O artigo discute a situação da empresa de confecções Infinitum em Oliveira do Hospital, que emprega 93 trabalhadores. As trabalhadoras continuam trabalhando normalmente, apesar das dificuldades financeiras da empresa. O presidente da Câmara Municipal prometeu apoiar a empresa e os funcionários para tentar resolver a situação. O artigo também entrevista o empresário Carlos Andrade sobre os desafios atuais da indústria de confecções em Portugal.
1. Quarta-feira, 15 de Março de 2006
QUINZENÁRIO
Ano 1 - Série II - N.º 1
Director: Henrique Barreto
Preço: € 0,50
TO P
LOJAS DE MODA
Rua do Colégio, 5C - Tel. 238 604 618
3400-105 OLIVEIRA DO HOSPITAL
L.1: TOP SPORT Moda Jovem
R. do Colégio, 2D, L. 8/11
www.correiodabeiraserra.com L. 2: TOP Pronto a Vestir Moda Internacional
R. do Colégio, 5C
L. 3: TOP 3 Desporto
Av. Sá Carneiro, 1C
“Eu faço
projectos...
Aqui jaz a dinâmica
sou técnico!” do concelho
Fortemente criticado na Assembleia
Municipal a propósito da Variante Nor-
deste – uma obra que arrancou em
período eleitoral mas que parou logo
a seguir –, o presidente da Câmara de
Oliveira do Hospital, Mário Aves, de-
fendeu-se com um argumento que sus-
citou alguns risos: “Eu quero dizer que
não faço projectos. PÁG. 11
projectos... não
José Carlos Mendes, que no próximo
dia 25 de Março disputa a presidência
do PSD com Paulo Rocha, diz ter
“indícios” de que o actual presidente
do partido, Mário Alves, está a
interferir no processo eleitoral. O
antigo vice-presidente da autarquia
oliveirense lança algumas farpas ao
Vent loreet praestrud ming esent nosto
tb. sou técnico et ut aliquis dio dit irilluptat lutatie
diat alit niat, sequis nostrud enis aut
nonsequam zzrillaor si.
Met incilit volorti onumsandiam,
volor sum ercil do od molobor sit
nonsequatum quat nullandipit aute
magna alit estin ulla faciduipis aute
magna consed modit ad er si bla
faccum vullums andreetum dipsum
augiamet iriurem esequi tatisl dolorem
volessi blandreet, quatet velit inisim dit
lumsandreet lore mod estin euipisciduis
Mário Aves, defendeu-se com um ar- at landip eum nonsequat, commodipis
dipit alit volobore elismolore mincill
gumento que suscitou alguns risos: andion henibh elesseq uismodo lorper
“Eu quero dizer que não faço projec- am in vel eros del ute commy nosto
dolore euguer sis accum eros doloreet
tos. Nem eu nem nenhum vereador”. dunt ad dolor sum incil dio corerat, vel
PÁG. 11 ipsum do
2. 2 D E S TA Q U E 15 de Março de 2006 Correio da Beira Serra
Carlos Andrade garante que a “médio e longo prazo o sector não é viável”
“Muitas das empresas de confecções
trabalham hoje para sobreviver”
Carlos Andrade diz que a
“AMMA” deixou de ser uma
indústria de confecções para
passar a ser uma alfaiataria
industrializada onde a quali-
dade é a imagem de marca, e
mostra-se preocupado com o
que está acontecer em Olivei-
ra do Hospital porque aquele
tipo de indústria “tem um
peso demasiado excessivo na
economia local”.
Em traços gerais, o Correio
da Beira Serra explica o
segredo do sucesso de um
dos maiores empresários do
sector que, com a apelativa
marca “Carlo Visconti”, já
desbravou um mercado que
Carlos Andrade: “A indústria de confecções tem um peso demasiado excessivo na economia de Oliveira do Hospital”
lhe permite exportar 75 por
cento da produção. “como tudo na vida, é uma questão cí- Com uma importante rede comercial Explicando que este tipo de indús-
clica”. “Já tivemos outras crises que fo- tanto a nível nacional como internacio- tria “tem uma grande incorporação de
HENRIQUE BARRETO ram vencidas e também passámos por nal – a Carlo Visconti tem já três lojas mão-de-obra e quanto mais cara ela for
O
alguns momentos difíceis. Mas como em grandes centros comerciais portu- menos competitivo se torna o produto
Correio da Beira Serra foi a criámos sempre novas estratégias e pro- gueses e abre brevemente uma outra final”, o empresário oliveirense radica-
Arganil entrevistar aquele curámos novos mercados, o trabalho em Londres –, Carlos Andrade que pa- do em Arganil há um quarto de século
que é hoje um dos maiores não nos tem faltado e temos aumenta- rece pouco importado com o “made in argumenta que no futuro “poderá con-
empresários de Portugal na do o número de trabalhadores”, refere China” – “não consideramos os chineses tinuar a haver empresas de confecção,
área da indústria de confecções. Trata-se Carlos Andrade ao passo que explica nossos concorrentes” – é de opinião mas não indústrias de confecção”.
de um oliveirense, filho de alfaiate, que que o segredo do sucesso da empresa que “é nos momentos difíceis que se Quanto ao caso de Oliveira do Hos-
há 26 anos atrás deixou de ser funcio- que comemora este ano 25 anos de exis- deve ter coragem e investir”. pital em concreto – onde este tipo de
nário da antiga “Eurofato” para passar à tência assenta fundamentalmente numa indústria se assume como um dos prin-
condição de empresário. Estávamos em estratégia composta por três factores “Está em causa um sector que a médio cipais empregadores –, Carlos Andrade
1981, quando Carlos Andrade decidiu indissociáveis: “Eficiência, pontualida- e longo prazo não é viável” entende que se “deveria ter diversifica-
montar a AMMA em Arganil, uma em- de e qualidade”. A qualidade é aliás o Mas quando questionado pelo CBS so- do o tecido industrial e nunca colocar
presa que volvidos quatro anos já em- grande apanágio desta empresa – já por bre o particular momento difícil em que os ovos todos no mesmo cesto porque
pregava 200 trabalhadores. O projecto diversas vezes galardoada –, que para vive Oliveira do Hospital e o cenário de a indústria de confecções tem um peso
foi apoiado pela autarquia local e, de além de deter uma das mais conceitua- crise que se adivinha na área das confec- demasiado excessivo na economia lo-
então para cá, a AMMA sofreu profun- das marcas nacionais – a Carlo Visconti ções, o conhecido empresário já é mais cal”.
das alterações e, em 1993, instalou-se – conseguiu internacionalizar-se. céptico e assegura que, a nível nacional, O dono da AMMA, é até de opinião
definitivamente num moderno edifício está em causa um sector que “a médio e que os empresários que trabalham numa
construído para o efeito no Parque In- Uma “alfaiataria” industrializada longo prazo não é viável”. Sublinhando perspectiva de gama média-baixa “de-
dustrial de Arganil. Hoje, com a conhe- Carlos Andrade considera inclusive que que na Europa desenvolvida já não há vem começar a pensar em deslocalizar
cida marca própria “Carlo Visconti”, a actualmente a AMMA “talvez tenha indústria de confecção, Carlos Andrade as empresas para países onde a mão-de-
AMMA emprega 260 pessoas e, só para deixado de ser uma fábrica de confec- sustenta que Portugal, “um país periféri- obra é mais barata”, porque – conforme
Inglaterra – onde já detém uma impor- ções para passar a ser uma alfaiataria co”, “não tem capacidade para competir sublinha – “em Portugal os salários têm
tante franja de mercado –, exporta 75 industrializada”. Trabalhando para um em produtos de gama média-baixa” com que subir e as coisas serão cada vez
por cento da sua produção. segmento de mercado de qualidade mé- outros países da Europa dos Quinze mais difíceis”.
Embora esteja sempre preocupado dia-alta, a AMMA aposta constantemen- com melhor localização e onde a mão- Carlos Andrade diz duvidar de que
com a instabilidade da economia mun- te na inovação tecnológica e até já tem de-obra é muito mais barata. Quanto à actualmente existam muitas empresas
dial e atento às rápidas transformações em carteira muitos clientes com quem China, aquele empresário diz que “esses deste sector “a ganhar dinheiro”. “Acho
que se vão operando no mundo dos transacciona numa perspectiva tipo al- senhores de olhos rasgados, sempre de que muitas das empresas de confecções
negócios, aquele empresário tem con- faiate ao nível da concepção de “fatos máquina fotográfica, andam por todo o trabalham hoje para sobreviver”.
fiança no futuro e acredita que a crise, por medida”. lado e são exímios em imitações”.
3. 15 de Março de 2006 Correio da Beira Serra D E S TA Q U E 3
Trabalhadoras da Infinitum na câmara Editorial
“Precisamos da ajuda Sete notas…
da Câmara Municipal”
HENRIQUE BARRETO
Olá! Este é o novo Correio da Beira Serra e eu sou o Henrique
Barreto quatro anos mais velho. Estou aqui com os mesmos pro-
pósitos com que estive precisamente no dia em que fiz o fecho
daquela que foi a nossa última edição, quando corria o ano de
2002.
Foram 14 anos difíceis! Tivemos êxitos, dificuldades, incom-
preensão, intolerância e, como é óbvio – só não erra quem nada
faz –, também cometemos vários erros. Mas o passado já lá vai
e, como tal, vamos ao futuro:
1. Este novo jornal que hoje relançamos, é um projecto edi-
torial de longo alcance e com um único propósito: defender os
interesses de uma região em detrimento de interesses políticos,
pessoais, económicos ou de qualquer outra índole. O que nos
move é o desenvolvimento sustentável numa perspectiva de
modernidade e como consequência disso a qualidade de vida e
o bem-estar dos cidadãos.
Carlos Andrade: “A indústria de confecções tem um peso demasiado excessivo na economia de Oliveira do Hospital”
O
2. No jornalismo que preconizamos, não vai ser efectivamen-
s 93 trabalhadores que “não é advogado para os ras Mário Alves deixou garan- te possível estar com Deus e o Diabo ao mesmo tempo; nem
da empresa de con- poder orientar da melhor ma- tias de que em conjunto com agradar a gregos e a troianos. Como em tudo na vida há crité-
fecções Infinitum neira”. Tal como foi dito, as o restante executivo tudo irá
continuam a cumprir trabalhadoras “continuam a fazer para apoiar os 93 funcio- rios. O nosso próprio critério é passível – e isso é salutar – de
o seu horário de trabalho e a fa- laborar e têm encomendas que nários da Infinitum. “A Câmara discussão e de crítica. Mas é o nosso critério…
zer camisas. A administração da deveriam ser entregues e não não tem campo de acção para
empresa pediu a insolvência da foram porque antes de pedir intervir nesta área” sublinhou o
fábrica no mês passado e des- a insolvência o administrador edil deixando garantias de que 3. Vamos apostar num jornalismo moderno e o nosso prin-
de então os funcionários nunca enviou uma circular aos clien- irá “tentar falar com o adminis- cipal objectivo editorial é a concepção de um jornal que saiba
mais viram o seu patrão. “Des- tes a avisar que não iria enviar trador judicial, com o centro de
de que foi pedida a insolvência a mercadoria. Isso foi um erro. emprego e com o governador interpretar, com visão crítica e actual, o mundo que o rodeia.
nunca mais vimos o nosso pa- Agora as encomendas estão civil”, mas adiantou que “não Sabemos dos condicionalismos, do obstáculo que constituem
trão. Continuamos a trabalhar prontas e os clientes não as falou nem vai falar com o sindi-
porque o administrador judicial querem”. Neste momento a cato” porque este último “tem as mentalidades que o Estado Novo nos legou, e até compreen-
deu ordens para cortar camisas” preocupação é saber “quem é gerado instabilidade” e na sua demos aqueles que receiam a notícia incómoda. Mas, como afir-
disse ao Correio da Beira Serra que paga o ordenado” porque opinião “os sindicatos devem mou Eduardo Girão, “a verdade nunca é injusta; pode magoar,
uma das trabalhadoras que se – como foi referido – “não há criar estabilidade e não o con-
deslocou à Câmara Municipal ordenado nem subsídio de de- trário”. Mário Alves mostrou-se mas não deixa ferida”.
para pedir ajuda ao executivo. semprego porque não houve disponível para falar com os
O facto de continuarem a tra- despedimentos”. A Assembleia trabalhadores e empresários
balhar não desagrada os funcio- de Credores realiza-se a 19 de porque – como afirmou – “a 4. A nossa perspectiva, como diria Séneca, centra-se no senti-
nários, mas querem saber quem Abril mas, para as trabalhado- Câmara está preocupada e soli- do de que é preferível incomodar com a verdade do que agradar
é que lhes paga o ordenado e ras “é muito difícil continuar dária já que esta situação gera com a adulação. Infelizmente, sabemos que essa postura nunca
qual será o seu futuro. Todos a cumprir horário até esse dia instabilidade também ao nível
aguardam impacientemente porque não se sabe o que vai social e familiar porque é difícil suscita aplausos por parte do poder. Qualquer que ele seja. Pe-
pela realização da Assembleia acontecer depois”. ter contas para pagar e ter que dimos desculpa, mas a nossa razão de ser é o leitor.
de Credores agendada para 19 As trabalhadoras não que- recorrer a outras pessoas”.
de Abril, mas até lá – como refe- rem ser despedidas porque
riram as trabalhadoras – estão a segundo dizem “gostam muito Reconversão profissional po- 5. Dentro destes princípios e na alvorada de uma Primave-
ser “afectadas psicologicamen- de trabalhar” mas também que- derá ser solução? ra, que não se adivinha nada fácil para dezenas e dezenas de
te”. Há dez anos a laborarem na rem a sua situação resolvida. O Equacionado o desemprego
empresa sentem-se “magoadas acesso ao subsídio de desem- dos 93 trabalhadores da In- famílias que repentinamente perderam os seus empregos na in-
e enganadas” e afirmam: “o nos- prego é também uma preten- finitum José Francisco Rolo, dústria de confecções, o Correio da Beira Serra reaparece, hoje,
so patrão prejudicou-nos muito, são, mas tal só será possível vereador do PS questionou as com duas linhas de edição: uma impressa e outra “online” em
neste momento não temos ga- depois de se conhecer a deci- trabalhadoras presentes na
rantias de pagamento”. são resultante da Assembleia reunião se não gostariam de www.correiodabeiraserra.com..
As trabalhadoras foram ouvi- de Credores, porque o subsídio fazer formação noutras áreas A nossa edição online, que para além de conter a versão im-
das pelo executivo oliveirense, de desemprego implica que os para reconversão profissional.
na reunião de Câmara que de- funcionários sejam despedidos De acordo com aquele elemen- pressa também disponibiliza conteúdos informativos com ac-
correu na manhã de 07 de Mar- da empresa. Nesta matéria, to do executivo “a Câmara deve tualização constante, pretende colocar este projecto na aldeia
ço, que se mostrou interessado Maria José Freixinho, vereado- contribuir para solucionar o global da informação.
em conhecer a real situação das ra do PS e advogada, explicou problema” e por isso pergun-
trabalhadoras e disposto a aju- às trabalhadoras que “a outra tou: “têm vontade de criar o
dar. De facto, o presidente da forma de acederem ao subsídio vosso próprio emprego com 6. Mas este projecto, que representa uma importante con-
Câmara tinha uma boa notícia de desemprego passa por uma recurso a incentivos?” A ideia
para aquelas trabalhadoras: no desvinculação da empresa. Por- agradou às trabalhadoras pre- quista para Oliveira do Hospital no panorama da informação,
dia anterior teve indicações de que passados 60 dias da última sentes, no entanto, Mário Alves não é um projecto individualizado. É antes um projecto abran-
que um empresário pode es- remuneração, as trabalhadoras insurgiu-se no sentido de ex- gente e pluralista onde cabem todos os cidadãos que entendam
tar interessado na empresa ou adquirem o direito de se des- plicar que “os incentivos para
em criar uma nova. “Nada está vincularem da empresa apre- a criação do próprio emprego chegada a altura de também assumirem as suas responsabilida-
confirmado, espero que esta sentando uma carta à admi- retiram a hipótese de receber des. Bem sei que por vezes o silêncio é ouro! Mas, outras vezes
indicação tenha futuro, mas va- nistração nesse sentido. Cinco o subsídio de desemprego”. esse silêncio é verdadeiramente ensurdecedor!
mos aguardar”, salientou Mário dias depois é dever do adminis- Porém acrescentou que “a pior
Alves. trador tratar da documentação coisa que o ser humano pode
Em frente ao executivo de para que tenham acesso aos ter é a resignação”. Na opinião 7. Como nota final, é importante formular aqui um especial
maioria PSD as trabalhadoras direitos do IEFP”. Mas – como do edil “neste momento a prio-
pediram ajuda para a resolução salvaguardou Maria José Freixi- ridade deverá ser a procura de agradecimento a António dos Santos Lopes, um empresário que
desta situação de desempre- nho – “este processo desvincula novo emprego, porque se se não só proporcionou o reaparecimento deste jornal como tam-
go iminente, já que “ninguém as senhoras da empresa e, não está à espera da Assembleia bém subscreveu o projecto editorial nos moldes em que o aca-
lhes diz nada”. “O nosso patrão é isso que se pretende porque de Credores e do subsídio de
desapareceu e nós não mere- querem continuar a trabalhar”. desemprego é um mau prenún- bei de anunciar, manifestando desde logo – como não poderia
cíamos que nos fizesse isto”, cio” mas, o autarca não coloca deixar de ser – o respeito pelo cumprimento integral do Código
sustentou uma trabalhadora. “A Câmara não tem campo de de parte a possibilidade de se
Mário Alves reconhece que “o acção para intervir nesta área” avançar com a realização de Deontológico dos Jornalistas, que fazemos questão de publicar
empresário devia dialogar com Receptivo ao pedido de ajuda cursos de formação. na página 23 deste jornal.
os funcionários” mas admite apresentado pelas trabalhado- Liliana Lopes
4. 4 OPINIÃO Correio da Beira Serra 15 de Março de 2006
OPINIÃO Para quem goste de
ANTÓNIO C AMPOS reflectir sobre o mundo
H
á uma grande revolução no e nada tem a ver com a indústria. rem nas profissões que franceses, ale- não entendem o que se está a passar e
mundo, mas é muito difícil à Todos nos recordamos, os que são mães e luxemburgueses recusavam. mais preocupante é a incapacidade dos
grande maioria dos cidadãos da minha idade, do vizinho concelho Hoje a China, India, Pakistão, Tailân- Governos locais e nacionais de não serem
compreenderem o que se de Seia, com a Vodratex, a Fisel, a E.D.P. dia, etc, são países com mão-de-obra agentes mobilizadores no acompanha-
passa e as consequências que traz para com milhares e milhares de trabalhado- inesgotável e altamente desqualificada. mento das transformações da sociedade.
as suas vidas. res. Nestes Países o salário ronda os 30 Hoje vivemos numa aldeia global que
A reflexão do que nos rodeia não faz Todas encerraram e o Concelho foi euros mensais dispondo eles das mes- tem a dimensão do Mundo.
parte das preocupações dos cidadãos, capaz de se modernizar e de dar um sal- mas máquinas e da mesma capacidade Só uma regulamentação da aldeia
mas hoje, tudo o que acontece em qual- to em frente. de gestão do que nós. global permitiria impor regras com di-
quer parte do globo tem incidência na Há outros Países com mão-de-obra Hoje as distâncias e o conhecimento reitos e deveres iguais para todos.
nossa vida. desqualificada que instalam indústrias dos mercados não contam. Assim impõe-se sempre a regra do
O emprego, a saúde, a tecnologia, o de trabalho intensivo Mas é bom tomar mais forte a explorar o mais fraco.
conhecimento científico, o trabalho, a e repetitivo ligadas a nota para quem qui- Para qualquer pessoa informada da
educação são preocupações de todos os baixíssimos salários e (…) Para qualquer ser reflectir sob o evolução do mundo há muito se sabia
Povos, sejam pobres ou ricos. que hoje estão a ocu- Mundo e prever as que o Concelho de Oliveira do Hospital
O que hoje distingue os Países desen- par todo o mercado pessoa informada da consequências que era considerado de alto risco, porque a
volvidos não é a existência de petróleo, Mundial. evolução do mundo nos esperam, referir sua principal fonte de emprego depen-
de diamantes ou de qualquer outra ri- As confecções, os por exemplo que só dia de uma indústria baseada na mão-
queza natural. É o seu domínio da tec- têxteis, o calçado, a há muito se sabia numa pequena cida- de-obra intensiva.
nologia e do conhecimento científico. montagem de auto- que o Concelho de de a 100Km de Pe- Toda a estratégia deveria ter sido
Para se ter uma noção da revolução móveis etc, são as quim com 2 milhões orientada no sentido de primeiro a es-
que vivemos basta pensarmos que 90 indústrias em largo Oliveira do Hospital de habitantes, estão cola, depois o desenvolvimento.
por cento dos cientistas que alguma vez fomento nos Países era considerado de instaladas 22 univer- As escolas criaram-se, as infra-estru-
existiram sobre a terra ainda hoje estão em vias de desenvol- sidades com 200.000 turas básicas para o desenvolvimento
vivos. vimento. alto risco, porque a estudantes, todos nas ficaram no caixote do lixo.
Esta revolução baseia-se na inovação Portugal saiu, já,
tecnológica e científica que é o grande dessa situação.
sua principal fonte de áreas das engenharias
e das ciências, sendo
Deveria há muito ter sido dinami-
zado o pólo industrial com benefícios
motor de crescimento dos Países desen- Para se ter a no- emprego dependia de obrigatório o domí- efectivos para os investidores numa di-
volvidos. ção exacta do Mundo
O conhecimento e a evolução tecno- basta referir que dos uma indústria baseada nio perfeito da língua
inglesa e japonesa.
versificação da actividade económica no
Concelho.
lógica na maioria dos casos substitui o cerca de 200 Países na mão-de-obra Na China ou na Ín- Esta teria sido a principal e mais be-
trabalho. existentes, Portugal dia, que representam néfica política da Câmara ao serviço dos
Basta referir, por exemplo, que nos está em 27º lugar na intensiva (…) um terço da popula- cidadãos do Concelho.
anos cinquenta do século passado mais escala do desenvolvi- ção Mundial, encon- Acredito que o alcatrão, a lâmpada ou
de 40% dos europeus trabalhavam na mento. tram-se, já hoje, os a transformação da área mais importan-
agricultura, hoje trabalham 6% e produ- Não é por acaso que pela primeira maiores e melhores centros tecnológi- te da cidade num Portugal dos Peque-
zem mais 800%. vez na nossa história somos receptores cos e as maiores redes de investigação. ninos, encurtando ruas, possa agradar
O mesmo acontece na indústria, onde de centenas de milhares de emigrantes Nos últimos dez anos a China recu- às pessoas, mas com esta estratégia o
nos anos oitenta trabalhavam 40%, hoje que estão na maioria dos casos a fazer perou da miséria absoluta mais de 200 Concelho definhará.
já só são 27% e produzem mais 400%. trabalhos que os portugueses recusam. milhões de pessoas, transformando-as Há os que não compreendem o Mun-
O caso talvez mais emblemático para Vivemos uma época inversa à dos em consumidores ao nível do Mundo do mas fazem como a avestruz, outros
quem goste de reflectir sobre o Mundo anos 60 do século passado quando os Ocidental. iludem a realidade e outros na sua igno-
é o dos Estados Unidos onde mais de Portugueses invadiram a França, a Ale- Com esta Revolução em marcha com- rância pensam que o imobilizam.
80% da população trabalha nos serviços manha e o Luxemburgo para trabalha- preende-se a angústia das pessoas que Enganam-se.
Pese embora tudo aquilo que foi es-
OPINIÃO
Política crito pelo Henrique, e que algumas ve-
zes me parece ter sido injusto, sempre
tive a ideia que o Henrique Barreto não
e “fair-play”
era um inimigo mas, somente, um ad-
versário que, em determinada altura,
C ARLOS PORTUGAL * considerou que eu era um exemplo per-
H
feito de “fair-play”.
á uns tempos atrás fui sur- Para o Henrique “tudo ia mal em Oli- a tolerância e mesmo a amizade com Continuo a ser um desportista que se
preendido por um telefo- veira, muito pouco se fazia, ou ia de mal os meus adversários o que, por vezes, orgulha de saber ganhar, muitas vezes, e
nema do Henrique Barreto a pior”, etc, etc. deixava alguns dos meus pares com os perder, algumas outras.
que, após uma breve expli- Que eu me recorde, mesmo quando “cabelos em pé”! Em qualquer circunstância jamais dei-
cação sobre um novo projecto, sem mais as “coisas” esta- Como “homem xei de cumprimentar os meus adversá-
delongas me convidou para, em conjun- vam a correr pelo O Henrique Barreto do desporto” sem- rios no final dos encontros, na certeza
to com outras figuras da “comunidade melhor, para o de que vai continuar a “haver vida” para
sempre foi um adversário pre mantive, na
oliveirense”, assumir o compromisso de, jornalista Henri- alta competição, a lá das partidas disputadas.
dentro das minhas possibilidades, cola- que Barreto havia difícil! Mas contribuiu para máxima: “a guerra O Henrique Barreto sempre foi um
borar com um “novo” (ou antigo?) jornal sempre uma nova que as vitórias tivessem ou a paz, tanto me adversário difícil! Mas contribuiu para
a publicar em Oliveira do Hospital! “descoberta” para mais sabor! E “obrigou-me” faz”. que as vitórias tivessem mais sabor! E
Na minha passagem pela presidência a primeira-página Na política, “obrigou-me” a jogar sempre melhor!...
da Câmara Municipal, o jornalista Hen- do jornal…!
a jogar sempre melhor!... porém as coisas Por isso aqui estou para o aperto de
rique Barreto foi, seguramente, o meu Pela minha for- são muito dife- mão final ao Henrique! Conte comigo!
maior adversário e crítico, tomando ma de estar na vida e por uma questão rentes…! Há que saber distinguir com * Ex-Presidente da Câmara Municipal de Oliveira do
para ele “todas as dores” que seria nor- de educação, sempre procurei privile- clareza quem são os adversários e os Hospital e actual Seleccionador Nacional de Basquete-
mal caberem aos partidos da oposição. giar a condescendência, a amabilidade, inimigos. bol Seniores/Femininos
Ficha Técnica Administração: António dos Santos Lopes Direcção Editorial: Henrique Barreto - henriquebarretocbs@sapo.pt Jornalista Principal: Liliana Lopes - lilianalopescbs@sapo.pt Colaboradores Permanentes:
Adelaide Freixinho, Agnelo Vieira, António Campos, Carlos Portugal, João Dinis, José Augusto Tavares, Luís Torgal, Pedro Campos, Rui Santos. Deptº. Comercial: Isabel Mascarenhas Projecto Gráfico: Jorge Lemos
Impressão: CIC – Coraze Sede, Redacção e Publicidade: Praceta Manuel Cid Teles, Lote 12 – 1º Esqº - 3400-075 Oliveira do Hospital, Telef.-Geral: 238086546 Correio Electrónico: correiodabeiraserra@sapo.pt Edição
Internet: www.correiodabeiraserra.com Entidade Proprietária: Temactual, Lda, Matric. na Conservatória do Registo Comercial de Oliveira do Hospital sob o número 507601750, Contribuinte: 507601750, Capital Social:
www.correiodabeiraserra.com
25,000 Euros Nº de Registo no ICS: 112130Tiragem Média Mensal: 6.000 exemplares Detentores de mais de 10% do capital da empresa: António dos Santos Lopes; Henrique Manuel Barreto Pereira de Almeida
5. 15 de Março de 2006 Correio da Beira Serra EDUCAÇÃO 5
Oliveira do Hospital poderá perder quase APENAS UM
50 % das Escolas do 1º CEB
SONHO
Encerramento anunciado VIL AÇA
Acordei na confusão de um sonho
Encerram as fá- onde as personagens eram díspares
entre si: havia soldados romanos tra-
bricas, encerram jados de capa e batina, estudantes
as Escolas e encer- disfarçados de camponeses, os políti-
cos eram querubins e o povo anóni-
ram os serviços mo, com a máscara de sempre, dan-
çava embriagado pelo som da banda
públicos. São os filarmónica – os músicos, não mais de
sinais do tempo uma vintena, vestiam com o rigor de
um traje marcial.
num concelho do Eu era mero espectador num espa-
ço de todo desconhecido, mas tinha a
interior que come- consciência de “estar em casa”e apres-
çou a ser vítima tava-me para entrar no baile com uma
moçoila que, desde o início do sonho,
da desertificação me fazia negaças com o olhar.
– A menina dança? – perguntei gentil,
mas que agora mas com o frenesi próprio da ocasião.
Entretanto, despertei!
também sofre com A cena passava-se em Ulveira do Espi-
a globalização… tal ou na cidade que agora se conhece?
Esta Escola – em Fiais da Beira – não abrirá no próximo ano lectivo A que propósito surgia um sonho
alegre, contagiante ?
Os sonhos têm explicação lógica ou
HENRIQUE BARRETO ção que vem “corroendo” o interior do de 20 alunos, tendo por base critérios enquadramento real?
N
país, nem sempre agrada às populações uniformizadores, economicistas e redu-
- Ah… o Carnaval, raciocinei – e tudo
a sequência da política do e aos autarcas locais, mas se atentar- tores da qualidade da rede escolar do 1º
ficou mais claro, até os “disfarces”!
Ministério da Educação mos nos casos concretos de Andorinha Ciclo de Ensino Básico”.
Naquela noite tinha privado com três
com vista ao encerramen- e Fiais da Beira, verificamos que aquelas Com uma rede escolar do 1º Ciclo
to de escolas com menos duas escolas, ao nível do 1º ano, já só composta por um elevado número de “bruxinhas”, um Maio disfarçado em
de 20 alunos até ao final da legislatura têm matriculados, respectivamente, um escolas de pequena dimensão cuja “duende” e o acólito Al Bano. Não fora
deste Governo, o concelho de Oliveira e dois alunos. Em Vilela e Chamusca da construção remonta ainda ao período festança de cansar, mas deu para sorrir,
do Hospital deverá perder, já nos pró- Beira o cenário é praticamente igual. do Estado Novo – são as chamadas es- rir e gargalhar durante uma hora bem
ximos anos, cerca de 50 por cento das Um outro factor a ter em conta, no- colas primárias do Plano Centenário –, contada. Tudo se resumiu a brincadeiras
suas escolas do 1º Ciclo de Ensino Bá- meadamente nos casos de Andorinha e Oliveira do Hospital conta hoje com 29 de ocasião. Os bares e cafés encerraram
sico (1º CEB). Fiais, é que estas duas localidades têm estabelecimentos de ensino do 1º CEB. portas às duas da madrugada – ainda a
Para o próximo ano lectivo, por uma Escola Básica Integrada a menos de Mas com a reorganização da rede esco- noite começava a espreguiçar-se – por-
exemplo, o Sindicato dos Professores da dez quilómetros de distância e onde as lar que o Governo está a preconizar, o tanto, não houve tempo para mais. Por
Região Centro (SPRC) já avançou ao Cor- condições de Ensino – físicas, materiaisconcelho – neste ano lectivo existem 12 isso o sonho!
reio da Beira Serra que é praticamente e humanas – se diferenciam como do escolas com menos de 20 alunos – po- A “minha” cidade tem noites assim,
certa a extinção das escolas do 1º CEB dia para a noite. derá ficar reduzido a apenas 17 escolas. “curtas de pequenas que são “ (o que
de Fiais da Beira e Andorinha – ambas Quanto ao futuro dos alunos destes contraria a vontade de a sentirmos vi-
com 7 alunos –, Vilela (8) e Chamusca Concelho de Oliveira do Hospital poderá estabelecimentos escolares a caminho brante e nada amorfa), deita-se cedo
da Beira (11). ficar reduzido a apenas 17 escolas do encerramento, o SPRC considera
dia após dia, em qualquer altura do
Enquanto que os alunos de Andori- Aliás, conforme fez questão de subli- que a escolha da EB 1 de acolhimento
ano, e não há santo milagreiro que a
nha e Fiais vão ser colocados na EBI da nhar ao CBS uma dirigente do SPRC, He- “deve respeitar critérios de qualidade
salve desta desdita.
Cordinha, os de Vilela serão deslocados lena Arcanjo, aquela estrutura sindical e razoabilidade. Estas escolas devem,
para Nogueira do Cravo e os de Cha- “não é contra o encerramento de esco- obrigatoriamente, oferecer aos alunos E não se conhecem iniciativas perió-
musca da Beira para a Escola do 1º CEB las”, quando existe uma “escola melhor deslocados melhores condições físicas, dicas, cativantes, que alegrem e animem
da sede da freguesia – Lagos da Beira. a três, cinco ou dez quilómetros”. “O materiais e humanas do que aquelas de residentes e visitantes. E quem viaja
Esta situação, que surge como uma que nós não podemos aceitar é que se onde provêm”. pela “estrada real” também não tem ali-
inevitável consequência da desertifica- encerrem todas as escolas com menos Sob o ponto de vista da distância, ciantes para um desvio na rota.
o sindicato não só de- – Oliveira? Já passei por aí, a ca-
ESCOLAS EM MAIOR RISCO DE ENCERRAMENTO NOS PRÓXIMOS ANOS fende que as escolas de minho da serra, mas não conheço – é
acolhimento “devem o que me dizem quando menciono a
estar situadas a uma “minha terra”! Sistematicamente!
distância razoável Pois…
de modo a evitar Revisito o sonho e não consigo, de
grandes e penosas facto, situar-me no tempo – mas não
deslocações para era, de certeza, agora ou o espaço
os alunos (nunca onde me situo: um centro comercial
mais de 15 minutos
a céu aberto!
de viagem)”, como
A ideia (do centro) é sonora e me-
também exige ao
rece chamada à primeira página, mas
Governo que a “des-
locação de crianças com os escaparates transformados em
se efectue no mais armazéns de várias coisas ( com rarís-
estreito e escrupulo- simas excepções), e sem a noção da
so cumprimento de estética no modo de expor o produto
todas as regras de que se deseja publicitar, Coimbra e Vi-
segurança em vigor seu continuarão a ser destino certo.
para os transportes Já divaguei que baste – agora vou
escolares o que, já tentar voltar ao sono. Pode ser que
hoje, nem sempre ainda dê um pé de dança.
Fonte: Câmara Municipal de Oliveira do Hospital acontece”.
6. 6 ECONOMIA 15 de Março de 2006 Correio da Beira Serra
O Queijo Serra da Estrela abrange 18 municípios, três
regiões de turismo e duas direcções regionais de agricultura
“Precisávamos de uma feira com
impacto a nível nacional”
Nos meses de Fevereiro e Março
sucedem-se pelos municípios
que integram a área geográfica
de produção do Queijo Serra
da Estrela as feiras – também
designadas de festas – alusivas
a esta iguaria. “Queijo Serra da
Estrela” é uma marca portugue-
sa, e na opinião de João Mada-
leno, engenheiro da Associação
Nacional de Criadores de Ovi-
nos Serra da Estrela (ANCOSE),
“todas estas feiras localizáveis
por município têm impacto lo- João Madaleno: “O Queijo Serra da Estrela está em concorrência com produtos que não são comparáveis”
cal e nós precisávamos de uma gem Protegida (DOP) referimo-nos a 24 turismo e duas direcções regionais de responsável – era que “tivessem a pro-
produtores e a 70 mil unidades de quei- agricultura”. Por isso, Madanelo defen- priedade da terra”, mas pelo contrário ”
feira/ festa de âmbito nacional”. jo produzidas na área, que cumprem os de a realização duma feira “de impacto isso não se verifica e não têm contratos
requisitos exigidos pela Beira Tradição – nacional, que traga à região pessoas de de arrendamento o que os impede de se
LILIANA LOPES entidade certificadora – e que permitem todo o país para que possam conhecer candidatarem a projectos que lhes per-
a utilização da marca. Apesar de ser um “in loco” os produtores e este queijo mitiriam fazer a reconversão da explora-
N
produto histórico fortemente marcado desde a sua origem” porque – como fri- ção”.
esta altura do ano, os mu- pela tradição é conhecido a nível nacio- sou ao CBS – “para a maioria das pessoas A vertente comercial é apontada por
nicípios promovem as suas nal e internacional, e fica muitas vezes desde que tenha a textura amanteigada, Madanelo como “o segundo problema dos
feiras tendo como cabeça de sujeito a algumas confusões. uma cinta à volta e uma cor amarelo-pa- criadores. Em seu entender “os aspectos
cartaz o Queijo Serra da Es- João Madanelo engenheiro da ANCO- lha é queijo da serra”. Na opinião do en- comerciais não podem assentar apenas
tela, que surge acompanhado por produ- SE acompanha de perto o trabalho dos genheiro da ANCOSE, “os consumidores no queijo, mas em todos os produtos de
tos não menos característicos da região criadores de ovinos e está ciente das di- ao fazerem as suas compras nos grandes exploração. Há cerca de 50, 60 anos atrás
como os enchidos e o mel e pelo carac- ficuldades que surgem diariamente. Por espaços comerciais deparam-se com al- o que tinha mais valor era a lã e a carne,
terístico Cão da Serra da Estrela. Nos isso, é de opinião que “é preciso dar a guma confusão, devido à elevada oferta o que não se verifica actualmente”. Neste
meses de Inverno, quando as pastagens conhecer às pessoas o verdadeiro Queijo de queijos. E por outro lado, o preço momento o leite tem “algum valor se for
são melhores é sabido que este tipo de da Serra da Estrela”. Quanto às feiras do do Queijo Serra da Estrela para além de transformado em queijo” salientou o en-
queijo é mais procurado pelos consumi- queijo que vão acontecendo um pouco não ter aumentado, tem tendência para genheiro, lembrando que “este produto
dores. Daí que estas feiras se realizem por toda esta região, aquele engenheiro diminuir, o que o coloca (aos olhos do tem dificuldades de concorrência porque
nesta altura, tendo também em atenção acredita que “são sempre positivas”, mas consumidor) numa posição equiparada à os antigos mercados acabaram e os cria-
que a Serra da Estrela está coberta por o que acontece “é mais uma festa do que restante oferta”. dores têm que vender para outros lados
um manto branco e por isso convidativa feira. Trata-se duma festa em nome do e colocam o Queijo Serra da Estrela em
a umas mini-férias, que maioritariamente queijo, e sem grande impacto comer- 100 Ovelhas é o limiar de rentabilidade concorrência com produtos que não são
coincidem com o Carnaval. O objectivo cial”. Cada certame – como sublinhou Enquanto engenheiro da ANCOSE e pelo comparáveis”.
dos municípios é presentear os turistas ao Correio da Beira Serra – “é uma solu- contacto que tem com os produtores as-
com uma pequena mostra dos produtos ção limitada no tempo, e na realidade o sociados, João Madanelo assegurou ao ANCOSE apoia Criadores de Ovinos
característicos da região. Queijo Serra da Estrela não é do municí- CBS que “uma exploração só será rentá- A ANCOSE funciona em prol dos seus
O Queijo Serra da Estrela é uma mar- pio, mas de uma área”. vel para um agregado familiar (duas pes- associados no sentido de maximizar o
ca do Estado Português e quando nos Em termos administrativos estamos a soas) se o rebanho for constituído por rendimento do seu trabalho e ao mesmo
reportamos ao de Denominação de Ori- falar de 18 municípios, três regiões de cerca de 100 ovelhas e neste momento tempo simplificar as tarefas ligadas ao
na área há sensivelmente 230 rebanhos sector. Entre outros apoios, a ANCOSE
com esta dimensão”. Perante esta reali- – como realçou João Madanelo – “faz,
dade – como frisou o responsável – os num total de 3700 explorações de toda
criadores deparam-se com um problema a região, o trabalho de sanidade ani-
que é “a dimensão da propriedade e con- mal, ou seja, o despiste de brucelose, o
sequentemente a dimensão do rebanho”. melhoramento da raça (pelo contraste
Na prática o que se verifica é que grandes leiteiro) e o serviço de tosquia mecâni-
rebanhos necessitam de grandes espaços ca”. Para além destes apoios no terreno,
porque “as ovelhas gostam de mudar de a Associação orienta os produtores nas
terrenos. A mudança de pastagens per- candidaturas ao FEOGA – Fundo Europeu
mite que os animais ingiram mais e por de Orientação e Garantia Agrícola, e ain-
consequência aumentem a produção”, da a candidaturas, subsídios e projectos
explicou João Madanelo vendo esta rea- de investimento. A ANCOSE desenvolve
lidade como um “problema”, na medida ainda, na sua sede no concelho de Oli-
em que “grandes deslocações implicam veira do Hospital, vários trabalhos de
mais encargos para os criadores”. O ideal investigação para inovação, que quando
para os criadores – na opinião daquele aprovados são disponibilizados aos pro-
7. 15 de Março de 2006 Correio da Beira Serra ECONOMIA 7
Queijo Serra da Estrela é um produto histórico
Mecanização não retira OPINIÃO
“artesanalidade” J O S É A U G U S T O TAVA R E S N U N E S
O Queijo Serra da Estrela é um pro-
duto histórico e o que o caracteriza
análises. Neste momento a ANCOSE
está a desenvolver um trabalho para A floresta merece…
N
é o leite de duas raças de ovelha: a a caracterização da manteiga. João
Mondegueira – centralizada nos limi- Madanelo explicou ao CBS que o ob- unca é demais lembrar a ce ser incentivada e dinamizada com a
tes dos concelhos de Celorico da Beira jectivo “é tentar apurar os melhores
– e a Serra da Estrela – situada na re- procedimentos para se obter regular- importância que a floresta participação de todos os detentores de
gião mais a leste. Para João Madanelo mente manteiga de qualidade”. Com representa para a sobrevi- espaços florestais.
“o essencial é obter leite de rebanhos esta caracterização a ANCOSE preten- vência do nosso Planeta e, Porém, para que não se fique apenas
endemes, sanitariamente qualifica- de estabelecer regras em termos de
dos” e depois “basta juntar o leite, o caderno de especificações para uma apesar das campanhas de prevenção, pelas boas intenções espera-se que o
sal, o cardo (cynera cardunculus) e o denominação de origem que os pro- todos os anos somos confrontados com Estado crie e aplique de uma forma ágil
saber fazer das queijeiras para se ob- dutores poderão usar ou não. o flagelo dos incêndios florestais com e eficaz os mecanismos de apoio finan-
ter o Queijo Serra da Estrela, que esta- consequências devastadoras aos níveis ceiro e técnico que permitam passar do
rá pronto a comer passados 45 dias”. Ovelha Serra da Estrela é a pre-
Numa visita pela queijaria da ANCOSE, ferida ecológico, social e económico. papel à acção no terreno.
o engenheiro garantiu ao CBS que “o ANCOSE aposta no “apuramen- É demasiado evidente que por detrás É neste domínio que subsistem algu-
uso de utensílios mecânicos facilita o to genético” deste fenómeno cíclico também se es- mas dúvidas, alimentadas por outras ex-
trabalho das queijeiras e, não retira ar- O leite deriva, na sua maioria, dos Ovi-
tesanalidade ao produto final”. nos Serra da Estrela que constituem condem interesses criminosos compará- periências anteriores mal sucedidas.
um grupo de animais criados em toda veis ao tráfico de droga e de armas, por- Temos conhecimento que, no conce-
Queijaria da ANCOSE destina- a área da serra que lhe dá o nome. São que também esses levam à destruição e lho de Oliveira do Hospital, se encon-
se ao fabrico experimental e animais do tipo bordaleiro, de corpu-
à morte. tram em fase de análise pela DGF duas
demonstrativo do Queijo Serra lência média e muito bem adaptados
da Estrela às condições geoclimáticas em que E se a floresta é vida e se a vida não candidaturas: A ZIF do Alva, proposta
Para além do apoio aos criadores de vivem e aos regimes de exploração tem preço, todo o esforço desenvolvido pela Cooperativa Agro Pecuária da Beira
ovinos Serra da Estrela, a ANCOSE tradicionais a que são submetidos. No na sua preservação é um investimento Central, que abrange uma área com cer-
também se dedica na sua queijaria rebanho nacional são os de melhor
– igualmente designada oficina tec- aptidão leiteira, sendo caracterizados que não merece discussão. ca de 2.000 hectares na freguesias de S.
nológica – ao fabrico experimental e por elevadas produções. Das duas va- Vêm estas considera- Gião, Penalva de Alva e S.
demonstrativo do Queijo Serra da Es- riedades existentes, a preta é consi- ções a propósito da ne- Sebastião da Feira e a ZIF
trela. “É uma queijaria de quinta, que derada mais rústica e mais produtiva,
cessidade imperiosa de (…) se a flo- do Alva e do Alvoco, com
tem capacidade instalada de transfor- razão, porque de há tempos para cá,
mação de 120 litros dia” indicou ao vem despertando um maior interesse tomar medidas concretas resta é vida e se cerca de 4.000 hectares,
CBS João Madanelo esclarecendo que por parte de alguns criadores. O Ovino
“este espaço simula o que seria pos- Serra da Estrela domina os trabalhos
e urgentes para o bom a vida não tem liderada pela Caule – As-
ordenamento dos espa- sociação Florestal da Beira
sível transformar num efectivo normal desenvolvidos na ANCOSE, dado que
ços florestais, minorando
preço, todo o Serra.
da serra da estrela”. Trata-se de uma o melhoramento e defesa da raça, foi
queijaria licenciada, dotada de alguns o principal objectivo da criação da As- os riscos de incêndio e esforço desen- Verifica-se que estas
equipamentos que facilitam o dia-a-dia sociação, por um grupo de criadores, criando condições para a volvido na sua candidaturas são coinci-
das duas queijeiras que lá trabalham e que desde sempre se dedicou à cria-
que “não retiram a artesanalidade ao ção desta raça autóctone. O trabalho sua gestão sustentável. preservação é dentes em boa parte da
produto final” explicou o engenheiro da ANCOSE em termos de apuramento A Reforma do Sector área de intervenção, pelo
responsável pelo apetrechamento do genético – como sublinhou João Ma- Florestal, iniciada há cerca
um investimento que deverá haver diálogo
espaço e pela Estação de Tratamento danelo – pode ser feito por “contraste que não merece e entendimento entre as
de Águas Residuais (ETARI) adaptada leiteiro que implica a medição do leite de três anos, inclui a cons-
às necessidades e dimensão da quei- e a selecção dos reprodutores. Ou seja, tituição das “ZIF”- Zonas discussão (…) duas organizações envol-
jaria. os animais que ficam para reprodução de Intervenção Florestal vidas de forma a encontrar
“Este tipo de queijo é feito sempre são filhos das melhores reprodutoras.
que, de um modo simplis- uma solução a contento
da mesma maneira, o que muda é o Depois deste processo, os animais são
equipamento colocado à disposição e integrados em livro genealógico e os ta, constituem uma forma de emparcela- das partes.
que ajuda a regular a qualidade higi- dados são colocados ao dispor dos mento da propriedade florestal em áreas Outra iniciativa que merece ser real-
énica do produto” explicou João Ma- produtores”. Ainda na área do apura- de dimensão adequada, que permitam çada é a candidatura à Medida 3.4 do
danelo realçando que “o produto final mento, o responsável destacou duas
não tem que ser apenas saboroso, é práticas reprodutivas: “ indução por ganhos de eficiência na sua gestão, áre- Programa Agris, apresentada em finais
importante que não faça mal”. Quanto sincronização de cios, colocando ani- as essas que serão objecto de planos de de 2004 pelo Município de Oliveira do
à mecanização o engenheiro da AN- mais no mesmo estado reprodutivo e, acção comuns, geridos por uma entida- Hospital, por sugestão e projecto con-
COSE fez a comparação com tempos inseminação artificial”.
remotos: “outrora não havia câmaras de escolhida pelos aderentes, sem que junto dos técnicos Eng.º Gustavo Soares
de cura climatizadas, neste momento Coagulação por acção da flor os mesmos percam a posse da terra. e Eng.º Elísio Pais, que prestam um va-
já são poucas as queijarias que não do cardo O bom êxito desta medida depende lioso serviço na Cooperativa e na Caixa
tenham pelo menos uma dessas câ- Para que o Queijo Serra da Estrela co- de diversos factores, sendo essencial o de Crédito Agrícola Mútuo de Oliveira
maras”. “Neste momento temos pos- mece a ganhar forma é essencial que
sibilidades de refrigerar uma ordenha ao leite se adicione a flor do cardo (cy- apelo ao espírito associativo dos pro- do Hospital.
da noite, o que permite guardá-la para nara cardunculus) utilizada como agen- prietários e produtores, cabendo às Este projecto, de cariz estruturante,
a manhã seguinte. Temos uma cuba te coagulante. Consta que esta planta organizações existentes, incluindo as visa essencialmente a defesa da floresta
de coagulação onde se proporciona a é empregue no fabrico do tradicional
melhor temperatura para que o cardo queijo de ovelha desde a ocupação da autarquias, um importante papel de di- contra o risco de incêndio prevendo a
possa actuar sob o leite, formando-o península Ibérica pelos Romanos. A vulgação e sensibilização. abertura e conservação de caminhos, a
numa coalhada. A prensa pneumática parte da planta responsável pela co- Na prossecução do seu objectivo e criação de pontos de água e de espaços
é outro mecanismo utilizado, onde a agulação é a flor, de forma tubular e
pedra ou o peso foi substituído por cor violácea, que contém grande con- porque as intervenções na floresta te- corta-fogo, bem como a implantação de
uma força certa, diminuindo factores centração da substância coagulante, a rão de ser feitas por alguém, as ZIF irão alguns parques de lazer como forma de
de variabilidade e regularizando a qua- enzima cinarase. contribuir para a criação de postos de atrair as pessoas ao ambiente natural.
lidade do produto” explicou Madanelo trabalho, fomentando o surgimento de Esta, a par de outras, é também uma
numa tentativa de desmistificar a ideia
de que “aparelhos mecânicos retiram novas empresas ou dinamizando as exis- medida de grande importância para a
tradição e artesanalidade ao Queijo tentes. preservação do espaço florestal do nos-
Serra da Estrela”. Na sua opinião “o Por outro lado os aderentes benefi- so Concelho, uma riqueza comum que
queijo é feito da mesma forma, mas
mais facilmente”. ciam de algumas vantagens ao nível de obriga à atenção e ao cuidado de todos
Apesar de bem equipada – frisou isenções de taxas de emolumentos bem nós.
o engenheiro – “a queijaria não é de como ao direito de preferência na aqui- Apela-se, portanto, ao bom senso e à
produção. Serve sobretudo para for-
mação profissional e trabalhos de de- sição de prédios rústicos localizados nas cooperação de todas as organizações e
senvolvimento experimental”. zonas de intervenção. entidades envolvidas porque a união faz
O espaço é apoiado por um peque- Trata-se, sem dúvida, de uma inicia- a força e a floresta merece.
no laboratório onde é avaliada a com- tiva de grande importância que mere-
posição do leite e se realizam outras Flor de Cardo