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13º INTERECLESIAL DE CEBs
JUSTIÇA E PROFECIA A
SERVIÇO DA VIDA
CEBs, Romeiras do Reino
no Campo e na Cidade
07 a 11 de Janeiro de 2014
Juazeiro do Norte
Diocese de Crato-CE
TEXTO-BASE
Apresentação
A Diocese de Crato torna-se significativa na realização do 13º Intereclesial das CEBs,
por ser uma Igreja rica em devoção popular, terra de missão, acolhedora de romeiros e
peregrinos da fé. As inúmeras formas de manifestação religiosa e cultural se estendem
aos mais humildes lares, plantando a semente da fé que desabrochou na frondosa árvore
do Cristianismo, dando sombra e frutos aos pobres e excluídos da sociedade...
A fome por justiça desses nossos irmãos e irmãs eleva o calor da terra dos Ciriris vindo
do esforço e da luta por dignidade, onde Deus revela sua sabedoria aos humildes:
“levanta da poeira o indigente e do lixo ele retira o pobrezinho”. Pois, na fraqueza do
ser humano se manifesta o poder de Deus.
As Comunidades Eclesiais de Base apresentam um arcabouço de experiências vividas e
exemplos de fé a seguir. A realização deste encontro reviverá a confirmação daqueles
que já trabalham pela causa do Reino, e vai ainda forjar novos discípulos missionários
de Jesus no engajamento pela manifestação do Reino de Deus entre nós e no mundo.
Acolhemos com muita alegria a mensagem dos nossos Bispos ao povo de Deus sobre as
CEBs, documento 92 da CNBB, fruto da 48ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil,
reafirmando que as “CEBs são sinais de vitalidade da Igreja”, onde os seus membros se
reúnem para a escuta da Palavra de Deus, a busca de relações mais fraternas, celebração
dos mistérios cristãos em sua vida e assumem o compromisso de transformação da
sociedade.
Dom Fernando Panico
Bispo da Diocese de Crato (CE)
Introdução
Jesus veio ao mundo para anunciar seu Reino de amor, de paz e de justiça. Suas
andanças missionárias em diversos lugares na Palestina, sobretudo em lugares simples
onde o povo esperava a vinda de um salvador, atraiu discípulos e esses atraíram outros
discípulos. Ainda hoje continua chamando discípulos. É pela graça do Batismo que nos
tornamos discípulos de Jesus. Depois de sua morte e ressurreição, Jesus enviou da parte
do Pai o Espírito Santo sobre os Apóstolos e esses deram início a sua Igreja, a qual nós
fazemos parte. Pela via da simplicidade, enfrentando os problemas de cada dia,
fortalecia o modo de ser Igreja, segundo a vivência da unidade e da simplicidade dos
apóstolos, nasciam novos cristãos para a Igreja.
O Espírito Santo continua conduzindo a Igreja nos dias de hoje e milhares de fiéis se
reúnem para ouvir a Palavra de Deus, melhorar a vida, e confiar na mensagem do
Evangelho em todas as Comunidades Eclesiais de Base.
A bela experiência de fé vivida em comunidades locais aproxima as pessoas, une as
famílias, fortalece as relações mútuas e se abre um bonito espaço para a fraternidade
universal. Quem une e integra nos bons sentimentos é a presença do Espírito Santo nas
CEBs. Foi o Espírito Santo que iluminou os Apóstolos e eles sentiram o coração
palpitante que animou a vida das primeiras comunidades cristãs no anúncio do
Evangelho e na fé no Cristo ressuscitado. Nós somos herdeiros dessa fé intrépida que
rompeu fronteiras e conquistou o mundo. Essa é nossa ação missionária na família e na
comunidade, alimentada e abastecida pela vivência em comunidades locais de fé em
verdadeiro espírito de Igreja.
Apoiados no documento de Aparecida, onde os bispos pedem que se fortaleçam as
comunidades eclesiais de base, onde cada cristão leigo (a) possa vivenciar e
testemunhar sua fé em sua própria comunidade quer seguir e animar nossa Igreja com
esse mesmo modo simples e fraterno de ser Igreja.
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil dá um destaque
especial em suas urgências quando fala de Igreja Comunidade de Comunidades.
Sabemos que o melhor e o mais seguro local para viver, testemunhar e ensinar a fé é na
comunidade onde moramos e onde podemos nos sentir mais família, mais próximos e
mais comprometidos com a mensagem de Jesus que veio trazer paz, alegria, justiça,
anúncio e profecia, imitando os seus discípulos.
No 13ª Intereclesial, animado pelo Espírito Santo, queremos evangelizar e sermos
evangelizados e não inventar outras formas de vida. Somos missionários da
comunicação clara e objetiva da Palavra de Deus. A Bíblia seja nossa condução e
animação na vida e na caminhada rumo ao mundo desejado por Deus. A vivacidade de
nossas comunidades iluminadas pela Palavra de Deus será sempre uma ação semelhante
à de Pentecostes onde se enche de coragem e se anuncia pela vida e pelo testemunho os
desígnios de Deus. A cura e a linguagem clara e compreensiva vêm da Ação do Espírito
Santo e não da nossa imposição. Somos criaturas obedientes à vontade de Deus.
Apresentamos o texto base para que cada comunidade, cada grupo de fé, se debruce
com fecundidade sobre as temáticas apresentadas. Seguindo o método, Ver, Julgar e
Agir, o texto apresenta a cultura, os sofrimentos e a história de fé do povo do nordeste
destacando o querido padre Cícero, considerado o grande Santo para o povo humilde e
simples do nordeste.
O 13ª Intereclesial acontecerá na cultura do nordestino com suas expressões culturais,
religiosas, familiares, com seus sofrimentos, desejo de superação e com suas sombras, e
luzes. Região das secas, grandes estiagens, mas terra de muitos santos e santas que
nunca deixaram de acreditar na intervenção divina que os sustenta na fé e na
religiosidade popular.
Os textos nos oferecem rica reflexão mostrando a realidade sofrida e a vocação poética
do nordestino. É importante que outras regiões do Brasil se curvem, e aprendam com o
nordestino a beleza da fé e a necessidade de purificar a mesma em cada espaço e tempo.
A caravana das CEBs caminha pelo Brasil todo e desta vez chega em Crato, CE, com
toda a sua poesia, tradições, cultura própria e religiosidade em volta do Padre Cícero.
Temos a oportunidade de aprofundar a reflexão, desenvolver o senso crítico para
purificar nossa fé, e que ela se torne uma via prática para a necessária transformação e
crescimento da fé, fazendo acontecer o Reino de Deus entre nós nas mais diversas
culturas e situações onde o povo vive.
Que nossa ação seja de coragem, de determinação coerente, ancorado nos princípios
evangélicos, apoiada pela Igreja que quer ser sinal da presença de Jesus e de seu Reino.
Do jeito simples, mas coerente, amável, mas comprometido, vigoroso, mas com ternura,
encorajemos a todos(as) os cristãos (as) a viverem com fecundidade missionária a ação
de Jesus nas pequenas comunidades eclesiais, mostrando ao mundo que o rosto de Jesus
continua forte e vigoroso no nosso meio.
Que o 13º Intereclesial seja uma fonte de iluminação, inspiração e um modo rico,
agradável, oportuno e natural de ser Igreja.
Juntos e fortalecidos pela fé e esperança, preparemo-nos profundamente para essa bela e
rica experiência de ser Igreja.
Por fim, que nos grupos de reflexão, de estudo da Palavra de Deus, na expressão natural
de ser Igreja, sintamos a mesma alegria de Isabel quando exclama: “a mãe de meu
Senhor me vem visitar” e que encha de alegria a todos que buscam viver a fé simples e
pura nas comunidades. Assim, poderemos seguir o trem das CEBs com vigor para
implantar a justiça e a paz no mundo e renovemos a face da terra.
Que Nossa Senhora, nossa Mãe e rainha, nos acompanhe em cada encontro e com ela
façamos a bela experiência da ternura e vigor na vida da família e na comunidade para
realizar a plenitude da Aliança de Deus para viver o amor sem fronteiras.
Dom Frei Severino Clasen, OFM
Bispo de caçador (SC)
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB
VER
6
01 –
A globalização e seus desafios à vivência da fé
Pedro A. Ribeiro de Oliveira
Sociólogo, Professor do PPG em Ciências da Religião -
PUC-Minas
consultor de ISER/Assessoria
Muito se tem falado de globalização nos últimos vinte anos, mas esse conceito
esconde diferentes interpretações. Convém, portanto, esclarecer o que significa a
globalização como acontecimento da história mundial recente, de modo perceber como
esse conceito é usado para justificar a expansão irrefreada do sistema capitalista e suas
consequências para as populações pobres e para a vida da Terra. Essa visão crítica abre
o horizonte para uma outra globalização possível, no sentido inverso da atual: da
periferia para o centro. Examinaremos aqui duas formas dessa “outra globalização”,
como desafio à fé cristã que deve concretizar-se a cada dia como proclamação de um
Reinado de Deus que já está no meio de nós.
A globalização
O conceito de globalização entrou em voga nos anos 1960, quando o mundo
tornou-se tão interligado que se podia falar de uma “aldeia global”. Com a comunicação
via satélite, as informações passaram a chegar ao mesmo tempo em qualquer parte da
Terra. Isso possibilitou aos países tecnologicamente mais avançados levar sua visão do
mundo e suas culturas a todos os demais, tornando global o que até então era local. Mas
permitiu também que elementos de outras culturas também se difundissem pelo mundo.
Basta pensar nas diversas culinárias que hoje podem ser encontradas por toda parte:
ninguém precisa mais ir ao Japão para experimentar a cozinha japonesa... Mais
recentemente a internet tornou o inglês a língua franca da informática, obrigando-nos
até a reinventar verbos para nos adaptarmos a ela: “deletar”, “digitar”, “clicar” “tuitar” e
outros.
Sobre aquele conceito de globalização foi enxertado outro, referente a mudanças
no sistema econômico. Ele entrou na linguagem corrente após 1989, quando a
derrubada do muro de Berlim precipitou o esfacelamento da antiga União Soviética e
pôs fim à “guerra fria” que até então dividia o mundo entre os aliados dos EUA e o
bloco socialista. Dissolvido o bloco socialista, o mundo parecia não ter alternativa senão
adotar o capitalismo. A globalização passou a ser entendida, então, como a supressão
das fronteiras nacionais de modo a transformar o mundo num único mercado onde o
dinheiro, as mercadorias e os serviços (mas não as pessoas!) circulassem livremente.
É importante distinguir os dois significados da mesma palavra, porque a
globalização da informação e da cultura é diferente da globalização financeira do
mercado. Para não confundir a interpenetração das culturas locais com a conquista do
mundo pelo sistema capitalista, pode-se usar a expressão “globalização neoliberal” para
indicar a atual globalização da economia.
“Neoliberalismo” também é uma palavra nova. Foi criada para distinguir a
política econômica que coloca a estabilidade da moeda em primeiro lugar, das teorias
econômicas que compõem o liberalismo clássico. Tanto uma quanto outra atribuir ao
Estado somente a função de manter a ordem política e jurídica, deixando a economia
regular-se pelas leis do mercado; mas os neoliberais destacam-se por sua oposição
ferrenha ao Estado “de bem estar social” que procura criar empregos e garantir o poder
de compra dos trabalhadores para se contrapor ao socialismo. Para o neoliberalismo,
gastos e investimentos públicos provocam inflação e por isso devem ser reduzidos ao
mínimo, de modo a alcançar o equilíbrio fiscal. Isso significa que o Estado deve
privatizar suas empresas, cobrar menos impostos e só fazer gastos sociais com pessoas
incapazes de prover sua subsistência. Esse pensamento tornou-se vitorioso nos anos
1980, depois das eleições de Margareth Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos
EUA. O desmoronamento da economia socialista soviética deu tal força ao
neoliberalismo, que M. Tatcher afirmou taxativamente: “não há alternativa”.
A globalização neoliberal segue a receita arquitetada pelos economistas do
Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e dos grandes bancos internacionais,
que ficou conhecida como “consenso de Washington”. Ela se realiza em três grandes
passos. O primeiro é combater implacavelmente a inflação e garantir a estabilidade da
moeda, ainda que isso cause desemprego e elevação dos juros (no Brasil, foi o “Plano
Real”). O segundo é conter os gastos do governo; privatizar os bancos, empresas e
serviços públicos; diminuir os direitos trabalhistas; cortar subsídios e abrir o mercado
interno a empresas estrangeiras. Nessa fase se dá o aumento do desemprego, a quebra e
a fusão de empresas, grande aumento da produtividade e a concentração da riqueza nos
setores mais competitivos. Vencida essa etapa, vem o terceiro passo: por merecer a
confiança dos investidores, o país recebe grande afluxo de capitais, sua economia passa
a competir no mercado mundial e o livre comércio trará a prosperidade geral. Esta é a
promessa da globalização neoliberal.
O Brasil na globalização neoliberal
A vitória de Collor contra Lula, em 1989, foi o início da opção brasileira pela
receita neoliberal. Itamar Franco ainda tentou evitar suas medidas mais duras, mas o
duplo governo de F. H. Cardoso consolidou aquela opção ao promover a privatização de
empresas estatais, dar prioridade ao equilíbrio fiscal e reduzir os gastos do governo –
exceto para o pagamento de juros da dívida pública. Embora o governo Lula tenha se
referido a essa “herança maldita”, não reverteu o processo. Sua política foi a de fazer
correções – como o fim do alinhamento subserviente aos EUA, não levar a diante o
processo de privatização de empresas, aumentar os gastos sociais e recuperar a política
de investimentos – para fazer do Estado um indutor do crescimento econômico, o que
contraria o neoliberalismo ortodoxo. Mas também ele manteve a política de dar
prioridade absoluta ao controle da inflação, garantir a pontualidade no pagamento dos
juros da dívida pública e privatizar as concessões na área de exploração de petróleo.
Assim fazendo, Lula conquistou a confiança dos investidores financeiros, que
aumentaram suas aplicações no Brasil, resultando na valorização do real frente ao dólar
e a acumulação de reservas cambiais que permitiram superar a crise financeira de 2008
e manter o crescimento da economia brasileira. Seu resultado foi a diminuição do
número de famílias em situação de miséria e o aumento significativo dos setores médios
(a chamada classe “c” que hoje representa praticamente a metade das famílias
brasileiras) sem prejuízo para os interesses dos setores dominantes: banqueiros,
rentistas, empresários e grandes proprietários rurais, cujos lucros muito aumentaram
desde 2003. Apesar de algumas diferenças – como a forte presença feminina em altos
postos de decisão política – o atual governo Dilma dá continuidade a essa política
macroeconômica cuja meta é a plena integração do Brasil no mercado mundial.
Essa inserção do Brasil no mercado mundial tem sido exaltada como um grande
passo para sua efetiva ascensão ao pequeno grupo de países desenvolvidos, ricos e
modernos. É fato inegável que o nosso PIB tem crescido de modo seguro, sem provocar
inflação descontrolada e isso favorece tanto a diminuição do desemprego quanto a
recuperação do salário-mínimo e, em conseqüência, do piso das aposentadorias e
pensões. Não se pode falar propriamente de diminuição da desigualdade
socioeconômica – porque a distribuição da renda e da riqueza continua a favorecer mais
o capital do eu o trabalho – mas é certo que muitas famílias saíram da faixa da miséria e
muitas outras alcançaram uma faixa de renda acima da linha da pobreza. Enfim, o
capitalismo reformado pelos governos Lula e Dilma tem beneficiado a grande massa de
trabalhadores assalariados, de aposentados e de quem está inscrito num dos programas
de assistência social do governo. Seria, então, a história recente do Brasil uma prova de
que a globalização neoliberal dá bons resultados para todos? Aparentemente, sim, e
muita gente – principalmente quem detém os grandes meios de informação de massa –
tudo faz para convencer o nosso povo de que este é o melhor, senão o único caminho
para o desenvolvimento no século XXI. Uma análise mais acurada, porém, mostra que
não é bem assim. É o que veremos em seguida.
Um beco sem saída: a lógica produtivista e consumista
O êxito do sistema capitalista reside na sua enorme capacidade de produzir
riquezas. Seu primeiro grande teórico, A. Smith, já dizia que não é a generosidade e sim
a ânsia de lucro que faz o padeiro levantar-se de madrugada para assar e vender seu pão
logo pela manhã. De fato, a economia de mercado, regida pela lei da oferta e da procura,
tem como motor a promessa do lucro. Todo empresário competente sabe que ao
contratar trabalhadores e adotar as melhores técnicas de produção e de gestão, aumenta
a oferta de bens ou serviços que, ao serem vendidos, lhe darão lucro. Esta é a lógica do
mercado: produzir para vender e vender para lucrar. O mercado é impulsionado por esse
motor e quem não vende vai à falência. É portanto da própria essência do mercado
expandir-se, isto é, integrar um número cada vez maior de pessoas como compradoras e
vendedoras de mercadorias cada vez mais diversificadas.
A história do capitalismo é a história do seu dinamismo expansionista,
incorporando um número cada vez maior de mercadorias e de agentes econômicos –
produtores e compradores. Esboçado nas cidades do norte da Itália há cerca de oito
séculos, criou as bases do comércio mundial moderno por meio das grandes navegações
e da colonização da América, África e parte da Ásia, provocou a revolução industrial,
consolidou-se nas revoluções políticas e culturais do século XIX e atingiu a maturidade
com o processo de globalização neoliberal. Ao longo dessa história o sistema capitalista
assumiu diferentes formas – mercantilista, liberal, imperialista, de bem-estar social e
neoliberal – e passou por diferentes centros polarizadores: das cidades italianas foi para
Amsterdã, dali para Londres e depois Nova York. Hoje há sinais de que o próximo
centro polarizador se localizará na China 1
. Essa expansão, porém, cedo ou tarde
1
Essas mudanças se deram sempre em meio a graves crises financeiras,
sociais e políticas, e nenhuma delas ocorreu sem provocar guerras. É preciso ter
presente essas lições da história para diminuir, o quanto possível, o inevitável
sofrimento humano que as crises acarretam. As pesquisas sobre a história do sistema
encontrará uma barreira intransponível: os limites físicos do nosso Planeta. Seus
primeiros sinais apareceram no horizonte nos últimos cinquenta anos. Vejamos
brevemente o que eles indicam.
Em diversos campos de atividade – ciências, comunicação, política, filosofia e
até teologia – cresce o número de pessoas alarmadas pelo desgaste físico do nosso
Planeta. O foco da atenção pode ser a produção de lixo, a destruição da biodiversidade,
a degradação dos solos e das águas, a desertificação dos mares, o aquecimento global, o
esgotamento das fontes de energia fóssil, os danos à saúde humana e animal, a exclusão
social, a revolta dos excluídos, e vários outros sinais de desequilíbrio do sistema de vida
da Terra. Os estudos e pesquisas deixam cada vez mais evidente que o principal
causador desses desequilíbrios é o produtivismo consumista da economia de mercado.
Ele utiliza enormes quantidades de energia e de matérias-primas, e gera mais poluentes
(lixos e venenos) e mais gás carbônico do que a Terra consegue absorver. O sistema de
vida da Terra normalmente absorve, aproveita e recicla todo tipo de elementos: energia,
água, ar, restos de seres vivos e tudo mais que a vida necessita para reproduzir-se e
diversificar-se. Mas essa capacidade de reciclagem não é ilimitada. Ultrapassado o
limite, o sistema entra em pane, como um organismo cujos anticorpos já não conseguem
mais combater a infecção. E este é o caso da Terra: adoeceu e está perdendo sua
capacidade de autorregeneração. O problema é que o tempo da Terra não é o tempo da
espécie humana: um século, para nós é muito mas para a Terra é pouco. Há três séculos
a crescente produção industrial vem exaurindo reservas de água, terra agriculturável,
energia e minerais e despejando poluição nos mares, solos e ar; mas só recentemente a
Terra começa a apresentar claros sinais de perda de vitalidade. Ainda que a produção
regredisse aos índices preindustriais – coisa impossível, devido ao crescimento
de mercado regido pelo capitalismo ganharam um enorme impulso a partir da obra de
F. BRAUDEL: Civilisation matérielle, Economie et Capitalisme, XVe
-XVIIIe
siècle; Paris,
Armand Colin, 3 vol., 1979 e de I. WALLERSTEIN: The Modern World System I: Capitalist
Agriculture and the Origins of the European World-Economy in the Sixteenth Century;
Nova York, Academic Press, 1974. As crises do capitalismo foram bem analisadas por
G. ARRIGHI: O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo; Rio de
Janeiro, Contraponto; São Paulo, Editora UNESP, 1996.
populacional – os danos já causados levariam muito tempo (para o padrão humano) a
serem reparados. Ou seja, paira sobre a espécie humana a ameaça de uma grande
catástrofe.
Essa ameaça foi percebida por pessoas atentas às questões ambientais, mas por
bastante tempo foi ignorada por empresários, economistas e dirigentes políticos. Quem
falasse de questões ecológicas, ambientais e de respeito à vida do Planeta era
desqualificado como aquele “ecochato” que gosta de criar problemas. Ainda hoje, quem
se opõe à construção de hidrelétricas na Amazônia – especialmente a de Belo-Monte – é
criticado como quem não quer nem o progresso da Amazônia nem o desenvolvimento
do Brasil. Mas essa consciência ecológica cresceu de tal modo, que os defensores do
capitalismo foram obrigados a propor mudanças. Uma delas é a economia verde, que
está na pauta da reunião da ONU no Rio + 20. Trata-se de contabilizar os custos
ambientais e humanos envolvidos em toda produção econômica. Seria uma “economia
sustentável” por levar em conta os três pilares da economia: o lucro, as pessoas e a
Terra. É sem dúvida um avanço em relação ao capitalismo neoliberal, regido
unicamente pela busca do lucro, mas erra ao colocar em pé de igualdade o lucro, as
pessoas e a vida do Planeta, como se os respectivos direitos fossem equivalentes.
Não é somente por dar igual importância ao capital, aos seres humanos e a toda
comunidade de vida, porém, que a economia verde é insuficiente para tirar o sistema
capitalista do impasse ecológico aonde se meteu. Sua maior fragilidade reside na
incapacidade de resolver o problema de um sistema econômico que precisa sempre
crescer, num planeta que não cresce. Este é o verdadeiro “beco sem saída” onde hoje
estamos: a espécie humana tem ocupado tantos espaços na Terra (antigamente, falava-se
de “desbravadores”), que em breve não haverá mais espaços virgens a ocupar. Basta
lembrar que já buscamos petróleo a 5.000 metros abaixo do nível do mar... Não está
longe o dia em que a economia mundial, ao atingir os limites físicos da Terra, sofrerá
um “apagão”.
Da periferia para o centro: outra globalização é possível
Se a globalização do mercado regido pelo capital está prestes a atingir seu
esgotamento, e isso acarretará um período de guerras, fome e mortandade em massa,
cabe agora levantar a questão de quais são as perspectivas para a humanidade que deseja
uma vida longa e feliz sobre a Terra. Esta é uma das questões mais importantes para os
cristãos e cristãs nos tempos atuais, porque precisamos dar as razões de nossa
Esperança. Tal como o livro do Apocalipse que parte dos “sinais dos tempos” para
assegurar a vitória da vida e prometer “um novo céu e uma nova terra”, as comunidades
eclesiais são desafiadas hoje a proclamar que “um outro mundo é possível”, desde que a
globalização não se faça do centro rico e desenvolvido para a periferia empobrecida,
mas a partir da periferia.
Hoje existem vários ensaios de alternativas à globalização neoliberal.
Despontam em diferentes partes do mundo, cada qual com as peculiaridades próprias de
sua cultura. Todas elas têm claro que não basta constituir-se uma “nova sociedade”, mas
há que ser uma “nova Terra”. Isto é, o novo modo de produção e de consumo deve ter
alcance planetário. Ele deve se apresentar como alternativa à economia de mercado
regulada pelo capital, cujo motor – o lucro privado – destrói tanto os recursos naturais
quanto os laços sociais de trabalho, ambos tratados como se mercadorias fossem. Por
isso, sua supressão passa pelo fim da dominação dos países ricos e suas corporações
transnacionais sobre a periferia mundial empobrecida, e também pelo fim da dominação
da espécie humana sobre as demais espécies vivas. Vejamos aqui, de modo sucinto,
duas dessas propostas.
A Carta da Terra
Aprovada em março de 2000 pela Unesco, a Carta da Terra2
busca criar o
consenso ético sobre as grandes questões do nosso tempo. Sua elaboração é o resultado
de um longo processo que envolveu mais de cem mil pessoas de 46 países. Em seu
Preâmbulo, a Carta afirma a gravidade do atual momento: “Estamos diante de um
momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o
seu futuro”. Constata que a própria vida está ameaçada pelos “padrões dominantes de
produção e consumo”, e que “a escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar
da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida”.
Afirma que a tecnologia já nos permite optar por um caminho ou outro e que a decisão
não é técnica, mas política.
2
O texto integral pode ser acessado em http://www.cartadaterra.org/ctoriginal.htm
Seu princípio fundamental é “respeitar e cuidar da comunidade de vida”. Ao
ser aplicado nos diferentes campos de ação, ele se desdobra em orientações práticas.
Vejamos aqui algumas delas.
É preciso que se adotem planos mundiais de sustentabilidade do Planeta, se
criem reservas, se promovam a recuperação de espécies ameaçadas e os recursos
naturais sejam manejados de maneira responsável. A melhor maneira de proteger o
ambiente é adotar o princípio da precaução: quando houver dúvidas sobre a segurança
de determinada atividade, esta deve ser evitada até que seja confirmada sua
confiabilidade. Os padrões de produção e consumo não podem causar danos
permanentes ao meio ambiente. Do mesmo modo, a saúde humana deve ser tratada
como um bem ecológico e deve ser garantido o acesso universal aos remédios e
cuidados da saúde. Por isso, a cooperação científica internacional deve ser estimulada,
superando o sistema de patentes quando está em jogo a proteção do meio ambiente e a
vida.
A atividade econômica, inclusive o comércio, deve promover a distribuição de
riquezas entre as nações de modo equitativo e transparente. O trabalho deve ser fonte de
manutenção de uma vida digna. Manda a Justiça social e econômica que as dívidas
internacionais, públicas ou privadas, não sufoquem as economias dos países em
desenvolvimento.
É preciso respeitar a democracia, a não-violência e a paz. Os direitos das
mulheres e meninas devem ser garantidos em todas as culturas e todos os países, sendo
eliminada a violência contra elas. Uma efetiva comunidade global não pode
constituir-se em detrimento das comunidades locais, que devem ser fortalecidas e
habilitadas a cuidar de seu próprio ambiente. O local e global não se excluem; ao
contrário, se completam. A cultura da não-violência e da paz deve ser estimulada e
incluir a desmilitarização dos sistemas de segurança, convertendo-se os recursos bélicos
em meios para a restauração ecológica e eliminando-se as armas de destruição em
massa - nucleares, químicas e biológicas.
A Carta conclui apontando o caminho à frente: “Como nunca antes na história,
o destino comum nos conclama a buscar um novo começo”. É necessário “harmonizar a
diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de
curto prazo com metas de longo prazo.” Conclamando as artes, as ciências, as religiões,
as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações
não-governamentais e os governos a construir uma comunidade global sustentável, a
Carta da Terra quer que “o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova
reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a
intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.”
O Bem-viver
O Bem-viver é um conceito que visa recriar, diante do fracasso do neoliberalismo,
um antigo conceito de certas culturas andinas como os Quetchua e Aymará. Depois de
cinco séculos de colonialismo e dominação européia, os povos tradicionais do nosso
Continente não querem voltar a um passado idealizado, mas sim buscar em sua
sabedoria ancestral uma proposta que os ajude a construir uma nova ordem social e
econômica. No período de mobilização popular contra as políticas neoliberais, aquele
projeto de vida coletiva ganhou novo conteúdo e nova forma, e sua força foi tanta que
foi incorporado às Constituições da Bolívia (2009) e do Equador (2008). Isso despertou
a atenção de grupos e movimentos alternativos em outros países e foi assim que, nos
últimos anos, o Bem-viver entrou na agenda de um número cada vez maior de
movimentos sociais, grupos e pessoas de todo o mundo3
.
O conceito refere-se a duas palavras com significados semelhantes em Quetchua e
em Aymará: suma(k) > muito bom, e kawsay ou camaña > conviver. Sua idéia central é
a vida em harmonia (i) consigo mesmo, (ii) com outras pessoas do mesmo grupo, (iii)
com grupos diferentes, (iv) com Pachamama – a Mãe Terra (v) seus filhos e filhas de
outras espécies e (vi) com as realidades espirituais.
Constitui uma alternativa econômica ao sistema produtivista-consumista ao
afirmar que a Terra não é um grande depósito de recursos naturais a serem explorados
para produzir riquezas, mas sim a mãe de todas as espécies de vida. Em vez de extrair /
transformar / consumir / descartar, a economia deve ser regida pelo princípio do
3
A Agenda Latino-Americana Mundial 2012 tem por tema o Bem-viver. Pode
ser acessada gratuitamente em
http://latinoamericana.org
respeito à Terra. Ela é mãe generosa, e mesmo não sendo rica, nada nega a seus filhos e
filhas. Mas nós – gente mimada e insensata – a exploramos, tudo exigindo e nada
retribuindo. Mesmo adoecida e desgastada como está hoje, a Terra continua a nos
oferecer aquilo que durante milênios produziu e conservou em seu seio. Só o respeito
aos Direitos da Terra poderá resgatar sua saúde e favorecer nosso Bem-viver.
É evidente que, se todos os Direitos da Terra forem respeitados, a produção de
riquezas sofrerá uma drástica redução. Mas, pensando bem, mais cedo ou mais tarde o
“apagão” dos recursos naturais obrigará nossa espécie a viver pobremente. Trata-se de
iniciar desde agora o processo de redução geral de riquezas, e nos prepararmos para um
modo de vida mais simples. É claro que este não é o projeto dos 1.210 bilionários e das
dezenas de milhares de milionários do mundo, que vão perder sua fortuna; mas é por aí
que podemos construir uma economia conforme o Bem-viver.
Conclusão: novo horizonte para o Planeta
O fracasso da globalização neoliberal faz desmoronar a antiga utopia do progresso
sem fim e nos desafia a seguir outra utopia como uma ideia-força – não um sonho
irrealizável. Ideia que, ao mobilizar as vontades para realizar-se na história, desperta
novas energias e alimenta a esperança de uma vida longa e feliz sobre a Terra.
Ao entender a espécie humana como parte responsável por cuidar da grande
comunidade de vida – e não como espécie com o direito de dominar as demais espécies
vivas e de tratar a Terra como fonte de recursos e depósito de lixo – a Carta da Terra e
o Bem-viver obrigam a reformular nossos padrões de sucesso. Ele não se mede mais
pelo PIB ou pela acumulação de riquezas, mas sim pelo grau de harmonia que se
alcança nas relações com a grande comunidade de vida. Aí, e não no consumo de bens e
serviços, reside a felicidade humana. Esta é uma lição de sabedoria que o mercado tenta
desqualificar como ingênua, mas que poderá resistir à grande crise de exaustão dos
recursos naturais do Planeta e às graves consequências do desmoronamento do sistema
financeiro que está na origem da globalização neoliberal.
Os documentos oficiais da Igreja católica já despertaram para essa “outra
globalização”, embora seu horizonte seja limitado à espécie humana, sem incluir a
comunidade de vida do Planeta. O Documento da V Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano e Caribenho em 2008 refere-se ao “forte chamado para promover
uma globalização diferente, que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo
respeito aos direitos humanos” (64). Contradiz a globalização neoliberal ao afirmar que
“trabalhar pelo bem comum global é promover uma justa regulação da economia, das
finanças e do comércio mundial” (423). Por isso conclama “todos os homens e mulheres
de boa vontade a colocarem em prática princípios fundamentais como o bem comum (a
casa é de todos), a subsidiariedade, a solidariedade intergeracional e intrageracional”
(425).
Os desafios da globalização à Fé cristã aí estão. Nossa resposta a eles definirá o
lugar das Igrejas cristãs no mundo conturbado deste século XXI.
02 – Crise Civilizatória: Desafios para as CEBs.
16
Roberto Malvezzi (Gogó)
- Reflexões sobre a Mudança de Época -
1) O Contexto.
A humanidade está passando pela mudança mais vasta, mais profunda e mais
imprevisível de toda sua história na face da Terra. A diferença essencial em relação a
todas as outras mudanças é que essa não se dá exclusivamente no seio das relações entre
os seres humanos, mas nos próprios fundamentos da relação entre a civilização humana
e o planeta no qual habita. O mito da inesgotabilidade dos bens naturais ruiu, mas a
força inercial do modelo predador persiste.
O modelo civilizatório ocidental, alicerçado na exploração de seres humanos por
outros seres humanos, e na intensa exploração da natureza por uma restrita elite
mundial, já não tem mais sustentação. Dos sete bilhões de pessoas que habitam o
planeta Terra, apenas 1,7 bilhão pertence ao modo consumista e predador da civilização
contemporânea. Para sustentar os caprichos dessa elite mundial, são necessárias 2,5
Terras para alguns, ou até seis Terras para outros. Essa elite não está apenas no primeiro
mundo, mas também têm seus nichos no segundo, terceiro e quarto mundos. Estender
esse modelo de produção e consumo a todos os seres humanos é impossível pelos
próprios limites desses bens em nosso planeta. Para sustentar esse modelo, pelo maior
tempo possível para uma elite restrita, é preciso restringir o acesso dos demais a esses
bens. O melhor mecanismo para selecionar os incluídos do modelo é aplicar as regras
do mercado a todas as dimensões da existência. Quem puder comprar, entra. Quem não
puder, está posto de fora.
Fomos acostumados a olhar o futuro sempre numa perspectiva de dias melhores.
O próprio conceito de utopia, embora nunca realizável, sempre aponta para uma
dinâmica que busca uma sociedade melhor que a do presente. Não fomos acostumados a
olhar para a entropia, isto é, a decadência natural de tudo que existe. Entretanto, a física
atual nos dá conta de que tudo tem seu começo, sua maturidade, seguida de sua
decadência. O próprio princípio de Gaia,4
que compreende a Terra como um ser vivo,
também entende que nosso planeta, se comparado com a vida de uma pessoa humana
que vai viver cem anos, já teria vivido oitenta. As ciências sociais não têm como
princípio, sequer metodológico, estudar a humanidade na sua relação com um planeta já
envelhecido, agora acossado pela extrema exploração humana. Um novo ramo das
ciências da Terra, particularmente a climatologia, nos obriga a compor um raciocínio
holístico, de interface com as ciências sociais, já que a civilização humana já não pode
ser pensada e entendida fora do planeta no qual ela se dá. Porém, se a própria Terra tem
4
Lovelock, James. A Vingança de Gaia.
sua decadência natural, também a espécie humana teria que considerar sua história na
Terra como temporária, fugaz, com prazo determinado. Portanto, quando será a data que
a humanidade entrará inevitavelmente em decadência? Do ponto de vista da
suportabilidade do planeta parece que chegamos ao limite, embora a técnica e a ciência
abram novos caminhos todos os dias, particularmente agora no avanço da
nanotecnologia. Talvez já estejamos próximos do ponto máximo suportável para Gaia,
se não já estivermos em franca decadência. Em todo caso, 2050, quando 9 bilhões de
pessoas estiverem ocupando a face da Terra, o planeta atingirá o máximo de sua
suportabilidade. Daí para frente, pelo menos em termos populacionais, não haverá mais
como avançar sem comprometer a vida como um todo. Entretanto, uma parcela de
ambientalistas e cientistas atuais poderão dizer que a humanidade já atingiu o ponto
máximo de sua ascensão, que já estamos num processo de decadência, já que a
humanidade atual consome pelo menos 2,5 vezes mais o que o planeta pode suportar.
Para alguns, o limite suportável para Gaia está entre um ou dois bilhões de pessoas. A
novidade é que nosso raciocínio terá que considerar, desde já, os limites da Terra e os
limites da humanidade. Portanto, o mito do paraíso terrestre, do progresso infinito, da
história infinita, não encontra qualquer respaldo na realidade do nosso Planeta e da
humanidade enquanto espécie. O Universo é devir, a Terra é devir, a humanidade é
devir, com princípio, meio e fim.
Uma boa metáfora para compreender a sociedade mundial contemporânea é
compará-la com um veículo em altíssima velocidade, com todos seus confortos, que
leva consigo apenas uma parte restrita da humanidade, deixando 70% à beira dos
trilhos, porém, sem saber se à sua frente existe uma estação, uma paisagem bela ou a
queda num abismo. A humanidade perdeu sua teleologia, isto é, seu rumo, seu norte,
seu ponto de chegada. Os grandes sistemas que orientaram a humanidade – o sonho da
“ordem e progresso” dos positivistas, o “paraíso terrestre” dos socialistas e comunistas,
o “consumismo capitalista”, além da cristandade na Idade Média – já não respondem
aos desafios contemporâneos. Restou o consumo imediatista de uma parcela restrita da
humanidade. “Um outro Mundo é Possível”, mas não sabemos mais que mundo
possível queremos.
A mudança se dá na tecnologia e na ciência, na sociedade humana, na
subjetividade das pessoas e na natureza. A hegemonia é do imediato sobre o sensato, do
consumo veloz sobre a sustentabilidade, do indivíduo sobre o coletivo ou comunitário,
do privado sobre o público e do econômico sobre o ético, o político e o ambiental. Os
que ficaram de fora têm o sonho, a necessidade, a maioria, mas não a força para
defender e conquistar seus interesses.
A ciência e as tecnologias avançam numa velocidade estonteante, sobretudo no
campo das comunicações, da informática, da genética, da nanotecnologia, fazendo com
que o tempo se transforme num “breve século XX”, enquanto no mundo inteiro milhões
de pessoas morrem cotidianamente de fome, de sede e de AIDs. A produção de
alimentos aumenta e a fome também, mas agora competindo com a produção de
agrocombustíveis. Por outro lado, como conseqüência, a biodiversidade se restringe, os
solos se empobrecem, a disponibilidade de água em quantidade e qualidade diminui,
assim como outros bens naturais. O próprio planeta reage com fúria e a gravidade de
sua vingança já se tornou fato. Em tragédias como de Nova Órleans e Mianmar, os
mortos são contabilizados às dezenas de milhares, ou mesmo a uma centena de milhar,
como é o caso de Mianmar. A concepção de um planeta inesgotável caiu por terra
diante da “consciência dos limites”. Entramos na “era dos limites”.
Como verso da mesma moeda surge uma nova consciência planetária, da
solidariedade global, da irmanação dos povos, de “um outro mundo possível”, a busca
desesperada por alternativas que salvem o modelo civilizatório construído. Essas
questões são de uma complexidade e de um contraditório quase que indecifráveis.
As instituições tradicionais perdem pertinência histórica, os Estados colocam-se
a serviço do privado, as grandes transnacionais impõem a ditadura do mercado, os
valores consagrados da humanidade são questionados, surge uma nova constelação de
valores como caldo cultural que sustenta a subjetividade da sociedade do consumo
imediato.
Como reação ressurge o “fenômeno indígena”, sobretudo nos países andinos e
no norte do Brasil, onde as nações que tiveram sua história podada estão próximas de
reencontrar o fio da meada de sua história. No mundo inteiro emergem os indignados,
nas várias praças do mundo.
As conseqüências dessas mudanças, portanto, são quase que infinitas, os
desdobramentos imprevisíveis, o destino da humanidade incerto. Enfim, o mundo que
conhecemos está em mudança, radical, de qualidade. É o que se chama de “crise de
paradigmas”(referências), “crise de sustentabilidade”, “crise civilizatória”.
2) O Desafio para as CEBs.
Nossas pequenas comunidades eclesiais de base, CEBs, sempre tiveram um
princípio formatador de seu perfil: unir fé e vida. Mas, não de um modo artificial. Na
verdade, sempre se esforçando para superar um vício histórico que era o de professar a
fé formalmente de uma forma e viver a vida tantas vezes de modo oposto ao que se
dizia. Sempre buscamos mais um modo de ser cristão que um modo de aparecer como
cristão.
As implicações dessa postura, embora de simples entendimento, de fundamentação
claríssima nos evangelhos, encontra terrível resistência em uma sociedade injusta como
a latinoamericana, particularmente a brasileira. A chamada opção pelos pobres, que
atravessa a bíblia do princípio ao fim, sempre sofre ataques dentro como fora da Igreja,
como se fosse uma opção das pessoas somente, não do próprio Deus.
Pois bem, as CEBs e as pastorais sociais são os “espaços eclesiais” onde essa
integração de fé e vida subsiste, ao menos como meta a ser perseguida. Não vamos
encontrar essa preocupação em outros espaços da vida eclesial, principalmente nos dias
de hoje, na religião glamorosa, baseada no sucesso, na fama e nos grandes eventos,
onde fica difícil discernir o que é proclamação de fé e o que é show busness.
Paulo, em de seus textos mais contundentes, afirma que a única coisa da qual tinha
que se gloriar era “das longas viagens, da prisão, das 30 chibatadas”, portanto, o avesso
do avesso da glória humana. Nossas comunidades, à semelhança de Paulo, estão
acostumadas ao caminho das pedras, das dificuldades, das perseguições, dos trabalhos
anônimos feitos de tal forma que a mão esquerda não saiba o que fez a direita. Aqui,
sem nenhuma conotação ideológica.
Para muitos as CEBs não existem mais exatamente porque são invisíveis. Não estão
na mídia, não fazem parte da programação das TVs católicas, não produzem dinheiro,
não visibilizam o mundo eclesial. Mas, sustentam a caminhada e estão no alicerce das
igrejas comprometidas, na luta pela terra, na luta pela água no semiárido, na defesa das
florestas na Amazônia, na luta pela justiça, pelos direitos humanos, assim por diante.
Enfim, onde há cristãos comprometidos, é bem provável que eles tenham alguma
ligação com as CEBs e ou com as pastorais sociais. Interessante que, quando alguém
tomba morto, em alguma forma de luta, provavelmente vem desse mundo. Ou, alguém
ali está presente para prestar a solidariedade da fé com as vítimas. Basta ver o que
acontece nos conflitos do campo, quem está presente junto a essas populações, como
indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, ambientalistas, etc.
Portanto, as CEBs, ao assumirem o desafio ambiental, da justiça, da luta pela terra,
pela água, ao se porem no chão, com os pés no chão, com as mãos no chão, de alguma
forma já estão enfrentando os desafios da mudança de época. Sustentar valores como
compromisso, solidariedade, justiça, preservação ambiental, é marchar contra a
corrente, como os peixes de piracema. É bom lembrar que só os peixes que nadam
contra a corrente se reproduzem, portanto, perpetuam o milagre da vida. Os que se
adaptam às forças da correnteza, que cedem, esses não mais se reproduzem e não
servem mais para nada, a não ser para serem pescados e consumidos pelos humanos.
Mas, diante do Aquecimento Global, o que se anuncia poderá ser a maio extinção
em massa que a humanidade já experimentou. Dizem os cientistas que foram cinco as
grandes extinções, mas a humanidade não estava aqui. Agora, estamos.
Apenas por questão didática, vamos relembrar que o Deus que tudo criou,
onipotente, hoje visibilizado pelas lentes dos grandes telescópios que investigam o
Universo, é o mesmo Deus encarnado em Jesus de Nazaré, que se fez carne, armou sua
tenda entre nós, que prestava atenção nos detalhes humanos, das pessoas tidas como
insignificantes. O Deus do Universo é o mesmo Deus do átomo, do “ovo primordial”,
do bóson de Higgs. É o mesmo Deus que andou nessa Terra, teve sede, fome, pavor de
morrer crucificado, mas atento até à angústia de uma mulher que padecia de “fluxo
contínuo”. Portanto, nenhuma contradição em contemplarmos o Deus grandioso e o
Deus dos detalhes, dos pequenos. Ele é assim mesmo.
Portanto, além dos desafios já tradicionais, vividos de forma tantas vezes sofrida,
sem perder a alegria jamais, agora teremos que nos deparar com o grande ajuste de
contas da Terra com os seres humanos. É um desafio para toda a humanidade, mas,
sempre temos um lugar aí para nos colocarmos. Qual é o melhor jeito de estarmos aí?
D. Hélder Câmara costumava dizer que “não somos melhores que ninguém, mas
temos que ser os mais responsáveis”. Claro, temos consciência que somos filhos de
Deus, temos consciência do Reino já presente na história, mas também de sua
plenificação futura.
Assim, com o único poder que nos foi dado, esse de dimensão evangélica, o desafio
continua sendo o de sermos “sal da terra, luz do mundo, fermento na massa”. Não
somos os únicos, nem os melhores, mas temos que ser os mais responsáveis.
Referências Bibliográficas.
LOVELOCK, James. A vingança de Gaia. Rio de Janeiro. Intrínseca. 2006.
MALVEZZI, Roberto. Crise Civilizatória. Paper. Indisponível.
03 – CEBS NO CONTEXTO URBANO
J. B. Libanio
Junho – 2011
A cidade desafia o compromisso político das CEBS
A cidade desafia as CEBs. Primeiro, como lugar do encontro social das
pessoas nas suas relações sociopolíticas e socioeconômicas justas e injustas. As
injustiças sociais no campo aparecem, sob certo sentido, de maneira bem escandalosa. A
cidade tende a escondê-las. Ao assumir as grandes transformações culturais, as pessoas,
mesmo pobres, sentem que participam de seus benefícios: eletricidade, aparelhos
domésticos, produtos industrializados a preço acessível. Tal fato anestesia a consciência
crítica. Dificulta as lutas. Ao vir para cidade, pensa-se que já se goza automaticamente
de seus benefícios. E por isso, perde-se certa garra de luta.
Com efeito, gente que nas CEBs do interior reivindicava pelos próprios
direitos, ao cair na grande cidade, diminui o fôlego. A cultura pós-moderna, com a
inundação gigantesca de programas de TV e com outros recursos da informática,
avassala a mente com propaganda. Tal universo de informação e de entretenimento
termina por cansar as pessoas a ponto de elas não encontrarem energia para outras
atividades. Passa-se facilmente de consciência combativa para acomodada.
Os líderes estudantis e operários, que, em décadas anteriores, conseguiam
mobilizar os afiliados para comícios, assembléias e greves, lutam tenazmente para
chegar até a eles por causa dos entraves que as cidades cada vez maiores põem e por
influência da cultura pós-modernidade presentista e paralisadora.
As CEBs, que no passado desempenharam papel relevante na vida
política do país a ponto de terem estado na origem de mobilizações e movimentos
sociais populares, e também do Partido dos Trabalhadores, sofrem, nas cidades, da
inércia crescente em face da política. Há enorme descrédito de tal atividade humana em
conseqüência de vergonhosos escândalos por parte dos atuais políticos. Não há dia em
que as manchetes não estampem casos de corrupção na administração do bem público.
O arrefecimento da prática religiosa na cidade
A cidade em relação à prática religiosa está a provocar-lhe o
arrefecimento. Dificulta o exercício dos atos religiosos que na vida rural se seguiam
cuidadosamente. O problema da prática religiosa anuncia-se como um dos grandes
desafios para os próximos anos. Já não se veem, com a clareza da vida rural, os antigos
símbolos católicos, invadidos por outras religiões, especialmente pelas igrejas
neopentecostais. As distâncias aumentam. A vida urbana acelera o ritmo das pessoas. A
queixa geral: não se tem tempo para nada.
De fato, na cidade o problema do tempo se torna cada vez mais grave.
Um dos entraves para o crescimento da vida das CEBs vem de as pessoas não
conseguirem hora para reunir-se. Gasta-se muito tempo no trânsito. E cada vez mais.
Qualquer mobilização, em que pese a maior rapidez dos meios de transporte em relação
ao mundo rural, está a custar tempo. E tudo leva a crer, assim como caminha o modelo
desenvolvimentista do país, que o problema da mobilidade nas cidades tende a piorar
com repercussão grave sobre a freqüência aos atos religiosos. Menos tempo para eles. A
vida religiosa parece minguar.
A explosão das igrejas evangélicas na cidade
Paradoxalmente, a mesma cidade que impede a prática religiosa, está a
provocar explosão de igrejas evangélicas. Nunca se viram tantas, sobretudo na periferia,
onde habitam os candidatos melhores para as CEBs, quer porque já as conheceram antes
de migrar, quer porque moram e vivem problemas semelhantes com proximidade de
moradia. Tais pessoas sofrem verdadeiro ataque das igrejas neopentecostais que
crescem a olhos vistos. E muitos circulam de igreja em igreja, perdendo assim
compromisso duradouro, necessário para constituir CEBs. As, que se formam nas
periferias, precisam de lucidez para trabalhar o surto evangélico que invade a mesma
camada social pobre. Lá talvez estejam os mais pobres. Como manter viva uma CEB
em face de tal desafio: Diminuição progressiva da visibilidade católica e crescimento
assustador dos neopentecostais?
Os pilares das CEBs
Importa muito conjugar a dimensão comunitária, a preocupação social e a
religiosidade. Sem esses três traços a CEB perde a característica própria. A cidade inibe,
sob certo aspecto, os três elementos. Dificulta as reuniões comunitárias. Reduz o tempo
para a convivência e assim impede o pessoal organizar-se comunitariamente. E as CEBs
que valorizam tanto o encontrar-se sofrem a angústia do isolamento urbano. Oferece a
atração da Tevê com as novelas e outros programas. Sem muita motivação e empenho,
dificilmente as pessoas se reúnem para leitura orante da bíblia, para celebrações e
reuniões a fim de programar atividade social. E sob esta perspectiva, ela impede o
empenho social.
Problema das lideranças
Outra dificuldade para fortificar os três pilares das CEBs vem da falta de
liderança. Na vida urbana, a importância da liderança se faz urgente. As CEBs
necessitam descobrir e formar os líderes, para que eles congreguem as pessoas em
comunidade. A cidade fragmenta a vida humana. Empurra os seus habitantes para
individualismo exacerbado e anonimato doloroso. E sem pessoas capazes de congregar
não fica fácil alimentar a vida de uma CEB.
Parcerias na luta pela justiça social: voz ética e profética
Paradoxalmente, esse ponto difícil converte-se em promissor para as
CEBs, se elas resgatam a dimensão humana e justa da cidade, recorrendo à longa
experiência de luta pela justiça do passado. Na sociedade civil e em determinados
órgãos do Estado nos três níveis municipal, estadual e federal existem experiências
sociais importantes. Há setores conscientes e lúcidos que se organizam. Se no campo as
CEBs assumiam, em muitos casos, a iniciativa, toca-lhes na cidade antes o trabalho de
parceria. Essa nova circunstância implica mudar a mentalidade. Passa-se de uma Igreja
de Cristandade, mesmo tendo mentalidade social como nas CEBs do interior, para uma
Igreja parceira do Estado, de organizações civis, de ONGs e etc. Perde-se o gostinho da
liderança e da iniciativa primeira, para somar forças com outros.
Demanda-se das CEBs urbanas agudo sentido de discernimento entre
extremos: comprometer-se unicamente quando elas exercem protagonismo ou sucumbir
à sedução da acomodação urbana, muito a gosto do sistema neoliberal. Parceria crítica e
profética: eis o caminho novo! Nem donas, nem afastadas dos espaços em que jogam as
cartadas decisivas da vida do cidadão urbano. Elas têm diante de si enorme
responsabilidade social em face do Estado, da sociedade civil e, de modo especial, da
mídia. Hoje esta se tornou instituição altamente poderosa na construção da opinião
pública. Antes de tudo, cabe às CEBs ser voz ética e profética em defesa dos pobres,
marginalizados, injustiçados e excluídos citadinos.
A cidade exclui ou segrega para os rincões inóspitos as massas que as
classes privilegiadas usam para manter o próprio bem-estar. Os gigantescos cinturões de
miséria, que circundam a cidade moderna, estão a exigir luta decidida e inteligente por
parte de todos os setores sensibilizados por tamanha injustiça. Chamem-se luta pela
moradia, reivindicações por melhores condições de vida, defesa do menor carente e da
mulher marginalizada. Os nomes se multiplicam. Mas a raiz do problema é uma só: a
configuração da cidade segundo o figurino maior do sistema neoliberal. Ele, cada vez
mais, de um lado, se torna concentrador de riqueza em benefício de minorias reduzidas,
e, de outro, excludente das imensas massas populares. O evangelho está a exigir das
CEBs presença sempre maior do lado dos excluídos.
Passagem do espaço para o interesse
Outro desafio importante da cidade consiste na mudança da mentalidade
em relação ao espaço. No campo, as pessoas medem as atividades pelas distâncias. Em
língua popular falava-se de léguas. Além do mais, para as principais atividades existia
lugar próprio. Ele congregava as pessoas para tal. Assim para rezar, ia-se à igreja e aos
santuários, para morar à casa, para divertir e trabalhar aos respectivos lugares. A
referência principal se fixava no espaço, no lugar.
A cidade modifica tal concepção. Ela já não valoriza os lugares como
tais. As pessoas se regem antes pelos interesses. E um lugar só se torna importante, se
ele atrai e desperta interesses nas pessoas. E quanto mais interesses um lugar criar, mais
é frequentado. Assim, p. ex., o shopping virou um dos lugares mais procurados.
Circulam por ele milhares de pessoas o dia inteiro. Por quê? Porque lá se compra, se
diverte, se encontram as pessoas, se veem lojas bonitas, se sente ambiente agradável.
Diferente de simples loja do interior que tinha por única atração o produto que vendia.
Esse exemplo serve para entender também o espaço material da igreja.
No interior, ele era procurado para cumprir as práticas religiosas. E nada mais. Se
continuar da mesma maneira, na cidade as pessoas só irão lá para isso. E fora de tais
atividades, fica deserto. Aliás, infelizmente, o que acontece com a maioria de nossas
igrejas. Vejam a diferença respeito a certas igrejas evangélicas em que sempre há gente
circulando. Por quê? Porque elas deixaram de ser simples espaço religioso e se tornaram
centro de interesses. E a frequência cresce à medida que se amplia a gama de interesses.
Imaginemos uma paróquia que além de oferecer os serviços religiosos
tradicionais, cria enorme centro de interesses. Assim, abre espaço para os jovens se
encontrarem tanto para reunião religiosa, como também cultural. Organiza cursos de
diversos tipos: corte e costura, primeiros socorros, preparação para o vestibular para
carentes, e assim por diante. Quantos mais numerosos forem os pólos de interesse, mais
será freqüentada. Aqui não há limite para a fantasia criadora da paróquia. Em miniatura,
vale o mesmo das CEBs urbanas.
Elas estão plantadas dentro desse mundo. Se elas multiplicarem os pontos
de interesse, tanto mais elas crescerão. Neste caso então, nelas se discutem política,
droga, violência, trabalho, temas de fé, etc. Cada um desses campos faz girar em torno
dele mais pessoas. O segredo das CEBs urbanas do futuro se encontra na capacidade
que tiverem de multiplicar espaços que atraiam as pessoas das diferentes idades e
desejos. Fica para elas esse gigantesco desafio de tornar-se rico pólo de interesses.
O isolamento das pessoas e o cultivo do espírito comunitário
A cidade aproxima fisicamente as pessoas. Agrupa-as em quantidade
gigantesca em rincões cada vez menores. E curiosamente produz o efeito contrário. Em
vez de socializá-las, isola-as no anonimato e no individualismo. Impera a regra:
“salve-se quem puder”. Trata-se de instinto de defesa. Teme-se que estabelecer relações
com as pessoas próximas traga invasões da privaticidade. Já a vida nas periferias goza
de pouco âmbito para o mundo pessoal. E se se abre o leque de relacionamentos, os
indivíduos se perdem numa rede de pedidos, solicitações, etc. A defesa: esconder-se
atrás do desconhecimento, da indiferença até mesmo respeito ao vizinho.
Então surge o desafio para as CEBs urbanas. Como conseguir um
equilíbrio entre o isolamento e a invasão exagerada da intimidade num ambiente de
excessiva proximidade física. O caminho vai na linha do cultivo do espírito
comunitário. Este existe quando se unem autonomia e relação, a própria identidade e a
diferença dos outros. E as CEBs têm muito a oferecer com a experiência de ser
comunidade.
A origem primeira das CEBs aconteceu em torno de círculos bíblicos,
celebrações, lutas sociais. As pessoas se reuniam para rezar, debater, celebrar, organizar
mutirões. Essas realidades continuam importantes e mais ainda na cidade. A questão
gira como pôr esse interesse no centro e encontrar um lugar concreto e hora
conveniente.
CEBs evangelizam a religiosidade na cidade
As CEBs conservam a vocação de ser presença no coração da vida da
cidade, carregada de problemas sociais. Cresce nas pessoas certo desejo espiritual,
provocado pela violência e dureza da vida urbana. As CEBs constituem-se pequeno
oásis de espiritualidade. Esse lado da vida humana parece promissor na atual sociedade
tão secularizada, materialista e violenta. A explosão do fenômeno religioso reflete a
carência de toque espiritual no mundo atual. Mas, ele sozinho não leva a nenhuma
verdadeira fé, se não for evangelizado.
Soa estranho falar de evangelização da religiosidade. Mas ela se impõe.
As CEBs encontram aí vasto campo de trabalho pastoral. A passagem da religiosidade
para a fé se faz através de três momentos. São Marcos ensina-nos o segredo (Mc 1, 14s).
Quando Jesus inicia a pregação, ele afirma quatro coisas: o tempo chegou à plenitude.
Nós já vivemos esse tempo, porque Jesus já morreu e ressuscitou. Em seguida, afirma
que o Reino de Deus está próximo tanto no tempo como no espaço. Próximo não quer
dizer que ainda não está presente. Mas o contrário. Ele está aí bem junto de nós e de mil
maneiras. Pela presença da Igreja, dos sacramentos, do irmão necessitado, da
proclamação da palavra, dos toques de graça no fundo do coração de cada um de nós.
Todos percebemos tal proximidade. A religiosidade e a piedade significam para muitos
tal cercania. O mais importante vem depois de tal experiência. Marcos acrescenta:
convertei-vos . A religiosidade que não pede conversão, ainda não se deixou
evangelizar. As CEBs têm potencial poderoso de ajudar as pessoas envolvidas na onda
espiritualista para que descubram a exigência de mudança de vida. Mas em que direção?
Marcos acrescenta: crede na Boa Nova. Essa consiste na experiência de Deus salvador
presente nesse mundo e, de modo especial, nos pobres. Aí o evangelho de Mateus
completa quando Jesus no julgamento se identifica com os famintos, sedentos,
estrangeiros, nus, enfermos, encarcerados (Mt 25, 31-45). A Boa Nova a que conduz a
conversão resume-se, em última análise, no serviço aos pobres, necessitados,
marginalizados da sociedade. Então, o último passo da conversão da religiosidade se dá
no compromisso, na práxis da caridade. Experiência que as CEBs conhecem de longa
data e de que, portanto, têm muita experiência.
A sedução da liberdade e da autonomia
A cidade seduz pela aparência de liberdade e de independência que
oferece. Alguém, que vivia no interior, controlado pelos olhares da família e da igreja,
ao chegar à cidade, sente enorme alívio. Aqui se leva a vida que e como se quer.
Desafio para as CEBs se mostrarem espaço de liberdade, de criatividade, de
participação. Só com tais características, elas terão força de apelo. Os fieis as
freqüentarão à medida que perceberem a comunidade não lhes pesar como obrigação,
imposição, mas como lugar de realização humana e religiosa.
Da obrigação para a realização humana
Cabe modificar a maneira de tratar as obrigações religiosas, deslocando o
acento para a alegria e o gosto de estar juntos, de celebrar a vida, de comprometer-se
com os problemas importantes sociais e familiares. A vida eclesial das CEBs não
aparece então como problema, mas como solução. Essa inversão alivia interiormente as
pessoas. Não as buscam porque se sentem coagidas, mas porque percebem que lá existe
espaço de realização humana e religiosa.
Da sedução das ofertas para a solidariedade
A cidade desafia as CEBs urbanas, enquanto espaço das ofertas múltiplas
nos diversos setores: consumo, trabalho, cultura, ascensão social, progresso pessoal.
Mesmo que para muitos, vindos do campo, ela se transformou em terrível pesadelo, no
entanto, não pensam voltar para a roça. Preferem continuar lá. Fica-lhes a ilusão de que
o fracasso presente não vem da cidade, mas deles. E permanece então a esperança de
melhor de vida.
Nessa situação, as CEBs, ao criar vínculo de solidariedade, oferecem
lugar para seus membros se ajudarem, tomarem consciência do próprio valor e
aproveitarem das ofertas diferenciadas do mundo urbano. Este comporta-se dubiamente.
Acena para sonhos, mas nega a muitos a sua realização. A pastoral urbana cresce à
medida que entra nessa dinâmica e procura gestar oportunidades de crescimento dos
membros. E isso implica quase sempre a melhoria no campo de conhecimento: cursos
profissionalizantes para os pais, possibilidade de estudo para os filhos, acesso ao mundo
cultural. Quanto mais se avança na sociedade do conhecimento, as profissões exigem
sempre mais saber. O uso da informatização se impõe cada vez mais. As CEBs
precisam se pensar também nessa perspectiva.
Do lugar do desejo e do prazer para experiências novas
A cidade se torna cada vez mais lugar dos desejos, do prazer, de um lado,
e, da violência, do barulho, do cansaço, da confusão física e mental, do outro. As
pessoas se sentem dilaceradas. Não lhes faltam ocasiões de muito gozo com enorme
gama de entretenimento e com infinitas solicitações aos sentidos. No entanto, essa
mesma provocação tem causado exaustão espiritual, perturbação do coração, ruído
interior e, sobretudo, violência, em grande parte, como fruto da presença da sedutora
droga ou do incentivo a aventuras arriscadas.
A evangelização vai na direção de as CEBs criarem espaços para
experiências opostas: silêncio, tranquilização, paz interior e depuração do sentido de
prazer. Tarefas que a vida rural não conhecia. E as CEBs urbanas encontram aí amplo
campo de expansão criativa.
Conclusão
A cidade está a exigir das CEBs transformações profundas. Vale o
princípio básico de toda mudança. Olhar para o passado, recolher os valores
fundamentais e conservá-los. Perceber-lhes os limites e abandoná-los. E, sobretudo
entregar-se à tarefa criativa. Ficam, portanto, três perguntas para as CEBs urbanas:
1. que elementos das experiências anteriores vividas pelos membros merecem ser
conservados na relação com Deus, no interior da comunidade e na prática pastoral?
2. que elementos se consideram definitivamente superados e, portanto, não cabe teimar
retê-los nos três níveis da compreensão de CEBS, da experiência comunitária e da
prática pastoral?
3. finalmente, que novas perspectivas a cidade abre para as CEBs nos três níveis da
compreensão de CEBs, de vivência comunitária e de prática pastoral?
Texto enviado para o Secretariado Nacional do 13º Intereclesial das CEBs – Juazeiro do
Norte/Ceará – 07-11 de janeiro de 2014
04 – CEB: lugar da juventude?
Desafios e perspectivas da participação juvenil nas CEBs5
Solange dos Santos Rodrigues6
A presença de jovens nas CEBs tem dado origem a debates nos últimos anos em
torno das questões: Em que medida a juventude participa das CEBs? Quais as razões
para uma participação reduzida? Como favorecer uma presença mais significativa de
jovens nas comunidades? Por outro lado, a constatação de uma presença pouco
expressiva de jovens nos Intereclesiais gerou iniciativas nos dois últimos encontros. No
11º. Encontro em Ipatinga-MG (2005) cerca de 250 jovens das dioceses de Minas
Gerais e do Espírito Santo participaram do Acampamento Igreja Jovem, instalado
próximo ao local da grande plenária. Eram jovens que não faziam parte da delegação
oficial, mas participaram de alguns momentos da programação, como as grandes
celebrações e das tendas de trocas de saberes. No Acampamento foi realizada uma série
atividades paralelas. Ao longo dos dias o Acampamento foi ganhando importância e
recebeu a visita de várias pessoas - assessores, bispos, delegados, que fizeram pequenas
palestras ou levaram uma saudação e palavras de estímulo à juventude ali reunida. Os
jovens redigiram uma carta que foi lida na grande plenária do Intereclesial. Já no 12º.
Encontro, em Porto Velho-RO (2009), chamou a atenção o grande número de
adolescentes e jovens nas equipes de serviço. Além disso, as dioceses foram
incentivadas a incluir pelo menos um jovem nas suas delegações, o que resultou numa
expressiva presença juvenil no Encontro. Numa das noites, cerca de 300 jovens
participaram de uma reunião convocada pelas organizações juvenis presentes. Nesta
ocasião foi formada uma comissão para elaborar uma mensagem lida na grande
plenária. A carta abordava a situação vivida pelos jovens em nosso país, em especial a
violência, e reivindicava que os clamores da juventude fossem refletidos no próximo
5
Este título é inspirado e dialoga com o projeto “Comunidade; lugar da
juventude”, uma das iniciativas do Setor CEBs da Comissão para o Laicato-CNBB para o
quadriênio 2012-2015, elaborado pelo assessor do Setor, professor Sérgio Coutinho.
6
Socióloga, mestre em Sociologia (UFRJ, 1997), pesquisadora das áreas de
juventude, religião, participação social e políticas públicas, trabalha na organização
não governamental Iser Assessoria, no Rio de Janeiro. Agradeço a leitura atenta e as
sugestões de Névio Fiorin e Ivo Lesbaupin, companheiros do Iser Assessoria, e dos
amigos Sérgio Coutinho e Felipe Freitas.
Intereclesial, com o tema: “Cebs em defesa da vida da juventude” 7
.
Estas iniciativas estão inseridas em um contexto no qual a Igreja Católica tem
dirigido um olhar mais focalizado na juventude. Alguns sinais: em 2007 a CNBB
aprovou o documento Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais;
em 2011 foi criada na CNBB a Comissão Episcopal da Juventude, que sucedeu o Setor
Juventude, antes vinculado à Comissão Episcopal para o Laicato, da qual fazem parte o
Setor CEBs e o Setor Leigos; em 2013 será realizada a Jornada Mundial da Juventude
no Brasil. Ao mesmo tempo, segmentos de jovens católicos, membros de organizações
criadas há décadas no país, têm relatado dificuldades de diálogo com o clero e
lideranças eclesiais, e falta de apoio às suas iniciativas. Estamos diante de uma
contradição?
A preocupação com a juventude não é exclusiva das CEBs e de outras
organizações da Igreja Católica. Jovens estão em evidência no Brasil e no mundo desde
meados dos anos 90: nos meios de comunicação, nas pesquisas acadêmicas, nos
movimentos sociais e partidos políticos, nas entidades religiosas, nos organismos
governamentais. Isso se deve tanto ao reconhecimento dos graves problemas vividos
pela juventude atualmente, quanto à ação organizada da própria juventude, que coloca
na pauta social seus interesses e potencialidades.
A adesão de pessoas mais jovens é fundamental para as organizações da
sociedade que pretendem ter continuidade para além da presente geração. Por isso
muitas entidades têm buscado atrair jovens para suas fileiras, numa estratégia de
sobrevivência. Quando as CEBs se debruçam sobre o tema da juventude na preparação
do 13º. Intereclesial, elas também se colocam nesta perspectiva? Há outras motivações?
Quais?
Para perceber as possibilidades e limites da participação juvenil nas CEBs é
preciso inserir esta reflexão no quadro mais amplo da situação da juventude em nosso
país, e da vivência religiosa de jovens na atualidade. Os dois próximos itens pretendem
7
A íntegra destas cartas encontra-se em
http://www.casadajuventude.org.br/media/carta_juventude.doc e
http://www.cmjbh.com.br/06_noticia_detalhe.asp?cod=40 , respectivamente.
colaborar nesta compreensão. Em seguida serão abordados alguns desafios e
perspectivas da presença de jovens nas CEBs8
.
1 – Elementos da situação juvenil no Brasil atual
Aproximadamente um quarto da população brasileira atual é jovem, um
contingente de cerca de 52 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, com demandas
específicas e potencialidades9
. As relações que a sociedade estabelece com os/as jovens
são marcadas por uma ambiguidade: a juventude se torna um valor na sociedade de
mercado (ideal desejado de vitalidade, beleza, alegria, explorado pela propaganda) e
todos desejam permanecer jovens; ao mesmo tempo, a juventude condensa medos
sociais, na medida em que é relacionada a problemas existentes na sociedade que lhes
dizem respeito mais diretamente, como o envolvimento com violência, drogadição10
,
abandono da escola, desemprego/desocupação, situações decorrentes do início da vida
sexual – contágio de doenças sexualmente transmissíveis ou gravidez não planejada -, e
outros comportamentos que podem colocar em risco sua integridade física e saúde.
Jovens também são as vítimas mais frequentes de exploração sexual e de homofobia.
Por outro lado, existem muitas dificuldades de inserção social para grandes parcelas da
juventude, que têm limitadas suas possibilidades de acesso à educação de qualidade e a
postos de trabalho dignos, à formação profissional, à fruição cultural, ao lazer, à
8
Estas notas estão baseadas em estudos e pesquisas sobre a juventude
brasileira, na observação da dinâmica das CEBs, nos diálogos estabelecidos com jovens
participantes ou não de grupos eclesiais, em especial os pertencentes à Pastoral da
Juventude, e também na escuta de jovens que a Conferência dos Religiosos do Brasil
realizou em 2009 (Cf.: Rodrigues, 2010).
9
População com idade entre 15 e 29 anos em 2010: 51,3 milhões, segundo a
Projeção Populacional do IBGE – Revisão 2008. Cf. Castro et elli, 2009:30. Esta obra,
publicada pelo IPEA no final de 2009, traz os indicadores sociais mais atualizados sobre
a juventude brasileira, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do
IBGE de 2007.
10
Uso abusivo de substâncias psico-ativas.
participação.
Existe uma tendência a generalizar quando se aborda a situação juvenil em nosso
país, mas é preciso perceber a complexidade de modos de vida desses milhões de
jovens, muito diferenciados quando considerados segundo variáveis de sexo, condição
socioeconômica, local de moradia, cor/etnia, situação de trabalho, escolaridade,
orientação sexual, vida familiar, pertencimentos religiosos, políticos etc..
Diversas pesquisas sobre a juventude brasileira realizadas na última década
contribuem na compreensão deste universo11
. A população juvenil está concentrada nas
áreas urbanas (84,8%)12
. A maior parte vive em cidades pequenas e médias, e um terço
em áreas metropolitanas. A migração de jovens para os centros urbanos tem por
objetivo ampliar as oportunidades de educação, trabalho e diversão. Mesmo que a
imensa maioria da juventude brasileira resida no meio urbano, cerca de 5,5 milhões de
jovens permanecem no campo (15,2%), e é necessário garantir seus direitos
fundamentais de educação, formação profissional, mobilidade e lazer.
A educação e o trabalho são elementos fundamentais no processo de construção
de autonomia e emancipação da juventude. Nas duas últimas décadas ocorreu um
aumento na escolarização juvenil: em 1992, 23,7% dos jovens de 15 a 29 anos
freqüentavam a escola, percentual que se eleva para 35,4% em 200713
. No entanto, ainda
havia cerca de 1,5 milhão de jovens analfabetos em 2007, concentrados principalmente
no Nordeste; 17% dos jovens de 15 a 17 anos estavam fora da escola (idade adequada
para cursar o ensino médio); 24,5% dos jovens até 29 anos haviam concluído o ensino
médio, apenas 13% dos jovens de 18 a 24 anos frequentavam o ensino superior, e
poucas oportunidades para o ensino profissional. Mesmo com a melhoria dos índices
de acesso, permanecem desafios referentes à qualidade da educação oferecida e às
condições necessárias para o desenvolvimento do processo educativo: transporte,
11
Veja-se especialmente Venturi e Abramo (2000); Abramo e Branco (2005);
Ribeiro et alii (2006) e Abramovay et alii (2007) e a obra citada na nota 5.
12
Cf. Castro et elli, 2009:33.
13
Cf. Castro et alii, 2009: 89-108.
alimentação, material didático, qualificação e remuneração dos profissionais.
Atualmente há diferentes formas de articulação entre escola e trabalho na
experiência cotidiana da juventude brasileira. Segundo dados de 2007, uma pequena
parcela só estudava (17,5%), outra era constituída por jovens que estudavam e
trabalhavam (17,9%), enquanto 49,9% apenas trabalhavam. O grupo daqueles que nem
estudavam, nem participavam do mundo do trabalho (14,7%) pode dar uma falsa idéia
de que há um contingente significativo de jovens em nosso país excluídos simultanea e
voluntariamente da escola e do trabalho. Contudo, é preciso considerar que aí estão
incluídas jovens mulheres que se dedicam às tarefas domésticas, a maioria delas já
envolvidas em relações conjugais, e/ou vivendo as responsabilidades do cuidado com
filhos. Com efeito, os homens jovens de 15 a 29 anos que não estudam e estão fora do
mercado de trabalho são 7,2%, enquanto que as mulheres desta faixa etária e na mesma
situação são 22,0%14
. Além disso, é preciso lembrar aquela parcela da juventude que
concluíra o ensino médio ou universitário e buscava emprego.
Com efeito, a incerteza em relação ao ingresso e permanência no mundo do
trabalho tem sido apontada como uma das marcas geracionais da juventude brasileira
neste início de século. Nestes tempos de transformações nas formas de produção
econômica e de políticas macroeconômicas neoliberais que restringem a criação de
postos de trabalho, a inserção no mundo do trabalho é um grande desafio para a
juventude, em especial para jovens sem experiência laboral. Mesmo quando crescem as
oportunidades de trabalho, o desemprego juvenil é três vezes superior ao da população
adulta. Isso faz com que um contingente expressivo de jovens se sujeite a trabalhar em
situações precárias, sem as garantias da legislação trabalhista, ou procure oportunidades
em outras cidades ou regiões. É preciso lembrar que a juventude é a etapa do ciclo de
vida em que aumentam as pressões por consumo e se acelera a busca por autonomia em
relação à família de origem.
Pesquisas recentes mostraram os problemas que mais preocupam a juventude:
emprego e segurança/violência 15
. De fato, outra marca geracional da juventude
14
Cf. Castro et alii, 2009:78.
15
Abramo e Branco, 2005: 380 e Ribeiro et alii 2006:18.
contemporânea é conviver com a violência. Os índices de violência que atinge jovens
em nosso país são semelhantes ou superiores aos encontrados em países que se
encontram em guerra16
. Entre 2003 e 2005 houve cerca de 60 mil óbitos de homens
jovens por ano, a grande maioria (78%) resultante de homicídios e acidentes de
transporte. Trata-se de uma violência que atinge de maneira particular jovens do sexo
masculino e negros17
. Uma parte significativa dessas mortes está relacionada à disputa
por território para o comércio ilegal de substâncias psicoativas; aos confrontos da
polícia com jovens envolvidos neste comércio; e à ação de grupos de extermínio.
Trata-se de uma realidade presente no cotidiano de muitas cidades brasileiras,
independentemente de seu tamanho. A problemática da violência urbana está
estreitamente relacionada à rede de produção, circulação, distribuição e consumo de
drogas ilícitas, apoiada no poder bélico, que envolve altos investimentos e lucros que
ultrapassam as fronteiras dos territórios segregados das cidades onde é feita a venda em
pequenas quantidades. Tudo isso agravado pela corrupção policial. É preciso evitar a
simples condenação moral dos jovens envolvidos, muitos deles atraídos para atividades
criminosas por falta de outras oportunidades de inserção social, por necessidade de
satisfazer a dependência química, ou por desejo de adquirir mercadorias que lhes dê
visibilidade social. A prevenção do consumo e o tratamento do usuário de substâncias
psicoativas são ações importantes, mas insuficientes para enfrentar esta situação, que
exige a implementação de uma política de segurança pública adequada. Também é
necessário atentar para o abuso no consumo de álcool, droga lícita a que jovens tem
fácil acesso (apesar das restrições de venda e de publicidade direcionada a segmentos da
juventude), que está na base de diversas situações de violência que atingem jovens,
como os acidentes de transporte, brigas, quedas e afogamentos, homicídios. Além disso,
a persistência dos índices de jovens mulheres vítimas de violência e o alto número de
jovens gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais mortos em casos de homofobia
continuam a impactar a condição de vida destes segmentos populacionais.
16
A este respeito, ver o artigo de Luiz Eduardo Soares em Novaes e Vannuchi
(2004).
17
Dados detalhados sobre a morbimortalidade de jovens podem ser
encontrados em Castro et alii, 2009:131-138.
Uma terceira marca geracional da juventude brasileira na atualidade, ao lado das
dificuldades de inserção profissional e da convivência com a violência, é a comunicação
virtual possibilitada pelo desenvolvimento da microinformática e da internet. Esses
recursos são acionados dando origem a novas formas de sociabilidade juvenil, abrem
perspectivas para a circulação de informações, para o estabelecimento de identidades
(como, por exemplo, as redes sociais e temáticas), se prestam ao lazer, ao estudo, e
potencializam diferentes formas de mobilização, numa velocidade e amplitude
inimagináveis antes do advento dessas tecnologias de informação e comunicação. Este
campo, todavia, não está livre de ambigüidades. São muito variáveis as condições de
acesso à internet em banda larga no país, e sua democratização permanece um desafio.
Além disso, muitos denunciam que jovens dedicam tempo demais ao universo virtual, o
que favoreceria seu isolamento e dificultaria o estabelecimento de relações face a face,
presenciais. No entanto, boa parte do tempo gasto por jovens na internet está associada
à alimentação das chamadas redes sociais, através das quais compartilham com amigos
seus interesses, informações, imagens, músicas. Trata-se de um poderoso meio de
comunicação que exige orientação para uso adequado, e cuidados para evitar que a
segurança dos jovens seja ameaçada por excesso de exposição.
Estas marcas geracionais são compartilhadas pela juventude de nosso país neste
início de século, mas são vividas de forma peculiar de acordo com as diferenças e
desigualdades presentes no interior deste segmento social – a experiência do
desemprego, da violência ou da comunicação virtual é diferenciada, quando se trata de
jovens homens ou mulheres, negros ou brancos, pobres ou ricos, do meio urbano ou
rural, residentes no centro ou na periferia, hetero ou homossexuais, escolarizados ou
não, com ou sem filhos... Por isso, uma tendência é indicar a existência de diversas
juventudes, no plural. Há também o fenômeno da formação de grupos juvenis em torno
de identidades específicas, reunindo jovens que compartilham pensamentos, estilos de
vestir, gostos, comportamentos, formas de estar no mundo, que configuram diversas
culturas juvenis (alguns denominam estes grupos de “tribos urbanas”).
A participação social é outro tema polêmico quando se reflete sobre a
juventude atual. Uma concepção muito difundida é que jovens de hoje são
individualistas e estão afastados de ideais e de práticas de solidariedade, de
compromisso e de mobilização social, em comparação a gerações de jovens de décadas
passadas, ou em comparação aos adultos da atualidade. Muitos estudiosos têm
questionado este tipo de avaliação, porque não há séries históricas que permitam a
comparação entre juventudes de diferentes épocas, nem estudos comparativos entre o
nível de mobilização social de jovens e adultos numa mesma época18
. Ao contrário,
apontam uma infinidade de mobilizações juvenis que ultrapassam os campos
tradicionais da militância estudantil e político-partidária, que são constituídas em torno
de identidades coletivas que buscam efetivar direitos: são jovens negros e negras, jovens
mulheres, jovens da agricultura familiar, jovens com deficiência, jovens das
comunidades tradicionais, jovens do movimento LGBT19
, jovens do movimento Hip
Hop, jovens de redes constituídas em torno da ecologia ou da comunicação, do esporte e
de manifestações artísticas, para citar alguns exemplos de uma juventude que alimenta
anseios de transformação pessoal e social, e que se envolve na construção das chamadas
políticas públicas de juventude. Outras tantas iniciativas, que se inserem em um
conjunto diversificado de mobilizações juvenis, eclodiram pelo mundo nos últimos
anos, das manifestações dos “indignados” na Espanha, denunciando a crise econômica
que retira perspectivas de inserção social para a juventude, aos protestos dos jovens
chilenos, em luta por reformas no sistema educacional; da revolta dos jovens dos
subúrbios franceses, apontando os desafios das novas gerações de famílias migrantes
em um contexto de xenofobia crescente, aos jovens participantes das manifestações do
que tem sido chamado de “primavera árabe”; passando pelas diferentes juventudes
envolvidas nos protestos contra a hegemonia do capital financeiro nas ocupações em
Nova Iorque – “ocupem Wall Street” - que rapidamente se espalhou por tantas cidades
pelo mundo.
De qualquer modo, é preciso reconhecer que a imensa maioria da juventude
brasileira não está inserida nestas mobilizações hoje, nem esteve no passado. Uma ideia
recorrente presente em algumas formas atuais de mobilização juvenil é a produção de
mudanças imediatas a partir de ações individuais e localizadas, em detrimento de
18
Para uma discussão mais ampla deste tema, ver os artigos de Paulo
Krischke (Questões sobre juventude, cultura política e participação democrática) e de
Gustavo Venturi e Vilma Bokany (Maiorias adaptadas e minorias progressistas) em
Abramo e Branco (2005).
19
Movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
projetos societários de transformação a longo prazo. Uma tendência desta geração é a
busca de resultados concretos e imediatos de sua ação social, Aí se inserem as
iniciativas baseadas no voluntariado e a valorização de pequenas experiências
inovadoras que atestem a viabilidade de uma maneira sustentável de estar no mundo,
derivadas da concepção de que as mudanças virão se cada um fizer a sua parte. O que é
fundamental para o estabelecimento de um novo padrão de relacionamento com a
natureza e com as pessoas. No entanto a gestão da vida social, em tempos de
globalização e de mudanças climáticas, exige governança e implantação de políticas
públicas que garantam direitos coletivos e a convivência entre as pessoas20
.
2 - Vivência religiosa juvenil
A reflexão sobre CEBs e juventude deve levar em consideração o contexto mais
amplo em que se dá a experiência do sagrado e o pertencimento religioso juvenil. A
juventude está de fato mais afastada das religiões na atualidade? Esta questão não
admite respostas apressadas e absolutas, tanto pela diversidade que atravessa a
juventude brasileira contemporânea, quanto pela dinâmica que vem imprimindo
profundas transformações no campo religioso do Brasil nas últimas décadas. Também
com relação à religião os jovens se diferenciam.
Os dados demográficos mais recentes sobre juventude e religião são do
Recenseamento Geral da População de 2010, divulgados em junho de 2012. A
distribuição dos jovens de 15 a 29 anos pelas diferentes religiões segundo sua
auto-declaração era: 63,4% católicos, 21,7% evangélicos, 1,6% espíritas, 0,3%
umbandistas e candomblecistas, 2,9% deram outras respostas (hinduístas, budistas,
muçulmanos, tradições esotéricas, indígenas, judaica, múltiplo pertencimento etc.). E os
demais 10,1% informaram que não eram adeptos de nenhuma religião instituída.
Note-se que este é o terceiro maior grupo, atrás dos católicos e evangélicos.
Comparando estes percentuais com os dados para o conjunto da população
20
Um exemplo ilustrativo: não basta separar o lixo familiar para resolver o
problema de esgotamento sanitário das metrópoles – há necessidade de políticas
públicas de saneamento.
brasileira, observa-se que os jovens se distribuem pelas religiões de modo bastante
semelhante ao restante da população21
. A única diferença que merece destaque é que
entre jovens há uma proporção maior de pessoas que se declararam sem religião
(10,1%): o índice é 26% superior aos indivíduos sem religião no conjunto da população
brasileira (8,0%).
Entretanto isso não significa um crescimento mais acentuado do ateísmo entre
jovens. Diversas pesquisas mais detalhadas têm indicado que a grande maioria desses
jovens sem religião tem crenças, busca uma proximidade com o sagrado, experimenta
uma mística, muito embora não se sinta identificada com uma religião em particular.
Tanto assim, que apenas 0,04% de jovens se identificaram como ateus e 0,01% como
agnósticos no Censo de 2010.
Isso se deve a fenômenos como a desinstitucionalização religiosa (pessoas se
desvinculam das religiões tradicionais e passam a ter uma experiência do sagrado sem a
mediação de instituições religiosas); o trânsito religioso (a peregrinação entre diferentes
alternativas religiosas existentes no campo religioso); as adesões provisórias, a prática
simultânea de mais de uma religião, a produção de sínteses pessoais, sincréticas, a partir
de elementos disponíveis em diferentes sistemas de crenças. E há também aqueles que
mesmo optando por uma determinada religião, estabelecem negociações pessoais com o
conjunto de concepções e práticas requeridas dos adeptos. Por exemplo, católicos que
têm um comportamento sexual e reprodutivo diferente do prescrito na doutrina oficial
do catolicismo. Todos estes fenômenos, presentes na população em geral, são mais
acentuados no segmento juvenil.
A busca de respostas para suas dúvidas e angústias existenciais, a abertura ao
novo, a extrema curiosidade, a liberdade frente a exigências incompreensíveis, a crítica
aguçada quando percebem nos líderes religiosos atitudes consideradas inadequadas são
elementos que produzem vínculos mais tênues entre uma parcela da juventude e as
instituições religiosas. É freqüente encontrarmos jovens que em um curto período
passaram por diversas experiências religiosas. Muitos têm a atenção despertada para
21
Religiões dos/as brasileiros/as, segundo o Censo de 2010: 64,6% católicos;
22,2% evangélicos; 2,0% espíritas; 0,3% umbandistas e candomblecistas; 2,7% de
outras declarações:; e 8,0% de pessoas sem religião.
religiões de matriz oriental, ou para espiritualidades exóticas e esotéricas, associadas à
dimensão terapêutica e do autoconhecimento.
Tudo isso coloca em xeque avaliações generalizadoras segundo as quais a
juventude não teria interesse pelo universo religioso, nem firmeza no compromisso
advindo dessa adesão. Também neste aspecto é possível perceber uma diferenciação no
meio juvenil: alguns não estabelecem vínculos com as instituições religiosas; outros
acessam simultaneamente diferentes sistemas religiosos para atender às suas
necessidades de sentido; outros aderem com fervor a sistemas ou movimentos religiosos
que exigem uma rígida observância de regras comportamentais; e alguns escolhem viver
radicalmente os princípios da fé em comunidades constituídas em torno de uma
identidade religiosa, não apenas no âmbito católico, mas também em religiões como o
Santo Daime ou o Hare Krishna, ou em congregações e ordens religiosas católicas.
Isso vai em direção oposta à ideia corrente de que jovens teriam pudor de expor
publicamente sua adesão religiosa. Ao contrário, existe uma tendência a dar visibilidade
a marcas da religião no corpo (tatuagens), no vestuário, nos acessórios (anéis, cordões,
braceletes, bandanas, bonés...). Não se trata de uma experiência religiosa vivida apenas
no âmbito privado.
Esses processos são vivenciados por pessoas de todas as idades, não apenas
pelos jovens. Entretanto, estamos tratando de uma fase da vida em que se intensifica a
experimentação que pode dar origem a escolhas existenciais importantes: a vivência da
sexualidade, a busca de parceiros, a orientação sexual, a continuidade ou não dos
estudos, a inserção profissional, os círculos de amizade, as adesões ideológicas,
políticas, a adoção de determinados valores. A religião também é um campo de
experimentação e de escolha para os jovens, mesmo que em todas estas áreas da vida as
decisões não sejam definitivas e irreversíveis.
Também durante a juventude podem acontecer processos como a desvinculação
da tradição religiosa em que o jovem foi socializado, rompendo com a religião dos pais,
a conversão a outro sistema religioso, ou mesmo a re-adesão à religião de origem, não
mais por herança familiar, mas por decisão própria, passando pelo crivo da consciência
individual. Há mudanças no processo de transmissão da religião de uma geração a outra.
Cada vez mais encontramos indivíduos com identidades religiosas diferentes numa
mesma família, e cresce a influência de amigos que se tornam mediadores na
aproximação de outras alternativas presentes no campo religioso.
As religiões oferecem aos jovens mais um espaço de sociabilidade, além da
família, da escola, da vizinhança: igrejas, templos, salões, terreiros, centros espíritas,
sinagogas, mesquitas são lugares de culto, de contato com o sagrado, mas também
oferecem oportunidade para que jovens conheçam outras pessoas, façam amigos,
descubram parceiros para relacionamentos afetivos. Algumas vezes essas motivações
são tão ou mais importantes para que jovens se aproximem de uma experiência
religiosa. Além disso, jovens também têm acesso a oportunidades de lazer por meio de
um grupo religioso. Fazem passeios, acampamentos, viagens, assistem (e também
participam) de espetáculos de música, dança, teatro, numa época do ciclo de vida em
que a maioria ainda não possui filhos nem as responsabilidades advindas desta situação.
Em geral as instituições religiosas acionam estratégias para atrair os jovens, pois
dependem da renovação de seus quadros para continuar existindo. Entre essas
estratégias está a atualização de suas mensagens, com a utilização de uma linguagem
contemporânea, a flexibilização de exigências no campo do comportamento, a
promoção de grandes concentrações, shows, música, a incorporação de estilos musicais
associados às culturas juvenis, como o Rock, o Funk e o Hip Hop.
A vivência da religião na Igreja Católica Apostólica Romana é experimentada
por uma parcela da população jovem brasileira. Jovens participam das celebrações
semanais, de grupos de jovens nas paróquias, comunidades, universidades, de grupos de
iniciação cristã ou de catequese crismal, pertencem a pastorais, movimentos e
associações religiosas, aderem às novas comunidades de vida e aliança, ou se preparam
para a vida sacerdotal e religiosa. A reflexão que se segue diz respeito especialmente a
jovens das comunidades eclesiais de base.
3 – CEBs e juventude
A comunidade eclesial de base tem uma diversidade interna, não é um bloco
homogêneo: nela participam mulheres e homens, pessoas com profissões diferentes,
com diversos graus de escolaridade, em diferentes situações frente à família, com
diversos pertencimentos étnico-raciais. Na CEB convivem também diferentes gerações:
pessoas idosas, adultas, crianças e jovens.
Muito se tem falado sobre a importância da presença das mulheres nas CEBs,
tanto numérica, como no exercício da evangelização, nos ministérios leigos, na reflexão
bíblica, no socorro aos necessitados, nas mobilizações sociais. E a juventude? Jovens
participam das CEBs de diferentes modos: freqüentam as celebrações, fazem parte de
equipes, da liturgia, dos grupos musicais, são presença atuante nas festas, estão
inseridos em pastorais, alguns fazem parte das equipes de coordenação ou do conselho
das comunidades, assumem ministérios confiados aos leigos e leigas... Em muitas
comunidades há grupos de jovens, uma parte deles sem nenhuma vinculação com
organizações juvenis católicas e outra, ligada a diferentes iniciativas de evangelização
da juventude: grupos de jovens da Pastoral da Juventude, Grupos de Oração do
Ministério Jovem da Renovação Carismática Católica, Conferências Jovens da
Sociedade São Vicente de Paulo. A criação desses grupos responde à necessidade de
espaços específicos para a convivência juvenil, simultânea à vivência coletiva no
conjunto da CEB. E há muitos jovens que pertencem às comunidades, sem fazer parte
de nenhum grupo juvenil em particular.
Jovens se aproximam das CEBs por diferentes caminhos: por tradição familiar;
para ter acesso aos sacramentos; para ter contato com outros jovens; por influência de
amigos; para encontrar opções de relacionamentos afetivos; para se divertir, de acordo
com busca de sociabilidade, do lazer, da afetividade, tratados no item anterior. Na
maioria das vezes, a adesão, o compromisso, a vinculação motivada pelo desejo de
pertencer àquela comunidade de seguidores de Jesus em geral é um segundo passo, que
depende fundamentalmente das relações estabelecidas após a aproximação inicial.
A presença juvenil tem repercussões para a comunidade e para a vida do jovem.
Um estudo em profundidade de quatro CEBs, realizado em 2003-2004 pelo Iser
Assessoria mostrou que as duas CEBs mais dinâmicas, que estavam crescendo
numericamente, eram exatamente aquelas que tinham uma significativa presença de
jovens. Já nas duas comunidades menos dinâmicas, que enfrentavam redução no
número de participantes, tinham uma proporção bem menor de jovens22
. No outro pólo,
a experiência de participar da comunidade permite que jovens desenvolvam habilidades
(como falar em público, trabalhar em equipe), tenham acesso à formação em diferentes
campos do saber, sejam motivados para uma participação social extra-eclesial. Como
me disse o jovem Felipe Freitas, que ”nasceu em uma CEB”, a comunidade foi sua
primeira escola de relações intergeracionais, sua primeira escola de formação, ampliada
posteriormente com a participação na Pastoral da Juventude, no partido político e no
movimento negro. Experiência semelhante à de tantos outros jovens, de ontem e de
hoje.
Lutando pela justiça e vivendo a dimensão da profecia no campo e na cidade,
jovens das CEBs têm testemunhado sua adesão ao sonho de Deus para humanidade, o
Reino que Jesus anunciou. As Semanas da Cidadania, o Dia Nacional da Juventude,
celebradas a cada ano, a Campanha contra Violência e Extermínio de Jovens iniciada
em 2009 pelas Pastorais da Juventude são expressões deste compromisso, assim como a
participação ativa em diversos movimentos sociais. Merece destaque a ampla
mobilização de jovens das CEBs nas diferentes etapas da 2ª. Conferência Nacional de
Juventude, em 2011, que levantou as propostas da juventude brasileira para “Conquistar
Direitos, Desenvolver o Brasil”23
.
No entanto há muitas razões que fazem com que jovens brasileiros se afastem
das CEBs, algumas relacionadas a dinâmicas da vida juvenil abordadas na primeira
parte deste artigo: migração para dar continuidade aos estudos, buscar trabalho e opções
de diversão; relacionamentos afetivos com pessoas de outra localidade ou adeptas de
outra religião, exigências da militância sociopolítica.
Não obstante seu comprometimento com as CEBs, alguns jovens apontam
limites na relação delas com a juventude, por falta de compreensão do que significa esta
fase do ciclo de vida. Talvez a principal causa de distanciamento se deva a conflitos
gerados por atitudes autoritárias de lideranças eclesiais – padres, animadores/as,
coordenadores/as. Jovens se queixam de serem tratados como “tarefeiros”, sempre
22
Cf. Lesbaupin et alli (2004).
23
Tema da 2ª. Conferência de Políticas Públicas de Juventude.
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Texto Base Intereclesial do 13º Intereclesial das CEBs em 2014 - Juazeiro do Norte CEARÁ

  • 1. 13º INTERECLESIAL DE CEBs JUSTIÇA E PROFECIA A SERVIÇO DA VIDA CEBs, Romeiras do Reino no Campo e na Cidade 07 a 11 de Janeiro de 2014 Juazeiro do Norte Diocese de Crato-CE TEXTO-BASE
  • 2. Apresentação A Diocese de Crato torna-se significativa na realização do 13º Intereclesial das CEBs, por ser uma Igreja rica em devoção popular, terra de missão, acolhedora de romeiros e peregrinos da fé. As inúmeras formas de manifestação religiosa e cultural se estendem aos mais humildes lares, plantando a semente da fé que desabrochou na frondosa árvore do Cristianismo, dando sombra e frutos aos pobres e excluídos da sociedade... A fome por justiça desses nossos irmãos e irmãs eleva o calor da terra dos Ciriris vindo do esforço e da luta por dignidade, onde Deus revela sua sabedoria aos humildes: “levanta da poeira o indigente e do lixo ele retira o pobrezinho”. Pois, na fraqueza do ser humano se manifesta o poder de Deus. As Comunidades Eclesiais de Base apresentam um arcabouço de experiências vividas e exemplos de fé a seguir. A realização deste encontro reviverá a confirmação daqueles que já trabalham pela causa do Reino, e vai ainda forjar novos discípulos missionários de Jesus no engajamento pela manifestação do Reino de Deus entre nós e no mundo. Acolhemos com muita alegria a mensagem dos nossos Bispos ao povo de Deus sobre as CEBs, documento 92 da CNBB, fruto da 48ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, reafirmando que as “CEBs são sinais de vitalidade da Igreja”, onde os seus membros se reúnem para a escuta da Palavra de Deus, a busca de relações mais fraternas, celebração dos mistérios cristãos em sua vida e assumem o compromisso de transformação da sociedade. Dom Fernando Panico Bispo da Diocese de Crato (CE)
  • 3. Introdução Jesus veio ao mundo para anunciar seu Reino de amor, de paz e de justiça. Suas andanças missionárias em diversos lugares na Palestina, sobretudo em lugares simples onde o povo esperava a vinda de um salvador, atraiu discípulos e esses atraíram outros discípulos. Ainda hoje continua chamando discípulos. É pela graça do Batismo que nos tornamos discípulos de Jesus. Depois de sua morte e ressurreição, Jesus enviou da parte do Pai o Espírito Santo sobre os Apóstolos e esses deram início a sua Igreja, a qual nós fazemos parte. Pela via da simplicidade, enfrentando os problemas de cada dia, fortalecia o modo de ser Igreja, segundo a vivência da unidade e da simplicidade dos apóstolos, nasciam novos cristãos para a Igreja. O Espírito Santo continua conduzindo a Igreja nos dias de hoje e milhares de fiéis se reúnem para ouvir a Palavra de Deus, melhorar a vida, e confiar na mensagem do Evangelho em todas as Comunidades Eclesiais de Base. A bela experiência de fé vivida em comunidades locais aproxima as pessoas, une as famílias, fortalece as relações mútuas e se abre um bonito espaço para a fraternidade universal. Quem une e integra nos bons sentimentos é a presença do Espírito Santo nas CEBs. Foi o Espírito Santo que iluminou os Apóstolos e eles sentiram o coração palpitante que animou a vida das primeiras comunidades cristãs no anúncio do Evangelho e na fé no Cristo ressuscitado. Nós somos herdeiros dessa fé intrépida que rompeu fronteiras e conquistou o mundo. Essa é nossa ação missionária na família e na comunidade, alimentada e abastecida pela vivência em comunidades locais de fé em verdadeiro espírito de Igreja.
  • 4. Apoiados no documento de Aparecida, onde os bispos pedem que se fortaleçam as comunidades eclesiais de base, onde cada cristão leigo (a) possa vivenciar e testemunhar sua fé em sua própria comunidade quer seguir e animar nossa Igreja com esse mesmo modo simples e fraterno de ser Igreja. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil dá um destaque especial em suas urgências quando fala de Igreja Comunidade de Comunidades. Sabemos que o melhor e o mais seguro local para viver, testemunhar e ensinar a fé é na comunidade onde moramos e onde podemos nos sentir mais família, mais próximos e mais comprometidos com a mensagem de Jesus que veio trazer paz, alegria, justiça, anúncio e profecia, imitando os seus discípulos. No 13ª Intereclesial, animado pelo Espírito Santo, queremos evangelizar e sermos evangelizados e não inventar outras formas de vida. Somos missionários da comunicação clara e objetiva da Palavra de Deus. A Bíblia seja nossa condução e animação na vida e na caminhada rumo ao mundo desejado por Deus. A vivacidade de nossas comunidades iluminadas pela Palavra de Deus será sempre uma ação semelhante à de Pentecostes onde se enche de coragem e se anuncia pela vida e pelo testemunho os desígnios de Deus. A cura e a linguagem clara e compreensiva vêm da Ação do Espírito Santo e não da nossa imposição. Somos criaturas obedientes à vontade de Deus. Apresentamos o texto base para que cada comunidade, cada grupo de fé, se debruce com fecundidade sobre as temáticas apresentadas. Seguindo o método, Ver, Julgar e Agir, o texto apresenta a cultura, os sofrimentos e a história de fé do povo do nordeste destacando o querido padre Cícero, considerado o grande Santo para o povo humilde e simples do nordeste. O 13ª Intereclesial acontecerá na cultura do nordestino com suas expressões culturais, religiosas, familiares, com seus sofrimentos, desejo de superação e com suas sombras, e luzes. Região das secas, grandes estiagens, mas terra de muitos santos e santas que nunca deixaram de acreditar na intervenção divina que os sustenta na fé e na religiosidade popular. Os textos nos oferecem rica reflexão mostrando a realidade sofrida e a vocação poética do nordestino. É importante que outras regiões do Brasil se curvem, e aprendam com o nordestino a beleza da fé e a necessidade de purificar a mesma em cada espaço e tempo.
  • 5. A caravana das CEBs caminha pelo Brasil todo e desta vez chega em Crato, CE, com toda a sua poesia, tradições, cultura própria e religiosidade em volta do Padre Cícero. Temos a oportunidade de aprofundar a reflexão, desenvolver o senso crítico para purificar nossa fé, e que ela se torne uma via prática para a necessária transformação e crescimento da fé, fazendo acontecer o Reino de Deus entre nós nas mais diversas culturas e situações onde o povo vive. Que nossa ação seja de coragem, de determinação coerente, ancorado nos princípios evangélicos, apoiada pela Igreja que quer ser sinal da presença de Jesus e de seu Reino. Do jeito simples, mas coerente, amável, mas comprometido, vigoroso, mas com ternura, encorajemos a todos(as) os cristãos (as) a viverem com fecundidade missionária a ação de Jesus nas pequenas comunidades eclesiais, mostrando ao mundo que o rosto de Jesus continua forte e vigoroso no nosso meio. Que o 13º Intereclesial seja uma fonte de iluminação, inspiração e um modo rico, agradável, oportuno e natural de ser Igreja. Juntos e fortalecidos pela fé e esperança, preparemo-nos profundamente para essa bela e rica experiência de ser Igreja. Por fim, que nos grupos de reflexão, de estudo da Palavra de Deus, na expressão natural de ser Igreja, sintamos a mesma alegria de Isabel quando exclama: “a mãe de meu Senhor me vem visitar” e que encha de alegria a todos que buscam viver a fé simples e pura nas comunidades. Assim, poderemos seguir o trem das CEBs com vigor para implantar a justiça e a paz no mundo e renovemos a face da terra. Que Nossa Senhora, nossa Mãe e rainha, nos acompanhe em cada encontro e com ela façamos a bela experiência da ternura e vigor na vida da família e na comunidade para realizar a plenitude da Aliança de Deus para viver o amor sem fronteiras. Dom Frei Severino Clasen, OFM Bispo de caçador (SC) Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB
  • 6. VER 6 01 – A globalização e seus desafios à vivência da fé Pedro A. Ribeiro de Oliveira Sociólogo, Professor do PPG em Ciências da Religião - PUC-Minas consultor de ISER/Assessoria Muito se tem falado de globalização nos últimos vinte anos, mas esse conceito esconde diferentes interpretações. Convém, portanto, esclarecer o que significa a globalização como acontecimento da história mundial recente, de modo perceber como
  • 7. esse conceito é usado para justificar a expansão irrefreada do sistema capitalista e suas consequências para as populações pobres e para a vida da Terra. Essa visão crítica abre o horizonte para uma outra globalização possível, no sentido inverso da atual: da periferia para o centro. Examinaremos aqui duas formas dessa “outra globalização”, como desafio à fé cristã que deve concretizar-se a cada dia como proclamação de um Reinado de Deus que já está no meio de nós. A globalização O conceito de globalização entrou em voga nos anos 1960, quando o mundo tornou-se tão interligado que se podia falar de uma “aldeia global”. Com a comunicação via satélite, as informações passaram a chegar ao mesmo tempo em qualquer parte da Terra. Isso possibilitou aos países tecnologicamente mais avançados levar sua visão do mundo e suas culturas a todos os demais, tornando global o que até então era local. Mas permitiu também que elementos de outras culturas também se difundissem pelo mundo. Basta pensar nas diversas culinárias que hoje podem ser encontradas por toda parte: ninguém precisa mais ir ao Japão para experimentar a cozinha japonesa... Mais recentemente a internet tornou o inglês a língua franca da informática, obrigando-nos até a reinventar verbos para nos adaptarmos a ela: “deletar”, “digitar”, “clicar” “tuitar” e outros. Sobre aquele conceito de globalização foi enxertado outro, referente a mudanças no sistema econômico. Ele entrou na linguagem corrente após 1989, quando a derrubada do muro de Berlim precipitou o esfacelamento da antiga União Soviética e pôs fim à “guerra fria” que até então dividia o mundo entre os aliados dos EUA e o bloco socialista. Dissolvido o bloco socialista, o mundo parecia não ter alternativa senão adotar o capitalismo. A globalização passou a ser entendida, então, como a supressão das fronteiras nacionais de modo a transformar o mundo num único mercado onde o dinheiro, as mercadorias e os serviços (mas não as pessoas!) circulassem livremente. É importante distinguir os dois significados da mesma palavra, porque a globalização da informação e da cultura é diferente da globalização financeira do mercado. Para não confundir a interpenetração das culturas locais com a conquista do mundo pelo sistema capitalista, pode-se usar a expressão “globalização neoliberal” para indicar a atual globalização da economia.
  • 8. “Neoliberalismo” também é uma palavra nova. Foi criada para distinguir a política econômica que coloca a estabilidade da moeda em primeiro lugar, das teorias econômicas que compõem o liberalismo clássico. Tanto uma quanto outra atribuir ao Estado somente a função de manter a ordem política e jurídica, deixando a economia regular-se pelas leis do mercado; mas os neoliberais destacam-se por sua oposição ferrenha ao Estado “de bem estar social” que procura criar empregos e garantir o poder de compra dos trabalhadores para se contrapor ao socialismo. Para o neoliberalismo, gastos e investimentos públicos provocam inflação e por isso devem ser reduzidos ao mínimo, de modo a alcançar o equilíbrio fiscal. Isso significa que o Estado deve privatizar suas empresas, cobrar menos impostos e só fazer gastos sociais com pessoas incapazes de prover sua subsistência. Esse pensamento tornou-se vitorioso nos anos 1980, depois das eleições de Margareth Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos EUA. O desmoronamento da economia socialista soviética deu tal força ao neoliberalismo, que M. Tatcher afirmou taxativamente: “não há alternativa”. A globalização neoliberal segue a receita arquitetada pelos economistas do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e dos grandes bancos internacionais, que ficou conhecida como “consenso de Washington”. Ela se realiza em três grandes passos. O primeiro é combater implacavelmente a inflação e garantir a estabilidade da moeda, ainda que isso cause desemprego e elevação dos juros (no Brasil, foi o “Plano Real”). O segundo é conter os gastos do governo; privatizar os bancos, empresas e serviços públicos; diminuir os direitos trabalhistas; cortar subsídios e abrir o mercado interno a empresas estrangeiras. Nessa fase se dá o aumento do desemprego, a quebra e a fusão de empresas, grande aumento da produtividade e a concentração da riqueza nos setores mais competitivos. Vencida essa etapa, vem o terceiro passo: por merecer a confiança dos investidores, o país recebe grande afluxo de capitais, sua economia passa a competir no mercado mundial e o livre comércio trará a prosperidade geral. Esta é a promessa da globalização neoliberal. O Brasil na globalização neoliberal A vitória de Collor contra Lula, em 1989, foi o início da opção brasileira pela receita neoliberal. Itamar Franco ainda tentou evitar suas medidas mais duras, mas o duplo governo de F. H. Cardoso consolidou aquela opção ao promover a privatização de empresas estatais, dar prioridade ao equilíbrio fiscal e reduzir os gastos do governo –
  • 9. exceto para o pagamento de juros da dívida pública. Embora o governo Lula tenha se referido a essa “herança maldita”, não reverteu o processo. Sua política foi a de fazer correções – como o fim do alinhamento subserviente aos EUA, não levar a diante o processo de privatização de empresas, aumentar os gastos sociais e recuperar a política de investimentos – para fazer do Estado um indutor do crescimento econômico, o que contraria o neoliberalismo ortodoxo. Mas também ele manteve a política de dar prioridade absoluta ao controle da inflação, garantir a pontualidade no pagamento dos juros da dívida pública e privatizar as concessões na área de exploração de petróleo. Assim fazendo, Lula conquistou a confiança dos investidores financeiros, que aumentaram suas aplicações no Brasil, resultando na valorização do real frente ao dólar e a acumulação de reservas cambiais que permitiram superar a crise financeira de 2008 e manter o crescimento da economia brasileira. Seu resultado foi a diminuição do número de famílias em situação de miséria e o aumento significativo dos setores médios (a chamada classe “c” que hoje representa praticamente a metade das famílias brasileiras) sem prejuízo para os interesses dos setores dominantes: banqueiros, rentistas, empresários e grandes proprietários rurais, cujos lucros muito aumentaram desde 2003. Apesar de algumas diferenças – como a forte presença feminina em altos postos de decisão política – o atual governo Dilma dá continuidade a essa política macroeconômica cuja meta é a plena integração do Brasil no mercado mundial. Essa inserção do Brasil no mercado mundial tem sido exaltada como um grande passo para sua efetiva ascensão ao pequeno grupo de países desenvolvidos, ricos e modernos. É fato inegável que o nosso PIB tem crescido de modo seguro, sem provocar inflação descontrolada e isso favorece tanto a diminuição do desemprego quanto a recuperação do salário-mínimo e, em conseqüência, do piso das aposentadorias e pensões. Não se pode falar propriamente de diminuição da desigualdade socioeconômica – porque a distribuição da renda e da riqueza continua a favorecer mais o capital do eu o trabalho – mas é certo que muitas famílias saíram da faixa da miséria e muitas outras alcançaram uma faixa de renda acima da linha da pobreza. Enfim, o capitalismo reformado pelos governos Lula e Dilma tem beneficiado a grande massa de trabalhadores assalariados, de aposentados e de quem está inscrito num dos programas de assistência social do governo. Seria, então, a história recente do Brasil uma prova de que a globalização neoliberal dá bons resultados para todos? Aparentemente, sim, e muita gente – principalmente quem detém os grandes meios de informação de massa –
  • 10. tudo faz para convencer o nosso povo de que este é o melhor, senão o único caminho para o desenvolvimento no século XXI. Uma análise mais acurada, porém, mostra que não é bem assim. É o que veremos em seguida. Um beco sem saída: a lógica produtivista e consumista O êxito do sistema capitalista reside na sua enorme capacidade de produzir riquezas. Seu primeiro grande teórico, A. Smith, já dizia que não é a generosidade e sim a ânsia de lucro que faz o padeiro levantar-se de madrugada para assar e vender seu pão logo pela manhã. De fato, a economia de mercado, regida pela lei da oferta e da procura, tem como motor a promessa do lucro. Todo empresário competente sabe que ao contratar trabalhadores e adotar as melhores técnicas de produção e de gestão, aumenta a oferta de bens ou serviços que, ao serem vendidos, lhe darão lucro. Esta é a lógica do mercado: produzir para vender e vender para lucrar. O mercado é impulsionado por esse motor e quem não vende vai à falência. É portanto da própria essência do mercado expandir-se, isto é, integrar um número cada vez maior de pessoas como compradoras e vendedoras de mercadorias cada vez mais diversificadas. A história do capitalismo é a história do seu dinamismo expansionista, incorporando um número cada vez maior de mercadorias e de agentes econômicos – produtores e compradores. Esboçado nas cidades do norte da Itália há cerca de oito séculos, criou as bases do comércio mundial moderno por meio das grandes navegações e da colonização da América, África e parte da Ásia, provocou a revolução industrial, consolidou-se nas revoluções políticas e culturais do século XIX e atingiu a maturidade com o processo de globalização neoliberal. Ao longo dessa história o sistema capitalista assumiu diferentes formas – mercantilista, liberal, imperialista, de bem-estar social e neoliberal – e passou por diferentes centros polarizadores: das cidades italianas foi para Amsterdã, dali para Londres e depois Nova York. Hoje há sinais de que o próximo centro polarizador se localizará na China 1 . Essa expansão, porém, cedo ou tarde 1 Essas mudanças se deram sempre em meio a graves crises financeiras, sociais e políticas, e nenhuma delas ocorreu sem provocar guerras. É preciso ter presente essas lições da história para diminuir, o quanto possível, o inevitável sofrimento humano que as crises acarretam. As pesquisas sobre a história do sistema
  • 11. encontrará uma barreira intransponível: os limites físicos do nosso Planeta. Seus primeiros sinais apareceram no horizonte nos últimos cinquenta anos. Vejamos brevemente o que eles indicam. Em diversos campos de atividade – ciências, comunicação, política, filosofia e até teologia – cresce o número de pessoas alarmadas pelo desgaste físico do nosso Planeta. O foco da atenção pode ser a produção de lixo, a destruição da biodiversidade, a degradação dos solos e das águas, a desertificação dos mares, o aquecimento global, o esgotamento das fontes de energia fóssil, os danos à saúde humana e animal, a exclusão social, a revolta dos excluídos, e vários outros sinais de desequilíbrio do sistema de vida da Terra. Os estudos e pesquisas deixam cada vez mais evidente que o principal causador desses desequilíbrios é o produtivismo consumista da economia de mercado. Ele utiliza enormes quantidades de energia e de matérias-primas, e gera mais poluentes (lixos e venenos) e mais gás carbônico do que a Terra consegue absorver. O sistema de vida da Terra normalmente absorve, aproveita e recicla todo tipo de elementos: energia, água, ar, restos de seres vivos e tudo mais que a vida necessita para reproduzir-se e diversificar-se. Mas essa capacidade de reciclagem não é ilimitada. Ultrapassado o limite, o sistema entra em pane, como um organismo cujos anticorpos já não conseguem mais combater a infecção. E este é o caso da Terra: adoeceu e está perdendo sua capacidade de autorregeneração. O problema é que o tempo da Terra não é o tempo da espécie humana: um século, para nós é muito mas para a Terra é pouco. Há três séculos a crescente produção industrial vem exaurindo reservas de água, terra agriculturável, energia e minerais e despejando poluição nos mares, solos e ar; mas só recentemente a Terra começa a apresentar claros sinais de perda de vitalidade. Ainda que a produção regredisse aos índices preindustriais – coisa impossível, devido ao crescimento de mercado regido pelo capitalismo ganharam um enorme impulso a partir da obra de F. BRAUDEL: Civilisation matérielle, Economie et Capitalisme, XVe -XVIIIe siècle; Paris, Armand Colin, 3 vol., 1979 e de I. WALLERSTEIN: The Modern World System I: Capitalist Agriculture and the Origins of the European World-Economy in the Sixteenth Century; Nova York, Academic Press, 1974. As crises do capitalismo foram bem analisadas por G. ARRIGHI: O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo; Rio de Janeiro, Contraponto; São Paulo, Editora UNESP, 1996.
  • 12. populacional – os danos já causados levariam muito tempo (para o padrão humano) a serem reparados. Ou seja, paira sobre a espécie humana a ameaça de uma grande catástrofe. Essa ameaça foi percebida por pessoas atentas às questões ambientais, mas por bastante tempo foi ignorada por empresários, economistas e dirigentes políticos. Quem falasse de questões ecológicas, ambientais e de respeito à vida do Planeta era desqualificado como aquele “ecochato” que gosta de criar problemas. Ainda hoje, quem se opõe à construção de hidrelétricas na Amazônia – especialmente a de Belo-Monte – é criticado como quem não quer nem o progresso da Amazônia nem o desenvolvimento do Brasil. Mas essa consciência ecológica cresceu de tal modo, que os defensores do capitalismo foram obrigados a propor mudanças. Uma delas é a economia verde, que está na pauta da reunião da ONU no Rio + 20. Trata-se de contabilizar os custos ambientais e humanos envolvidos em toda produção econômica. Seria uma “economia sustentável” por levar em conta os três pilares da economia: o lucro, as pessoas e a Terra. É sem dúvida um avanço em relação ao capitalismo neoliberal, regido unicamente pela busca do lucro, mas erra ao colocar em pé de igualdade o lucro, as pessoas e a vida do Planeta, como se os respectivos direitos fossem equivalentes. Não é somente por dar igual importância ao capital, aos seres humanos e a toda comunidade de vida, porém, que a economia verde é insuficiente para tirar o sistema capitalista do impasse ecológico aonde se meteu. Sua maior fragilidade reside na incapacidade de resolver o problema de um sistema econômico que precisa sempre crescer, num planeta que não cresce. Este é o verdadeiro “beco sem saída” onde hoje estamos: a espécie humana tem ocupado tantos espaços na Terra (antigamente, falava-se de “desbravadores”), que em breve não haverá mais espaços virgens a ocupar. Basta lembrar que já buscamos petróleo a 5.000 metros abaixo do nível do mar... Não está longe o dia em que a economia mundial, ao atingir os limites físicos da Terra, sofrerá um “apagão”. Da periferia para o centro: outra globalização é possível Se a globalização do mercado regido pelo capital está prestes a atingir seu esgotamento, e isso acarretará um período de guerras, fome e mortandade em massa, cabe agora levantar a questão de quais são as perspectivas para a humanidade que deseja
  • 13. uma vida longa e feliz sobre a Terra. Esta é uma das questões mais importantes para os cristãos e cristãs nos tempos atuais, porque precisamos dar as razões de nossa Esperança. Tal como o livro do Apocalipse que parte dos “sinais dos tempos” para assegurar a vitória da vida e prometer “um novo céu e uma nova terra”, as comunidades eclesiais são desafiadas hoje a proclamar que “um outro mundo é possível”, desde que a globalização não se faça do centro rico e desenvolvido para a periferia empobrecida, mas a partir da periferia. Hoje existem vários ensaios de alternativas à globalização neoliberal. Despontam em diferentes partes do mundo, cada qual com as peculiaridades próprias de sua cultura. Todas elas têm claro que não basta constituir-se uma “nova sociedade”, mas há que ser uma “nova Terra”. Isto é, o novo modo de produção e de consumo deve ter alcance planetário. Ele deve se apresentar como alternativa à economia de mercado regulada pelo capital, cujo motor – o lucro privado – destrói tanto os recursos naturais quanto os laços sociais de trabalho, ambos tratados como se mercadorias fossem. Por isso, sua supressão passa pelo fim da dominação dos países ricos e suas corporações transnacionais sobre a periferia mundial empobrecida, e também pelo fim da dominação da espécie humana sobre as demais espécies vivas. Vejamos aqui, de modo sucinto, duas dessas propostas. A Carta da Terra Aprovada em março de 2000 pela Unesco, a Carta da Terra2 busca criar o consenso ético sobre as grandes questões do nosso tempo. Sua elaboração é o resultado de um longo processo que envolveu mais de cem mil pessoas de 46 países. Em seu Preâmbulo, a Carta afirma a gravidade do atual momento: “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro”. Constata que a própria vida está ameaçada pelos “padrões dominantes de produção e consumo”, e que “a escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida”. Afirma que a tecnologia já nos permite optar por um caminho ou outro e que a decisão não é técnica, mas política. 2 O texto integral pode ser acessado em http://www.cartadaterra.org/ctoriginal.htm
  • 14. Seu princípio fundamental é “respeitar e cuidar da comunidade de vida”. Ao ser aplicado nos diferentes campos de ação, ele se desdobra em orientações práticas. Vejamos aqui algumas delas. É preciso que se adotem planos mundiais de sustentabilidade do Planeta, se criem reservas, se promovam a recuperação de espécies ameaçadas e os recursos naturais sejam manejados de maneira responsável. A melhor maneira de proteger o ambiente é adotar o princípio da precaução: quando houver dúvidas sobre a segurança de determinada atividade, esta deve ser evitada até que seja confirmada sua confiabilidade. Os padrões de produção e consumo não podem causar danos permanentes ao meio ambiente. Do mesmo modo, a saúde humana deve ser tratada como um bem ecológico e deve ser garantido o acesso universal aos remédios e cuidados da saúde. Por isso, a cooperação científica internacional deve ser estimulada, superando o sistema de patentes quando está em jogo a proteção do meio ambiente e a vida. A atividade econômica, inclusive o comércio, deve promover a distribuição de riquezas entre as nações de modo equitativo e transparente. O trabalho deve ser fonte de manutenção de uma vida digna. Manda a Justiça social e econômica que as dívidas internacionais, públicas ou privadas, não sufoquem as economias dos países em desenvolvimento. É preciso respeitar a democracia, a não-violência e a paz. Os direitos das mulheres e meninas devem ser garantidos em todas as culturas e todos os países, sendo eliminada a violência contra elas. Uma efetiva comunidade global não pode constituir-se em detrimento das comunidades locais, que devem ser fortalecidas e habilitadas a cuidar de seu próprio ambiente. O local e global não se excluem; ao contrário, se completam. A cultura da não-violência e da paz deve ser estimulada e incluir a desmilitarização dos sistemas de segurança, convertendo-se os recursos bélicos em meios para a restauração ecológica e eliminando-se as armas de destruição em massa - nucleares, químicas e biológicas. A Carta conclui apontando o caminho à frente: “Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo”. É necessário “harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de
  • 15. curto prazo com metas de longo prazo.” Conclamando as artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos a construir uma comunidade global sustentável, a Carta da Terra quer que “o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.” O Bem-viver O Bem-viver é um conceito que visa recriar, diante do fracasso do neoliberalismo, um antigo conceito de certas culturas andinas como os Quetchua e Aymará. Depois de cinco séculos de colonialismo e dominação européia, os povos tradicionais do nosso Continente não querem voltar a um passado idealizado, mas sim buscar em sua sabedoria ancestral uma proposta que os ajude a construir uma nova ordem social e econômica. No período de mobilização popular contra as políticas neoliberais, aquele projeto de vida coletiva ganhou novo conteúdo e nova forma, e sua força foi tanta que foi incorporado às Constituições da Bolívia (2009) e do Equador (2008). Isso despertou a atenção de grupos e movimentos alternativos em outros países e foi assim que, nos últimos anos, o Bem-viver entrou na agenda de um número cada vez maior de movimentos sociais, grupos e pessoas de todo o mundo3 . O conceito refere-se a duas palavras com significados semelhantes em Quetchua e em Aymará: suma(k) > muito bom, e kawsay ou camaña > conviver. Sua idéia central é a vida em harmonia (i) consigo mesmo, (ii) com outras pessoas do mesmo grupo, (iii) com grupos diferentes, (iv) com Pachamama – a Mãe Terra (v) seus filhos e filhas de outras espécies e (vi) com as realidades espirituais. Constitui uma alternativa econômica ao sistema produtivista-consumista ao afirmar que a Terra não é um grande depósito de recursos naturais a serem explorados para produzir riquezas, mas sim a mãe de todas as espécies de vida. Em vez de extrair / transformar / consumir / descartar, a economia deve ser regida pelo princípio do 3 A Agenda Latino-Americana Mundial 2012 tem por tema o Bem-viver. Pode ser acessada gratuitamente em http://latinoamericana.org
  • 16. respeito à Terra. Ela é mãe generosa, e mesmo não sendo rica, nada nega a seus filhos e filhas. Mas nós – gente mimada e insensata – a exploramos, tudo exigindo e nada retribuindo. Mesmo adoecida e desgastada como está hoje, a Terra continua a nos oferecer aquilo que durante milênios produziu e conservou em seu seio. Só o respeito aos Direitos da Terra poderá resgatar sua saúde e favorecer nosso Bem-viver. É evidente que, se todos os Direitos da Terra forem respeitados, a produção de riquezas sofrerá uma drástica redução. Mas, pensando bem, mais cedo ou mais tarde o “apagão” dos recursos naturais obrigará nossa espécie a viver pobremente. Trata-se de iniciar desde agora o processo de redução geral de riquezas, e nos prepararmos para um modo de vida mais simples. É claro que este não é o projeto dos 1.210 bilionários e das dezenas de milhares de milionários do mundo, que vão perder sua fortuna; mas é por aí que podemos construir uma economia conforme o Bem-viver. Conclusão: novo horizonte para o Planeta O fracasso da globalização neoliberal faz desmoronar a antiga utopia do progresso sem fim e nos desafia a seguir outra utopia como uma ideia-força – não um sonho irrealizável. Ideia que, ao mobilizar as vontades para realizar-se na história, desperta novas energias e alimenta a esperança de uma vida longa e feliz sobre a Terra. Ao entender a espécie humana como parte responsável por cuidar da grande comunidade de vida – e não como espécie com o direito de dominar as demais espécies vivas e de tratar a Terra como fonte de recursos e depósito de lixo – a Carta da Terra e o Bem-viver obrigam a reformular nossos padrões de sucesso. Ele não se mede mais pelo PIB ou pela acumulação de riquezas, mas sim pelo grau de harmonia que se alcança nas relações com a grande comunidade de vida. Aí, e não no consumo de bens e serviços, reside a felicidade humana. Esta é uma lição de sabedoria que o mercado tenta desqualificar como ingênua, mas que poderá resistir à grande crise de exaustão dos recursos naturais do Planeta e às graves consequências do desmoronamento do sistema financeiro que está na origem da globalização neoliberal. Os documentos oficiais da Igreja católica já despertaram para essa “outra globalização”, embora seu horizonte seja limitado à espécie humana, sem incluir a comunidade de vida do Planeta. O Documento da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho em 2008 refere-se ao “forte chamado para promover
  • 17. uma globalização diferente, que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeito aos direitos humanos” (64). Contradiz a globalização neoliberal ao afirmar que “trabalhar pelo bem comum global é promover uma justa regulação da economia, das finanças e do comércio mundial” (423). Por isso conclama “todos os homens e mulheres de boa vontade a colocarem em prática princípios fundamentais como o bem comum (a casa é de todos), a subsidiariedade, a solidariedade intergeracional e intrageracional” (425). Os desafios da globalização à Fé cristã aí estão. Nossa resposta a eles definirá o lugar das Igrejas cristãs no mundo conturbado deste século XXI. 02 – Crise Civilizatória: Desafios para as CEBs. 16 Roberto Malvezzi (Gogó) - Reflexões sobre a Mudança de Época - 1) O Contexto. A humanidade está passando pela mudança mais vasta, mais profunda e mais imprevisível de toda sua história na face da Terra. A diferença essencial em relação a
  • 18. todas as outras mudanças é que essa não se dá exclusivamente no seio das relações entre os seres humanos, mas nos próprios fundamentos da relação entre a civilização humana e o planeta no qual habita. O mito da inesgotabilidade dos bens naturais ruiu, mas a força inercial do modelo predador persiste. O modelo civilizatório ocidental, alicerçado na exploração de seres humanos por outros seres humanos, e na intensa exploração da natureza por uma restrita elite mundial, já não tem mais sustentação. Dos sete bilhões de pessoas que habitam o planeta Terra, apenas 1,7 bilhão pertence ao modo consumista e predador da civilização contemporânea. Para sustentar os caprichos dessa elite mundial, são necessárias 2,5 Terras para alguns, ou até seis Terras para outros. Essa elite não está apenas no primeiro mundo, mas também têm seus nichos no segundo, terceiro e quarto mundos. Estender esse modelo de produção e consumo a todos os seres humanos é impossível pelos próprios limites desses bens em nosso planeta. Para sustentar esse modelo, pelo maior tempo possível para uma elite restrita, é preciso restringir o acesso dos demais a esses bens. O melhor mecanismo para selecionar os incluídos do modelo é aplicar as regras do mercado a todas as dimensões da existência. Quem puder comprar, entra. Quem não puder, está posto de fora. Fomos acostumados a olhar o futuro sempre numa perspectiva de dias melhores. O próprio conceito de utopia, embora nunca realizável, sempre aponta para uma dinâmica que busca uma sociedade melhor que a do presente. Não fomos acostumados a olhar para a entropia, isto é, a decadência natural de tudo que existe. Entretanto, a física atual nos dá conta de que tudo tem seu começo, sua maturidade, seguida de sua decadência. O próprio princípio de Gaia,4 que compreende a Terra como um ser vivo, também entende que nosso planeta, se comparado com a vida de uma pessoa humana que vai viver cem anos, já teria vivido oitenta. As ciências sociais não têm como princípio, sequer metodológico, estudar a humanidade na sua relação com um planeta já envelhecido, agora acossado pela extrema exploração humana. Um novo ramo das ciências da Terra, particularmente a climatologia, nos obriga a compor um raciocínio holístico, de interface com as ciências sociais, já que a civilização humana já não pode ser pensada e entendida fora do planeta no qual ela se dá. Porém, se a própria Terra tem 4 Lovelock, James. A Vingança de Gaia.
  • 19. sua decadência natural, também a espécie humana teria que considerar sua história na Terra como temporária, fugaz, com prazo determinado. Portanto, quando será a data que a humanidade entrará inevitavelmente em decadência? Do ponto de vista da suportabilidade do planeta parece que chegamos ao limite, embora a técnica e a ciência abram novos caminhos todos os dias, particularmente agora no avanço da nanotecnologia. Talvez já estejamos próximos do ponto máximo suportável para Gaia, se não já estivermos em franca decadência. Em todo caso, 2050, quando 9 bilhões de pessoas estiverem ocupando a face da Terra, o planeta atingirá o máximo de sua suportabilidade. Daí para frente, pelo menos em termos populacionais, não haverá mais como avançar sem comprometer a vida como um todo. Entretanto, uma parcela de ambientalistas e cientistas atuais poderão dizer que a humanidade já atingiu o ponto máximo de sua ascensão, que já estamos num processo de decadência, já que a humanidade atual consome pelo menos 2,5 vezes mais o que o planeta pode suportar. Para alguns, o limite suportável para Gaia está entre um ou dois bilhões de pessoas. A novidade é que nosso raciocínio terá que considerar, desde já, os limites da Terra e os limites da humanidade. Portanto, o mito do paraíso terrestre, do progresso infinito, da história infinita, não encontra qualquer respaldo na realidade do nosso Planeta e da humanidade enquanto espécie. O Universo é devir, a Terra é devir, a humanidade é devir, com princípio, meio e fim. Uma boa metáfora para compreender a sociedade mundial contemporânea é compará-la com um veículo em altíssima velocidade, com todos seus confortos, que leva consigo apenas uma parte restrita da humanidade, deixando 70% à beira dos trilhos, porém, sem saber se à sua frente existe uma estação, uma paisagem bela ou a queda num abismo. A humanidade perdeu sua teleologia, isto é, seu rumo, seu norte, seu ponto de chegada. Os grandes sistemas que orientaram a humanidade – o sonho da “ordem e progresso” dos positivistas, o “paraíso terrestre” dos socialistas e comunistas, o “consumismo capitalista”, além da cristandade na Idade Média – já não respondem aos desafios contemporâneos. Restou o consumo imediatista de uma parcela restrita da humanidade. “Um outro Mundo é Possível”, mas não sabemos mais que mundo possível queremos. A mudança se dá na tecnologia e na ciência, na sociedade humana, na subjetividade das pessoas e na natureza. A hegemonia é do imediato sobre o sensato, do consumo veloz sobre a sustentabilidade, do indivíduo sobre o coletivo ou comunitário,
  • 20. do privado sobre o público e do econômico sobre o ético, o político e o ambiental. Os que ficaram de fora têm o sonho, a necessidade, a maioria, mas não a força para defender e conquistar seus interesses. A ciência e as tecnologias avançam numa velocidade estonteante, sobretudo no campo das comunicações, da informática, da genética, da nanotecnologia, fazendo com que o tempo se transforme num “breve século XX”, enquanto no mundo inteiro milhões de pessoas morrem cotidianamente de fome, de sede e de AIDs. A produção de alimentos aumenta e a fome também, mas agora competindo com a produção de agrocombustíveis. Por outro lado, como conseqüência, a biodiversidade se restringe, os solos se empobrecem, a disponibilidade de água em quantidade e qualidade diminui, assim como outros bens naturais. O próprio planeta reage com fúria e a gravidade de sua vingança já se tornou fato. Em tragédias como de Nova Órleans e Mianmar, os mortos são contabilizados às dezenas de milhares, ou mesmo a uma centena de milhar, como é o caso de Mianmar. A concepção de um planeta inesgotável caiu por terra diante da “consciência dos limites”. Entramos na “era dos limites”. Como verso da mesma moeda surge uma nova consciência planetária, da solidariedade global, da irmanação dos povos, de “um outro mundo possível”, a busca desesperada por alternativas que salvem o modelo civilizatório construído. Essas questões são de uma complexidade e de um contraditório quase que indecifráveis. As instituições tradicionais perdem pertinência histórica, os Estados colocam-se a serviço do privado, as grandes transnacionais impõem a ditadura do mercado, os valores consagrados da humanidade são questionados, surge uma nova constelação de valores como caldo cultural que sustenta a subjetividade da sociedade do consumo imediato. Como reação ressurge o “fenômeno indígena”, sobretudo nos países andinos e no norte do Brasil, onde as nações que tiveram sua história podada estão próximas de reencontrar o fio da meada de sua história. No mundo inteiro emergem os indignados, nas várias praças do mundo. As conseqüências dessas mudanças, portanto, são quase que infinitas, os desdobramentos imprevisíveis, o destino da humanidade incerto. Enfim, o mundo que conhecemos está em mudança, radical, de qualidade. É o que se chama de “crise de
  • 21. paradigmas”(referências), “crise de sustentabilidade”, “crise civilizatória”. 2) O Desafio para as CEBs. Nossas pequenas comunidades eclesiais de base, CEBs, sempre tiveram um princípio formatador de seu perfil: unir fé e vida. Mas, não de um modo artificial. Na verdade, sempre se esforçando para superar um vício histórico que era o de professar a fé formalmente de uma forma e viver a vida tantas vezes de modo oposto ao que se dizia. Sempre buscamos mais um modo de ser cristão que um modo de aparecer como cristão. As implicações dessa postura, embora de simples entendimento, de fundamentação claríssima nos evangelhos, encontra terrível resistência em uma sociedade injusta como a latinoamericana, particularmente a brasileira. A chamada opção pelos pobres, que atravessa a bíblia do princípio ao fim, sempre sofre ataques dentro como fora da Igreja, como se fosse uma opção das pessoas somente, não do próprio Deus. Pois bem, as CEBs e as pastorais sociais são os “espaços eclesiais” onde essa integração de fé e vida subsiste, ao menos como meta a ser perseguida. Não vamos encontrar essa preocupação em outros espaços da vida eclesial, principalmente nos dias de hoje, na religião glamorosa, baseada no sucesso, na fama e nos grandes eventos, onde fica difícil discernir o que é proclamação de fé e o que é show busness. Paulo, em de seus textos mais contundentes, afirma que a única coisa da qual tinha que se gloriar era “das longas viagens, da prisão, das 30 chibatadas”, portanto, o avesso do avesso da glória humana. Nossas comunidades, à semelhança de Paulo, estão acostumadas ao caminho das pedras, das dificuldades, das perseguições, dos trabalhos anônimos feitos de tal forma que a mão esquerda não saiba o que fez a direita. Aqui, sem nenhuma conotação ideológica. Para muitos as CEBs não existem mais exatamente porque são invisíveis. Não estão na mídia, não fazem parte da programação das TVs católicas, não produzem dinheiro, não visibilizam o mundo eclesial. Mas, sustentam a caminhada e estão no alicerce das
  • 22. igrejas comprometidas, na luta pela terra, na luta pela água no semiárido, na defesa das florestas na Amazônia, na luta pela justiça, pelos direitos humanos, assim por diante. Enfim, onde há cristãos comprometidos, é bem provável que eles tenham alguma ligação com as CEBs e ou com as pastorais sociais. Interessante que, quando alguém tomba morto, em alguma forma de luta, provavelmente vem desse mundo. Ou, alguém ali está presente para prestar a solidariedade da fé com as vítimas. Basta ver o que acontece nos conflitos do campo, quem está presente junto a essas populações, como indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, ambientalistas, etc. Portanto, as CEBs, ao assumirem o desafio ambiental, da justiça, da luta pela terra, pela água, ao se porem no chão, com os pés no chão, com as mãos no chão, de alguma forma já estão enfrentando os desafios da mudança de época. Sustentar valores como compromisso, solidariedade, justiça, preservação ambiental, é marchar contra a corrente, como os peixes de piracema. É bom lembrar que só os peixes que nadam contra a corrente se reproduzem, portanto, perpetuam o milagre da vida. Os que se adaptam às forças da correnteza, que cedem, esses não mais se reproduzem e não servem mais para nada, a não ser para serem pescados e consumidos pelos humanos. Mas, diante do Aquecimento Global, o que se anuncia poderá ser a maio extinção em massa que a humanidade já experimentou. Dizem os cientistas que foram cinco as grandes extinções, mas a humanidade não estava aqui. Agora, estamos. Apenas por questão didática, vamos relembrar que o Deus que tudo criou, onipotente, hoje visibilizado pelas lentes dos grandes telescópios que investigam o Universo, é o mesmo Deus encarnado em Jesus de Nazaré, que se fez carne, armou sua tenda entre nós, que prestava atenção nos detalhes humanos, das pessoas tidas como insignificantes. O Deus do Universo é o mesmo Deus do átomo, do “ovo primordial”, do bóson de Higgs. É o mesmo Deus que andou nessa Terra, teve sede, fome, pavor de morrer crucificado, mas atento até à angústia de uma mulher que padecia de “fluxo contínuo”. Portanto, nenhuma contradição em contemplarmos o Deus grandioso e o Deus dos detalhes, dos pequenos. Ele é assim mesmo. Portanto, além dos desafios já tradicionais, vividos de forma tantas vezes sofrida, sem perder a alegria jamais, agora teremos que nos deparar com o grande ajuste de contas da Terra com os seres humanos. É um desafio para toda a humanidade, mas,
  • 23. sempre temos um lugar aí para nos colocarmos. Qual é o melhor jeito de estarmos aí? D. Hélder Câmara costumava dizer que “não somos melhores que ninguém, mas temos que ser os mais responsáveis”. Claro, temos consciência que somos filhos de Deus, temos consciência do Reino já presente na história, mas também de sua plenificação futura. Assim, com o único poder que nos foi dado, esse de dimensão evangélica, o desafio continua sendo o de sermos “sal da terra, luz do mundo, fermento na massa”. Não somos os únicos, nem os melhores, mas temos que ser os mais responsáveis. Referências Bibliográficas. LOVELOCK, James. A vingança de Gaia. Rio de Janeiro. Intrínseca. 2006. MALVEZZI, Roberto. Crise Civilizatória. Paper. Indisponível.
  • 24. 03 – CEBS NO CONTEXTO URBANO J. B. Libanio Junho – 2011 A cidade desafia o compromisso político das CEBS A cidade desafia as CEBs. Primeiro, como lugar do encontro social das pessoas nas suas relações sociopolíticas e socioeconômicas justas e injustas. As injustiças sociais no campo aparecem, sob certo sentido, de maneira bem escandalosa. A cidade tende a escondê-las. Ao assumir as grandes transformações culturais, as pessoas, mesmo pobres, sentem que participam de seus benefícios: eletricidade, aparelhos domésticos, produtos industrializados a preço acessível. Tal fato anestesia a consciência crítica. Dificulta as lutas. Ao vir para cidade, pensa-se que já se goza automaticamente de seus benefícios. E por isso, perde-se certa garra de luta. Com efeito, gente que nas CEBs do interior reivindicava pelos próprios direitos, ao cair na grande cidade, diminui o fôlego. A cultura pós-moderna, com a inundação gigantesca de programas de TV e com outros recursos da informática, avassala a mente com propaganda. Tal universo de informação e de entretenimento termina por cansar as pessoas a ponto de elas não encontrarem energia para outras atividades. Passa-se facilmente de consciência combativa para acomodada. Os líderes estudantis e operários, que, em décadas anteriores, conseguiam mobilizar os afiliados para comícios, assembléias e greves, lutam tenazmente para chegar até a eles por causa dos entraves que as cidades cada vez maiores põem e por influência da cultura pós-modernidade presentista e paralisadora. As CEBs, que no passado desempenharam papel relevante na vida política do país a ponto de terem estado na origem de mobilizações e movimentos sociais populares, e também do Partido dos Trabalhadores, sofrem, nas cidades, da inércia crescente em face da política. Há enorme descrédito de tal atividade humana em
  • 25. conseqüência de vergonhosos escândalos por parte dos atuais políticos. Não há dia em que as manchetes não estampem casos de corrupção na administração do bem público. O arrefecimento da prática religiosa na cidade A cidade em relação à prática religiosa está a provocar-lhe o arrefecimento. Dificulta o exercício dos atos religiosos que na vida rural se seguiam cuidadosamente. O problema da prática religiosa anuncia-se como um dos grandes desafios para os próximos anos. Já não se veem, com a clareza da vida rural, os antigos símbolos católicos, invadidos por outras religiões, especialmente pelas igrejas neopentecostais. As distâncias aumentam. A vida urbana acelera o ritmo das pessoas. A queixa geral: não se tem tempo para nada. De fato, na cidade o problema do tempo se torna cada vez mais grave. Um dos entraves para o crescimento da vida das CEBs vem de as pessoas não conseguirem hora para reunir-se. Gasta-se muito tempo no trânsito. E cada vez mais. Qualquer mobilização, em que pese a maior rapidez dos meios de transporte em relação ao mundo rural, está a custar tempo. E tudo leva a crer, assim como caminha o modelo desenvolvimentista do país, que o problema da mobilidade nas cidades tende a piorar com repercussão grave sobre a freqüência aos atos religiosos. Menos tempo para eles. A vida religiosa parece minguar. A explosão das igrejas evangélicas na cidade Paradoxalmente, a mesma cidade que impede a prática religiosa, está a provocar explosão de igrejas evangélicas. Nunca se viram tantas, sobretudo na periferia, onde habitam os candidatos melhores para as CEBs, quer porque já as conheceram antes de migrar, quer porque moram e vivem problemas semelhantes com proximidade de
  • 26. moradia. Tais pessoas sofrem verdadeiro ataque das igrejas neopentecostais que crescem a olhos vistos. E muitos circulam de igreja em igreja, perdendo assim compromisso duradouro, necessário para constituir CEBs. As, que se formam nas periferias, precisam de lucidez para trabalhar o surto evangélico que invade a mesma camada social pobre. Lá talvez estejam os mais pobres. Como manter viva uma CEB em face de tal desafio: Diminuição progressiva da visibilidade católica e crescimento assustador dos neopentecostais? Os pilares das CEBs Importa muito conjugar a dimensão comunitária, a preocupação social e a religiosidade. Sem esses três traços a CEB perde a característica própria. A cidade inibe, sob certo aspecto, os três elementos. Dificulta as reuniões comunitárias. Reduz o tempo para a convivência e assim impede o pessoal organizar-se comunitariamente. E as CEBs que valorizam tanto o encontrar-se sofrem a angústia do isolamento urbano. Oferece a atração da Tevê com as novelas e outros programas. Sem muita motivação e empenho, dificilmente as pessoas se reúnem para leitura orante da bíblia, para celebrações e reuniões a fim de programar atividade social. E sob esta perspectiva, ela impede o empenho social. Problema das lideranças Outra dificuldade para fortificar os três pilares das CEBs vem da falta de liderança. Na vida urbana, a importância da liderança se faz urgente. As CEBs necessitam descobrir e formar os líderes, para que eles congreguem as pessoas em comunidade. A cidade fragmenta a vida humana. Empurra os seus habitantes para individualismo exacerbado e anonimato doloroso. E sem pessoas capazes de congregar não fica fácil alimentar a vida de uma CEB.
  • 27. Parcerias na luta pela justiça social: voz ética e profética Paradoxalmente, esse ponto difícil converte-se em promissor para as CEBs, se elas resgatam a dimensão humana e justa da cidade, recorrendo à longa experiência de luta pela justiça do passado. Na sociedade civil e em determinados órgãos do Estado nos três níveis municipal, estadual e federal existem experiências sociais importantes. Há setores conscientes e lúcidos que se organizam. Se no campo as CEBs assumiam, em muitos casos, a iniciativa, toca-lhes na cidade antes o trabalho de parceria. Essa nova circunstância implica mudar a mentalidade. Passa-se de uma Igreja de Cristandade, mesmo tendo mentalidade social como nas CEBs do interior, para uma Igreja parceira do Estado, de organizações civis, de ONGs e etc. Perde-se o gostinho da liderança e da iniciativa primeira, para somar forças com outros. Demanda-se das CEBs urbanas agudo sentido de discernimento entre extremos: comprometer-se unicamente quando elas exercem protagonismo ou sucumbir à sedução da acomodação urbana, muito a gosto do sistema neoliberal. Parceria crítica e profética: eis o caminho novo! Nem donas, nem afastadas dos espaços em que jogam as cartadas decisivas da vida do cidadão urbano. Elas têm diante de si enorme responsabilidade social em face do Estado, da sociedade civil e, de modo especial, da mídia. Hoje esta se tornou instituição altamente poderosa na construção da opinião pública. Antes de tudo, cabe às CEBs ser voz ética e profética em defesa dos pobres, marginalizados, injustiçados e excluídos citadinos. A cidade exclui ou segrega para os rincões inóspitos as massas que as classes privilegiadas usam para manter o próprio bem-estar. Os gigantescos cinturões de miséria, que circundam a cidade moderna, estão a exigir luta decidida e inteligente por parte de todos os setores sensibilizados por tamanha injustiça. Chamem-se luta pela moradia, reivindicações por melhores condições de vida, defesa do menor carente e da mulher marginalizada. Os nomes se multiplicam. Mas a raiz do problema é uma só: a configuração da cidade segundo o figurino maior do sistema neoliberal. Ele, cada vez mais, de um lado, se torna concentrador de riqueza em benefício de minorias reduzidas, e, de outro, excludente das imensas massas populares. O evangelho está a exigir das
  • 28. CEBs presença sempre maior do lado dos excluídos. Passagem do espaço para o interesse Outro desafio importante da cidade consiste na mudança da mentalidade em relação ao espaço. No campo, as pessoas medem as atividades pelas distâncias. Em língua popular falava-se de léguas. Além do mais, para as principais atividades existia lugar próprio. Ele congregava as pessoas para tal. Assim para rezar, ia-se à igreja e aos santuários, para morar à casa, para divertir e trabalhar aos respectivos lugares. A referência principal se fixava no espaço, no lugar. A cidade modifica tal concepção. Ela já não valoriza os lugares como tais. As pessoas se regem antes pelos interesses. E um lugar só se torna importante, se ele atrai e desperta interesses nas pessoas. E quanto mais interesses um lugar criar, mais é frequentado. Assim, p. ex., o shopping virou um dos lugares mais procurados. Circulam por ele milhares de pessoas o dia inteiro. Por quê? Porque lá se compra, se diverte, se encontram as pessoas, se veem lojas bonitas, se sente ambiente agradável. Diferente de simples loja do interior que tinha por única atração o produto que vendia. Esse exemplo serve para entender também o espaço material da igreja. No interior, ele era procurado para cumprir as práticas religiosas. E nada mais. Se continuar da mesma maneira, na cidade as pessoas só irão lá para isso. E fora de tais atividades, fica deserto. Aliás, infelizmente, o que acontece com a maioria de nossas igrejas. Vejam a diferença respeito a certas igrejas evangélicas em que sempre há gente circulando. Por quê? Porque elas deixaram de ser simples espaço religioso e se tornaram centro de interesses. E a frequência cresce à medida que se amplia a gama de interesses. Imaginemos uma paróquia que além de oferecer os serviços religiosos tradicionais, cria enorme centro de interesses. Assim, abre espaço para os jovens se encontrarem tanto para reunião religiosa, como também cultural. Organiza cursos de diversos tipos: corte e costura, primeiros socorros, preparação para o vestibular para carentes, e assim por diante. Quantos mais numerosos forem os pólos de interesse, mais será freqüentada. Aqui não há limite para a fantasia criadora da paróquia. Em miniatura,
  • 29. vale o mesmo das CEBs urbanas. Elas estão plantadas dentro desse mundo. Se elas multiplicarem os pontos de interesse, tanto mais elas crescerão. Neste caso então, nelas se discutem política, droga, violência, trabalho, temas de fé, etc. Cada um desses campos faz girar em torno dele mais pessoas. O segredo das CEBs urbanas do futuro se encontra na capacidade que tiverem de multiplicar espaços que atraiam as pessoas das diferentes idades e desejos. Fica para elas esse gigantesco desafio de tornar-se rico pólo de interesses. O isolamento das pessoas e o cultivo do espírito comunitário A cidade aproxima fisicamente as pessoas. Agrupa-as em quantidade gigantesca em rincões cada vez menores. E curiosamente produz o efeito contrário. Em vez de socializá-las, isola-as no anonimato e no individualismo. Impera a regra: “salve-se quem puder”. Trata-se de instinto de defesa. Teme-se que estabelecer relações com as pessoas próximas traga invasões da privaticidade. Já a vida nas periferias goza de pouco âmbito para o mundo pessoal. E se se abre o leque de relacionamentos, os indivíduos se perdem numa rede de pedidos, solicitações, etc. A defesa: esconder-se atrás do desconhecimento, da indiferença até mesmo respeito ao vizinho. Então surge o desafio para as CEBs urbanas. Como conseguir um equilíbrio entre o isolamento e a invasão exagerada da intimidade num ambiente de excessiva proximidade física. O caminho vai na linha do cultivo do espírito comunitário. Este existe quando se unem autonomia e relação, a própria identidade e a diferença dos outros. E as CEBs têm muito a oferecer com a experiência de ser comunidade. A origem primeira das CEBs aconteceu em torno de círculos bíblicos, celebrações, lutas sociais. As pessoas se reuniam para rezar, debater, celebrar, organizar mutirões. Essas realidades continuam importantes e mais ainda na cidade. A questão gira como pôr esse interesse no centro e encontrar um lugar concreto e hora conveniente.
  • 30. CEBs evangelizam a religiosidade na cidade As CEBs conservam a vocação de ser presença no coração da vida da cidade, carregada de problemas sociais. Cresce nas pessoas certo desejo espiritual, provocado pela violência e dureza da vida urbana. As CEBs constituem-se pequeno oásis de espiritualidade. Esse lado da vida humana parece promissor na atual sociedade tão secularizada, materialista e violenta. A explosão do fenômeno religioso reflete a carência de toque espiritual no mundo atual. Mas, ele sozinho não leva a nenhuma verdadeira fé, se não for evangelizado. Soa estranho falar de evangelização da religiosidade. Mas ela se impõe. As CEBs encontram aí vasto campo de trabalho pastoral. A passagem da religiosidade para a fé se faz através de três momentos. São Marcos ensina-nos o segredo (Mc 1, 14s). Quando Jesus inicia a pregação, ele afirma quatro coisas: o tempo chegou à plenitude. Nós já vivemos esse tempo, porque Jesus já morreu e ressuscitou. Em seguida, afirma que o Reino de Deus está próximo tanto no tempo como no espaço. Próximo não quer dizer que ainda não está presente. Mas o contrário. Ele está aí bem junto de nós e de mil maneiras. Pela presença da Igreja, dos sacramentos, do irmão necessitado, da proclamação da palavra, dos toques de graça no fundo do coração de cada um de nós. Todos percebemos tal proximidade. A religiosidade e a piedade significam para muitos tal cercania. O mais importante vem depois de tal experiência. Marcos acrescenta: convertei-vos . A religiosidade que não pede conversão, ainda não se deixou evangelizar. As CEBs têm potencial poderoso de ajudar as pessoas envolvidas na onda espiritualista para que descubram a exigência de mudança de vida. Mas em que direção? Marcos acrescenta: crede na Boa Nova. Essa consiste na experiência de Deus salvador presente nesse mundo e, de modo especial, nos pobres. Aí o evangelho de Mateus completa quando Jesus no julgamento se identifica com os famintos, sedentos, estrangeiros, nus, enfermos, encarcerados (Mt 25, 31-45). A Boa Nova a que conduz a
  • 31. conversão resume-se, em última análise, no serviço aos pobres, necessitados, marginalizados da sociedade. Então, o último passo da conversão da religiosidade se dá no compromisso, na práxis da caridade. Experiência que as CEBs conhecem de longa data e de que, portanto, têm muita experiência. A sedução da liberdade e da autonomia A cidade seduz pela aparência de liberdade e de independência que oferece. Alguém, que vivia no interior, controlado pelos olhares da família e da igreja, ao chegar à cidade, sente enorme alívio. Aqui se leva a vida que e como se quer. Desafio para as CEBs se mostrarem espaço de liberdade, de criatividade, de participação. Só com tais características, elas terão força de apelo. Os fieis as freqüentarão à medida que perceberem a comunidade não lhes pesar como obrigação, imposição, mas como lugar de realização humana e religiosa. Da obrigação para a realização humana Cabe modificar a maneira de tratar as obrigações religiosas, deslocando o acento para a alegria e o gosto de estar juntos, de celebrar a vida, de comprometer-se com os problemas importantes sociais e familiares. A vida eclesial das CEBs não aparece então como problema, mas como solução. Essa inversão alivia interiormente as pessoas. Não as buscam porque se sentem coagidas, mas porque percebem que lá existe espaço de realização humana e religiosa. Da sedução das ofertas para a solidariedade A cidade desafia as CEBs urbanas, enquanto espaço das ofertas múltiplas
  • 32. nos diversos setores: consumo, trabalho, cultura, ascensão social, progresso pessoal. Mesmo que para muitos, vindos do campo, ela se transformou em terrível pesadelo, no entanto, não pensam voltar para a roça. Preferem continuar lá. Fica-lhes a ilusão de que o fracasso presente não vem da cidade, mas deles. E permanece então a esperança de melhor de vida. Nessa situação, as CEBs, ao criar vínculo de solidariedade, oferecem lugar para seus membros se ajudarem, tomarem consciência do próprio valor e aproveitarem das ofertas diferenciadas do mundo urbano. Este comporta-se dubiamente. Acena para sonhos, mas nega a muitos a sua realização. A pastoral urbana cresce à medida que entra nessa dinâmica e procura gestar oportunidades de crescimento dos membros. E isso implica quase sempre a melhoria no campo de conhecimento: cursos profissionalizantes para os pais, possibilidade de estudo para os filhos, acesso ao mundo cultural. Quanto mais se avança na sociedade do conhecimento, as profissões exigem sempre mais saber. O uso da informatização se impõe cada vez mais. As CEBs precisam se pensar também nessa perspectiva. Do lugar do desejo e do prazer para experiências novas A cidade se torna cada vez mais lugar dos desejos, do prazer, de um lado, e, da violência, do barulho, do cansaço, da confusão física e mental, do outro. As pessoas se sentem dilaceradas. Não lhes faltam ocasiões de muito gozo com enorme gama de entretenimento e com infinitas solicitações aos sentidos. No entanto, essa mesma provocação tem causado exaustão espiritual, perturbação do coração, ruído interior e, sobretudo, violência, em grande parte, como fruto da presença da sedutora droga ou do incentivo a aventuras arriscadas. A evangelização vai na direção de as CEBs criarem espaços para experiências opostas: silêncio, tranquilização, paz interior e depuração do sentido de prazer. Tarefas que a vida rural não conhecia. E as CEBs urbanas encontram aí amplo campo de expansão criativa.
  • 33. Conclusão A cidade está a exigir das CEBs transformações profundas. Vale o princípio básico de toda mudança. Olhar para o passado, recolher os valores fundamentais e conservá-los. Perceber-lhes os limites e abandoná-los. E, sobretudo entregar-se à tarefa criativa. Ficam, portanto, três perguntas para as CEBs urbanas: 1. que elementos das experiências anteriores vividas pelos membros merecem ser conservados na relação com Deus, no interior da comunidade e na prática pastoral? 2. que elementos se consideram definitivamente superados e, portanto, não cabe teimar retê-los nos três níveis da compreensão de CEBS, da experiência comunitária e da prática pastoral? 3. finalmente, que novas perspectivas a cidade abre para as CEBs nos três níveis da compreensão de CEBs, de vivência comunitária e de prática pastoral? Texto enviado para o Secretariado Nacional do 13º Intereclesial das CEBs – Juazeiro do Norte/Ceará – 07-11 de janeiro de 2014 04 – CEB: lugar da juventude?
  • 34. Desafios e perspectivas da participação juvenil nas CEBs5 Solange dos Santos Rodrigues6 A presença de jovens nas CEBs tem dado origem a debates nos últimos anos em torno das questões: Em que medida a juventude participa das CEBs? Quais as razões para uma participação reduzida? Como favorecer uma presença mais significativa de jovens nas comunidades? Por outro lado, a constatação de uma presença pouco expressiva de jovens nos Intereclesiais gerou iniciativas nos dois últimos encontros. No 11º. Encontro em Ipatinga-MG (2005) cerca de 250 jovens das dioceses de Minas Gerais e do Espírito Santo participaram do Acampamento Igreja Jovem, instalado próximo ao local da grande plenária. Eram jovens que não faziam parte da delegação oficial, mas participaram de alguns momentos da programação, como as grandes celebrações e das tendas de trocas de saberes. No Acampamento foi realizada uma série atividades paralelas. Ao longo dos dias o Acampamento foi ganhando importância e recebeu a visita de várias pessoas - assessores, bispos, delegados, que fizeram pequenas palestras ou levaram uma saudação e palavras de estímulo à juventude ali reunida. Os jovens redigiram uma carta que foi lida na grande plenária do Intereclesial. Já no 12º. Encontro, em Porto Velho-RO (2009), chamou a atenção o grande número de adolescentes e jovens nas equipes de serviço. Além disso, as dioceses foram incentivadas a incluir pelo menos um jovem nas suas delegações, o que resultou numa expressiva presença juvenil no Encontro. Numa das noites, cerca de 300 jovens participaram de uma reunião convocada pelas organizações juvenis presentes. Nesta ocasião foi formada uma comissão para elaborar uma mensagem lida na grande plenária. A carta abordava a situação vivida pelos jovens em nosso país, em especial a violência, e reivindicava que os clamores da juventude fossem refletidos no próximo 5 Este título é inspirado e dialoga com o projeto “Comunidade; lugar da juventude”, uma das iniciativas do Setor CEBs da Comissão para o Laicato-CNBB para o quadriênio 2012-2015, elaborado pelo assessor do Setor, professor Sérgio Coutinho. 6 Socióloga, mestre em Sociologia (UFRJ, 1997), pesquisadora das áreas de juventude, religião, participação social e políticas públicas, trabalha na organização não governamental Iser Assessoria, no Rio de Janeiro. Agradeço a leitura atenta e as sugestões de Névio Fiorin e Ivo Lesbaupin, companheiros do Iser Assessoria, e dos amigos Sérgio Coutinho e Felipe Freitas.
  • 35. Intereclesial, com o tema: “Cebs em defesa da vida da juventude” 7 . Estas iniciativas estão inseridas em um contexto no qual a Igreja Católica tem dirigido um olhar mais focalizado na juventude. Alguns sinais: em 2007 a CNBB aprovou o documento Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas pastorais; em 2011 foi criada na CNBB a Comissão Episcopal da Juventude, que sucedeu o Setor Juventude, antes vinculado à Comissão Episcopal para o Laicato, da qual fazem parte o Setor CEBs e o Setor Leigos; em 2013 será realizada a Jornada Mundial da Juventude no Brasil. Ao mesmo tempo, segmentos de jovens católicos, membros de organizações criadas há décadas no país, têm relatado dificuldades de diálogo com o clero e lideranças eclesiais, e falta de apoio às suas iniciativas. Estamos diante de uma contradição? A preocupação com a juventude não é exclusiva das CEBs e de outras organizações da Igreja Católica. Jovens estão em evidência no Brasil e no mundo desde meados dos anos 90: nos meios de comunicação, nas pesquisas acadêmicas, nos movimentos sociais e partidos políticos, nas entidades religiosas, nos organismos governamentais. Isso se deve tanto ao reconhecimento dos graves problemas vividos pela juventude atualmente, quanto à ação organizada da própria juventude, que coloca na pauta social seus interesses e potencialidades. A adesão de pessoas mais jovens é fundamental para as organizações da sociedade que pretendem ter continuidade para além da presente geração. Por isso muitas entidades têm buscado atrair jovens para suas fileiras, numa estratégia de sobrevivência. Quando as CEBs se debruçam sobre o tema da juventude na preparação do 13º. Intereclesial, elas também se colocam nesta perspectiva? Há outras motivações? Quais? Para perceber as possibilidades e limites da participação juvenil nas CEBs é preciso inserir esta reflexão no quadro mais amplo da situação da juventude em nosso país, e da vivência religiosa de jovens na atualidade. Os dois próximos itens pretendem 7 A íntegra destas cartas encontra-se em http://www.casadajuventude.org.br/media/carta_juventude.doc e http://www.cmjbh.com.br/06_noticia_detalhe.asp?cod=40 , respectivamente.
  • 36. colaborar nesta compreensão. Em seguida serão abordados alguns desafios e perspectivas da presença de jovens nas CEBs8 . 1 – Elementos da situação juvenil no Brasil atual Aproximadamente um quarto da população brasileira atual é jovem, um contingente de cerca de 52 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, com demandas específicas e potencialidades9 . As relações que a sociedade estabelece com os/as jovens são marcadas por uma ambiguidade: a juventude se torna um valor na sociedade de mercado (ideal desejado de vitalidade, beleza, alegria, explorado pela propaganda) e todos desejam permanecer jovens; ao mesmo tempo, a juventude condensa medos sociais, na medida em que é relacionada a problemas existentes na sociedade que lhes dizem respeito mais diretamente, como o envolvimento com violência, drogadição10 , abandono da escola, desemprego/desocupação, situações decorrentes do início da vida sexual – contágio de doenças sexualmente transmissíveis ou gravidez não planejada -, e outros comportamentos que podem colocar em risco sua integridade física e saúde. Jovens também são as vítimas mais frequentes de exploração sexual e de homofobia. Por outro lado, existem muitas dificuldades de inserção social para grandes parcelas da juventude, que têm limitadas suas possibilidades de acesso à educação de qualidade e a postos de trabalho dignos, à formação profissional, à fruição cultural, ao lazer, à 8 Estas notas estão baseadas em estudos e pesquisas sobre a juventude brasileira, na observação da dinâmica das CEBs, nos diálogos estabelecidos com jovens participantes ou não de grupos eclesiais, em especial os pertencentes à Pastoral da Juventude, e também na escuta de jovens que a Conferência dos Religiosos do Brasil realizou em 2009 (Cf.: Rodrigues, 2010). 9 População com idade entre 15 e 29 anos em 2010: 51,3 milhões, segundo a Projeção Populacional do IBGE – Revisão 2008. Cf. Castro et elli, 2009:30. Esta obra, publicada pelo IPEA no final de 2009, traz os indicadores sociais mais atualizados sobre a juventude brasileira, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE de 2007. 10 Uso abusivo de substâncias psico-ativas.
  • 37. participação. Existe uma tendência a generalizar quando se aborda a situação juvenil em nosso país, mas é preciso perceber a complexidade de modos de vida desses milhões de jovens, muito diferenciados quando considerados segundo variáveis de sexo, condição socioeconômica, local de moradia, cor/etnia, situação de trabalho, escolaridade, orientação sexual, vida familiar, pertencimentos religiosos, políticos etc.. Diversas pesquisas sobre a juventude brasileira realizadas na última década contribuem na compreensão deste universo11 . A população juvenil está concentrada nas áreas urbanas (84,8%)12 . A maior parte vive em cidades pequenas e médias, e um terço em áreas metropolitanas. A migração de jovens para os centros urbanos tem por objetivo ampliar as oportunidades de educação, trabalho e diversão. Mesmo que a imensa maioria da juventude brasileira resida no meio urbano, cerca de 5,5 milhões de jovens permanecem no campo (15,2%), e é necessário garantir seus direitos fundamentais de educação, formação profissional, mobilidade e lazer. A educação e o trabalho são elementos fundamentais no processo de construção de autonomia e emancipação da juventude. Nas duas últimas décadas ocorreu um aumento na escolarização juvenil: em 1992, 23,7% dos jovens de 15 a 29 anos freqüentavam a escola, percentual que se eleva para 35,4% em 200713 . No entanto, ainda havia cerca de 1,5 milhão de jovens analfabetos em 2007, concentrados principalmente no Nordeste; 17% dos jovens de 15 a 17 anos estavam fora da escola (idade adequada para cursar o ensino médio); 24,5% dos jovens até 29 anos haviam concluído o ensino médio, apenas 13% dos jovens de 18 a 24 anos frequentavam o ensino superior, e poucas oportunidades para o ensino profissional. Mesmo com a melhoria dos índices de acesso, permanecem desafios referentes à qualidade da educação oferecida e às condições necessárias para o desenvolvimento do processo educativo: transporte, 11 Veja-se especialmente Venturi e Abramo (2000); Abramo e Branco (2005); Ribeiro et alii (2006) e Abramovay et alii (2007) e a obra citada na nota 5. 12 Cf. Castro et elli, 2009:33. 13 Cf. Castro et alii, 2009: 89-108.
  • 38. alimentação, material didático, qualificação e remuneração dos profissionais. Atualmente há diferentes formas de articulação entre escola e trabalho na experiência cotidiana da juventude brasileira. Segundo dados de 2007, uma pequena parcela só estudava (17,5%), outra era constituída por jovens que estudavam e trabalhavam (17,9%), enquanto 49,9% apenas trabalhavam. O grupo daqueles que nem estudavam, nem participavam do mundo do trabalho (14,7%) pode dar uma falsa idéia de que há um contingente significativo de jovens em nosso país excluídos simultanea e voluntariamente da escola e do trabalho. Contudo, é preciso considerar que aí estão incluídas jovens mulheres que se dedicam às tarefas domésticas, a maioria delas já envolvidas em relações conjugais, e/ou vivendo as responsabilidades do cuidado com filhos. Com efeito, os homens jovens de 15 a 29 anos que não estudam e estão fora do mercado de trabalho são 7,2%, enquanto que as mulheres desta faixa etária e na mesma situação são 22,0%14 . Além disso, é preciso lembrar aquela parcela da juventude que concluíra o ensino médio ou universitário e buscava emprego. Com efeito, a incerteza em relação ao ingresso e permanência no mundo do trabalho tem sido apontada como uma das marcas geracionais da juventude brasileira neste início de século. Nestes tempos de transformações nas formas de produção econômica e de políticas macroeconômicas neoliberais que restringem a criação de postos de trabalho, a inserção no mundo do trabalho é um grande desafio para a juventude, em especial para jovens sem experiência laboral. Mesmo quando crescem as oportunidades de trabalho, o desemprego juvenil é três vezes superior ao da população adulta. Isso faz com que um contingente expressivo de jovens se sujeite a trabalhar em situações precárias, sem as garantias da legislação trabalhista, ou procure oportunidades em outras cidades ou regiões. É preciso lembrar que a juventude é a etapa do ciclo de vida em que aumentam as pressões por consumo e se acelera a busca por autonomia em relação à família de origem. Pesquisas recentes mostraram os problemas que mais preocupam a juventude: emprego e segurança/violência 15 . De fato, outra marca geracional da juventude 14 Cf. Castro et alii, 2009:78. 15 Abramo e Branco, 2005: 380 e Ribeiro et alii 2006:18.
  • 39. contemporânea é conviver com a violência. Os índices de violência que atinge jovens em nosso país são semelhantes ou superiores aos encontrados em países que se encontram em guerra16 . Entre 2003 e 2005 houve cerca de 60 mil óbitos de homens jovens por ano, a grande maioria (78%) resultante de homicídios e acidentes de transporte. Trata-se de uma violência que atinge de maneira particular jovens do sexo masculino e negros17 . Uma parte significativa dessas mortes está relacionada à disputa por território para o comércio ilegal de substâncias psicoativas; aos confrontos da polícia com jovens envolvidos neste comércio; e à ação de grupos de extermínio. Trata-se de uma realidade presente no cotidiano de muitas cidades brasileiras, independentemente de seu tamanho. A problemática da violência urbana está estreitamente relacionada à rede de produção, circulação, distribuição e consumo de drogas ilícitas, apoiada no poder bélico, que envolve altos investimentos e lucros que ultrapassam as fronteiras dos territórios segregados das cidades onde é feita a venda em pequenas quantidades. Tudo isso agravado pela corrupção policial. É preciso evitar a simples condenação moral dos jovens envolvidos, muitos deles atraídos para atividades criminosas por falta de outras oportunidades de inserção social, por necessidade de satisfazer a dependência química, ou por desejo de adquirir mercadorias que lhes dê visibilidade social. A prevenção do consumo e o tratamento do usuário de substâncias psicoativas são ações importantes, mas insuficientes para enfrentar esta situação, que exige a implementação de uma política de segurança pública adequada. Também é necessário atentar para o abuso no consumo de álcool, droga lícita a que jovens tem fácil acesso (apesar das restrições de venda e de publicidade direcionada a segmentos da juventude), que está na base de diversas situações de violência que atingem jovens, como os acidentes de transporte, brigas, quedas e afogamentos, homicídios. Além disso, a persistência dos índices de jovens mulheres vítimas de violência e o alto número de jovens gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais mortos em casos de homofobia continuam a impactar a condição de vida destes segmentos populacionais. 16 A este respeito, ver o artigo de Luiz Eduardo Soares em Novaes e Vannuchi (2004). 17 Dados detalhados sobre a morbimortalidade de jovens podem ser encontrados em Castro et alii, 2009:131-138.
  • 40. Uma terceira marca geracional da juventude brasileira na atualidade, ao lado das dificuldades de inserção profissional e da convivência com a violência, é a comunicação virtual possibilitada pelo desenvolvimento da microinformática e da internet. Esses recursos são acionados dando origem a novas formas de sociabilidade juvenil, abrem perspectivas para a circulação de informações, para o estabelecimento de identidades (como, por exemplo, as redes sociais e temáticas), se prestam ao lazer, ao estudo, e potencializam diferentes formas de mobilização, numa velocidade e amplitude inimagináveis antes do advento dessas tecnologias de informação e comunicação. Este campo, todavia, não está livre de ambigüidades. São muito variáveis as condições de acesso à internet em banda larga no país, e sua democratização permanece um desafio. Além disso, muitos denunciam que jovens dedicam tempo demais ao universo virtual, o que favoreceria seu isolamento e dificultaria o estabelecimento de relações face a face, presenciais. No entanto, boa parte do tempo gasto por jovens na internet está associada à alimentação das chamadas redes sociais, através das quais compartilham com amigos seus interesses, informações, imagens, músicas. Trata-se de um poderoso meio de comunicação que exige orientação para uso adequado, e cuidados para evitar que a segurança dos jovens seja ameaçada por excesso de exposição. Estas marcas geracionais são compartilhadas pela juventude de nosso país neste início de século, mas são vividas de forma peculiar de acordo com as diferenças e desigualdades presentes no interior deste segmento social – a experiência do desemprego, da violência ou da comunicação virtual é diferenciada, quando se trata de jovens homens ou mulheres, negros ou brancos, pobres ou ricos, do meio urbano ou rural, residentes no centro ou na periferia, hetero ou homossexuais, escolarizados ou não, com ou sem filhos... Por isso, uma tendência é indicar a existência de diversas juventudes, no plural. Há também o fenômeno da formação de grupos juvenis em torno de identidades específicas, reunindo jovens que compartilham pensamentos, estilos de vestir, gostos, comportamentos, formas de estar no mundo, que configuram diversas culturas juvenis (alguns denominam estes grupos de “tribos urbanas”). A participação social é outro tema polêmico quando se reflete sobre a juventude atual. Uma concepção muito difundida é que jovens de hoje são individualistas e estão afastados de ideais e de práticas de solidariedade, de compromisso e de mobilização social, em comparação a gerações de jovens de décadas passadas, ou em comparação aos adultos da atualidade. Muitos estudiosos têm
  • 41. questionado este tipo de avaliação, porque não há séries históricas que permitam a comparação entre juventudes de diferentes épocas, nem estudos comparativos entre o nível de mobilização social de jovens e adultos numa mesma época18 . Ao contrário, apontam uma infinidade de mobilizações juvenis que ultrapassam os campos tradicionais da militância estudantil e político-partidária, que são constituídas em torno de identidades coletivas que buscam efetivar direitos: são jovens negros e negras, jovens mulheres, jovens da agricultura familiar, jovens com deficiência, jovens das comunidades tradicionais, jovens do movimento LGBT19 , jovens do movimento Hip Hop, jovens de redes constituídas em torno da ecologia ou da comunicação, do esporte e de manifestações artísticas, para citar alguns exemplos de uma juventude que alimenta anseios de transformação pessoal e social, e que se envolve na construção das chamadas políticas públicas de juventude. Outras tantas iniciativas, que se inserem em um conjunto diversificado de mobilizações juvenis, eclodiram pelo mundo nos últimos anos, das manifestações dos “indignados” na Espanha, denunciando a crise econômica que retira perspectivas de inserção social para a juventude, aos protestos dos jovens chilenos, em luta por reformas no sistema educacional; da revolta dos jovens dos subúrbios franceses, apontando os desafios das novas gerações de famílias migrantes em um contexto de xenofobia crescente, aos jovens participantes das manifestações do que tem sido chamado de “primavera árabe”; passando pelas diferentes juventudes envolvidas nos protestos contra a hegemonia do capital financeiro nas ocupações em Nova Iorque – “ocupem Wall Street” - que rapidamente se espalhou por tantas cidades pelo mundo. De qualquer modo, é preciso reconhecer que a imensa maioria da juventude brasileira não está inserida nestas mobilizações hoje, nem esteve no passado. Uma ideia recorrente presente em algumas formas atuais de mobilização juvenil é a produção de mudanças imediatas a partir de ações individuais e localizadas, em detrimento de 18 Para uma discussão mais ampla deste tema, ver os artigos de Paulo Krischke (Questões sobre juventude, cultura política e participação democrática) e de Gustavo Venturi e Vilma Bokany (Maiorias adaptadas e minorias progressistas) em Abramo e Branco (2005). 19 Movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
  • 42. projetos societários de transformação a longo prazo. Uma tendência desta geração é a busca de resultados concretos e imediatos de sua ação social, Aí se inserem as iniciativas baseadas no voluntariado e a valorização de pequenas experiências inovadoras que atestem a viabilidade de uma maneira sustentável de estar no mundo, derivadas da concepção de que as mudanças virão se cada um fizer a sua parte. O que é fundamental para o estabelecimento de um novo padrão de relacionamento com a natureza e com as pessoas. No entanto a gestão da vida social, em tempos de globalização e de mudanças climáticas, exige governança e implantação de políticas públicas que garantam direitos coletivos e a convivência entre as pessoas20 . 2 - Vivência religiosa juvenil A reflexão sobre CEBs e juventude deve levar em consideração o contexto mais amplo em que se dá a experiência do sagrado e o pertencimento religioso juvenil. A juventude está de fato mais afastada das religiões na atualidade? Esta questão não admite respostas apressadas e absolutas, tanto pela diversidade que atravessa a juventude brasileira contemporânea, quanto pela dinâmica que vem imprimindo profundas transformações no campo religioso do Brasil nas últimas décadas. Também com relação à religião os jovens se diferenciam. Os dados demográficos mais recentes sobre juventude e religião são do Recenseamento Geral da População de 2010, divulgados em junho de 2012. A distribuição dos jovens de 15 a 29 anos pelas diferentes religiões segundo sua auto-declaração era: 63,4% católicos, 21,7% evangélicos, 1,6% espíritas, 0,3% umbandistas e candomblecistas, 2,9% deram outras respostas (hinduístas, budistas, muçulmanos, tradições esotéricas, indígenas, judaica, múltiplo pertencimento etc.). E os demais 10,1% informaram que não eram adeptos de nenhuma religião instituída. Note-se que este é o terceiro maior grupo, atrás dos católicos e evangélicos. Comparando estes percentuais com os dados para o conjunto da população 20 Um exemplo ilustrativo: não basta separar o lixo familiar para resolver o problema de esgotamento sanitário das metrópoles – há necessidade de políticas públicas de saneamento.
  • 43. brasileira, observa-se que os jovens se distribuem pelas religiões de modo bastante semelhante ao restante da população21 . A única diferença que merece destaque é que entre jovens há uma proporção maior de pessoas que se declararam sem religião (10,1%): o índice é 26% superior aos indivíduos sem religião no conjunto da população brasileira (8,0%). Entretanto isso não significa um crescimento mais acentuado do ateísmo entre jovens. Diversas pesquisas mais detalhadas têm indicado que a grande maioria desses jovens sem religião tem crenças, busca uma proximidade com o sagrado, experimenta uma mística, muito embora não se sinta identificada com uma religião em particular. Tanto assim, que apenas 0,04% de jovens se identificaram como ateus e 0,01% como agnósticos no Censo de 2010. Isso se deve a fenômenos como a desinstitucionalização religiosa (pessoas se desvinculam das religiões tradicionais e passam a ter uma experiência do sagrado sem a mediação de instituições religiosas); o trânsito religioso (a peregrinação entre diferentes alternativas religiosas existentes no campo religioso); as adesões provisórias, a prática simultânea de mais de uma religião, a produção de sínteses pessoais, sincréticas, a partir de elementos disponíveis em diferentes sistemas de crenças. E há também aqueles que mesmo optando por uma determinada religião, estabelecem negociações pessoais com o conjunto de concepções e práticas requeridas dos adeptos. Por exemplo, católicos que têm um comportamento sexual e reprodutivo diferente do prescrito na doutrina oficial do catolicismo. Todos estes fenômenos, presentes na população em geral, são mais acentuados no segmento juvenil. A busca de respostas para suas dúvidas e angústias existenciais, a abertura ao novo, a extrema curiosidade, a liberdade frente a exigências incompreensíveis, a crítica aguçada quando percebem nos líderes religiosos atitudes consideradas inadequadas são elementos que produzem vínculos mais tênues entre uma parcela da juventude e as instituições religiosas. É freqüente encontrarmos jovens que em um curto período passaram por diversas experiências religiosas. Muitos têm a atenção despertada para 21 Religiões dos/as brasileiros/as, segundo o Censo de 2010: 64,6% católicos; 22,2% evangélicos; 2,0% espíritas; 0,3% umbandistas e candomblecistas; 2,7% de outras declarações:; e 8,0% de pessoas sem religião.
  • 44. religiões de matriz oriental, ou para espiritualidades exóticas e esotéricas, associadas à dimensão terapêutica e do autoconhecimento. Tudo isso coloca em xeque avaliações generalizadoras segundo as quais a juventude não teria interesse pelo universo religioso, nem firmeza no compromisso advindo dessa adesão. Também neste aspecto é possível perceber uma diferenciação no meio juvenil: alguns não estabelecem vínculos com as instituições religiosas; outros acessam simultaneamente diferentes sistemas religiosos para atender às suas necessidades de sentido; outros aderem com fervor a sistemas ou movimentos religiosos que exigem uma rígida observância de regras comportamentais; e alguns escolhem viver radicalmente os princípios da fé em comunidades constituídas em torno de uma identidade religiosa, não apenas no âmbito católico, mas também em religiões como o Santo Daime ou o Hare Krishna, ou em congregações e ordens religiosas católicas. Isso vai em direção oposta à ideia corrente de que jovens teriam pudor de expor publicamente sua adesão religiosa. Ao contrário, existe uma tendência a dar visibilidade a marcas da religião no corpo (tatuagens), no vestuário, nos acessórios (anéis, cordões, braceletes, bandanas, bonés...). Não se trata de uma experiência religiosa vivida apenas no âmbito privado. Esses processos são vivenciados por pessoas de todas as idades, não apenas pelos jovens. Entretanto, estamos tratando de uma fase da vida em que se intensifica a experimentação que pode dar origem a escolhas existenciais importantes: a vivência da sexualidade, a busca de parceiros, a orientação sexual, a continuidade ou não dos estudos, a inserção profissional, os círculos de amizade, as adesões ideológicas, políticas, a adoção de determinados valores. A religião também é um campo de experimentação e de escolha para os jovens, mesmo que em todas estas áreas da vida as decisões não sejam definitivas e irreversíveis. Também durante a juventude podem acontecer processos como a desvinculação da tradição religiosa em que o jovem foi socializado, rompendo com a religião dos pais, a conversão a outro sistema religioso, ou mesmo a re-adesão à religião de origem, não mais por herança familiar, mas por decisão própria, passando pelo crivo da consciência individual. Há mudanças no processo de transmissão da religião de uma geração a outra. Cada vez mais encontramos indivíduos com identidades religiosas diferentes numa
  • 45. mesma família, e cresce a influência de amigos que se tornam mediadores na aproximação de outras alternativas presentes no campo religioso. As religiões oferecem aos jovens mais um espaço de sociabilidade, além da família, da escola, da vizinhança: igrejas, templos, salões, terreiros, centros espíritas, sinagogas, mesquitas são lugares de culto, de contato com o sagrado, mas também oferecem oportunidade para que jovens conheçam outras pessoas, façam amigos, descubram parceiros para relacionamentos afetivos. Algumas vezes essas motivações são tão ou mais importantes para que jovens se aproximem de uma experiência religiosa. Além disso, jovens também têm acesso a oportunidades de lazer por meio de um grupo religioso. Fazem passeios, acampamentos, viagens, assistem (e também participam) de espetáculos de música, dança, teatro, numa época do ciclo de vida em que a maioria ainda não possui filhos nem as responsabilidades advindas desta situação. Em geral as instituições religiosas acionam estratégias para atrair os jovens, pois dependem da renovação de seus quadros para continuar existindo. Entre essas estratégias está a atualização de suas mensagens, com a utilização de uma linguagem contemporânea, a flexibilização de exigências no campo do comportamento, a promoção de grandes concentrações, shows, música, a incorporação de estilos musicais associados às culturas juvenis, como o Rock, o Funk e o Hip Hop. A vivência da religião na Igreja Católica Apostólica Romana é experimentada por uma parcela da população jovem brasileira. Jovens participam das celebrações semanais, de grupos de jovens nas paróquias, comunidades, universidades, de grupos de iniciação cristã ou de catequese crismal, pertencem a pastorais, movimentos e associações religiosas, aderem às novas comunidades de vida e aliança, ou se preparam para a vida sacerdotal e religiosa. A reflexão que se segue diz respeito especialmente a jovens das comunidades eclesiais de base. 3 – CEBs e juventude
  • 46. A comunidade eclesial de base tem uma diversidade interna, não é um bloco homogêneo: nela participam mulheres e homens, pessoas com profissões diferentes, com diversos graus de escolaridade, em diferentes situações frente à família, com diversos pertencimentos étnico-raciais. Na CEB convivem também diferentes gerações: pessoas idosas, adultas, crianças e jovens. Muito se tem falado sobre a importância da presença das mulheres nas CEBs, tanto numérica, como no exercício da evangelização, nos ministérios leigos, na reflexão bíblica, no socorro aos necessitados, nas mobilizações sociais. E a juventude? Jovens participam das CEBs de diferentes modos: freqüentam as celebrações, fazem parte de equipes, da liturgia, dos grupos musicais, são presença atuante nas festas, estão inseridos em pastorais, alguns fazem parte das equipes de coordenação ou do conselho das comunidades, assumem ministérios confiados aos leigos e leigas... Em muitas comunidades há grupos de jovens, uma parte deles sem nenhuma vinculação com organizações juvenis católicas e outra, ligada a diferentes iniciativas de evangelização da juventude: grupos de jovens da Pastoral da Juventude, Grupos de Oração do Ministério Jovem da Renovação Carismática Católica, Conferências Jovens da Sociedade São Vicente de Paulo. A criação desses grupos responde à necessidade de espaços específicos para a convivência juvenil, simultânea à vivência coletiva no conjunto da CEB. E há muitos jovens que pertencem às comunidades, sem fazer parte de nenhum grupo juvenil em particular. Jovens se aproximam das CEBs por diferentes caminhos: por tradição familiar; para ter acesso aos sacramentos; para ter contato com outros jovens; por influência de amigos; para encontrar opções de relacionamentos afetivos; para se divertir, de acordo com busca de sociabilidade, do lazer, da afetividade, tratados no item anterior. Na maioria das vezes, a adesão, o compromisso, a vinculação motivada pelo desejo de pertencer àquela comunidade de seguidores de Jesus em geral é um segundo passo, que depende fundamentalmente das relações estabelecidas após a aproximação inicial. A presença juvenil tem repercussões para a comunidade e para a vida do jovem. Um estudo em profundidade de quatro CEBs, realizado em 2003-2004 pelo Iser Assessoria mostrou que as duas CEBs mais dinâmicas, que estavam crescendo numericamente, eram exatamente aquelas que tinham uma significativa presença de jovens. Já nas duas comunidades menos dinâmicas, que enfrentavam redução no
  • 47. número de participantes, tinham uma proporção bem menor de jovens22 . No outro pólo, a experiência de participar da comunidade permite que jovens desenvolvam habilidades (como falar em público, trabalhar em equipe), tenham acesso à formação em diferentes campos do saber, sejam motivados para uma participação social extra-eclesial. Como me disse o jovem Felipe Freitas, que ”nasceu em uma CEB”, a comunidade foi sua primeira escola de relações intergeracionais, sua primeira escola de formação, ampliada posteriormente com a participação na Pastoral da Juventude, no partido político e no movimento negro. Experiência semelhante à de tantos outros jovens, de ontem e de hoje. Lutando pela justiça e vivendo a dimensão da profecia no campo e na cidade, jovens das CEBs têm testemunhado sua adesão ao sonho de Deus para humanidade, o Reino que Jesus anunciou. As Semanas da Cidadania, o Dia Nacional da Juventude, celebradas a cada ano, a Campanha contra Violência e Extermínio de Jovens iniciada em 2009 pelas Pastorais da Juventude são expressões deste compromisso, assim como a participação ativa em diversos movimentos sociais. Merece destaque a ampla mobilização de jovens das CEBs nas diferentes etapas da 2ª. Conferência Nacional de Juventude, em 2011, que levantou as propostas da juventude brasileira para “Conquistar Direitos, Desenvolver o Brasil”23 . No entanto há muitas razões que fazem com que jovens brasileiros se afastem das CEBs, algumas relacionadas a dinâmicas da vida juvenil abordadas na primeira parte deste artigo: migração para dar continuidade aos estudos, buscar trabalho e opções de diversão; relacionamentos afetivos com pessoas de outra localidade ou adeptas de outra religião, exigências da militância sociopolítica. Não obstante seu comprometimento com as CEBs, alguns jovens apontam limites na relação delas com a juventude, por falta de compreensão do que significa esta fase do ciclo de vida. Talvez a principal causa de distanciamento se deva a conflitos gerados por atitudes autoritárias de lideranças eclesiais – padres, animadores/as, coordenadores/as. Jovens se queixam de serem tratados como “tarefeiros”, sempre 22 Cf. Lesbaupin et alli (2004). 23 Tema da 2ª. Conferência de Políticas Públicas de Juventude.