1. AARTE
DAPESQUISA
Wayne C. Booth
Gregory G. Colomb
Joseph M. Williams
TradUl;;iio
HENRIQUE A. REGO MONTEIRO
Martins Fontes
sao Paulo 2008
2. £f./. ~ foi p"NK.U "'WftlllOW1tl • .". i"gil< """ 0 111 .. 10
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O>py.iglr' C 1m ",. TIlt u .. ;....,.'Y of Orag<'. All righls ~rotd.
Cl1f1Jrigh' e 2000. u-n. MlTti.., r ",.I.s Edi' ..... LULt .•
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I' ed i~io l(IOO
l ' c<I ;(io 2005
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Coo.de na~lo ,10 t •• d ,,(~o
WILSON ROB£RTOCAMBETA
T •• du ~lo
II£NRIQUE A.. R£eo MONTDRO
Rcv;do di t.~du(lo .,«.. . iu
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D>do<Il nlnnarion.o~ "" Colaloga(io nil f'ub~ (aM
(O rnar. B'Milftt-. do U ...... Sr. 8r .... 1)
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A an~ da po5<[uisa I Wayne C, Booth. C<E"gory G. Colomb.
IoHph M. Williams; .Ddu ...... . knriqt>r A. il.q;:o MOII~"" _
2' .... - Sio I'auk> : Manins Fonlft. 2005. _ ( Feru.""",Ia$)
Titulo orig'''''': Thr e r. n of n'SNrch.
ISBN 85·336-2157-4
I. Pt-squisa - M"'OOok>£Y 2. il.t<U<;l o Iknica I. Colon'b.
G.q;:o .y C .. U. William •. Jooc-ph M .. Ill. TItulo. IV. ~r~.
CDO-OO1.42
Indie" p~.a < . ... 1080 .;ste rn . l;en,
I . M",OOolog" 001.42
2. M~todo logla da P""!ui.. 001.42
3 PP.!'qul .. " M ... <><IolO8i. 001.42
"fod05 os di~il()5 d~l~ fflil;ifo rrservados d
LiV' IJ , ia M Arlin$ Fonl<':$ Cdit orQ LtdQ.
RII~ eouulhdro RJ>mlllho, 330 OJ325-OOO saQ Pllilio SP
"fd. (1 1) 3241 .3677 FlU: Ill! 3105.6993
Bra$il
t " I101i/: il1/o@lIIIlrlin~fol!lt$tdifo ..... rom.br htlp:/lWWIL'.llIJIrf ;ns[ontestdifOnl.rom .br
indice
PreJacio ............. ............. ..... .................... .. ... .. .......... ....... .
I. Pesquisa, pesquisadorcs e IcHores ......................... .
Pro/ago: Iniciando urn projelo de p esquisa .. ... ... .. ... .
I. Pensar par escrito: os usos p ltblico e privado da
pesquisa ................................................. ......... ...... ... .
1.1 Por que pcsquisar? ................................. ............. .
1.2 Por que redigir urn relatorio? ................. .. .......... . .
1.3 Por que claborar urn documento formal? .. ......... .
2. Relacionando-se com sell leitor: (re)criando a si mes-rno
e a sell pll.blico .. .. .................................. .............. .
2.1 Dialogos entre pesquisadores .......................... .. .
2.2 Autores, leitores e seus papeis sociais ................ .
2.3 Leitores e seus problemas comuns ................. .. .. .
2.4 Auto res c seus problemas comuns ...................... .
S UGESTOES UTEIS: Lista de ve rifi ca~ao para ajud3.-1o a com-preender
seus leitores .............................................. .. ...... .
II. Fazcndo perguntas, encontrando respostas ... ..... .. .
Prolago: Planejando seu projeto ... .. ....................... .. .
SUGESTOES UTEIS: Trabalhando em grupo ........... ... ......... .
XI
7
7
9
II
15
15
17
24
29
32
35
35
38
3. 3. De topicos a perguntas .................. ............................ 45
3.1 Interesses, t6picos, perguntas c problemas.......... 45
3.2 De urn interesse a urn topico ............................... 46
3.3 De urn tbpico amplo a urn espccifico.................. 48
3.4 Dc urn lopico especifico a perguntas .................. 50
3.5 De uma pergunta it avalia9ao de sua importancia . 54
SUGESTOES OTEls: Dcscobrindo topicos ............... : ........... :,. 59
4. De perguntas a problemas .... .. ... .................... ... ......... 63
4.1 Problemas, problemas, problemas .......... ............. 64
4.2 A estrutura comum dos problemas ...................... 68
4.3 Descobrindo um problema dc pcsquisa ............... 77
4.4 0 problema do problema ..................................... 81
5. De pergllntas a fo ntes de illformaroes ................. ..... 85
5.1 EnconLrando informa~oes em bibliotccas............ 86
5.2 Colhendo informavoes com pcssoas ...... ...... ...... 9 1
5.3 Trilhas bibliogrMicas. ............... .......................... 94
5.4 0 que voce encontra ............... ............................. 95
6. Usa ndo fo nles de informat;oes ... ................................ 97
6.1 Usando fontcs secundarias .................................. 97
6.2 Leia criticamcntc ................... ... ........................... 99
6.3 Fa~a anota<;:ocs completas .................................... 100
6.4 Pe<;:a ajuda ............... ............................................. 107
SUGESTOI!S LrrEIS: Lcitura f<t pida....................................... 108
HI. Fazendo uma afirma~ao e sustentando-a .............. 113
Pr%go: Argumentos, rascunhos e discussoes.......... 113
7. eriando bons argumentos: uma visGO gem/ ............. 117
7.1 Discussoes c argumentos ............ .. .... .... ............... 117
7.2 Afirmayocs c evidencias. ... ... ........ ...................... . I 19
7.3 Fundamentos............. ............ ................... .. .... ...... 120
7.4 Ressalvas............ .. .......... ..... .................. ... .......... .. 122
8. Ajirmafoes e evidencias ......... ..... ... ... ........................ 125
8. 1 Fazcndo afirmavocs de peso.......................... .. .... 125
8.2 Usanda afirma~Oes plausiveis para orientar sua
pesqutsa ......... ..... ................... .......................... .... 128
8.3 Apresentando evidencias confiaveis ................... 129
8.4 Usando evidencias para desenvolvcr C organizar
seu relat6rio ......................................................... 138
SUGESTOES UTEIS: Uma s istematica de con tradi ~Oes ........ 142
9. Fundamentos........................................................ ...... 147
9 .1 Fundamcnto: a base de nossa convic'Yao e de
nossa argumenta<;:ao.... .......................... ..... .... .... .. 147
9.2 Com que se parece urn fundamento? ...... .. ...... .... 150
9.3 A qualidadc dos fundamentos ...................... ... .... 152
S UGESTOES UTEIS: Contestando fundamentos.. .................. 167
10. Qualificaroes ................. .... .. .......... .. .... ................ ...... 173
10. J Vma revisao ................................. ... .. .. ..... ........ .. 173
10.2 Qualificando seu argumcnto...................... .... .. .. 176
10.3 Elaborando urn argumento completo ........ ........ 186
10.4 0 argumento como guia para a pesquisa e a 1ei-tur3
.............................................. ......... .... .... ...... 188
10.5 Algumas pal avras sobre sentimentos fortes ...... 189
I
S UGESTOES On:.ts: Argumcntos - duas armadilhas comuns.. 191
Iv. P.-eparando-se para redigir. redigindo e revisando 195
Pro/ago: Plall ejalldo novamente .......................... ..... 195
S UGESTOES lrrEIs: Preparando 0 esbovo ................... ......... 199
11 . Pre-mSCUllho e rasclmho ................................. ......... . 203
11 .1 Preliminares para 0 rascunho ......... ......... .. ........ 203
1 1.2 Planejando sua organizavao: quatro armadilhas 206
11.3 Urn plano para 0 rascunho............................ .. ... 209
11.4 Criando urn rascunho passivel de revisao ......... 2 16
11.5 Uma armadilha a cvitar a lodo cusLo .... ... .. ... ..... 2 18
11 .6 As u1timas elapas ..................................... .... ...... 222
S UGESTDES UTEI S: Usando c il a~oe s c parMrases .......... ..... 225
4. 12. Apreselltac:iio visual das evidencias .......................... 229
12.1 Visual ou verbal? ......................... ...................... 229
12.2 Alguns principios gerais de elaborac;:ao ............. 232
12.3 Tabelas ............................................................... 234
12.4Diagramas .......................................................... 237
12.5 Graficos ............................................................. 244
12.6 Contro lando 0 impacto retorico de urn recurso
visual .................................... ....... .. ... ... ............. : . 246
12.7 Comunicac;:ao visual e etica ............................ : .. 249
12.8 Ligando palavras a imagens .............................. 251
12.9 Visualizac;:ao cientifica....................... ................ 252
12. 10Ilustrac;:oes ........................................................ 252
12.11 Tomando vis ivel a J6gica de sua organizac;:ao. 253
12.12 Usando recursos visuais como urn auxilio a
reflexao .......................... ............. ..... ................ 255
SUGESrOES lIrEIS: Pequeno guia para reeorrer a urn orien-lador
.................................................................................. 257
13. Revisando sua organizac:iio e argumenla{:iio ............ 259
13 .1 Pensando como leitor .............. ...... ..................... 259
13.2 Analisando e revisando sua organizac;:ao ........... 260
13.3 Revisando seu argurnento ............. .. ...... ............. 268
13.40ultimopasso ................................. .................. 271
S UGESr OES (rTElS: Titulos e sumarios .............. ................. 272
14. Revisando 0 estilo: contando sua historia com cla-reza
................... ..... ..................................................... 277
14.1 Avaliando 0 esti lo .............................................. 277
14.2 Primeiro principio: hist6rias e gramatica .......... 279
14.3 Segundo principio: 0 antigo antes do novo ..... .. 289
14.4 Escolhendo entre as vozes ativa e passiva ......... 291
14.5 Urn ultimo principio: 0 mais complexo por
uitilno ................................................................. 293
14.6 Polimento final ........... ...................... ................. 296
SUGESrOES tJrEIS: Uma rapida revisao .:. ........................... 297
15 Introdu90es .... ............................................................ 299
15.1 Os tres elementos de uma introduc;:ao .... ............ 299
15.2 Dec1are 0 problema............................................ 302
15.3 Criando uma base comum de compreensao com-partilhada
....................... .................................... 308
15 .4 Desestabilize a base comum, enunciando seu
problema ............................................................ 309
15.5 Apresente sua soluc;:ao ................. ...................... 3 13
15.6 Rapido ou devagar? ................................. .......... 3 16
15.7 A introduc;:ao como urn todo .............................. 3 17
S UQESTOES lITEIS: As primeiras e as ultimas palavras ...... 319
V. Co n sidera~oes finais ................... ............................. 325
Pesquisa e etiea ........................ ....................... 325
Pos-eserito aos professores .... ......................... 329
Ensaio bibliografico ........................................... ..... .. 337
indke rem;ss;vo ............................. ................................... 345
5. '.
Pre/acio
ESCREVEMOS ESTE UVRO pensando nos pesqui sadores estudantcs.
desde os novatos mais inexpcrientes ate os profi ssionai
s. cursando p6s-graduayao. Com elc e5peramos:
• atrair a atenr;ao dos pesquisadores iniciantes para a natureza,
os usos C os objetivos da pesquisa e de seus relat6rios;
• orientar as pcsquisadores iniciantes e intermediarios quanta
as complexidades do planejamento, da organiza<;ao e da elabora<;
ao do esb090 de urn relat6rio que proponha urn problema
significativo e oferer;a uma 501u<;30 convincente;
• mostrar a (odos os pesq uisadores. do iniciante ao avan<;ado,
como ler sellS relat6rios da maneira como os leitores 0 fariam,
idcntificando passagens em que cles provavelmente encontrariam
dificuldade e alterando-as rapida e e fi caz.m~nte.
Embora outros manuais sobre pesquisa abordem algumas
dessas questocs, este se diferencia de diversas maneiras.
Muitos manuais em circul a<;30 reconhecem que os pesquisadores
nao seguem a sequencia que vai de encontrar urn t6pico
ao estabelccimento de uma (ese, de precncher fichas de anotayoes
it elaborar;ao de urn rascunho e it revis30. Como sabe qualquer
urn que ja tcnha passado por essa expcricncia, a pesquisa
na realidade anda para a frente e para tras, avanr;ando urn passo
ou da is e recuando, ao mcsmo (cmpo antecipando etapas ainda
nao iniciadas e, entao, prosseguindo uma vez mais. Mas, ate
onde sabemos, nenhum manual tentou mostrar como eada parte
do processo influencia todas as outras - como 0 ato de fazer
perguntas sebre um {6pico pode preparar 0 pcsquisador para
6. XII A ARTE DA P£SQUISA
redigir 0 rascunho, como 0 processo de rcdigir 0 rascunho pode
revelar problemas com urn argumento, como os elementos de
uma boa inrrodu<;ao podem mandar 0 pesquisador de volta a
biblioteca para pesquisar mais.
Este livro explica por que os pesqui sadores deven; trabaIhar
simultaneamente nos diversos estagios de seu projeto,
como essa sobreposic,;ao pode ajuda-Ios a compreender melhor
o problema e a administrar a compJcxidade que esse processo
acarreta. Isso significa, e claro, que voce ten! de ler este livro
duas vezes, porque mostraremos nao apenas como os esuigios anteriores
antecipam os posteriores, mas tambcm como os postenores
motivam os anteriorcs.
Em virtude da complexidade que uma pcsquisa cnvolvc,
fomos explicitos a respeito do maior numeco possivel de etapas,
incluindo algumas geralmente tTatadas como partes de urn
misterioso processo criativo."Entre os assuntos que "destrinchamos"
estao os seguintes:
• como converter 0 interesse por urn assunto em urn topico,
esse topico em algumas boas perguntas e as respostas a essas
perguntas na so lu~ao de urn problema;
• como criar urn argumcnto que sati sfac,:a 0 desejo dos leitores
de saber por que deveriam aceitar sua afirmaC;ao;
• como prever as objec;5es de leitores sensalos, mas ceticos, e como
qualificar adequadamente as argumentos;
• como criar urna introduc;ao que "venda" a importancia do
problema de sua pesquisa aos leitores;
• como redigir conc1usoes que fac,:am a leitor comprcender nao
apenas a afimlac,:aO principal, mas tambcm sua mais arnpla
. _. I lmportancla;
• como ler seu proprio texto da maneira como os outros a fariam,
e assim saber melhor que pontos alterar c como.
Sabemos que alguns pesquisadores iniciantes seguiriio nossas
sugestoes de urn modo que poderia ser considerado mcdinico.
Nao estamos muito preocupados com isso, porque acreditamos
que e melhor alcanc,:ar urn objetivo mecanicamente do
que nao alcanc,:ar objetivo nenhum. Acrcditamos tambem que
os professores podem confiar nos alunos, sabendo que eles supe-
PREFAClO XIII
rarao as inevitAveis dificuldades iniciais. Todos nos tendemos a
agir mecanicamente quando experimentamos uma tecnica pel a
primeira vez, mas finalmente conseguimos ocultar seus automatismos
por tras de seu sentido verdadeiro.
QutTO aspecto di stinto deste livro e que encorajamos insistentemente
os pesquisadores a pensarem em seus leitores e
mostramos c1aramente como faze-Io, explicando como os leitares
Icern. 0 objetivo de um relatorio de pesquisa e estabelecer
urn dialogo com pessoas que possam nao estar di spostas a
mudar de opiniao mas que, por boas razoes, acabam mudando.
E e em seu relat6rio que voce mantem esse dialogo. A medida
que 0 leem, os leitores esperam encontrar detenninados indicios
de organizacao; preferem certos padroes de esti lo; tacitamente
fazcm pcrguntas, levantam objecoes, querem ver os assuntos
apresentados de modo mais explicito do que voce pode
achar necessario. Acreditamos que, se voce entender como os
leitorcs leeru e souber como satisfazer suas expectativas da melhor
maneira possivel, tera uma otima oportunidade de ajuda-los
a ver as coisas do seu jeito.
Concentramo-nos no processo de fazer tudo isso, mostrando
como as caracteristicas forma is do "produto" - 0 relatorio
- podern ajuda-Io no proccsso de planejamento e criac;ao.
Conformc voce vera, os elementos de urn relat6rio, sua estrutura,
seu estilo e suas convenc;oes fonnais nao sao f6nnulas vazias
que os redatores imitam so porque milhares de outros antes
deles as usararn. Tais formatos e mode los sao 0 meio pelo qual
os pesquisadores, ioiciantes ou cxperientes, testam seu trabalho,
avaliam sua compreensao do assunto c ate mesmo eocontram
novas direc;oes a seguir. Em outras palavras, acreditamos
que as cxigencias formais do produto nao s6 orientam 0 pesquisador
ao longo do processo de criac,:ao, como tambem contribuem
para desenvolvcr sua criatividade.
Tentamos ainda indicar 0 que os pesquisadores em d i feren ~
tes esmgios de sua vida profissional devetiam saber e ser capazes
de fazer. Se voce esta diante de sell primeiro projcto de pesquisa,
deve ter uma ideia do que os pesquisadores experientes
fariam, mas nao se preocupe se nao conseguir fazer tudo. Deve
7. XIV It ANTE DA PESQUISA
saber, no entanla, 0 que provavelmente sellS professores esperam
de voce, a inda mais se estiver se preparando para ser urn
pesquisador serio. Portanto, vez por outra avisamos que vamos
apresentar urn assunto particulannente importante para pesquisadorcs
experientes. Os que estiverem apenas se iniciando
podem sentir-se tcoladas a pular essas partes. Espera'mos que
nao 0 fa~am .
Este livro originou-se da convi c~ao que tcmos de que as
lecnicas de fazer e relatar pesquisas na~ 56 podem ser aprendidas
como tambem cnsinadas. Sempre que pudemos explicar
cJaramenre as etapas do processo, explicamos. Quando nao, tentamos
dclinear sellS contornos gerdis. Alguns aspectos da pesquisa
podem ser aprendidos apenas no contexto de uma CMnunidade
de pesquisadores comprometidos com tapicos e maneiras
de pensar particulares, interessados em compartilhar com
autTOS 0 fru to de seu trabalho. Mas, quando urn contexte desses
nao esta di sponivel, os cstudantes ainda podem aprender
importa ntes tecnicas de pesquisa atraves de instrw;ao direta e
leva-las as comunidades de que pretendam participar. Analisamos
algumas maneiras especi ficas de fazer isso em nosso "P6sescrito
aos professorcs".
Este Iivro Ia nthem teve origem em nossa experiencia, que
nos ensinou que pesquisa nao e 0 tipe de coisa que se aprcnda
de urna vez pOT todas. Nos tres ja deparamos com projetos de
pesquisa que nos forc;aram a rcfTcscar a memoria quanto a
maneira de pcsquisar, mcsmo depois de deeadas de experiencia.
Nos momentos em que tivemos de nos adaptar a uma nova
comunidade de pesquisa, ou a mudanc;as na nossa propria, usames
os principios apresentados aqui para conseguinnos nos concentrar
naquilo que era mais importante para os leitores. Assim,
escrevemos urn livro que voce podera cansultar sempre que as
circunstancias exigi rem, 0 qual, esperamos, sera util muitas vezeSt
acompanhando seu crescimento como pesqui sador.
Queremos agradeeer as pessoas que nos ajudaram a rcalizar
este proj eto. Entre elas incluem-se seus primeiros leitores:
Steve Biegel, Jane Andrew e Donald Freeman. 0 capitulo sobre
PREFACJO xv
a apresentac;;ao visual de dados foi melhorado significativamente
ap6s as comentarios de Joe Hannon e Mark Monmonier.
Estamos em debito tambem com os integrantes do departamento
editorial da Universidade de Chicago que, desde que
concordamos em assumir este projeto, quase urna decada atms,
nao nos largaram enquanto nao 0 tenninarnos.
Da parte de WCB: Alem das centenas de pessoas que me
ensinaram aquilo que foi minha eontribuic;ao para este livro,
gostaria de agradeeer a minha esposa, Phyllis, minhas duas filhas,
Katherine e Alison, meus tres netas, Emily, Robin e Aaron,
pois, juntos, esses seis me mantiveram otimista quanta ao futuro
da investigac;ao responsavel.
Da parte de GGC: Ao longo de momentos tumultuados e
calmos, ao longo de pcriodos eriativos e improdutivos, sempre
live minha easa e minha familia - Sandra, Robin, Karen e Lauren
- como ponto de re ferencia e de apoio.
Da parte de JMW: Joan, Megan, 01, Chris, Davc c Joe me
apoiaram, tanto quando estavamos juntos, como separados. Juntos
e melhor.
I
8. PARTE I
Pesquisa, pesquisadores e leitores
Prologo: Iniciando urn projeto de pesquisa
SE VOCI:: ESTA COMECANDO seu primeiro projeto de pesquisa,
talvez sinta-se urn tanto intimidado pela aparente dificuldade
da tarefa. Como procurar urn assunto? Onde encontrar
informa'Yoes relevantes, como organiza-Jas depois? Mesmo que
ja tenha escrito urn relat6rio de pesquisa num curso de reda'
Y30, a ideia de escrever outro pode Ihe parecer ainda mais perturbadora,
caso agora, pela prime ira vez, voce precise apresentar
um trabalho de verdade. Ate mesmo pesquisadores experientes
sentem-se urn pouco ansiosos ao iniciarem urn projeto,
espeeialmente sc for diferente dos outros que ja executaram.
Assim, seja qual for sua preocupa'Yao no momenta, todos as
pesquisadores ja a tiveram - e muitos ainda a tern. A diferem;:a
e que pesquisadores experientes sabem 0 que eneontrarao pela
frente: trabalho arduo, mas tambem 0 prazer da investiga'Yao,
alguma frustrac;ao, mas eompensada por uma satisfac;ao ainda
maior, momentos de indeeisao, mas a confianc;a de que, no final,
tudo ira se eneaixar.
Fazendo pianos
Pcsquisadores experientes tam bern sabem que, como qualquer
outro projeto eomplexo, a pesquisa sera mais faeilmente
organizada caso se disponha de urn plano, por mais toseo que
seja. Antes de come'Yar 0 trabalha, pade ser que eles nao fa'Yam
ideia exatamente do que esta.o procurando, mas sabem, de rna-
9. 2 A AR77! DA PESQUlSA
neira geral, de que lipo de material VaG precisar, como cncootra-
Io e como utiliza-Jo. E. urna vez rcunido esse material, pesquisadorcs
competentes nao come~am simplesmente a escrevcr,
assim como construtores competentes nao vaa logo serrando
a madeira. Eles planejam 0 tipo e aforrna do produlo fJ,uepretendem
obler. urn produ/o que exprima sua intenfiio de a/can{1ar
urn determinado resultado e cujas partes todas sejam planejadas
contribuindo para a obtenfOO desse resultado. Isso, parem,
nao quer dizer que bons pesquisadores prendam-se totalmente
ao plano que trar:;aram. Estao sempre prontos a modi ficar os
pianos, se encontram urn problema au set de repente, compreendem
melhor 0 projeto, a u descobrem, de alguma maneira, urn
objet ivo rna is interessante que os conduza por urn novo caminho.
Mas todos sempre come~am com urn prop6sito e algum
tipo de planejamento.
Na verdade, quase todo projeto de redat;aO comet;a com urn
plano que visa produzir urn documento de formato especifico,
geralmente moldado pcla expericncia de gerat;Oes de escritores,
que adotam certos formatos nao so para agradar os editores ou
supervisores, mas para se pouparem do trabalho de inventar
urn novo formato para cada projeto e, tao importante quanta
isso, para ajudar os leitores a identificarern seus objetivos. Urn
reporter sabe que tern de adotar 0 formato de piramide invertida
numa reportagem, cornet;ando 0 texto com a informat;ao
de maior interesse, nao em seu benefi cio, mas para que ,,6s,
ie itores, possamos dcsde logo identificar a essencia da nolicia
e decidir se continuaremos a ler ou nao. 0 formato de urn relat6rio
de auditoria orienta 0 contador qua,n to as informa.y5es
que devera incluir, mas tambem ajuda os acioniSfas a encontrar
os dados necessarios para a avaliat;ao da empresa como
investimento. Uma enfenneira sabe 0 que escrever no prontuario
do paciente, de modo que as outros enfermeims possam utiJi
za-Io, e urn policial rcdige 0 boletim de ocorrencia num formato
padronizado, pensando naqueles que mais tarde irao invesligar
0 crime. Do mesmo modo, os leitores tiram maior preveito
da leitura de urn relat6rio quando 0 pesquisador relata as resultados
de sua pesquisa num formato que Ihes seja familiar.
PESQUISA, PESQUISADOHES E LEITORES 3
E claro que, mesmo limitado por csses formatos, quem redige
tern a liberdade de adotar diferentes pontos de vista, en fatizar
urna variedade de ideias e irnprirnir uma feit;ao personalizada
ao seu trabalho. No entanto, seguindo urn planejamento
padronizado, estara beneficiando tanto a ele mesmo quanto
aos leitores, tomando mais fa cil 0 trabalho de redigir e de ler.
o objetivo deste livro e ajudar voce a cri ar c seguir esse
planejamento.
A import'ancia da pCSQUiS3
Antes de mais nada, responda a uma pcrgunta: al6m de
uma nOla de avaliayao, 0 que a pesqui sa representa para voce?
Uma rcsposta, que muitos poderao considerar idealista, e que
a pesquisa oferece 0 prazer de resolver urn enigma, a sat is fa~
ao de descobrir algo novo, algo que ninguem mais conhece,
contribuindo, no fina l, para 0 enriquccirnento do conhecimento
hurnano. Para 0 pesquisador inicianle, no entanto, existcm
outros beneficios, mais pniticos e imediatos. Em primeiro lugar,
a pesqui sa 0 ajudara a comprcender 0 assunto estu<;iado d~ . ..u.m
modo muito melhor do que qualquer Dutro tipo de trabalho. A
lo~go prazo, as tecnicas de pesquisa e reda~ao, urna vcz-as~imlladas,
capacitarao 0 pesqui sador a tmbalhar por conta propria
mais tarde, pais, afinal, coletar informat;oes, organiza-Ias
de modo coercnte e apresenta-Ias de maneira confiavel e convincente
sao habilidades indispensaveis, numa epoca apropriadamente
chamada de "Era da lnformat;ao". Em qualquer campo
do conhecimento, voce vai precisar das tecnicas que so a
pesquisa e capaz de ajuda-Io a dominar, seja seu objetivo 0
projelo, ou a linha de produt;ao.
As tecnicas de pesqui sa e rcdat;ao sao igualmente impor.
tantes para quem usa pesquisas de outras pcssoas, e hoje em
dia isso inclui todos n6s. Somos inundados por informat;oes,
cuja maior parte destina·se a servir aos interesses comerciais au
politicos de alguem. Mais do que nUllca, a sociedade preci sa
de pessoas com espirilo criti co, capazes de cxaminar uma pes-
10. 4 A A R71i DA PESQUISA
quisa, fazer suas pr6prias indaga~Ocs e encontrar as respostas.
S6 depois de passar pela proccsso incerto e geralmente confuso
de conduzir sua pr6pria pesquisa, voce sabcra avaliar de modo
inteligente as pesquisas dos Qutros. Redigindo seu pr6prio felat6rio,
entendera 0 tipo de trabalho que h3 por tras 'das afirma90es
dos especialistas e do que e encontrado em livros didaticos.
Descobrini, em primeira mao, como 0 conhecimento se
desenvolve a partir de respostas a indagayOes de uma pesquisa,
como esse novo conhecimento dcpende das perguntas que
voce faz ou deixa de fa zeT, como essas perguntas dependem
nao apenas de sellS interesses e mctas, mas tambem dos intercsses
e metas dos leitorcs, e como as fannatos padronizados
de apresentayao da pesquisa modelam 0 tipo de perguntas que
voce faz, podendo ate detcrminar as que pode fazer.
Mas sejamos francos: a rcdal;ao de urn relatorio de pesquisa
exige muito. Sao muitas as tarefas envolvidas, tocias pedindo
sua atenvao, geralmente ao mesmo tempo. Por mais cuidadoso
que voce seja no planejamento, a pesquisa seguira urn caminbo
tortuoso, dando guinadas imprcvisiveis. podendo dar voltas
sobre si mesma. As etapas se sobrcp5em: todos nos fazemos urn
esboyo antes de terminar a pesquisa, continuamos a pesquisar
depois·de corneyar 0 rascunho. Alguns trabalham mais no final
rur projeto, so reconhecendo 0 problema que tentaram resolver
depois de encontrar a soluyao. Outros partern atrasados para a
etapa do rascunho, fazendo a maior parte do trabalho de tentaliva
e erro, nao no papel, mas de cabe~a. Cada redator tern urn
estilo diferente, e, considerando que os projetos di.ferem uns
dos outros, urn iinico planejamento nao pode resolver lodos os
problemas.
Por mais complexo que seja 0 proccsso, no entanto, irernos
trata-Io passo a passo, de modo que voce possa avanyar com
seguranya, mesmo quando deparar com as incvitaveis dificuldades
e confusOes que todo pcsquisador enfTenta, mas que acaba
aprendendo a supera r. Quando conseguir administrar as partes,
voce conseguira administrar 0 todo, e estara pronto para.ioieiar
novas pesquisas com maior confianya.
PESQUISA, PESQUlS.4DORF.5 E L£J10RES 5
Como usar este livro
A melhor maneira de voce I idar com essa complexidade
(e com a ansiedade que podera causar) e ler este livro uma vcz,
rapidamcnte, para saber 0 que ira encontrar. Entao, dependendo
de seu grau de experiencia, defina quais partes de seu trabalho
parecem faeeis ou dificeis para voce. Quando comeyar
a trabalhar, leia com mais atenyaO os capitulos pertinentes it
larcfa que tcrn em maos. Se voce e urn pesquisador inexperiente,
comece pelo come~o. Se esta nwn curso avanyado, mas ainda
nao se sen Ie muito a vontade em seu campo de estudo, salle a
Parte I, leia a II, mas concentre-se na 1lI c oa IV. Se e urn pesquisador
expcriente, talvez ache mais iiteis 0 Capilulo 4 da
Parte II, os Capilulos 9 e 10 da Parle 1I1 e a Parte IV inteira.
Na Parle I, apresenlamos algumas questoes sempre levantadas
por aqueles que fazem sua primeira pesqui sa: por que os
leitores esperam que se redija de detenninada maneira (Capitulo
I) e por que se deve conccbcr 0 projelo nao como urn !rabalho
isolado, mas como urn diaJogo com os pesquisadores
cujos ~rabalhos voce ira consultar c lambern com aqueles que
idio ler seu trabalho (Capitulo 2).
Na Parte lI, analisarnos 0 proccsso de e l abo ra~ao de seu
projcto: como encontrar urn assunto, s intetiza-lo, questiona-lo
e justific<i-Io (Capitulo 3), como transformar essas questoes
em urn problema de pesquisa (Capitulo 4), como encontrar c
utilizar fontes bibli ograficas que orientem a busca de respostas
(Capitulo 5) e como refletir sobre 0 que foi encontrado
(Capitulo 6).
Na Parte III , discutirnos a natureza de um born argumcnto
de pesquisa. Comeyamos com lima visao geral do que vern
a ser urn argumento de pesquisa (Capitulo 7), entao explieamos
quc afirmayocs sao consideradas significativas e que cvidencias
em sell favor sao confiavcis (Capitu lo 8). Analisamos urn
elemento abstrato mas decisivo do argumento de pesquisa, chamado
de "fundamento" (Capitulo 9), e concluimos com uma
de sc ri ~ao do modo como todo redator deve apresentar objcyoes,
estipular con d i~oes limitadoras e exprimir condi c;;oes de
ineertcza (Capitulo 10).
11. 6 A ARTE DA PESQUISA
Na Parte rv, comentamos as etapas do processo de reda<;
30 do relatorio final, comc9ando pelo esbo<;o (Capitulo II).
Em seguida, abordamos urn assunto que geralmente nao aparece
em livros deste tipo: como transmitir visualmente informa<;
oes complexas, mesmo aquelas que nao sejam qlantitativas
(Capitulo 12). Os dois capitulos subseqiientes sa9' dedieados
a verifica<;ao e correc;ao da organizaC;ao do relatorio (Capitulo
13) e seu esti lo (Capitulo 14). A seguir, explicamos como
redigir uma introdw;ao que convent;a as leitores de que 0 conteudo
do relat6rio compensani. 0 tempo que eles gaslarao na
leitura (Capitulo 15). Por fim, nos estendemos por mais algumas
paginas, numa reflcxao sobre algo alcm das tecnicas de execU(;
ao de uma pesquisa: a questao da etica da pesquisa, em uma
sociedade que cada vez mais depende de seus resultados.
Nos intervalos entre os capitulos, voce cncontrara "Sugestoes
uteis", breves insert;oes que complementam os capitulos.
Algumas dessas sugest5es sao para a aplicat;ao do que voce
aprendeu nos capitulos, outras sao considerac;5es suplementares
para alunos adiantados, e muitas tratam de questoes nao apresentadas
nos capitulos, mas todas acrescentam algo novo.
A pesquisa c urn lrabalho arduo, mas, assim como todo trabalho
desafiador bern feito, tanto 0 processo quanto os resultados
trazem enonnc satisfac;ao pessoal. Alem disso, as pesquisas
e seus resultados sao tambem atos sociais, que cxigem uma
reflexao constante sobre a relac;ao de seu trabalho com os lei tores
e sobre sua rcsponsabilidade, nao apenas pcrantc 0 tcma e
voce mesmo, mas tambem perante eles, espccialmente se acrcdita
que 0 que tern a dizer e algo bastantc importante para levar
os leitores a mudar de vida, modificando 0 modo de pensar.
Caprtulo I
Pensar por escrito: OS usos
publico e privado da pesquisa
Ao ENTRAR NA SALA de leitura de uma biblioteca, voce ve
a sua volta seculos dc pesquisa, 0 trabalbo de dezenas de milhares
de pesquisadores que pensaram longamente sobre incontaveis
questoes e problemas, colheram informac;oes, deram respastas
e soluc;oes e, entao, compartilharam tudo isso com os
outros. Professores de lodos os niveis educacionais dedicam a
vida a ~esq uisa, governos gastam bilhoes nessa area, as empresas
ate mais. A pesquisa avam,a em laboratorios, em bibliotecas,
nas selvas, no espac;o, nos oceanos e em cavemas abaixo
deles. A pesquisa e sua divulgaC;ao constituem urna industria
enonne no mundo atua!' Maior ainda e a divulgaC;ao de sellS
relatorios. Quem nao for capaz de fazer uma pesquisa confiavel,
nem relatorios confiaveis sobre a pesquisa de outros, acabani
por se achar a margem de urn mundo que cada vez mais
vive de informa93.0.
1.1 POI- que pesquisar?
Voce ja sabe 0 que e pesqui sa, porque e 0 que faz todos
os dias. Pesquisar c simplesmente reunir inJorma(:oes necessa-.
rias para encontrar resposta para lima pergun/a e assim chegar
a solu(:iio de urn problema.
PROBLEMA; Depois de urn dia de cornpras, voce percebe que sua
carteira surniu.
12. 8 A ARTl:: DA PESQlRSA
PESQUlSA: Voce sc lembra dos lugares onde esteve e come~a a telefonar
aos departamentos de achados e perdidos.
PROBLEMA: Voce prccisa dc urna nova junta de cabe~ote para urn
Mustang modelo 1965.
PESQUISA: Voce liga para as lojas de au topc~as para descQ.brir qual
delas tcrn a pe~a em estoque.
PROBLEMA: Voce precisa saber onde Betty Friedan nasceu.
PESQUISA: Voce vai it biblioteca para procurar a informa~ao no
Quem E Quem.
PROBLEMA: Voce ouve faJar de uma nova especie de peixe e quer
saber mais a respeilo.
PESQUISA: Voce pesquisa nos arquivos dos jornais, a procura de
uma rcportagcm sobre 0 assunto.
Entretanto, embora quase lodos nos fa~amos esse tipo de
pesquisa diariamente, pOlleos precisam redigir urn relatorio a
res peito, porque nossa pesquisa normalmente e feita apenas
para nossa proprio uso. Mesmo assim, temos de confiar nas
pesquisas de outros que registraram por escrito seus resultados,
prevendo que urn dia poderiamos precisar dcssas infonna~
oes para resolver urn problema: a companhia tclcffinica pesquisou
para campor a !ista teJeffinica; os fomecedores de autope~
as pesquisaram para manta! seus cat<ilogos; 0 autor do artigo
do Quem t Quem pesquisou sabre Betty Friedan; os jornalistas
pesquisaram sabre 0 peixe.
De fato, as pesquisas feitas por outros detenninam a maior
parte daquilo em que lodos n6s acreditamos. Dos tres autores
deste livro, apenas Williams ja esteve oa Australia, mas Booth
e Colomb acreditam na existencia da Australi a: sabem que ela
esta la, porque durante toda a vida leram sobre 0 assunto em
relat6rios em que confiaram, viram 0 pais em mapas fidedignos
e ouviram Williams falar pessoalmente a respeito. Ninguemjamais
esteve em Venus, mas boas fontes nos indicam que e urn
planeta quente, seco e p1ontanhoso. Sempre que procuramos
algo em urn dicionario ,?U uma enciclopedia, estamos pesquisando
atraves de pesquisas dc outros, mas s6 podemos confiar
no que encontramos se aqueles que fizcram a pcsquisa a conduziram
com cuidado e apresentaram urn relat6rio preciso.
PESQUlSA, PESQUlSADORES E LEJTORES 9
De fato, sem pesquisas confiaveis pub/icadas, seriamos
prisioneiros apenas do que vemos e ouvimos, confinados as opiniOeS
do momento. Sem duvida, a maioria de nossas apini5es
cotidianas e bern fundamentada (afinal de contas, tiramos muitas
deJas de nossas proprias pesquisas e experiencias). Mas ideias
erroneas, ate mesmo estranhas e perigosas, florescem, porque
muitas pcssoas accitam 0 que ouvem, au aqui lo em que desejam
acred itar, sem provas validas e, quando agem de acordo
com essas opinioes, podem levar a si mesmas, e tambem a nos,
ao desastre. S6 quando sabemos que podcmos confiar na pesquisa
de outros somos capazes de nos Iibertar daqueles que,
controlando nossas cren~as, controlariam nossa vida.
Se, como e pravavcl, voce estA lendo eSle livro porque urn
professor pediu-lhe que desenvolva seu pr6prio projeto, pode
ser que pense em desenvolve-lo s6 para se exercitar. Nao e urn
mau motivo. Mas seu projeto tambem lhe dara a oportunidade
de participar das mais antigas e respeitadas di scussoes da humanidade,
conduzidas por Arist6teles, Marie Curie, Booker T.
Washipgton, Albert Einstein, Margaret Mead, 0 grande estudioso
islamico Averruis, a fil6sofo indiana Radhakrishnan, Santo
Agostinho, os estudiosos do Talmude, rodos aqueles, enfim, que,
contribuindo para 0 conhecimento humano, livraram-nos da
ignon'incia e do erro. Eles e inumeros outros estiveram urn dia
no ponto em que voce esta agora. Nossa mundo, hoje, e diferente
por causa das pesquisas deles. Nao e exagero afirmar que,
se bern feita, a sua mudara 0 mundo de amanhli.
1.2 Par que redigir um rclat6rio?
Alguns de voces, entretallto, poderao achar fadl recusar
nosso convite para participar dcsse dialogo. Ao fazer 0 relaterio
de sua pesquisa, voce tent de satisfazer uma multidao de
requi sitos estranhos e complicados, e a maioria dos cstudantes
sabe que seu re laterio sera lido nao pelo mundo, mas apcnas
pelo professor. E, aLem disso, meu professor sabe ludo sobre 0
assunlo. Se ele simplesmente me desse as resposlas ou indi·
13. 10 A ANTE VA PESQUISA
casse os /ivros cerlos, eu poderia me concentrar em aprender
o que hd neles. 0 que eu gonho redigindo urn relatorio, a noD
ser provar que possa faze-Io?
J. 2.1 Escrever para lembrar
A primeira rauo para registrar pa r escrito a que voce descobriu
e apenas lembrar. Algumas pessoas, excepcionalmente,
conseguem rellnir informalYOes scm as registrar. Mas a maioria
de nos se perde, quando enche a cabelYa de novos fatos e
argumentos: pensamos no que Smith descobriu a luz da tese de
Wong c comparamos as dcscobcrtas de ambos com os resultados
estranhos de Brunelli, especialmente por serem corroborados
por Boskowitz. Mas, espere urn minuto. 0 que foi mesmo
que Smith disse? A maior parte das pessoas so conscgue responder
a qucstoes mais complicadas com a ajuda da escrita -
rclacionando fontes, compilando resumos de pesqui sa, mantendo
anotalYoes de laboratorio e assim por diante. 0 que voce
nao registrar por escrito provavelmente sera esquecido au, pior,
sera lembrado de modo incorreto. Essa e urna das razoes pelas
quais os pesquisadores nao esperam chegar ao fim do processo
para comCIY3r a escrever: eles escrevem desdc 0 inicio do
projeto ate 0 fim, para entenderem melhor e guardarem por mais
tempo 0 que descobriram.
1.2. 2 Escrever para en render
Uma segunda razao para escrevermos e vcr com maior
c1areza as relacoes entre nossas ideias. Ao organizar e reorgani
zar os resultados de sua pesquisa, voce ve novas re lacoes e
contrastes, comp li ca~oes e implicac;:oes que do contrario poderiam
ter passado desperccbidos. Mesmo que pudesse guardar
na mente tudo 0 que descobriu, voce ainda precisaria de ajuda
para organizar argumentos que insistem em tomar diferentes
dire¢es, inspiram relar;5es compJicadas, causam desacordo entre
PESQU1SA, PFSQUISADORES £ I£TTORES 11
espccialistas. Quero usar as ajirmafoes de Wong para sus/en·
tar meu argumenlO, mas 0 argumento dela e rebatida por estes
dados de Smith. Quando os campara, vejo que SmUh nao COlIsidera
a ultima parte do argumento de Wong. Espere 11m miltuto:
se ell a illlroduzir, j untamente com esle trecho de Brunelli,
posso salientar a parte do argumenlo de Wong que me permiIe
refutar 0 de Smith mais f oci/mente. Escrever induz a pensar,
ajudando-o nao apenas a entendcr 0 que esta aprendendo, mas
a encontrar urn sentido e urn significado mais amplos.
1.2.3 Escrever para rer perspecliva
Uma terceira razao pela qual escrevcmos e que, quando
projetamos nossos pensamentos no papel, nos os vemos sob
uma nova luz, que e sempre mais clara e normalmente menos
lisonj eira. Quasc todos n6s - estudantes c profissionais - achamos
que nossas idcias sao mais coerentes no calor de nossa
mente ~o que quando transpostas para as frias letras impressas.
Voce melhora sua capacidade de pensar quando estimula a mente
com anotar;Oes, esbor;os, resumos, comentarios e outras formas
de por pensamentos no papel. Mas voce 56 pode refletir claramente
sobre esscs pensamentos quando os separa do rapido
fluxo do pensamento e os fixa numa forma escrita coerente.
Em resumo, escrevemos para podermos pensar melhor,
lembrar mais e vcr com maior clareza. E, como vercmos, quanto
melhor escrevemos, mais criticamente podemos leI".
1.3 Por que elaborar urn documcnto rormal?
Mesmo sabendo que escrever c uma parte importante da
aprendizagem, da reflexao e da compreensao, alguns de voces
podem ainda querer saber por que preci sam transformar seu
trabalho nurn ensaio ou relat6rio de pesqui sa fonnais. Essa formalizaCao
pode colocar urn problema para estudantcs que nao
veem nenhuma razao para seguir urn procedimento de cuja
14. 12 A AR1E DA PESQlRSIt
criac;ao eles oao participaram. Por que eu deveria adotar urna
linguagem que nao e minha? 0 que ha de errado com minha
linguagem, minhas preocupafoes? Por que nao paSSD relator
minha pesquisa do meujeilo? Alguns estudantes chegam a achar
ameac;adoras essas exigencias: temem que, se tivere(ll de pensar
e escrever como sellS professores. acabarao, de ccrto modo,
se tomando iguais a eles.
E sua preocupac;ao e legilima, porque tern a ver com todos
os aspectos de sua vida. Uma educac;ao que nao afetasse quem
e 0 que voce c seria ine ficaz. Quanto mais profunda sua cducac;
ao, mais ela 0 mudarn. Por isso e tao importante escolher
cuidadosamente 0 que voce estuda e com quem. Mas seria urn
c rro pensar que escrevcr urn relatorio de pesquisa ameac;aria sua
identidade. Aprcnder a pesquisar mudara seu modo de pensar,
ensinando-Ihe mais maneiras de pensar. Voce sera difcrente
depo is de ter pesquisado, {'orque sera mais livre para escolher
quem quer ser.
A rauo rnais importante para relatar a pesquisa de urn modo
que atenda -a expectat iva dos leitores talvez seja a de que
escrevcr para os outros e rnais dificil do que escrever para si
mcsmo. No momento em que voce registra suas ideias por escnto,
elas the sao tao familiares, que voce precisa de ajuda para
ve-Ias como realmente sao, nao como gostaria que fossem. 0
,!,elhor que voce tern a fazer nesse sentido e imaginar as nccess
idades e expectativas de sellS leitores. E por isso que os modelos
e planas padronizados sao os recipi entes rna is apropnados
para suas descobertas e conclusOes. Eles irao ajuda-Io a ver suns
ideias a luz rnais clara do conhecimento e das expectativas de
seus leitores, nlio apenas para que voce teste tais ideias mas
tambem para aj uda-Ias a crescer. lnvariaveimente, voce en~ende
melhor suas impressoes quando as escreve para torna-Ias acessiveis
aos outros, o rgani zando suas descobertas para ajudar os
leitores aver explicitamente como voce avaliou os fatos como
re lac ionou uma idc ia a outra, como se antecipou as pe;gumas
e preocupa90es deles. Todo pesquisador recorda-se de algum
momento em que, ao escrever para os leitores, descobriu urna
falha, urn efTO, urna oportunidade perdida, coisas que Ihe haviam
escapado nurn primeiro rascunho, escrito rnais para si mesmo.
PESQUlSA, PESQUISADORES £ LElTORES 13
Aqueles que pretendem participar de uma comunidade que
dependa de pesquisas tcrao de demonstrar que nao so sao capazes
de dar boas respostas a perguntas dificeis, mas tambem
que conseguem infonnar seus resultados salis/aloriamenle, Oll
seja. de modo claro, acessivel e, mais importante,familiar. Depois
de conhecer os modelos padronizados. voce sera mais exigente
ao ler os relat6rios de pesquisa dos outros, comprecndera
melhor 0 que sua comunidade espera de todos e sera mais capaz
de criticar as exigencias criteriosarnente.
Redigir urn relatorio de pesquisa, enfim. e simplesrncnte
uma questao de pensar por escrito. Assim, suas ideias terno a
aten9ao que merecem. Apresentadas por escrito, estarao "ali".
desvencilhadas de suas rccorda90cs, opinioes c desejos, prontas
pard serem rnais amplam.ente analisadas, desenvolvidas, combinadas
e compreendidas, porque voce estara cooperando com
seus leitores em urna empreitada comum para produzir urn conhecimento
novo. Em resumo, pensar por escrito pade ser rnais
meticuloso, sistematico, abrangente, completo e mais adequado
aqueJes que tern pontos de vista diferentcs - mais ponderado -
do qup quase todas as outras formas de pensar.
Voce pode, e claro, simular tudo isso, fazendo apenas 0 suficiente
para satisfazer seu professor. Este livro talvez 0 ajude
nesse semido, mas, agindo 'assim, voce eSlara enganando a si
mesmo. Se voce encontrar um assunto que 0 interesse, se fizer
wna pergunta que deseje responder, sc descobrir urn problema
que queira resolver. entao seu projeto podera ter 0 fascinio de
urna hist6ria de rnisterio, uma historia cuja solm,ao dara 0 tipo
de satisfa9ao que surpreende ate mesmo os pesquisadores mais
experi entes.
15. '.
Capitulo 2
Relacionando-se com seu leitor:
(re)criando a si mesmo e a seu publico
A MAIOR PARTE DAS CQISAS IMPORTANTES QUE FAZEMOS, fa zemos
com outras pessoas. A primeira vista, podemos pensar
que com a pesquisa e di ferente. Imaginamos urn estudioso solitario,
lendo em urna biblioteca silenciosa ou tmbalhando em
urn laborat6rio, cercado apenas por artefatos de vidro e computadores.
Mas nenhum lugar e tao repleto de vozes quanta uma
biblioteca ou urn laboratorio, e, mesmo quando parecemos trabalhar
completamente sozinhos, trabalhamos para aican9ar urn
fim que scmpre nos envolve em urn di alogo com os outros.
Nos nos relacionarnos com outras pessoas loda vez que lemos
urn livro, usamos urna ap~ re lhagem de pesquisa ou confiamos
em uma formula estatistica. Toda vez que consultamos urna
fo nte, que nos reunirnos com algucrn e, reunindo-nos, participarnos
de urn di alogo que pode ter decadas, ate mesmo scculos
de idade.
2.1 Di:ilogos entre pesquisadores
Exatamente como acontece em sua vida social, voce, como
pesquisador, faz julgamentos sabre aquelcs com quem troca
idCias (como agora deve cstar julgando nos tres): Garcia parece
cOllfiavel, oif/da que um POIICO previsivel; Alhambra e agradavel,
mas descuidada no que d iz respeito as evidencias que
apresellta; Wallace coleta bons dodos. mas noo cOl/fio em SilaS
conclusiies.
16. 16 A ARTF. DA PESQlRSA
Esses j ulgamentos, pacem, nao sao urna via de mao Unica voce
j ulgando suas fontes - porque elas ja a julgaram, criando,
em certo senti do, lima persona para voce. As duas passagens
a seguir "eriam" leitores diferentes, atribuindo-Ihes niveis diferentes
de conhecimento e experiencia:
I - A reguJagem da interacao das protcinas contriteis actina
e miosina no filamento fino do sarcomere, por melo
de hloqueadores de calcio, e agora urn meio comum de
controlar espasmos cardiacos.
2 - Seu musculo mais importante e 0 coracao, mas ele
nao funciona quando esta acometido de espasmos
musculares. Esses espasmos agora podem ser controladas
por drogas conhecidas como hoqueadores de
calcio. Os hloqueadores de calcio atuam sabre pequenas
unidades de fibras muscuiares chamadas sarcomeros.
Cada sarcomero tern dais f ilamcntos, urn grosso
e urn fino. 0 fi lamento fino cantem duas proteinas,
actina e miosina . Quando a actina e a miosina interagem,
seu'coracao se contrai. Essa intera/Vao e controlada
pelos bloqueadores de calcio.
o primciro trecho lembra urn especia li sta escrevendo a outro;
0 segundo, urn medico explicando cuidadosamente ideias
complexas a urn paciente.
Seu texto refletira nao s6 os julgamentos que voce fez
sobre ~ conhecimento e a capacidade de compreensao de seus
leitores, mas, mais importante ainda, 0 que voce quer que eles
identifiquem como significativo em sua pesquisa. E seus leitores
0 julgarao com a precisao com que voce os julgar. Se calcular
mal a quantidade de informacoes de que eles precisam,
se apresentar suas dcscobertas dc urn modo que nao alenda aos
interesses deles, voce perdera a credibi lidade de que lodo autor
precisa para sustentar seu lade do dia!ogo.
Portanto, antes mesmo de dar 0 primeiro passo cm direl;ao
a urn relat6rio de pesquisa, voce cleve pensar no tipo de dialogo
que pretende ter com seus leitores, no tipo de rclaC;;ao que dese-
PESQlDSA, PESQUlSADORES E LEITOR.£S 17
ja estabelecer com eles, no tipo de re l a~ao que espera que queiram
e possarn ter com voce. lsso significa saber nao s6 quem
sao eles e quem e voce, mas quem voce e eles pensam que
todos voces devem ser.
Voce pode pensar que a resposta e 6bvia: Eu sei quem sou,
e meu lei/or e 0 meu professor, mas os pesquisadores cstudantes
sempre trabalham em circunstanc ias complicadas. No papel,
voce pareeeni. diferente do que c em pessoa. E seus professores,
como leitores, reagirao de modo diferente de como reagem
em classe. Coordenar tudo isso significa reconhcccr: I) os
diferentes papeis sociais que a autor C 0 lei tor criam para si
mesrnos e urn para 0 outro e 2) as intcrcsscs comuns que todo
lei tor e todo autor compartilham.
2.2 Autores, Icitores e s e llS papeis sociais
Suas decisoes sobre si mesmo e SCllS leitores sao bastante
complicadas, porque trabalhos de pesquisa exigidos em sala
de aula criam s itua~Oes obviamente art ificiais. Se esse e urn de
seus primeiros projetos, voce talvez nao 0 eSleja fazendo porque,
na vcrdade, senle a premcnte necessidade de fonnular uma
pergunta cuja resposta modifique 0 mundo. Por outro lado, e
improvavel que seu professor tenha Ihe pedido para fazer a pesquisa
porque sinta a necessidade prcrnente de saber sua respostao
Voce provavclrnente esta escrcvendo para atingir uma meta
menos direta: aprender sabre pesquisa, represenlando 0 papel
de pesquisador e imaginando 0 papel de sell le itor.
Representar urn papel nao e uma parte insignificante do
aprendizado. As pessoas podcm aprender uma tccnica de tres
maneiras: lendo sobre ela ou ouvindo sua exp li ca~ao. observando
enquanto oulros a praticam, ou praticando a tecnica par si
mesmas. 0 aprendizado mais eficaz combina as tres alternativas,
mas a terceira c decis iva: Illio basta apenas ler, ouvir e observar
- e preciso Jazer. E, uma vez que a pesquisa e uma atividade
social, pratica-Ia significa desempenhar urn papel social.
Com essa finalidadc em vista, seu relat6rio deve criar
papcis tamo para voce quanto para seu professor. Mas csses
17. 18 A ARTE VA PESQUlSA
papeis nao podem sec os da sala de aula, onde 0 professor fa:
pcrguntas para que voce mostre que sabe as respostas, ou vo~e
faz as perguntas porque nao sabe as respostas. Em sell relatorio
voce deve se converter em autor/pesquisador e dar a seu
pr~fessor 0 papel de urn leiter que deseja, ,?u de~e~ia ,desejar,
saber 0 que voce descobriu. Na verdade, deve se Imagmar trocando
papeis com seu professor, voce se tarnando professor
dele, c ele, seu aluno.
2.2.1 Criando seu papel
Ao longo de teda sua pesquisa, imaginc-se como alguem
que possui urna informa~ao ou afirma~ao bastante importante
para sec passada a outros que passam quercr conh:ce-Ia. Imaginando
isso, voce deve represcntar 0 papel .espe~lfico de urn
profissional cia area. Se estiver num curso de blOlogla, por exem·
plo, espera·se que tenha apontamentos cO';lplet~s sobre 0 ~uc
ocorre no laborat6rio (incluindo crros e sltua~oes scm s3lda)
e da mcsma maneira como faria urn pesquisador experientc,
r~late seus resultados de forma profissional. Se seu projeto,
num curso de hist6ria, for preparar seu hist6rico familiar, voce
deve consultar a literatura sobre as raizes etnicas e socioeco·
nomicas de sua familia, da mesma maneira que urn historiador
pro fi ssional faria. Ou pode ser que Ihe pefY3m para represen·
tar 0 papel de uma pessoa informada, que nao seja urn profis·
sional "de dentro", mas exatamente 0 que voce e: urn estudan·
te escrevendo seu primeiro relat6rio de pesquisa em urn curso
introdut6rio. ,
Seu professor pode ate mesruo dar informatroes dctalhadas:
ESCT'eva um historico de sua familia para 0 "Projeto Diver·
sidade ", como parte da comemoraplo de celllentirio e de uma
camponlta para arrecada~'ao de fundos: seu historico, jlllltamente
com mdros, sera publicado numa broe/lllm diSlribuida
peta associa~iio de ex..a/unos para moSlrar a diversidade dos
estudantes desre campus.
PESQUlSA, P£SQfJISADORES E I£rroRES 19
De acordo com essas infonnafYOes, seus leitores nao seriam his·
toriadores profissionais, mas alunos em potencial e seus pais.
Mas suponha que Ihe seja pedido para interpretar 0 papel
de urn pesquisador que faz urn relat6rio sobre a presentra de
toxinas nurn lago, para a diretora da Agencia Estadual de ProtefYao
ao Meio Ambiente. Nessc caso, talvcz fosse convenien·
te fazcr uma pesquisa sobre essa diretora, para descobrir quem
cia e e como pretendc usar seu relatOrio. No passado, ela esteve
mais ligada a politiea ou a ciencia? Se a resposta for a segun·
da altemativa. que tipo de cicncia? 0 relatorio sera para ela
apenas, ou tambem para 0 governador? Ela precisa das infor·
mafYOcs para decidir a que fani no futuro, au para justificar
uma decisao que ja foi tomada?
Em resumo, 0 primciro passo no preparo de uma pesqui·
sa e compreender seu papel num determjnado "palco". Por que
Ihe pediram para escrever 0 relatorio? 0 que seu professor,
curso ou prograrna querem que voce aprenda com isso? Querem
que voce experimente 0 sabor da pesquisa, visando prepara-lo
para se especializar em urna area, tornar·se urn profissional?
Ou ser'a que desejam dar aos alunos em busea de educw:;iio Ii·
beral uma oportunidade de pensar muito sabre urn assunto de
sua propria escolha? Se voce nao souber, pergunte.
Outra questao a considerar e como a aparencia de seu
relat6rio influi no papel que voce representa nesse contexto
social previsto. No trabalho dc biologia, 0 texto deveria ter a
forma de urn relat6rio de laborat6rio, de urn memorando of icial
recomendando providencias, ou de urn sumario de diretoria?
No caso do trabalho de hist6ria, voce tern menos formas
para escolher, mas deve procurar saber, por exemplo, se pode
elaborar a hi st6ria como uma narrativa na primcira pessoa, em
que voce fa lara de seu passado e do que descobriu sabre ele.
Ou sera que 0 trabalho deve ser um rclato formal, na tcrccira
pessoa? Nao comcce sua pesquisa antes de saber quais sao
suas op~oes quanto a forma do rc latorio.
18. 20 A ARTE DA PESQUlSA
2.2.2 Criando urn papel para seu iejlor
SellS leitores tambem devcm desempenhar urn papel, que
voce criara para eles. Considerando que seu professor talvez
seja seu principalleitor, voce deve atribuir-Ihe 0 papel,dc alguem
que, se liver bons motivos, in! se preocupar com seu'problema
de pesquisa e querer conhecer a 50U9aO. Ele tambCm poden't
estipular urn papel para si mesmo - alguem uda" especialidade,
que espera que voce escrcva como os demais autares da area.
Ou, 0 que sena mais dificil, cle poderia representar 0 papel de
urn lei tar comum que nao tern conhecimento especializado cia
area e sellS metodos.
Dependendo do papel que ele se atribua. sell professor ira
concentrar-se em difercntes aspectos do rel at6rio. Como lei tor
especializado, procurani cita.-;oes dos estudos chissicos sobre
o assunto, fonnatadas corretamente, e como lei tor comum ira
querer explica.-;6es claras, "em linguagem simples", dos termos
tecnicos. Se voce estiver redigindo urna (ese para ser lida
por urna banca exarninadora, tera de pensar nos diversos papcis
de maneira mais complicada ainda.
Se voce e urn pesquisador experiente, compreende como
os leitores difercm uns dos ou1ros, mas, se esta cscrevendo seu
primeiro relat6rio de pesquisa, prccisa saber que os leitores adotam
papeis baseando-se no modo como usadio sua pesquisa.
As diferen.-;as mais importantes encontram-se entre os que H!:em
por diversao, as que querem urna solu.-;ao para urn problema
pnitico e aqueles que se dedicam a pura busca do conhecimento
e da compreensao.
Para entender essas difcrem;:as e corno afetam sua pesquisa,
imaginc tres formas dc dhilogos sobre baloes, dirigiveis e
zepelins.
Por diversao. Esse tipo de troca de ideias ocorre entre pessoas
que se reimem para fa lar sabre zepelins por passatempo.
Para enttar no dialogo, voce s6 precisa mostrar interesse pelo
assunto e ter algo novo ou interessante para oferecer, como,
por exemplo, urna carta do lio Otto, na qual elc dcscreve sua
viagem no primciro zcpclim a cruzar 0 Atlantico equal foi a
PESQUISA, PESQUlStt.DORES E LEITOR£S 21
cardapio do jantar. 0 que esta. em jogo aqui c urn momenta de
diversao entre pessoas que gostam de falar sabre zepelins e talvez
procurem obter algum enriquecimento pessoal. Sua conversa
seria 0 tipo de trabalho que voce escreveria em uma aula de
reda.-;ao, em que se espera que 0 aulor seja anirnado, com algo
interessante, talvcz engra.-;ado para contar, que se concentre
mais em expor suas pr6prias rea.-;oes do que em fazer uma amilise
imparcial do assunto. Como sua tarefa e cornpartilhar com
outras pessoas seu entusiasmo por urn assun to que tambcm as
entus iasme e oferecer algo que etas nao conhe.-;am e achariam
interessante, voce deve consultar suas fontes, procurando hist6-
rias divertidas, fatos estranhos e assim por di ante.
Por urn motivo pnitieo. Agora imagi ne um segundo dialogo,
dessa vez com 0 pessoal do departamento de rela.-;oes
publicas da Giganto Inc. Eles gostariam de usar urn dirigivei
em uma campanha publicitaria, mas nao sabem quanta isso
custaria, nem ate que ponto seria eficaz. Entao, contrataram
voce para descobrir. Para sair-se bern nesse dhllogo, voce precisa
ethender que btl mais coisas em jogo do que meramente
a satisfacao da curiosidade. Sera necessario responder a pergunta
da pesquisa de urna maneira que aj ude 0 pessoal de RP
resolver seu problema pratico,fazendo algo: se alugarem 0 dirigivel,
aumentadio as vendas da Giganto? Esse e 0 tipo de publico
para 0 qual voce podera escrever, quando seu professor
criar urn roteiro "da vida real" para seu trabalho, ou seja, oode
haja alguem interessado em usar sua pesquisa para resolver urn
problema real, tangivel, pragmatico. Se souber 0 que seus leita
res farao com suas respostas, voce sabera que informa.-;oes
procurar, compreendendo que h5. outras com as quais nao precisa
se incomodar - e improvavel que 0 pessoal da Giganto queira
saber quando foi inventado aquele artefato mais leve que 0
ar, ou sc interesse pelas equacoes usadas para analisar sua eSla bi
lidadc acrodinarnica.
Para en.ender. Finalmente, imagine que sua escola tcnha
urn departamento de artefatos mais Jeves que 0 ar, tao importante
quanto 0 departamento de ingles au de qui mica. A facu!-
19. 22 A ARTE DA PESQUISA
dade oferece cursos sabre dirigiveis, haloes e zepeJins, pesqui·
sa-os e participa de uma troca de ideias mundial, puhlicando
pesquisas a respeito dessas aeronaves. Dcssc dialogo partieipam
centenas, talvez milhares de pesquisadores. Alguns deles
se conhecem, Quiros Dunea se encontraram, mas tod~ leeru os
mesmos !ivros e peri6dicos. 0 objetivo deles nao e se divertir
(embora se divirtam) ou ajudar alguem afazer alga - ~omo meIhorar
a imagem de uma empresa (embora pudcsscm gostar de
atuar como consuhores, pages peJa Giganto Inc.). 0 objetivo
deles e propor perguntas, e responder a elas. sabre artcfatos
mais leves que 0 ar, sua hist6ria, SU3S conseqilencias sociais.
a tcoria e a litcratura a respeito do assunto. Eles determinam
o valor de seu lrabalho nao pclo que possam oferccer como fonte
de entretenimento au pela ajuda que possam dar a algucm, mas
pelo que aprendem, pelo conhecimento que adquirem a respeito
de dirigiveis, pel a avalia!;ao de quanta conseguem se aproximar
da verdade.
Como conscqiiencia, esses estudiosos de artefatos mais
leves que a ar estao intensamenle preocupados com a qualidade
intelectual de seu dialogo: esperam que todos as participantes
sejam objctivos, rigorosamente 16gicos, fieis aos fatos, capazes
de analisar as perguntas de todos os angulos, nao importa
para onde a investiga!;ao os conduza au quanta tempo Ihes
tome. Esperam que 0 dialogo focalize as complcxidades, ambigiiidades,
inccrtczas, os misterios e, entao, que apresente soluc;:
Oes. Confiam nas pesquisas uns dos outros ao mesmo tempo
em que competem entre si para produzir as proprias pesquisas:
desse modo, testam tudo antes de fazer seu relatorio, porque 0
que mais valorizam e fazer as coisas co~retamente, e porque
sabem que a vcrdade e sempre parcial - incomplcta e facciosa.
Entendem que toda verdade apresentada e contestavel e sed
testada pelos outros participantes do dialogo, nao exatamente
por screm controversos (embora possam ser) ou mesmo cinicos
(embora alguns sejam), mas porque desejam aproximar-se
da verdade sobrc dirigiveis.
Tais leitorcs sc interessarao por qualquer coisa nova que
voce tenha a dizer, mas va~ quercr saber 0 que fazer com a nova
PESQUISA, PESQUlSADORES F. LEnORES 23
informac;:ao e de que modo ela afeta 0 que ja sabem sabre dirigiveis.
Ficarao cspecialrnenlc interessados sc voce convencelos
de que nao compreendem algo tao bern quanto imaginavam:
A maior parte das pessoas peIJsa que as arte/atos mais /eves
que 0 ar originaram-se na Europa, no seculo XV/lI, mas eu
descobri urn desenho do que parece ser urn baMo de ar quente
de qualm seculos antes, numa parede, na America Central.
E de urn dialogo desse tipo que voce participa quando relata
pesquisas para uma comunidade de estudiosos. Nao imporla
que sell eslilo seja eJeganle (em bora isso me fara admirar
mais seu trabalho), nao importa que voce me conte hiSlorias
diver/idas (ainda que eu possa aprecia-Ias, se elas me ajudarem
a entender me/hor silas Midas), nao importa qlle a que voce
saiba me enriquera (em bora isso possa me deixar contente).
Apeflas diga-me algo que nao sej, delorma que eu possa compreender
me/hor 0 que sei.
Esses tres tipos de leitores podem cstar interessados em
artefatos rna is leves que 0 ar, mas a interesse de cada urn no
assunt? e di~erente. portanto vao querer que sua pesquisa resolva
tlPOS dlfercntes de problemas: entrete-Ios, ajuda-Ios a solucionar
algum problema, ou simplcsmente ajuda-Ios a compreender
melhor urn assunto.
Se cssa for sua primcira incursa.o na pcsquisa, voce tera dc
descobrir 0 que esta em jogo no rneio a que pertence. Se nao
sauber, pergunte, porque esse requisito 0 levani a caminhos diferentes
de pesquisa.
Claro que no decorrer da pesquisa voce podera descobrir
alga que mude sua intem;:ao: enquanto coleta hist6rias cngrarvadas
sabre 0 descnvolvimcnto do zcpelim, talvez descubra
que a hist6ria oficial desse dirigivel esta errada. Mas, se voce
nao tiver. desde 0 inicio, uma n o~ao do que realmcnte pretendc,
esta arriscado a fiear perambulando sem rumo de uma fonte
de informarvoes para outra, a que 0 conduzira, e a seus leilOres,
a lugar ... nenhum.
20. 24 A ARTE OA PESQUISA
2.3 Leitores e seus problemas comuns
Oependendo do que esteja em jogo. leitores e autorcs representam
papeis sociais diferentcs, por tras dos quais ex istem
preocupa<;:Oes comuns a todo leiter, assim comp problemas
comuns a todo auter. "
2.3.1 Leitores e 0 que voce sabe sobre eles
Todos os leitores compartilham urn interesse: querem ler
relat6rios que aprescntem 0 minima poss ivel de dificuldades
desnecessaria s. Podcm apreciar a elegancia e a vivacidade de
espirito, mas em primeiro lugar quercm entender 0 ponto principal
de seu trabalho e saber como voce chegou a ele. Assim,
como c uti I pensar no processo de reda<;:ao de seu relat6rio como
urn caminho para urn ponto de destino, tambem e ut il imaginar
uma trajetoria semelhante para seus leitorcs, que tcrao
voce como guia. Eles querem que sua introdlll;ao lhes indique
para onde ir, e que voce explique por que deseja conduzi-los por
esse caminho, que de uma ideia da pergunta a que a jornada
respondcra, que problema, inte1ectual ou pratico, sera resolvido.
Seus leitores tambem vao querer saber de que maneira sua
pesqui sa e as conciusOes mudarao suas opinioes e co nvic~oes:
e assim que irao aferir a impQrltincia de seu trabalho. 0 que
voce pretende? Oferecer a leitores agmdecidos a solu<;:ao de
urn problema que durante muito tempo cles sentiram que prccisavam
resolver, ou tentara vender uma soluc;ao a leitorcs que,
nao s6 podem rejeita-Ia, como tam¥m, talvez, nem sequer
queiram saber do problema?
l o dos os leitores projeram em urn relatorio de pesquisa os
pr6prios interesses e co n ce p~oes. Portanto, antes de redigi-lo,
voce precisa definir a p os i ~ao dcles e a sua em rcla~ao it pcrgunta
a que voce esta rcspondendo e ao problema que esta resolvendo.
Se sua pcrgunta ja e urn assunto palpitante na comunidade,
a maioria dos leitores a apreciani, antes mesme de voce
aprescnta-la. Nesse casc, concentre-se cm definir II posic;ao deles
em re l a~ao a sua resposta:
I
PESQUISA, PliSQUISADORES E l.En oRES 25
• Se ja conhecem a resposta. voce as estara fazendo perder
tcmpo.
• Sc acreditam em uma res posta errada, ou em urna res posta
certa pelas razoes erradas, antes de mais nada voce tera de
demove-Ios do eITa e, entao, convence-Ios de que sua resposta
e a correta, pel as razoes coeretas - wna tareEa dificil.
• Se cles nao tern urna resposta. voce esta com sorle: 56 precisara
convence-Ios de que possui a resposta certa, e eles a
recebcrao, agradccidos.
Se, por outro lado, sua pergunta nao for urn assunto palpitante.
sua laTera sen. mais complicada, porque a maioria dos
leitores nao tCHi conhecimento de sua pergunta ou de sell problema,
antes de voce apresenta-Ios. Nesse caso, voce precisara,
primeiro, convence-Ios de que sua pergunta e boa.
o Alguns leitores, par quaJquer rozao, nao terao nenhum interesse
em sua pergunta, de modo que nao se interessarao pela
resposta. Convence-Ios a interessar-se pela pergunta podera
ser urn desafio maior do que convence-Ios de que voce cncontrou
a resposta correta.
o Allguns leitorcs poderao mostmr-se receptivos a seu problema
por pcrceberem que a so lu~ao os ajudara a entender melhor
seus pr6prios problemas. Se for assim, voce estara com sortc.
o Outros leitores poderao rejeitar tanto sua pergunta como a
resposta, porque aceita-Ias desestabilizaria convic~oes mantidas
ha longo tempo. Podcriam mudar de ideia, mas apenas
por boas razoes, enfat icamente expostas.
o Finalmente, alguns le itores estarao tao cntrincheirados em
suas co nvic~oes, que nada os fani levar em considera~ao uma
nova pergunta ou urn velho problema tratado de uma nova
maneira. Voce s6 podeni ignoni-Ios.
2.3.2 Leitores e 0 que voce espera deles
Para entendcr seus leitores, portanto, voce prccisa saber
qual e a posi~ao delcs. Mas tambem precisa decidir aonde deseja
leva-los e 0 que cles farao quando chegarem la. Podcria
ser uma· das ahernativas descritas a seguir, au todas elas.
21. 26 A ANn::: DA PESQUISA
Aceitar um conhecimento novo. Se voce oferecer aos
leitores apenas conclusOeS e conhecimentos novos, devera presumir
que eles ja tern interesse pelo assunto, ou, entao. disporse
a convence- Ios de que, tomando-se receptivos, s6 terao a
lucrar. Se eles ja tiverem interesse, apenas apresent~r as in formacOes
sera menos trabalhoso, mas tarnbem muito menos interessante
e geralmente menos marcante. Vez por outra, urn
pesquisador dint: Aqui estlio as inj'ormap5es que descobri. e
espero que possam interessar a alguem. Os leitores ja interessados
fi carao gratos, mas iraQ se interessar mais se 0 pesquisador
mostrar como os novos dados podem for~a-Ios a ocupar-se
de uma nova quesHio, especialmente sc tais dados perturbarem
sua ant iga maneira de pensar.
Vamos dizer que voce possua infonnac;:Ocs sabre tecelagcrn
tibetana do seculo XIX. Isso pode ser novo para seus leitores,
mas voce nao tern nenhum argumento diferente alem de: Voces
provavelmente nlio conhecem este assunto. Tudo bern, mas meIhor
seria imaginar como sua nova informac;:ao poderia requerer
que cles mudassem de opiniao sobre 0 Tibete, a teeelagem
ou ate mesmo sobre 0 scculo XIX. Isso significa achar pcrgtmtas
que possam interessar aos leitores. e quc seu novo conhecimento
possa responder.
No mundo dos ncg6cios e do comercio, e comum um su'
pervisor orientar os pesquisadores para reunirem e relatarem
informa~oes , mas essa pessoa normalmente quer as informa~
Oes para resolver urn problema que elaja sabe que tern. Nesse
caso, ha urna divisao de trabalho: Voce consegue as informafoes
de que eu preciso para resolver meu problema. ,
Mudar convic~oes. Voce pedira mais de seus leitores (e
de si mesmo) se pedir-Ihcs nao so que aceitem novos conhecimentos,
mas tambem mudem conv i c~oes arraigadas. Quanto
mais arrai~adas estiverem essas convicc;:oes, mais dificil sen)
muda-Ias. :£ assim que os leitores avaliam a importancia da pcsquisa.
Por exemplo, seria faci! convenccr a maioria de nos de
que ha exatamente 202 asteroidcs conhccidos, a urna distancia
de urn quilomctro c meio ou mais. porque poucas pessoas estao
preocupadas com isso. Mas, se pudesscmos ser convencidos de
1,
PESQUISA, PESQUlSADORES E LErroRES 27
que esses 202 aster6ides sao restos de urn planeta que urn dia
existiu entre a Terra e Marie e explodiu em uma guerra nuclear,
tcriamos de mudar muitas convic<;;oes sohee varios assuntos
importantes, 0 menor dos quais seria 0 numcro exato de aste·
rOides. Ao pensar oa qucstao de que esta tratando, pense tam·
bern no impacto que pretende produzir oa estrutura geral de
convic.;oes e conhecimentos de seus leitores. Quante maior 0
impacto, mais importante sera sua questiio, e mais voce tern de
trabalhar para sec convincente.
o fate delorosa, no cntanto, e que mesmo pesquisadores
experiemes acham dificil prever ate que ponto suas dcscobertas
faraa os Ieitores mudarem suas convic~oes. E, mesmo quando
conscgucm, geraimenlc lutam para explicar por que os leitores
deveriam mudar.
Agora, uma coisa importante: Se voce for um pesqllisador
iniciante. nlio pense que tera de satiJ.jazer uma expectativa tlio
elevada quanto essa.
No in icio, nao se preocupc em saber se as resultados de
sua Pfsquisa serao novas para os outros, se serao capazes de mudar
a opiniiio de alguem, alem da sua. Preocupe-se antes de
rnais nada em saber se 0 trabalho e importante para voce. Se
conseguir encontrar uma pergunta a que so voce queira responder,
ja sera uma conquista importante. Se conseguir encontrar
urna resposta que mude apenas 0 que voce pensa sobre urna
pon;.ao de coisas, conquistou algo ainda rnais importante - descobriu
como novas ideias desestabilizam e reorganizam convicc;:
ocs estaveis.
Sc voce for urn pesquisador experiente, porem, tera de dar
o proximo passo. Seus leitores esperam que voce apresente urn
problema que nao 56 reconhec;:am como seu, mas tambem como
deles, urn problema cuja solll c;:ao mudara a opiniao deles, de urn
modo que eles achem significativo. (Discutirernos esse requisito
mais detalhadamente no Capitulo 4.)
Praticar urna ae;ao. De vez em quando, os pesquisadores
pedem que os leitores pratiquem urna a~ao porque acreditam
que a so lu~ao de seu problema de pesquisa podera ajudar
os leitores a resolver urn problema real. As vezes isso e Hiei l -
22. 28 A AR71;." DA PESQUISA
urn quimico descobre como produzir gasolina nao poluente e,
entao, leota persuadir as companhias de petr6leo a usarcm sua
formula.
Mais frequ entemente, os resultados de sua pesquisa nao
Icvarao a urna 8930 especifica mas, sim, a urna conflusao que
apenas mudara a compreensao de seus leitores. NQ mundo da
pesquisa erudita, entretanto, cssa nao e urna conquista desprezivel.
No computo final, a importancia da pesquisa academica
dcpende do quanta ela abala e reorganiza convic~oe s. nao querendo
dizcr que essas novas conv i c~oes levarao a uma 3930.
Tenha em mente que praticamentc todo pesquisador academico
comec;a satisfazendo interesses. nao de sellS leitores,
mas os sellS pr6prios. Tambem estcja cienle de que mesmo
pesquisadores experientes geralmente nao podcm, logo no come<;
o, responder a perguntas sabre a importancia de sua pcsquisa.
Par rnais paradoxal que possa parecer, quase lodos s6
cornprccndcm exatarnente a importancia que suas dcscobcrlas
terao para os outros quando terminam 0 primeiro rascunho de
seu relat6 rio. Portanlo, aqui vai rnais uma palavra de conforto
para quem esteja in iciando seu primeiro projeto: quando voce
parte de urn interesse seu - como deve ser - provavclrnenle nao
sabe 0 que esperar de seus leitores, ou ate de si mcsrno. S6
descobrini. isso depois de encontrar urna rcsposta que 0 ajude
a entender melhor a pergunta que deseja submetcr fa aprecia<;ao
de seus leitores. Mesrno entao, sell melbor lei tor talvcz seja
voce mcsmo.
N oda e mais importonte pora 0 sucesso do pesquiso do que seu
compromisso com ela. Algumas dos pesquisos mois impartontes do
mundo forom conduzidos par pessoos que triunforom sobre a indiferen<;:
o , porque nunco duvidorom de suo proprio visco. Barbaro
AflcClintock, umo geneticista, lutou durante onos, sem reconheci'
menta. porque suo comunidode de pesquiso noo considerovo seu
trobolho importonte. Mos cia ocreditou nele e final mente, quando a
comunidode foi persuodido a fozer perguntos a que 56 elo poderio
responder, B6rbaro conquistou a honro mois alto do ci€mcio : 0
Premia Nobel.
1
I
I
PESQUISA, PESQUTSADORES J:: LEITORES 29
2.4 Autores e seus problemas comuns
Da mcsma maneira que lodos as leitores tern certas preocupa<;
oes em comum, lodos as autores enfrentam alguns problemas
iguais. 0 mais importante para os iniciantes e a diferenc;
a que a experiencia faz. Quando urn autor conhece realmente
urna area, interioriza seus metodos tao bern, que e capaz
de fazer por habito 0 que antes fazia apenas atraves de normas
e reflexao. Autores com pratica come<;am urn trabalho com a
intuic;ao de qual sera sua forma final e do que os leitores esperam.
Os menos experic ntes tern de pensar nao s6 em seus
assuntos e problemas especifi eos, mas tambcm de fazer 0 que
os autores experi entes fazem intuitivamente. Mas e claro que e
para isso principaime nte que voce se esforc;a tanto, para apren·
der a pesquisar rnais, com menos desperdicio de csfor<;o. E
essa e a meta deste livro: ofereeer-ihe diretrizes, listas de conferencia
e ve rifica~ao e sugestOes rapidas para ajuda-Io a avaliar
seu progresso e seus planas e, a que e rnais importantc, mostrar-
Ihe como pensar e escrever como um leilOr: em resurno,
tamar claro 0 que os autores cxperientes fazcm intuitivamente.
Todo 0 mundo eome4ta eorno novato, e quase todos n6s
nos sentimos assim outra vez, ao cornec;ar urn novo projeto no
qual nao estamos inteira rnente confiantes. Nos tres, os autores,
lembrarno-nos de ja haver tentado redigir conciusoes preliminares,
eonscientes de que nosso texto e ra impreciso e confuso,
porque era assim que nos sentiamos. Lembramo·nos de ricar
simpiesmente repctindo 0 que Ilamos, quando deviamos eslar
analisando, sintetizando e criticando 0 texto. Tivemos essa experiencia
quando erarnos estudantes, primeiro como alunos de
faculdade, depois de p6s-gradua<;ao, e passamos por ela quase
toda vez que comeC;arnos urn projeto que exige que estudemos
urn assunto verdadeiramente novo.
A medida que voce adquire rnais habilidade e experiencia,
algumas dessas ansiedadcs sao superadas. A pratica eompensa.
Par que, enrno, urna vcz que voce tcnha "aprendido a pesquisar",
nao eonsegue livrar-se cornpletamente da ansiedade? 0
fato e que aprender a pesquisar nao e como aprender a andar de
23. 30
biciclcta, uma habilidade
que voce pode repetir cada
vez que experimenta uma
bicicleta nova. Pesquisar
envolve algumas habil idades
repetitivas, mas, como
os objelos de pesquisa sao
infi nitamente variados, e
os modos de informar os
resultados vari am dc area
para area, cada novo proj
eto lraz cons igo problemas
novos. A dife renc;a
entre 0 especialista e 0
novato reside em parte no
fato de que 0 especialista
cOnlrola melhor as tccni cas
repetitivas, mas, alem
disso, ele lambem conscgue
prever melhor as inevitaveis
incertezas e supern-
Ias.
Entao, como voce pode
evitar a sensac;ao de que
esta sobrecarregado?
Em primeiro lugar, tome
consciencia das incertezas
que inevitave lrncnte
enfrentara. Esse deve ser
o objetivo da primeira e
rapida leifUra deste livro.
Em segundo lugar, domine
0 assunto que cseoIheu,
eserevendo sobre elc
A A~ DA PESQUISA
Sobrecofgo cognifivo:
Algumos polovros tronquilizodoros
As dificuldades que os pesquiso·
dares inicionles enfrenl~m tem menos
0 ver com idade 6u realiza ·
<;6es do que com a experiencio no
areo estudado. Umo vez, um de
nOs explicovo 0 olguns professores
de redacoa juridica que os prO"
blemas de ser novato despertom
umo sensa COo de inseguronca
nos novas esludonles de dirello,
rnesmo entre as que erom bons
redalores antes de entror no faculdode.
No rim do converso, umo
mulher comentou que, 0 0 inieior a
curse de direil:>, expe~imentoro 01-
gumo sensocoa de Incerteza e
caniusoo. Antes do curso. elo lora
prolessoro de ontropoogio, publicoro
urn trobolho e faa elogiodo
pelo.s revisores pelo clorezo e pelo
vigor de seu lexlo. EnlOo, decidira
mudor de carreiro e curror 0 faculdade
de direiJo. Segundo elo,
escrevio de moneiro lOa incoerente,
nos prirneiros seis meses, que leve
meda de eslor sofrendo de alguma
doenco degenerotive do cerebra.
Noo eslova, e claro: simplesmente,
experirnenlovo urn tipo de olosio
lempororio que oflige 0 moiorio de
n6s, quando lenlomas escrever sobre
urn oSS~Jnto que 000 domino'
mos. Noa lai de surpreender que,
00 camEX;or 0 enleooer melhor os
leis, possasse a pensor e escrever
melhar.
ao longo da pesquisa. Nao se limite a tirar fotocopias de suas
fontes e sublinhar palavras: escreva resum~s, criticas, perguntas
sobre as quais refletir mais tarde. Quanta mais escrever, a
medida que avanfa, nao importa quao esquematicamente 0
PESQUISA , PESQUlSADORES £ lElTORES 31
faca, mais confiante estara ao enfrentar 0 intimidante primeiro
rascunho.
Em terceiro lugar, mantenha sob controle a complexidade
de sua larefa. Todas as partes do processo de pesquisa afetam
as demais, portanto use 0 que aprendcu sobre cada parte, de
modo a dividir 0 complexo conjunto de tarefas em etapas rn anejaveis.
Supere os primeiros estagios. encontrando urn topico
e fonnulando algumas boas perguntas, e, entao, seu trabalho
sera mais eficaz mais tarde, quando voce redigir 0 rascunho e
revisa-Io. Inversamentc, se puder prever como fani 0 rascunllO
e a revisao, ten} maior eficaeia na etapa de procurar urn topico
e formular urn probl ema. Podeni dar as tarefas a atem;ao
que cada uma requer, se souber como coordemi-Ias. quando se
concentrar em uma em particular, quando fazer uma avaliaC;ao,
como revisar sellS pianos e ale mesmo quando altera-los.
Em quarto lugar, conte com seu professor para ajuda-Io a
veneer suas di f iculdades. Bons professores querem que seus
alunos teoharn sucesso e prcstam-lhes aj uda.
ryIa is importante de tudo, reeo nh e~a 0 problema pelo que
ele e: suas dificuldades nao indicam necessariamente que voce
Icnha fa lhas g raves. Para superar os problemas que todos os
iniciantes enfrentam. faca exatamente 0 que esrn fazendo, 0 que
todo pesquisador bem-sucedido sempre fez: va em frente.
24. Sugestoes uteis:
UsIa de verijica,ao para ajuda-Io
a compreender seus leilores
".
Embora voce deva pensar em seus leitores desde 0 come~
o . nao espere poder responder a lodas as perguntas scguintes '
ate estar proximo do fim de sua pesquisa. Porlnolo, plancje retomar
a esta lista de verifica930 algumas vezes, cada vez aprimorando
mais 0 pape! que ira criar pam seus leitores.
Como e sua comunidade de leitorcs?
1 - Seus leitores sao:
• Profissionais da area de sua pesqui sa?
• Leitores comuns que tern:
- niveis d iferentes de conhecimento e interesse?
- niveis semelhantes de conhecimento e interesse?
2 - Para cada grupo uniforme de leitores, repita a analise
que se segue.
o que seus Icitorcs espcram que voce fa~a por elcs?
1 - Que os divirta?
2 - Que os ajude a resolver algum problema real?
3 - Que os ajude a compreendcr melhor algum assunto?
Quanto sabem seus leilorcs?
1 - Nivel de conhecimento geral (comparado ao scu):
muito menor menor 0 mesmo maior muito maior
2 - Conhecimento do assunto em quest300 (comparado ao
seu):
muito mellor menor 0 mesmo maior muito maior
3 - Que interesse especial cles tern pelo assunto?
4 - Que aspectos do assunto esperam que voce discuta?
r
PESQUISA. PESQUlSAOORES E LErTORES 33
Eles ja compreendcram seu problema/sua questao?
1 - Seus leitores reconheccm 0 problema que seu trabalho
propoe?
2 - E 0 tipo de problema que eles tern, mas que ainda nao
reconheccram?
3 - 0 problema nao e deies, mas seu?
4 - Levarao 0 problema a serio imediatamente, au voce precis3ra
persuadi-los de que e importante?
5 - 0 problema da pesquisa e motivado por uma dificuldade
tangivel c real, au por uma dificuldade intelectual,
conccitual?
Como clcs rcagicio a sua solu~ao/rcsposta'!
- 0 que voce espera que seus lcito res Ja(:am como resultado
da leitura de seu relat6rio? Que aceitem as novas
informa90es, mudem certas opinioes, pratiquem
a lguma 3930?
2 r A solu930 ira contradizer as opinioes deles? Como?
3 - Os Icitores ja tern alguns argumentos padronizados
contra sua solu93oo?
4 - A solU930 sera apresentada isoladamente, ou os leitores
vao qucrer conheccr as etapas que leva ram a cia?
Como seu relat6rio sera recebido?
I - Sells lei tares pediram seu relat6rio? Voce 0 enviara
sem que seja solicitado? Eles 0 encontrarao numa publica9ao?
2 - Antes de atingir seus leitorcs principa is, seu relat6rio
precisara scr aprovado por um intermediario - seu supervisor,
0 editor de uma publica9uo, um assistenle de
diretor au ad ministrador, lim tccnico especiali sta?
3 - Os leilorcs esperam que scu relal6rio obede9a a urn
formalo padr3oo? Se for 0 case, qual?
25. T
PARTE II
Fazendo perguntas,
encontrando respostas
Prologo: Planejando seu projeto
SE vocl: JA LEU E5TE LIVRO UMA VEZ, cnHio esta pronto para
iniciar seu projeto. Mas, antes de ir it biblioteca, faJ;a urn planejamento
cuidadoso. Se 0 trabalho que seu professor lhc indicou
define uma pergunta e especifica cada etapa do projeto,
leia por alto os pr6ximos dois capitulos nova mente, siga as instrm;
5es de seu trabalho, entao retorne it Parte III antes de come'
Var a redigir 0 rascunho. Se, por outro lado, voce precisa planejar
sua propria pesquisa, ate mesmo encontrar urn assunto,
podera sentir-se intimidado. Mas eonseguira desincumbir-se da
tarefa, se executa-Ia passo a passo.
Nao existe uma formula pronta para orientar todas as pesquisas:
voce tera de gastar algum tempo pesquisando c lcndo,
ate descobrir onde esta e para oode vai. Perdera tempo em situa~
5cs sem saida, mas acabani aprcndendo mais do que sell
trabalho cxigc. No final, pon!m, 0 esfon;o extra ira compensar,
nao apenas porque voce fara urn born relatorio, mas tam bern
porque vent aumentada sua capacidade de lidar mais cficazmente
com problemas novos.
Quando come'Var, leve em conta que lera de considerar as
seguintes ctapas iniciai s:
Estabelec;:a urn t6pico bastante especi fico para permitir-lhe
dominar uma quantidade razoavel de informac;:oes, nao "a
historia da redac;:ao cientifica", mas "os ensaios das A las da
Real Sociedade ( 1800- 1900), precursores dos modernos artigos
cientificos".
26. A ARTE DA P£SQUIS.A
A part ir do assunlo escolhido, desenvolva perguntllS que iraQ
Dortear sua pesqui sa e orientar voce para urn problema que
pretenda resolver.
• Reuna dlldos relevantes para responder as pcrguntas.
Depois de coletar os dados que respondam ~ maioria de
suas perguntas, voce tera, e claro, de organiza-Ios em forma
de urn argumento (0 Icma da Parte III) c rcdigi -Ios num rascunho
(0 lema da Parte IV).
A medida que for colctando, ordenando e reunindo suas
in form a~oes , escreva a maximo que puder. Grande parte desse
trabalho de reda((ao sera fazer simples anota((oes, apenas para
registrar 0 que voce encontrou, sem esquecer as "anota((oes para
compreensno". Faya descriyoes em liohas gerai s, di agramas
mostrando como ha relayao entre fatos aparentemente discrepantes,
resumos de fontes de informac;:oes, "posic;:5cs" e "escola
s", li slas de easos re lac ionados, anole as contradi coes em relac;:
no ao que voce Jeu, e assim por diante. Ainda que apenas uma
pequena parte dessas anota~oes preliminares venha a aparecer
em seu rascunho fi nal, e importante faze-Jas, porque escrever
sobre suas fontes, a medi-da
que lIvon9Q, ajudani voce
a cntcnde-Jas melhor e
estimulara 0 desenvolvimento
de seu senso critico.
Tomar ootas lambem
o aj udara, quando chcgar 0
momento de sentar-se para
c ome~a r seu primeiro
rascunho.
Voce logo descobrici
que nao pode cumprir cssas
ctapas na ordcm exata
em que as aprese ntamos.
Percebeni que csta esbocando
urn sumario antes de
ter coletado todos os dados,
formulaodo urn argumento
antes de ler todas
Quais sao seU5 dodos?
Noo imporlO 0 que 6reQ peflen~
om, todos os pesquisodores usom
in fOf~6es como evidencias para
suslentor suas ofirma<;:6es . Mos,
dependendo de suo 6reo de 0100'
~60. eles alribuem nomes difereo·
res as evidencias. Umo vez que 0
nome mbis comum e dodos, adoIcremos
esse termo quando nos
referirmos a quolquer ripo de infor·
mot;6o usodo nos d iversas 6reos.
O bserve que por dodos eslaremos
nos relerindo a mais do que 0 infor
rno<;6es quontiloti.oUs, comuns nas
cit§ncias nolurois e sociois, emoora
0 termo passe soar eSlranho aos
ouvidos de pesquisadores do 6reo
de ciencias humonos.
r I
I
FAZENOO PERGUNrAS, ENCONTR.ANDO RESPOSTAS 37
as provas, e, quando pcnsar que tern urn argumento que vale a
pena, podera descobrir que precisa voltar it biblioteca em busca
de mais provas. Talvez chegue mcsmo a descobrir que precisa
repensar as perguntas que formuJou. Pcsquisar nao e urn processo
no quaJ pode-se ir de urn ponto a outro de modo simples,
lincar. No cntanto, por mais indireto que seja seu progresso,
voce se sentira mais conf iante de que esta progredindo de fato,
se entcoder e administrar os componentes do processo.
27. Sugestoes uteis:
Trobalhondo em grupo
Sugerimos que voce p~a a seus amigos que Iciam versoes
de sell relatorio, de modo a poder ve-Io como os outros
o vecm. Mas tambcm pode acontecer de Ihe pcdircm para redigir
urn relat6rio como parte de urn trabalho em grupe. Nesse
case, voce Icra pel a frente tanto oportunidades quanto desafio
s: um grupe dispoe de mais recursos do que alguem trabaIhando
sozinho. mas, para tirar proveito dessa vantagem, preeisa
conduzir-se com muito cuidade.
Tres aspectos fund amentais do trabalho em grupo
Conversar bastante
o primciro aspecto fundamental dos trabalhos em g rupa
e que os participantes devem conversar bastante e chegar a urn
consenso sebre urn plano de trabalho. Mais aioda do que no
casa de urn autor isolado, 0 grupo precisa de urn plano, e conversar
a respeito e 0 unico modo de cri a-Io. acompanhar seu
progresso e. 0 que e rnais importante. muda-Io quando 0 projeto
est iver rnais definido. Marquem reunioes regulares, mantenham
contatos telewnicos semanai s, tToquem ende~os, e-mail,
fac;am tudo 0 que pudcrem para garantir que uns conversem
com os oulros sempre que houver oportunidade.
Antes de comec;a r, certifiquem-se de que 0 grupo esteja
de acordo quanta as melas - a pergunta au problema de que ira
tralar, a tipo de afirmac;ao que espera apresentar, a tipo de evidencias
nccessarias para sustenta-la. 0 grupo modificara cssas
mclas a medida que as participantes camprcenderem melhor
o projeto, mas de5de 0 inicio deve haver urn entendimento sobre
FAZENOO PERGUNTAS, ENCOtvrRANDO RES{~AS 39
isso. 0 grupo deve falar sobre os leitores - 0 que eles sabem.
o que acham importante, 0 que voces esperam que eles fac;am
com seu relatario. Finalmente, 0 grupo deve delinear as etapas
para atingir as metas, estabclecendo 0 que cada urn deve fazer
e quando.
Para focalizar as discussoes nas etapas do projeto, usem
estes capitulos como guia. Utilizem as listas de verificac;iio
para trocar idcias sobre os leitores (pp. 32-3), para fazer pergunlas
sistematicamente (pp. 50-4), reforrnula-Ias em forma
de urn problema (pp. 68-77). Designem alguern para manter
urn esboc;o que eSleja sempre atualizado, primeiro como esboc;
o do tapico (p. 199), depois como esboc;o da argurnentac;ao
(p. 140) e finalmente de seus pontos essenciais (pp. 200-201).
Se 0 projelo envolver muitos dados, estabelcc;am uma lista
para reuni-Ios, mantenham urna rc lavao de fontes consultadas
e ainda a serern consultadas, com anotac;:oes breves sobre a
imporHineia de cada fonte.
Quanto mais os integrantes do grupo conversarem, mais
facil idadc terao para escrcver juntos. Se, como e 0 caso dos tres
autores deste livro, os integrantes tiverem a mesrna formaC;ao
acadcmica, ja trabalharam juntos e sao capazes de prever as
opinioes uns dos outros, poderao conversar menos. Mcsmo
assirn, na redac;ao deste livro. nos tres batemos recordes de telefonemas,
trocamos centenas de mcnsagens de e-mail enos
reunimos urna duzia de vezes (em certas ocasioes, dirigindo
mais de cern quil6metros para fazer i5S0).
Concordar para discordar e depois para cOflcordar
Estar de acordo c esscncial, mas nao espcrem que 0 grupo
coneordc unanimemente sobre todos os assuntos. Podem espcrar
divcrgencias sabre detalhes, as vezes bern Ilumerosas. Resolvidas
essas di vergencias, podcrao surgir as mclhores opin ioes
do g rupo, porque voces terao de ser explieitos quanto aquila
em que acrcditam e por que. Par outro lado, nao ha nada que
impe~a mais 0 progresso do que alguem ficar insistindo em sua
28. 40 A AR7E VA PliSQUISA
versao, ern incluir sua parcela de dados. Se a primeira regra do
trabalho em grupo e conversar bastante, a segunda e manter as
divergencias em equilibria. Se 0 desacordo for sabre que~toes
que nao representem urn impacto significati.vo sob.re~ cO~Junto
do trabalho. e melhor esquecer. Guardern sua mtranS!gencl3 para
questoes de principio etico all de acorde fundamental.
Organizar~se como equipe. com urn lider
o grupo deve pedir a algucm para atuar como moderador,
agilizador, coordenador, organizador. Essa fun ~ao recebe nomes
difcrentes, mas a maioria dos grupos precisa de algucm para
manter 0 cumprimento do cronograma, indagar sabre as progressos,
mediar as discussoes e, quando 0 grupa parecer travado,
decidir qual caminho seguir. Os integrantes do grupo~pod em
altcrnar-se nessa fun(fao, ou urna pcssoa s6 pode cxerce-Ia durante
todo 0 proj eto. 0 resto do grupo sirnplesrnente concorda
qu~ , depois de urn extenso debate, e 0 rnoderadorlagilizador
quem torna urna decisao, com a qual todos concordam,
antes de seguir em frcnte.
Tres estrategias para trabalhar em grupo
A seguir, veremos tres maneiras de os gropos organizarem
seu trabalho e alguns dos riseos que cada urna delas oferece.
A maioria dos grupos eostuma combi~ar as estrategias que se
ajustem melhor a sua s itu a~ao em particular.
Dividir, delegar e ir a luta
Esta estrategia explora 0 fato de que urn grupo tern mais
habilidades do que urn individuo. Tudo vai mclhor quando os
integrantcs tern experiencias e talentos difercntcs, e 0 grupo
divide as tarefas para fazer 0 melhor uso de cada urn. Por cxern-
FAZENDO PERGUNrAS, £NCON/RANDO RESPOSTI1S 41
plo, um grupo que trabalhe numa pesquisa sociol6gica pode
decidir que duas pessoas sao boas para rcunir dados, oulras
duas para analisar esses dados c produzir grMicos, duas mais
para redigir 0 rascunho, e que todas participarao da ~d~(fao e
revisao do texlo. Esta estrategia dcpendc de cada partlclpante
reservar tempo suficiente para seu trabalho, na seqiiencia em
que esse liver de ser feito . Se os outros tiverem menos que
fazer num determinado momento, podcrao executar OUlros
tipos de trabalho, de acordo com as necessidades.
o uso menos proveitoso desta cstrategia e dividir 0 documcnto
em partes para cada participantc pcsquisar, organizar,
fazer 0 rascunho do texto e revisa-lo. Isso so funciona quando
as partes de urn relatorio sao rclativamcntc independentes. Mas.
mesmo assim, alguem ten't de cuidar de reunir tadas as partes,
e isso podeni ser urn trabalho desagradavel, especialmente se
os participantcs do grupo nao eonsultaram uns aos outros ao
longo do caminho.
Nao importa como 0 grupo divida 0 trabalho: urna grande
eapacidade de administrarvao torna-se n eces~a.ria , porque 0
ma ior perigo e a falta de coordenac;ao. Caso dlvldam as tarefas
ou partes, os participantes devem scmpre conversar sobre
a que estao fazendo e dc ixar perfeitamcnte claro quem tern a
obrigacao de fazer 0 que. Entao, coloquem essas detcnninarvoes
no papel e entreguem uma copia a cada urn.
Escrever [ado a lado
Em alguns grupos, os integrantes participam de todo a
trabalho, atuando lado a lado durante todo 0 proccsso. Esta
estrategia func iona melhor quando 0 grupo c pequeno, bastante
unido, trabalha bern em conj unto e dcdica bastante tempo a.
larefa - par exemplo, urn grupo de estudantes de enge nharia
que dediearn dois semestres ao dcsenvo lvimento de urn projeto.
A desvantagem e que algumas pessoas fieam pouco a vontade
para fa lar sobre idcias incomplctas antes de defini-las par
cscrito. Outras podem achar ainda mais incomodo eomparti-
29. 42 II AR1'E DII PE$QUISA
Ihar rascunhos e textos nao revisados. Os participantes de urn
grupo que usa esta estrategia devem seT tolerantes uos com os
Qutros. 0 que costuma acontecer e que a pessoa mais confianIe
do grupo ignora os scntimcntos dos autros, domina 0 pro-cesso
e inibe 0 progresso. ~
"
Trabalhar em turnos
Em alguns grupos, os participantes trabalham em conjunto
durante todo 0 dcsenvolvimento do projeto, mas redigcm 0
texto e 0 revisam em turnas, de modo a faze-Io evoluir para a
versao final como urn todo. Essa estrategia e cfieaz quando os
participantes divergem sobre 0 que e importante, mas suas divergencias
complementam-se em vez de se eontradizerem.
Por exemplo, num ,.grupo envolvido num trabalha sobre 0
.Alamo, uma pessoa pode se interessar pelo choque de culturas,
outra pelas conseqiiencias politicas e urna terceira pelo
papel da narrativa na cultura popular. Os participantcs podem
trabalhar a partir das mesmas fontes, mas identifiear aspectos
diferentes do assunto como os mais importantcs. Entretanto,
depois de compartilharem 0 que descobriram, revezam-se na
reda~1io das vcrsoes de urn texto Unico. D primeiro redator cria
urn rascunho incompleto, mas com estrutura suficiente para que
os oulros vejam 0 es bo~o da argurncllto e 0 ampliem e reorganizem.
Cada participante, entao, em sistema de revezamento,
encarrega-sc do rascunho, acrcscentando e desenvolvendo
as ideias que Ihe pa re~a rn mais importantes. 0 grupo cOllcorda
que a pessoa que esteja trabalhand9 no texto no momento
seja seu "dono", podendo, portanto, fazer as mudan(,;as que
achar Ilccessarias, desde que essas mudan ~as refli tam a interpreta(,;
ao do grupo como urn todo.
D risco c que 0 produto final pareceni atender a propositos
contradit6rios, seguindo urn caminho em ziguczague, indo
de urn interesse incompativel pard outro. Urn grupo que lrabalha
pelo sistema de turnos precisa estar de acorda sobre a meta
final e a forma do todo, e cada integrante devc respeitar e accitar
as perspectivas dos outros.
FAZENDO PERGUNTAS, ENCONTRANDO R£SPOS TAS 43
Pode seT que seu grupe ache que pode usar urna estratcgia
difercnte em cada fase do trabalho. Por cxemplo. no inicio
do plancjamento, ta lvez voces quc iram trabalhar lado a lado,
pelo menos ate definirem 0 scntido geral do problema. Para a
coleta de dados, voces podedio achar mais eficaz iTem a luta
separadamente. E, nas fases finais da revisao, podcriio qucrcr
trabalhar em turnas. Ao escrever este Iivro, misturamos as estrategias.
No inicio, trabalhamos lade a lado ate termos urn esbo~
o. Desenvolvemos entao capilu los separados e voltamos a trabalhar
lado a lado, quando nosso progresso ex igiu, e sentimos
que precisavamos revisar nosso plano (0 que aconteccu tres
vezes, pelo menos). Na maior parte, entretanto, dividimos 0
trabalho, para que cada urn redigissc capltulos independentes.
Quando 0 texto fi cou completo, trabalhamos em turnos, e 0
resultado foi que muitos capitulos assemelham-se bern pouco
aos originais rcdigidos por urn ou outro de nos .
o traba lho em grupo e dificil, e as vezes duro para 0 ego,
mas tambem pode ser altamente compcnsador.
30. Capitulo 3
De topicos a perguntas
Neste capitulo, voce veri como usar seus interesses para
encontrar um t6pico, restringir esse t6pico a uma dirnensao
controlAvel e, entio, elaborar pergunw que serio 0 ponto central
de sua pesquisa. Se voce t urn estudanle avam;ado e ja
tern dezcnas de t6picos aos quais goslaria de se dedicar, pode
pular para 0 Capitulo 4. No entanto, se esta come'Vando seu
prirnciro projclO, acharn cste capitulo bastante uliL
3_1 Interesses, topicos, pcrguntas e problemas
SE voc~ TEM LIBERDADE para se dedicar a qualquer t6pico
de pesquisa que a interesse, isso podera ser frustrante - tantas
cseoLhas, tao poueo tempo. Eseolher urn topico, entretanto,
e 56 0 primeiro passe; portanto nao pense que, tcndo eneontrado
urn, voce s6 precisani proeurar informa'Yoes e relatar 0 que
enco~trou . Alem de urn t6pico, voce precisa encontrar urna ratio
(independente daqucla de cumprir sua tarefa) para dedicar
semanas ou meses pesquisando sabre ele e, cntao, pedir aos
leitores que gastem tcmpo JeDdo a respeito deie.
Pesqui sadores fazem mais do que cavar informa~oes e relata-
ias. Usam essas informafoes para responder a pergunta
que seu topico inspirou-os alazer. No principio, a pergunta pode
ser interessante apenas para 0 pesquisador: Abraao Lincoln era
born em matematica? Por que os gatos csfregam 0 focinho nas
pcssoas? Existe mesmo algo como urn tom de voz perfeito inato?
E assim que as pesquisas mais significativas come~am -
com uma comichao intelectual que apenas uma pessoa sente,
levando-a a querer co~ar-se. A uma certa altura, porem, 0 pesquisador
tcm de decidir se a pergunta c sua resposta serao significativas,
de inicio para 0 pesquisador apenas, mas finalrnente
para outros: urn professor, colegas, urna cornunidade inteira
de pesquisadores.
Chegando a esse ponto, cle precisa encarar sua tarefa de maneira
difercnte: deve ter como objetivo nao s6 encontrar res-