1. <http://thelisbongiraffe.typepad.com/diario_de_lisboa/2006/09/mitos_e_lendas__2.html> acesso em 11/12/2008
Mitos e lendas daqui e de lá - Brasil, via África: Quibungo
É uma espécie de monstro, meio homem, meio bicho. Tem a cabeça enorme e um grande buraco
no meio das costas, que se abre e fecha conforme ele abaixa e levanta a cabeça. Come pessoas,
especialmente crianças e mulheres, abrindo o buraco e atirando-as dentro dele.
O quibungo, também chamado kibungo ou chibungo, é mito de origem africana que chegou ao
Brasil através dos bantus e se fixou no estado da Bahia. Suas histórias sempre surgem em um
conto romanceado, com trechos cantados, como é comum na literatura oral da África. Em
Angola e Congo, quibungo significa "lobo".
Curiosamente, segundo as observações de Basílio de Magalhães, as histórias do quibungo não
acompanharam o deslocamento do elemento bantu no território brasileiro, ocorrendo
exclusivamente em terras baianas. Para Luís da Câmara Cascudo, apesar da influência africana
ser determinante, "parece que o quibungo, figura de tradições africanas, elemento de contos
negros, teve entre nós outros atributos e aprendeu novas atividades".
Extremamente voraz e feio, não possui grande inteligência ou esperteza. Também é muito
vulnerável e pode ser morto facilmente a tiro, facada, paulada ou qualquer outra arma. Covarde e
medroso, morre gritando, apavorado, de forma quase inocente.
2. 2
<http://www.jangadabrasil.com.br/maio/im90500c.htm> acesso em 11/12/2008
Todos esses contos foram recolhidos por Artur Ramos que citou as pessoas que forneceram as
versões:
RAMOS, Artur. O folclore negro do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro, Editora da Casa do Estudante
do Brasil, 1935.
A menina e o quibungo
(J. da Silva Campos)
Uma menina gostava muito de sair de noite. A mãe ralhava com ela, chamando-lhe a atenção
para o quibungo que pega os meninos de noite. A menina não se importou e uma noite, o
quibungo agarrou-a e ia levando-a para comer. A menina começou a cantar:
Minha mãezinha
Quibungo tererê,
Do meu coração
Quibungo tererê
Acudi-me depressa,
Quibungo tererê,
Quibungo quer me comer
Ao que a mãe da menina respondeu:
Eu bem te dizia
Quibungo tererê
Que não andasse de noite
Quibungo tererê
A menina continuou gritando, mas ninguém quis acudi-la. Mas a avó preparou um tacho com
água fervente e quando o Quibungo ia passando, sacudiu-lhe a água em cima. O Quibungo deu
um pulo e a velha acabou matando-o com um espeto em brasa, e salvando a neta.
O Quibungo e o homem
(versão de Nina Rodrigues)
Quibungo é um bicho meio homem, meio animal, tendo uma cabeça muito grande e também um
grande buraco no meio das costas, que se abre, quando ele abaixa a cabeça, e fecha, quando
levanta. Come os meninos, abaixando a cabeça, abrindo o buraco e jogando dentro as crianças.
Foi um dia, um homem que tinha três filhos, saiu de casa para o trabalho, deixando os três filhos
e a mulher. Então apareceu o Quibungo que, chegando na porta, perguntou, cantando:
De que é esta casa,
auê
como gérê, como gérê,
como érá?
A mulher respondeu:
A casa é de meu marido,
auê
como gérê, como gérê,
3. 3
com érá.
Fez a mesma pergunta em relação aos filhos e ela respondeu que eram dela. Ele então disse:
Então, quero comê-los
auê
como gérê, como gérê,
como érá?
Ela respondeu:
Pode comê-los, embora,
auê
como gérê, como gérê,
como érá.
E ele comeu todos os três, jogando-os no buraco das costas.
Depois, perguntou de quem era a mulher, e a mulher respondeu que era de seu marido. O
Quibungo resolveu-se comê-la também, mas quando ia jogá-la no buraco, entrou o marido
armado de uma espingarda de que o Quibungo tem muito medo. Aterrado, Quibungo corre para
o centro da casa para sair pela porta do fundo, mas não achando, porque as casas dos negros só
tem uma porta, cantou:
Arrenego desta casa,
auê
Que tem uma porta só,
auê
Como gérê, como gérê,
como érá.
O homem entrou, atirou no Quibungo, matou-o e tirou os filhos pelo buraco das costas. Entrou
por uma porta, saiu por um canivete, el-rei meu senhor, que me conte sete.
O Quibungo e a cachorra
(versão de Nina Rodrigues)
Foi um dia uma cachorra cujos filhos, todas as vezes que ela paria, eram comidos pelo
Quibungo.
Então, para poder livrar os novos filhos do Quibungo que queria comê-los, meteu-os num buraco
e ficou sentada em cima, vestida com uma saia e um colar no pescoço. Chegando o Quibungo e
vendo a cachorra assim vestida, a desconheceu e teve medo de aproximar-se. Então, passando o
cágado, ele perguntou-lhe:
Otavi, ôtavi, longôzôê
ilá ponô êfan
i vê pondêrêmun
hôtô rômen i cós
ssenta ni ananá ogan
nê sô arôrô ale nuxá.
O Cágado resondeu: "Não sei, Quibungo".
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Passou a raposa. Quibungo fez a mesma pergunta cantando, e a raposa respondeu que não sabia.
Passou, então, o coelho e o Quibungo fez-lhe a mesma pergunta; foi quando este disse:
- Ora, Quibungo, você não conhece a cachorra vestida de saia e colar no pescoço?
Aí, o Quibungo correu atrás da cachorra para matá-la, e esta atrás do coelho. Nesta carreira
entraram pela cidade. Os homens mataram o Quibungo e a cachorra matou o coelho. Entrou por
uma porta saiu pela outra, rei meu senhor, que me conte outra.
O Quibungo e o filho Janjão
Era uma vez um Quibungo que casou com uma negra, da qual teve uma porção de filhos. Mas
ele comia todos os filhos. O último, que nasceu, a mulher escondeu num buraco, para que o
Quibungo não o comesse. Tinha o nome de Janjão, e a mãe recomendou muito a ele que, quando
o pai chegasse do mato e chamasse por ele, falando em voz muito grossa, ele não saisse do
buraco. Que ela quando o chamava para lhe dar comidas, sempre falava com a sua voz fina de
mulher, que ele conhecia. Ora, um dia, em que o Quibungo não achou bicho nenhum para comer
no mato, nem menino para papar na cidade, onde também, às vezes, andava de noite, voltou
muito fraco para casa, onde não havia outra carne senão a do filho, que estava escondido. Então,
falando com voz fina, pela fraqueza, cantou:
Toma lá curiá, meu filho!
Toma lá curiá, meu filho!
Janjão, pensando que era a mãe, que voltava da cidade e lhe trazia a comida de que ele tanto
gostava, saiu do buraco e o Quibungo o agarrou, para comê-lo.
O pobrezinho do Janjão, chorando, cantava:
Minha mãe sempre me dizia
Que o Quibungo me comeria
Minha mãe sempre me dizia
Que o Quibungo me comeria..
E o Quibungo comeu o último filho e a mulher morreu de desgosto. E por isso é que o Quibungo
não tem mais mulher nem filhos.
O kibungo e o filho Janjão
Era uma vez um kibungo que casou com uma negra, da qual teve uma porção de filhos. Mas ele
comia todos os filhos. O último, que nasceu, a mulher escondeu num buraco, para que o kibungo
não o comesse. Tinha o nome de Janjão, e a mãe recomendou muito a ele que, quando o pai
chegasse do mato e chamasse por ele, falando em voz muito grossa, ele não saisse do buraco.
Que ela quando o chamava para lhe dar comidas, sempre falava com a sua voz fina de mulher,
que ele conhecia. Ora, um dia, em que o kibungo não achou bicho nenhum para comer no mato,
nem menino para papar na cidade, onde também, às vezes, andava de noite, voltou muito fraco
para casa, onde não havia outra carne senão a do filho, que estava escondido. Então, falando com
voz fina, pela fraqueza, cantou:
Toma lá curiá, meu filho!
Toma lá curiá, meu filho!
Janjão, pensando que era a mãe, que voltava da cidade e lhe trazia a comida de que ele tanto
gostava, saiu do buraco e o kibungo o agarrou, para comê-lo.
O pobrezinho do Janjão, chorando, cantava:
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Minha mãe sempre me dizia
Que o kibungo me comeria
Minha mãe sempre me dizia
Que o kibungo me comeria..
E o kibungo comeu o último filho e a mulher morreu de desgosto. E por isso é que o kibungo não
tem mais mulher nem filhos.
A aranha caranguejeira e o Quibungo
(J. da Silva Campos)
A aranha caranguejeira tinha que atravessar um rio muito largo, a fim de alcançar uma árvore
carregada de frutos doces e maduros. Para isso, a aranha procurou o auxílio de vários animais, o
urubu, o jacaré, enganando-os depois. Por fim, encontrou o quibungo, "macacão todo peludo,
que come crianças", que pegava os peixes no rio, e atirava-os para trás das costas. A aranha
chegou devagarinho e comeu os peixes um a um. Quando o quibungo procurou os peixes e não
os encontrou, pegou uma discussão danada com a aranha.
Afinal saíram andando e a aranha conseguiu enganar o Quibungo, amarrando-o num toco de
árvore com cipó grosso. O Quibungo ficou ali preso uma porção de tempo e quando conseguiu se
soltar, jurou vingar-se da aranha. Escondeu-se próximo do bebedouro aonde todos os bichos iam
beber água, à espera da aranha. Mas esta meteu-se num couro de veado, foi à fonte, bebeu água
sem ser reconhecida pelo Quibungo .
O Quibungo e o menino do saco das penas
(J. da Silva Campos)
Um menino começou a juntar penas de vários animais, que ia guardando num saco. Um dia, a
família toda foi pescar num lugar onde diziam haver quibungo. De fato, ao começarem a pescaria
ouviram um ronco enorme dentro do mato. "É o quibungo!"- gritaram. Mas o menino não se
importou. Distribuiu todos em fila, entregando a cada um uma pena da asa e outra do rabo de
passarinho. Quando o quibungo chegou, que estendeu a mão para o primeiro da fila, o menino
cantou:
- Esse é meu pai,
Auê
Gangaruê, tu cai,
Não cai.
O quibungo deu um urro – exê! – encolheu a mão e procurou agarrar o segundo da fila. O
menino cantou:
Essa é a minha mãe,
Auê
Gangaruê, tu cai,
Não cai.
E assim por diante, sem que o quibungo pudesse alcançar ninguém. Quando chegou junto do
menino, este prendeu as penas de modo que todos criaram asas e saíram voando até a casa. Lá
fizeram um grande buraco e ficaram à espera do quibungo. Quando este chegou, caiu dentro do
buraco e lá o mataram.