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J o i n v i l l e                   ­                    D o m i n g o ,   1 6   d e   J u n h o   d e   2 0 0 2                   ­                    Santa Catarina  ­  Brasil



                                                                                                                                                                                                                       
                                                                                                                                                                                                                 


    ANotícia                                                               SURPRESAS NA RUA
                                                                                                                                                                                           Leia também
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                                                                           extrapola a simples remodelagem dos                                                                       Passeio
                                                                           muros e inclui outras manifestações 
                                                                           culturais                                                                                            cheio de surpresas
                                                                           Fotos: James Tavares
          
                                                                                                                                                                 Postes de duas ruas de Jaraguá do 
                                                                                                                                                                  Sul são transformados em novos 
                                                                 Trindade                                                                                                suportes artísticos

                                                               com cara nova                                                                                  Jaraguá do Sul ­ Tudo mudou. Agora, cada poste é 
                                                                                                                                                              motivo de exclamação. As crianças ficam 
                                                                                                                                                              encantadas, obrigando os pais a pararem no meio 
                          Projeto de revitalização do espaço urbano em bairro da 
                                                                                                                                                              do caminho. Os adultos nem sempre sabem 
                                   Capital envolve artistas e comunidade                                                                                      responder a tantas perguntas diante de imagens e 
                                                                                                                                                              desenhos inusitados. A principal rua do bairro 
                                                                           Carla Pessotto                                                                     Czerniewicz, a Jorge Czerniewicz, que passa em 
                                                                                                                                                              frente ao centro cultural da Sociedade Cultura 
                                 os poucos, o visual do bairro Trindade, na                                                                                   Artística (Scar) de Jaraguá do Sul, sofreu radicais 
                          A      Capital, vai mudando. Muros antes cinzas ou 
                                 recobertos por cartazes estão ganhando 
                                                                                                                                                              modificações com a transformação dos cinzentos 
                                                                                                                                                              postes em painel para obras de artistas locais, 
                         desenhos e cores através do trabalho desenvolvido por                                                                                ganhando cores e formas em estilos variados, do 
                         um grupo de artistas plásticos da cidade. O processo                                                                                 clássico ao contemporâneo. O mesmo aconteceu 
                         de revitalização do espaço urbano do local, no                                                                                       com outros 16 postes da rua Ângelo Rubini, na 
                         entanto, começou há mais tempo e envolve uma série                                                                                   Barra do Rio Cerro, rua que dá acesso ao Parque 
                         de outras ações.                                                                                                                     Malwee e a Pomerode. 
                         Nos últimos dois anos, quatro projetos foram sendo                                                                                   Os artistas plásticos de Jaraguá do Sul e o 
                         colocados em prática pela Associação dos Empresários da Trindade                                                                     convidado especial Môa mostraram sua técnica e 
                         (Asset), entidade vinculada à Associação Comercial e Industrial de                                                                   habilidade num novo suporte. O projeto foi 
                         Florianópolis (Acif). O primeiro foi dirigido à limpeza  o Trindade Limpa,                                                           idealizado pela diretora de artes da Scar, Denyse 
                         com a colocação de 65 lixeiras ao longo das duas principais vias, Lauro                                                              Zimmermann da Silva. "A idéia é mostrar os 
                         Linhares e Madre Benevenuta.                                                                                                         talentos dos nossos artistas, e também embelezar 
                         Depois, foi a vez do Trindade Verde, com a adoção de praças e canteiros,                                                             a cidade", situa ela. 
                         que ganharam novas plantas e manutenção constante. O trabalho teve                                                                   A diversidade plástica impressa nas obras é o 
                         continuidade com o Ande Bem, que incentiva a padronização das                                                                        ponto alto do projeto, que contou com o apoio das 
                         calçadas pelos proprietários dos imóveis e que já trocou 300 metros de                                                               "Voluntárias da Arte", denominação dada a 17 
                         passeio.                                                                                                                             pessoas que facilitam o trabalho dos artistas. Um 
                                              "É possível sentir uma mudança nos moradores e em                                                               dos próximos desafios da Associação 
                                              quem estuda ou trabalha no bairro. Eles se sentem                                                               Jaraguaense dos Artistas Plásticos (Ajap) é 
                                              mais valorizados", afirma Rodolfo Hess Neto,                                                                    conseguir autorização para fazer pinturas artísticas 
                                              empresário e morador do bairro, que também participa                                                            no viaduto do bairro Vila Lenzi.
                                              da Acif­Asset.  
                                              Para Rafael Pereira Oliveira, produtor cultural da Áprika, 
                                              que assina a coordenação do Trindarte  projeto que 
                                              inclui a pintura dos muros  de imediato, o novo visual 
                                                                                                                                                                                          Participantes
                                              tem como conseqüência uma mudança de humor nos 
                                              moradores, pela aparência mais agradável das ruas. "O 
                         acesso à arte de qualidade também estimula uma reflexão crítica, que                                                                                       Revitalização
                         passa a ser utilizada pelas pessoas no cotidiano", argumenta ele.                                                                                        do espaço urbano
                         "Estamos criando uma galeria de arte ao ar livre."
                         Ana Paula Alves de Souza, estudante de música na Universidade Federal 
                                                                                                                                                              1ª Etapa 
                         de Santa Catarina (Udesc), é uma das artistas do projeto Trindarte. 
                                                                                                                                                              Adolfo Zimmermann, Mármara Gonçalves, 
                         Responsável pelo pintura de dois muros, ela tem como inspiração as 
                                                                                                                                                              Mariângela Ferreira Guimarães, Rossana Subtil, 
                         inscrições rupestres ­ desenhos em rochas deixados por civilizações pré­
                                                                                                                                                              Ana Paola Bruck Ramos, Fernando Bastos, 
                         históricas.
                                                                                                                                                              Marilda Freitas Puff, Rosane Breithaupt, Reinhardt 
                         "A arte visual é uma linguagem. O meu trabalho tenta passar uma 
                                                                                                                                                              Mathias Conrads, Dú Jahnke, Inácio Carreira, Tito 
                         mensagem sobre a necessidade de preservação da cultura e de respeito 
                                                                                                                                                              Hille, Marisa Kaufmann, Celaine Refosco, Paulo 
                         aos nossos ancestrais", explica. Segundo ele, o processo histórico leva a 
                                                                                                                                                              Saban, Valdete Hinning, Heloísa Hinning, Cristina 
                         uma elitização da arte, enquanto que essa proposta, garante, é 
                                                                                                                                                              Pettri, Fernando Bastos, Cláudia Flesch e Daniele 
                         democratizante.
                                                                                                                                                              Ehlert
                         O Trindarte extrapola a simples remodelagem dos muros e inclui todas as 
                         manifestações culturais, explica Pereira Oliveira. Já foram organizados 
                         espetáculos de teatro, dança e música ao ar livre, com acesso grátis à                                                              2ª Etapa 
                         população. A fase atual propõe a formação de arte­educadores que,                                                                   Rosane Breithaupt, Adolfo Juliano Zimmermann, 
                         depois de fazer um estágio já acertado com Gilberto Dimenstein em São                                                               Valdete Hinning, Cristina Pettri, Maria Aparecida 
                         Paulo, vão atuar junto aos alunos de 5ª a 8ª séries da Hilda Theodoro e                                                             Maes Beleza,
                         Simão Hess, duas escolas públicas do bairro. O jornalista desenvolve o                                                              Karla Graciola, Fernando Bastos, Inácio Carreira, 
                         projeto Aprendiz junto a crianças carentes da periferia de São Paulo, que                                                           Paulo Saban, Bianca Macoppi Oliari, Mônica 
                         tem como suporte a arte. "Depois disso, os alunos é que deverão pintar                                                              Macoppi, Tito Hille
                         os muros", explica o produtor.                                                                                                      Aurélia Valentin Gomes, Beatriz Bertoli de Araújo, 
                         Outra proposta é a criação de um quiosque cultural, um caminhão­palco                                                               Roberto Lanznaster, Marina Lueders, Môa, Rodrigo 
                         itinerante, que fará uma apresentação semanal em locais diferentes do                                                               Martello, Michel Albuquerque, Jonas dos Santos, 
                         bairro. "Temos a chancela municipal e estadual para a captação de                                                                   Marisa Kaufmann, Denyse Zimmermann da Silva, 
                         recursos através das leis de incentivo cultural e são estes recursos que                                                            Ana Paola Bruck Ramos, Rossana Subtil,
                         irão viabilizar a idéia."                                                                                                           Marilda Freitas Puff, Ronaldo Lima
                                                                                                                                                             Edson Lima, Celaine Refosco, Alencar Giovanella, 
Dú Jahnke, Diovani Rubens Riedel e Marlene Mann


              Dança dá ritmo e movimento
              ao galpão cultural de Joinville                                                  Aposta na
                                                                                            força da família
  Divergências na Casa da Cultura mudam rumos dos 
  professores, que montam oficina já com resultados                                Em cartaz em São José, "Os 
                                                                                Excêntricos Tenenbaums" fala das 
                              Marlise Groth
                                                                                 relações humanas com humor e 
Joinville ­ Após 12 anos de trabalho na Escola Municipal de Balé da Casa                    amargura
da Cultura Fausto Rocha Júnior, em Joinville, o professor Marcos Sage, 
detentor de 25 prêmios como coreógrafo e bailarino, alça novos rumos.                         Luiz Carlos Merten 
Desde março, ele, em conjunto com a professora Alessandra Hilário, é o                         Agência Estado
responsável pela Oficina do Ballet instalada na Cidadela Cultural 
Antarctica. As atividades, que iniciaram meio no improviso, já ganharam       São Paulo ­ Talvez a mais clássica de todas as 
forma. O galpão, destinado ao ensino de dança, recebeu benefícios e           histórias sobre crianças prodígios que viram 
embora ainda necessite de ajustes, com o apoio dos alunos ­ e seus            adultos fracassados seja a de "O Que Terá 
familiares, tornou­se um local onde é possível realizar ensaios regulares,    Acontecido a Baby Jane?", de Robert Aldrich, com 
criar e trabalhar em harmonia.                                                Bette Davis e Joan Crawford como as duas irmãs 
Prova disso são as 16 coreografias ensaiadas na oficina, em parceria com      que nunca se amaram e agora fazem de tudo para 
os integrantes do Projeto de Apoio e Incentivo ao Esporte Educacional         infernizar a vida uma da outra. Wes Anderson não 
(Paiee). Além de oferecer aulas regulares de balé clássico, o espaço          segue essa trilha em "Os Excêntricos 
assessora grupos locais que buscam aperfeiçoamento. O Paiee é o               Tenenbaums". O filme, em cartaz em São José, 
primeiro deles. Todo o trabalho é gratuito.                                   possui um charme todo particular. Não é nem um 
A transferência de Marcos Sage e Alessandra Hilário para a Cidadela           pouco realista ou naturalista. Anderson trabalha no 
Cultural Antarctica não se deu por acaso. Como explica o diretor cultural     registro da parábola. Mostra personagens 
da Fundação Cultural de Joinville (FCJ), Jair Mendes, é fruto de um           confrontados com eles mesmos, que precisam 
problema de "coexistência pacífica que existiu ano passado na Escola          reavaliar suas vidas para seguir em frente. 
Municipal de Ballet. Esses professores prestam um serviço fabuloso à          Já era assim em seus filmes anteriores, "Pura 
comunidade. Não podíamos deixá­los na rua por causa de diferenças             Adrenalina" e "Três é Demais", mas agora ele 
pessoais com a administradora da escola, Flávia Vargas", justifica.           muda completamente o tom. A família Tenenbaum 
O interessante, é que além de Marcos e Alessandra, concursados,               é realmente excêntrica. O primeiro capítulo do 
nenhum dos professores contratados para lecionar ano passado                  filme, narrado como conto infantil, com direito a 
permanece na Escola Municipal de Ballet em 2002. O quadro foi todo            ratinho na esquerda da tela e tudo, mostra quem 
remodelado. Segundo a diretora da Casa da Cultura, Marina Mosimann, o         são essas pessoas. As crianças são todas 
motivo alegado por Flávia Vargas foi "que os antigos professores não se       geniais. Um é um gênio das finanças que 
enquadravam em sua maneira de trabalho". Para Marina, que lamenta os          comanda um escritório como se fosse a coisa 
atritos, não se pode questionar o profissionalismo dos professores, mas é     mais natural do mundo, outro é campeão de tênis 
preciso respeitar a coordenadora que assumiu o cargo em 2001, com             e, a terceira, pois é ela, é uma menina que foi 
autonomia didática e pedagógica.                                              adotada e publicou sua primeira peça aos 10 anos. 
Em 2001, o impasse administrativo e pedagógico chegou a tal ponto que 
os professores teriam pedido a exoneração de Flávia. "Ela tirou nossa         Anjelica Huston é a mãe e viaja no sucesso dos 
autonomia em classe e criou uma situação de paternalismo junto a um           filhos, escrevendo um livro sobre o processo de 
grupo de alunas que originalmente pertenceu à sua própria academia",          lidar com todas essas personalidades fora de 
comenta o professor Ronald Soares. Para as jovens Sarah Fanarof, 16,          esquadro. Gene Hackman é o pai e aqui o 
Tatiane Guesser, 16, Kayka Oliveira Couto, 12 e Zaiane Almeida, 16, a         problema é mais complicado. Ele não apenas não 
transferência do professor Marcos Sage para a Cidadela Cultural               liga para a genialidade dos filhos. Não liga para 
Antarctica foi um pouco traumatizante, mas só serviu para ressaltar sua       eles, mesmo. 
competência.                                                                  Papai e mamãe separam­se, mamãe arranja um 
"Joinville precisa descobrir o valor do Marcos. Ele tem muito talento para    pretendente e os filhos, que eram gênios, revelam­
ficar escondido aqui", argumenta Sarah que há oito anos iniciou estudos       se adultos fracassados. Você já viu esse filme, 
de balé na Casa da Cultura. Para Zaiane, sete anos de clássico, "é um         mas nunca tratado dessa maneira. Por uma série 
absurdo ver o professor sair da Casa da Cultura, um local que ajudou a        de circunstâncias, a família vê­se reunida sob o 
construir". Em licença maternidade, Flávia Vargas foi procurada cinco         mesmo teto. O pai simula estar morrendo de 
vezes, por telefone, mas não retornou as ligações para comentar o             câncer para ser aceito. Os filhos exibem graus 
assunto.                                                                      variados de ressentimento. O mais radical é Ben 
                                                                              Stiller, o ex­gênio das finanças. Luke Wilson, o ex­
                                                                              campeão de tênis, é apaixonado pela irmã, mas 
                                                                              Gwyneth Paltrow, afinal de contas, não é irmã de 
                                                                              verdade. E há um quarto "irmão", interpretado por 
                   Autonomia amplia                                           Owen Wilson. É o vizinho cujo único sonho era 
             entusiasmo e agenda do grupo                                     fazer parte da família Tenenbaum, sendo aceito 
                                                                              como um deles. Espera consegui­lo casando­se 
Com autonomia para trabalhar na Oficina do Ballet instalada num dos           com a outrora promissora dramaturga Gwyneth. 
galpões da Cidadela Cultural Antarctica, Marcos Sage e Alessandra             Brigas, ressentimentos, todo tipo de agressões 
Hilário estão com agenda cheia. Ministram aula de balé clássico para          verbais e até físicas. A família desintegrou­se, mas 
crianças e adolescentes, e dão assessoria para grupos de dança                isso não dura muito tempo, pois o diretor 
contemporânea. "Um dos principais pontos que diferencia uma escola de         Anderson acredita na unidade familiar, a despeito 
balé de uma academia é a regularidade de aulas. E é assim que                 de tudo. Mas convém não assistir a "Os 
trabalhamos, com aulas diárias. O ensaio de coreografias é apenas uma         Excêntricos Tenenbaums" à espera de um happy 
conseqüência do processo", destaca o professor.                               end, pelo menos no sentido convencional. A 
Satisfeito com os resultados obtidos até o momento, e com a procura           família, apesar de tudo, une­se, mas a mistura de 
pelo trabalho (que atrai novos interessados e simpatizantes a cada            alegria e tristeza, de humor e drama é que dá o 
semana), Sage aposta na qualidade "independente do lugar de trabalho".        tom do filme. Você vai rir, com certeza, mas não é 
Apesar das dificuldades, ele e Alessandra tiveram três coreografias           uma comédia desopilante. Há um travo amargo 
selecionadas no 20º Festival de Dança de Joinville, e planejam, em            que emerge da dificuldade dessas relações e do 
conjunto com o Paiee, participar de mostras em Santa Maria, Bento             que as pessoas precisam abrir mão para entender­
Gonçalves e Porto Alegre.                                                     se. Wes Anderson pode não ter inventado a 
A parceria também deve render, no final do ano, um espetáculo temático        fórmula, mas cria o que não deixa de ser uma 
com 60 minutos de duração, onde participam todos os alunos que fazem          fantasia com os pés bem firmes no chão. 
aperfeiçoamento na oficina. Entre estudantes do Paiee e regulares de          Boa parte do encanto de "Os Excêntricos 
clássico, a companhia alcança o número de 80 integrantes. Para o                Tenenbaums" vem do trabalho dos atores, todos 
coreógrafo Ronald Soares, é gratificante ver o bom entrosamento do grupo        ótimos, num registro não naturalista. Gwyneth 
e a qualidade do trabalho desenvolvido em conjunto. "Iniciativas como           Paltrow e Anjelica Huston são ótimas, mas quem 
essa revertem positivamente para a cultura. Em contrapartida, as                rouba a cena é Gene Hackman. Desde "Uma 
empresas precisam apoiar os grupos locais, valorizando quem realmente           Rajada de Balas", de Arthur Penn, nos anos 60, 
faz a história da dança no município", resume.                                  no qual fazia o irmão de Clyde Barrow, Hackman é 
A Oficina do Ballet da Cidadela Cultural Antarctica ministra aulas              considerado um dos grandes atores de Hollywood. 
regulares de balé, gratuitas, para crianças e jovens maiores de dez anos.       Curiosamente, não é um dos preferidos do público, 
Informações sobre aulas e aperfeiçoamento para grupos podem ser                 pelo menos no Brasil, onde seus filmes raramente 
obtidas no local, em horário comercial. O trabalho é reconhecido e              emplacam e viram grandes êxitos. Hackman 
financiado pela Fundação Cultural de Joinville (FCJ). (MG)                      poucas vezes esteve tão bem e num papel que lhe 
                                                                                permite explorar sua veia mais cômica. 
O QUÊ: Oficina do Ballet da Cidadela Cultural Antarctica. QUANDO:               Por melhor que seja o elenco de "Os Excêntricos 
Segunda a sexta, horário comercial. ONDE: Cidadela Cultural Antarctica,         Tenenbaums", a estrela do filme é mesmo o diretor 
rua 15 de Novembro, 1.383, centro, Joinville, tel.: (47) 433­0127               Anderson. Talvez ele não seja (ainda não seja) o 
(informações). QUANTO: Gratuito.                                                gênio anunciado pela crítica norte­americana, que 
                                                                                pôs seu filme nas alturas, mas talentoso, com 
                                                                                certeza, é. Anderson é co­autor do roteiro (com o 
                                                                                ator Owen Wilson). Sabe que, no cinema, tudo se 
                                                                                resolve na mise­en­scène, segundo a fórmula 
                  Casa cheia de problemas                                       famosa estabelecida pelo crítico francês Michel 
                                                                                Mourlet. Tratada de forma realista, ou naturalista, a 
Pisos e vidraças quebradas, paredes com infiltrações, esquadrias caindo         história dos Tenenbaums seria banal. O segredo 
pela ferrugem. Isso sem falar na falta de segurança do estacionamento           de Anderson está no tom que ele adota e nos 
que já virou alvo constante dos ladrões de carro, em Joinville. Esses são       recursos que utiliza para dar sustentação às 
alguns dos problemas de infra­estrutura enfrentados pela Casa da Cultura        imagens (e ao ritmo). 
Fausto Rocha Júnior, em Joinville. O local, que atende a 1.400 alunos           Sua trilha é uma das mais elaboradas da 
divididos entre as Escola Municipal de Ballet, Escola de Artes Fritz Alt,       atualidade, com canções que se integram ao 
Escola de Música Villa­Lobos, Galeria de Arte Victor Kursancew e Curso          sentido de cada cena. Anderson não usa a música 
de Teatro, tem 30 anos de fundação e clama por investimentos urgentes.          de forma nostálgica, como Woody Allen, quando 
Para a diretora Marina Mosimann, aos poucos os problemas estão sendo            escava nos clássicos da american song. Anderson 
contornados com pequenos reparos e ampliações. "O município tem                 recorre ao pop como comentário irônico. Ele 
projeto para reforma e aumento do prédio mas esperamos pela liberação           também carrega nos signos visuais. Uma família 
de recursos federais, da mesma forma como ocorreu com o Museu                   excêntrica como a dos Tenenbaums precisa de 
Nacional de Imigração e Colonização e Cemitério do Imigrante.                   ambientes e figurinos adequados para transmitir ao 
Infelizmente, isso demora", fala.                                               público essa excentricidade. O resultado é um 
Enquanto isso, argumenta, outras duas salas foram construídas para              filme super, hipercriativo, uma deliciosa 
abrigar turmas de balé, artes plásticas e desenho. "As salas da escola de       extravagância que diverte homenageando a 
música que funcionam anexo ao Centreventos Cau Hansen também                    inteligência do espectador. A defesa da família de 
receberam tratamento acústico, ventilação e novo mobiliário. Orçamento          Anderson é o que faltou no Oscar. É um absurdo 
já foi feito para a instalação de gradil e guarita no pátio da escola, mas a    que o filme tenha concorrido só ao prêmio de 
implantação depende da viabilização de recursos por parte da Prefeitura",       melhor roteiro original. 
justifica.
Se não pode mexer na parte física, Marina tenta, de outras formas, 
melhorar o trabalho no local. Prova disso são os investimentos na área de 
ensino que compreendem a contratação de consultores para a área de 
dança e música: a argentina Mirian Carmen Berrios e o violonista Marcus 
Llerena, respectivamente. A partir deste mês os alunos do curso de 
                                                                                                                       
desenho também passaram a contar com manequim vivo nas aulas. Para 
Marina, a Casa da Cultura é um local que merece ser olhado com carinho 
pela comunidade. "Nossa escola é popular. Atende pessoas de todos os 
bairros. De 1.400 alunos, 500 são bolsistas", informa. (MG)
                                                                                                                       


                       Teatro põe em
                  xeque o cidadão alienado

  Dramaturgia brasileira vale­se do palco para dar voz e 
        rosto aos excluídos da pirâmide social

                         Marco Anselmo Vasques 
                         Especial para A Notícia

O catarinense Mário Guidarini nascido em 1931, em Nova Veneza, 
formado em história e filosifia pela Universidade de São Paulo (USP) é 
mestre e doutor em filosofia e estética da arte, também pela USP. Hoje 
ensina educação e semiótica para mestrados na Universidade do Sul 
(Unisul) e escreve ensaios sobre a dramaturgia brasileira que já resultou 
em quatro livros: "Os Pícaros e os Trapaceiros de Ariano 
Suassuna" (Editora Ateniense), "Jorge Andrade  Na Contramão da 
História", "Nelson Rodrigues  Flor de Obsessão" e "A Desova da Serpente
 Teatro Contemporâneo Brasileiro", todos pela Editora da Universidade 
Federal de Santa Catarina (EdUFSC). Nesta conversa, ele fala sobre o 
teatro brasileiro e, sobretudo, a dramaturgia do final de século 19. 
Carismático, conta que abandonou a carreira eclesiástica para mergulhar 
na educação. "Não sou nem de esquerda nem de direita. Sou um sujeito 
que possui a consciência do momento histórico. Sou o que se pode 
chamar de um homem socio­histórico. Minha arma é o saber", define­se 
ele.
Anexo ­ Fale uma pouco sobre a perspectiva histórica da obra de Jorge 
Andrade explorada no livro "Jorge de Andrade  Na contramão da História". 
Mário Guidarini  A perspectiva histórica da obra de Jorge Andrade 
localiza­se na diferença, como síntese dialética entre personagens típicos 
e seu princípio da realidade sócio­histórico, que os identifica como os 
integrados em versões de mundos voltadas para o status quo, e entre 
personagens atípicos ou apocalípticos com seus rostos e vozes voltados 
para o futuro, para a construção de versões de mundos libertários, 
impregnados em novos valores ético­políticos. Em resumo: os integrados 
salvaguardam o status quo sócio­político por meio do culto aos seus 
heróis, santos e pela memória aprisionada ao passado. Os libertários 
perseguem o futuro como horizonte sócio­histórico capaz de operar o 
salto qualitativo através da consciência crítica como síntese dialética 
dessa diferença.

Anexo ­ A dramaturgia de Jorge Andrade pode ser vista como a crônica 
dos últimos 400 anos da história brasileira ou estaria restrita ao universo 
rural de São Paulo? 
Guidarini ­ As ações dos personagens no corpo das 12 versões de 
teatralidade de Jorge Andrade estão acopladas às práticas sócio­
históricas: primeiro passa pelo período dos aprisionamentos dos índios 
em "O Sumidouro", depois aborda a exploração do ouro em "As 
Confrarias"; num terceiro momento retrata a criação de gado em "Rastro 
Atrás e Vereda da Salvação" e, finalmente, passa pelo período do café e 
da industrialização em "Os Ossos do Barão". A decadência econômica 
da família patriarcal está em "A Moratória e Senhora na Boca do Lixo". 
Portanto, daí se conclui que, além dos 400 anos, os espaços utilizados 
por Andrade não seriam e não se limitariam a São Paulo e nem ao rural, 
mas englobam também o urbano.

Anexo  Desde Qorpo Santo, Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues, 
Oduvaldo Vianna, Dias Gomes, Ariano Suassuna, Plínio Marcos, Augusto 
Boal e Jorge de Andrade, é possível falar num teatro libertário que exclui a 
visão de que teatro neste País "é diversão para uma elite que não está 
interessada em resolver problemas? 
Guidarini  O teatro brasileiro, nos seus diferentes modos de fabricar 
mundos de teatralidade polifônica, de vozes e rostos miscigenados no 
tocante aos sangues e às ideologias, desvela­se como espetáculo de 
vitrine, onde desnuda publicamente a tirania do poder em detrimento do 
direito do sangue (Dias Gomes), onde a aura da família patriarcal é 
minada pelo vírus do incesto (Nelson Rodrigues), onde gente avulsa se 
ajunta para sobreviver aos esquadrões da morte (Plínio Marcos), onde 
pícaros e trapaceiros denunciam em público as mazelas, tanto dos 
espaços públicos quanto dos privados (Ariano Suassuna). Essa safra de 
dramaturgos brasileiros que você cita, criou, sim, versões de mundos 
libertários, pois, todas essas versões se iluminam mutuamente para 
darem voz e rosto a todos os que não têm nem voz e nem rosto na prática
social piramidal da cultura e economia de então.

Anexo  Em "A Desova da Serpente" você contrapõe a visão de Bertold 
Brecht e Nelson Rodrigues. O primeiro destrói com o envolvimento 
aristotélico, o segundo usa o envolvimento como fator de humilhação e 
sofrimento do espectador. 
Guidarini  Há um confronto entre as duas versões de mundos 
dramatúrgicos, tanto no nível de linguagem quanto no de mensagens. 
Rodrigues, como jornalista, incorpora paradigmas da comunicação de 
massa. Reconstrói o tema do incesto de primeiro grau até o grau mais 
diluído entre cunhados. A família patriarcal e suburbana permitem­lhe criar 
e recriar variações múltiplas a partir do mesmo tema até o esgotamento e 
cansaço dessa forma inovadora de teatro. Nelson tinha como modelo de 
espetáculo o Maracanã, onde a platéia realimentaria a performance dos 
atores por meio do envolvimento irrestrito ao espetáculo­vitrine. Brecht 
cultuou o teatro épico, onde o herói, Galileu Galilei, por exemplo, é um 
cientista a enfrentar o poder eclesiástico numa batalha entre a razão 
experimental e a fé teológico­eclesiástica. No teatro épico importa o 
distanciamento crítico como técnica de libertar os espectadores  usuários 
do envolvimento emocional com o enredo. Brecht em confronto com a 
sedução dos discursos políticos do 3º Reich, achou por bem valer­se da 
consciência crítica, inerente ao teatro épico, como instrumento de 
distanciamento crítico, mediado pelo espetáculo didático.

Anexo  Mesmo não aceitando a teoria do distanciamento crítico de 
Brecht, Nelson Rodrigues cria o que você chama de "dialética das 
tensões". Qual a diferença entre um e outro? 
Guidarini  Nelson Rodrigues fabrica tensões primárias, sem qualquer 
mediação­síntese da dialética hegeliana e marxista incorporada por 
Brecht. A dialética das tensões nelsonrodriguianas possui um colorido 
maniqueísta de bem­mal, vida­morte, esposa­prostitutas, estático­
movimento, sim­não, zero­um. 

Anexo  Plínio Marcos cria o que você chama de "a banalidade do bem e 
a banalidade do mal". No Brasil de hoje, como você avalia a 
contextualização da obra pliniana? 
Guidarini  As versões de mundo de Plínio Marcos são fabricadas com 
um mínimo de personagens avulsos, isto é, sem terem famílias, que se 
comunicam entre si com o mínimo de signos verbais e não­verbais dentro 
duma tensão sempre crescente da exploração do homem pelo homem à 
maneira da prática social dos reformatórios  a banalidade do bem  e a dos 
esquadrões da morte  a banalidade do mal. Conjugadas, elas registram, 
em forma de espetáculo­vitrine, o inferno a que estão condenados os 
rejeitos humanos, os excluídos da cidadania. Plínio Marcos lhes dá voz e 
rosto, usando os mesmos procedimentos dos espectadores no seu dia­a­
dia na cidade­metrópole, projetados no palco face a face com a platéia 
conivente. Hoje Plínio Marcos é tão atual quanto Lima Barreto, para nosso
pesar.

Anexo  Você trabalha com dramaturgos de linguagens diametralmente 
opostas. O que isso revelou para o estudioso de teatro? 
Guidarini  Cada dramaturgo fabrica modos de fazer mundos 
dramatúrgicos irredutíveis entre si no tocante às linguagens e conteúdos 
temáticos. No entanto, os brasileiros colocam em xeque a alienação dos 
cidadãos em suas práticas sócio­históricas, e para isso valem­se do 
palco como espaço público, para despertar a dimensão cidadã a que 
todos fazem jus no convívio e comunicação humana no seu dia­a­dia. 
Para o estudioso, a diversidade de linguagens aponta para o desafio de 
compreender vários universos.

Anexo  Você que viveu um momento efervescente da dramarturgia e do 
teatro brasileiros, sobretudo na década de 60 e 70, como avalia a cultura 
teatral do Brasil de hoje? 
Guidarini  Após essa efervescência, sobretudo entre os anos 50 e 80, 
constata­se, hoje, com a retomada da "democracia política" uma pausa­
ócio no aguardo de uma nova safra de dramaturgos conectados e 
antenados aos novos paradigmas da pós­modenidade. No entanto, para 
além desse ócio criativo em gestação, transparece a prática da 
sobrevivência teatral apenas como memória fragmentada esteticamente 
dum passado recente, isto é, o teatro na passagem do milênio incorpora a
memória sócio­histórica de personagens e temas dum passado que podia 
ter sido outro. Essa melancolia estética impregna as versões 
dramatúrgicas mais recentes.

Anexo  O teatro passa por uma certa institucionalização. Será que 
perdemos o caráter libertário inerente ao teatro? 
Guidarini  Essa sua pergunta­resposta caracteriza, exemplarmente, a 
profunda crise instaurada no nível do processo de criatividade 
dramatúrgica e também do espaço cênico, seguindo o conceito de 
Artaud, pois a dramaturgia está quase que restrita a espetáculos 
universitários. Observe­se que os autores mais libertários não trilharam os 
caminhos da universidade. Os que se formaram sentiam­se limitados em 
suas criações em decorrência dos quadros teóricos aprendidos e 
mediados por professores da área. Quanto à teatralidade, ao espetáculo e 
sua poética, a universidade acaba, sim, tolhendo seu caráter libertário.

Anexo  Você explora em seus ensaios duas vertentes do teatro, o texto 
dramatúrgico como literatura e o texto como teatralidade. 
Guidarini  A natureza de uma peça teatral como partitura e escritura 
participa do gênero literário, e quando espetáculo desvela­se teatralidade 
porque implica a polifonia de informações simultâneas, provenientes das 
linguagens verbais e não­verbais atinentes ao espetáculo junto a presença 
física de atores no palco e espectadores­usuários na platéia. O teatro 
enquanto gênero literário requer leitores e usuários intérpretes­individuais. 
O espetáculo teatral dá­se publicamente num palco (ou não) para usufruto 
de seus usuários, como se fossem um "personagem coletivo" capaz de 
estimular os atores, responsáveis pela condução do evento para alcançar 
seu ápice estético.

Anexo ­ O que faz com que a obra do dramaturgo Qorpo Santo seja tão 
pouco difundida e encenada? 
Guidarini  Qorpo Santo (José Joaquim de Campos Leão) criou um teatro 
ilógico, moldurado pelo erotismo, condenado pela sociedade do século 
19. O teatro do absurdo ou antiteatro precoce de Qorpo Santo recria uma 
atmosfera alucinante e absurda em nível de linguagens cênicas e de 
conteúdos obsessivos decorrentes duma prática social reprimida e 
escravocrata. O teatro do absurdo não vingou entre os autores brasileiros. 
Há autores latino­americanos que cultivaram esse gênero com certo 
respaldo, sobretudo os argentinos. A ruptura da obra de Qorpo Santo até 
hoje assusta diretores e atores.

Anexo  Qual a importância da modernidade teatral de Oswald de Andrade
para o teatro contemporâneo brasileiro? 
Guidarini  Oswald de Andrade construiu um teatro eminentemente 
sociopolítico e ideológico, como, por exemplo, a peça "O Rei da Vela". O 
gênero da teatralidade de Oswald caracteriza­se transbordante e precisou 
ser podado pelos diretores nas suas montagens, ao contrário de seus 
poema­minutos, inspirados nas formas ideogrâmicas dos orientais. Em 
Oswald existe um transbordamento na área do teatro e uma contenção no
fazer poético. A importância desse tipo de teatro sociopolítico e ideológico
na modernidade brasileira conecta­se significativamente com os 
dramaturgos que articulam e desvelam as ideologias subjacentes do 
poder despótico e do direito de sangue dos personagens em seus 
                                                múltiplos registros de representação, tanto do poder quanto do sangue em
                                                conflito maniqueísta.

                                                Anexo  Os prólogos e epílogos das peças de Suassuna podem ser vistos 
                                                sob o distanciamento de Brecht? 
                                                Guidarini  Eles têm a função de balizas do corpo da obra nos autos de 
                                                Suassuna. Eles representam a voz e o rosto do autor que subsume o 
                                                papel de enunciar o tema, de apresentar para o público os personagens e 
                                                delinear o gênero do espetáculo, tudo dentro duma performance sedutora 
                                                e amena. Nos epílogos, o mesmo rosto e a mesma voz retornam ao 
                                                espetáculo com a missão pedagógica de síntese dialética: a lição ético­
                                                política do espetáculo de caráter popular. Brecht mantém distanciamento 
                                                crítico frente à própria versão de mundo épico que é o teatro de alusão e 
                                                não de ilusão. O novo realismo de Brecht difere frontalmente do moralismo
                                                que impregna todos os tecidos das obras de Ariano Suassuna: "O assim 
                                                na terra como no céu".


                                                                                        Manchetes AN
                                                                              Das últimas edições de Anexo
                                                 15/06  ­  Mestres do acordeom

                                                 14/06  ­  Djavan faz celebração na Ilha

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Projeto Trindarte transforma muros de bairro em obras de arte