O documento apresenta uma introdução à autora e seus ideais de vida e espiritualidade. Ela acredita que cada pessoa carrega consigo as experiências de todas as fases da vida e que essas experiências, boas ou ruins, ajudam a moldar a personalidade e o caráter de uma pessoa. A autora também acredita que é possível despertar potencial interior adormecido através do autoconhecimento e da fé.
1. Apresentação
Busco-me em você, caro leitor, esperando que em mim, você
encontre alguma afinidade.
Tenho aprendido, ao longo da minha existência, que a nossa
vida é um constante somatório: em nós estão contidos o bebê, a
criança, o adolescente que fomos e o adulto que somos; que todas as
pessoas – boas ou más – que passaram e passam por nós são nossos
mestres; que as dores, erros, sofrimentos e mágoas que se alternaram
às alegrias e tristezas, êxitos e fracassos, vivenciados em cada etapa
da nossa jornada, representam o fole, a bigorna e o martelo ...
Utilizados pelo Artífice da Vida, foram forjando a nossa
personalidade e o nosso caráter, fazendo-nos despertar para a
necessidade de tomarmos consciência de que o nosso eu, castrado
por crenças atávicas e limitativas, pode ser trabalhado para que
venham à luz as nossas reais possibilidades que jazem adormecidas
nos porões da descrença ou da desilusão, aguardando o seu
despertamento para alcançar a sua plenitude.
Reconhecendo que a linguagem de Deus é a poesia expressa
na perfeição do Universo, tenho procurado estar atenta ao mundo à
minha volta e descobri que um simples livro pode ser tanto um farol
a nortear rumos, quanto uma estrela a nos alertar sobre a necessidade
de nos voltarmos para o Divino que existe em nós... ou, quiçá, uma
simples abelhinha ou um multicolorido colibri, a sugar o néctar das
flores para, em se alimentando, contribuir através da polinização com
a perenização da vida ...
Acredito, pois, que não importa em que estágio da nossa
jornada estejamos, o nosso futuro está sendo escrito agora. Assim,
cada momento da nossa vida pode ser um novo ponto de partida, na
nossa incansável trajetória em busca do Amor e da Paz!
Salvador, 29 de março de 2001
Eliza Teixeira de Andrade
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3. Sinfonia da Vida
Açoitado pelo temporal
Range o flamboyant
Engrinaldado de flores.
Ribombam trovões
Disseminando perdões
E seus ecos repercutem distante ...
Os raios, quais punhais flamejantes,
Cortam os céus de ponta a ponta,
Preludiando emoções
Que em cada ser desponta.
Subitamente, acalmam-se os ventos
E o arco-íris resplandece;
É a natureza em festa
Que feérica manifesta
A Sinfonia da Vida,
Que balsamizando tristezas
Veste os prados de esmeralda
E de brotos viridentes.
Choram as flores
Explodindo sementes
Do seu ventre ...
Revoam-lhe em redor
Pássaros trilentes
E no ar ecoa
Da Vida, a sinfonia,
Sagração mais alta da harmonia
Hino ao Amor, à alegria,
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5. O anjo que um dia fomos na infância
permanece vivo em nossa memória,
acompanhando a nossa trajetória
do berço até o último suspiro.
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6. Aspiração
Sentir a vida
Limpa, renascida,
É o que anseio
Pois dor eu não pranteio;
Pensar e amar
De forma transparente
E expressar o que minh’alma sente;
Querer viver
Com fé, com esperança,
Voltar a ter
Alma de criança.
Nascer
Crescer
Amar
E ser feliz,
Morrer
Nascer
Em cada cicatriz.
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8. Ontem e Hoje
Ontem, completaste quinze anos
E a vida te sorria em flor;
Transcendeste os sutis arcanos
Que só se revelariam na dor.
Eras mais do que flor – eras rosa
Eras mais que paixão – eras amor.
Imitando os ciclos da natureza,
Cresceste na cadência da vida,
Passo a passo, bem construída,
Pelo teu inexaurível labor.
Eras mais do que flor – eras rosa
Eras mais que paixão – eras amor.
Trilhaste insólitos caminhos,
Cuidando em afastar espinhos
Pra não ferir a quem deste amor ...
Eras mais do que flor – eras rosa
Eras mais que paixão – eras amor.
Hoje, tanto tempo já passado
E alguns botões desabrochados,
Na hástea, ainda jaz a flor,
Mercê de um coração que muito amou...
E, assim, pela vida afora
Constataste, cada hora,
Que se a primavera flores tem,
É d’outono que o fruto provém !
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10. Sonho
Um dia sonhamos que éramos
dois estranhos, e despertamos
para descobrir que nos amávamos.
R. Tagore
A h! Quero e espero
Que o brando pranto,
Que agora aflora
Desses olhos teus,
Desça no leito
Das tuas róseas faces
E se evapore
Nesses lábios meus;
Quero a estrela
Que a noite vela,
Eu quero a lua,
Branca e tão singela,
Eu quero a fonte
Sob uma firme ponte,
Eu quero a calma
Da tu’alma bela;
Eu quero todas as preces
E o encanto,
Do suave canto
Em afinada voz,
Eu quero, ainda,
Os sonhos risonhos
Que um dia juntos...
Sonharemos nós!
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11. Reflorescer
A flor
Que você me deu,
Murchou.
Mas foi a flor
Que secou,
Que desistiu de viver,
Não eu ...
Continuo viva
Para viver
O reflorescer
Das alegrias
Advindas
Do amor
Da lida
Do perdão
Da vida
E das flores...
Que ainda virão.
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12. Sementeira de Amor
Um sorriso é a rosa que cresce
sobre o espinho de um suspiro.
Sathya Sai Baba
É preciso semear
Em cada canto da terra,
A semente do amor
Para exilar a guerra.
Semeie, pois, seu sorriso
Para a tristeza afastar
E no momento preciso,
Sorria pra se alegrar;
E para ajudar a quem trabalha,
A vencer da vida, a batalha
E as dificuldades superar,
Semeie sua energia
Semeie sua coragem
Semeie sua alegria!
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13. Flagrante
A bela donzela
De tímido olhar
Banha-se despida
Sob a luz do luar...
E a lua lívida
Ao ver tanta beleza
Com o manto dos seus raios
Empresta-lhe realeza.
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14. A Lua e o Poeta
O h ! branca lua
De luz suave que flutua,
Tão singela, lá do alto
Sobre a serra;
És a rainha da noite
És o exílio da terra.
Quanto canto solitário
Quanta queixa em rosário
Quanto suspiro e delírio
De casais apaixonados
Que pensando estar isolados,
Quase esqueceram de ti!
E hoje, de alma leve e lavada
Lá no riacho da dor,
Volto aqui à minha janela
Esperando o teu retorno
Pra dizer-te, ó minha bela!
Que ouviste os meus ais
Que já se foram
E não voltam mais,
Que agora livre e feliz
Por te olhar
E ser esteta,
Não choro mais...
Virei poeta!
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15. Essas frases cruéis, que mordem como dentes,
Só mostram, Arlequim, que somos diferentes,
Mas minh´alma, afinal, é compassiva e boa:
Não compreendes Pierrot. E Pierrot te perdoa...
Menotti Del Picchia
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16. Contrastes
A vida é o contraste...
Entre a noite e o dia,
O sol e a lua,
A tristeza, a alegria,
O rio e a rua,
O caos, a harmonia,
O velho, a criança,
O repouso, a luta,
O luto, a dança,
A festa e a labuta,
A sombra, a luz,
A saúde, a doença,
A fuga, a cruz,
A fé, a descrença,
O espelho, o reflexo,
O prazer e a dor,
Em pé, genuflexo,
O ódio, o amor ...
A vida apresenta
Constante contraste
E o que nos alenta
É a esperança da Paz!
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17. O Fio da Vida
Teci fios, como mantos teceram
As pacientes mulheres de Atenas;
Aguardando do retorno da guerra,
Os seus maridos: heróis... ou mecenas?
Teci fios, como rendas teceram
As sofridas mulheres nordestinas;
Esperando no labor – quais aranhas,
Que a boa sorte lhes mude as sinas.
E no vaivém de agulhas de tricot
Apaziguei-me e corpos nus, vesti
Compreendendo que o fio da vida,
Se origina de um novelo divino
Que trabalhado por mão invisível,
Tece luz... de beleza indescritível!
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18. Soneto do Tempo
Como se pudéssemos matar o
tempo sem ferir a eternidade!
Henry Thoreau
Como brisa que passa ligeira,
Também o tempo, ligeiro, se vai
E a nossa lembrança fagueira
Doutros tempos, com o tempo se esvai;
É que a roda do tempo é constante
E o relógio do tempo, não pára,
Traz para uns, momentos vibrantes
E pra outros, lamentos cortantes.
Que estás a fazer do teu tempo?
Já pensaste em fazê-lo render?
Pois se ficas parado no tempo,
Muito tempo estás a perder.
Usa, pois, o teu tempo, buscando
Dar amor, para amor receber.
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20. Migração
Bem-vinda, criança,
Da vida, o crisol,
Fruto do conúbio
Da lua com o sol.
Bem-vindo, moleque,
Belo e serelepe,
Que mostra o rosto
Limpo, sem desgosto
E chora um choro
Leve e sem rancor.
Bem-vinda, menina,
Faceira, traquina,
Com ar de mocinha
À espera do amor...
Não importa se vindas
De plagas distantes:
Do sul ou do norte,
De qualquer nação.
Não importa se louras,
Se negras, morenas,
Saudáveis, doentes,
As nossas crianças
São todas ... sementes
Do amor, da união.
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21. Cuidado criança
Cuidado, criança!
Que está a brincar...
Com os belos cachos
Bailando no ar.
Cuidado, criança!
Com a bola a jogar...
Não perca a inocência
E o brilho do olhar.
Cuidado, criança!
De gesto gentil...
Cultive a esperança
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23. Berceuse
U ma estrela distante
Brilhou pra avisar
Que um anjo,
Desceu neste lar...
O Sol já raiou
Festejando a vida,
E os pássaros
Cantam felizes:
– Boas-vindas!
(Ricardo Teixeira Andrade)
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25. (*)
O Ser ... Down
Logo ao nascer
Trouxe uma surpresa
Misto de alegria e tristeza.
Sua vida aparentemente limitada
Por um erro genético
De intrínseca natureza,
Foi indelevelmente marcada
No cromossomo 21. Científica certeza.
Mas apesar
Da aparência singular
E de ter o organismo
Um ritmo mais lento,
Nada impedirá
Que ele se desenvolva
E conquiste um espaço
Que lhe será reservado
Por aqueles que sabendo amar
E a vida respeitar,
Vencem o fascínio de Narciso
(Que só valoriza a aparência).
Assim, quem se permitir
Ser conquistado,
Será, de assalto, cativado
Já no seu primeiro sorriso!
Abençoado ser!
Bem-vindo seja entre nós,
Ensinando-nos a amar a essência
(Quando o ser excede o parecer)
E a ver em Deus, o Pai por excelência!
_________________
(*)
À Associação Baiana de Síndrome de Down – Ser Down
39
26. O Grilo(*)
A verdade é sempre estranha,
Mais estranha que a ficção.
Lord Byron
Aos poucos ele foi chegando
E no meu dia-a-dia
Foi-se instalando,
Sem que eu desse permissão.
Quando mudava a estação,
Ele se destacava
Do coro das cigarras
Que nas árvores mais próximas cantava,
(E me deixava grilada).
Um dia, um “insight” atrasado...
Aquele grilo cricrilava
Dentro do meu ouvido – que atrevido!
Com o tempo a decorrer,
Percebi que ele não matava,
(Só incomodava),
E aprendi com o mesmo, conviver...
De um Pinóquio encanecido
Sou hoje uma versão transmutante,
Já que, como ele, tenho
Meu próprio grilo falante,
Que está sempre a me dizer:
– Calma... silêncio...
Pra que eu possa adormecer...
Só assim encontro paz...
De grilo dormindo!
_________________
(*)
Dedico esse poema a todas as pessoas que, como eu, têm problema auditivo.
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27. Imortalidade
Sem que eu o soubesse, meu Rei,
Tu imprimiste o sinal da
eternidade
em muitos momentos fugazes.
Rabindranath Tagore
Estou viva!
E a vida que me quer
Bem viva,
Sempre está a me dizer:
–Vem viver!
Fecha de vez
A torneira do pranto
Que dá quebranto
E tira o encanto de viver...
E, assim, vivendo,
Vivo o tempo todo,
Vivendo a vida
Com muito prazer;
Tiro da vida
Lembranças vívidas,
Ponho na vida
Meu jeito de ser.
Transcorre o tempo
E eu reconheço,
Que ele passa
Mas eu permaneço:
Viva no ar que respirei,
Viva na flor que meu olhar tocou,
Viva nas lágrimas que derramei,
Viva no Amor que me imortalizou.
41
29. Poema do Adeus
A vida é tua embarcação,
não é tua morada !
Lamartine/Teresa de Lisieux
Mergulhada nas suas lembranças,
Ela fita o porvir
– Local do reencontro –;
Atrás, fazendo-se distante,
O barco da vida
Desaparece na linha do horizonte ...
Seus olhos refletem
Suave nostalgia
Que embaça
O brilho da alegria,
Companheira, outrora, tão constante;
No seu corpo ainda tépido,
As marcas indeléveis
Daquele toque de amor
Sutil ...
Gentil ...
Sedutor !
No seu interior,
A firme certeza
(Sua maior riqueza),
De que aquele barco ancorou
Em tranqüilo cais,
Lugar de muita paz,
– Local do reencontro –.
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31. Certeza
Com uma lágrima a correr
Na sua face – sem disfarce,
Ela parte qual ave itinerante...
No cais do desencanto aflorara
O ontem esquecido no agora:
Um belo sonho anelado outrora,
Lembrança, ainda, tão constante...
À frente a lhe desafiar,
O turbilhão do mar
Dos sentimentos malogrados
Por um desenlace não desejado.
Aos poucos, no porto,
A silhueta querida diminuía
E todo seu corpo, de emoção, fremia...
Num último impulso, generoso, de amor,
Seu braço levantou
E, nostálgica, tentou
Traduzir seu sentimento,
No agitar do lenço ao sabor do vento,
Tendo como cenário
As cores afogueadas do arrebol.
No seu coração a imperar,
A certeza de um dia encontrar
As aves de arribação
Para, com elas, voar
Até a próxima estação:
O país do Sol.
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33. A Arena da Vida
Com porte soberbo
O jovem mancebo
Adentra na arena
Roubando a cena;
Ostenta, impecáveis,
A negra montera (1)
E o traje de luces.(2)
Seus olhos vagueiam pela platéia
Buscando a jovencita (3)
Que lhe retribuindo o olhar,
Sorrindo, o felicita...
O touro é liberado...
Três banderilleros (4)
Dele se aproximam
E, cada qual,
Duas banderillas (5)
Crava-lhe, na região nucal.
Com fúria, o animal
Contra o toureiro investe
Seus pontiagudos cornos;
O guapo moço as regras impõe
(E a vida expõe),
Com gestos provocantes;
A rubra capa no ar agita,
Em delírio, a platéia aplaude, grita
E o incita com altos brados: - Olé!
47
34. E a mão adestrada
Coroa a faena (6)
Com um só golpe de espada!
O silêncio imperante
Amortalha a cena
Onde o sangue estuante
Sai em borbotões...
Num relance,
Seus olhos procuram, novamente,
A bela donzela
E dedica-lhe, gentilmente,
O touro abatido
No duelo mortal.
Cheio de orgulho triunfal,
Seu peito expande
E dando a vuelta al rueda (7)
Sai carregado através da porta grande...
_________________
Montera – chapéu
(1)
Traje de luces – Indumentária de gala
(2)
Jovencita - senhorita
(3)
Banderilleros – Toureiros que banderilham touros
(4)
Banderilla – farpa enfeitada que se crava no cachaço dos touros.
(5)
Faena – faina, luta.
(6)
(7) Vuelta al rueda – volta na arena.
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35. Desafio
Ser calmo...
Quando o mundo é inquieto
Ser lúcido...
Quando o mundo é confuso
Ser verdade...
Quando o mundo é mentira
Ser otimista...
Quando o mundo é pessimista
Ser perdão...
Quando o mundo é vingança
Ser altruísta...
Quando o mundo é desencanto.
Perder a ilusão do nada,
Saindo das trevas...
Ganhar a certeza do Tudo,
Indo ao encontro da Luz!
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37. Eternidade
A Alberto e Júlia (in memoriam)
Nunca as neblinas do vale
Souberam dizer-se - adeus -
Se unidas partem da terra,
Perdem-se unidas nos céus.
Castro Alves
O ano escoara
Novembro chegara,
No ar, já se ouve,
Os sons do Natal!
E o jovem casal
Sonhando silêncios
Busca no mar
A dimensão de um ideal...
Transgredindo as Leis:
Dos homens e a Divina,
A violência espreita
Com olhos perspicazes
E o terreno rapina
Com gestos audazes.
Perplexos,
Os olhos se fitam,
Sons... não escutam...
Mãos se procuram,
Sem rumo... ao léu...
E as almas ruflam
Buscando o Céu!
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38. Violência x dor
Quantas tramas
Ocultamente urdidas,
Quantos dramas
E abertas feridas
Pela invigilância
Que reduz
A certeza da imortalidade
(Que nem sempre seduz),
A um punhado
De areia jogada
Sobre sonhos soterrados
Pela avalanche da dor...
E o tempo massacrado
Pela angustiante espera,
Traz lamento e clamor
Que a alma dilacera...
E o equilíbrio se quebra
Pela insegurança
E pelo terror!
É preciso chorar...
Mas é preciso lembrar
Que a centelha da vida
Retorna ao Criador
E, ali, abastecida,
Irradiará amor!
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39. Rejeição
Como é possível impedir os homens de se
matarem uns aos outros se uma mãe pode
matar seu próprio filho?
Madre Teresa de Calcutá
A terra estava gretada
Mas recebeu irrigação
Da semente ali plantada
Nasceu um fruto temporão.
O fruto veio verdoso
Parecia sem sabor,
Logo, fez-se viçoso,
Quando recebeu luz e calor;
Mas como não foi desejado,
Tirado, caiu ao chão,
Feneceu, ali, desprezado,
Em lenta dissolução...
Sem cova e sem lápide,
Sob o signo da rejeição!
53
41. Ianomâmis
A perfeição da pedra
não vem com os golpes
do martelo, mas com a dança
E a canção da água.
R. Tagore
Densas florestas
Pontiagudas setas
Compridas lanças
Rituais e danças;
Renomados nomes
Primitivos homens,
Hipócrita aliança
Dizimando a raça.
Por quê?
Semente de cizânia
Na tribo lançada
Colhendo conflitos
E vidas ceifadas.
Pra que?
Densas florestas
Pontiagudas setas
Compridas lanças
Rituais e danças...
Cadê?
_________________
Fonte: Gazeta Mercantil: “ A insistente polêmica da ciência selvagem ” – Ricardo Calil de
N.Y. 14 e 15/10/2000 – pág. 3
55
42. Unidade
Somos filhos de um só Pai...
Mesmo em nossa ignorância,
Manifesta em forma de ânsia
De viver sem ter limites ...
E, assim, freqüentemente,
Nosso ego jaz imaturo
Sem passado e sem futuro
Por não viver o presente.
Desenvolvendo a arrogância,
Julga-se senhor de tudo
Faz do orgulho seu escudo
Para se esquecer de Deus...
E querendo muito ter,
Inconsciente, elimina,
A natureza divina
Que permeia o seu ser.
E, vivendo assim, separa
(Quando deveria unir),
Deus de si e das criaturas
E vê seu mundo ruir...
Do universo, então, se isola
E só a dor lhe consola
E lhe ensina uma lição:
Somente quando conscientes
Que temos a mesma origem divina,
É que nossa fé sublima
E vemos no próximo... um irmão!
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43. Elegia
A graça de Deus é infinita.
O homem é quem a limita,
Ao tamanho da sua fé.
Eliza Teixeira
Batendo na rocha
O mar bramia,
Chorando saudades
Se compungia,
E as vagas gigantes
Que o cobria,
Batendo na areia
Se desfazia...
No corpo, o desejo
O consumia,
E a fagulha do amor
Se extinguia,
Qual tarde, onde o sol
Se escondia,
No negrume da noite
Que surgia,
No céu,
Nos seus olhos,
Na alma vazia...
Sem fé,
Sem ilusão,
Sem alegria!
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44. O Intangível e o Precário
Na angustiosa busca de um Deus
Que possa ser visualizado,
O homem desvia o olhar dos Céus
Para o plano materializado.
Projeta, então, em frágeis criaturas,
Toda a sua esperança
De um mundo, onde as venturas
Fazem perfeita aliança!
E, assim, tendente a ligar
O intangível ao precário,
Constrói o seu santuário
Fadado a pouco durar...
E onde o Amor não permeia
O fracasso acarreta, o abalo da fé alheia.
58
45. O que é a Vida ?
A vida é ...
Nascente cíclica
De cíclicas andanças;
Um porto cíclico,
Que sonhando asas,
Ancora tardanças;
Corrida sem causa ...
Para chegar à pausa!
Duelo eternal
Entre o real
E a ilusão,
Dueto perfeito
S e a fé se alia à razão.
59
46. So...li...dão
H á coração que triste, solitário,
Sem ter um lume para lhe aquecer,
Pensa que é ave, presa na gaiola,
Pra libertar-se... deixa de bater!
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47. Você Precisa
Você precisa,
Ir mais além
Na busca de quem
Esqueceu o que é amar.
Você precisa,
Impedir que a cizânia
Da cúmplice crítica
Faça dueto
Com a pérfida infâmia.
Você precisa,
Ser bandeira branca
Simples, desfraldada,
Ruflando as asas
Da esperança e da paz.
61
48. O Nascer e o Pôr-do-Sol
Em um parque
Eu vi uma criança
Sorrindo, correndo,
Feliz a brincar.
Parecia o dia
Quando nasce
E desperta a natureza,
Que se espreguiça,
Boceja e se agita,
Abrindo-se
Num festival
De luz e cores...
No mesmo parque
Eu vi um ancião
De andar trôpego,
Trazendo na fronte
Encanecida,
O registro das experiências
De uma vida.
Lembrei-me do Ocaso
Quando o Sol se põe
Belo e nostálgico
E, apesar de cansado
Pelo labor do dia,
Vai ressurgir noutra
freguesia...
62
49. Ao meu Pai
– De onde virá minha atração
Pela abóbada celeste?
Retroagindo no tempo
Posso ver-me, pequenina,
No colo do meu pai, sentada,
E ele, a lua a apontar
Amoroso a me ensinar
Uma singela canção:
– “Bênção dindinha lua
Me dá pão com farinha
Pra eu dar à minha gatinha
Que está presa na cozinha.”
Já mais crescida,
Ele me indicava
Onde se encontrava
AVia Láctea e várias constelações;
E apontando para a cruz
De estrelas formada
Associava-a ao Redentor
Que noutra cruz morreu, por amor!
Quando doente eu ficava,
Toda a noite me velava
Com o coração em prece...
Dos meus devaneios acordo
E dou graças ao Criador
Pelo seu paternal amor.
63
50. Lembrando doutro Pedro,
O apóstolo pescador,
Que segundo uma lenda
É da porta do Céu, guardador,
Vejo o meu pai na terra
Com semelhante missão:
A de meu Anjo da Guarda
Que até hoje, ainda guarda,
A porta do meu coração.
Obrigada, meu pai!
Conselho Paterno
Minha filha! por que está a chorar?
Eis que já amanhece
E no horizonte aparece
O Sol, sempre a brilhar ...
Procura com os olhos d’alma
(Por certo, há de enxergar!)
É o mutirão que chega
Pressuroso, pra lhe ajudar.
Mas depois da ajuda acolhida,
Limpa sua casa, põe flores,
Eleva ao Céu seus louvores...
E nessa feliz mutuação,
Dá uma festa de mil cores
No templo do seu coração!
64
51. Consubstanciação
O pão que fermenta,
A massa aumenta
E em dobro alimenta.
O mutirão que levanta,
Reduz o cansaço
E a massa agiganta,
Num tempo escasso...
Do poeta, a voz ecoa
Profética, distante,
E em tom sussurrante,
O refrão entoa:
– “Levedado pelo amor
Ou na força do braço
Construa o seu traço
Com união e labor.”
65
53. A Missionária sem Sari
Um dia, quase da busca a desistir,
Soube da obra de Madre Teresa
E encantou-se com a paradoxal riqueza
De muito ter sem nada possuir...
Desde então, não mais parou
Mas o seu coração, sossegou.
Quem não conhece
Ou ainda não ouviu falar,
De uma senhora de nome Eunice
Conhecida na Ordem
Das “Missionárias de Calcutá”,
Simplesmente como: Vovó?
Desconheço quem na sua idade
Tenha tanta vitalidade
Para servir como sua, a alheia causa.
Sendo rica, tornou-se pedinte
Visitando voluntários
Pra que sejam solidários
Em ajudar os pobres mais pobres!
E, assim, abrindo trincheiras
Nas humanas resistências,
Juntamente com a Irmandade,
Consegue dar assistência
Às duas casas existentes:
Em Coutos e no Uruguai.
67
54. Para ela não existem ais
Que a demova da fé;
Pois segundo o seu genro,
(Por ela chamado “Seu Pedro”),
Ela é também missionária,
Só que em grau superlativo,
Já que é a “Irmã Maçaranduba”
Que nem temporal derruba:
“Amorzinho... você é demais!”
A Verdadeira Riqueza (*)
Meu Deus, aqueles que
Possuem tudo menos a
Ti riem-se daqueles que
Nada possuem além de Ti.
R. Tagore
Ao nascer,
Nada trouxe
Senão o corpo;
Ao crescer,
Fui amealhando
O ter
Esquecendo-me
Do ser;
Um dia descobri
Que o melhor de mim
Estava impregnado de Ti ...
Despojei-me, então,
Do que amealhei
E fiz-me rica
Apesar de nada possuir... além de Ti.
_________________
(*)Humildemente dedico esses versos à memória de Madre Teresa de Calcutá
68
55. Maternidade
Compartilhei da alegria pujante
Daquela primavera especial
Quando, ao compasso do meu coração,
Senti outro coração bater...
À minha volta, em tempo integral,
A convivência dulcificante
De Ricardo e Ivana que com as pérolas
Dos seus sorrisos adornavam
O meu feliz semblante.
E no outono do ano seguinte
Nasce em maio, mês das rosas,
Lindo bebê cor-de-rosa!
E vendo-a, assim, tão bela,
Com as outras flores competindo,
Não tive a menor dúvida
Em chamá-la... Isabela.
Enviados pelo Criador,
Meus filhos representam
Minha maior vitória,
Minha coroa de glória
Que um dia, com muita alegria,
Depositarei aos pés doutra mãe:
Maria!
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57. Ave-Maria
Na tarde dolente
Que aos poucos se esvai,
O Sol se esconde
E o dia retrai;
A noite que veste
Um véu róseo, vivaz,
Sugere uma prece
De amor e de paz:
Ave-Maria!
Por Deus foste eleita
A mãe mais perfeita
De toda uma Nação;
Ave-Maria!
Doce proteção,
Entre o céu e a terra
És traço-de-união;
Ave-Maria!
De graça plena
Doce e serena
Mãe de Jesus;
Ave-Maria!
Na dor e n’alegria,
Enlaçou o Messias
Do seu ventre nascido
E descido da Cruz!
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58. Minha Fé
Senhor da Vida!
Muito tenho Vos buscado
E Convosco, sonhado,
Desde a minha juventude.
E a minha fé emergente
Que tão frágil aparentava,
Muitas vezes se apresentava
Tal qual estrela cadente.
E, hoje, desperta, percebo
Que a minha fé aumentou,
Não é mais estrela cadente,
É Sol nascente e poente
Sempre estrela
E sempre Sol!
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59. Invitation
A Elza S. Teixeira Silveira
( tia Elzinha)
La terre se change en une grande voliére
Et les hommes ressemblent à des oiseaux,
Ils sont habitués à la captivité.
Dieu, dans cette volière ouvre une petite porte
Et les appelle à la liberté:
– “Viens, fils, libère-toi de la vanité,
De l’égoisme, des ostentations,
Qui sont les grilles qui t’emprisonnent
Dans cette volière.
Ici de hors, l’air est pur, la rosée est fraîche,
Elle refraìchit ton âme.
Il y a des branches, où tu peux te reposer,
Pour ensuite prendre ton envol jusqu’ à I’infinit;
Ton gazouillement rencontrera l’echo
Et sera un hymne de louange au Seigneur.”
Cette porte, elle est ouverte
Pour tous ceux qui veulent se libérer.
Nambreux sont ceux qui connaissent
Cette porte, mais peux sont ceux qui la franchissent.
Cette porte s’appelle: charité, humilité et foi.
João Pessoa, maio de 1978.
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61. Convite (*)
A terra tornou-se um grande viveiro
E os homens à semelhança dos pássaros,
Habituaram-se ao cativeiro.
Deus, nesta gaiola abre uma portinhola
E os exorta à liberdade:
– “Vem, filho, liberta-te da vaidade,
Do egoísmo, das ostentações,
Que são as grades que te aprisionam
Nesta gaiola.
Cá fora, o ar é puro, o orvalho é fresco,
Refrigera tua alma.
Há galhos, onde podes repousar,
Para em seguida alçar vôo até o infinito;
Teu gorjeio encontrará eco
E será um hino de louvor ao Senhor”.
Esta porta está aberta
Para todos aqueles que querem se libertar.
Muitos são os que a conhecem,
Mas poucos são os que a transpõem.
Esta porta se chama: caridade, humildade e fé.
_________________
(*)
Tradução do poema “Invitation”
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63. Luz e Reflexo
Acercando-se do mestre,
Indaga o discípulo:
– Dizei-me, ó mestre,
A diferença que existe
Entre a lua e o sol.
Reflexivo o mestre responde:
– É a mesma existente
Entre ser transcendente
E ser imanente.
E exemplificando,
Singela poesia recita:
– “A lua em sua tibieza
Tem como labor,
Espargir sobre a terra
Sua claridade argêntea
De transcendente beleza,
Reflexo do Sol!
Centro do planetário
Sistema, o Sol, ao contrário,
Doando-se no labor,
Envia a todos, os seus raios
De imanente resplendor... ”
E fitando o discípulo com amor,
Com voz doce e pausada, falou:
“A lua, amado,
És tu... reflexo de mim...
Eu sou o Sol ...
A luz está em mim contida
Independente de ação exterior”.
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65. Os Três Montes
Sobre um monte,
Soberbo pedestal,
Sua voz ecoa ...distante
Soberana, triunfal!
Ensina graves e profundas lições,
Captando nas almas
As mais íntimas angústias
E as mais secretas aspirações.
Vivifica pela Misericórdia, a Justiça,
Transmuda a Lei, em Humanidade,
Conclama ao Perdão, o espírito de Liça
E libertando o homem pela fraternidade,
Revela Deus... na Paternidade!
Sobre um monte,
O mergulho dentro de si
E o olhar para o céu,
Como se já tivesse o porvir,
Rompido o seu véu:
Como areia que o vento do deserto levanta,
É volúvel a alma das multidões;
Num momento, O escuta e louvores canta,
Noutro, se deixa enredar pelas superstições.
Mas sob uma aparência misteriosa,
A verdade é simples e singular,
Não a compreende a alma preconceituosa,
Pois só o coração ... sói alcançar.
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66. Sobre um monte,
O altar do sacrifício;
No chão, o vício,
Disputava seu manto.
É a covardia gerando um crime
Hediondo, já que leva ao calvário
Um Ser sublime que redime
O homem, seu algoz e sicário.
Enquanto no firmamento
Entrechocam-se a treva e a luz,
Um terrível grito se faz ouvir – é o Rabi:
– Eli ! Eli ! Lama Sabachtani! (1)
Inclinando a cabeça, ainda exclama, Jesus:
Consumatum est ! (2)
O corpo esvai-se na cruz ...
E o espírito vivificado, em êxtase profundo
Faz-se, desde então, eterna “Luz do Mundo”.
_________________
(1)
Mateus, cap.27, V.26 (Meu Deus ! Meu Deus ! por que me abandonaste ?)
(2)
João, cap.19, V.30 ( Está consumado ! )
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67. Ecos do livro Estação do
Amor
“Parabenizamo-la pela excelente Obra, rica de lições delicadas e
profundas, que enobrecem o leitor, convidando-o a reflexões libertadoras
nestes dias tumultuosos.”
Divaldo Franco
“Poesias belas na forma e na essência, numa apresentação de
colorido rico e primoroso artisticamente emoldurado e salpicado, que me
enlevaram e elevaram ao mundo dos sonhos belamente sonhados e
coloridos.”
Lourdes Burgos
“Estação do Amor é um livro expressivo; é um cântico de amor e
harmonia com mensagens da poetisa Eliza, que se manifestam através da
sua sensibilidade, inspirada na sua própria vivência e principalmente fé em
Deus.
Os seus desenhos, com traços firmes, conferem nitidez às formas e
imagens representativas de pessoas e lugares bucólicos e paradisíacos em a
natureza.
O seu estilo é natural, vivo e simples. Emerson disse: “É prova de
alta cultura dizer as coisas mais profundas de modo mais simples.”
Receba prezada Eliza, os meus aplausos.”
Renato Gazar Miguel
“Estação do Amor, li e reli.
Os seus versos, todos eles trazem na sua essência, a filosofia da
humildade, da caridade, do altruísmo, da renúncia , da fé e do amor.
Os títulos, muito coerentes.
As ilustrações de cada página, um primor de arte; enfim, realmente,
uma “estação de amor”, na qual podemos e devemos embarcar para uma
viagem de sentimental cultura poética.”
Laudilio Mello
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