SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 183
Baixar para ler offline
AARTE 
DAPESQUISA 
Wayne C. Booth 
Gregory G. Colomb 
Joseph M. Williams 
TradUl;;iio 
HENRIQUE A. REGO MONTEIRO 
Martins Fontes 
sao Paulo 2008
£f./. ~ foi p"NK.U "'WftlllOW1tl • .". i"gil< """ 0 111 .. 10 
TH( CRAfT OF R£S~RCH I"" U";w,,.ilyo/Chiargo Ptns. 
Ut........t",. TJor Un;wrs!ly OfCJoimg<> Pms, C"",,,I"_ l/IitHl<is, £UI_ 
O>py.iglr' C 1m ",. TIlt u .. ;....,.'Y of Orag<'. All righls ~rotd. 
Cl1f1Jrigh' e 2000. u-n. MlTti.., r ",.I.s Edi' ..... LULt .• 
Sfo ""wID. ,. ••• I"ft'<"'~ di<,"lt>_ 
I' ed i~io l(IOO 
l ' c<I ;(io 2005 
2' ' ;Ulc", 2(.()8 
Coo.de na~lo ,10 t •• d ,,(~o 
WILSON ROB£RTOCAMBETA 
T •• du ~lo 
II£NRIQUE A.. R£eo MONTDRO 
Rcv;do di t.~du(lo .,«.. . iu 
v". Mo.;" Mo"l1Uf 
rrepar.(lo do o rig in.1 
CIi"" , KoJrigw ... d. Abreu 
Rrvisl>.o. p ili"'" 
An. MIl". dt o/i"n", ~ So,,,,,,,,, 
'''''''y PO..., s..".,. 
r ... d U(io , .Ui •• 
w..ld.> AI"", 
P.&in.~ioIFotolit ... 
S,"";" J Dtsr"toOIoi.....",., U,/.m./ 
D>do<Il nlnnarion.o~ "" Colaloga(io nil f'ub~ (aM 
(O rnar. B'Milftt-. do U ...... Sr. 8r .... 1) 
60011. WloY"" C 
A an~ da po5<[uisa I Wayne C, Booth. C<E"gory G. Colomb. 
IoHph M. Williams; .Ddu ...... . knriqt>r A. il.q;:o MOII~"" _ 
2' .... - Sio I'auk> : Manins Fonlft. 2005. _ ( Feru.""",Ia$) 
Titulo orig'''''': Thr e r. n of n'SNrch. 
ISBN 85·336-2157-4 
I. Pt-squisa - M"'OOok>£Y 2. il.t<U<;l o Iknica I. Colon'b. 
G.q;:o .y C .. U. William •. Jooc-ph M .. Ill. TItulo. IV. ~r~. 
CDO-OO1.42 
Indie" p~.a < . ... 1080 .;ste rn . l;en, 
I . M",OOolog" 001.42 
2. M~todo logla da P""!ui.. 001.42 
3 PP.!'qul .. " M ... <><IolO8i. 001.42 
"fod05 os di~il()5 d~l~ fflil;ifo rrservados d 
LiV' IJ , ia M Arlin$ Fonl<':$ Cdit orQ LtdQ. 
RII~ eouulhdro RJ>mlllho, 330 OJ325-OOO saQ Pllilio SP 
"fd. (1 1) 3241 .3677 FlU: Ill! 3105.6993 
Bra$il 
t " I101i/: il1/o@lIIIlrlin~fol!lt$tdifo ..... rom.br htlp:/lWWIL'.llIJIrf ;ns[ontestdifOnl.rom .br 
indice 
PreJacio ............. ............. ..... .................... .. ... .. .......... ....... . 
I. Pesquisa, pesquisadorcs e IcHores ......................... . 
Pro/ago: Iniciando urn projelo de p esquisa .. ... ... .. ... . 
I. Pensar par escrito: os usos p ltblico e privado da 
pesquisa ................................................. ......... ...... ... . 
1.1 Por que pcsquisar? ................................. ............. . 
1.2 Por que redigir urn relatorio? ................. .. .......... . . 
1.3 Por que claborar urn documento formal? .. ......... . 
2. Relacionando-se com sell leitor: (re)criando a si mes-rno 
e a sell pll.blico .. .. .................................. .............. . 
2.1 Dialogos entre pesquisadores .......................... .. . 
2.2 Autores, leitores e seus papeis sociais ................ . 
2.3 Leitores e seus problemas comuns ................. .. .. . 
2.4 Auto res c seus problemas comuns ...................... . 
S UGESTOES UTEIS: Lista de ve rifi ca~ao para ajud3.-1o a com-preender 
seus leitores .............................................. .. ...... . 
II. Fazcndo perguntas, encontrando respostas ... ..... .. . 
Prolago: Planejando seu projeto ... .. ....................... .. . 
SUGESTOES UTEIS: Trabalhando em grupo ........... ... ......... . 
XI 
7 
7 
9 
II 
15 
15 
17 
24 
29 
32 
35 
35 
38
3. De topicos a perguntas .................. ............................ 45 
3.1 Interesses, t6picos, perguntas c problemas.......... 45 
3.2 De urn interesse a urn topico ............................... 46 
3.3 De urn tbpico amplo a urn espccifico.................. 48 
3.4 Dc urn lopico especifico a perguntas .................. 50 
3.5 De uma pergunta it avalia9ao de sua importancia . 54 
SUGESTOES OTEls: Dcscobrindo topicos ............... : ........... :,. 59 
4. De perguntas a problemas .... .. ... .................... ... ......... 63 
4.1 Problemas, problemas, problemas .......... ............. 64 
4.2 A estrutura comum dos problemas ...................... 68 
4.3 Descobrindo um problema dc pcsquisa ............... 77 
4.4 0 problema do problema ..................................... 81 
5. De pergllntas a fo ntes de illformaroes ................. ..... 85 
5.1 EnconLrando informa~oes em bibliotccas............ 86 
5.2 Colhendo informavoes com pcssoas ...... ...... ...... 9 1 
5.3 Trilhas bibliogrMicas. ............... .......................... 94 
5.4 0 que voce encontra ............... ............................. 95 
6. Usa ndo fo nles de informat;oes ... ................................ 97 
6.1 Usando fontcs secundarias .................................. 97 
6.2 Leia criticamcntc ................... ... ........................... 99 
6.3 Fa~a anota<;:ocs completas .................................... 100 
6.4 Pe<;:a ajuda ............... ............................................. 107 
SUGESTOI!S LrrEIS: Lcitura f<t pida....................................... 108 
HI. Fazendo uma afirma~ao e sustentando-a .............. 113 
Pr%go: Argumentos, rascunhos e discussoes.......... 113 
7. eriando bons argumentos: uma visGO gem/ ............. 117 
7.1 Discussoes c argumentos ............ .. .... .... ............... 117 
7.2 Afirmayocs c evidencias. ... ... ........ ...................... . I 19 
7.3 Fundamentos............. ............ ................... .. .... ...... 120 
7.4 Ressalvas............ .. .......... ..... .................. ... .......... .. 122 
8. Ajirmafoes e evidencias ......... ..... ... ... ........................ 125 
8. 1 Fazcndo afirmavocs de peso.......................... .. .... 125 
8.2 Usanda afirma~Oes plausiveis para orientar sua 
pesqutsa ......... ..... ................... .......................... .... 128 
8.3 Apresentando evidencias confiaveis ................... 129 
8.4 Usando evidencias para desenvolvcr C organizar 
seu relat6rio ......................................................... 138 
SUGESTOES UTEIS: Uma s istematica de con tradi ~Oes ........ 142 
9. Fundamentos........................................................ ...... 147 
9 .1 Fundamcnto: a base de nossa convic'Yao e de 
nossa argumenta<;:ao.... .......................... ..... .... .... .. 147 
9.2 Com que se parece urn fundamento? ...... .. ...... .... 150 
9.3 A qualidadc dos fundamentos ...................... ... .... 152 
S UGESTOES UTEIS: Contestando fundamentos.. .................. 167 
10. Qualificaroes ................. .... .. .......... .. .... ................ ...... 173 
10. J Vma revisao ................................. ... .. .. ..... ........ .. 173 
10.2 Qualificando seu argumcnto...................... .... .. .. 176 
10.3 Elaborando urn argumento completo ........ ........ 186 
10.4 0 argumento como guia para a pesquisa e a 1ei-tur3 
.............................................. ......... .... .... ...... 188 
10.5 Algumas pal avras sobre sentimentos fortes ...... 189 
I 
S UGESTOES On:.ts: Argumcntos - duas armadilhas comuns.. 191 
Iv. P.-eparando-se para redigir. redigindo e revisando 195 
Pro/ago: Plall ejalldo novamente .......................... ..... 195 
S UGESTOES lrrEIs: Preparando 0 esbovo ................... ......... 199 
11 . Pre-mSCUllho e rasclmho ................................. ......... . 203 
11 .1 Preliminares para 0 rascunho ......... ......... .. ........ 203 
1 1.2 Planejando sua organizavao: quatro armadilhas 206 
11.3 Urn plano para 0 rascunho............................ .. ... 209 
11.4 Criando urn rascunho passivel de revisao ......... 2 16 
11.5 Uma armadilha a cvitar a lodo cusLo .... ... .. ... ..... 2 18 
11 .6 As u1timas elapas ..................................... .... ...... 222 
S UGESTDES UTEI S: Usando c il a~oe s c parMrases .......... ..... 225
12. Apreselltac:iio visual das evidencias .......................... 229 
12.1 Visual ou verbal? ......................... ...................... 229 
12.2 Alguns principios gerais de elaborac;:ao ............. 232 
12.3 Tabelas ............................................................... 234 
12.4Diagramas .......................................................... 237 
12.5 Graficos ............................................................. 244 
12.6 Contro lando 0 impacto retorico de urn recurso 
visual .................................... ....... .. ... ... ............. : . 246 
12.7 Comunicac;:ao visual e etica ............................ : .. 249 
12.8 Ligando palavras a imagens .............................. 251 
12.9 Visualizac;:ao cientifica....................... ................ 252 
12. 10Ilustrac;:oes ........................................................ 252 
12.11 Tomando vis ivel a J6gica de sua organizac;:ao. 253 
12.12 Usando recursos visuais como urn auxilio a 
reflexao .......................... ............. ..... ................ 255 
SUGESrOES lIrEIS: Pequeno guia para reeorrer a urn orien-lador 
.................................................................................. 257 
13. Revisando sua organizac:iio e argumenla{:iio ............ 259 
13 .1 Pensando como leitor .............. ...... ..................... 259 
13.2 Analisando e revisando sua organizac;:ao ........... 260 
13.3 Revisando seu argurnento ............. .. ...... ............. 268 
13.40ultimopasso ................................. .................. 271 
S UGESr OES (rTElS: Titulos e sumarios .............. ................. 272 
14. Revisando 0 estilo: contando sua historia com cla-reza 
................... ..... ..................................................... 277 
14.1 Avaliando 0 esti lo .............................................. 277 
14.2 Primeiro principio: hist6rias e gramatica .......... 279 
14.3 Segundo principio: 0 antigo antes do novo ..... .. 289 
14.4 Escolhendo entre as vozes ativa e passiva ......... 291 
14.5 Urn ultimo principio: 0 mais complexo por 
uitilno ................................................................. 293 
14.6 Polimento final ........... ...................... ................. 296 
SUGESrOES tJrEIS: Uma rapida revisao .:. ........................... 297 
15 Introdu90es .... ............................................................ 299 
15.1 Os tres elementos de uma introduc;:ao .... ............ 299 
15.2 Dec1are 0 problema............................................ 302 
15.3 Criando uma base comum de compreensao com-partilhada 
....................... .................................... 308 
15 .4 Desestabilize a base comum, enunciando seu 
problema ............................................................ 309 
15.5 Apresente sua soluc;:ao ................. ...................... 3 13 
15.6 Rapido ou devagar? ................................. .......... 3 16 
15.7 A introduc;:ao como urn todo .............................. 3 17 
S UQESTOES lITEIS: As primeiras e as ultimas palavras ...... 319 
V. Co n sidera~oes finais ................... ............................. 325 
Pesquisa e etiea ........................ ....................... 325 
Pos-eserito aos professores .... ......................... 329 
Ensaio bibliografico ........................................... ..... .. 337 
indke rem;ss;vo ............................. ................................... 345
'. 
Pre/acio 
ESCREVEMOS ESTE UVRO pensando nos pesqui sadores es­tudantcs. 
desde os novatos mais inexpcrientes ate os profi ssio­nai 
s. cursando p6s-graduayao. Com elc e5peramos: 
• atrair a atenr;ao dos pesquisadores iniciantes para a natureza, 
os usos C os objetivos da pesquisa e de seus relat6rios; 
• orientar as pcsquisadores iniciantes e intermediarios quanta 
as complexidades do planejamento, da organiza<;ao e da elabo­ra<; 
ao do esb090 de urn relat6rio que proponha urn problema 
significativo e oferer;a uma 501u<;30 convincente; 
• mostrar a (odos os pesq uisadores. do iniciante ao avan<;ado, 
como ler sellS relat6rios da maneira como os leitores 0 fariam, 
idcntificando passagens em que cles provavelmente encon­trariam 
dificuldade e alterando-as rapida e e fi caz.m~nte. 
Embora outros manuais sobre pesquisa abordem algumas 
dessas questocs, este se diferencia de diversas maneiras. 
Muitos manuais em circul a<;30 reconhecem que os pesqui­sadores 
nao seguem a sequencia que vai de encontrar urn t6pico 
ao estabelccimento de uma (ese, de precncher fichas de anota­yoes 
it elaborar;ao de urn rascunho e it revis30. Como sabe qual­quer 
urn que ja tcnha passado por essa expcricncia, a pesquisa 
na realidade anda para a frente e para tras, avanr;ando urn passo 
ou da is e recuando, ao mcsmo (cmpo antecipando etapas ainda 
nao iniciadas e, entao, prosseguindo uma vez mais. Mas, ate 
onde sabemos, nenhum manual tentou mostrar como eada par­te 
do processo influencia todas as outras - como 0 ato de fazer 
perguntas sebre um {6pico pode preparar 0 pcsquisador para
XII A ARTE DA P£SQUISA 
redigir 0 rascunho, como 0 processo de rcdigir 0 rascunho pode 
revelar problemas com urn argumento, como os elementos de 
uma boa inrrodu<;ao podem mandar 0 pesquisador de volta a 
biblioteca para pesquisar mais. 
Este livro explica por que os pesqui sadores deven; traba­Ihar 
simultaneamente nos diversos estagios de seu projeto, 
como essa sobreposic,;ao pode ajuda-Ios a compreender melhor 
o problema e a administrar a compJcxidade que esse processo 
acarreta. Isso significa, e claro, que voce ten! de ler este livro 
duas vezes, porque mostraremos nao apenas como os esuigios an­teriores 
antecipam os posteriores, mas tambcm como os poste­nores 
motivam os anteriorcs. 
Em virtude da complexidade que uma pcsquisa cnvolvc, 
fomos explicitos a respeito do maior numeco possivel de eta­pas, 
incluindo algumas geralmente tTatadas como partes de urn 
misterioso processo criativo."Entre os assuntos que "destrincha­mos" 
estao os seguintes: 
• como converter 0 interesse por urn assunto em urn topico, 
esse topico em algumas boas perguntas e as respostas a essas 
perguntas na so lu~ao de urn problema; 
• como criar urn argumcnto que sati sfac,:a 0 desejo dos leitores 
de saber por que deveriam aceitar sua afirmaC;ao; 
• como prever as objec;5es de leitores sensalos, mas ceticos, e co­mo 
qualificar adequadamente as argumentos; 
• como criar urna introduc;ao que "venda" a importancia do 
problema de sua pesquisa aos leitores; 
• como redigir conc1usoes que fac,:am a leitor comprcender nao 
apenas a afimlac,:aO principal, mas tambcm sua mais arnpla 
. _. I lmportancla; 
• como ler seu proprio texto da maneira como os outros a fa­riam, 
e assim saber melhor que pontos alterar c como. 
Sabemos que alguns pesquisadores iniciantes seguiriio nos­sas 
sugestoes de urn modo que poderia ser considerado mcdi­nico. 
Nao estamos muito preocupados com isso, porque acre­ditamos 
que e melhor alcanc,:ar urn objetivo mecanicamente do 
que nao alcanc,:ar objetivo nenhum. Acrcditamos tambem que 
os professores podem confiar nos alunos, sabendo que eles supe- 
PREFAClO XIII 
rarao as inevitAveis dificuldades iniciais. Todos nos tendemos a 
agir mecanicamente quando experimentamos uma tecnica pel a 
primeira vez, mas finalmente conseguimos ocultar seus auto­matismos 
por tras de seu sentido verdadeiro. 
QutTO aspecto di stinto deste livro e que encorajamos in­sistentemente 
os pesquisadores a pensarem em seus leitores e 
mostramos c1aramente como faze-Io, explicando como os lei­tares 
Icern. 0 objetivo de um relatorio de pesquisa e estabele­cer 
urn dialogo com pessoas que possam nao estar di spostas a 
mudar de opiniao mas que, por boas razoes, acabam mudando. 
E e em seu relat6rio que voce mantem esse dialogo. A medida 
que 0 leem, os leitores esperam encontrar detenninados indi­cios 
de organizacao; preferem certos padroes de esti lo; tacita­mente 
fazcm pcrguntas, levantam objecoes, querem ver os as­suntos 
apresentados de modo mais explicito do que voce pode 
achar necessario. Acreditamos que, se voce entender como os 
leitorcs leeru e souber como satisfazer suas expectativas da me­lhor 
maneira possivel, tera uma otima oportunidade de ajuda-los 
a ver as coisas do seu jeito. 
Concentramo-nos no processo de fazer tudo isso, mos­trando 
como as caracteristicas forma is do "produto" - 0 rela­torio 
- podern ajuda-Io no proccsso de planejamento e criac;ao. 
Conformc voce vera, os elementos de urn relat6rio, sua estru­tura, 
seu estilo e suas convenc;oes fonnais nao sao f6nnulas va­zias 
que os redatores imitam so porque milhares de outros antes 
deles as usararn. Tais formatos e mode los sao 0 meio pelo qual 
os pesquisadores, ioiciantes ou cxperientes, testam seu traba­lho, 
avaliam sua compreensao do assunto c ate mesmo eocon­tram 
novas direc;oes a seguir. Em outras palavras, acreditamos 
que as cxigencias formais do produto nao s6 orientam 0 pes­quisador 
ao longo do processo de criac,:ao, como tambem con­tribuem 
para desenvolvcr sua criatividade. 
Tentamos ainda indicar 0 que os pesquisadores em d i feren ~ 
tes esmgios de sua vida profissional devetiam saber e ser capazes 
de fazer. Se voce esta diante de sell primeiro projcto de pes­quisa, 
deve ter uma ideia do que os pesquisadores experientes 
fariam, mas nao se preocupe se nao conseguir fazer tudo. Deve
XIV It ANTE DA PESQUISA 
saber, no entanla, 0 que provavelmente sellS professores espe­ram 
de voce, a inda mais se estiver se preparando para ser urn 
pesquisador serio. Portanto, vez por outra avisamos que vamos 
apresentar urn assunto particulannente importante para pes­quisadorcs 
experientes. Os que estiverem apenas se iniciando 
podem sentir-se tcoladas a pular essas partes. Espera'mos que 
nao 0 fa~am . 
Este livro originou-se da convi c~ao que tcmos de que as 
lecnicas de fazer e relatar pesquisas na~ 56 podem ser aprendi­das 
como tambem cnsinadas. Sempre que pudemos explicar 
cJaramenre as etapas do processo, explicamos. Quando nao, ten­tamos 
dclinear sellS contornos gerdis. Alguns aspectos da pes­quisa 
podem ser aprendidos apenas no contexto de uma CMnu­nidade 
de pesquisadores comprometidos com tapicos e manei­ras 
de pensar particulares, interessados em compartilhar com 
autTOS 0 fru to de seu trabalho. Mas, quando urn contexte des­ses 
nao esta di sponivel, os cstudantes ainda podem aprender 
importa ntes tecnicas de pesquisa atraves de instrw;ao direta e 
leva-las as comunidades de que pretendam participar. Analisa­mos 
algumas maneiras especi ficas de fazer isso em nosso "P6s­escrito 
aos professorcs". 
Este Iivro Ia nthem teve origem em nossa experiencia, que 
nos ensinou que pesquisa nao e 0 tipe de coisa que se aprcnda 
de urna vez pOT todas. Nos tres ja deparamos com projetos de 
pesquisa que nos forc;aram a rcfTcscar a memoria quanto a 
maneira de pcsquisar, mcsmo depois de deeadas de experien­cia. 
Nos momentos em que tivemos de nos adaptar a uma nova 
comunidade de pesquisa, ou a mudanc;as na nossa propria, usa­mes 
os principios apresentados aqui para conseguinnos nos con­centrar 
naquilo que era mais importante para os leitores. Assim, 
escrevemos urn livro que voce podera cansultar sempre que as 
circunstancias exigi rem, 0 qual, esperamos, sera util muitas ve­zeSt 
acompanhando seu crescimento como pesqui sador. 
Queremos agradeeer as pessoas que nos ajudaram a rca­lizar 
este proj eto. Entre elas incluem-se seus primeiros leitores: 
Steve Biegel, Jane Andrew e Donald Freeman. 0 capitulo sobre 
PREFACJO xv 
a apresentac;;ao visual de dados foi melhorado significativa­mente 
ap6s as comentarios de Joe Hannon e Mark Monmonier. 
Estamos em debito tambem com os integrantes do departa­mento 
editorial da Universidade de Chicago que, desde que 
concordamos em assumir este projeto, quase urna decada atms, 
nao nos largaram enquanto nao 0 tenninarnos. 
Da parte de WCB: Alem das centenas de pessoas que me 
ensinaram aquilo que foi minha eontribuic;ao para este livro, 
gostaria de agradeeer a minha esposa, Phyllis, minhas duas fi­lhas, 
Katherine e Alison, meus tres netas, Emily, Robin e Aaron, 
pois, juntos, esses seis me mantiveram otimista quanta ao futu­ro 
da investigac;ao responsavel. 
Da parte de GGC: Ao longo de momentos tumultuados e 
calmos, ao longo de pcriodos eriativos e improdutivos, sempre 
live minha easa e minha familia - Sandra, Robin, Karen e Lau­ren 
- como ponto de re ferencia e de apoio. 
Da parte de JMW: Joan, Megan, 01, Chris, Davc c Joe me 
apoiaram, tanto quando estavamos juntos, como separados. Jun­tos 
e melhor. 
I
PARTE I 
Pesquisa, pesquisadores e leitores 
Prologo: Iniciando urn projeto de pesquisa 
SE VOCI:: ESTA COMECANDO seu primeiro projeto de pesqui­sa, 
talvez sinta-se urn tanto intimidado pela aparente dificul­dade 
da tarefa. Como procurar urn assunto? Onde encontrar 
informa'Yoes relevantes, como organiza-Jas depois? Mesmo que 
ja tenha escrito urn relat6rio de pesquisa num curso de reda­' 
Y30, a ideia de escrever outro pode Ihe parecer ainda mais per­turbadora, 
caso agora, pela prime ira vez, voce precise apresen­tar 
um trabalho de verdade. Ate mesmo pesquisadores expe­rientes 
sentem-se urn pouco ansiosos ao iniciarem urn projeto, 
espeeialmente sc for diferente dos outros que ja executaram. 
Assim, seja qual for sua preocupa'Yao no momenta, todos as 
pesquisadores ja a tiveram - e muitos ainda a tern. A diferem;:a 
e que pesquisadores experientes sabem 0 que eneontrarao pela 
frente: trabalho arduo, mas tambem 0 prazer da investiga'Yao, 
alguma frustrac;ao, mas eompensada por uma satisfac;ao ainda 
maior, momentos de indeeisao, mas a confianc;a de que, no fi­nal, 
tudo ira se eneaixar. 
Fazendo pianos 
Pcsquisadores experientes tam bern sabem que, como qual­quer 
outro projeto eomplexo, a pesquisa sera mais faeilmente 
organizada caso se disponha de urn plano, por mais toseo que 
seja. Antes de come'Yar 0 trabalha, pade ser que eles nao fa'Yam 
ideia exatamente do que esta.o procurando, mas sabem, de rna-
2 A AR77! DA PESQUlSA 
neira geral, de que lipo de material VaG precisar, como cncoo­tra- 
Io e como utiliza-Jo. E. urna vez rcunido esse material, pes­quisadorcs 
competentes nao come~am simplesmente a escrevcr, 
assim como construtores competentes nao vaa logo serrando 
a madeira. Eles planejam 0 tipo e aforrna do produlo fJ,uepre­tendem 
obler. urn produ/o que exprima sua intenfiio de a/can{1ar 
urn determinado resultado e cujas partes todas sejam planeja­das 
contribuindo para a obtenfOO desse resultado. Isso, parem, 
nao quer dizer que bons pesquisadores prendam-se totalmente 
ao plano que trar:;aram. Estao sempre prontos a modi ficar os 
pianos, se encontram urn problema au set de repente, compreen­dem 
melhor 0 projeto, a u descobrem, de alguma maneira, urn 
objet ivo rna is interessante que os conduza por urn novo cami­nho. 
Mas todos sempre come~am com urn prop6sito e algum 
tipo de planejamento. 
Na verdade, quase todo projeto de redat;aO comet;a com urn 
plano que visa produzir urn documento de formato especifico, 
geralmente moldado pcla expericncia de gerat;Oes de escritores, 
que adotam certos formatos nao so para agradar os editores ou 
supervisores, mas para se pouparem do trabalho de inventar 
urn novo formato para cada projeto e, tao importante quanta 
isso, para ajudar os leitores a identificarern seus objetivos. Urn 
reporter sabe que tern de adotar 0 formato de piramide inver­tida 
numa reportagem, cornet;ando 0 texto com a informat;ao 
de maior interesse, nao em seu benefi cio, mas para que ,,6s, 
ie itores, possamos dcsde logo identificar a essencia da nolicia 
e decidir se continuaremos a ler ou nao. 0 formato de urn rela­t6rio 
de auditoria orienta 0 contador qua,n to as informa.y5es 
que devera incluir, mas tambem ajuda os acioniSfas a encon­trar 
os dados necessarios para a avaliat;ao da empresa como 
investimento. Uma enfenneira sabe 0 que escrever no prontua­rio 
do paciente, de modo que as outros enfermeims possam uti­Ji 
za-Io, e urn policial rcdige 0 boletim de ocorrencia num for­mato 
padronizado, pensando naqueles que mais tarde irao inves­ligar 
0 crime. Do mesmo modo, os leitores tiram maior preveito 
da leitura de urn relat6rio quando 0 pesquisador relata as resul­tados 
de sua pesquisa num formato que Ihes seja familiar. 
PESQUISA, PESQUISADOHES E LEITORES 3 
E claro que, mesmo limitado por csses formatos, quem re­dige 
tern a liberdade de adotar diferentes pontos de vista, en fa­tizar 
urna variedade de ideias e irnprirnir uma feit;ao persona­lizada 
ao seu trabalho. No entanto, seguindo urn planejamento 
padronizado, estara beneficiando tanto a ele mesmo quanto 
aos leitores, tomando mais fa cil 0 trabalho de redigir e de ler. 
o objetivo deste livro e ajudar voce a cri ar c seguir esse 
planejamento. 
A import'ancia da pCSQUiS3 
Antes de mais nada, responda a uma pcrgunta: al6m de 
uma nOla de avaliayao, 0 que a pesqui sa representa para voce? 
Uma rcsposta, que muitos poderao considerar idealista, e que 
a pesquisa oferece 0 prazer de resolver urn enigma, a sat is fa­~ 
ao de descobrir algo novo, algo que ninguem mais conhece, 
contribuindo, no fina l, para 0 enriquccirnento do conhecimen­to 
hurnano. Para 0 pesquisador inicianle, no entanto, existcm 
outros beneficios, mais pniticos e imediatos. Em primeiro lugar, 
a pesqui sa 0 ajudara a comprcender 0 assunto estu<;iado d~ . ..u.m 
modo muito melhor do que qualquer Dutro tipo de trabalho. A 
lo~go prazo, as tecnicas de pesquisa e reda~ao, urna vcz-as~i­mlladas, 
capacitarao 0 pesqui sador a tmbalhar por conta pro­pria 
mais tarde, pais, afinal, coletar informat;oes, organiza-Ias 
de modo coercnte e apresenta-Ias de maneira confiavel e con­vincente 
sao habilidades indispensaveis, numa epoca apropria­damente 
chamada de "Era da lnformat;ao". Em qualquer cam­po 
do conhecimento, voce vai precisar das tecnicas que so a 
pesquisa e capaz de ajuda-Io a dominar, seja seu objetivo 0 
projelo, ou a linha de produt;ao. 
As tecnicas de pesqui sa e rcdat;ao sao igualmente impor. 
tantes para quem usa pesquisas de outras pcssoas, e hoje em 
dia isso inclui todos n6s. Somos inundados por informat;oes, 
cuja maior parte destina·se a servir aos interesses comerciais au 
politicos de alguem. Mais do que nUllca, a sociedade preci sa 
de pessoas com espirilo criti co, capazes de cxaminar uma pes-
4 A A R71i DA PESQUISA 
quisa, fazer suas pr6prias indaga~Ocs e encontrar as respostas. 
S6 depois de passar pela proccsso incerto e geralmente confuso 
de conduzir sua pr6pria pesquisa, voce sabcra avaliar de modo 
inteligente as pesquisas dos Qutros. Redigindo seu pr6prio fe­lat6rio, 
entendera 0 tipo de trabalho que h3 por tras 'das afir­ma90es 
dos especialistas e do que e encontrado em livros dida­ticos. 
Descobrini, em primeira mao, como 0 conhecimento se 
desenvolve a partir de respostas a indagayOes de uma pesqui­sa, 
como esse novo conhecimento dcpende das perguntas que 
voce faz ou deixa de fa zeT, como essas perguntas dependem 
nao apenas de sellS interesses e mctas, mas tambem dos inte­rcsses 
e metas dos leitorcs, e como as fannatos padronizados 
de apresentayao da pesquisa modelam 0 tipo de perguntas que 
voce faz, podendo ate detcrminar as que pode fazer. 
Mas sejamos francos: a rcdal;ao de urn relatorio de pesqui­sa 
exige muito. Sao muitas as tarefas envolvidas, tocias pedindo 
sua atenvao, geralmente ao mesmo tempo. Por mais cuidadoso 
que voce seja no planejamento, a pesquisa seguira urn cami­nbo 
tortuoso, dando guinadas imprcvisiveis. podendo dar voltas 
sobre si mesma. As etapas se sobrcp5em: todos nos fazemos urn 
esboyo antes de terminar a pesquisa, continuamos a pesquisar 
depois·de corneyar 0 rascunho. Alguns trabalham mais no final 
rur projeto, so reconhecendo 0 problema que tentaram resolver 
depois de encontrar a soluyao. Outros partern atrasados para a 
etapa do rascunho, fazendo a maior parte do trabalho de tenta­liva 
e erro, nao no papel, mas de cabe~a. Cada redator tern urn 
estilo diferente, e, considerando que os projetos di.ferem uns 
dos outros, urn iinico planejamento nao pode resolver lodos os 
problemas. 
Por mais complexo que seja 0 proccsso, no entanto, irernos 
trata-Io passo a passo, de modo que voce possa avanyar com 
seguranya, mesmo quando deparar com as incvitaveis dificul­dades 
e confusOes que todo pcsquisador enfTenta, mas que acaba 
aprendendo a supera r. Quando conseguir administrar as partes, 
voce conseguira administrar 0 todo, e estara pronto para.ioieiar 
novas pesquisas com maior confianya. 
PESQUISA, PESQUlS.4DORF.5 E L£J10RES 5 
Como usar este livro 
A melhor maneira de voce I idar com essa complexidade 
(e com a ansiedade que podera causar) e ler este livro uma vcz, 
rapidamcnte, para saber 0 que ira encontrar. Entao, dependen­do 
de seu grau de experiencia, defina quais partes de seu tra­balho 
parecem faeeis ou dificeis para voce. Quando comeyar 
a trabalhar, leia com mais atenyaO os capitulos pertinentes it 
larcfa que tcrn em maos. Se voce e urn pesquisador inexperien­te, 
comece pelo come~o. Se esta nwn curso avanyado, mas ainda 
nao se sen Ie muito a vontade em seu campo de estudo, salle a 
Parte I, leia a II, mas concentre-se na 1lI c oa IV. Se e urn pes­quisador 
expcriente, talvez ache mais iiteis 0 Capilulo 4 da 
Parte II, os Capilulos 9 e 10 da Parle 1I1 e a Parte IV inteira. 
Na Parle I, apresenlamos algumas questoes sempre levan­tadas 
por aqueles que fazem sua primeira pesqui sa: por que os 
leitores esperam que se redija de detenninada maneira (Capi­tulo 
I) e por que se deve conccbcr 0 projelo nao como urn !ra­balho 
isolado, mas como urn diaJogo com os pesquisadores 
cujos ~rabalhos voce ira consultar c lambern com aqueles que 
idio ler seu trabalho (Capitulo 2). 
Na Parte lI, analisarnos 0 proccsso de e l abo ra~ao de seu 
projcto: como encontrar urn assunto, s intetiza-lo, questiona-lo 
e justific<i-Io (Capitulo 3), como transformar essas questoes 
em urn problema de pesquisa (Capitulo 4), como encontrar c 
utilizar fontes bibli ograficas que orientem a busca de respos­tas 
(Capitulo 5) e como refletir sobre 0 que foi encontrado 
(Capitulo 6). 
Na Parte III , discutirnos a natureza de um born argumcn­to 
de pesquisa. Comeyamos com lima visao geral do que vern 
a ser urn argumento de pesquisa (Capitulo 7), entao explieamos 
quc afirmayocs sao consideradas significativas e que cviden­cias 
em sell favor sao confiavcis (Capitu lo 8). Analisamos urn 
elemento abstrato mas decisivo do argumento de pesquisa, cha­mado 
de "fundamento" (Capitulo 9), e concluimos com uma 
de sc ri ~ao do modo como todo redator deve apresentar objc­yoes, 
estipular con d i~oes limitadoras e exprimir condi c;;oes de 
ineertcza (Capitulo 10).
6 A ARTE DA PESQUISA 
Na Parte rv, comentamos as etapas do processo de reda­<; 
30 do relatorio final, comc9ando pelo esbo<;o (Capitulo II). 
Em seguida, abordamos urn assunto que geralmente nao apa­rece 
em livros deste tipo: como transmitir visualmente infor­ma<; 
oes complexas, mesmo aquelas que nao sejam qlantitati­vas 
(Capitulo 12). Os dois capitulos subseqiientes sa9' dediea­dos 
a verifica<;ao e correc;ao da organizaC;ao do relatorio (Ca­pitulo 
13) e seu esti lo (Capitulo 14). A seguir, explicamos como 
redigir uma introdw;ao que convent;a as leitores de que 0 con­teudo 
do relat6rio compensani. 0 tempo que eles gaslarao na 
leitura (Capitulo 15). Por fim, nos estendemos por mais algumas 
paginas, numa reflcxao sobre algo alcm das tecnicas de exe­cU(; 
ao de uma pesquisa: a questao da etica da pesquisa, em uma 
sociedade que cada vez mais depende de seus resultados. 
Nos intervalos entre os capitulos, voce cncontrara "Suges­toes 
uteis", breves insert;oes que complementam os capitulos. 
Algumas dessas sugest5es sao para a aplicat;ao do que voce 
aprendeu nos capitulos, outras sao considerac;5es suplementares 
para alunos adiantados, e muitas tratam de questoes nao apre­sentadas 
nos capitulos, mas todas acrescentam algo novo. 
A pesquisa c urn lrabalho arduo, mas, assim como todo tra­balho 
desafiador bern feito, tanto 0 processo quanto os resul­tados 
trazem enonnc satisfac;ao pessoal. Alem disso, as pesqui­sas 
e seus resultados sao tambem atos sociais, que cxigem uma 
reflexao constante sobre a relac;ao de seu trabalho com os lei to­res 
e sobre sua rcsponsabilidade, nao apenas pcrantc 0 tcma e 
voce mesmo, mas tambem perante eles, espccialmente se acrc­dita 
que 0 que tern a dizer e algo bastantc importante para levar 
os leitores a mudar de vida, modificando 0 modo de pensar. 
Caprtulo I 
Pensar por escrito: OS usos 
publico e privado da pesquisa 
Ao ENTRAR NA SALA de leitura de uma biblioteca, voce ve 
a sua volta seculos dc pesquisa, 0 trabalbo de dezenas de milha­res 
de pesquisadores que pensaram longamente sobre inconta­veis 
questoes e problemas, colheram informac;oes, deram res­pastas 
e soluc;oes e, entao, compartilharam tudo isso com os 
outros. Professores de lodos os niveis educacionais dedicam a 
vida a ~esq uisa, governos gastam bilhoes nessa area, as empre­sas 
ate mais. A pesquisa avam,a em laboratorios, em bibliote­cas, 
nas selvas, no espac;o, nos oceanos e em cavemas abaixo 
deles. A pesquisa e sua divulgaC;ao constituem urna industria 
enonne no mundo atua!' Maior ainda e a divulgaC;ao de sellS 
relatorios. Quem nao for capaz de fazer uma pesquisa confia­vel, 
nem relatorios confiaveis sobre a pesquisa de outros, aca­bani 
por se achar a margem de urn mundo que cada vez mais 
vive de informa93.0. 
1.1 POI- que pesquisar? 
Voce ja sabe 0 que e pesqui sa, porque e 0 que faz todos 
os dias. Pesquisar c simplesmente reunir inJorma(:oes necessa-. 
rias para encontrar resposta para lima pergun/a e assim che­gar 
a solu(:iio de urn problema. 
PROBLEMA; Depois de urn dia de cornpras, voce percebe que sua 
carteira surniu.
8 A ARTl:: DA PESQlRSA 
PESQUlSA: Voce sc lembra dos lugares onde esteve e come~a a te­lefonar 
aos departamentos de achados e perdidos. 
PROBLEMA: Voce prccisa dc urna nova junta de cabe~ote para urn 
Mustang modelo 1965. 
PESQUISA: Voce liga para as lojas de au topc~as para descQ.brir qual 
delas tcrn a pe~a em estoque. 
PROBLEMA: Voce precisa saber onde Betty Friedan nasceu. 
PESQUISA: Voce vai it biblioteca para procurar a informa~ao no 
Quem E Quem. 
PROBLEMA: Voce ouve faJar de uma nova especie de peixe e quer 
saber mais a respeilo. 
PESQUISA: Voce pesquisa nos arquivos dos jornais, a procura de 
uma rcportagcm sobre 0 assunto. 
Entretanto, embora quase lodos nos fa~amos esse tipo de 
pesquisa diariamente, pOlleos precisam redigir urn relatorio a 
res peito, porque nossa pesquisa normalmente e feita apenas 
para nossa proprio uso. Mesmo assim, temos de confiar nas 
pesquisas de outros que registraram por escrito seus resulta­dos, 
prevendo que urn dia poderiamos precisar dcssas infonna­~ 
oes para resolver urn problema: a companhia tclcffinica pes­quisou 
para campor a !ista teJeffinica; os fomecedores de auto­pe~ 
as pesquisaram para manta! seus cat<ilogos; 0 autor do artigo 
do Quem t Quem pesquisou sabre Betty Friedan; os jornalis­tas 
pesquisaram sabre 0 peixe. 
De fato, as pesquisas feitas por outros detenninam a maior 
parte daquilo em que lodos n6s acreditamos. Dos tres autores 
deste livro, apenas Williams ja esteve oa Australia, mas Booth 
e Colomb acreditam na existencia da Australi a: sabem que ela 
esta la, porque durante toda a vida leram sobre 0 assunto em 
relat6rios em que confiaram, viram 0 pais em mapas fidedignos 
e ouviram Williams falar pessoalmente a respeito. Ninguemja­mais 
esteve em Venus, mas boas fontes nos indicam que e urn 
planeta quente, seco e p1ontanhoso. Sempre que procuramos 
algo em urn dicionario ,?U uma enciclopedia, estamos pesqui­sando 
atraves de pesquisas dc outros, mas s6 podemos confiar 
no que encontramos se aqueles que fizcram a pcsquisa a con­duziram 
com cuidado e apresentaram urn relat6rio preciso. 
PESQUlSA, PESQUlSADORES E LEJTORES 9 
De fato, sem pesquisas confiaveis pub/icadas, seriamos 
prisioneiros apenas do que vemos e ouvimos, confinados as opi­niOeS 
do momento. Sem duvida, a maioria de nossas apini5es 
cotidianas e bern fundamentada (afinal de contas, tiramos mui­tas 
deJas de nossas proprias pesquisas e experiencias). Mas ideias 
erroneas, ate mesmo estranhas e perigosas, florescem, porque 
muitas pcssoas accitam 0 que ouvem, au aqui lo em que dese­jam 
acred itar, sem provas validas e, quando agem de acordo 
com essas opinioes, podem levar a si mesmas, e tambem a nos, 
ao desastre. S6 quando sabemos que podcmos confiar na pes­quisa 
de outros somos capazes de nos Iibertar daqueles que, 
controlando nossas cren~as, controlariam nossa vida. 
Se, como e pravavcl, voce estA lendo eSle livro porque urn 
professor pediu-lhe que desenvolva seu pr6prio projeto, pode 
ser que pense em desenvolve-lo s6 para se exercitar. Nao e urn 
mau motivo. Mas seu projeto tambem lhe dara a oportunidade 
de participar das mais antigas e respeitadas di scussoes da hu­manidade, 
conduzidas por Arist6teles, Marie Curie, Booker T. 
Washipgton, Albert Einstein, Margaret Mead, 0 grande estudio­so 
islamico Averruis, a fil6sofo indiana Radhakrishnan, Santo 
Agostinho, os estudiosos do Talmude, rodos aqueles, enfim, que, 
contribuindo para 0 conhecimento humano, livraram-nos da 
ignon'incia e do erro. Eles e inumeros outros estiveram urn dia 
no ponto em que voce esta agora. Nossa mundo, hoje, e dife­rente 
por causa das pesquisas deles. Nao e exagero afirmar que, 
se bern feita, a sua mudara 0 mundo de amanhli. 
1.2 Par que redigir um rclat6rio? 
Alguns de voces, entretallto, poderao achar fadl recusar 
nosso convite para participar dcsse dialogo. Ao fazer 0 relate­rio 
de sua pesquisa, voce tent de satisfazer uma multidao de 
requi sitos estranhos e complicados, e a maioria dos cstudantes 
sabe que seu re laterio sera lido nao pelo mundo, mas apcnas 
pelo professor. E, aLem disso, meu professor sabe ludo sobre 0 
assunlo. Se ele simplesmente me desse as resposlas ou indi·
10 A ANTE VA PESQUISA 
casse os /ivros cerlos, eu poderia me concentrar em aprender 
o que hd neles. 0 que eu gonho redigindo urn relatorio, a noD 
ser provar que possa faze-Io? 
J. 2.1 Escrever para lembrar 
A primeira rauo para registrar pa r escrito a que voce des­cobriu 
e apenas lembrar. Algumas pessoas, excepcionalmente, 
conseguem rellnir informalYOes scm as registrar. Mas a maio­ria 
de nos se perde, quando enche a cabelYa de novos fatos e 
argumentos: pensamos no que Smith descobriu a luz da tese de 
Wong c comparamos as dcscobcrtas de ambos com os resulta­dos 
estranhos de Brunelli, especialmente por serem corrobo­rados 
por Boskowitz. Mas, espere urn minuto. 0 que foi mesmo 
que Smith disse? A maior parte das pessoas so conscgue res­ponder 
a qucstoes mais complicadas com a ajuda da escrita - 
rclacionando fontes, compilando resumos de pesqui sa, man­tendo 
anotalYoes de laboratorio e assim por diante. 0 que voce 
nao registrar por escrito provavelmente sera esquecido au, pior, 
sera lembrado de modo incorreto. Essa e urna das razoes pelas 
quais os pesquisadores nao esperam chegar ao fim do proces­so 
para comCIY3r a escrever: eles escrevem desdc 0 inicio do 
projeto ate 0 fim, para entenderem melhor e guardarem por mais 
tempo 0 que descobriram. 
1.2. 2 Escrever para en render 
Uma segunda razao para escrevermos e vcr com maior 
c1areza as relacoes entre nossas ideias. Ao organizar e reorga­ni 
zar os resultados de sua pesquisa, voce ve novas re lacoes e 
contrastes, comp li ca~oes e implicac;:oes que do contrario pode­riam 
ter passado desperccbidos. Mesmo que pudesse guardar 
na mente tudo 0 que descobriu, voce ainda precisaria de ajuda 
para organizar argumentos que insistem em tomar diferentes 
dire¢es, inspiram relar;5es compJicadas, causam desacordo entre 
PESQU1SA, PFSQUISADORES £ I£TTORES 11 
espccialistas. Quero usar as ajirmafoes de Wong para sus/en· 
tar meu argumenlO, mas 0 argumento dela e rebatida por estes 
dados de Smith. Quando os campara, vejo que SmUh nao COlI­sidera 
a ultima parte do argumento de Wong. Espere 11m miltu­to: 
se ell a illlroduzir, j untamente com esle trecho de Brunelli, 
posso salientar a parte do argumenlo de Wong que me permi­Ie 
refutar 0 de Smith mais f oci/mente. Escrever induz a pensar, 
ajudando-o nao apenas a entendcr 0 que esta aprendendo, mas 
a encontrar urn sentido e urn significado mais amplos. 
1.2.3 Escrever para rer perspecliva 
Uma terceira razao pela qual escrevcmos e que, quando 
projetamos nossos pensamentos no papel, nos os vemos sob 
uma nova luz, que e sempre mais clara e normalmente menos 
lisonj eira. Quasc todos n6s - estudantes c profissionais - acha­mos 
que nossas idcias sao mais coerentes no calor de nossa 
mente ~o que quando transpostas para as frias letras impressas. 
Voce melhora sua capacidade de pensar quando estimula a mente 
com anotar;Oes, esbor;os, resumos, comentarios e outras formas 
de por pensamentos no papel. Mas voce 56 pode refletir clara­mente 
sobre esscs pensamentos quando os separa do rapido 
fluxo do pensamento e os fixa numa forma escrita coerente. 
Em resumo, escrevemos para podermos pensar melhor, 
lembrar mais e vcr com maior clareza. E, como vercmos, quan­to 
melhor escrevemos, mais criticamente podemos leI". 
1.3 Por que elaborar urn documcnto rormal? 
Mesmo sabendo que escrever c uma parte importante da 
aprendizagem, da reflexao e da compreensao, alguns de voces 
podem ainda querer saber por que preci sam transformar seu 
trabalho nurn ensaio ou relat6rio de pesqui sa fonnais. Essa for­malizaCao 
pode colocar urn problema para estudantcs que nao 
veem nenhuma razao para seguir urn procedimento de cuja
12 A AR1E DA PESQlRSIt 
criac;ao eles oao participaram. Por que eu deveria adotar urna 
linguagem que nao e minha? 0 que ha de errado com minha 
linguagem, minhas preocupafoes? Por que nao paSSD relator 
minha pesquisa do meujeilo? Alguns estudantes chegam a achar 
ameac;adoras essas exigencias: temem que, se tivere(ll de pen­sar 
e escrever como sellS professores. acabarao, de ccrto modo, 
se tomando iguais a eles. 
E sua preocupac;ao e legilima, porque tern a ver com todos 
os aspectos de sua vida. Uma educac;ao que nao afetasse quem 
e 0 que voce c seria ine ficaz. Quanto mais profunda sua cdu­cac; 
ao, mais ela 0 mudarn. Por isso e tao importante escolher 
cuidadosamente 0 que voce estuda e com quem. Mas seria urn 
c rro pensar que escrevcr urn relatorio de pesquisa ameac;aria sua 
identidade. Aprcnder a pesquisar mudara seu modo de pensar, 
ensinando-Ihe mais maneiras de pensar. Voce sera difcrente 
depo is de ter pesquisado, {'orque sera mais livre para escolher 
quem quer ser. 
A rauo rnais importante para relatar a pesquisa de urn mo­do 
que atenda -a expectat iva dos leitores talvez seja a de que 
escrevcr para os outros e rnais dificil do que escrever para si 
mcsmo. No momento em que voce registra suas ideias por es­cnto, 
elas the sao tao familiares, que voce precisa de ajuda para 
ve-Ias como realmente sao, nao como gostaria que fossem. 0 
,!,elhor que voce tern a fazer nesse sentido e imaginar as ncces­s 
idades e expectativas de sellS leitores. E por isso que os mode­los 
e planas padronizados sao os recipi entes rna is apropnados 
para suas descobertas e conclusOes. Eles irao ajuda-Io a ver suns 
ideias a luz rnais clara do conhecimento e das expectativas de 
seus leitores, nlio apenas para que voce teste tais ideias mas 
tambem para aj uda-Ias a crescer. lnvariaveimente, voce en~ende 
melhor suas impressoes quando as escreve para torna-Ias aces­siveis 
aos outros, o rgani zando suas descobertas para ajudar os 
leitores aver explicitamente como voce avaliou os fatos como 
re lac ionou uma idc ia a outra, como se antecipou as pe;gumas 
e preocupa90es deles. Todo pesquisador recorda-se de algum 
momento em que, ao escrever para os leitores, descobriu urna 
falha, urn efTO, urna oportunidade perdida, coisas que Ihe haviam 
escapado nurn primeiro rascunho, escrito rnais para si mesmo. 
PESQUlSA, PESQUISADORES £ LElTORES 13 
Aqueles que pretendem participar de uma comunidade que 
dependa de pesquisas tcrao de demonstrar que nao so sao ca­pazes 
de dar boas respostas a perguntas dificeis, mas tambem 
que conseguem infonnar seus resultados salis/aloriamenle, Oll 
seja. de modo claro, acessivel e, mais importante,familiar. De­pois 
de conhecer os modelos padronizados. voce sera mais exi­gente 
ao ler os relat6rios de pesquisa dos outros, comprecndera 
melhor 0 que sua comunidade espera de todos e sera mais ca­paz 
de criticar as exigencias criteriosarnente. 
Redigir urn relatorio de pesquisa, enfim. e simplesrncnte 
uma questao de pensar por escrito. Assim, suas ideias terno a 
aten9ao que merecem. Apresentadas por escrito, estarao "ali". 
desvencilhadas de suas rccorda90cs, opinioes c desejos, prontas 
pard serem rnais amplam.ente analisadas, desenvolvidas, combi­nadas 
e compreendidas, porque voce estara cooperando com 
seus leitores em urna empreitada comum para produzir urn co­nhecimento 
novo. Em resumo, pensar por escrito pade ser rnais 
meticuloso, sistematico, abrangente, completo e mais adequado 
aqueJes que tern pontos de vista diferentcs - mais ponderado - 
do qup quase todas as outras formas de pensar. 
Voce pode, e claro, simular tudo isso, fazendo apenas 0 su­ficiente 
para satisfazer seu professor. Este livro talvez 0 ajude 
nesse semido, mas, agindo 'assim, voce eSlara enganando a si 
mesmo. Se voce encontrar um assunto que 0 interesse, se fizer 
wna pergunta que deseje responder, sc descobrir urn problema 
que queira resolver. entao seu projeto podera ter 0 fascinio de 
urna hist6ria de rnisterio, uma historia cuja solm,ao dara 0 tipo 
de satisfa9ao que surpreende ate mesmo os pesquisadores mais 
experi entes.
'. 
Capitulo 2 
Relacionando-se com seu leitor: 
(re)criando a si mesmo e a seu publico 
A MAIOR PARTE DAS CQISAS IMPORTANTES QUE FAZEMOS, fa ­zemos 
com outras pessoas. A primeira vista, podemos pensar 
que com a pesquisa e di ferente. Imaginamos urn estudioso so­litario, 
lendo em urna biblioteca silenciosa ou tmbalhando em 
urn laborat6rio, cercado apenas por artefatos de vidro e com­putadores. 
Mas nenhum lugar e tao repleto de vozes quanta uma 
biblioteca ou urn laboratorio, e, mesmo quando parecemos tra­balhar 
completamente sozinhos, trabalhamos para aican9ar urn 
fim que scmpre nos envolve em urn di alogo com os outros. 
Nos nos relacionarnos com outras pessoas loda vez que lemos 
urn livro, usamos urna ap~ re lhagem de pesquisa ou confiamos 
em uma formula estatistica. Toda vez que consultamos urna 
fo nte, que nos reunirnos com algucrn e, reunindo-nos, partici­parnos 
de urn di alogo que pode ter decadas, ate mesmo sccu­los 
de idade. 
2.1 Di:ilogos entre pesquisadores 
Exatamente como acontece em sua vida social, voce, como 
pesquisador, faz julgamentos sabre aquelcs com quem troca 
idCias (como agora deve cstar julgando nos tres): Garcia pare­ce 
cOllfiavel, oif/da que um POIICO previsivel; Alhambra e agra­davel, 
mas descuidada no que d iz respeito as evidencias que 
apresellta; Wallace coleta bons dodos. mas noo cOl/fio em SilaS 
conclusiies.
16 A ARTF. DA PESQlRSA 
Esses j ulgamentos, pacem, nao sao urna via de mao Unica ­voce 
j ulgando suas fontes - porque elas ja a julgaram, criando, 
em certo senti do, lima persona para voce. As duas passagens 
a seguir "eriam" leitores diferentes, atribuindo-Ihes niveis di­ferentes 
de conhecimento e experiencia: 
 
I - A reguJagem da interacao das protcinas contriteis acti­na 
e miosina no filamento fino do sarcomere, por melo 
de hloqueadores de calcio, e agora urn meio comum de 
controlar espasmos cardiacos. 
2 - Seu musculo mais importante e 0 coracao, mas ele 
nao funciona quando esta acometido de espasmos 
musculares. Esses espasmos agora podem ser contro­ladas 
por drogas conhecidas como hoqueadores de 
calcio. Os hloqueadores de calcio atuam sabre peque­nas 
unidades de fibras muscuiares chamadas sarco­meros. 
Cada sarcomero tern dais f ilamcntos, urn gros­so 
e urn fino. 0 fi lamento fino cantem duas proteinas, 
actina e miosina . Quando a actina e a miosina intera­gem, 
seu'coracao se contrai. Essa intera/Vao e contro­lada 
pelos bloqueadores de calcio. 
o primciro trecho lembra urn especia li sta escrevendo a ou­tro; 
0 segundo, urn medico explicando cuidadosamente ideias 
complexas a urn paciente. 
Seu texto refletira nao s6 os julgamentos que voce fez 
sobre ~ conhecimento e a capacidade de compreensao de seus 
leitores, mas, mais importante ainda, 0 que voce quer que eles 
identifiquem como significativo em sua pesquisa. E seus lei­tores 
0 julgarao com a precisao com que voce os julgar. Se cal­cular 
mal a quantidade de informacoes de que eles precisam, 
se apresentar suas dcscobertas dc urn modo que nao alenda aos 
interesses deles, voce perdera a credibi lidade de que lodo autor 
precisa para sustentar seu lade do dia!ogo. 
Portanto, antes mesmo de dar 0 primeiro passo cm direl;ao 
a urn relat6rio de pesquisa, voce cleve pensar no tipo de dialogo 
que pretende ter com seus leitores, no tipo de rclaC;;ao que dese- 
 
PESQlDSA, PESQUlSADORES E LEITOR.£S 17 
ja estabelecer com eles, no tipo de re l a~ao que espera que quei­ram 
e possarn ter com voce. lsso significa saber nao s6 quem 
sao eles e quem e voce, mas quem voce e eles pensam que 
todos voces devem ser. 
Voce pode pensar que a resposta e 6bvia: Eu sei quem sou, 
e meu lei/or e 0 meu professor, mas os pesquisadores cstudan­tes 
sempre trabalham em circunstanc ias complicadas. No pa­pel, 
voce pareeeni. diferente do que c em pessoa. E seus profes­sores, 
como leitores, reagirao de modo diferente de como rea­gem 
em classe. Coordenar tudo isso significa reconhcccr: I) os 
diferentes papeis sociais que a autor C 0 lei tor criam para si 
mesrnos e urn para 0 outro e 2) as intcrcsscs comuns que todo 
lei tor e todo autor compartilham. 
2.2 Autores, Icitores e s e llS papeis sociais 
Suas decisoes sobre si mesmo e SCllS leitores sao bastan­te 
complicadas, porque trabalhos de pesquisa exigidos em sala 
de aula criam s itua~Oes obviamente art ificiais. Se esse e urn de 
seus primeiros projetos, voce talvez nao 0 eSleja fazendo por­que, 
na vcrdade, senle a premcnte necessidade de fonnular uma 
pergunta cuja resposta modifique 0 mundo. Por outro lado, e 
improvavel que seu professor tenha Ihe pedido para fazer a pes­quisa 
porque sinta a necessidade prcrnente de saber sua respos­tao 
Voce provavclrnente esta escrcvendo para atingir uma meta 
menos direta: aprender sabre pesquisa, represenlando 0 papel 
de pesquisador e imaginando 0 papel de sell le itor. 
Representar urn papel nao e uma parte insignificante do 
aprendizado. As pessoas podcm aprender uma tccnica de tres 
maneiras: lendo sobre ela ou ouvindo sua exp li ca~ao. observan­do 
enquanto oulros a praticam, ou praticando a tecnica par si 
mesmas. 0 aprendizado mais eficaz combina as tres alternativas, 
mas a terceira c decis iva: Illio basta apenas ler, ouvir e obser­var 
- e preciso Jazer. E, uma vez que a pesquisa e uma ativi­dade 
social, pratica-Ia significa desempenhar urn papel social. 
Com essa finalidadc em vista, seu relat6rio deve criar 
papcis tamo para voce quanto para seu professor. Mas csses
18 A ARTE VA PESQUlSA 
papeis nao podem sec os da sala de aula, onde 0 professor fa: 
pcrguntas para que voce mostre que sabe as respostas, ou vo~e 
faz as perguntas porque nao sabe as respostas. Em sell relato­rio 
voce deve se converter em autor/pesquisador e dar a seu 
pr~fessor 0 papel de urn leiter que deseja, ,?u de~e~ia ,desejar, 
saber 0 que voce descobriu. Na verdade, deve se Imagmar tro­cando 
papeis com seu professor, voce se tarnando professor 
dele, c ele, seu aluno. 
2.2.1 Criando seu papel 
Ao longo de teda sua pesquisa, imaginc-se como alguem 
que possui urna informa~ao ou afirma~ao bastante importante 
para sec passada a outros que passam quercr conh:ce-Ia. Ima­ginando 
isso, voce deve represcntar 0 papel .espe~lfico de urn 
profissional cia area. Se estiver num curso de blOlogla, por exem· 
plo, espera·se que tenha apontamentos cO';lplet~s sobre 0 ~uc 
ocorre no laborat6rio (incluindo crros e sltua~oes scm s3lda) 
e da mcsma maneira como faria urn pesquisador experientc, 
r~late seus resultados de forma profissional. Se seu projeto, 
num curso de hist6ria, for preparar seu hist6rico familiar, voce 
deve consultar a literatura sobre as raizes etnicas e socioeco· 
nomicas de sua familia, da mesma maneira que urn historiador 
pro fi ssional faria. Ou pode ser que Ihe pefY3m para represen· 
tar 0 papel de uma pessoa informada, que nao seja urn profis· 
sional "de dentro", mas exatamente 0 que voce e: urn estudan· 
te escrevendo seu primeiro relat6rio de pesquisa em urn curso 
introdut6rio. , 
Seu professor pode ate mesruo dar informatroes dctalhadas: 
ESCT'eva um historico de sua familia para 0 "Projeto Diver· 
sidade ", como parte da comemoraplo de celllentirio e de uma 
camponlta para arrecada~'ao de fundos: seu historico, jllllta­mente 
com mdros, sera publicado numa broe/lllm diSlribuida 
peta associa~iio de ex..a/unos para moSlrar a diversidade dos 
estudantes desre campus. 
PESQUlSA, P£SQfJISADORES E I£rroRES 19 
De acordo com essas infonnafYOes, seus leitores nao seriam his· 
toriadores profissionais, mas alunos em potencial e seus pais. 
Mas suponha que Ihe seja pedido para interpretar 0 papel 
de urn pesquisador que faz urn relat6rio sobre a presentra de 
toxinas nurn lago, para a diretora da Agencia Estadual de Pro­tefYao 
ao Meio Ambiente. Nessc caso, talvcz fosse convenien· 
te fazcr uma pesquisa sobre essa diretora, para descobrir quem 
cia e e como pretendc usar seu relatOrio. No passado, ela esteve 
mais ligada a politiea ou a ciencia? Se a resposta for a segun· 
da altemativa. que tipo de cicncia? 0 relatorio sera para ela 
apenas, ou tambem para 0 governador? Ela precisa das infor· 
mafYOcs para decidir a que fani no futuro, au para justificar 
uma decisao que ja foi tomada? 
Em resumo, 0 primciro passo no preparo de uma pesqui· 
sa e compreender seu papel num determjnado "palco". Por que 
Ihe pediram para escrever 0 relatorio? 0 que seu professor, 
curso ou prograrna querem que voce aprenda com isso? Querem 
que voce experimente 0 sabor da pesquisa, visando prepara-lo 
para se especializar em urna area, tornar·se urn profissional? 
Ou ser'a que desejam dar aos alunos em busea de educw:;iio Ii· 
beral uma oportunidade de pensar muito sabre urn assunto de 
sua propria escolha? Se voce nao souber, pergunte. 
Outra questao a considerar e como a aparencia de seu 
relat6rio influi no papel que voce representa nesse contexto 
social previsto. No trabalho dc biologia, 0 texto deveria ter a 
forma de urn relat6rio de laborat6rio, de urn memorando of i­cial 
recomendando providencias, ou de urn sumario de direto­ria? 
No caso do trabalho de hist6ria, voce tern menos formas 
para escolher, mas deve procurar saber, por exemplo, se pode 
elaborar a hi st6ria como uma narrativa na primcira pessoa, em 
que voce fa lara de seu passado e do que descobriu sabre ele. 
Ou sera que 0 trabalho deve ser um rclato formal, na tcrccira 
pessoa? Nao comcce sua pesquisa antes de saber quais sao 
suas op~oes quanto a forma do rc latorio.
20 A ARTE DA PESQUlSA 
2.2.2 Criando urn papel para seu iejlor 
SellS leitores tambem devcm desempenhar urn papel, que 
voce criara para eles. Considerando que seu professor talvez 
seja seu principalleitor, voce deve atribuir-Ihe 0 papel,dc alguem 
que, se liver bons motivos, in! se preocupar com seu'problema 
de pesquisa e querer conhecer a 50U9aO. Ele tambCm poden't 
estipular urn papel para si mesmo - alguem uda" especialidade, 
que espera que voce escrcva como os demais autares da area. 
Ou, 0 que sena mais dificil, cle poderia representar 0 papel de 
urn lei tar comum que nao tern conhecimento especializado cia 
area e sellS metodos. 
Dependendo do papel que ele se atribua. sell professor ira 
concentrar-se em difercntes aspectos do rel at6rio. Como lei tor 
especializado, procurani cita.-;oes dos estudos chissicos sobre 
o assunto, fonnatadas corretamente, e como lei tor comum ira 
querer explica.-;6es claras, "em linguagem simples", dos ter­mos 
tecnicos. Se voce estiver redigindo urna (ese para ser lida 
por urna banca exarninadora, tera de pensar nos diversos pa­pcis 
de maneira mais complicada ainda. 
Se voce e urn pesquisador experiente, compreende como 
os leitores difercm uns dos ou1ros, mas, se esta cscrevendo seu 
primeiro relat6rio de pesquisa, prccisa saber que os leitores ado­tam 
papeis baseando-se no modo como usadio sua pesquisa. 
As diferen.-;as mais importantes encontram-se entre os que H!:em 
por diversao, as que querem urna solu.-;ao para urn problema 
pnitico e aqueles que se dedicam a pura busca do conhecimen­to 
e da compreensao. 
Para entender essas difcrem;:as e corno afetam sua pesqui­sa, 
imaginc tres formas dc dhilogos sobre baloes, dirigiveis e 
zepelins. 
Por diversao. Esse tipo de troca de ideias ocorre entre pes­soas 
que se reimem para fa lar sabre zepelins por passatempo. 
Para enttar no dialogo, voce s6 precisa mostrar interesse pelo 
assunto e ter algo novo ou interessante para oferecer, como, 
por exemplo, urna carta do lio Otto, na qual elc dcscreve sua 
viagem no primciro zcpclim a cruzar 0 Atlantico equal foi a 
PESQUISA, PESQUlStt.DORES E LEITOR£S 21 
cardapio do jantar. 0 que esta. em jogo aqui c urn momenta de 
diversao entre pessoas que gostam de falar sabre zepelins e tal­vez 
procurem obter algum enriquecimento pessoal. Sua conver­sa 
seria 0 tipo de trabalho que voce escreveria em uma aula de 
reda.-;ao, em que se espera que 0 aulor seja anirnado, com algo 
interessante, talvcz engra.-;ado para contar, que se concentre 
mais em expor suas pr6prias rea.-;oes do que em fazer uma ami­lise 
imparcial do assunto. Como sua tarefa e cornpartilhar com 
outras pessoas seu entusiasmo por urn assun to que tambcm as 
entus iasme e oferecer algo que etas nao conhe.-;am e achariam 
interessante, voce deve consultar suas fontes, procurando hist6- 
rias divertidas, fatos estranhos e assim por di ante. 
Por urn motivo pnitieo. Agora imagi ne um segundo dia­logo, 
dessa vez com 0 pessoal do departamento de rela.-;oes 
publicas da Giganto Inc. Eles gostariam de usar urn dirigivei 
em uma campanha publicitaria, mas nao sabem quanta isso 
custaria, nem ate que ponto seria eficaz. Entao, contrataram 
voce para descobrir. Para sair-se bern nesse dhllogo, voce pre­cisa 
ethender que btl mais coisas em jogo do que meramente 
a satisfacao da curiosidade. Sera necessario responder a per­gunta 
da pesquisa de urna maneira que aj ude 0 pessoal de RP 
resolver seu problema pratico,fazendo algo: se alugarem 0 di­rigivel, 
aumentadio as vendas da Giganto? Esse e 0 tipo de pu­blico 
para 0 qual voce podera escrever, quando seu professor 
criar urn roteiro "da vida real" para seu trabalho, ou seja, oode 
haja alguem interessado em usar sua pesquisa para resolver urn 
problema real, tangivel, pragmatico. Se souber 0 que seus lei­ta 
res farao com suas respostas, voce sabera que informa.-;oes 
procurar, compreendendo que h5. outras com as quais nao pre­cisa 
se incomodar - e improvavel que 0 pessoal da Giganto quei­ra 
saber quando foi inventado aquele artefato mais leve que 0 
ar, ou sc interesse pelas equacoes usadas para analisar sua eSla ­bi 
lidadc acrodinarnica. 
Para en.ender. Finalmente, imagine que sua escola tcnha 
urn departamento de artefatos mais Jeves que 0 ar, tao impor­tante 
quanto 0 departamento de ingles au de qui mica. A facu!-
22 A ARTE DA PESQUISA 
dade oferece cursos sabre dirigiveis, haloes e zepeJins, pesqui· 
sa-os e participa de uma troca de ideias mundial, puhlicando 
pesquisas a respeito dessas aeronaves. Dcssc dialogo partiei­pam 
centenas, talvez milhares de pesquisadores. Alguns deles 
se conhecem, Quiros Dunea se encontraram, mas tod~ leeru os 
mesmos !ivros e peri6dicos. 0 objetivo deles nao e se divertir 
(embora se divirtam) ou ajudar alguem afazer alga - ~omo me­Ihorar 
a imagem de uma empresa (embora pudcsscm gostar de 
atuar como consuhores, pages peJa Giganto Inc.). 0 objetivo 
deles e propor perguntas, e responder a elas. sabre artcfatos 
mais leves que 0 ar, sua hist6ria, SU3S conseqilencias sociais. 
a tcoria e a litcratura a respeito do assunto. Eles determinam 
o valor de seu lrabalho nao pclo que possam oferccer como fonte 
de entretenimento au pela ajuda que possam dar a algucm, mas 
pelo que aprendem, pelo conhecimento que adquirem a respei­to 
de dirigiveis, pel a avalia!;ao de quanta conseguem se apro­ximar 
da verdade. 
Como conscqiiencia, esses estudiosos de artefatos mais 
leves que a ar estao intensamenle preocupados com a qualida­de 
intelectual de seu dialogo: esperam que todos as participan­tes 
sejam objctivos, rigorosamente 16gicos, fieis aos fatos, ca­pazes 
de analisar as perguntas de todos os angulos, nao impor­ta 
para onde a investiga!;ao os conduza au quanta tempo Ihes 
tome. Esperam que 0 dialogo focalize as complcxidades, ambi­giiidades, 
inccrtczas, os misterios e, entao, que apresente solu­c;: 
Oes. Confiam nas pesquisas uns dos outros ao mesmo tempo 
em que competem entre si para produzir as proprias pesquisas: 
desse modo, testam tudo antes de fazer seu relatorio, porque 0 
que mais valorizam e fazer as coisas co~retamente, e porque 
sabem que a vcrdade e sempre parcial - incomplcta e facciosa. 
Entendem que toda verdade apresentada e contestavel e sed 
testada pelos outros participantes do dialogo, nao exatamente 
por screm controversos (embora possam ser) ou mesmo cini­cos 
(embora alguns sejam), mas porque desejam aproximar-se 
da verdade sobrc dirigiveis. 
Tais leitorcs sc interessarao por qualquer coisa nova que 
voce tenha a dizer, mas va~ quercr saber 0 que fazer com a nova 
PESQUISA, PESQUlSADORES F. LEnORES 23 
informac;:ao e de que modo ela afeta 0 que ja sabem sabre diri­giveis. 
Ficarao cspecialrnenlc interessados sc voce convence­los 
de que nao compreendem algo tao bern quanto imaginavam: 
A maior parte das pessoas peIJsa que as arte/atos mais /eves 
que 0 ar originaram-se na Europa, no seculo XV/lI, mas eu 
descobri urn desenho do que parece ser urn baMo de ar quen­te 
de qualm seculos antes, numa parede, na America Central. 
E de urn dialogo desse tipo que voce participa quando re­lata 
pesquisas para uma comunidade de estudiosos. Nao impor­la 
que sell eslilo seja eJeganle (em bora isso me fara admirar 
mais seu trabalho), nao importa que voce me conte hiSlorias 
diver/idas (ainda que eu possa aprecia-Ias, se elas me ajudarem 
a entender me/hor silas Midas), nao importa qlle a que voce 
saiba me enriquera (em bora isso possa me deixar contente). 
Apeflas diga-me algo que nao sej, delorma que eu possa com­preender 
me/hor 0 que sei. 
Esses tres tipos de leitores podem cstar interessados em 
artefatos rna is leves que 0 ar, mas a interesse de cada urn no 
assunt? e di~erente. portanto vao querer que sua pesquisa re­solva 
tlPOS dlfercntes de problemas: entrete-Ios, ajuda-Ios a so­lucionar 
algum problema, ou simplcsmente ajuda-Ios a com­preender 
melhor urn assunto. 
Se cssa for sua primcira incursa.o na pcsquisa, voce tera dc 
descobrir 0 que esta em jogo no rneio a que pertence. Se nao 
sauber, pergunte, porque esse requisito 0 levani a caminhos di­ferentes 
de pesquisa. 
Claro que no decorrer da pesquisa voce podera descobrir 
alga que mude sua intem;:ao: enquanto coleta hist6rias cngra­rvadas 
sabre 0 descnvolvimcnto do zcpelim, talvez descubra 
que a hist6ria oficial desse dirigivel esta errada. Mas, se voce 
nao tiver. desde 0 inicio, uma n o~ao do que realmcnte pretendc, 
esta arriscado a fiear perambulando sem rumo de uma fonte 
de informarvoes para outra, a que 0 conduzira, e a seus leilO­res, 
a lugar ... nenhum.
24 A ARTE OA PESQUISA 
2.3 Leitores e seus problemas comuns 
Oependendo do que esteja em jogo. leitores e autorcs re­presentam 
papeis sociais diferentcs, por tras dos quais ex istem 
preocupa<;:Oes comuns a todo leiter, assim comp problemas 
comuns a todo auter. " 
2.3.1 Leitores e 0 que voce sabe sobre eles 
Todos os leitores compartilham urn interesse: querem ler 
relat6rios que aprescntem 0 minima poss ivel de dificuldades 
desnecessaria s. Podcm apreciar a elegancia e a vivacidade de 
espirito, mas em primeiro lugar quercm entender 0 ponto prin­cipal 
de seu trabalho e saber como voce chegou a ele. Assim, 
como c uti I pensar no processo de reda<;:ao de seu relat6rio co­mo 
urn caminho para urn ponto de destino, tambem e ut il ima­ginar 
uma trajetoria semelhante para seus leitorcs, que tcrao 
voce como guia. Eles querem que sua introdlll;ao lhes indique 
para onde ir, e que voce explique por que deseja conduzi-los por 
esse caminho, que de uma ideia da pergunta a que a jornada 
respondcra, que problema, inte1ectual ou pratico, sera resolvido. 
Seus leitores tambem vao querer saber de que maneira sua 
pesqui sa e as conciusOes mudarao suas opinioes e co nvic~oes: 
e assim que irao aferir a impQrltincia de seu trabalho. 0 que 
voce pretende? Oferecer a leitores agmdecidos a solu<;:ao de 
urn problema que durante muito tempo cles sentiram que prc­cisavam 
resolver, ou tentara vender uma soluc;ao a leitorcs que, 
nao s6 podem rejeita-Ia, como tam¥m, talvez, nem sequer 
queiram saber do problema? 
l o dos os leitores projeram em urn relatorio de pesquisa os 
pr6prios interesses e co n ce p~oes. Portanto, antes de redigi-lo, 
voce precisa definir a p os i ~ao dcles e a sua em rcla~ao it pcr­gunta 
a que voce esta rcspondendo e ao problema que esta resol­vendo. 
Se sua pcrgunta ja e urn assunto palpitante na comuni­dade, 
a maioria dos leitores a apreciani, antes mesme de voce 
aprescnta-la. Nesse casc, concentre-se cm definir II posic;ao deles 
em re l a~ao a sua resposta: 
I 
PESQUISA, PliSQUISADORES E l.En oRES 25 
• Se ja conhecem a resposta. voce as estara fazendo perder 
tcmpo. 
• Sc acreditam em uma res posta errada, ou em urna res posta 
certa pelas razoes erradas, antes de mais nada voce tera de 
demove-Ios do eITa e, entao, convence-Ios de que sua resposta 
e a correta, pel as razoes coeretas - wna tareEa dificil. 
• Se cles nao tern urna resposta. voce esta com sorle: 56 pre­cisara 
convence-Ios de que possui a resposta certa, e eles a 
recebcrao, agradccidos. 
Se, por outro lado, sua pergunta nao for urn assunto pal­pitante. 
sua laTera sen. mais complicada, porque a maioria dos 
leitores nao tCHi conhecimento de sua pergunta ou de sell pro­blema, 
antes de voce apresenta-Ios. Nesse caso, voce precisara, 
primeiro, convence-Ios de que sua pergunta e boa. 
o Alguns leitores, par quaJquer rozao, nao terao nenhum inte­resse 
em sua pergunta, de modo que nao se interessarao pela 
resposta. Convence-Ios a interessar-se pela pergunta podera 
ser urn desafio maior do que convence-Ios de que voce cn­controu 
a resposta correta. 
o Allguns leitorcs poderao mostmr-se receptivos a seu problema 
por pcrceberem que a so lu~ao os ajudara a entender melhor 
seus pr6prios problemas. Se for assim, voce estara com sortc. 
o Outros leitores poderao rejeitar tanto sua pergunta como a 
resposta, porque aceita-Ias desestabilizaria convic~oes man­tidas 
ha longo tempo. Podcriam mudar de ideia, mas apenas 
por boas razoes, enfat icamente expostas. 
o Finalmente, alguns le itores estarao tao cntrincheirados em 
suas co nvic~oes, que nada os fani levar em considera~ao uma 
nova pergunta ou urn velho problema tratado de uma nova 
maneira. Voce s6 podeni ignoni-Ios. 
2.3.2 Leitores e 0 que voce espera deles 
Para entendcr seus leitores, portanto, voce prccisa saber 
qual e a posi~ao delcs. Mas tambem precisa decidir aonde de­seja 
leva-los e 0 que cles farao quando chegarem la. Podcria 
ser uma· das ahernativas descritas a seguir, au todas elas.
26 A ANn::: DA PESQUISA 
Aceitar um conhecimento novo. Se voce oferecer aos 
leitores apenas conclusOeS e conhecimentos novos, devera pre­sumir 
que eles ja tern interesse pelo assunto, ou, entao. dispor­se 
a convence- Ios de que, tomando-se receptivos, s6 terao a 
lucrar. Se eles ja tiverem interesse, apenas apresent~r as in for­macOes 
sera menos trabalhoso, mas tarnbem muito menos in­teressante 
e geralmente menos marcante. Vez por outra, urn 
pesquisador dint: Aqui estlio as inj'ormap5es que descobri. e 
espero que possam interessar a alguem. Os leitores ja interes­sados 
fi carao gratos, mas iraQ se interessar mais se 0 pesquisa­dor 
mostrar como os novos dados podem for~a-Ios a ocupar-se 
de uma nova quesHio, especialmente sc tais dados perturbarem 
sua ant iga maneira de pensar. 
Vamos dizer que voce possua infonnac;:Ocs sabre tecelagcrn 
tibetana do seculo XIX. Isso pode ser novo para seus leitores, 
mas voce nao tern nenhum argumento diferente alem de: Voces 
provavelmente nlio conhecem este assunto. Tudo bern, mas me­Ihor 
seria imaginar como sua nova informac;:ao poderia reque­rer 
que cles mudassem de opiniao sobre 0 Tibete, a teeelagem 
ou ate mesmo sobre 0 scculo XIX. Isso significa achar pcrgtm­tas 
que possam interessar aos leitores. e quc seu novo conhe­cimento 
possa responder. 
No mundo dos ncg6cios e do comercio, e comum um su­' 
pervisor orientar os pesquisadores para reunirem e relatarem 
informa~oes , mas essa pessoa normalmente quer as informa­~ 
Oes para resolver urn problema que elaja sabe que tern. Nesse 
caso, ha urna divisao de trabalho: Voce consegue as informafoes 
de que eu preciso para resolver meu problema. , 
Mudar convic~oes. Voce pedira mais de seus leitores (e 
de si mesmo) se pedir-Ihcs nao so que aceitem novos conhe­cimentos, 
mas tambem mudem conv i c~oes arraigadas. Quanto 
mais arrai~adas estiverem essas convicc;:oes, mais dificil sen) 
muda-Ias. :£ assim que os leitores avaliam a importancia da pcs­quisa. 
Por exemplo, seria faci! convenccr a maioria de nos de 
que ha exatamente 202 asteroidcs conhccidos, a urna distancia 
de urn quilomctro c meio ou mais. porque poucas pessoas estao 
preocupadas com isso. Mas, se pudesscmos ser convencidos de 
1, 
PESQUISA, PESQUlSADORES E LErroRES 27 
que esses 202 aster6ides sao restos de urn planeta que urn dia 
existiu entre a Terra e Marie e explodiu em uma guerra nuclear, 
tcriamos de mudar muitas convic<;;oes sohee varios assuntos 
importantes, 0 menor dos quais seria 0 numcro exato de aste· 
rOides. Ao pensar oa qucstao de que esta tratando, pense tam· 
bern no impacto que pretende produzir oa estrutura geral de 
convic.;oes e conhecimentos de seus leitores. Quante maior 0 
impacto, mais importante sera sua questiio, e mais voce tern de 
trabalhar para sec convincente. 
o fate delorosa, no cntanto, e que mesmo pesquisadores 
experiemes acham dificil prever ate que ponto suas dcscobertas 
faraa os Ieitores mudarem suas convic~oes. E, mesmo quando 
conscgucm, geraimenlc lutam para explicar por que os leitores 
deveriam mudar. 
Agora, uma coisa importante: Se voce for um pesqllisador 
iniciante. nlio pense que tera de satiJ.jazer uma expectativa tlio 
elevada quanto essa. 
No in icio, nao se preocupc em saber se as resultados de 
sua Pfsquisa serao novas para os outros, se serao capazes de mu­dar 
a opiniiio de alguem, alem da sua. Preocupe-se antes de 
rnais nada em saber se 0 trabalho e importante para voce. Se 
conseguir encontrar uma pergunta a que so voce queira respon­der, 
ja sera uma conquista importante. Se conseguir encontrar 
urna resposta que mude apenas 0 que voce pensa sobre urna 
pon;.ao de coisas, conquistou algo ainda rnais importante - des­cobriu 
como novas ideias desestabilizam e reorganizam con­vicc;: 
ocs estaveis. 
Sc voce for urn pesquisador experiente, porem, tera de dar 
o proximo passo. Seus leitores esperam que voce apresente urn 
problema que nao 56 reconhec;:am como seu, mas tambem como 
deles, urn problema cuja solll c;:ao mudara a opiniao deles, de urn 
modo que eles achem significativo. (Discutirernos esse requi­sito 
mais detalhadamente no Capitulo 4.) 
Praticar urna ae;ao. De vez em quando, os pesquisado­res 
pedem que os leitores pratiquem urna a~ao porque acredi­tam 
que a so lu~ao de seu problema de pesquisa podera ajudar 
os leitores a resolver urn problema real. As vezes isso e Hiei l -
28 A AR71;." DA PESQUISA 
urn quimico descobre como produzir gasolina nao poluente e, 
entao, leota persuadir as companhias de petr6leo a usarcm sua 
formula. 
Mais frequ entemente, os resultados de sua pesquisa nao 
Icvarao a urna 8930 especifica mas, sim, a urna conflusao que 
apenas mudara a compreensao de seus leitores. NQ mundo da 
pesquisa erudita, entretanto, cssa nao e urna conquista despre­zivel. 
No computo final, a importancia da pesquisa academica 
dcpende do quanta ela abala e reorganiza convic~oe s. nao que­rendo 
dizcr que essas novas conv i c~oes levarao a uma 3930. 
Tenha em mente que praticamentc todo pesquisador aca­demico 
comec;a satisfazendo interesses. nao de sellS leitores, 
mas os sellS pr6prios. Tambem estcja cienle de que mesmo 
pesquisadores experientes geralmente nao podcm, logo no co­me<; 
o, responder a perguntas sabre a importancia de sua pcs­quisa. 
Par rnais paradoxal que possa parecer, quase lodos s6 
cornprccndcm exatarnente a importancia que suas dcscobcrlas 
terao para os outros quando terminam 0 primeiro rascunho de 
seu relat6 rio. Portanlo, aqui vai rnais uma palavra de conforto 
para quem esteja in iciando seu primeiro projeto: quando voce 
parte de urn interesse seu - como deve ser - provavclrnenle nao 
sabe 0 que esperar de seus leitores, ou ate de si mcsrno. S6 
descobrini. isso depois de encontrar urna rcsposta que 0 ajude 
a entender melhor a pergunta que deseja submetcr fa aprecia<;ao 
de seus leitores. Mesrno entao, sell melbor lei tor talvcz seja 
voce mcsmo. 
N oda e mais importonte pora 0 sucesso do pesquiso do que seu 
compromisso com ela. Algumas dos pesquisos mois impartontes do 
mundo forom conduzidos par pessoos que triunforom sobre a indi­feren<;: 
o , porque nunco duvidorom de suo proprio visco. Barbaro 
AflcClintock, umo geneticista, lutou durante onos, sem reconheci' 
menta. porque suo comunidode de pesquiso noo considerovo seu 
trobolho importonte. Mos cia ocreditou nele e final mente, quando a 
comunidode foi persuodido a fozer perguntos a que 56 elo pode­rio 
responder, B6rbaro conquistou a honro mois alto do ci€mcio : 0 
Premia Nobel. 
1 
I 
I 
PESQUISA, PESQUTSADORES J:: LEITORES 29 
2.4 Autores e seus problemas comuns 
Da mcsma maneira que lodos as leitores tern certas preo­cupa<; 
oes em comum, lodos as autores enfrentam alguns pro­blemas 
iguais. 0 mais importante para os iniciantes e a dife­renc; 
a que a experiencia faz. Quando urn autor conhece real­mente 
urna area, interioriza seus metodos tao bern, que e capaz 
de fazer por habito 0 que antes fazia apenas atraves de normas 
e reflexao. Autores com pratica come<;am urn trabalho com a 
intuic;ao de qual sera sua forma final e do que os leitores espe­ram. 
Os menos experic ntes tern de pensar nao s6 em seus 
assuntos e problemas especifi eos, mas tambcm de fazer 0 que 
os autores experi entes fazem intuitivamente. Mas e claro que e 
para isso principaime nte que voce se esforc;a tanto, para apren· 
der a pesquisar rnais, com menos desperdicio de csfor<;o. E 
essa e a meta deste livro: ofereeer-ihe diretrizes, listas de con­ferencia 
e ve rifica~ao e sugestOes rapidas para ajuda-Io a avaliar 
seu progresso e seus planas e, a que e rnais importantc, mos­trar- 
Ihe como pensar e escrever como um leilOr: em resurno, 
tamar claro 0 que os autores cxperientes fazcm intuitivamente. 
Todo 0 mundo eome4ta eorno novato, e quase todos n6s 
nos sentimos assim outra vez, ao cornec;ar urn novo projeto no 
qual nao estamos inteira rnente confiantes. Nos tres, os auto­res, 
lembrarno-nos de ja haver tentado redigir conciusoes pre­liminares, 
eonscientes de que nosso texto e ra impreciso e con­fuso, 
porque era assim que nos sentiamos. Lembramo·nos de ri­car 
simpiesmente repctindo 0 que Ilamos, quando deviamos eslar 
analisando, sintetizando e criticando 0 texto. Tivemos essa ex­periencia 
quando erarnos estudantes, primeiro como alunos de 
faculdade, depois de p6s-gradua<;ao, e passamos por ela quase 
toda vez que comeC;arnos urn projeto que exige que estudemos 
urn assunto verdadeiramente novo. 
A medida que voce adquire rnais habilidade e experien­cia, 
algumas dessas ansiedadcs sao superadas. A pratica eompen­sa. 
Par que, enrno, urna vcz que voce tcnha "aprendido a pesqui­sar", 
nao eonsegue livrar-se cornpletamente da ansiedade? 0 
fato e que aprender a pesquisar nao e como aprender a andar de
30 
biciclcta, uma habilidade 
que voce pode repetir cada 
vez que experimenta uma 
bicicleta nova. Pesquisar 
envolve algumas habil ida­des 
repetitivas, mas, como 
os objelos de pesquisa sao 
infi nitamente variados, e 
os modos de informar os 
resultados vari am dc area 
para area, cada novo pro­j 
eto lraz cons igo proble­mas 
novos. A dife renc;a 
entre 0 especialista e 0 
novato reside em parte no 
fato de que 0 especialista 
cOnlrola melhor as tccni ­cas 
repetitivas, mas, alem 
disso, ele lambem consc­gue 
prever melhor as ine­vitaveis 
incertezas e supe­rn- 
Ias. 
Entao, como voce po­de 
evitar a sensac;ao de que 
esta sobrecarregado? 
Em primeiro lugar, to­me 
consciencia das incer­tezas 
que inevitave lrncnte 
enfrentara. Esse deve ser 
o objetivo da primeira e 
rapida leifUra deste livro. 
Em segundo lugar, do­mine 
0 assunto que cseo­Iheu, 
eserevendo sobre elc 
A A~ DA PESQUISA 
Sobrecofgo cognifivo: 
Algumos polovros tronquilizodoros 
As dificuldades que os pesquiso· 
dares inicionles enfrenl~m tem me­nos 
0 ver com idade 6u realiza · 
<;6es do que com a experiencio no 
areo estudado. Umo vez, um de 
nOs explicovo 0 olguns professores 
de redacoa juridica que os prO" 
blemas de ser novato despertom 
umo sensa COo de inseguronca 
nos novas esludonles de dirello, 
rnesmo entre as que erom bons 
redalores antes de entror no facul­dode. 
No rim do converso, umo 
mulher comentou que, 0 0 inieior a 
curse de direil:>, expe~imentoro 01- 
gumo sensocoa de Incerteza e 
caniusoo. Antes do curso. elo lora 
prolessoro de ontropoogio, publi­coro 
urn trobolho e faa elogiodo 
pelo.s revisores pelo clorezo e pelo 
vigor de seu lexlo. EnlOo, decidira 
mudor de carreiro e curror 0 fa­culdade 
de direiJo. Segundo elo, 
escrevio de moneiro lOa incoerente, 
nos prirneiros seis meses, que leve 
meda de eslor sofrendo de alguma 
doenco degenerotive do cerebra. 
Noo eslova, e claro: simplesmente, 
experirnenlovo urn tipo de olosio 
lempororio que oflige 0 moiorio de 
n6s, quando lenlomas escrever so­bre 
urn oSS~Jnto que 000 domino' 
mos. Noa lai de surpreender que, 
00 camEX;or 0 enleooer melhor os 
leis, possasse a pensor e escrever 
melhar. 
ao longo da pesquisa. Nao se limite a tirar fotocopias de suas 
fontes e sublinhar palavras: escreva resum~s, criticas, pergun­tas 
sobre as quais refletir mais tarde. Quanta mais escrever, a 
medida que avanfa, nao importa quao esquematicamente 0 
PESQUISA , PESQUlSADORES £ lElTORES 31 
faca, mais confiante estara ao enfrentar 0 intimidante primei­ro 
rascunho. 
Em terceiro lugar, mantenha sob controle a complexidade 
de sua larefa. Todas as partes do processo de pesquisa afetam 
as demais, portanto use 0 que aprendcu sobre cada parte, de 
modo a dividir 0 complexo conjunto de tarefas em etapas rn a­nejaveis. 
Supere os primeiros estagios. encontrando urn topi­co 
e fonnulando algumas boas perguntas, e, entao, seu trabalho 
sera mais eficaz mais tarde, quando voce redigir 0 rascunho e 
revisa-Io. Inversamentc, se puder prever como fani 0 rascunllO 
e a revisao, ten} maior eficaeia na etapa de procurar urn topi­co 
e formular urn probl ema. Podeni dar as tarefas a atem;ao 
que cada uma requer, se souber como coordemi-Ias. quando se 
concentrar em uma em particular, quando fazer uma avaliaC;ao, 
como revisar sellS pianos e ale mesmo quando altera-los. 
Em quarto lugar, conte com seu professor para ajuda-Io a 
veneer suas di f iculdades. Bons professores querem que seus 
alunos teoharn sucesso e prcstam-lhes aj uda. 
ryIa is importante de tudo, reeo nh e~a 0 problema pelo que 
ele e: suas dificuldades nao indicam necessariamente que voce 
Icnha fa lhas g raves. Para superar os problemas que todos os 
iniciantes enfrentam. faca exatamente 0 que esrn fazendo, 0 que 
todo pesquisador bem-sucedido sempre fez: va em frente.
Sugestoes uteis: 
UsIa de verijica,ao para ajuda-Io 
a compreender seus leilores 
". 
Embora voce deva pensar em seus leitores desde 0 come­~ 
o . nao espere poder responder a lodas as perguntas scguintes ' 
ate estar proximo do fim de sua pesquisa. Porlnolo, plancje re­tomar 
a esta lista de verifica930 algumas vezes, cada vez apri­morando 
mais 0 pape! que ira criar pam seus leitores. 
Como e sua comunidade de leitorcs? 
1 - Seus leitores sao: 
• Profissionais da area de sua pesqui sa? 
• Leitores comuns que tern: 
- niveis d iferentes de conhecimento e interesse? 
- niveis semelhantes de conhecimento e interesse? 
2 - Para cada grupo uniforme de leitores, repita a anali­se 
que se segue. 
o que seus Icitorcs espcram que voce fa~a por elcs? 
1 - Que os divirta? 
2 - Que os ajude a resolver algum problema real? 
3 - Que os ajude a compreendcr melhor algum assunto? 
Quanto sabem seus leilorcs? 
1 - Nivel de conhecimento geral (comparado ao scu): 
muito menor menor 0 mesmo maior muito maior 
2 - Conhecimento do assunto em quest300 (comparado ao 
seu): 
muito mellor menor 0 mesmo maior muito maior 
3 - Que interesse especial cles tern pelo assunto? 
4 - Que aspectos do assunto esperam que voce discuta? 
r 
PESQUISA. PESQUlSAOORES E LErTORES 33 
Eles ja compreendcram seu problema/sua questao? 
1 - Seus leitores reconheccm 0 problema que seu traba­lho 
propoe? 
2 - E 0 tipo de problema que eles tern, mas que ainda nao 
reconheccram? 
3 - 0 problema nao e deies, mas seu? 
4 - Levarao 0 problema a serio imediatamente, au voce pre­cis3ra 
persuadi-los de que e importante? 
5 - 0 problema da pesquisa e motivado por uma dificul­dade 
tangivel c real, au por uma dificuldade intelec­tual, 
conccitual? 
Como clcs rcagicio a sua solu~ao/rcsposta'! 
- 0 que voce espera que seus lcito res Ja(:am como re­sultado 
da leitura de seu relat6rio? Que aceitem as no­vas 
informa90es, mudem certas opinioes, pratiquem 
a lguma 3930? 
2 r A solu930 ira contradizer as opinioes deles? Como? 
3 - Os Icitores ja tern alguns argumentos padronizados 
contra sua solu93oo? 
4 - A solU930 sera apresentada isoladamente, ou os leito­res 
vao qucrer conheccr as etapas que leva ram a cia? 
Como seu relat6rio sera recebido? 
I - Sells lei tares pediram seu relat6rio? Voce 0 enviara 
sem que seja solicitado? Eles 0 encontrarao numa pu­blica9ao? 
2 - Antes de atingir seus leitorcs principa is, seu relat6rio 
precisara scr aprovado por um intermediario - seu su­pervisor, 
0 editor de uma publica9uo, um assistenle de 
diretor au ad ministrador, lim tccnico especiali sta? 
3 - Os leilorcs esperam que scu relal6rio obede9a a urn 
formalo padr3oo? Se for 0 case, qual?
T 
PARTE II 
Fazendo perguntas, 
encontrando respostas 
Prologo: Planejando seu projeto 
SE vocl: JA LEU E5TE LIVRO UMA VEZ, cnHio esta pronto para 
iniciar seu projeto. Mas, antes de ir it biblioteca, faJ;a urn pla­nejamento 
cuidadoso. Se 0 trabalho que seu professor lhc indi­cou 
define uma pergunta e especifica cada etapa do projeto, 
leia por alto os pr6ximos dois capitulos nova mente, siga as ins­trm; 
5es de seu trabalho, entao retorne it Parte III antes de come­' 
Var a redigir 0 rascunho. Se, por outro lado, voce precisa pla­nejar 
sua propria pesquisa, ate mesmo encontrar urn assunto, 
podera sentir-se intimidado. Mas eonseguira desincumbir-se da 
tarefa, se executa-Ia passo a passo. 
Nao existe uma formula pronta para orientar todas as pes­quisas: 
voce tera de gastar algum tempo pesquisando c lcndo, 
ate descobrir onde esta e para oode vai. Perdera tempo em si­tua~ 
5cs sem saida, mas acabani aprcndendo mais do que sell 
trabalho cxigc. No final, pon!m, 0 esfon;o extra ira compensar, 
nao apenas porque voce fara urn born relatorio, mas tam bern 
porque vent aumentada sua capacidade de lidar mais cficazmen­te 
com problemas novos. 
Quando come'Var, leve em conta que lera de considerar as 
seguintes ctapas iniciai s: 
Estabelec;:a urn t6pico bastante especi fico para permitir-lhe 
dominar uma quantidade razoavel de informac;:oes, nao "a 
historia da redac;:ao cientifica", mas "os ensaios das A las da 
Real Sociedade ( 1800- 1900), precursores dos modernos arti­gos 
cientificos".
A ARTE DA P£SQUIS.A 
A part ir do assunlo escolhido, desenvolva perguntllS que iraQ 
Dortear sua pesqui sa e orientar voce para urn problema que 
pretenda resolver. 
• Reuna dlldos relevantes para responder as pcrguntas. 
Depois de coletar os dados que respondam ~ maioria de 
suas perguntas, voce tera, e claro, de organiza-Ios em forma 
de urn argumento (0 Icma da Parte III) c rcdigi -Ios num ras­cunho 
(0 lema da Parte IV). 
A medida que for colctando, ordenando e reunindo suas 
in form a~oes , escreva a maximo que puder. Grande parte desse 
trabalho de reda((ao sera fazer simples anota((oes, apenas para 
registrar 0 que voce encontrou, sem esquecer as "anota((oes pa­ra 
compreensno". Faya descriyoes em liohas gerai s, di agramas 
mostrando como ha relayao entre fatos aparentemente discre­pantes, 
resumos de fontes de informac;:oes, "posic;:5cs" e "esco­la 
s", li slas de easos re lac ionados, anole as contradi coes em re­lac;: 
no ao que voce Jeu, e assim por diante. Ainda que apenas uma 
pequena parte dessas anota~oes preliminares venha a aparecer 
em seu rascunho fi nal, e importante faze-Jas, porque escrever 
sobre suas fontes, a medi-da 
que lIvon9Q, ajudani vo­ce 
a cntcnde-Jas melhor e 
estimulara 0 desenvolvi­mento 
de seu senso criti­co. 
Tomar ootas lambem 
o aj udara, quando chcgar 0 
momento de sentar-se pa­ra 
c ome~a r seu primeiro 
rascunho. 
Voce logo descobrici 
que nao pode cumprir cs­sas 
ctapas na ordcm exata 
em que as aprese ntamos. 
Percebeni que csta esbo­cando 
urn sumario antes de 
ter coletado todos os da­dos, 
formulaodo urn argu­mento 
antes de ler todas 
Quais sao seU5 dodos? 
Noo imporlO 0 que 6reQ peflen­~ 
om, todos os pesquisodores usom 
in fOf~6es como evidencias pa­ra 
suslentor suas ofirma<;:6es . Mos, 
dependendo de suo 6reo de 0100' 
~60. eles alribuem nomes difereo· 
res as evidencias. Umo vez que 0 
nome mbis comum e dodos, ado­Icremos 
esse termo quando nos 
referirmos a quolquer ripo de infor· 
mot;6o usodo nos d iversas 6reos. 
O bserve que por dodos eslaremos 
nos relerindo a mais do que 0 in­for 
rno<;6es quontiloti.oUs, comuns nas 
cit§ncias nolurois e sociois, emoo­ra 
0 termo passe soar eSlranho aos 
ouvidos de pesquisadores do 6reo 
de ciencias humonos. 
r I 
I 
FAZENOO PERGUNrAS, ENCONTR.ANDO RESPOSTAS 37 
as provas, e, quando pcnsar que tern urn argumento que vale a 
pena, podera descobrir que precisa voltar it biblioteca em busca 
de mais provas. Talvez chegue mcsmo a descobrir que precisa 
repensar as perguntas que formuJou. Pcsquisar nao e urn pro­cesso 
no quaJ pode-se ir de urn ponto a outro de modo sim­ples, 
lincar. No cntanto, por mais indireto que seja seu progresso, 
voce se sentira mais conf iante de que esta progredindo de fato, 
se entcoder e administrar os componentes do processo.
Sugestoes uteis: 
Trobalhondo em grupo 
 
Sugerimos que voce p~a a seus amigos que Iciam ver­soes 
de sell relatorio, de modo a poder ve-Io como os outros 
o vecm. Mas tambcm pode acontecer de Ihe pcdircm para redi­gir 
urn relat6rio como parte de urn trabalho em grupe. Nesse 
case, voce Icra pel a frente tanto oportunidades quanto desa­fio 
s: um grupe dispoe de mais recursos do que alguem traba­Ihando 
sozinho. mas, para tirar proveito dessa vantagem, pre­eisa 
conduzir-se com muito cuidade. 
Tres aspectos fund amentais do trabalho em grupo 
Conversar bastante 
o primciro aspecto fundamental dos trabalhos em g rupa 
e que os participantes devem conversar bastante e chegar a urn 
consenso sebre urn plano de trabalho. Mais aioda do que no 
casa de urn autor isolado, 0 grupo precisa de urn plano, e con­versar 
a respeito e 0 unico modo de cri a-Io. acompanhar seu 
progresso e. 0 que e rnais importante. muda-Io quando 0 proje­to 
est iver rnais definido. Marquem reunioes regulares, mante­nham 
contatos telewnicos semanai s, tToquem ende~os, e-mail, 
fac;am tudo 0 que pudcrem para garantir que uns conversem 
com os oulros sempre que houver oportunidade. 
Antes de comec;a r, certifiquem-se de que 0 grupo esteja 
de acordo quanta as melas - a pergunta au problema de que ira 
tralar, a tipo de afirmac;ao que espera apresentar, a tipo de evi­dencias 
nccessarias para sustenta-la. 0 grupo modificara cssas 
mclas a medida que as participantes camprcenderem melhor 
o projeto, mas de5de 0 inicio deve haver urn entendimento sobre 
FAZENOO PERGUNTAS, ENCOtvrRANDO RES{~AS 39 
isso. 0 grupo deve falar sobre os leitores - 0 que eles sabem. 
o que acham importante, 0 que voces esperam que eles fac;am 
com seu relatario. Finalmente, 0 grupo deve delinear as etapas 
para atingir as metas, estabclecendo 0 que cada urn deve fazer 
e quando. 
Para focalizar as discussoes nas etapas do projeto, usem 
estes capitulos como guia. Utilizem as listas de verificac;iio 
para trocar idcias sobre os leitores (pp. 32-3), para fazer per­gunlas 
sistematicamente (pp. 50-4), reforrnula-Ias em forma 
de urn problema (pp. 68-77). Designem alguern para manter 
urn esboc;o que eSleja sempre atualizado, primeiro como esbo­c; 
o do tapico (p. 199), depois como esboc;o da argurnentac;ao 
(p. 140) e finalmente de seus pontos essenciais (pp. 200-201). 
Se 0 projelo envolver muitos dados, estabelcc;am uma lista 
para reuni-Ios, mantenham urna rc lavao de fontes consultadas 
e ainda a serern consultadas, com anotac;:oes breves sobre a 
imporHineia de cada fonte. 
Quanto mais os integrantes do grupo conversarem, mais 
facil idadc terao para escrcver juntos. Se, como e 0 caso dos tres 
autores deste livro, os integrantes tiverem a mesrna formaC;ao 
acadcmica, ja trabalharam juntos e sao capazes de prever as 
opinioes uns dos outros, poderao conversar menos. Mcsmo 
assirn, na redac;ao deste livro. nos tres batemos recordes de te­lefonemas, 
trocamos centenas de mcnsagens de e-mail enos 
reunimos urna duzia de vezes (em certas ocasioes, dirigindo 
mais de cern quil6metros para fazer i5S0). 
Concordar para discordar e depois para cOflcordar 
Estar de acordo c esscncial, mas nao espcrem que 0 grupo 
coneordc unanimemente sobre todos os assuntos. Podem espc­rar 
divcrgencias sabre detalhes, as vezes bern Ilumerosas. Resol­vidas 
essas di vergencias, podcrao surgir as mclhores opin ioes 
do g rupo, porque voces terao de ser explieitos quanto aquila 
em que acrcditam e por que. Par outro lado, nao ha nada que 
impe~a mais 0 progresso do que alguem ficar insistindo em sua
40 A AR7E VA PliSQUISA 
versao, ern incluir sua parcela de dados. Se a primeira regra do 
trabalho em grupo e conversar bastante, a segunda e manter as 
divergencias em equilibria. Se 0 desacordo for sabre que~toes 
que nao representem urn impacto significati.vo sob.re~ cO~Junto 
do trabalho. e melhor esquecer. Guardern sua mtranS!gencl3 para 
questoes de principio etico all de acorde fundamental. 
Organizar~se como equipe. com urn lider 
o grupo deve pedir a algucm para atuar como moderador, 
agilizador, coordenador, organizador. Essa fun ~ao recebe nomes 
difcrentes, mas a maioria dos grupos precisa de algucm para 
manter 0 cumprimento do cronograma, indagar sabre as pro­gressos, 
mediar as discussoes e, quando 0 grupa parecer trava­do, 
decidir qual caminho seguir. Os integrantes do grupo~pod em 
altcrnar-se nessa fun(fao, ou urna pcssoa s6 pode cxerce-Ia du­rante 
todo 0 proj eto. 0 resto do grupo sirnplesrnente concor­da 
qu~ , depois de urn extenso debate, e 0 rnoderadorlagiliza­dor 
quem torna urna decisao, com a qual todos concordam, 
antes de seguir em frcnte. 
Tres estrategias para trabalhar em grupo 
A seguir, veremos tres maneiras de os gropos organizarem 
seu trabalho e alguns dos riseos que cada urna delas oferece. 
A maioria dos grupos eostuma combi~ar as estrategias que se 
ajustem melhor a sua s itu a~ao em particular. 
Dividir, delegar e ir a luta 
Esta estrategia explora 0 fato de que urn grupo tern mais 
habilidades do que urn individuo. Tudo vai mclhor quando os 
integrantcs tern experiencias e talentos difercntcs, e 0 grupo 
divide as tarefas para fazer 0 melhor uso de cada urn. Por cxern- 
FAZENDO PERGUNrAS, £NCON/RANDO RESPOSTI1S 41 
plo, um grupo que trabalhe numa pesquisa sociol6gica pode 
decidir que duas pessoas sao boas para rcunir dados, oulras 
duas para analisar esses dados c produzir grMicos, duas mais 
para redigir 0 rascunho, e que todas participarao da ~d~(fao e 
revisao do texlo. Esta estrategia dcpendc de cada partlclpante 
reservar tempo suficiente para seu trabalho, na seqiiencia em 
que esse liver de ser feito . Se os outros tiverem menos que 
fazer num determinado momento, podcrao executar OUlros 
tipos de trabalho, de acordo com as necessidades. 
o uso menos proveitoso desta cstrategia e dividir 0 docu­mcnto 
em partes para cada participantc pcsquisar, organizar, 
fazer 0 rascunho do texto e revisa-lo. Isso so funciona quando 
as partes de urn relatorio sao rclativamcntc independentes. Mas. 
mesmo assim, alguem ten't de cuidar de reunir tadas as partes, 
e isso podeni ser urn trabalho desagradavel, especialmente se 
os participantcs do grupo nao eonsultaram uns aos outros ao 
longo do caminho. 
Nao importa como 0 grupo divida 0 trabalho: urna gran­de 
eapacidade de administrarvao torna-se n eces~a.ria , porque 0 
ma ior perigo e a falta de coordenac;ao. Caso dlvldam as tare­fas 
ou partes, os participantes devem scmpre conversar sobre 
a que estao fazendo e dc ixar perfeitamcnte claro quem tern a 
obrigacao de fazer 0 que. Entao, coloquem essas detcnnina­rvoes 
no papel e entreguem uma copia a cada urn. 
Escrever [ado a lado 
Em alguns grupos, os integrantes participam de todo a 
trabalho, atuando lado a lado durante todo 0 proccsso. Esta 
estrategia func iona melhor quando 0 grupo c pequeno, bastan­te 
unido, trabalha bern em conj unto e dcdica bastante tempo a. 
larefa - par exemplo, urn grupo de estudantes de enge nharia 
que dediearn dois semestres ao dcsenvo lvimento de urn proje­to. 
A desvantagem e que algumas pessoas fieam pouco a von­tade 
para fa lar sobre idcias incomplctas antes de defini-las par 
cscrito. Outras podem achar ainda mais incomodo eomparti-
42 II AR1'E DII PE$QUISA 
Ihar rascunhos e textos nao revisados. Os participantes de urn 
grupo que usa esta estrategia devem seT tolerantes uos com os 
Qutros. 0 que costuma acontecer e que a pessoa mais confian­Ie 
do grupo ignora os scntimcntos dos autros, domina 0 pro-cesso 
e inibe 0 progresso. ~ 
" 
Trabalhar em turnos 
Em alguns grupos, os participantes trabalham em conjun­to 
durante todo 0 dcsenvolvimento do projeto, mas redigcm 0 
texto e 0 revisam em turnas, de modo a faze-Io evoluir para a 
versao final como urn todo. Essa estrategia e cfieaz quando os 
participantes divergem sobre 0 que e importante, mas suas di­vergencias 
complementam-se em vez de se eontradizerem. 
Por exemplo, num ,.grupo envolvido num trabalha sobre 0 
.Alamo, uma pessoa pode se interessar pelo choque de cultu­ras, 
outra pelas conseqiiencias politicas e urna terceira pelo 
papel da narrativa na cultura popular. Os participantcs podem 
trabalhar a partir das mesmas fontes, mas identifiear aspectos 
diferentes do assunto como os mais importantcs. Entretanto, 
depois de compartilharem 0 que descobriram, revezam-se na 
reda~1io das vcrsoes de urn texto Unico. D primeiro redator cria 
urn rascunho incompleto, mas com estrutura suficiente para que 
os oulros vejam 0 es bo~o da argurncllto e 0 ampliem e reor­ganizem. 
Cada participante, entao, em sistema de revezamen­to, 
encarrega-sc do rascunho, acrcscentando e desenvolvendo 
as ideias que Ihe pa re~a rn mais importantes. 0 grupo cOllcor­da 
que a pessoa que esteja trabalhand9 no texto no momento 
seja seu "dono", podendo, portanto, fazer as mudan(,;as que 
achar Ilccessarias, desde que essas mudan ~as refli tam a inter­preta(,; 
ao do grupo como urn todo. 
D risco c que 0 produto final pareceni atender a proposi­tos 
contradit6rios, seguindo urn caminho em ziguczague, indo 
de urn interesse incompativel pard outro. Urn grupo que lraba­lha 
pelo sistema de turnos precisa estar de acorda sobre a meta 
final e a forma do todo, e cada integrante devc respeitar e acci­tar 
as perspectivas dos outros. 
FAZENDO PERGUNTAS, ENCONTRANDO R£SPOS TAS 43 
Pode seT que seu grupe ache que pode usar urna estratc­gia 
difercnte em cada fase do trabalho. Por cxemplo. no inicio 
do plancjamento, ta lvez voces quc iram trabalhar lado a lado, 
pelo menos ate definirem 0 scntido geral do problema. Para a 
coleta de dados, voces podedio achar mais eficaz iTem a luta 
separadamente. E, nas fases finais da revisao, podcriio qucrcr 
trabalhar em turnas. Ao escrever este Iivro, misturamos as es­trategias. 
No inicio, trabalhamos lade a lado ate termos urn esbo­~ 
o. Desenvolvemos entao capilu los separados e voltamos a tra­balhar 
lado a lado, quando nosso progresso ex igiu, e sentimos 
que precisavamos revisar nosso plano (0 que aconteccu tres 
vezes, pelo menos). Na maior parte, entretanto, dividimos 0 
trabalho, para que cada urn redigissc capltulos independentes. 
Quando 0 texto fi cou completo, trabalhamos em turnos, e 0 
resultado foi que muitos capitulos assemelham-se bern pouco 
aos originais rcdigidos por urn ou outro de nos . 
o traba lho em grupo e dificil, e as vezes duro para 0 ego, 
mas tambem pode ser altamente compcnsador.
Capitulo 3 
De topicos a perguntas 
Neste capitulo, voce veri como usar seus interesses para 
encontrar um t6pico, restringir esse t6pico a uma dirnensao 
controlAvel e, entio, elaborar pergunw que serio 0 ponto cen­tral 
de sua pesquisa. Se voce t urn estudanle avam;ado e ja 
tern dezcnas de t6picos aos quais goslaria de se dedicar, pode 
pular para 0 Capitulo 4. No entanto, se esta come'Vando seu 
prirnciro projclO, acharn cste capitulo bastante uliL 
3_1 Interesses, topicos, pcrguntas e problemas 
SE voc~ TEM LIBERDADE para se dedicar a qualquer t6pi­co 
de pesquisa que a interesse, isso podera ser frustrante - tan­tas 
cseoLhas, tao poueo tempo. Eseolher urn topico, entretanto, 
e 56 0 primeiro passe; portanto nao pense que, tcndo eneontra­do 
urn, voce s6 precisani proeurar informa'Yoes e relatar 0 que 
enco~trou . Alem de urn t6pico, voce precisa encontrar urna ra­tio 
(independente daqucla de cumprir sua tarefa) para dedicar 
semanas ou meses pesquisando sabre ele e, cntao, pedir aos 
leitores que gastem tcmpo JeDdo a respeito deie. 
Pesqui sadores fazem mais do que cavar informa~oes e re­lata- 
ias. Usam essas informafoes para responder a pergunta 
que seu topico inspirou-os alazer. No principio, a pergunta pode 
ser interessante apenas para 0 pesquisador: Abraao Lincoln era 
born em matematica? Por que os gatos csfregam 0 focinho nas 
pcssoas? Existe mesmo algo como urn tom de voz perfeito ina­to? 
E assim que as pesquisas mais significativas come~am - 
com uma comichao intelectual que apenas uma pessoa sente, 
levando-a a querer co~ar-se. A uma certa altura, porem, 0 pes­quisador 
tcm de decidir se a pergunta c sua resposta serao sig­nificativas, 
de inicio para 0 pesquisador apenas, mas finalrnen­te 
para outros: urn professor, colegas, urna cornunidade intei­ra 
de pesquisadores. 
Chegando a esse ponto, cle precisa encarar sua tarefa de ma­neira 
difercnte: deve ter como objetivo nao s6 encontrar res-
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa
Booth, wayne c. et al   a arte da pesquisa

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01
Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01
Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01Professora Cida
 
Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)
Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)
Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)SimoneHelenDrumond
 
Avaliação de matemática 4º ano B 2016
Avaliação de matemática 4º ano B 2016Avaliação de matemática 4º ano B 2016
Avaliação de matemática 4º ano B 2016Angela Maria
 
Avaliação diagnóstica agosto 12 1º ano capacidades
Avaliação diagnóstica agosto 12  1º ano capacidadesAvaliação diagnóstica agosto 12  1º ano capacidades
Avaliação diagnóstica agosto 12 1º ano capacidadesilima12
 
Prova bimestral de matemática
Prova bimestral de  matemáticaProva bimestral de  matemática
Prova bimestral de matemáticaRoseli Jubanski
 
CADERNO FUTURO MATEMATICA.pdf
CADERNO FUTURO MATEMATICA.pdfCADERNO FUTURO MATEMATICA.pdf
CADERNO FUTURO MATEMATICA.pdfRenyCampos3
 
apostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdf
apostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdfapostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdf
apostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdfEricaCostaViquetiGam1
 
Textos caixa alta (1)
Textos caixa alta (1)Textos caixa alta (1)
Textos caixa alta (1)a1980
 
Prova do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhã
Prova do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhãProva do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhã
Prova do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhãConstruindo Futuros
 
Lista de exercícios 6º ano - 2ª etapa
Lista de exercícios   6º ano - 2ª etapaLista de exercícios   6º ano - 2ª etapa
Lista de exercícios 6º ano - 2ª etapaAlessandra Dias
 
Avaliação semestral de português 1º ano
Avaliação semestral de português 1º anoAvaliação semestral de português 1º ano
Avaliação semestral de português 1º anoMaria Aparecida Mendes
 
Apostila discritores localização
Apostila discritores localizaçãoApostila discritores localização
Apostila discritores localizaçãoVerônica Felix
 
Finalizado o estudo da estrutura e formação das palavras
Finalizado o estudo da estrutura e formação das palavrasFinalizado o estudo da estrutura e formação das palavras
Finalizado o estudo da estrutura e formação das palavrasItacarambi
 

Mais procurados (20)

Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01
Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01
Matemtica exerccios-131005162753-phpapp01
 
Aval. diag _mat_5_ano
Aval. diag _mat_5_anoAval. diag _mat_5_ano
Aval. diag _mat_5_ano
 
Estimar productos
Estimar productosEstimar productos
Estimar productos
 
Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)
Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)
Letramento e Autismo (Apostila do Bruno)
 
Avaliação de matemática 4º ano B 2016
Avaliação de matemática 4º ano B 2016Avaliação de matemática 4º ano B 2016
Avaliação de matemática 4º ano B 2016
 
Avaliação diagnóstica agosto 12 1º ano capacidades
Avaliação diagnóstica agosto 12  1º ano capacidadesAvaliação diagnóstica agosto 12  1º ano capacidades
Avaliação diagnóstica agosto 12 1º ano capacidades
 
Prova bimestral de matemática
Prova bimestral de  matemáticaProva bimestral de  matemática
Prova bimestral de matemática
 
CADERNO FUTURO MATEMATICA.pdf
CADERNO FUTURO MATEMATICA.pdfCADERNO FUTURO MATEMATICA.pdf
CADERNO FUTURO MATEMATICA.pdf
 
Letra q
Letra qLetra q
Letra q
 
N
NN
N
 
apostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdf
apostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdfapostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdf
apostila-leitura-interpretação-texto-atividades.pdf
 
Textos caixa alta (1)
Textos caixa alta (1)Textos caixa alta (1)
Textos caixa alta (1)
 
Prova do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhã
Prova do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhãProva do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhã
Prova do professor saresp-2008-2ªsérie-português-manhã
 
Desafio matemático
Desafio matemático  Desafio matemático
Desafio matemático
 
Lista de exercícios 6º ano - 2ª etapa
Lista de exercícios   6º ano - 2ª etapaLista de exercícios   6º ano - 2ª etapa
Lista de exercícios 6º ano - 2ª etapa
 
Avaliação semestral de português 1º ano
Avaliação semestral de português 1º anoAvaliação semestral de português 1º ano
Avaliação semestral de português 1º ano
 
Prova brasil
Prova brasil Prova brasil
Prova brasil
 
Apostila discritores localização
Apostila discritores localizaçãoApostila discritores localização
Apostila discritores localização
 
Finalizado o estudo da estrutura e formação das palavras
Finalizado o estudo da estrutura e formação das palavrasFinalizado o estudo da estrutura e formação das palavras
Finalizado o estudo da estrutura e formação das palavras
 
Material dourado
Material douradoMaterial dourado
Material dourado
 

Semelhante a Booth, wayne c. et al a arte da pesquisa (20)

Python
PythonPython
Python
 
Perl
PerlPerl
Perl
 
Grafoes-cap1e2.pdf
Grafoes-cap1e2.pdfGrafoes-cap1e2.pdf
Grafoes-cap1e2.pdf
 
Material LINUX
Material LINUXMaterial LINUX
Material LINUX
 
Pascal
PascalPascal
Pascal
 
Guia Rápido Da Linguagem Pascal
Guia Rápido Da Linguagem PascalGuia Rápido Da Linguagem Pascal
Guia Rápido Da Linguagem Pascal
 
Banco de questões olimpiada de mat
Banco de questões olimpiada de matBanco de questões olimpiada de mat
Banco de questões olimpiada de mat
 
Normas tcc puc
Normas tcc pucNormas tcc puc
Normas tcc puc
 
Apostilha8
Apostilha8Apostilha8
Apostilha8
 
Manualipdoc4 pt
Manualipdoc4 ptManualipdoc4 pt
Manualipdoc4 pt
 
Manual abnt-ufvjm
Manual abnt-ufvjmManual abnt-ufvjm
Manual abnt-ufvjm
 
Manual abnt-ufvjm
Manual abnt-ufvjmManual abnt-ufvjm
Manual abnt-ufvjm
 
K19 k21-persistencia-com-jpa2-e-hibernate
K19 k21-persistencia-com-jpa2-e-hibernateK19 k21-persistencia-com-jpa2-e-hibernate
K19 k21-persistencia-com-jpa2-e-hibernate
 
Aprenda computaocompython
Aprenda computaocompythonAprenda computaocompython
Aprenda computaocompython
 
Aprenda computação com python 3.0 (1)
Aprenda computação com python 3.0 (1)Aprenda computação com python 3.0 (1)
Aprenda computação com python 3.0 (1)
 
Word
WordWord
Word
 
Abnt2002
Abnt2002Abnt2002
Abnt2002
 
Shell script
Shell scriptShell script
Shell script
 
Normas
NormasNormas
Normas
 
Sql
SqlSql
Sql
 

Mais de Myllena Azevedo

Certeau a cultura no plural
Certeau a cultura no pluralCerteau a cultura no plural
Certeau a cultura no pluralMyllena Azevedo
 
Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...
Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...
Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...Myllena Azevedo
 
Barros Rogato A aventura do sonho das imagens em Alagoas
Barros Rogato A aventura do sonho das imagens em AlagoasBarros Rogato A aventura do sonho das imagens em Alagoas
Barros Rogato A aventura do sonho das imagens em AlagoasMyllena Azevedo
 
Cauquelin a invenção da paisagem
Cauquelin a invenção da paisagemCauquelin a invenção da paisagem
Cauquelin a invenção da paisagemMyllena Azevedo
 
Sant'ana uma associação centenária
Sant'ana uma associação centenáriaSant'ana uma associação centenária
Sant'ana uma associação centenáriaMyllena Azevedo
 
Ramos viventes das alagoas
Ramos viventes das alagoasRamos viventes das alagoas
Ramos viventes das alagoasMyllena Azevedo
 
Carneiro silva jardins de burle marx nordeste
Carneiro silva jardins de burle marx nordesteCarneiro silva jardins de burle marx nordeste
Carneiro silva jardins de burle marx nordesteMyllena Azevedo
 
Sant'ana efemérides alagoanas
Sant'ana efemérides alagoanasSant'ana efemérides alagoanas
Sant'ana efemérides alagoanasMyllena Azevedo
 
Burle Marx arte e paisagem 2
Burle Marx arte e paisagem 2Burle Marx arte e paisagem 2
Burle Marx arte e paisagem 2Myllena Azevedo
 
Marx nosso chão do sagrado ao profano 4
Marx nosso chão do sagrado ao profano 4Marx nosso chão do sagrado ao profano 4
Marx nosso chão do sagrado ao profano 4Myllena Azevedo
 
Gomes a condição urbana
Gomes a condição urbanaGomes a condição urbana
Gomes a condição urbanaMyllena Azevedo
 
Carvalho economia popular
Carvalho economia popularCarvalho economia popular
Carvalho economia popularMyllena Azevedo
 
Tagari andrade schlee sistemas de espaços livres
Tagari andrade schlee sistemas de espaços livresTagari andrade schlee sistemas de espaços livres
Tagari andrade schlee sistemas de espaços livresMyllena Azevedo
 
Lira Crise, privilégio e pobreza 3
Lira Crise, privilégio e pobreza 3Lira Crise, privilégio e pobreza 3
Lira Crise, privilégio e pobreza 3Myllena Azevedo
 
Lindoso a interpretação da província 2
Lindoso a interpretação da província 2Lindoso a interpretação da província 2
Lindoso a interpretação da província 2Myllena Azevedo
 
Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5
Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5
Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5Myllena Azevedo
 
Saldanha o jardim e a praça
Saldanha o jardim e a praçaSaldanha o jardim e a praça
Saldanha o jardim e a praçaMyllena Azevedo
 
Habermas mudança estrutural da esfera pública
Habermas mudança estrutural da esfera públicaHabermas mudança estrutural da esfera pública
Habermas mudança estrutural da esfera públicaMyllena Azevedo
 

Mais de Myllena Azevedo (20)

PPT PF 08jul2014 2.pdf
PPT PF 08jul2014 2.pdfPPT PF 08jul2014 2.pdf
PPT PF 08jul2014 2.pdf
 
Certeau a cultura no plural
Certeau a cultura no pluralCerteau a cultura no plural
Certeau a cultura no plural
 
Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...
Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...
Ferrare Josemary A preservação do patrimônio histórico um re pensar Marechal ...
 
Barros Rogato A aventura do sonho das imagens em Alagoas
Barros Rogato A aventura do sonho das imagens em AlagoasBarros Rogato A aventura do sonho das imagens em Alagoas
Barros Rogato A aventura do sonho das imagens em Alagoas
 
Cauquelin a invenção da paisagem
Cauquelin a invenção da paisagemCauquelin a invenção da paisagem
Cauquelin a invenção da paisagem
 
Sant'ana uma associação centenária
Sant'ana uma associação centenáriaSant'ana uma associação centenária
Sant'ana uma associação centenária
 
Ramos viventes das alagoas
Ramos viventes das alagoasRamos viventes das alagoas
Ramos viventes das alagoas
 
Carneiro silva jardins de burle marx nordeste
Carneiro silva jardins de burle marx nordesteCarneiro silva jardins de burle marx nordeste
Carneiro silva jardins de burle marx nordeste
 
Sant'ana efemérides alagoanas
Sant'ana efemérides alagoanasSant'ana efemérides alagoanas
Sant'ana efemérides alagoanas
 
Burle Marx arte e paisagem 2
Burle Marx arte e paisagem 2Burle Marx arte e paisagem 2
Burle Marx arte e paisagem 2
 
Marx nosso chão do sagrado ao profano 4
Marx nosso chão do sagrado ao profano 4Marx nosso chão do sagrado ao profano 4
Marx nosso chão do sagrado ao profano 4
 
Gomes a condição urbana
Gomes a condição urbanaGomes a condição urbana
Gomes a condição urbana
 
Carvalho economia popular
Carvalho economia popularCarvalho economia popular
Carvalho economia popular
 
Tagari andrade schlee sistemas de espaços livres
Tagari andrade schlee sistemas de espaços livresTagari andrade schlee sistemas de espaços livres
Tagari andrade schlee sistemas de espaços livres
 
Lira Crise, privilégio e pobreza 3
Lira Crise, privilégio e pobreza 3Lira Crise, privilégio e pobreza 3
Lira Crise, privilégio e pobreza 3
 
Lindoso a interpretação da província 2
Lindoso a interpretação da província 2Lindoso a interpretação da província 2
Lindoso a interpretação da província 2
 
Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5
Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5
Lira formação da riqueza e pobreza de alagoas 5
 
Gomes o brasil de jk
Gomes o brasil de jkGomes o brasil de jk
Gomes o brasil de jk
 
Saldanha o jardim e a praça
Saldanha o jardim e a praçaSaldanha o jardim e a praça
Saldanha o jardim e a praça
 
Habermas mudança estrutural da esfera pública
Habermas mudança estrutural da esfera públicaHabermas mudança estrutural da esfera pública
Habermas mudança estrutural da esfera pública
 

Último

Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Centro Jacques Delors
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxIsabelaRafael2
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOMarcosViniciusLemesL
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPanandatss1
 
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfcartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfIedaGoethe
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptxpamelacastro71
 
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarCaixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarIedaGoethe
 

Último (20)

Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SP
 
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfcartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
 
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarCaixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 

Booth, wayne c. et al a arte da pesquisa

  • 1. AARTE DAPESQUISA Wayne C. Booth Gregory G. Colomb Joseph M. Williams TradUl;;iio HENRIQUE A. REGO MONTEIRO Martins Fontes sao Paulo 2008
  • 2. £f./. ~ foi p"NK.U "'WftlllOW1tl • .". i"gil< """ 0 111 .. 10 TH( CRAfT OF R£S~RCH I"" U";w,,.ilyo/Chiargo Ptns. Ut........t",. TJor Un;wrs!ly OfCJoimg<> Pms, C"",,,I"_ l/IitHl<is, £UI_ O>py.iglr' C 1m ",. TIlt u .. ;....,.'Y of Orag<'. All righls ~rotd. Cl1f1Jrigh' e 2000. u-n. MlTti.., r ",.I.s Edi' ..... LULt .• Sfo ""wID. ,. ••• I"ft'<"'~ di<,"lt>_ I' ed i~io l(IOO l ' c<I ;(io 2005 2' ' ;Ulc", 2(.()8 Coo.de na~lo ,10 t •• d ,,(~o WILSON ROB£RTOCAMBETA T •• du ~lo II£NRIQUE A.. R£eo MONTDRO Rcv;do di t.~du(lo .,«.. . iu v". Mo.;" Mo"l1Uf rrepar.(lo do o rig in.1 CIi"" , KoJrigw ... d. Abreu Rrvisl>.o. p ili"'" An. MIl". dt o/i"n", ~ So,,,,,,,,, '''''''y PO..., s..".,. r ... d U(io , .Ui •• w..ld.> AI"", P.&in.~ioIFotolit ... S,"";" J Dtsr"toOIoi.....",., U,/.m./ D>do<Il nlnnarion.o~ "" Colaloga(io nil f'ub~ (aM (O rnar. B'Milftt-. do U ...... Sr. 8r .... 1) 60011. WloY"" C A an~ da po5<[uisa I Wayne C, Booth. C<E"gory G. Colomb. IoHph M. Williams; .Ddu ...... . knriqt>r A. il.q;:o MOII~"" _ 2' .... - Sio I'auk> : Manins Fonlft. 2005. _ ( Feru.""",Ia$) Titulo orig'''''': Thr e r. n of n'SNrch. ISBN 85·336-2157-4 I. Pt-squisa - M"'OOok>£Y 2. il.t<U<;l o Iknica I. Colon'b. G.q;:o .y C .. U. William •. Jooc-ph M .. Ill. TItulo. IV. ~r~. CDO-OO1.42 Indie" p~.a < . ... 1080 .;ste rn . l;en, I . M",OOolog" 001.42 2. M~todo logla da P""!ui.. 001.42 3 PP.!'qul .. " M ... <><IolO8i. 001.42 "fod05 os di~il()5 d~l~ fflil;ifo rrservados d LiV' IJ , ia M Arlin$ Fonl<':$ Cdit orQ LtdQ. RII~ eouulhdro RJ>mlllho, 330 OJ325-OOO saQ Pllilio SP "fd. (1 1) 3241 .3677 FlU: Ill! 3105.6993 Bra$il t " I101i/: il1/o@lIIIlrlin~fol!lt$tdifo ..... rom.br htlp:/lWWIL'.llIJIrf ;ns[ontestdifOnl.rom .br indice PreJacio ............. ............. ..... .................... .. ... .. .......... ....... . I. Pesquisa, pesquisadorcs e IcHores ......................... . Pro/ago: Iniciando urn projelo de p esquisa .. ... ... .. ... . I. Pensar par escrito: os usos p ltblico e privado da pesquisa ................................................. ......... ...... ... . 1.1 Por que pcsquisar? ................................. ............. . 1.2 Por que redigir urn relatorio? ................. .. .......... . . 1.3 Por que claborar urn documento formal? .. ......... . 2. Relacionando-se com sell leitor: (re)criando a si mes-rno e a sell pll.blico .. .. .................................. .............. . 2.1 Dialogos entre pesquisadores .......................... .. . 2.2 Autores, leitores e seus papeis sociais ................ . 2.3 Leitores e seus problemas comuns ................. .. .. . 2.4 Auto res c seus problemas comuns ...................... . S UGESTOES UTEIS: Lista de ve rifi ca~ao para ajud3.-1o a com-preender seus leitores .............................................. .. ...... . II. Fazcndo perguntas, encontrando respostas ... ..... .. . Prolago: Planejando seu projeto ... .. ....................... .. . SUGESTOES UTEIS: Trabalhando em grupo ........... ... ......... . XI 7 7 9 II 15 15 17 24 29 32 35 35 38
  • 3. 3. De topicos a perguntas .................. ............................ 45 3.1 Interesses, t6picos, perguntas c problemas.......... 45 3.2 De urn interesse a urn topico ............................... 46 3.3 De urn tbpico amplo a urn espccifico.................. 48 3.4 Dc urn lopico especifico a perguntas .................. 50 3.5 De uma pergunta it avalia9ao de sua importancia . 54 SUGESTOES OTEls: Dcscobrindo topicos ............... : ........... :,. 59 4. De perguntas a problemas .... .. ... .................... ... ......... 63 4.1 Problemas, problemas, problemas .......... ............. 64 4.2 A estrutura comum dos problemas ...................... 68 4.3 Descobrindo um problema dc pcsquisa ............... 77 4.4 0 problema do problema ..................................... 81 5. De pergllntas a fo ntes de illformaroes ................. ..... 85 5.1 EnconLrando informa~oes em bibliotccas............ 86 5.2 Colhendo informavoes com pcssoas ...... ...... ...... 9 1 5.3 Trilhas bibliogrMicas. ............... .......................... 94 5.4 0 que voce encontra ............... ............................. 95 6. Usa ndo fo nles de informat;oes ... ................................ 97 6.1 Usando fontcs secundarias .................................. 97 6.2 Leia criticamcntc ................... ... ........................... 99 6.3 Fa~a anota<;:ocs completas .................................... 100 6.4 Pe<;:a ajuda ............... ............................................. 107 SUGESTOI!S LrrEIS: Lcitura f<t pida....................................... 108 HI. Fazendo uma afirma~ao e sustentando-a .............. 113 Pr%go: Argumentos, rascunhos e discussoes.......... 113 7. eriando bons argumentos: uma visGO gem/ ............. 117 7.1 Discussoes c argumentos ............ .. .... .... ............... 117 7.2 Afirmayocs c evidencias. ... ... ........ ...................... . I 19 7.3 Fundamentos............. ............ ................... .. .... ...... 120 7.4 Ressalvas............ .. .......... ..... .................. ... .......... .. 122 8. Ajirmafoes e evidencias ......... ..... ... ... ........................ 125 8. 1 Fazcndo afirmavocs de peso.......................... .. .... 125 8.2 Usanda afirma~Oes plausiveis para orientar sua pesqutsa ......... ..... ................... .......................... .... 128 8.3 Apresentando evidencias confiaveis ................... 129 8.4 Usando evidencias para desenvolvcr C organizar seu relat6rio ......................................................... 138 SUGESTOES UTEIS: Uma s istematica de con tradi ~Oes ........ 142 9. Fundamentos........................................................ ...... 147 9 .1 Fundamcnto: a base de nossa convic'Yao e de nossa argumenta<;:ao.... .......................... ..... .... .... .. 147 9.2 Com que se parece urn fundamento? ...... .. ...... .... 150 9.3 A qualidadc dos fundamentos ...................... ... .... 152 S UGESTOES UTEIS: Contestando fundamentos.. .................. 167 10. Qualificaroes ................. .... .. .......... .. .... ................ ...... 173 10. J Vma revisao ................................. ... .. .. ..... ........ .. 173 10.2 Qualificando seu argumcnto...................... .... .. .. 176 10.3 Elaborando urn argumento completo ........ ........ 186 10.4 0 argumento como guia para a pesquisa e a 1ei-tur3 .............................................. ......... .... .... ...... 188 10.5 Algumas pal avras sobre sentimentos fortes ...... 189 I S UGESTOES On:.ts: Argumcntos - duas armadilhas comuns.. 191 Iv. P.-eparando-se para redigir. redigindo e revisando 195 Pro/ago: Plall ejalldo novamente .......................... ..... 195 S UGESTOES lrrEIs: Preparando 0 esbovo ................... ......... 199 11 . Pre-mSCUllho e rasclmho ................................. ......... . 203 11 .1 Preliminares para 0 rascunho ......... ......... .. ........ 203 1 1.2 Planejando sua organizavao: quatro armadilhas 206 11.3 Urn plano para 0 rascunho............................ .. ... 209 11.4 Criando urn rascunho passivel de revisao ......... 2 16 11.5 Uma armadilha a cvitar a lodo cusLo .... ... .. ... ..... 2 18 11 .6 As u1timas elapas ..................................... .... ...... 222 S UGESTDES UTEI S: Usando c il a~oe s c parMrases .......... ..... 225
  • 4. 12. Apreselltac:iio visual das evidencias .......................... 229 12.1 Visual ou verbal? ......................... ...................... 229 12.2 Alguns principios gerais de elaborac;:ao ............. 232 12.3 Tabelas ............................................................... 234 12.4Diagramas .......................................................... 237 12.5 Graficos ............................................................. 244 12.6 Contro lando 0 impacto retorico de urn recurso visual .................................... ....... .. ... ... ............. : . 246 12.7 Comunicac;:ao visual e etica ............................ : .. 249 12.8 Ligando palavras a imagens .............................. 251 12.9 Visualizac;:ao cientifica....................... ................ 252 12. 10Ilustrac;:oes ........................................................ 252 12.11 Tomando vis ivel a J6gica de sua organizac;:ao. 253 12.12 Usando recursos visuais como urn auxilio a reflexao .......................... ............. ..... ................ 255 SUGESrOES lIrEIS: Pequeno guia para reeorrer a urn orien-lador .................................................................................. 257 13. Revisando sua organizac:iio e argumenla{:iio ............ 259 13 .1 Pensando como leitor .............. ...... ..................... 259 13.2 Analisando e revisando sua organizac;:ao ........... 260 13.3 Revisando seu argurnento ............. .. ...... ............. 268 13.40ultimopasso ................................. .................. 271 S UGESr OES (rTElS: Titulos e sumarios .............. ................. 272 14. Revisando 0 estilo: contando sua historia com cla-reza ................... ..... ..................................................... 277 14.1 Avaliando 0 esti lo .............................................. 277 14.2 Primeiro principio: hist6rias e gramatica .......... 279 14.3 Segundo principio: 0 antigo antes do novo ..... .. 289 14.4 Escolhendo entre as vozes ativa e passiva ......... 291 14.5 Urn ultimo principio: 0 mais complexo por uitilno ................................................................. 293 14.6 Polimento final ........... ...................... ................. 296 SUGESrOES tJrEIS: Uma rapida revisao .:. ........................... 297 15 Introdu90es .... ............................................................ 299 15.1 Os tres elementos de uma introduc;:ao .... ............ 299 15.2 Dec1are 0 problema............................................ 302 15.3 Criando uma base comum de compreensao com-partilhada ....................... .................................... 308 15 .4 Desestabilize a base comum, enunciando seu problema ............................................................ 309 15.5 Apresente sua soluc;:ao ................. ...................... 3 13 15.6 Rapido ou devagar? ................................. .......... 3 16 15.7 A introduc;:ao como urn todo .............................. 3 17 S UQESTOES lITEIS: As primeiras e as ultimas palavras ...... 319 V. Co n sidera~oes finais ................... ............................. 325 Pesquisa e etiea ........................ ....................... 325 Pos-eserito aos professores .... ......................... 329 Ensaio bibliografico ........................................... ..... .. 337 indke rem;ss;vo ............................. ................................... 345
  • 5. '. Pre/acio ESCREVEMOS ESTE UVRO pensando nos pesqui sadores es­tudantcs. desde os novatos mais inexpcrientes ate os profi ssio­nai s. cursando p6s-graduayao. Com elc e5peramos: • atrair a atenr;ao dos pesquisadores iniciantes para a natureza, os usos C os objetivos da pesquisa e de seus relat6rios; • orientar as pcsquisadores iniciantes e intermediarios quanta as complexidades do planejamento, da organiza<;ao e da elabo­ra<; ao do esb090 de urn relat6rio que proponha urn problema significativo e oferer;a uma 501u<;30 convincente; • mostrar a (odos os pesq uisadores. do iniciante ao avan<;ado, como ler sellS relat6rios da maneira como os leitores 0 fariam, idcntificando passagens em que cles provavelmente encon­trariam dificuldade e alterando-as rapida e e fi caz.m~nte. Embora outros manuais sobre pesquisa abordem algumas dessas questocs, este se diferencia de diversas maneiras. Muitos manuais em circul a<;30 reconhecem que os pesqui­sadores nao seguem a sequencia que vai de encontrar urn t6pico ao estabelccimento de uma (ese, de precncher fichas de anota­yoes it elaborar;ao de urn rascunho e it revis30. Como sabe qual­quer urn que ja tcnha passado por essa expcricncia, a pesquisa na realidade anda para a frente e para tras, avanr;ando urn passo ou da is e recuando, ao mcsmo (cmpo antecipando etapas ainda nao iniciadas e, entao, prosseguindo uma vez mais. Mas, ate onde sabemos, nenhum manual tentou mostrar como eada par­te do processo influencia todas as outras - como 0 ato de fazer perguntas sebre um {6pico pode preparar 0 pcsquisador para
  • 6. XII A ARTE DA P£SQUISA redigir 0 rascunho, como 0 processo de rcdigir 0 rascunho pode revelar problemas com urn argumento, como os elementos de uma boa inrrodu<;ao podem mandar 0 pesquisador de volta a biblioteca para pesquisar mais. Este livro explica por que os pesqui sadores deven; traba­Ihar simultaneamente nos diversos estagios de seu projeto, como essa sobreposic,;ao pode ajuda-Ios a compreender melhor o problema e a administrar a compJcxidade que esse processo acarreta. Isso significa, e claro, que voce ten! de ler este livro duas vezes, porque mostraremos nao apenas como os esuigios an­teriores antecipam os posteriores, mas tambcm como os poste­nores motivam os anteriorcs. Em virtude da complexidade que uma pcsquisa cnvolvc, fomos explicitos a respeito do maior numeco possivel de eta­pas, incluindo algumas geralmente tTatadas como partes de urn misterioso processo criativo."Entre os assuntos que "destrincha­mos" estao os seguintes: • como converter 0 interesse por urn assunto em urn topico, esse topico em algumas boas perguntas e as respostas a essas perguntas na so lu~ao de urn problema; • como criar urn argumcnto que sati sfac,:a 0 desejo dos leitores de saber por que deveriam aceitar sua afirmaC;ao; • como prever as objec;5es de leitores sensalos, mas ceticos, e co­mo qualificar adequadamente as argumentos; • como criar urna introduc;ao que "venda" a importancia do problema de sua pesquisa aos leitores; • como redigir conc1usoes que fac,:am a leitor comprcender nao apenas a afimlac,:aO principal, mas tambcm sua mais arnpla . _. I lmportancla; • como ler seu proprio texto da maneira como os outros a fa­riam, e assim saber melhor que pontos alterar c como. Sabemos que alguns pesquisadores iniciantes seguiriio nos­sas sugestoes de urn modo que poderia ser considerado mcdi­nico. Nao estamos muito preocupados com isso, porque acre­ditamos que e melhor alcanc,:ar urn objetivo mecanicamente do que nao alcanc,:ar objetivo nenhum. Acrcditamos tambem que os professores podem confiar nos alunos, sabendo que eles supe- PREFAClO XIII rarao as inevitAveis dificuldades iniciais. Todos nos tendemos a agir mecanicamente quando experimentamos uma tecnica pel a primeira vez, mas finalmente conseguimos ocultar seus auto­matismos por tras de seu sentido verdadeiro. QutTO aspecto di stinto deste livro e que encorajamos in­sistentemente os pesquisadores a pensarem em seus leitores e mostramos c1aramente como faze-Io, explicando como os lei­tares Icern. 0 objetivo de um relatorio de pesquisa e estabele­cer urn dialogo com pessoas que possam nao estar di spostas a mudar de opiniao mas que, por boas razoes, acabam mudando. E e em seu relat6rio que voce mantem esse dialogo. A medida que 0 leem, os leitores esperam encontrar detenninados indi­cios de organizacao; preferem certos padroes de esti lo; tacita­mente fazcm pcrguntas, levantam objecoes, querem ver os as­suntos apresentados de modo mais explicito do que voce pode achar necessario. Acreditamos que, se voce entender como os leitorcs leeru e souber como satisfazer suas expectativas da me­lhor maneira possivel, tera uma otima oportunidade de ajuda-los a ver as coisas do seu jeito. Concentramo-nos no processo de fazer tudo isso, mos­trando como as caracteristicas forma is do "produto" - 0 rela­torio - podern ajuda-Io no proccsso de planejamento e criac;ao. Conformc voce vera, os elementos de urn relat6rio, sua estru­tura, seu estilo e suas convenc;oes fonnais nao sao f6nnulas va­zias que os redatores imitam so porque milhares de outros antes deles as usararn. Tais formatos e mode los sao 0 meio pelo qual os pesquisadores, ioiciantes ou cxperientes, testam seu traba­lho, avaliam sua compreensao do assunto c ate mesmo eocon­tram novas direc;oes a seguir. Em outras palavras, acreditamos que as cxigencias formais do produto nao s6 orientam 0 pes­quisador ao longo do processo de criac,:ao, como tambem con­tribuem para desenvolvcr sua criatividade. Tentamos ainda indicar 0 que os pesquisadores em d i feren ~ tes esmgios de sua vida profissional devetiam saber e ser capazes de fazer. Se voce esta diante de sell primeiro projcto de pes­quisa, deve ter uma ideia do que os pesquisadores experientes fariam, mas nao se preocupe se nao conseguir fazer tudo. Deve
  • 7. XIV It ANTE DA PESQUISA saber, no entanla, 0 que provavelmente sellS professores espe­ram de voce, a inda mais se estiver se preparando para ser urn pesquisador serio. Portanto, vez por outra avisamos que vamos apresentar urn assunto particulannente importante para pes­quisadorcs experientes. Os que estiverem apenas se iniciando podem sentir-se tcoladas a pular essas partes. Espera'mos que nao 0 fa~am . Este livro originou-se da convi c~ao que tcmos de que as lecnicas de fazer e relatar pesquisas na~ 56 podem ser aprendi­das como tambem cnsinadas. Sempre que pudemos explicar cJaramenre as etapas do processo, explicamos. Quando nao, ten­tamos dclinear sellS contornos gerdis. Alguns aspectos da pes­quisa podem ser aprendidos apenas no contexto de uma CMnu­nidade de pesquisadores comprometidos com tapicos e manei­ras de pensar particulares, interessados em compartilhar com autTOS 0 fru to de seu trabalho. Mas, quando urn contexte des­ses nao esta di sponivel, os cstudantes ainda podem aprender importa ntes tecnicas de pesquisa atraves de instrw;ao direta e leva-las as comunidades de que pretendam participar. Analisa­mos algumas maneiras especi ficas de fazer isso em nosso "P6s­escrito aos professorcs". Este Iivro Ia nthem teve origem em nossa experiencia, que nos ensinou que pesquisa nao e 0 tipe de coisa que se aprcnda de urna vez pOT todas. Nos tres ja deparamos com projetos de pesquisa que nos forc;aram a rcfTcscar a memoria quanto a maneira de pcsquisar, mcsmo depois de deeadas de experien­cia. Nos momentos em que tivemos de nos adaptar a uma nova comunidade de pesquisa, ou a mudanc;as na nossa propria, usa­mes os principios apresentados aqui para conseguinnos nos con­centrar naquilo que era mais importante para os leitores. Assim, escrevemos urn livro que voce podera cansultar sempre que as circunstancias exigi rem, 0 qual, esperamos, sera util muitas ve­zeSt acompanhando seu crescimento como pesqui sador. Queremos agradeeer as pessoas que nos ajudaram a rca­lizar este proj eto. Entre elas incluem-se seus primeiros leitores: Steve Biegel, Jane Andrew e Donald Freeman. 0 capitulo sobre PREFACJO xv a apresentac;;ao visual de dados foi melhorado significativa­mente ap6s as comentarios de Joe Hannon e Mark Monmonier. Estamos em debito tambem com os integrantes do departa­mento editorial da Universidade de Chicago que, desde que concordamos em assumir este projeto, quase urna decada atms, nao nos largaram enquanto nao 0 tenninarnos. Da parte de WCB: Alem das centenas de pessoas que me ensinaram aquilo que foi minha eontribuic;ao para este livro, gostaria de agradeeer a minha esposa, Phyllis, minhas duas fi­lhas, Katherine e Alison, meus tres netas, Emily, Robin e Aaron, pois, juntos, esses seis me mantiveram otimista quanta ao futu­ro da investigac;ao responsavel. Da parte de GGC: Ao longo de momentos tumultuados e calmos, ao longo de pcriodos eriativos e improdutivos, sempre live minha easa e minha familia - Sandra, Robin, Karen e Lau­ren - como ponto de re ferencia e de apoio. Da parte de JMW: Joan, Megan, 01, Chris, Davc c Joe me apoiaram, tanto quando estavamos juntos, como separados. Jun­tos e melhor. I
  • 8. PARTE I Pesquisa, pesquisadores e leitores Prologo: Iniciando urn projeto de pesquisa SE VOCI:: ESTA COMECANDO seu primeiro projeto de pesqui­sa, talvez sinta-se urn tanto intimidado pela aparente dificul­dade da tarefa. Como procurar urn assunto? Onde encontrar informa'Yoes relevantes, como organiza-Jas depois? Mesmo que ja tenha escrito urn relat6rio de pesquisa num curso de reda­' Y30, a ideia de escrever outro pode Ihe parecer ainda mais per­turbadora, caso agora, pela prime ira vez, voce precise apresen­tar um trabalho de verdade. Ate mesmo pesquisadores expe­rientes sentem-se urn pouco ansiosos ao iniciarem urn projeto, espeeialmente sc for diferente dos outros que ja executaram. Assim, seja qual for sua preocupa'Yao no momenta, todos as pesquisadores ja a tiveram - e muitos ainda a tern. A diferem;:a e que pesquisadores experientes sabem 0 que eneontrarao pela frente: trabalho arduo, mas tambem 0 prazer da investiga'Yao, alguma frustrac;ao, mas eompensada por uma satisfac;ao ainda maior, momentos de indeeisao, mas a confianc;a de que, no fi­nal, tudo ira se eneaixar. Fazendo pianos Pcsquisadores experientes tam bern sabem que, como qual­quer outro projeto eomplexo, a pesquisa sera mais faeilmente organizada caso se disponha de urn plano, por mais toseo que seja. Antes de come'Yar 0 trabalha, pade ser que eles nao fa'Yam ideia exatamente do que esta.o procurando, mas sabem, de rna-
  • 9. 2 A AR77! DA PESQUlSA neira geral, de que lipo de material VaG precisar, como cncoo­tra- Io e como utiliza-Jo. E. urna vez rcunido esse material, pes­quisadorcs competentes nao come~am simplesmente a escrevcr, assim como construtores competentes nao vaa logo serrando a madeira. Eles planejam 0 tipo e aforrna do produlo fJ,uepre­tendem obler. urn produ/o que exprima sua intenfiio de a/can{1ar urn determinado resultado e cujas partes todas sejam planeja­das contribuindo para a obtenfOO desse resultado. Isso, parem, nao quer dizer que bons pesquisadores prendam-se totalmente ao plano que trar:;aram. Estao sempre prontos a modi ficar os pianos, se encontram urn problema au set de repente, compreen­dem melhor 0 projeto, a u descobrem, de alguma maneira, urn objet ivo rna is interessante que os conduza por urn novo cami­nho. Mas todos sempre come~am com urn prop6sito e algum tipo de planejamento. Na verdade, quase todo projeto de redat;aO comet;a com urn plano que visa produzir urn documento de formato especifico, geralmente moldado pcla expericncia de gerat;Oes de escritores, que adotam certos formatos nao so para agradar os editores ou supervisores, mas para se pouparem do trabalho de inventar urn novo formato para cada projeto e, tao importante quanta isso, para ajudar os leitores a identificarern seus objetivos. Urn reporter sabe que tern de adotar 0 formato de piramide inver­tida numa reportagem, cornet;ando 0 texto com a informat;ao de maior interesse, nao em seu benefi cio, mas para que ,,6s, ie itores, possamos dcsde logo identificar a essencia da nolicia e decidir se continuaremos a ler ou nao. 0 formato de urn rela­t6rio de auditoria orienta 0 contador qua,n to as informa.y5es que devera incluir, mas tambem ajuda os acioniSfas a encon­trar os dados necessarios para a avaliat;ao da empresa como investimento. Uma enfenneira sabe 0 que escrever no prontua­rio do paciente, de modo que as outros enfermeims possam uti­Ji za-Io, e urn policial rcdige 0 boletim de ocorrencia num for­mato padronizado, pensando naqueles que mais tarde irao inves­ligar 0 crime. Do mesmo modo, os leitores tiram maior preveito da leitura de urn relat6rio quando 0 pesquisador relata as resul­tados de sua pesquisa num formato que Ihes seja familiar. PESQUISA, PESQUISADOHES E LEITORES 3 E claro que, mesmo limitado por csses formatos, quem re­dige tern a liberdade de adotar diferentes pontos de vista, en fa­tizar urna variedade de ideias e irnprirnir uma feit;ao persona­lizada ao seu trabalho. No entanto, seguindo urn planejamento padronizado, estara beneficiando tanto a ele mesmo quanto aos leitores, tomando mais fa cil 0 trabalho de redigir e de ler. o objetivo deste livro e ajudar voce a cri ar c seguir esse planejamento. A import'ancia da pCSQUiS3 Antes de mais nada, responda a uma pcrgunta: al6m de uma nOla de avaliayao, 0 que a pesqui sa representa para voce? Uma rcsposta, que muitos poderao considerar idealista, e que a pesquisa oferece 0 prazer de resolver urn enigma, a sat is fa­~ ao de descobrir algo novo, algo que ninguem mais conhece, contribuindo, no fina l, para 0 enriquccirnento do conhecimen­to hurnano. Para 0 pesquisador inicianle, no entanto, existcm outros beneficios, mais pniticos e imediatos. Em primeiro lugar, a pesqui sa 0 ajudara a comprcender 0 assunto estu<;iado d~ . ..u.m modo muito melhor do que qualquer Dutro tipo de trabalho. A lo~go prazo, as tecnicas de pesquisa e reda~ao, urna vcz-as~i­mlladas, capacitarao 0 pesqui sador a tmbalhar por conta pro­pria mais tarde, pais, afinal, coletar informat;oes, organiza-Ias de modo coercnte e apresenta-Ias de maneira confiavel e con­vincente sao habilidades indispensaveis, numa epoca apropria­damente chamada de "Era da lnformat;ao". Em qualquer cam­po do conhecimento, voce vai precisar das tecnicas que so a pesquisa e capaz de ajuda-Io a dominar, seja seu objetivo 0 projelo, ou a linha de produt;ao. As tecnicas de pesqui sa e rcdat;ao sao igualmente impor. tantes para quem usa pesquisas de outras pcssoas, e hoje em dia isso inclui todos n6s. Somos inundados por informat;oes, cuja maior parte destina·se a servir aos interesses comerciais au politicos de alguem. Mais do que nUllca, a sociedade preci sa de pessoas com espirilo criti co, capazes de cxaminar uma pes-
  • 10. 4 A A R71i DA PESQUISA quisa, fazer suas pr6prias indaga~Ocs e encontrar as respostas. S6 depois de passar pela proccsso incerto e geralmente confuso de conduzir sua pr6pria pesquisa, voce sabcra avaliar de modo inteligente as pesquisas dos Qutros. Redigindo seu pr6prio fe­lat6rio, entendera 0 tipo de trabalho que h3 por tras 'das afir­ma90es dos especialistas e do que e encontrado em livros dida­ticos. Descobrini, em primeira mao, como 0 conhecimento se desenvolve a partir de respostas a indagayOes de uma pesqui­sa, como esse novo conhecimento dcpende das perguntas que voce faz ou deixa de fa zeT, como essas perguntas dependem nao apenas de sellS interesses e mctas, mas tambem dos inte­rcsses e metas dos leitorcs, e como as fannatos padronizados de apresentayao da pesquisa modelam 0 tipo de perguntas que voce faz, podendo ate detcrminar as que pode fazer. Mas sejamos francos: a rcdal;ao de urn relatorio de pesqui­sa exige muito. Sao muitas as tarefas envolvidas, tocias pedindo sua atenvao, geralmente ao mesmo tempo. Por mais cuidadoso que voce seja no planejamento, a pesquisa seguira urn cami­nbo tortuoso, dando guinadas imprcvisiveis. podendo dar voltas sobre si mesma. As etapas se sobrcp5em: todos nos fazemos urn esboyo antes de terminar a pesquisa, continuamos a pesquisar depois·de corneyar 0 rascunho. Alguns trabalham mais no final rur projeto, so reconhecendo 0 problema que tentaram resolver depois de encontrar a soluyao. Outros partern atrasados para a etapa do rascunho, fazendo a maior parte do trabalho de tenta­liva e erro, nao no papel, mas de cabe~a. Cada redator tern urn estilo diferente, e, considerando que os projetos di.ferem uns dos outros, urn iinico planejamento nao pode resolver lodos os problemas. Por mais complexo que seja 0 proccsso, no entanto, irernos trata-Io passo a passo, de modo que voce possa avanyar com seguranya, mesmo quando deparar com as incvitaveis dificul­dades e confusOes que todo pcsquisador enfTenta, mas que acaba aprendendo a supera r. Quando conseguir administrar as partes, voce conseguira administrar 0 todo, e estara pronto para.ioieiar novas pesquisas com maior confianya. PESQUISA, PESQUlS.4DORF.5 E L£J10RES 5 Como usar este livro A melhor maneira de voce I idar com essa complexidade (e com a ansiedade que podera causar) e ler este livro uma vcz, rapidamcnte, para saber 0 que ira encontrar. Entao, dependen­do de seu grau de experiencia, defina quais partes de seu tra­balho parecem faeeis ou dificeis para voce. Quando comeyar a trabalhar, leia com mais atenyaO os capitulos pertinentes it larcfa que tcrn em maos. Se voce e urn pesquisador inexperien­te, comece pelo come~o. Se esta nwn curso avanyado, mas ainda nao se sen Ie muito a vontade em seu campo de estudo, salle a Parte I, leia a II, mas concentre-se na 1lI c oa IV. Se e urn pes­quisador expcriente, talvez ache mais iiteis 0 Capilulo 4 da Parte II, os Capilulos 9 e 10 da Parle 1I1 e a Parte IV inteira. Na Parle I, apresenlamos algumas questoes sempre levan­tadas por aqueles que fazem sua primeira pesqui sa: por que os leitores esperam que se redija de detenninada maneira (Capi­tulo I) e por que se deve conccbcr 0 projelo nao como urn !ra­balho isolado, mas como urn diaJogo com os pesquisadores cujos ~rabalhos voce ira consultar c lambern com aqueles que idio ler seu trabalho (Capitulo 2). Na Parte lI, analisarnos 0 proccsso de e l abo ra~ao de seu projcto: como encontrar urn assunto, s intetiza-lo, questiona-lo e justific<i-Io (Capitulo 3), como transformar essas questoes em urn problema de pesquisa (Capitulo 4), como encontrar c utilizar fontes bibli ograficas que orientem a busca de respos­tas (Capitulo 5) e como refletir sobre 0 que foi encontrado (Capitulo 6). Na Parte III , discutirnos a natureza de um born argumcn­to de pesquisa. Comeyamos com lima visao geral do que vern a ser urn argumento de pesquisa (Capitulo 7), entao explieamos quc afirmayocs sao consideradas significativas e que cviden­cias em sell favor sao confiavcis (Capitu lo 8). Analisamos urn elemento abstrato mas decisivo do argumento de pesquisa, cha­mado de "fundamento" (Capitulo 9), e concluimos com uma de sc ri ~ao do modo como todo redator deve apresentar objc­yoes, estipular con d i~oes limitadoras e exprimir condi c;;oes de ineertcza (Capitulo 10).
  • 11. 6 A ARTE DA PESQUISA Na Parte rv, comentamos as etapas do processo de reda­<; 30 do relatorio final, comc9ando pelo esbo<;o (Capitulo II). Em seguida, abordamos urn assunto que geralmente nao apa­rece em livros deste tipo: como transmitir visualmente infor­ma<; oes complexas, mesmo aquelas que nao sejam qlantitati­vas (Capitulo 12). Os dois capitulos subseqiientes sa9' dediea­dos a verifica<;ao e correc;ao da organizaC;ao do relatorio (Ca­pitulo 13) e seu esti lo (Capitulo 14). A seguir, explicamos como redigir uma introdw;ao que convent;a as leitores de que 0 con­teudo do relat6rio compensani. 0 tempo que eles gaslarao na leitura (Capitulo 15). Por fim, nos estendemos por mais algumas paginas, numa reflcxao sobre algo alcm das tecnicas de exe­cU(; ao de uma pesquisa: a questao da etica da pesquisa, em uma sociedade que cada vez mais depende de seus resultados. Nos intervalos entre os capitulos, voce cncontrara "Suges­toes uteis", breves insert;oes que complementam os capitulos. Algumas dessas sugest5es sao para a aplicat;ao do que voce aprendeu nos capitulos, outras sao considerac;5es suplementares para alunos adiantados, e muitas tratam de questoes nao apre­sentadas nos capitulos, mas todas acrescentam algo novo. A pesquisa c urn lrabalho arduo, mas, assim como todo tra­balho desafiador bern feito, tanto 0 processo quanto os resul­tados trazem enonnc satisfac;ao pessoal. Alem disso, as pesqui­sas e seus resultados sao tambem atos sociais, que cxigem uma reflexao constante sobre a relac;ao de seu trabalho com os lei to­res e sobre sua rcsponsabilidade, nao apenas pcrantc 0 tcma e voce mesmo, mas tambem perante eles, espccialmente se acrc­dita que 0 que tern a dizer e algo bastantc importante para levar os leitores a mudar de vida, modificando 0 modo de pensar. Caprtulo I Pensar por escrito: OS usos publico e privado da pesquisa Ao ENTRAR NA SALA de leitura de uma biblioteca, voce ve a sua volta seculos dc pesquisa, 0 trabalbo de dezenas de milha­res de pesquisadores que pensaram longamente sobre inconta­veis questoes e problemas, colheram informac;oes, deram res­pastas e soluc;oes e, entao, compartilharam tudo isso com os outros. Professores de lodos os niveis educacionais dedicam a vida a ~esq uisa, governos gastam bilhoes nessa area, as empre­sas ate mais. A pesquisa avam,a em laboratorios, em bibliote­cas, nas selvas, no espac;o, nos oceanos e em cavemas abaixo deles. A pesquisa e sua divulgaC;ao constituem urna industria enonne no mundo atua!' Maior ainda e a divulgaC;ao de sellS relatorios. Quem nao for capaz de fazer uma pesquisa confia­vel, nem relatorios confiaveis sobre a pesquisa de outros, aca­bani por se achar a margem de urn mundo que cada vez mais vive de informa93.0. 1.1 POI- que pesquisar? Voce ja sabe 0 que e pesqui sa, porque e 0 que faz todos os dias. Pesquisar c simplesmente reunir inJorma(:oes necessa-. rias para encontrar resposta para lima pergun/a e assim che­gar a solu(:iio de urn problema. PROBLEMA; Depois de urn dia de cornpras, voce percebe que sua carteira surniu.
  • 12. 8 A ARTl:: DA PESQlRSA PESQUlSA: Voce sc lembra dos lugares onde esteve e come~a a te­lefonar aos departamentos de achados e perdidos. PROBLEMA: Voce prccisa dc urna nova junta de cabe~ote para urn Mustang modelo 1965. PESQUISA: Voce liga para as lojas de au topc~as para descQ.brir qual delas tcrn a pe~a em estoque. PROBLEMA: Voce precisa saber onde Betty Friedan nasceu. PESQUISA: Voce vai it biblioteca para procurar a informa~ao no Quem E Quem. PROBLEMA: Voce ouve faJar de uma nova especie de peixe e quer saber mais a respeilo. PESQUISA: Voce pesquisa nos arquivos dos jornais, a procura de uma rcportagcm sobre 0 assunto. Entretanto, embora quase lodos nos fa~amos esse tipo de pesquisa diariamente, pOlleos precisam redigir urn relatorio a res peito, porque nossa pesquisa normalmente e feita apenas para nossa proprio uso. Mesmo assim, temos de confiar nas pesquisas de outros que registraram por escrito seus resulta­dos, prevendo que urn dia poderiamos precisar dcssas infonna­~ oes para resolver urn problema: a companhia tclcffinica pes­quisou para campor a !ista teJeffinica; os fomecedores de auto­pe~ as pesquisaram para manta! seus cat<ilogos; 0 autor do artigo do Quem t Quem pesquisou sabre Betty Friedan; os jornalis­tas pesquisaram sabre 0 peixe. De fato, as pesquisas feitas por outros detenninam a maior parte daquilo em que lodos n6s acreditamos. Dos tres autores deste livro, apenas Williams ja esteve oa Australia, mas Booth e Colomb acreditam na existencia da Australi a: sabem que ela esta la, porque durante toda a vida leram sobre 0 assunto em relat6rios em que confiaram, viram 0 pais em mapas fidedignos e ouviram Williams falar pessoalmente a respeito. Ninguemja­mais esteve em Venus, mas boas fontes nos indicam que e urn planeta quente, seco e p1ontanhoso. Sempre que procuramos algo em urn dicionario ,?U uma enciclopedia, estamos pesqui­sando atraves de pesquisas dc outros, mas s6 podemos confiar no que encontramos se aqueles que fizcram a pcsquisa a con­duziram com cuidado e apresentaram urn relat6rio preciso. PESQUlSA, PESQUlSADORES E LEJTORES 9 De fato, sem pesquisas confiaveis pub/icadas, seriamos prisioneiros apenas do que vemos e ouvimos, confinados as opi­niOeS do momento. Sem duvida, a maioria de nossas apini5es cotidianas e bern fundamentada (afinal de contas, tiramos mui­tas deJas de nossas proprias pesquisas e experiencias). Mas ideias erroneas, ate mesmo estranhas e perigosas, florescem, porque muitas pcssoas accitam 0 que ouvem, au aqui lo em que dese­jam acred itar, sem provas validas e, quando agem de acordo com essas opinioes, podem levar a si mesmas, e tambem a nos, ao desastre. S6 quando sabemos que podcmos confiar na pes­quisa de outros somos capazes de nos Iibertar daqueles que, controlando nossas cren~as, controlariam nossa vida. Se, como e pravavcl, voce estA lendo eSle livro porque urn professor pediu-lhe que desenvolva seu pr6prio projeto, pode ser que pense em desenvolve-lo s6 para se exercitar. Nao e urn mau motivo. Mas seu projeto tambem lhe dara a oportunidade de participar das mais antigas e respeitadas di scussoes da hu­manidade, conduzidas por Arist6teles, Marie Curie, Booker T. Washipgton, Albert Einstein, Margaret Mead, 0 grande estudio­so islamico Averruis, a fil6sofo indiana Radhakrishnan, Santo Agostinho, os estudiosos do Talmude, rodos aqueles, enfim, que, contribuindo para 0 conhecimento humano, livraram-nos da ignon'incia e do erro. Eles e inumeros outros estiveram urn dia no ponto em que voce esta agora. Nossa mundo, hoje, e dife­rente por causa das pesquisas deles. Nao e exagero afirmar que, se bern feita, a sua mudara 0 mundo de amanhli. 1.2 Par que redigir um rclat6rio? Alguns de voces, entretallto, poderao achar fadl recusar nosso convite para participar dcsse dialogo. Ao fazer 0 relate­rio de sua pesquisa, voce tent de satisfazer uma multidao de requi sitos estranhos e complicados, e a maioria dos cstudantes sabe que seu re laterio sera lido nao pelo mundo, mas apcnas pelo professor. E, aLem disso, meu professor sabe ludo sobre 0 assunlo. Se ele simplesmente me desse as resposlas ou indi·
  • 13. 10 A ANTE VA PESQUISA casse os /ivros cerlos, eu poderia me concentrar em aprender o que hd neles. 0 que eu gonho redigindo urn relatorio, a noD ser provar que possa faze-Io? J. 2.1 Escrever para lembrar A primeira rauo para registrar pa r escrito a que voce des­cobriu e apenas lembrar. Algumas pessoas, excepcionalmente, conseguem rellnir informalYOes scm as registrar. Mas a maio­ria de nos se perde, quando enche a cabelYa de novos fatos e argumentos: pensamos no que Smith descobriu a luz da tese de Wong c comparamos as dcscobcrtas de ambos com os resulta­dos estranhos de Brunelli, especialmente por serem corrobo­rados por Boskowitz. Mas, espere urn minuto. 0 que foi mesmo que Smith disse? A maior parte das pessoas so conscgue res­ponder a qucstoes mais complicadas com a ajuda da escrita - rclacionando fontes, compilando resumos de pesqui sa, man­tendo anotalYoes de laboratorio e assim por diante. 0 que voce nao registrar por escrito provavelmente sera esquecido au, pior, sera lembrado de modo incorreto. Essa e urna das razoes pelas quais os pesquisadores nao esperam chegar ao fim do proces­so para comCIY3r a escrever: eles escrevem desdc 0 inicio do projeto ate 0 fim, para entenderem melhor e guardarem por mais tempo 0 que descobriram. 1.2. 2 Escrever para en render Uma segunda razao para escrevermos e vcr com maior c1areza as relacoes entre nossas ideias. Ao organizar e reorga­ni zar os resultados de sua pesquisa, voce ve novas re lacoes e contrastes, comp li ca~oes e implicac;:oes que do contrario pode­riam ter passado desperccbidos. Mesmo que pudesse guardar na mente tudo 0 que descobriu, voce ainda precisaria de ajuda para organizar argumentos que insistem em tomar diferentes dire¢es, inspiram relar;5es compJicadas, causam desacordo entre PESQU1SA, PFSQUISADORES £ I£TTORES 11 espccialistas. Quero usar as ajirmafoes de Wong para sus/en· tar meu argumenlO, mas 0 argumento dela e rebatida por estes dados de Smith. Quando os campara, vejo que SmUh nao COlI­sidera a ultima parte do argumento de Wong. Espere 11m miltu­to: se ell a illlroduzir, j untamente com esle trecho de Brunelli, posso salientar a parte do argumenlo de Wong que me permi­Ie refutar 0 de Smith mais f oci/mente. Escrever induz a pensar, ajudando-o nao apenas a entendcr 0 que esta aprendendo, mas a encontrar urn sentido e urn significado mais amplos. 1.2.3 Escrever para rer perspecliva Uma terceira razao pela qual escrevcmos e que, quando projetamos nossos pensamentos no papel, nos os vemos sob uma nova luz, que e sempre mais clara e normalmente menos lisonj eira. Quasc todos n6s - estudantes c profissionais - acha­mos que nossas idcias sao mais coerentes no calor de nossa mente ~o que quando transpostas para as frias letras impressas. Voce melhora sua capacidade de pensar quando estimula a mente com anotar;Oes, esbor;os, resumos, comentarios e outras formas de por pensamentos no papel. Mas voce 56 pode refletir clara­mente sobre esscs pensamentos quando os separa do rapido fluxo do pensamento e os fixa numa forma escrita coerente. Em resumo, escrevemos para podermos pensar melhor, lembrar mais e vcr com maior clareza. E, como vercmos, quan­to melhor escrevemos, mais criticamente podemos leI". 1.3 Por que elaborar urn documcnto rormal? Mesmo sabendo que escrever c uma parte importante da aprendizagem, da reflexao e da compreensao, alguns de voces podem ainda querer saber por que preci sam transformar seu trabalho nurn ensaio ou relat6rio de pesqui sa fonnais. Essa for­malizaCao pode colocar urn problema para estudantcs que nao veem nenhuma razao para seguir urn procedimento de cuja
  • 14. 12 A AR1E DA PESQlRSIt criac;ao eles oao participaram. Por que eu deveria adotar urna linguagem que nao e minha? 0 que ha de errado com minha linguagem, minhas preocupafoes? Por que nao paSSD relator minha pesquisa do meujeilo? Alguns estudantes chegam a achar ameac;adoras essas exigencias: temem que, se tivere(ll de pen­sar e escrever como sellS professores. acabarao, de ccrto modo, se tomando iguais a eles. E sua preocupac;ao e legilima, porque tern a ver com todos os aspectos de sua vida. Uma educac;ao que nao afetasse quem e 0 que voce c seria ine ficaz. Quanto mais profunda sua cdu­cac; ao, mais ela 0 mudarn. Por isso e tao importante escolher cuidadosamente 0 que voce estuda e com quem. Mas seria urn c rro pensar que escrevcr urn relatorio de pesquisa ameac;aria sua identidade. Aprcnder a pesquisar mudara seu modo de pensar, ensinando-Ihe mais maneiras de pensar. Voce sera difcrente depo is de ter pesquisado, {'orque sera mais livre para escolher quem quer ser. A rauo rnais importante para relatar a pesquisa de urn mo­do que atenda -a expectat iva dos leitores talvez seja a de que escrevcr para os outros e rnais dificil do que escrever para si mcsmo. No momento em que voce registra suas ideias por es­cnto, elas the sao tao familiares, que voce precisa de ajuda para ve-Ias como realmente sao, nao como gostaria que fossem. 0 ,!,elhor que voce tern a fazer nesse sentido e imaginar as ncces­s idades e expectativas de sellS leitores. E por isso que os mode­los e planas padronizados sao os recipi entes rna is apropnados para suas descobertas e conclusOes. Eles irao ajuda-Io a ver suns ideias a luz rnais clara do conhecimento e das expectativas de seus leitores, nlio apenas para que voce teste tais ideias mas tambem para aj uda-Ias a crescer. lnvariaveimente, voce en~ende melhor suas impressoes quando as escreve para torna-Ias aces­siveis aos outros, o rgani zando suas descobertas para ajudar os leitores aver explicitamente como voce avaliou os fatos como re lac ionou uma idc ia a outra, como se antecipou as pe;gumas e preocupa90es deles. Todo pesquisador recorda-se de algum momento em que, ao escrever para os leitores, descobriu urna falha, urn efTO, urna oportunidade perdida, coisas que Ihe haviam escapado nurn primeiro rascunho, escrito rnais para si mesmo. PESQUlSA, PESQUISADORES £ LElTORES 13 Aqueles que pretendem participar de uma comunidade que dependa de pesquisas tcrao de demonstrar que nao so sao ca­pazes de dar boas respostas a perguntas dificeis, mas tambem que conseguem infonnar seus resultados salis/aloriamenle, Oll seja. de modo claro, acessivel e, mais importante,familiar. De­pois de conhecer os modelos padronizados. voce sera mais exi­gente ao ler os relat6rios de pesquisa dos outros, comprecndera melhor 0 que sua comunidade espera de todos e sera mais ca­paz de criticar as exigencias criteriosarnente. Redigir urn relatorio de pesquisa, enfim. e simplesrncnte uma questao de pensar por escrito. Assim, suas ideias terno a aten9ao que merecem. Apresentadas por escrito, estarao "ali". desvencilhadas de suas rccorda90cs, opinioes c desejos, prontas pard serem rnais amplam.ente analisadas, desenvolvidas, combi­nadas e compreendidas, porque voce estara cooperando com seus leitores em urna empreitada comum para produzir urn co­nhecimento novo. Em resumo, pensar por escrito pade ser rnais meticuloso, sistematico, abrangente, completo e mais adequado aqueJes que tern pontos de vista diferentcs - mais ponderado - do qup quase todas as outras formas de pensar. Voce pode, e claro, simular tudo isso, fazendo apenas 0 su­ficiente para satisfazer seu professor. Este livro talvez 0 ajude nesse semido, mas, agindo 'assim, voce eSlara enganando a si mesmo. Se voce encontrar um assunto que 0 interesse, se fizer wna pergunta que deseje responder, sc descobrir urn problema que queira resolver. entao seu projeto podera ter 0 fascinio de urna hist6ria de rnisterio, uma historia cuja solm,ao dara 0 tipo de satisfa9ao que surpreende ate mesmo os pesquisadores mais experi entes.
  • 15. '. Capitulo 2 Relacionando-se com seu leitor: (re)criando a si mesmo e a seu publico A MAIOR PARTE DAS CQISAS IMPORTANTES QUE FAZEMOS, fa ­zemos com outras pessoas. A primeira vista, podemos pensar que com a pesquisa e di ferente. Imaginamos urn estudioso so­litario, lendo em urna biblioteca silenciosa ou tmbalhando em urn laborat6rio, cercado apenas por artefatos de vidro e com­putadores. Mas nenhum lugar e tao repleto de vozes quanta uma biblioteca ou urn laboratorio, e, mesmo quando parecemos tra­balhar completamente sozinhos, trabalhamos para aican9ar urn fim que scmpre nos envolve em urn di alogo com os outros. Nos nos relacionarnos com outras pessoas loda vez que lemos urn livro, usamos urna ap~ re lhagem de pesquisa ou confiamos em uma formula estatistica. Toda vez que consultamos urna fo nte, que nos reunirnos com algucrn e, reunindo-nos, partici­parnos de urn di alogo que pode ter decadas, ate mesmo sccu­los de idade. 2.1 Di:ilogos entre pesquisadores Exatamente como acontece em sua vida social, voce, como pesquisador, faz julgamentos sabre aquelcs com quem troca idCias (como agora deve cstar julgando nos tres): Garcia pare­ce cOllfiavel, oif/da que um POIICO previsivel; Alhambra e agra­davel, mas descuidada no que d iz respeito as evidencias que apresellta; Wallace coleta bons dodos. mas noo cOl/fio em SilaS conclusiies.
  • 16. 16 A ARTF. DA PESQlRSA Esses j ulgamentos, pacem, nao sao urna via de mao Unica ­voce j ulgando suas fontes - porque elas ja a julgaram, criando, em certo senti do, lima persona para voce. As duas passagens a seguir "eriam" leitores diferentes, atribuindo-Ihes niveis di­ferentes de conhecimento e experiencia: I - A reguJagem da interacao das protcinas contriteis acti­na e miosina no filamento fino do sarcomere, por melo de hloqueadores de calcio, e agora urn meio comum de controlar espasmos cardiacos. 2 - Seu musculo mais importante e 0 coracao, mas ele nao funciona quando esta acometido de espasmos musculares. Esses espasmos agora podem ser contro­ladas por drogas conhecidas como hoqueadores de calcio. Os hloqueadores de calcio atuam sabre peque­nas unidades de fibras muscuiares chamadas sarco­meros. Cada sarcomero tern dais f ilamcntos, urn gros­so e urn fino. 0 fi lamento fino cantem duas proteinas, actina e miosina . Quando a actina e a miosina intera­gem, seu'coracao se contrai. Essa intera/Vao e contro­lada pelos bloqueadores de calcio. o primciro trecho lembra urn especia li sta escrevendo a ou­tro; 0 segundo, urn medico explicando cuidadosamente ideias complexas a urn paciente. Seu texto refletira nao s6 os julgamentos que voce fez sobre ~ conhecimento e a capacidade de compreensao de seus leitores, mas, mais importante ainda, 0 que voce quer que eles identifiquem como significativo em sua pesquisa. E seus lei­tores 0 julgarao com a precisao com que voce os julgar. Se cal­cular mal a quantidade de informacoes de que eles precisam, se apresentar suas dcscobertas dc urn modo que nao alenda aos interesses deles, voce perdera a credibi lidade de que lodo autor precisa para sustentar seu lade do dia!ogo. Portanto, antes mesmo de dar 0 primeiro passo cm direl;ao a urn relat6rio de pesquisa, voce cleve pensar no tipo de dialogo que pretende ter com seus leitores, no tipo de rclaC;;ao que dese- PESQlDSA, PESQUlSADORES E LEITOR.£S 17 ja estabelecer com eles, no tipo de re l a~ao que espera que quei­ram e possarn ter com voce. lsso significa saber nao s6 quem sao eles e quem e voce, mas quem voce e eles pensam que todos voces devem ser. Voce pode pensar que a resposta e 6bvia: Eu sei quem sou, e meu lei/or e 0 meu professor, mas os pesquisadores cstudan­tes sempre trabalham em circunstanc ias complicadas. No pa­pel, voce pareeeni. diferente do que c em pessoa. E seus profes­sores, como leitores, reagirao de modo diferente de como rea­gem em classe. Coordenar tudo isso significa reconhcccr: I) os diferentes papeis sociais que a autor C 0 lei tor criam para si mesrnos e urn para 0 outro e 2) as intcrcsscs comuns que todo lei tor e todo autor compartilham. 2.2 Autores, Icitores e s e llS papeis sociais Suas decisoes sobre si mesmo e SCllS leitores sao bastan­te complicadas, porque trabalhos de pesquisa exigidos em sala de aula criam s itua~Oes obviamente art ificiais. Se esse e urn de seus primeiros projetos, voce talvez nao 0 eSleja fazendo por­que, na vcrdade, senle a premcnte necessidade de fonnular uma pergunta cuja resposta modifique 0 mundo. Por outro lado, e improvavel que seu professor tenha Ihe pedido para fazer a pes­quisa porque sinta a necessidade prcrnente de saber sua respos­tao Voce provavclrnente esta escrcvendo para atingir uma meta menos direta: aprender sabre pesquisa, represenlando 0 papel de pesquisador e imaginando 0 papel de sell le itor. Representar urn papel nao e uma parte insignificante do aprendizado. As pessoas podcm aprender uma tccnica de tres maneiras: lendo sobre ela ou ouvindo sua exp li ca~ao. observan­do enquanto oulros a praticam, ou praticando a tecnica par si mesmas. 0 aprendizado mais eficaz combina as tres alternativas, mas a terceira c decis iva: Illio basta apenas ler, ouvir e obser­var - e preciso Jazer. E, uma vez que a pesquisa e uma ativi­dade social, pratica-Ia significa desempenhar urn papel social. Com essa finalidadc em vista, seu relat6rio deve criar papcis tamo para voce quanto para seu professor. Mas csses
  • 17. 18 A ARTE VA PESQUlSA papeis nao podem sec os da sala de aula, onde 0 professor fa: pcrguntas para que voce mostre que sabe as respostas, ou vo~e faz as perguntas porque nao sabe as respostas. Em sell relato­rio voce deve se converter em autor/pesquisador e dar a seu pr~fessor 0 papel de urn leiter que deseja, ,?u de~e~ia ,desejar, saber 0 que voce descobriu. Na verdade, deve se Imagmar tro­cando papeis com seu professor, voce se tarnando professor dele, c ele, seu aluno. 2.2.1 Criando seu papel Ao longo de teda sua pesquisa, imaginc-se como alguem que possui urna informa~ao ou afirma~ao bastante importante para sec passada a outros que passam quercr conh:ce-Ia. Ima­ginando isso, voce deve represcntar 0 papel .espe~lfico de urn profissional cia area. Se estiver num curso de blOlogla, por exem· plo, espera·se que tenha apontamentos cO';lplet~s sobre 0 ~uc ocorre no laborat6rio (incluindo crros e sltua~oes scm s3lda) e da mcsma maneira como faria urn pesquisador experientc, r~late seus resultados de forma profissional. Se seu projeto, num curso de hist6ria, for preparar seu hist6rico familiar, voce deve consultar a literatura sobre as raizes etnicas e socioeco· nomicas de sua familia, da mesma maneira que urn historiador pro fi ssional faria. Ou pode ser que Ihe pefY3m para represen· tar 0 papel de uma pessoa informada, que nao seja urn profis· sional "de dentro", mas exatamente 0 que voce e: urn estudan· te escrevendo seu primeiro relat6rio de pesquisa em urn curso introdut6rio. , Seu professor pode ate mesruo dar informatroes dctalhadas: ESCT'eva um historico de sua familia para 0 "Projeto Diver· sidade ", como parte da comemoraplo de celllentirio e de uma camponlta para arrecada~'ao de fundos: seu historico, jllllta­mente com mdros, sera publicado numa broe/lllm diSlribuida peta associa~iio de ex..a/unos para moSlrar a diversidade dos estudantes desre campus. PESQUlSA, P£SQfJISADORES E I£rroRES 19 De acordo com essas infonnafYOes, seus leitores nao seriam his· toriadores profissionais, mas alunos em potencial e seus pais. Mas suponha que Ihe seja pedido para interpretar 0 papel de urn pesquisador que faz urn relat6rio sobre a presentra de toxinas nurn lago, para a diretora da Agencia Estadual de Pro­tefYao ao Meio Ambiente. Nessc caso, talvcz fosse convenien· te fazcr uma pesquisa sobre essa diretora, para descobrir quem cia e e como pretendc usar seu relatOrio. No passado, ela esteve mais ligada a politiea ou a ciencia? Se a resposta for a segun· da altemativa. que tipo de cicncia? 0 relatorio sera para ela apenas, ou tambem para 0 governador? Ela precisa das infor· mafYOcs para decidir a que fani no futuro, au para justificar uma decisao que ja foi tomada? Em resumo, 0 primciro passo no preparo de uma pesqui· sa e compreender seu papel num determjnado "palco". Por que Ihe pediram para escrever 0 relatorio? 0 que seu professor, curso ou prograrna querem que voce aprenda com isso? Querem que voce experimente 0 sabor da pesquisa, visando prepara-lo para se especializar em urna area, tornar·se urn profissional? Ou ser'a que desejam dar aos alunos em busea de educw:;iio Ii· beral uma oportunidade de pensar muito sabre urn assunto de sua propria escolha? Se voce nao souber, pergunte. Outra questao a considerar e como a aparencia de seu relat6rio influi no papel que voce representa nesse contexto social previsto. No trabalho dc biologia, 0 texto deveria ter a forma de urn relat6rio de laborat6rio, de urn memorando of i­cial recomendando providencias, ou de urn sumario de direto­ria? No caso do trabalho de hist6ria, voce tern menos formas para escolher, mas deve procurar saber, por exemplo, se pode elaborar a hi st6ria como uma narrativa na primcira pessoa, em que voce fa lara de seu passado e do que descobriu sabre ele. Ou sera que 0 trabalho deve ser um rclato formal, na tcrccira pessoa? Nao comcce sua pesquisa antes de saber quais sao suas op~oes quanto a forma do rc latorio.
  • 18. 20 A ARTE DA PESQUlSA 2.2.2 Criando urn papel para seu iejlor SellS leitores tambem devcm desempenhar urn papel, que voce criara para eles. Considerando que seu professor talvez seja seu principalleitor, voce deve atribuir-Ihe 0 papel,dc alguem que, se liver bons motivos, in! se preocupar com seu'problema de pesquisa e querer conhecer a 50U9aO. Ele tambCm poden't estipular urn papel para si mesmo - alguem uda" especialidade, que espera que voce escrcva como os demais autares da area. Ou, 0 que sena mais dificil, cle poderia representar 0 papel de urn lei tar comum que nao tern conhecimento especializado cia area e sellS metodos. Dependendo do papel que ele se atribua. sell professor ira concentrar-se em difercntes aspectos do rel at6rio. Como lei tor especializado, procurani cita.-;oes dos estudos chissicos sobre o assunto, fonnatadas corretamente, e como lei tor comum ira querer explica.-;6es claras, "em linguagem simples", dos ter­mos tecnicos. Se voce estiver redigindo urna (ese para ser lida por urna banca exarninadora, tera de pensar nos diversos pa­pcis de maneira mais complicada ainda. Se voce e urn pesquisador experiente, compreende como os leitores difercm uns dos ou1ros, mas, se esta cscrevendo seu primeiro relat6rio de pesquisa, prccisa saber que os leitores ado­tam papeis baseando-se no modo como usadio sua pesquisa. As diferen.-;as mais importantes encontram-se entre os que H!:em por diversao, as que querem urna solu.-;ao para urn problema pnitico e aqueles que se dedicam a pura busca do conhecimen­to e da compreensao. Para entender essas difcrem;:as e corno afetam sua pesqui­sa, imaginc tres formas dc dhilogos sobre baloes, dirigiveis e zepelins. Por diversao. Esse tipo de troca de ideias ocorre entre pes­soas que se reimem para fa lar sabre zepelins por passatempo. Para enttar no dialogo, voce s6 precisa mostrar interesse pelo assunto e ter algo novo ou interessante para oferecer, como, por exemplo, urna carta do lio Otto, na qual elc dcscreve sua viagem no primciro zcpclim a cruzar 0 Atlantico equal foi a PESQUISA, PESQUlStt.DORES E LEITOR£S 21 cardapio do jantar. 0 que esta. em jogo aqui c urn momenta de diversao entre pessoas que gostam de falar sabre zepelins e tal­vez procurem obter algum enriquecimento pessoal. Sua conver­sa seria 0 tipo de trabalho que voce escreveria em uma aula de reda.-;ao, em que se espera que 0 aulor seja anirnado, com algo interessante, talvcz engra.-;ado para contar, que se concentre mais em expor suas pr6prias rea.-;oes do que em fazer uma ami­lise imparcial do assunto. Como sua tarefa e cornpartilhar com outras pessoas seu entusiasmo por urn assun to que tambcm as entus iasme e oferecer algo que etas nao conhe.-;am e achariam interessante, voce deve consultar suas fontes, procurando hist6- rias divertidas, fatos estranhos e assim por di ante. Por urn motivo pnitieo. Agora imagi ne um segundo dia­logo, dessa vez com 0 pessoal do departamento de rela.-;oes publicas da Giganto Inc. Eles gostariam de usar urn dirigivei em uma campanha publicitaria, mas nao sabem quanta isso custaria, nem ate que ponto seria eficaz. Entao, contrataram voce para descobrir. Para sair-se bern nesse dhllogo, voce pre­cisa ethender que btl mais coisas em jogo do que meramente a satisfacao da curiosidade. Sera necessario responder a per­gunta da pesquisa de urna maneira que aj ude 0 pessoal de RP resolver seu problema pratico,fazendo algo: se alugarem 0 di­rigivel, aumentadio as vendas da Giganto? Esse e 0 tipo de pu­blico para 0 qual voce podera escrever, quando seu professor criar urn roteiro "da vida real" para seu trabalho, ou seja, oode haja alguem interessado em usar sua pesquisa para resolver urn problema real, tangivel, pragmatico. Se souber 0 que seus lei­ta res farao com suas respostas, voce sabera que informa.-;oes procurar, compreendendo que h5. outras com as quais nao pre­cisa se incomodar - e improvavel que 0 pessoal da Giganto quei­ra saber quando foi inventado aquele artefato mais leve que 0 ar, ou sc interesse pelas equacoes usadas para analisar sua eSla ­bi lidadc acrodinarnica. Para en.ender. Finalmente, imagine que sua escola tcnha urn departamento de artefatos mais Jeves que 0 ar, tao impor­tante quanto 0 departamento de ingles au de qui mica. A facu!-
  • 19. 22 A ARTE DA PESQUISA dade oferece cursos sabre dirigiveis, haloes e zepeJins, pesqui· sa-os e participa de uma troca de ideias mundial, puhlicando pesquisas a respeito dessas aeronaves. Dcssc dialogo partiei­pam centenas, talvez milhares de pesquisadores. Alguns deles se conhecem, Quiros Dunea se encontraram, mas tod~ leeru os mesmos !ivros e peri6dicos. 0 objetivo deles nao e se divertir (embora se divirtam) ou ajudar alguem afazer alga - ~omo me­Ihorar a imagem de uma empresa (embora pudcsscm gostar de atuar como consuhores, pages peJa Giganto Inc.). 0 objetivo deles e propor perguntas, e responder a elas. sabre artcfatos mais leves que 0 ar, sua hist6ria, SU3S conseqilencias sociais. a tcoria e a litcratura a respeito do assunto. Eles determinam o valor de seu lrabalho nao pclo que possam oferccer como fonte de entretenimento au pela ajuda que possam dar a algucm, mas pelo que aprendem, pelo conhecimento que adquirem a respei­to de dirigiveis, pel a avalia!;ao de quanta conseguem se apro­ximar da verdade. Como conscqiiencia, esses estudiosos de artefatos mais leves que a ar estao intensamenle preocupados com a qualida­de intelectual de seu dialogo: esperam que todos as participan­tes sejam objctivos, rigorosamente 16gicos, fieis aos fatos, ca­pazes de analisar as perguntas de todos os angulos, nao impor­ta para onde a investiga!;ao os conduza au quanta tempo Ihes tome. Esperam que 0 dialogo focalize as complcxidades, ambi­giiidades, inccrtczas, os misterios e, entao, que apresente solu­c;: Oes. Confiam nas pesquisas uns dos outros ao mesmo tempo em que competem entre si para produzir as proprias pesquisas: desse modo, testam tudo antes de fazer seu relatorio, porque 0 que mais valorizam e fazer as coisas co~retamente, e porque sabem que a vcrdade e sempre parcial - incomplcta e facciosa. Entendem que toda verdade apresentada e contestavel e sed testada pelos outros participantes do dialogo, nao exatamente por screm controversos (embora possam ser) ou mesmo cini­cos (embora alguns sejam), mas porque desejam aproximar-se da verdade sobrc dirigiveis. Tais leitorcs sc interessarao por qualquer coisa nova que voce tenha a dizer, mas va~ quercr saber 0 que fazer com a nova PESQUISA, PESQUlSADORES F. LEnORES 23 informac;:ao e de que modo ela afeta 0 que ja sabem sabre diri­giveis. Ficarao cspecialrnenlc interessados sc voce convence­los de que nao compreendem algo tao bern quanto imaginavam: A maior parte das pessoas peIJsa que as arte/atos mais /eves que 0 ar originaram-se na Europa, no seculo XV/lI, mas eu descobri urn desenho do que parece ser urn baMo de ar quen­te de qualm seculos antes, numa parede, na America Central. E de urn dialogo desse tipo que voce participa quando re­lata pesquisas para uma comunidade de estudiosos. Nao impor­la que sell eslilo seja eJeganle (em bora isso me fara admirar mais seu trabalho), nao importa que voce me conte hiSlorias diver/idas (ainda que eu possa aprecia-Ias, se elas me ajudarem a entender me/hor silas Midas), nao importa qlle a que voce saiba me enriquera (em bora isso possa me deixar contente). Apeflas diga-me algo que nao sej, delorma que eu possa com­preender me/hor 0 que sei. Esses tres tipos de leitores podem cstar interessados em artefatos rna is leves que 0 ar, mas a interesse de cada urn no assunt? e di~erente. portanto vao querer que sua pesquisa re­solva tlPOS dlfercntes de problemas: entrete-Ios, ajuda-Ios a so­lucionar algum problema, ou simplcsmente ajuda-Ios a com­preender melhor urn assunto. Se cssa for sua primcira incursa.o na pcsquisa, voce tera dc descobrir 0 que esta em jogo no rneio a que pertence. Se nao sauber, pergunte, porque esse requisito 0 levani a caminhos di­ferentes de pesquisa. Claro que no decorrer da pesquisa voce podera descobrir alga que mude sua intem;:ao: enquanto coleta hist6rias cngra­rvadas sabre 0 descnvolvimcnto do zcpelim, talvez descubra que a hist6ria oficial desse dirigivel esta errada. Mas, se voce nao tiver. desde 0 inicio, uma n o~ao do que realmcnte pretendc, esta arriscado a fiear perambulando sem rumo de uma fonte de informarvoes para outra, a que 0 conduzira, e a seus leilO­res, a lugar ... nenhum.
  • 20. 24 A ARTE OA PESQUISA 2.3 Leitores e seus problemas comuns Oependendo do que esteja em jogo. leitores e autorcs re­presentam papeis sociais diferentcs, por tras dos quais ex istem preocupa<;:Oes comuns a todo leiter, assim comp problemas comuns a todo auter. " 2.3.1 Leitores e 0 que voce sabe sobre eles Todos os leitores compartilham urn interesse: querem ler relat6rios que aprescntem 0 minima poss ivel de dificuldades desnecessaria s. Podcm apreciar a elegancia e a vivacidade de espirito, mas em primeiro lugar quercm entender 0 ponto prin­cipal de seu trabalho e saber como voce chegou a ele. Assim, como c uti I pensar no processo de reda<;:ao de seu relat6rio co­mo urn caminho para urn ponto de destino, tambem e ut il ima­ginar uma trajetoria semelhante para seus leitorcs, que tcrao voce como guia. Eles querem que sua introdlll;ao lhes indique para onde ir, e que voce explique por que deseja conduzi-los por esse caminho, que de uma ideia da pergunta a que a jornada respondcra, que problema, inte1ectual ou pratico, sera resolvido. Seus leitores tambem vao querer saber de que maneira sua pesqui sa e as conciusOes mudarao suas opinioes e co nvic~oes: e assim que irao aferir a impQrltincia de seu trabalho. 0 que voce pretende? Oferecer a leitores agmdecidos a solu<;:ao de urn problema que durante muito tempo cles sentiram que prc­cisavam resolver, ou tentara vender uma soluc;ao a leitorcs que, nao s6 podem rejeita-Ia, como tam¥m, talvez, nem sequer queiram saber do problema? l o dos os leitores projeram em urn relatorio de pesquisa os pr6prios interesses e co n ce p~oes. Portanto, antes de redigi-lo, voce precisa definir a p os i ~ao dcles e a sua em rcla~ao it pcr­gunta a que voce esta rcspondendo e ao problema que esta resol­vendo. Se sua pcrgunta ja e urn assunto palpitante na comuni­dade, a maioria dos leitores a apreciani, antes mesme de voce aprescnta-la. Nesse casc, concentre-se cm definir II posic;ao deles em re l a~ao a sua resposta: I PESQUISA, PliSQUISADORES E l.En oRES 25 • Se ja conhecem a resposta. voce as estara fazendo perder tcmpo. • Sc acreditam em uma res posta errada, ou em urna res posta certa pelas razoes erradas, antes de mais nada voce tera de demove-Ios do eITa e, entao, convence-Ios de que sua resposta e a correta, pel as razoes coeretas - wna tareEa dificil. • Se cles nao tern urna resposta. voce esta com sorle: 56 pre­cisara convence-Ios de que possui a resposta certa, e eles a recebcrao, agradccidos. Se, por outro lado, sua pergunta nao for urn assunto pal­pitante. sua laTera sen. mais complicada, porque a maioria dos leitores nao tCHi conhecimento de sua pergunta ou de sell pro­blema, antes de voce apresenta-Ios. Nesse caso, voce precisara, primeiro, convence-Ios de que sua pergunta e boa. o Alguns leitores, par quaJquer rozao, nao terao nenhum inte­resse em sua pergunta, de modo que nao se interessarao pela resposta. Convence-Ios a interessar-se pela pergunta podera ser urn desafio maior do que convence-Ios de que voce cn­controu a resposta correta. o Allguns leitorcs poderao mostmr-se receptivos a seu problema por pcrceberem que a so lu~ao os ajudara a entender melhor seus pr6prios problemas. Se for assim, voce estara com sortc. o Outros leitores poderao rejeitar tanto sua pergunta como a resposta, porque aceita-Ias desestabilizaria convic~oes man­tidas ha longo tempo. Podcriam mudar de ideia, mas apenas por boas razoes, enfat icamente expostas. o Finalmente, alguns le itores estarao tao cntrincheirados em suas co nvic~oes, que nada os fani levar em considera~ao uma nova pergunta ou urn velho problema tratado de uma nova maneira. Voce s6 podeni ignoni-Ios. 2.3.2 Leitores e 0 que voce espera deles Para entendcr seus leitores, portanto, voce prccisa saber qual e a posi~ao delcs. Mas tambem precisa decidir aonde de­seja leva-los e 0 que cles farao quando chegarem la. Podcria ser uma· das ahernativas descritas a seguir, au todas elas.
  • 21. 26 A ANn::: DA PESQUISA Aceitar um conhecimento novo. Se voce oferecer aos leitores apenas conclusOeS e conhecimentos novos, devera pre­sumir que eles ja tern interesse pelo assunto, ou, entao. dispor­se a convence- Ios de que, tomando-se receptivos, s6 terao a lucrar. Se eles ja tiverem interesse, apenas apresent~r as in for­macOes sera menos trabalhoso, mas tarnbem muito menos in­teressante e geralmente menos marcante. Vez por outra, urn pesquisador dint: Aqui estlio as inj'ormap5es que descobri. e espero que possam interessar a alguem. Os leitores ja interes­sados fi carao gratos, mas iraQ se interessar mais se 0 pesquisa­dor mostrar como os novos dados podem for~a-Ios a ocupar-se de uma nova quesHio, especialmente sc tais dados perturbarem sua ant iga maneira de pensar. Vamos dizer que voce possua infonnac;:Ocs sabre tecelagcrn tibetana do seculo XIX. Isso pode ser novo para seus leitores, mas voce nao tern nenhum argumento diferente alem de: Voces provavelmente nlio conhecem este assunto. Tudo bern, mas me­Ihor seria imaginar como sua nova informac;:ao poderia reque­rer que cles mudassem de opiniao sobre 0 Tibete, a teeelagem ou ate mesmo sobre 0 scculo XIX. Isso significa achar pcrgtm­tas que possam interessar aos leitores. e quc seu novo conhe­cimento possa responder. No mundo dos ncg6cios e do comercio, e comum um su­' pervisor orientar os pesquisadores para reunirem e relatarem informa~oes , mas essa pessoa normalmente quer as informa­~ Oes para resolver urn problema que elaja sabe que tern. Nesse caso, ha urna divisao de trabalho: Voce consegue as informafoes de que eu preciso para resolver meu problema. , Mudar convic~oes. Voce pedira mais de seus leitores (e de si mesmo) se pedir-Ihcs nao so que aceitem novos conhe­cimentos, mas tambem mudem conv i c~oes arraigadas. Quanto mais arrai~adas estiverem essas convicc;:oes, mais dificil sen) muda-Ias. :£ assim que os leitores avaliam a importancia da pcs­quisa. Por exemplo, seria faci! convenccr a maioria de nos de que ha exatamente 202 asteroidcs conhccidos, a urna distancia de urn quilomctro c meio ou mais. porque poucas pessoas estao preocupadas com isso. Mas, se pudesscmos ser convencidos de 1, PESQUISA, PESQUlSADORES E LErroRES 27 que esses 202 aster6ides sao restos de urn planeta que urn dia existiu entre a Terra e Marie e explodiu em uma guerra nuclear, tcriamos de mudar muitas convic<;;oes sohee varios assuntos importantes, 0 menor dos quais seria 0 numcro exato de aste· rOides. Ao pensar oa qucstao de que esta tratando, pense tam· bern no impacto que pretende produzir oa estrutura geral de convic.;oes e conhecimentos de seus leitores. Quante maior 0 impacto, mais importante sera sua questiio, e mais voce tern de trabalhar para sec convincente. o fate delorosa, no cntanto, e que mesmo pesquisadores experiemes acham dificil prever ate que ponto suas dcscobertas faraa os Ieitores mudarem suas convic~oes. E, mesmo quando conscgucm, geraimenlc lutam para explicar por que os leitores deveriam mudar. Agora, uma coisa importante: Se voce for um pesqllisador iniciante. nlio pense que tera de satiJ.jazer uma expectativa tlio elevada quanto essa. No in icio, nao se preocupc em saber se as resultados de sua Pfsquisa serao novas para os outros, se serao capazes de mu­dar a opiniiio de alguem, alem da sua. Preocupe-se antes de rnais nada em saber se 0 trabalho e importante para voce. Se conseguir encontrar uma pergunta a que so voce queira respon­der, ja sera uma conquista importante. Se conseguir encontrar urna resposta que mude apenas 0 que voce pensa sobre urna pon;.ao de coisas, conquistou algo ainda rnais importante - des­cobriu como novas ideias desestabilizam e reorganizam con­vicc;: ocs estaveis. Sc voce for urn pesquisador experiente, porem, tera de dar o proximo passo. Seus leitores esperam que voce apresente urn problema que nao 56 reconhec;:am como seu, mas tambem como deles, urn problema cuja solll c;:ao mudara a opiniao deles, de urn modo que eles achem significativo. (Discutirernos esse requi­sito mais detalhadamente no Capitulo 4.) Praticar urna ae;ao. De vez em quando, os pesquisado­res pedem que os leitores pratiquem urna a~ao porque acredi­tam que a so lu~ao de seu problema de pesquisa podera ajudar os leitores a resolver urn problema real. As vezes isso e Hiei l -
  • 22. 28 A AR71;." DA PESQUISA urn quimico descobre como produzir gasolina nao poluente e, entao, leota persuadir as companhias de petr6leo a usarcm sua formula. Mais frequ entemente, os resultados de sua pesquisa nao Icvarao a urna 8930 especifica mas, sim, a urna conflusao que apenas mudara a compreensao de seus leitores. NQ mundo da pesquisa erudita, entretanto, cssa nao e urna conquista despre­zivel. No computo final, a importancia da pesquisa academica dcpende do quanta ela abala e reorganiza convic~oe s. nao que­rendo dizcr que essas novas conv i c~oes levarao a uma 3930. Tenha em mente que praticamentc todo pesquisador aca­demico comec;a satisfazendo interesses. nao de sellS leitores, mas os sellS pr6prios. Tambem estcja cienle de que mesmo pesquisadores experientes geralmente nao podcm, logo no co­me<; o, responder a perguntas sabre a importancia de sua pcs­quisa. Par rnais paradoxal que possa parecer, quase lodos s6 cornprccndcm exatarnente a importancia que suas dcscobcrlas terao para os outros quando terminam 0 primeiro rascunho de seu relat6 rio. Portanlo, aqui vai rnais uma palavra de conforto para quem esteja in iciando seu primeiro projeto: quando voce parte de urn interesse seu - como deve ser - provavclrnenle nao sabe 0 que esperar de seus leitores, ou ate de si mcsrno. S6 descobrini. isso depois de encontrar urna rcsposta que 0 ajude a entender melhor a pergunta que deseja submetcr fa aprecia<;ao de seus leitores. Mesrno entao, sell melbor lei tor talvcz seja voce mcsmo. N oda e mais importonte pora 0 sucesso do pesquiso do que seu compromisso com ela. Algumas dos pesquisos mois impartontes do mundo forom conduzidos par pessoos que triunforom sobre a indi­feren<;: o , porque nunco duvidorom de suo proprio visco. Barbaro AflcClintock, umo geneticista, lutou durante onos, sem reconheci' menta. porque suo comunidode de pesquiso noo considerovo seu trobolho importonte. Mos cia ocreditou nele e final mente, quando a comunidode foi persuodido a fozer perguntos a que 56 elo pode­rio responder, B6rbaro conquistou a honro mois alto do ci€mcio : 0 Premia Nobel. 1 I I PESQUISA, PESQUTSADORES J:: LEITORES 29 2.4 Autores e seus problemas comuns Da mcsma maneira que lodos as leitores tern certas preo­cupa<; oes em comum, lodos as autores enfrentam alguns pro­blemas iguais. 0 mais importante para os iniciantes e a dife­renc; a que a experiencia faz. Quando urn autor conhece real­mente urna area, interioriza seus metodos tao bern, que e capaz de fazer por habito 0 que antes fazia apenas atraves de normas e reflexao. Autores com pratica come<;am urn trabalho com a intuic;ao de qual sera sua forma final e do que os leitores espe­ram. Os menos experic ntes tern de pensar nao s6 em seus assuntos e problemas especifi eos, mas tambcm de fazer 0 que os autores experi entes fazem intuitivamente. Mas e claro que e para isso principaime nte que voce se esforc;a tanto, para apren· der a pesquisar rnais, com menos desperdicio de csfor<;o. E essa e a meta deste livro: ofereeer-ihe diretrizes, listas de con­ferencia e ve rifica~ao e sugestOes rapidas para ajuda-Io a avaliar seu progresso e seus planas e, a que e rnais importantc, mos­trar- Ihe como pensar e escrever como um leilOr: em resurno, tamar claro 0 que os autores cxperientes fazcm intuitivamente. Todo 0 mundo eome4ta eorno novato, e quase todos n6s nos sentimos assim outra vez, ao cornec;ar urn novo projeto no qual nao estamos inteira rnente confiantes. Nos tres, os auto­res, lembrarno-nos de ja haver tentado redigir conciusoes pre­liminares, eonscientes de que nosso texto e ra impreciso e con­fuso, porque era assim que nos sentiamos. Lembramo·nos de ri­car simpiesmente repctindo 0 que Ilamos, quando deviamos eslar analisando, sintetizando e criticando 0 texto. Tivemos essa ex­periencia quando erarnos estudantes, primeiro como alunos de faculdade, depois de p6s-gradua<;ao, e passamos por ela quase toda vez que comeC;arnos urn projeto que exige que estudemos urn assunto verdadeiramente novo. A medida que voce adquire rnais habilidade e experien­cia, algumas dessas ansiedadcs sao superadas. A pratica eompen­sa. Par que, enrno, urna vcz que voce tcnha "aprendido a pesqui­sar", nao eonsegue livrar-se cornpletamente da ansiedade? 0 fato e que aprender a pesquisar nao e como aprender a andar de
  • 23. 30 biciclcta, uma habilidade que voce pode repetir cada vez que experimenta uma bicicleta nova. Pesquisar envolve algumas habil ida­des repetitivas, mas, como os objelos de pesquisa sao infi nitamente variados, e os modos de informar os resultados vari am dc area para area, cada novo pro­j eto lraz cons igo proble­mas novos. A dife renc;a entre 0 especialista e 0 novato reside em parte no fato de que 0 especialista cOnlrola melhor as tccni ­cas repetitivas, mas, alem disso, ele lambem consc­gue prever melhor as ine­vitaveis incertezas e supe­rn- Ias. Entao, como voce po­de evitar a sensac;ao de que esta sobrecarregado? Em primeiro lugar, to­me consciencia das incer­tezas que inevitave lrncnte enfrentara. Esse deve ser o objetivo da primeira e rapida leifUra deste livro. Em segundo lugar, do­mine 0 assunto que cseo­Iheu, eserevendo sobre elc A A~ DA PESQUISA Sobrecofgo cognifivo: Algumos polovros tronquilizodoros As dificuldades que os pesquiso· dares inicionles enfrenl~m tem me­nos 0 ver com idade 6u realiza · <;6es do que com a experiencio no areo estudado. Umo vez, um de nOs explicovo 0 olguns professores de redacoa juridica que os prO" blemas de ser novato despertom umo sensa COo de inseguronca nos novas esludonles de dirello, rnesmo entre as que erom bons redalores antes de entror no facul­dode. No rim do converso, umo mulher comentou que, 0 0 inieior a curse de direil:>, expe~imentoro 01- gumo sensocoa de Incerteza e caniusoo. Antes do curso. elo lora prolessoro de ontropoogio, publi­coro urn trobolho e faa elogiodo pelo.s revisores pelo clorezo e pelo vigor de seu lexlo. EnlOo, decidira mudor de carreiro e curror 0 fa­culdade de direiJo. Segundo elo, escrevio de moneiro lOa incoerente, nos prirneiros seis meses, que leve meda de eslor sofrendo de alguma doenco degenerotive do cerebra. Noo eslova, e claro: simplesmente, experirnenlovo urn tipo de olosio lempororio que oflige 0 moiorio de n6s, quando lenlomas escrever so­bre urn oSS~Jnto que 000 domino' mos. Noa lai de surpreender que, 00 camEX;or 0 enleooer melhor os leis, possasse a pensor e escrever melhar. ao longo da pesquisa. Nao se limite a tirar fotocopias de suas fontes e sublinhar palavras: escreva resum~s, criticas, pergun­tas sobre as quais refletir mais tarde. Quanta mais escrever, a medida que avanfa, nao importa quao esquematicamente 0 PESQUISA , PESQUlSADORES £ lElTORES 31 faca, mais confiante estara ao enfrentar 0 intimidante primei­ro rascunho. Em terceiro lugar, mantenha sob controle a complexidade de sua larefa. Todas as partes do processo de pesquisa afetam as demais, portanto use 0 que aprendcu sobre cada parte, de modo a dividir 0 complexo conjunto de tarefas em etapas rn a­nejaveis. Supere os primeiros estagios. encontrando urn topi­co e fonnulando algumas boas perguntas, e, entao, seu trabalho sera mais eficaz mais tarde, quando voce redigir 0 rascunho e revisa-Io. Inversamentc, se puder prever como fani 0 rascunllO e a revisao, ten} maior eficaeia na etapa de procurar urn topi­co e formular urn probl ema. Podeni dar as tarefas a atem;ao que cada uma requer, se souber como coordemi-Ias. quando se concentrar em uma em particular, quando fazer uma avaliaC;ao, como revisar sellS pianos e ale mesmo quando altera-los. Em quarto lugar, conte com seu professor para ajuda-Io a veneer suas di f iculdades. Bons professores querem que seus alunos teoharn sucesso e prcstam-lhes aj uda. ryIa is importante de tudo, reeo nh e~a 0 problema pelo que ele e: suas dificuldades nao indicam necessariamente que voce Icnha fa lhas g raves. Para superar os problemas que todos os iniciantes enfrentam. faca exatamente 0 que esrn fazendo, 0 que todo pesquisador bem-sucedido sempre fez: va em frente.
  • 24. Sugestoes uteis: UsIa de verijica,ao para ajuda-Io a compreender seus leilores ". Embora voce deva pensar em seus leitores desde 0 come­~ o . nao espere poder responder a lodas as perguntas scguintes ' ate estar proximo do fim de sua pesquisa. Porlnolo, plancje re­tomar a esta lista de verifica930 algumas vezes, cada vez apri­morando mais 0 pape! que ira criar pam seus leitores. Como e sua comunidade de leitorcs? 1 - Seus leitores sao: • Profissionais da area de sua pesqui sa? • Leitores comuns que tern: - niveis d iferentes de conhecimento e interesse? - niveis semelhantes de conhecimento e interesse? 2 - Para cada grupo uniforme de leitores, repita a anali­se que se segue. o que seus Icitorcs espcram que voce fa~a por elcs? 1 - Que os divirta? 2 - Que os ajude a resolver algum problema real? 3 - Que os ajude a compreendcr melhor algum assunto? Quanto sabem seus leilorcs? 1 - Nivel de conhecimento geral (comparado ao scu): muito menor menor 0 mesmo maior muito maior 2 - Conhecimento do assunto em quest300 (comparado ao seu): muito mellor menor 0 mesmo maior muito maior 3 - Que interesse especial cles tern pelo assunto? 4 - Que aspectos do assunto esperam que voce discuta? r PESQUISA. PESQUlSAOORES E LErTORES 33 Eles ja compreendcram seu problema/sua questao? 1 - Seus leitores reconheccm 0 problema que seu traba­lho propoe? 2 - E 0 tipo de problema que eles tern, mas que ainda nao reconheccram? 3 - 0 problema nao e deies, mas seu? 4 - Levarao 0 problema a serio imediatamente, au voce pre­cis3ra persuadi-los de que e importante? 5 - 0 problema da pesquisa e motivado por uma dificul­dade tangivel c real, au por uma dificuldade intelec­tual, conccitual? Como clcs rcagicio a sua solu~ao/rcsposta'! - 0 que voce espera que seus lcito res Ja(:am como re­sultado da leitura de seu relat6rio? Que aceitem as no­vas informa90es, mudem certas opinioes, pratiquem a lguma 3930? 2 r A solu930 ira contradizer as opinioes deles? Como? 3 - Os Icitores ja tern alguns argumentos padronizados contra sua solu93oo? 4 - A solU930 sera apresentada isoladamente, ou os leito­res vao qucrer conheccr as etapas que leva ram a cia? Como seu relat6rio sera recebido? I - Sells lei tares pediram seu relat6rio? Voce 0 enviara sem que seja solicitado? Eles 0 encontrarao numa pu­blica9ao? 2 - Antes de atingir seus leitorcs principa is, seu relat6rio precisara scr aprovado por um intermediario - seu su­pervisor, 0 editor de uma publica9uo, um assistenle de diretor au ad ministrador, lim tccnico especiali sta? 3 - Os leilorcs esperam que scu relal6rio obede9a a urn formalo padr3oo? Se for 0 case, qual?
  • 25. T PARTE II Fazendo perguntas, encontrando respostas Prologo: Planejando seu projeto SE vocl: JA LEU E5TE LIVRO UMA VEZ, cnHio esta pronto para iniciar seu projeto. Mas, antes de ir it biblioteca, faJ;a urn pla­nejamento cuidadoso. Se 0 trabalho que seu professor lhc indi­cou define uma pergunta e especifica cada etapa do projeto, leia por alto os pr6ximos dois capitulos nova mente, siga as ins­trm; 5es de seu trabalho, entao retorne it Parte III antes de come­' Var a redigir 0 rascunho. Se, por outro lado, voce precisa pla­nejar sua propria pesquisa, ate mesmo encontrar urn assunto, podera sentir-se intimidado. Mas eonseguira desincumbir-se da tarefa, se executa-Ia passo a passo. Nao existe uma formula pronta para orientar todas as pes­quisas: voce tera de gastar algum tempo pesquisando c lcndo, ate descobrir onde esta e para oode vai. Perdera tempo em si­tua~ 5cs sem saida, mas acabani aprcndendo mais do que sell trabalho cxigc. No final, pon!m, 0 esfon;o extra ira compensar, nao apenas porque voce fara urn born relatorio, mas tam bern porque vent aumentada sua capacidade de lidar mais cficazmen­te com problemas novos. Quando come'Var, leve em conta que lera de considerar as seguintes ctapas iniciai s: Estabelec;:a urn t6pico bastante especi fico para permitir-lhe dominar uma quantidade razoavel de informac;:oes, nao "a historia da redac;:ao cientifica", mas "os ensaios das A las da Real Sociedade ( 1800- 1900), precursores dos modernos arti­gos cientificos".
  • 26. A ARTE DA P£SQUIS.A A part ir do assunlo escolhido, desenvolva perguntllS que iraQ Dortear sua pesqui sa e orientar voce para urn problema que pretenda resolver. • Reuna dlldos relevantes para responder as pcrguntas. Depois de coletar os dados que respondam ~ maioria de suas perguntas, voce tera, e claro, de organiza-Ios em forma de urn argumento (0 Icma da Parte III) c rcdigi -Ios num ras­cunho (0 lema da Parte IV). A medida que for colctando, ordenando e reunindo suas in form a~oes , escreva a maximo que puder. Grande parte desse trabalho de reda((ao sera fazer simples anota((oes, apenas para registrar 0 que voce encontrou, sem esquecer as "anota((oes pa­ra compreensno". Faya descriyoes em liohas gerai s, di agramas mostrando como ha relayao entre fatos aparentemente discre­pantes, resumos de fontes de informac;:oes, "posic;:5cs" e "esco­la s", li slas de easos re lac ionados, anole as contradi coes em re­lac;: no ao que voce Jeu, e assim por diante. Ainda que apenas uma pequena parte dessas anota~oes preliminares venha a aparecer em seu rascunho fi nal, e importante faze-Jas, porque escrever sobre suas fontes, a medi-da que lIvon9Q, ajudani vo­ce a cntcnde-Jas melhor e estimulara 0 desenvolvi­mento de seu senso criti­co. Tomar ootas lambem o aj udara, quando chcgar 0 momento de sentar-se pa­ra c ome~a r seu primeiro rascunho. Voce logo descobrici que nao pode cumprir cs­sas ctapas na ordcm exata em que as aprese ntamos. Percebeni que csta esbo­cando urn sumario antes de ter coletado todos os da­dos, formulaodo urn argu­mento antes de ler todas Quais sao seU5 dodos? Noo imporlO 0 que 6reQ peflen­~ om, todos os pesquisodores usom in fOf~6es como evidencias pa­ra suslentor suas ofirma<;:6es . Mos, dependendo de suo 6reo de 0100' ~60. eles alribuem nomes difereo· res as evidencias. Umo vez que 0 nome mbis comum e dodos, ado­Icremos esse termo quando nos referirmos a quolquer ripo de infor· mot;6o usodo nos d iversas 6reos. O bserve que por dodos eslaremos nos relerindo a mais do que 0 in­for rno<;6es quontiloti.oUs, comuns nas cit§ncias nolurois e sociois, emoo­ra 0 termo passe soar eSlranho aos ouvidos de pesquisadores do 6reo de ciencias humonos. r I I FAZENOO PERGUNrAS, ENCONTR.ANDO RESPOSTAS 37 as provas, e, quando pcnsar que tern urn argumento que vale a pena, podera descobrir que precisa voltar it biblioteca em busca de mais provas. Talvez chegue mcsmo a descobrir que precisa repensar as perguntas que formuJou. Pcsquisar nao e urn pro­cesso no quaJ pode-se ir de urn ponto a outro de modo sim­ples, lincar. No cntanto, por mais indireto que seja seu progresso, voce se sentira mais conf iante de que esta progredindo de fato, se entcoder e administrar os componentes do processo.
  • 27. Sugestoes uteis: Trobalhondo em grupo Sugerimos que voce p~a a seus amigos que Iciam ver­soes de sell relatorio, de modo a poder ve-Io como os outros o vecm. Mas tambcm pode acontecer de Ihe pcdircm para redi­gir urn relat6rio como parte de urn trabalho em grupe. Nesse case, voce Icra pel a frente tanto oportunidades quanto desa­fio s: um grupe dispoe de mais recursos do que alguem traba­Ihando sozinho. mas, para tirar proveito dessa vantagem, pre­eisa conduzir-se com muito cuidade. Tres aspectos fund amentais do trabalho em grupo Conversar bastante o primciro aspecto fundamental dos trabalhos em g rupa e que os participantes devem conversar bastante e chegar a urn consenso sebre urn plano de trabalho. Mais aioda do que no casa de urn autor isolado, 0 grupo precisa de urn plano, e con­versar a respeito e 0 unico modo de cri a-Io. acompanhar seu progresso e. 0 que e rnais importante. muda-Io quando 0 proje­to est iver rnais definido. Marquem reunioes regulares, mante­nham contatos telewnicos semanai s, tToquem ende~os, e-mail, fac;am tudo 0 que pudcrem para garantir que uns conversem com os oulros sempre que houver oportunidade. Antes de comec;a r, certifiquem-se de que 0 grupo esteja de acordo quanta as melas - a pergunta au problema de que ira tralar, a tipo de afirmac;ao que espera apresentar, a tipo de evi­dencias nccessarias para sustenta-la. 0 grupo modificara cssas mclas a medida que as participantes camprcenderem melhor o projeto, mas de5de 0 inicio deve haver urn entendimento sobre FAZENOO PERGUNTAS, ENCOtvrRANDO RES{~AS 39 isso. 0 grupo deve falar sobre os leitores - 0 que eles sabem. o que acham importante, 0 que voces esperam que eles fac;am com seu relatario. Finalmente, 0 grupo deve delinear as etapas para atingir as metas, estabclecendo 0 que cada urn deve fazer e quando. Para focalizar as discussoes nas etapas do projeto, usem estes capitulos como guia. Utilizem as listas de verificac;iio para trocar idcias sobre os leitores (pp. 32-3), para fazer per­gunlas sistematicamente (pp. 50-4), reforrnula-Ias em forma de urn problema (pp. 68-77). Designem alguern para manter urn esboc;o que eSleja sempre atualizado, primeiro como esbo­c; o do tapico (p. 199), depois como esboc;o da argurnentac;ao (p. 140) e finalmente de seus pontos essenciais (pp. 200-201). Se 0 projelo envolver muitos dados, estabelcc;am uma lista para reuni-Ios, mantenham urna rc lavao de fontes consultadas e ainda a serern consultadas, com anotac;:oes breves sobre a imporHineia de cada fonte. Quanto mais os integrantes do grupo conversarem, mais facil idadc terao para escrcver juntos. Se, como e 0 caso dos tres autores deste livro, os integrantes tiverem a mesrna formaC;ao acadcmica, ja trabalharam juntos e sao capazes de prever as opinioes uns dos outros, poderao conversar menos. Mcsmo assirn, na redac;ao deste livro. nos tres batemos recordes de te­lefonemas, trocamos centenas de mcnsagens de e-mail enos reunimos urna duzia de vezes (em certas ocasioes, dirigindo mais de cern quil6metros para fazer i5S0). Concordar para discordar e depois para cOflcordar Estar de acordo c esscncial, mas nao espcrem que 0 grupo coneordc unanimemente sobre todos os assuntos. Podem espc­rar divcrgencias sabre detalhes, as vezes bern Ilumerosas. Resol­vidas essas di vergencias, podcrao surgir as mclhores opin ioes do g rupo, porque voces terao de ser explieitos quanto aquila em que acrcditam e por que. Par outro lado, nao ha nada que impe~a mais 0 progresso do que alguem ficar insistindo em sua
  • 28. 40 A AR7E VA PliSQUISA versao, ern incluir sua parcela de dados. Se a primeira regra do trabalho em grupo e conversar bastante, a segunda e manter as divergencias em equilibria. Se 0 desacordo for sabre que~toes que nao representem urn impacto significati.vo sob.re~ cO~Junto do trabalho. e melhor esquecer. Guardern sua mtranS!gencl3 para questoes de principio etico all de acorde fundamental. Organizar~se como equipe. com urn lider o grupo deve pedir a algucm para atuar como moderador, agilizador, coordenador, organizador. Essa fun ~ao recebe nomes difcrentes, mas a maioria dos grupos precisa de algucm para manter 0 cumprimento do cronograma, indagar sabre as pro­gressos, mediar as discussoes e, quando 0 grupa parecer trava­do, decidir qual caminho seguir. Os integrantes do grupo~pod em altcrnar-se nessa fun(fao, ou urna pcssoa s6 pode cxerce-Ia du­rante todo 0 proj eto. 0 resto do grupo sirnplesrnente concor­da qu~ , depois de urn extenso debate, e 0 rnoderadorlagiliza­dor quem torna urna decisao, com a qual todos concordam, antes de seguir em frcnte. Tres estrategias para trabalhar em grupo A seguir, veremos tres maneiras de os gropos organizarem seu trabalho e alguns dos riseos que cada urna delas oferece. A maioria dos grupos eostuma combi~ar as estrategias que se ajustem melhor a sua s itu a~ao em particular. Dividir, delegar e ir a luta Esta estrategia explora 0 fato de que urn grupo tern mais habilidades do que urn individuo. Tudo vai mclhor quando os integrantcs tern experiencias e talentos difercntcs, e 0 grupo divide as tarefas para fazer 0 melhor uso de cada urn. Por cxern- FAZENDO PERGUNrAS, £NCON/RANDO RESPOSTI1S 41 plo, um grupo que trabalhe numa pesquisa sociol6gica pode decidir que duas pessoas sao boas para rcunir dados, oulras duas para analisar esses dados c produzir grMicos, duas mais para redigir 0 rascunho, e que todas participarao da ~d~(fao e revisao do texlo. Esta estrategia dcpendc de cada partlclpante reservar tempo suficiente para seu trabalho, na seqiiencia em que esse liver de ser feito . Se os outros tiverem menos que fazer num determinado momento, podcrao executar OUlros tipos de trabalho, de acordo com as necessidades. o uso menos proveitoso desta cstrategia e dividir 0 docu­mcnto em partes para cada participantc pcsquisar, organizar, fazer 0 rascunho do texto e revisa-lo. Isso so funciona quando as partes de urn relatorio sao rclativamcntc independentes. Mas. mesmo assim, alguem ten't de cuidar de reunir tadas as partes, e isso podeni ser urn trabalho desagradavel, especialmente se os participantcs do grupo nao eonsultaram uns aos outros ao longo do caminho. Nao importa como 0 grupo divida 0 trabalho: urna gran­de eapacidade de administrarvao torna-se n eces~a.ria , porque 0 ma ior perigo e a falta de coordenac;ao. Caso dlvldam as tare­fas ou partes, os participantes devem scmpre conversar sobre a que estao fazendo e dc ixar perfeitamcnte claro quem tern a obrigacao de fazer 0 que. Entao, coloquem essas detcnnina­rvoes no papel e entreguem uma copia a cada urn. Escrever [ado a lado Em alguns grupos, os integrantes participam de todo a trabalho, atuando lado a lado durante todo 0 proccsso. Esta estrategia func iona melhor quando 0 grupo c pequeno, bastan­te unido, trabalha bern em conj unto e dcdica bastante tempo a. larefa - par exemplo, urn grupo de estudantes de enge nharia que dediearn dois semestres ao dcsenvo lvimento de urn proje­to. A desvantagem e que algumas pessoas fieam pouco a von­tade para fa lar sobre idcias incomplctas antes de defini-las par cscrito. Outras podem achar ainda mais incomodo eomparti-
  • 29. 42 II AR1'E DII PE$QUISA Ihar rascunhos e textos nao revisados. Os participantes de urn grupo que usa esta estrategia devem seT tolerantes uos com os Qutros. 0 que costuma acontecer e que a pessoa mais confian­Ie do grupo ignora os scntimcntos dos autros, domina 0 pro-cesso e inibe 0 progresso. ~ " Trabalhar em turnos Em alguns grupos, os participantes trabalham em conjun­to durante todo 0 dcsenvolvimento do projeto, mas redigcm 0 texto e 0 revisam em turnas, de modo a faze-Io evoluir para a versao final como urn todo. Essa estrategia e cfieaz quando os participantes divergem sobre 0 que e importante, mas suas di­vergencias complementam-se em vez de se eontradizerem. Por exemplo, num ,.grupo envolvido num trabalha sobre 0 .Alamo, uma pessoa pode se interessar pelo choque de cultu­ras, outra pelas conseqiiencias politicas e urna terceira pelo papel da narrativa na cultura popular. Os participantcs podem trabalhar a partir das mesmas fontes, mas identifiear aspectos diferentes do assunto como os mais importantcs. Entretanto, depois de compartilharem 0 que descobriram, revezam-se na reda~1io das vcrsoes de urn texto Unico. D primeiro redator cria urn rascunho incompleto, mas com estrutura suficiente para que os oulros vejam 0 es bo~o da argurncllto e 0 ampliem e reor­ganizem. Cada participante, entao, em sistema de revezamen­to, encarrega-sc do rascunho, acrcscentando e desenvolvendo as ideias que Ihe pa re~a rn mais importantes. 0 grupo cOllcor­da que a pessoa que esteja trabalhand9 no texto no momento seja seu "dono", podendo, portanto, fazer as mudan(,;as que achar Ilccessarias, desde que essas mudan ~as refli tam a inter­preta(,; ao do grupo como urn todo. D risco c que 0 produto final pareceni atender a proposi­tos contradit6rios, seguindo urn caminho em ziguczague, indo de urn interesse incompativel pard outro. Urn grupo que lraba­lha pelo sistema de turnos precisa estar de acorda sobre a meta final e a forma do todo, e cada integrante devc respeitar e acci­tar as perspectivas dos outros. FAZENDO PERGUNTAS, ENCONTRANDO R£SPOS TAS 43 Pode seT que seu grupe ache que pode usar urna estratc­gia difercnte em cada fase do trabalho. Por cxemplo. no inicio do plancjamento, ta lvez voces quc iram trabalhar lado a lado, pelo menos ate definirem 0 scntido geral do problema. Para a coleta de dados, voces podedio achar mais eficaz iTem a luta separadamente. E, nas fases finais da revisao, podcriio qucrcr trabalhar em turnas. Ao escrever este Iivro, misturamos as es­trategias. No inicio, trabalhamos lade a lado ate termos urn esbo­~ o. Desenvolvemos entao capilu los separados e voltamos a tra­balhar lado a lado, quando nosso progresso ex igiu, e sentimos que precisavamos revisar nosso plano (0 que aconteccu tres vezes, pelo menos). Na maior parte, entretanto, dividimos 0 trabalho, para que cada urn redigissc capltulos independentes. Quando 0 texto fi cou completo, trabalhamos em turnos, e 0 resultado foi que muitos capitulos assemelham-se bern pouco aos originais rcdigidos por urn ou outro de nos . o traba lho em grupo e dificil, e as vezes duro para 0 ego, mas tambem pode ser altamente compcnsador.
  • 30. Capitulo 3 De topicos a perguntas Neste capitulo, voce veri como usar seus interesses para encontrar um t6pico, restringir esse t6pico a uma dirnensao controlAvel e, entio, elaborar pergunw que serio 0 ponto cen­tral de sua pesquisa. Se voce t urn estudanle avam;ado e ja tern dezcnas de t6picos aos quais goslaria de se dedicar, pode pular para 0 Capitulo 4. No entanto, se esta come'Vando seu prirnciro projclO, acharn cste capitulo bastante uliL 3_1 Interesses, topicos, pcrguntas e problemas SE voc~ TEM LIBERDADE para se dedicar a qualquer t6pi­co de pesquisa que a interesse, isso podera ser frustrante - tan­tas cseoLhas, tao poueo tempo. Eseolher urn topico, entretanto, e 56 0 primeiro passe; portanto nao pense que, tcndo eneontra­do urn, voce s6 precisani proeurar informa'Yoes e relatar 0 que enco~trou . Alem de urn t6pico, voce precisa encontrar urna ra­tio (independente daqucla de cumprir sua tarefa) para dedicar semanas ou meses pesquisando sabre ele e, cntao, pedir aos leitores que gastem tcmpo JeDdo a respeito deie. Pesqui sadores fazem mais do que cavar informa~oes e re­lata- ias. Usam essas informafoes para responder a pergunta que seu topico inspirou-os alazer. No principio, a pergunta pode ser interessante apenas para 0 pesquisador: Abraao Lincoln era born em matematica? Por que os gatos csfregam 0 focinho nas pcssoas? Existe mesmo algo como urn tom de voz perfeito ina­to? E assim que as pesquisas mais significativas come~am - com uma comichao intelectual que apenas uma pessoa sente, levando-a a querer co~ar-se. A uma certa altura, porem, 0 pes­quisador tcm de decidir se a pergunta c sua resposta serao sig­nificativas, de inicio para 0 pesquisador apenas, mas finalrnen­te para outros: urn professor, colegas, urna cornunidade intei­ra de pesquisadores. Chegando a esse ponto, cle precisa encarar sua tarefa de ma­neira difercnte: deve ter como objetivo nao s6 encontrar res-