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                                Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 18 de Outubro de 2011 * Ano 01 * Nº 14 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz




                                                             pOETA

                                                                                          DA

                        VERDADE

                                                                                  MIA COUTO               Pág. 6


                                                                    pREMIADO
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Em primEira

Mia Couto recebe prémio Eduardo Lourenço
    FOTO: WEb
O escritor moçambicano, Mia Couto foi distinguido
com o Prémio Eduardo Lourenço, atribuído pelo
Centro de Estudos Ibéricos. Os galardões são dados
todos os anos a personalidades ou instituições cuja
intervenção no âmbito da cooperação e da cultura
ibérica seja relevante.

Esta foi a primeira vez que o prémio saiu da Ibéria
“indo até ao Índico”, já que o escritor é moçambi-
cano. Quem o disse foi João Gabriel Silva, reitor
da Universidade de Coimbra, membro do júri que
elegeu Mia Couto.

O escritor e também biólogo moçambicano foi
distinguido graças à sua obra que o torna numa
“referência cultural do espaço lusófono, num inter-
locutor privilegiado e potenciador do diálogo plural
e aberto que importa aprofundar com o mundo
ibero-americano”, refere o comunicado do CEI.

As obras de Mia Couto encontram-se publicadas
em cerca de 22 países, dos quais oito são países de
língua portuguesa e latino-americanos (Portugal,
Brasil. Angola, Moçambique, Espanha, Argentina,
Chile e México).
                                                          edrática jubilada da Universidade de Coimbra na área            algumas obras poéticas.
Desta forma, Mia Couto torna-se o “principal              da Cultura Greco-Latina, entre outros.
mensageiro africano da lusofonia nos espaços de                                                                   Além do reitor da Universidade de Coimbra, o
expressão ibérica, funcionando a sua obra literária       O Prémio será formalmente entregue a Mia Couto no dia   júri que hoje decidiu a atribuição do Prémio Edu-
como importante estímulo ao diálogo, uma ponte            26 de novembro, na Guarda, por ocasião das comemo-      ardo Lourenço 2011 era formado pela vice-reitora
aberta à cooperação cultural entre África, Europa e       rações do 11º aniversário do CEI, informa a Lusa.       da Universidade de Salamanca (Espanha), Noémi
América Latina”, continua o comunicado.                                                                           Dominguez, pelo presidente da Câmara da Guarda,
                                                                                                                  Joaquim Valente, por José Joaquim Gomes Cano-
O Prémio Eduardo Lourenço é uma homenagem ao                Mia Couto é especialmente conhe-                      tilho e Maria de Sousa (Universidade de Coimbra),
mentor e diretor honorífico do CEI, o ensaísta Edu-                                                               Antonio Colinas e Juan Carlos Mestre (Universidade
ardo Lourenço. Atribuído há cinco anos, já nomeou          cido pelos seus contos, mas é também                   de Salamanca), entre outros
a Pianista Maria João Pires, o Poeta espanhol Ángel
Campos Pám e Maria Helena da Rocha Pereira, Cat-               autor de romances, crónicas e


Maputo capital da poesia em Novembro
                                         Entretanto, termina nesta semana o processo de recolha dos poemas que estarão em exposição.




A cidade de Maputo, capital politica e económica do       da poesia moçambicana e valorizar o legado
país, passará, a partir de Novembro, a ser a capital da   poético nacional; dar ênfase ao papel social da
poesia. Jovens do Movimento Literário Kuphaluxa           literatura no que tange à intervenção dos literatos
vão “invadir” o território de David Simango, com a        na participação para a mitigação de problemas
sua autorização e vão pendurar nas árvores cerca          sociais; chamar a atenção para a valorização das
de 300 poemas seleccionados de escritores inici-          artes e cultura e a necessidade do envolvimento
antes e consagrados de Moçambique, num projecto           da sociedade para tal.
denominado “Poesia nas Acácias”.                          Ainda no âmbito do mesmo evento, será realizado
O evento, decorre no âmbito da celebração do              um show de poesia no correcto do Jardim Tunduro,
segundo ano de existência, do referido movimento          no dia 12, intitulado “Revivendo o M’saho”, com
e dos 124 anos da cidade de Maputo.                       recitação dos poemas em exposição pelos seus
“Poesia nas Acácias” terá lugar de 10 a 12 de Novem-      autores e convidados, além da música que se fará
bro próximo e ocupará as árvores da Rua da Rádio e        presente no evento.
do Jardim Tunduro na cidade de Maputo.                    Para a realização deste evento, até ao momento,
De acordo com os representantes do Movimento              o Movimento Kuphaluxa, conta com o apoio do
Kuphaluxa, este projecto visa, essencialmente, incutir    Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM)
nos jovens os hábitos de leitura, abrindo espaços         e do Banco Comercial e de Investimentos (BCI)
alternativos para o efeito; promover novos autores
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 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                                 https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                             3

Em primEira
 Literatura e Jornalismo em Moçambique*
  Calane da Silva e Nelson Saúte criaram essa necessidade de se voltar a contar histórias na imprensa como era antigamente.




Com “O Olho de Hertzog”, de João Paulo Borges Coelho,         No entanto, se até ao início dos anos 90 a imprensa              notícia. Nesse item as duas “artes” equiparam-se como diz o autor de
que é também historiador, voltámos para uma cidade de         serviu como a principal plataforma da literatura, não            “Os Habitantes da Memória” e acredita que uma boa literatura retrata
Lourenço Marques depois da Segunda guerra Mundial. A          só emprestando autores como também dando largos                  o seu tempo.
imprensa fervilhava com João Albasini no seu fato bran-       espaços nos jornais, agora, segundo Calane da Silva e            “Tanto jornalismo como literatura dão notícias. Se é um facto que o
co a caminhar pelas ruas da baixa da cidade, depois de        Nelson Saúte, ela demitiu-se.                                    jornalismo, objectivamente noticia ou dá a conhecer o que aconteceu
escrever mais um editorial “pró -igualdade”. A imprensa       “Há muitas lacunas. Infelizmente, havia uma tradição             num dado momento, não é uma inverdade de todo que a literatura
era forte e os jornalistas confundiam-se com escritores       que devíamos ter continuado, porque nada impede                  também dá notícia. José Capela dizia, há anos, que não havia melhor
(ou era o contrário?).                                        que o façamos. Páginas de cultura tentam colmatar, mas           fonte do que a literatura para se ter notícia de uma certa época. A boa
Na história da escrita nacional, a literatura e a imprensa    páginas de artes e letras foram sempre fundamentais,             literatura é aquela que conta sobre a época que retrata e fazer isso é
sempre se confundiram como um só. No XXIII Curso de           não só para divulgação como também para a motivação              fazer notícia desse tempo.”
Literatura em Língua Portuguesa, organizado pelo Insti-       desta arte nobre”, disse Calane.                                 Alguns géneros jornalísticos, diz o poeta, podem fazer uma inter-
tuto Camões e pela Faculdade de Letras e Ciências Soci-       Se Calane fez uma caminhada histórica desde o surgi-             cessão com a literatura. Um desses géneros é a crónica, que “é pouco
ais da universidade Eduardo Mondlane, onde se discute         mento da imprensa em Moçambique, passando pelo                   trabalhada hoje na nossa imprensa”. Nos finais dos anos 1980, até os
“Literatura e jornalismo: as fronteiras (in)visíveis da es-   advento da literatura até esse abandono, mostrando               princípios dos anos 1990, o jornal Notícias – conta Saúte - tinha uma
crita”, voltou-se a olhar para esses limites.                 os grandes senhores que estiveram nos dois campos,               série de cronistas da última página que eram os escritores mais impor-
Fomos ver a apresentação de dois escritores que se con-       Nelson Saúte optou por mostrar as diferentes correntes           tantes, entre eles Mia Couto, de onde saiu aquele livro “Cronincando”.
fundem com jornalistas, Calane da Silva e Nelson Saúte,       jornalísticas que se confundem com a literatura.                 No mesmo jornal tinha também um espaço na terceira página, dedi-
que levaram os presentes a espreitarem a história da          Nelson Saúte foi buscar uma lista de jornalistas que venceram    cado aos mais novos, onde ele surgiu ao lado de outros como Sulei-
literatura, ao mesmo tempo que visitavam, comparati-          Prémio Nobel de Literatura para fazer essa ligação. Calane       mane Cassamo e Hélder Muteia. “No fundo, aquilo que praticamos era
vamente, as redacções actuais. Da Silva falava da “Imp-       também tinha feito o mesmo, mas preferiu mostrar os que          metade jornalismo, metade literatura. Era um pouco na boa tradição
rensa Moçambicana no Advento da Literatura Moçam-             construíram os dois campos e a história não consegue os tirar    da crónica literária,” conclui.
bicana”. Saúte optou por pedir emprestado a ideia de          de um ou de outro lado.                                          O outro género que para Saúte se cruza com a literatura é a reporta-
Baptista-Bastos de “jornalismo é uma disciplina superior      Porque estamos a falar de Nobel, Saúte apelou à sua              gem. “ O Calane (da Silva) e o Ricardo Rangel foram precursores em
da literatura”, e apresentou “Jornalismo: escola superior     memória para reproduzir uma entrevista que surgiu no             Moçambique de um género que é muito importante no jornalismo
de literatura”.                                               “Paris Review”.                                                  e que é muito importante para os escritores, que é a reportagem. A
Calane da Silva pegou-se à história para mostrar o con-       “O jornalista perguntou a um célebre escritor o seguinte:        reportagem é o género dos géneros, permite a discrição, permite aná-
tributo da imprensa para o advento da literatura moçam-       ‘Sugeria a um escritor jovem que trabalhasse num jor-            lise, permite incluir dentro do texto um conjunto de possibilidades. As
bicana. Como escrevemos antes, os precursores da litera-      nal? Que importância teve a sua formação no The Kan-             reportagens que eles faziam nos anos 1970 sobre a situação da prin-
tura moçambicana confundem-se com jornalistas. Mas,           sas City Star?’ Esse escritor respondeu: ‘No Star éramos         cipalmente chamada cidade de caniço, hoje seriam peças literárias,
de acordo com Calane, que não haja dúvidas: a literatura      obrigados a aprender a escrever uma frase declarativa            porque havia um investimento de escrita muito importante...”
vem da imprensa.                                              simples, o que é útil para toda a gente. O trabalho de           Nelson Saúte foi olhando para os diferentes cantos para descobrir,
Em relação a Moçambique, não há duvidas que foi a imp-        jornal não prejudica um jovem escritor e pode mes-               nos Estados Unidos dos anos 1960, o surgimento de novo jornalismo.
rensa que criou condições para advento de uma literatu-       mo ajudá-lo se ele sair de lá a tempo.’ Quem disse isso”         “Novo jornalismo alicerçava-se nas técnicas da literatura com dis-
ra escrita em língua portuguesa. É claro que a literatura     – revela mais tarde Nelson Saúte – “chamava-se Ernest            crições pormenorizada de cenas, incorporando diálogos e o ponto de
moçambicana tem como origem a nossa literatura oral,          Hemingway, prémio Nobel de literatura em 1964, que               vista dos personagens na captação da realidade. Eram peças literárias
mas tem uma parte das literaturas portuguesa e outras”.       elevou a narrativa mundial com técnica ligada ao jor-            fabulosas, mas também eram peças jornalísticas. Eram as duas coisas,
A história pode ter tido o seu início em 1854 quando,         nalismo. A sua técnica é de frases curtas. É também um           justamente, porque permitiam um entendimento aprofundado da re-
acredita o autor de “Xicandarinha na Lenha do Mundo”,         mestre no diálogo.”                                              alidade”.
se montou a imprensa em Moçambique.                           Alguns escritores moçambicanos, segundo Nelson Saúte, são        No entanto, entre os anos 1950 e 1960 surgiu uma outra corrente que
“Havia possibilidade imensa de imprensão de livros e          influenciados por Ernest Miller Hemingway, “um deles que         se confunde, de acordo com Saúte, com o novo jornalismo, que é o
publicação de jornais com páginas onde as pessoas iam         confessava nos anos 80 a importância de Hamingway, princi-       chamado jornalismo literário ou jornalismo de autor, ou ainda reporta-
bebendo um bocado da cultura literária. É verdade que         palmente no diálogo, é Ungulani Ba Ka Khosa.”                    gem de ensaio. Este usa também técnicas de literatura na captação,
não eram todos os moçambicanos, eram portugueses.             Ao entrar para o campo de “comparações” Saúte diz que do         redacção, edição de reportagem e ensaio. Para Saúte, este é um jornal-
Mas, à medida que o tempo ia passando, mais moçam-            jornalismo se pode aprender a contar. A ideia não é nova.        ismo que tenta obter uma minuciosa observação da realidade.
bicanos aprenderam a ler e a escrever, de tal modo que        Muitos autores já definiram o jornalismo como uma arte de        “O jornalismo literário permite-nos um grande manejamento da lín-
nas duas (primeiras) décadas de século XX já tínhamos         contar a história. o jornalismo ensina-nos a narrar, a contar.   gua. Um bom jornalista literário ou que pratica um jornalismo de autor
“O Brado Africano”, que era um jornal editado por negros      “O bom jornalismo é contar uma história, o resto é conversa.     é quem domina de forma soberba a língua.”
e mestiços.”                                                  Enfim, quem não sabe contar uma história não pode ser jor-         Ao espreitar para as actuais redacções, Nelson Saúte diz notar um
“O Brado Africano” também tinha páginas literárias e          nalista. Literatura é justamente a mesma coisa. A divergência    prefeito desconhecimento da língua portuguesa, o que torna difícil a
assinaram escritores como Noémia de Sousa, Rui de No-         que pode haver entre jornalismo e a literatura é que, se cal-    prática de jornalismo de autor.
ronha e José Craveirinha.                                     har, o jornalismo procura através de alguns protocolos uma       “Noto um prefeito desconhecimento da língua portuguesa.
“Os meios de comunicação foram um alicerce enorme             certa objectividade ao contar essa história. Não é seguro que    Uma incrível incompetência linguística. Quem não domina a
para a divulgação da literatura. O mais interessante é        a consiga, mas persegue. E jornalismo arma-se de algumas         língua, quem não sabe manejar as palavras, quem não sabe
que se o jornalismo ofereceu grandes nomes para a lit-        ferramentas para poder atingir essa objectividade. A litera-     trabalhar no universo das palavras não pode praticar este tipo
eratura, esta também tem muito a ver com o jornalismo.        tura é o reino da subjectividade. Portanto, há aí de facto uma   de jornalismo que está na fronteira entre o jornalismo e a lit-
Ou seja, a literatura não só por ser cantada, narrada, dec-   divergência ou aparente divergência. Mas tanto jornalismo        eratura. Quem não domina uma língua, quem não sonha numa
lamada, também tem um pouco de informação do quo-             como literatura contam histórias. E o contar história é uma      língua não pode contar. Há histórias fabulosas nos nossos jor-
tidiano, tal como os jornais. Ela também apresenta um         coisa imanente da condição humana”.                              nais que são incrivelmente mal contadas.”
pouco a alma humana no sentido da sua história, da sua        No entanto, o entrar para “o reino da subjectividade” como foi   *Título da nossa autoria.
subjectividade e objectividade.”                              definido, não retira de todo a tendência da literatura de dar    Texto e Foto: Jornal O País
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    Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                                            LITERATURA MOÇAMbICANA                                                          4


Nelson Saúte                                                                                                                                 MUNHUANA bLUES
                                                                                                                                     NELSON SAúTE
                                                                                                                                    Lá nos arrabaldes da minha infância
                                                                                                                                    a casa da Munhuana me não resiste apenas
                                                                                                                                    também guardo ciosamente na memória
                                                                                   NeLsoN sAúTe                                     as histórias da minha avó Angelina
                                                                                   esCrITor, jorNALIsTA e comentador político       e mantenho o medo
                                                                                   moçambicano nascido em 1967, na cidade           da ameaçadora visita do Guiguisseca
                                                                                   de Maputo. Licenciado em Ciências da Comu-       anunciada na varanda da loja do Muchina
                                                                                   nicação pela Universidade Nova de Lisboa,        enquanto os miúdos do meu bairro
                                                                                   foi redactor no jornal Público e no Jornal de    todos eles craques
                                                                                   Letras. Em Moçambique trabalhou na Rádio         desmentiam o talento do Eusébio.
                                                                                   Moçambique e na Televisão de Moçambique          Ali no Bairro Indígena eu ainda sou
                                                                                   - onde é comentarista político - e em algu-      aquele rapaz de calção e sapatilhas
                                                                                   mas publicações. Exerce também funções de        - compradas numa daquelas lojas
                                                                                   docente universitário. Como escritor, publicou   dos monhés do Xipamanine –
                                                                                   várias obras, destacando-se na poesia e em       correndo a toda a largura a rua do Zambeze
                                                                                   antologias literárias de Moçambique.             no dia em que prometeram
                                                                                                                                    uma visita ao Jardim Zoológico.
                                                                                   eNTre As suas obras destacam-se A Ilha de        O baldio que ficava à frente da minha casa
                                                                                   Moçambique pela Voz dos Poetas (antologia,       foi vítima de urbanização clandestina
                                                                                   co-autor com António Sopa, 1992), Antologia      e no lugar onde as meninas se despontavam
                                                                                   da Nova Poesia Moçambicana (co-autor com         para os meus sonhos febris de vate desassumido
                                                                                   Fátima Mendonça, 1993), A Cidade Lúbrica         e vendiam badjias e matoritoris
                                                                                   (poesia, 1998), Os Narradores da Sobrevivência   reincide-se na ofensa à memória.
                                                                                   (romance, 2000) e As Mãos dos Pretos - Anto-     Naquele tempo minha avó reverberava o mito
                                                                                   logia do Conto Moçambicano - 2000 (2001).        esvoaçando as saias das moças nos bailes
                                                                                   Publicou também algumas colectâneas de           e as calças bocas de sino dos rapazes do Chaman-
                                                                                   entrevistas como A ponte do Afecto (1990) e      culo.
                                                                                   Os Habitantes da Memória (1998).                 Foi ali que começou esta minha mania de amar o
                                                                                                                                    Brasil
MARRAbENTA PARA FANNY MPFUMO TESTAMENTO PARA OS MEUS FILHOS                                                                         nas vozes do Carnaval da avenida de Angola.
                                                                                                                                    O samba da Mafalala também tinha batuques
                              NELSON SAúTE                                                                                          e a folia Índica desta minha Bahia
 NELSON SAúTE                                                                                                                       marrabentando os acordes da tua viola.
 ao Zé Flávio Teixeira                                 Mayisha e Irati:                                                             Também cantei e bailei como esta noite
                                                       este o magro pecúlio que vos deixo                                           neste meu desavisado regresso ao Xipamanine
Fanny Mpfumo cantava I love you so                     - livros, papéis, sonhos.                                                    não só por culpa dos avatares do velho gramofone
eu era menino e nem sabia o que era tindjombo:         Poemas para as mulheres                                                      e os discos de 45 rotações mas por imposição
- ó a va sati valomo! –                                que amei. Hinos de amor à vossa mãe.                                         da vocação da minha avó Angelina
mas já dizia hodi nos quintais contíguos               Filhos, só vocês dois.                                                       que jamais enfrentou um palco.
do meu Bairro Indígena.                                Depois de mim herdarão o nome                                                Fica para contar aos meus filhos os talentos
Unga tlhupheque nkata que ouvia na rádio               e a tarefa de perpetuar o que progenitor                                     dos que nos precederam. Minha avó agora não
por sobre o móvel da sala                              encetou. Fica para trás uma vida.                                            canta.
na casa da minha avó                                   Ilusões, cansaços, combates.                                                 Na sua casa ex-madeira e zinco de precária alvenaria
nomeava todas as mulheres que derrubavam               Infrutífero desespero de viver                                               ela deita-se no chão
à passagem os meus inocentes e desprevenidos anos      num país apátrida.                                                           de cimento queimado e conversa com os ancestrais
ali na varanda do Muchina.                             Deixo-vos estes desígnios                                                    quase todos eles à sua espera em Ressano Garcia.
O king ya marrabenta era suposto                       de coisa nenhuma. Algum pecúlio                                              Tudo isto agora e sempre nesta noite de sábado
conviver conosco todos os dias.                        um coração, bondade e alguma fé                                              eu filho legítimo das bangas na geração dos anos 80
Também ouvíamos Elisa gomara saia                      doméstica. Amanhã estes homens                                               a dançar até amanhecer quando no dia seguinte
nos tempos em que os Djambo 70 conjuravam              e mulheres que se festejam                                                   tinha folga na minha indesmentida profissão
e o destino dos meus pais não era só                   na algazarra das vozes e na luz                                              de formador de bicha nas lojas do Povo
os míticos bailes da cidade de caniço.                 de artifício nada terão para vos dizer.                                      ou no talho da Eduardo Mondlane que abria as
O mufana que eu era também gostava                     Oiçam então a voz do progenitor                                              portas
maningue do Gonzana e de todo o conjunto João Domin-   que não sucumbe às vozes                                                     já com a carne do Botswana esgotada.
gos                                                    nesta madrugada primeira                                                     Mesmo assim as nossas festas
Massoriana no palato daqueles tempos.                  do vigésimo primeiro século.                                                 com cervejas à pressão e coca-colas
Algumas vezes ouvia o João Wate                        Estas vozes digo-vos estarão                                                 compradas a muito custo
e outros que a memória não acautelou.                  apagadas pela cinza do tempo                                                 pelos nossos meticalizados bolsos
O Alexandre Langa foi mais tarde                       e do esquecimento.                                                           incompetentes para adquirirem as montras vazias
que me empolgou – Rosa Maria.                          Vosso pai afagar-vos-á                                                       das cooperativas de consumo parecem ficção
Tínhamos atravessado                                   com a mesma ternura enquanto vivia                                           aos olhos desta juventude.
para lá do asfalto e alcandorados estávamos            e levar-vos-á a passear pelas ruas da memória                                Não muito longe do largo João Albasine
na Polana onde inaugurávamos a nossa condição          com a mesma ilusão que vos alberga                                           nestes anos todos de ausência da Munhuana
de habitantes de fogos suspensos,                      nesta pequena casa que também vos deixa.                                     exilado lá para os lados da zona alta da cidade
alcançados mais tarde em obscuras escadas              Para trás ficará um tempo                                                    quem regressa é aquele menino que eu fui
disputadas por bidões de água                          mas não ficarão os homens que destroçaram                                    muito antes de conhecer o Alto-Maé dos chinas
acartados do jardim Tunduro.                           a minha geração, meus filhos.                                                quando a Polana era só e apenas
Minha avó falava naqueles velhos anos                  Não ficarão os sonhos e ilusões                                              um vago e improvável aceno do futuro
do Artur Garrido, conterrâneo lá de Ressano Garcia.    nem a lembrança inconsútil da barbárie.                                      e a Sommerchield adjectivava a quimera.
Mais tarde vi Fanny Mpfumo no Scala                    Espero que resista a honra deste homem                                       Agora meu velho João Domingos retorno
- não muitos anos depois no Estrela Vermelha –         que está por detrás destes versos e que um dia                               à minha infância entregue ao prodígio desta noite
marrabentando uma guitarra eléctrica                   curvados sobre a sua tumba                                                   de extenuado sábado nesta pista de dança
no frémito do seu amor por Georgina waka Nwamba.       vocês digam sem vergonha: Pai                                                e no espanto deste incauto duelo com os velhos
                                                                                                                                    mitos.

FICHA TÉCNICA
                                                        Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
  Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 *
                                                     Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz
Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br)
Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
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Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                    CRÓNICA / CONTO                                                                       5
                                                                                 FiLosoFonias                                rapsódicas
                                   Um mundo
                                  improvisório?                    MARCELO SORIANO - bRASIL
                                                                  m.m.soriano@gmail.com

                                                                  Nota preliminar: Antes de
                                 MIA COUTO - O PAíS               prosseguir com este artigo,
                                   O que pode parecer             lembro ao leitor que me dirijo
                                  verdade, no calor das grandes   à CPLP (Comunidade dos
proclamações, não é sentido como autêntico para grande            Países de Língua Portuguesa),
parte dos destinatários dessas tão eloquentes mensagens.          portanto, podemos encontrar
O mundo está feito para ser improvisório. Mas não está feito      gerúndios,      futuros     do
para ser tratado com a arrogância e a falsidade                   pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores,
Os meus amigos dão-me palavras. E é a melhor prenda que me        porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja
podem dar. Eles sabem da paixão que tenho, não exactamente
pelas palavras em si mesmas, mas pela possibilidade de            pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos
as reinventar ao gosto de cada um. Um dos modos mais              léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS
simples de sermos felizes é termos essa relação criativa com a    - BR. 14/07/2011.
língua, que nos disseram ser apenas gramática e ferramenta
utilitária.
Algures em Maputo, amigos meus perguntaram onde                   [V e r - s Ó I s]
podiam encontrar um quarto de banho. Um homem, solícito,          Introdução
mostrou-lhe uma dependência que, visivelmente, tinha sido
adaptada para fins que, eufemisticamente, podemos chamar          Numa noite acordei para o dia. E outro dia. Outro dia. Sol a sol, fui tecendo
                                                                  o manto da vida, enquanto esperava a morte, que não veio...
de “sanitários”. O anfitrião, simpático, julgou ter que dar uma
explicação: - Desculpem, mas este é um quarto improvisório.
A palavra é um achado. Sobretudo, porque é uma invenção
anónima.                                                          3º [Ver-sÓ]
Mais ainda porque a palavra traduz a condição de quase tudo
no nosso universo quotidiano: improvisado e provisório.           AMADA MI’A
Talvez o mundo inteiro necessite de palavras que o nomeiem
na sua condição transitória e indefinida. Porque o mundo não      AMÁLGAMA
é um livro. Não está escrito.                                     MI’A
Está sendo feito, desfeito e refeito em cada momento. Não         ANAGrAMA
se constrói por linhas, uma por uma. Faz-se de movimentos,        NA GrAMA
de imprevistos tais que necessitaríamos de imprevisionários       ÁGATA
para prever o futuro.                                             A GATA
Há quem insista que aprendeu a ler o mundo na Universidade
ou na carreira dessa nova espécie que dá pelo nome de             MIA
“analista político”.
E daí resultam previsões, prognósticos de absoluta certeza.       (CoNTINuA NA prÓxIMA eDIção...)
Essas antecipações sucederam, por exemplo, aquando das
manifestações populares do mundo árabe. Todos os que não          ...........................................................................
tinham sido capazes de prever o sucedido se apressavam,           poeMA DA MANHã
agora, a praticar o mais arrojado futurismo.
Algumas dessas adivinhações sustentavam cenários prováveis        O sol levanta.
para todo o continente africano. E é aqui que eu quero chegar:    O dia acorda.
essa África dos discursos e das percepções é a mesma em toda      As aves debandam.
a África?                                                         O orvalho seca.
Os mercenários que ajudaram a proteger Kadafi criaram uma         A chaleira chia.
situação difícil para os africanos negros que trabalhavam na
Líbia. Nas agitadas ruas eles eram perseguidos e espancados,      A chaminé fumega.
confundidos com os tais mercenários a soldo do regime. Os         E, ainda assim,
populares líbios chamam estes imigrantes de “africanos”. O        meu olhar
que significa que os líbios, de modo geral, não se consideram     desfia lonjuras.
africanos.                                                        .....................................................................................
O que é curioso suceder exactamente na pátria daquele que         AMIZADe e poesIA são CoIrMãs
reclama poder falar em nome dos “africanos”.                      (Às memórias dos Poetas Prado Veppo, Antonio Carlos Arbo e Mário Quintana)
A África do Norte, essa que uns chamam de África Branca,          Tenho bons amigos (continuam amigos), que escreviam como loucos.
vê-se a si mesma como africana? Não faço nenhum juízo             Os melhores, os mais velhos, os mais loucos, os mais luzentes, já se
de valor. Talvez para milhões de pessoas do Norte do nosso        retiraram. E uma maneira que encontrei de eternizar suas memórias
continente a sua condição identitária seja outra: eles vêem-      foi manter acesa a chama da amizade. Como? Ora, mantendo minha
se como árabes. Essa é a sua pátria, esse é o seu universo de     mente acordada, vigilante, escrevendo... Escrevendo... Por eles e por
                                                                  mim. A amizade é coirmã da poesia.
identificação simbólica. O que não invalida a construção de       ....................................................................
outras identidades que nos aproximem de um ideal mais
continental. O que não invalida, sobretudo, a aceitação de uma    FrAse CAIxA ALTA:
África com identidade múltipla. Mas os discursos “africanistas”
necessitam, sim, de se interrogarem a si mesmos e de evitaram     FALAr DeMAIs soBre o AMor, eM poesIA, Não É ser
recursos simplistas. O que pode parecer verdade, no calor         repeTITIVo, É ser MÂNTrICo
das grandes proclamações, não é sentido como autêntico
para grande parte dos destinatários dessas tão eloquentes
mensagens.
O mundo está feito para ser improvisório. Mas não está feito
para ser tratado com a arrogância e a falsidade.
6    BLA BLA BLA     Exero 01, 5555
    Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                                    https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                 6


- discurso dirEcto

Tudo e mais um pouco sobre
Valdeck Almeida de Jesus
    EDUARDO QUIvE - MAPUTO


valdeck Almeida de jesus, um escritor, um
    jornalista que também serve o estado
    – funcionário público. Conhecido como
    exaltador da verdade pelos que tem
    coragem de viajar pelas suas obras. Falei
    medo e pode-se pensar que escreve coisas
    assustadoras, e pode até ser verdade,
    mas se considerarmos que ele fala de
    factos verídicos do quotidiano “Heartache
    poems”, ”Yes, I am gay. so, what? – Alice in
    Wonderland” obra em que nesta entrevista
    o escritor chega a dizer que dentre vários
    assuntos, o autor faz revelações pessoais
    “Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde
    a professora ao vizinho que nunca soube
    de minha admiração por ele.”Por outro lado,
    Valdeck assusta a própria história da sua
    vida, contada em “Memorial do Inferno.
    A saga da Família Almeida no jardim do
    Éden” – “Tanto mostro as coisas boas,
    quanto as ruins. Nasci em jequié-BA, onde
    passei muita fome e comi coisa do lixo.
    Não tive brinquedos, não tive uma casa
    própria, não tive acesso a uma educação
    e serviço de saúde mínimos.” pois é,                                perceba. Se você relaciona minha vida com a publicação deste        contra o Feiticeiro”, idem. O título do livro é um cordel, história
    estamos perante, um escritor de longas                              livro, pouca coisa mudou. Não sou uma pessoa que se expõe           fantástica criada por mim, com uma lição de moral. Este poema fala
    viagens da vida transmitidas em jeito de                            pelas ruas, não sou muito de participar de festas e encontros       de um casal que procura ficar rico sem trabalhar e faz pacto com o
    boa literatura.                                                     sociais ultimamente, mas na época da publicação eu estava em        Satanás para conseguir riqueza. Como nem sempre a riqueza vem
                                                                        todos os cantos, praças, shows musicais. Recebi muitos elogios      sem obrigações, o cordel demonstra que enriquecer sem fazer
eDuArDo QuIVe : Valdeck fale-nos do mistério que norteia o seu          e fiquei feliz com o resultado.                                     força também tem consequências. Outros poemas deste livro são
primeiro livro o “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming            CADA LIVro que escrevo é como um capítulo de minha vida.           homenagens a pessoas, lugares e parte são reflexões de um jovem
Out from the Closet”? trata-se de alguma revelação de alguma            Aprendo muito quando estou colocando no papel minhas                acerca da incerteza da vida. Esta obra está esgotada, mas é sempre
orientação sexual do autor?                                             experiências e falando do que vi e vivi. Sou uma pessoa que         muito procurada. Pretendo reeditá-la. Doei alguns exemplares para
                                                                        preserva a tradição, mas ao mesmo tempo eu transgrido regras,       a Biblioteca Comunitária do Calabar, bairro pobre de Salvador-BA,
VALDeCk ALMeIDA: Bem, os poemas são feitos tanto para homens            sem agredir ninguém. Muitas vezes o mais agredido sou eu            e a criançada do bairro leu muito meus textos, inclusive teve mais
quanto para mulheres e foram criados na minha adolescência,             mesmo. O livro foi uma forma de dizer ao mundo o que eu             leitores do que Carlos Drummond de Andrade. Fiquei muito feliz
numa fase em que muitos jovens estão em busca de respostas para         pensava e sentia e isso foi o bastante. No dia a dia, sou pacato,   quando Rodrigo Rocha Pita, um dos coordenadores da biblioteca
muitas questões da vida. Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde         caseiro, saio pouco, a não ser para casa de amigos e encontros      me deu a notícia. Fiquei tão feliz que patrocinei dois livros de
a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por          literários. O que mudou em minha vida foi a forma de encarar as     poesias com crianças do bairro, cujo título é “Abre a boca Calabar”.
ele. Todas as reflexões sobre estes sentimentos foram traduzidas        situações, os problemas e a tentativa de encontrar soluções. Não    Nestas duas obras os poetas mirins falam do bairro, da escola,
em poesias, as quais eu paguei para traduzir e publiquei nesta          escrevo para chocar ninguém. O que escrevo é o que penso. Se        da biblioteca e da vida deles numa cidade rica em cultura e em
obra. “Heartache Poems” é um livro-confissão e ao mesmo tempo           minha forma de ver a vida escandaliza alguém, o problema não        dinheiro e ao mesmo tempo tem bolsões de misérias e bairros
composto de poemas fantasias, as mesmas fantasias que povoa-            está em mim e sim em quem lê e se admira com minha obra.            inteiros onde as pessoas passam fome. “Abre a boca Calabar” é uma
vam minha mente, sobre sexualidade, posicionamentos políticos,                                                                              forma de denunciar isso. O bairro fica encravado entre prédios de
incerteza do futuro, aspirações de trabalho etc.                        eDuArDo QuIVe: No seu último livro, publicado em 2010, vem          vinte e trinta andares, perto de um shopping de luxo e próximo
                                                                        a falar do mesmo assunto referido no primeiro “o ser gay” desta     ao circuito do carnaval, por onde circulam milhões de dólares.
 eDuArDo QuIVe: Como é que o livro foi recebido pela classe             vem sendo mais provocador em “Yes, I am gay. So, what? – Alice      No entanto, a localidade ficou abandonada desde a fundação, há
crítica literária, social e pelo público em geral?                      in Wonderland”…                                                     mais de trinta anos.
                                                                                                                                            sALVADor É tida como a cidade onde tem mais negros fora da
VALDeCk ALMeIDA: Uma obra literária sempre carrega muito                VALDeCk ALMeIDA: Como disse, eu sou o que sou e não o               África. Se nos países africanos a fome e a desigualdade social mas-
do seu autor. Este tipo de literatura em que as paixões pessoais        faço para escandalizar. Aliás, minha vida é muito discreta, sou     sacram muita gente, em Salvador não é diferente. Ali se encontram
aparecem muito claras nem sempre são bem vistas, pois muita             uma pessoa que paga impostos, cumpre regras, para no sinal          pessoas com renda de milhares de dólares e pessoas que vivem
gente prefere viver no anonimato, na hipocrisia, vivendo uma coisa      vermelho no trânsito, pago minhas contas em dia, respeito a         com míseros centavos. A desigualdade é gritante. E o “Abre a boca
e dizendo que vive outra. O bom é quando um leitor se identifica        vizinhança etc. A literatura em minha vida é uma forma de desa-     Calabar” denuncia, de alguma forma, essa injustiça social.
com a história, tanto pode valorizar o livro quanto desqualificá-lo.    bafar, de transgredir, de gritar para todos que eu sou assim, que
Como diz Caetano Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho”.       existo. “Alice in Wonderland” é mais um capítulo de minha vida,     eDuArDo QuIVe: Em geral, o que o leva a escrever? Sempre
Nesse sentido, para quem gosta de ser exposto ou de aprender            algo que passou. Na obra tem muita coisa real, verdadeira, que      quis ser escritor? Que influências teve para chegar ao mundo da
com a exposição alheia, o livro é bom; para aqueles que pref-           aconteceu comigo, e muita ficção. Há relatos de outras pessoas      escrita?
erem viver na penumbra, viver de aparências, o livro é péssimo. A       que transformei em literatura, e há personagens que nunca
crítica falou muito bem, mas não escrevo para os críticos literários.   existiu de verdade. A provocação vem justamente nos relatos de      VALDeCk ALMeIDA: O que me leva a escrever é a necessidade
Quando faço uma obra, penso primeiro em mim, em como eu                 pessoas que nunca teriam coragem de se declarar e me pediram        de gritar, de denunciar ao mundo tudo o que vejo. Tanto mostro
gostaria de comprar um livro. Depois, penso nos leitores, aqueles       para mostrar no livro que elas existem. Outros relatos são de       as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em Jequié-BA, onde passei
que levarão um exemplar para casa. Estes, os leitores, me elogiaram     pessoas que vivem vida dupla, de dia são funcionários públicos,     muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma
muito, principalmente os amigos (risos). Quanto aos inimigos meus       advogados, e à noite procuram os prostíbulos, buscam as drogas      casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde
e da literatura, prefiro que eles se calem e não saibam onde estou.     etc... É a literatura retratando a vida real. Minha função é como   mínimos. A luta foi grande mas consegui vencer, graças à educa-
É mais seguro para todos...                                             daqueles fotógrafos que viajavam pelas cidades do interior,         ção que minha mãe me deu. Acredito que tenho compromisso
                                                                        fotografando pessoas onde não existiam esse serviço.                com os outros cidadãos, pois não dá para se sentar à mesa para
eDuArDo QuIVe: Na altura em que publica esta obra (2004)                                                                                    comer tranquilamente, enquanto outros irmãos passam fome. A
já era conhecido na esfera literária da Baia e até do Brasil. Algo      eDuArDo QuIVe: Mas logo depois destes temas, vem um                 injustiça me incomoda muito e escrever é uma forma de estimular
mudou drasticamente na sua vida?                                        Valdeck Almeida de Jesus com outra face “Feitiço Contra o Feiti-    as pessoas a pensar e a tentar mudar a realidade da vida. Na minha
                                                                        ceiro”, mas escrevendo poesia. E como pode o feitiço virar contra   opinião educação é a arma principal que um cidadão tem direito.
VALDeCk ALMeIDA: Eu sempre fui uma pessoa muito trans-                  o feiticeiro? A que nos direccionam os poemas nesta obra?           Depois de educado cada um pode escolher alternativas para modi-
parente. Quando gosto de algo ou de alguém, eu demonstro                                                                                    ficar a realidade, influenciar para o bem ou para o mal. Não é à toa
facilmente. Quando simpatizo, também faço com que a pessoa              VALDeCk ALMeIDA: Este livro também é composto de poemas             que muitos governantes se “esquecem” de investir em educação
                                                                        da minha adolescência. Eu disse anteriormente que o livro
                                                                        “Heartache Poems” era composto de obras diversas. O “Feitiço
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    Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                                                https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                         7
de qualidade. Com um povo desinformado fica mais fácil controlar o              uma nova forma de ver, de fazer política, de conquistar direitos,      canos, ampliando as fronteiras do Brasil e aproximando povos de
poder e impedir que as pessoas evoluam. Meus escritos lutam contra              sem guerras, sem sangue. A arte é uma arma poderosa e se o             língua comum.
esta tirania que mata muito mais que tiros de canhões.                          artista souber usá-la, faz uma revolução no mundo. O mundo
 As INFLuêNCIAs primárias que tive para escrever foram as estórias              só existe porque o homem existe e o homem tem direito de               eDuArDo QuIVe: Uma das questões a que sempre se dedicou,
que minha mãe me contava. Paula Almeida de Jesus era uma mulher                 modificar o seu habitat. Eu não vou fazer uma obra literária           é a divulgação da Literatura Baiana e promoção de novos autores.
aleijada das pernas, analfabeta e filha única. Mas apesar de não saber          apenas para divertir. Ela (a obra), vai divertir, mas também vai       Na sua opinião em que estágio está a Literatura Baiana e, no seu
ler nem escrever ela tinha uma visão de mundo e uma ética muito                 ensinar alguma coisa.                                                  entender, quais são os que se podem chamar os autores do futuro
fortes. Sempre me ensinou a respeitar o espaço dos outros, não                                                                                         nessa região?
invadir a privacidade alheia, evitar atrapalhar qualquer um. Eu me              eDuArDo QuIVe: Que condições considera necessárias para se ser
recordo que uma vez, por causa da fome, eu peguei um coco que                   escritor?                                                              VALDeCk ALMeIDA: Eu citei alguns autores baianos numa per-
encontrei num quintal aberto. Quando cheguei em casa ela mandou                                                                                        gunta anterior. Há muitos outros. A Baia é um celeiro de cultura.
que eu voltasse e deixasse o coco no local onde encontrei.                      VALDeCk ALMeIDA: Para ser escritor é necessário ser leitor. Eu         Aqui florescem poetas, poetisas, cronistas, contistas, romancistas.
                                                                                leio de tudo. Leio jornais, revistas, rótulos de xampus, receita       Seria leviano de minha parte dizer que este é melhor que aquele
eDuArDo QuIVe: Ter a poesia como o seu género, foi por opção                    de remédio e de bolo, embalagens de qualquer coisa. Sou um             e que aquele outro vai se sobressair. Quem pode dizer isso são os
própria? Qual é o seu percurso nos géneros literários?                          consumidor de livros e de revistas e jornais. Um escritor não          leitores. Mas nem sempre o valor de um escritor pode ser medido
                                                                                pode ser alheio ao seu meio social, não pode ser isolado do            pela quantidade de leitores. Alguns escritores baianos conseguem
VALDeCk ALMeIDA: A poesia veio com os cordéis, que são livretos vendidos        contexto em que vive. E para isso ele deve participar da vida da       patrocínio privado, outros são apoiados pelo Estado, e muitos vão
em feiras livres e expostos em cordas nas praças das cidades do interior do     comunidade, mesmo que observando. Deve opinar, denunciar,              ficar anónimos porque não concordam com as políticas partidárias
Brasil. Minha mãe nasceu em Amargosa-BA, Recôncavo Baiano. Meu pai nas-         criticar, divertir, ser cidadão pleno. Afinal, ele é dotado do poder   ou culturais. Posso falar de minha simpatia por Jean Wyllys, Leo Drag-
ceuem Santo Antôniode Jesus-BA, na mesma região, onde a cultura popular         da palavra e deve se valer disso.                                      one, Renata Rimet, Leandro de Assis todos os que citei na pergunta
é muito valorizada. Mamãe foi muito influenciada pela cultura local e passava                                                                          anterior, pois são pessoas com as quais eu convivo e sei que escrevem
para mim muitas das experiências de vida dela, me contava casos e estórias eDuArDo QuIVe: O que considera bom escritor? Que livros você                sobre a realidade e eles escrevem com a alma.
fantásticas. A poesia veio daí. Veio também de livretos de poesia que eu lê?
comprava na escola. A linguagem cadenciada, as rimas e a forma de escrever                                                                             eDuArDo QuIVe: Quais são os seus planos futuros: na vida pessoal
me encantavam. Comecei a querer escrever também do mesmo jeito e fui me VALDeCk ALMeIDA: Leio Jean Wyllys, Carlos Drummond de Andrade, e no âmbito literário?
tornando poeta desde os doze anos de idade.                                     Agualusa, Guimarães Rosa, Cora Coralina, João Ubaldo Ribeiro, Jorge
DepoIs FuI enveredando pelos contos, durante os anos de estudos na escola. Amado, Renata Rimet, Leandro de Assis, Cymar Gaivota, Miriam de VALDeCk ALMeIDA: Pretendo encontrar um amor para a vida toda,
Somente aos quarenta e três anos de idade comecei a escrever romances. Sales, Domingos Ailton, Lima Trindade, José Inácio Vieira de Melo, para compartilhar minha vida e ser minha fonte de inspiração (risos).
Comecei descrevendo a história de minha família e depois disso já escrevi Carlos Souza, Roberto Leal, Carlos Antônio Barreto, José da Boa Morte, Sou funcionário público e pretendo continuar, para ter dinheiro para
quatro livros, ainda inéditos. Agora já tenho muitas crónicas e artigos, influên- Leo Dragone, Leandro Flores, Vanise Vergasta, Aline Vitória, Clara Maciel, investir em literatura, sem precisar pedir a governo ou a empresários.
cia do curso de jornalismo que fiz.                                             Varenka de Fátima, Aurélio Schommer, Antônio Cedraz, Deomídio Tenho um sonho de fundar uma editora baiana que valorize o autor
                                                                                Macedo, Carlos Ventura, Carlos Conrado, Dé Barrense, Adolf Huxley, baiano, sem deixar de dar espaço a africanos, argentinos etc.
eDuArDo QuIVe: Mas logo a seguir vem-nos com prosa em “Memorial do Saramago, Pablo Neruda, Gabriel García Marquez, dentre outros.
Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, mas como sempre,                                                                                eDuArDo QuIVe: Embora vencedor de vários prémios, pensa em
despertando atenção com mais uma história dramática – fome e a miséria eDuArDo QuIVe: O que sabe da literatura de outros países lusófonos, batalhar por mais algum? Qual?
por mais de vinte anos na sua família. Fale-me desses vinte anos de fome em particular de Moçambique? Conhece ou admira algum escritor e
por si vividos?                                                                 uma obra moçambicana?                                                  VALDeCk ALMeIDA:
                                                                                                                                                       Meu maior prémio é quando recebo comentários
VALDeCk ALMeIDA: Este romance foi escrito durante quatro anos. Eu sempre VALDeCk ALMeIDA: Eu conheço Mia Couto, de ouvir falar, mas ainda               de leitores. Seja para criticar, seja para elogiar.
tive vontade de registar as memórias de minha mãe, os remédios caseiros que não tive oportunidade de ler obras dele. Agora estou conhecendo              Escrevo para amigos e inimigos. Quando uma
ela sabia. Mas nunca consegui parar para ouvi-la, escrever tudo aquilo em Eduardo Quive e mais alguns poetas contemporâneos. Pretendo me                  pessoa que nunca gostou de leitura pega um
papel e transformarem livro. Eume achava incapaz de fazê-lo. Um belo dia, aproximar mais dos países lusófonos e dos seus autores. Por muitos           livro meu, lê e comenta eu fico feliz. Meu maior
voltando da faculdade, no meio do trânsito, me veio à mente todo o resumo anos o Brasil ficou isolado desses irmãos africanos, não pela distância        prémio é este. E é por isto que distribuo livros
do livro. Quando cheguei em casa fiz um rascunho de umas dez folhas e daí mas pela falta de políticas públicas no sentido de incentivar inter-          impressos nos eventos que participo; e é por este
em diante eu escrevia umas cinco páginas por dia. Infelizmente minha mãe câmbios. Não sou de esperar por iniciativas de governos e já estou               motivo que coloco minhas obras disponíveis
não viveu para ter o prazer de ver o livro pronto. Mas sei que onde ela estiver me propondo a conhecer Moçambique, Angola, Cabo Verde e outros          em PDF, gratuitamente, na internet, para que
está feliz com a obra.                                                          países de língua portuguesa.                                                          muitos tenham acesso.
os VINTe anos de fome me deixaram marcas profundas. Tanto em mim
quanto em meus sete irmãos. A gente comia carne podre, catava peixe no eDuArDo QuIVe: Compara-se com algum escritor no mundo?                          Vejo Que para além de escritor tem outra profissão. Será escrita a
esgoto, pegava comida estragada no lixo e dormia com fome muitas vezes.                                                                                sua profissão principal?
Minha família não tinha dinheiro para comprar uma casa nem móveis. Vivía- VALDeCk ALMeIDA: Acho que cada escritor tem seu estilo, sua marca
mos de aluguer e quase todo mês o dono da casa nos expulsava por falta de pessoal. Eu não gosto de me comparar, mas ficaria muito feliz se minhas MINHA proFIssão principal é no serviço público. Sou funcionário
pagamento. Era um sofrimento sem fim. Meu pai logo adoeceu e ficou maluco, obras pudessem ser lidas e comentadas pelo mundo todo. Já publiquei do governo federal brasileiro. Gostaria muito de poder viver de lit-
foi internado por vários anos em clínicas para loucos. Minha mãe, paralítica, três livros em inglês, justamente para tentar chegar a vários países, eratura, mas isto ainda é um sonho.
é que cuidava de tudo. A gente vivia de porta em porta pedindo um pedaço já que a língua inglesa é universal. Tenho meu estilo contestador e
de pão, um pouco de feijão ou arroz. Morávamos perto de pessoas também denunciador. Em minhas obras sou irônico e sarcástico. Não sei de o Que você mudaria no mundo se lhe fosse dada a presidência
muito pobres, que não tinham como nos ajudar. Quase sempre voltávamos outro autor que tenha estas mesmas características nem quero imitar mundial por um dia?
para casa sem nada e passávamos o dia com muita fome. À noite, minha mãe ninguém. Se os leitores gostarem do que escrevo, vai ser ótimo. Se não
nos consolava dizendo que no dia seguinte Jesus viria trazer comida. A gente gostarem, infelizmente não vou mudar o meu jeito de ser e escrever A prIMeIrA coisa que eu faria era investir em educação na África
acreditava, mas no dia seguinte ninguém aparecia na porta trazendo algo para agradar ou para vender livros.                                            inteira. Abriria milhares de universidades e cursos de literatura,
para saciar nossa fome. A revolta era grande, mas minha mãe sempre estava                                                                              arteem geral. Aarte liberta.
ao nosso lado, nos consolando. Eram dias e noites de tristeza. Muitas vezes eDuArDo QuIVe: Olhando para seu curriculum noto que é “muita
eu ia trabalhar em troca de um prato de comida. E outras vezes, quando eu coisa”, mas em que área específica você se formou?                           ACHA Que os escritores dos países da CPLP interagem entre si?
chegava da escola, tarde da noite, tinha que ir dormir e sonhar com comida,
pois não havia nada para comer.                                                 VALDeCk ALMeIDA: Sou jornalista por formação concluída em Fever- Não TeNHo informações suficientes para afirmar isso. Mas acho que
TuDo Isso eu conto neste livro que faz rir e faz chorar. Muita gente se eiro de 2011. Apesar de ter iniciado vários outros cursos, os abandonei podemos, todos, agir de forma coordenada, a fim de aproximar mais
emociona muito com os relatos, pois são verdadeiros e carregam uma carga por problemas de saúde ou porque não me identifiquei com nada os países de língua portuguesa, especialmente os de África.
muito forte de emoção. Felizmente este tempo passou e hoje posso ir à padaria daquilo. Coincidência ou não, eu fundei, juntamente com Domingos
comprar pão, ao mercado comprar carne. Agradeço muito a minha mãe, que Ailton e outros colegas de escola, em 1987, o Grémio Livre Dinaelza San- e os livros será que tem espaço de circulação nesses países? O que
muitas vezes se humilhou pelas ruas de Jequié pedindo esmolas para nos tana Coqueiro, primeira entidade estudantil de Jequié após a Ditadura acha que deve ser feito?
sustentar e nos manter na escola, o que foi decisivo para que todos os filhos Militar. Neste grémio eu fui também fundador e director de imprensa
pudessem vencer na vida.                                                        do Jornada Estudantil, jornal que denunciava a falta de compromisso ACHo Que o livro deve circular livremente entre os países de fala
                                                                                da escola com a educação. Vinte e quatro anos depois eu me formeiem portuguesa, sem impostos. Talvez até de graça para os países que
eDuArDo QuIVe: O que o levou a contar esta história ao mundo? Comunicação Social. Achoque meu destino era ser jornalista.            não possam comprar. Mas circular nos bairros, nas praças, não nos
Será pelo facto de ter vencido?                                                                                                      gabinetes e palácios. Falar de literatura e de arte é fácil, quando se
                                                                     eDuArDo QuIVe: Notei também que se destaca na colaboração está sentado num trono, numa sala com ar condicionado. O que é
VALDeCk ALMeIDA: Eu conto minha história de vida para denunciar na imprensa baiana e brasileira no geral. Qual é a sua relação com o necessário é levar o livro ao leitor, onde ele estiver.
a desigualdade social e incentivar aos cidadãos a cobrar dos gover- jornalismo?
nantes uma postura respeitosa em relação à população. Escrevo para                                                                   A propÓsITo, à que país da CPLP você já viajou? E quando é que
mostrar que se pode vencer com honestidade, sem envolvimento VALDeCk ALMeIDA: No jornalismo eu tenho compromisso teremos o Valdeck e os seus livros em Moçambique?
com drogas ou com armas de fogo. Escrevo para que meu filho e com a ética, com a justiça social, com a defesa dos direitos
sobrinhos possam se orgulhar da família que tem e para valorizar humanos, com as minorias e com a liberdade de expressão. sÓ CoNHeço Portugal, mas mesmo assim só os pontos turísticos.
cada conquista. Escrevo para demonstrar que, se eu não tivesse tido Estas são minhas bandeiras.                                      Quero viajar a Cabo Verde, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe
a educação familiar que minha mãe me deu, hoje eu seria um assal-                                                                    e Timor-leste. Eu desejo ser lido nesses países todos. Moçambique
tante, um assassino, um político corrupto ou um vagabundo a viver às eDuArDo QuIVe: Tem promovido vários concursos literários. está nos planos de minha próxima viagem. Se alguma editora quiser
custas da sociedade. Escrevo para mostrar que é possível salvar uma Qual é o objectivo das suas acções?                              investir, eu abro mão dos direitos autorais por vinte anos, para que
geração da fome, da miséria e da falta de inclusão social.                                                                           os livros cheguem baratos ou de graça aos leitores. Se você quiser, já
                                                                     VALDeCk ALMeIDA: Meu objectivo é dar oportunidade a posso enviar alguns exemplares para a biblioteca e para o Movimento
eDuArDo QuIVe: Estamos perante um Valdeck Almeida de Jesus que nas muitos poetas que nunca seriam publicados por editoras com- Literário Kuphaluxa
suas obras fala-nos de factos reais e da sua vida quotidiana?        erciais. Os poetas são malditos porque falam da realidade, sITe Do autor:
                                                                     denunciam injustiças. Ao lado deles estou sempre. E o concurso WWW.GALINHApuLANDo.CoM
VALDeCk ALMeIDA: Exactamente. Eu não acredito em arte pura, em abre portas e caminhos para estas pessoas que precisam de
coisas sem sentido e sem provocações. Creio que um artista deve ser apoio e divulgação. Desde 2005 os concursos que realizo já
mais que um escritor, actor, dançarino. Ele deve mostrar ao mundo publicou mais de 900 textos de poetas brasileiros, portugueses,
                                                                     moçambicanos e angolanos, argentinos, espanhóis, ameri-
8   BLA BLA BLA    Exero 01, 5555
Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                                   https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                 8
no rEcanto dE apoLo...
                                                                                                                                    Finalizar
                                                          O cão raivoso, autor                                                     PEDRO DU bOIS - bRASIL
                                                          material de um crime                                                         Recupero a palavra com que
                                                                                                                                    finalizo
                                                                                                                                       o dito: dos baús entorpecidos em
                                                                                                                                    cantos
                                                                                                                                       obscuros dos depósitos - vão, desvão,
                                                                                                                                       porão, sótão desacordado - retiro
                                                                                                                                       a frase reparada no excesso, voo
 DANY WAMbIRE - bEIRA                                                                                                                  em ares desconsolados, sei do viver
    Ouviu-se por todos os cantos da velha palhota, desabitada por alguns tempos, contendas de palavreados pesando acusa-               pleno dos enganos: boa tarde,
ções abomináveis. Acenou-se um episódio tristonho, naquela tarde fervilhante com árvores adormecidas, mansas, a sono                   meu senhor, em que posso ajudá-lo;
profundo.
   Ergueu-se uma voz estridente, com sabor amargo, que imobilizava o sangue trilhando veia-a-veia daqueles humanos acoco-              reafirmo a crença no grito
rados na palhota adentro:                                                                                                              da criança: indefeso avançar
                                                                                                                                       ao efêmero da idade e refazer
    ― «Tu mataste o teu enteado»                                                                                                       jardins no extremo das flores
    Ouviu-se assim, com enorme desagrado, na madrasta, a voz da sentença da nhamussoro. O proferido pela nhamussoro veio,
de forma categórica, consumar o que se apregoava nos bastidores.                                                                       no final da sentença cumprida no interregno
   A Celeste, a madrasta, era a primeira das cinco mulheres de que o Saquene dispunha. As que vieram depois, eram as que a             sei estar afunilado o espaço fechado
odiavam por ser primeira e a mais querida. Era uma mulher trabalhadora e dispunha de enorme fecundidade para brotar muitas
filhas. O Saquene honrava em demasia as filhas, pois, obtinha bastante lucro com o lobolo delas. Não se entendia, todavia, o           das entradas - meu senhor, sinto muito,
intento a ser alcançado pela madrasta ao encomendar um feitiço para o filho da rival. Ademais, a rival da celeste estava divorciada
do Saquene, e vivia com outro marido na Beira, deixando o seu filho com a ex-rival. Acusaram a Celeste, mas não a condenaram.          a venda de ingressos está cancelada.
Tinha que ser feiticeira, porém, apenas pela força do diagnóstico.
    Tentaram os defensores da Celeste, a acusada, em mudar o rumo dos acontecimentos: intentaram encontrar outra feiticeira para


                                                                                                                                    Chama Negra
além da celeste, visto que, ela não tinha razões para cometer aquela propalada barbaridade. Intentaram contrapor o diagnóstico
da nhamussoro, mas a mesma nhamussoro insistiu com o mesmo diagnóstico. Não queria ludibriar as pedras divinatórias: era
essa crença que apresentava a nhamussoro.
   Ligaram, ao fim da tarde, comunicando a mãe do recém-falecido Stinde que viesse da Beira para acompanhar o funeral do
seu único filho com o Saquene. O carro para o regulado saía da Beira às cinco horas da manhã, todos os dias.
                                                                                                                                   JOSé LUIz GRANDO - ITAJAí
   No dia viagem, foi a mãe do Stinde apanhar o carro na terminal. Coube ao motorista César, o motorista mais veloz, levar a mãe       A chama negra
do Stinde para a fazer chegar, a tempo, ao funeral do filho.                                                                           Alastra-se outra vez e...
    No início da tarde, a mãe do finado desceu maleavelmente do carro de César. Encontrou na paragem, à sua espera, as vizinhas        corpos queimados aparecem
do Saquene para lhe incitar o choro ― as mulheres em falecimento, choram em demasia se forem consoladas durante o choro                deixados de lado.
natural. Todavia, a encaminharam para casa, o local do início de procissão de funeral do filho Stinde.                                 Escarnece pobre, padece
   Na hora seguinte, presenciou a mãe do Stinde, a mãe do finado, no quarto em que filho descansava aparentemente. Tencionava         pobre.
ver-lhe pela última vez. Recordou-se logo, do momento do parto complicado tido com o miúdo, das suas primeiras brincadeiras           Engole o vômito dos barbas
e de outras peripécias marcantes. Informaram-lhe, depois, o sucedido:                                                                 brancas.
                                                                                                                                    Branca depressão onde
    ― O teu filho Stinde, o teu único filho querido, foi enfeitiçado pela Celeste, a primeira esposa do Saquene, a madrasta de      tudo termina no coração.
Stinde, porque não queria viver com ele.                                                                                            Delinqüentes, tão jovens,
   Facultava assim uma das esposas secundárias do Saquene, o identificado e deliberado pela nhamussoro.                             e ainda inocentes,
   A hora do funeral chegou, a Celeste não só ficou liberta, por algumas horas, daqueles olhares desconfiados, assim como dos       Vendendo seus corpos como
potes de lágrimas, outrora por ela jorradas.                                                                                        eternos
   Tomaram a esteira velha, agasalharam o pequeno cadáver e prosseguiram com a procissão. Presenciaram na procissão, homens         Prisioneiros sem saída.
comentando jornadas de bebedeira, de futebol e outras, entretendo-se na multidão. Algumas mulheres acompanhavam o                   Nada mais inebria, nem a
comentário dos homens em farra, e outras expiavam escrupulosamente, a dimensão do choro da madrasta do malogrado.                   Neblina disfarça a vergonha
   Chegados ao cemitério, procederam o kuphacha antes de cavar o local da sepultura. Mendigaram, primeiro, a admissão do            espalhada como lixo
morto na casa dos imóveis para não violarem as margens invioláveis. Se não o fizessem encontrariam, no dia ulterior, o cadáver      pelo mundo capitalista.
fora da cova da sepultura.
   Terminado o funeral, já em casa, encontraram alguns técnicos da saúde. Os técnicos de Saúde indagaram se naquela casa

                                                                                                                                 Somos Diamantes
habitara um jovem de nome Stinde. Após um diminuto silencio, para se entender a questão, irrompeu uma voz replicando a
questão:

   ― É este que acabámos de sepultar.
  A equipa de saúde que obviamente, soubera da saída daquela multidão em algum funeral, soltou duma vez a informação:             MUkURRUzA - LICHINGA
   ― Este jovem foi vitimado pelo cão raivoso que também atacou outras três pessoas anteontem aqui, no regulado.
   Afinal de contas: o enteado da celeste não foi por ela enfeitiçada, mas sim, empeçonhado com a raiva de um cão vadio. Mas
este argumento não convenceu a maioria. É que no regulado se justificava mortes com causas naturais. Até um espectador
chegou a sentenciar:                                                                                                                Perdidos,

     ______________________________
   ― Se este cão foi mordido por cão raivoso, então foi a madrasta que mandou este cão.                                             Alegres choramos
                                                                                                                                    Somos diamantes.

    Dany Wambire (pseudónimo de Danito Gimo da Graça Avelino). Nasceu em 1 de Junho de 1989, no distrito de                         Gostados pelas rosas
Manica, província de Manica (os seus pais são todos da província de Sofala). Tornou-se órfão bastante cedo, de pai                  Pelas flores,
aos 10 anos, e de mãe aos 12 anos. Desde então cresceu sob custódia da sua tia (Cristina Oliveira Garanhe Massora,                  Somos a beleza
irmã mais velha da sua mãe). Em 2008 tornou-se professor no distrito de Machanga, sul da província de Sofala,                       Nos pulsos lisos
depois de formado pelo Instituto Nacional de Educação de Adultos – Beira (2006-2007). E foi lá onde começou                         Nos pescoços macios,
a escrever, como forma de divertimento e para amparar-se dos vícios. Portanto, escreveu lá o seu primeiro livro                     Somos diamantes.
(inédito), intitulado sugestivamente “Peripécias do Regulado de Esteve”, que tem alguns textos publicados pelo
jornal O País e O País Online, desde Março de 2011.                                                                                 Este nosso ser
  Actualmente é professor numa escola primária completa, algures na cidade da Beira, e estudante no 2º ano do curso de              Apenas diamantes
História, na UP-Beira.
                                                                                                                                    Somos nós,
                                                                                                                                    Diamantes.



  ERRATA
  Na edição anterior, esta coluna estava erradamente assinada com o nome de Humberto João e o título
estava igualmente, erradamente escrito. Portanto, em vez de Humberto João de Lichinga, devia ser, Dany
Wambire, da Beira e em vez de “O Bebé que nasceu do Abordo” tinha que ser “O Bebé que nasceu de
Aborto”. Pelo facto, apresentamos as nossas sinceras desculpas ao autor da coluna e aos leitores.
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA   9
 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                         https://literatas.blogs.sapo.mz                                                     9

outras margEns
      brincanças                                            IzIDINE JAIME - MAPUTO                                    Silêncio
 SILAS CORREIA LEITE – SãO PAULO                             Quem são eles?                                           YAO FENG-MACAU
                                                             Quem somos nós?
                                                             Onde vamos?                                              Ao cabo
     Os endereços são estercos                               Porquê temer a nós mesmos?                               pusemos o silêncio no centro,
                                                                                                                      como se põe a mesa,
     Técnica de aproximação comigo mesmo: lesmo              ... Olha só como falam do mundo!                         para a qual nada foi servido.
                                                             A terra é deles?
     A morte é uma desaceleração de partículas               De quem é terra?                                         O banquete tinha já acabado
                                                             A quem pertencemos?                                      E, nunca mais, a mesa,
     A civilização hum ana às vezes é um pé no sacro         Porquê viver?                                            deixaremos florir a língua.
                                                             Porquê nascemos?
     Fui atropelado pela existência                                                                                   Silêncio. Apenas o canto eventual
                                                             Somos um projecto?                                       o desperta.
     Quem nasce morto não nasce                              Fazemos parte dos seus rituais?                          O que murmuram os pássaros
                                                             Porquê questionar?                                       nos ramos do sonho?
     A terra é o aterro sanitário do espaço,                 Porquê não questionar?                                   Não sonhamos de novo,
     onde estão depositados todos os vermes                  Porquê ver e calar?                                      nesta noite menos nossa.
                                                             Porquê a realidade e não a verdade?                      Ainda o silêncio. O vento sopra
     Sou estrangeiro em meu próprio corpo                    Porquê nos fazemos ser?                                  a abundância do teu cabelo―
                                                                                                                      o grito, o uivo
     Silêncios cúmplices têm gerador próprio                 Dúvidas matam?
                                                             Não contribuimos para nossa desgraça?
     Quando o mundo acabar eu volto para Itararé             Não morremos no nosso medo?
                                                             Porque eles e não nós?                                   QUANDO TUDO
                                                             Porquê nós e não eles?
                                                             Porquê não eles e nós?                                   COMEÇOU
                                                             Pagamos pela vida
                                                             Recebem pela morte                                       bISSAU NãO QUIS
 LUA E ALMA
                                                             É para isso que existimos?
                                                                                                                      ACREDITAR
     Nas pétalas há mãos,
     dançando ao som dos grilos
                                                                Decepção                                              ODETE COSTA SEMEDO - bISSAU
   o silêncio desperta a noite,                                  OCTávIO DINALA - LICHINGA
   e bem no centro da flor, a vulva...                                                                                    Bissau não quis acreditar
   beijando a lua num jeito de anunciação, chamamen-              Ate quando navegarei neste mar
to...                                                             Com barcos a vela e as vezes ter que remar                     no que via
   e ramificam-se gente neste sonho...                            Não saber para aonde o vento vai-me levar
   gente que grita alma... mas donde vem esta alma???             Perder as coordenadas por vezes ter que acidentar        no que estava a sentir
                                                                  Ate quando navegarei neste mar
                                                                  Tentando ser forte para não chorar
                                                                  Rezando sempre que não ouves o meu grito            Bissau despediu-se de seus filhos
                                                                  Como se estivesse sozinho
                                                                                                                          nua deitou-se de bruços
                                                                  Ate quando navegarei neste mar
                                                                  Que já não me mais me quer                              para receber chicotadas
                                                                  Que quando me olha sorri o meu sofrer
                                                                  Que me olha mas não me vê                                 para receber açoite
     Leonor                                                       Ate quando navegarei neste mar                           com ramos espinhosos
                                                                  Que me quer naufragar
 CELSO FOLAGE - MAPUTO                                            Para me matar                                               de nhára-sikidu
                                                                  Ate quando navegarei neste mar
                                                                  Que me quer levar?                                     Bissau não quis acreditar
     Leonor, bela moça do meu ser
     Faz-me conhecer a beleza de mulher
     Faz-me sentir o sentimento interno
     Faz-me sair a rua a toa                                Auto-conhecimento                                         MANUSSE JOSé - LUANDA
     Para ver-te andar de capulana, Leonor
     Para ver-te sorrir enquanto espalhas o perfume         MIGUEL ALMEIDA - PORTUGAL                                   Ao calor do estio rolam-se-me os imp-
     O perfume exclusivamente seu, apenas a ti pertencen-                                                             iedosos pensamentos,
te                                                                                                                      São imprincipiados e infinitos,
     O perfume natural temperado de doçura                  Sei o que sou.                                              Doem-me à cabeça,
     Que quando inalado leva a loucura                      Sei?                                                        Vomito-os,
                                                            Sei talvez o bastante,                                      Poucos suportam-nos,
  Loucura que cria em meu coração uma brancura              Para não aceitar, ou recusar                                Quem me ajuda?
  Disposta a receber as manchas benéficas do seu amor       Perante o destino,                                          De certo! que nenhuma criatura.
  Fixe o seu olhar nos translúcidos olhos meus              Que tenho ideias minhas,
  Infecta-me com a única doença realmente sem cura          Pensamentos próprios, que ofereço                          Galopo montanhas,
Leonor                                                      Como frutos puros, da minha liberdade.                     Miro os céus,
  Doença de te venerar e consequentemente te amar           Sei o que sou?                                             Tudo aparenta-se um azul fingido.
                                                            Sei.
     Doença de poder sempre te alegrar                      Sei talvez o bastante,                                     Finjo não pensar,
     Ao seu lado deixarei de ser apenas sonhador            Para perceber, ou entender                                 Rouba-se-me a existência.
     Deixarei de viver em comunidade com essa dor           Perante o acaso,
     Dor de não poder fazer parte do seu ser Leonor         Que estando só, de mim para mim                            Ah! são eles a minha,
                                                            As palavras, as minhas escassas palavras                   São prova do meu existir
  Vem, vem… Leonor, transformemos sonhos em reali-          Exprimem a incerteza, daquilo que poderei vir a ser.
dade                                                                                                                   Expulso-os,
  Vivamos algo por muitos conhecido, até por poetas                                                                    Expulsado sou eu,
escrito                                                                                                                Pois sou existência do meu pensar.
  O verdadeiro amor Leonor.


     Espaço para divulgação de poetas dos países LUSÓFONOS. Envie os seus textos para: kuphaluxa@sapo.mz
10    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                    https://literatas.blogs.sapo.mz                                                          10

                    Noites d ´álma                               Em outras paLavras
           https://noitesdalma.blogspot.com
                                                                 VII Prêmio Literário Valdeck
                                                                 Almeida de Jesus – CRÔNICAS
                                                                eDIção eM HoMeNAGeM A esCrITores BAIANos




Manuelito!
                                                                  1 - O Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus visa estimular novas produções literárias e é dirigido
                                                                a candidatos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior, desde que seus trabalhos
                                                                sejam escritos em língua portuguesa.

                                                                  2 – As inscrições acontecem de 01 de janeiro a até 30 de novembro, através do e-mail valdeck2007@
 XIGUIANA DA LUz                                                gmail.com (CRÔNICAS de até 20 linhas, minibiografia de até cinco, endereço completo, com CEP e fone
                                                                de contato, com DDD). Os textos devem vir DENTRO do corpo do e-mail. Inscrições incompletas serão
 Passa fome e passa frio. Não tem vizinho. Vive                 desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão aceitas inscrições pelos correios.

só. Sem tom nem voz. Ao relento – nas esquinas                    3 - A crônica deve ser inédita, versando sobre qualquer tema (exceto apologia ao uso de drogas,
                                                                conteúdo racista, preconceituoso, propaganda política ou intolerância religiosa ou de culto). Terão
   do Patrice – como esqueleto. Quando quer é                   preferências os textos sobre escritores baianos da contemporaneidade. Entende-se como escritores
                                                                contemporâneos aqueles cuja obra ainda não foi lançada por grandes editoras e que não são con-
  alegre, mas sempre se entristece. Geme de frio                hecidos do grande público. Cada autor responderá perante a lei por plágio, cópia indevida ou outro
                                                                crime relacionado ao direito autoral. A inscrição implica concordância com o regulamento e cessão
lambido pela fome. Anda. Fala. Mas não sente,                   dos direitos autorais apenas para a primeira edição do livro.

nem ouve. Apenas vê. E só vê o que vê. Vê o que                   4 - Uma equipe de escritores faz a seleção de apenas um texto por autor. A premiação é a publica-
                                                                ção do texto selecionado em livro, em até seis meses do encerramento das inscrições. Os escritores
  quer. Brinca com quem quiser, mas ninguém                     selecionados devem criar um blog gratuito, após a divulgação do resultado do concurso, para dar
                                                                visibilidade ao trabalho de todos os participantes. Os casos omissos serão decididos soberanamente
    é seu amigo. Todos o conhecem, mas ele, a                   pela equipe promotora.

  ninguém reconhece. Ás vezes canta, mas não                       5 - O autor que desejar adquirir exemplares do livro deverá fazê-lo diretamente com a editora ou
                                                                com o organizador do prêmio. Os primeiros dez classificados receberão um exemplar gratuitamente.
               entoa hino nenhum.                               Os demais podem receber, a critério da organização do evento e da disponibilidade de recursos
                                                                financeiros.

                                                                MoDeLo De FICHA De INsCrIção:
     Manuelito é ninho sem passarinho. Caminho
                                                                  Paulo Pereira dos Santos
     sem gente. Ngalanga¹ sem dança, terra sem                    Rua Santo André, 40 – Edf. Pedra – Apt. 201
                                                                  35985-999 – Portão
               nação. Vive sem noção.                             Belo Horizonte-MG
                                                                  (31) 3366-9988, 8877-8999

                                                                MoDeLo De MINIBIoGrAFIA:
 Manuelito não tem razão. Vive sem protecção.
                                                                  Paulo Pereira dos Santos é natural de Santana-PB. Escritor, poeta e jornalista, tem dois livros
 Mas é gente. Sofre com o que não sente. Chora                  publicados: “Antes de tudo” e “Até amanhã”. Paticipa de cinco antologias de poesias. Graduado em
                                                                comunicação social. Menção honrosa em diversos concursos de poesia, tem dois livros no prelo e
 por quem não conhece. Seu dia não amanhece.                    pretende lançá-los em 2012.

  Todos o conhecem, mas a ele, ninguém recon-
                                                                projeTo puBLICADo No sITe Do pNLL Do MINIsTÉrIo DA CuLTurA
          hece. Por isso que enlouquece.
                                                                MAIs INForMAçÕes:

                                                                  Valdeck Almeida de Jesus
     Manuelito é louco no meu bairro e lúcido em                  Tel: (71) 8805-4708
                                                                  E-mail: valdeck2007@gmail.com
                   qualquer lugar!                                Site do Organizador: www.galinhapulando.com


                                                                 NOTA: NESTE CONCURSO PODEM TAMbéM PARTICIPAR PESSOAS DE OUTROS
                                                                 PAíSES DE LíNGUA PORTUGUESA, INCLUINDO MOÇAMbIQUE, SENDO QUE NA
            1. Ngalanga – tipo de ritmo e dança tradicionais.
                                                                 IMPOSSíbILIDADE DESTES EM FALAR DE ESCRITORES bAIANOS, PODEM FALAR
                                                                 DOS CONTEMPORâNIOS DOS SEUS PAíSES.
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA   11
Terça-feira, 18 de Outubro de 2011                                   https://literatas.blogs.sapo.mz                            11

agEndado




 Projecto Poesia nas Acácias
            CONVITE
  No âmbito das celebrações do dia da cidade de Maputo e de
mais um aniversário do Movimento Literário Kuphaluxa, será
realizado entre os dias 10 e 12 de Novembro do ano em curso,
uma exposição de poesia denominada “Poesia nas Acácias” a
ter lugar na cidade de Maputo.

oBjeCTIVo
  Constitui principal objectivo desta iniciativa, divulgar novos
autores moçambicanos, promover o gosto pela leitura e levar
a poesia a lugares comuns onde o povo possa ter acesso a ela
sem custos.

reQuIsITos
 Cada participante pode enviar no máximo três poemas (só
um será seleccionado para exposição) da sua autoria que obe-
deçam os seguintes requisitos:
 •	    Poemas	ocupando	no	máximo	de	uma	página	do	word
 •	    Poemas	escritos	na	língua	portuguesa

pArTICIpAção
  Todos os participantes o farão voluntariamente, sem direito a
nenhuma remuneração. Neste projecto, só poderão participar
apenas poetas iniciantes, sem nenhum livro publicado e não há
restrição de idade nem nível académico.
  Para a participação neste projecto são convidados todos escri-
tores iniciantes de todas cidades do País.


DIreITos AuTorAIs
  A partir da altura em que os poemas são expostos, passam
a ser de domínio público, sendo que, o entanto, o poema será
exposto com a assinatura do autor.

eNDereço Do eNVIo Dos TexTos
  Os poemas devem ser escritos no formato Word-2003, letra
do tipo – Times New Roman, tamanho 12 e enviados electroni-
camente para o endereço: kuphaluxa@sapo.mz

VALIDADe
  Os poemas devem ser enviados a partir da data da divulgação
deste convite até ao dia 23 de Outubro de 2011. Os textos envia-
dos depois dessa data não merecerão a nossa atenção.
  Os seleccionados, serão anunciados no blogue do Movimento
Literário Kuphaluxa no endereço: http://kuphaluxa.blogspot.
com e da revista Literatas: http://literatas.blogs.sapo.mz e ainda
na versão electrónica da mesma até ao dia 01 de Novembro de
2011.

CAsos oMIssos
 Não serão aceites poemas que contenham seguintes conteú-
dos e ambiguidades:
 •	    Ofensivas	político-partidárias
 •	    Insultos	ou	outras	expressões	capazes	de	ferir	as	boas	
maneiras de convívio social
 •	    Descriminações	raciais,	religiosas,	étnica,	género	entre	
outras

reCurso
  As deliberações da comissão organizadora deste evento não
terão direito a recurso.




             A Comissão Organizadora

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Literatura e imprensa em Moçambique

  • 1. Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Literatas agora é no SAPO Sai às Terças-feiras literatas.blogs.sapo.mz Encontre-nos no facebook Literatas Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 18 de Outubro de 2011 * Ano 01 * Nº 14 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz pOETA DA VERDADE MIA COUTO Pág. 6 pREMIADO
  • 2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2 Em primEira Mia Couto recebe prémio Eduardo Lourenço FOTO: WEb O escritor moçambicano, Mia Couto foi distinguido com o Prémio Eduardo Lourenço, atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos. Os galardões são dados todos os anos a personalidades ou instituições cuja intervenção no âmbito da cooperação e da cultura ibérica seja relevante. Esta foi a primeira vez que o prémio saiu da Ibéria “indo até ao Índico”, já que o escritor é moçambi- cano. Quem o disse foi João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra, membro do júri que elegeu Mia Couto. O escritor e também biólogo moçambicano foi distinguido graças à sua obra que o torna numa “referência cultural do espaço lusófono, num inter- locutor privilegiado e potenciador do diálogo plural e aberto que importa aprofundar com o mundo ibero-americano”, refere o comunicado do CEI. As obras de Mia Couto encontram-se publicadas em cerca de 22 países, dos quais oito são países de língua portuguesa e latino-americanos (Portugal, Brasil. Angola, Moçambique, Espanha, Argentina, Chile e México). edrática jubilada da Universidade de Coimbra na área algumas obras poéticas. Desta forma, Mia Couto torna-se o “principal da Cultura Greco-Latina, entre outros. mensageiro africano da lusofonia nos espaços de Além do reitor da Universidade de Coimbra, o expressão ibérica, funcionando a sua obra literária O Prémio será formalmente entregue a Mia Couto no dia júri que hoje decidiu a atribuição do Prémio Edu- como importante estímulo ao diálogo, uma ponte 26 de novembro, na Guarda, por ocasião das comemo- ardo Lourenço 2011 era formado pela vice-reitora aberta à cooperação cultural entre África, Europa e rações do 11º aniversário do CEI, informa a Lusa. da Universidade de Salamanca (Espanha), Noémi América Latina”, continua o comunicado. Dominguez, pelo presidente da Câmara da Guarda, Joaquim Valente, por José Joaquim Gomes Cano- O Prémio Eduardo Lourenço é uma homenagem ao Mia Couto é especialmente conhe- tilho e Maria de Sousa (Universidade de Coimbra), mentor e diretor honorífico do CEI, o ensaísta Edu- Antonio Colinas e Juan Carlos Mestre (Universidade ardo Lourenço. Atribuído há cinco anos, já nomeou cido pelos seus contos, mas é também de Salamanca), entre outros a Pianista Maria João Pires, o Poeta espanhol Ángel Campos Pám e Maria Helena da Rocha Pereira, Cat- autor de romances, crónicas e Maputo capital da poesia em Novembro Entretanto, termina nesta semana o processo de recolha dos poemas que estarão em exposição. A cidade de Maputo, capital politica e económica do da poesia moçambicana e valorizar o legado país, passará, a partir de Novembro, a ser a capital da poético nacional; dar ênfase ao papel social da poesia. Jovens do Movimento Literário Kuphaluxa literatura no que tange à intervenção dos literatos vão “invadir” o território de David Simango, com a na participação para a mitigação de problemas sua autorização e vão pendurar nas árvores cerca sociais; chamar a atenção para a valorização das de 300 poemas seleccionados de escritores inici- artes e cultura e a necessidade do envolvimento antes e consagrados de Moçambique, num projecto da sociedade para tal. denominado “Poesia nas Acácias”. Ainda no âmbito do mesmo evento, será realizado O evento, decorre no âmbito da celebração do um show de poesia no correcto do Jardim Tunduro, segundo ano de existência, do referido movimento no dia 12, intitulado “Revivendo o M’saho”, com e dos 124 anos da cidade de Maputo. recitação dos poemas em exposição pelos seus “Poesia nas Acácias” terá lugar de 10 a 12 de Novem- autores e convidados, além da música que se fará bro próximo e ocupará as árvores da Rua da Rádio e presente no evento. do Jardim Tunduro na cidade de Maputo. Para a realização deste evento, até ao momento, De acordo com os representantes do Movimento o Movimento Kuphaluxa, conta com o apoio do Kuphaluxa, este projecto visa, essencialmente, incutir Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM) nos jovens os hábitos de leitura, abrindo espaços e do Banco Comercial e de Investimentos (BCI) alternativos para o efeito; promover novos autores
  • 3. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3 Em primEira Literatura e Jornalismo em Moçambique* Calane da Silva e Nelson Saúte criaram essa necessidade de se voltar a contar histórias na imprensa como era antigamente. Com “O Olho de Hertzog”, de João Paulo Borges Coelho, No entanto, se até ao início dos anos 90 a imprensa notícia. Nesse item as duas “artes” equiparam-se como diz o autor de que é também historiador, voltámos para uma cidade de serviu como a principal plataforma da literatura, não “Os Habitantes da Memória” e acredita que uma boa literatura retrata Lourenço Marques depois da Segunda guerra Mundial. A só emprestando autores como também dando largos o seu tempo. imprensa fervilhava com João Albasini no seu fato bran- espaços nos jornais, agora, segundo Calane da Silva e “Tanto jornalismo como literatura dão notícias. Se é um facto que o co a caminhar pelas ruas da baixa da cidade, depois de Nelson Saúte, ela demitiu-se. jornalismo, objectivamente noticia ou dá a conhecer o que aconteceu escrever mais um editorial “pró -igualdade”. A imprensa “Há muitas lacunas. Infelizmente, havia uma tradição num dado momento, não é uma inverdade de todo que a literatura era forte e os jornalistas confundiam-se com escritores que devíamos ter continuado, porque nada impede também dá notícia. José Capela dizia, há anos, que não havia melhor (ou era o contrário?). que o façamos. Páginas de cultura tentam colmatar, mas fonte do que a literatura para se ter notícia de uma certa época. A boa Na história da escrita nacional, a literatura e a imprensa páginas de artes e letras foram sempre fundamentais, literatura é aquela que conta sobre a época que retrata e fazer isso é sempre se confundiram como um só. No XXIII Curso de não só para divulgação como também para a motivação fazer notícia desse tempo.” Literatura em Língua Portuguesa, organizado pelo Insti- desta arte nobre”, disse Calane. Alguns géneros jornalísticos, diz o poeta, podem fazer uma inter- tuto Camões e pela Faculdade de Letras e Ciências Soci- Se Calane fez uma caminhada histórica desde o surgi- cessão com a literatura. Um desses géneros é a crónica, que “é pouco ais da universidade Eduardo Mondlane, onde se discute mento da imprensa em Moçambique, passando pelo trabalhada hoje na nossa imprensa”. Nos finais dos anos 1980, até os “Literatura e jornalismo: as fronteiras (in)visíveis da es- advento da literatura até esse abandono, mostrando princípios dos anos 1990, o jornal Notícias – conta Saúte - tinha uma crita”, voltou-se a olhar para esses limites. os grandes senhores que estiveram nos dois campos, série de cronistas da última página que eram os escritores mais impor- Fomos ver a apresentação de dois escritores que se con- Nelson Saúte optou por mostrar as diferentes correntes tantes, entre eles Mia Couto, de onde saiu aquele livro “Cronincando”. fundem com jornalistas, Calane da Silva e Nelson Saúte, jornalísticas que se confundem com a literatura. No mesmo jornal tinha também um espaço na terceira página, dedi- que levaram os presentes a espreitarem a história da Nelson Saúte foi buscar uma lista de jornalistas que venceram cado aos mais novos, onde ele surgiu ao lado de outros como Sulei- literatura, ao mesmo tempo que visitavam, comparati- Prémio Nobel de Literatura para fazer essa ligação. Calane mane Cassamo e Hélder Muteia. “No fundo, aquilo que praticamos era vamente, as redacções actuais. Da Silva falava da “Imp- também tinha feito o mesmo, mas preferiu mostrar os que metade jornalismo, metade literatura. Era um pouco na boa tradição rensa Moçambicana no Advento da Literatura Moçam- construíram os dois campos e a história não consegue os tirar da crónica literária,” conclui. bicana”. Saúte optou por pedir emprestado a ideia de de um ou de outro lado. O outro género que para Saúte se cruza com a literatura é a reporta- Baptista-Bastos de “jornalismo é uma disciplina superior Porque estamos a falar de Nobel, Saúte apelou à sua gem. “ O Calane (da Silva) e o Ricardo Rangel foram precursores em da literatura”, e apresentou “Jornalismo: escola superior memória para reproduzir uma entrevista que surgiu no Moçambique de um género que é muito importante no jornalismo de literatura”. “Paris Review”. e que é muito importante para os escritores, que é a reportagem. A Calane da Silva pegou-se à história para mostrar o con- “O jornalista perguntou a um célebre escritor o seguinte: reportagem é o género dos géneros, permite a discrição, permite aná- tributo da imprensa para o advento da literatura moçam- ‘Sugeria a um escritor jovem que trabalhasse num jor- lise, permite incluir dentro do texto um conjunto de possibilidades. As bicana. Como escrevemos antes, os precursores da litera- nal? Que importância teve a sua formação no The Kan- reportagens que eles faziam nos anos 1970 sobre a situação da prin- tura moçambicana confundem-se com jornalistas. Mas, sas City Star?’ Esse escritor respondeu: ‘No Star éramos cipalmente chamada cidade de caniço, hoje seriam peças literárias, de acordo com Calane, que não haja dúvidas: a literatura obrigados a aprender a escrever uma frase declarativa porque havia um investimento de escrita muito importante...” vem da imprensa. simples, o que é útil para toda a gente. O trabalho de Nelson Saúte foi olhando para os diferentes cantos para descobrir, Em relação a Moçambique, não há duvidas que foi a imp- jornal não prejudica um jovem escritor e pode mes- nos Estados Unidos dos anos 1960, o surgimento de novo jornalismo. rensa que criou condições para advento de uma literatu- mo ajudá-lo se ele sair de lá a tempo.’ Quem disse isso” “Novo jornalismo alicerçava-se nas técnicas da literatura com dis- ra escrita em língua portuguesa. É claro que a literatura – revela mais tarde Nelson Saúte – “chamava-se Ernest crições pormenorizada de cenas, incorporando diálogos e o ponto de moçambicana tem como origem a nossa literatura oral, Hemingway, prémio Nobel de literatura em 1964, que vista dos personagens na captação da realidade. Eram peças literárias mas tem uma parte das literaturas portuguesa e outras”. elevou a narrativa mundial com técnica ligada ao jor- fabulosas, mas também eram peças jornalísticas. Eram as duas coisas, A história pode ter tido o seu início em 1854 quando, nalismo. A sua técnica é de frases curtas. É também um justamente, porque permitiam um entendimento aprofundado da re- acredita o autor de “Xicandarinha na Lenha do Mundo”, mestre no diálogo.” alidade”. se montou a imprensa em Moçambique. Alguns escritores moçambicanos, segundo Nelson Saúte, são No entanto, entre os anos 1950 e 1960 surgiu uma outra corrente que “Havia possibilidade imensa de imprensão de livros e influenciados por Ernest Miller Hemingway, “um deles que se confunde, de acordo com Saúte, com o novo jornalismo, que é o publicação de jornais com páginas onde as pessoas iam confessava nos anos 80 a importância de Hamingway, princi- chamado jornalismo literário ou jornalismo de autor, ou ainda reporta- bebendo um bocado da cultura literária. É verdade que palmente no diálogo, é Ungulani Ba Ka Khosa.” gem de ensaio. Este usa também técnicas de literatura na captação, não eram todos os moçambicanos, eram portugueses. Ao entrar para o campo de “comparações” Saúte diz que do redacção, edição de reportagem e ensaio. Para Saúte, este é um jornal- Mas, à medida que o tempo ia passando, mais moçam- jornalismo se pode aprender a contar. A ideia não é nova. ismo que tenta obter uma minuciosa observação da realidade. bicanos aprenderam a ler e a escrever, de tal modo que Muitos autores já definiram o jornalismo como uma arte de “O jornalismo literário permite-nos um grande manejamento da lín- nas duas (primeiras) décadas de século XX já tínhamos contar a história. o jornalismo ensina-nos a narrar, a contar. gua. Um bom jornalista literário ou que pratica um jornalismo de autor “O Brado Africano”, que era um jornal editado por negros “O bom jornalismo é contar uma história, o resto é conversa. é quem domina de forma soberba a língua.” e mestiços.” Enfim, quem não sabe contar uma história não pode ser jor- Ao espreitar para as actuais redacções, Nelson Saúte diz notar um “O Brado Africano” também tinha páginas literárias e nalista. Literatura é justamente a mesma coisa. A divergência prefeito desconhecimento da língua portuguesa, o que torna difícil a assinaram escritores como Noémia de Sousa, Rui de No- que pode haver entre jornalismo e a literatura é que, se cal- prática de jornalismo de autor. ronha e José Craveirinha. har, o jornalismo procura através de alguns protocolos uma “Noto um prefeito desconhecimento da língua portuguesa. “Os meios de comunicação foram um alicerce enorme certa objectividade ao contar essa história. Não é seguro que Uma incrível incompetência linguística. Quem não domina a para a divulgação da literatura. O mais interessante é a consiga, mas persegue. E jornalismo arma-se de algumas língua, quem não sabe manejar as palavras, quem não sabe que se o jornalismo ofereceu grandes nomes para a lit- ferramentas para poder atingir essa objectividade. A litera- trabalhar no universo das palavras não pode praticar este tipo eratura, esta também tem muito a ver com o jornalismo. tura é o reino da subjectividade. Portanto, há aí de facto uma de jornalismo que está na fronteira entre o jornalismo e a lit- Ou seja, a literatura não só por ser cantada, narrada, dec- divergência ou aparente divergência. Mas tanto jornalismo eratura. Quem não domina uma língua, quem não sonha numa lamada, também tem um pouco de informação do quo- como literatura contam histórias. E o contar história é uma língua não pode contar. Há histórias fabulosas nos nossos jor- tidiano, tal como os jornais. Ela também apresenta um coisa imanente da condição humana”. nais que são incrivelmente mal contadas.” pouco a alma humana no sentido da sua história, da sua No entanto, o entrar para “o reino da subjectividade” como foi *Título da nossa autoria. subjectividade e objectividade.” definido, não retira de todo a tendência da literatura de dar Texto e Foto: Jornal O País
  • 4. 4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 LITERATURA MOÇAMbICANA 4 Nelson Saúte MUNHUANA bLUES NELSON SAúTE Lá nos arrabaldes da minha infância a casa da Munhuana me não resiste apenas também guardo ciosamente na memória NeLsoN sAúTe as histórias da minha avó Angelina esCrITor, jorNALIsTA e comentador político e mantenho o medo moçambicano nascido em 1967, na cidade da ameaçadora visita do Guiguisseca de Maputo. Licenciado em Ciências da Comu- anunciada na varanda da loja do Muchina nicação pela Universidade Nova de Lisboa, enquanto os miúdos do meu bairro foi redactor no jornal Público e no Jornal de todos eles craques Letras. Em Moçambique trabalhou na Rádio desmentiam o talento do Eusébio. Moçambique e na Televisão de Moçambique Ali no Bairro Indígena eu ainda sou - onde é comentarista político - e em algu- aquele rapaz de calção e sapatilhas mas publicações. Exerce também funções de - compradas numa daquelas lojas docente universitário. Como escritor, publicou dos monhés do Xipamanine – várias obras, destacando-se na poesia e em correndo a toda a largura a rua do Zambeze antologias literárias de Moçambique. no dia em que prometeram uma visita ao Jardim Zoológico. eNTre As suas obras destacam-se A Ilha de O baldio que ficava à frente da minha casa Moçambique pela Voz dos Poetas (antologia, foi vítima de urbanização clandestina co-autor com António Sopa, 1992), Antologia e no lugar onde as meninas se despontavam da Nova Poesia Moçambicana (co-autor com para os meus sonhos febris de vate desassumido Fátima Mendonça, 1993), A Cidade Lúbrica e vendiam badjias e matoritoris (poesia, 1998), Os Narradores da Sobrevivência reincide-se na ofensa à memória. (romance, 2000) e As Mãos dos Pretos - Anto- Naquele tempo minha avó reverberava o mito logia do Conto Moçambicano - 2000 (2001). esvoaçando as saias das moças nos bailes Publicou também algumas colectâneas de e as calças bocas de sino dos rapazes do Chaman- entrevistas como A ponte do Afecto (1990) e culo. Os Habitantes da Memória (1998). Foi ali que começou esta minha mania de amar o Brasil MARRAbENTA PARA FANNY MPFUMO TESTAMENTO PARA OS MEUS FILHOS nas vozes do Carnaval da avenida de Angola. O samba da Mafalala também tinha batuques NELSON SAúTE e a folia Índica desta minha Bahia NELSON SAúTE marrabentando os acordes da tua viola. ao Zé Flávio Teixeira Mayisha e Irati: Também cantei e bailei como esta noite este o magro pecúlio que vos deixo neste meu desavisado regresso ao Xipamanine Fanny Mpfumo cantava I love you so - livros, papéis, sonhos. não só por culpa dos avatares do velho gramofone eu era menino e nem sabia o que era tindjombo: Poemas para as mulheres e os discos de 45 rotações mas por imposição - ó a va sati valomo! – que amei. Hinos de amor à vossa mãe. da vocação da minha avó Angelina mas já dizia hodi nos quintais contíguos Filhos, só vocês dois. que jamais enfrentou um palco. do meu Bairro Indígena. Depois de mim herdarão o nome Fica para contar aos meus filhos os talentos Unga tlhupheque nkata que ouvia na rádio e a tarefa de perpetuar o que progenitor dos que nos precederam. Minha avó agora não por sobre o móvel da sala encetou. Fica para trás uma vida. canta. na casa da minha avó Ilusões, cansaços, combates. Na sua casa ex-madeira e zinco de precária alvenaria nomeava todas as mulheres que derrubavam Infrutífero desespero de viver ela deita-se no chão à passagem os meus inocentes e desprevenidos anos num país apátrida. de cimento queimado e conversa com os ancestrais ali na varanda do Muchina. Deixo-vos estes desígnios quase todos eles à sua espera em Ressano Garcia. O king ya marrabenta era suposto de coisa nenhuma. Algum pecúlio Tudo isto agora e sempre nesta noite de sábado conviver conosco todos os dias. um coração, bondade e alguma fé eu filho legítimo das bangas na geração dos anos 80 Também ouvíamos Elisa gomara saia doméstica. Amanhã estes homens a dançar até amanhecer quando no dia seguinte nos tempos em que os Djambo 70 conjuravam e mulheres que se festejam tinha folga na minha indesmentida profissão e o destino dos meus pais não era só na algazarra das vozes e na luz de formador de bicha nas lojas do Povo os míticos bailes da cidade de caniço. de artifício nada terão para vos dizer. ou no talho da Eduardo Mondlane que abria as O mufana que eu era também gostava Oiçam então a voz do progenitor portas maningue do Gonzana e de todo o conjunto João Domin- que não sucumbe às vozes já com a carne do Botswana esgotada. gos nesta madrugada primeira Mesmo assim as nossas festas Massoriana no palato daqueles tempos. do vigésimo primeiro século. com cervejas à pressão e coca-colas Algumas vezes ouvia o João Wate Estas vozes digo-vos estarão compradas a muito custo e outros que a memória não acautelou. apagadas pela cinza do tempo pelos nossos meticalizados bolsos O Alexandre Langa foi mais tarde e do esquecimento. incompetentes para adquirirem as montras vazias que me empolgou – Rosa Maria. Vosso pai afagar-vos-á das cooperativas de consumo parecem ficção Tínhamos atravessado com a mesma ternura enquanto vivia aos olhos desta juventude. para lá do asfalto e alcandorados estávamos e levar-vos-á a passear pelas ruas da memória Não muito longe do largo João Albasine na Polana onde inaugurávamos a nossa condição com a mesma ilusão que vos alberga nestes anos todos de ausência da Munhuana de habitantes de fogos suspensos, nesta pequena casa que também vos deixa. exilado lá para os lados da zona alta da cidade alcançados mais tarde em obscuras escadas Para trás ficará um tempo quem regressa é aquele menino que eu fui disputadas por bidões de água mas não ficarão os homens que destroçaram muito antes de conhecer o Alto-Maé dos chinas acartados do jardim Tunduro. a minha geração, meus filhos. quando a Polana era só e apenas Minha avó falava naqueles velhos anos Não ficarão os sonhos e ilusões um vago e improvável aceno do futuro do Artur Garrido, conterrâneo lá de Ressano Garcia. nem a lembrança inconsútil da barbárie. e a Sommerchield adjectivava a quimera. Mais tarde vi Fanny Mpfumo no Scala Espero que resista a honra deste homem Agora meu velho João Domingos retorno - não muitos anos depois no Estrela Vermelha – que está por detrás destes versos e que um dia à minha infância entregue ao prodígio desta noite marrabentando uma guitarra eléctrica curvados sobre a sua tumba de extenuado sábado nesta pista de dança no frémito do seu amor por Georgina waka Nwamba. vocês digam sem vergonha: Pai e no espanto deste incauto duelo com os velhos mitos. FICHA TÉCNICA Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com) Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane. Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza* Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas. Design e páginação: Eduardo Quive
  • 5. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 CRÓNICA / CONTO 5 FiLosoFonias rapsódicas Um mundo improvisório? MARCELO SORIANO - bRASIL m.m.soriano@gmail.com Nota preliminar: Antes de MIA COUTO - O PAíS prosseguir com este artigo, O que pode parecer lembro ao leitor que me dirijo verdade, no calor das grandes à CPLP (Comunidade dos proclamações, não é sentido como autêntico para grande Países de Língua Portuguesa), parte dos destinatários dessas tão eloquentes mensagens. portanto, podemos encontrar O mundo está feito para ser improvisório. Mas não está feito gerúndios, futuros do para ser tratado com a arrogância e a falsidade pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores, Os meus amigos dão-me palavras. E é a melhor prenda que me porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja podem dar. Eles sabem da paixão que tenho, não exactamente pelas palavras em si mesmas, mas pela possibilidade de pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos as reinventar ao gosto de cada um. Um dos modos mais léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS simples de sermos felizes é termos essa relação criativa com a - BR. 14/07/2011. língua, que nos disseram ser apenas gramática e ferramenta utilitária. Algures em Maputo, amigos meus perguntaram onde [V e r - s Ó I s] podiam encontrar um quarto de banho. Um homem, solícito, Introdução mostrou-lhe uma dependência que, visivelmente, tinha sido adaptada para fins que, eufemisticamente, podemos chamar Numa noite acordei para o dia. E outro dia. Outro dia. Sol a sol, fui tecendo o manto da vida, enquanto esperava a morte, que não veio... de “sanitários”. O anfitrião, simpático, julgou ter que dar uma explicação: - Desculpem, mas este é um quarto improvisório. A palavra é um achado. Sobretudo, porque é uma invenção anónima. 3º [Ver-sÓ] Mais ainda porque a palavra traduz a condição de quase tudo no nosso universo quotidiano: improvisado e provisório. AMADA MI’A Talvez o mundo inteiro necessite de palavras que o nomeiem na sua condição transitória e indefinida. Porque o mundo não AMÁLGAMA é um livro. Não está escrito. MI’A Está sendo feito, desfeito e refeito em cada momento. Não ANAGrAMA se constrói por linhas, uma por uma. Faz-se de movimentos, NA GrAMA de imprevistos tais que necessitaríamos de imprevisionários ÁGATA para prever o futuro. A GATA Há quem insista que aprendeu a ler o mundo na Universidade ou na carreira dessa nova espécie que dá pelo nome de MIA “analista político”. E daí resultam previsões, prognósticos de absoluta certeza. (CoNTINuA NA prÓxIMA eDIção...) Essas antecipações sucederam, por exemplo, aquando das manifestações populares do mundo árabe. Todos os que não ........................................................................... tinham sido capazes de prever o sucedido se apressavam, poeMA DA MANHã agora, a praticar o mais arrojado futurismo. Algumas dessas adivinhações sustentavam cenários prováveis O sol levanta. para todo o continente africano. E é aqui que eu quero chegar: O dia acorda. essa África dos discursos e das percepções é a mesma em toda As aves debandam. a África? O orvalho seca. Os mercenários que ajudaram a proteger Kadafi criaram uma A chaleira chia. situação difícil para os africanos negros que trabalhavam na Líbia. Nas agitadas ruas eles eram perseguidos e espancados, A chaminé fumega. confundidos com os tais mercenários a soldo do regime. Os E, ainda assim, populares líbios chamam estes imigrantes de “africanos”. O meu olhar que significa que os líbios, de modo geral, não se consideram desfia lonjuras. africanos. ..................................................................................... O que é curioso suceder exactamente na pátria daquele que AMIZADe e poesIA são CoIrMãs reclama poder falar em nome dos “africanos”. (Às memórias dos Poetas Prado Veppo, Antonio Carlos Arbo e Mário Quintana) A África do Norte, essa que uns chamam de África Branca, Tenho bons amigos (continuam amigos), que escreviam como loucos. vê-se a si mesma como africana? Não faço nenhum juízo Os melhores, os mais velhos, os mais loucos, os mais luzentes, já se de valor. Talvez para milhões de pessoas do Norte do nosso retiraram. E uma maneira que encontrei de eternizar suas memórias continente a sua condição identitária seja outra: eles vêem- foi manter acesa a chama da amizade. Como? Ora, mantendo minha se como árabes. Essa é a sua pátria, esse é o seu universo de mente acordada, vigilante, escrevendo... Escrevendo... Por eles e por mim. A amizade é coirmã da poesia. identificação simbólica. O que não invalida a construção de .................................................................... outras identidades que nos aproximem de um ideal mais continental. O que não invalida, sobretudo, a aceitação de uma FrAse CAIxA ALTA: África com identidade múltipla. Mas os discursos “africanistas” necessitam, sim, de se interrogarem a si mesmos e de evitaram FALAr DeMAIs soBre o AMor, eM poesIA, Não É ser recursos simplistas. O que pode parecer verdade, no calor repeTITIVo, É ser MÂNTrICo das grandes proclamações, não é sentido como autêntico para grande parte dos destinatários dessas tão eloquentes mensagens. O mundo está feito para ser improvisório. Mas não está feito para ser tratado com a arrogância e a falsidade.
  • 6. 6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6 - discurso dirEcto Tudo e mais um pouco sobre Valdeck Almeida de Jesus EDUARDO QUIvE - MAPUTO valdeck Almeida de jesus, um escritor, um jornalista que também serve o estado – funcionário público. Conhecido como exaltador da verdade pelos que tem coragem de viajar pelas suas obras. Falei medo e pode-se pensar que escreve coisas assustadoras, e pode até ser verdade, mas se considerarmos que ele fala de factos verídicos do quotidiano “Heartache poems”, ”Yes, I am gay. so, what? – Alice in Wonderland” obra em que nesta entrevista o escritor chega a dizer que dentre vários assuntos, o autor faz revelações pessoais “Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por ele.”Por outro lado, Valdeck assusta a própria história da sua vida, contada em “Memorial do Inferno. A saga da Família Almeida no jardim do Éden” – “Tanto mostro as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em jequié-BA, onde passei muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde mínimos.” pois é, perceba. Se você relaciona minha vida com a publicação deste contra o Feiticeiro”, idem. O título do livro é um cordel, história estamos perante, um escritor de longas livro, pouca coisa mudou. Não sou uma pessoa que se expõe fantástica criada por mim, com uma lição de moral. Este poema fala viagens da vida transmitidas em jeito de pelas ruas, não sou muito de participar de festas e encontros de um casal que procura ficar rico sem trabalhar e faz pacto com o boa literatura. sociais ultimamente, mas na época da publicação eu estava em Satanás para conseguir riqueza. Como nem sempre a riqueza vem todos os cantos, praças, shows musicais. Recebi muitos elogios sem obrigações, o cordel demonstra que enriquecer sem fazer eDuArDo QuIVe : Valdeck fale-nos do mistério que norteia o seu e fiquei feliz com o resultado. força também tem consequências. Outros poemas deste livro são primeiro livro o “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming CADA LIVro que escrevo é como um capítulo de minha vida. homenagens a pessoas, lugares e parte são reflexões de um jovem Out from the Closet”? trata-se de alguma revelação de alguma Aprendo muito quando estou colocando no papel minhas acerca da incerteza da vida. Esta obra está esgotada, mas é sempre orientação sexual do autor? experiências e falando do que vi e vivi. Sou uma pessoa que muito procurada. Pretendo reeditá-la. Doei alguns exemplares para preserva a tradição, mas ao mesmo tempo eu transgrido regras, a Biblioteca Comunitária do Calabar, bairro pobre de Salvador-BA, VALDeCk ALMeIDA: Bem, os poemas são feitos tanto para homens sem agredir ninguém. Muitas vezes o mais agredido sou eu e a criançada do bairro leu muito meus textos, inclusive teve mais quanto para mulheres e foram criados na minha adolescência, mesmo. O livro foi uma forma de dizer ao mundo o que eu leitores do que Carlos Drummond de Andrade. Fiquei muito feliz numa fase em que muitos jovens estão em busca de respostas para pensava e sentia e isso foi o bastante. No dia a dia, sou pacato, quando Rodrigo Rocha Pita, um dos coordenadores da biblioteca muitas questões da vida. Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde caseiro, saio pouco, a não ser para casa de amigos e encontros me deu a notícia. Fiquei tão feliz que patrocinei dois livros de a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por literários. O que mudou em minha vida foi a forma de encarar as poesias com crianças do bairro, cujo título é “Abre a boca Calabar”. ele. Todas as reflexões sobre estes sentimentos foram traduzidas situações, os problemas e a tentativa de encontrar soluções. Não Nestas duas obras os poetas mirins falam do bairro, da escola, em poesias, as quais eu paguei para traduzir e publiquei nesta escrevo para chocar ninguém. O que escrevo é o que penso. Se da biblioteca e da vida deles numa cidade rica em cultura e em obra. “Heartache Poems” é um livro-confissão e ao mesmo tempo minha forma de ver a vida escandaliza alguém, o problema não dinheiro e ao mesmo tempo tem bolsões de misérias e bairros composto de poemas fantasias, as mesmas fantasias que povoa- está em mim e sim em quem lê e se admira com minha obra. inteiros onde as pessoas passam fome. “Abre a boca Calabar” é uma vam minha mente, sobre sexualidade, posicionamentos políticos, forma de denunciar isso. O bairro fica encravado entre prédios de incerteza do futuro, aspirações de trabalho etc. eDuArDo QuIVe: No seu último livro, publicado em 2010, vem vinte e trinta andares, perto de um shopping de luxo e próximo a falar do mesmo assunto referido no primeiro “o ser gay” desta ao circuito do carnaval, por onde circulam milhões de dólares. eDuArDo QuIVe: Como é que o livro foi recebido pela classe vem sendo mais provocador em “Yes, I am gay. So, what? – Alice No entanto, a localidade ficou abandonada desde a fundação, há crítica literária, social e pelo público em geral? in Wonderland”… mais de trinta anos. sALVADor É tida como a cidade onde tem mais negros fora da VALDeCk ALMeIDA: Uma obra literária sempre carrega muito VALDeCk ALMeIDA: Como disse, eu sou o que sou e não o África. Se nos países africanos a fome e a desigualdade social mas- do seu autor. Este tipo de literatura em que as paixões pessoais faço para escandalizar. Aliás, minha vida é muito discreta, sou sacram muita gente, em Salvador não é diferente. Ali se encontram aparecem muito claras nem sempre são bem vistas, pois muita uma pessoa que paga impostos, cumpre regras, para no sinal pessoas com renda de milhares de dólares e pessoas que vivem gente prefere viver no anonimato, na hipocrisia, vivendo uma coisa vermelho no trânsito, pago minhas contas em dia, respeito a com míseros centavos. A desigualdade é gritante. E o “Abre a boca e dizendo que vive outra. O bom é quando um leitor se identifica vizinhança etc. A literatura em minha vida é uma forma de desa- Calabar” denuncia, de alguma forma, essa injustiça social. com a história, tanto pode valorizar o livro quanto desqualificá-lo. bafar, de transgredir, de gritar para todos que eu sou assim, que Como diz Caetano Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho”. existo. “Alice in Wonderland” é mais um capítulo de minha vida, eDuArDo QuIVe: Em geral, o que o leva a escrever? Sempre Nesse sentido, para quem gosta de ser exposto ou de aprender algo que passou. Na obra tem muita coisa real, verdadeira, que quis ser escritor? Que influências teve para chegar ao mundo da com a exposição alheia, o livro é bom; para aqueles que pref- aconteceu comigo, e muita ficção. Há relatos de outras pessoas escrita? erem viver na penumbra, viver de aparências, o livro é péssimo. A que transformei em literatura, e há personagens que nunca crítica falou muito bem, mas não escrevo para os críticos literários. existiu de verdade. A provocação vem justamente nos relatos de VALDeCk ALMeIDA: O que me leva a escrever é a necessidade Quando faço uma obra, penso primeiro em mim, em como eu pessoas que nunca teriam coragem de se declarar e me pediram de gritar, de denunciar ao mundo tudo o que vejo. Tanto mostro gostaria de comprar um livro. Depois, penso nos leitores, aqueles para mostrar no livro que elas existem. Outros relatos são de as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em Jequié-BA, onde passei que levarão um exemplar para casa. Estes, os leitores, me elogiaram pessoas que vivem vida dupla, de dia são funcionários públicos, muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma muito, principalmente os amigos (risos). Quanto aos inimigos meus advogados, e à noite procuram os prostíbulos, buscam as drogas casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde e da literatura, prefiro que eles se calem e não saibam onde estou. etc... É a literatura retratando a vida real. Minha função é como mínimos. A luta foi grande mas consegui vencer, graças à educa- É mais seguro para todos... daqueles fotógrafos que viajavam pelas cidades do interior, ção que minha mãe me deu. Acredito que tenho compromisso fotografando pessoas onde não existiam esse serviço. com os outros cidadãos, pois não dá para se sentar à mesa para eDuArDo QuIVe: Na altura em que publica esta obra (2004) comer tranquilamente, enquanto outros irmãos passam fome. A já era conhecido na esfera literária da Baia e até do Brasil. Algo eDuArDo QuIVe: Mas logo depois destes temas, vem um injustiça me incomoda muito e escrever é uma forma de estimular mudou drasticamente na sua vida? Valdeck Almeida de Jesus com outra face “Feitiço Contra o Feiti- as pessoas a pensar e a tentar mudar a realidade da vida. Na minha ceiro”, mas escrevendo poesia. E como pode o feitiço virar contra opinião educação é a arma principal que um cidadão tem direito. VALDeCk ALMeIDA: Eu sempre fui uma pessoa muito trans- o feiticeiro? A que nos direccionam os poemas nesta obra? Depois de educado cada um pode escolher alternativas para modi- parente. Quando gosto de algo ou de alguém, eu demonstro ficar a realidade, influenciar para o bem ou para o mal. Não é à toa facilmente. Quando simpatizo, também faço com que a pessoa VALDeCk ALMeIDA: Este livro também é composto de poemas que muitos governantes se “esquecem” de investir em educação da minha adolescência. Eu disse anteriormente que o livro “Heartache Poems” era composto de obras diversas. O “Feitiço
  • 7. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7 de qualidade. Com um povo desinformado fica mais fácil controlar o uma nova forma de ver, de fazer política, de conquistar direitos, canos, ampliando as fronteiras do Brasil e aproximando povos de poder e impedir que as pessoas evoluam. Meus escritos lutam contra sem guerras, sem sangue. A arte é uma arma poderosa e se o língua comum. esta tirania que mata muito mais que tiros de canhões. artista souber usá-la, faz uma revolução no mundo. O mundo As INFLuêNCIAs primárias que tive para escrever foram as estórias só existe porque o homem existe e o homem tem direito de eDuArDo QuIVe: Uma das questões a que sempre se dedicou, que minha mãe me contava. Paula Almeida de Jesus era uma mulher modificar o seu habitat. Eu não vou fazer uma obra literária é a divulgação da Literatura Baiana e promoção de novos autores. aleijada das pernas, analfabeta e filha única. Mas apesar de não saber apenas para divertir. Ela (a obra), vai divertir, mas também vai Na sua opinião em que estágio está a Literatura Baiana e, no seu ler nem escrever ela tinha uma visão de mundo e uma ética muito ensinar alguma coisa. entender, quais são os que se podem chamar os autores do futuro fortes. Sempre me ensinou a respeitar o espaço dos outros, não nessa região? invadir a privacidade alheia, evitar atrapalhar qualquer um. Eu me eDuArDo QuIVe: Que condições considera necessárias para se ser recordo que uma vez, por causa da fome, eu peguei um coco que escritor? VALDeCk ALMeIDA: Eu citei alguns autores baianos numa per- encontrei num quintal aberto. Quando cheguei em casa ela mandou gunta anterior. Há muitos outros. A Baia é um celeiro de cultura. que eu voltasse e deixasse o coco no local onde encontrei. VALDeCk ALMeIDA: Para ser escritor é necessário ser leitor. Eu Aqui florescem poetas, poetisas, cronistas, contistas, romancistas. leio de tudo. Leio jornais, revistas, rótulos de xampus, receita Seria leviano de minha parte dizer que este é melhor que aquele eDuArDo QuIVe: Ter a poesia como o seu género, foi por opção de remédio e de bolo, embalagens de qualquer coisa. Sou um e que aquele outro vai se sobressair. Quem pode dizer isso são os própria? Qual é o seu percurso nos géneros literários? consumidor de livros e de revistas e jornais. Um escritor não leitores. Mas nem sempre o valor de um escritor pode ser medido pode ser alheio ao seu meio social, não pode ser isolado do pela quantidade de leitores. Alguns escritores baianos conseguem VALDeCk ALMeIDA: A poesia veio com os cordéis, que são livretos vendidos contexto em que vive. E para isso ele deve participar da vida da patrocínio privado, outros são apoiados pelo Estado, e muitos vão em feiras livres e expostos em cordas nas praças das cidades do interior do comunidade, mesmo que observando. Deve opinar, denunciar, ficar anónimos porque não concordam com as políticas partidárias Brasil. Minha mãe nasceu em Amargosa-BA, Recôncavo Baiano. Meu pai nas- criticar, divertir, ser cidadão pleno. Afinal, ele é dotado do poder ou culturais. Posso falar de minha simpatia por Jean Wyllys, Leo Drag- ceuem Santo Antôniode Jesus-BA, na mesma região, onde a cultura popular da palavra e deve se valer disso. one, Renata Rimet, Leandro de Assis todos os que citei na pergunta é muito valorizada. Mamãe foi muito influenciada pela cultura local e passava anterior, pois são pessoas com as quais eu convivo e sei que escrevem para mim muitas das experiências de vida dela, me contava casos e estórias eDuArDo QuIVe: O que considera bom escritor? Que livros você sobre a realidade e eles escrevem com a alma. fantásticas. A poesia veio daí. Veio também de livretos de poesia que eu lê? comprava na escola. A linguagem cadenciada, as rimas e a forma de escrever eDuArDo QuIVe: Quais são os seus planos futuros: na vida pessoal me encantavam. Comecei a querer escrever também do mesmo jeito e fui me VALDeCk ALMeIDA: Leio Jean Wyllys, Carlos Drummond de Andrade, e no âmbito literário? tornando poeta desde os doze anos de idade. Agualusa, Guimarães Rosa, Cora Coralina, João Ubaldo Ribeiro, Jorge DepoIs FuI enveredando pelos contos, durante os anos de estudos na escola. Amado, Renata Rimet, Leandro de Assis, Cymar Gaivota, Miriam de VALDeCk ALMeIDA: Pretendo encontrar um amor para a vida toda, Somente aos quarenta e três anos de idade comecei a escrever romances. Sales, Domingos Ailton, Lima Trindade, José Inácio Vieira de Melo, para compartilhar minha vida e ser minha fonte de inspiração (risos). Comecei descrevendo a história de minha família e depois disso já escrevi Carlos Souza, Roberto Leal, Carlos Antônio Barreto, José da Boa Morte, Sou funcionário público e pretendo continuar, para ter dinheiro para quatro livros, ainda inéditos. Agora já tenho muitas crónicas e artigos, influên- Leo Dragone, Leandro Flores, Vanise Vergasta, Aline Vitória, Clara Maciel, investir em literatura, sem precisar pedir a governo ou a empresários. cia do curso de jornalismo que fiz. Varenka de Fátima, Aurélio Schommer, Antônio Cedraz, Deomídio Tenho um sonho de fundar uma editora baiana que valorize o autor Macedo, Carlos Ventura, Carlos Conrado, Dé Barrense, Adolf Huxley, baiano, sem deixar de dar espaço a africanos, argentinos etc. eDuArDo QuIVe: Mas logo a seguir vem-nos com prosa em “Memorial do Saramago, Pablo Neruda, Gabriel García Marquez, dentre outros. Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, mas como sempre, eDuArDo QuIVe: Embora vencedor de vários prémios, pensa em despertando atenção com mais uma história dramática – fome e a miséria eDuArDo QuIVe: O que sabe da literatura de outros países lusófonos, batalhar por mais algum? Qual? por mais de vinte anos na sua família. Fale-me desses vinte anos de fome em particular de Moçambique? Conhece ou admira algum escritor e por si vividos? uma obra moçambicana? VALDeCk ALMeIDA: Meu maior prémio é quando recebo comentários VALDeCk ALMeIDA: Este romance foi escrito durante quatro anos. Eu sempre VALDeCk ALMeIDA: Eu conheço Mia Couto, de ouvir falar, mas ainda de leitores. Seja para criticar, seja para elogiar. tive vontade de registar as memórias de minha mãe, os remédios caseiros que não tive oportunidade de ler obras dele. Agora estou conhecendo Escrevo para amigos e inimigos. Quando uma ela sabia. Mas nunca consegui parar para ouvi-la, escrever tudo aquilo em Eduardo Quive e mais alguns poetas contemporâneos. Pretendo me pessoa que nunca gostou de leitura pega um papel e transformarem livro. Eume achava incapaz de fazê-lo. Um belo dia, aproximar mais dos países lusófonos e dos seus autores. Por muitos livro meu, lê e comenta eu fico feliz. Meu maior voltando da faculdade, no meio do trânsito, me veio à mente todo o resumo anos o Brasil ficou isolado desses irmãos africanos, não pela distância prémio é este. E é por isto que distribuo livros do livro. Quando cheguei em casa fiz um rascunho de umas dez folhas e daí mas pela falta de políticas públicas no sentido de incentivar inter- impressos nos eventos que participo; e é por este em diante eu escrevia umas cinco páginas por dia. Infelizmente minha mãe câmbios. Não sou de esperar por iniciativas de governos e já estou motivo que coloco minhas obras disponíveis não viveu para ter o prazer de ver o livro pronto. Mas sei que onde ela estiver me propondo a conhecer Moçambique, Angola, Cabo Verde e outros em PDF, gratuitamente, na internet, para que está feliz com a obra. países de língua portuguesa. muitos tenham acesso. os VINTe anos de fome me deixaram marcas profundas. Tanto em mim quanto em meus sete irmãos. A gente comia carne podre, catava peixe no eDuArDo QuIVe: Compara-se com algum escritor no mundo? Vejo Que para além de escritor tem outra profissão. Será escrita a esgoto, pegava comida estragada no lixo e dormia com fome muitas vezes. sua profissão principal? Minha família não tinha dinheiro para comprar uma casa nem móveis. Vivía- VALDeCk ALMeIDA: Acho que cada escritor tem seu estilo, sua marca mos de aluguer e quase todo mês o dono da casa nos expulsava por falta de pessoal. Eu não gosto de me comparar, mas ficaria muito feliz se minhas MINHA proFIssão principal é no serviço público. Sou funcionário pagamento. Era um sofrimento sem fim. Meu pai logo adoeceu e ficou maluco, obras pudessem ser lidas e comentadas pelo mundo todo. Já publiquei do governo federal brasileiro. Gostaria muito de poder viver de lit- foi internado por vários anos em clínicas para loucos. Minha mãe, paralítica, três livros em inglês, justamente para tentar chegar a vários países, eratura, mas isto ainda é um sonho. é que cuidava de tudo. A gente vivia de porta em porta pedindo um pedaço já que a língua inglesa é universal. Tenho meu estilo contestador e de pão, um pouco de feijão ou arroz. Morávamos perto de pessoas também denunciador. Em minhas obras sou irônico e sarcástico. Não sei de o Que você mudaria no mundo se lhe fosse dada a presidência muito pobres, que não tinham como nos ajudar. Quase sempre voltávamos outro autor que tenha estas mesmas características nem quero imitar mundial por um dia? para casa sem nada e passávamos o dia com muita fome. À noite, minha mãe ninguém. Se os leitores gostarem do que escrevo, vai ser ótimo. Se não nos consolava dizendo que no dia seguinte Jesus viria trazer comida. A gente gostarem, infelizmente não vou mudar o meu jeito de ser e escrever A prIMeIrA coisa que eu faria era investir em educação na África acreditava, mas no dia seguinte ninguém aparecia na porta trazendo algo para agradar ou para vender livros. inteira. Abriria milhares de universidades e cursos de literatura, para saciar nossa fome. A revolta era grande, mas minha mãe sempre estava arteem geral. Aarte liberta. ao nosso lado, nos consolando. Eram dias e noites de tristeza. Muitas vezes eDuArDo QuIVe: Olhando para seu curriculum noto que é “muita eu ia trabalhar em troca de um prato de comida. E outras vezes, quando eu coisa”, mas em que área específica você se formou? ACHA Que os escritores dos países da CPLP interagem entre si? chegava da escola, tarde da noite, tinha que ir dormir e sonhar com comida, pois não havia nada para comer. VALDeCk ALMeIDA: Sou jornalista por formação concluída em Fever- Não TeNHo informações suficientes para afirmar isso. Mas acho que TuDo Isso eu conto neste livro que faz rir e faz chorar. Muita gente se eiro de 2011. Apesar de ter iniciado vários outros cursos, os abandonei podemos, todos, agir de forma coordenada, a fim de aproximar mais emociona muito com os relatos, pois são verdadeiros e carregam uma carga por problemas de saúde ou porque não me identifiquei com nada os países de língua portuguesa, especialmente os de África. muito forte de emoção. Felizmente este tempo passou e hoje posso ir à padaria daquilo. Coincidência ou não, eu fundei, juntamente com Domingos comprar pão, ao mercado comprar carne. Agradeço muito a minha mãe, que Ailton e outros colegas de escola, em 1987, o Grémio Livre Dinaelza San- e os livros será que tem espaço de circulação nesses países? O que muitas vezes se humilhou pelas ruas de Jequié pedindo esmolas para nos tana Coqueiro, primeira entidade estudantil de Jequié após a Ditadura acha que deve ser feito? sustentar e nos manter na escola, o que foi decisivo para que todos os filhos Militar. Neste grémio eu fui também fundador e director de imprensa pudessem vencer na vida. do Jornada Estudantil, jornal que denunciava a falta de compromisso ACHo Que o livro deve circular livremente entre os países de fala da escola com a educação. Vinte e quatro anos depois eu me formeiem portuguesa, sem impostos. Talvez até de graça para os países que eDuArDo QuIVe: O que o levou a contar esta história ao mundo? Comunicação Social. Achoque meu destino era ser jornalista. não possam comprar. Mas circular nos bairros, nas praças, não nos Será pelo facto de ter vencido? gabinetes e palácios. Falar de literatura e de arte é fácil, quando se eDuArDo QuIVe: Notei também que se destaca na colaboração está sentado num trono, numa sala com ar condicionado. O que é VALDeCk ALMeIDA: Eu conto minha história de vida para denunciar na imprensa baiana e brasileira no geral. Qual é a sua relação com o necessário é levar o livro ao leitor, onde ele estiver. a desigualdade social e incentivar aos cidadãos a cobrar dos gover- jornalismo? nantes uma postura respeitosa em relação à população. Escrevo para A propÓsITo, à que país da CPLP você já viajou? E quando é que mostrar que se pode vencer com honestidade, sem envolvimento VALDeCk ALMeIDA: No jornalismo eu tenho compromisso teremos o Valdeck e os seus livros em Moçambique? com drogas ou com armas de fogo. Escrevo para que meu filho e com a ética, com a justiça social, com a defesa dos direitos sobrinhos possam se orgulhar da família que tem e para valorizar humanos, com as minorias e com a liberdade de expressão. sÓ CoNHeço Portugal, mas mesmo assim só os pontos turísticos. cada conquista. Escrevo para demonstrar que, se eu não tivesse tido Estas são minhas bandeiras. Quero viajar a Cabo Verde, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe a educação familiar que minha mãe me deu, hoje eu seria um assal- e Timor-leste. Eu desejo ser lido nesses países todos. Moçambique tante, um assassino, um político corrupto ou um vagabundo a viver às eDuArDo QuIVe: Tem promovido vários concursos literários. está nos planos de minha próxima viagem. Se alguma editora quiser custas da sociedade. Escrevo para mostrar que é possível salvar uma Qual é o objectivo das suas acções? investir, eu abro mão dos direitos autorais por vinte anos, para que geração da fome, da miséria e da falta de inclusão social. os livros cheguem baratos ou de graça aos leitores. Se você quiser, já VALDeCk ALMeIDA: Meu objectivo é dar oportunidade a posso enviar alguns exemplares para a biblioteca e para o Movimento eDuArDo QuIVe: Estamos perante um Valdeck Almeida de Jesus que nas muitos poetas que nunca seriam publicados por editoras com- Literário Kuphaluxa suas obras fala-nos de factos reais e da sua vida quotidiana? erciais. Os poetas são malditos porque falam da realidade, sITe Do autor: denunciam injustiças. Ao lado deles estou sempre. E o concurso WWW.GALINHApuLANDo.CoM VALDeCk ALMeIDA: Exactamente. Eu não acredito em arte pura, em abre portas e caminhos para estas pessoas que precisam de coisas sem sentido e sem provocações. Creio que um artista deve ser apoio e divulgação. Desde 2005 os concursos que realizo já mais que um escritor, actor, dançarino. Ele deve mostrar ao mundo publicou mais de 900 textos de poetas brasileiros, portugueses, moçambicanos e angolanos, argentinos, espanhóis, ameri-
  • 8. 8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8 no rEcanto dE apoLo... Finalizar O cão raivoso, autor PEDRO DU bOIS - bRASIL material de um crime Recupero a palavra com que finalizo o dito: dos baús entorpecidos em cantos obscuros dos depósitos - vão, desvão, porão, sótão desacordado - retiro a frase reparada no excesso, voo DANY WAMbIRE - bEIRA em ares desconsolados, sei do viver Ouviu-se por todos os cantos da velha palhota, desabitada por alguns tempos, contendas de palavreados pesando acusa- pleno dos enganos: boa tarde, ções abomináveis. Acenou-se um episódio tristonho, naquela tarde fervilhante com árvores adormecidas, mansas, a sono meu senhor, em que posso ajudá-lo; profundo. Ergueu-se uma voz estridente, com sabor amargo, que imobilizava o sangue trilhando veia-a-veia daqueles humanos acoco- reafirmo a crença no grito rados na palhota adentro: da criança: indefeso avançar ao efêmero da idade e refazer ― «Tu mataste o teu enteado» jardins no extremo das flores Ouviu-se assim, com enorme desagrado, na madrasta, a voz da sentença da nhamussoro. O proferido pela nhamussoro veio, de forma categórica, consumar o que se apregoava nos bastidores. no final da sentença cumprida no interregno A Celeste, a madrasta, era a primeira das cinco mulheres de que o Saquene dispunha. As que vieram depois, eram as que a sei estar afunilado o espaço fechado odiavam por ser primeira e a mais querida. Era uma mulher trabalhadora e dispunha de enorme fecundidade para brotar muitas filhas. O Saquene honrava em demasia as filhas, pois, obtinha bastante lucro com o lobolo delas. Não se entendia, todavia, o das entradas - meu senhor, sinto muito, intento a ser alcançado pela madrasta ao encomendar um feitiço para o filho da rival. Ademais, a rival da celeste estava divorciada do Saquene, e vivia com outro marido na Beira, deixando o seu filho com a ex-rival. Acusaram a Celeste, mas não a condenaram. a venda de ingressos está cancelada. Tinha que ser feiticeira, porém, apenas pela força do diagnóstico. Tentaram os defensores da Celeste, a acusada, em mudar o rumo dos acontecimentos: intentaram encontrar outra feiticeira para Chama Negra além da celeste, visto que, ela não tinha razões para cometer aquela propalada barbaridade. Intentaram contrapor o diagnóstico da nhamussoro, mas a mesma nhamussoro insistiu com o mesmo diagnóstico. Não queria ludibriar as pedras divinatórias: era essa crença que apresentava a nhamussoro. Ligaram, ao fim da tarde, comunicando a mãe do recém-falecido Stinde que viesse da Beira para acompanhar o funeral do seu único filho com o Saquene. O carro para o regulado saía da Beira às cinco horas da manhã, todos os dias. JOSé LUIz GRANDO - ITAJAí No dia viagem, foi a mãe do Stinde apanhar o carro na terminal. Coube ao motorista César, o motorista mais veloz, levar a mãe A chama negra do Stinde para a fazer chegar, a tempo, ao funeral do filho. Alastra-se outra vez e... No início da tarde, a mãe do finado desceu maleavelmente do carro de César. Encontrou na paragem, à sua espera, as vizinhas corpos queimados aparecem do Saquene para lhe incitar o choro ― as mulheres em falecimento, choram em demasia se forem consoladas durante o choro deixados de lado. natural. Todavia, a encaminharam para casa, o local do início de procissão de funeral do filho Stinde. Escarnece pobre, padece Na hora seguinte, presenciou a mãe do Stinde, a mãe do finado, no quarto em que filho descansava aparentemente. Tencionava pobre. ver-lhe pela última vez. Recordou-se logo, do momento do parto complicado tido com o miúdo, das suas primeiras brincadeiras Engole o vômito dos barbas e de outras peripécias marcantes. Informaram-lhe, depois, o sucedido: brancas. Branca depressão onde ― O teu filho Stinde, o teu único filho querido, foi enfeitiçado pela Celeste, a primeira esposa do Saquene, a madrasta de tudo termina no coração. Stinde, porque não queria viver com ele. Delinqüentes, tão jovens, Facultava assim uma das esposas secundárias do Saquene, o identificado e deliberado pela nhamussoro. e ainda inocentes, A hora do funeral chegou, a Celeste não só ficou liberta, por algumas horas, daqueles olhares desconfiados, assim como dos Vendendo seus corpos como potes de lágrimas, outrora por ela jorradas. eternos Tomaram a esteira velha, agasalharam o pequeno cadáver e prosseguiram com a procissão. Presenciaram na procissão, homens Prisioneiros sem saída. comentando jornadas de bebedeira, de futebol e outras, entretendo-se na multidão. Algumas mulheres acompanhavam o Nada mais inebria, nem a comentário dos homens em farra, e outras expiavam escrupulosamente, a dimensão do choro da madrasta do malogrado. Neblina disfarça a vergonha Chegados ao cemitério, procederam o kuphacha antes de cavar o local da sepultura. Mendigaram, primeiro, a admissão do espalhada como lixo morto na casa dos imóveis para não violarem as margens invioláveis. Se não o fizessem encontrariam, no dia ulterior, o cadáver pelo mundo capitalista. fora da cova da sepultura. Terminado o funeral, já em casa, encontraram alguns técnicos da saúde. Os técnicos de Saúde indagaram se naquela casa Somos Diamantes habitara um jovem de nome Stinde. Após um diminuto silencio, para se entender a questão, irrompeu uma voz replicando a questão: ― É este que acabámos de sepultar. A equipa de saúde que obviamente, soubera da saída daquela multidão em algum funeral, soltou duma vez a informação: MUkURRUzA - LICHINGA ― Este jovem foi vitimado pelo cão raivoso que também atacou outras três pessoas anteontem aqui, no regulado. Afinal de contas: o enteado da celeste não foi por ela enfeitiçada, mas sim, empeçonhado com a raiva de um cão vadio. Mas este argumento não convenceu a maioria. É que no regulado se justificava mortes com causas naturais. Até um espectador chegou a sentenciar: Perdidos, ______________________________ ― Se este cão foi mordido por cão raivoso, então foi a madrasta que mandou este cão. Alegres choramos Somos diamantes. Dany Wambire (pseudónimo de Danito Gimo da Graça Avelino). Nasceu em 1 de Junho de 1989, no distrito de Gostados pelas rosas Manica, província de Manica (os seus pais são todos da província de Sofala). Tornou-se órfão bastante cedo, de pai Pelas flores, aos 10 anos, e de mãe aos 12 anos. Desde então cresceu sob custódia da sua tia (Cristina Oliveira Garanhe Massora, Somos a beleza irmã mais velha da sua mãe). Em 2008 tornou-se professor no distrito de Machanga, sul da província de Sofala, Nos pulsos lisos depois de formado pelo Instituto Nacional de Educação de Adultos – Beira (2006-2007). E foi lá onde começou Nos pescoços macios, a escrever, como forma de divertimento e para amparar-se dos vícios. Portanto, escreveu lá o seu primeiro livro Somos diamantes. (inédito), intitulado sugestivamente “Peripécias do Regulado de Esteve”, que tem alguns textos publicados pelo jornal O País e O País Online, desde Março de 2011. Este nosso ser Actualmente é professor numa escola primária completa, algures na cidade da Beira, e estudante no 2º ano do curso de Apenas diamantes História, na UP-Beira. Somos nós, Diamantes. ERRATA Na edição anterior, esta coluna estava erradamente assinada com o nome de Humberto João e o título estava igualmente, erradamente escrito. Portanto, em vez de Humberto João de Lichinga, devia ser, Dany Wambire, da Beira e em vez de “O Bebé que nasceu do Abordo” tinha que ser “O Bebé que nasceu de Aborto”. Pelo facto, apresentamos as nossas sinceras desculpas ao autor da coluna e aos leitores.
  • 9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9 outras margEns brincanças IzIDINE JAIME - MAPUTO Silêncio SILAS CORREIA LEITE – SãO PAULO Quem são eles? YAO FENG-MACAU Quem somos nós? Onde vamos? Ao cabo Os endereços são estercos Porquê temer a nós mesmos? pusemos o silêncio no centro, como se põe a mesa, Técnica de aproximação comigo mesmo: lesmo ... Olha só como falam do mundo! para a qual nada foi servido. A terra é deles? A morte é uma desaceleração de partículas De quem é terra? O banquete tinha já acabado A quem pertencemos? E, nunca mais, a mesa, A civilização hum ana às vezes é um pé no sacro Porquê viver? deixaremos florir a língua. Porquê nascemos? Fui atropelado pela existência Silêncio. Apenas o canto eventual Somos um projecto? o desperta. Quem nasce morto não nasce Fazemos parte dos seus rituais? O que murmuram os pássaros Porquê questionar? nos ramos do sonho? A terra é o aterro sanitário do espaço, Porquê não questionar? Não sonhamos de novo, onde estão depositados todos os vermes Porquê ver e calar? nesta noite menos nossa. Porquê a realidade e não a verdade? Ainda o silêncio. O vento sopra Sou estrangeiro em meu próprio corpo Porquê nos fazemos ser? a abundância do teu cabelo― o grito, o uivo Silêncios cúmplices têm gerador próprio Dúvidas matam? Não contribuimos para nossa desgraça? Quando o mundo acabar eu volto para Itararé Não morremos no nosso medo? Porque eles e não nós? QUANDO TUDO Porquê nós e não eles? Porquê não eles e nós? COMEÇOU Pagamos pela vida Recebem pela morte bISSAU NãO QUIS LUA E ALMA É para isso que existimos? ACREDITAR Nas pétalas há mãos, dançando ao som dos grilos Decepção ODETE COSTA SEMEDO - bISSAU o silêncio desperta a noite, OCTávIO DINALA - LICHINGA e bem no centro da flor, a vulva... Bissau não quis acreditar beijando a lua num jeito de anunciação, chamamen- Ate quando navegarei neste mar to... Com barcos a vela e as vezes ter que remar no que via e ramificam-se gente neste sonho... Não saber para aonde o vento vai-me levar gente que grita alma... mas donde vem esta alma??? Perder as coordenadas por vezes ter que acidentar no que estava a sentir Ate quando navegarei neste mar Tentando ser forte para não chorar Rezando sempre que não ouves o meu grito Bissau despediu-se de seus filhos Como se estivesse sozinho nua deitou-se de bruços Ate quando navegarei neste mar Que já não me mais me quer para receber chicotadas Que quando me olha sorri o meu sofrer Que me olha mas não me vê para receber açoite Leonor Ate quando navegarei neste mar com ramos espinhosos Que me quer naufragar CELSO FOLAGE - MAPUTO Para me matar de nhára-sikidu Ate quando navegarei neste mar Que me quer levar? Bissau não quis acreditar Leonor, bela moça do meu ser Faz-me conhecer a beleza de mulher Faz-me sentir o sentimento interno Faz-me sair a rua a toa Auto-conhecimento MANUSSE JOSé - LUANDA Para ver-te andar de capulana, Leonor Para ver-te sorrir enquanto espalhas o perfume MIGUEL ALMEIDA - PORTUGAL Ao calor do estio rolam-se-me os imp- O perfume exclusivamente seu, apenas a ti pertencen- iedosos pensamentos, te São imprincipiados e infinitos, O perfume natural temperado de doçura Sei o que sou. Doem-me à cabeça, Que quando inalado leva a loucura Sei? Vomito-os, Sei talvez o bastante, Poucos suportam-nos, Loucura que cria em meu coração uma brancura Para não aceitar, ou recusar Quem me ajuda? Disposta a receber as manchas benéficas do seu amor Perante o destino, De certo! que nenhuma criatura. Fixe o seu olhar nos translúcidos olhos meus Que tenho ideias minhas, Infecta-me com a única doença realmente sem cura Pensamentos próprios, que ofereço Galopo montanhas, Leonor Como frutos puros, da minha liberdade. Miro os céus, Doença de te venerar e consequentemente te amar Sei o que sou? Tudo aparenta-se um azul fingido. Sei. Doença de poder sempre te alegrar Sei talvez o bastante, Finjo não pensar, Ao seu lado deixarei de ser apenas sonhador Para perceber, ou entender Rouba-se-me a existência. Deixarei de viver em comunidade com essa dor Perante o acaso, Dor de não poder fazer parte do seu ser Leonor Que estando só, de mim para mim Ah! são eles a minha, As palavras, as minhas escassas palavras São prova do meu existir Vem, vem… Leonor, transformemos sonhos em reali- Exprimem a incerteza, daquilo que poderei vir a ser. dade Expulso-os, Vivamos algo por muitos conhecido, até por poetas Expulsado sou eu, escrito Pois sou existência do meu pensar. O verdadeiro amor Leonor. Espaço para divulgação de poetas dos países LUSÓFONOS. Envie os seus textos para: kuphaluxa@sapo.mz
  • 10. 10 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 10 Noites d ´álma Em outras paLavras https://noitesdalma.blogspot.com VII Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – CRÔNICAS eDIção eM HoMeNAGeM A esCrITores BAIANos Manuelito! 1 - O Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus visa estimular novas produções literárias e é dirigido a candidatos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior, desde que seus trabalhos sejam escritos em língua portuguesa. 2 – As inscrições acontecem de 01 de janeiro a até 30 de novembro, através do e-mail valdeck2007@ XIGUIANA DA LUz gmail.com (CRÔNICAS de até 20 linhas, minibiografia de até cinco, endereço completo, com CEP e fone de contato, com DDD). Os textos devem vir DENTRO do corpo do e-mail. Inscrições incompletas serão Passa fome e passa frio. Não tem vizinho. Vive desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão aceitas inscrições pelos correios. só. Sem tom nem voz. Ao relento – nas esquinas 3 - A crônica deve ser inédita, versando sobre qualquer tema (exceto apologia ao uso de drogas, conteúdo racista, preconceituoso, propaganda política ou intolerância religiosa ou de culto). Terão do Patrice – como esqueleto. Quando quer é preferências os textos sobre escritores baianos da contemporaneidade. Entende-se como escritores contemporâneos aqueles cuja obra ainda não foi lançada por grandes editoras e que não são con- alegre, mas sempre se entristece. Geme de frio hecidos do grande público. Cada autor responderá perante a lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado ao direito autoral. A inscrição implica concordância com o regulamento e cessão lambido pela fome. Anda. Fala. Mas não sente, dos direitos autorais apenas para a primeira edição do livro. nem ouve. Apenas vê. E só vê o que vê. Vê o que 4 - Uma equipe de escritores faz a seleção de apenas um texto por autor. A premiação é a publica- ção do texto selecionado em livro, em até seis meses do encerramento das inscrições. Os escritores quer. Brinca com quem quiser, mas ninguém selecionados devem criar um blog gratuito, após a divulgação do resultado do concurso, para dar visibilidade ao trabalho de todos os participantes. Os casos omissos serão decididos soberanamente é seu amigo. Todos o conhecem, mas ele, a pela equipe promotora. ninguém reconhece. Ás vezes canta, mas não 5 - O autor que desejar adquirir exemplares do livro deverá fazê-lo diretamente com a editora ou com o organizador do prêmio. Os primeiros dez classificados receberão um exemplar gratuitamente. entoa hino nenhum. Os demais podem receber, a critério da organização do evento e da disponibilidade de recursos financeiros. MoDeLo De FICHA De INsCrIção: Manuelito é ninho sem passarinho. Caminho Paulo Pereira dos Santos sem gente. Ngalanga¹ sem dança, terra sem Rua Santo André, 40 – Edf. Pedra – Apt. 201 35985-999 – Portão nação. Vive sem noção. Belo Horizonte-MG (31) 3366-9988, 8877-8999 MoDeLo De MINIBIoGrAFIA: Manuelito não tem razão. Vive sem protecção. Paulo Pereira dos Santos é natural de Santana-PB. Escritor, poeta e jornalista, tem dois livros Mas é gente. Sofre com o que não sente. Chora publicados: “Antes de tudo” e “Até amanhã”. Paticipa de cinco antologias de poesias. Graduado em comunicação social. Menção honrosa em diversos concursos de poesia, tem dois livros no prelo e por quem não conhece. Seu dia não amanhece. pretende lançá-los em 2012. Todos o conhecem, mas a ele, ninguém recon- projeTo puBLICADo No sITe Do pNLL Do MINIsTÉrIo DA CuLTurA hece. Por isso que enlouquece. MAIs INForMAçÕes: Valdeck Almeida de Jesus Manuelito é louco no meu bairro e lúcido em Tel: (71) 8805-4708 E-mail: valdeck2007@gmail.com qualquer lugar! Site do Organizador: www.galinhapulando.com NOTA: NESTE CONCURSO PODEM TAMbéM PARTICIPAR PESSOAS DE OUTROS PAíSES DE LíNGUA PORTUGUESA, INCLUINDO MOÇAMbIQUE, SENDO QUE NA 1. Ngalanga – tipo de ritmo e dança tradicionais. IMPOSSíbILIDADE DESTES EM FALAR DE ESCRITORES bAIANOS, PODEM FALAR DOS CONTEMPORâNIOS DOS SEUS PAíSES.
  • 11. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 11 Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 11 agEndado Projecto Poesia nas Acácias CONVITE No âmbito das celebrações do dia da cidade de Maputo e de mais um aniversário do Movimento Literário Kuphaluxa, será realizado entre os dias 10 e 12 de Novembro do ano em curso, uma exposição de poesia denominada “Poesia nas Acácias” a ter lugar na cidade de Maputo. oBjeCTIVo Constitui principal objectivo desta iniciativa, divulgar novos autores moçambicanos, promover o gosto pela leitura e levar a poesia a lugares comuns onde o povo possa ter acesso a ela sem custos. reQuIsITos Cada participante pode enviar no máximo três poemas (só um será seleccionado para exposição) da sua autoria que obe- deçam os seguintes requisitos: • Poemas ocupando no máximo de uma página do word • Poemas escritos na língua portuguesa pArTICIpAção Todos os participantes o farão voluntariamente, sem direito a nenhuma remuneração. Neste projecto, só poderão participar apenas poetas iniciantes, sem nenhum livro publicado e não há restrição de idade nem nível académico. Para a participação neste projecto são convidados todos escri- tores iniciantes de todas cidades do País. DIreITos AuTorAIs A partir da altura em que os poemas são expostos, passam a ser de domínio público, sendo que, o entanto, o poema será exposto com a assinatura do autor. eNDereço Do eNVIo Dos TexTos Os poemas devem ser escritos no formato Word-2003, letra do tipo – Times New Roman, tamanho 12 e enviados electroni- camente para o endereço: kuphaluxa@sapo.mz VALIDADe Os poemas devem ser enviados a partir da data da divulgação deste convite até ao dia 23 de Outubro de 2011. Os textos envia- dos depois dessa data não merecerão a nossa atenção. Os seleccionados, serão anunciados no blogue do Movimento Literário Kuphaluxa no endereço: http://kuphaluxa.blogspot. com e da revista Literatas: http://literatas.blogs.sapo.mz e ainda na versão electrónica da mesma até ao dia 01 de Novembro de 2011. CAsos oMIssos Não serão aceites poemas que contenham seguintes conteú- dos e ambiguidades: • Ofensivas político-partidárias • Insultos ou outras expressões capazes de ferir as boas maneiras de convívio social • Descriminações raciais, religiosas, étnica, género entre outras reCurso As deliberações da comissão organizadora deste evento não terão direito a recurso. A Comissão Organizadora