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Hímeros – I Colóquio de Arte & Psicanálise
I Simpósio Internacional do Doutorado em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA)
XI Seminário Internacional do Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA)
Mariana Rodrigues Festucci
Do falo como chave para o enigma de “A
origem do mundo” de Courbet.
“Uma forma de violência extrema é a nudez que é
um estado paradoxal de uma melhor comunicação
ou uma lágrima de ser uma cerimônia patética que
ocorre na transição da animalidade à humanidade”
– (BATAILLE).
“O falo está dentro do quadro... existe na medida
em que é ausente” – (LACAN).
Bataille
Lacan
Por que a imagem da vagina provoca estranhamento? É o desafio
que a pintura de Gustav Courbet instiga ao longo da sua trajetória
acidentada; o quadro chegou a ser velado mesmo por Jacques
Lacan, seu último dono, que o descortinava apenas a visitantes
seletos.
*
Uma leitura psicanalítica situa o estranhamento para além de
convenções morais e/ou contexto histórico; a chave para o enigma
do quadro é o significante fálico; o estranhamento causado no
espectador, mais do que advir da confrontação com a
representação da castração (aquilo que lançou o ser vivente na
dimensão simbólica) é o de quem se depara com o que escapa a ela,
o Real irrepresentável...
*
Khalil Bey encomendou a pintura em 1866; ele era
um diplomata do império turco otomano que
apreciava decorar sua casa com arte erótica, mas,
ao se deparar com o extremo “realismo” da pintura
de Courbet, optou por pendurá-la no banheiro, local
de acesso mais restrito da casa, onde era velada por
uma cortina verde. De acordo com Savatier (2009) a
colocação da cortina nada tinha a ver com pudor
por parte do dono, mas com um jogo de sedução
daquele que vela para atrair....Para Khalil, o que
havia de mais “real” não poderia permanecer
exposto arbitrariamente na sala de estar.
Anos depois, Khalil, arruinado no jogo, teve que
vender a obra a um antiquário, onde ela
permaneceu por vários anos escondida atrás de
outra pintura de Courbet.
Um pouco de história...
Khalil Bey
Por volta de 1910 o barão François de
Hatvany, aristocrata húngaro, adquiriu o
quadro e o levou para Budapeste, onde ele foi
confiscado pelo exército nazista como “arte
degenerada” durante a Segunda Guerra
Mundial; tendo sido salva por um soldado do
exército vermelho durante a invasão russa, a
pintura voltou para as mãos de François, e por
fim, passou as mãos de Jacques Lacan, seu
último dono (Savatier, 2009).
Um pouco de história...
Exposição de arte degenerada promovida
pelos nazistas.
Sylvia, esposa de Lacan, chocada pela
visão daquele sexo exposto, pediu ao
cunhado, André Masson, que
confeccionasse um segundo quadro,
um suporte de madeira, para velar o
original.
Um pouco de história...
Sylvia Lacan
O neoquadro, deixando à mostra traços da
pintura original, o revelava ao mesmo tempo
em que encobria, e só era removido por Lacan
diante de convidados especiais.
Após a morte de Sylvia Lacan em 1994, o
quadro foi doado pela família para o Museu d
´Orsay, na França, onde está exposto
atualmente.
“A origem do mundo” –
André Masson
Gustav Courbet foi um pintor que viveu na França do século XIX. Embora
tenha nascido em família abastada, gostava de pintar a vida simples dos
camponeses, e durante os tempos da revolução, envolveu-se com a
Comuna de Paris, almejando condições sociais mais justas para seu povo.
Courbet acreditava que nenhum sujeito poderia ser superior a outro,
todos eram iguais em valor social. Era por isso que lutava, e era isso que,
de certo modo, comparecia em suas pinturas.
Sobre Courbet...
“Mulheres
peneirando trigo” -
Courbet
Segundo Granados (2008, p.91): “Al final, Courbet ha
decidido titular la obra “El origen del mundo”, como si
todos los hombres y mujeres que ha pintado en sus
cuadros realistas hubieran tenido su origen en la ligera e
invitante apertura de esos lábios”.
*
Com a Psicanálise aprendemos que a criação de um
artista não se reduz a sua biografia. No entanto, não
podemos nos furtar daquilo que marcou a jornada de
Courbet: o desejo de que fossem todos iguais.
*
Muito além de uma tentativa de igualar os seres
humanos em um aspecto biológico (o que seria, em
verdade, uma redução) os lábios de Courbet servem de
metáfora à castração, que marca o sujeito no registro
simbólico - (da linguagem que interdita o gozo pleno e
viabiliza a inserção no laço social).
Sobre Courbet...
Courbet
O enigma do quadro...
Lacan, último dono do quadro, nos deixa uma pista do enigma, ao pontuar que
o falo estava no centro do quadro, além de afirmar que “A origem do mundo” o
remetia à imagem de uma mãe como um grande crocodilo em cuja boca o ser
está em seus primórdios (ROUDINESCO, 2011).
*
O que se vê na crua exposição do genital feminino de Courbet é a castração
materna, interdição do Outro primordial para o qual se dirige o desejo.
*
Diferente da mulher que explora sua nudez como índice de beleza fetichista
encobridor da castração, a nudez de Courbet põe a castração em destaque,
repetindo o jogo de presença/ausência que designa o falo em sua função
significante (a de indicar o lugar da falta significando o desejo).
Quando o ser vivente reconhece a castração
materna, havendo, em consequência, a assunção
do sujeito de desejo, ocorre uma clivagem: a
representação do sexo feminino provém dessa
clivagem, mas o campo materno resiste à
significação fálica, ficando no registro do recalque
originário. O enigma do feminino é derivado dessa
impossibilidade de representação do sexo materno
(POLI, 2004).
*
Condição de alteridade que resiste ao significante
fálico, o que de materno resiste à significação
fálica faz da mulher o ser “não-todo” por
excelência, não existindo, portanto, “a mulher”
enquanto significante totalitário, e sim, as
mulheres, “uma a uma” cada qual se havendo com
o seu não-todo de maneira peculiar, o que leva ao
engodo da relação sexual.
O enigma do quadro...
...o sujeito, buscando ser satisfeito, se
depara com o não-todo que faz o gozo do
homem parcial, e o da mulher
inapreensível; em suplência ao impossível
da relação sexual é que vem o amor,
movimento de doação impossível, “ao
passo que se trata, para o homem, segundo
a própria definição de amor – dar o que não
se tem –,...dar aquilo que ele não tem, o
falo, a um ser que não o é” (Lacan, 1999,
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Nicole Chaveloux
Para Lacan, o sexo da mulher era
impossível de ser representado, dito e
nomeado. Por isso é que ele adquire,
em 1954 estimulado por Bataille, a
“Origem do Mundo” de Courbet. A
representação do sexo da mulher
após as convulsões do amor, do gozo
que resiste ao significante fálico...que
se aproxima da Coisa, era o que
melhor podia representar o enigma
feminino, parte maldita da
humanidade que resiste à
simbolização (ROUDINESCO, 2011).
O enigma do quadro...
Munch
O estranhamento produzido pelo
quadro, mais do que advir de um
encontro do espectador com a
representação da castração, é o de
quem se depara como que escapa a
ela, ou seja, o inapreensível gozo
feminino, o Real irrepresentável;
lembremos que o “estranho
(Fremde) é... lugar da Outra Coisa
(das Ding) que habita o sujeito e
permanece fora do seu alcance”
(Kaufmann, 1996, p. 174).
Por um momento, o sujeito que
encontrara um lugar para se situar
perante o Outro, se vê desalojado,
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estilhaçamento.
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“Como o eu se sustenta em determinações simbólicas e pela extração do
objeto a real, tanto a vacilação das identificações simbólicas que se verifica
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resiste à significação fálica] provocarão uma perda dos pontos de referência
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“lar”, seu Heim, se tornará então Unheimlich, estranho” (Quinet, 2009, p.10).
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sujeito, a partir do confronto com o
vazio que resiste em sua constituição
– vazio inapreensível – contorná-lo
através da sublimação, elevando o
objeto à dignidade da Coisa.
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BATAILLE, Georges. O erotismo. Barcelona: Tusquets, 1985.
GRANADOS, Gabriel Bernal. Courbet – Ensaio para Letras Libres, maio de 2008.
Disponível em: http://www.letraslibres.com/autores/gabriel-bernal-granados.
Acesso em 10 de julho de 2012.
Lacan, Jacques. O seminário IV . A relação de objeto. Rio de Janeiro: Zahar,
2004.
____________. O seminário V. As formações do inconsciente. Rio de Janeiro:
Zahar, 1999.
____________. O seminário VII. A ética da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar,
2008.
____________. O seminário X. A angústia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
____________. A significação do falo. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
POLI, Maria Cristina. Masculino, feminino. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
QUINET, Antônio. A estranheza na Psicanálise: a Escola de Lacan e seus
analistas. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
ROUDINESCO, Elisabeth. Lacan a despeito de tudo e de todos. Rio de Janeiro:
Zahar, 2011.
SAVATIER, Thierry. El origem del mundo: Historia de un cuadro de Gustave
Courbet. Astúrias: Trea, 2009.

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A origem do mundo: o enigma do feminino na pintura de Courbet

  • 1. Hímeros – I Colóquio de Arte & Psicanálise I Simpósio Internacional do Doutorado em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA) XI Seminário Internacional do Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA) Mariana Rodrigues Festucci Do falo como chave para o enigma de “A origem do mundo” de Courbet.
  • 2. “Uma forma de violência extrema é a nudez que é um estado paradoxal de uma melhor comunicação ou uma lágrima de ser uma cerimônia patética que ocorre na transição da animalidade à humanidade” – (BATAILLE). “O falo está dentro do quadro... existe na medida em que é ausente” – (LACAN). Bataille Lacan
  • 3. Por que a imagem da vagina provoca estranhamento? É o desafio que a pintura de Gustav Courbet instiga ao longo da sua trajetória acidentada; o quadro chegou a ser velado mesmo por Jacques Lacan, seu último dono, que o descortinava apenas a visitantes seletos. * Uma leitura psicanalítica situa o estranhamento para além de convenções morais e/ou contexto histórico; a chave para o enigma do quadro é o significante fálico; o estranhamento causado no espectador, mais do que advir da confrontação com a representação da castração (aquilo que lançou o ser vivente na dimensão simbólica) é o de quem se depara com o que escapa a ela, o Real irrepresentável... *
  • 4. Khalil Bey encomendou a pintura em 1866; ele era um diplomata do império turco otomano que apreciava decorar sua casa com arte erótica, mas, ao se deparar com o extremo “realismo” da pintura de Courbet, optou por pendurá-la no banheiro, local de acesso mais restrito da casa, onde era velada por uma cortina verde. De acordo com Savatier (2009) a colocação da cortina nada tinha a ver com pudor por parte do dono, mas com um jogo de sedução daquele que vela para atrair....Para Khalil, o que havia de mais “real” não poderia permanecer exposto arbitrariamente na sala de estar. Anos depois, Khalil, arruinado no jogo, teve que vender a obra a um antiquário, onde ela permaneceu por vários anos escondida atrás de outra pintura de Courbet. Um pouco de história... Khalil Bey
  • 5. Por volta de 1910 o barão François de Hatvany, aristocrata húngaro, adquiriu o quadro e o levou para Budapeste, onde ele foi confiscado pelo exército nazista como “arte degenerada” durante a Segunda Guerra Mundial; tendo sido salva por um soldado do exército vermelho durante a invasão russa, a pintura voltou para as mãos de François, e por fim, passou as mãos de Jacques Lacan, seu último dono (Savatier, 2009). Um pouco de história... Exposição de arte degenerada promovida pelos nazistas.
  • 6. Sylvia, esposa de Lacan, chocada pela visão daquele sexo exposto, pediu ao cunhado, André Masson, que confeccionasse um segundo quadro, um suporte de madeira, para velar o original. Um pouco de história... Sylvia Lacan O neoquadro, deixando à mostra traços da pintura original, o revelava ao mesmo tempo em que encobria, e só era removido por Lacan diante de convidados especiais. Após a morte de Sylvia Lacan em 1994, o quadro foi doado pela família para o Museu d ´Orsay, na França, onde está exposto atualmente. “A origem do mundo” – André Masson
  • 7. Gustav Courbet foi um pintor que viveu na França do século XIX. Embora tenha nascido em família abastada, gostava de pintar a vida simples dos camponeses, e durante os tempos da revolução, envolveu-se com a Comuna de Paris, almejando condições sociais mais justas para seu povo. Courbet acreditava que nenhum sujeito poderia ser superior a outro, todos eram iguais em valor social. Era por isso que lutava, e era isso que, de certo modo, comparecia em suas pinturas. Sobre Courbet... “Mulheres peneirando trigo” - Courbet
  • 8. Segundo Granados (2008, p.91): “Al final, Courbet ha decidido titular la obra “El origen del mundo”, como si todos los hombres y mujeres que ha pintado en sus cuadros realistas hubieran tenido su origen en la ligera e invitante apertura de esos lábios”. * Com a Psicanálise aprendemos que a criação de um artista não se reduz a sua biografia. No entanto, não podemos nos furtar daquilo que marcou a jornada de Courbet: o desejo de que fossem todos iguais. * Muito além de uma tentativa de igualar os seres humanos em um aspecto biológico (o que seria, em verdade, uma redução) os lábios de Courbet servem de metáfora à castração, que marca o sujeito no registro simbólico - (da linguagem que interdita o gozo pleno e viabiliza a inserção no laço social). Sobre Courbet... Courbet
  • 9. O enigma do quadro... Lacan, último dono do quadro, nos deixa uma pista do enigma, ao pontuar que o falo estava no centro do quadro, além de afirmar que “A origem do mundo” o remetia à imagem de uma mãe como um grande crocodilo em cuja boca o ser está em seus primórdios (ROUDINESCO, 2011). * O que se vê na crua exposição do genital feminino de Courbet é a castração materna, interdição do Outro primordial para o qual se dirige o desejo. * Diferente da mulher que explora sua nudez como índice de beleza fetichista encobridor da castração, a nudez de Courbet põe a castração em destaque, repetindo o jogo de presença/ausência que designa o falo em sua função significante (a de indicar o lugar da falta significando o desejo).
  • 10. Quando o ser vivente reconhece a castração materna, havendo, em consequência, a assunção do sujeito de desejo, ocorre uma clivagem: a representação do sexo feminino provém dessa clivagem, mas o campo materno resiste à significação fálica, ficando no registro do recalque originário. O enigma do feminino é derivado dessa impossibilidade de representação do sexo materno (POLI, 2004). * Condição de alteridade que resiste ao significante fálico, o que de materno resiste à significação fálica faz da mulher o ser “não-todo” por excelência, não existindo, portanto, “a mulher” enquanto significante totalitário, e sim, as mulheres, “uma a uma” cada qual se havendo com o seu não-todo de maneira peculiar, o que leva ao engodo da relação sexual. O enigma do quadro...
  • 11. ...o sujeito, buscando ser satisfeito, se depara com o não-todo que faz o gozo do homem parcial, e o da mulher inapreensível; em suplência ao impossível da relação sexual é que vem o amor, movimento de doação impossível, “ao passo que se trata, para o homem, segundo a própria definição de amor – dar o que não se tem –,...dar aquilo que ele não tem, o falo, a um ser que não o é” (Lacan, 1999, p.364) O enigma do quadro... Nicole Chaveloux
  • 12. Para Lacan, o sexo da mulher era impossível de ser representado, dito e nomeado. Por isso é que ele adquire, em 1954 estimulado por Bataille, a “Origem do Mundo” de Courbet. A representação do sexo da mulher após as convulsões do amor, do gozo que resiste ao significante fálico...que se aproxima da Coisa, era o que melhor podia representar o enigma feminino, parte maldita da humanidade que resiste à simbolização (ROUDINESCO, 2011). O enigma do quadro... Munch
  • 13. O estranhamento produzido pelo quadro, mais do que advir de um encontro do espectador com a representação da castração, é o de quem se depara como que escapa a ela, ou seja, o inapreensível gozo feminino, o Real irrepresentável; lembremos que o “estranho (Fremde) é... lugar da Outra Coisa (das Ding) que habita o sujeito e permanece fora do seu alcance” (Kaufmann, 1996, p. 174). Por um momento, o sujeito que encontrara um lugar para se situar perante o Outro, se vê desalojado, atravessado, ameaçado de estilhaçamento. O horror... “Auto-retrato” - Courbet
  • 14. O horror... “Como o eu se sustenta em determinações simbólicas e pela extração do objeto a real, tanto a vacilação das identificações simbólicas que se verifica em uma análise quanto o retorno do objeto a na angústia [esse resto que resiste à significação fálica] provocarão uma perda dos pontos de referência imaginários, e o lugar que o sujeito havia encontrado para si no Outro, seu “lar”, seu Heim, se tornará então Unheimlich, estranho” (Quinet, 2009, p.10). O horror... O contato com o Real causa angústia, no entanto, abre a possibilidade do sujeito, a partir do confronto com o vazio que resiste em sua constituição – vazio inapreensível – contorná-lo através da sublimação, elevando o objeto à dignidade da Coisa.
  • 15. O horror... BATAILLE, Georges. O erotismo. Barcelona: Tusquets, 1985. GRANADOS, Gabriel Bernal. Courbet – Ensaio para Letras Libres, maio de 2008. Disponível em: http://www.letraslibres.com/autores/gabriel-bernal-granados. Acesso em 10 de julho de 2012. Lacan, Jacques. O seminário IV . A relação de objeto. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. ____________. O seminário V. As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. ____________. O seminário VII. A ética da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. ____________. O seminário X. A angústia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. ____________. A significação do falo. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. POLI, Maria Cristina. Masculino, feminino. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. QUINET, Antônio. A estranheza na Psicanálise: a Escola de Lacan e seus analistas. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. ROUDINESCO, Elisabeth. Lacan a despeito de tudo e de todos. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. SAVATIER, Thierry. El origem del mundo: Historia de un cuadro de Gustave Courbet. Astúrias: Trea, 2009.