O documento descreve uma crônica sobre uma passageira inexperiente em aviões que causou diversos "vexames" durante o voo devido a sua falta de conhecimento sobre o funcionamento de aeronaves, deixando os outros passageiros e o narrador constrangidos com suas perguntas e atitudes inapropriadas.
3. Porque todo mundo gosta de histórias e de
poesias. Não há sociedade sem narrativa. O
homem é um animal narrativo. Homo
narrador. Todo mundo quer ouvir histórias.
Contamos histórias desde o amanhecer até a
hora de dormir. Senta num ônibus, história;
briga com o namorado, história; chega na
escola, mais histórias. Todas as situações da
vida propiciam acontecimentos narráveis e
vivemos desse entrelaçamento de narrativas.
4. Assim como a fábula, o conto, a notícia, a
reportagem e o enigma, a crônica é um gênero narrativo
que tem por base fatos que acontecem em nosso
cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o
leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes
se identifica com as ações tomadas pelas personagens.
A crônica é um gênero textual bastante evidenciado em
jornais, escritos ou televisionados, e em revistas. Sua
origem deriva-se do latim Chronica e do grego Khrónos
(tempo). Exatamente por este fator é que se deve o seu
surgimento, pautado por um relato de acontecimentos
históricos e registrados em ordem cronológica.
5. Uma de suas relevantes características se deve à ótica
de como os detalhes são observados, pois o fato
possibilita ao cronista relatar de forma individual e original
os fatos sob diferentes ângulos.
A temática pela qual perpassa o gênero em questão
costuma estar ligada a questões circunstanciais ligada ao
cotidiano, como por exemplo, um flagrante na esquina, o
comportamento de uma criança ou de um adulto, um
incidente doméstico, dentre outros. Trata-se de um texto
curto, geralmente com poucos personagens, no qual o
tempo e o espaço são limitados.
Uma das mais famosas crônicas da história da
literatura luso-brasileira corresponde à definição de
crônica como "narração histórica". É a "Carta de
Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha", na
qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o
descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias
que os marinheiros portugueses passaram aqui.
6. Como a crônica é um gênero textual em que se
apresentam fatos do cotidiano a partir da ótica particular do
cronista, nela encontramos poucos personagens,
linguagem quase sempre informal, simples, direta e , às
vezes, poética. Pode ser elaborada com a intenção de
divertir, de emocionar, ou de fazer o leitor refletir.
A crônica pode receber diferentes classificações:
- a lírica, em uma linguagem poética e metafórica o autor
extravasa sua alma lírica diante de episódios
sentimentais, nostálgicos ou de simples beleza da vida
urbana,
- - a humorística, em que o autor faz graça com o
cotidiano;
7. - a crônica-ensaio, em que o cronista, ironicamente, tece uma crítica
ao que acontece nas relações sociais e de poder. Um grande
representante desse tipo de crônica é o jornalista Arnaldo Jabor;
- a filosófica ou reflexiva, Reflexões filosóficas sobre vários
assuntos. Apresenta uma reflexão de alcance mais geral a
partir de um fato particular.;
- e jornalística, que apresenta aspectos particulares de notícias ou
fatos, pode ser policial, esportiva, política etc.
8. Além da crônica narrativa, há uma modalidade mais
moderna, a argumentativa, na qual o objetivo maior do
cronista é relatar um ponto de vista diferente do que a maioria
consegue enxergar.
Ele, usufruindo-se do bom humor mesclado a toque sutil de
ironia, aposta no intento de fazer com que as pessoas vejam
por outra “face” aquilo que parece óbvio demais para ser
observado.
Seu caráter discursivo gira em tono de uma realidade
social, política ou cultural, onde esta realidade é verbalizada
em forma de protesto ou de argumentação, quase sempre
envolta por um tom até mesmo sarcástico, no intento de
criticar as mazelas advindas da esfera social.
9. É publicada geralmente em jornais e revistas;
Relata de forma artística e pessoas fatos colhidos no
noticiário jornalístico e no cotidiano;
Consiste em um texto curto e leve;
Tem por objetivo divertir e/ou refletir criticamente sobre
a vida e os comportamentos humanos;
Pode apresentar os elementos básicos da narrativa:
fatos, personagens, tempo e lugar;
O tempo e o lugar são normalmente limitados;
Pode apresentar narrador-personagem ou narrador-
observador;
Não há a conclusão do desfecho;
Geralmente a linguagem é a informal.
10. Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes
em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que
nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima
o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa
informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo
íntimos com o leitor.Portanto, se você não gosta ou sente
dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois
possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um
hábito agradável!
Algumas crônicas:
A cobrança
O Motel
A sexa
O estranho comportamento de Dona Leonor
A estranha passageira
11. Alguns cronistas:
- José de Alencar
- Machado de Assis
- Olavo Bilac
- Graciliano Ramos
- Rachel de Queiroz
- Clarice Lispector
- Rubem Braga
- Mario Prata
- Carlos Heitor Cony
- Moacyr Scliar
- Luís Fernando Veríssimo
12. Ladrão de livros de 85 anos é proibido de entrar em bibliotecas da
Califórnia. Folha Online, 14 nov.2002.
Ninguém compreende minha paixão por livros, suspirava ele. E era
uma grande paixão: o pequeno apartamento em que vivia estava
literalmente atualhado de romances, livros de contos, obras de autoajuda,
textos médicos, até. Não que ele os lesse. Ler era secundário. O
importante era possuir os livros, saber que toda aquela riqueza cultural do
passado estava ali, ao alcance de sua mão. A mão que acariciava as
lombadas, que folheava amorosamente as páginas.
O problema é que livros custam dinheiro. E dinheiro lhe faltava. Aos 85
anos, vivendo de uma modesta aposentadoria, o ancião não podia despender
muito em livrarias. Por isso roubava. ‘Roubo’, aliás, era uma expressão que lhe
desagradava; preferia falar em algo como ‘redistribuição da riqueza intelectual’.
Mas o eufemismo não o ajudava muito.
Nem as mãos trêmulas, nem a lentidão
13. Cada vez que ia roubar um livro, deixava cair uma pilha inteira no
chão. Mais do que isso, não sabia disfarçar: os bibliotecários sabiam
quando ele estava roubando. Pediam-lhe as obras furtadas de volta e,
justiça seja feita, ele nunca se negou a fazê-lo. Era parte de um jogo,
um jogo que ele adorava, e cujas sempre respeitou.
Infelizmente, porém, os bibliotecários cansaram deste jogo. E um
acordo entre eles resultou em uma decisão: o homem agora está
proibido de entrar nas bibliotecas. Não adianta ele dizer que quer
apenas consultar jornais. Não
adianta, também, dispor-se a ser revistado. A paciência dos
responsáveis simplesmente terminou.
Resta-lhe refugiar-se em seu sonho. E que sonho é este? Ele
sonha que um dia vai ganhar muito dinheiro - num cassino, ou numa
loteria. E aí comprará uma grande e antiga biblioteca - que será só
dele. Ninguém mais poderá frequentá-la. Só ele. Ali irá todos os dias.
14. Para roubar livros, claro. E os bibliotecários, seus
empregados, não poderão dizer nada. Mais: terão de fingir que não
percebem o furto. E ele roubará o quer quiser.
Belo sonho, consolador sonho. O único inimigo deste sonho é o
tempo. Com 85 anos, quanto mais ele poderá esperar pelo cassino
ou pela loteria? O tempo é um grande e implacável ladrão. E não
tem nenhuma paixão por livros.
Folha de S. Paulo, 25 nov.
2002
Como você observou, o escritor baseou-se em um fato cotidiano
para escrever seu texto. O que há de inusitado na notícia em que ele
se inspirou?
15. A estranha passageira
- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de
avião. Estou com zero hora de voo - e riu
nervosinha, coitada.
Depois me pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois
me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a
oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no
aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz o bacano
respondendo que estava às suas ordens.
Madama entrou no avião sobraçando um monte de
embrulhos, que segurava desajeitadamente.
Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e
arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como
amarrar o cinto e eu tive que realizar essa operação em sua
farta cintura.
16. Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros
estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu
embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia
aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas
íntimas. A coisa foi ficando ridícula:
- Para que esse saquinho aí? - foi a pergunta que
fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu
em São Paulo.
- É para a senhora usar em caso de necessidade -
respondi baixinho.
Tenho certeza de que ninguém ouviu minha
resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela
arregalou os olhos e exclamou:
- Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não
tem banheiro?
17. Alguns passageiros riram, outros - por fineza - fingiram
ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de
primeira viagem. Mas ela era um azougue (embora com
tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de
badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na
poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca
e empurrou o encosto com força, caindo para trás e
esparramando embrulhos para todos os lados.
O comandante já esquentara os motores e a aeronave
estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de
decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os
olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:
- Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só
pra ela? Expliquei que emergência não era ninguém, a porta
é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade,
saía-se por ela.
.
18. Madama sossegou e os outros passageiros já estavam
conformados com o término do "show". Mesmo os que mais de
divertiam com ele resolveram abrir os jornais, revistas ou se
acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.
Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela
janela (ela pedira para ficar do lado da janela para ver a
paisagem) e gritou:
- Puxa vida!!!
Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou
para a janela e disse:
- Olha lá embaixo.
Eu olhei. E ela acrescentou:
- Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o
pessoal lá embaixo até parece formiga.
Suspirei e lasquei:
- Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião
ainda não levantou voo.
19. Exercícios
1. “ É a primeira vez que viajo de avião.” Esta afirmação iria se
comprovar durante toda a crônica, tais os “vexames” dados pela
senhora. Assinale a frase que não demonstre um deles:
a) “Para que esse saquinho aí?”
b) “No avião não tem banheiro?”
c) “Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra
ela?”
d) “Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona...”
e) “...mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a
alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás...”
20. 2. “ Suspirei e fiz de educado respondendo que estava às suas ordens.”(
linhas 5 e 6). Os suspiros demonstram nesta passagem:
a) resignação;
b) contrariedade;
c) arrependimento;
d) aborrecimento;
e) raiva.
3. No título da crônica, a passageira é chamada de “estranha”. Outras
qualificações podem ser dadas a ela depois que lemos integralmente a
crônica. Assinale a que não lhe corresponde:
a) inexperiente;
b) envergonhado;
c) incômoda;
d) embaraçante;
e) ridícula.
21. 4. “Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos... “(linha 7).
Com o verbo “sobraçar” o autor- narrador quer dizer que a madama:
a) levava mais embrulhos do que era possível;
b) levava embrulhos de baixo do braço;
c) carregava um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;
d) trazia um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;
e) trazia a quantidade de embrulhos que era possível levar nas mãos.
5. “...minha vizinha apertava os olhos e lia qualquer coisa. ”(linhas 28 e 29).
Com a expressão “apertar os olhos” o narrador quer dizer-nos que a senhora:
a) não enxergava direito;
b) não sabia ler;
c) estava com sono;
d) que a porta de emergência estava longe de onde estavam sentados;
e) que sentia dores nos olhos.