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MARCHA DOS USUÁRIOS DE SAÚDE MENTAL PELA REFORMA PSIQUIÁTRICA
                    ANTIMANICOMIAL – DIA 30 DE SETEMBRO DE 2009


                          PAUTA PARA O MINISTÉRIO DA SAÚDE


        A Reforma Psiquiátrica Brasileira tem em seu histórico uma marca fundamental: teve
como propulsora a intervenção política de um movimento social que, fazendo coro com outros
tantos comprometidos com a democratização da sociedade brasileira, trouxe a bandeira de
uma sociedade sem manicômios e denunciou, sistematicamente, uma das suas maiores
expressões: a política de atenção à saúde mental vigente no país. Desse processo, resultaram
experiências que, ao longo dos anos, foram se consolidando em uma política nacional que
assumia gradativamente o compromisso em operar uma Reforma Psiquiátrica, comprometida
com a perspectiva de colocar fim aos hospitais psiquiátricos, como dispositivos de ordenação e
segregação social, substituindo-os por uma rede comunitária de serviços, capaz de garantir
cuidado e cidadania às pessoas com transtornos mentais.
        O processo político de debate público foi fundamental para que, ao fim de 3
Conferências Nacionais, tivéssemos claramente uma direção antimanicomial traçada como
exigência audaz à política de Saúde Mental no país. Em 2001, a aprovação da Lei 10216
colocou sob novos marcos esse compromisso e como resultado desse processo temos hoje
uma nova política de saúde mental, comprometida com a efetivação de uma rede substitutiva
de atenção. Avanços conquistados revelam-se nos dados que expressam a ampliação de
serviços substitutivos, orientados por uma nova concepção de intervenção, no cenário
nacional.
        O processo jamais se deu, contudo, sem resistências. Severas críticas de alguns
segmentos, veiculadas pela mídia nacional, numa clara tentativa de fazer retroceder a
implementação da Reforma Psiquiátrica, estão postas em cena. É preciso defender a política
pública que queremos, uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, e essa defesa nos leva a
cobrar avanços necessários e urgentes à implantação dessa política de saúde mental no
âmbito do SUS.
        No que pesem as inegáveis conquistas de cidadania dos portadores de sofrimento
mental arduamente alcançadas, é preciso dizer que 8 anos após a aprovação dessa lei,
convivemos com muitos leitos psiquiátricos no país, ainda sem condição de substituição por
uma rede comunitária. É preciso enfrentar as dificuldades relativas a esse processo. Não é
possível que ainda hoje tenhamos número significativo de pessoas com longos períodos de
internação, muitas em condição de moradoras em hospitais psiquiátricos, às quais é
completamente negado o direito de cidadania. Não é possível que ainda hoje seja a morte
condição ou produção possível nessas instituições, que se mantêm como dispositivos de saúde
no sistema único brasileiro.
        É preciso que sejam garantidas os direitos e a política prevista na Lei 10216/01. É
preciso que avance uma Reforma Psiquiátrica que não mais permita a morte de qualquer
usuário, por abandono ou violação de direito em hospital psiquiátrico nesse país. É preciso que
   se enfrente a condição de moradores de hospitais dos usuários ainda hoje completamente
   privados de liberdade e do exercício de sua cidadania. As violências que se reinstalam nesse
   momento, como recrudecimento das mortes e degradação dos hospitais, que vem sendo
   denunciadas na imprensa, revelam a inaceitável fragilização dos sistemas de fiscalização e
   monitoramento do SUS em relação a estes estabelecimentos.
           E é preciso reconhecer que esses avanços requerem diálogo com o movimento social
   historicamente constituído que hoje se representa por dezenas de associações de usuários que
   tem sido sistematicamente ignoradas no processo de construção dessa política. Diante dos
   tensionamentos de interesses presentes no campo para que o Brasil seja, de fato, um país sem
   manicômios, é preciso convocar e mobilizar a sociedade para os interesses que são aliados, na
   perspectiva da construção de uma cultura de diretrizes humanos e não discriminação dos
   portadores de transtornos mentais. A convocação da IV Conferencia representa a única
   possibilidade de resgate da legitimidade interna e externa da Reforma Psiquiátrica
   Antimanicomial.
           A   absoluta fragilidade da presença     dos CAPS III e recursos de abordagem das
   situações de crises e emergências, na rede substitutiva comprometem hoje perigosamente o
   êxito socail da Reforma Psiquiátrica.
           Os usuários da rede de serviços substitutivos, militantes da causa antimanicomial,
   reunidos na 1ª Marcha dos Usuários “Pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial”, vêm
   apresentar suas reivindicações para garantir a superação dos manicômios no país.


1. Fazer cumprir a Lei 10.216/2001, assegurando os direitos de cidadania dos portadores de
   sofrimento mental, em especial, o acesso ao tratamento na rede substitutiva;
2. Implantar em todo o país os dispositivos de substituição do hospital psiquiátrico: CAPS,
   Equipes de Saúde Mental na Atenção, Centros de Convivência, Serviços Residenciais
   Terapêuticos e Projetos de Inclusão Produtiva;
3. Criar mecanismos de estímulo à implantação de CAPS III, como dispositivo estratégico de
   enfrentamento às crises e urgências e superação do hospital psiquiátrico;
4. Realizar, em parceria com Estados, municípios e movimento social, processos de discussão
   sobre as propostas de atenção diária e intensiva, com destaque para a dimensão das crises e
   urgências, como forma de consolidar os objetivos estratégicos da Reforma Psiquiátrica e da
   prática substitutiva na rede instalada;
5. Promover, em parceria com Estados e municípios, o fechamento de leitos e hospitais
   psiquiátricos, à medida em que se implantem os serviços substitutivos, assegurando a
   alocação dos recursos das antigas AIH´s no financiamento da política de saúde mental;
6. Assegurar a qualidade da assistência nos serviços substitutivos, através da implantação de
   mecanismos de formação e capacitação em trabalho, avaliação permanente, garantia de
   estrutura física adequada e condições logísticas e recursos que favoreçam o acesso ao
tratamento e estimulem a inserção social dos usuários em consonância com os princípios e
   objetivos a Reforma e da Luta Antimanciomial;
7. Rever e ampliar o número de usuários do Programa De Volta pra Casa, bem como os
   mecanismos de inclusão, valores e financiamento do projeto,            assegurando o efetivo
   fechamento de leitos psiquiátricos;
8. Reajustar o valor da bolsa De Volta pra Casa, estabelecendo como parâmetro mínimo o
   salário-mínimo nacional, de modo a assegurar o acesso à cidadania em condições dignas;
9. Garantir a implantação das mil Residências Terapêuticas, até o ano de 2010, conforme
   compromisso firmado pelo presidente Lula;
10. Promover a articulação entre as Áreas Técnicas de Saúde Mental e Urgência e Emergência,
   definindo estratégias de sensibilização e capacitação, de modo a assegurar acesso e
   atendimento dos portadores de sofrimento mental pelas Equipes do SAMU;
11. Instituir, através de portaria ministerial formas de remuneração e incentivo à implantação de
   Centros de Convivência, ampliando o leque de ofertas da rede substitutiva em todo o país;
12. Ampliar os incentivos do governo federal a projetos de educação profissional continuada e
   qualificação dos profissionais da Saúde, na perspectiva da reforma psiquiátrica antimanicomial,
13. Criar mecanismos efetivos que promovam a inserção dos usuários no mercado de trabalho,
   com definição de recursos do SUS e de parcerias com outras políticas públicas, em especial,
   as de Economia Solidária, Trabalho e Previdência Social;
14. Difundir as experiências exitosas e incentivar a implantação de programas de assistência, em
   meio aberto, ao portador de sofrimento mental infrator, como estratégia de superação do
   manicômio judiciário
15. Manter a decisão do SUS de não remunerar ECT, psicocirurgia e qualquer outra intervenção
   invasiva;
16. Garantir o processo de fiscalização dos leitos contratados do SUS, com a revisão da realização
   do PNASH, dando ampla condição de acompanhamento aos atores sociais implicados com
   esta avaliação;
17. Tomar medidas efetivas, como gestor, em relação aos casos de mortes e violação de Direitos
   nos Hospitais Psiquiátricos, especialmente aqueles conveniados ao SUS;
18. Fazer gestão junto ao CNS para a realização, até 2010, da IV Conferência Nacional de Saúde
   Mental.
19. Promover e investir em campanhas nacionais, nos meios de comunicação de massa, em
   defesa da reforma psiquiátrica antimanicomial e do SUS, combatendo o preconceito contra
   portadores de transtornos mentais, evidenciando sua condição de sujeito e cidadão de direitos.
20. Sustentar e assegurar a política de assistência farmacêutica com garantia de fornecimento de
   medicamentos ao portador de sofrimento mental na rede de saúde do SUS.
21. Fazer gestão junto ao Ministério da Educação para introdução de disciplinas voltadas a Saúde
   Mental nos Currículos Acadêmicos na área de Saúde;
22. Ampliar o investimento em projetos e ações de atenção a usuários de álcool e outras drogas;
23. Fomentar o protagonismo dos usuários nas ações de saúde mental, através do
   reconhecimento oficial das suas entidades e organizações como as únicas interlocutoras
   legitimas deste segmento, fortalecendo o controle social na Política Nacional de Saúde Mental
   e no SUS.

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  • 1. MARCHA DOS USUÁRIOS DE SAÚDE MENTAL PELA REFORMA PSIQUIÁTRICA ANTIMANICOMIAL – DIA 30 DE SETEMBRO DE 2009 PAUTA PARA O MINISTÉRIO DA SAÚDE A Reforma Psiquiátrica Brasileira tem em seu histórico uma marca fundamental: teve como propulsora a intervenção política de um movimento social que, fazendo coro com outros tantos comprometidos com a democratização da sociedade brasileira, trouxe a bandeira de uma sociedade sem manicômios e denunciou, sistematicamente, uma das suas maiores expressões: a política de atenção à saúde mental vigente no país. Desse processo, resultaram experiências que, ao longo dos anos, foram se consolidando em uma política nacional que assumia gradativamente o compromisso em operar uma Reforma Psiquiátrica, comprometida com a perspectiva de colocar fim aos hospitais psiquiátricos, como dispositivos de ordenação e segregação social, substituindo-os por uma rede comunitária de serviços, capaz de garantir cuidado e cidadania às pessoas com transtornos mentais. O processo político de debate público foi fundamental para que, ao fim de 3 Conferências Nacionais, tivéssemos claramente uma direção antimanicomial traçada como exigência audaz à política de Saúde Mental no país. Em 2001, a aprovação da Lei 10216 colocou sob novos marcos esse compromisso e como resultado desse processo temos hoje uma nova política de saúde mental, comprometida com a efetivação de uma rede substitutiva de atenção. Avanços conquistados revelam-se nos dados que expressam a ampliação de serviços substitutivos, orientados por uma nova concepção de intervenção, no cenário nacional. O processo jamais se deu, contudo, sem resistências. Severas críticas de alguns segmentos, veiculadas pela mídia nacional, numa clara tentativa de fazer retroceder a implementação da Reforma Psiquiátrica, estão postas em cena. É preciso defender a política pública que queremos, uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, e essa defesa nos leva a cobrar avanços necessários e urgentes à implantação dessa política de saúde mental no âmbito do SUS. No que pesem as inegáveis conquistas de cidadania dos portadores de sofrimento mental arduamente alcançadas, é preciso dizer que 8 anos após a aprovação dessa lei, convivemos com muitos leitos psiquiátricos no país, ainda sem condição de substituição por uma rede comunitária. É preciso enfrentar as dificuldades relativas a esse processo. Não é possível que ainda hoje tenhamos número significativo de pessoas com longos períodos de internação, muitas em condição de moradoras em hospitais psiquiátricos, às quais é completamente negado o direito de cidadania. Não é possível que ainda hoje seja a morte condição ou produção possível nessas instituições, que se mantêm como dispositivos de saúde no sistema único brasileiro. É preciso que sejam garantidas os direitos e a política prevista na Lei 10216/01. É preciso que avance uma Reforma Psiquiátrica que não mais permita a morte de qualquer
  • 2. usuário, por abandono ou violação de direito em hospital psiquiátrico nesse país. É preciso que se enfrente a condição de moradores de hospitais dos usuários ainda hoje completamente privados de liberdade e do exercício de sua cidadania. As violências que se reinstalam nesse momento, como recrudecimento das mortes e degradação dos hospitais, que vem sendo denunciadas na imprensa, revelam a inaceitável fragilização dos sistemas de fiscalização e monitoramento do SUS em relação a estes estabelecimentos. E é preciso reconhecer que esses avanços requerem diálogo com o movimento social historicamente constituído que hoje se representa por dezenas de associações de usuários que tem sido sistematicamente ignoradas no processo de construção dessa política. Diante dos tensionamentos de interesses presentes no campo para que o Brasil seja, de fato, um país sem manicômios, é preciso convocar e mobilizar a sociedade para os interesses que são aliados, na perspectiva da construção de uma cultura de diretrizes humanos e não discriminação dos portadores de transtornos mentais. A convocação da IV Conferencia representa a única possibilidade de resgate da legitimidade interna e externa da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. A absoluta fragilidade da presença dos CAPS III e recursos de abordagem das situações de crises e emergências, na rede substitutiva comprometem hoje perigosamente o êxito socail da Reforma Psiquiátrica. Os usuários da rede de serviços substitutivos, militantes da causa antimanicomial, reunidos na 1ª Marcha dos Usuários “Pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial”, vêm apresentar suas reivindicações para garantir a superação dos manicômios no país. 1. Fazer cumprir a Lei 10.216/2001, assegurando os direitos de cidadania dos portadores de sofrimento mental, em especial, o acesso ao tratamento na rede substitutiva; 2. Implantar em todo o país os dispositivos de substituição do hospital psiquiátrico: CAPS, Equipes de Saúde Mental na Atenção, Centros de Convivência, Serviços Residenciais Terapêuticos e Projetos de Inclusão Produtiva; 3. Criar mecanismos de estímulo à implantação de CAPS III, como dispositivo estratégico de enfrentamento às crises e urgências e superação do hospital psiquiátrico; 4. Realizar, em parceria com Estados, municípios e movimento social, processos de discussão sobre as propostas de atenção diária e intensiva, com destaque para a dimensão das crises e urgências, como forma de consolidar os objetivos estratégicos da Reforma Psiquiátrica e da prática substitutiva na rede instalada; 5. Promover, em parceria com Estados e municípios, o fechamento de leitos e hospitais psiquiátricos, à medida em que se implantem os serviços substitutivos, assegurando a alocação dos recursos das antigas AIH´s no financiamento da política de saúde mental; 6. Assegurar a qualidade da assistência nos serviços substitutivos, através da implantação de mecanismos de formação e capacitação em trabalho, avaliação permanente, garantia de estrutura física adequada e condições logísticas e recursos que favoreçam o acesso ao
  • 3. tratamento e estimulem a inserção social dos usuários em consonância com os princípios e objetivos a Reforma e da Luta Antimanciomial; 7. Rever e ampliar o número de usuários do Programa De Volta pra Casa, bem como os mecanismos de inclusão, valores e financiamento do projeto, assegurando o efetivo fechamento de leitos psiquiátricos; 8. Reajustar o valor da bolsa De Volta pra Casa, estabelecendo como parâmetro mínimo o salário-mínimo nacional, de modo a assegurar o acesso à cidadania em condições dignas; 9. Garantir a implantação das mil Residências Terapêuticas, até o ano de 2010, conforme compromisso firmado pelo presidente Lula; 10. Promover a articulação entre as Áreas Técnicas de Saúde Mental e Urgência e Emergência, definindo estratégias de sensibilização e capacitação, de modo a assegurar acesso e atendimento dos portadores de sofrimento mental pelas Equipes do SAMU; 11. Instituir, através de portaria ministerial formas de remuneração e incentivo à implantação de Centros de Convivência, ampliando o leque de ofertas da rede substitutiva em todo o país; 12. Ampliar os incentivos do governo federal a projetos de educação profissional continuada e qualificação dos profissionais da Saúde, na perspectiva da reforma psiquiátrica antimanicomial, 13. Criar mecanismos efetivos que promovam a inserção dos usuários no mercado de trabalho, com definição de recursos do SUS e de parcerias com outras políticas públicas, em especial, as de Economia Solidária, Trabalho e Previdência Social; 14. Difundir as experiências exitosas e incentivar a implantação de programas de assistência, em meio aberto, ao portador de sofrimento mental infrator, como estratégia de superação do manicômio judiciário 15. Manter a decisão do SUS de não remunerar ECT, psicocirurgia e qualquer outra intervenção invasiva; 16. Garantir o processo de fiscalização dos leitos contratados do SUS, com a revisão da realização do PNASH, dando ampla condição de acompanhamento aos atores sociais implicados com esta avaliação; 17. Tomar medidas efetivas, como gestor, em relação aos casos de mortes e violação de Direitos nos Hospitais Psiquiátricos, especialmente aqueles conveniados ao SUS; 18. Fazer gestão junto ao CNS para a realização, até 2010, da IV Conferência Nacional de Saúde Mental. 19. Promover e investir em campanhas nacionais, nos meios de comunicação de massa, em defesa da reforma psiquiátrica antimanicomial e do SUS, combatendo o preconceito contra portadores de transtornos mentais, evidenciando sua condição de sujeito e cidadão de direitos. 20. Sustentar e assegurar a política de assistência farmacêutica com garantia de fornecimento de medicamentos ao portador de sofrimento mental na rede de saúde do SUS. 21. Fazer gestão junto ao Ministério da Educação para introdução de disciplinas voltadas a Saúde Mental nos Currículos Acadêmicos na área de Saúde; 22. Ampliar o investimento em projetos e ações de atenção a usuários de álcool e outras drogas;
  • 4. 23. Fomentar o protagonismo dos usuários nas ações de saúde mental, através do reconhecimento oficial das suas entidades e organizações como as únicas interlocutoras legitimas deste segmento, fortalecendo o controle social na Política Nacional de Saúde Mental e no SUS.