1. Luís Carlos Timm
Vítor Emanuel Quevedo Tavares
Carlos Reisser Junior
Carina Costa Estrela
(Editores)
Morangueiro Irrigado
Morangueiro Irrigado: aspectos técnicos e ambientais do cultivo
Aspectos técnicos e ambientais do cultivo
4. Luís Carlos Timm
Vitor Emanuel Quevedo Tavares
Carlos Reisser Júnior
Carina Costa Estrela
Editores
Morangueiro Irrigado
Aspectos técnicos e ambientais do cultivo
Pelotas – RS – Brasil
Universidade Federal de Pelotas
2009
6. Informações sobre os Autores e Co-Autores
Luís Carlos Timm - Eng. Agrícola, Prof. Adjunto, Depto de
Engenharia Rural, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel,
UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista de
Produtividade em Pesquisa CNPq – Nível 2,
lctimm@ufpel.edu.br.
Vítor Emanuel Quevedo Tavares - Eng. Agrícola, Prof. Associado,
Depto de Engenharia Rural, Faculdade de Agronomia Eliseu
Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970,
Bolsista PET/SESu/MEC, vtavares@ufpel.tche.br.
Carlos Reisser Júnior - Eng. Agrícola, Pesquisador, Embrapa Clima
Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970,
reisser@cpact.embrapa.br.
Carina Costa Estrela - Ecóloga, MSc. em Ciências, Pelotas-RS.
ccestrela@terra.com.br
Denise de Souza Martins – Eng. Agrônoma, Mestranda no
PPGSPAF, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel,
Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.
André Samuel Strassburger – Eng. Agrônomo, Doutorando no
PPGSPAF, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel,
Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista FAPEG.
Roberta Marins Nogueira Peil – Eng. Agrônoma, Profa. Associada,
Depto de Fitotecnia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel,
UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.
José Ernani Schwengber – Eng. Agrônomo, Pesquisador, Embrapa
Clima Temperado, Estação Experimental Cascata, Cx. Postal
403, Pelotas-RS, 96001-970.
7. Leonardo Göetzke Furtado – Eng. Agrônomo, Depto de Solos,
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal
354, Pelotas-RS, 96001-970.
Luís Carlos Philipsen – Técnico Agrícola, EMATER – Escritório
Municipal de Turuçu-RS.
Luís Eduardo Correa Antunes - Eng. Agrônomo, Pesquisador,
Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS,
96001-970.
Noel Gomes da Cunha - Eng. Agrônomo, Pesquisador, Embrapa
Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970.
Maria Laura Turino Mattos – Eng. Agrônoma, Pesquisadora,
Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS,
96001-970.
Leandro Sanzi Aquino – Eng. Agrônomo, Mestrando do PPGA-
Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.
Gabrieli da Cunha Pereira – Tecnóloga em Gestão Ambiental,
Pelotas-RS.
Manoela Terra de Almeida – Acadêmica do Curso de Química
Ambiental, Universidade Católica de Pelotas, Pelotas-RS.
Carla Denize Venzke – Tecnóloga em Gestão Ambiental, Pelotas-
RS.
Adilson Luís Bamberg – Eng. Agrícola, Doutorando do PPGA-
Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.
Eloy Antonio Pauletto – Eng. Agrônomo, Prof. Associado, Depto de
Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
8. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista de Produtividade
em Pesquisa CNPq – Nível 2.
Luiz Fernando Spinelli Pinto – Geólogo, Prof. Associado, Depto de
Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.
Álvaro Luiz Carvalho Nebel – Eng. Agrícola, Doutorando do
PPGA-Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel,
Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.
Wildon Panziera – Graduando em Agronomia, Faculdade de
Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS,
96001-970.
Gláucia Oliveira Islabão – Química, Doutoranda do PPGA-Solos,
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal
354, Pelotas-RS, 96001-970.
Ledemar Carlos Vahl – Eng. Agrônomo, Prof. Titular, Depto de
Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.
Danilo Dufech Castilhos – Eng. Agrônomo, Prof. Associado, Depto
de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.
Rodrigo Bubolz Prestes – Graduando em Agronomia, Faculdade de
Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS,
96001-970, Bolsista BIC FAPERGS.
9. Colaboradores
• Sérgio Leal Fernandes (DER/FAEM/UFPel-Pelotas-RS)
• Eroni Emilio Konrad (Secretaria da Agricultura-Turuçu-RS)
• Lauro Francisco Schneid (EMATER – Escritório Municipal
de Turuçu-RS)
• Dalgisa Philipsen (EMATER – Escritório Municipal de
Turuçu-RS)
• Michel David Gerber (CEFET/RS-Pelotas-RS)
• Fioravante Jaekel dos Santos (DER/FAEM/UFPel-Pelotas-
RS)
• Jocelito Saccol de Sá (CEFET/RS-Pelotas-RS)
• João Carlos Medeiros Madail (Embrapa Clima Temperado-
Pelotas-RS)
• João Soares Viegas Filho (DEA/FEA/UFPel-Pelotas-RS)
• Marco Moro (EMATER – Escritório Regional de Pelotas-
RS)
• Gilnei Manke (Eng. Agrônomo-Pelotas-RS)
• Clênio Nailto Pillon (Embrapa Clima Temperado-Pelotas-
RS)
• Marilice Cordeiro Garrastazu (Embrapa Clima Temperado-
Pelotas-RS)
• Orlando Pereira Ramirez (DEA/FEA/UFPel-Pelotas-RS)
• Endrigo Pereira Lima (CEFET/RS-Pelotas-RS)
• Gabriel Rodrigues Bruno (CEFET/RS-Pelotas-RS)
10. Agradecimentos
Para a concretização do presente trabalho, os autores
receberam apoio financeiro bem como a concessão de bolsas de
estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, CNPq. Também agradecem a CAPES e a
FAPERGS pela concessão de bolsas de estudo.
Os autores agradecem aos produtores de morango que
contribuíram para a realização do projeto intitulado
“VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DA
QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO E SEU
IMPACTO AMBIENTAL NO SISTEMA FAMILIAR DE
PRODUÇÃO DE MORANGO DO PÓLO PRODUTIVO DO
MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS”, especialmente aos produtores
Abel Winter, Arnildo Weinert, Cassio Peter, Dioni Stern,
Ermindo Milech, Fábio Zitzke, Gilso Zuge, Ildo Beiersdorf,
Paulo Scherdien, Paulo Tuchtenhagen, Pedro Bonow, Silmo
Stocker, Teodorico Kabke, Valdenir Hartwig e Valdomiro de
Souza, os quais pertencem a Associação dos Produtores de
Morango do Município de Turuçu-RS.
A todos, NOSSO MUITO OBRIGADO pela
colaboração e compreensão ao longo do projeto.
11.
12. SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................ 14
CAPÍTULO 1 - FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO
DE MORANGUEIRO ........................................................... 16
1.1 INTRODUÇÃO ................................................................. 16
1.2 CARACTERÍSTICAS DA PLANTA ...................................... 17
1.2.1 Botânica ............................................................... 17
1.2.2 Sistema radicular .................................................. 18
1.2.3 Fisiologia da planta .............................................. 20
1.2.4 Exigência hídrica.................................................. 22
1.3 CULTIVARES .................................................................. 23
1.3.1 Características das cultivares utilizadas em
Turuçu-RS ............................................................ 24
1.3.2 Novas cultivares para a Região Sul...................... 25
1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 27
1.5 LITERATURA CITADA ..................................................... 28
CAPÍTULO 2 - SISTEMA DE PRODUÇÃO
DO MORANGUEIRO: FATORES QUE
INFLUENCIAM O MANEJO DA IRRIGAÇÃO............... 30
2.1 INTRODUÇÃO ................................................................. 30
2.2 UTILIZAÇÃO DE COBERTURA DO SOLO ........................... 31
2.2.1 Materiais de origem vegetal ................................. 32
2.2.2 Materiais sintéticos .............................................. 33
9
13. 2.2.3 Influência da cobertura do solo no aporte
de água ................................................................. 33
2.3 UTILIZAÇÃO DE TÚNEIS ................................................. 34
2.3.1 Manejo dos túneis ................................................ 34
2.3.2 Influência dos túneis de cultivo sobre
a irrigação ............................................................. 36
2.4 ESCOLHA DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO ............................ 36
2.4.1 Aspersão ............................................................... 36
2.4.2 Gotejamento ......................................................... 37
2.4.3 Influência dos sistemas de irrigação na
incidência de doenças e pragas ............................ 38
2.5 FERTIRRIGAÇÃO ............................................................ 41
2.5.1 Aspectos nutricionais do morangueiro ................. 42
2.5.2 Tipos e fontes de nutrientes para a fertirrigação .. 44
2.5.3 Utilização de soluções de origem orgânica .......... 45
2.5.4 Estrutura necessária.............................................. 46
2.5.5 Manejo da fertirrigação ........................................ 47
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 48
2.7 LITERATURA CITADA ..................................................... 48
CAPÍTULO 3 - SOLO E MANEJO DA ÁGUA................ 51
3.1 O SOLO .......................................................................... 51
3.2 ATRIBUTOS FÍSICO-HÍDRICOS DO SOLO .......................... 54
3.2.1 Textura do solo..................................................... 54
3.2.2 Estrutura do solo .................................................. 55
3.3 ÁGUA NO SOLO .............................................................. 59
3.3.1 Umidade do solo .................................................. 59
3.3.2 Retenção de água no solo ..................................... 61
10
14. 3.3.3 Capacidade de campo e ponto de murcha
permanente ........................................................... 62
3.3.4 Capacidade de água disponível ............................ 62
3.3.5 Armazenamento de água no solo ......................... 63
3.4 DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO ......................... 65
3.5 MANEJO DA ÁGUA ......................................................... 69
3.5.1 Produção de mudas .............................................. 69
3.5.2 Produção de frutos ............................................... 72
3.5.3 Resposta do morangueiro à disponibilidade
hídrica................................................................... 80
3.5.4 Manejo da irrigação localizada ............................ 84
3.5.5 Fertirrigação ......................................................... 87
3.6 LITERATURA CITADA ..................................................... 88
CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DA ÁGUA ........................ 92
4.1 A ÁGUA USADA NA AGRICULTURA ................................. 92
4.1.1 A água usada na cultura do morangueiro ............. 94
4.2 QUALIDADE DA ÁGUA USADA NA IRRIGAÇÃO ................ 95
4.2.1 Qualidade da água usada na irrigação
localizada ............................................................. 97
4.3 FONTES DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA IRRIGAÇÃO ........ 99
4.4 ESTUDO DE CASO: QUALIDADE DA ÁGUA USADA
PARA IRRIGAÇÃO DO MORANGUEIRO NO MUNICÍPIO
DE TURUÇU-RS ........................................................... 100
4.4.1 Caracterização e origem das fontes de
captação de água para irrigação ......................... 103
4.4.2 Potencial de risco de danos ao sistema de
irrigação do morangueiro ................................... 106
11
15. 4.4.3 Variabilidade espacial e temporal da
qualidade da água de irrigação ........................... 109
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 110
4.6 LITERATURA CITADA ................................................... 111
CAPÍTULO 5 - QUALIDADE FÍSICO-HÍDRICA
DO SOLO E A PRODUÇÃO DE MORANGO................. 115
5.1 QUALIDADE DO SOLO................................................... 115
5.1.1 Solos do Município de Turuçu-RS..................... 118
5.1.2 Qualidade do solo e a produção de morango ..... 121
5.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES DA QUALIDADE
FÍSICO-HÍDRICA DO SOLO ............................................. 125
5.2.1 Estabilidade de agregados em água: distribuição
de agregados do solo em classes de tamanho e
diâmetro médio ponderado (DMP) .................... 125
5.2.2 Porosidade do solo ............................................. 130
5.2.3 Curva de retenção de água no solo..................... 132
5.2.4 Capacidade de Água Disponível (CAD) ............ 134
5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 135
5.4 LITERATURA CITADA ................................................... 136
CAPÍTULO 6 - INDICADORES QUÍMICOS E
MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO
DE MORANGO .................................................................. 140
6.1 INDICADORES DE QUALIDADE DO SOLO ........................ 140
6.1.1 Indicadores químicos ......................................... 141
6.1.2 Indicadores microbiológicos .............................. 145
6.1.3 Indicadores relacionados à fertilidade................ 146
12
16. 6.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES QUÍMICOS E
MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO DE
MORANGO DO MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS .................... 148
6.2.1 Indicadores químicos ......................................... 148
6.2.2 Indicadores microbiológicos .............................. 154
6.2.3 Indicadores de fertilidade ................................... 156
6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 159
6.4 LITERATURA CITADA ................................................... 160
13
17. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Ao longo dos últimos anos, a técnica de irrigação vem
sendo usada em sistemas de produção de morango em
propriedades familiares no município de Turuçu-RS.
Entretanto, as informações regionais sobre a qualidade da água
que vem sendo utilizada na irrigação, a eficiência dos sistemas
já implantados bem como os possíveis impactos da água de
irrigação sobre os atributos do solo são escassas. Aliado a este
fator, a dificuldade de assistência, a falta de informações e a
não disponibilização e apropriação de conhecimentos e
tecnologias aos produtores, tem conduzido a um manejo de
irrigação completamente empírico, causando impactos
negativos que estão comprometendo o desenvolvimento da
cultura e afetando os recursos naturais, trazendo conseqüências
tanto sociais como para a atividade econômica propriamente
dita. Em vista disso, informações referentes ao solo, à planta,
ao clima e aos sistemas de irrigação podem ser úteis para o
manejo de água, além de permitir o uso dos recursos hídricos
de modo mais eficiente.
As relações entre os componentes do Sistema Solo-
Água-Planta-Atmosfera são complexas, o que torna o manejo
da irrigação uma tomada de decisão criteriosa. Este manejo
compreende o uso combinado de informações, sendo o nível
técnico e o grau de interesse do produtor fatores primordiais
para o seu sucesso. Ressalta-se que tal manejo deve ser
praticado e analisado continuamente, para que com o decorrer
dos anos o produtor adquira maior experiência e conhecimento
técnico, e se torne mais eficiente quanto ao uso da água. Desta
forma, o objetivo do presente texto é apresentar, de modo
simples e direto, aos técnicos e produtores, como as
14
18. informações do solo, da planta, do clima e do sistema de
irrigação são importantes ao manejo de irrigação.
O texto está dividido em seis capítulos. O primeiro
trata da fisiologia da cultura do morangueiro; o segundo tem
como enfoque os diferentes sistemas de produção de morango;
o terceiro traz informações básicas sobre o solo do ponto de
vista agronômico e manejo da água de irrigação; o quarto
aborda questões ligadas a qualidade da água de irrigação; o
quinto e o sexto capítulos abordam aspectos relativos a
qualidade do solo do ponto de vista físico-hídrico, químico e
microbiológico. Acreditamos que a apresentação de estudos de
casos, nos capítulos quarto, quinto e sexto, seja um importante
diferencial deste texto em relação aos demais nesta mesma
temática.
Palavras-chave: irrigação, qualidade da água, atributos
do solo, sistemas de produção de morango, Fragaria x
ananassa Duch.
15
19. CAPÍTULO 1 - FISIOLOGIA DA
PRODUÇÃO DE MORANGUEIRO
Denise de Souza Martins
André Samuel Strassburger
Roberta Marins Nogueira Peil
José Ernani Schwengber
Carlos Reisser Júnior
Leonardo Göetzke Furtado
1.1 INTRODUÇÃO
O morangueiro é cultivado e suas frutas apreciadas nas
mais diversas regiões do planeta. A produção mundial é
estimada em cerca de 3,1 milhões de toneladas e, a brasileira,
em 100 mil toneladas (CARVALHO, 2006).
No Rio Grande do Sul, a área plantada é estimada em
600 ha, com produção aproximada de 18 mil toneladas anuais
(IBGE, 2005 apud CARVALHO, 2006), sendo a cultura
conduzida, predominantemente, em propriedades agrícolas
familiares, devido à grande necessidade de mão de obra.
No município de Turuçu, o cultivo do morangueiro
passou a ganhar maior importância a partir do ano de 2001,
pela implantação de tecnologias como túneis baixos, sistema de
irrigação por gotejamento, cobertura do solo e fertirrigação, e,
sobretudo, pela organização dos agricultores. Hoje a
16
20. Capítulo I
Associação de Produtores de Morango de Turuçu - RS conta
com 22 agricultores, com predominância de áreas de até 1 ha.
As cultivares mais utilizadas em Turuçu são Camarosa
e Camino Real. Para alcançar o potencial produtivo destas
cultivares, assim como para outras recomendadas para nossa
região, é necessário entender a fisiologia da planta, ou seja,
como a planta responde aos estímulos ambientais externos
durante o seu ciclo.
Neste capítulo serão abordados aspectos relativos à
botânica e fisiologia da planta, caracterização de algumas
cultivares utilizadas e de outras com potencial para utilização
na região.
1.2 CARACTERÍSTICAS DA PLANTA
1.2.1 Botânica
O morangueiro pertence à família Rosaceae, ao gênero
Fragaria e à espécie Fragaria x ananassa Duch. É um híbrido
interespecífico resultante do cruzamento das espécies
F. chiloensis e F. virginiana. As plantas que compõem o gênero
Fragaria são herbáceas, atingem de 15 a 30 cm de altura,
podendo ser rasteiras ou mais eretas. Formam pequenas
touceiras (hábito de crescimento em roseta) que aumentam de
tamanho à medida que a planta envelhece. É uma planta perene
cultivada como planta anual, principalmente por questões
sanitárias e fisiológicas (RONQUE, 1998).
A folha do morangueiro normalmente é constituída por
um pecíolo longo e três folíolos. Os folíolos são dentados e
apresentam um grande número de estômatos (300 a 400 por
mm2 de folha) o que confere ao morangueiro uma maior
sensibilidade à falta de água, à baixa umidade relativa do ar e às
altas temperaturas (SANHUEZA et al., 2005 apud SILVA et
al., 2007).
17
21. Morangueiro Irrigado
Os estolões são caules verdadeiros, muito flexíveis,
que se desenvolvem em contato com o solo, permitindo que, a
partir da roseta foliar existente em seus nós, cresçam raízes que
penetram no solo, dando origem a novas plantas independentes
(RONQUE, 1998). O estolão é a forma mais utilizada de
multiplicação vegetativa do morangueiro (SILVA et al., 2007).
As flores do morangueiro estão agrupadas em
inflorescências do tipo cimeira, ou seja, depois de aberta a
primeira flor, os botões laterais vão se abrindo um a um,
acompanhando o desenvolvimento da inflorescência. O número
de inflorescências por planta é variável dependendo da cultivar,
assim como o número de flores por inflorescência. As
inflorescências se formam a partir das gemas existentes nas
axilas das folhas. A primeira flor normalmente origina o
primeiro fruto, em geral o mais desenvolvido de cada
inflorescência (SILVA et al., 2007).
Os frutos do tipo aquênio são minúsculos de coloração
vermelho amarronzados, duros e superficiais, que normalmente
as pessoas confundem achando que é a semente. Na verdade
estes aquênios são os frutos verdadeiros. O que chamamos de
fruta do morangueiro é, na verdade, o receptáculo floral que
engrossa e se torna carnoso e doce, de formato e sabor variável
de acordo com a cultivar utilizada (SILVA et al., 2007).
As características botânicas da planta são importantes,
pois as cultivares de morangueiro são caracterizadas com base
nas diferenças morfológicas da folha, da planta ou do fruto
(CONTI et al., 2002 apud SILVA et al., 2007).
1.2.2 Sistema radicular
O sistema radicular do morangueiro é formado por
raízes adventícias e fasciculadas. As raízes adventícias ou
primárias são grandes e perenes (não morrem de um ano para o
18
22. Capítulo I
outro), com função de reserva, contribuindo na absorção de
água e nutrientes (PIRES et al., 2000).
As raízes fasciculadas ou secundárias são longas e se
desenvolvem lateralmente ao rizoma, em camadas sobrepostas,
ficando as camadas de raízes mais novas acima das raízes mais
velhas. Estas raízes têm a vida mais curta (NATIVIDADE,
1940 apud INFORZATTO; CAMARGO, 1973).
As raízes do morangueiro se renovam continuamente
durante o ciclo da cultura, e devido a essa forma de renovação
das raízes, o sistema radicular do morangueiro é pouco
profundo (GALLETA; BRINGHURTS, 1990 apud PIRES et
al., 2000).
A distribuição do sistema radicular no solo depende de
muitos fatores, como a compactação do solo, a umidade, a
aeração e a fertilidade do mesmo. Para fins de irrigação, a
profundidade efetiva das raízes (que representa a camada desde
a superfície do solo até onde se encontra a maior parte das
raízes absorventes) é um dos parâmetros básicos para projetos
de manejo de água para a cultura (PIRES et al., 2000).
A quase totalidade das raízes do morangueiro
encontra-se até 60cm de profundidade. Todavia, a maior parte
do sistema radicular se concentra nos primeiros 30cm do solo,
profundidade recomendada para fins de irrigação (RONQUE,
1998; PIRES, et al., 2000).
As raízes servem de órgão de reserva de
fotoassimilados da planta, para que ocorra a brotação do
próximo ano.
A vida saudável do morangueiro, no que diz respeito
às suas raízes, depende da contínua produção de novas raízes
principais do caule e da possibilidade dessas raízes produzirem
novos tecidos, assegurando a existência duradoura da planta
(INFORZATTO; CAMARGO, 1973).
Como o sistema radicular do morangueiro é bastante
superficial, a área de cultivo deve ser mantida sempre limpa e
19
23. Morangueiro Irrigado
protegida por cobertura morta, mantendo úmida a camada
superficial do solo, evitando que as plantas espontâneas
concorram por nutrientes e água com o morangueiro.
1.2.3 Fisiologia da planta
Para a melhor exploração da cultura do morangueiro é
de fundamental importância o conhecimento sobre os aspectos
fisiológicos da planta.
Segundo Duarte Filho et al. (1999), durante a série de
transformações que a planta passa em seu ciclo, existem
diferenças marcantes entre as fases de desenvolvimento
vegetativo - formação de biomassa como folhas, caules e
estolões, e desenvolvimento reprodutivo - formação de
componentes da flor como pétalas, estames e pistilo.
A fase vegetativa é verificada logo após o transplante
das mudas, que no município de Turuçu geralmente ocorre no
mês de abril (ESTRELA, 2008).
A diferenciação do meristema vegetativo para floral,
que resultará no florescimento, é muito dependente de um
conjunto de fatores, sendo o fotoperíodo (duração do dia), a
temperatura e a interação entre estes os de maior relevância
(SILVA et al., 2007; RONQUE, 1998).
Em função da resposta da planta ao fotoperíodo, as
cultivares se classificam em cultivares de dias curtos, cultivares
de dias neutros (ou indiferentes ao fotoperíodo) e cultivares de
dias longos. Atualmente, as cultivares de dias longos não são
utilizadas no Brasil (WREGE et al., 2007).
As cultivares de dias curtos são aquelas que florescem
quando há redução do comprimento do dia (menor que 14 horas
de luz) e da temperatura (menor que 15°C) (SILVA et al.,
2007). Nesse grupo, encontram-se a maioria das cultivares
utilizadas no Brasil, como Camarosa e Camino Real,
20
24. Capítulo I
amplamente utilizadas no município de Turuçu (ESTRELA,
2008).
As cultivares de dias neutros são aquelas que
apresentam uma menor sensibilidade ao fotoperíodo em
comparação às de dias curtos, prolongando o florescimento até
que as baixas temperaturas paralisem suas atividades (SILVA
et al., 2007). As cultivares Diamante, Aromas e Albion são
cultivares de dias neutros que já estão sendo introduzidas nos
municípios da região Sul do Rio Grande do Sul.
Para que o florescimento seja abundante é preciso que
a planta tenha suprido as horas de frio necessárias para a
indução floral no período anterior ao transplante (período em
que está no viveiro), que varia de acordo com a cultivar. Esse
requerimento de horas de frio, geralmente abaixo de 7°C, é
necessário para uma normal formação de folhas e flores na
planta (SILVA et al., 2007).
Segundo Ronque (1998) é interessante que os viveiros
de mudas estejam localizados em regiões de latitude e/ou
altitudes elevadas, a fim de que o número de horas acumuladas
de frio (380 a 700 horas, dependendo da cultivar) seja suprida.
Devido a este aspecto fisiológico e também pelo
aspecto sanitário, a grande maioria das mudas utilizadas no Rio
Grande do Sul é importada do Chile e Argentina, pois os
viveiros destes países possuem as condições climáticas mais
favoráveis.
Wrege et al. (2007) realizaram um zoneamento
agroclimático para produção de mudas no Rio Grande do Sul e
verificaram que, na Região Sul do Estado, as horas de frio estão
abaixo das exigência da cultura. Assim, a produtividade das
mudas produzidas nessa região pode ser inferior àquelas
produzidas em locais mais recomendados para a produção de
mudas, conforme demonstra Oliveira e Scivittaro (2006).
Dependendo do estímulo de luz (fotoperíodo) e
temperatura que a planta recebe após o transplante nos
21
25. Morangueiro Irrigado
canteiros, ela pode vir a ter uma florada precoce, sem que a
parte vegetativa esteja bem desenvolvida. Nestes casos,
aconselha-se que estes primeiros cachos florais sejam
removidos da planta, ainda quando pequenos, para que haja um
incremento no crescimento vegetativo da planta e, assim, ela
suporte o crescimento das frutas que virão posteriormente. Em
plantas que são mantidas com cultivo de 18 meses, além do
incremento no crescimento vegetativo que ocorre no primeiro
ano quando se adota esta prática, existe um incremento na
produtividade das plantas no segundo ano (DAUGAARD,
1999).
Em cultivares de dias curtos, como a Camarosa e a
Camino Real, o aumento do fotoperíodo e da temperatura
estimulam a planta a emitir estolões, em detrimento da emissão
de inflorescências. As cultivares de dias neutros ou
indiferentes, como Aromas e Albion, são menos influenciadas
por esses dois fatores, e, portanto, apresentam uma menor
emissão de estolões e uma continuidade na emissão de
inflorescências. Se a intenção é a produção de frutas, se
aconselha retirar os estolões das plantas, pois eles são fortes
drenos, favorecendo o desenvolvimento das inflorescências e
das frutas.
1.2.4 Exigência hídrica
O morangueiro é extremamente sensível ao déficit
hídrico do solo. A irrigação é, portanto, uma prática cultural
indispensável para que a lavoura atinja níveis satisfatórios de
produtividade e qualidade das frutas (SANTOS et al., 2005).
Pela característica do sistema radicular pouco
profundo, a cultura do morangueiro exige um bom manejo da
irrigação, evitando-se deficiências, assim como excessos,
reduzindo a incidências de doenças.
22
26. Capítulo I
As necessidades hídricas do morangueiro estão
relacionadas ao clima, às condições de umidade do solo e à fase
de desenvolvimento da planta, necessitando de 900 a 1100 mm
de chuvas bem distribuídas durante o ciclo de cultivo
(CARVALHO, 2006).
A fase de maior exigência hídrica do morangueiro é a
de frutificação. Nessa fase, a planta necessita mais água para
formar os frutos, que possuem baixos teores de matéria seca, e,
também, por ser a fase que coincide com a primavera-verão,
quando a transpiração da cultura aumenta devido ao calor.
Segundo Severo et al. (2006), 86% da água consumida
durante o ciclo do morangueiro é durante a fase de frutificação.
Como essa fase é longa, atenção especial deve ser dada para o
manejo da água neste período, para que não ocorram excessos e
nem déficits.
1.3 CULTIVARES
As principais cultivares de morangueiro utilizadas no
Brasil provêm dos programas de melhoramento dos Estados
Unidos, destacando-se: Aromas, Camarosa, Camino Real,
Diamante, Dover, Oso Grande, Sweet Charlie e Ventana; da
Espanha: Milsei-Tudla; do programa de melhoramento genético
da Embrapa Clima Temperado: Bürkley, Santa Clara e Vila
Nova; e do Instituto Agronômico – IAC: cultivar Campinas
(OLIVEIRA et al., 2005 apud OLIVEIRA; SCIVITTARO,
2006).
No Rio Grande do Sul, as cultivares Aromas e
Camarosa são, respectivamente, as cultivares de dias neutros e
de dias curtos mais utilizadas, sendo ambas indicadas para
consumo in natura e industrialização (OLIVEIRA;
SCIVITTARO, 2006).
23
27. Morangueiro Irrigado
1.3.1 Características das cultivares utilizadas em Turuçu-
RS
Segundo ESTRELA (2008) as cultivares de
morangueiro mais utilizadas no município de Turuçu são
Camarosa e Camino Real, ambas de dias curtos.
A cultivar Camarosa (Figura 1.1) foi obtida na
Universidade da Califórnia, em 1993, apresentando plantas
vigorosas, com folhas grandes de coloração verde-escura, ciclo
precoce, com alta capacidade de produção, frutas grandes,
uniformes, de coloração vermelho-escura, polpa firme e sabor
sub-ácido, sendo indicada tanto para consumo in natura quanto
para industrialização (SANTOS, 2003).
Figura 1.1 - Cultivar Camarosa (foto: Denise de Souza
Martins).
A cultivar Camino Real (Figura 1.2) é nova no
mercado brasileiro. Foi desenvolvida na Universidade da
Califórnia em 2001 e introduzida no Brasil a partir de 2006
(OLIVEIRA et al., 2007). Mostra-se tão produtiva quanto a
Camarosa e a Aromas, com até 1 Kg de frutas comerciais por
planta, sendo a colheita concentrada no período de agosto a
dezembro (OLIVEIRA et al., 2007).
24
28. Capítulo I
Figura 1.2 - Cultivar Camino Real (foto: Denise de Souza
Martins).
1.3.2 Novas cultivares para a Região Sul
Algumas cultivares de dias neutros vem sendo testadas
com sucesso na região Sul do RS. Como exemplos, pode-se
citar as cultivares Aromas e Albion.
A cultivar Aromas (Figura 1.3) também foi obtida na
Universidade da Califórnia, porém em 1997. É uma cultivar
muito produtiva, com hábito de crescimento ereto. As frutas são
de tamanho grande, coloração vermelha-escura, sabor
agradável e qualidade excelente para consumo in natura e
industrialização (SHAW, 2004). Essa cultivar já está sendo
implantada na região, com resultados de produtividade
semelhantes às cultivares Camarosa e Camino Real, que
possuem maior produção na fase intermediária do período
produtivo, enquanto a Aromas apresenta maior produção na
fase final do ciclo produtivo (OLIVEIRA; SCIVITTARO,
2006).
25
29. Morangueiro Irrigado
Figura 1.3 - Cultivar Aromas (foto: Denise de Souza Martins).
Outra cultivar que está sendo introduzida no Estado é a
Albion (Figura 1.4). Essa cultivar apresenta folhas mais
coriáceas e mais eretas que a Camino Real, assim como as
inflorescências, que também são mais eretas, deixando os frutos
suspensos, diminuindo o ataque de insetos como a broca das
frutas e os danos por queimaduras devido ao contato com o
plástico. É relativamente resistente à antracnose (SHAW, 2004)
o que pode facilitar seu cultivo a céu aberto. As frutas são de
tamanho grande, de sabor excelente, com formato cônico
alongado, sendo de coloração vermelho escuras quando bem
maduras, tanto internamente quanto externamente, mostrando
aptidão tanto para consumo in natura quanto para
industrialização.
Uma das principais vantagens do cultivo de plantas de
dias neutros juntamente com as de dias curtos é o
escalonamento da produção durante o ciclo, pois as plantas de
dias curtos são mais precoces e as de dias neutros produzem até
janeiro ou fevereiro, aumentando o período de oferta da fruta
no mercado.
26
30. Capítulo I
Figura 1.4 - Cultivar Albion (foto: Denise de Souza Martins).
1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento da fisiologia da produção e os
aspectos botânicos da planta são de fundamental importância
para o adequado manejo da cultura. A utilização de cultivares
de dias neutros conciliadas às cultivares de dias curtos, já
cultivadas no município de Turuçu, mostra-se uma alternativa
interessante para aumentar o período de oferta da fruta no
mercado.
O maior conhecimento sobre fatores como a
característica do sistema radicular, a exigência hídrica da
cultura, a qualidade da muda e as respostas da planta aos
fatores climáticos, permite uma otimização do sistema de
produção e, consequentemente, melhores resultados em relação
à produtividade.
27
31. Morangueiro Irrigado
1.5 LITERATURA CITADA
CARVALHO, S. P. Boletim do morango: cultivo
convencional, segurança alimentar, cultivo orgânico. Belo
Horizonte: FAEMG, 2006. 160p.
DAUGAARD, H. The effect of flower removal on the yield
and vegetative growth of A+ frigo plants of strawberry
(Fragaria x ananassa Duch). Scientia Horticulturae, v. 82,
n. 1-2, p. 153-157, 1999.
DUARTE FILHO, J. et al. Aspectos do florescimento e
técnicas empregadas objetivando a produção precoce em
morangueiros. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 20,
n. 198, p. 1-9, 1999.
ESTRELA, C. C. Variabilidade espacial e temporal da
qualidade da água de irrigação no sistema de produção de
morango em propriedades familiares no município de
Turuçu-RS. Pelotas, 2008. 98p. Dissertação (Mestrado em
Sistemas de Produção Agrícola Familiar) – Faculdade de
Agronomia “Eliseu Maciel”, Universidade Federal de Pelotas,
2008.
INFORZATTO, R.; CAMARGO, L. S. Sistema radicular do
morangueiro (Fragaria híbridos), em duas fases do ciclo
vegetativo. Bragantia, Campinas, v. 32, n. 8, p. 185-191, 1973.
OLIVEIRA, R. P.; SCIVITTARO, W. B. Desempenho
produtivo de mudas nacionais e importadas de morangueiro.
Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 28,
n. 3, p. 520-522, 2006.
OLIVEIRA, R. P.; SCIVITTARO, W. B.; FERREIRA, L. V.
Camino Real: nova cultivar de morangueiro recomendada
para o Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima
Temperado, Comunicado Técnico 161, 4p., 2007.
28
32. Capítulo I
PIRES, R. C. M. et al. Profundidade efetiva do sistema
radicular do morangueiro sob diferentes coberturas do solo e
níveis de água. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
v. 32, n. 4, p. 793-799, 2000.
RONQUE, E. R. V. Cultura do morangueiro; revisão e
prática. Curitiba: Emater, 1998. 206 p.
SANTOS, A. M. Cultivares. In: SANTOS, A. M.; MEDEIROS,
A. R. M. (Ed.) Morango: produção. Pelotas: Embrapa Clima
Temperado; Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.
p. 24-30. (Frutas do Brasil, 40).
SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M.; WREGE, M. S.
Sistema de produção do morango: irrigação e fertirrigação.
Embrapa Clima Temperado, ISSN 1806-9207 Versão
Eletrônica, novembro 2005. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao. cnptia.embrapa.br/>. Acesso em
18 de março de 2009.
SEVERO, F. D. et al. Consumo hídrico do morangueiro
cultivado em ambiente protegido. CD do Congresso de
Iniciação Científica – UFPel, 2006.
SILVA, A. F.; DIAS, M. S. C.; MARO, L. A. C. Botânica e
Fisiologia do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v. 28, n. 236, p. 7-13, 2007.
SHAW, D. V. Strawberry Production Systems, Breeding and
Cultivars in Califórnia. In: II Simpósio Nacional do
Morango; I Encontro de Pequenas Frutas e Frutas Nativas
do Mercosul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, p. 16-21,
2004.
WREGE, M. S. et al. Zoneamento agroclimático para
produção de mudas de morangueiro no Rio Grande do Sul.
Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. 27p. Documento
187, versão online.
29
33. CAPÍTULO 2 - SISTEMA DE
PRODUÇÃO DO MORANGUEIRO:
FATORES QUE INFLUENCIAM O
MANEJO DA IRRIGAÇÃO
André Samuel Strassburger
Denise de Souza Martins
Carlos Reisser Júnior
José Ernani Schwengber
Roberta Marins Nogueira Peil
Luís Carlos Philipsen
2.1 INTRODUÇÃO
Dentre as práticas culturais empregadas na cultura do
morangueiro, a irrigação apresenta-se como uma das mais
importantes. Esta prática torna-se fundamental, pois a cultura é
altamente exigente em relação à disponibilidade hídrica e os
regimes de chuvas em algumas regiões podem não ser
suficientes ou não apresentar uma distribuição adequada.
Para que as plantas expressem o seu potencial
produtivo, é necessário que as condições adequadas de cultivo
sejam proporcionadas, tornando-se fundamental a manutenção
da umidade do solo dentro dos parâmetros exigidos pela
cultura. O déficit hídrico, assim como o excesso por períodos
de tempo prolongados, pode causar danos irreversíveis à planta,
reduzindo a produtividade.
30
34. Capítulo II
Algumas práticas culturais adotadas no cultivo do
morangueiro influenciam de maneira significativa o manejo da
irrigação, como a utilização de cobertura do solo e túnel baixo.
O sistema de produção predominante entre os agricultores do
município de Turuçu-RS caracteriza-se pela utilização de
cobertura do solo com plástico de coloração preta, pela
utilização de túneis baixos e irrigação por gotejamento.
A adubação segue as recomendações tradicionais,
utilizando-se adubos químicos. Alguns produtores
eventualmente utilizam adubos de origem orgânica e
fertirrigação. O controle de pragas e doenças é realizado com
agrotóxicos tradicionais ou, menos comumente, produtos
alternativos.
O manejo da cultura e o sistema de produção adotado
exercem fundamental importância para o sucesso da lavoura.
Neste capítulo, as principais práticas culturais utilizadas para o
cultivo do morangueiro serão abordadas destacando-se o
adequado manejo e a influência destas sobre a irrigação.
2.2 UTILIZAÇÃO DE COBERTURA DO SOLO
Uma das práticas culturais mais importantes para a
cultura do morangueiro é a utilização de cobertura do solo, que
consiste na aplicação de qualquer cobertura na superfície do
solo que forme uma barreira física à transferência de energia e
vapor d’água entre o solo e a atmosfera.
Tem como principais objetivos: evitar o contato direto
dos frutos com o solo, aumentando sua qualidade; reduzir a
incidência de plantas invasoras; reduzir as perdas de nutrientes
por lixiviação; modificar o microclima do solo; reduzir as
oscilações de temperatura; e reduzir as perdas de água do solo
por evaporação (RONQUE, 1998; SANTOS; MEDEIROS,
2003).
31
35. Morangueiro Irrigado
Os materiais utilizados como cobertura do solo para a
cultura do morangueiro podem ser de origem vegetal (como a
acícula de pinus e a casca de arroz) ou sintéticos (como os
filmes de polietileno).
A cobertura do solo deve ser realizada
aproximadamente 30 dias após o transplante, quando as mudas
já estiverem com o sistema radicular bem desenvolvido,
evitando maiores danos ao manuseá-las (RONQUE, 1998;
SANTOS; MEDEIROS, 2003).
2.2.1 Materiais de origem vegetal
Os principais materiais de origem vegetal utilizados
como cobertura do solo na cultura do morangueiro são: casca
de arroz, acícula de pinus, sabugo de milho picado, serragem,
maravalha, palhas, hastes de cereais e folhas diversas.
Ronque (1998) destaca que os materiais utilizados
como cobertura do solo devem ser isentos de contaminantes ou
qualquer outra substância que possa vir a prejudicar o adequado
desenvolvimento das plantas.
A camada formada pelos resíduos vegetais deve ter
uma espessura suficiente para evitar que os raios solares
penetrem, mantendo a umidade do solo devido à menor
evaporação da água.
Dentre as vantagens da utilização da cobertura com
resíduos vegetais destacam-se: menor ataque de ácaros, em
razão do microclima úmido abaixo das folhas; menor custo; e
enriquecimento do teor de matéria orgânica do solo, com a
incorporação da cobertura morta após o término do cultivo
(SANTOS; MEDEIROS, 2003). A dificuldade de manejo e
danos físicos às frutas são os principais limitantes da utilização
de materiais de origem vegetal em comparação aos materiais
sintéticos.
32
36. Capítulo II
2.2.2 Materiais sintéticos
Os primeiros materiais sintéticos a serem utilizados
como cobertura do solo foram o papel e resíduos de petróleo.
Com o surgimento da indústria petroquímica, a partir da década
de 50, materiais mais baratos, como os filmes de polietileno,
passaram a ser utilizados como cobertura do solo (STRECK et
al., 1994). Atualmente, para a cultura do morangueiro a
cobertura mais utilizada é o polietileno opaco preto, com 30 ou
50 micras de espessura.
As coberturas plásticas têm como principais
vantagens: a redução da umidade relativa, o que diminui a
incidência de fungos, especialmente aqueles que ocasionam
podridões de frutos, preservando sua qualidade; o estímulo à
produção precoce; e a redução da mão-de-obra de transporte e
colocação, em comparação com outras opções de coberturas.
As principais desvantagens são o elevado custo do
plástico, o estímulo ao desenvolvimento de ácaros pela
formação de microclima seco (SANTOS; MEDEIROS, 2003) e
o impacto ambiental causado pelo plástico após sua retirada do
solo.
2.2.3 Influência da cobertura do solo no aporte de água
Um dos principais efeitos esperados pela utilização de
cobertura do solo é a redução da perda de água do solo. A
magnitude da redução da evaporação pelo material de cobertura
depende da sua natureza. A cobertura morta de palha seca reduz
menos a evaporação da água do solo que os materiais sintéticos,
possivelmente porque o vapor d'água difunde-se através da
camada de resíduos (STRECK et al., 1994).
Com a utilização de cobertura plástica a evaporação da
água da superfície do solo pode ser reduzida em até 21%, em
comparação ao solo nu (STRECK et al., 1994). Dessa forma, a
33
37. Morangueiro Irrigado
utilização de cobertura mantém a umidade do solo por um
período de tempo maior que o solo descoberto, o que significa
um aumento da eficiência da irrigação e uma economia de água
e energia, caso a irrigação não seja por gravidade.
2.3 UTILIZAÇÃO DE TÚNEIS
Com a introdução da plasticultura na produção
agrícola, o morangueiro passou a ser cultivado com algum tipo
de proteção plástica, seja em túneis baixos, altos ou casas
plásticas. Grande parte dos agricultores tem preferência pela
utilização de túneis baixos para a cultura do morangueiro em
comparação a outras estruturas de maior porte, devido ao
menor custo de implantação e a possibilidade de rodízio das
áreas de cultivo, fator importante para evitar maiores problemas
com doenças.
Dentre as vantagens que os túneis proporcionam em
relação ao cultivo a céu aberto, podem ser citadas a antecipação
da colheita, maior produção e melhor qualidade, oriundas da
maior proteção quanto aos fenômenos climáticos como geadas,
excesso de chuvas, queda acentuada de temperatura durante a
noite, proteção do solo contra a lixiviação e, consequentemente,
redução dos custos com fertilizantes e agrotóxicos. Como
principais desvantagens têm-se o elevado custo do plástico e o
aumento da mão-de-obra para abrir e fechar os túneis.
2.3.1 Manejo dos túneis
Para que as vantagens da utilização dos túneis sejam
obtidas, é importante que o manejo adotado seja adequado.
Caso contrário, pode ocorrer aumento na incidência de doenças,
culminando em uma redução da produção. Abaixo segue o
manejo adequado dos túneis a ser adotado, baseado nas
34
38. Capítulo II
recomendações de Santos e Medeiros (2003) e em observações
da equipe.
Abertura dos túneis: deve ser realizada logo pela
manhã. Ambas laterais devem ser abertas de forma que toda a
umidade seja eliminada. Em dias de ventos moderados, pode-se
abrir apenas o lado oposto àqueles predominantes, evitando
danos ao plástico e as plantas. Quanto maior a ventilação menor
será a ocorrência de doenças;
Fechamento dos túneis: no final da tarde, deve-se
realizar a operação inversa, ou seja, deve-se fechar as laterais
dos túneis para aumentar o acúmulo térmico, elevando a
temperatura noturna dentro dos túneis. Em dias de chuva, os
túneis devem ser mantidos fechados, sendo abertos assim que
as condições climáticas melhorarem.
A manutenção do túnel fechado durante o dia aumenta
a temperatura do ar e a umidade relativa dentro do túnel.
Nessas condições, tem-se um aumento da ocorrência de
doenças que se desenvolvem sob condições de alta umidade
relativa. O cultivo protegido, desde que bem manejado, e a
irrigação localizada constituem práticas valiosas para o manejo
de doenças na cultura do morangueiro e possibilitam a redução
do uso de agrotóxicos.
Outra questão importante a ser observada em relação
ao manejo dos túneis é a polinização. Na cultura do
morangueiro a polinização é realizada principalmente pelas
abelhas. O acesso às flores deve ser facilitado, ou seja, os túneis
devem estar abertos no horário de maior atividade das abelhas.
Quanto maior o número de visitas, melhor será a
polinização e, consequentemente, a qualidade das frutas. Em
locais nos quais não exista uma grande ocorrência de abelhas,
para melhorar a polinização recomenda-se colocar caixas de
abelhas próximas à lavoura.
Caso os túneis sejam mantidos fechados por um
período de tempo prolongado, o número de visitas será
35
39. Morangueiro Irrigado
reduzido, com reflexos negativos sobre a polinização, assim, a
qualidade e a produtividade da lavoura serão afetadas.
2.3.2 Influência dos túneis de cultivo sobre a irrigação
A utilização de abrigos plásticos está diretamente
ligada à necessidade de um sistema de irrigação, mesmo
quando a estrutura de proteção utilizada é o túnel baixo. O ciclo
natural da água nesse tipo de estrutura é quebrado e o
fornecimento de água para as plantas na forma de precipitação
não ocorre.
Em se tratando do cultivo do morangueiro em túneis
baixos, embora ocorram precipitações elevadas, a água
acumula-se nos corredores, sendo que parte dela infiltra nos
canteiros, parte volta para a atmosfera na forma de vapor e
parte é perdida por percolação.
Muitas vezes a fração infiltrada nos canteiros não é
suficiente para manter a umidade do solo em níveis adequados.
Assim, mesmo com precipitações abundantes, pode existir a
necessidade de se realizar a irrigação, sendo necessária a
observação da umidade do solo, para a definição do momento
de irrigar.
Quando se utilizam túneis para o cultivo, a irrigação
por aspersão fica inviabilizada, sendo necessária a implantação
de irrigação localizada.
2.4 ESCOLHA DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO
2.4.1 Aspersão
No Brasil, até a década de 80, grande parte das
lavouras de morangueiro era irrigada por aspersão (SANTOS et
al., 2005). Esse sistema propicia condições favoráveis ao
aparecimento de doenças, devido ao molhamento que ocorre na
36
40. Capítulo II
parte aérea das plantas. As gotas de água da irrigação também
servem como disseminadoras dos esporos de patógenos.
Para Santos et al. (2005) e Carvalho (2006), os únicos
benefícios de um sistema de irrigação por aspersão são a
diminuição do ataque de ácaros e o controle de geadas,
podendo evitar dano às flores e frutos pequenos. Atualmente,
esse método de irrigação é mais utilizado após o plantio, para
garantir a sobrevivência das mudas a campo (SANTOS et al.,
2005) e na produção de mudas de morangueiro em viveiros.
2.4.2 Gotejamento
O sistema de irrigação por gotejamento vem sendo
amplamente adotado na cultura do morangueiro. Isso ocorre
devido à maior eficiência no uso da água e menor incidência de
doenças, pela redução do molhamento da parte aérea da planta.
Como consequência, há um aumento na produtividade, no
tamanho e na qualidade da fruta (SANTOS et al., 2005).
Além da redução do molhamento foliar, o sistema de
irrigação por gotejamento reduz o consumo de energia elétrica
e possibilita o uso de fertirrigação. Todavia, necessita água
limpa, filtrada e manutenção constante dos equipamentos, o que
acarreta um custo inicial mais elevado em comparação ao
sistema de irrigação por aspersão (CARVALHO, 2006).
Mesmo com essas desvantagens, o sistema de irrigação por
gotejamento é o mais indicado para a cultura do morangueiro e
amplamente utilizado entre os agricultores do município de
Turuçu.
Porém, se o sistema não for bem manejado, pode
conduzir a resultados negativos, como o excesso de água no
solo, o que pode aumentar a incidência de fungos de solo,
reduzindo a produtividade e até causando a morte das plantas
(SANTOS et al., 2005; CARVALHO, 2006).
37
41. Morangueiro Irrigado
2.4.3 Influência dos sistemas de irrigação na incidência de
doenças e pragas
A irrigação por aspersão, pela característica do
molhamento da parte aérea da planta, favorece o aparecimento
de doenças nas folhas e nas frutas.
A mancha da micosferela (Figura 2.1) é causada pelo
fungo Micosphaerella fragaria (Tul.) Lindau e ocorre na fase
inicial e final do ciclo. Maiores danos ocorrem quando se
utiliza altas densidades, irrigação por aspersão e excesso de
adubação nitrogenada (FORTES; OSÓRIO, 2003).
Figura 2.1 - Mancha da micosferela (foto: Denise de Souza
Martins).
A antracnose, causada pelos fungos Colletotrichum
gloreosporioidis, C. acutatum e C. Fragariae, produz lesões e
estrangulamento em estolões, pecíolo, pedúnculo, fruta (Figura
2.2) e coroa da planta. Quando ataca os botões florais causa a
chamada flor-preta. Maior ataque às plantas é observado com o
aumento da umidade. Assim, a irrigação por aspersão pode ser
prejudicial, favorecendo o aparecimento da doença. Como
controle preventivo recomenda-se a eliminação de restos
culturais, uma vez que o fungo pode sobreviver neles e a
utilização de túneis de polietileno que evitam o molhamento da
parte aérea da planta.
38
42. Capítulo II
Figura 2.2 - Antracnose na fruta (foto: Denise de Souza
Martins).
O mofo cinzento (Botrytis cinerea Pers) ataca
principalmente as frutas (Figura 2.3) em qualquer estádio de
desenvolvimento, desde que ocorram longos períodos com
umidade. A água da chuva e da irrigação por aspersão são
veículos para disseminar os esporos do fungo.
Figura 2.3 - Mofo cinzento na fruta (foto: Denise de Souza
Martins).
39
43. Morangueiro Irrigado
As principais pragas que atacam a cultura do
morangueiro são o pulgão e o ácaro rajado. Os pulgões (Figura
2.4) são insetos de corpo mole, de coloração variada,
dependendo da espécie. Vivem agrupados, em colônias, na face
inferior das folhas. O dano dos pulgões ao morangueiro é
devido à sucção da seiva da planta e pela possível transmissão
de viroses que levam ao enfraquecimento e eventual morte da
planta (SANTOS et al., 2005).
Figura 2.4 - Pulgão verde na folha. (foto: Denise de Sousa
Martins).
O ácaro rajado (Tetranychus urticae Koch) ocorre no
Sul do Brasil e onde são aplicados sistematicamente inseticidas
e acaricidas no cultivo do morangueiro. Ele tem cor verde
amarelado a verde escuro, com duas manchas escuras nos lados
do corpo, não sendo visível a olho nu.
Os ácaros vivem em colônias, na face inferior das
folhas, principalmente junto à nervura central, formando uma
espécie de teia. Eles removem os tecidos superficiais da folha,
causando perda de seiva junto às primeiras camadas do tecido
foliar, ocorrendo amarelecimento ao longo da nervura central e
um tipo de bronzeamento lateral da folha.
O período ou época de incidência dos pulgões e ácaros
depende mais das condições climáticas (temperaturas elevadas
40
44. Capítulo II
e longas estiagens) do que do estádio de desenvolvimento da
planta. Os ácaros predadores (ácaros vermelhos – Figura 2.5)
ocorrem naturalmente nas lavouras, desde que não haja a
aplicação de acaricidas.
Figura 2.5 - Ácaro predador, na parte superior da figura, e
ácaros rajados, na parte inferior da figura (foto:
Denise de Sousa Martins).
Como os pulgões e ácaros aparecem nas lavouras
devido a altas temperaturas e baixa umidade, a irrigação por
aspersão diminui a incidências destas pragas.
2.5 FERTIRRIGAÇÃO
A fertirrigação é o processo de aplicação de
fertilizantes juntamente com a água de irrigação, visando
fornecer as quantidades de nutrientes requeridas pela cultura no
momento adequado para obtenção de altos rendimentos e
produtos de qualidade (CARRIJO et al., 2004).
A utilização de sistemas de irrigação por gotejamento
permite a aplicação concomitante de água e fertilizantes, pois
apresenta características estruturais e operacionais que
41
45. Morangueiro Irrigado
favorecem a implantação dessa prática. É uma maneira racional
e eficiente de nutrir as plantas na agricultura irrigada.
Representa aproximadamente 10% do custo de implantação do
sistema de irrigação (COELHO et al., 2003), necessitando
apenas a aquisição do sistema de injeção de fertilizantes quando
o sistema de irrigação já está instalado.
Dentre as vantagens da fertirrigação podem ser citadas
o atendimento das necessidades nutricionais das plantas, de
acordo com a curva de absorção dos nutrientes; a aplicação dos
nutrientes restrita ao volume molhado, na região de maior
abundância das raízes; as quantidades e concentrações dos
nutrientes podem ser adaptadas às necessidades da planta em
função de seu estádio fenológico e condições climáticas;
proporciona economia de mão-de-obra; reduz as perdas; e
reduz a atividade de pessoas ou máquinas na área de cultivo,
diminuindo a compactação e favorecendo as condições físicas
do solo (COELHO et al., 2003).
Como inconvenientes do sistema podem ser citados
possíveis entupimentos que podem ocorrer durante o processo,
a salinização e a contaminação de solos e mananciais devido à
lixiviação de nutrientes. Esses inconvenientes estão
relacionados principalmente com o manejo incorreto do sistema
de fertirrigação, pela não diluição total do fertilizante e pela
aplicação em excesso.
2.5.1 Aspectos nutricionais do morangueiro
A primeira etapa para a determinação dos fertilizantes
e corretivos a serem aplicados para o cultivo do morangueiro é
a análise química do solo. De posse desta, deve-se realizar a
correção da acidez do solo, se necessário, buscando alcançar
pH próximo a 6,0 e com no mínimo três meses de antecedência
ao transplante das mudas (COMISSÃO DE QUÍMICA E
FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC, 2004).
42
46. Capítulo II
Como o período de cultivo do morangueiro é longo,
recomenda-se o parcelamento da recomendação total da
adubação para a cultura, visando reduzir as perdas de nutrientes
e manter os níveis de fertilidade do solo sempre próximo ao
ideal em cada fase de crescimento das plantas, reduzindo
perdas por lixiviação. Dessa forma, o suprimento de nutrientes
pode ser realizado todo via fertirrigação, começando o
procedimento logo após o transplante das mudas ou com uma
aplicação na base e o restante parcelado (CARVALHO, 2006).
Segundo Filho et al. (1999), até o início das primeiras
colheitas, a planta absorve 37,2% do nitrogênio (N); 28,7% do
fósforo (P) e 23,1% do potássio (K) requerido durante todo o
período, fator importante a ser levado em consideração para o
planejamento da aplicação dos fertilizantes.
O nitrogênio, apesar de ser um dos nutrientes mais
exigidos pela cultura, não pode ser adicionado de forma
indiscriminada. O excesso pode causar crescimento vegetativo
exuberante em detrimento da produção (PACHECO et al.,
2007), favorecendo o aparecimento de doenças devido ao
desequilíbrio nutricional. Em contrapartida, a deficiência de N
causa redução no crescimento das plantas. Por ser um nutriente
móvel no solo, deve-se atentar ao fato de que irrigações pesadas
podem causar lixiviação do nutriente, causando perdas
substanciais.
A deficiência de P causa paralisia tanto no crescimento
vegetativo (emissão de folhas e estolões), quanto no
reprodutivo (emissão de flores). Os frutos tornam-se ácidos e
com aroma desagradável. A adequada nutrição fosfatada é
importante para aumentar a resistência do morangueiro às
doenças, a consistência e o tamanho dos frutos (PACHECO et
al., 2007).
O K é o nutriente que mais favorece a qualidade da
fruta, aumentando os teores de sólidos solúveis totais, de ácido
ascórbico e melhorando o aroma, o sabor, a cor e a firmeza
43
47. Morangueiro Irrigado
(FILHO et al., 2000). Além disso, confere maior longevidade à
planta, tornando-a mais produtiva por um período de tempo
maior (PACHECO et al., 2007).
O cálcio (Ca) melhora a firmeza e resistência da fruta.
Sua deficiência avançada ocasiona mortalidade das gemas
associadas à emissão de novas folhas e raízes, sendo importante
para definir a firmeza das frutas (PACHECO et al., 2007).
Os micronutrientes, embora absorvidos em menor
quantidade, são tão importantes quanto os macronutrientes para
um adequado crescimento e produção. O zinco e o boro são os
dois micronutrientes para os quais as plantas mais comumente
apresentam sintomas de deficiência (PACHECO et al., 2007).
A carência de ambos os elementos produz uma diminuição na
fertilidade do pólen e na frutificação e, consequentemente, na
produtividade final.
2.5.2 Tipos e fontes de nutrientes para a fertirrigação
Para a cultura do morangueiro, tanto os
macronutrientes como os micronutrientes podem ser aplicados
via fertirrigação. Como fonte de nitrogênio, pode-se utilizar a
uréia, o nitrato de amônio, o sulfato de amônio, o nitrato de
cálcio, o nitrato de potássio, o fosfato monoamônico (MAP) e o
fosfato diamônico (DAP).
As fontes de potássio mais utilizadas são o cloreto de
potássio, o nitrato de potássio, o sulfato de potássio e o fosfato
monopotássico. Para a adubação fosfatada, podem ser
utilizados o ácido fosfórico, o fosfato monopotássico, o fosfato
monoamônico purificado e o fosfato diamônico.
Para a adição de micronutrientes, existem outras
fontes, que são menos utilizadas e mais difíceis de serem
encontradas no mercado como nitrato de magnésio, sulfato
ferroso, Fe EDTA, ácido bórico, sulfato de cobre, sulfato de
manganês, sulfato de zinco e molibidato de sódio.
44
48. Capítulo II
A escolha de um desses fertilizantes para suprir a
demanda de um determinado nutriente deve ser realizada de
acordo com o teor de cada nutriente presente no fertilizante,
com a disponibilidade no mercado e com o preço.
Alguns desses fertilizantes são fontes de mais de um
nutriente, como o nitrato de cálcio, que além de ser fonte de
nitrogênio, também é fonte de cálcio, outro nutriente
importante para a cultura do morangueiro. Dessa forma, em
alguns casos, pode ser mais interessante a aplicação de um
fertilizante que forneça mais de um nutriente do que a
utilização de outro fertilizante que forneça apenas um nutriente.
2.5.3 Utilização de soluções de origem orgânica
Além dos fertilizantes químicos de alta solubilidade,
também podem ser utilizadas soluções de origem orgânica para
a fertirrigação. É uma das alternativas que os agricultores que
se dedicam a produção orgânica de morangos encontraram para
a aplicação de nutrientes juntamente com a irrigação durante o
ciclo produtivo.
Uma das opções para a utilização desse tipo de fonte
de nutrientes é o húmus líquido. A fertirrigação com húmus
líquido tem sido utilizada com sucesso nos experimentos
realizados na Estação Experimental Cascata (Embrapa Clima
Temperado), demonstrando bons resultados para a cultura do
morangueiro. O preparo do húmus líquido é simples. A seguir
seguem as recomendações para a elaboração do húmus líquido
de acordo com Schiedeck et al. (2006).
Para preparar 100 L de húmus líquido, na proporção de
1:10, utiliza-se 10 kg de húmus e mistura-se em 100 L de água,
obtendo-se uma concentração aproximada de 5%, uma vez que
a umidade do húmus é cerca de 50%. Em um recipiente,
adiciona-se primeiramente a água e posteriormente o húmus,
agitando-se de forma vigorosa para que todo o sólido se
45
49. Morangueiro Irrigado
dissolva na água. Pode ser preparado em qualquer recipiente
evitando que a solução fique exposta ao sol. Concentrações
superiores a 5% não são recomendadas, pois são difíceis de
serem filtradas. A mistura deve ser agitada pelo menos uma vez
ao dia para que o máximo de nutrientes e microorganismos do
húmus seja liberado na água. O processo de preparo dura cerca
de 4 a 7 dias. Anteriormente a aplicação, o material deve ser
muito bem filtrado em peneira fina, removendo-se todo o
material sólido para evitar o entupimento do sistema de
irrigação.
2.5.4 Estrutura necessária
Para realizar a fertirrigação, é necessário além do
sistema de irrigação, equipamentos adequados para injeção dos
nutrientes no sistema. Segundo Silva e Marouelli (2002), a
injeção dos fertilizantes no sistema de irrigação pode ser
realizada por três diferentes sistemas:
a) com tanques de injeção com cilindro
hermeticamente fechado, onde o fertilizante é colocado e por
onde parte da água que se destina às plantas passa por diferença
de pressão, transportando, dessa forma, o produto até os
emissores;
b) com bomba injetora de fertilizantes que retira o
fertilizante a ser aplicado de um reservatório e o injeta
diretamente no sistema de irrigação;
c) com o tubo de Venturi, que se baseia no princípio
hidráulico de Venturi, que consiste de um estrangulamento de
uma tubulação, causando uma sucção resultante da mudança na
velocidade do fluxo e, assim, injeta a solução a ser aplicada no
sistema de irrigação.
De acordo com as necessidades, qualquer um desses
mecanismos pode ser utilizado. Observa-se que o mais simples,
mais barato e que vem sendo amplamente utilizado para a
46
50. Capítulo II
cultura do morangueiro, apresentando uma distribuição
satisfatória da solução no sistema de irrigação é o tubo de
Venturi.
2.5.5 Manejo da fertirrigação
O manejo adequado da fertirrigação requer que a
injeção de fertilizantes seja iniciada quando toda tubulação
estiver cheia de água e os emissores em pleno funcionamento.
Caso contrário, a uniformidade de distribuição de fertilizantes
será prejudicada. O processo de fertirrigação pode ser dividido
em três etapas: a primeira para enchimento da tubulação; a
segunda para aplicação propriamente dita da solução na água de
irrigação; e a terceira para promover a lavagem da tubulação e
dos emissores (MAROUELLI et al., 1996; SOUSA et al.,
2003).
Em relação à frequência da fertirrigação, esta pode ser
feita todas as vezes que for realizada a irrigação ou em
intervalos maiores. A frequência depende de fatores como a
capacidade do sistema, mão-de-obra disponível, tipo de solo,
tipo de cultura ou mesmo da preferência do produtor.
O parcelamento deve ser realizado de acordo com os
parâmetros químicos do solo ou pela taxa de absorção dos
nutrientes pela cultura. Salienta-se que é importante o
monitoramento do estado nutricional das plantas para
determinar a necessidade da fertirrigação, observando-se
sintomas de deficiências ou excessos de nutrientes nas plantas
ou pela análise química foliar.
Aplicações de fertilizantes em regime de alta
frequência e em pequenas quantidades têm a vantagem de
reduzir a lixiviação dos nutrientes e manter o nível de
fertilidade próximo do ótimo (SILVA; MAROUELLI, 2002).
Em solos arenosos, onde as perdas de água e nutrientes
ocorrem com maior intensidade, o uso da fertirrigação permite
47
51. Morangueiro Irrigado
reduzir significativamente essas perdas com aplicações mais
frequentes de forma pontual, principalmente em relação a
adubação nitrogenada (VÁSQUEZ, 2003).
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cultura do morangueiro reveste-se de importância
para os horticultores da Região Sul do Estado, em especial no
município de Turuçu, tornando-se uma alternativa que
proporciona uma fonte de renda durante um longo período do
ano.
O morango é uma fruta muito apreciada e de alto valor
no mercado, no entanto, apresenta em seu sistema de produção
uma série de detalhes que dificultam a produção de frutas de
alta qualidade, sem contaminantes químicos ou biológicos.
Se o sistema de produção for bem manejado, ocorre
uma redução na incidência de doenças e na necessidade de
aplicação de agrotóxicos, obtendo-se um produto com um baixo
nível de contaminantes químicos e, ainda, com um menor custo
de produção.
2.7 LITERATURA CITADA
CARRIJO, O. A.; SOUZA, R. B. de; MAROUELLI, W. A.;
ANDRADE, R. J. de. Fertirrigação de hortaliças. Brasília:
Embrapa Hortaliças, 2004. 13p. (Circular Técnica).
CARVALHO, S. P. Boletim do Morango: cultivo
convencional, segurança alimentar, cultivo orgânico. Belo
Horizonte: FAEMG, 2006. 160p.
COELHO, E. F.; SOUZA, V. F. de; PINTO, J. M. Manejo de
fertirrigação em fruteiras. Bahia Agrícola, Salvador, v. 6, n. 1,
p. 67-70, 2003.
48
52. Capítulo II
COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO -
RS/SC. 2004. Manual de adubação e calagem para os
Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto
Alegre: SBCS - Núcleo Regional Sul UFRGS, p. 258-259,
2004.
FILHO, H. G.; SANTOS, C. H. dos; CRESTE, J. E. Nutrição e
adubação do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v. 20, n. 198, p. 36-40, 1999.
FORTES, J. F.; OSÓRIO, V. A. Morango. Fitossanidade.
Embrapa Clima Temperado. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2003.
MAROUELLI, W. A.; SILVA, W. L. C.; SILVA, H. R.
Fertirrigação em hortaliças. In: MAROUELLI, W. A.; SILVA,
W. L. C.; SILVA, H. R. Manejo da irrigação em hortaliças.
Brasília: Embrapa informação tecnológica CNPH, 1996. p. 48-
52.
PACHECO, D. D.; DIAS, M. S. C.; ANTUNES, P. D.;
RIBEIRO, D. P.; SILVA, J. J. C.; PINHO, D. B. Nutrição
mineral do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v. 28, n. 236, p. 40-49, 2007.
SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M. Frutas do Brasil.
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RONQUE, E. R. Cultura do morangueiro, revisão e prática.
Curitiba: EMATER-Paraná, 1998. 206 p.
SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M.; WREGE, M. S.
Sistema de produção do morango: irrigação e fertirrigação.
Embrapa Clima Temperado, ISSN 1806-9207 Versão
Eletrônica, novembro 2005. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/>. Acesso em:
20 mar. 2009.
49
53. Morangueiro Irrigado
SCHIEDECK, G.; GONÇALVES, M. de M.; SCHWENGBER,
J. E. Minhocultura e produção de húmus para a agricultura
familiar. Pelotas: Embrapa Clima Temperado. 2006. 12 p.
Circular Técnica. Versão online. Disponível em:
<http://www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/circulare
s/Circular_57.pdf> Acesso em: 10 mar. 2009
SILVA, W. L. C.; MAROUELLI, W. A. Fertirrigação de
hortaliças. Irrigação Tecnologia Moderna, Brasília, n. 52/53,
p. 45-47, 2002.
SOUSA, V. F.; FOLEGATTI, M. V.; FRIZZONE, J. A.;
CORRÊA, R. A. L.; ALENCAR, C. M. Distribuição de
fertilizantes em um sistema de fertirrigação por gotejamento.
Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental,
Campina Grande, v. 7, n. 1, p. 186-189, 2003.
STRECK, N. A.; SCHNEIDER, F. M.; BURIOL, G. A.
Modificações físicas causadas pela cobertura do solo. Revista
Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 2, p. 131-
142, 1994.
VÁSQUEZ, A. N. Fertirrigação por gotejamento superficial
e subsuperficial no meloeiro (Cucumis melo L.) sob
condições protegidas. 2003. 174 p. (Doutorado em
Agronomia). Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
Universidade de São Paulo.
50
54. CAPÍTULO 3 - SOLO E MANEJO DA
ÁGUA
Carlos Reisser Júnior
Vitor Emanuel Quevedo Tavares
Luís Carlos Timm
Carina Costa Estrela
Luís Eduardo Correa Antunes
Noel Gomes Cunha
3.1 O SOLO
Do ponto de vista agronômico, o termo solo refere-se à
camada externa e agricultável da superfície terrestre sendo
constituído das fases sólida, líquida e gasosa. O material de
origem, o tempo, o clima, a topografia da região e os
organismos vivos são os fatores que atuam no processo de sua
formação. Sua origem é a rocha que, por ação de processos
físicos, químicos e biológicos de desintegração, decomposição
e recombinação, se transformou, no decorrer das eras
geológicas, em material poroso de características peculiares.
O solo é o reservatório de água e nutrientes para as
plantas, além de permitir a sustentação dos vegetais. A Figura
3.1 ilustra um corte vertical no perfil de um solo, constituído de
uma série de camadas superpostas, denominadas horizontes do
solo.
51
55. Morangueiro Irrigado
A00 M.O. não decomposta
A0 M.O. humificada
A A1 hor. mineral c/ m.o
A2 hor. de perdas
A3 hor. de transição
B1 hor. de transição
B
B2 hor. de iluviação
B3 hor. de transição
C
Rocha em decomposição
D Rocha matriz
Figura 3.1 - Ilustração dos horizontes de um perfil completo
de solo (REICHARDT; TIMM, 2008).
Um solo completo é formado de quatro horizontes:
- horizonte A (horizonte de eluviação) - é a camada superficial
do solo, exposta diretamente à atmosfera. Ele é o horizonte que
perde elementos químicos por lavagens sucessivas com a água
da chuva. Subdivide-se em Aoo (camadas superficiais em solos
de florestas com grande quantidade de material orgânico, não
decomposto: galhos, folhas e frutos); Ao (situa-se abaixo do
Aoo, constituído de material orgânico decomposto); A1 (já é
horizonte mineral, mas com alta porcentagem de matéria
orgânica decomposta que lhe confere uma cor escura); A2 (que
é o típico horizonte A, de cor mais clara, correspondendo à
zona de máxima perda de elementos minerais) e A3 (é um
52
56. Capítulo III
horizonte de transição entre A e B, possuindo características de
ambos);
- horizonte B (horizonte de iluviação) - é o horizonte que ganha
elementos químicos provenientes do horizonte A, situado
acima;
- horizonte C – é o horizonte formado pelo material que deu
origem ao solo, em estado de decomposição;
- horizonte D – é o horizonte formado pela rocha matriz.
As espessuras dos horizontes são variáveis e a falta de
alguns horizontes em determinados solos é bastante comum.
Tudo isto depende da intensidade da ação dos fatores de
formação do solo sobre o material de origem. A Figura 3.2
ilustra um perfil de solo ARGISSOLO VERMELHO-
AMARELO Eutrófico Típico encontrado em uma propriedade
situada no município de Turuçu-RS.
Figura 3.2 - Ilustração do perfil de um solo ARGISSOLO
VERMELHO-AMARELO Eutrófico Típico
encontrado em uma propriedade situada no
município de Turuçu-RS.
53
57. Morangueiro Irrigado
3.2 ATRIBUTOS FÍSICO-HÍDRICOS DO SOLO
Em se tratando do dimensionamento e do manejo de
sistemas de irrigação é importante o conhecimento dos
atributos físico-hídricos do solo que estão diretamente
relacionados à retenção e o armazenamento de água no seu
perfil. Aqui serão abordados de forma sucinta os seguintes
atributos:
3.2.1 Textura do solo
A fase sólida do solo é constituída pela matéria
mineral e orgânica que variam em termos de qualidade e de
tamanho. Quanto ao tamanho, algumas são suficientemente
grandes para serem vistas a olho nu, ao passo que outras são tão
diminutas que apresentam propriedades coloidais.
Na maioria das vezes, as partículas do solo são
divididas em três frações de tamanho, chamadas frações
texturais: areia, silte e argila. Determinadas as quantidades
relativas das três frações, o solo é enquadrado em uma dada
classe textural (arenoso, siltoso ou argiloso) em função das
diferentes proporções de areia, silte e argila. O tamanho das
partículas é de grande importância, pois ele determina o
número de partículas por unidade de volume ou peso e a
superfície que estas partículas expõem. Por exemplo: partículas
mais finas (argila) possuem uma maior superfície específica
(maior relação entre área da superfície e o volume da partícula)
e, portanto, possuem maior superfície de contato com a água e
nutrientes o que confere ao solo uma maior capacidade de reter
estas substâncias.
54
58. Capítulo III
3.2.2 Estrutura do solo
O arranjo, a orientação e a organização das partículas
sólidas do solo definem a geometria dos espaços porosos, ou
seja, a estrutura de um solo. Como o arranjo das partículas do
solo é geralmente muito complexo para permitir qualquer
caracterização geométrica simples, não há meio prático de
medir a estrutura de um solo. Devido a isso, o conceito de
estrutura do solo é qualitativo.
A junção das partículas do solo dá origem aos
agregados, os quais são classificados segundo a forma
(prismáticos, laminares, colunares, granulares e em blocos) e o
tamanho do agregado (de acordo com seu diâmetro). Um solo
bem agregado (ou estruturado) apresenta boa quantidade de
poros de tamanho relativamente grande (macroporos). Dizemos
que possui alta macroporosidade, qualidade que afeta a
penetração das raízes, circulação de ar (aeração), operações de
cultivo (manejo do solo) e a infiltração de água (irrigação).
O solo possui poros de variadas formas e dimensões,
que condicionam um comportamento peculiar a cada solo. A
fração sólida do solo que mais decisivamente determina seu
comportamento físico é a fração argila, já que é a mais ativa em
processos físico-químicos que ocorrem no solo. As frações
areia e silte têm áreas específicas relativamente pequenas e, em
conseqüência, não mostram grande atividade físico-química.
Elas são importantes quando o solo se encontra próximo à
saturação onde predominam fenômenos capilares.
Tanto a textura como a estrutura conferem ao solo um
espaço poroso, ou volume de poros, onde se encontram a parte
líquida e a gasosa. Desta forma, a quantidade de água que o
solo retém (capacidade de retenção), a passagem da água pela
superfície do solo (infiltração) e a distribuição de água no
interior do solo (drenagem) são dependentes da textura e da
estrutura do solo.
55
59. Morangueiro Irrigado
Se coletarmos uma amostra de solo (Figura 3.3)
contendo as três frações e que represente certa porção do perfil
do solo, é possível discriminar as massas e os volumes de cada
fração e as seguintes relações massa-volume podem ser
obtidas:
ms,Vs (sólidos)
ml,Vl (líquidos)
mt , Vt
mg,Vg (gases)
Poros ou vazios: Vv = Vl +Vg
Figura 3.3 - Amostra do perfil de um solo ilustrando a fração
sólida, líquida e gasosa.
mt = ms + ml + mg (3.1)
Vt = Vs + Vl + Vg (3.2)
onde: mt é a massa total da amostra de solo; ms é a massa das
partículas sólidas do solo; ml é a massa líquida do solo, que por
ser diluída, é tomada como massa de água; mg é a massa de gás,
isto é, ar do solo, que é uma massa desprezível em relação a ms
e ml; Vt é o volume total da amostra de solo; Vs é o volume
ocupado pelas partículas sólidas; Vl pela água e Vg o volume
dos gases (não desprezível como no caso de sua massa).
As seguintes definições relacionadas à fração sólida do
solo são importantes tanto no dimensionamento como no
manejo de um sistema de irrigação:
A densidade do solo (Ds, g/cm3), definida como a
relação entre a massa das partículas sólidas ms (g) e o volume
total de solo Vt (cm3), é um parâmetro útil que indica se um
56
60. Capítulo III
solo está estruturado (menor densidade) ou compactado (maior
densidade). Coletando-se amostras de solo de estrutura
preservada com anéis cilíndricos de volume conhecido, a Ds
pode ser calculada por meio da seguinte equação:
ms
Ds = (3.3)
Vt
A densidade do solo varia de acordo com o seu
volume total Vt. Ao se compactar (comprimir) uma amostra, ms
permanece constante e Vt diminui, por conseguinte Ds aumenta.
A densidade do solo é, portanto, um indicativo do grau de
compactação de um solo. Para solos de textura grossa, mais
arenosos, as possibilidades de arranjo das partículas não são
muito grandes e, por isso, os níveis de compactação também
não são grandes. Pelo fato de possuírem partículas maiores, o
espaço poroso também é constituído, sobretudo, de poros
grandes denominados, de modo arbitrário, de macroporos; de
forma aparentemente paradoxal, nesses, o volume de poros é
pequeno. A faixa de variação dos valores de densidade do solo
para solos arenosos é de 1,40 a 1,80 g/cm3. Para um mesmo
solo arenoso, esse intervalo de variação, a diferentes níveis de
compactação, é bem menor. A compactação do solo representa
uma mesma massa de solo ocupando um volume de solo
menor. Isso modifica sua estrutura, seu arranjo e seu volume de
poros.
Para solos de textura fina, mais argilosos, as
possibilidades de arranjo das partículas são bem maiores. Seu
espaço poroso é constituído, essencialmente, de microporos e o
volume de poros Vv é grande, razão pela qual os valores Ds
apresentam uma faixa de variação maior (0,90 a 1,60 g/cm3).
A relação entre a densidade do solo e a densidade da
água (1,0 g/cm3) é denominada densidade relativa do solo (Dr),
a qual é adimensional.
57
61. Morangueiro Irrigado
A densidade das partículas do solo (Dp, g/cm3) é a
relação entre a massa das partículas sólidas ms (g) e o
respectivo volume ocupado pelas partículas Vs (cm3).
ms
Dp = (3.4)
Vs
A densidade das partículas depende da constituição do
solo e como varia relativamente pouco de solo para solo, não
varia de modo excessivo entre diferentes solos. A densidade
das partículas aproxima-se da densidade das rochas. O quartzo
tem Dp = 2,65 g/cm3 e como é um componente freqüente nos
solos, a densidade das partículas oscila em torno desse valor. A
média para uma grande variedade de solos é 2,70 g/cm3. Se a
constituição do solo for muito diferente, como é o caso de solos
turfosos (com muita matéria orgânica), seu valor pode ser mais
baixo.
A porosidade total do solo (P), que está diretamente
ligada à definição de densidade, é uma medida do espaço
poroso do solo. É definida pela relação entre o volume de poros
(Vv) e o volume total do solo (Vt):
VV VT − VS
P= = × 100 (3.5)
Vt Vt
Ela é adimensional e, em geral, expressa em
porcentagem.
Quanto maior a porosidade total de um solo, maior a
sua capacidade de reter água. Por isso os solos de textura fina
(argilosos), em geral, têm maior capacidade de retenção de
água. A porosidade total também é, logicamente, afetada pelo
nível de compactação. Quanto maior Ds, menor P.
Uma equação muito utilizada para estimar, de forma
indireta, P a partir de dados de Ds e Dp é a seguinte:
58
62. Capítulo III
D
P = 1 − s × 100 (3.6)
D
p
A fase gasosa do solo (ar do solo) ocupa os espaços
vazios não ocupados pela água do solo. A presença de camadas
de impedimento (compactação) pode diminuir essa aeração, por
meio da redução dos poros, resultando em uma infiltração e
redistribuição mais lenta da água no solo.
A fase líquida do solo é uma solução aquosa de sais
minerais e substâncias orgânicas, sendo os sais minerais os de
maior importância.
3.3 ÁGUA NO SOLO
3.3.1 Umidade do solo
A determinação quantitativa da fase líquida, que não
leva em conta os solutos, ou simplesmente da água do solo é
feita de várias formas, dependendo da finalidade da medida:
- Umidade à base de peso U
ml mt − ms
U= = (3.7)
ms ms
onde mt, ml e ms foram definidos na equação 3.1.
A umidade U é adimensional (g/g), mas suas unidades
devem ser mantidas para não confundir com a umidade à base
de volume, que também é adimensional, mas numericamente
diferente. A umidade U também é, com freqüência, apresentada
em porcentagem. Sua medida é bastante simples: a amostra é
pesada úmida mu (= mt) e, em seguida, deixada em estufa à
105oC, até peso constante ms (24 a 48 h ou até peso constante),
sendo a diferença entre essas massas a massa de água ml. A
amostra pode ter qualquer tamanho, desde que não seja muito
59
63. Morangueiro Irrigado
pequena, nem muito grande (ideal de 50 a 500 g) e pode ter sua
estrutura deformada. Para sua determinação servem, portanto,
amostras retiradas no campo com qualquer instrumento (trado,
pá, enxada, colher etc.), devendo-se, porém, ter o cuidado de
não deixar a água evaporar antes da pesagem úmida.
- Umidade à base do volume θ
Vl ml mu − ms
θ= = = (3.8)
Vt Vt Vt
onde Vl e Vt foram definidos na equação 3.2.
A umidade θ é adimensional (cm3/cm3) e, com
freqüência, é apresentada em porcentagem. Sua medida é mais
complicada, pois envolve a medida do volume Vt e, por isso, a
amostra não pode ser deformada. Normalmente toma-se Vl = ml
(considerando a densidade da solução do solo como 1,0 g/cm3).
O volume Vt é o mais difícil de ser medido. A técnica mais
comum é a do uso de anéis volumétricos, idênticos aos
utilizados para a medida da densidade do solo.
O procedimento mais conveniente para determinar θ é
medir U e depois multiplicar o resultado por Dr:
θ = U × Dr (3.9)
sendo U dado em g de água/g de solo e Dr adimensional
resultando θ em cm3 de água/cm3 de solo. Logicamente Dr
precisa ser conhecido, mas a densidade do solo não varia muito
no tempo, a não ser quando são realizadas operações de manejo
(aração, gradagem, subsolagem, dentre outras). Mas, em geral,
as maiores variações de Dr ocorrem nos primeiros 30 cm. Para
maiores profundidades, geralmente considera-se Dr constante.
Exemplo:
Coletou-se uma amostra de solo com um volume de
3
150 cm , cuja massa úmida é 228 g e a massa seca é 193 g.
Dessa forma:
60
64. Capítulo III
228 − 193
U= = 0,181 g/g ou 18,1 %
193
228 − 193
θ= = 0,233 cm 3 / cm3 ou 23,3 %
150
Note-se que para a mesma amostra, U é diferente de θ,
daí a necessidade de manter as unidades, mesmo sendo ambos
os valores adimensionais.
193
DS = = 1,287 g / cm3
150
1,287
Dr = = 1,287
1,0
θ = U × Dr = 0,181×1,287 = 0,233 cm3 / cm3
Vê-se, portanto, que só para o caso particular de Dr =
1, θ = U, que é o caso de solo bem fofo. Ainda usando o valor
médio de 2,65 g/cm3 para a densidade das partículas:
DS 1,287
P = 1− = 1− = 0,514 cm3 / cm3 ou 51,4 %
Dp 2,650
3.3.2 Retenção de água no solo
A retenção de água no solo ocorre devido a
fenômenos de capilaridade e adsorção. A capilaridade atua na
retenção da água no solo quando os poros estão cheios de água
(solo úmido). A medida que o solo vai secando, os poros vão se
esvaziando, filmes de água recobrem as partículas sólidas do
solo e a adsorção passa a predominar na retenção de água. A
61
65. Morangueiro Irrigado
energia requerida para se retirar a água na condição seca é
muito maior que na condição úmida.
3.3.3 Capacidade de campo e ponto de murcha
permanente
Diz-se que um solo está saturado quando todos os
poros estão cheios de água. Nesta condição, a água que drena é
aquela retida devido à capilaridade nos poros maiores. Quando
essa drenagem cessa, o solo atinge a capacidade de campo
(θcc). Continuando a drenagem, a adsorção passa a predominar
no processo de retenção de água e, neste caso, os poros
menores passam a perder água. Quando a umidade do solo é tão
baixa que a quantidade de água existente faz com que a planta
murche, sem recuperar o turgor mesmo com o umedecimento
do solo, diz-se que o solo atingiu o ponto de murcha
permanente (θPMP).
3.3.4 Capacidade de água disponível
A diferença de umidade entre a capacidade de campo e
o ponto de murcha permanente é definida como a capacidade
de água disponível (CAD). A CAD (mm) é calculada pela
seguinte equação:
CAD = (θ cc − θ PMP ) × z (3.10)
onde θcc é a umidade do solo na capacidade de campo
(cm3/cm3), θPMP é a umidade do solo no ponto de murcha
permanente (cm3/cm3) e z é a espessura da camada de solo
(mm).
A quantidade de água disponível em um solo está
relacionada com a energia com que a água é retida na matriz do
solo, ou seja, o potencial matricial da água no solo (Reichardt e
62
66. Capítulo III
Timm, 2008). Essa relação origina a curva de retenção de água
no solo, que é elaborada em laboratório.
3.3.5 Armazenamento de água no solo
Dados os valores de umidade do solo, que são
pontuais, como se determina a quantidade de água armazenada
em uma dada camada de solo?
A quantidade de água que cai sobre um determinado
local, comumente, é expressa em termos de altura. Por
exemplo, em Turuçu/RS chove em média 1.900 mm por ano. O
que representa isso? A água de chuva é medida em
pluviômetros, que são recipientes coletores de água expostos ao
tempo (Figura 3.4). Eles têm uma área de captação S (m2)
(seção transversal de sua boca) e coletam um volume V (m3) de
água durante a chuva. A altura de chuva é h (m) = V/S, que
pode ser convertida em mm. O interessante é que h independe
do tamanho da boca do pluviômetro, pois um pluviômetro de
boca 2S coletará o dobro do volume, isto é, 2V, resultando no
mesmo valor de h. O significado de h pode, então, ser melhor
visualizado para o caso de S = 1 m2, isto é, h igual ao volume
de água que cai sobre a superfície unitária.
63
67. Morangueiro Irrigado
Figura 3.4 - Ilustração de um pluviômetro tipo “Ville Paris”
utilizado para medir a quantidade de água da
chuva em uma propriedade no município de
Turuçu/RS.
Se jogarmos 1 L de água sobre uma superfície plana e
impermeável de 1 m2, obteremos uma altura de 1 mm. Assim,
1 mm de chuva corresponde a 1 L/m2 e, portanto, 1.900 mm a
1.900 L/m2. Então, se toda a água que precipita em Turuçu não
infiltrasse, nem escorresse ou evaporasse, ao final de um ano
teríamos 1,9 m de água distribuídos por toda a área. Água
aplicada via irrigação, água perdida por evaporação, etc., são
todas medidas em mm. Seria interessante, portanto, medir
também a água do solo em mm. Este é o armazenamento da
água no solo (A, mm). É calculado multiplicando-se a umidade
do solo (θ, cm3/cm3) de uma camada de interesse pela sua
espessura (z, mm), ou seja:
A =θ × z (3.11)
64