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DIRECTOR JORGE CASTILHO
| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |
Autorizado a circular em invólucro
de plástico fechado (DE53742006MPC)
ANO III N.º 55 (II série) De 16 a 29 de Julho de 2008  1 euro (iva incluído)
Telef.: 239 854 150
Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA
Marinho quer
acabar com
“vergonhoso
negócio”
ADVOGADOS
PÁG. 7
TELEMEDICINA RAINHA SANTA
PÁG. 11 A 13
PÁG. 17
Coimbra
saiu à rua
para saudar
Padroeira
Premiada
Cardiologia
Pediátrica
de Coimbra
Marcelo
diz-se
“melindrado”
com a RTP
PÁG. 3
PÁG. 3
PÁG. 11 a 15
TELEVISÃO
PÁG. 11 a 13
Médico
de Coimbra
já fez nascer
17 mil bebés
de casais inférteis
DEFENDE APOIO ESTATAL A 400 MIL CASAIS
COM PROBLEMAS DE FERTILIDADE
E QUE QUEREM TER FILHOS
PÁG. 17
2 16 A 29 DE JULHO DE 2008
COIMBRA
Director: Jorge Castilho
(Carteira Profissional n.º 99)
Propriedade: Audimprensa
Nif: 501 863 109
Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho
Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930
Composição e montagem: Audimprensa
Rua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 Coimbra
Telefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154
e-mail: centro.jornal@gmail.com
Impressão: CIC - CORAZE
Oliveira de Azeméis
Depósito legal n.º 250930/06
Tiragem: 10.000 exemplares
No Governo Civil de Coimbra de-
correr hoje, pelas 11h30, uma confe-
rência de imprensa para apresentação
do Dispositivo Distrital “Mortes na
Estrada, Vamos Travar este Drama –
Verão 2008”.
Na sessão serão apresentados os
dispositivos das forças de segurança
que vão estar no terreno durante este
Verão, nomeadamente PSP, GNR e
Brigada de Trânsito.
Estarão presentes os responsáveis
das entidades envolvidas na campa-
nha de segurança, nomeadamente o
Governador Civil do Distrito de Coim-
bra, o Comandante da PSP, o Coman-
dante do Grupo Territorial da GNR de
Coimbra, o Comandante da Brigada
de Trânsito, bem como todos os ele-
mentos da Comissão Distrital de Se-
gurança Rodoviária.
Convém recordar que nesta época do
ano acontecem muitos acidentes que po-
deriam ser evitados se os automobilistas
obedecessem às mais elementares regras
de segurança, nomeadamente evitando o
excesso de velocidade, as ultrapassagens
perigosas, o consumo de álcool e o cansa-
ço provocado por viagens muito longas.
O jornal “Centro” apela aos condutores
para que não esqueçam estas regras bási-
cas, que tantas tragédias podem evitar.
Cuidados redobrados para quem viaja nas estradas
Campanha apoiada pelo jornal
Um Verão sem incidentes florestais de
maior é o que deseja o Governador Civil
do Distrito de Coimbra. Confiante numa
melhor organização do dispositivo de
combate a fogos em relação a anos an-
teriores, Henrique Fernandes afirmou que
“desde o grande incêndio de 2003, em
particular o que atingiu a Pampilhosa da
Serra, se tiraram lições”.
Estas declarações foram feitas em
entrevista à Rádio Regional do Centro
(96.2 FM), durante o programa “Dois
Dedos de Conversa”, gravado nas ins-
talações da Joalharia Góis, Solum, e
transmitido na passada sexta-feira.
O representante do Governo no dis-
trito realçou que, a par de um maior es-
forço por parte das autarquias, o novo
enquadramento legal veio agilizar sobre-
maneira o combate aos incêndios, subli-
nhando a importância de todos os opera-
cionais no terreno responderem perante
um único comando. “A nova Lei de Ba-
ses da Protecção Civil, criada por este
Governo, introduz nomeadamente um
princípio fundamental que é haver um
comando inequívoco”, considerou.
Igualmente relevante, segundo o Go-
vernador Civil, foi a “aposta na rapidez
da resposta – entre 15 e 20 minutos –
para que um foco não se transforme num
GARANTIU GOVERNADOR CIVIL EM ENTREVISTA
Coimbra tem capacidade de resposta
ao risco de incêndios
incêndio de nove dias como sucedeu na
Pampilhosa da Serra, assim como o re-
forço das brigadas helitransportadas”.
Foi também por iniciativa deste Go-
verno, acrescentou Henrique Fernandes,
que as especificidades das associações
humanitárias foram consideradas em ter-
mos legislativos.
“O enquadramento legal teve uma
vantagem: criou as regras de um edifí-
cio”, razão pela qual, segundo Henrique
Fernandes, o distrito de Coimbra conta
agora “com uma boa articulação entre
os diversos organismos e uma boa capa-
cidade de resposta”.
A corroborar esta visão estão as es-
tatísticas que revelam um claro decrés-
cimo de incêndios florestais.
“Em 2006 houve 1536 ocorrências e
50.939 hectares de área ardida, enquan-
to em 2007 as estatísticas referem que
houve 1.075 ocorrências que correspon-
deram a 852 hectares ardidos. Ou seja,
houve uma baixa drástica”, referiu.
Os recursos florestais, cada vez mais
sujeitos a um maior risco de incêndio
devido à alteração dos hábitos das pró-
prias pessoas, frisou, “são um problema
que diz respeito a todos nós”. “A própria
legislação diz que um dos agentes da pro-
tecção civil é o cidadão”, alertou Henri-
que Fernandes, apelando a que todos
respeitem a floresta, nomeadamente
mantendo limpa a área em torno das ha-
bitações. “Devemo-nos proteger dela,
onde ela pode ser agressiva”, conside-
rou. “O desleixo e incúria por parte do
proprietário também nos custa muito di-
nheiro dos nossos impostos”, comentou.
Defensor de uma função reguladora
do Estado, o Governador Civil do Distri-
to de Coimbra referiu ainda que a em-
pregabilidade é uma das áreas prioritári-
as da sua intervenção, tendo destacado
que em mais de três anos de mandato já
foi confrontado com diversas situações
de notória debilidade empresarial. Nes-
tes casos, notou Henrique Fernandes, a
preocupação maior é sempre preservar
os postos de trabalho ou, em última aná-
lise, defender o interesse dos trabalha-
dores.
Henrique Fernandes
3
16 A 29 DE JULHO DE 2008 NACIONAL
Temos uma excelente sugestão
para uma oferta a um Amigo, a um
Familiar ou mesmo para si próprio:
uma assinatura anual do jornal
“Centro”
Custa apenas 20 euros e ainda re-
cebe de imediato, completamente
grátis, uma valiosa obra de arte.
Trata-se de um belíssimo trabalho
da autoria de Zé Penicheiro, expres-
samente concebido para o jornal
“Centro”, com o cunho bem carac-
terístico deste artista plástico – um
dos mais prestigiados pintores portu-
gueses, com reconhecimento mesmo
a nível internacional, estando repre-
sentado em colecções espalhadas por
vários pontos do Mundo.
Neste trabalho, Zé Penicheiro,
com o seu traço peculiar e a incon-
fundível utilização de uma invulgar
paleta de cores, criou uma obra que
alia grande qualidade artística a um
profundo simbolismo.
De facto, o artista, para represen-
tar a Região Centro, concebeu uma
flor, composta pelos seis distritos que
integram esta zona do País: Aveiro,
Castelo Branco, Coimbra, Guarda,
Leiria e Viseu.
Cada um destes distritos é repre-
sentado por um elemento (remeten-
do para o respectivo património his-
tórico, arquitectónico ou natural).
A flor, assim composta desta for-
ma tão original, está a desabrochar,
simbolizando o crescente desenvolvi-
mento desta Região Centro de Portu-
gal, tão rica de potencialidades, de His-
tória, de Cultura, de património arqui-
tectónico, de deslumbrantes paisagens
(desde as praias magníficas até às ser-
ras imponentes) e, ainda, de gente hos-
pitaleira e trabalhadora.
Não perca, pois, a oportunidade de
receber já, GRATUITAMENTE,
esta magnífica obra de arte (cujas di-
mensões são 50 cm x 34 cm).
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rio passará a receber directamente em
sua casa (ou no local que nos indicar),
o jornal “Centro”, que o manterá
sempre bem informado sobre o que de
mais importante vai acontecendo nes-
ta Região, no País e no Mundo.
Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,
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cher o cupão que abaixo publicamos,
e enviá-lo, acompanhado do valor de
20 euros (de preferência em cheque
passado em nome de AUDIMPREN-
SA), para a seguinte morada:
AUDIMPRENSA
Jornal “Centro”
Rua da Sofia. 95 - 3.º
3000–390 COIMBRA
Poderá também dirigir-nos o seu pe-
dido de assinatura através de:
 telefone 239 854 150
 fax 239 854 154
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de e-mail:
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de já lhe oferecemos, estamos a pre-
parar muitas outras regalias para os
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ros da assinatura serão um excelente
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e ganhe valiosa obra de arte
Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO
O comentador Marcelo
Rebelo de Sousa disse ontem
(terça-feira) à Lusa estar
“surpreendido” e “melindra-
do” por saber que o seu pro-
grama na RTP tinha patrocí-
nio e deu razão ao organismo
regulador em abrir um pro-
cesso de contra-ordenação.
“Fico surpreendido e melin-
drado por não me terem dito
nada, acho que ter um patro-
cinador para o programa pres-
supõe que eu saiba”, afirmou
Marcelo Rebelo de Sousa, re-
agindo a uma deliberação da
Entidade Reguladora para a
Comunicação Social (ERC).
Numa decisão ontem divul-
gada, a ERC anunciou que vai
COMENTÁRIO DOMINICAL NA TELEVISÃO
Marcelo Rebelo de Sousa
diz-se “melindrado” com RTP
por desconhecer patrocínio ao programa
Sousa, defendendo que “uma
coisa são anúncios, outra são
patrocínios” e sublinhando
achar “muito curioso nunca
terem dito nada”.
“Foi uma sorte eu nunca ter
falado na Generis” durante o
programa, reforçou, asseguran-
do que “acreditava tratar-se de
um anúncio como outro qual-
quer e nunca um patrocínio”.
Apesar de a RTP ter, en-
tretanto, garantido à Lusa que
vai “acatar a decisão” da
ERC e retirar o patrocínio ao
programa já a partir da próxi-
ma edição, Marcelo Rebelo de
Sousa pretende “apurar com
a direcção de Informação o
que se passou”.
instaurar um processo de con-
tra-ordenação à RTP e à Ge-
neris Farmacêutica por inser-
ção de patrocínios no progra-
ma “As Escolhas de Marce-
lo”, que considera violar o Có-
digo da Publicidade.
A deliberação baseou-se
numa apreciação da tipologia do
programa, tendo a ERC chega-
do à conclusão que “As Esco-
lhas de Marcelo”, transmitido
aos domingos na RTP 1, integra
o género comentário político.
Género que se inclui entre
os que estão proibidos pelo
Código da Publicidade de re-
ceber patrocínios.
“A ERC tem toda a razão”,
sublinhou Marcelo Rebelo de
4 16 A 29 DE JULHO DE 2008
NACIONAL
ponto . por . ponto
Por Sertório Pinho Martins
Quando o vento sopra a favor das
chamas, é certo e sabido que o incêndio
alastra e a área ardida acrescenta des-
graça a quem (sobre)vive do que a flo-
resta ainda vai dando. E o país é o espe-
lho dos fogos de Verão! Jaime Silva quer
os jovens de regresso à agricultura: dan-
do como exemplo as ilusões perdidas dos
agricultores esbulhados até ao osso?
José Sócrates tira da cartola um auspi-
cioso ‘carro eléctrico’: tentando fazer
esquecer o lastro das taxas sem retorno
que continuam coladas aos combustíveis
do nosso destino fatal? Quase 90% das
empresas (a espinha dorsal da nossa
economia, porque os outros 10% são
Estado e banca com os seus negócios
labirínticos) classifica a conjuntura eco-
nómica abaixo de má: e o ministro dá
prioridade a visitar hipermercados e ver
com os olhos que Deus lhe deu se estão
a cumprir à risca os 20% do IVA? A
classe média já lançou a toalha ao tape-
te: e os novos ‘amigos de Alex’ (Mene-
zes e quejandos) elogiam a eito a despe-
sa pública?Abanca deu o estoiro (e cala-
se à espera que a tormenta lhe passe
entre a secante e a tangente): e as ins-
tâncias supervisoras vão adiando para
as calendas a verdade a que temos di-
reito? O Presidente quis saber sobre o
custo real de obras que vão sair do bol-
so dos contribuintes: e o poder instalado
só reagiu à voz grossa da admoestação?
As Misericórdias sobem de tom sobre o
estado de pobreza das populações ca-
renciadas: e o eco vai-se esvaindo no
azul diáfano de um triste “tenha paciên-
cia, Deus o ajude”? A oposição adopta
Bloco quê?...
a estratégia de falar por generalidades,
mas logo a seguir espalha-se ao compri-
do em temas cirúrgicos como o casa-
mentodoshomossexuais,paragáudiodos
socialistas – como se a opinião de Ma-
nuela Ferreira Leite não fosse igual à de
muita e boa gente que votou Sócrates
em Março de 2005! Os partidos conti-
nuam a abusar do discurso político do
toca-e-foge, que já não enche barriga
nem faz perder o sono à plebe: e o po-
der instalado, esgotado que está o círcu-
lo vicioso das alcovitices de galinheiro,
volta ao discurso dos dois governos que
o antecederam, mas cuidando de riscar
a era-Guterres da história da nossa de-
mocracia.
Cada um faz o seu número de circo, a
corda vai esticando debaixo das nossas
desilusões e não nos demos conta que já
estamos a trabalhar sem rede! Numa
conjuntura económico-social sem prece-
dentes desde há décadas, o que passa a
valer é o chorrilho de asneiras, a surdez
à voz do bom-senso, a competição pela
maior parvoíce política – porque no fim
alguém há-de apagar as luzes! Come-
çam já a multiplicar-se os avisos dos se-
nadores (alguns por sinal confortavel-
mente instalados nos palanques que a
política lhes trouxe por acréscimo…),
qualquer evento (por mais insignifican-
te) serve para tocar a rebate e a lançar
recados que não têm segunda leitura,
cruzam-se ameaças por cima das nos-
sas cabeças atarantadas com tanto des-
pudor político, e o horizonte continua nu-
blado a perder de vista. Cheira cada vez
mais a queimado e ninguém repara na
direcção do vento!
O país precisa urgentemente de esta-
bilidade política! Quase diríamos que a
qualquer preço, e venha de onde vier a
sapatada redentora. Caminhamos esma-
gados pelo custo do dia-a-dia e encurra-
lados entre dois fogos (a descrença e o
desespero) que continuam por circuns-
crever. E só queremos é romper as cha-
mas e sair da tenda deste circo onde os
palhaços já perderam a graça e a capa-
cidade de nos maravilhar como noutros
tempos. Porque é bom ter noção de que
se a cura não vier de ‘dentro’ do próprio
regime, arriscamo-nos a que a doença
possa ser travada por qualquer iniciativa
musculada, quanto de recurso – e de-
pois é tarde para recriminações.
A ideia peregrina de um ‘bloco cen-
tral’, ainda por cima com estes protago-
nistas, tropeça desde logo na mais ele-
mentar das vertentes de um casamento-
a-dois: a natureza humana.Alguém ima-
gina José Sócrates acamaradado com
quem não lhe obedeça cegamente ou a
esticar o dedo a um ministro que não te-
nha sido escolha apenas sua? Ou Manu-
ela Ferreira Leite submissa a
(pre)conceitos e metodologias de gover-
nação com que legitimamente possa não
concordar de todo? Sócrates nunca terá
a paciência estratégica de raposa (é um
impositivo-compulsivo) de Mário Soares
no seu melhor, e a Manuela falta-lhe o
savoir político e o desprendimento es-
pontâneo que Mota Pinto transpirava.
Quem se atreve, em consciência, a fa-
zer daqueles dois as traves da estabili-
dade política que o país exige? Ou am-
bos designam os seus testas-de-ferro, e
ficam a intrigar em bastidores? Ou – but
not the least – pede-se a Cavaco Silva
que os leve pela mão e pendurados pe-
las orelhas, até aprenderem humildade e
espírito de sacrifício em prol do interes-
se nacional?
José Sócrates tem nas mãos uma
maioria absoluta, base primeira para a
estabilidade política que outros vão ter
que conquistar a pulso e esgrimindo ar-
gumentos que levem a dar um passo atrás
quem em 2005 votou claramente no PS.
Dir-se-á que já havia no ar uma ‘dinâmi-
ca de mudança’; mas chegar à maioria
absoluta foi um feito indiscutível. Porém,
ao primeiro-ministro falta-lhe ainda do-
minar arroubos de espontaneidade, do-
sear ímpetos, simular contrição e sacri-
ficar peões, para chegar ao pleno em
2009 – e terá nas mãos a chave que lhe
abre a porta da estabilidade que o país
não dispensa por mais tempo. Ora sacri-
ficar peões é algo que Sócrates ainda não
absorveu e interiorizou do mundo cruel
da política, a ponto de remodelar tão só
‘para as eleições de 2009’. Senão, que
outros trunfos ou actos de propaganda
social lhe restam, numa altura em que a
barriga vazia dos contribuintes bate mais
forte do que a vozearia dos debates so-
bre o estado da nação? Remodelando
agora, terá no mínimo o benefício da dú-
vida de quem foi solidário até ao limite
do tolerável, mas que não hesitou em dar
o passo patriótico quando esgotou todas
as esperanças em homens que afinal
desapontaram o país real. E se ele tem
por onde escolher!
O secretariado da Conferência Ibe-
ro-americana vai efectuar, a pedido do
governo português, um estudo para ava-
liar o valor económico da língua portu-
guesa, disse ontem (terça-feira) à
agência Lusa o ministro da Cultura,
José António Pinto Ribeiro.
“A metodologia já nos foi comuni-
cada”, afirmou Pinto Ribeiro, destacan-
do tratar-se de “metodologia semelhan-
te a uma que se pediu para fazer um
estudo para a língua castelhana”, acres-
centou.
“Nós gostaríamos de alargar esse
estudo a todos os países de língua ofi-
cial portuguesa”, acrescentou, vincan-
do que “qualquer falante, qualquer eco-
nomia de língua portuguesa, pode apro-
veitar e internacionalizar-se nas asas
da língua portuguesa”.
O ministro da Cultura salientou, por
outro lado, que um outro estudo, enco-
mendado pelo Instituto Camões ao Ins-
tituto Superior de Ciências do Traba-
Conferência Ibero-americana vai avaliar
valor económico da língua portuguesa
lho e Empresa (ISCTE), também para
avaliar o valor económico da língua
portuguesa, “vai ser reinserido” no que
vai ser efectuado pela Conferência
Ibero-americana.
“Esse estudo pedido pelo Instituto
Camões vai ser reinserido. Nós, neste
momento, estamos a desenvolver uma
política, a lançar as bases e a estrutu-
ra para uma política da língua em Por-
tugal e que gostaríamos que fosse es-
tendida a todos os países da Comuni-
dade de Países de Língua Portugue-
sa”, adiantou.
“Isto significa recentrar a nossa po-
lítica em matéria de língua neste es-
paço, para o que vai ser constituído
um fundo para a língua portuguesa”,
disse.
Esse fundo que permitirá “expan-
dir a língua portuguesa”, permitirá
também “enviar professores de por-
tuguês para fora”.
O ministro da Cultura revelou que o
fundo vai ser anunciado dentro de um
conjunto de medidas destinadas à pro-
moção da língua portuguesa.
“É um fundo especialmente queri-
do, especialmente desejado pelo pri-
meiro-ministro (José Sócrates) no sen-
tido de centrarmos a nossa actividade
em matéria de relação com os países
da Comunidade de Países de Língua
Portuguesa, na base da língua portu-
guesa e da utilização da língua portu-
guesa”, frisou.
As medidas para a promoção da lín-
gua portuguesa vão ser aprovadas no
conselho de ministros desta semana,
antecipado para quarta-feira, devido à
viagem do primeiro-ministro José Só-
crates para uma visita a Angola.
Este conselho de ministros constitui
o último encontro dos membros do go-
verno português antes da Cimeira da
Comunidade de Países de Língua Por-
tuguesa, agendada para 24 e 25 deste
mês, em Lisboa.
Portugal assume a presidência da
organização nos próximos dois anos e
dedicará prioridade à língua.
“Toda a política de relação com os
outros países (em matéria de língua)
vai ser feita” no âmbito da Comunida-
de de Países de Língua Portuguesa,
precisou.
Nesse contexto, os Ministérios da
Cultura, dos Negócios Estrangeiros e
Educação “vão trabalhar no sentido da
refundação do Instituto Camões”.
Quanto aos custos que a execução
de tal plano implica, José António Pin-
to Ribeiro destacou que todo o Gover-
no estará envolvido.
“Será uma resolução aprovada pelo
Governo, sob a liderança do primeiro-
ministro. Todo o Governo estará mobi-
lizado para este projecto, em termos
institucionais e também em termos de
internacionalização através da Comu-
nidade de Países de Língua Portugue-
sa”, sublinhou.
5
16 A 29 DE JULHO DE 2008 COIMBRA
aesperanca@mail.telepac.pt
Carlos
Esperança
ponte europa
IRÃO: A FÉ À BEIRA
DA LOUCURA NUCLEAR
Bastavam ao mundo a loucura prosé-
lita dos beatos e a incontinência verbal
de alguns líderes para o planeta se tor-
nar um lugar de horror. O preço do pe-
tróleo e a míngua de alimentos contribu-
em para adensar as nuvens que amea-
çam a sobrevivência colectiva.
É neste estado de pessimismo e desâ-
nimo que o Irão lançou com êxito, a par-
tir de local ignorado do deserto, nove
mísseis com um raio de acção de 2.000
km, capaz de atingir numerosas cidades
da região, nomeadamente Tel Aviv.
Sabe-se como são piedosos os guar-
das revolucionários de Teerão e como
tem sido loquaz o presidente Ahmadine-
jad a reiterar o desejo obsessivo de erra-
dicar do mapa o Estado de Israel. Já não
é a questão palestina, em que os árabes
têm razão, que está em causa, é o desti-
no colectivo da humanidade e a paz in-
ternacional que estão ameaçadas pela
hecatombe nuclear.
Com a Europa bloqueada pelo Não
irlandês e pelas suas próprias divergên-
cias internas, com o pior presidente dos
EUA das últimas décadas em fim de
mandato, com o pavor das economias
com a alta dos combustíveis, com a
Rússia a responder ás provocações da
NATO, o Irão encontrou o momento
ideal para a demonstração de força.
Hoje, pela vez primeira, o Irão pôs-
me do lado de Israel e do seu direito de
se defender. Nos períodos de crise, por
maiores que sejam as contradições que
nos dilaceram, não podemos hesitar na
trincheira que escolhemos. ISRAEL tem
o direito à sua existência. Sem «mas».
IGREJA ANGLICANA
NUMA ENCRUZILHADA
A vitória dos fiéis progressistas que já
haviam consagrado o acesso das mulhe-
res ao sacerdócio, bem como de homos-
sexuais, e, agora, ao episcopado, é o pre-
núncio de um cisma em que a corrente
conservadora se vira para Roma e os
progressistas seguem o seu caminho
como igreja protestante.
O anglicanismo é uma criação oficial
de Henrique VIII, separada de Roma
desde 1534, embora o desejo de eman-
cipação já fosse forte e o contributo da
Reforma protestante decisivo. Por isso
permaneceu sempre uma corrente, in-
fluenciada pela Reforma, mais toleran-
te e progressista que coexistiu com ou-
tra mais tradicionalista e nostálgica do
Vaticano.
Para esta corrente, que tem menos
adeptos e mais praticantes, o acesso
das mulheres ao sacerdócio foi sem-
pre uma espinha cravada no coração
de quem não perdoa à mulher o peca-
do original e a considera indigna do
exercício do múnus.
A luta constante entre liberais e con-
servadores, que atingiu o auge com a in-
dicação de uma mulher como Primaz da
Igreja Episcopal dos EUA, teve agora
um novo braço de ferro que ameaça de-
sintegrar a Igreja que tem na Inglaterra
e na monarquia inglesa a sua mais sólida
referência.
Após um breve retorno à Igreja cató-
lica (1553/58) as vicissitudes do poder
ditaram o regresso ao anglicanismo que,
desde 1558, passou a ser a religião ofici-
al. Hoje, todos os monarcas têm de jurar
manter e proteger a fé e espera-se que
casem com um protestante, obrigação
mitigada pelo tradicional sentido da tole-
rância britânica onde são numerosas as
religiões e 23% da população é alheia a
qualquer fé.
Os homossexuais e as mulheres im-
pedem que, no futuro, todos os anglica-
nos possam frequentar a mesma missa.
O cisma vem aí. Não é a fé que os divi-
de, é a tolerância.
Um auditório multi-usos, residênci-
as, um restaurante panorâmico e va-
lências desportivas, culturais e lúdicas
estão contemplados na Aldeia do
Médico, um empreendimento gizado
pela Secção Regional Centro da Or-
dem dos Médicos (SRC-OM) para
Coimbra.
Com custos provisórios estimados
em 10 milhões de euros, o projecto está
previsto para a Quinta do Couto, na
Adémia, nos arredores da cidade, e as-
senta num conceito pioneiro em Por-
tugal, segundo disse ontem à agência
Lusa o presidente da SRC-OM, José
Manuel Silva.
Contempla a construção de residên-
cias assistidas para os médicos apo-
sentados – a Casa do Médico -, ga-
rantindo-lhes independência, qualidade
de vida, conforto e segurança, e que
coexistem, no espaço do complexo, com
as valências da formação contínua dos
Ordem constrói Aldeia do Médico
com residências, centro de congressos
cultura e lazer
clínicos e ainda serviços de ordem re-
creativa, desportiva e cultural.
É um projecto distintivo para Co-
imbra, que será auto-sustentável. Será
um espaço único em termos da poliva-
lência e do contacto que permitirá en-
tre os médicos mais velhos e os mais
novos, sublinhou o professor da Fa-
culdade de Medicina da Universidade
de Coimbra.
Para lá será deslocada a actual sede
da SRC-OM e, no seu futuro centro
de congressos, um espaço polivalente
para as vertentes científica, formativa
e de lazer, terá capacidade para even-
tos participados por 1.500 pessoas.
Na óptica de José Manuel Silva,
este centro de congressos poderá ter
um papel vital na captação do turismo
científico.
Nenhum dos grandes congressos
nacionais se realiza em Coimbra. Co-
imbra tem de explorar essa vertente,
defende o médico, ao vincar que o
nome da cidade é conhecido interna-
cionalmente, mas, contudo, esse po-
tencial não tem sido explorado.
Segundo José Mário Martins, mem-
bro da comissão da SRC-OM para o
projecto da Aldeia do Médico, este em-
preendimento que, se tudo correr bem,
deverá estar concluído dentro de cin-
co anos, representa uma oportunida-
de para Coimbra se afirmar no pano-
rama nacional.
Vamos lançar o concurso global-
mente, mas a construção será faseada
num esquema compatível com a capa-
cidade financeira da Ordem e o con-
forto das pessoas, disse ainda José
Mário Martins.
Naquele espaço com vista para a ci-
dade e situado junto de acessos estra-
tégicos ao país, decorrem actualmente
trabalhos de limpeza do terreno, onde a
SRC-OM quer instalar também um Mu-
NOS ARREDORES DE COIMBRA
seu do Médico, um anfiteatro romano
para espectáculos ao ar livre, uma pis-
cina e uma zona de jogos mista.
A Secção Regional Centro da Or-
dem dos Médicos aposta ainda em
manter na paisagem uma zona de mata
mediterrânica, com a criação de ciclo-
vias, zonas de passeios pedonais e cir-
cuitos de manutenção, um dos exem-
plos do conjunto de preocupações am-
bientais que, segundo frisa José Ma-
nuel Silva, acompanha o projecto.
Fazer prevalecer o verde sobre o ci-
mento e constituir-se como um projec-
to de qualidade, com as últimas tecnolo-
gias, amigo do ambiente, virado para o
futuro e com possibilidade de crescimen-
to modular são algumas das premissas
orientadoras da Aldeia do Médico.
Com mais de dez hectares, o terre-
no mantém ainda a chaminé de uma
antiga cerâmica, que a Ordem tencio-
na preservar.
6 16 A 29 DE JULHO DE 2008
INTERNACIONAL
Fiodor Lukyanov *
*inrevista ARússianaPolíticaGlobal
Bush na recta final
Na cimeira G8, que decorreu de 7 a 9 de
Julho no Japão, George W. Bush chamou
ao Presidente russo «um homem inteligen-
te», sem mostrar, no entanto, qualquer inte-
resse em dialogar. De facto, o Presidente
dosEUAnãovaitrabalharoudiscutirideias
novas com Dmitri Medvedev. Bush já não
templanospolíticosparaofuturo.Falta-lhe
apenas ultimar as tarefas não acabados. Ou
seja, deixar ao seu sucessor os assuntos e
as obrigações nada fáceis de contornar.
OPresidentenorte-americanoestánuma
situação muito difícil. Os resultados da sua
política externa são unanimamente avalia-
doscomo«umrotundofracasso».DaAmé-
rica Latina ao Médio Oriente desabrochou
um forte anti-americanismo. Washington
mantém as relações bastante frias com a
maioria dos seus aliados. Na questão da
segurança energética, falharam todas as
tentativas norte-americanas de diminuir a
dependência de fornecedores externos.
Cresce sem parar a influência da China.
Com a Rússia não existe uma agenda de
acções comuns. E assim por diante.
Bush precisa desperadamente de ver
coroados de êxito pelo menos alguns dos
grandes projectos iniciados durante a sua
presidência. Entretanto, é impossível espe-
rarumprogresso,pormaispequenoqueseja,
no Iraque, no Irão, no conflito israelo-árabe
e no Afeganistão. Restam poucos projec-
tos: o Sistema de Defesa Antimíssil (SDA)
na Europa Central e a aproximação da
Ucrânia e da Geórgia da NATO.
Ao que tudo indica, até ao fim do ano
todos os esforços da administração norte-
americana serão concentrados nestas direc-
ções. Não há nada especial anti-russo nes-
ta corrida na recta final. O 43.º presidente
dos EUA simplesmente almeja um êxito na
política externa. Infelizmente, ao tentar re-
solver os seus próprios problemas, Bush
arrisca a deixar, para o seu sucessor, as re-
lações complicadas com Moscovo.
Qualquer que seja o desenlace das elei-
ções em Novembro, é difícil esperar que os
EUA ponham de lado o SDA. Mas o prazo
de realização do projecto, os ritmos de fi-
nanciamento e os locais de instalação deste
poderãosercorrigidosoualterados.Omes-
mo se pode dizer quanto ao futuro alarga-
mento da NATO.
Talvez por isso a Casa Branca tenha re-
dobrado ultimamente os seus esforços nes-
tas direcções.
Entretanto, à viagem, na passada sema-
na, de Condoleezza Rice a Praga, onde as-
sinou um acordo sobre a instalação de um
poderoso radar em terra checa, e à curta
visitaaTbilissi,ondeaaltadiplomatanorte-
americana se colocou claramente do lado
daGeórgia,emconflitocomaRússia,Mos-
covo reagiu com uma dureza pouco habitu-
al. O MNE russo prometeu uma resposta
não diplomática, mas sim «técnico-militar»
aos planos de defesa antimíssil norte-ame-
ricanos.
A actividade frenética da Casa Branca
pode ter mais uma explicação: as posições
muito enfraquecidas de Washington. Uma
prova disso é o regateio, travado agora pela
Polónia, em cujo território os EUA preten-
dem colocar os mísseis interceptores. Há
uns meses, Washington não imaginava en-
contrar uma tão dura resistência por parte
doseualiadomaispróximoelealnaEuropa
Central.
Pode-se referir mais um caso não me-
nos significativo. Apesar de toda a pressão
norte-americana, a Grécia não tem altera-
do a sua posição quanto ao nome «Mace-
dónia», e continua a vetar a entrada deste
país, já há muito anunciada, na NATO. A
questão continua em aberto.
À luz desta conjuntura desfavorável,
Washington prefere não adiar os assuntos
políticos resolvidos (no caso da República
Checa),jáqueaopiniãopúblicadopaís,di-
ferentemente da elite política, se manifesta
esmagadoramente contra a instalação do
radar norte-americano. Quaisquer que se-
jam as razões da pressa dos EUA, as con-
sequências desta corrida na recta final não
auguram nada de bom.
A Geórgia sempre vê no apoio de Wa-
shington um estímulo para acções cada vez
maisduras.Oque,porsuavez,“levaaágua
aos moinhos” dos que desejariam ver des-
tabilizada a situação naAbkhásia, na Ossé-
tia do Sul e na Rússia.
DopontodevistadeTbilissi,quantomais
próximo o patronato da NATO, maior a
segurança na região. A Rússia vê tudo ao
contrário:quantomaioréapossibilidadede
Tbilissi de receber as garantias da NATO,
mais actual será a questão de reconheci-
mento da independência da Abkhásia e da
Ossétia do Sul. Surge um círculo vicioso...
A situação agudizar-se-á nos próximos
meses. Em Dezembro, na cimeira dos mi-
nistros de negócios estrangeiros dos países
membrosdaAliança,Washingtondarátudo
por tudo para ver a Ucrânia e a Geórgia
incluídasnoplanodeacçãocomvistaàade-
são à NATO.
QuantoaoSDA,Moscovo,emprincípio,
nada poderá fazer para contrariar os planos
dos EUA. No entanto, os acontecimentos
na Europa Central influirão seriamente na
agenda «norte-americana» do novo Presi-
dente da Rússia.
Nos EUA já há muito que não há um
presidente cujo fim de mandato fosse tão
impacientemente esperado, tanto no país
como no mundo em geral. No Outono do
ano passado, numerosos políticos e países
receavam que Bush tentasse resolver o pro-
blema iraniano à força. Felizmente, esta
opção desvaneceu-se pouco a pouco.
A assinatura dos acordos sobre a instala-
ção do Sistema de Defesa Antimíssil dos
EUA na Europa Central e a decisão sobre
a aproximação dos países no espaço pós-
soviético da NATO não são tão devastado-
ras como seria, por exemplo, uma acção
militar contra o Irão. Mas qualquer desejo
deGeorgeW.Bushdeultimarastarefasnão
acabadas é prenhe de consequências pou-
co agradáveis.
Portugal com papel relevante
na “União para o Mediterrâneo”
O general Loureiro dos Santos, especia-
lista em defesa, considerou ontem “muito
positiva” a constituição da União para o
Mediterrâneo e sublinhou que Portugal é o
Estado “em melhores condições” para dia-
logar com os países do Norte de África.
“Portugal pode ser um ‘agente especial’
da União Europeia para a ligação com o
Norte de África”, declarou à agência Lusa
o especialista em defesa e estratégia.
O general comentava a formalização,
domingo, apadrinhada pela Presidência
Francesa da UE, da União para o Medi-
terrâneo, constituída por 43 Estados, que
se comprometem a construir “um cami-
nho para a paz, democracia, prosperidade
e condição humana, social e cultural”.
Na opinião de Loureiro dos Santos, Por-
tugal tem um “benefício directo” nesta
organização,”como Estado-membro da UE
e como Estado-membro com capacidades
especiaisparadialogarcomestespaíses,no-
meadamente os do Norte de África”.
“Portugal deve ser o Estado que está
em melhores condições de lidar, de dialo-
gar, com qualquer dos países do Norte de
África, porque não tem contenciosos com
estes Estados e nem sequer pode consti-
tuir uma ameaça (tipo neo-colonial). Isso
dá a Portugal uma grande vantagem neste
tipodeligaçãonaUEcomoNortedeÁfri-
ca”, afirmou o general.
Loureiro dos Santos destacou que a ini-
ciativa “tem grandes potencialidades para
estabilizar a região em torno do Atlântico,
especialmente o Norte de África e a Euro-
pa”, já que esta última “pode ser afectada
por ameaças, nomeadamente terroristas,
provenientes do Norte de África”.
Acrescentou que aUniãopode,aomes-
motempo,promoverodesenvolvimentodo
Norte de África, “que é, aliás, a única ma-
neira de pôr um travão sério às ameaças
terroristas”.
“Pode também favorecer economica-
mente a Europa, porque ela tem grandes
dependências em termos de combustíveis
fósseis e o Norte de África tem-nos (…), e,
por outro lado, qualquer das regiões (UE e
Norte de África) pode constituir um mer-
cado apetecível para a outra”, explicou,
LoureirodosSantos,desejandoqueainicia-
tivaapadrinhapelaPresidênciaFrancesada
UE tenha mais êxito que outras anteriores,
como o Processo de Barcelona.
Contudo, o general mostrou-se menos
esperançado de que a União para o Medi-
terrâneo (UPM), que no seu entender pode
não resultar no contexto do conflito israelo-
palestiniano.
Em sua opinião, “o que está em cima da
mesa do ponto de vista estratégico só pode-
rá ser resolvido se houver uma posição de-
cisiva, um esforço decisivo e uma vontade
decisiva dos Estados Unidos”.
“Só os EUA é que têm capacidade sufi-
ciente para influenciar as estratégias de Is-
rael. E, enquanto este não modificar algu-
mas das suas estratégias penso que será
difícilatingirumasituaçãodepaznoconflito
israelo-palestiniano”,afirmou.
7
16 A 29 DE JULHO DE 2008 NACIONAL
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O bastonário dos advogados, Marinho
Pinto, afirma em carta dirigida à classe que
quer “acabar com o descalabro” na Ordem,
nomeadamente com o “vergonhoso negó-
cio” da formação dentro da instituição.
“É altura de pôr alguma ordem na Or-
dem e acabar com o descalabro a que
estamos a assistir. Nos últimos anos o nú-
mero de advogados tem crescido à média
de 1.500 por ano. Na campanha eleitoral
de 2004 éramos cerca de 22 mil e hoje já
somosmaisde26miladvogadosemexer-
cício.Aformação é um bom negócio den-
tro da Ordem. Há muita gente que ganha
bom dinheiro com isso, mas apresenta-se
sempre como fazendo grandes sacrifíci-
os pela OA”, escreve António Marinho
Pinto na carta, datada de 14 deste mês, e
que já suscitou uma posição do Conselho
Superior da OA.
E acrescenta na carta, a que a Agência
Lusa teve acesso: “Essas pessoas não
olham a meios para manter essa situação,
incluindoosinsultoscontramim.Maseunão
vou esmorecer. O meu programa de refor-
mas é para cumprir e vou cumpri-lo. Res-
ponderei perante quem me elegeu e não
perante quem foi eleito para outros órgãos
e para desempenhar outras funções dentro
da Ordem dos Advogados (OA)”.
“Candidatei-meefuieleito”–prossegue
– “para fazer reformas. E uma dessas re-
formas é acabar com o vergonhoso negó-
cio da formação dentro da OA. Um negó-
cio que só serve umas (poucas) centenas
de dirigentes e formadores e no qual gas-
tam milhões de euros das quotizações dos
advogadosedas‘propinas’usuráriascobra-
das aos estagiários”.
“Só para inscrição no estágio são logo
exigidos600ou700eurosacadacandidato
e depois, durante o estágio, têm de pagar
mais uma infinidade de outras despesas,
desde conferências até à inscrição para
exames”, lê-se na carta.
“A formação tem sido o cancro da OA.
O actual modelo de formação surgiu unica-
mente com um objectivo: dinheiro. Surgiu
MARINHO PINTO QUER “ACABAR COM O DESCALABRO”
Bastonário contra o “vergonhoso negócio”
da formação na Ordem
quando,nosfinaisdosanos80,Portugalre-
cebeu centenas de milhões de contos para
formação profissional. Todos se atiraram a
esses fundos com mais ou menos cupidez”,
adianta o bastonário.
SegundoMarinhoPinto,“infelizmente,a
OAnãoficouatráselogoinstituiuaobriga-
ção de os advogados estagiários assistirem
a umas aulas criadas à pressa unicamente
paraqueaOrdemealgunsadvogados(prin-
cipalmente dirigentes da OA logo transfor-
mados em professores) pudessem receber
uma fatia dos fundos comunitários”.
“E a verdade dura e crua é que toda a
formação está entregue exclusivamente aos
Conselhos Distritais (da OA), sendo eles (e
quem com eles pactuou), obviamente, os
únicos responsáveis por este estado de coi-
sas, ou seja, pela massificação descontrola-
da da nossa profissão”, escreve também o
bastonário.
Depois de se referir a “guerrilha inter-
na”, Marinho Pinto alude também na sua
carta “ao facto de alguns presidentes de
ConselhosDistritaisteremjáfaladoemdes-
tituição do bastonário”.
“Trata-se de um método de acção psico-
lógica bem conhecido que só pode afectar
os medrosos ou os hesitantes.Amim não”,
garante Marinho Pinto, aconselhando os
advogados a começarem “a pensar se será
necessário destituir os titulares de alguns
órgãosdaOA,incluindo,obviamente,obas-
tonário, ou então quem o quer impedir de
levar a cabo o programa de reformas com
que se apresentou às eleições e que os ad-
vogados portugueses aprovaram com a
maiorvotaçãodesemprenahistóriadaOA”.
“Por mim não sou adepto desse método.
Os meus princípios são os do respeito pelas
regras da democracia e do respeito pelos
resultados das eleições democráticas. Pode
ser que não seja necessário recorrer a ou-
tros métodos que não as eleições para apu-
rar a vontade dos advogados portugueses;
mas também pode vir a ser necessário, e
então é bom que todos estejamos prepara-
dos para isso, até porque a democracia não
se esgota em eleições”, adverte.
Marinho Pinto avisa que não desistirá:
“Quero reafirmar que podem contar comi-
go para levar a cabo as reformas que são
urgentes na nossa Ordem para, nomeada-
mente, inverter o ciclo de massificação da
nossa profissão, dignificar a Advocacia e
fazer com que a Ordem esteja ao serviço
de todos os advogados e não apenas de al-
guns.Apesar de todas as adversidades, não
desistirei”.
O Conselho Superior da Ordem dosAd-
vogados(CSOA)decidiusolicitaraobasto-
náriodaclasse,AntónioMarinhoPinto,que
clarifique as denúncias que fez, visando o
funcionamento dos órgãos da instituição e
seus titulares.
“O Conselho Superior entende, em con-
formidade, e no exercício das suas compe-
tências,notificarosenhorbastonário,solici-
tando-lhe que, no âmbito dos seus deveres
estatutários,contribuindoparaoapuramen-
to da verdade, para o prestígio da Ordem
dos Advogados e da Justiça, concretize as
situações por si referidas para que não fi-
que sombra de impunidade ou suspeita de
calúnia”, lê-se na acta da reunião anteon-
tem realizada.
OsupremoórgãojurisdicionaldaOrdem
declaratertomado“conhecimentodasmen-
ções” queAntónio Marinho Pinto “vem fa-
zendo em declarações públicas e em comu-
nicado dirigido à classe, nomeadamente
aquelas que visam o funcionamento de ór-
gãos da Ordem e seus titulares”.
Em declarações aos jornalistas, no final
dareunião,opresidentedoConselhoSupe-
rior da Ordem dos Advogados, José Antó-
nioBarreiros,precisouquenãofoidadopra-
zo para o bastonário clarificar as suas de-
núncias.
Há uma semana, o bastonário dos advo-
gados acusou os dirigentes dos órgãos dis-
tritais da instituição que criticaram o seu
desempenho de estarem a fazer oposição
interna e de não saberem o significado da
democracia.
Num jantar-conferência sobre a “Crise
na Justiça”, em Leiria, Marinho Pinto afir-
mou que “muitos dos magistrados, princi-
palmente juízes, agem como se fossem di-
vindades” e “actuam como donos dos tri-
bunais”, locais em que os “cidadãos são
tratadoscomoservoseosadvogadoscomo
súbditos”.
Em Março, numa entrevista à SIC Notí-
cias, Marinho Pinto alegou que “há conspi-
rações, ataques pessoais” na instituição.
8 16 A 29 DE JULHO DE 2008
OPINIÃO
CULPA NOSSA
34anosdepois,anossademocraciacon-
tinuadébil,nãoporculpadospartidospolí-
ticos ou dos governantes, mas por culpa
de todos nós, ou seja, da chamada socie-
dadecivil.
É fácil atribuir culpas à oposição ou à
classe política por tudo o que de mal acon-
tece no país, mas a verdade é que sem
uma sociedade civil devidamente esclare-
cida e organizada há coisas que nunca se
endireitam.
Só num país em que o cidadão não tem
defactonenhumpoder,épossívelqueaEDP
diga aos clientes cumpridores que passam
a pagar a factura dos que não pagam. (...)
Francisco Sarsfield Cabral
Página Um (Rádio Renascença)
PATRIOTISMO
(...) Vejo que D. José Saraiva Mar-
tins conseguiu trocar a causa, aparente-
mente perdida, da canonização dos pas-
torinhos pela do beato Nuno de Santa
Maria, que a memória melhor guarda
como D. Nuno Álvares Pereira, o Con-
destável. Não faço a injúria de conside-
rar D. José o nosso agente no Vaticano,
mas louvo-lhe o patriotismo que não es-
morece. Creio que, com a troca, se ga-
nhou espessura histórica. E adivinho aqui
uma negociação dura, mas exemplar. É
pena não lhe darem o pelouro da ingrata
Irlanda. (...)
Nuno Brederode Santos (jurista)
DN 6/Julho/08
DEUS COMO MÃE
(...) Um livro sagrado, por exemplo, a
Bíblia,sótemvalidadeúltimaesóencontra
a sua verdade adequada enquanto todo e
na sua dinâmica global. A argumentação
com fragmentos pode por vezes tornar-se
inclusivamenteridícula.Assim,princípioher-
menêuticoessencialedecisivodasreligiões
e dos seus textos é o do sentido último da
religião, que é a libertação e salvação. O
Sagrado, Deus, referente último do religio-
so, apresenta-se como Mistério plenamen-
te libertador e salvador. É, pois, à luz desta
intenção última que as religiões e os seus
textos têm de ser lidos, concluindo-se que
nãotêmautoridadedivinaaquelestextosque,
de uma forma ou outra, se apresentam
como opressores e discriminatórios. Então,
não sendo normativos, deverão ser evita-
dos nas celebrações religiosas.
Éclaroqueahermenêuticafeministatem
de ser uma hermenêutica da suspeita. Não
é de suspeitar que religiões orientadas por
homens e textos que têm homens como
autores maltratem as mulheres, lhes sejam
pouco favoráveis e as tornem invisíveis, as
considerem inferiores e as coloquem em
lugares subordinados?
(...)Ateologia feminista mostra-se espe-
cialmente crítica com a imagem de Deus
“Pai”,portratar-sedeumaimagemqueleva
“directamente à obediência e à submissão,
de que a religião autoritária abusa”. Quer
recuperar imagens que têm a ver com a
vida,aamizade,oamor,aclemência,acom-
paixão, a compreensão, a generosidade, a
ternura,aconfiança,operdão,asolicitude...
E o que é que pode impedir os crentes de se
dirigirem a Deus como Mãe?
Anselmo Borges
(padre e professor de Filosofia)
DN 6/Julho/08
A “POLÍTICA DO BETÃO”
Cerca de 14 anos depois de o PS de
António Guterres ter combatido a chamada
«políticadobetão»ea«insensibilidadesoci-
al» do Governo do PSD, chefiado por Ca-
vaco Silva, proclamando «Primeiro as Pes-
soas», uma das palavras de ordem que o
faria chegar ao Governo, Manuela Ferreira
Leite, a nova presidente do PSD, então mi-
nistra de Cavaco, inicia a sua liderança fa-
zendo,noseuestilopróprio,propostaseme-
lhanteeomesmotipodecríticaaoGoverno
do PS, chefiado por José Sócrates, ex-mi-
nistrodeGuterres...Éassimenãoénovo:a
política à portuguesa dá muitas voltas para,
no final das contas, em geral, acabar nos
mesmos sítios, com os mesmos partidos e
as mesmas pessoas...
De facto, o que sobressaiu nas interven-
ções de Manuela Ferreira Leite (MFL), no
Congresso do PSD, em matéria programá-
tica,foiapropostadeprivilegiaro«social»,
oapoioaosmaisnecessitados,enãoasgran-
des obras públicas. (...)
José Carlos de Vasconcelos (jornalista)
Visão
SABOR A FOZ CÔA
A história das gravuras de Foz Côa e da
futurabarragemdoSaboréumaliçãoexem-
plar dos malefícios da demagogia, servida
na política. Guterres tinha acabado de che-
garaprimeiro-ministroe,dosdisponíveisdos
Estados Gerais, foi buscar para ministro da
CulturaManuelMariaCarrilho(que,depois
e quando a nave socialista começou a me-
ter água, foi o primeiro a saltar fora e, des-
mentindo a máxima de Guterres de que
‘Roma não paga a traidores’, acaba por ser
compensado com o melhor tacho de todo o
Estado português - o de embaixador na
UNESCO). Juntos à época, Guterres e
Carrilho resolveram inaugurar o mandato
com uma decisão grandiosa: cancelava-se
a barragem de Foz Côa, já em construção,
e a benefício da preservação de uns taca-
nhosrabiscosnumaspedras,quealguns‘sá-
bios’ e alguns oportunistas decretaram ser
gravuras paleolíticas.(...)
Miguel Sousa Tavares (jornalista)
Expresso 3/Julho/08
O GARROTE
O paradoxo é real e explosivo. Ao mes-
mo tempo que se anuncia a investigação
como uma das apostas mais centrais da le-
gislatura e se define a ciência como uma
das alavancas mais decisivas da inovação e
do desenvolvimento de que o País necessi-
ta, descobre-se que as universidades estão
àbeiradosufoco,afuncionaremdeprimen-
tes condições terceiro-mundistas. O que,
sendograveemsi,maisgravesetornadado
o contraste entre este retrato e o espírito de
abastança com que se impulsionaram vári-
asparceriascomuniversidadesamericanas.
Temsidoditoqueoorçamentode2009será
finalmente o do consistente reforço do sec-
tor – mas irá a tempo?
Manuel Maria Carrilho
DN5/Julho/08
A CRISE
Portugal está em crise desde 2001. Ao
longo dos últimos sete anos, a economia
portuguesa esteve a divergir em relação à
média europeia e foi ultrapassada por vári-
os países da Europa do Leste. A crise é es-
trutural. É uma consequência inevitável do
crescimentodadespesapúblicaaolongodos
anos 90. Cavaco Silva e António Guterres
construíramumsectorpúblicocaro,pesado
e ineficiente. O País está agora a sofrer as
consequências.
O sector público tem de ser sustentado
com os impostos cobrados ao sector priva-
do. Este facto não causaria grandes proble-
mas se o sector público fosse eficiente e
produtivo. Não é. O dinheiro dos impostos
desperdiçado pelo sector público seria mais
bem aproveitado se fosse reinvestido pelo
sector privado. Portugal precisa de um sec-
torpúblicomaispequenoemaisprodutivoe
de uma carga fiscal sobre o sector privado
mais baixa. (...)
João Miranda (investigador)
DN5/Julho/08
TERRAMOTO
Um terramoto está a assolar a Europa.
Não é detectável nos sismógrafos conven-
cionais porque tem um tempo de desenvol-
vimento atípico. Não ocorre em segundos
se não em anos ou talvez décadas. Consis-
te na convulsão social e política que vai de-
correr da destruição progressiva do chama-
do modelo social europeu uma forma de
capitalismo muito diferente da que domina
os EUA assente na combinação virtuosa
entreelevadosníveisdeprodutividadeeele-
vados níveis de protecção social, entre uma
burguesia comedidamente rica e uma clas-
se média comedidamente média ou reme-
diada; na eficácia de serviços públicos uni-
versais; na consagração de um direito ao
trabalho que, por reconhecer a vulnerabili-
dadedotrabalhadorindividualfrenteaopa-
trão, confere níveis de protecção de direitos
superioresaosquesãotípicosnoDireitoCivil;
no acolhimento de emigrantes baseado no
reconhecimento da sua contribuição para o
desenvolvimento europeu, e das suas aspi-
rações à plena cidadania com respeito pe-
las diferenças culturais.
A destruição deste modelo é crescente-
mente comandada pelas instituições da
União Europeia e pelas orientações da
OCDE. (...)
Boaventura Sousa Santos (sociólogo)
Visão
SER RETRÓGRADA
EmentrevistaàTVI,entreproclamações
dogénero“nemmaisumaobrapúblicapara
Portugal”, e “ainda não sei bem por onde
vou mas sei que não vou por onde vai o
Governováogovernoporondefor”,anova
líder do PSD assumiu não ser “suficiente-
mente retrógrada para ser contra as rela-
ções homossexuais”. Porém, para o caso
de alguém a tomar por modernaça (coisa,
que, depreende-se, atentará muito contra a
suaparticularideiadecredibilidade)Manu-
ela Ferreira Leite certificou que, afinal, de-
fende que estas relações devem ser discri-
minadas: “Pronuncio-me, sim, sobre o ten-
tar atribuir o mesmo estatuto àquilo que é
uma relação de duas pessoas do mesmo
sexo igualmente ao estatuto de pessoas de
sexo diferente (...) Admito que esteja a fa-
zer uma discriminação porque é uma situa-
ção que não é igual.Asociedade está orga-
nizada e tem determinado tipo de privilégi-
os, tem determinado tipo de regalias e de
medidas fiscais no sentido de promover a
família.”
Ferreira Leite é não só livre de ser
retrógrada e de achar bem que os ho-
mossexuais sejam discriminados como é
muito bem-vinda a clarificação (uma que
seja) da sua posição sobre esta matéria.
É até livre de achar que o casamento só
serve para procriar. Pena que não apro-
veite para propor que o Código Civil deve
levar uma grande volta no sentido de proi-
bir terminantemente o casamento a mu-
lheres pós-menopausa, a homens com
baixa contagem de espermatozóides e de
um modo geral a todos os que não assi-
nem uma declaração vinculativa da sua
determinação de se multiplicarem. Por
outro lado, ao postular que “a família tem
por objectivo a procriação”, eximiu-se de
explicar por que carga de água confun-
de família e casamento. Que chamará
MFL a casamentos entre pessoas de sexo
diferente dos quais não resultam filhos e
como qualifica as uniões de facto (que
numa lei de 2001 equipararam casais he-
tero e homossexuais): se as pessoas que
vivem em união de facto não são uma
família, serão o quê? (...)
Fernanda Câncio (jornalista)
DN4/Julho/08
MARIANO GAGO
(...) Eu dormia bem com um Governo
quemedeixasseirparafériaseaopaísconfi-
antes em quem estava ao leme. Para não
falar em ministros desaparecidos. Eu acho
que o ministro Mariano Gago, metade do
país não faz ideia se é ministro ou não. Nós
temostudonesteGovernomenosumaequi-
pa forte, coesa, que nos dê confiança para
as dificuldades que aí vêm. (...)
Nuno Morais Sarmento
Entrevista à Rádio Renascença
9
16 A 29 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO
ABANDONO
(...) O abandono de recém-nascidos é
antigo como o mundo, existiu em todas as
classes sociais, consta de muitas das lendas
e contos que passaram de geração em ge-
ração.Heróisdamitologiaefigurasbíblicas
foram mesmo despojados de qualquer ma-
ternidade como se assim assumissem mais
plenamenteasuagrandeza:RómuloeRemo
alimentados por uma loba, Moisés deixado
numa cesta deslizando pelas águas do Nilo
até às mãos compassivas da irmã do Faraó.
Ao longo de séculos, gerações de mulheres
abandonaram os filhos e em muitos casos
esse foi, ainda, um acto de amor.
Ostemposmodernoscriaramailusãode
que tais factos, agora apelidados de “fenó-
menos”, eram residuais, que as causas que
os provocavam iam desaparecer. Não foi
assim. A Roda acabou mas foi substituída
por uma pirâmide burocrática sem coração
e sem rosto. As mãos que, após o toque da
sineta, faziam girar a roda e acolhiam a cri-
ança exposta foram substituídas por um
Estadoque,comoseviuemPortugal,deixa
impunemente que as crianças sejam usa-
das e abusadas.Acondição humana é imu-
táveleasuapseudo-sofisticaçãoparecenão
ter resultado. (...)
Maria José Nogueira Pinto (jurista)
DN3/Julho/08
TRATADO DE LISBOA
Fui, como se sabe, partidário do Tratado
de Lisboa. Não pela sua qualidade, que não
é boa. É um Tratado confuso, que remete
para os tratados anteriores e que não é cla-
ro nem simplificado, como queria Sarkozy.
Pelocontrário,écomplexo,longoedifícilde
compreender.
Porque fui, então, a seu favor? Porque a
União Europeia, depois do não francês e
dinamarquês ficou paralisada e sem norte.
Em consequência, cresceu o eurocepticis-
mo e os cidadãos europeus cada vez se dis-
tanciarammaisdeBruxelas.Eraprecisoum
novo impulso, dar ânimo e confiança à Eu-
ropa e a aprovação do Tratado de Lisboa
servia para isso.
(...) A história repetiu-se. Agora com o
não da Irlanda, ao referendo de ratificação,
com53,4%do«não»contra46,6%do«sim»,
sendo a taxa de participação de 53,13 por
cento. Foi um balde de água fria sobre os
europeístasdos27paísesmembrosdaUnião.
Alguns proclamaram imediatamente (por-
ventura com júbilo interior): «O Tratado de
Lisboa, morreu.» Outros, como uma euro-
deputada,forammaislonge(cito):«Foiuma
derrota do Governo PS/Sócrates» e o re-
sultado «contribui para travar um caminho
muito perigoso das grandes potências euro-
peias».
Enganou-se: nem uma coisa nem outra.
Não foi uma derrota para o PS/Sócrates;
foi uma derrota para a União Europeia, lan-
çando-anumnovoimbróglio,nummomen-
to internacional de crise gravíssima. Imbró-
glio que não aproveita a ninguém, nem so-
bretudo aos que se comprazem em fazer a
política (perigosíssima) do «quanto pior,
melhor». (...)
Mário Soares
Visão
SIGNIFICATIVO
(...) Num dia destes liguei a televisão ao
serão e deparei-me com o canal público, a
RTP1, a falar de como fazer fois gras em
casa de um notável embaixador (que apar-
teceu com um cão ao colo). Passei para a
SIC e viam-se jornalistas vestidas de canto-
ras do grupo Abba, com cabeleiras às co-
res, cantando Waterloo. A TVI passava a
novela do costume e a RTP2 a Anatomia
de Grey, uma série para maiores de 26 no
canal da cultrura portuguesa. (...)
Pedro Santana Lopes
Sol5/Julho/08
(...) José Sócrates que se cuide, pois
pode deixar de ter sossego mesmo onde
não esperava. Se tudo isto não for, como
não é, um acaso, então estamos, objecti-
vamente, perante o regresso de Aníbal
Cavaco Silva ao tabuleiro do xadrez po-
lítico. Com Manuela Ferreira Leite como
“rainha” e “bispos” e “torres” já em
movimento. Não é nenhuma conspira-
ção. É o sistema político a entrar numa
nova fase.
Pedro Santana Lopes
Sol12/Julho/08
O PREÇO DAS MISSAS
Aumentam os transportes e aumentam
os preços das missas. Entre as minudênci-
as materiais e a infinitude do espírito já não
há as diferenças que implicavam um irre-
dutível antagonismo.Avida quotidiana, no
“socialismomoderno”deJoséSócrates,está
insuportável.Ajudava,paraalguns,oencon-
tro com Deus, na liturgia missal.Agora, até
essealíviodosaflitoscobraaumento.Sabe-
mos que não somos feitos para compreen-
der muitas coisas, e que a política é a disci-
plina das ambiguidades. No entanto, enten-
demosmenosodomíniodovilmetalnoter-
ritório do religioso. O preço das missas vai
corresponder a que tabela? A uma medida
semelhanteàdostransportescolectivos?Por
tempo, equivalendo este à quilometragem?
Em quanto vai importar uma modesta no-
vena? E um piedoso rito de defuntos?
(...) Em todos os conflitos contemporâ-
neos, a Igreja tem desempenhado um pa-
pel relevante. Para o bem e para o mal.
Muitas das suas evasivas, numerosos dos
seus silêncios atingem, historicamente, os
domínios do escândalo. O papa do Hitler,
Pio XII, que abençoou as Divisões Panzer,
e estendeu o braço numa saudação aber-
rante, não é, somente, a simbólica de uma
época:reflecteumaintençãoeassinalauma
ideologia.
A evidência é que a dimensão histórica
da cruz permitiu toda a espécie de abusos,
inclusive o da superstição. As missas são
agora mais caras.Adecisão, creio que vati-
cana, obedece a uma exigência dos tem-
pos, que transforma os arautos e servidores
do Reino em deploráveis mercenários.
“AglóriadeDeuséopobrevivo.”Afra-
se de Ireneu deixa de fazer sentido. E o
aumento do custo das missas, por módico
que seja, sugere que a plenitude do amor na
fé é gravemente amachucada. Pediam, os
crentes, a salvação do mundo e a purifica-
ção das pessoais almas. Para isso, oravam,
naapoquentaçãodequemacreditaqueuma
boa prece é sempre a derrota dos males
concretos. Entre os quais estes, rudemente
impostos pela política de Sócrates. O am-
paro, presumidamente oferecido, na grata
solidariedade de quem vive em plena co-
munhão de afectos, dispõe, agora, de uma
tabela de preços. Deus está no mercado.
Baptista-Bastos (escritor e jornalista)
DN2/Julho/08
ZEZÉ CAMARINHA EM LIVRO
Acaba de ser publicado, com a prestigia-
da chancela da D. Quixote, um texto que
poderá vir a tornar-se histórico no nosso
panorama literário.
Intitula-se Zezé Camarinha, o último
macho man português, e não tem, mas
devia ter, o alto patrocínio da ILGA, por-
quanto opera o pequeno milagre de fazer a
apologiadahomossexualidadedeummodo
que é comovente sem ser panfletário. Ca-
marinha, é curioso notá-lo, não seria capaz
de panfletarismo, seja porque a sua perso-
nalidade é do tipo dócil, seja porque desco-
nhece o significado da palavra «panfletá-
rio» – tal como de qualquer palavra com
mais de três sílabas, e a esmagadora maio-
ria das que têm mais que uma.
O primeiro aspecto a salientar é que a
obraéinclassificável.Usoaqui«inclassifi-
cável» não no sentido de ser difícil de ca-
talogaremalgumdosgénerosliteráriosha-
bituais(conto,romance,biografia),massim
no sentido que lhe dá a frase «Eh pá, ele
assaltou a velhota? Esse tipo é inclassifi-
cável.» Em segundo lugar, importa referir
que o próprio autor não se enquadra no
perfiltradicionalde«autor»,namedidaem
que, ao contrário da maioria dos autores,
Camarinha não é ainda um homo sapiens
sapiens, nem aparenta poder vir a sê-lo,
mesmo na hipótese académica de viver até
aos 400 anos. (...)
Ricardo Araújo Pereira (humorista)
Visão
ACORDO ORTOGRÁFICO
A CPLP vai reunir-se em Lisboa em 20
e 21 de Julho. É possível que oAcordo Or-
tográfico volte sorrateiramente a fazer par-
te da agenda.
Pelo sim, pelo não, e para que não haja
falhas de cabal esclarecimento, os signatá-
rios da petição manifesto em defesa da
língua portuguesa estão a entregar nas
embaixadas dos países membros da CPLP
um dossier com todos os pareceres negati-
vos sobre o AO, que, de resto, se encon-
tramarquivadosedisponíveisnoseublogue
oficial
(emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com).
Apetição,quejárondaas80000assina-
turas, deverá ultrapassar as 100 000 dentro
de três semanas. Quando for discutida na
AssembleiadaRepública,terámuitasmais.
Mas, para já, será um firme e oportuno en-
quadramento da sociedade civil para a reu-
nião da CPLP. (...)
Vasco Graça Moura (escritor)
DN2/Julho/08
INVEJAR OS POETAS
Pensava que uma das poucas qualida-
des que tinha era a ausência de inveja. Não
é verdade. Invejo os poetas. O que eu que-
ria mesmo, o que mais queria neste mundo,
o que mais desejava mas não tenho talento,
era ser poeta.Até aos dezanove, vinte anos,
só escrevi poemas. Descobri que eram
maus, que não era capaz, que me faltava o
dom. Foi um achado tremendo para mim, a
certeza que a minha vida perdera o sentido.
E então, aflito, desesperado, a medo, come-
cei a tentar outra coisa, porque não me con-
cebia sem uma caneta na mão.
Nunca fiz contos, nem diários, nem tea-
tro,nemensaiosecontarlériasnãomeinte-
ressava. Interessava-me transferir o mun-
do inteiro para o interior das capas de um
livro.Echeiodehesitações,recuos,influên-
cias,acertezaqueaindanãoeraaquilo,ain-
da não era aquilo, dei início a este fadário.
(...)
António Lobo Antunes (escritor)
Visão
“O ESTADO DA NAÇÃO”
(...) Em 1975 a Assembleia ainda
sabia a gramática e usava com algu-
ma eficiência a língua portuguesa.
Hoje papagueia sem vergonha os lu-
gares-comuns da propaganda partidá-
ria ou perora num calão administrati-
vo e “técnico”, que se destina habili-
dosamente a esconder a verdade ou o
vácuo. A tradição oratória, até a sala-
zarista, desapareceu. Não há memó-
ria de um discurso organizado e claro,
que tenha tido sobre a opinião pública
um efeito profundo e duradouro. A
Assembleia é um clueb privado que,
de quando em quando, a televisão
mostra a um país mais do que indife-
rente.
O “debate” sobre o “Estado da Na-
ção” da última quinta-feira exibiu in-
voluntariamente o país como ele é: a
indigência intelectual, a mesquinhez de
propósito, a irresponsabilidade políti-
ca. Daquela gente não se pode espe-
rar nada.(...)
Vasco Pulido Valente
Público 11/Julho/08
Existe uma razão pela qual ainda não
é possível eleger uma mulher para a Pre-
sidência dos Estados Unidos: a guerra.
As pessoas não confiam numa mulher
para dirigir um país em guerra, e Bush
fez um bom trabalho a convencer as pes-
soas de que a América está em guerra
desde o 11 de Setembro. Biologicamen-
te, a guerra é assunto de homens, assun-
to de virilidade e testosterona. A guerra,
como a caça, pode ser praticada por
mulheres mas não nos interessa muito
matar bichos ou pessoas. A maternidade
e a guerra são incompatíveis. E as gran-
des vítimas das guerras são as mulheres
e as crianças. (...)
Clara Ferreira Alves
Única (Expresso) 12/Julho/08
A GUERRA E AS MULHERES
10 16 A 29 DE JULHO DE 2008
CRÓNICA
A OUTRA FACE
DO ESPELHO
José Henrique Dias*
hdias@net.sapo.pt
LOUSÃ - Nelson Fernandes
arte em café
* Professor universitário
Nunca dispensava uma passagem, ao cair da tar-
de, na enfermaria 2 do Serviço de Cirurgia. Tinha
apenas três camas. Mantinha, como de resto todo
o hospital, a limpa dignidade do tempo em que fora
privado. Talvez essa a principal razão de ter senti-
do os ventos da fortuna quando ali iniciei a minha
formação. Passados todos estes anos, as centenas
de intervenções, a respiração liberta dos casos re-
solvidos e o que fica marcado, a despeito dos es-
forços, pelos insucessos, olho para o serviço que
dirijo e mobilizo-me nos colegas que ajudei a for-
mar ao longo destes já vinte e cinco anos.
Falava da enfermaria dois. Por causa daquele se-
nhor que de algum modo me fascinou desde a pri-
meira consulta. A ruralidade emergia no vocabulá-
rio, mas um toque aristocratizante transparecia em
cada gesto, na dignidade da apresentação, na sub-
tileza da ironia no quadro da própria doença.
Viera de longe, lá muito do noroeste transmonta-
no, pela mão de um familiar ligado a um colega.
Quando lhe explicaram como era a colonoscopia,
atropelou o medo com uns gracejos sobre trajec-
tos. Quando depois ouviu “tem uma ferida má”, pri-
meiro sorriu, depois ficou vagamente tenso, por fim
perguntou e então?, como quem dizia, o que posso
esperar de vós ou o que me espera.
Marcou-se a cirurgia para um tempo breve. Tudo
correu como era esperado. Teve de ficar colosto-
mizado. Aceitou com dignidade o saco e tudo o que
lhe dissemos. Quis saber dos incómodos que podia
provocar aos outros. Ficou aparentemente tranqui-
lo. O pós-operatório decorreu com normalidade.
O que me levava até à enfermaria a despropósi-
to sobrevinha da vontade de viver que ele me de-
volvia. Sempre empenhado em manter os outros
bem dispostos. O sorriso e a palavra certa em cada
momento. Aos oitenta e quatro anos, o senhor Quin-
zinho tinha sempre uma história para todas as situ-
ações. De menino Quinzinho, lá na aldeia e na casa
grande, passou a senhor Quinzinho. Era assim co-
nhecido sete léguas em redor do ninho paterno.
Único varão da família, entre cinco irmãs, ocupou
a lugar-tenência da gestão agrícola da casa. Não ia
longe. Dava para os gastos e pouco mais, apesar
da quinta, das courelas e das olgas, além de montes
e pastos. Dispensava-lhe o tempo que podia. Orde-
nava trabalhos, mas parava os trabalhadores. Pa-
gava para lhes contar histórias, para desespero da
família. Toda a gente gostava de trabalhar para ele.
Pudera. Erguiam as costas, bebiam e riam, tinham
a jeira certa. De boas contas não havia como ele.
Tudo até ao tostão.
Melhor que a gestão da casa lhe ia a espingarda
de dois canos e o treino da cadela Lira. Aberta a
época de caça, voltava com o cinto recheado e ain-
da dava umas peças aos pexotes. Não falhava igual-
mente em artimanhas de cana e anzol ao longo do
ano. No Tâmega barbos e bogas, no Beça trutas de
água gelada. As trutas dos rios do planalto do Bar-
roso, fritas com taliscas de presunto dentro, eram
de se lhes tirar o chapéu.
Caçava nos montes, pescava nos rios e filosofava
a compasso. Só precisava de quem o ouvisse. Casou
já madurote. Na aldeia havia rapazio que lhe dava
ares, barrigadas de moçoilas que serviam a família,
Filosofemas…
o que não retraiu a senhora que levou ao altar.
Quando falava da mulher, então já com oitenta bem
medidos, e uma cara de fazer inveja, como sublinha-
va, reiterava outro brilho na íris azulada e lambia o
sorriso. Fora a professora da terra durante uma eter-
nidade. Palmatoada de criar bicho, mas distinções
nos exames da quarta. Tiveram filhos que queima-
ram fitas no Porto e em Coimbra. Falava da mulher
e deles com orgulho e brincava com a memória.
É uma grande mulher, dizia. Com oitenta e três
anos faz a cama e…
parava para medir o efeito e acrescentava brejeiro,
…ainda me ajuda a desfazê-la.
O senhor Petinga, da cama do lado, com anos de
mar e lota de Cascais, desfazia-se a rir. Ouça esta,
senhor doutor, ouça esta, agitava-se mal me via pas-
sar a porta. Vinha historieta atrás de historieta. As-
sim engoliam as tardes e as horas de sono, para
esquecerem as amarguras da situação hospitalar.
O senhor Petinga tinha sido amputado. A perna
esquerda fora quase toda, que os compromissos cir-
culatórios não deixaram alternativa. Conformara-
se com a diabetes e acostumara-se à prótese. Es-
tava de novo, passados uns meses, por causa de
uns dedos do outro pé. As coisas complicavam-se
em surdina.
Ia rindo com o senhor Quinzinho, apresentava-o
festivamente a quem ia de visita e aos médicos
quando passávamos a rotina das verificações, mas
tinha um problema metafísico.
Volta que não volta, falava da eternidade. Para
ele, com maiúscula, é evidente. Eternidade. Deba-
tia-se com o Juízo Final e acreditava na ressurrei-
ção da carne. Não eram muitas as dificuldades.
Estava tudo no catecismo, ouvira sabe-se lá quan-
tas vezes nas homilias dominicais. No tempo em
que fora de missas.
Com maior ou menos claro arrependimento, sen-
tia-se no caminho da salvação. Se a doença fora
castigo, as contas estavam saldadas com a moeda
da perna perdida. Mas só até onde podia ir a sua
compreensão dos mistérios da vida. As inquieta-
ções eram muitas, e o senhor Quinzinho, que tivera
um tio bispo, recordava-lhe que o dedo de Deus
apontava os ímpios e também os que se afastaram
do caminho da salvação. Ria, mas exorcizava os
seus medos enquanto eclodiam ovos de pecados
alheios.
Não seria bem o caso do Petinga, pesassem em-
bora uns negócios de saias na meia idade. Os medos
que passara nas traineiras e um naufrágio em que
perdera três companheiros, noite de frio e de trevas
a boiar até que foi salvo, com a alma já encomenda-
da a Deus, de mistura com os choros e gritos do
mulherio de negro na praia, redimiam todas as faltas
perante os desígnios do Senhor. Eram passaporte
digno para ir desta para melhor, como dizia. Porquê
melhor não sabia, ir desta é que não tinha alternati-
va. Certificou-lhe o da cama do lado, quando a famí-
lia o quis levar para casa.
Mas não era esse o magno problema. Um dia, abei-
rou-se de mim à boca pequena e segredou-me: Ó
senhor doutor, morrer já não me assusta assim tanto,
que eu sei que toca a todos, até ao senhor doutor
que é um santo. Mas quando for do Juízo Final, quando
for da ressurreição da carne, como é que vão en-
contrar a minha perna? O senhor doutor por acaso
sabe para onde mandaram a minha perna?
Ainda hoje tenho a resposta atravessada na gar-
ganta. Fiquei para li a tartamudear uns tantos dis-
parates que de nada serviram ao senhor Petinga
nem à ressurreição.
Os problemas filosóficos têm a dimensão de
quem os sente. Já Torga dizia, que filosofia por fi-
losofia, é tão importante o problema dos universais
(amplo, complexo e por resolver, pesem Boécio,
Abelardo ou Ockham) como saber se chove ou não
chove no dia das colheitas.
Como diabo se vai saber da perna do senhor Pe-
tinga, pensei, quando me vieram dizer que tinha mor-
rido naquela noite.
“Arch Leg” (escultura de Henry Moore nos Jardins Kew, em Richmond, arredores de Londres)
11
16 A 29 DE JULHO DE 2008
FESTAS DE COIMBRA
CELEBRAÇÕES DA CIDADE E DA RAINHA SANTA ISABEL
Coimbra saiu à rua para saudar a Padroeira
Feira Popular no Choupalinho até domingo
A Feira Popular de Coimbra tem vindo a alcançar
assinalável êxito, com milhares de pessoas a procu-
rarem o amplo recinto do Choupalinho, na margem
esquerda do Mondego, para ali passarem bons mo-
mentos de diversão de forma muito acessível.
Para além de um bom programa de animação mu-
sical, com grupos a actuar ao vivo, a Feira Popular
está recheada das tradicionais diversões que fazem
as delícias de miúdos e graúdos.
Para além disso, proporciona também uma boa
oferta gastronómica, nomeadamente de doces tra-
dicionais (como as célebres arrufadas de Coimbra),
mas também as sardinhas, o frango, as febras de
porco, o bacalhau, tudo assado ali mesmo na hora,
à vista dos clientes, para saborosas refeições.
Por tudo isto, uma visita à Feira Popular é obri-
gatória para quem ainda a não visitou - já que os
que por lá passaram certamente terão desejo de
voltar, aproveitando os tempos livres para agradá-
veis momentos de convívio familiar, ainda por cima
de forma muito barata - o que é relevante nesta
época de dificuldades.
E exactamente porque tristezas não pagam dívi-
das, importa aproveitar esta oportunidade para esque-
cer os problemas e relaxar o corpo e o espírito.
De parabéns está o Presidente da Junta de Fregue-
sia de Santa Clara, José Simão, e a sua equipa, que
uma vez mais conseguiram, com parcos apoios, pôr de
pé um certame repleto de animação.
A visitar até à noite do próximo domingo
Aspecto nocturno da Feira e imagem da inauguração, com José Simão a receber o Presidente da Câmara e o Vereador da Cultura, que saboreiam arrufadas de Coimbra
(continua na página 13)
Como é tradicional, de dois em dois
anos (nos anos pares), a Rainha San-
ta Isabel desce à cidade que a esco-
lheu como Padroeira. A imagem vem
em procissão, na quinta-feira à noite,
até à Igreja da Graça, e de lá regres-
sa no domingo à tarde, de volta ao
Convento de Santa Clara, onde Isa-
bel está sepultada.
Este ano esse hábito de devoção vol-
tou a cumprir-se, com um mar de gente
a estender-se pelas ruas por onde as pro-
cissões passaram.
São da procissão do passado domingo
as imagens desta página e as que publi-
camos na página 13 (todas da autoria de
Dinis ManuelAlves), que dispensam co-
mentários.
12 16 A 29 DE JULHO DE 2008
PUBLICIDADE
13
16 A 29 DE JULHO DE 2008
FESTAS DE COIMBRA
14 16 A 29 DE JULHO DE 2008
CULTURA
João Paulo
Simões
FILATELICAMENTE
Edição Comemorativa do Bicentenário
do Desembarque de Wellington na Figueira da Foz
Um pequeno parêntesis na História do
Selo Português, para falar de uma emissão
comemorativa do Desembarque das tropas
inglesas no Cabedelo (Figueira da Foz).
Portugal encontrava-se invadido desde
Dezembro de 1807 pelas tropas de Napo-
leão. O povo estava à míngua, ameaçado e
ultrajado. Por onde passavam os France-
ses, era só rasto de destruição, incêndios,
pilhagens. Tinham o país a seu bel-prazer.
Portugal passou a ser uma colónia do Bra-
sil, pois a Corte mudara-se para Terras de
Vera Cruz ficando cinco pessoas a gover-
nar o país. Junot, encarregou-se de as des-
tituir e tomar ele o governo de Portugal.
A Guerra Peninsular veio pôr termo à
prosperidade do século XVIII. Declinaram
asreceitas,umavezqueocomérciointerno
e externo esteve paralisado.
Aquando desta primeira invasão fran-
cesa, o Reitor da Universidade de Coim-
bra, Manuel Pais de Aragão Trigoso, ao
tomar conhecimento de que era indispen-
sável a tomada do Forte de Santa Catari-
na, na Foz do Mondego, à entrada da bar-
ra da Figueira – depósito de material de
guerra de relativa importância e ponto es-
tratégicoconsiderávelparaestabelecimen-
to de comunicações com a esquadra britâ-
nica que se avizinhava –, encarregou Ber-
nardoAntónio Zagalo, sargento de artilha-
ria e estudante da Universidade de Coim-
bra, dessa patriótica missão.
Académico Zagalo, como também era
conhecido,formaemCoimbraumbatalhão
com quarenta voluntários, vinte cinco dos
quais estudantes, que, sob o seu comando,
marcham no dia 25 de Junho de 1808 rumo
à Figueira da Foz, com a missão de atacar
de surpresa os franceses que ocupavam a
então vila e o Forte de Santa Catarina. Pelo
caminho,popularesdeTentúgal,Carapinhei-
ra e outras terras do Baixo Mondego, fo-
ram engrossando o batalhão. Em Monte-
mor-o-Velho, o pequeno batalhão contava
já com três mil populares armados de pi-
ques, foices e lanças. Ouviam-se sinos en-
tre clamorosas ovações. Ao romper da al-
vorada, este engrossado batalhão chega à
FigueiradaFoz.
Zagalo mandou atacar a vila por
duas frentes.
Os soldados de Junot, que passeavam
pela vila, foram tomados de surpresa e fo-
ramconstituídosprisioneiros.
Cercou-se o Forte. O plano de Zagalo
consistia em fazer render os franceses pela
fome,umavezquesesabiaquetinhampou-
cos víveres. Dois dias depois, a 27 de Ju-
nho, rendiam-se, e a bandeira francesa foi
substituída pela portuguesa.
Estão assim criadas as condições para o
desembarque das tropas de Wellington no
Cabedelo,comumcontingentedetrezemil
homens juntando-se no mesmo local aos
portugueses,paraassimpôrtermoàprimeira
invasão francesa, derrotando Junot na ba-
talha do Vimieiro, em 17 deAgosto.
Pelo que lemos na imprensa figueirense,
o Senhor Coronel Américo Henriques deu
uma verdadeira lição de História no Salão
Nobre da Câmara Municipal.
A dada altura da sua “aula”, refere que
“tudo,tudoopovosofreu.Edepois,durante
a Revolução Liberal? O povo não acredita-
va no Liberalismo, porque confundia o Li-
beralismo com as Invasões Francesas! Os
ideais da Liberdade, Igualdade e Fraterni-
dade, que lhe queriam mostrar, eram os
mesmos ideais que os franceses traziam na
ponta das baionetas. E talvez por isso mes-
mo o povo português foi tremendamente,
encarniçadamente Miguelista! Esta é a ver-
dade dos factos. (…)”
Bibliografia: “Aspectos da Figueira da Foz de
Maurício Pinto e Raimundo Esteves, 1945; História
de Portugal deA. H. de Oliveira Marques, 1980
As Edições MinervaCoimbra apre-
sentaram recentemente dois livros de
poesia de Norberto Canha – “Voo ador-
mecido” e “Momento, esperanças e cer-
tezas”, ambos com o subtítulo “Contas
aos netos” – numa sessão que decor-
reu na Secção Regional do Centro da
Ordem dos Médicos, em Coimbra, com
uma sala pequena para as várias deze-
nas de amigos e familiares que quise-
ram marcar presença.
As obras foram apresentadas por Leo-
nor Riscado e Luís Canavarro e a ses-
são contou também com a presença do
vereador da Cultura, Mário Nunes.
Isabel de Carvalho Garcia abriu a ses-
são, em nome da editora, cumprimentan-
do os apresentadores e tecendo algumas
considerações sobre o autor, enaltecen-
do, nomeadamente, as suas qualidades
de humanista. “Justo, sensível, preocu-
pado com o mundo que o rodeia, tentan-
do encontrar soluções para os problemas
da sociedade actual e da juventude em
particular,benemérito,filantropoquetanto
se dá com o mais simples como com o
mais nobre”, assim foi Norberto Canha
definido por Isabel Garcia.
“Com rasgos de futurismo e de inte-
ACABA DE LANÇAR DOIS LIVROS DE POESIA
Norberto Canha: médico sensível e humanista
ligência, vivo e perspicaz”, Isabel Gar-
cia reconheceu ainda em Norberto Ca-
nha “uma enorme criatividade e pro-
dutividade já que tem em fase avan-
çada um outro livro”.
Leonor Riscado apresentou então
“Voo adormecido”, livro que conside-
rou ser “fruto do labor apurado de um
humanista e, como tal, um esteta”. Os
que de mais perto privam com Nor-
berto Canha, afirmou, “conhecem a
sua grandeza de alma e a humildade
da postura”.
Em “Voo adormecido”, “o poeta
conjuga, da primeira à última página, o
neológico verbo Poemar, definido pelo
próprio como harmonia possível entre
a palavra, o pensar e o sentimento”,
referiu ainda Leonor Riscado. “Tem-
po e olhar, vida e morte são os binómi-
os organizadores do metrónomo que
comanda os ritmos desta obra, repre-
sentativa da voz acordada de um poe-
ta puro, que caldeia as memórias da
infância com a simplicidade do meni-
no que nasceu, cresceu e amou”.
Já Luís Canavarro considerou “Mo-
mentos, esperanças e certezas” um li-
vro “breve” mas que “diz muito e obri-
ga a pensar”. E a pensar naqueles as-
suntos a que a nossa acomodação, ego-
ísmo, conveniência e indiferença, nos
tenta subtrair.
Numa época em que “ouvir ou ler bom
português, é cada vez mais difícil”, o li-
vro de Norberto Canha é exactamente o
oposto: “Está escrito numa linguagem
clara, sem ornatos nem subterfúgios,
pode ser lido por uma criança (aliás, uma
criança entendê-lo-á mais facilmente do
queumadultodesalentado),semcomisso
perder uma formidável erudição”.
O que não se espera, confessou Luís
Canavarro, “é que os seus escritos
abranjam um tão vasto leque de conhe-
cimentos e de interesses, revelem uma
alma sã e bem formada, traduzam um
humanismo raro e sentido e denotem um
espírito plenamente jovem”. Caracterís-
ticas que fazem do autor um “homem
de excepção”.
No final, Maria dos Prazeres Francis-
co, da Secção Regional do Centro da
Ordem dos Médicos, também usou da
palavra, tendo a sessão sido enriquecida
com a actuação do grupo Fadvocal, se-
guindo-se uma breve intervenção do au-
tor e o encerramento por Mário Nunes.
A tarde terminou com um champa-
nhe de honra e a actuação do Coro
da Ordem dos Médicos dirigido por
Virgílio Caseiro.
Norberto Canha
15
16 A 29 DE JULHO DE 2008
EDUCAÇÃO/ENSINO
* Professora. Dirigente do SPRC
Tendo, embora, a consciência de que
o assunto de que vou falar não se reves-
te, minimamente, da mesma importância
de outras questões, como, por exemplo,
o Código de Trabalho, abordo-o porque
me tem incomodado e porque o conside-
ro relevante, ainda que a outra escala.
Trata-se da pouca consideração ou, mes-
mo, do desprezo com que são tratados
os professores, em geral, e o exercício
da docência na área da Língua Portu-
guesa, em particular.
Esta desconsideração é verificável a
vários níveis. Se é verdade que conside-
ro revoltante o facto de não haver qual-
quer critério realista ou interessante, para
as aprendizagens dos alunos, com a cri-
ação de duas novas categorias e com a
decisão de quem é que ocupa que luga-
res em cada uma dessas categorias,
muito mais o é a situação de desempre-
go ou de emprego nas caixas dos hiper-
mercados, nas lojas de roupa ou noutras
actividades. Estas, que nada têm de de-
sonroso, não respondem, minimamente,
Valorizar o ensino
do Português
Emília Sá *
OPINIÃO
à preparação e aos anseios dos jovens
licenciados, sobretudo na área das lín-
guas estrangeiras e portuguesa que so-
nharam vir a ser professores, que fize-
ram estágio profissional para o serem,
que trabalharam imenso para o concluí-
rem com êxito, e que estão, assim, suba-
proveitados e, como é de esperar, defrau-
dados nas suas naturais expectativas.
Tudo isto acontece neste desgoverna-
do país no qual a iliteracia é confrange-
dora, no qual uma cada vez maior cama-
da da população, desde os portugueses
pertencentes às camadas sociais mais
desfavorecidas (que não tiveram as mes-
mas garantias de acesso a uma educa-
ção correcta e completa) até aos políti-
cos, passando por jornalistas..., tudo as-
sassina a nossa língua. É o “tu disses-
tes”, é o “tu fizestes”, é o “há-des”, é o
“houveram muitas negativas”, é o “ficou
aponte na acta”, são os sujeitos separa-
dos dos predicados por vírgulas, são os
filmes ingleses, para além de mal legen-
dados, com erros crassos de ortografia…
enfim, é o nunca acabar de disparates e
de incorrecções que, confesso, me põem,
pelo menos, mal disposta.
Além disto, deve saber-se que grande
parte do insucesso escolar se deve ao
facto de os alunos não perceberem o que
lêem, nomeadamente, não perceberem
o que lhes é pedido, nos testes de avalia-
ção ou nos exames, ou o que estudam,
isto é, o que tentam estudar, já que não
se consegue estudar o que não se per-
cebe e, por isso, decoram.
Perante tudo isto, retomo o que afir-
mei, no início do meu texto, manifestan-
do o desejo de que se reconheça a im-
portância do ensino do Português e dos
nossos Professores, sem que, com isto,
esteja a sobrevalorizar esta área do co-
nhecimento, porque muito há a fazer,
aproveitando as potencialidades de quem
se formou para formar bons e correctos
utilizadores da língua portuguesa.
O Sindicato dos Professores da Re-
gião Centro (SPRC) questionou ontem
(terça-feira) o destino dos 17,5 milhões
de euros que as autarquias recebem para
actividades de enriquecimento curricu-
lar ans escolas da região, considerando
que os docentes são mal pagos. As au-
tarquias queixam-se de que aquela ver-
ba é insuficiente.
Numa conferência de imprensa ontem,
em Coimbra, o SPRC contestou o actual
modelo de “escola a tempo inteiro”, em
que a maioria dos professores trabalha
como “mão-de-obra barata e em condi-
ções de extrema precariedade”, a reci-
bo verde, nalguns casos a ganhar uma
média de 190 euros mensais.
De acordo com dois estudos realiza-
dos pelo SPRC sobre as Actividades de
Enrequecimento Curricular (AEC) no
último ano lectivo nos seis distritos da
Região Centro, ao qual responderam
cerca de 90 por cento das autarquias, o
Estado transferiu para essas câmaras um
montante global superior a 17,5 milhões
de euros.
“Para onde é canalizado este dinhei-
ro, se os horários dos professores são
reduzidos, os pagamentos são baixos, os
materiais para as actividades são insufi-
cientes ou inexistentes?”, questionou
Helena Arcanjo, coordenadora do De-
partamento do 1º Ciclo do SPRC.
Confrontado pela Agência Lusa, An-
tónio José Ganhão, da Associação Naci-
onal de Municípios (ANMP) contra-ar-
gumenta que, “na generalidade, as au-
tarquias têm défice com as AEC”.
“Esta não é uma actividade lucrativa
SPRC questiona destino de verbas
que autarquias consideram insuficientes
para as autarquias, longe disso”, decla-
rou, referindo que o que as câmaras
municipais recebem do Estado “é insufi-
ciente para o serviço que prestam”.
O dirigente da ANMP sustenta que as
autarquias com escolas a funcionar em
regime de desdobramento de horário têm
inclusive de “alugar instalações (para as
AEC) e suportam-nas à custa do seu
orçamento”.
Segundo o estudo, que abrangeu cer-
ca de três mil profissionais, a disparida-
de do valor/hora pago pelas AEC verifi-
ca-se não só entre distritos mas mesmo
entre escolas do mesmo distrito.
Leiria e Guarda são os distritos onde
foi pago um valor/hora mais baixo aos
professores (7,19 euros), mas foi tam-
bém na Guarda que se verificou o valor
mais alto (17 euros).
António José Ganhão confirma que,
no país, houve autarquias a pagar 7 eu-
ros e outras 20 euros à hora, o que levou
a ANMP a colocar o problema à minis-
tra da Educação.
Para o próximo ano lectivo, no despa-
cho das AEC há já uma estabilidade do
índice remuneratório ao pessoal docente
com habilitação própria que “acabará
com a disparidade” dos valores pagos,
afirmou.
O financiamento que as autarquias
recebem por cada aluno será aumenta-
do em 12,5 euros, totalizando 262,5 eu-
ros, o que, na opinião do dirigente da
ANMP continua a ser “claramente insu-
ficiente”.
O SPRC exige que as AEC sejam
dadas no horário escolar curricular, até
às 15:30, e que a partir dessa hora e até
às 19:00/19:30 sejam criadas actividades
de carácter lúdico, para que as crianças
passem a ter tempo para brincar.
“Estes alunos, dos seis aos dez anos,
são os do sistema educativo português
com mais horas de escola - 35 semanais
-, é um crime cometido pelo Ministério
da Educação e muitos encarregados de
educação estão adormecidos”, conside-
rou Luís Lobo, dirigente do SPRC.
Contactado pela Lusa, o director do
gabinete de Educação da Câmara de
Coimbra, Oliveira Alves, admite que
“muitos pais e professores se queixam
de que o actual modelo de AEC é muito
formatado e retira tempo às crianças
para brincar”.
“A escola a tempo inteiro está a ser
paga, em boa parte, pelas autarquias e
não pelo Estado”, declarou, referindo que
a autarquia pagou 15 euros à hora aos
professores das AEC.
Um dos traços mais negativos do fun-
cionamento das AEC na Região Centro,
segundo um dos estudos, é a “flexibilida-
de do horário escolar”, com 92,2 por cen-
to das escolas a funcionar em regime
normal, 7,8 por cento em regime de ho-
rário duplo (manhã/tarde), e 78,8 por
cento com AEC das 15:30 às 17:30.
Cerca de 90 por cento dos professo-
res que asseguram as AEC trabalharam
a recibos verdes, 64,3 por cento ganha
menos de 500 euros mensais, e cerca de
50 por cento trabalha em média apenas
cinco horas por semana.
Os estudos ontem divulgados estarão
disponíveis na página online do SPRC.
16 16 A 29 DE JULHO DE 2008
SAÚDE
Massano
Cardoso
Asformigassãoconsideradascomoum
exemplodeharmoniasocialemqueobem
da comunidade está acima dos interesses
individuais. Têm um elaborado sistema de
organização com rainha e tudo. Pensava-
se que a rainha deste sistema surgia por
criação. Ou seja, algumas larvas receberi-
amdeterminadosalimentosparaesseefeito
e todas poderiam ter essa oportunidade.
Umverdadeirosistemamonárquico-demo-
crático.Agora,umartigomuitointeressante
demonstra que não é bem assim. Afinal,
asformigassão“traiçoeiras,egoístasecor-
ruptas”.Tudo porque o estudo revelou que
algumaslarvastêmmaisprobabilidadesde
“Formiguinhas traiçoeiras, egoístas
e corruptas”...
setornaremrainhas,jáquetransportamum
ou mais genes da “realeza” o que lhes dá
uma vantagem face às suas “irmãs” altru-
ístas. E tomam as adequadas medidas para
evitarem ser detectadas, caso contrário a
presença de um excesso de formigas com
a mesma linhagem genética seria conside-
rada hostil ao ponto de as restantes toma-
rem medidas contra elas. Claro que os res-
pectivos machos “reais” encarregam-se de
propagar os “filhotes” por mais colónias,
escapando à vigilância dos restantes.
Se esta tese estiver correcta, os cientis-
tas poderão provar que os ditos insectos
sociais,consideradosparadigmasdeigual-
dade, cooperação e harmonia, afinal tam-
bém “cultivam” o fenómeno corrupção.
Corrupção “real”!
As sociedades humanas foram constru-
ídas e são dominadas por muitos interes-
ses, sendo a corrupção um fenómeno mui-
to comum. Tão comum que nem Hadley-
burg conseguiu escapar. “O homem que
corrompeu Hadleyburg”, de Mark Twain,
ilustra bem o poder e a força da corrup-
ção. Numa cidade, considerada a mais ín-
tegra e a mais honesta do mundo, a “incor-
ruptível”, um forasteiro, que por lá passou,
foi ofendido, provavelmente sem qualquer
intenção por parte dos cidadãos. De qual-
quermodo,arquitectouumaestrangeirinha
tal que acabou por desmascarar a arro-
gânciadapressupostaincorruptibilidadedos
seus cidadãos e até do mais honesto de
todos que acabou por morrer tresloucado.
Mark Twain Hadleyburg mudou de nome e “é de
novo uma cidade honesta e terá de le-
vantar cedo o homem que, de novo, a
apanhe a dormir”
Entre nós, tem sido ventilado, por mui-
tas individualidades, que esta praga está
a atingir níveis muito preocupantes, pon-
do em causa a harmonia e o bem-estar
da grande maioria de cidadãos honestos
e cumpridores das suas obrigações. Os
“pais” da corrupção sabem “semear” os
seus “genes”. A forma como o fazem,
despudoradamente, não passaria pelos
filtros das formigas “altruístas”, porque
se estas os detectassem decerto que os
eliminariam.
Afinal,ofenómenoégeral.Nemassim-
páticas e ordeiras formigas escapam...
NOVO LIVRO DE MASSANO CARDOSO
“Conversas de doenças” é o título do
novo livro da autoria de Salvador Mas-
sano Cardoso (Professor da Faculdade
de Medicina da Universidade de Coim-
bra e nosso ilustre Colaborador).
Trata-se do 5.º volume da colecção
“Crónicas Paraepidemiológicas”, onde se
reúnem algumas das crónicas que Sal-
vador Massano Cardoso tem publicado
em diversos órgãos de comunicação so-
cial e também no blog 4R - Quarta Re-
pública
(http://quartarepublica.blogspot.com)
de que é um dos colaboradores (e que
bem merece uma visita regular, pelo in-
teresse dos textos que insere.
Esta obra, tal como as restantes 4 da
referida colecção, é editada pelo Institu-
to de Higiene e Medicina Social da Fa-
culdade de Medicina da Universidade de
Coimbra, de que Massano Cardoso é o
principal responsável.
Um livro onde são tratados temas de
grande actualidade de forma muito inte-
ressante e acessível.
Cuidados primários em debate
A ministra da Saúde propôs sexta-fei-
ra, em San Salvador, que a XI Confe-
rência Ibero-Americana de Ministros da
Saúde, que se realiza em 2009 em Lis-
boa, aborde o papel dos cuidados de saú-
de primários na concretização dos ob-
jectivos do milénio.
“Propus o tema, que foi debatido e
aceite de forma consensual”, afirmou
Ana Jorge à agência Lusa, à margem da
X Conferência Ibero-Americana de Mi-
nistros da Saúde que decorreu na capital
de El Salvador.
Ainda segundo a governante, o tema
a abordar em Lisboa na próxima edi-
ção da conferência terá um aprofun-
damento na área da informática e no-
vas tecnologias, “nomeadamente no
que diz respeito à telemedicina, às re-
des de referenciação e à organização
dos cuidados de saúde”.
Dada a presença dos seus homólogos
de uma vintena de países, Ana Jorge terá
procurado, ao longo do primeiro dia do
encontro, sondar a possibilidade de rea-
lização de parcerias.
“Há, da nossa parte, um interesse ao
nível dos recursos humanos, uma vez que
temos carência de médicos”, reconhe-
ceuaministra,adiantandoteriniciado“al-
guns contactos, ainda incipientes” com
países como o Chile e a Argentina.
Em ‘troca’ dos médicos, a Argentina,
com carências no sector da enfermagem,
podia “acolher jovens enfermeiros portu-
gueses que estivessem disponíveis para
trabalhar no país”, sugeriu a governante.
Como exemplo de uma parceria já em
curso, Ana Jorge referiu à Lusa o inter-
câmbio estabelecido com o Uruguai.
17
16 A 29 DE JULHO DE 2008 SAÚDE
Ascende a cerca de 17 mil o número
de bebés que Agostinho Almeida San-
tos, especialista em genética, conseguiu
fazer nascer em casais com problemas
de esterilidade.
A revelação deste número muito signi-
ficativo foi feita anteontem numa sessão
do Rotary Club de Coimbra/Olivais, onde
este professor catedrático da Faculdade
de Medicina de Coimbra proferiu uma
palestra intitulada “O início da vida”.
Na apresentação do palestrante feita
por um dos elementos daquele clube ro-
tário (de que Agostinho Almeida Santos
também é membro), foi revelado esse nú-
mero muito expressivo de crianças nas-
cidas depois da intervenção médica de
Agostinho Almeida Santos junto de mi-
lhares de casais inférteis que, vindos de
todos os pontos do País e até do estran-
geiro, o têm procurado ao longo dos mui-
tos anos de exercício da actividade de
especialista em genética e obstetrícia,
que actualmente ainda prossegue.
No decorrer da palestra, Agostinho
Almeida Santos aludiu ao grave proble-
ma que constitui a quebra do índice de
natalidade da população portuguesa, sus-
tentando que não será com os 300 euros
de “prémio” por cada filho que se con-
segue inverter essa tendência.
Defendeu que uma medida que certa-
Agostinho Almeida Santos ajudou a nascer
17 mil bebés
de casais com problemas de esterilidade
mente teria efeitos muito positivos seria a
de apoiar cerca de 400 mil casais que es-
timou exisitirem actualmente em Portugal
com problemas de esterilidade e que de-
sejam ter filhos, muitos dos quais poderi-
am ver esse seu sonho concretizado se
existissem mais aajudas por parte do Es-
tado para uma eficaz resposta médica.
Ainda em relação à crescente percen-
tagem dos problemas de infertilidade no
nosso País, Agostinho almeida Santos
referiu que está cientificamente prova-
do que para isso concorrem diversos fac-
tores, entre os quais o uso dos pesticidas
e as dioxinas geradas pela poluição at-
mosférica.
AgostinhoAlmeida Santos mostrou-se
muito crítico relativamente ao aborto e
ao facilitismo com que ele está a ser pra-
ticado no nosso País. Salientou, a propó-
sito, que os três dias que a legislação
estabelece para reflexão das mulheres
que querem abortar normalmente não têm
efeitos práticos, porque raramente elas
são devidamente esclarecidas sobre as
transformações do feto logo após a fe-
cundação. Asim, no decorrer da sua pa-
lestra foi mostrando imagens de ecogra-
fias feitasem vários estádios da evolu-
ção do feto, salientando que quanto mais
as técnicas de imagiologia evoluem, mais
se comprova como logo nas primeiras
semanas existe um ser vivo com identi-
dade própria e que deve ser preservado.
A Presidente do Rotary Club de Co-
imbra/Olivais, Maria Helena Goulão
(também ela médica e professora da
Faculdade de Medicina de Coimbra) sa-
lientou, no final, que a palestra ali apre-
sentada por Agostinho Almeida Santos,
por ser tão acessível e elucidativa, deve-
ria ser levada às escolas de todo o País
e trasmitida pelos meios de comunica-
ção social, pois seria uma forma de de-
monstrar o verdadeiro princípio da vida
e levar a que ela fosse respeitada por
quem hoje o não faz, na maior parte das
vezes, por ignorância.
Agostinho Almeida Santos quando proferia a palestra “O início da Vida” em
sessão do Rotary Clube de Coimbra / Olivais
A prestação de cuidados de cardi-
ologia pediátrica em locais remotos
através de telemedicina recebeu on-
tem (terça-feira) o primeiro prémio
das Boas Práticas em Saúde, instituí-
do pela Direcção-Geral da Saúde.
Esta segunda edição dos galardões,
organizada pela Associação Portugue-
sa para o Desenvolvimento Hospita-
lar, também distinguiu um projecto de
codificação de medicamentos nos hos-
pitais públicos e um outro de rastreio
visual pediátrico.
Entregue na presença da ministra
da Saúde, Ana Jorge, o primeiro pré-
mio distinguiu o projecto do Centro
Hospitalar de Coimbra/Administração
Regional de Saúde do Centro, que visa
prestar cuidados diferenciados de car-
diologia pediátrica.
A iniciativa pretende facilitar o
acesso a consultas, assim como uma
orientação em tempo real de situações
de urgência e reduzir custos de des-
TELEMEDICINA
Cardiologia Pediátrica de Coimbra
distinguida com 1.º Prémio das Boas Práticas
locação e absentismo laboral associa-
dos a uma consulta presencial.
A redução da morbilidade e da mor-
talidade pelo diagnóstico e interven-
ção precoces e consultas de cardiolo-
gia fetal por telemedicina são outros
dos objectivos.
Todos os hospitais distritais incluí-
dos na rede, que funciona com banda
larga, foram equipados com electro-
cardiógrafos e ecocardiógrafos.
O segundo prémio distinguiu o desen-
volvimento e implementação de uma
Codificação Uniforme de Medicamen-
tos ao Nível Hospitalar, da iniciativa do
Infarmed e Administração Regional de
Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
O projecto permitiu uniformizar a
codificação, quando antes havia gran-
de diversidade e um elevado grau de
intervenção humana, que “era uma
fonte potencial de erros”, assim como
limitações na agregação de informa-
ção, o que dificultava as análises de
compras e consumos.
O novo sistema permite monitori-
zar consumos por hospital, por área
terapêutica e por área de prestação
de cuidados.
A informação recolhida “permite
fundamentar o processo de tomada de
decisões a vários níveis com vista a
uma gestão mais racional do medica-
mento”, lê-se no resumo dos prémios
entregues.
Eduardo Castela é o principal
responsável pelo êxito da telemedicina
em Cardiologia Pediátrica
O Centro - n.º 55 – 16.07.2008
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  • 1. DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 55 (II série) De 16 a 29 de Julho de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Marinho quer acabar com “vergonhoso negócio” ADVOGADOS PÁG. 7 TELEMEDICINA RAINHA SANTA PÁG. 11 A 13 PÁG. 17 Coimbra saiu à rua para saudar Padroeira Premiada Cardiologia Pediátrica de Coimbra Marcelo diz-se “melindrado” com a RTP PÁG. 3 PÁG. 3 PÁG. 11 a 15 TELEVISÃO PÁG. 11 a 13 Médico de Coimbra já fez nascer 17 mil bebés de casais inférteis DEFENDE APOIO ESTATAL A 400 MIL CASAIS COM PROBLEMAS DE FERTILIDADE E QUE QUEREM TER FILHOS PÁG. 17
  • 2. 2 16 A 29 DE JULHO DE 2008 COIMBRA Director: Jorge Castilho (Carteira Profissional n.º 99) Propriedade: Audimprensa Nif: 501 863 109 Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930 Composição e montagem: Audimprensa Rua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 Coimbra Telefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154 e-mail: centro.jornal@gmail.com Impressão: CIC - CORAZE Oliveira de Azeméis Depósito legal n.º 250930/06 Tiragem: 10.000 exemplares No Governo Civil de Coimbra de- correr hoje, pelas 11h30, uma confe- rência de imprensa para apresentação do Dispositivo Distrital “Mortes na Estrada, Vamos Travar este Drama – Verão 2008”. Na sessão serão apresentados os dispositivos das forças de segurança que vão estar no terreno durante este Verão, nomeadamente PSP, GNR e Brigada de Trânsito. Estarão presentes os responsáveis das entidades envolvidas na campa- nha de segurança, nomeadamente o Governador Civil do Distrito de Coim- bra, o Comandante da PSP, o Coman- dante do Grupo Territorial da GNR de Coimbra, o Comandante da Brigada de Trânsito, bem como todos os ele- mentos da Comissão Distrital de Se- gurança Rodoviária. Convém recordar que nesta época do ano acontecem muitos acidentes que po- deriam ser evitados se os automobilistas obedecessem às mais elementares regras de segurança, nomeadamente evitando o excesso de velocidade, as ultrapassagens perigosas, o consumo de álcool e o cansa- ço provocado por viagens muito longas. O jornal “Centro” apela aos condutores para que não esqueçam estas regras bási- cas, que tantas tragédias podem evitar. Cuidados redobrados para quem viaja nas estradas Campanha apoiada pelo jornal Um Verão sem incidentes florestais de maior é o que deseja o Governador Civil do Distrito de Coimbra. Confiante numa melhor organização do dispositivo de combate a fogos em relação a anos an- teriores, Henrique Fernandes afirmou que “desde o grande incêndio de 2003, em particular o que atingiu a Pampilhosa da Serra, se tiraram lições”. Estas declarações foram feitas em entrevista à Rádio Regional do Centro (96.2 FM), durante o programa “Dois Dedos de Conversa”, gravado nas ins- talações da Joalharia Góis, Solum, e transmitido na passada sexta-feira. O representante do Governo no dis- trito realçou que, a par de um maior es- forço por parte das autarquias, o novo enquadramento legal veio agilizar sobre- maneira o combate aos incêndios, subli- nhando a importância de todos os opera- cionais no terreno responderem perante um único comando. “A nova Lei de Ba- ses da Protecção Civil, criada por este Governo, introduz nomeadamente um princípio fundamental que é haver um comando inequívoco”, considerou. Igualmente relevante, segundo o Go- vernador Civil, foi a “aposta na rapidez da resposta – entre 15 e 20 minutos – para que um foco não se transforme num GARANTIU GOVERNADOR CIVIL EM ENTREVISTA Coimbra tem capacidade de resposta ao risco de incêndios incêndio de nove dias como sucedeu na Pampilhosa da Serra, assim como o re- forço das brigadas helitransportadas”. Foi também por iniciativa deste Go- verno, acrescentou Henrique Fernandes, que as especificidades das associações humanitárias foram consideradas em ter- mos legislativos. “O enquadramento legal teve uma vantagem: criou as regras de um edifí- cio”, razão pela qual, segundo Henrique Fernandes, o distrito de Coimbra conta agora “com uma boa articulação entre os diversos organismos e uma boa capa- cidade de resposta”. A corroborar esta visão estão as es- tatísticas que revelam um claro decrés- cimo de incêndios florestais. “Em 2006 houve 1536 ocorrências e 50.939 hectares de área ardida, enquan- to em 2007 as estatísticas referem que houve 1.075 ocorrências que correspon- deram a 852 hectares ardidos. Ou seja, houve uma baixa drástica”, referiu. Os recursos florestais, cada vez mais sujeitos a um maior risco de incêndio devido à alteração dos hábitos das pró- prias pessoas, frisou, “são um problema que diz respeito a todos nós”. “A própria legislação diz que um dos agentes da pro- tecção civil é o cidadão”, alertou Henri- que Fernandes, apelando a que todos respeitem a floresta, nomeadamente mantendo limpa a área em torno das ha- bitações. “Devemo-nos proteger dela, onde ela pode ser agressiva”, conside- rou. “O desleixo e incúria por parte do proprietário também nos custa muito di- nheiro dos nossos impostos”, comentou. Defensor de uma função reguladora do Estado, o Governador Civil do Distri- to de Coimbra referiu ainda que a em- pregabilidade é uma das áreas prioritári- as da sua intervenção, tendo destacado que em mais de três anos de mandato já foi confrontado com diversas situações de notória debilidade empresarial. Nes- tes casos, notou Henrique Fernandes, a preocupação maior é sempre preservar os postos de trabalho ou, em última aná- lise, defender o interesse dos trabalha- dores. Henrique Fernandes
  • 3. 3 16 A 29 DE JULHO DE 2008 NACIONAL Temos uma excelente sugestão para uma oferta a um Amigo, a um Familiar ou mesmo para si próprio: uma assinatura anual do jornal “Centro” Custa apenas 20 euros e ainda re- cebe de imediato, completamente grátis, uma valiosa obra de arte. Trata-se de um belíssimo trabalho da autoria de Zé Penicheiro, expres- samente concebido para o jornal “Centro”, com o cunho bem carac- terístico deste artista plástico – um dos mais prestigiados pintores portu- gueses, com reconhecimento mesmo a nível internacional, estando repre- sentado em colecções espalhadas por vários pontos do Mundo. Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seu traço peculiar e a incon- fundível utilização de uma invulgar paleta de cores, criou uma obra que alia grande qualidade artística a um profundo simbolismo. De facto, o artista, para represen- tar a Região Centro, concebeu uma flor, composta pelos seis distritos que integram esta zona do País: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu. Cada um destes distritos é repre- sentado por um elemento (remeten- do para o respectivo património his- tórico, arquitectónico ou natural). A flor, assim composta desta for- ma tão original, está a desabrochar, simbolizando o crescente desenvolvi- mento desta Região Centro de Portu- gal, tão rica de potencialidades, de His- tória, de Cultura, de património arqui- tectónico, de deslumbrantes paisagens (desde as praias magníficas até às ser- ras imponentes) e, ainda, de gente hos- pitaleira e trabalhadora. Não perca, pois, a oportunidade de receber já, GRATUITAMENTE, esta magnífica obra de arte (cujas di- mensões são 50 cm x 34 cm). Para além desta oferta, o beneficiá- rio passará a receber directamente em sua casa (ou no local que nos indicar), o jornal “Centro”, que o manterá sempre bem informado sobre o que de mais importante vai acontecendo nes- ta Região, no País e no Mundo. Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, por APENAS 20 EUROS! Não perca esta campanha promo- cional e ASSINE JÁ o “Centro”. Para tanto, basta cortar e preen- cher o cupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, acompanhado do valor de 20 euros (de preferência em cheque passado em nome de AUDIMPREN- SA), para a seguinte morada: AUDIMPRENSA Jornal “Centro” Rua da Sofia. 95 - 3.º 3000–390 COIMBRA Poderá também dirigir-nos o seu pe- dido de assinatura através de: telefone 239 854 150 fax 239 854 154 ou para o seguinte endereço de e-mail: centro.jornal@gmail.com Para além da obra de arte que des- de já lhe oferecemos, estamos a pre- parar muitas outras regalias para os nossos assinantes, pelo que os 20 eu- ros da assinatura serão um excelente investimento. O seu apoio é imprescindível para que o “Centro” cresça e se desen- volva, dando voz a esta Região. CONTAMOS CONSIGO! ORIGINAL PRESENTE POR APENAS 20 EUROS Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe valiosa obra de arte Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO O comentador Marcelo Rebelo de Sousa disse ontem (terça-feira) à Lusa estar “surpreendido” e “melindra- do” por saber que o seu pro- grama na RTP tinha patrocí- nio e deu razão ao organismo regulador em abrir um pro- cesso de contra-ordenação. “Fico surpreendido e melin- drado por não me terem dito nada, acho que ter um patro- cinador para o programa pres- supõe que eu saiba”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, re- agindo a uma deliberação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Numa decisão ontem divul- gada, a ERC anunciou que vai COMENTÁRIO DOMINICAL NA TELEVISÃO Marcelo Rebelo de Sousa diz-se “melindrado” com RTP por desconhecer patrocínio ao programa Sousa, defendendo que “uma coisa são anúncios, outra são patrocínios” e sublinhando achar “muito curioso nunca terem dito nada”. “Foi uma sorte eu nunca ter falado na Generis” durante o programa, reforçou, asseguran- do que “acreditava tratar-se de um anúncio como outro qual- quer e nunca um patrocínio”. Apesar de a RTP ter, en- tretanto, garantido à Lusa que vai “acatar a decisão” da ERC e retirar o patrocínio ao programa já a partir da próxi- ma edição, Marcelo Rebelo de Sousa pretende “apurar com a direcção de Informação o que se passou”. instaurar um processo de con- tra-ordenação à RTP e à Ge- neris Farmacêutica por inser- ção de patrocínios no progra- ma “As Escolhas de Marce- lo”, que considera violar o Có- digo da Publicidade. A deliberação baseou-se numa apreciação da tipologia do programa, tendo a ERC chega- do à conclusão que “As Esco- lhas de Marcelo”, transmitido aos domingos na RTP 1, integra o género comentário político. Género que se inclui entre os que estão proibidos pelo Código da Publicidade de re- ceber patrocínios. “A ERC tem toda a razão”, sublinhou Marcelo Rebelo de
  • 4. 4 16 A 29 DE JULHO DE 2008 NACIONAL ponto . por . ponto Por Sertório Pinho Martins Quando o vento sopra a favor das chamas, é certo e sabido que o incêndio alastra e a área ardida acrescenta des- graça a quem (sobre)vive do que a flo- resta ainda vai dando. E o país é o espe- lho dos fogos de Verão! Jaime Silva quer os jovens de regresso à agricultura: dan- do como exemplo as ilusões perdidas dos agricultores esbulhados até ao osso? José Sócrates tira da cartola um auspi- cioso ‘carro eléctrico’: tentando fazer esquecer o lastro das taxas sem retorno que continuam coladas aos combustíveis do nosso destino fatal? Quase 90% das empresas (a espinha dorsal da nossa economia, porque os outros 10% são Estado e banca com os seus negócios labirínticos) classifica a conjuntura eco- nómica abaixo de má: e o ministro dá prioridade a visitar hipermercados e ver com os olhos que Deus lhe deu se estão a cumprir à risca os 20% do IVA? A classe média já lançou a toalha ao tape- te: e os novos ‘amigos de Alex’ (Mene- zes e quejandos) elogiam a eito a despe- sa pública?Abanca deu o estoiro (e cala- se à espera que a tormenta lhe passe entre a secante e a tangente): e as ins- tâncias supervisoras vão adiando para as calendas a verdade a que temos di- reito? O Presidente quis saber sobre o custo real de obras que vão sair do bol- so dos contribuintes: e o poder instalado só reagiu à voz grossa da admoestação? As Misericórdias sobem de tom sobre o estado de pobreza das populações ca- renciadas: e o eco vai-se esvaindo no azul diáfano de um triste “tenha paciên- cia, Deus o ajude”? A oposição adopta Bloco quê?... a estratégia de falar por generalidades, mas logo a seguir espalha-se ao compri- do em temas cirúrgicos como o casa- mentodoshomossexuais,paragáudiodos socialistas – como se a opinião de Ma- nuela Ferreira Leite não fosse igual à de muita e boa gente que votou Sócrates em Março de 2005! Os partidos conti- nuam a abusar do discurso político do toca-e-foge, que já não enche barriga nem faz perder o sono à plebe: e o po- der instalado, esgotado que está o círcu- lo vicioso das alcovitices de galinheiro, volta ao discurso dos dois governos que o antecederam, mas cuidando de riscar a era-Guterres da história da nossa de- mocracia. Cada um faz o seu número de circo, a corda vai esticando debaixo das nossas desilusões e não nos demos conta que já estamos a trabalhar sem rede! Numa conjuntura económico-social sem prece- dentes desde há décadas, o que passa a valer é o chorrilho de asneiras, a surdez à voz do bom-senso, a competição pela maior parvoíce política – porque no fim alguém há-de apagar as luzes! Come- çam já a multiplicar-se os avisos dos se- nadores (alguns por sinal confortavel- mente instalados nos palanques que a política lhes trouxe por acréscimo…), qualquer evento (por mais insignifican- te) serve para tocar a rebate e a lançar recados que não têm segunda leitura, cruzam-se ameaças por cima das nos- sas cabeças atarantadas com tanto des- pudor político, e o horizonte continua nu- blado a perder de vista. Cheira cada vez mais a queimado e ninguém repara na direcção do vento! O país precisa urgentemente de esta- bilidade política! Quase diríamos que a qualquer preço, e venha de onde vier a sapatada redentora. Caminhamos esma- gados pelo custo do dia-a-dia e encurra- lados entre dois fogos (a descrença e o desespero) que continuam por circuns- crever. E só queremos é romper as cha- mas e sair da tenda deste circo onde os palhaços já perderam a graça e a capa- cidade de nos maravilhar como noutros tempos. Porque é bom ter noção de que se a cura não vier de ‘dentro’ do próprio regime, arriscamo-nos a que a doença possa ser travada por qualquer iniciativa musculada, quanto de recurso – e de- pois é tarde para recriminações. A ideia peregrina de um ‘bloco cen- tral’, ainda por cima com estes protago- nistas, tropeça desde logo na mais ele- mentar das vertentes de um casamento- a-dois: a natureza humana.Alguém ima- gina José Sócrates acamaradado com quem não lhe obedeça cegamente ou a esticar o dedo a um ministro que não te- nha sido escolha apenas sua? Ou Manu- ela Ferreira Leite submissa a (pre)conceitos e metodologias de gover- nação com que legitimamente possa não concordar de todo? Sócrates nunca terá a paciência estratégica de raposa (é um impositivo-compulsivo) de Mário Soares no seu melhor, e a Manuela falta-lhe o savoir político e o desprendimento es- pontâneo que Mota Pinto transpirava. Quem se atreve, em consciência, a fa- zer daqueles dois as traves da estabili- dade política que o país exige? Ou am- bos designam os seus testas-de-ferro, e ficam a intrigar em bastidores? Ou – but not the least – pede-se a Cavaco Silva que os leve pela mão e pendurados pe- las orelhas, até aprenderem humildade e espírito de sacrifício em prol do interes- se nacional? José Sócrates tem nas mãos uma maioria absoluta, base primeira para a estabilidade política que outros vão ter que conquistar a pulso e esgrimindo ar- gumentos que levem a dar um passo atrás quem em 2005 votou claramente no PS. Dir-se-á que já havia no ar uma ‘dinâmi- ca de mudança’; mas chegar à maioria absoluta foi um feito indiscutível. Porém, ao primeiro-ministro falta-lhe ainda do- minar arroubos de espontaneidade, do- sear ímpetos, simular contrição e sacri- ficar peões, para chegar ao pleno em 2009 – e terá nas mãos a chave que lhe abre a porta da estabilidade que o país não dispensa por mais tempo. Ora sacri- ficar peões é algo que Sócrates ainda não absorveu e interiorizou do mundo cruel da política, a ponto de remodelar tão só ‘para as eleições de 2009’. Senão, que outros trunfos ou actos de propaganda social lhe restam, numa altura em que a barriga vazia dos contribuintes bate mais forte do que a vozearia dos debates so- bre o estado da nação? Remodelando agora, terá no mínimo o benefício da dú- vida de quem foi solidário até ao limite do tolerável, mas que não hesitou em dar o passo patriótico quando esgotou todas as esperanças em homens que afinal desapontaram o país real. E se ele tem por onde escolher! O secretariado da Conferência Ibe- ro-americana vai efectuar, a pedido do governo português, um estudo para ava- liar o valor económico da língua portu- guesa, disse ontem (terça-feira) à agência Lusa o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro. “A metodologia já nos foi comuni- cada”, afirmou Pinto Ribeiro, destacan- do tratar-se de “metodologia semelhan- te a uma que se pediu para fazer um estudo para a língua castelhana”, acres- centou. “Nós gostaríamos de alargar esse estudo a todos os países de língua ofi- cial portuguesa”, acrescentou, vincan- do que “qualquer falante, qualquer eco- nomia de língua portuguesa, pode apro- veitar e internacionalizar-se nas asas da língua portuguesa”. O ministro da Cultura salientou, por outro lado, que um outro estudo, enco- mendado pelo Instituto Camões ao Ins- tituto Superior de Ciências do Traba- Conferência Ibero-americana vai avaliar valor económico da língua portuguesa lho e Empresa (ISCTE), também para avaliar o valor económico da língua portuguesa, “vai ser reinserido” no que vai ser efectuado pela Conferência Ibero-americana. “Esse estudo pedido pelo Instituto Camões vai ser reinserido. Nós, neste momento, estamos a desenvolver uma política, a lançar as bases e a estrutu- ra para uma política da língua em Por- tugal e que gostaríamos que fosse es- tendida a todos os países da Comuni- dade de Países de Língua Portugue- sa”, adiantou. “Isto significa recentrar a nossa po- lítica em matéria de língua neste es- paço, para o que vai ser constituído um fundo para a língua portuguesa”, disse. Esse fundo que permitirá “expan- dir a língua portuguesa”, permitirá também “enviar professores de por- tuguês para fora”. O ministro da Cultura revelou que o fundo vai ser anunciado dentro de um conjunto de medidas destinadas à pro- moção da língua portuguesa. “É um fundo especialmente queri- do, especialmente desejado pelo pri- meiro-ministro (José Sócrates) no sen- tido de centrarmos a nossa actividade em matéria de relação com os países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, na base da língua portu- guesa e da utilização da língua portu- guesa”, frisou. As medidas para a promoção da lín- gua portuguesa vão ser aprovadas no conselho de ministros desta semana, antecipado para quarta-feira, devido à viagem do primeiro-ministro José Só- crates para uma visita a Angola. Este conselho de ministros constitui o último encontro dos membros do go- verno português antes da Cimeira da Comunidade de Países de Língua Por- tuguesa, agendada para 24 e 25 deste mês, em Lisboa. Portugal assume a presidência da organização nos próximos dois anos e dedicará prioridade à língua. “Toda a política de relação com os outros países (em matéria de língua) vai ser feita” no âmbito da Comunida- de de Países de Língua Portuguesa, precisou. Nesse contexto, os Ministérios da Cultura, dos Negócios Estrangeiros e Educação “vão trabalhar no sentido da refundação do Instituto Camões”. Quanto aos custos que a execução de tal plano implica, José António Pin- to Ribeiro destacou que todo o Gover- no estará envolvido. “Será uma resolução aprovada pelo Governo, sob a liderança do primeiro- ministro. Todo o Governo estará mobi- lizado para este projecto, em termos institucionais e também em termos de internacionalização através da Comu- nidade de Países de Língua Portugue- sa”, sublinhou.
  • 5. 5 16 A 29 DE JULHO DE 2008 COIMBRA aesperanca@mail.telepac.pt Carlos Esperança ponte europa IRÃO: A FÉ À BEIRA DA LOUCURA NUCLEAR Bastavam ao mundo a loucura prosé- lita dos beatos e a incontinência verbal de alguns líderes para o planeta se tor- nar um lugar de horror. O preço do pe- tróleo e a míngua de alimentos contribu- em para adensar as nuvens que amea- çam a sobrevivência colectiva. É neste estado de pessimismo e desâ- nimo que o Irão lançou com êxito, a par- tir de local ignorado do deserto, nove mísseis com um raio de acção de 2.000 km, capaz de atingir numerosas cidades da região, nomeadamente Tel Aviv. Sabe-se como são piedosos os guar- das revolucionários de Teerão e como tem sido loquaz o presidente Ahmadine- jad a reiterar o desejo obsessivo de erra- dicar do mapa o Estado de Israel. Já não é a questão palestina, em que os árabes têm razão, que está em causa, é o desti- no colectivo da humanidade e a paz in- ternacional que estão ameaçadas pela hecatombe nuclear. Com a Europa bloqueada pelo Não irlandês e pelas suas próprias divergên- cias internas, com o pior presidente dos EUA das últimas décadas em fim de mandato, com o pavor das economias com a alta dos combustíveis, com a Rússia a responder ás provocações da NATO, o Irão encontrou o momento ideal para a demonstração de força. Hoje, pela vez primeira, o Irão pôs- me do lado de Israel e do seu direito de se defender. Nos períodos de crise, por maiores que sejam as contradições que nos dilaceram, não podemos hesitar na trincheira que escolhemos. ISRAEL tem o direito à sua existência. Sem «mas». IGREJA ANGLICANA NUMA ENCRUZILHADA A vitória dos fiéis progressistas que já haviam consagrado o acesso das mulhe- res ao sacerdócio, bem como de homos- sexuais, e, agora, ao episcopado, é o pre- núncio de um cisma em que a corrente conservadora se vira para Roma e os progressistas seguem o seu caminho como igreja protestante. O anglicanismo é uma criação oficial de Henrique VIII, separada de Roma desde 1534, embora o desejo de eman- cipação já fosse forte e o contributo da Reforma protestante decisivo. Por isso permaneceu sempre uma corrente, in- fluenciada pela Reforma, mais toleran- te e progressista que coexistiu com ou- tra mais tradicionalista e nostálgica do Vaticano. Para esta corrente, que tem menos adeptos e mais praticantes, o acesso das mulheres ao sacerdócio foi sem- pre uma espinha cravada no coração de quem não perdoa à mulher o peca- do original e a considera indigna do exercício do múnus. A luta constante entre liberais e con- servadores, que atingiu o auge com a in- dicação de uma mulher como Primaz da Igreja Episcopal dos EUA, teve agora um novo braço de ferro que ameaça de- sintegrar a Igreja que tem na Inglaterra e na monarquia inglesa a sua mais sólida referência. Após um breve retorno à Igreja cató- lica (1553/58) as vicissitudes do poder ditaram o regresso ao anglicanismo que, desde 1558, passou a ser a religião ofici- al. Hoje, todos os monarcas têm de jurar manter e proteger a fé e espera-se que casem com um protestante, obrigação mitigada pelo tradicional sentido da tole- rância britânica onde são numerosas as religiões e 23% da população é alheia a qualquer fé. Os homossexuais e as mulheres im- pedem que, no futuro, todos os anglica- nos possam frequentar a mesma missa. O cisma vem aí. Não é a fé que os divi- de, é a tolerância. Um auditório multi-usos, residênci- as, um restaurante panorâmico e va- lências desportivas, culturais e lúdicas estão contemplados na Aldeia do Médico, um empreendimento gizado pela Secção Regional Centro da Or- dem dos Médicos (SRC-OM) para Coimbra. Com custos provisórios estimados em 10 milhões de euros, o projecto está previsto para a Quinta do Couto, na Adémia, nos arredores da cidade, e as- senta num conceito pioneiro em Por- tugal, segundo disse ontem à agência Lusa o presidente da SRC-OM, José Manuel Silva. Contempla a construção de residên- cias assistidas para os médicos apo- sentados – a Casa do Médico -, ga- rantindo-lhes independência, qualidade de vida, conforto e segurança, e que coexistem, no espaço do complexo, com as valências da formação contínua dos Ordem constrói Aldeia do Médico com residências, centro de congressos cultura e lazer clínicos e ainda serviços de ordem re- creativa, desportiva e cultural. É um projecto distintivo para Co- imbra, que será auto-sustentável. Será um espaço único em termos da poliva- lência e do contacto que permitirá en- tre os médicos mais velhos e os mais novos, sublinhou o professor da Fa- culdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Para lá será deslocada a actual sede da SRC-OM e, no seu futuro centro de congressos, um espaço polivalente para as vertentes científica, formativa e de lazer, terá capacidade para even- tos participados por 1.500 pessoas. Na óptica de José Manuel Silva, este centro de congressos poderá ter um papel vital na captação do turismo científico. Nenhum dos grandes congressos nacionais se realiza em Coimbra. Co- imbra tem de explorar essa vertente, defende o médico, ao vincar que o nome da cidade é conhecido interna- cionalmente, mas, contudo, esse po- tencial não tem sido explorado. Segundo José Mário Martins, mem- bro da comissão da SRC-OM para o projecto da Aldeia do Médico, este em- preendimento que, se tudo correr bem, deverá estar concluído dentro de cin- co anos, representa uma oportunida- de para Coimbra se afirmar no pano- rama nacional. Vamos lançar o concurso global- mente, mas a construção será faseada num esquema compatível com a capa- cidade financeira da Ordem e o con- forto das pessoas, disse ainda José Mário Martins. Naquele espaço com vista para a ci- dade e situado junto de acessos estra- tégicos ao país, decorrem actualmente trabalhos de limpeza do terreno, onde a SRC-OM quer instalar também um Mu- NOS ARREDORES DE COIMBRA seu do Médico, um anfiteatro romano para espectáculos ao ar livre, uma pis- cina e uma zona de jogos mista. A Secção Regional Centro da Or- dem dos Médicos aposta ainda em manter na paisagem uma zona de mata mediterrânica, com a criação de ciclo- vias, zonas de passeios pedonais e cir- cuitos de manutenção, um dos exem- plos do conjunto de preocupações am- bientais que, segundo frisa José Ma- nuel Silva, acompanha o projecto. Fazer prevalecer o verde sobre o ci- mento e constituir-se como um projec- to de qualidade, com as últimas tecnolo- gias, amigo do ambiente, virado para o futuro e com possibilidade de crescimen- to modular são algumas das premissas orientadoras da Aldeia do Médico. Com mais de dez hectares, o terre- no mantém ainda a chaminé de uma antiga cerâmica, que a Ordem tencio- na preservar.
  • 6. 6 16 A 29 DE JULHO DE 2008 INTERNACIONAL Fiodor Lukyanov * *inrevista ARússianaPolíticaGlobal Bush na recta final Na cimeira G8, que decorreu de 7 a 9 de Julho no Japão, George W. Bush chamou ao Presidente russo «um homem inteligen- te», sem mostrar, no entanto, qualquer inte- resse em dialogar. De facto, o Presidente dosEUAnãovaitrabalharoudiscutirideias novas com Dmitri Medvedev. Bush já não templanospolíticosparaofuturo.Falta-lhe apenas ultimar as tarefas não acabados. Ou seja, deixar ao seu sucessor os assuntos e as obrigações nada fáceis de contornar. OPresidentenorte-americanoestánuma situação muito difícil. Os resultados da sua política externa são unanimamente avalia- doscomo«umrotundofracasso».DaAmé- rica Latina ao Médio Oriente desabrochou um forte anti-americanismo. Washington mantém as relações bastante frias com a maioria dos seus aliados. Na questão da segurança energética, falharam todas as tentativas norte-americanas de diminuir a dependência de fornecedores externos. Cresce sem parar a influência da China. Com a Rússia não existe uma agenda de acções comuns. E assim por diante. Bush precisa desperadamente de ver coroados de êxito pelo menos alguns dos grandes projectos iniciados durante a sua presidência. Entretanto, é impossível espe- rarumprogresso,pormaispequenoqueseja, no Iraque, no Irão, no conflito israelo-árabe e no Afeganistão. Restam poucos projec- tos: o Sistema de Defesa Antimíssil (SDA) na Europa Central e a aproximação da Ucrânia e da Geórgia da NATO. Ao que tudo indica, até ao fim do ano todos os esforços da administração norte- americana serão concentrados nestas direc- ções. Não há nada especial anti-russo nes- ta corrida na recta final. O 43.º presidente dos EUA simplesmente almeja um êxito na política externa. Infelizmente, ao tentar re- solver os seus próprios problemas, Bush arrisca a deixar, para o seu sucessor, as re- lações complicadas com Moscovo. Qualquer que seja o desenlace das elei- ções em Novembro, é difícil esperar que os EUA ponham de lado o SDA. Mas o prazo de realização do projecto, os ritmos de fi- nanciamento e os locais de instalação deste poderãosercorrigidosoualterados.Omes- mo se pode dizer quanto ao futuro alarga- mento da NATO. Talvez por isso a Casa Branca tenha re- dobrado ultimamente os seus esforços nes- tas direcções. Entretanto, à viagem, na passada sema- na, de Condoleezza Rice a Praga, onde as- sinou um acordo sobre a instalação de um poderoso radar em terra checa, e à curta visitaaTbilissi,ondeaaltadiplomatanorte- americana se colocou claramente do lado daGeórgia,emconflitocomaRússia,Mos- covo reagiu com uma dureza pouco habitu- al. O MNE russo prometeu uma resposta não diplomática, mas sim «técnico-militar» aos planos de defesa antimíssil norte-ame- ricanos. A actividade frenética da Casa Branca pode ter mais uma explicação: as posições muito enfraquecidas de Washington. Uma prova disso é o regateio, travado agora pela Polónia, em cujo território os EUA preten- dem colocar os mísseis interceptores. Há uns meses, Washington não imaginava en- contrar uma tão dura resistência por parte doseualiadomaispróximoelealnaEuropa Central. Pode-se referir mais um caso não me- nos significativo. Apesar de toda a pressão norte-americana, a Grécia não tem altera- do a sua posição quanto ao nome «Mace- dónia», e continua a vetar a entrada deste país, já há muito anunciada, na NATO. A questão continua em aberto. À luz desta conjuntura desfavorável, Washington prefere não adiar os assuntos políticos resolvidos (no caso da República Checa),jáqueaopiniãopúblicadopaís,di- ferentemente da elite política, se manifesta esmagadoramente contra a instalação do radar norte-americano. Quaisquer que se- jam as razões da pressa dos EUA, as con- sequências desta corrida na recta final não auguram nada de bom. A Geórgia sempre vê no apoio de Wa- shington um estímulo para acções cada vez maisduras.Oque,porsuavez,“levaaágua aos moinhos” dos que desejariam ver des- tabilizada a situação naAbkhásia, na Ossé- tia do Sul e na Rússia. DopontodevistadeTbilissi,quantomais próximo o patronato da NATO, maior a segurança na região. A Rússia vê tudo ao contrário:quantomaioréapossibilidadede Tbilissi de receber as garantias da NATO, mais actual será a questão de reconheci- mento da independência da Abkhásia e da Ossétia do Sul. Surge um círculo vicioso... A situação agudizar-se-á nos próximos meses. Em Dezembro, na cimeira dos mi- nistros de negócios estrangeiros dos países membrosdaAliança,Washingtondarátudo por tudo para ver a Ucrânia e a Geórgia incluídasnoplanodeacçãocomvistaàade- são à NATO. QuantoaoSDA,Moscovo,emprincípio, nada poderá fazer para contrariar os planos dos EUA. No entanto, os acontecimentos na Europa Central influirão seriamente na agenda «norte-americana» do novo Presi- dente da Rússia. Nos EUA já há muito que não há um presidente cujo fim de mandato fosse tão impacientemente esperado, tanto no país como no mundo em geral. No Outono do ano passado, numerosos políticos e países receavam que Bush tentasse resolver o pro- blema iraniano à força. Felizmente, esta opção desvaneceu-se pouco a pouco. A assinatura dos acordos sobre a instala- ção do Sistema de Defesa Antimíssil dos EUA na Europa Central e a decisão sobre a aproximação dos países no espaço pós- soviético da NATO não são tão devastado- ras como seria, por exemplo, uma acção militar contra o Irão. Mas qualquer desejo deGeorgeW.Bushdeultimarastarefasnão acabadas é prenhe de consequências pou- co agradáveis. Portugal com papel relevante na “União para o Mediterrâneo” O general Loureiro dos Santos, especia- lista em defesa, considerou ontem “muito positiva” a constituição da União para o Mediterrâneo e sublinhou que Portugal é o Estado “em melhores condições” para dia- logar com os países do Norte de África. “Portugal pode ser um ‘agente especial’ da União Europeia para a ligação com o Norte de África”, declarou à agência Lusa o especialista em defesa e estratégia. O general comentava a formalização, domingo, apadrinhada pela Presidência Francesa da UE, da União para o Medi- terrâneo, constituída por 43 Estados, que se comprometem a construir “um cami- nho para a paz, democracia, prosperidade e condição humana, social e cultural”. Na opinião de Loureiro dos Santos, Por- tugal tem um “benefício directo” nesta organização,”como Estado-membro da UE e como Estado-membro com capacidades especiaisparadialogarcomestespaíses,no- meadamente os do Norte de África”. “Portugal deve ser o Estado que está em melhores condições de lidar, de dialo- gar, com qualquer dos países do Norte de África, porque não tem contenciosos com estes Estados e nem sequer pode consti- tuir uma ameaça (tipo neo-colonial). Isso dá a Portugal uma grande vantagem neste tipodeligaçãonaUEcomoNortedeÁfri- ca”, afirmou o general. Loureiro dos Santos destacou que a ini- ciativa “tem grandes potencialidades para estabilizar a região em torno do Atlântico, especialmente o Norte de África e a Euro- pa”, já que esta última “pode ser afectada por ameaças, nomeadamente terroristas, provenientes do Norte de África”. Acrescentou que aUniãopode,aomes- motempo,promoverodesenvolvimentodo Norte de África, “que é, aliás, a única ma- neira de pôr um travão sério às ameaças terroristas”. “Pode também favorecer economica- mente a Europa, porque ela tem grandes dependências em termos de combustíveis fósseis e o Norte de África tem-nos (…), e, por outro lado, qualquer das regiões (UE e Norte de África) pode constituir um mer- cado apetecível para a outra”, explicou, LoureirodosSantos,desejandoqueainicia- tivaapadrinhapelaPresidênciaFrancesada UE tenha mais êxito que outras anteriores, como o Processo de Barcelona. Contudo, o general mostrou-se menos esperançado de que a União para o Medi- terrâneo (UPM), que no seu entender pode não resultar no contexto do conflito israelo- palestiniano. Em sua opinião, “o que está em cima da mesa do ponto de vista estratégico só pode- rá ser resolvido se houver uma posição de- cisiva, um esforço decisivo e uma vontade decisiva dos Estados Unidos”. “Só os EUA é que têm capacidade sufi- ciente para influenciar as estratégias de Is- rael. E, enquanto este não modificar algu- mas das suas estratégias penso que será difícilatingirumasituaçãodepaznoconflito israelo-palestiniano”,afirmou.
  • 7. 7 16 A 29 DE JULHO DE 2008 NACIONAL num dos melhores locais de Coimbra (Rua Pinheiro Chagas, junto à Avenida Afonso Henriques) VENDE-SE Informa telemóvel 919 447 780 Casa com 3 pisos grande quintal e anexos O bastonário dos advogados, Marinho Pinto, afirma em carta dirigida à classe que quer “acabar com o descalabro” na Ordem, nomeadamente com o “vergonhoso negó- cio” da formação dentro da instituição. “É altura de pôr alguma ordem na Or- dem e acabar com o descalabro a que estamos a assistir. Nos últimos anos o nú- mero de advogados tem crescido à média de 1.500 por ano. Na campanha eleitoral de 2004 éramos cerca de 22 mil e hoje já somosmaisde26miladvogadosemexer- cício.Aformação é um bom negócio den- tro da Ordem. Há muita gente que ganha bom dinheiro com isso, mas apresenta-se sempre como fazendo grandes sacrifíci- os pela OA”, escreve António Marinho Pinto na carta, datada de 14 deste mês, e que já suscitou uma posição do Conselho Superior da OA. E acrescenta na carta, a que a Agência Lusa teve acesso: “Essas pessoas não olham a meios para manter essa situação, incluindoosinsultoscontramim.Maseunão vou esmorecer. O meu programa de refor- mas é para cumprir e vou cumpri-lo. Res- ponderei perante quem me elegeu e não perante quem foi eleito para outros órgãos e para desempenhar outras funções dentro da Ordem dos Advogados (OA)”. “Candidatei-meefuieleito”–prossegue – “para fazer reformas. E uma dessas re- formas é acabar com o vergonhoso negó- cio da formação dentro da OA. Um negó- cio que só serve umas (poucas) centenas de dirigentes e formadores e no qual gas- tam milhões de euros das quotizações dos advogadosedas‘propinas’usuráriascobra- das aos estagiários”. “Só para inscrição no estágio são logo exigidos600ou700eurosacadacandidato e depois, durante o estágio, têm de pagar mais uma infinidade de outras despesas, desde conferências até à inscrição para exames”, lê-se na carta. “A formação tem sido o cancro da OA. O actual modelo de formação surgiu unica- mente com um objectivo: dinheiro. Surgiu MARINHO PINTO QUER “ACABAR COM O DESCALABRO” Bastonário contra o “vergonhoso negócio” da formação na Ordem quando,nosfinaisdosanos80,Portugalre- cebeu centenas de milhões de contos para formação profissional. Todos se atiraram a esses fundos com mais ou menos cupidez”, adianta o bastonário. SegundoMarinhoPinto,“infelizmente,a OAnãoficouatráselogoinstituiuaobriga- ção de os advogados estagiários assistirem a umas aulas criadas à pressa unicamente paraqueaOrdemealgunsadvogados(prin- cipalmente dirigentes da OA logo transfor- mados em professores) pudessem receber uma fatia dos fundos comunitários”. “E a verdade dura e crua é que toda a formação está entregue exclusivamente aos Conselhos Distritais (da OA), sendo eles (e quem com eles pactuou), obviamente, os únicos responsáveis por este estado de coi- sas, ou seja, pela massificação descontrola- da da nossa profissão”, escreve também o bastonário. Depois de se referir a “guerrilha inter- na”, Marinho Pinto alude também na sua carta “ao facto de alguns presidentes de ConselhosDistritaisteremjáfaladoemdes- tituição do bastonário”. “Trata-se de um método de acção psico- lógica bem conhecido que só pode afectar os medrosos ou os hesitantes.Amim não”, garante Marinho Pinto, aconselhando os advogados a começarem “a pensar se será necessário destituir os titulares de alguns órgãosdaOA,incluindo,obviamente,obas- tonário, ou então quem o quer impedir de levar a cabo o programa de reformas com que se apresentou às eleições e que os ad- vogados portugueses aprovaram com a maiorvotaçãodesemprenahistóriadaOA”. “Por mim não sou adepto desse método. Os meus princípios são os do respeito pelas regras da democracia e do respeito pelos resultados das eleições democráticas. Pode ser que não seja necessário recorrer a ou- tros métodos que não as eleições para apu- rar a vontade dos advogados portugueses; mas também pode vir a ser necessário, e então é bom que todos estejamos prepara- dos para isso, até porque a democracia não se esgota em eleições”, adverte. Marinho Pinto avisa que não desistirá: “Quero reafirmar que podem contar comi- go para levar a cabo as reformas que são urgentes na nossa Ordem para, nomeada- mente, inverter o ciclo de massificação da nossa profissão, dignificar a Advocacia e fazer com que a Ordem esteja ao serviço de todos os advogados e não apenas de al- guns.Apesar de todas as adversidades, não desistirei”. O Conselho Superior da Ordem dosAd- vogados(CSOA)decidiusolicitaraobasto- náriodaclasse,AntónioMarinhoPinto,que clarifique as denúncias que fez, visando o funcionamento dos órgãos da instituição e seus titulares. “O Conselho Superior entende, em con- formidade, e no exercício das suas compe- tências,notificarosenhorbastonário,solici- tando-lhe que, no âmbito dos seus deveres estatutários,contribuindoparaoapuramen- to da verdade, para o prestígio da Ordem dos Advogados e da Justiça, concretize as situações por si referidas para que não fi- que sombra de impunidade ou suspeita de calúnia”, lê-se na acta da reunião anteon- tem realizada. OsupremoórgãojurisdicionaldaOrdem declaratertomado“conhecimentodasmen- ções” queAntónio Marinho Pinto “vem fa- zendo em declarações públicas e em comu- nicado dirigido à classe, nomeadamente aquelas que visam o funcionamento de ór- gãos da Ordem e seus titulares”. Em declarações aos jornalistas, no final dareunião,opresidentedoConselhoSupe- rior da Ordem dos Advogados, José Antó- nioBarreiros,precisouquenãofoidadopra- zo para o bastonário clarificar as suas de- núncias. Há uma semana, o bastonário dos advo- gados acusou os dirigentes dos órgãos dis- tritais da instituição que criticaram o seu desempenho de estarem a fazer oposição interna e de não saberem o significado da democracia. Num jantar-conferência sobre a “Crise na Justiça”, em Leiria, Marinho Pinto afir- mou que “muitos dos magistrados, princi- palmente juízes, agem como se fossem di- vindades” e “actuam como donos dos tri- bunais”, locais em que os “cidadãos são tratadoscomoservoseosadvogadoscomo súbditos”. Em Março, numa entrevista à SIC Notí- cias, Marinho Pinto alegou que “há conspi- rações, ataques pessoais” na instituição.
  • 8. 8 16 A 29 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO CULPA NOSSA 34anosdepois,anossademocraciacon- tinuadébil,nãoporculpadospartidospolí- ticos ou dos governantes, mas por culpa de todos nós, ou seja, da chamada socie- dadecivil. É fácil atribuir culpas à oposição ou à classe política por tudo o que de mal acon- tece no país, mas a verdade é que sem uma sociedade civil devidamente esclare- cida e organizada há coisas que nunca se endireitam. Só num país em que o cidadão não tem defactonenhumpoder,épossívelqueaEDP diga aos clientes cumpridores que passam a pagar a factura dos que não pagam. (...) Francisco Sarsfield Cabral Página Um (Rádio Renascença) PATRIOTISMO (...) Vejo que D. José Saraiva Mar- tins conseguiu trocar a causa, aparente- mente perdida, da canonização dos pas- torinhos pela do beato Nuno de Santa Maria, que a memória melhor guarda como D. Nuno Álvares Pereira, o Con- destável. Não faço a injúria de conside- rar D. José o nosso agente no Vaticano, mas louvo-lhe o patriotismo que não es- morece. Creio que, com a troca, se ga- nhou espessura histórica. E adivinho aqui uma negociação dura, mas exemplar. É pena não lhe darem o pelouro da ingrata Irlanda. (...) Nuno Brederode Santos (jurista) DN 6/Julho/08 DEUS COMO MÃE (...) Um livro sagrado, por exemplo, a Bíblia,sótemvalidadeúltimaesóencontra a sua verdade adequada enquanto todo e na sua dinâmica global. A argumentação com fragmentos pode por vezes tornar-se inclusivamenteridícula.Assim,princípioher- menêuticoessencialedecisivodasreligiões e dos seus textos é o do sentido último da religião, que é a libertação e salvação. O Sagrado, Deus, referente último do religio- so, apresenta-se como Mistério plenamen- te libertador e salvador. É, pois, à luz desta intenção última que as religiões e os seus textos têm de ser lidos, concluindo-se que nãotêmautoridadedivinaaquelestextosque, de uma forma ou outra, se apresentam como opressores e discriminatórios. Então, não sendo normativos, deverão ser evita- dos nas celebrações religiosas. Éclaroqueahermenêuticafeministatem de ser uma hermenêutica da suspeita. Não é de suspeitar que religiões orientadas por homens e textos que têm homens como autores maltratem as mulheres, lhes sejam pouco favoráveis e as tornem invisíveis, as considerem inferiores e as coloquem em lugares subordinados? (...)Ateologia feminista mostra-se espe- cialmente crítica com a imagem de Deus “Pai”,portratar-sedeumaimagemqueleva “directamente à obediência e à submissão, de que a religião autoritária abusa”. Quer recuperar imagens que têm a ver com a vida,aamizade,oamor,aclemência,acom- paixão, a compreensão, a generosidade, a ternura,aconfiança,operdão,asolicitude... E o que é que pode impedir os crentes de se dirigirem a Deus como Mãe? Anselmo Borges (padre e professor de Filosofia) DN 6/Julho/08 A “POLÍTICA DO BETÃO” Cerca de 14 anos depois de o PS de António Guterres ter combatido a chamada «políticadobetão»ea«insensibilidadesoci- al» do Governo do PSD, chefiado por Ca- vaco Silva, proclamando «Primeiro as Pes- soas», uma das palavras de ordem que o faria chegar ao Governo, Manuela Ferreira Leite, a nova presidente do PSD, então mi- nistra de Cavaco, inicia a sua liderança fa- zendo,noseuestilopróprio,propostaseme- lhanteeomesmotipodecríticaaoGoverno do PS, chefiado por José Sócrates, ex-mi- nistrodeGuterres...Éassimenãoénovo:a política à portuguesa dá muitas voltas para, no final das contas, em geral, acabar nos mesmos sítios, com os mesmos partidos e as mesmas pessoas... De facto, o que sobressaiu nas interven- ções de Manuela Ferreira Leite (MFL), no Congresso do PSD, em matéria programá- tica,foiapropostadeprivilegiaro«social», oapoioaosmaisnecessitados,enãoasgran- des obras públicas. (...) José Carlos de Vasconcelos (jornalista) Visão SABOR A FOZ CÔA A história das gravuras de Foz Côa e da futurabarragemdoSaboréumaliçãoexem- plar dos malefícios da demagogia, servida na política. Guterres tinha acabado de che- garaprimeiro-ministroe,dosdisponíveisdos Estados Gerais, foi buscar para ministro da CulturaManuelMariaCarrilho(que,depois e quando a nave socialista começou a me- ter água, foi o primeiro a saltar fora e, des- mentindo a máxima de Guterres de que ‘Roma não paga a traidores’, acaba por ser compensado com o melhor tacho de todo o Estado português - o de embaixador na UNESCO). Juntos à época, Guterres e Carrilho resolveram inaugurar o mandato com uma decisão grandiosa: cancelava-se a barragem de Foz Côa, já em construção, e a benefício da preservação de uns taca- nhosrabiscosnumaspedras,quealguns‘sá- bios’ e alguns oportunistas decretaram ser gravuras paleolíticas.(...) Miguel Sousa Tavares (jornalista) Expresso 3/Julho/08 O GARROTE O paradoxo é real e explosivo. Ao mes- mo tempo que se anuncia a investigação como uma das apostas mais centrais da le- gislatura e se define a ciência como uma das alavancas mais decisivas da inovação e do desenvolvimento de que o País necessi- ta, descobre-se que as universidades estão àbeiradosufoco,afuncionaremdeprimen- tes condições terceiro-mundistas. O que, sendograveemsi,maisgravesetornadado o contraste entre este retrato e o espírito de abastança com que se impulsionaram vári- asparceriascomuniversidadesamericanas. Temsidoditoqueoorçamentode2009será finalmente o do consistente reforço do sec- tor – mas irá a tempo? Manuel Maria Carrilho DN5/Julho/08 A CRISE Portugal está em crise desde 2001. Ao longo dos últimos sete anos, a economia portuguesa esteve a divergir em relação à média europeia e foi ultrapassada por vári- os países da Europa do Leste. A crise é es- trutural. É uma consequência inevitável do crescimentodadespesapúblicaaolongodos anos 90. Cavaco Silva e António Guterres construíramumsectorpúblicocaro,pesado e ineficiente. O País está agora a sofrer as consequências. O sector público tem de ser sustentado com os impostos cobrados ao sector priva- do. Este facto não causaria grandes proble- mas se o sector público fosse eficiente e produtivo. Não é. O dinheiro dos impostos desperdiçado pelo sector público seria mais bem aproveitado se fosse reinvestido pelo sector privado. Portugal precisa de um sec- torpúblicomaispequenoemaisprodutivoe de uma carga fiscal sobre o sector privado mais baixa. (...) João Miranda (investigador) DN5/Julho/08 TERRAMOTO Um terramoto está a assolar a Europa. Não é detectável nos sismógrafos conven- cionais porque tem um tempo de desenvol- vimento atípico. Não ocorre em segundos se não em anos ou talvez décadas. Consis- te na convulsão social e política que vai de- correr da destruição progressiva do chama- do modelo social europeu uma forma de capitalismo muito diferente da que domina os EUA assente na combinação virtuosa entreelevadosníveisdeprodutividadeeele- vados níveis de protecção social, entre uma burguesia comedidamente rica e uma clas- se média comedidamente média ou reme- diada; na eficácia de serviços públicos uni- versais; na consagração de um direito ao trabalho que, por reconhecer a vulnerabili- dadedotrabalhadorindividualfrenteaopa- trão, confere níveis de protecção de direitos superioresaosquesãotípicosnoDireitoCivil; no acolhimento de emigrantes baseado no reconhecimento da sua contribuição para o desenvolvimento europeu, e das suas aspi- rações à plena cidadania com respeito pe- las diferenças culturais. A destruição deste modelo é crescente- mente comandada pelas instituições da União Europeia e pelas orientações da OCDE. (...) Boaventura Sousa Santos (sociólogo) Visão SER RETRÓGRADA EmentrevistaàTVI,entreproclamações dogénero“nemmaisumaobrapúblicapara Portugal”, e “ainda não sei bem por onde vou mas sei que não vou por onde vai o Governováogovernoporondefor”,anova líder do PSD assumiu não ser “suficiente- mente retrógrada para ser contra as rela- ções homossexuais”. Porém, para o caso de alguém a tomar por modernaça (coisa, que, depreende-se, atentará muito contra a suaparticularideiadecredibilidade)Manu- ela Ferreira Leite certificou que, afinal, de- fende que estas relações devem ser discri- minadas: “Pronuncio-me, sim, sobre o ten- tar atribuir o mesmo estatuto àquilo que é uma relação de duas pessoas do mesmo sexo igualmente ao estatuto de pessoas de sexo diferente (...) Admito que esteja a fa- zer uma discriminação porque é uma situa- ção que não é igual.Asociedade está orga- nizada e tem determinado tipo de privilégi- os, tem determinado tipo de regalias e de medidas fiscais no sentido de promover a família.” Ferreira Leite é não só livre de ser retrógrada e de achar bem que os ho- mossexuais sejam discriminados como é muito bem-vinda a clarificação (uma que seja) da sua posição sobre esta matéria. É até livre de achar que o casamento só serve para procriar. Pena que não apro- veite para propor que o Código Civil deve levar uma grande volta no sentido de proi- bir terminantemente o casamento a mu- lheres pós-menopausa, a homens com baixa contagem de espermatozóides e de um modo geral a todos os que não assi- nem uma declaração vinculativa da sua determinação de se multiplicarem. Por outro lado, ao postular que “a família tem por objectivo a procriação”, eximiu-se de explicar por que carga de água confun- de família e casamento. Que chamará MFL a casamentos entre pessoas de sexo diferente dos quais não resultam filhos e como qualifica as uniões de facto (que numa lei de 2001 equipararam casais he- tero e homossexuais): se as pessoas que vivem em união de facto não são uma família, serão o quê? (...) Fernanda Câncio (jornalista) DN4/Julho/08 MARIANO GAGO (...) Eu dormia bem com um Governo quemedeixasseirparafériaseaopaísconfi- antes em quem estava ao leme. Para não falar em ministros desaparecidos. Eu acho que o ministro Mariano Gago, metade do país não faz ideia se é ministro ou não. Nós temostudonesteGovernomenosumaequi- pa forte, coesa, que nos dê confiança para as dificuldades que aí vêm. (...) Nuno Morais Sarmento Entrevista à Rádio Renascença
  • 9. 9 16 A 29 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO ABANDONO (...) O abandono de recém-nascidos é antigo como o mundo, existiu em todas as classes sociais, consta de muitas das lendas e contos que passaram de geração em ge- ração.Heróisdamitologiaefigurasbíblicas foram mesmo despojados de qualquer ma- ternidade como se assim assumissem mais plenamenteasuagrandeza:RómuloeRemo alimentados por uma loba, Moisés deixado numa cesta deslizando pelas águas do Nilo até às mãos compassivas da irmã do Faraó. Ao longo de séculos, gerações de mulheres abandonaram os filhos e em muitos casos esse foi, ainda, um acto de amor. Ostemposmodernoscriaramailusãode que tais factos, agora apelidados de “fenó- menos”, eram residuais, que as causas que os provocavam iam desaparecer. Não foi assim. A Roda acabou mas foi substituída por uma pirâmide burocrática sem coração e sem rosto. As mãos que, após o toque da sineta, faziam girar a roda e acolhiam a cri- ança exposta foram substituídas por um Estadoque,comoseviuemPortugal,deixa impunemente que as crianças sejam usa- das e abusadas.Acondição humana é imu- táveleasuapseudo-sofisticaçãoparecenão ter resultado. (...) Maria José Nogueira Pinto (jurista) DN3/Julho/08 TRATADO DE LISBOA Fui, como se sabe, partidário do Tratado de Lisboa. Não pela sua qualidade, que não é boa. É um Tratado confuso, que remete para os tratados anteriores e que não é cla- ro nem simplificado, como queria Sarkozy. Pelocontrário,écomplexo,longoedifícilde compreender. Porque fui, então, a seu favor? Porque a União Europeia, depois do não francês e dinamarquês ficou paralisada e sem norte. Em consequência, cresceu o eurocepticis- mo e os cidadãos europeus cada vez se dis- tanciarammaisdeBruxelas.Eraprecisoum novo impulso, dar ânimo e confiança à Eu- ropa e a aprovação do Tratado de Lisboa servia para isso. (...) A história repetiu-se. Agora com o não da Irlanda, ao referendo de ratificação, com53,4%do«não»contra46,6%do«sim», sendo a taxa de participação de 53,13 por cento. Foi um balde de água fria sobre os europeístasdos27paísesmembrosdaUnião. Alguns proclamaram imediatamente (por- ventura com júbilo interior): «O Tratado de Lisboa, morreu.» Outros, como uma euro- deputada,forammaislonge(cito):«Foiuma derrota do Governo PS/Sócrates» e o re- sultado «contribui para travar um caminho muito perigoso das grandes potências euro- peias». Enganou-se: nem uma coisa nem outra. Não foi uma derrota para o PS/Sócrates; foi uma derrota para a União Europeia, lan- çando-anumnovoimbróglio,nummomen- to internacional de crise gravíssima. Imbró- glio que não aproveita a ninguém, nem so- bretudo aos que se comprazem em fazer a política (perigosíssima) do «quanto pior, melhor». (...) Mário Soares Visão SIGNIFICATIVO (...) Num dia destes liguei a televisão ao serão e deparei-me com o canal público, a RTP1, a falar de como fazer fois gras em casa de um notável embaixador (que apar- teceu com um cão ao colo). Passei para a SIC e viam-se jornalistas vestidas de canto- ras do grupo Abba, com cabeleiras às co- res, cantando Waterloo. A TVI passava a novela do costume e a RTP2 a Anatomia de Grey, uma série para maiores de 26 no canal da cultrura portuguesa. (...) Pedro Santana Lopes Sol5/Julho/08 (...) José Sócrates que se cuide, pois pode deixar de ter sossego mesmo onde não esperava. Se tudo isto não for, como não é, um acaso, então estamos, objecti- vamente, perante o regresso de Aníbal Cavaco Silva ao tabuleiro do xadrez po- lítico. Com Manuela Ferreira Leite como “rainha” e “bispos” e “torres” já em movimento. Não é nenhuma conspira- ção. É o sistema político a entrar numa nova fase. Pedro Santana Lopes Sol12/Julho/08 O PREÇO DAS MISSAS Aumentam os transportes e aumentam os preços das missas. Entre as minudênci- as materiais e a infinitude do espírito já não há as diferenças que implicavam um irre- dutível antagonismo.Avida quotidiana, no “socialismomoderno”deJoséSócrates,está insuportável.Ajudava,paraalguns,oencon- tro com Deus, na liturgia missal.Agora, até essealíviodosaflitoscobraaumento.Sabe- mos que não somos feitos para compreen- der muitas coisas, e que a política é a disci- plina das ambiguidades. No entanto, enten- demosmenosodomíniodovilmetalnoter- ritório do religioso. O preço das missas vai corresponder a que tabela? A uma medida semelhanteàdostransportescolectivos?Por tempo, equivalendo este à quilometragem? Em quanto vai importar uma modesta no- vena? E um piedoso rito de defuntos? (...) Em todos os conflitos contemporâ- neos, a Igreja tem desempenhado um pa- pel relevante. Para o bem e para o mal. Muitas das suas evasivas, numerosos dos seus silêncios atingem, historicamente, os domínios do escândalo. O papa do Hitler, Pio XII, que abençoou as Divisões Panzer, e estendeu o braço numa saudação aber- rante, não é, somente, a simbólica de uma época:reflecteumaintençãoeassinalauma ideologia. A evidência é que a dimensão histórica da cruz permitiu toda a espécie de abusos, inclusive o da superstição. As missas são agora mais caras.Adecisão, creio que vati- cana, obedece a uma exigência dos tem- pos, que transforma os arautos e servidores do Reino em deploráveis mercenários. “AglóriadeDeuséopobrevivo.”Afra- se de Ireneu deixa de fazer sentido. E o aumento do custo das missas, por módico que seja, sugere que a plenitude do amor na fé é gravemente amachucada. Pediam, os crentes, a salvação do mundo e a purifica- ção das pessoais almas. Para isso, oravam, naapoquentaçãodequemacreditaqueuma boa prece é sempre a derrota dos males concretos. Entre os quais estes, rudemente impostos pela política de Sócrates. O am- paro, presumidamente oferecido, na grata solidariedade de quem vive em plena co- munhão de afectos, dispõe, agora, de uma tabela de preços. Deus está no mercado. Baptista-Bastos (escritor e jornalista) DN2/Julho/08 ZEZÉ CAMARINHA EM LIVRO Acaba de ser publicado, com a prestigia- da chancela da D. Quixote, um texto que poderá vir a tornar-se histórico no nosso panorama literário. Intitula-se Zezé Camarinha, o último macho man português, e não tem, mas devia ter, o alto patrocínio da ILGA, por- quanto opera o pequeno milagre de fazer a apologiadahomossexualidadedeummodo que é comovente sem ser panfletário. Ca- marinha, é curioso notá-lo, não seria capaz de panfletarismo, seja porque a sua perso- nalidade é do tipo dócil, seja porque desco- nhece o significado da palavra «panfletá- rio» – tal como de qualquer palavra com mais de três sílabas, e a esmagadora maio- ria das que têm mais que uma. O primeiro aspecto a salientar é que a obraéinclassificável.Usoaqui«inclassifi- cável» não no sentido de ser difícil de ca- talogaremalgumdosgénerosliteráriosha- bituais(conto,romance,biografia),massim no sentido que lhe dá a frase «Eh pá, ele assaltou a velhota? Esse tipo é inclassifi- cável.» Em segundo lugar, importa referir que o próprio autor não se enquadra no perfiltradicionalde«autor»,namedidaem que, ao contrário da maioria dos autores, Camarinha não é ainda um homo sapiens sapiens, nem aparenta poder vir a sê-lo, mesmo na hipótese académica de viver até aos 400 anos. (...) Ricardo Araújo Pereira (humorista) Visão ACORDO ORTOGRÁFICO A CPLP vai reunir-se em Lisboa em 20 e 21 de Julho. É possível que oAcordo Or- tográfico volte sorrateiramente a fazer par- te da agenda. Pelo sim, pelo não, e para que não haja falhas de cabal esclarecimento, os signatá- rios da petição manifesto em defesa da língua portuguesa estão a entregar nas embaixadas dos países membros da CPLP um dossier com todos os pareceres negati- vos sobre o AO, que, de resto, se encon- tramarquivadosedisponíveisnoseublogue oficial (emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com). Apetição,quejárondaas80000assina- turas, deverá ultrapassar as 100 000 dentro de três semanas. Quando for discutida na AssembleiadaRepública,terámuitasmais. Mas, para já, será um firme e oportuno en- quadramento da sociedade civil para a reu- nião da CPLP. (...) Vasco Graça Moura (escritor) DN2/Julho/08 INVEJAR OS POETAS Pensava que uma das poucas qualida- des que tinha era a ausência de inveja. Não é verdade. Invejo os poetas. O que eu que- ria mesmo, o que mais queria neste mundo, o que mais desejava mas não tenho talento, era ser poeta.Até aos dezanove, vinte anos, só escrevi poemas. Descobri que eram maus, que não era capaz, que me faltava o dom. Foi um achado tremendo para mim, a certeza que a minha vida perdera o sentido. E então, aflito, desesperado, a medo, come- cei a tentar outra coisa, porque não me con- cebia sem uma caneta na mão. Nunca fiz contos, nem diários, nem tea- tro,nemensaiosecontarlériasnãomeinte- ressava. Interessava-me transferir o mun- do inteiro para o interior das capas de um livro.Echeiodehesitações,recuos,influên- cias,acertezaqueaindanãoeraaquilo,ain- da não era aquilo, dei início a este fadário. (...) António Lobo Antunes (escritor) Visão “O ESTADO DA NAÇÃO” (...) Em 1975 a Assembleia ainda sabia a gramática e usava com algu- ma eficiência a língua portuguesa. Hoje papagueia sem vergonha os lu- gares-comuns da propaganda partidá- ria ou perora num calão administrati- vo e “técnico”, que se destina habili- dosamente a esconder a verdade ou o vácuo. A tradição oratória, até a sala- zarista, desapareceu. Não há memó- ria de um discurso organizado e claro, que tenha tido sobre a opinião pública um efeito profundo e duradouro. A Assembleia é um clueb privado que, de quando em quando, a televisão mostra a um país mais do que indife- rente. O “debate” sobre o “Estado da Na- ção” da última quinta-feira exibiu in- voluntariamente o país como ele é: a indigência intelectual, a mesquinhez de propósito, a irresponsabilidade políti- ca. Daquela gente não se pode espe- rar nada.(...) Vasco Pulido Valente Público 11/Julho/08 Existe uma razão pela qual ainda não é possível eleger uma mulher para a Pre- sidência dos Estados Unidos: a guerra. As pessoas não confiam numa mulher para dirigir um país em guerra, e Bush fez um bom trabalho a convencer as pes- soas de que a América está em guerra desde o 11 de Setembro. Biologicamen- te, a guerra é assunto de homens, assun- to de virilidade e testosterona. A guerra, como a caça, pode ser praticada por mulheres mas não nos interessa muito matar bichos ou pessoas. A maternidade e a guerra são incompatíveis. E as gran- des vítimas das guerras são as mulheres e as crianças. (...) Clara Ferreira Alves Única (Expresso) 12/Julho/08 A GUERRA E AS MULHERES
  • 10. 10 16 A 29 DE JULHO DE 2008 CRÓNICA A OUTRA FACE DO ESPELHO José Henrique Dias* hdias@net.sapo.pt LOUSÃ - Nelson Fernandes arte em café * Professor universitário Nunca dispensava uma passagem, ao cair da tar- de, na enfermaria 2 do Serviço de Cirurgia. Tinha apenas três camas. Mantinha, como de resto todo o hospital, a limpa dignidade do tempo em que fora privado. Talvez essa a principal razão de ter senti- do os ventos da fortuna quando ali iniciei a minha formação. Passados todos estes anos, as centenas de intervenções, a respiração liberta dos casos re- solvidos e o que fica marcado, a despeito dos es- forços, pelos insucessos, olho para o serviço que dirijo e mobilizo-me nos colegas que ajudei a for- mar ao longo destes já vinte e cinco anos. Falava da enfermaria dois. Por causa daquele se- nhor que de algum modo me fascinou desde a pri- meira consulta. A ruralidade emergia no vocabulá- rio, mas um toque aristocratizante transparecia em cada gesto, na dignidade da apresentação, na sub- tileza da ironia no quadro da própria doença. Viera de longe, lá muito do noroeste transmonta- no, pela mão de um familiar ligado a um colega. Quando lhe explicaram como era a colonoscopia, atropelou o medo com uns gracejos sobre trajec- tos. Quando depois ouviu “tem uma ferida má”, pri- meiro sorriu, depois ficou vagamente tenso, por fim perguntou e então?, como quem dizia, o que posso esperar de vós ou o que me espera. Marcou-se a cirurgia para um tempo breve. Tudo correu como era esperado. Teve de ficar colosto- mizado. Aceitou com dignidade o saco e tudo o que lhe dissemos. Quis saber dos incómodos que podia provocar aos outros. Ficou aparentemente tranqui- lo. O pós-operatório decorreu com normalidade. O que me levava até à enfermaria a despropósi- to sobrevinha da vontade de viver que ele me de- volvia. Sempre empenhado em manter os outros bem dispostos. O sorriso e a palavra certa em cada momento. Aos oitenta e quatro anos, o senhor Quin- zinho tinha sempre uma história para todas as situ- ações. De menino Quinzinho, lá na aldeia e na casa grande, passou a senhor Quinzinho. Era assim co- nhecido sete léguas em redor do ninho paterno. Único varão da família, entre cinco irmãs, ocupou a lugar-tenência da gestão agrícola da casa. Não ia longe. Dava para os gastos e pouco mais, apesar da quinta, das courelas e das olgas, além de montes e pastos. Dispensava-lhe o tempo que podia. Orde- nava trabalhos, mas parava os trabalhadores. Pa- gava para lhes contar histórias, para desespero da família. Toda a gente gostava de trabalhar para ele. Pudera. Erguiam as costas, bebiam e riam, tinham a jeira certa. De boas contas não havia como ele. Tudo até ao tostão. Melhor que a gestão da casa lhe ia a espingarda de dois canos e o treino da cadela Lira. Aberta a época de caça, voltava com o cinto recheado e ain- da dava umas peças aos pexotes. Não falhava igual- mente em artimanhas de cana e anzol ao longo do ano. No Tâmega barbos e bogas, no Beça trutas de água gelada. As trutas dos rios do planalto do Bar- roso, fritas com taliscas de presunto dentro, eram de se lhes tirar o chapéu. Caçava nos montes, pescava nos rios e filosofava a compasso. Só precisava de quem o ouvisse. Casou já madurote. Na aldeia havia rapazio que lhe dava ares, barrigadas de moçoilas que serviam a família, Filosofemas… o que não retraiu a senhora que levou ao altar. Quando falava da mulher, então já com oitenta bem medidos, e uma cara de fazer inveja, como sublinha- va, reiterava outro brilho na íris azulada e lambia o sorriso. Fora a professora da terra durante uma eter- nidade. Palmatoada de criar bicho, mas distinções nos exames da quarta. Tiveram filhos que queima- ram fitas no Porto e em Coimbra. Falava da mulher e deles com orgulho e brincava com a memória. É uma grande mulher, dizia. Com oitenta e três anos faz a cama e… parava para medir o efeito e acrescentava brejeiro, …ainda me ajuda a desfazê-la. O senhor Petinga, da cama do lado, com anos de mar e lota de Cascais, desfazia-se a rir. Ouça esta, senhor doutor, ouça esta, agitava-se mal me via pas- sar a porta. Vinha historieta atrás de historieta. As- sim engoliam as tardes e as horas de sono, para esquecerem as amarguras da situação hospitalar. O senhor Petinga tinha sido amputado. A perna esquerda fora quase toda, que os compromissos cir- culatórios não deixaram alternativa. Conformara- se com a diabetes e acostumara-se à prótese. Es- tava de novo, passados uns meses, por causa de uns dedos do outro pé. As coisas complicavam-se em surdina. Ia rindo com o senhor Quinzinho, apresentava-o festivamente a quem ia de visita e aos médicos quando passávamos a rotina das verificações, mas tinha um problema metafísico. Volta que não volta, falava da eternidade. Para ele, com maiúscula, é evidente. Eternidade. Deba- tia-se com o Juízo Final e acreditava na ressurrei- ção da carne. Não eram muitas as dificuldades. Estava tudo no catecismo, ouvira sabe-se lá quan- tas vezes nas homilias dominicais. No tempo em que fora de missas. Com maior ou menos claro arrependimento, sen- tia-se no caminho da salvação. Se a doença fora castigo, as contas estavam saldadas com a moeda da perna perdida. Mas só até onde podia ir a sua compreensão dos mistérios da vida. As inquieta- ções eram muitas, e o senhor Quinzinho, que tivera um tio bispo, recordava-lhe que o dedo de Deus apontava os ímpios e também os que se afastaram do caminho da salvação. Ria, mas exorcizava os seus medos enquanto eclodiam ovos de pecados alheios. Não seria bem o caso do Petinga, pesassem em- bora uns negócios de saias na meia idade. Os medos que passara nas traineiras e um naufrágio em que perdera três companheiros, noite de frio e de trevas a boiar até que foi salvo, com a alma já encomenda- da a Deus, de mistura com os choros e gritos do mulherio de negro na praia, redimiam todas as faltas perante os desígnios do Senhor. Eram passaporte digno para ir desta para melhor, como dizia. Porquê melhor não sabia, ir desta é que não tinha alternati- va. Certificou-lhe o da cama do lado, quando a famí- lia o quis levar para casa. Mas não era esse o magno problema. Um dia, abei- rou-se de mim à boca pequena e segredou-me: Ó senhor doutor, morrer já não me assusta assim tanto, que eu sei que toca a todos, até ao senhor doutor que é um santo. Mas quando for do Juízo Final, quando for da ressurreição da carne, como é que vão en- contrar a minha perna? O senhor doutor por acaso sabe para onde mandaram a minha perna? Ainda hoje tenho a resposta atravessada na gar- ganta. Fiquei para li a tartamudear uns tantos dis- parates que de nada serviram ao senhor Petinga nem à ressurreição. Os problemas filosóficos têm a dimensão de quem os sente. Já Torga dizia, que filosofia por fi- losofia, é tão importante o problema dos universais (amplo, complexo e por resolver, pesem Boécio, Abelardo ou Ockham) como saber se chove ou não chove no dia das colheitas. Como diabo se vai saber da perna do senhor Pe- tinga, pensei, quando me vieram dizer que tinha mor- rido naquela noite. “Arch Leg” (escultura de Henry Moore nos Jardins Kew, em Richmond, arredores de Londres)
  • 11. 11 16 A 29 DE JULHO DE 2008 FESTAS DE COIMBRA CELEBRAÇÕES DA CIDADE E DA RAINHA SANTA ISABEL Coimbra saiu à rua para saudar a Padroeira Feira Popular no Choupalinho até domingo A Feira Popular de Coimbra tem vindo a alcançar assinalável êxito, com milhares de pessoas a procu- rarem o amplo recinto do Choupalinho, na margem esquerda do Mondego, para ali passarem bons mo- mentos de diversão de forma muito acessível. Para além de um bom programa de animação mu- sical, com grupos a actuar ao vivo, a Feira Popular está recheada das tradicionais diversões que fazem as delícias de miúdos e graúdos. Para além disso, proporciona também uma boa oferta gastronómica, nomeadamente de doces tra- dicionais (como as célebres arrufadas de Coimbra), mas também as sardinhas, o frango, as febras de porco, o bacalhau, tudo assado ali mesmo na hora, à vista dos clientes, para saborosas refeições. Por tudo isto, uma visita à Feira Popular é obri- gatória para quem ainda a não visitou - já que os que por lá passaram certamente terão desejo de voltar, aproveitando os tempos livres para agradá- veis momentos de convívio familiar, ainda por cima de forma muito barata - o que é relevante nesta época de dificuldades. E exactamente porque tristezas não pagam dívi- das, importa aproveitar esta oportunidade para esque- cer os problemas e relaxar o corpo e o espírito. De parabéns está o Presidente da Junta de Fregue- sia de Santa Clara, José Simão, e a sua equipa, que uma vez mais conseguiram, com parcos apoios, pôr de pé um certame repleto de animação. A visitar até à noite do próximo domingo Aspecto nocturno da Feira e imagem da inauguração, com José Simão a receber o Presidente da Câmara e o Vereador da Cultura, que saboreiam arrufadas de Coimbra (continua na página 13) Como é tradicional, de dois em dois anos (nos anos pares), a Rainha San- ta Isabel desce à cidade que a esco- lheu como Padroeira. A imagem vem em procissão, na quinta-feira à noite, até à Igreja da Graça, e de lá regres- sa no domingo à tarde, de volta ao Convento de Santa Clara, onde Isa- bel está sepultada. Este ano esse hábito de devoção vol- tou a cumprir-se, com um mar de gente a estender-se pelas ruas por onde as pro- cissões passaram. São da procissão do passado domingo as imagens desta página e as que publi- camos na página 13 (todas da autoria de Dinis ManuelAlves), que dispensam co- mentários.
  • 12. 12 16 A 29 DE JULHO DE 2008 PUBLICIDADE
  • 13. 13 16 A 29 DE JULHO DE 2008 FESTAS DE COIMBRA
  • 14. 14 16 A 29 DE JULHO DE 2008 CULTURA João Paulo Simões FILATELICAMENTE Edição Comemorativa do Bicentenário do Desembarque de Wellington na Figueira da Foz Um pequeno parêntesis na História do Selo Português, para falar de uma emissão comemorativa do Desembarque das tropas inglesas no Cabedelo (Figueira da Foz). Portugal encontrava-se invadido desde Dezembro de 1807 pelas tropas de Napo- leão. O povo estava à míngua, ameaçado e ultrajado. Por onde passavam os France- ses, era só rasto de destruição, incêndios, pilhagens. Tinham o país a seu bel-prazer. Portugal passou a ser uma colónia do Bra- sil, pois a Corte mudara-se para Terras de Vera Cruz ficando cinco pessoas a gover- nar o país. Junot, encarregou-se de as des- tituir e tomar ele o governo de Portugal. A Guerra Peninsular veio pôr termo à prosperidade do século XVIII. Declinaram asreceitas,umavezqueocomérciointerno e externo esteve paralisado. Aquando desta primeira invasão fran- cesa, o Reitor da Universidade de Coim- bra, Manuel Pais de Aragão Trigoso, ao tomar conhecimento de que era indispen- sável a tomada do Forte de Santa Catari- na, na Foz do Mondego, à entrada da bar- ra da Figueira – depósito de material de guerra de relativa importância e ponto es- tratégicoconsiderávelparaestabelecimen- to de comunicações com a esquadra britâ- nica que se avizinhava –, encarregou Ber- nardoAntónio Zagalo, sargento de artilha- ria e estudante da Universidade de Coim- bra, dessa patriótica missão. Académico Zagalo, como também era conhecido,formaemCoimbraumbatalhão com quarenta voluntários, vinte cinco dos quais estudantes, que, sob o seu comando, marcham no dia 25 de Junho de 1808 rumo à Figueira da Foz, com a missão de atacar de surpresa os franceses que ocupavam a então vila e o Forte de Santa Catarina. Pelo caminho,popularesdeTentúgal,Carapinhei- ra e outras terras do Baixo Mondego, fo- ram engrossando o batalhão. Em Monte- mor-o-Velho, o pequeno batalhão contava já com três mil populares armados de pi- ques, foices e lanças. Ouviam-se sinos en- tre clamorosas ovações. Ao romper da al- vorada, este engrossado batalhão chega à FigueiradaFoz. Zagalo mandou atacar a vila por duas frentes. Os soldados de Junot, que passeavam pela vila, foram tomados de surpresa e fo- ramconstituídosprisioneiros. Cercou-se o Forte. O plano de Zagalo consistia em fazer render os franceses pela fome,umavezquesesabiaquetinhampou- cos víveres. Dois dias depois, a 27 de Ju- nho, rendiam-se, e a bandeira francesa foi substituída pela portuguesa. Estão assim criadas as condições para o desembarque das tropas de Wellington no Cabedelo,comumcontingentedetrezemil homens juntando-se no mesmo local aos portugueses,paraassimpôrtermoàprimeira invasão francesa, derrotando Junot na ba- talha do Vimieiro, em 17 deAgosto. Pelo que lemos na imprensa figueirense, o Senhor Coronel Américo Henriques deu uma verdadeira lição de História no Salão Nobre da Câmara Municipal. A dada altura da sua “aula”, refere que “tudo,tudoopovosofreu.Edepois,durante a Revolução Liberal? O povo não acredita- va no Liberalismo, porque confundia o Li- beralismo com as Invasões Francesas! Os ideais da Liberdade, Igualdade e Fraterni- dade, que lhe queriam mostrar, eram os mesmos ideais que os franceses traziam na ponta das baionetas. E talvez por isso mes- mo o povo português foi tremendamente, encarniçadamente Miguelista! Esta é a ver- dade dos factos. (…)” Bibliografia: “Aspectos da Figueira da Foz de Maurício Pinto e Raimundo Esteves, 1945; História de Portugal deA. H. de Oliveira Marques, 1980 As Edições MinervaCoimbra apre- sentaram recentemente dois livros de poesia de Norberto Canha – “Voo ador- mecido” e “Momento, esperanças e cer- tezas”, ambos com o subtítulo “Contas aos netos” – numa sessão que decor- reu na Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, em Coimbra, com uma sala pequena para as várias deze- nas de amigos e familiares que quise- ram marcar presença. As obras foram apresentadas por Leo- nor Riscado e Luís Canavarro e a ses- são contou também com a presença do vereador da Cultura, Mário Nunes. Isabel de Carvalho Garcia abriu a ses- são, em nome da editora, cumprimentan- do os apresentadores e tecendo algumas considerações sobre o autor, enaltecen- do, nomeadamente, as suas qualidades de humanista. “Justo, sensível, preocu- pado com o mundo que o rodeia, tentan- do encontrar soluções para os problemas da sociedade actual e da juventude em particular,benemérito,filantropoquetanto se dá com o mais simples como com o mais nobre”, assim foi Norberto Canha definido por Isabel Garcia. “Com rasgos de futurismo e de inte- ACABA DE LANÇAR DOIS LIVROS DE POESIA Norberto Canha: médico sensível e humanista ligência, vivo e perspicaz”, Isabel Gar- cia reconheceu ainda em Norberto Ca- nha “uma enorme criatividade e pro- dutividade já que tem em fase avan- çada um outro livro”. Leonor Riscado apresentou então “Voo adormecido”, livro que conside- rou ser “fruto do labor apurado de um humanista e, como tal, um esteta”. Os que de mais perto privam com Nor- berto Canha, afirmou, “conhecem a sua grandeza de alma e a humildade da postura”. Em “Voo adormecido”, “o poeta conjuga, da primeira à última página, o neológico verbo Poemar, definido pelo próprio como harmonia possível entre a palavra, o pensar e o sentimento”, referiu ainda Leonor Riscado. “Tem- po e olhar, vida e morte são os binómi- os organizadores do metrónomo que comanda os ritmos desta obra, repre- sentativa da voz acordada de um poe- ta puro, que caldeia as memórias da infância com a simplicidade do meni- no que nasceu, cresceu e amou”. Já Luís Canavarro considerou “Mo- mentos, esperanças e certezas” um li- vro “breve” mas que “diz muito e obri- ga a pensar”. E a pensar naqueles as- suntos a que a nossa acomodação, ego- ísmo, conveniência e indiferença, nos tenta subtrair. Numa época em que “ouvir ou ler bom português, é cada vez mais difícil”, o li- vro de Norberto Canha é exactamente o oposto: “Está escrito numa linguagem clara, sem ornatos nem subterfúgios, pode ser lido por uma criança (aliás, uma criança entendê-lo-á mais facilmente do queumadultodesalentado),semcomisso perder uma formidável erudição”. O que não se espera, confessou Luís Canavarro, “é que os seus escritos abranjam um tão vasto leque de conhe- cimentos e de interesses, revelem uma alma sã e bem formada, traduzam um humanismo raro e sentido e denotem um espírito plenamente jovem”. Caracterís- ticas que fazem do autor um “homem de excepção”. No final, Maria dos Prazeres Francis- co, da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, também usou da palavra, tendo a sessão sido enriquecida com a actuação do grupo Fadvocal, se- guindo-se uma breve intervenção do au- tor e o encerramento por Mário Nunes. A tarde terminou com um champa- nhe de honra e a actuação do Coro da Ordem dos Médicos dirigido por Virgílio Caseiro. Norberto Canha
  • 15. 15 16 A 29 DE JULHO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO * Professora. Dirigente do SPRC Tendo, embora, a consciência de que o assunto de que vou falar não se reves- te, minimamente, da mesma importância de outras questões, como, por exemplo, o Código de Trabalho, abordo-o porque me tem incomodado e porque o conside- ro relevante, ainda que a outra escala. Trata-se da pouca consideração ou, mes- mo, do desprezo com que são tratados os professores, em geral, e o exercício da docência na área da Língua Portu- guesa, em particular. Esta desconsideração é verificável a vários níveis. Se é verdade que conside- ro revoltante o facto de não haver qual- quer critério realista ou interessante, para as aprendizagens dos alunos, com a cri- ação de duas novas categorias e com a decisão de quem é que ocupa que luga- res em cada uma dessas categorias, muito mais o é a situação de desempre- go ou de emprego nas caixas dos hiper- mercados, nas lojas de roupa ou noutras actividades. Estas, que nada têm de de- sonroso, não respondem, minimamente, Valorizar o ensino do Português Emília Sá * OPINIÃO à preparação e aos anseios dos jovens licenciados, sobretudo na área das lín- guas estrangeiras e portuguesa que so- nharam vir a ser professores, que fize- ram estágio profissional para o serem, que trabalharam imenso para o concluí- rem com êxito, e que estão, assim, suba- proveitados e, como é de esperar, defrau- dados nas suas naturais expectativas. Tudo isto acontece neste desgoverna- do país no qual a iliteracia é confrange- dora, no qual uma cada vez maior cama- da da população, desde os portugueses pertencentes às camadas sociais mais desfavorecidas (que não tiveram as mes- mas garantias de acesso a uma educa- ção correcta e completa) até aos políti- cos, passando por jornalistas..., tudo as- sassina a nossa língua. É o “tu disses- tes”, é o “tu fizestes”, é o “há-des”, é o “houveram muitas negativas”, é o “ficou aponte na acta”, são os sujeitos separa- dos dos predicados por vírgulas, são os filmes ingleses, para além de mal legen- dados, com erros crassos de ortografia… enfim, é o nunca acabar de disparates e de incorrecções que, confesso, me põem, pelo menos, mal disposta. Além disto, deve saber-se que grande parte do insucesso escolar se deve ao facto de os alunos não perceberem o que lêem, nomeadamente, não perceberem o que lhes é pedido, nos testes de avalia- ção ou nos exames, ou o que estudam, isto é, o que tentam estudar, já que não se consegue estudar o que não se per- cebe e, por isso, decoram. Perante tudo isto, retomo o que afir- mei, no início do meu texto, manifestan- do o desejo de que se reconheça a im- portância do ensino do Português e dos nossos Professores, sem que, com isto, esteja a sobrevalorizar esta área do co- nhecimento, porque muito há a fazer, aproveitando as potencialidades de quem se formou para formar bons e correctos utilizadores da língua portuguesa. O Sindicato dos Professores da Re- gião Centro (SPRC) questionou ontem (terça-feira) o destino dos 17,5 milhões de euros que as autarquias recebem para actividades de enriquecimento curricu- lar ans escolas da região, considerando que os docentes são mal pagos. As au- tarquias queixam-se de que aquela ver- ba é insuficiente. Numa conferência de imprensa ontem, em Coimbra, o SPRC contestou o actual modelo de “escola a tempo inteiro”, em que a maioria dos professores trabalha como “mão-de-obra barata e em condi- ções de extrema precariedade”, a reci- bo verde, nalguns casos a ganhar uma média de 190 euros mensais. De acordo com dois estudos realiza- dos pelo SPRC sobre as Actividades de Enrequecimento Curricular (AEC) no último ano lectivo nos seis distritos da Região Centro, ao qual responderam cerca de 90 por cento das autarquias, o Estado transferiu para essas câmaras um montante global superior a 17,5 milhões de euros. “Para onde é canalizado este dinhei- ro, se os horários dos professores são reduzidos, os pagamentos são baixos, os materiais para as actividades são insufi- cientes ou inexistentes?”, questionou Helena Arcanjo, coordenadora do De- partamento do 1º Ciclo do SPRC. Confrontado pela Agência Lusa, An- tónio José Ganhão, da Associação Naci- onal de Municípios (ANMP) contra-ar- gumenta que, “na generalidade, as au- tarquias têm défice com as AEC”. “Esta não é uma actividade lucrativa SPRC questiona destino de verbas que autarquias consideram insuficientes para as autarquias, longe disso”, decla- rou, referindo que o que as câmaras municipais recebem do Estado “é insufi- ciente para o serviço que prestam”. O dirigente da ANMP sustenta que as autarquias com escolas a funcionar em regime de desdobramento de horário têm inclusive de “alugar instalações (para as AEC) e suportam-nas à custa do seu orçamento”. Segundo o estudo, que abrangeu cer- ca de três mil profissionais, a disparida- de do valor/hora pago pelas AEC verifi- ca-se não só entre distritos mas mesmo entre escolas do mesmo distrito. Leiria e Guarda são os distritos onde foi pago um valor/hora mais baixo aos professores (7,19 euros), mas foi tam- bém na Guarda que se verificou o valor mais alto (17 euros). António José Ganhão confirma que, no país, houve autarquias a pagar 7 eu- ros e outras 20 euros à hora, o que levou a ANMP a colocar o problema à minis- tra da Educação. Para o próximo ano lectivo, no despa- cho das AEC há já uma estabilidade do índice remuneratório ao pessoal docente com habilitação própria que “acabará com a disparidade” dos valores pagos, afirmou. O financiamento que as autarquias recebem por cada aluno será aumenta- do em 12,5 euros, totalizando 262,5 eu- ros, o que, na opinião do dirigente da ANMP continua a ser “claramente insu- ficiente”. O SPRC exige que as AEC sejam dadas no horário escolar curricular, até às 15:30, e que a partir dessa hora e até às 19:00/19:30 sejam criadas actividades de carácter lúdico, para que as crianças passem a ter tempo para brincar. “Estes alunos, dos seis aos dez anos, são os do sistema educativo português com mais horas de escola - 35 semanais -, é um crime cometido pelo Ministério da Educação e muitos encarregados de educação estão adormecidos”, conside- rou Luís Lobo, dirigente do SPRC. Contactado pela Lusa, o director do gabinete de Educação da Câmara de Coimbra, Oliveira Alves, admite que “muitos pais e professores se queixam de que o actual modelo de AEC é muito formatado e retira tempo às crianças para brincar”. “A escola a tempo inteiro está a ser paga, em boa parte, pelas autarquias e não pelo Estado”, declarou, referindo que a autarquia pagou 15 euros à hora aos professores das AEC. Um dos traços mais negativos do fun- cionamento das AEC na Região Centro, segundo um dos estudos, é a “flexibilida- de do horário escolar”, com 92,2 por cen- to das escolas a funcionar em regime normal, 7,8 por cento em regime de ho- rário duplo (manhã/tarde), e 78,8 por cento com AEC das 15:30 às 17:30. Cerca de 90 por cento dos professo- res que asseguram as AEC trabalharam a recibos verdes, 64,3 por cento ganha menos de 500 euros mensais, e cerca de 50 por cento trabalha em média apenas cinco horas por semana. Os estudos ontem divulgados estarão disponíveis na página online do SPRC.
  • 16. 16 16 A 29 DE JULHO DE 2008 SAÚDE Massano Cardoso Asformigassãoconsideradascomoum exemplodeharmoniasocialemqueobem da comunidade está acima dos interesses individuais. Têm um elaborado sistema de organização com rainha e tudo. Pensava- se que a rainha deste sistema surgia por criação. Ou seja, algumas larvas receberi- amdeterminadosalimentosparaesseefeito e todas poderiam ter essa oportunidade. Umverdadeirosistemamonárquico-demo- crático.Agora,umartigomuitointeressante demonstra que não é bem assim. Afinal, asformigassão“traiçoeiras,egoístasecor- ruptas”.Tudo porque o estudo revelou que algumaslarvastêmmaisprobabilidadesde “Formiguinhas traiçoeiras, egoístas e corruptas”... setornaremrainhas,jáquetransportamum ou mais genes da “realeza” o que lhes dá uma vantagem face às suas “irmãs” altru- ístas. E tomam as adequadas medidas para evitarem ser detectadas, caso contrário a presença de um excesso de formigas com a mesma linhagem genética seria conside- rada hostil ao ponto de as restantes toma- rem medidas contra elas. Claro que os res- pectivos machos “reais” encarregam-se de propagar os “filhotes” por mais colónias, escapando à vigilância dos restantes. Se esta tese estiver correcta, os cientis- tas poderão provar que os ditos insectos sociais,consideradosparadigmasdeigual- dade, cooperação e harmonia, afinal tam- bém “cultivam” o fenómeno corrupção. Corrupção “real”! As sociedades humanas foram constru- ídas e são dominadas por muitos interes- ses, sendo a corrupção um fenómeno mui- to comum. Tão comum que nem Hadley- burg conseguiu escapar. “O homem que corrompeu Hadleyburg”, de Mark Twain, ilustra bem o poder e a força da corrup- ção. Numa cidade, considerada a mais ín- tegra e a mais honesta do mundo, a “incor- ruptível”, um forasteiro, que por lá passou, foi ofendido, provavelmente sem qualquer intenção por parte dos cidadãos. De qual- quermodo,arquitectouumaestrangeirinha tal que acabou por desmascarar a arro- gânciadapressupostaincorruptibilidadedos seus cidadãos e até do mais honesto de todos que acabou por morrer tresloucado. Mark Twain Hadleyburg mudou de nome e “é de novo uma cidade honesta e terá de le- vantar cedo o homem que, de novo, a apanhe a dormir” Entre nós, tem sido ventilado, por mui- tas individualidades, que esta praga está a atingir níveis muito preocupantes, pon- do em causa a harmonia e o bem-estar da grande maioria de cidadãos honestos e cumpridores das suas obrigações. Os “pais” da corrupção sabem “semear” os seus “genes”. A forma como o fazem, despudoradamente, não passaria pelos filtros das formigas “altruístas”, porque se estas os detectassem decerto que os eliminariam. Afinal,ofenómenoégeral.Nemassim- páticas e ordeiras formigas escapam... NOVO LIVRO DE MASSANO CARDOSO “Conversas de doenças” é o título do novo livro da autoria de Salvador Mas- sano Cardoso (Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coim- bra e nosso ilustre Colaborador). Trata-se do 5.º volume da colecção “Crónicas Paraepidemiológicas”, onde se reúnem algumas das crónicas que Sal- vador Massano Cardoso tem publicado em diversos órgãos de comunicação so- cial e também no blog 4R - Quarta Re- pública (http://quartarepublica.blogspot.com) de que é um dos colaboradores (e que bem merece uma visita regular, pelo in- teresse dos textos que insere. Esta obra, tal como as restantes 4 da referida colecção, é editada pelo Institu- to de Higiene e Medicina Social da Fa- culdade de Medicina da Universidade de Coimbra, de que Massano Cardoso é o principal responsável. Um livro onde são tratados temas de grande actualidade de forma muito inte- ressante e acessível. Cuidados primários em debate A ministra da Saúde propôs sexta-fei- ra, em San Salvador, que a XI Confe- rência Ibero-Americana de Ministros da Saúde, que se realiza em 2009 em Lis- boa, aborde o papel dos cuidados de saú- de primários na concretização dos ob- jectivos do milénio. “Propus o tema, que foi debatido e aceite de forma consensual”, afirmou Ana Jorge à agência Lusa, à margem da X Conferência Ibero-Americana de Mi- nistros da Saúde que decorreu na capital de El Salvador. Ainda segundo a governante, o tema a abordar em Lisboa na próxima edi- ção da conferência terá um aprofun- damento na área da informática e no- vas tecnologias, “nomeadamente no que diz respeito à telemedicina, às re- des de referenciação e à organização dos cuidados de saúde”. Dada a presença dos seus homólogos de uma vintena de países, Ana Jorge terá procurado, ao longo do primeiro dia do encontro, sondar a possibilidade de rea- lização de parcerias. “Há, da nossa parte, um interesse ao nível dos recursos humanos, uma vez que temos carência de médicos”, reconhe- ceuaministra,adiantandoteriniciado“al- guns contactos, ainda incipientes” com países como o Chile e a Argentina. Em ‘troca’ dos médicos, a Argentina, com carências no sector da enfermagem, podia “acolher jovens enfermeiros portu- gueses que estivessem disponíveis para trabalhar no país”, sugeriu a governante. Como exemplo de uma parceria já em curso, Ana Jorge referiu à Lusa o inter- câmbio estabelecido com o Uruguai.
  • 17. 17 16 A 29 DE JULHO DE 2008 SAÚDE Ascende a cerca de 17 mil o número de bebés que Agostinho Almeida San- tos, especialista em genética, conseguiu fazer nascer em casais com problemas de esterilidade. A revelação deste número muito signi- ficativo foi feita anteontem numa sessão do Rotary Club de Coimbra/Olivais, onde este professor catedrático da Faculdade de Medicina de Coimbra proferiu uma palestra intitulada “O início da vida”. Na apresentação do palestrante feita por um dos elementos daquele clube ro- tário (de que Agostinho Almeida Santos também é membro), foi revelado esse nú- mero muito expressivo de crianças nas- cidas depois da intervenção médica de Agostinho Almeida Santos junto de mi- lhares de casais inférteis que, vindos de todos os pontos do País e até do estran- geiro, o têm procurado ao longo dos mui- tos anos de exercício da actividade de especialista em genética e obstetrícia, que actualmente ainda prossegue. No decorrer da palestra, Agostinho Almeida Santos aludiu ao grave proble- ma que constitui a quebra do índice de natalidade da população portuguesa, sus- tentando que não será com os 300 euros de “prémio” por cada filho que se con- segue inverter essa tendência. Defendeu que uma medida que certa- Agostinho Almeida Santos ajudou a nascer 17 mil bebés de casais com problemas de esterilidade mente teria efeitos muito positivos seria a de apoiar cerca de 400 mil casais que es- timou exisitirem actualmente em Portugal com problemas de esterilidade e que de- sejam ter filhos, muitos dos quais poderi- am ver esse seu sonho concretizado se existissem mais aajudas por parte do Es- tado para uma eficaz resposta médica. Ainda em relação à crescente percen- tagem dos problemas de infertilidade no nosso País, Agostinho almeida Santos referiu que está cientificamente prova- do que para isso concorrem diversos fac- tores, entre os quais o uso dos pesticidas e as dioxinas geradas pela poluição at- mosférica. AgostinhoAlmeida Santos mostrou-se muito crítico relativamente ao aborto e ao facilitismo com que ele está a ser pra- ticado no nosso País. Salientou, a propó- sito, que os três dias que a legislação estabelece para reflexão das mulheres que querem abortar normalmente não têm efeitos práticos, porque raramente elas são devidamente esclarecidas sobre as transformações do feto logo após a fe- cundação. Asim, no decorrer da sua pa- lestra foi mostrando imagens de ecogra- fias feitasem vários estádios da evolu- ção do feto, salientando que quanto mais as técnicas de imagiologia evoluem, mais se comprova como logo nas primeiras semanas existe um ser vivo com identi- dade própria e que deve ser preservado. A Presidente do Rotary Club de Co- imbra/Olivais, Maria Helena Goulão (também ela médica e professora da Faculdade de Medicina de Coimbra) sa- lientou, no final, que a palestra ali apre- sentada por Agostinho Almeida Santos, por ser tão acessível e elucidativa, deve- ria ser levada às escolas de todo o País e trasmitida pelos meios de comunica- ção social, pois seria uma forma de de- monstrar o verdadeiro princípio da vida e levar a que ela fosse respeitada por quem hoje o não faz, na maior parte das vezes, por ignorância. Agostinho Almeida Santos quando proferia a palestra “O início da Vida” em sessão do Rotary Clube de Coimbra / Olivais A prestação de cuidados de cardi- ologia pediátrica em locais remotos através de telemedicina recebeu on- tem (terça-feira) o primeiro prémio das Boas Práticas em Saúde, instituí- do pela Direcção-Geral da Saúde. Esta segunda edição dos galardões, organizada pela Associação Portugue- sa para o Desenvolvimento Hospita- lar, também distinguiu um projecto de codificação de medicamentos nos hos- pitais públicos e um outro de rastreio visual pediátrico. Entregue na presença da ministra da Saúde, Ana Jorge, o primeiro pré- mio distinguiu o projecto do Centro Hospitalar de Coimbra/Administração Regional de Saúde do Centro, que visa prestar cuidados diferenciados de car- diologia pediátrica. A iniciativa pretende facilitar o acesso a consultas, assim como uma orientação em tempo real de situações de urgência e reduzir custos de des- TELEMEDICINA Cardiologia Pediátrica de Coimbra distinguida com 1.º Prémio das Boas Práticas locação e absentismo laboral associa- dos a uma consulta presencial. A redução da morbilidade e da mor- talidade pelo diagnóstico e interven- ção precoces e consultas de cardiolo- gia fetal por telemedicina são outros dos objectivos. Todos os hospitais distritais incluí- dos na rede, que funciona com banda larga, foram equipados com electro- cardiógrafos e ecocardiógrafos. O segundo prémio distinguiu o desen- volvimento e implementação de uma Codificação Uniforme de Medicamen- tos ao Nível Hospitalar, da iniciativa do Infarmed e Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. O projecto permitiu uniformizar a codificação, quando antes havia gran- de diversidade e um elevado grau de intervenção humana, que “era uma fonte potencial de erros”, assim como limitações na agregação de informa- ção, o que dificultava as análises de compras e consumos. O novo sistema permite monitori- zar consumos por hospital, por área terapêutica e por área de prestação de cuidados. A informação recolhida “permite fundamentar o processo de tomada de decisões a vários níveis com vista a uma gestão mais racional do medica- mento”, lê-se no resumo dos prémios entregues. Eduardo Castela é o principal responsável pelo êxito da telemedicina em Cardiologia Pediátrica