Versão integral da edição n.º 66 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 21.01.2009.
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Importante documento histórico que também explica vários motivos da deflagra...
O Centro - n.º 66 – 21.01.2009
1. DIRECTOR JORGE CASTILHO
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Autorizado a circular em invólucro
de plástico fechado (DE53742006MPC)
Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Telef.: 309 801 277
ANO III N.º 66 (II série) 21 de Janeiro de 2009 1 euro (iva incluído)
ESCRITORA E HISTORIADORA ESPANHOLA
EM ENTREVISTA AO “CENTRO”
Livro sobre
a Rainha Santa Isabel
com nova versão
sobre o “Milagre
das Rosas” PÁG. 13 e 14
AFIRMA CORREIA DE CAMPOS
Coimbra
é caso único
na Saúde PÁG. 17
a nível mundial
CASA MIGUEL TORGA AMANHÃ EM COIMBRA 15.º ANIVERSÁRIO COM MUNDO A VER
Alzira Seixo Universidade “Saúde em Obama
profere divulga Português” já é
conferência quem venceu lança livro Presidente
no dia 30 o seu Prémio de E. Castela dos EUA
PÁG. 3 PÁG. 11 PÁG. 16 PÁG. 4 e 5
2. 2 ANIMAL 21 DE JANEIRO DE 2009
CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”
A troco de nada ganhe um grande amigo
O Canil/Gatil Municipal de Coimbra pros- damente se adaptam aos seus novos apenas custam uns minutos na deslocação, Podem também enviar um e-mail para
segue uma campanha intitulada “Adop- donos (que, para além do mais, os esta- para escolher um companheiro (ou compa- aranimal@gmail.com
Cão”, com o seguinte lema: “Adoptem rão a poupar a um fim muito triste e tre- nheira) para a vida, que será sempre fiel e de ou consultar o site
um animal no Canil Municipal”. mendamente injusto). uma enorme dedicação e em troca apenas www.cm-coimbra.pt/741.htm
Trata-se de uma iniciativa muito me- Um cão ou um gato é sempre um pre- pede um pouco de atenção e de carinho. Os dias e horas especificamente desti-
ritória, que permite que pessoas que gos- sente bem recebido, desde que a pessoa a O Canil/Gatil Municipal fica no Campo nados às adopções são os seguintes:
tam de animais ali possam ir buscar um quem ele se oferece goste de animais, não do Bolão, Mata do Choupal, onde os ani- - segundas-feiras, das 14h30 às 16h30;
fiel companheiro, sem nada pagarem os encare como um brinquedo ou um ob- mais esperam, ansiosos, por uma nova casa - quintas-feiras, das 10 às 12 horas.
por isso. jecto e tenha condições mínimas para deles e uma nova família.
São muitos os cães (e também alguns tratar convenientemente. Os interessados em obter mais informa- Abaixo publicamos imagens de alguns
gatos) que esperam que gente com bom Se for o caso, não hesite em ir buscar ções podem ligar para o telemóvel 927 441 dos bons aamigos de 4 patas que estão à
coração os vá adoptar, tendo como re- um destes amigos muito valiosos em ter- 888 (a qualquer hora), ou para o Canil/Gatl espera de que alguém queira aproveitar todo
compensa conquistarem um amigo para mos materiais (basta ver os preços nas lo- (das 9 às 17h30 dos dias úteis) através do o carinho que têm para dar. e não se
toda a vida, já que estes animais rapi- jas de animais!...), mas que no Canil/Gatil telefone 239 493 200. arrependerá!
Aos Assinantes do “Centro”
Director: Jorge Castilho Como tem sido bem evidente nas notícias vindas a público, o sector da comunicação social
(Carteira Profissional n.º 99)
é um dos mais afectados pela crise que se abateu sobre toda a sociedade, sobretudo pelo brutal
Propriedade: Audimprensa decréscimo nos investimentos publicitários.
NIF: 501 863 109 Perante isto, até os grandes grupos de comunicação social estão a fazer despedimentos
Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho em massa, para além de haver muitos jornais reguionais que se viram obrigados
a suspender a publicação.
ISSN: 1647-0540
Aqui no “Centro” estamos a fazer um enorme esforço para superar as dificuldades.
Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930 Mas esse esforço só será bem sucedido se conseguirmos receitas de publicidade e se os nossos
Composição e montagem: Audimprensa
Assinantes tiverem a gentileza de proceder ao pagamento da respectiva assinatura anual
Rua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra - que se mantém em 20 euros desde o início do jornal.
Se quer que esta tribuna livre possa manter-se, muito agradecemos que nos envie o pagamento
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3. 21 DE JANEIRO DE 2009 NACIONAL 3
PROSSEGUE CICLO DE CONFERÊNCIAS NA CASA-MUSEU MIGUEL TORGA
Maria Alzira Seixo no próximo dia 30
vem falar sobre “O Senhor Ventura”
Prossegue no próximo dia 30 (sexta- Professora Catedrática da Faculdade de
feira da próxima semana), o Ciclo de Letras da Universidade de Lisboa, que
se desloca a Coimbra para falar sobre
“O Senhor Ventura”, uma das mais apre-
ciadas obras de Miguel Torga.
A conferência inicia-se às 17 horas,
na Casa-Museu Miguel Torga, e é aber-
ta a todos os interessados.
Recorde-se que a primeira conferên-
cia deste Ciclo foi proferida por Clara
Rocha, Professora Catedrática da Facul-
dade de Letras da Universidade Nova
de Lisboa, e filha do Escritor, que abor-
dou o tema “A Casa de meus Pais”.
Está já confirmada a presença de di-
versos outros conferencistas, entre os
quais Mário Soares, em datas que opor-
tunamente serão divulgadas.
Miguel Torga Maria Alzira Seixo EVOCAÇÃO EM LISBOA passada sexta-feira, por iniciativa da Es-
Conferências que está a ser promovido cola Superior de Educação Almeida Gar-
bra, sob o título genérico de “Identidades”. Entretanto, também em Lisboa a fi- rett, e com a participação de Maria Bar-
na Casa-Museu Miguel Torga, em Coim- Desta feita será Maria Alzira Seixo, gura de Miguel Torga foi evocada na roso e Carlos Carranca, entre outros.
ORIGINAL PRESENTE POR APENAS 20 EUROS AUDIMPRENSA
Jornal “Centro”
Ofereça uma assinatura do “Centro” Rua da Sofia. 95 - 3.º
3000–390 COIMBRA
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dido de assinatura através de:
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Temos uma excelente sugestão ma tão original, está a desabrochar, sua casa (ou no local que nos indicar), fax 309 819 913
para uma oferta a um Amigo, a um simbolizando o crescente desenvolvi- o jornal “Centro”, que o manterá ou para o seguinte endereço
Familiar ou mesmo para si próprio: mento desta Região Centro de Portu- sempre bem informado sobre o que de de e-mail:
uma assinatura anual do jornal gal, tão rica de potencialidades, de His- mais importante vai acontecendo nes- centro.jornal@gmail.com
“Centro” tória, de Cultura, de património arqui- ta Região, no País e no Mundo.
Para além da obra de arte que des-
Custa apenas 20 euros e ainda re- tectónico, de deslumbrantes paisagens Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,
de já lhe oferecemos, estamos a pre-
cebe de imediato, completamente (desde as praias magníficas até às ser- por APENAS 20 EUROS!
parar muitas outras regalias para os
grátis, uma valiosa obra de arte. ras imponentes) e, ainda, de gente hos- Não perca esta campanha promo-
nossos assinantes, pelo que os 20 eu-
Trata-se de um belíssimo trabalho pitaleira e trabalhadora. cional e ASSINE JÁ o “Centro”.
ros da assinatura serão um excelente
da autoria de Zé Penicheiro, expres- Não perca, pois, a oportunidade de Para tanto, basta cortar e preen-
investimento.
samente concebido para o jornal receber já, GRATUITAMENTE, cher o cupão que abaixo publicamos,
O seu apoio é imprescindível para
“Centro”, com o cunho bem carac- esta magnífica obra de arte (cujas di- e enviá-lo, acompanhado do valor de
que o “Centro” cresça e se desen-
terístico deste artista plástico – um mensões são 50 cm x 34 cm). 20 euros (de preferência em cheque
volva, dando voz a esta Região.
dos mais prestigiados pintores portu- Para além desta oferta, o beneficiá- passado em nome de AUDIMPREN-
gueses, com reconhecimento mesmo rio passará a receber directamente em SA), para a seguinte morada: CONTAMOS CONSIGO!
a nível internacional, estando repre-
sentado em colecções espalhadas por
vários pontos do Mundo.
Neste trabalho, Zé Penicheiro, Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO
com o seu traço peculiar e a incon-
fundível utilização de uma invulgar
paleta de cores, criou uma obra que
alia grande qualidade artística a um
profundo simbolismo.
De facto, o artista, para represen-
tar a Região Centro, concebeu uma
flor, composta pelos seis distritos que
integram esta zona do País: Aveiro,
Castelo Branco, Coimbra, Guarda,
Leiria e Viseu.
Cada um destes distritos é repre-
sentado por um elemento (remeten-
do para o respectivo património his-
tórico, arquitectónico ou natural).
A flor, assim composta desta for-
4. 4 OBAMA PRESIDENTE 21 DE JANEIRO DE 2009
ACTO DE POSSE PROVOCOU ENTUSIASMO EM TODO O MUNDO
Presidente Obama pede
“nova era de responsabilidade” do país
O novo presidente dos Estados Uni- No seu discurso após o juramento como ponsabilidade por parte de alguns, mas tam- Estados Unidos a nação que é: o traba-
dos, Barack Obama, pediu ontem (terça- Presidente dos Estados Unidos, Obama bém pelo fracasso colectivo em tomar as lho duro, a honestidade, a coragem, a jus-
feira) “uma nova era de responsabilida- apelou aos valores fundamentais do seu país decisões difíceis e preparar a nação para tiça, a tolerância e o patriotismo.
de” dos norte-americanos nas suas vidas começar um novo capítulo na sua história. uma nova era”, disse Obama. “O que nos é pedido agora é uma nova
e para o seu país no mundo, como força “A nossa economia está enfraquecida, Perante esses erros, Obama instou os era de responsabilidade, o reconhecimen-
de cooperação e diálogo. como consequência da avidez e da irres- norte-americanos a retomar o que fez dos to, por parte de cada norte-americano de
Antigos Presidentes Carter, George W. Bush e Clinton na cerimónia de posse
(imagem acima), que foi acompanhada com entusiasmo em todo o Mundo (como é
exemplo a foto ao lado)
5. 21 DE JANEIRO DE 2009 OBAMA PRESIDENTE 5
que temos obrigações face a nós próprios, amigo de cada nação e de cada homem, actuais requerem que os Estados Uni- te pelos problemas nas suas socieda-
à nossa nação e ao mundo”, disse. mulher e criança que procura um futuro dos façam um esforço maior para pro- des - saibam que o vosso povo vos jul-
No plano internacional, o novo Presiden- de paz e dignidade e que estamos prontos mover a cooperação e o entendimento gará pelo que conseguirem construir e
te quis assinalar uma mudança em relação para liderar uma vez mais”, afimou. entre as nações, perante a ameaça nu- não pelo que destroem. Aos que se
à administração anterior, apesar de ter Recordou que os Estados Unidos der- clear e o aquecimento global. agarram ao poder através da corrup-
agradecido seu antecessor pelo “seu ser- rotaram o facismo e o comunismo “com O presidente norte-americano ofe- ção e do engano e silenciando a dis-
viço” aos Estados Unidos. alianças sólidas e convicções fortes” receu “um novo caminho em direcção senção, saibam que estão do lado er-
“A todos os povos e governos que nos “O nosso poder só não nos pode pro- ao futuro” ao mundo muçulmano. rado da história, mas que estendere-
vêem hoje, desde as maiores capitais à teger, nem nos dá direito a fazer o que “Aos líderes que procuram semear mos a mão se estiverem dispostos a
pequena localidade onde nasceu o meu pai: nos apetece”, disse. o conflito ou responsabilizam o Ociden- abrir o punho”, declarou.
saibam que os Estados Unidos são um Obama assinalou que os desafios
Bush já passou para segundo plano
Samuel Jackson e Denzel Washington (imagem acima) foram dois dos milhares
de famosos que estiveram presentes na cerimónia de posse
6. 6 INTERNACIONAL 21 DE JANEIRO DE 2009
Cimeira Ibéria amanhã em Zamora
Os ministros das Finanças de Portu- orçamental, pelo menos em 2009. uvas dos dois lados da fronteira. ta-se de uma forma de colaboração im-
gal e Espanha reuniram ontem (terça- A Comissão Europeia prevê para 2009 O “Duradero” nasceu em 2005 quan- portante entre os dois lados da fronteira,
feira), em Bruxelas, para preparar a Ci- uma contracção da economia portugue- do se decidiu reunir uvas da Quinta do potenciando ao mesmo tempo a imagem
meira Ibérica que terá lugar amanhã sa de 1,6 por cento, o dobro do estimado Portal (Celeiros do Douro), no lado por- vitivinícola do Douro.
(quinta-feira, dia22) em Zamora, tendo por Lisboa (0,8 por cento), e um défice tuguês do Douro, com uvas das Caves “É um vinho de auréola negra, com
reafirmado o objectivo de consolidação orçamental de 4,6 por cento também su- Liberalia Enológica (Zamora), do lado aromas a fruta muito madura e com in-
orçamental. perior em 0,7 pontos às estimativas do espanhol do rio transfronteiriço. dícios de chocolate. Vinho encorpado
Segundo fonte governamental, Fernan- Governo (menos 3,9 por cento). Especialmente bem acolhido pelo mer- com boa persistência. Vale a pena guar-
do Teixeira dos Santos e Pedro Solbes Bruxelas também prevê que o défice cado, chegando a merecer 90 valores em dar umas garrafas para daqui a uns ani-
“trocaram impressões” sobre os planos público espanhol atinja os 6,2 por cento algumas das mais prestigiadas publica- tos. Bom vinho”, lê-se numa critica ao
de recuperação económica que os dois este ano, reflectindo a aplicação de me- ções enólogas de Portugal e Espanha, é Duradero no site WineCellar
países estão a aplicar para contrariar a didas de combate à crise, valor que cai- descrito com um vinho “especial” fabri- Para a revista “Blue Wine” o Dura-
actual crise económica. rá para 5,7 por cento do PIB em 2010. cado com uvas Roriz portuguesa e uvas dero nasce de um “casamento há muito
Segundo a mesma fonte, os dois minis- Teixeira dos Santos e Solbes encon- ‘toro’ espanhol. desejado”, assinado pelos enólogos Paulo
tros “reafirmaram” que a consolidação traram-se à margem da habitual reunião O nome do vinho foi retirado de ver- Coutinho e Sílvia Garcia, e que repre-
orçamental continua a ser uma prioridade mensal dos ministros das Finanças da sos do mais famoso poeta zamorano, senta “uma união transfronteiriça que se
e que, depois de se resolver a actual cri- União Europeia. Claudio Rodríguez, que sempre dedicou baseia num legado histórico comum, de
se, se retomará a trajectória que levará especial atenção ao Douro. um rio que simbolicamente banha os dois
ao equilíbrio nas contas do Estado. BRINDE COM VINHO IBÉRICO O primeiro encontro entre responsáveis países e os enlaça.
Os Estados-membros da União Euro- das duas produtoras ocorreu no âmbito “É um vinho que tem um rio a correr
peia decidiram lançar planos nacionais Os participantes na 24ª Cimeira luso- do encontro vitivinícola Vinos Duri, que nas veias. Consegue o nobre feito de
de recuperação económica que implicam espanhola vão brindar com um vinho ‘ibé- decorreu na cidade de Zamora em 2005. casar dois países dentro de uma garrafa
um agravamento geral da sua posição rico’ que nasceu de um ‘coupage’ de Para os responsáveis da iniciativa tra- e galgar fronteiras”, explica a revista.
2009: um ano de problemas globais
obteve, em 1709, a vitória definitiva sobre UE, em primeiro lugar a Polónia e os to Europeu. Pensava-se que os novos
Fiodor Lukyanov * o exército sueco do rei Carlos XII e um Estados Bálticos, aproveitarão a memó- eurodeputados iriam representar uma
corpo de cavalaria cossaca, comandado ria do passado para apresentar a sua vi- nova união, com base no novo Tratado
O mundo olha com medo para o ano pelo cabo de guerra ucraniano Mazepa. são da política europeia contemporânea. de Lisboa e simbolizando uma maior in-
recém-nascido, receando imprevisíveis A data será aproveitada para especula- O segundo evento fará regressar os tegração. A festa foi estragada pelos ir-
consequências económicas e políticas da ções políticas, envenenando ainda mais as debates sobre os vencedores e os venci- landeses, que declinaram o documento
crise global que deflagrou em 2008. relações entre Moscovo e Kiev. dos na «guerra fria». No Ocidente tem no referendo em 2008. Mesmo em caso
Em Abril, em foco estará a segunda Em Abril, na cimeira da NATO (que surgido um perigoso sentimento de triun- de vitória do «sim» num novo referendo
cimeira dos «Vinte Grandes». Nos me- terá lugar na fronteira franco-alemã) fes- falismo, de absoluta supremacia moral e a realizar em 2009, durante a presidên-
ses que faltam, os maiores países não tejar-se-á o 60.º aniversário da Aliança. política, de um sortido de ideias sem al- cia checa na UE, o Tratado de Lisboa
serão capazes de implementar a Decla- Os promotores não querem ofuscar a ternativa. Na Rússia, acaba de aparecer vai entrar em vigor apenas em 2010.
ração sobre os Mercados Financeiros e cimeira com temas capazes de pôr a nu uma espécie de vontade de «desforra». O ano de 2009 não verá resolvidos os
a Economia Mundial, aprovada em No- as divergências entre os países membros, Naturalmente, será difícil chegar a um problemas da UE, que continua a enfer-
vembro de 2008 em Washington. O do- sendo pouco provável que a Geórgia e a entendimento sobre este assunto. mar da contradição entre política de alar-
cumento prevê uma série de medidas Ucrânia constem da agenda. Em Outubro, assinala-se o 60º aniver- gamento ou de maior integração. A crise
colectivas destinadas a «elevar o nível O evento é também excelente pretexto sário da proclamação da República Po- financeira apenas contribuirá para agra-
de transparência e controlo». para a primeira viagem do Presidente dos pular da China, que certamente servirá var o processo de estratificação iniciado
Vários analistas e investigadores apon- EUA à Europa onde será recebido com para lembrar a todos o papel que este faz algum tempo. A votação em 2009 é
tam, faz muito, a contradição existente euforia. O futuro discurso de Barack país desempenha no mundo de hoje. A capaz de estabelecer um novo recorde
entre o carácter global dos processos no Obama sobre a unidade transatlântica China também terá duas datas menos de absentismo que não pára de aumen-
nosso planeta e o pensamento político a pode entrar, de antemão, nos anais de agradáveis: em Março, o 50º aniversário tar desde 1979.
fluir por bitolas nacionais, entre a neces- Arte Oratória. da rebelião no Tibete, e em Junho, o 20º As mais importantes eleições nacionais
sidade de acções colectivas e a impre- No entanto, os problemas reais da aniversário da sangrenta repressão das terão lugar em Setembro, na Alemanha.
paração para tal actuação. NATO permanecerão. A Aliança não tem manifestações estudantis na Praça da Mais uma campanha eleitoral, prenhe de
Uma confirmação disso será a Confe- uma missão bem definida e a situação Porta da Paz Celeste, em Pequim. trambolhões à escala europeia, terá lugar
rência da ONU sobre Mudanças Clima- no Afeganistão continua a piorar. na Ucrânia, onde decorrerão as presiden-
téricas que abrirá em Novembro em Co- As relações com a Rússia continuarão UM ANO DE ELEIÇÕES ciais. Nem um possível colapso económi-
penhaga. O seu objectivo consiste em no centro das atenções da NATO. E pelo co, nem a perspectiva de choques políti-
acordar um documento em substituição menos alguns países membros tentarão As eleições que determinam em gran- cos são capazes de deter as elites ucrani-
do Protocolo de Quioto que expira em aprsentar Moscovo como uma ameaça de parte a política em 2009 realizaram- anas de uma luta fratricida.
2012. Espera-se uma luta renhida, já que capaz de consolidar a Organização do Tra- se nos EUA no fim do ano passado. Em As eleições gerais terão lugar na Ín-
à ecologia estão estreitamente ligados tado do Atlântico Norte. A propósito, em 20 de Janeiro (ontem) tomou posse o dia, onde a oposição nacionalista tem
muitos interesses egoístas, que os princi- Março completam-se 10 anos sobre a pri- Presidente Barack Obama. As expecta- chance de vencer. A população está des-
pais jogadores – os EUA, a UE e a China meira acção militar da NATO, nomeada- tivas com ele relacionadas são compa- contente com a actuação do governo
– tentarão impor sob a capa de preocu- mente a guerra contra a Jugoslávia. ráveis apenas com as de representação durante os recentes ataques terroristas
pação pelo futuro da Humanidade. Duas datas – o 70º aniversário do de prestidigitador ou milagreiro. Barack em Bombaim. Finalmente, no Irão vão
Pacto Molotov-Ribbentrop e do início da Obama terá, sem dúvida, um «ano de escolher presidente. A derrota do actual
UM ANO DE ANIVERSÁRIOS II Grande Guerra (Agosto-Setembro), e mel». Mas é impossível prever como será chefe de Estado (bem provável devido à
o 20º aniversário da queda do muro de a «performance» real do 44º presidente difícil situação económica no país) con-
Em Julho, assinala-se o 300º aniversá- Berlim – vão esimular a discussão histó- norte-americano. tribuiria para diminuir a tensão em torno
rio da Batalha de Poltava. Perto daquela rica que se transforma num factor das Em Junho, os cidadãos dos 27 países do problema nuclear iraniano.
cidade ucraniana o czar Pedro, o Grande relações internacionias. Os neófitos da da UE vão ter eleições para o Parlamen- * in revista A Rússia na Política Global
7. 21 DE JANEIRO DE 2009 NACIONAL 7
ponto . por . ponto
a culpa solteira
Por Sertório Pinho Martins
dos actos consonantes de quem privile- com apenas 1,5% de execução? E de- ve! – liquidou à partida o interesse da coi-
Num país onde de repente todas as gia a estabilidade. Mas a dúvida corroe: pois de 2013, de que vamos viver quan- sa, ao pôr em praça apenas jornalistas ‘da
consciências despertaram ao mesmo e os que ajudaram à queda no abismo, do o orçamento comunitário estiver nas casa’. Imagine-se um Miguel Sousa Ta-
tempo para as impunidades que o regi- mesmo sabendo que estávamos à beiri- encolhas e com 27 países a sugar a mes- vares ou uma Constança Cunha e Sá tam-
me tem consentido ao longo de muitos nha e que um passo a mais era a passa- ma teta magra e exausta? E quem ali- bém em palco, a deitar lume pelos olhos e
anos, não podia haver duas sem três: gem para a outra dimensão? O preço do menta a vaca senil? Nesse dia, e com chamas pela língua! Por isso desde o iní-
depois do BPN e do BPP, também o BP petróleo só disparou para níveis caóticos um intróito doloroso já em 2010, a ‘dívi- cio que o desfecho era mais ou menos
caiu na arena das suspeições (e sabe-se em 2008, enquanto que a nossa dívida da externa’ vai ser o garrote do nosso previsível, pese embora a lucidez política
lá o tamanho do laudatório que aí vem). externa saltou de 7,4% do PIB em 1996, futuro! E quando um país chega a este (há que reconhecê-lo) e a preparação que
E só é pena que esta sigla de BP diga para uns assustadores 90% no fim do ano limiar de inanição adivinhado, não acon- o entrevistado demonstrou relativamente
respeito ao Banco Popular e não ao Ban- passado. Ah, mas o governo já prome- tece nada? A ninguém? ao que o esperava.
co de Portugal, por tão simples quanto teu à UE que actuará severamente se Tudo aponta para que, em termos de E voltando à vaca-fria das culpas sol-
isto: ninguém acusa o seu governador de os preços dos combustíveis não acom- recessão mundial, falte apenas um pe- teiras, recorde-se o que para aí vai nos
actos do foro criminal, mas tanta falha panharem os do crude no longo prazo queno passo para algumas economias sectores da Agricultura (um ministro-fan-
grave de supervisão só tem um rosto e (???). Alguém decifra esta promessa e darem o estoiro, com réplicas gigantes- toche, já questionado por deputados da
esse é o de Vítor Constâncio. E Cadilhe a sua utilidade “no longo prazo”? cas no plano social (mais pobreza, aban- sua própria bancada – e fica tudo como
foi apenas o último a dizer que o rei vai É que já nesses distantes anos 90, o dono escolar, desemprego, delinquência no reino dos anjos), Economia (milhares
nu! Ora se um banqueiro (Tavares Mo- engº Guterres se via em palpos de ara- e fuga de quadros), com uma derrocada de empresas no fio da navalha, 150.000
reira foi exemplo), se um magistrado nha para fazer contas sobre o PIB – mas dos modelos jurídico e policial, com a dis- novos empregos na legislatura por água-
(Fernando Negrão idem), ou outro qual- lá o castigaram exemplarmente dando- persão das famílias em busca de melhor abaixo, grupos-de-referência a despedir
quer alto responsável público ou priva- lhe por penitência a função de alto-co- vida (e consequente desmembramento às centenas, projectos turísticos com bi-
do, foram impedidos durante anos de missário para os refugiados da ONU. E da célula-base das sociedades humanas), liões-UE a ser comidos pela prioridade
exercer funções em actividades onde se hoje? Alguém assume a paternidade do e com um clima propício a Estados mus- de refinarias em território espanhol),
apontavam fortes indícios ou mesmo se monstrozinho? Quem levanta o dedo? O culados (Rússia, China, Irão, repúblicas Educação (eleições, a quantos recuos e
tiraram juridicamente conclusões de senhor? Ou o senhor? Ou a senhora?! sul-americanas,…). E – but not the le- fugas à retaguarda obrigas uma pobre
desempenho gravoso, por que não pode um Ninguém! ast – pode até estar muito próximo um ministra, disposta já a dar todos os-ditos-
governador do banco central ou um mem- E se em 2009 chegarmos aos 100%, ‘desespero’ global conducente a confron- por-não-ditos), Obras Públicas (afinal há
bro do governo da República, desatentos com o endividamento externo debruado tos militarizados, que começarão nas zo- dinheiro ou não para Alcochete, TGV,
das suas funções, serem igualmente impe- com os respectivos juros (o que significa nas do globo mais atingidas pela ressaca novas autoestradas, mais o supremo ri-
didos de exercer cargos de responsabili- um país inteiro hipotecado ao estrangei- e se alargarão depois na medida dos dículo de querer saber o calendário de
dade nacional por um período correspon- ro), alguém põe a corda do Egas Moniz grandes interesses mundiais: domínio das inaugurações e lançamento de primeiras-
dente às falhas cometidas? Mudá-los de ao pescoço? O senhor aí, não?... É que fontes de energia, negócio de armas, for- pedras), Finanças (Orçamento, impostos,
cargo ou de pasta, não dignifica o regime após os 100%, senhor ministro, o passo necimento alimentar a países emergen- défice, dívida pública, troca de mãos pe-
nem redime a asneira. E só faltava a As- seguinte é a escassez galopante daquilo tes, e tudo o mais que os génios huma- los pés a cada intervenção pública), Ad-
sembleia da República não deixar Vítor com que se compram os melões e que nos sabem inventar para cavalgar a vida ministração Interna (insegurança nas
Constâncio e Teixeira dos Santos serem tem alimentado o crédito às famílias (bens, às costas dos mais desfavorecidos. Por- ruas, criminalidade exponencial, salada
livremente ouvidos em sede da Comissão serviços, alguma alimentação), ao inves- que o fervor dos nacionalismos patrióti- de polícias). E por muito espírito de bom-
Parlamentar de Economia e Finanças! timento (PMEs, matérias-primas, imobili- cos, esse ficou amarrado ao cadáver do beiro que o primeiro-ministro tenha, e lhe
Estamos metidos numa camisa de ário), e por aí fora. E o nosso derrapar ao século XX! sobre vontade de apagar fogos, nem os
onze varas, que veio para durar. E não é longo de anos, é filho único da crise finan- E neste contexto de camisa de onze rigores polares que nos visitam se lhe
só por causa dos salpicos da crise finan- ceira externa? Ou é filho bastardo da vis- varas, a recente entrevista do primeiro- comparam: a água das boas-intenções
ceira mundial! Sabe-se que assim é, e ta grossa que campeou à sombra do regi- ministro na SIC exalou uma evidente pre- gela à saída das mangueiras do discurso
que a asneira nos entrou pela porta bem me? Ninguém pergunta? Ninguém respon- ocupação de não deixar instalar o pânico. político, por mais sedutor que ele seja! E
mais cedo do que as pitonisas do poder de? Estamos amordaçados?! Que se louva! Mas o pagode está dema- nem a lenga-lenga da nossa meninice
querem fazer-nos crer. Mas também se Os tempos em que a França e a Ale- siado ansioso, para perder tempo a deci- nortenha se vislumbra no horizonte: “era
sabe que o tempo não é de instalar pâni- manha sustentavam uma CEE “dos frar entrelinhas bem-intencionadas: quer uma bez um vombeiro boluntário que
cos que podem acabar com multidões Doze”, já foram: hoje é cada um a sacu- é saber se vai comer amanhã e quanto binha da vandas de Velém com o vico
espezinhadas à saída de todos os túneis dir a chuvada que nos encharcou até aos lhe toca nos aumentos salariais de 2009. da vota a vater na varriga do vurro”!
por onde navegaram enganadas com a ossos, e que apanhou toda a gente a pas- E nem se apercebeu, durante a entrevis- E neste país esquecido por Deus, con-
promessa de luzes ao fundo! O momen- sear de manga curta. Como vai ser até ta, de eventuais lapsos de memória ou de tinuará a haver filhos e enteados, en-
to é, antes de mais, de et pluribus unum ao fim deste QREN, coxo e desperdiça- perguntas-de-alhos com respostas-de-bu- quanto as culpas dos homens morrerem
– e, nesse aspecto, partilho da opinião e do desde o início de 2007, e desde então galhos. Mas um erro de base – que o hou- solteiras!
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8. 8 OPINIÃO 21 DE JANEIRO DE 2009
A MAIOR RIQUEZA: OBAMA E O MUNDO tando suspensos ou adiados os projectos
SEMELHANTES de construção de dez novos hospitais. Só
A lista das nomeações da nova equi- entre 2006 e 2007, as taxas moderado-
pa da Casa Branca não entusiasmou ras nas Urgências aumentaram cerca de
(...) Como recordava recentemente, em
aqueles que, durante o último ano, fize- 23% e os processos de introdução no
Santa Maria da Feira, num debate sobre o
ram de Barack Obama uma espécie de mercado de medicamentos inovadores
diálogo intercultural, o filósofo Fernando
“bloquista” com talento e ginástica, a chegam a demorar três anos. O número
Savater, a semelhança entre os seres hu-
vaticinarem uns Estados Unidos trans- de médicos nos centros de saúde dimi-
manos é que cria a riqueza e funda a huma-
formados numa super-UNESCO ou nuiu e o número de hospitais especiali-
nidade. Reconhecemo-nos, porque somos
ONG esquerdista, esgotada nas causas zados passou de 21 para 15; o número
semelhantes. Só porque o fundamental é a
correctas do luso-utopismo. de camas foi reduzido, sendo certo que
nossa semelhança é que há igualdade de
o número de atendimentos aumentou.
direitos e só porque não há diferença de di-
Estou mesmo a falar de Portugal.
reitos fundamentais é que há o direito à di-
Este. Onde a politização férrea de car-
ferença. Afinal, “não há ninguém tão con-
AMÉRICA, AMÉRICA vencido da diferença como um racista”.
gos na Saúde e a violação das boas polí-
ticas nos podem comprometer, muitas
Claro que, no encontro com o outro, nun-
Não sei se o remorso curva a espinha vezes, a vida. (...)
ca se pode esquecer que o outro é um ou-
e ensombra o gesto. Nem sei o que pe- tro eu e ao mesmo tempo um eu outro, de
sou mais nos últimos dias de George W. Paula Teixeira da Cruz
tal modo que nunca nenhum de nós saberá
Bush. Se a memória de como planeou Correio da Manhã 15/Janeiro/09
o que é e como é ser outro enquanto outro,
vingar-se do pai, parecendo querer vin- eu outro. Mas o que mais nos interessa é a
gar o pai; se o intuito de refazer a apa- semelhança, pois, nas diferenças, somos DESAFIOS DE UMA
gada e vil imagem que a primeira meta- todos humanos, reconhecendo-nos. ESTRATÉGIA NACIONAL
de da vida lhe traçou; se a pulsão da epo- Se me perguntam pelo fundamento últi-
peia, às vozes e tambores dos evangéli- mo da dignidade humana, digo que é a nos- Para definir uma estratégia nacional
cos; se o ter-se deslumbrado com a sim- sa comum capacidade de perguntar. O que realista e consequente, é preciso que te-
ples e prática cupidez de Dick Cheeney. nos reúne é uma pergunta inconstruível, sem nhamos consciência da situação de que
Estes são os condimentos principais que, limites, que tem na raiz o infinito e nele de- se parte, avaliando os pontos fortes e os
num filme subestimado mas interessan- semboca, sendo as culturas tentativas de pontos fracos. Só com esta consciência
te, Oliver Stone nos propõe para dosea- formulá-la e perspectivar respostas. se pode potenciar as vantagens dos pri-
mento su misura. Eu não tento o meu. E Aqui, assenta a convivência fraterna e meiros e atenuar os inconvenientes dos
não excluo uma abordagem mais singe- digna da Humanidade, reconhecendo to- O novo Presidente foi buscar a maio- segundos. Só assim é possível valorizar
la: o que verga Bush são as sondagens dos como humanos. Mas, como também ria dos seus colaboradores à última Ad- o que é bom e transformar o que está
de aceitação popular, nesse momento lembrou Savater, inimigos maiores desta ministração democrática - a de Bill Clin- mal. Acresce que num tempo de instabi-
sem remédio que é a passagem aos ar- convivência são a pobreza e a ignorância. ton. A começar pela secretária de Esta- lidade e pessimismo generalizados como
quivos da história americana. (...) Rejeitamos os pobres, porque metem medo: do, Hillary Clinton, a continuar na equipa é o nosso, em que todos os dias somos
nada nos dão e obrigam-nos a dar. A igno- do Tesouro e a acabar no novo director da surpreendidos por notícias quase sempre
Nuno Brederode Santos rância é outra fonte de susto: quando se CIA, Leon Panetta. Quanto ao Conselho más e de impacto negativo global, im-
Diário de Notícias 18/Janeiro/09 não reconhece a semelhança, teme-se o Nacional de Segurança e ao Pentágono, porta conciliar os vários tempos de con-
diferente. Obama optou pela continuidade de Robert cepção e de actuação, o curto e o médio
PSD EM DIFICULDADES Aí está, pois, a urgência da solidarie- Gates e foi buscar o general James, um prazo que o imprevisto e a emergência
dade, assente no reconhecimento da se- republicano, ex-comandante dos marines. exigem, com o longo prazo, no duplo pla-
Manuela F. Leite parece queimar os melhança. (...) Um almirante, Denis Blair, ex-responsável no retrospectivo e prospectivo, que qual-
últimos cartuchos e, se houver engenho, pelo Comando Militar do Pacífico, com- quer visão estratégica pressupõe.
será Passos Coelho o senhor que se se- Anselmo Borges pletou o elenco à frente do NDI. Por isso, para reflectir sobre os desa-
gue. Diário de Notícias (17/Janeiro/09) Mas mais que a questão da equipa, é fios de uma estratégia nacional, precisa-
Está em marcha o projecto de substi- importante olhar o mundo que essa equipa mos também de projectar num horizonte
tuição de Manuela Ferreira Leite à fren- A POLÍTICA DO MEDO vai encontrar. Que como sempre é o mes- temporal suficientemente lato - de 10 ou
te do PSD. Várias personalidades de mo de ontem, mas também muito diferen- 15 anos - a ambição que se tem para
topo do partido de Sá Carneiro têm-se (...) Hoje em dia, quer os magistrados te: em 2000, George W. Bush herdava a Portugal. (...)
reunido com bastante frequência para do Ministério Público, quer os juízes, sen- continuidade do “momento americano”, no
analisar a situação difícil em que o PSD tem receio na aplicação da prisão pre- termo da primeira década do pós-Guerra Jorge Sampaio
se encontra e os efeitos negativos que ventiva. Fria; os Estados Unidos eram a potência, Diário de Notícias 15/Janeiro/09
daí resultarão caso este partido tenha nas E tudo acontece porque se trabalha a Rússia estava de rastos, a China crescia
próximas eleições um resultado catastró- com meros indícios e não com prova se- mas não incomodava muito, os europeus AS “REFLEXÕES”
fico. É consensual no seio do grupo que gura e porque o governo introduziu uma entretinham-se a discutir entre si projectos DE SAMPAIO
se pôs em movimento, há cerca de um autêntica mudança de paradigma no qua- confederais e federais para a União. O
mês, a ideia de que Manuela Ferreira dro da responsabilidade civil dos magis- Médio Oriente vivia o velho conflito israe- O documento que Jorge Sampaio fez
Leite não pode nem consegue protago- trados pelas suas decisões, pretenden- lo-árabe e a África subsariana continuava publicar, anteontem, no DN, sob o título
nizar uma candidatura vitoriosa. do, com esta mudança, utilizar este ins- marginalizada. (...) de “Cinco Reflexões sobre os Desafios
Essa leitura negativa ganhou cores mais trumento como uma arma de controlo e de uma Estratégia Nacional”, comporta
negras após a entrevista de Manuela Fer- de pressão sobre a actividade judicial. Maria José Nogueira Pinto uma forma de revolta delicada, uma crí-
reira Leite a Judite de Sousa. A insegu- Sendo este o caminho, cedo chegará o Diário de Notícias 15/Janeiro/09 tica mansa, e um pouco melancólica, aos
rança da líder dos social-democratas, a dia em que nos vão dizer como é que egoísmos corporativos, e o desejo de que
dificuldade em dar respostas claras e con- devemos decidir. Já existia um quadro DA FALTA DE SAÚDE as fracturas sociais crescentes não atin-
vincentes sobre áreas fundamentais da de responsabilidade civil, criminal e dis- jam zonas irremediáveis. O texto possui
vida nacional, o pouco à-vontade eviden- ciplinar dos magistrados, semelhante ao (...) No mais, para além de cerca de a honestidade intelectual do autor e o
ciado em sucessivas prestações no meio que existe noutros países europeus. Daí 600 mil doentes em listas de espera na sentido de um apelo que desemboca em
televisivo, as incongruências do discurso que a mudança foi para apertar o cerco rede hospitalar – no 26º lugar numa lista largas inquietações.
e o ziguezague do seu trajecto foram, em e fazer crescer o medo em detrimento de 31 países –, no sistema de cuidados Como se pode mobilizar um povo, con-
síntese, as conclusões a que chegaram os da razão, que vai ficando cada vez mais de saúde, com indicadores equiparáveis vocá-lo para a causa comum, se a clas-
barões desse grupo. (...) paralisada. (...) à Roménia e à Bulgária, também conti- se dirigente tem tripudiado sobre a cul-
nuam os encerramentos dos SAP e a tura de relação de que se compõe a de-
Emídio Rangel Rui Rangel extinção de serviços de urgência hospi- mocracia avançada? Nada nesse senti-
Correio da Manhã 17/Janeiro/09 Correio da Manhã 14/Janeio/09 talar, sem alternativas assistenciais, es- do tem sido realizado, sequer tentado. O
9. 21 DE JANEIRO DE 2009 OPINIÃO 9
próprio Sampaio, quando Presidente, ao mam-se umas banalidades veementes e espaço à esperança de que as coisas não daico, dos neoconservadores e, como
rejeitar Ferro Rodrigues, e abrir as por- passa-se adiante, quando aquilo que ele correrão pior no ano novo, não foi ex- sempre, da corrupção dos líderes políti-
tas a um intermezzo cómico, participou, constrói é uma máquina do mundo. (...) cepção encontrar registada a convicção cos árabes, reféns do petróleo e da aju-
activamente, no retrocesso histórico que de que a nova Administração americana da financeira norte-americana. A guerra
fez aumentar a indiferença e o desen- António Lobo Antunes reconhecerá que, sem uma solução jus- do Iraque foi uma antecipação de Gaza:
canto portugueses. As desproporções Visão ta do conflito Israel-Palestina, será im- a lógica é a mesma, as operações são as
obscenas entre os sacrifícios impostos e O MEDO possível conseguir uma estabilidade em mesmas, a desproporção da violência é
as regalias generosamente distribuídas qualquer dos países onde cresce a acti- a mesma; até as imagens são as mes-
por uma casta de privilegiados não são O silogismo mais picante das últimas vidade dos movimentos islamitas. Pas- mas, sendo também de prever que o re-
de molde a entusiasmar a população. O semanas é o seguinte: o PS, com os seus sados tantos anos sobre a criação do sultado seja o mesmo. E não se foi mais
discurso oficial desloca—se numa falsa porta-vozes a fazerem imensas vénias Estado de Israel, os mesmos anos da longe porque Bush, entretanto, se debili-
euforia e passa para a depressão mais mui atentas, veneradoras e obrigadas, Declaração Universal dos Direitos Hu- tou. Não pediram os israelitas autoriza-
inquietante. Ninguém, de boa fé, acredi- mostrou-se absolutamente de acordo manos, parece difícil racionalizar as cau- ção aos EUA para bombardear as insta-
ta nestes “políticos”, cuja representação com o severíssimo diagnóstico feito pelo sas que impedem a paz entre os dois lações nucleares do Irão? É hoje evidente
é diariamente demolida pelas evidências Presidente da República na sua mensa- povos, sendo que as premissas necessá- que o verdadeiro objectivo de Israel, a
dos factos. E Jorge Sampaio bem o sabe. gem de Ano Novo; o PR, nos pontos prin- rias estão definidas. Designadamente, solução final, é o extermínio do povo pa-
As “Reflexões” não eliminam o senti- cipais da sua mensagem, reiterou posi- poucos observadores duvidam de que o lestiniano.
do crucial dos problemas, mas também ções críticas que já tinham sido clara- quarteto liderado por Tony Blair, envia- Terão os israelitas a noção de que a
não indicam, ou sugerem, como seria mente assumidas por Manuela Ferreira do especial ao Próximo Oriente, esteja shoah com que o seu vice-ministro da
natural, o combate ideológico contra a Leite; logo, o PS está de acordo com consciente de que, sem a intervenção Defesa ameaçou os palestinianos pode-
ideologia que intimida os governos e os Manuela Ferreira Leite exactamente decidida dos Estados Unidos da Améri- rá vir a vitimá-los também? Não teme-
intima a praticar regras unilaterais. Há, quanto a uma série de pontos em que ca, a solução não será encontrada. (...) rão que muitos dos que defenderam a
em tudo isto, uma perversão moral que tinha tentado refutá-la com as excitadas criação do Estado de Israel hoje se per-
condiciona o comportamento ético. O estridências do costume... Adriano Moreira guntem se nestas condições e repito:
texto de Sampaio é omisso nestes aspec- Agora que o Banco de Portugal se viu Diário de Notícias 13/Janeiro/09 nestas condições o Estado de Israel tem
tos, e percorre-se em generalidades. forçado a traçar o cenário mais negro direito de existir?
dos últimos anos e a falar da entrada da REQUIEM POR ISRAEL?
Baptista-Bastos economia portuguesa em recessão, a Boaventura Sousa Santos
Diário de Notícias 14/Janeiro/08 manobra consistiu em o primeiro-minis- (...) É PRECISO RECUAR NO TEM- Visão
tro abordar esse tema de véspera, numa PO. Não ao tempo longínquo da bíblia he-
EDUARDO LOURENÇO entrevista à SIC Notícias, em que aca- breia, o mais violento e sangrento livro al- A CAIXA
bou por confirmar o que a oposição já guma vez escrito. Basta recuar 60 anos, à
(...) Sábado jantei com Eduardo Lou- tinha dito. Tudo para que as palavras de data da criação do Estado de Israel. Nas Ao contrário do que diz o anúncio,
renço. No fim disse que não queria bo- Constâncio não fossem, como afinal fo- condições em que foi criado e depois apoi- banco não é Caixa. Talvez seja o primei-
leia, que o hotel era mesmo ali e vi-o atra- ram também, um desmentido terrível das ado pelo Ocidente, o Estado de Israel é o ro caso de publicidade que peca por de-
vessar a rua em baixo, sozinho, um pouco afirmações que o chefe do Governo an- mais recente (certamente não o último) acto feito a gabar o seu produto. Na verdade,
curvado, no seu passo miúdo e comoveu- dava por aí a fazer... colonial da Europa. De um dia para o ou- a Caixa é muito mais do que um banco –
me vê-lo caminhar noite fora, de cache- Depois de umas 150 sessões de des- tro, 750 mil palestinianos foram expulsos é uma espécie de mãe de todas as insti-
col ao pescoço, a ferver de vida entre os pacho com Sócrates à quinta-feira, o PR das suas terras ancestrais e condenados a tuições de crédito. Desde que a crise
candeeiros. Eu passo o tempo a delirar, deve andar perfeitamente estarrecido uma ocupação sangrenta e racista para começou, a Caixa tem andado a salvar
dizia ele, mas só deliro para dentro por- com o PM que nos saiu na rifa. que a Europa expiasse o crime hediondo tantos bancos que receio sinceramente
que se delirar para fora internam-me. E do Holocausto contra o povo judeu. que, em breve, seja preciso salvar a Cai-
fico a assistir, calado, enquanto fala. Lem- Vasco Graça Moura Uma leitura atenta dos textos dos sio- xa. Directa ou indirectamente, a Caixa
bro-me que há uns anos, em Bordéus jul- Diário de Notícias 14/Janeiro/09 nis- tas fundadores do Estado de Israel contribuiu para ajudar primeiro o BPN e
go eu, falámos a quatro mãos de Litera- revela tudo aquilo que o Ocidente hipocri- depois o BPP. O que, sendo preocupan-
tura sem nada preparado, nada pensado, PRISÕES tamente ainda hoje finge desconhecer: a te (menos para quem tem o dinheiro no
assim de improviso, nos divertimos imen- criação de Israel é um acto de ocupação e BPP), não surpreende. É certo que o BPP
so e deu-me ideia que a assistência tam- (...) Nos 50 estabelecimentos prisio- como tal terá de enfrentar para sempre a é um banco que gere grandes fortunas,
bém. Na altura cochichei-lhe nais portugueses (28 regionais, 17 cen- resistência dos ocupados; não haverá nun- mas a Caixa é um banco que gera gran-
– Devíamos dar um curso de Teoria trais e 4 especiais) estão actualmente ca paz, qualquer apaziguamento será sem- des fortunas. Sobretudo nas contas dos
da Literatura a meias cerca de 10 800 detidos, sendo cerca de pre aparente, uma armadilha a ser desar- seus administradores. A diferença é subtil
e que o projecto nos fez rir: conver- 2000 preventivos e 7% mulheres. Aqui mada (daí que a seguir a cada tratado de mas significativa.
sarmos sem plano, ao sabor do que nos trabalham perto de 6000 funcionários. paz se tenha de seguir um acto de violação De resto, não há dúvida, a Caixa é um
vinha à cabeça. Somos tão diferentes e, Segundo a drª Clara Albino, directora- que a desminta); para consolidar a ocupa- banco tão bom que até promove altos
no entanto, que maravilha de sintonia in- geral dos Serviços Prisionais, não são ção, o povo judeu tem de se afirmar como quadros de outros bancos. Ao que che-
terior. Acho que é das pessoas que me- fáceis as reformas estruturais para dar um povo superior condenado a viver rode- gou a concorrência no mundo das insti-
lhor compreendem o que faço e que com às prisões instrumentos de reabilitação e ado de povos racialmente inferiores, mes- tuições financeiras: o BCP convidou Ar-
mais profundidade disso escreveu. organizar modos eficazes de reinserção mo que isso contradiga a evidência de que mando Vara para um cargo importante;
E depois a obra dele, inclassificável, social. árabes e judeus são todos povos semitas; a Caixa, um mês e meio depois da saída
única: o homem que pensa Portugal, di- A grande mudança a operar decorre com raças inferiores só é possível um re- do seu antigo administrador, promoveu-
zem, o ensaísta, dizem, e para mim o de um processo interior, que o longo tem- lacionamento de tipo colonial, pelo que a o a um cargo ainda maior. A mensagem
Eduardo não é nada disso, ou antes cha- po de reflexão pode permitir. A dimen- solução dos dois Estados é impensável; em é clara: sim, o BCP oferece bons em-
mar-lhe isso é tão redutor. Inventou uma são espiritual é essencial para dar a vol- vez dela, a solução é a do apartheid, tanto pregos aos seus funcionários, mas a Cai-
maneira de imaginar, uma meta-lingua- ta à vida, partir da verdade, assumir a na região como no interior de Israel (daí os xa oferece empregos ainda melhores a
gem irrepetível que nos contém a todos, responsabilidade do mal, readquirir con- colonatos e o tratamento dos árabes israe- funcionários que já não trabalham lá.
criou um universo verbal em perpétua fiança, reorganizar-se, criar autonomia e litas como cidadãos de segunda classe); a Mergulhados numa profunda crise, os
expansão, um continente, antes dele, por independência, gerar esperança. (...) guerra é infinita e a solução final poderá bancos competem para aliciar os profis-
achar. E, de vez em quando, disso nos implicar o extermínio de uma das partes, sionais mais qualificados. Eles sabem
dá notícia nos seus livros e quem tiver Bispo D. Carlos Azevedo certamente a mais fraca. que só os melhores têm a competência
ouvidos para ouvir que oiça. Sempre me Correio da Manhã 16/Janeiro/09 O QUE SE PASSOU NOS ÚLTI- necessária para mergulhar os bancos que
deu ideia de existirem equívocos sobre MOS 60 anos confirma tudo isto mas vai dirigem numa profunda crise. E assim
equívocos na apreciação do que faz e muito para além disto. Nas duas últimas sucessivamente. (...)
O SANGUE DOS INOCENTES
erros interpretativos de toda a ordem. décadas, Israel procurou, com êxito, se-
Parece-me que o admiram sem o enten- questrar a política norte-americana na Ricardo Araújo Pereira
No balanço do ano que findou, e que
derem, cola-se-lhe uma etiqueta, afir- região, servindo-se para isso do lóbi ju- Visão
os analistas desejariam elaborar dando
10. 10 CRÓNICA arte em café
21 DE JANEIRO DE 2009
A OUTRA FACE
DO ESPELHO
Para variar, boas entradas…
José Henrique Dias*
jhrdias@gmail.com
É tão escuro este poço! Escuro e húmido. Os amigos
mandam cartões de Feliz Ano Novo. Augúrios. Talvez
seja noite. Amanhã irão celebrar o nascer do dia, haverá
crianças a rir a caminho da escola, as mães vão preparar
as merendas e fazer recomendações, nas missas as pes-
soas vão pensar que saem mais limpas porque comunga-
ram, o rapaz do supermercado arrumará caixas nas prate-
leiras, na rádio canções de outras paragens, nas ruas e
nas lojas restos de Silent night, holy night, All is calm, all
is bright.…tudo é paz, tudo é luz, sininhos e sorrisos, cho-
colates e tempestades, uma rapariga dirá sim às palavras
de um colega enamorado, mudam o tempo, como nos ver-
bos, ele fica de olhos cor de manhãs claras e ela sorri, no
hospital acaba de nascer um rapazinho a que vão chamar
Gonçalo, as notas correram bem ao filho do senhor Adal-
berto que sempre sonhou ver o filho advogado, quem sabe mos nós e por muito que me esforce não consigo aturar anda coitado num triste desassossego. Fiquemos preo-
ministro, a mulher que passa ao volante de um utilitário este nós em que nos vamos atolando. E não parece que cupados porque morreu afogado um rouxinol no Monde-
leva os olhos molhados porque o marido foi de um egoís- possa haver gente capaz para governar tal gente que diz go e o passarinho da ribeira que não seja inimigo. O Zeca
mo que ela diz que não perdoa, só até mais logo quando este país como se fossem doutro e o país são eles e os e o Adriano não passam. O Goes não se ouve. É tempo
chegar a casa e ele lhe disser não sabes que é tudo por filhos deles ou os primos, os companheiros de escola ou de tonis qualquer coisa, marcos isto, mónicas aquilo, con-
amor, tudo vai funcionar, até a panela que ficou esquecida os vizinhos que começam a viver e transformam definiti- cursos gordos e morangos com açúcar. É tempo de dizer
sobre o fogão e o arroz esturrado, porque ficaram a amar- vamente a vida em vidinha, de que falava o O’Neill, eu que os grandes escritores são insuportáveis. É tempo de
se na carpete, não faz mal, querida, é um bom pretexto bem gostava de arranjar maneira de não me preocupar promover a mediocridade e de autismo governativo.
para mandarmos vir uma pizza, a vizinha do sexto andar mas a verdade é que acredito que é possível mudar muita O Alfa demora menos de duas horas a chegar a Coim-
parece que tem uma doença esquisita, dizem, se calhar é coisa, justiça social e ética, liberdade e participação, como bra. Estação de Coimbra B. O comboio que deu entra-
sida, não têm cuidado, coitado do namorado que se calhar dizer, as pessoas sentirem-se mais felizes, não terem o ar da na linha um é o Alfa Pendular proveniente de Lis-
já foi infectado, ou se calhar foi ao contrário, todos os dias, bisonho e o rosário do queixume sempre que lhes pergun- boa Santa Apolónia com destino a Braga. Só admite
a todas as horas, sempre igual, uma bica bem quente faz tam como vai o negócio, vai sempre mal, nunca se ouve passageiros com bilhete válido para comboios… Rou-
favor, curta, bem sabe que é sempre curta, sem açúcar, ninguém dizer vai bem, estou bem, isto está a correr bem, fenhas, as palavras perdem-se. Logo regressam. Na li-
bebo sempre sem açúcar, senhor Flávio, com açúcar é o sempre o precisamos que o Governo olhe por nós, a culpa nha “númaro” cinco encontra-se uma composição com
meu irmão gémeo, já viu o que aqui está no jornal?, estes foi do árbitro, quando muito também do guarda-redes, destino a Coimbra. De Coimbra para Coimbra. O vento
gajos só lá estão para gamar, e a malta que se lixe, ainda coitado, paga sempre as favas, ninguém culpa o avança- cala a desgraça/ o vento nada me diz.
há pouco tempo era o que era e já está rico, já leu, senhor do que falhou o penalti ou o golo à boca da baliza, foi azar, Que desolação e desconforto. Há quanto tempo as-
Flávio?, andamos a trabalhar para esta malta se governar mas no guarda-redes é frango, piu, piu, dizem os comen- sim? Mas a gente o que quer é ir, estar na sala de
à nossa custa, para mim votar já era. tadores que não comentam nada, falam do que estamos a espera ou caminhar na plataforma, que pena não se
São oito e meia. Tenho de seguir para Coimbra. De- ver e até conseguem não ver o que estamos a ver e dizem conseguir viajar de borla, estudar de borla, ter carro de
moro menos de duas horas a chegar, se tudo correr bem. outra coisa, as manifestações enchem avenidas da gran- borla, tudo pela Nação, nada contra a Nação, outra
Estou cansado. Não só destas conversas. Não é que elas deza de tecer insultos e abrir brechas para os meninos vez, em tom menor, quem o alheio veste na praça o
não tenham importância. Reflectem, obviamente, não digo serem insolentes, tomates e ovos e guinchos e cadeados despe, mas isso era dantes.
o estado do país mas as características do que somos. nas portas e pistolas de plástico e telemóveis que filmam, Quem o alheio despe que bem se veste. Figurinos e
Confesso que não tenho muita consideração pelo que so- quem semeia ventos colhe tempestades, brincadeiras de figurões. Montras e montes e vales e azevedos exportam-
mos. Não gosto. Tenho mesmo vergonha. Dizem-me com mau gosto, dizem, irresponsáveis que irresponsabilizam, se e importam-se, para que se veja, um que seja, para que
azedume que sou elitista, mas qual é o problema? Não é senhoras professoras de repente na ribalta sabe-se lá por- se saiba, parar a raiva, afinal a justiça funciona, os reitores
verdade que as pessoas estão ao mesmo tempo bem com quê, a protestarem em conflito com a Língua Portuguesa, não servem para gerir as universidades, é preciso gesto-
tudo ou mal com tudo? Paspalham diante das televisões a sindicalistas sem espaço a quererem sobreviver, engas- res, como se viu nos bancos, os gestores é que sabem, um
ver umas senhoras apresentadoras que guincham, salti- gados com dois raciocínios seguidos, diria o Joaquim Na- ou dois, para exemplo, vão dentro pela imprudência de
tam, insuflam rugas, injectam silicone, publicam livros ile- morado, um dia destes vem aí uma coisa mais ou menos roubarem ricos, se roubassem pobres não passava nada,
gíveis que as pessoas compram, pessoas que não sabem dos subúrbios de Paris ou das ruas gregas e depois onde de fora outros com direito a excelência e conselhos de
porque é que votam mas votam, só às vezes, naquele par- está a autoridade, perguntam, a polícia que lhes carregue, administração. É bom ter espaço para dar conselhos. E
tido, sempre no mesmo, como se paixão ou talvez mais dizem, mas então o que queremos mesmo é a polícia que quem seja capaz de os ouvir. Os conselhos valem mais do
agência de futuro, futebol, futebol, futebol, o futebol pre- carregue? Para o diabo que os carregue. Estão sempre que os exemplos. Embalados. Como serenatas.
enche a vida dos homens e de algumas mulheres que pre- de consciência tranquila. Fazem tudo de consciência tran- Estas guitarras, senhoras e senhores, vêm falar-vos
enchem por sua vez o futebol para uns senhores pouco quila. Adiam julgamentos com advogados caros. Todos de amor e de saudade, dum luar que deixa sombras so-
recomendáveis terem protagonismo e serem ouvidos nas de consciência tranquila. Não há patife bem falante que bre coisas impossíveis. Toda a Coimbra da lenda, de co-
televisões e nas primeiras páginas dos jornais desportivos não tenha a consciência tranquila. Não há pedófilo que ração e de feitiço, Coimbra antiga e íntima, feita de fili-
com fotografia a duas colunas, a minha política é o traba- não tenha a consciência tranquila. Todos inocentes. As granas e de poentes, pedaço romântico a recordar boé-
lho, ficou do outro tempo, um milhão de analfabetos não criancinhas é que são perversas. Transitam em julgado. mios e poetas.
falando dos milhões dos funcionais, aos domingos e feria- Ainda hão-de pedir indemnizações aos nossos impostos. Era mais ou menos assim que eu apresentava as sere-
dos passeios nos centros comerciais a dizerem vamos ao Por causa da consciência tranquila. natas. Palavras minhas e de outros. Há quanto tempo foi?
shopping, ver montras e marcar viagens a prestações para Farrapos de conversas a caminho da estação em trans- Se calhar foi ontem, à chegada do Alfa Pendular.
todas as puntascanas que lhes impingem, esta é a ditosa portes públicos. Eu aqui de pé, todo o dia a trabalhar, diz Ou quando acordei estremunhado. No fundo do poço.
pátria minha amada, como repetiam com salazares na uma mulher, para estes velhos andarem sem fazer nada a Há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que
ponta da língua, empresários vão à falência com ferraris à passear de autocarro e ocuparem os lugares de quem está diz não. Valham-nos os poetas. Que venham os poetas.
porta da vivenda com santinhos de azulejo na fachada, cansado de trabalhar. Mau sinal. Os velhos para o ve- Um poeta em quem possamos depositar a força de lutar.
gritam no fórum da TSF o que é preciso é que venham lhão, já! Lembram-se como fizeram os Gato Fedorento? Que promova a Esperança.
dois ou três salazares depressa, endireitar isto, estes so- O Alfa Pendular está a passar na ponte. O Choupal * Professor universitário
11. 21 DE JANEIRO DE 2009
COIMBRA 11
PRÉMIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA 2009
Nome do vencedor será divulgado amanhã
O nome do vencedor da edição deste 2005, o Prémio foi atribuído, ex-aequo, sinalando assim os 100 anos do Mani- ministra da Cultura), João Pinharanda
ano do Prémio Universidade de Coim- ao historiador António M. Hespanha e festo Futurista, os 200 anos do nascimen- (historiador de arte, crítico de arte e cu-
bra vai ser anunciado amanhã (quinta- ao actor e encenador Luís Miguel Cin- to de Charles Darwin e os 40 anos do rador), José Andrade Campos (docente
feira), em conferência de imprensa, pelo tra. A reconhecida classicista Maria movimento estudantil de 1969. da Universidade de Coimbra), José de
Reitor Fernando Seabra Santos. Helena da Rocha Pereira foi premiada O júri da edição deste ano do Prémio Miranda (ensaísta e docente da Univer-
O Prémio Universidade de Coimbra, em 2006 e o matemático luso-brasileiro Universidade de Coimbra integra, como sidade Nova de Lisboa), Maria de Fáti-
que vai na sua sexta edição, é um dos Marcelo Viana em 2007. No ano passa- tem vindo a ser hábito, 10 nomes de re- ma Sousa e Silva (docente da Universi-
mais valiosos galardões nacionais nos do, foi distinguido o investigador e em- conhecido mérito da cultura e da ciência dade de Coimbra) e Maria Filomena
campos da cultura e da ciência, tendo já preendedor José Epifânio da Franca. portuguesas: Alexandre Alves da Costa Molder (filósofa e docente da Universi-
distinguido áreas tão distintas como as O Prémio Universidade de Coimbra (arquitecto e docente da Universidade de dade Nova de Lisboa). É presidido pelo
neurociências, a história das instituições, 2009, no valor de 25 000 Euros, será en- Coimbra), Ana Tostões (arquitecta e do- Reitor Fernando Seabra Santos e tem
as artes do palco, os estudos clássicos, a tregue a 1 de Março, durante a Sessão cente do Instituto Superior Técnico), como vice-presidentes António V. Mon-
matemática e a engenharia de sistemas. Solene comemorativa do 719.º aniversá- Carlos Robalo Cordeiro (docente da teiro, administrador do Banco Santander-
Na primeira edição, relativa a 2004, rio da Universidade de Coimbra. Este Universidade de Coimbra), Guilherme de Totta, e José Leite Pereira, director do
foi premiado o neurocientista Fernando evento integra-se na XI Semana Cultu- Oliveira (docente da Universidade de Jornal de Notícias.
Lopes da Silva, considerado um dos 100 ral da Universidade, que será dedicada Coimbra), Isabel Pires de Lima (docen-
cientistas mais influentes do mundo. Em ao tema “Velocidade e Movimento”, as- te da Universidade do Porto e antiga
Reitor debate Universidade e Cidade
A relação entre a Universidade e a ci- da mudança permanente”. ble e no Institut National Polytechnique
dade de Coimbra será o tema da próxima
de Grenoble, onde defendeu a sua dis-
sessão do ciclo “Quintas na Quinta”, orga- SÍNTESE BIOGRÁFICA sertação de Doutoramento em Enge-
nizado pela Fundação Inês de Castro. O
nharia Hidráulica.
reitor da Universidade de Coimbra (UC), Fernando Seabra Santos nasceu em Foi vice-reitor da UC entre 1998 e
Fernando Seabra Santos, é o convidado do Coimbra em 1955. Licenciado em En- 2003, ano em que foi eleito reitor da mes-
jantar-conferência, que terá lugar excep- genharia Civil pela Universidade de Co- ma universidade. Em 2007, voltou a ser
cionalmente a uma sexta-feira, dia 30 de imbra (UC), desde logo assumiu fun- reconduzido no cargo, que desempenha
Janeiro, às 20h, na Quinta das Lágrimas. ções de docência. Leccionou nas Fa- a par da presidência do Conselho de
Fernando Seabra Santos, que é o ac- culdades de Ciências e Tecnologia da Reitores das Universidades Portuguesas
tual Presidente do Conselho de Reitores Universidade de Coimbra (FCTUC) e (desde Fevereiro de 2007). É ainda pro-
das Universidades Portuguesas (CRUP), da Universidade de Lisboa, na Univer- fessor catedrático no Departamento de
fará uma intervenção subordinada ao sité Scientifique et Médicale de Greno- Engenharia Civil da FCTUC.
tema “UNIVER(SC)IDADE: o sentido Fernando Seabra Santos
A morte de Robert Étienne
Faleceu em Bordéus, no passado dia urbano” dessa sua pesquisa sobre a His- em que se incluem, entre outros, o volu-
4 de Janeiro, o Prof. Robert Étienne, que, tória Antiga peninsular, veio o itinerá- me sobre as inscrições de Lugo (Paris,
a 18, completaria 88 anos de idade. rio rural, com as campanhas na villa 1979) e a colecção Inscriptions Roma-
Para a maior parte dos nossos leitores, romana de São Cucufate (Vidigueira), ines de Catalogne (I – 1984, V – 2002),
o nome do Prof. Robert Étienne pouco de que R. Étienne nos legou, com J. a que lançaram ombros G. Fabre, Marc
significará. Catedrático de História Anti- Alarcão e F. Mayet, dois volumes so- Mayer e I. Rodà.
ga e de Arqueologia da Universidade de bre os trabalhos aí realizados: Les Vi- Conimbriga esteve sempre, porém,
Bordéus III, foi doutorado honoris cau- llae Romaines de São Cucufate (Por- no centro das suas atenções e no livro
sa pela Faculdade de Letras de Coimbra, tugal), Paris, 1990. E podemos dizer que Histoire et Archéologie de la Pénin-
a 17 de Abril de 1983, tendo sido seu ‘pa- também essa pesquisa sistemática de sule Ibérique (Vingt ans de recherches
drinho’ o Prof. Jorge de Alarcão. uma villa romana, que pela primeira vez 1968-1987) [Paris, 1993] são muitos os
Na verdade, estavam estreitamente se levava a efeito entre nós, constituiu textos referentes a esta cidade.
ligados na sua pesquisa estes dois do- um marco decisivo na investigação da Entre as inúmeras condecorações re-
centes, pois foi com ambos que, depois ocupação do solo em tempo de Roma- cebidas, conta-se a de Comendador da
da actividade aí desenvolvida por João nos na Lusitânia. Ordem do Infante D. Henrique o Nave-
Manuel Bairrão Oleiro, Conimbriga ga- Se um traço primordial podemos rele- gador. Ao Instituto de Arqueologia da
nhou jus a um lugar de relevo no panora- var na personalidade de R. Étienne é a Faculdade de Letras legara já parte sig-
ma arqueológico internacional, mormen- sua disponibilidade para ensinar e formar nificativa das obras da sua biblioteca re-
te após a publicação – e foi essa uma equipa. O Centre Pierre Paris, que criou, Robert Étienne lativas à Península Ibérica.
das primeiras publicações do género no foi, sem dúvida, uma das primeiras uni- Na memória de quantos com ele pri-
mundo da investigação arqueológica – dades de investigação a dedicar a sua mais de uma dezena de artigos sobre a varam fica a figura do trabalhador incan-
dos 7 volumes das Fouilles de Conim- atenção especificamente à Hispânia ro- Península Ibérica com os seus parceiros sável, do investigador sagaz, do dirigen-
briga (1974-1979), em que se deu con- mana e, com a sua rica biblioteca, aco- de investigação (e, geralmente, orientan- te que era capaz de mover montanhas
ta dos relevantes aspectos dessa cidade lheu inúmeros estagiários idos dos mais dos de doutoramento). para levar a água ao seu moinho, mas
romana, postos a descobertos no decor- diversos países, designadamente de Co- De realçar, ainda, o seu papel deter- também do alegre companheiro das ho-
rer das campanhas luso-francesas, que imbra, muito antes de se ter pensado se- minante no desenvolvimento dos estudos ras de convívio.
ambos dirigiram nas décadas de 60 e 70. quer em programas ERASMUS ou equi- epigráficos peninsulares, de que conce-
Depois de Conimbriga, o “itinerário valentes!... E o Prof. Étienne assinou beu um plano sistemático de publicações José d’Encarnação
13. 21 DE JANEIRO DE 2009
ENTREVISTA 13
MARIA PILAR DEL HIERRO AUTORA DE TRILOGIA SOBRE RAINHAS PORTUGUESAS
Escritora espanhola com nova interpretação
do “Milagre das Rosas” da Rainha Santa
Inês, Leonor, Isabel. Três mulheres que em Espanha nasceram
e em Portugal se fizeram rainhas. Maria Pilar del Hierro, escritora,
fala-nos do que tiveram em comum estas personagens históricas,
as quais lhe inspiraram três obras. A mais recente, “Memórias
da Rainha Santa”, vai ser lançada em Lisboa no início de Fevereiro.
Mas foi na Quinta das Lágrimas, em Coimbra (cidade pela qual
a escritora confessa ter-se enamorado, e de que a Rainha Santa
é Padroeira), que o “Centro” a entrevistou, para que falasse
da sua obra
Texto de Filipa Carmo de Castro, um mito que é tanto espa-
Fotos de Gonçalo Ermida nhol como português… é um mito uni-
versal. Com ela descobri Coimbra, que
Onde busca inspiração para as me levou a descobrir a Rainha Santa.
suas obras? Acima de tudo quis fazer uma trilogia
Fundamentalmente, no meu amor daquelas que me pareciam ser as três
pela História. Sou historiadora, é a mi- mulheres-chave da Idade Média Portu-
nha área de formação… apenas come- guesa. Inês de Castro, o mito românti-
cei a escrever romances no momento co; Leonor Teles, a mulher poderosa;
em que percebi que era uma excelente Rainha Santa, o misticismo e a genero-
forma de ensinar a História aos demais. sidade.
É uma área do conhecimento que se
pode tornar pesada e dura; assim, o ro- RAINHA SANTA SOFREU
mance vai-se entranhando pouco a pou- POR NÃO SER AMADA
co e acaba por agradar muito mais. PELO REI
Quanto a este meu universo feminino
Três mulheres diferentes mas que
histórico e literário, teve origem no meu
apresentam alguns traços co- Maria Pilar del Hierro na Quinta das Lágrimas, quando falava
desejo de contar a História do ponto de para o “Centro” sobra a sua obra literária
muns…
vista das mulheres, pois creio que são
Sim… além da época, a audácia, a
grandes desconhecidas e é necessário
determinação em fazerem o que acham do da Política, coisa que muitas não ar- aí andam)… Pessoalmente, parece-me
tirá-las das sombras.
ser seu dever, sacrificando, muitas ve- riscam fazer actualmente. A Rainha um elemento pedagógico idóneo para
Porquê escrever sobre mulheres
zes, a sua popularidade e a aprovação Santa Isabel é um exemplo de genero- que cada um possa conhecer o seu pas-
que nascem em Espanha e se nota-
dos outros. Leonor Teles e a Rainha sidade para com os outros; no mundo sado. Não temos por que deixar a His-
bilizam em Portugal?
Santa partilham, ainda, o facto de te- materialista e hedonista em que vive- tória circunscrita ao meio académico.
Pela proximidade, interessam-me to-
rem sido grandes figuras maternas, de mos fazem falta mulheres como ela. Temos que explicar às pessoas de onde
dos os temas relacionados com Espa-
terem dado extrema importância à re- Isabel de Aragão, quando fundou o Con- vimos, para que percebam para onde va-
lação com os seus filhos. Para a Rai- vento de Santa Clara, fê-lo para que as mos.
nha Santa, Afonso IV, seu filho, foi a jovens mulheres pobres pudessem Como sabe, a Rainha Santa é a
sua vida e obra. Foram três mulheres aprender um ofício. Para mim a lição padroeira da cidade de Coimbra.
muito coerentes e firmes. está clara… uma mulher tem que ser Porquê a escolha desta personagem
E o amor, acabou por ser o desti- auto-suficiente. para o seu mais recente livro?
no de todas? Em primeiro lugar, porque se enqua-
Sim, claro. Sabemos que a Inês de REALIDADE E FICÇÃO
dra bem na minha Trilogia Portuguesa
Castro, o amor levou-a à morte… Tam- Dada a sua formação em História, enquanto mulher mística. Depois, ape-
bém a Leonor Teles, o amor pelo ho- é difícil escrever criativamente, li- sar de já ter ouvido falar da Rainha San-
mem errado, foi a sua tradégia. A Rai- bertar-se do rigor dos factos? ta e ter visto um filme dos anos 40 so-
nha Santa, sofreu por não ser amada e Eu escrevo em três géneros; a fic- bre ela, foi aqui em Coimbra que co-
respeitada pelo marido… É certo que ção pura e dura, o romance histórico e nheci melhor a sua vida. Quando fui con-
os casamentos eram estratégicos e ser- o ensaio histórico. É verdade que quan- vidada a fazer parte da Fundação Inês
viam o propósito de firmar alianças, ra- do escrevo o romance histórico, sobre- de Castro, sediada na Quinta das Lá-
ramente aconteciam por amor. Contu- tudo quando há pouca documentação, grimas, descobri a Rainha Santa. Por
do, D. Dinis, tendo sido um poeta mag- aproveito para dar asas à criatividade. isso o livro é também dedicado à cida-
nífico, não terá sido tão bom esposo… Contudo, quando se trata de um tema de de Coimbra. Contaram-me que a Isa-
A rainha acabou por criar os filhos bas- bem documentado, por exemplo perso- bel de Aragão, com vista ao abasteci-
tardos do rei, uma situação bastante nagens históricas do séc. XIX em Es- mento de água so Convento de Santa
A capa da mais recente obra dura. panha, a minha especialidade, sinto-me Clara, comprou aqueles terrenos para
da escritora espanhola A vida destas mulheres faz sentido atada, não me atrevo a fantasiar. Por “ir, vir e estar”… Pareceu-me, logo aí,
editada pela “Esfera dos Livros” isso escrevo na primeira pessoa, penso
para as de hoje, salvaguardadas as dis- uma mulher muito interessante. Por ou-
tâncias e o contexto histórico? que me garante uma narração mais sub- tro lado, estou muito ligada a Saragoça,
nha e Portugal, além de que sempre me
Sem dúvida. Inês de Castro desafiou jectiva, menos constrangido pela factu- cidade de origem da Rainha Santa, onde
atraiu e agradou o vosso país. Penso que
as normas estabelecidas, tendo casado alidade. É verdade que muitos acadé- já me haviam falado um pouco da sua
acabamos por viver de costas voltados,
em segredo. Enfrentou o mundo, algo micos e historiadores não vêem com vida e de como foi uma mulher culta e
quando deveríamos olhar mais uns para
que muitas mulheres deveriam fazer bons olhos o romance histórico (aquele preparada.
os outros; se não somos irmãos, no mí-
hoje, de forma a melhorar a sua situa- que é escrito com uma boa base histó-
nimo somos primos. Comecei com Inês
ção. Leonor Teles imiscuiu-se no mun- rica e não os “Códigos daVinci” que por (continua na página seguinte)