moradores organizaram alguns eventos ao longo do ano, muitos
deles em parceria com a Vila dos Criadores, outra comunidade com ação dos Guerreiros
Sem Armas 2009. Já em março, alguns jovens organizaram o Encontro dos Grafiteiros na
Alemoa para colorir a avenida; Em pela única vez na história da comunidade, a associação,
os jovens e o grupo abril, na Páscoa, a comunidade organizou uma festa que conseguiu
reunir, Comu; A Festa Junina, o Dia das Crianças e o Natal são festas que sempre
acontecem lá e que ganharam ponto fixo para acontecer: a praça construída no Oasis de
janeiro; Em julho, o Encontro Anual das Comunidades foi anfitrionado pelos moradores da
Vila dos Criadores e da Alemoa, que foi quem sediou o evento. Eles discutiram “o que fazer
juntos que não dá para fazer sozinho”, e estão trabalhando para criar uma nova associação:
já estão com o Estatuto pronto, estão articulando as comunidades de Santos e em busca de
um CNPJ para facilitar as relações burocráticas. Junto a isso, montaram um roteiro de
Turismo de Base Comunitária com o Projeto bagagem que está em desenvolvimento.


                                                                               À Esq: mural feito
                                                                                no encontro dos
                                                                                grafiteiros 2009.

                                                                                À Dir: estado de
                                                                                 conservação da
                                                                             praça em Jul. 2010.

                                                                             (Fonte: Arq. Pessoal
                                                                                2010 e Arq. Elos
                                                                                            2009)




                                                                                               14
Universidade Presbiteriana Mackenzie


Em setembro de 2009, a Vila Alemoa realizou o Oasis Anima, e em dois dias de mão na
massa reformaram a praça existente, fizeram campo de futebol, musculação e ampliaram o
mural de pinturas e grafites.

Em visita a campo no dia 28/07/10, Ronaldo, morador e líder da Vila Alemoa, guiou-me e
contou alguns fatos. A respeito da infra estrutura básica, parte da população paga uma taxa
para a luz, outros pagam a conta normalmente; pagam pela água, mas pela energia elétrica
e esgoto não, sendo a primeira obtida por meio de “gatos”, e o segundo, sem tratamento,
fica céu aberto com riscos de contaminação e doenças. Há um alojamento emergencial com
31 casas que abrigam moradores de áreas de risco e que se mudarão para os CDHUs. No
entorno da comunidade encontram-se 3 mercados atacadistas, uma Escola Municipal de
Ensino Médio e uma de Ensino Fundamental com cursos apenas durante o dia, uma clínica
de saúde que atende a 3 comunidades próximas e por isso não dá conta da demanda.

                        “O tecido urbano da favela é maleável e flexível, é o percurso que determina
                        os caminhos. Ao contrário da planificação urbana tradicional, que determina
                        a priori o traçado, as ruas da favela (e todos os espaços públicos) são
                        determinadas exclusivamente pelo uso.” (BERENSTEIN, 2002: 54)


Em 1981 foi fundada a associação dos moradores, pelo mesmo homem que é hoje o diretor
e que, segundo Ronaldo, não dá abertura para discussão sobre a gestão do espaço.
Rampas de acessibilidade foram criadas ano passado, quando um cadeirante passou a
trabalhar na associação. Lá são oferecidos cursos e serviços básicos de saúde, mas suas
atividades são independentes de qualquer outra iniciativa da comunidade.

                        “A maior diferença entre a ocupação planejada da cidade formal e a
                        ocupação selvagem das favelas diz respeito ao tipo de raíz, uma fixa e a
                        outra aberta, a qual tem um enorme potencial de transformação.”
                        (BERENSTEIN, 2002: 56)


Em março de 2011 foi inaugurada uma biblioteca em conjunto com a Vila dos Criadores,
resultado de parcerias com os doadores dos livros. Ronaldo está articulando um novo Oasis
na mesma área, e tem identificado novos líderes que podem fortalecer a comunidade. Isto
representa a efetividade da primeira ação, que desencadeou tantas outras e que elevou a
auto-estima de moradores que agora são protagonistas das transformações que desejam.

4.3.   OUTROS EXEMPLOS DE PRÁTICAS SIGNIFICATIVAS


4.3.1. Paquetá - Santos

O bairro do Paquetá, localizado no centro de Santos, próximo ao porto, era tido como um
dos locais mais degradados e violentos da cidade, com alto índice de tráfico de drogas,
prostituição, e 18 mil famílias morando em cortiços em péssimas condições. O bairro conta


                                                                                                 15
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


com inúmeros imóveis de valor arquitetônico, muitos deles extremamente decadentes, sem
uso ou ocupado por famílias.

Em 2002, começou uma nova gestão na ACC (Associação dos Cortiços do Centro), que
estava reestruturando a entidade e conhecendo o trabalho do Instituto Elos, procurou-os em
busca de uma ação. No ano seguinte, o Elos foi convidado pelo SESC- Santos para dar uma
palestra sobre participação comunitária, e aproveitou a oportunidade para mostrar na prática
como fazer, iniciando aí as ações no bairro do Paquetá. Em 2007, o bairro recebeu os
Guerreiros Sem Armas com o sonho de transformar um casarão abandonado em um Centro
Cultural (o qual está em atividade e a busca pela apropriação do imóvel está em
andamento).

A primeira ação aconteceu na Praça Nagasaki, reformada algumas vezes pelo poder
público, mas sem grande adesão da comunidade. Neste caso, houve grande participação da
população, que construiu bancos, jardins, pintou muros e fez um parquinho para as crianças
em apenas 2 dias. No Encontro do Futuro, dias após a ação, houve grande presença de
moradores de diversas idades, gerando novas ações e metas para os próximos 3 meses.
Desde então, fizeram reuniões semanais, reestabelecendo a comunicação na comunidade e
resgatando costumes como festas de páscoa, dia das crianças e Natal, que há alguns anos
tinham deixado de comemorar coletivamente, além de criar parcerias importantes com
ONGs e empresários para a consolidação de seus projetos. Em função dos inúmeros
sonhos coletivos, foram criados 5 frentes de trabalho que se responsabilizariam pela busca
da realização: o grupo dos jovens, que criaram uma central de cursos (oferecendo teatro,
dança, filmes, entre outros), se integraram nos eventos das cidades e criaram o Festival
Nagasaki, evento oficial de Santos; o grupo das crianças, que mobilizaram contadoras de
histórias, passeios, cozinha coletiva (levavam comida e as mães preparavam) e oficinas,
com apoio da assistência social; o grupo da geração de renda, que teve início como uma
terapia grupal e virou uma cooperativa que vende bonecas de panos, artesanato, design de
bijouterias (já são vendidas no exterior com o auxílio da Petrobrás que deu apoio financeiro)
e hoje estão com um projeto buscando a interação com presidiários; o grupo da creche e da
padaria em parcerias com ONGs e recursos do Instituto HSBC inauguraram em 2009 a
padaria em estabelecimento próprio, e hoje estão trabalhando para materializar a creche; e
por fim, o grupo de habitação popular (sendo este o maior objetivo da comunidade), que deu
início com visitas à experiências bem sucedidas e graças ao apoio da ONG Ambienta e o
financiamento da Caixa Econômica Federal, estão finalizando as obras de 174 habitações.

Pode se dizer que este é o caso que mais evoluiu desde a primeira ação da Metodologia
Elos Oasis. As pessoas se organizaram, reivindicaram e conquistaram seu principal objetivo,
a moradia digna. Ainda estão em busca de outras coisas, porém com a certeza de que


                                                                                              16
Universidade Presbiteriana Mackenzie


unidos eles são capazes. É um exemplo inspirador principalmente para outras comunidades
que estão em lutas semelhantes em busca da melhoria da qualidade de vida.

4.3.2. Instituto Elos e a Iniciativa Privada

Em dezembro de 2010 foi realizado um Oasis com os trainees da Natura. São 30 jovens em
processo de formação que dura 2 anos, iniciado no começo do ano. Eles escolheram aplicar
a Metodologia Elos em uma das comunidades do entorno da sede principal, em Jundiaí.
Foram 2 fins de semana: um de visita e diagnóstico apreciativo, e no outro, a ação. Foram
feitas duas áreas de lazer e convivência próximas aos dois campinhos existentes, buscando
atender às demandas dos diferentes usuários.

A experiência foi muito interessante, principalmente pelo fato de os jovens terem um espírito
extremamente competitivo, e conseguirem redirecionar suas habilidades de maneira
cooperativa. É importante conscientizar os futuros grandes empresários do país, fazendo
com que entendam que trabalhar junto é mais produtivo e muito importante para o
desenvolvimento do país e da própria empresa, e que não é necessário “derrotar” o outro
para se dar bem, que em parceria as coisas se tornam mais agradáveis e simples de serem
realizadas.

4.3.3. instituto ELOS e o Governo Federal

O Projeto Elos no Canteiro Mais Cultura (http://mais.cultura.gov.br) é parte do Programa
Mais Cultura desenvolvido pelo Ministério da Cultura, que visa a criação de espaços físicos
em áreas com escassez de equipamentos públicos e infra-estrutura (onde serão
implantadas bibliotecas e espaços de cultura pelo Ministério). A Metodologia Elos é utilizada
para formar e mobilizar agentes locais para elaborar ações colaborativas e colocá-las em
prática com as construções coletivas, tendo como princípio a participação social ampla
durante todo o processo. Dessa forma, deverão ser articulados como atores primordiais do
processo o Ministério da Cultura, as Prefeituras, Governos Estaduais e órgãos públicos
locais, a comunidade, entidades e instituições parceiras.

Em 2010 foram realizadas ações em 20 cidades do Brasil que estão recebendo a ação, que
acontece em 3 etapas: a Expedição, com visita e diagnóstico apreciativo nas comunidades;
a Formação, que forma agente locais com a Metodologia Elos; e o Mão na Massa, que são
as ações nas comunidades coordenadas pelos participantes da formação e com supervisão
de facilitadores do Elos, sendo eles Guerreiros Sem Armas formados em 2007 e 2009.
(www.elosmaiscultura.com.br)

Esta é a primeira experiência de Oasis em parceria com o governo que se mostrou muito
eficiente e satisfatória. Neste projeto foram identificados 3 eixos principais de ação:



                                                                                             17
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


socioeconômico, socioambiental e sociocultural. O primeiro, ajuda no desenvolvimento de
alguma atividade de acordo com a habilidade local para a geração de renda, com produtos
de alta qualidade. O segundo cuida do paisagismo e outras frentes relacionadas ao meio
ambiente, e o terceiro, por fim, trabalha o campo do lazer e cultura, desenvolvendo as áreas
de convivência e lazer como parquinhos, praças e outros espaços construídos coletivamente
pela comunidade.



5.   CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Metodologia Elos Oasis se encaixa em inúmeros quesitos levantados pela ONU ou por
Ilse Scherer como essenciais para a resolução de problemas na sociedade atual,
destacando principalmente a participação da população desde a concepção de novas
políticas urbanas até a execução das mesmas. Não só o governo não dá conta da demanda
de questões consideradas essenciais, como o envolvimento da sociedade civil acata em
uma relação diferenciada entre as pessoas e o espaço, assim como entre os próprios
indivíduos, gerando respeito, solidariedade e identidade, fortalecendo laços e aumentando a
autonomia e auto-estima de comunidades que passam a ser protagonistas das ações.

A análise da efetividade de ações utilizando a Metodologia Elos- Oasis identificou que a
mudança nos moradores (seu comportamento, valores e pró-atividade) e suas atuações são
mais importantes do que o estado de conservação das construções feitas na sexta etapa, o
Mão na Massa; o resgate da auto-estima junto ao fortalecimento das relações das pessoas,
gera autonomia e a crença na capacidade de transformação sem necessidade de ajuda das
autoridades, estabelecendo parcerias com o governo, iniciativa privada e o terceiro setor.
Ainda assim, nota-se a importância de lugares de lazer, encontro e convivência em
comunidades, uma vez que tais espaços passam a fazer parte da vida das pessoas, e sua
qualidade influencia diretamente na qualidade de vida dos moradores. Além disso, o fato de
serem feitos pela própria comunidade fortalece as relações pessoais e o sentimento de
pertencimento e inspira outras ações, pois remete à capacidade de fazer coletivamente.
Cabe salientar que o sentido das ações nestas comunidades visa, portanto, mais do que
alterar as condições materiais de carência hoje existentes, fortalecer o potencial humano,
capacitando os indivíduos, através de um processo de auto-percepção e auto-estima, a
agirem com mais autonomia frente aos seus próprios problemas de exclusão social.

A transformação ocorre não só nas comunidades que recebem a ação, mas nos voluntários
que participam do processo. Este fato pode ser considerado tão importante quanto o
primeiro, uma vez que essas pessoas desencadeiam outras ações e estimulam suas redes
a transformarem suas realidades.



                                                                                             18
Universidade Presbiteriana Mackenzie


Como Guerreira Sem Arma e participante efetiva das ações do Oasis, destaco algumas das
dificuldades encontradas para o crescimento e fortalecimento do Movimento, como a união
com outras organizações de mesmos objetivos e valores, ou a dificuldade de inserção na
sociedade, uma vez que questiona os valores tradicionais e desafia as pessoas a pensarem
e agirem de maneira diferente do que estão acostumadas (mesmo notando que as pessoas
se dispõe a isso com freqüência). Nota-se que ações que acontecem espontaneamente em
cidades sem a participação do Instituto Elos ou de um Guerreiro Sem Armas, dificilmente
serão efetivas na comunidade, já que cada passo deve ser feito garantindo sua essência;
mas, a mudança nos voluntários pode ocorrer da mesma maneira.

Outro fator que se mostrou interessante é a eficiência da organização em rede, que é uma
tecnologia estimulada há tempos, porém raramente vista em prática. Sua eficácia se dá pelo
fato de que as responsabilidades são divididas sem hierarquia, e sim por afinidade. Isso não
só estimula as pessoas a fazerem o que gostam, como agilizam os processos, já que todos
tem autonomia para tomar decisões. O poder da rede também está nas conexões,
compartilhando contatos e sugerindo parcerias, o que é essencial para viabilizar projetos,
principalmente do terceiro setor. Isso possibilita ampliar a área de atuação, avançando para
outras cidades e países, como é a intenção do Instituto Elos de dissipar a Metodologia Elos
Oasis pelo mundo- e já está sendo posta em prática, mas com certeza ainda há muito que
aprender e compreender.

Cabe salientar finalmente e reafirmando algumas análises críticas, que o potencial destes
novos movimentos sociais onde se agilizam formas de aglutinação social em moldes mais
solidários e horizontais, se defronta com horizontes incertos e ambíguos se considerado os
processos mais amplos de transformação histórica da sociedade contemporânea. Contém
sinais de possibilidades e, sobretudo operam formas inovadoras de capacitação dos
indivíduos aos processos de participação social, tão enfatizados pelas políticas públicas
urbanas.



6. BIBLIOGRAFIA

ALEX, Sun. Projeto da Praça: Convívio e Exclusão no Espaço Público. São Paulo:
Editora SENAC, 2008.
ANTONUCCI, Denise. ALVIM, Angélica. ZIONI, Silvana. KATO, Volia. UN- Habitat: das
Declarações aos Compromissos. São Paulo: Editora Romano Guerra, 2008.
ENGELS, Marina M. KITA, Cintia Tiemi. LUCHESI, Julia Sodré. Metodologias de
Desenvolvimento Comunitário: Descrições, análises e comparações. Trabalho de
Conclusão de Curso de Engenharia Ambiental SENAC, São Paulo, 2009.
GOHN, Maria da Glória. Conselhos Gestores e Participação Sociopolítica. São Paulo:
Cortez Editora, 2003



                                                                                          19
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


_________ A cidade ao lado da cultura: espacialidades sociais e modalidades de
intermediação cultural. In: SANTOS, Boaventura de Souza (org). A Globalização e as
Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2002.
Guia de Formação- Elos no Canteiro Mais Cultura. Instituto Elos, 2010.
Metodologia. Disponível em http://guerreirossemarmas.wordpress.com/metodologia/ ,
acesso 28 de maio de 2010.
Oásis – Faça você mesmo. http://oasismundi.ning.com/group/materiaismaterialesmaterials,
acesso em 25 de maio de 2010.
POLYDORO, Thais. Reciclando Ambiente: Recuperando Vida. Trabalho Final de
Graduação FAU-Santos, 2000.
PRADO, Fabio C. Requalificação Urbana na Alemoa, Jd. Piratininga e Jd. São Manoel.
Trabalho Final de Graduação FAU-Santos, 2000.
SCHERER, Ilse. Redes de Movimentos Sociais. São Paulo: Edições Loyola- 2ª edição,
1996.
Sobre o Programa. Disponível em http://elosmaiscultura.com.br/sobreelos, acesso 15 de
março de 2011.
UN-HABITAT –Istambul Declaration on Human Settlement. The Habitat Agenda. Un-
Habitat, 1996. Disponível em: www. Unhabitat.org, acesso 10 agosto de 2010.
VARELLA, Drauzio. BERTAZZO, Ivaldo.JACQUES, Paola B. Maré, Vida na Favela. Rio de
Janeiro: Ed. Casa da Palavra, 2002.



Contato: rezinha_s@hotmail.com e vrkato@uol.com.br




                                                                                            20

Contenu connexe

Tendances

Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre Adryanna Silva
 
A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...
A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...
A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...PROUTugal
 
Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...
Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...
Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...Fabiana Adaice
 
Sociedade civil e movimentos sociais
Sociedade civil e movimentos sociaisSociedade civil e movimentos sociais
Sociedade civil e movimentos sociaisAndré Santos Luigi
 
4 -o_projeto_etico-politico_do_servico_social
4  -o_projeto_etico-politico_do_servico_social4  -o_projeto_etico-politico_do_servico_social
4 -o_projeto_etico-politico_do_servico_socialJoyce Dias
 
Movimentos Sociais e Serviço Social
Movimentos Sociais e Serviço SocialMovimentos Sociais e Serviço Social
Movimentos Sociais e Serviço SocialAndré Santos Luigi
 
A dimensão política do trabalho do assitente social
A dimensão política do trabalho do assitente socialA dimensão política do trabalho do assitente social
A dimensão política do trabalho do assitente socialAndré Santos Luigi
 
Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...
Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...
Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...Irma Gracielle Carvalho de Oliveira Souza
 
Aula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas PolíticasAula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas Políticaseadcedaps
 
Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social.
 Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social.  Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social.
Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social. Rose Rocha
 
Aula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas PolíticasAula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas Políticaseadcedaps
 
Aula1- Participação Social
Aula1- Participação SocialAula1- Participação Social
Aula1- Participação Socialeadcedaps
 
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falandoSociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falandoAlvaro Gomes
 
Gestão social x Questão Social
Gestão social x Questão SocialGestão social x Questão Social
Gestão social x Questão SocialIFSC
 
Apresentação mmmmmm
 Apresentação mmmmmm Apresentação mmmmmm
Apresentação mmmmmmlovvyy
 
Gestao participativa e desenvolvimento local
Gestao participativa e desenvolvimento localGestao participativa e desenvolvimento local
Gestao participativa e desenvolvimento localDesperto Asserto
 
Celina souza políticas públicas aula 2
Celina souza políticas públicas aula 2Celina souza políticas públicas aula 2
Celina souza políticas públicas aula 2Briggida Azevedo
 

Tendances (19)

Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre
 
A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...
A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...
A Importância do Desenvolvimento Local para a a Sustentabilidade do Territóri...
 
Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...
Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...
Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais, maria da glo...
 
Sociedade civil e movimentos sociais
Sociedade civil e movimentos sociaisSociedade civil e movimentos sociais
Sociedade civil e movimentos sociais
 
4 -o_projeto_etico-politico_do_servico_social
4  -o_projeto_etico-politico_do_servico_social4  -o_projeto_etico-politico_do_servico_social
4 -o_projeto_etico-politico_do_servico_social
 
Movimentos Sociais e Serviço Social
Movimentos Sociais e Serviço SocialMovimentos Sociais e Serviço Social
Movimentos Sociais e Serviço Social
 
A dimensão política do trabalho do assitente social
A dimensão política do trabalho do assitente socialA dimensão política do trabalho do assitente social
A dimensão política do trabalho do assitente social
 
Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...
Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...
Aula 1 políticas públicas de informação para unidades de informação na socied...
 
Aula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas PolíticasAula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas Políticas
 
Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social.
 Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social.  Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social.
Enfoque das políticas sociais e do desenvolvimento do serviço social.
 
Fichamento da obra "Capital Social" de Maria Celina D'Araujo
Fichamento da obra "Capital Social" de Maria Celina D'AraujoFichamento da obra "Capital Social" de Maria Celina D'Araujo
Fichamento da obra "Capital Social" de Maria Celina D'Araujo
 
Aula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas PolíticasAula2 Participação nas Políticas
Aula2 Participação nas Políticas
 
Aula1- Participação Social
Aula1- Participação SocialAula1- Participação Social
Aula1- Participação Social
 
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falandoSociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
 
Gestão social x Questão Social
Gestão social x Questão SocialGestão social x Questão Social
Gestão social x Questão Social
 
Apresentação mmmmmm
 Apresentação mmmmmm Apresentação mmmmmm
Apresentação mmmmmm
 
Gestao participativa e desenvolvimento local
Gestao participativa e desenvolvimento localGestao participativa e desenvolvimento local
Gestao participativa e desenvolvimento local
 
Texto2 1
Texto2 1Texto2 1
Texto2 1
 
Celina souza políticas públicas aula 2
Celina souza políticas públicas aula 2Celina souza políticas públicas aula 2
Celina souza políticas públicas aula 2
 

Similaire à Movimentos sociais e participação urbana

3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...Otavio Luiz Machado
 
Texto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeTexto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeOtavio Luiz Machado
 
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08otaviomachado3
 
Coletivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidade
Coletivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidadeColetivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidade
Coletivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidadeAntonio Carlos Benvindo
 
Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011
Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011
Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011Biblioteca Campus VII
 
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação  Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação Queite Lima
 
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação Queite Lima
 
Global city2 0 joão ferrão
Global city2 0 joão ferrãoGlobal city2 0 joão ferrão
Global city2 0 joão ferrãocidadespelaretoma
 
Principais textos em conjunto
Principais textos em conjuntoPrincipais textos em conjunto
Principais textos em conjuntoEduardo Lopes
 
Movimentos sociais na américa latina na atualidade
Movimentos sociais na américa latina na atualidadeMovimentos sociais na américa latina na atualidade
Movimentos sociais na américa latina na atualidadeGracy Garcia
 
A regulação socioecomunitária da educação
A regulação socioecomunitária da educaçãoA regulação socioecomunitária da educação
A regulação socioecomunitária da educaçãoanalidiamoreira
 
Consorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipais
Consorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipaisConsorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipais
Consorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipaisJessica R.
 
Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...
Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...
Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...Cleide Magáli dos Santos
 
desenvolvimento-comunitario
 desenvolvimento-comunitario desenvolvimento-comunitario
desenvolvimento-comunitarioCeliaNunes430
 

Similaire à Movimentos sociais e participação urbana (20)

Artigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
Artigo_Conselho Gestores de Políticas PúblicasArtigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
Artigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
 
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
 
Texto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeTexto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em Recife
 
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
 
Coletivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidade
Coletivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidadeColetivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidade
Coletivo semifusa práticas sociais e a relação com a cidade
 
Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011
Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011
Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011
 
Fernanda maria borba
Fernanda maria borbaFernanda maria borba
Fernanda maria borba
 
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação  Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
 
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
Gohn, maria da. glória. movimentos sociais e educação
 
Global city2 0 joão ferrão
Global city2 0 joão ferrãoGlobal city2 0 joão ferrão
Global city2 0 joão ferrão
 
Revistaabongfinal
RevistaabongfinalRevistaabongfinal
Revistaabongfinal
 
Principais textos em conjunto
Principais textos em conjuntoPrincipais textos em conjunto
Principais textos em conjunto
 
Movimentos sociais na américa latina na atualidade
Movimentos sociais na américa latina na atualidadeMovimentos sociais na américa latina na atualidade
Movimentos sociais na américa latina na atualidade
 
A regulação socioecomunitária da educação
A regulação socioecomunitária da educaçãoA regulação socioecomunitária da educação
A regulação socioecomunitária da educação
 
Consorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipais
Consorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipaisConsorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipais
Consorcio realiza - Inovações e consorcios intermunicipais
 
Projeto juventude ppt_uemg (1)
Projeto juventude ppt_uemg (1)Projeto juventude ppt_uemg (1)
Projeto juventude ppt_uemg (1)
 
Conselhos gestores
Conselhos gestoresConselhos gestores
Conselhos gestores
 
Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...
Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...
Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenç...
 
Cartilha da cidadania
Cartilha da cidadania Cartilha da cidadania
Cartilha da cidadania
 
desenvolvimento-comunitario
 desenvolvimento-comunitario desenvolvimento-comunitario
desenvolvimento-comunitario
 

Plus de Carlos Elson Cunha

Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Carlos Elson Cunha
 
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...Carlos Elson Cunha
 
Alexandria sem muros monografia 2016
Alexandria sem muros   monografia 2016Alexandria sem muros   monografia 2016
Alexandria sem muros monografia 2016Carlos Elson Cunha
 
Atitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoAtitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoCarlos Elson Cunha
 
Introduções para falar em público
Introduções para falar em públicoIntroduções para falar em público
Introduções para falar em públicoCarlos Elson Cunha
 
Xadrez é fácil com o aluno eterno
Xadrez é fácil   com o aluno eternoXadrez é fácil   com o aluno eterno
Xadrez é fácil com o aluno eternoCarlos Elson Cunha
 
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Carlos Elson Cunha
 
Guindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléGuindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléCarlos Elson Cunha
 
Todas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaTodas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaCarlos Elson Cunha
 
Levantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasLevantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasCarlos Elson Cunha
 
Lançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqLançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqCarlos Elson Cunha
 
Cdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCarlos Elson Cunha
 

Plus de Carlos Elson Cunha (20)

Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
 
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
 
Alexandria sem muros monografia 2016
Alexandria sem muros   monografia 2016Alexandria sem muros   monografia 2016
Alexandria sem muros monografia 2016
 
Shopping das artes
Shopping das artesShopping das artes
Shopping das artes
 
Atitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoAtitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em público
 
Introduções para falar em público
Introduções para falar em públicoIntroduções para falar em público
Introduções para falar em público
 
O temor de falar em público
O temor de falar em públicoO temor de falar em público
O temor de falar em público
 
Mec solo ms
Mec solo msMec solo ms
Mec solo ms
 
Xadrez é fácil com o aluno eterno
Xadrez é fácil   com o aluno eternoXadrez é fácil   com o aluno eterno
Xadrez é fácil com o aluno eterno
 
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
 
B n
B nB n
B n
 
Guindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléGuindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picolé
 
Atribuições arquiteto
Atribuições arquitetoAtribuições arquiteto
Atribuições arquiteto
 
Todas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaTodas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdia
 
R caetano pinto
R caetano pintoR caetano pinto
R caetano pinto
 
Levantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasLevantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr bras
 
Lançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqLançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparq
 
Drenagem urbana.2007
Drenagem urbana.2007Drenagem urbana.2007
Drenagem urbana.2007
 
Domótica em bibliotecas
Domótica em bibliotecasDomótica em bibliotecas
Domótica em bibliotecas
 
Cdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologias
 

Movimentos sociais e participação urbana

  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS, AUTONOMIA E CAPACITAÇÃO NAS POLÍTICAS URBANAS PARTICIPATIVAS: O CASO EXEMPLAR DO MOVIMENTO OÁSIS Renata Minerbo Strengerowski (IC) e Volia Regina Costa Kato (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie Resumo A pesquisa busca ampliar a reflexão sobre as ações voluntárias, assim como a política de participação pública sobre comunidades carentes voltadas para a melhoria das condições urbanas e fortalecimento das identidades coletivas. Junto a isso, analisar a importância dessa participação pública, do papel dos Novos Movimentos Sociais e da rede (network), uma nova maneira de organizar e funcionar, de caráter igualitário e democrático, que tem se mostrado muito eficiente apesar dos desafios para se inserir na sociedade atual. Os objetivos específicos estão voltados para a análise dos Novos Movimentos Sociais, tendo o Instituto Elos e Oasis como exemplo de metodologia a ser aplicada em comunidades de maneira participativa. Realizar um balanço especulativo sobre os objetivos e resultados concretos de ações voluntárias e cooperativas dos movimentos sociais em torno da melhoria das condições urbanas de assentamentos precários, tomando-se o caso estudado como uma experiência exemplar. Palavras-chave: movimentos sociais, políticas urbanas participativas, empoderamento social Abstract The research wants to expand the reflection about the voluntary actions, as well as the policy on public participation on poor communities, looking for better urban conditions and strengthen collective identities. In addition, it wants to analyze the importance of public participation and the New Social Movements and its network, as a new way of organizing and working in a democratic way, that seems to be very efficient, even though it has difficulties penetrating in the actual society. The specific goal of this research is to analyze the New Social Movements, using the Instituto Elos and the Elos Oasis Methodology as an example of a methodology to be applied on communities in a participatory way. It aims to create a speculative balance between the goals and concrete results of the voluntary and cooperative actions of the social movements, around the improvement of urban conditions on settlements, using it as a successful case study. Key-words: social movements, participatory urban policies, social empowering 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 1. INTRODUÇÃO Os propósitos iniciais da pesquisa se configuraram em torno de um duplo interesse: primeiramente, ampliar, como participante do Movimento Oasis associado à ONG Instituto Elos e aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo, o entendimento pessoal sobre esta forma específica de se envolver e buscar soluções para os problemas das comunidades carentes e, junto a isso, investigar os resultados de algumas ações na cidade de Santos, em especial a Vila Alemoa, onde ocorreu em 2009 uma ação que resultou em um espaço coletivo de lazer que atendia aos desejos manifestados pelos moradores. No decorrer da pesquisa, este escopo inicial se ampliou. O olhar investigativo sobre o caso da Vila Alemoa, interpelou-me sobre os conteúdos e significados mais amplos dos chamados Novos Movimentos Sociais e suas práticas, nos quais se insere o Movimento Oasis. Ao contrário dos movimentos sociais urbanos anteriores que se caracterizavam por ações de pressão, reivindicações e protestos, as novas formas de organização social possuem composição mais fluida dos agentes, facilitadas redes tecnológicas de contato, apelam para ações concretas, buscam fortalecer os elos de identidade urbana e social e fomentam capacitação dos indivíduos nos processos de participação inerentes às políticas públicas urbanas. Mostrar como estes aspectos se articulam na aplicação da Metodologia Elos Oasis, configura assim os objetivos e resultados desta pesquisa, destacando casos exemplares de sua atuação. Com efeito, as novas conjunturas brasileiras, desde os processos sociais de redemocratização que culminaram na Constituição de 1988 e posteriormente no Estatuto da Cidade (2001), consolidam a participação social como elemento inerente das políticas públicas urbanas. Entretanto, avaliações críticas sobre as formas de inserções dos agentes sociais na formulação e execução destas políticas têm evidenciado processos ainda incipientes de envolvimento participativo cujo fortalecimento dependeria de experiências continuadas nesta direção e, portanto, de uma dinâmica histórica de aprendizagem política. Tudo indica que os Novos Movimentos Sociais têm caminhado nesta direção, como pode ser visualizado nos resultados desta pesquisa. À partir de alguns referenciais teóricos, busca-se descrever e analisar atuações exemplares na Vila Alemoa, Paquetá e outras, que podem ser entendidas como o movimento em ação. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O embasamento teórico da pesquisa se dá em duas dimensões fundamentais: a contextual, onde se destacam as formas de inserção da participação popular no Brasil, e a conceitual, destacando interpretações sobre os movimentos sociais e as características das ONGs. 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie O século XX foi marcado pelo crescimento intenso e desordenado das áreas urbanas que se apresentavam como reflexos de acentuadas e cumulativas desigualdades sociais. Deficits de infraestruturas e de atendimento de demandas habitacionais, além de carências de saneamento básico, apelam para os questionamentos de qualidade de vida e sustentabilidade urbana global. A urbanização mundial passa a assumir contornos cada vez mais preocupantes, não apenas pela proeminência de crescimento populacional nas cidades (desde 2007 a população urbana já supera a população rural no mundo). Uma vez que os processos tanto econômico como político-sociais são cada vez mais interconectados na escala mundial, o avanço da pobreza é preocupante, sendo evidente a necessidade de adoção de outros mecanismos de gestão urbana capazes solucionar os problemas da cidade. Levando em conta tais fatores, desde a Conferência Urbana Mundial de 1998, A Conferência de Istambul, a ONU vem formatando diretrizes aos Estados Nacionais no sentido de incorporar a cooperação entre iniciativas públicas, privadas e sociais. O Plano defende novos modelos de governança que envolvam parcerias entre atores que constroem e operam as cidades, aproveitando os recursos e infraestruturas existentes, investindo nos recursos humanos disponíveis como condição fundamental para o desenvolvimento de qualquer comunidade. “A Conferência [UN- Habitat] de Istambul marca uma nova era de cooperação, uma era de cultura à solidariedade. Enquanto caminhamos para o século XXI, oferecemos uma visão positiva de assentamentos humanos sustentáveis, um sentido de esperança para um futuro comum e um conselho de participar de um desafio verdadeiramente vantajoso e atraente, de construirmos junto um mundo onde cada um pode viver em uma casa segura com a promessa de uma vida decente de dignidade, boa saúde, segurança, felicidade e esperança.” (Istambul Declaration - The Habitat Agenda, 2006) Especialmente com a Declaração do Milênio (2000) e a instituição do UN-HABITAT como responsável por metas de atendimento da demanda habitacional no mundo, a ONU estabelece os Fóruns Urbanos Mundiais como o principal canal de participação sócio- política entre os Estados nacionais, mobilizando ações práticas e inovações urbanas de minimização da pobreza mundial. (ANTONUCCI, 2010) No avanço desta perspectiva, o Fórum Urbano Mundial de 2006, ocorrido na cidade de Vancouver declara, como um dos seis temas fundamentais a serem debatidos internacionalmente, a necessidade de se fomentar novas metodologias de capacitação dos movimentos sociais visando inovações nas políticas públicas urbanas e uma efetiva inserção social das comunidades carentes. Construir uma nova cultura cívica, significa conceber um processo em construção e que depende entre outros aspectos, de capacitação da população e de possibilidades de acesso a informações. (Idem, 2010: 99) 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 No Brasil, se a participação popular sempre exerceu pressões no sentido do avanço de conquistas sociais através de protestos e mobilizações em torno das necessidades de habitação e de infra-estruturas urbanas é, sobretudo nos anos de 1980, que as reivindicações que acompanham as lutas pela redemocratização do país, se associam a propostas específicas de inclusão social nas políticas públicas urbanas. Tal como situa Gohn (2003:50): “A participação popular foi definida, naquele período, como esforços organizados para aumentar o controle sobre os recursos e as instituições que controlavam a vida em sociedade. Esses esforços deveriam partir fundamentalmente da sociedade civil organizada em movimentos e associações comunitárias.(...) Tratava-se de mudar as regras do controle social e de alterar a forma de fazer política no país”. A mudança de conotação em prol de apelos participativos significa um aumento na democratização (como defende a Constituição de 1988) e o surgimento de um mediador da relação Estado- Sociedade e proposições de qualidade, uma vez que os civis estão presentes no cotidiano do local, possibilitando uma real interpretação das prioridades, estabelecendo diagnósticos e estratégias específicas para o local. Além disso, essa nova maneira de governar significa uma mudança na postura e valores dos indivíduos em seu habitat, que passam a abrir mão de certos interesses individuais pelo bem comum (o que raramente vemos na política brasileira). Deve haver cooperação e coletividade, com responsabilidades distribuídas conforme as afinidades das pessoas e de preferência com uma organização horizontal, ou seja, sem hierarquia- em rede- para que elas cumpram seus deveres com prazer, e não por obrigação. É nesta conjuntura de mobilização social que desponta o conceito de empoderamento, isto é, a capacidade de autonomia para a ação e fortalecimento de caminhos específicos aos ideais das diversas organizações sociais ao largo de possíveis manipulações e cooptações políticas. “O empoderamento de grupos e indivíduos via capacitação política e organizacional, que leva ao resgate – crescimento da auto-estima – e à construção da identidade, assim como ao acesso a oportunidades de emprego e geração de renda, itens de grande relevância em uma conjuntura de desemprego. O empoderamento torna mais fácil, também, o acesso aos serviços públicos, devido à difusão de informações que gera”. (Idem, 2003: 58) De acordo com a análise crítica desta autora em torno dos processos vigentes, essas novas práticas tendem a se defrontar com obstáculos decorrentes da cultura política nacional, em que predominam valores como clientelismo, paternalismo, e populismo, além da implementação de projetos privilegiando interesses particulares, a descrença na eficácia das leis, o “jeitinho brasileiro” com percepções distorcidas como a naturalização da corrupção e 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie a valorização das estruturas corporativas, nos aspectos de vícios e privilégios que elas carregam. Em muitos casos, os processos participativos se resumem em um grande discurso descolado de práticas condizentes. Em suas avaliações, “Observa-se que a operacionalização não plena dessas novas instâncias democratizantes se dá devido à falta de tradição participativa da sociedade civil em canais de gestão dos negócios públicos; a curta trajetória de vida desses conselhos e, portanto, a falta de exercício prático; e ao desconhecimento das possibilidades por parte da maioria da população.” (GOHN, 2003: 90). Pode-se dizer que a falta de divulgação da possibilidade de participação pública está ligada não só à falta de tradição no país, mas também a uma estratégia para conservar os vícios de privilégios particulares e troca de favores. A participação social, num modelo que vem sido incorporado pelas ONGs contemporâneas, busca uma relação ideal entre sociedade e Estado. Tem um grande poder de mobilização, e passa a ser vista como energias canalizadas para objetivos comuns, buscando cotidianamente os resultados desejados por todos, ainda que o conteúdo político seja quase esquecido. Questões como a de que maneira motivar as pessoas a se envolverem com a comunidade e seu bairro estão sempre em discussão, notando-se que o sentimento de pertencer e de identidade podem motivar tal participação. Nota-se também que com as novas ONGs, o que une as pessoas mais do que sua comunidade e localidade é uma causa em comum, a busca pela solidariedade, como um valor ético que se contrapõe ás tendências predominante, competitivas e individualistas. Sem dúvida, a identificação com a causa e a conexão com o lugar são essenciais para o envolvimento do indivíduo, uma vez que as pessoas passam a querer fazer, e não dever. O fato de ser uma organização mais fluida, por cada vez mais estarem organizados em rede, deixando de lado a hierarquia, também atrai mais as pessoas. Esta é a estratégia utilizada pela Metodologia Elos (explicada adiante), exemplo de um Novo Movimento Social que busca o desenvolvimento comunitário através da participação da população na realização dos sonhos coletivos e utilizando a organização em rede, que tem se mostrado muito efetiva para catalisar as ações práticas. Em termos conceituais, Ilse Scherer (1996) define os Novos Movimentos Socais (NMS) como organizações a partir da sociedade civil que buscam estabelecer um novo equilíbrio de forças entre o Estado e a sociedade, assim como dentro dela própria, entre os dominantes e os dominados. Além disso, buscam a descentralização do poder, criando novas relações comunitárias através da reapropriação política. “(...) tal fenômeno poderia ser considerado como estatisticamente pouco significativo. Porém, creio que qualitativamente é importante considerar estes focos de transformação que emergem a partir das bases da sociedade”. (IDEM, 1996: 50) 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Unir o potencial do Estado (poder institucional) com o da população (vitalidade, numerosidade e força) de maneira equilibrada, pode potencializar a força para a transformação social numa dialética entre força comunitária e política participativa, como defendem os Novos Movimentos Sociais (NMS). Entende-se aí como política participativa o trabalho coletivo e cooperativo de três instâncias na resolução de questões da cidade: os órgãos públicos, as entidades privadas e as organizações populares. Já a organização comunitária requer uma responsabilidade coletiva, isto é, autonomia e pró-atividade dentro do grupo, criando e/ ou fortalecendo uma identidade. Esta, por sua vez, é essencial para que haja dedicação e engajamento dos indivíduos para com seus coletivos. A partir dos anos de 1990, Scherer (1996: 51) destaca a importância da compreensão das redes de movimento (network organizations) estabelecidas entre organizações populares e outros movimentos culturais e políticos. “Parte-se da hipótese de que é nas articulações entre organizações e atores políticos e nas subseqüentes criações de redes que vem se constituindo um movimento social”. Nota-se que tais articulações criam uma identidade entre os agentes por conta de valores e ideais comuns, mesmo que os Movimentos tenham focos distintos. Esta identidade fortalece tal rede, conectando atores de movimentos culturais e políticos, potencializando e unindo os focos de transformações sociais existentes, que isolados costumam ser pouco efetivos. Conclui-se que a rede de movimentos, sejam eles culturais ou políticos, consiste na conexão dos pequenos focos de transformação. Como dito, esta conexão amplia a efetividade das ações vindas da sociedade civil, além de fortalecer sua atuação no campo político e revolucionário na cultura tradicional da população. A rede liga grupos de objetivos comuns, além de facilitar a troca de informações, conhecimentos e contatos úteis aos mais diversos Movimentos, possibilitando o surgimento de uma cultura de caráter mais coletivo e cooperativo. Como aponta Scherer (Idem: 60- 63) existem desafios a serem superados por essa nova maneira organizacional: a falta de homogeneização entre os Movimentos, até mesmo dentro de uma mesma organização em diferentes locais, não fortalece Movimentos com mesmos objetivos e valores que poderiam trabalhar juntos; a dificuldade de inserção na sociedade como movimento cultural, a que questiona os valores tradicionais; o conflito entre o discurso ideológico e a prática é comum dentro dos próprios Movimentos. Estes, possuem algumas características comuns independentemente do que defendem ou reivindicam, como a política participativa e o equilíbrio de forças sociais. 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie 3. O MÉTODO A pesquisa se caracteriza por uma diversidade de métodos de levantamento de dados e de análise, perseguindo um caminho interpretativo não linear, envolvendo revisão bibliográfica, observação de campo, contatos e entrevistas informais e outras orientadas por uma pauta de conteúdos. Numa primeira etapa, a pesquisa bibliográfica onde se buscava a ampliação conceitual e análise dos movimentos sociais urbanos, possibilitou uma compreensão mais consistente e abrangente sobre a atuação do Oasis, redirecionando os focos iniciais da pesquisa. Ao invés de se ater a uma única ação, a análise passou a focar nas características do próprio Movimento e no alcance de suas práticas. Sobretudo, permitiu orientar a interpretação em termos de convergência entre o discurso do movimento e as suas ações concretas. No que diz respeito à Metodologia Elos Oasis, foram usados sites, materiais da formação dos jovens e entrevistas informais com Rodrigo Rubido (um dos fundadores do Instituto Elos) e Thais Polydoro, (Guerreira Sem Arma e integrante da equipe desde 2000), além do conhecimento pessoal adquirido nesses dois anos de prática. Foi feita uma entrevista com Ronaldo Pereira, morador da Alemoa que recebeu os Guerreiros Sem Armas em 2009 e que, foi tão transformado e conquistado pela metodologia, que acabou de participar dos Guerreiros Sem Armas 2011. A entrevista foi feita em campo, buscando observar também as características urbanas e mudanças ocorridas depois da primeira ação do Oasis. Os dados oficiais da área foram adquiridos em pesquisas no site da Prefeitura de Santos e em Trabalhos Finais de Graduação de Arquitetura e Urbanismo que englobam a área em questão, referenciados na Bibliografia. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Metodologia Elos Oasis é um exemplo de práticas dos Novos Movimentos que utilizam-se da participação pública para atingir seus objetivos, além de serem organizados de maneira inovadora- em rede- e buscando parcerias para viabilizar projetos. É interessante analisar a iniciativa dos pontos de vista de participante do Movimento e de estudante em busca de esclarecimento dessa nova maneira de se organizar e atuar na sociedade. Abaixo consta toda a descrição da Metodologia Elos Oasis, desde sua origem até cada etapa do processo. 4.1. O INSTITUTO ELOS E O MOVIMENTO OASIS 4.1.1. Origem O Oasis surgiu na mobilização de estudantes de arquitetura da FAU-Santos que discutiam a metodologia da disciplina de projeto. Integrantes do Diretório Acadêmico, os jovens organizaram o ENEA Santos (Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura), com o tema 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 da “arquitetura na rua”, propondo ações práticas em comunidade e dando início a um movimento que daria muitos frutos. Na época (1996), o Museu da Pesca de Santos estava em péssimas condições de conservação, prestes a ser desativado caso não surgisse uma proposta eficiente e em conta. Quatro estudantes se mobilizaram para fazer o projeto e execução por meio de mutirão, com campanhas de divulgação e arrecadação de recursos que iam desde venda de adesivos à grandes festas. Organizaram oficinas, conseguiram apoios estratégicos e contaram com a participação de cerca de 100 pessoas ao longo de todo o processo, que terminou no ano 2000, dando origem ao Instituto Elos e à Metodologia Elos Oasis que foi sendo criada nesse processo e veio a ser oficializada em 2003. Hoje ela está patenteada no modelo mais aberto possível- o Criative Commons- que consiste na livre manipulação, distribuição, compartilhamento e replicação destes conteúdos. Durante o processo, que durou quatro anos, o grupo foi se consolidando e percebendo elementos fundamentais para que ações como essa dessem certo. Segundo Rodrigo Rubido, um dos quarto estudantes que deram origem à metodologia e um dos fundadores do Instituto Elos, destaca alguns destes elementos: fortalecer o jovem para agir pela sociedade, estimular a política participativa e criar um desafio real, com resultados visíveis a curto ou médio prazo. O desenvolvimento de uma metodologia com um passo-a-passo de como implementar a política participativa tira do discurso e facilita a prática da mesma. 4.1.2. O Propósito A ideia é estimular protagonistas da transformação desejada, visando a pró atividade e ações concretas e resultados a curto ou médio prazo. Há uma extrema necessidade da participação da sociedade civil na resolução dos problemas das cidades, uma vez que as esferas governamentais não dão conta da demanda e muitas vezes não sabem a necessidade real das cidades, municípios ou bairros. Como levantado anteriormente, o envolvimento de cidadãos na política pode, não só agilizar os processos e responder diretamente às necessidades locais, como agir em prol de questões relacionadas ao governo brasileiro, uma vez que a politização da população é essencial para um desenvolvimento e mudança efetivos. O Instituto Elos define seu propósito como “Impulsionar um movimento de fazer acontecer já o mundo que todos sonhamos”. Em entrevista, Rodrigo explica a frase. “Impulsionar um movimento” pelo fato de que sozinho uma ação é muito pontual, enquanto um movimento tem a força coletiva e promove mudanças maiores e mais efetivas que podem ir se expandindo mais rapidamente; “Fazer acontecer já” traz para a realidade; a materialização é um estímulo para dar continuidade ao movimento. O fato de materializar os 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie sonhos e projetos é um estímulo para dar continuidade ao uso da metodologia, envolvendo as pessoas cada vez mais em sua filosofia; “O mundo que todos sonhamos” é lutar pelo melhor mundo, não apenas por um mundo melhor; buscar a utopia como realidade. É acreditar no potencial de transformação que cada um tem dentro de si e investir para que se materialize. 4.1.3. Definição O Instituto Elos é responsável pela formação de jovens para que possam aplicar o jogo onde e quando desejarem. Isso se dá de duas maneiras: a primeira, o Guerreiros Sem Armas, que acontece a cada 2 anos e é o principal programa do Instituto, em que jovens do mundo todo vão à Santos em uma imersão de 1 mês para serem capacitados nas tecnologias sociais e no passo a passo da metodologia (o qual participei da edição de 2009). O segundo formato é o Oasis Training, que é uma espécie de Guerreiros Sem Armas express, com capacitação adaptada em 10 dias, 1 semana ou 1 fim de semana. O Oasis é uma tecnologia social prática de desenvolvimento comunitário que convida uma comunidade a projetar e construir de forma cooperativa um projeto desafiador escolhido pelos moradores para satisfazer suas necessidades. O Jogo visa despertar e cultivar um espírito de empreendedorismo social cooperativo nos membros da comunidade, mas também enfatiza o estímulo à comunidade em si. Sob esse aspecto, dois dos principais objetivos são restaurar e/ou fortalecer as relações e ligações afetivas que unem uma comunidade; e cultivar um senso de oportunidade e de responsabilidade de cuidar das pessoas e do ambiente à sua volta. As pessoas capacitadas são quem alimentam o Movimento Oasis, que acontece em rede, através da união de pessoas nos ambientes virtual e presencial, considerando uma definição ampla de comunidade e envolvendo representantes de diferentes setores da sociedade – ONGs, governo municipal, iniciativas privadas, assim como moradores de outras partes da cidade. Neste caso, surgem ações espontâneas em todo o mundo, não necessariamente com o envolvimento do Instituto Elos, contando com o poder, força e apoio da rede. As pessoas que fazem acontecer normalmente são jovens com espírito de liderança e com uma visão crítica de sua atuação e papel na sociedade. “Estimular e habilitar grupos para cooperação e empreendedorismo de grupo e comunitário; promover o olhar apreciativo e ampliar a capacidade de cada um propor soluções criativas para as questões críticas da nossa sociedade, do nosso bairro; trazer para o cotidiano dos participantes a percepção que é possível transformar o mundo sem sofrimento; sem comprometer a sua liberdade ou autonomia e ainda fazer tudo com muito prazer; promove a prática de valores humanos como: respeito, compaixão, cooperação, aceitação de diferenças etc.; amplia o nível de informação sobre estratégias de sustentabilidade ambiental e auto construção; e 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 restaurar ou constrói um sonho comunitário, podendo ser replicável.” (INSTITUTO ELOS, 2009) A Metodologia Elos Oasis, tal como aponta Engels (2009), foi inspirada na cultura Guarani e no mito da Terra Sem Males, nas tradições caiçaras, nos princípios da multidisciplinaridade e visão holística, no conceito de associativismo, cooperação e construção coletiva. Além dessas inspirações, a metodologia foi baseada na filosofia Waldorf (antroposofia), no conceito de capital social de Augusto de Franco, no livro Alfabetização Ecológica de Fritjof Capra, no livro “O Teatro do oprimido” de Augusto Boal, no sentimento humano trazido por Paulo Freire, na prática de atividades lúdicas (a arte de brincar) e na prática de fazer perguntas (estimular as pessoas a buscar as próprias respostas). Há alguns pré requisitos para que a ação do Oasis seja efetiva, como por exemplo, a existência de uma organização prévia da comunidade (associação dos moradores ou ONGs atuantes), ou ao menos um sonho comum, com um mínimo de 5 moradores encantados com a proposta. O envolvimento e empoderamento de adultos também é essencial para que haja continuidade e que novas ações aconteçam, sendo essencial criar metas de médio prazo para estimular o engajamento. O contato constante para garantir o envolvimento dos moradores assim como a disseminação da proposta para o máximo de pessoas possível também é essencial antes da chegada dos voluntários, que por sua vez fortalecem os laços com a comunidade e iniciam a fase da Proposição e da Ação. A metodologia propõe, por meio de 8 tecnologias sociais e de 7 etapas, transformar espaços degradados em espaços coletivos de maneira dinâmica e trabalhando o campo afetivo, criando laços e reforçando a identidade daquela população para com aquele local. Em poucos dias são implementadas soluções projetadas coletivamente a partir do levantamento de talentos, recursos e sonhos locais. Uma vez que o projeto é feito quase que unicamente com elementos da própria comunidade, ele funciona como uma fonte para a auto-estima daquela população, que passa a acreditar na sua capacidade de criar e suprir seus próprios desejos, deixando de depender do poder público, e estabelecendo uma nova possibilidade de relação: a parceria. A transformação é principalmente interna nos indivíduos, à medida que se mobilizam para a criação de um espaço físico que representa a materialização dessa transformação, assim como do esforço conjunto em função de um objetivo comum. Isto significa que a construção física não é a prioridade da ação, e sim um estímulo visual para a transformação interna de cada indivíduo e da comunidade como unidade (comum-unidade). Ainda assim, nota-se a importância de espaços de convivência, encontro, permanência e lazer do ponto de vista urbanístico, uma vez que o desenho da cidade influencia diretamente no comportamento das pessoas. 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie 4.1.4 Metodologia Como dito, a metodologia consiste em 7 passos do processo desde o diagnóstico até a realização, que devem ser aplicados após uma conversa prévia com os moradores, com o comprometimento e constatação da vontade de fazer acontecer. Cada passo utiliza-se de tecnologias sociais (Comunicação Não Violenta, Olhar Apreciativo, Cafe Comunitário, Open Space, Danças Circulares, Jogos Cooperativos, Rede e Mutirão) e que facilitam ações em grupos, assim como auxiliam na assimilação do processo. Cada etapa é essencial para que o processo seja efetivo, e é aplicada primeiro pelos participantes e depois pela comunidade. Passo a Passo da metodologia. Fonte: www.elosmaiscultura.com.br a. O olhar (Percepção): Reeducar o olhar e a percepção dos espaços e pessoas, através do Olhar Apreciativo (ou Investigação Apreciativa), buscando sempre o belo e a abundância onde aparentemente só existe escassez. O exercício estimula a prática de fazer perguntas que reforcem a capacidade de elevar o potencial positivo. b. O afeto (Informação): Conhecer a vida da comunidade: quem são as pessoas que produzem o belo (coisas e ações), quem são as lideranças afetivas (pelo respeito e afeto que a comunidade tem a ela), como rezadeiras, educadores, artesãos ou anciãos. Nesse momento são mapeados os talentos e recursos existentes no local, além de aprofundar nas origens culturais da comunidade e nas características dos moradores locais c. O sonho (Reflexão): Descobrir quais são os sonhos da comunidade trabalhada através de conversas com os moradores. A abordagem é feita perguntando os sonhos das pessoas, ao invés de perguntar dos problemas, uma vez que os sonhos normalmente são a resolução dos problemas (eles mesmo já propõe a solução), mas abordados de maneira positiva e 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 otimista. Fazem-se perguntas que estimulam a reflexão, até que a pessoa conclua quais são seus sonhos mais íntimos no que diz respeito ao espaço e a sua vida naquele lugar. d. O cuidado (Proposição): Elaborar coletivamente a proposta de ação, que deve atender ao maior número possível de sonhos coletivos da comunidade, considerando as informações levantadas nos processos 1 a 3. Essa proposta de ação é feita em uma reunião com a comunidade, onde eles sistematizam seus sonhos, recursos e talentos através do World Café. Depois disso é feita uma maquete física para que os moradores possam visualizar o sonho coletivo escolhido a ser realizado, além de servir como um apoio para o momento da materialização. e. O milagre (Ação): É o momento Mão na Massa para materializar o sonho projetado. Isto é feito através de um mutirão com uma mobilização prévia dos recursos necessários (espaço físico, matéria-prima, ferramentas, mão de obra, alimentação, entre outros). Nesta etapa trabalha-se principalmente a cooperação, autonomia e pró atividade, buscando a materialização imediata dos sonhos, o fortalecimento e a articulação da rede de parceiros. f. A Celebração: Comemorar o milagre da transformação atingida coletivamente. A forma de celebração fica a critério da comunidade; este é o momento de fortificar os elos criados, compartilhando os aprendizados e desafios vivenciados no processo. g. Re- Evolução: É o momento de colher aprendizados e planejar ações a partir da iniciativa e autonomia de cada comunidade, conectando-a à rede de outras comunidades e parceiros do Oasis. Inicia-se com o Encontro do Futuro, lançando novos desafios e traçando novos objetivos com a comunidade. (www.oasismundi.ning.com) 4.2. AÇÃO DO MOVIMENTO OASIS NA VILA ALEMOA - SANTOS Presente na Zona Noroeste de Santos, o bairro da Alemoa possui 945400m² de área de caratáter majoritariamente industrial. A ocupação da comunidade deu-se na década de 50, 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie na margem da ferrovia onde atualmente passa a Rodovia dos Bandeirantes. Localizada estrategicamente próxima às indústrias e o matadouro, onde a maioria dos moradores trabalhava, a Vila Alemoa foi expandindo até atingir as dimensões que tem hoje, com 1113 famílias cadastradas em 2009 das quais 160 foram para o CDHU. (PRADO: 2000) Com apenas quatro vias pavimentadas, a área ocupada pela Vila Alemoa está localizada sobre o mangue, que em partes foi aterrado e em partes não. Com praticamente todas as casas construídas por seus próprios moradores, as mais recentes datando 16 anos, suas tipologias variam entre o barraco (25%), a casa de alvenaria (65%) e as palafitas (10%). “É uma inversão da prática projetual e de planejamento urbano: enquanto nas cidades ou nos espaços urbanos projetados as plantas existem em projeto antes mesmo da cidade real, nos espaços labirínticos, como as favelas, é o oposto que acontece, as plantas só são produzidas a posteriori, e são desenhadas a partir do espaço já existente.” (BERENSTEIN, 2002: 54) Abrigos emergenciais Situação das palafitas Circulação e acesso Em janeiro de 2009, a Vila Alemoa foi uma das três comunidades que receberam o grupo Guerreiros Sem Armas. Depois de 3 semanas exercitando o Olhar, o Sonho, o Afeto e o Cuidado, o Milagre ia acontecer. Em 5 dias, o mão na massa teve a participação dos Guerreiros, pessoas da comunidade (principalmente as crianças), um grupo de jovens do Clube Rotary, estudantes e professor da UFABC e os Lideranças Executivas, estudantes de administração que vivenciam a última semana do programa. O sonho realizado pela comunidade e seus parceiros foi uma praça com parquinho, mesas de convivência e jogos, horta comunitária, pergolado, paisagismo e um mural com um logo da Alemoa. À Esq: mural feito na ação GSA 2009 À Dir: praça pronta e presença de inúmeras pessoas (Fonte: arquivo Elos 2009) 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 “A favela é um espaço em constante movimento porque os moradores são os verdadeiros responsáveis por sua construção, ao contrário do morador da cidade formal, que muito raramente se sente envolvido na construção do seu espaço urbano e, em particular, dos espaços públicos de sua cidade. A participação comunitária ocorre de forma muito mais representativa nas favelas e áreas favelizadas em geral do que na cidade formal.” (BERENSTEIN, 2002: 56) Depois dessa ação, os moradores organizaram alguns eventos ao longo do ano, muitos deles em parceria com a Vila dos Criadores, outra comunidade com ação dos Guerreiros Sem Armas 2009. Já em março, alguns jovens organizaram o Encontro dos Grafiteiros na Alemoa para colorir a avenida; Em pela única vez na história da comunidade, a associação, os jovens e o grupo abril, na Páscoa, a comunidade organizou uma festa que conseguiu reunir, Comu; A Festa Junina, o Dia das Crianças e o Natal são festas que sempre acontecem lá e que ganharam ponto fixo para acontecer: a praça construída no Oasis de janeiro; Em julho, o Encontro Anual das Comunidades foi anfitrionado pelos moradores da Vila dos Criadores e da Alemoa, que foi quem sediou o evento. Eles discutiram “o que fazer juntos que não dá para fazer sozinho”, e estão trabalhando para criar uma nova associação: já estão com o Estatuto pronto, estão articulando as comunidades de Santos e em busca de um CNPJ para facilitar as relações burocráticas. Junto a isso, montaram um roteiro de Turismo de Base Comunitária com o Projeto bagagem que está em desenvolvimento. À Esq: mural feito no encontro dos grafiteiros 2009. À Dir: estado de conservação da praça em Jul. 2010. (Fonte: Arq. Pessoal 2010 e Arq. Elos 2009) 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie Em setembro de 2009, a Vila Alemoa realizou o Oasis Anima, e em dois dias de mão na massa reformaram a praça existente, fizeram campo de futebol, musculação e ampliaram o mural de pinturas e grafites. Em visita a campo no dia 28/07/10, Ronaldo, morador e líder da Vila Alemoa, guiou-me e contou alguns fatos. A respeito da infra estrutura básica, parte da população paga uma taxa para a luz, outros pagam a conta normalmente; pagam pela água, mas pela energia elétrica e esgoto não, sendo a primeira obtida por meio de “gatos”, e o segundo, sem tratamento, fica céu aberto com riscos de contaminação e doenças. Há um alojamento emergencial com 31 casas que abrigam moradores de áreas de risco e que se mudarão para os CDHUs. No entorno da comunidade encontram-se 3 mercados atacadistas, uma Escola Municipal de Ensino Médio e uma de Ensino Fundamental com cursos apenas durante o dia, uma clínica de saúde que atende a 3 comunidades próximas e por isso não dá conta da demanda. “O tecido urbano da favela é maleável e flexível, é o percurso que determina os caminhos. Ao contrário da planificação urbana tradicional, que determina a priori o traçado, as ruas da favela (e todos os espaços públicos) são determinadas exclusivamente pelo uso.” (BERENSTEIN, 2002: 54) Em 1981 foi fundada a associação dos moradores, pelo mesmo homem que é hoje o diretor e que, segundo Ronaldo, não dá abertura para discussão sobre a gestão do espaço. Rampas de acessibilidade foram criadas ano passado, quando um cadeirante passou a trabalhar na associação. Lá são oferecidos cursos e serviços básicos de saúde, mas suas atividades são independentes de qualquer outra iniciativa da comunidade. “A maior diferença entre a ocupação planejada da cidade formal e a ocupação selvagem das favelas diz respeito ao tipo de raíz, uma fixa e a outra aberta, a qual tem um enorme potencial de transformação.” (BERENSTEIN, 2002: 56) Em março de 2011 foi inaugurada uma biblioteca em conjunto com a Vila dos Criadores, resultado de parcerias com os doadores dos livros. Ronaldo está articulando um novo Oasis na mesma área, e tem identificado novos líderes que podem fortalecer a comunidade. Isto representa a efetividade da primeira ação, que desencadeou tantas outras e que elevou a auto-estima de moradores que agora são protagonistas das transformações que desejam. 4.3. OUTROS EXEMPLOS DE PRÁTICAS SIGNIFICATIVAS 4.3.1. Paquetá - Santos O bairro do Paquetá, localizado no centro de Santos, próximo ao porto, era tido como um dos locais mais degradados e violentos da cidade, com alto índice de tráfico de drogas, prostituição, e 18 mil famílias morando em cortiços em péssimas condições. O bairro conta 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 com inúmeros imóveis de valor arquitetônico, muitos deles extremamente decadentes, sem uso ou ocupado por famílias. Em 2002, começou uma nova gestão na ACC (Associação dos Cortiços do Centro), que estava reestruturando a entidade e conhecendo o trabalho do Instituto Elos, procurou-os em busca de uma ação. No ano seguinte, o Elos foi convidado pelo SESC- Santos para dar uma palestra sobre participação comunitária, e aproveitou a oportunidade para mostrar na prática como fazer, iniciando aí as ações no bairro do Paquetá. Em 2007, o bairro recebeu os Guerreiros Sem Armas com o sonho de transformar um casarão abandonado em um Centro Cultural (o qual está em atividade e a busca pela apropriação do imóvel está em andamento). A primeira ação aconteceu na Praça Nagasaki, reformada algumas vezes pelo poder público, mas sem grande adesão da comunidade. Neste caso, houve grande participação da população, que construiu bancos, jardins, pintou muros e fez um parquinho para as crianças em apenas 2 dias. No Encontro do Futuro, dias após a ação, houve grande presença de moradores de diversas idades, gerando novas ações e metas para os próximos 3 meses. Desde então, fizeram reuniões semanais, reestabelecendo a comunicação na comunidade e resgatando costumes como festas de páscoa, dia das crianças e Natal, que há alguns anos tinham deixado de comemorar coletivamente, além de criar parcerias importantes com ONGs e empresários para a consolidação de seus projetos. Em função dos inúmeros sonhos coletivos, foram criados 5 frentes de trabalho que se responsabilizariam pela busca da realização: o grupo dos jovens, que criaram uma central de cursos (oferecendo teatro, dança, filmes, entre outros), se integraram nos eventos das cidades e criaram o Festival Nagasaki, evento oficial de Santos; o grupo das crianças, que mobilizaram contadoras de histórias, passeios, cozinha coletiva (levavam comida e as mães preparavam) e oficinas, com apoio da assistência social; o grupo da geração de renda, que teve início como uma terapia grupal e virou uma cooperativa que vende bonecas de panos, artesanato, design de bijouterias (já são vendidas no exterior com o auxílio da Petrobrás que deu apoio financeiro) e hoje estão com um projeto buscando a interação com presidiários; o grupo da creche e da padaria em parcerias com ONGs e recursos do Instituto HSBC inauguraram em 2009 a padaria em estabelecimento próprio, e hoje estão trabalhando para materializar a creche; e por fim, o grupo de habitação popular (sendo este o maior objetivo da comunidade), que deu início com visitas à experiências bem sucedidas e graças ao apoio da ONG Ambienta e o financiamento da Caixa Econômica Federal, estão finalizando as obras de 174 habitações. Pode se dizer que este é o caso que mais evoluiu desde a primeira ação da Metodologia Elos Oasis. As pessoas se organizaram, reivindicaram e conquistaram seu principal objetivo, a moradia digna. Ainda estão em busca de outras coisas, porém com a certeza de que 16
  • 17. Universidade Presbiteriana Mackenzie unidos eles são capazes. É um exemplo inspirador principalmente para outras comunidades que estão em lutas semelhantes em busca da melhoria da qualidade de vida. 4.3.2. Instituto Elos e a Iniciativa Privada Em dezembro de 2010 foi realizado um Oasis com os trainees da Natura. São 30 jovens em processo de formação que dura 2 anos, iniciado no começo do ano. Eles escolheram aplicar a Metodologia Elos em uma das comunidades do entorno da sede principal, em Jundiaí. Foram 2 fins de semana: um de visita e diagnóstico apreciativo, e no outro, a ação. Foram feitas duas áreas de lazer e convivência próximas aos dois campinhos existentes, buscando atender às demandas dos diferentes usuários. A experiência foi muito interessante, principalmente pelo fato de os jovens terem um espírito extremamente competitivo, e conseguirem redirecionar suas habilidades de maneira cooperativa. É importante conscientizar os futuros grandes empresários do país, fazendo com que entendam que trabalhar junto é mais produtivo e muito importante para o desenvolvimento do país e da própria empresa, e que não é necessário “derrotar” o outro para se dar bem, que em parceria as coisas se tornam mais agradáveis e simples de serem realizadas. 4.3.3. instituto ELOS e o Governo Federal O Projeto Elos no Canteiro Mais Cultura (http://mais.cultura.gov.br) é parte do Programa Mais Cultura desenvolvido pelo Ministério da Cultura, que visa a criação de espaços físicos em áreas com escassez de equipamentos públicos e infra-estrutura (onde serão implantadas bibliotecas e espaços de cultura pelo Ministério). A Metodologia Elos é utilizada para formar e mobilizar agentes locais para elaborar ações colaborativas e colocá-las em prática com as construções coletivas, tendo como princípio a participação social ampla durante todo o processo. Dessa forma, deverão ser articulados como atores primordiais do processo o Ministério da Cultura, as Prefeituras, Governos Estaduais e órgãos públicos locais, a comunidade, entidades e instituições parceiras. Em 2010 foram realizadas ações em 20 cidades do Brasil que estão recebendo a ação, que acontece em 3 etapas: a Expedição, com visita e diagnóstico apreciativo nas comunidades; a Formação, que forma agente locais com a Metodologia Elos; e o Mão na Massa, que são as ações nas comunidades coordenadas pelos participantes da formação e com supervisão de facilitadores do Elos, sendo eles Guerreiros Sem Armas formados em 2007 e 2009. (www.elosmaiscultura.com.br) Esta é a primeira experiência de Oasis em parceria com o governo que se mostrou muito eficiente e satisfatória. Neste projeto foram identificados 3 eixos principais de ação: 17
  • 18. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 socioeconômico, socioambiental e sociocultural. O primeiro, ajuda no desenvolvimento de alguma atividade de acordo com a habilidade local para a geração de renda, com produtos de alta qualidade. O segundo cuida do paisagismo e outras frentes relacionadas ao meio ambiente, e o terceiro, por fim, trabalha o campo do lazer e cultura, desenvolvendo as áreas de convivência e lazer como parquinhos, praças e outros espaços construídos coletivamente pela comunidade. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Metodologia Elos Oasis se encaixa em inúmeros quesitos levantados pela ONU ou por Ilse Scherer como essenciais para a resolução de problemas na sociedade atual, destacando principalmente a participação da população desde a concepção de novas políticas urbanas até a execução das mesmas. Não só o governo não dá conta da demanda de questões consideradas essenciais, como o envolvimento da sociedade civil acata em uma relação diferenciada entre as pessoas e o espaço, assim como entre os próprios indivíduos, gerando respeito, solidariedade e identidade, fortalecendo laços e aumentando a autonomia e auto-estima de comunidades que passam a ser protagonistas das ações. A análise da efetividade de ações utilizando a Metodologia Elos- Oasis identificou que a mudança nos moradores (seu comportamento, valores e pró-atividade) e suas atuações são mais importantes do que o estado de conservação das construções feitas na sexta etapa, o Mão na Massa; o resgate da auto-estima junto ao fortalecimento das relações das pessoas, gera autonomia e a crença na capacidade de transformação sem necessidade de ajuda das autoridades, estabelecendo parcerias com o governo, iniciativa privada e o terceiro setor. Ainda assim, nota-se a importância de lugares de lazer, encontro e convivência em comunidades, uma vez que tais espaços passam a fazer parte da vida das pessoas, e sua qualidade influencia diretamente na qualidade de vida dos moradores. Além disso, o fato de serem feitos pela própria comunidade fortalece as relações pessoais e o sentimento de pertencimento e inspira outras ações, pois remete à capacidade de fazer coletivamente. Cabe salientar que o sentido das ações nestas comunidades visa, portanto, mais do que alterar as condições materiais de carência hoje existentes, fortalecer o potencial humano, capacitando os indivíduos, através de um processo de auto-percepção e auto-estima, a agirem com mais autonomia frente aos seus próprios problemas de exclusão social. A transformação ocorre não só nas comunidades que recebem a ação, mas nos voluntários que participam do processo. Este fato pode ser considerado tão importante quanto o primeiro, uma vez que essas pessoas desencadeiam outras ações e estimulam suas redes a transformarem suas realidades. 18
  • 19. Universidade Presbiteriana Mackenzie Como Guerreira Sem Arma e participante efetiva das ações do Oasis, destaco algumas das dificuldades encontradas para o crescimento e fortalecimento do Movimento, como a união com outras organizações de mesmos objetivos e valores, ou a dificuldade de inserção na sociedade, uma vez que questiona os valores tradicionais e desafia as pessoas a pensarem e agirem de maneira diferente do que estão acostumadas (mesmo notando que as pessoas se dispõe a isso com freqüência). Nota-se que ações que acontecem espontaneamente em cidades sem a participação do Instituto Elos ou de um Guerreiro Sem Armas, dificilmente serão efetivas na comunidade, já que cada passo deve ser feito garantindo sua essência; mas, a mudança nos voluntários pode ocorrer da mesma maneira. Outro fator que se mostrou interessante é a eficiência da organização em rede, que é uma tecnologia estimulada há tempos, porém raramente vista em prática. Sua eficácia se dá pelo fato de que as responsabilidades são divididas sem hierarquia, e sim por afinidade. Isso não só estimula as pessoas a fazerem o que gostam, como agilizam os processos, já que todos tem autonomia para tomar decisões. O poder da rede também está nas conexões, compartilhando contatos e sugerindo parcerias, o que é essencial para viabilizar projetos, principalmente do terceiro setor. Isso possibilita ampliar a área de atuação, avançando para outras cidades e países, como é a intenção do Instituto Elos de dissipar a Metodologia Elos Oasis pelo mundo- e já está sendo posta em prática, mas com certeza ainda há muito que aprender e compreender. Cabe salientar finalmente e reafirmando algumas análises críticas, que o potencial destes novos movimentos sociais onde se agilizam formas de aglutinação social em moldes mais solidários e horizontais, se defronta com horizontes incertos e ambíguos se considerado os processos mais amplos de transformação histórica da sociedade contemporânea. Contém sinais de possibilidades e, sobretudo operam formas inovadoras de capacitação dos indivíduos aos processos de participação social, tão enfatizados pelas políticas públicas urbanas. 6. BIBLIOGRAFIA ALEX, Sun. Projeto da Praça: Convívio e Exclusão no Espaço Público. São Paulo: Editora SENAC, 2008. ANTONUCCI, Denise. ALVIM, Angélica. ZIONI, Silvana. KATO, Volia. UN- Habitat: das Declarações aos Compromissos. São Paulo: Editora Romano Guerra, 2008. ENGELS, Marina M. KITA, Cintia Tiemi. LUCHESI, Julia Sodré. Metodologias de Desenvolvimento Comunitário: Descrições, análises e comparações. Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Ambiental SENAC, São Paulo, 2009. GOHN, Maria da Glória. Conselhos Gestores e Participação Sociopolítica. São Paulo: Cortez Editora, 2003 19
  • 20. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 _________ A cidade ao lado da cultura: espacialidades sociais e modalidades de intermediação cultural. In: SANTOS, Boaventura de Souza (org). A Globalização e as Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2002. Guia de Formação- Elos no Canteiro Mais Cultura. Instituto Elos, 2010. Metodologia. Disponível em http://guerreirossemarmas.wordpress.com/metodologia/ , acesso 28 de maio de 2010. Oásis – Faça você mesmo. http://oasismundi.ning.com/group/materiaismaterialesmaterials, acesso em 25 de maio de 2010. POLYDORO, Thais. Reciclando Ambiente: Recuperando Vida. Trabalho Final de Graduação FAU-Santos, 2000. PRADO, Fabio C. Requalificação Urbana na Alemoa, Jd. Piratininga e Jd. São Manoel. Trabalho Final de Graduação FAU-Santos, 2000. SCHERER, Ilse. Redes de Movimentos Sociais. São Paulo: Edições Loyola- 2ª edição, 1996. Sobre o Programa. Disponível em http://elosmaiscultura.com.br/sobreelos, acesso 15 de março de 2011. UN-HABITAT –Istambul Declaration on Human Settlement. The Habitat Agenda. Un- Habitat, 1996. Disponível em: www. Unhabitat.org, acesso 10 agosto de 2010. VARELLA, Drauzio. BERTAZZO, Ivaldo.JACQUES, Paola B. Maré, Vida na Favela. Rio de Janeiro: Ed. Casa da Palavra, 2002. Contato: rezinha_s@hotmail.com e vrkato@uol.com.br 20