1) O documento discute uma exposição de arte inspirada nas letras de Chico Buarque, com obras de vários artistas interpretando as músicas de forma visual.
2) Um poeta joinvilense chamado Rubens da Cunha ganhou o primeiro lugar em um concurso de poesia falada em São Paulo com seu poema "Tratado Sobre a Caça ao Poema".
3) O documento também resume parte do conteúdo do CD duplo "30 Grandes Sucessos" de Roberto Carlos, contendo principalmente sucessos antigos, com poucas mú
1. Ê NOSSOS ANUNCIANTES SÌO A GARANTIA DE CONTEòDO SEMPRE MELHOR E GRATUITO
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Roberto Carlos Música
Programação
passa
A imagem do som
do Cinema e
filmes na
o Natal com de Chico Buarque
TV.
Cinema
coletânea Inspirados em músicas
do compositor, artistas
Sem novidades e ressentida
recriam obras visuais de
dos anos 60, CD funciona
como consolo para fãs do impacto, com erros e
acertos
Rei
Walter de Queiroz Guerreiro
Rubens Herbst
Especial para o Anexo
Joinville - Este foi um ano duro para Roberto
Felipe Taborda, artista
Carlos. O câncer que acometia sua mulher
.. gráfico, desenvolveu o ..
voltou com força total e, segundo a imprensa
projeto de criar uma coleção
tem noticiado, seu estado é crítico, inclusive com
de arte inspirada na música,
poucas chances de sobrevivência. O tratamento
melhor diríamos na letra, dos
difícil, as viagens para o exterior, as vigílias pela
maiores compositores
saúde de Maria Rita e o natural estresse
brasileiros contemporâneos.
mantiveram o cantor longe dos estúdios e palcos
O projeto, iniciado no ano
em 1999, o que culmina, mais uma vez, num
passado com letras de
Natal diferente para os fãs. Sem repertório novo
Caetano Veloso, está dando
nem especial de fim de ano na Globo - uma
frutos saudáveis este ano,
tradição que vinha se mantendo desde 1974 -,
com Chico Buarque, a que se
eles terão que se contentar mesmo com mais
seguirão Roberto Carlos,
uma coletânea.
Gilberto Gil e outros durante
No ano passado, o mesmo expediente fora oito anos, construindo um
utilizado pela Sony, que recheou o lançamento painel das artes visuais de fins
com quatro canções inéditas. Em "30 Grandes do século 20, início do 21.
Sucessos - Volumes 1 e 2" há apenas uma nova
A série intitulada "A Imagem
composição, que abre cada CD da compilação
do Som" convida a cada ano
dupla. Com uma inspirada levada caipira e o
80 artistas das mais diferentes
discurso religioso de sempre, "Todas as Nossas
linguagens e suportes, de
Senhoras" é o resultado da única incursão do
ilustradores a artistas
"Rei" pelos estúdios neste ano. O resto, como já
conceituais, abrangendo todos
deu para perceber, são velhos sucessos, cavalos
os campos da criação. Para
de batalha pinçados de todas as fases da carreira
evitar direcionamento do
do cantor.
2. O lado romântico de Roberto Carlos, aquele que gosto subconsciente,
o elevou à condição de maior astro nacional a queiramos ou não, na escolha
partir dos anos 70, é privilegiado pela do tema Taborda optou por
compilação. "Detalhes", "Lady Laura", sortear as letras, numa
"Cavalgada", "Outra Vez", "Amada Amante", relação representativa da
"Café da Manhã" e, claro, "Emoções", não melhor poética de Chico
poderiam ficar de fora, bem como o Roberto Buarque.
devoto, representado por "Quando Eu Quero
Fornecer letras de música
Falar com Deus", "Nossa Senhora", "Jesus
como estímulo à criação
Salvador" e "Aleluia". "Canzone Per Te" mostra
plástica é um caminho
sua porção italiana, e "Mulher de 40" e
delicado, pelo perigo de a arte
"Caminhoneiro", sua produção mais recente. O
visual se tornar transformação
filé, porém, está nas faixas menos citadas em
imagética da palavra escrita,
shows e especiais - mas nem por isso menos
ou seja, de a arte visual
importantes -, caso de "O Portão", "Como Vai
perder sua liberdade,
Você", "Não Quero Ver Você Triste",
tornando-se literária. Esse
"Desabafo", entre outras.
intercâmbio vem de longe,
Mas há um problema - ou melhor, dois. O desde E. Cummings, passando
primeiro é que, apesar de a maioria das músicas por Ezra Pound sobre a
serem essenciais para entender (e curtir) o mito aparência da palavra e da
Roberto Carlos, não há fã que não tenha tudo teoria de que o poema, como
isso em casa. Até pelo fato de já ter lançado uma toda forma de arte, é um
coletânea no ano passado, a gravadora poderia objeto (vide hoje os
valorizar um pouco mais o suado dinheirinho do neoconcretos, Haroldo de
consumidor com algo menos redundante e mais Campos e afins). No lado
tentador. Às vésperas do fim do milênio, seria oposto, a característica da
uma ótima chance de desencavar sobras de maioria das obras
estúdio, velhas canções inéditas e faixas ao vivo contemporâneas é
do cantor, sozinho ou com alguns de seus desenvolver um código
inúmeros parceiros. próprio de leitura que não
pode ser lido de maneira
A segunda pisada, e ainda mais grave, é restringir autônoma, exigindo um
a fase da Jovem Guarda a uma única canção, "O discurso de explicações dos
Calhambeque". Ora, é impossível mapear a conceitos subjacentes. A arte
trajetória de Roberto Carlos dignamente sem conceitual, a mais cerebral
lembrar sua contribuição para a música brasileira das formas plásticas,
nos anos 60, quando ajudou a traduzir para o buscando autonomia, só
idioma nacional as inquietações e desejos que sobrevive através de códigos
tomavam conta da juventude ao redor do mundo. suplementares de
Onde estão "Quero que Vá Tudo para o Inferno", comunicação, pela linguagem
"Splish, Splash", "Parei na Contramão", escrita. Desta forma há uma
"Namoradinha de um Amigo Meu", "Eu Sou simbiose em que a obra para
Terrível", "É Proibido Fumar", e por aí vai? ser entendida, transforma-se
Imperdoável. em metalinguagem, no código
criado pela própria obra.
Sendo assim, a quem pode interessar uma
coletânea incompleta e sem novidades como Voltemos à exposição
esta? Talvez aos que se preferem apenas o inaugurada no Paço Imperial
Roberto baladeiro, ou então ao fanático que
3. engole qualquer coisa que lhe é empurrado de
(Rio de Janeiro) a 2 de
seu ídolo. Como já foi dito, não é de todo ruim,
dezembro, permanecendo até
mas fica um gosto esquisito na boca. É triste,
5 de março de 2000.
como a expressão de Roberto na capa do disco.
Comparada à exposição de
1998, dedicada a Caetano
Veloso, houve sensível
Poeta joinvilense amadurecimento nas
é premiado em SP propostas, registradas em
definitivo num livro-catálogo
Entre 441 inscritos e 12 selecionados, de alta qualidade gráfica,
patrocinado pela Petrobras.
Rubens da Cunha obtém o 1º lugar no
Concurso de Poesia Falada A multiplicidade de caminhos
da arte contemporânea é vista
GLEBER PIENIZ
pela leitura de cada artista,
Joinville - Oito anos de dedicação à poesia assim como a boa e má
renderam ao joinvilense Rubens da Cunha a carpintaria na criação
maturidade suficiente para conquistar, no último artística, a leitura direta e
dia 4, o primeiro lugar no Concurso de Poesia fácil da letra, a reflexão sobre
Falada 1999 da Biblioteca Mário de Andrade, de o conteúdo e a obsessão
São Paulo. Entre 441 trabalhos inscritos e 12 particular de cada um. Esta é,
selecionados para a fase de apresentação, foi aliás, uma característica
"Tratado Sobre a Caça ao Poema" o grande constante na obra
vencedor, texto premiado com R$ 1 mil. No ano contemporânea: o artista cria
passado, Cunha fora classificado em segundo um código de leitura que
lugar no mesmo concurso. perpassa toda sua criação,
desenvolvendo redação
Em novembro, uma comissão composta por dialética com o criado
cinco jurados apontou 12 trabalhos que deveriam anteriormente, compreensível
ser declamados pelos autores no dia 4 de para os que reconhecem ser
dezembro para um júri de três nomes que sua visão de mundo. Em
definiria a premiação. Cunha foi selecionado, termos de metalinguagem,
apresentou seu trabalho e voltou para Joinville existe contradição essencial,
com o primeiro prêmio. Sua conterrânea Patrícia o significante adquirindo
Claudine Hoffmann, vencedora da última edição significado preciso apenas no
do prêmio Lindolf Bell, também foi uma das 12 código próprio do autor.
concorrentes selecionadas para a fase final com
"Navegações Léxicas a Respeito do que Fica". A exposição revela grandes
Os poemas que concorreram na etapa de interpretações, como a de
apresentação integram, agora, uma exposição Oscar Ramos, sobre a letra de
itinerante pelas bibliotecas públicas paulistanas. "O Meu Guri". Partindo da
imagem criada por Matisse,
Cunha escreve desde os 20 anos e participa há em Saint Paul de Vance, da
dois do grupo de poetas Zaragata, que também Virgem e o Menino Jesus, o
tem Patrícia como integrante. "Quando um de artista substitui Jesus pela
nós ganha algum prêmio, a gente considera como foto de um menor de Belém
se todo o grupo ganhasse. Prezamos muito pela do Pará e superpõe uma
qualidade dos poemas", garante o escritor, poesia de Rimbaud sobre o
ex-surrealista que admira o trabalho de Hilda garoto que dorme tranqüilo,
Hilst, Jorge Lima e João Cabral de Melo Neto. O
4. convívio com o grupo, admite, lhe deu disciplina,
em oposição à dura realidade
base técnica e conhecimento, elementos
do pivete com a tarja negra,
preciosos que ainda não são suficientes para que
ocultando a identidade do
oriente sua poética em um caminho bem
menor delinqüente.
demarcado. "Ainda estou meio à cata de um
estilo, de uma linha mais conceitual", diz o De leitura imediata, e no
poeta. "Construo um conteúdo poético utilizando entanto de alta qualidade, é a
imagens e metáforas". escultura-objeto de Gabriel
Vilella, apontando claramente
"Tratado Sobre a Caça ao Poema" é um roteiro
em "Com Açúcar, com
em versos para a construção poética, texto
Afeto", a ligação literária nas
constituído de metáforas alusivas ao reino animal
balas verde-amarelas com
e à prática da caça. "Parti do princípio de como
trechos da música, dentro do
desenvolver um poema e usei a imagem dos
tacho de cobre tradicional das
felinos", explica Cunha, consciente de que este
doceiras interioranas.
conteúdo didático - e ao mesmo tempo
confessional - do trabalho pode ter colaborado Criando impacto visível,
para "seduzir os jurados". A utilização de porém se apropriando da
elementos como linces, leões, tigres e panteras já linguagem única de Arthur
faz parte do universo estético do poeta e será Bispo do Rosário, a artista
tema para o primeiro livro que Cunha pretende plástica Veronica D'Orey cria
lançar, ainda sem previsão de data. "Penso em o "Brejo da Cruz", bordando
um livro-conceito onde eu trabalharia a a letra da música e formando
metalinguagem usando a figura dos felinos". uma cruz de botões coloridos.
Como transliteração da
Escritor cuja produção é pouco ligada ao rigor
música será válida, não fosse
poético, Cunha garante que busca, agora,
a idéia ser marca registrada
agregar valores formais à lavra. "Gosto da
de um grande artista do
métrica porque ela me impõe um espaço",
inconsciente, à margem da
adianta, "mas não sou afeito à rima". "Se uso
sociedade.
rimas em meus poemas, são rimas internas",
avisa. Arnaldo Pappalardo cria uma
macrofotografia, a imagem
densa de um velho cravo,
Tratado sobre a caça ao poema citado na letra de "Tanto
Mar", enquanto Ruth Freithof
1 Da preparação relê o "Passaredo" em três
Na caça ao poema é preciso gravuras com recursos de
destituir-se de covardias. computação, citando pássaros
inexistentes na letra, o azul da
É preciso que os tremores vários liberdade, o sangue da vida, a
sentidos na preparação violência do grafismo
sejam apenas estratagemas das máscaras prenunciando o homem.
para enganar o poema.
Dentro da habitual postura
As máscaras devem ser incorporadas irônica de Nelson Leirner,
sobre os escombros da face: papa neodadá dos anos 60,
nunca mostrada, nunca vista, "Bem-querer" se transforma
nunca espelhada em verdades. em arte objeto, o tabuleiro de
xadrez opondo figuras de
5. Não se preocupe com verdades,
presépio em confronto com
são animais mitológicos de impossível caça.
seres elementais (gnomos?)
Detenha-se apenas no poema.
de falos eretos, na explicação
da fúria dos casais.
2 Da arma
Na caça ao poema é preciso A questão apontada
que o sonho seja o predador. inicialmente quanto à criação
de vocabulário próprio
Transforme seu sonho em fera. repetitivo como código de
Felinos são os mais completos. linguagem aparece em Alex
Cerveny na leitura de "Noite
Leões, leopardos, panteras, linces: dos Mascarados", ao
misto de silêncio e beleza, enfileirar colagem de
de amor e violência. máscaras. O caso se repete
com Amador Perez propondo
Jamais transforme seu sonho em um tigre. "Último Blues" dentro de sua
Tigres já não caçam mais poemas habitual execução impecável
depois que passaram a servir no desenho ao captar detalhes
à cegueira de Borges. da "Gioventú" de Eliseu
Visconti, rememorando a
3 Da sabedoria da fome sedução da boca e olhos da
Pense na escrita se fazendo fome ninfeta.
sobre os espaços em branco.
Faça com que seus felinos Em leitura bem brasileira e
partam em busca da presa direta, Ana Durães mostra "A
escondida nos contornos da palavra. Banda", tema adequado ao
universo popular, como as
Sinta o alimento respirando nas sombras, imagens dos Pífaros de
disfarçando-se em ausências. Caruaru, do mesmo modo que
Muti Randolph, utilizando
Sonhos transmutados em felinos recursos de computação
são sempre silenciosos. Não grite. gráfica e plotter, compõe seu
Não assuste o poema com a inexatidão da "Sabiá" intensamente tropical
pressa. e neo-antropofágico, clara
homenagem a Tarsila do
4 Do golpe final Amaral.
Felinos sabem matar. Poemas querem morrer.
Há nomes consagrados que
Deixe-os livres, instintivos, desapontam, como a
seguidores de suas próprias naturezas. instalação de Cildo Meirelles,
a montagem fotográfica de
Não tenha compaixão Adriana Varejão, o objeto de
quando um poema tenta a fuga Luiz Zerbini. Surpresa
e é pego e estraçalhado e lapidado agradável é a escultura de
pelos intensos dentes dos sonhos. Maninha, assemblage de
porcelanas de gosto duvidoso,
Depois de abatido, proteja seu poema tão kitsch quanto as
criando em volta dele referências às fogueiras,
muralhas transparentes de solidão. balões e luares do sertão da
O poema morto pode ser visto, cheirado música "Barrão".
6. mas jamais poderá ser comido
por quem não o caçou. Analisar mais é tarefa
impossível pela exigüidade de
Tenha sempre muito cuidado espaço (e paciência do leitor).
com as hienas e os chacais, A apenas a visão direta dessa
são caçadores ineptos, vivem de restos, importante mostra dá a
desejam sempre adonar-se dimensão real da
da caça que não lhes pertence. experimentação
contemporânea. A aparente
5 Da eterna insaciação indefinição da arte atual, com
Não acorde seus sonhos seus múltiplos caminhos, é
com a ofensa da derrota. exatamente o que demonstra
Felinos nunca sabem o que é perder. a validade da arte, leitura e
releitura, reflexão e
Cace eternamente. acomodação, sustentação do
Poemas são animais visual pela palavra e vôo livre
que precisam ser devorados. da imagem. Definir este
A sobrevivência deles está diretamente relacionamento amoroso,
ligada à sua própria morte. quase incestuoso entre artes,
é missão impossível,
Impregne o papel com a violência do amor, traduzível quiçá numa palavra
com a beleza insana do poder de caçar um única: arte, que na origem
animal significa capacidade de
que só deseja ser caçado. realizar.
Deixe sua marca no corpo sacrificado do poema. Walter de Queiroz
Ele pede por isso. Guerreiro é historiógrafo e
crítico de arte
Coma a carne crua de cada verso.
Alimente-se com a vida que o poema lhe Crônica
concedeu.
Eternize-se com o desejo de eternidade
José Mindlin,
contido em todo poema que se deixa matar. bibliófilo
Salim Miguel
As várias faces Para falar de uma vida entre
de Barry Adamson livros, título paradigmático de
seu livro de memórias, José
GLEBER PIENIZ Mindlin começa esclarecendo
que não gosta da expressão
Joinville - Barry Adamson é uma referência para "palestra". Muito menos
se tentar entender um pouco da música atual, "formal". Considera-se um
mesmo que a lição que tenha a dar pareça contador de histórias, que vai
confusa. Em 1977, com Howard Devoto desfiando o fio das
(ex-Buzzcocks), formou a lendária Magazine, lembranças - e assim envolve
banda extinta em 1981. Juntou-se a Nick Cave e o ouvinte e mesmo o leitor
à primeira formação dos Bad Seeds em 1984. que já lera suas andanças pelo
Com o bardo australiano, compôs e gravou
7. quatro discos sem restringir seu talento apenas
mundo, em busca de
ao baixo. Multinstrumentista, ganhou segurança
primeiras edições. É, em
para apostar em uma carreira solo que jamais
síntese, um papo gostoso, que
pecou pela falta de talento ou de coragem. É esta
vai-e-vem, recua e avança,
trajetória irretocável que a coletânea "The
como nas histórias das "Mil e
Murky World of Barry Adamson" (Roadrunner)
uma Noites", de que se
registra.
mostrou mais do que um
Em 12 faixas (três inéditas), Adamson mostra o apaixonado. Foi uma tarde,
que de melhor sua concepção de música pode na Aliança Francesa de
oferecer, ainda que seu universo temático não Florianópolis, em que todos
seja nada agradável. Como Cave e David Lynch nos encantamos com sua
(diretor de "A Estrada Perdida", filme para o facilidade de comunicação,
qual gravou quatro músicas), Adamson tem uma seu humor, sua memória
visão peculiar do lado negro da vida, do amor e prodigiosa, seu prazer de
da frustração, da ruína e da redenção. Vertidas viver.
em disco, estas crônicas malditas ganham leitura
Revela-nos que iniciou sua
sofisticada e abordagem digna da tradição das
vida entre livros aos 13 anos,
big bands, com metais em destaque, piano e uma
agora, aos 85, tem cerca de
gama fabulosa de timbres de teclados.
30 mil. Ou já serão mais? Ele
Engana-se quem considera o trabalho deste continua comprando.
músico, compositor e arranjador um sinônimo de Concorda com sua mulher: a
purismo e austeridade. Longe de apresentar uma partir de certo momento,
música sisuda ou datada, Adamson deturpa uma deixaram de ser donos dos
aparente reverência ao passado com livros, os livros é que são
intervenções eletrônicas, linhas de baixo donos deles.
marcantes, bases pré-gravadas e vocais que vão
O livro é para ele como um
da rouca insinuação à pura canastrice. De "Moss
ser vivo. Dá exemplos:
Side Story", seu primeiro disco solo (1988), saem
precisou selecionar cem de
"The Man With the Golden Arm" e "The Big
seus livros para uma
Bamboozle", temas bastante ortodoxos
exposição. Foi difícil; todos
amparados pelo baixo e pelos metais que são
queriam se mostrar; uma
trazidos à modernidade para contrapor vozes
ciumeira danada. Teve de
distorcidas. "007, A Fantasy Bond Theme" (de
acalmar os que não foram
"Soul Murder", 1992) ambienta em paragens
escolhidos, dizendo que mais
tropicais uma versão quase irreconhecível do
adiante teriam vez.
tema do agente secreto.
Difícil também foi atender à
"The Vibes Ain't Nothing but the Vibes" (de
solicitação de uma lista de
"Oedipus Schmoedipus", de 1996) mistura piano,
cem livros importantes, que
aplausos e uma voz a la Barry White sobre base
constituiriam a base do
cândida de vibrafone, instrumento que também
acervo de uma escola. Tarefa
se faz ouvir em "Can't Get Loose", fazendo
impossível, em vez de livros
oposição à bela melodia vocal sobre uma base
indicou cem autores; não
pós-punk. A crueza dá o tom na inédita "Mitch
satisfeito fez uma lista
and Harry", construída apenas de uma narração
complementar de mais 20.
ao pé do ouvido aliada a um tema de suspense.
Lancei a isca, perguntei-lhe
Voltando aos exageros polifônicos, Adamson dá
se conhecia as listas de
personalidade à "Saturn in the Summertime"
Carpeaux e Marques Rebelo.
acrescentando-lhe assobios, violinos e o
8. trumpete com surdina de Guy Barker. A melodia
O artifício funcionou, Mindlin
vocal reassume a condução na inédita "Walk the
puxou de uma pasta e leu sua
Last Mile" e passa incólume até mesmo pelos
relação, feita em ordem
loops eletrônicos. Do jazz ao drum 'n' bass, do
alfabética. O segundo era
rock a ousadias harmônicas, "The Murky World"
Alain Fournier, autor de um
é a melhor porta de entrada para o universo de
único livro, "Le grand
irreverentes revisionismos e contradições
Meaulnes", morto na guerra
temporais de Barry Adamson. Tome cuidado e
de 1914/18. Eu o havia lido
seja bem-vindo.
por indicação do Marques
Rebelo.
"De Corpo e Da lista, ele passa para suas
preferências literárias. Poucos
Alma" estréia no Guairão hispano-americanos e menos
Joel Gehlen ainda norte-americanos. Lê e
Especial para o Anexo relê Proust; admira o Joyce
de "Dublinenses", mas não
Curitiba - O Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba, afina com o "Ulisses"; se
entra em cena hoje estreando "De Corpo e fosse forçado a escolher só
Alma", um espetáculo de dança, em muitos dois autores, seriam Balzac e
aspectos, especial. O programa composto por Proust; só um romance,
dois números, "O Segundo Sopro" e "Tango", "Guerra e Paz", de Tostoi.
comemora os 25 anos de inauguração do grande Sublinha a importância de
auditório do teatro, conhecido como "Guairão", "Os Sertões", mas diz que
e promove uma espécie de renascimento do organizaria o livro começando
BTG, companhia das mais importantes do País, pela última parte. Falar de
que está completando 30 anos de atividades. autores contemporâneos lhe é
mais complicado; não
Criado em 1969, o Balé do Teatro Guaíra possui consegue dissociar o escritor
um respeitável repertório, com obras de alguns do cidadão; apesar dos
dos mais expressivos nomes da dança nacional e elogios, nunca leu Celine por
internacional. Já foi dirigido por grandes nomes causa de sua adesão ao
do balé mundial, como Yurek Shabelewski, Hugo nazi-fascismo.
Delavalle e Carlos Trincheiras. Ao longo de sua
existência, o BTG tem trabalhado com Como todo colecionador que
importantes coreógrafos, dentre eles John Butler se preza, Mindlin valoriza
("Catulli Carmina", de Carl Orff, em 1981), certos aspectos do livro, para
Maurice Bèjart ("Opus V", de Webern, em além de primeiras ou antigas
1981), Renato Magalhães ("Concerto em Sol", edições: se o volume é
de Ravel, em 1986), Vasco Wellenkamp autografado, se passou por
("Exultate Jubilate", de Mozart, em 1987), mais de um dono, folheia o
Rodrigo Pederneiras ("Dança da Meia-Lua", de livro com curiosidade ou
Edu Lobo e Chico Buarque, em 1988), Luiz ternura, vai à folha de rosto,
Arrieta ("Estância", de Alberto Ginastera, em ao colofão, estuda a tipologia,
1991), Milko Sparembleck ("Os Sete Pecados as ilustrações - e muito mais.
Capitais", de Kurt Weill, em 1992; e "Canções Ele fala com entusiasmo de
de Wesendonck", de Wagner, em 1993), Márcia muitas preciosidades, entre
Haydée ("Coppelius, o Mago", de Delibes, em elas uma Bíblia de Gutenberg.
1996).
Além de bibliófilo
9. Para esta última temporada do século, o BTG apaixonado, Mindlin é um
passou por uma renovação, do elenco à direção. benemérito das artes. Sei que
Para dirigi-lo, foi contratada a jornalista e ele não aprecia o
ex-bailarina Suzana Braga, personalidade "benemérito". Paciência. Não
conhecida em Santa Catarina pelas participações tenho outra maneira para
como crítica de dança do ANFestival, defini-lo. Durante anos, com
suplemento especial publicado por A Notícia sua empresa Metal Leve, ele
durante a realização do Festival de Dança de lançou importantíssimas
Joinville. edições fac-similares (entre
outras a "Revista de
Desde que Suzana assumiu a direção artística do Antropofagia", de Oswald de
BTG, em setembro último, a companhia Andrade, e a "Revista Verde",
selecionou 12 novos bailarinos. Entre eles, Saulo do Grupo de
Fujita, bailarino paulista também conhecido em Cataguazes/MG), ou
Joinville, onde, além de premiações oficiais no patrocinou lançamentos como
FDJ, recebeu o Troféu ANFestival, de A Notícia, "Frente e Verso", sobre Carlos
em 1998. Outra personalidade com passagem Drummond de Andrade, onde
pelo festival que passou a integrar o staff do figura uma foto dos jovens do
Guaíra é Beatriz de Almeida, ex-primeira Grupo Sul, num encontro com
bailarina do Stuttgart Ballet, da Alemanha, que o poeta, na década de 50.
ocupa o cargo de maitre de ballet. Temos experiência direta de
seu apoio a projetos culturais.
Durante todo o tempo em que
circulou a revista "Ficção (RJ,
Congraçamento com 1976/79), manteve nela
a dança brasileira anúncio da sua Metal Leve. É
bom lembrar que esta
Para coreografar os dois espetáculos de "De empresa pioneira, devida à
Corpo e Alma" foram contratados o argentino política entreguista do atual
Eduardo Ibañez e a paulista Roseli Rodrigues. governo, teve, como tantas
outras, de ser vendida para
Em "O Segundo Sopro", Roseli trabalha com os um grupo estrangeiro.
sentidos de elementos como o vento, a água e
pedras semipreciosas, levando ao extremo Alguém lhe perguntou:
algumas de suas marcas: ousadia, intensidade e quantos livros formam sua
fluidez em formas acrobáticas, deslizantes e biblioteca? Respondeu que
unidas. O grande desafio que Roseli propõe aos uns 30 mil. Outro: já leu
bailarinos é dançarem no palco coberto por água, todos? Retrucou: impossível,
elemento dificílimo, que exige grande técnica e precisaria ter o dobro da
sincronismo perfeito. O resultado é um idade que tenho. Lembrei-me
espetáculo a um só tempo lírico e audacioso. A de um diálogo parecido,
peça tem música especial, composta por Fábio quando eu lhe disse: ledo
Cardia. engano, você sempre teria
novos - velhos livros para
"Tango", o segundo número da noite, é inspirado adquirir e ler, seria necessário
(e, ao mesmo tempo, tributo) a um século do mais tempo de vida e assim
ritmo portenho. A coreografia de Eduardo sucessivamente.
Ibañez trabalha com os componentes básicos
desta dança sedutora, desde os temas musicais José Mindlin insiste em que o
históricos como "El Dia en que me Quieras" até
10. composições modernas como "Tangueira", de
livro é imprescindível e
Astor Piazzolla. Dançado em seus passos
insubstituível para quem sabe
tradicionais e nas pontas, "Tango" faz um passeio
ler, supera tudo o que surge
pelas principais personalidades desta música, em
pensando suplantá-lo.
seus cem anos.
Confirma, assim, uma frase
A estréia de hoje à noite, comemorando os 25 de Alberto Manguel, autor da
anos do Guairão e os 30 anos do BTG, será excelente "Uma História da
também um congraçamento com a dança Leitura". Perguntado a
brasileira, reunindo em Curitiba representantes respeito da afirmativa de Bill
de todas as companhias oficiais do País e muitos Gates de que a era do livro
nomes expressivos da dança nacional. chegara ao fim, retrucou:
"Para dizer isto Bill Gates
escreveu um livro".
Escola de balé encerra
o ano com noite beneficente
Joinville - A Escola Municipal de Ballet da Casa
da Cultura da Joinville faz, hoje à noite, seu
espetáculo de encerramento de ano no palco do
Centreventos Cau Hansen. Do clássico ao
contemporâneo, bailarinas e coreógrafos
apresentam à comunidade os números que,
durante todo o ano, foram premiados em Santa
Catarina e em outros Estados.
No início do ano, o grupo juvenil da Escola
Municipal de Ballet da Casa da Cultura obteve o
primeiro lugar no Festival de Dança de Niterói,
no Rio de Janeiro, com as coreografias "Pássaro
Azul" e "Vulnerasti", ambas de Marcos André
Sage, um dos professores da Casa da Cultura de
Joinville.
"Dueto Para Sylvia", outra coreografia de
Marcos Sage, voltou do festival carioca com o
prêmio pelo terceiro lugar, mesma colocação que
"Ad Genua" (um fragmento de "Todas as
Mulheres da Minha Vida") obteve no Festival 5º
Santa Maria em Dança, no Rio Grande do Sul,
realizado em setembro.
Em julho, fragmentos de "Weltlos" deram a
Marcos André Sage e ao grupo juvenil da escola
o primeiro lugar no Festival de Dança de
Joinville. "Referência", coreografia de Sigrid
Nora, também deu ao Grupo Cidade de Joinville
da Casa da Cultura o primeiro lugar na última
edição do maior festival de dança do País.
11. Produção
O espetáculo de hoje à noite é beneficente e seu
programa prevê a apresentação de 15
coreografias divididas em duas partes que
mostram a produção dos professores Marcos
Sage, Alessandra Beatriz Hilário, Fabine Évelin
Romão e Maria Antonieta Spadari à frente de
seus alunos de diversas idades.
A apresentação de encerramento de ano da
Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura
da Joinville inicia às 20h30 e tem como ingresso
apenas um quilo de alimento não-perecível.
Papai Noel perde espaço
na publicidade de Natal
Agências esquecem do espírito natalino e
colocam atores no lugar do "om
b
velhinho"
Rodrigo Teixeira
TV Press
Papai Noel está em baixa neste Natal. E isso fica
claro nas publicidades natalinas. O "bom
velhinho" perdeu espaço para atores,
apresentadores e até desconhecidos contratados
por agências. O ator Thiago Lacerda, por
exemplo, aproveita o embalo de seu personagem
Matheo, de "Terra Nostra", e além dos inúmeros
comerciais regionais, aparece incessantemente
no reclame da Caixa Econômica Federal. Já
Gugu Liberato, apresentador do "Domingo
Legal", no SBT, encabeça a campanha natalina
da Arno. Na compra de qualquer produto da
marca, o consumidor vai estar ajudando famílias
carentes do Nordeste, pois uma parcela do
dinheiro vai ser revertida em cestas básicas.
Um dos únicos comerciais em que aparece o
representante brasileiro do Papai Noel é do
celular Nokia. Mesmo assim, o "bom velhinho"
não diz uma palavra e só segura o aparelho na
mão, seguido da frase em off "neste Natal, o
mundo todo só fala nele". No anúncio da
Coca-Cola, a participação do Papai Noel
12. também é quase nula. Ele só dá o ar da graça no
último take, quando com uma garrafa do
refrigerante na mão, pede silêncio para o
comboio da Coca-Cola passar por uma cidade.
As mensagens dos anúncios também estão mais
ligadas à tentativa de reforçar o produto e não
passar uma mensagem que, além de atiçar o
espectador a comprar, o faça pensar sobre o que
representa a festa natalina. A campanha da Arno
é uma das poucas com uma proposta social. A
Bauducco também tenta passar alguma
mensagem, já que trabalha com o slogan
"aproveite o Natal para aprender a dividir", mas
não vai além de mostrar crianças com panetones.
Já os comerciais da Caixa Econômica com
Thiago Lacerda são muito mais para abocanhar o
13º dos brasileiros, enquanto a Estrela se resume
a dizer que "neste Natal, não importa o
brinquedo, tem que ser Estrela". Só usam a festa
natalina como gancho, porque nem a imagem do
Papai Noel utilizam.
Até mesmo as emissoras estão demorando para
exibir suas mensagens natalinas ou de próspero
Ano Novo. A Globo, que sempre produz
chamadas de seu elenco no início de dezembro,
até a primeira quinzena deste mês se limitava a
chamar os programas dedicados ao Natal e a
passagem do ano e insistir na frase persecutória
"todo mundo de olho na Globo". A Band, por
exemplo, assim como SBT e Record, só irá
mostrar os funcionários dedicando "feliz Natal e
um próspero ano novo" poucos dias antes das
datas festivas. Até mesmo as músicas natalinas
tradicionais ou novas canções publicitárias não
estão sendo exploradas este ano. O jingle de
Marcos Valle, usado pela Globo desde a década
de 70 ("hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é
de quem quiser, quem vier..."), parece que foi
esquecido por completo.
A ausência de alguns comerciais de marcas
famosas também ajuda para o "bom velhinho"
estar sentado no banco dos reservas das
agências. Uma propaganda como a do extinto
Banco Nacional, por exemplo, é até hoje
lembrada. Mas parece que os profissionais de
criação publicitária atuais não conseguem repetir
a fórmula, já que o comercial contava com uma
melodia de fácil assimilação e uma letra simples