SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  7
Télécharger pour lire hors ligne
A CARTA DE ATENAS
UFRGS
Faculdade de Arquitetura
TÓPICOS ESPECIAIS EM URBANISMO I-C
Mariana Mocellin Mincarone
Professora Lívia Piccinini
2013/2
A AVENIDA INDEPENDÊNCIA E
Porto Alegre, 2013. Com um estalo, brota no meio da Avenida Independência um senhor meio careca, com
óculos redondos de armação grossa, vestido com trajes dos anos 50. Le Corbusier foi voluntário num expe-
rimento desenvolvido pela equipe de Einstein para testar a Teoria Especial da Relatividade e a compressão
do espaço-tempo. Por um erro de cálculo, em vez de avançar 60 minutos, Le Corbusier avançou 60 anos no
tempo e acabou parando na Porto Alegre dos anos 2000. A seguir, veremos algumas das impressões do reno-
mado arquiteto ao percorrer a avenida Independência.
a carta de atenas
UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2
a av. independência
INTRODUÇÃO
	 A Carta de Atenas é o manifesto urbanístico redigido e assinado, em 1933, por diversos arquitetos
presentes no IV CIAM, ocorrido em 1931 na cidade de Atenas. Entre eles, destaca-se Le Corbusier, reda-
tor do documento final. A Carta de Atenas aponta os principais problemas e indica soluções para a crise
urbanística do começo do século XX, se propondo a traçar novas linhas de orientação a respeito do ofício
dos arquitetos e urbanistas. Divide-se em 3 partes:
	 GENERALIDADES: são abordados temas como a relação da cidade com o desenvolvimento huma-
no e vice-versa, além das funções da administração pública no que diz respeito à urbe.
	 O ESTADO ATUAL CRÍTICO DAS GRANDES CIDADES: são expostos os principais problemas das
cidades da época, entre eles a alta densidade - que ocasiona falta de insolação e ventilação nas edifica-
ções -, a falta de áreas verdes, a poluição industrial, a irracionalidade do transporte, etc.
	 PONTOS DE DOUTRINA: apresenta possíveis soluções para a crise urbana. Aponta que as chaves
do urbanismo estão nas quatro funções (habitar, trabalhar, recrear-se e circular). Cada habitante da ci-
dade deveria ter acesso a esses quatro direitos fundamentais.
	 Considerada um marco do Urbanismo Modernista, a Carta de Atenas preconiza a importância do
planejamento urbano na cidade moderna, que deveria ser funcional e capaz de suprir as necessidades
do homem. Assim, defende a análise da cidade de acordo com cada função (lazer, trabalho e habitação),
sendo a função “circulação” responsável por estabelecer contato entre as demais, e define os elemen-
tos mínimos necessários para cada uma das funções urbanas. No lugar dos densos centros medievais,
propunha áreas residenciais nas quais os prédios se desenvolvem verticalmente, liberando o solo para
circulação e presença de áreas verdes, além de possibilitar insolação e ventilação em todas habitações.
Além disso, a Carta também aborda aspectos como a conservação do patrimônio histórico expressivo e é
bastante revolucionária ao defender que o solo urbano deveria ser de propriedade municipal, ou seja, de
propriedade pública.
	 A Avenida Independência é o trecho de rua que tem início na Praça Dom Feliciano (sendo con-
tinuação da Rua dos Andradas) e segue até a Praça Júlio de Castilhos (ponto onde se transforma em R.
Mostardeiro). É um das vias que compõem o traçado radial que parte do centro de Porto Alegre, sendo
uma das rotas de acesso a ele, além de ser também acesso ao Complexo Hospitalar Santa Casa.
	
	 Sua origem vem dos tempos de Porto Alegre enquanto vila. Desde 1829 são encontradas referên-
cias à “estrada denominada Moinhos de Vento” que, partindo do Alto da Santa Casa de Misericórdia, dava
acesso aos moinhos de vento de Antônio Martins Barbosa, prosseguindo até os campos da Aldeia dos An-
jos (atual Gravataí). Em 1857, essa importante artéria passou a se chamar Avenida Independência, e se
consolidou - ao longo dos séculos XIX e XX - como um dos lugares favoritos da burguesia portoalegrense,
que ali construiu seus palacetes. Foi descrita por Felicíssimo de Azevedo como “o mais lindo arrabalde da
cidade, não só pela sua posição elevada, de onde se goza a mais bela vista, como pela solidez do terreno,
que o torna o mais salubre de Porto Alegre”.
	 Atualmente, a Av. Independência segue sendo o eixo do bairro Independência. Possui fluxo de
automóveis em sentido único (oeste-leste), distribuído em três ou quatro pistas; abastece o fluxo entre
zonas mais nobres da capital e o centro. Há um corredor de ônibus e lotações de pista única, com senti-
do contrário dos demais automóveis (leste-oeste). As calçadas são, em geral, de largura satisfatória na
maior parte dos trechos.
	 Em relação ao uso dos lotes, observa-se que ao longo de praticamente toda extensão da Avenida
existem prédios de estética modernista, em geral com comércio no térreo, além de alguns palacetes do
século XX em péssimo estado de conservação. Quatro hospitais se encontram na região: Santa Casa, Hos-
pital Presidente Vargas, Hospital Femina e Hospital Moinhos de Vento. Ao longo da Avenida, se situam o
Colégio Marista do Rosário e a Escola Estadual Othelo Rosa.
TRA
BALHAR
HABIT
AR
RECREAR-SE
CIRCULAR
Pç. Dom
Feliciano
centro
zonaleste
AV.INDEPENDÊNCIA
ufrgs
rodoviária
andradas
mostardeiro
túnel
Pç. Dom
Sebastião
Pç. Julio
de Castilhos
santa casa
UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2
a carta de atenas a av. independência
FUNÇÃO HABITAÇÃO
	 A residência é o local onde as pessoas passam a maior e a
mais prazerosa parte do dia, portanto, se torna “o centro das preocu-
pações do urbanista”, segundo Le Corbusier. Entretanto, ela é con-
siderada inseparável dos serviços que formam seus complementos
imediatos, de modo que a cidade é vista como um todo único, mas
analisada com suas funções separadas.
	 Em questão de habitação, os problemas citados por Le Cor-
busier para a cidade são: as densidades muito altas (de 1000 a 1500
habitantes por hectare), o equivocados alinhamento e proximidade
das habitações ao longo das vias de comunicação, o estrangulamento
dos pátios, e a implantação de moradias em zonas menos favorecidas
(expostas a ventos hostis, sem vistas, sem espaço, sem insolação e
sem ventilação).
	 A visão de mundo racionalista do modernismo enxerga a habi-
tação como uma “máquina de morar”. Desse modo, tendo a moradia
como ponto de partida da reorganização da cidade, torna-se possível
propor novas lógicas para as edificações e para a própria cidade, se-
gundo as necessidades dos habitantes. Assim, o modernismo analisa
internamente as moradias, para depois agrupá-las entre si conside-
rando também os serviços de todos os tipos: escolas, hospitais, lojas,
quadras de esportes, etc. Esta análise possibilita elencar a quantida-
de de moradias e sua proporcional necessidade destes serviços que,
juntos, formam uma unidade de habitação.
	 Na Carta de Atenas, ainda não há a definição de unidade de
habitação, mas em seu texto podemos ver surgir os primeiros esbo-
ços dessa ideia: “a família reclama ainda a presença de instituições
que, fora da moradia e em suas proximidades, sejam seus verdadei-
ros prolongamentos.”
	 A Av. Independência tem como um dos seus usos principais a moradia. Nos bairros Centro Histórico e Independência, residem aproxi-
madamente 43mil habitantes. O bairro Centro apresenta densidade de 161,7hab/ha, enquanto o bairro Independência apresenta 160,2hab/ha.
Estes valores são bastante baixos, se comparados com os centros urbanos medievais analisados por Le Corbusier, mas ainda são, entretanto,
a 3ª e a 4ª densidades mais altas da cidade de Porto Alegre (ficando atrás apenas dos bairros Bom Fim e Cidade Baixa).
	 A distribuição de habitações ao longo da avenida é muito mais intenso no bairro Independência, e mais esparso na ponta mais próxima
do centro, onde as edificações abrigam atividades comerciais. Embora a zona conte com edificações com altura elevada, os lotes são estreitos
e quase totalmente edificados, dificultando a ventilação e tornando quase que inviável a insolação na maioria das moradias.
	 Comentário de Le Corbusier, ao percorrer a Avenida Independência: “Estou surpreso que os bairros mais densos dessa cidade sejam
tão pouco densos, parece que pelo menos algum progresso fizemos desde a idade média... Mas ainda assim, olhem a quantidade de moradias
voltadas para uma via de trânsito intenso! Onde estão os jardins? Olhem aquele prédio, não recebe um raio de sol e não há espaço para o ar
circular! Me admira que as pessoas não estejam morrendo de cólera por aqui!”
	 Diagrama dos lotes que apresentam USO RESIDENCIAL ao longo da Avenida Independência:
zonaleste
centro
unidades de
habitação no
meio do ver-
de, forman-
do um bairro
ou uma cida-
de (desenho
de Le Cor-
busier para
a didade de
N e m o u n s ,
1934) edificações de uso residencial
a carta de atenas
UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2
a av. independência
residencia + comercio e estabelecimento comercial
FUNÇÃO TRABALHO
	 “Os locais de trabalho não estão mais dispostos racionalmen-
te no complexo urbano: indústria, artesanato, negócios, administra-
ção, comércio.”
	 A moradia e a oficina, na antiga cidade medieval, estavam
sempre atreladas uma a outra. Com o advento dos meios de trans-
porte tornou-se possível grandes deslocamentos para o exercício da
profissão, ocasionando o chamado “nomadismo das populações ope-
rárias”. Le Corbusier defendia que as distâncias entre a habitação e
o trabalho deveriam ser reduzidas ao mínimo possível.
	 Na cidade modernista, as atividades produtivas são divididas
em três tipos de estabelecimento: indústria, agricultura e comércio.
Assim, na organização urbana, temos as unidades de cultivo agrícola
espalhadas pelo território; a cidade linear industrial (localizada ao
longo dum canal, estrada ou via férrea lineares ao lado da zona ur-
bana); e os centros de trocas e de comércio, que abrigam escritórios
e se localizam em zonas favorecidas da cidade, ou seja, em regiões
de congruência das redes de circulação. O artesanato e as trocas
ocupam regiões centrais pois são atividades essencialmente urba-
nas e é nos centros das cidades que gozam de seu pleno potencial
econômico e criativo.
	 As jornadas de trabalho e o deslocamento dos trabalhadores
deve respeitar a trajetória cotidiana do sol, ou seja: as horas de lazer
de um trabalhador não deveria ser dissolvida no deslocamento entre
moradia e trabalho, por isso a necessidade de proximidade entre
essas duas atividades.
	 A grande maioria dos lotes na Avenida Independência abrigam alguma função comercial ou de serviços. São comuns, na região: farmá-
cias, lojas de roupas, bares e restaurantes, além de prédios de escritórios. É muito comum observarmos a tipologia de um edifício residencial
com térreo abrigando estabelecimentos comerciais.
	 Apesar da abundância de comércio, subentende-se que a grande maioria dos funcionários destes estabelecimentos não habite na re-
gião, que é de alta renda (um aluguel de apartamento usado, no Bairro Centro, custa em média 1500 reais). Portanto, há a comodidade para
os moradores de ter serviços variados na região, como preconiza a unidade de habitação, porém a questão dos deslocamentos ainda é um
problema, uma vez que estes estabelecimentos comerciais não estão atrelados às residências no sentido de serem os moradores da região
os funcionários destes equipamentos, e sim moradores de outras zonas mais distantes da região central que se deslocam diariamente à Av.
Independência para trabalhar.
	 Diferente do uso residencial, que é nitidamente mais intenso no bairro Independência, o uso comercial nos lotes é bastante homogêneo
ao longo de toda avenida.
	 Comentário de Le Corbusier: “É propriamente uma insanidade ter esse enorme contingente de trabalhadores vindo de todas regiões
periféricas da cidade, diariamente, para trabalhar aqui. Não seria mais lógico que os moradores dessa rua ocupassem os escritórios destes
prédios comerciais?”
	 Abaixo, diagrama do USO COMERCIAL/SERVIÇOS dos lotes:
zonaleste
centro
estabelecimento comercial, residencia + comérico e casa noturna
UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2
a carta de atenas a av. independência
Pç. Dom
Feliciano
Pç. Dom
Sebastião
Pç. Julio
de Castilhos
santa casa
parcão
redenção
FUNÇÃO LAZER
	 Os espaços de recreação urbanos devem ser reformulados.
Eles requerem áreas apropriadas e devem estar situados em três ní-
veis: ao redor das moradias (zonas verdes para prática de esportes
e descanso); na região metropolitana (parques municipais); e em
nível nacional (parques nacionais), além de estar bem articulados
com o restante da cidade.
	 As construções elevadas, erguidas a grande distância umas
das outras devem liberar o solo para amplas superfícies verdes. Estes
espaços verdes podem ser prolongamentos diretos ou indiretos da
moradia; diretos, se cercam a própria habitação, indiretos se estão
concentrados em algumas grandes superfícies não tão próximas. As-
sim, diferente da cidade-burgo, onde as áreas verdes eram ilhas num
tecido urbano compacto, na cidade moderna as áreas verdes devem
ser parte do próprio tecido: a cidade como um parque sobre o qual s
desenvolvem as atividades da vida urbana.
	 Os espaços de lazer devem acolher as atividades coletivas da
juventude, propiciar um espaço favorável às distrações, aos passeios
ou aos jogos das horas de lazer: “todo bairro residencial deve com-
preender a superfície verde necessária à organização racional dos
jogos e esportes das crianças, dos adolescentes e dos adultos.”
	 Comentário de Le Corbusier: “Olhem e aprendam: as áreas
verdes devem estar intimamente atreladas às edificações! Vou dese-
nhar para vocês:”
frequentadores da praça Dom Sebastiãopraça Dom Sebastião
	 Ao longo da Avenida independência, existem 3 praças: marcando o início da avenida no centro, a Praça Dom Feliciano; ao lado do Com-
plexo Hospitalar da Santa Casa, a Praça Dom Sebastião; por fim, no ponto onde a Independência se divide em 24 de Outuro e Mostardeiro,
temos a Praça Julio de Castilhos. Nenhuma destas três praças possui equipamentos para a prática de esportes, apenas áreas de estar e des-
canso. São, em geral, frequentadas por transeuntes ou por funcionários e visitantes dos serviços no seu entorno, uma vez que não possuem
atrativos suficientes para atrair visitantes de outras regiões. Todas elas são bastante arborizadas, funcionando como “pulmões do bairro”,
como definia Le Corbusier. Embora na Avenida Independência em si não haja espaços de lazer de qualidade e áreas verdes suficientes, a
avenida se encontra muito próxima a dois dos principais parques da cidade: o Parcão e a Redenção. Assim, a população residente na Av. In-
dependência possui duas ótimas opções de lazer e prática de esportes em seu entorno.
	 Quase todas ruas perpendiculares à Independência possuem vegetação abundante, servindo como as chamados “prolongamentos da
moradia”, tornando-se, senão espaços de lazer propriamente ditos, pelo menos vias bastante agradáveis de serem percorridas. Mais uma vez,
percebe-se que a vegetação é muito mais abundante do lado do Bairro Independência do que no Centro.
	 Esta função urbana também não está de acordo com os ideiais da Carta de Atenas, uma vez que as áreas verdes ainda se configuram
como “ilhas” na paisagem urbana, e não como desdobramento da mesma.
	
	 Diagrama da presença de VEGETAÇÃO na avenida:
a carta de atenas
UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2
a av. independência
FUNÇÃO CIRCULAÇÃO
	 De acordo com o PDDUA da cidade de Porto Alegre, a Av. Independência é classificada como uma via arterial de 2° nível, que tem como
funções realizar ligações intraurbanas, possui média ou alta fluidez, baixa acessibilidade e restrita ligação com o entorno. Suas prioridades
de uso são realizar transporte de alta capacidade (para uma grande quantidade de passageiros), transporte coletivo segregado (corredor de
ônibus e lotação) e transporte de cargas. Ou seja, é uma avenida que comporta diversos tipos de transporte, inclusive trânsito de pedestres e
um alto número de ciclistas que, por falta de ciclovia apropriada, trafegam na pista junto aos carros e ônibus.
	 Tal qual a cidade criticada pela Carta de Atenas, a Av. Independência oferece insegurança para pedestres e ciclistas, pois nela circulam
veículos de alta velocidade e num fluxo intenso. As linhas de ônibus T9 e Auxiliadora e as linhas de lotação IAPI, Volta do Guerino, Auxiliadora
e Mont’Serrat atravessam a Independência nos dois sentidos, sendo no sentido bairro-centro por um corredor de ônibus, e no sentido centro
-bairro juntamente com os carros. O tráfego de carros é alto em todas horas do dia e se dá apenas no sentido centro-bairro, sendo o horário de
pico praticamente instransitável. Mesmo assim, até para os automóveis e para o transporte público a avenida se mostra irracional quanto ao
seu trânsito: em 1,5km de extensão temos nada menos do que 14 semáforos, impedindo o fluir do trânsito.
	 Comentário de Le Corbusier: “Isso é o caos! Os pedestres estão desamparados! Quantos gases nocivos, quanto barulho, quanto perigo
iminente! E veja só: um semáforo a cada 100 metros? Vocês estão todos loucos!”
	 Diagrama da CIRCULAÇÃO na Independência:
	 “A circulação se desdobrará por meio de vias de percurso len-
to para o uso de pedestres, e de vias de percurso rápido para uso
de veículos”. Na cidade tradicional, todas formas de deslocamento
acontecem na mesma rua-corredor: a calçada para os pedestres e a
rua asfaltada para todos os tipos de automóveis. Estas diferentes ve-
locidades são, entretanto, impossíveis de conciliar, segundo a Carta
de Atenas. Assim, o pedestre está sempre sujeito a insegurança, en-
quanto os veículos mecânicos são obrigados a frear frequentemente,
pois a distância entre cruzamentos é muito pequena.
	 Na cidade modernista, a circulação ocupa lugar de destaque,
uma vez que é a função que interconecta as outras três. Nela, as
diferentes modalidades de transporte são segregadas, com percur-
sos especialmente pensados para pedestres, outros para bicicletas,
também para veículos lentos e veículos velozes. As distâncias entre
cruzamentos deve ser de 200 a 400 metros (quando não em passa-
gens de nível), pois os veículos devem ser minimamente expostos ao
regime de paradas obrigatórias, e as tuas devem possuir largura-tipo
uniforme de acordo com sua função.
croquis com trajetos peatonais e de veículos
transpote coletivo
transporte coletivo (corredor)
veículos particulares
sentido do fluxo
santa casa
a carta de atenas e a av. independência
UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2
CONCLUSÃO
	 A Carta de Atenas, à sua época, mostra uma evolução na análise da cidade pois, ao contrário da
cidade pós-liberal - onde a prioridade são as questões produtivas - a cidade moderna coloca o homem e
seu bem estar como protagonistas do planejamento urbano. Como qualquer ideologia dessa magnitude e
ousadia, foi intensamente criticada nas décadas posteriores. Brasília, o produto dessa ideologia, até hoje
recebe duras críticas por ser uma cidade inóspita e não agradável ao ser humano.
	 A Avenida Independência, se analisada por Le Corbusier, estaria fadada à destruição, tamanho o
caos que ele veria nela. Nenhuma das 4 funções urbanas ali se desenvolve como ensina a Carta de Atenas,
tendo alguns aspectos completamente antagônicos ao texto modernista (por exemplo, a circulação).
	 Entretanto, não à toa, a Avenida Independência é - e sempre foi - um reduto das classes mais abas-
tadas de Porto Alegre, um lugar onde muitos almejam habitar, seja por sua proximidade com pontos de
interesse da cidade, sua vitalidade, seu fácil acesso a meios de transporte e sua qualidade de vida devido
à arborização ou pela vizinhança aprazível.
	 Le Corbusier peca ao sentenciar que qualquer via com muitos cruzamentos seria irracional para a
circulação urbana, pois essa visão está submetida à lógica do transporte individual. Atualmente, verifica-
se que as ruas mais agradáveis são justamente aquelas nas quais o grande número de cruzamentos gera
quadras mais curtas, propiciando diferentes rotas peatonais internas nos bairros. Além disso, a proximi-
dade das construções já não é um problema tão grave, devido às diversas tecnologias hoje existentes. Na
questão dos deslocamentos urbanos, porém, a fala de Le Corbusier ainda se mostra bastante atual. Talvez
nessa zona da cidade não percebamos isso tão nitidamente, mas o nomadismo das populações urbanas
ainda é um mal que assola nossas cidades, fazendo a segregação urbana um dos mais vis problemas da
atualidade.
	 Enfim, a visão modernista da cidade elaborada no CIAM de 1931 foi, inegavelmente, de absoluta
vanguarda. A prova disso é que sete décadas depois, esta análise ainda se mostra bastante lúcida e aplicá-
vel para as cidades contemporâneas. Obviamente, há de se ter o bom senso de compreender as diferenças
culturais e conjunturais das diferentes épocas, sem, entretanto, tirar o mérito da Carta de Atenas de ter
sido um marco na história do urbanismo.
ANTES DE ME CRITICAR,
TENTE ME SUPERAR

Contenu connexe

Tendances

Início da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaInício da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaViviane Marques
 
Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013
Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013
Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013Development Workshop Angola
 
Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...
Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...
Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...Development Workshop Angola
 
03:. Barcelona
03:. Barcelona03:. Barcelona
03:. BarcelonaARQ210AN
 
Ecletismo no brasil na segunda metade do séc
Ecletismo no brasil na segunda metade do sécEcletismo no brasil na segunda metade do séc
Ecletismo no brasil na segunda metade do sécRafael Santos
 
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]glauci coelho
 
Plán c erdà
Plán c erdàPlán c erdà
Plán c erdàHome
 
Unidade Habitacional de Marselha - Le Corbusier
Unidade Habitacional de Marselha -  Le CorbusierUnidade Habitacional de Marselha -  Le Corbusier
Unidade Habitacional de Marselha - Le CorbusierWillian De Sá
 
Camillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estaçãoCamillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estaçãoSteves Rocha
 
Intentions in architecture by Christian Norberg Schulz
Intentions in architecture by Christian Norberg SchulzIntentions in architecture by Christian Norberg Schulz
Intentions in architecture by Christian Norberg SchulzShubhanshu Singh
 
Jardim Francês
Jardim FrancêsJardim Francês
Jardim FrancêsARQ210AN
 
Os contratualistas
Os contratualistasOs contratualistas
Os contratualistasConrado_p_m
 
Apresentaçao diagnostico
Apresentaçao diagnosticoApresentaçao diagnostico
Apresentaçao diagnosticoSteves Rocha
 
Cidades islamicas
Cidades islamicasCidades islamicas
Cidades islamicasGian Vargas
 
La ciudad y sus origenes
La ciudad y sus origenesLa ciudad y sus origenes
La ciudad y sus origenesEdith Vivas
 
3.3. demolición de las murallas y plan cerdà español
3.3. demolición de las murallas y plan cerdà español3.3. demolición de las murallas y plan cerdà español
3.3. demolición de las murallas y plan cerdà españolHome
 

Tendances (20)

Início da arquitetura moderna
Início da arquitetura modernaInício da arquitetura moderna
Início da arquitetura moderna
 
Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013
Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013
Estudo Musseque em Luanda, caso Cazenga - Weba Kirimba, 04/09/2013
 
Urbanismo Progressista
Urbanismo Progressista Urbanismo Progressista
Urbanismo Progressista
 
Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...
Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...
Amelia Tomé e Sabrita Velasco - Crescimento Urbano e Qualidade de Vida em Lua...
 
03:. Barcelona
03:. Barcelona03:. Barcelona
03:. Barcelona
 
Benevolo 75
Benevolo 75 Benevolo 75
Benevolo 75
 
Ecletismo no brasil na segunda metade do séc
Ecletismo no brasil na segunda metade do sécEcletismo no brasil na segunda metade do séc
Ecletismo no brasil na segunda metade do séc
 
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
Aula 01 sobre urbanismo [revisado em 20160808]
 
Hau2 aula03
Hau2 aula03Hau2 aula03
Hau2 aula03
 
Plán c erdà
Plán c erdàPlán c erdà
Plán c erdà
 
Unidade Habitacional de Marselha - Le Corbusier
Unidade Habitacional de Marselha -  Le CorbusierUnidade Habitacional de Marselha -  Le Corbusier
Unidade Habitacional de Marselha - Le Corbusier
 
Camillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estaçãoCamillo sitte e a praça da estação
Camillo sitte e a praça da estação
 
Intentions in architecture by Christian Norberg Schulz
Intentions in architecture by Christian Norberg SchulzIntentions in architecture by Christian Norberg Schulz
Intentions in architecture by Christian Norberg Schulz
 
Aula 8 corbusier
Aula 8   corbusierAula 8   corbusier
Aula 8 corbusier
 
Jardim Francês
Jardim FrancêsJardim Francês
Jardim Francês
 
Os contratualistas
Os contratualistasOs contratualistas
Os contratualistas
 
Apresentaçao diagnostico
Apresentaçao diagnosticoApresentaçao diagnostico
Apresentaçao diagnostico
 
Cidades islamicas
Cidades islamicasCidades islamicas
Cidades islamicas
 
La ciudad y sus origenes
La ciudad y sus origenesLa ciudad y sus origenes
La ciudad y sus origenes
 
3.3. demolición de las murallas y plan cerdà español
3.3. demolición de las murallas y plan cerdà español3.3. demolición de las murallas y plan cerdà español
3.3. demolición de las murallas y plan cerdà español
 

En vedette

Carta de atenas exposicion
Carta de atenas exposicionCarta de atenas exposicion
Carta de atenas exposiciondaniel072
 
Carta de atenas
Carta de atenasCarta de atenas
Carta de atenasROSS13
 
Carte de atenas.
Carte de atenas.Carte de atenas.
Carte de atenas.leibniz120
 
C A R T A D E A T E N A S 1931
C A R T A  D E  A T E N A S 1931C A R T A  D E  A T E N A S 1931
C A R T A D E A T E N A S 1931ANTONI
 
Carta de atenas
Carta de atenasCarta de atenas
Carta de atenasroger1801
 
Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)
Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)
Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)Mariana Mincarone
 
Convento Sao Bento - Arquitetura no Brasil
Convento Sao Bento - Arquitetura no BrasilConvento Sao Bento - Arquitetura no Brasil
Convento Sao Bento - Arquitetura no BrasilMariana Mincarone
 
Altonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar Niemeyer
Altonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar NiemeyerAltonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar Niemeyer
Altonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar NiemeyerNICOLAS GIORDANO
 
Cambios en la circulación del Nudo Vial El Tropezón
Cambios en la circulación del Nudo Vial El TropezónCambios en la circulación del Nudo Vial El Tropezón
Cambios en la circulación del Nudo Vial El TropezónAndrés Oliva
 
Revolta da Madeira (Abril de 1931)
Revolta da Madeira (Abril de 1931)Revolta da Madeira (Abril de 1931)
Revolta da Madeira (Abril de 1931)free lancer
 
MMBB - Arquitetura no Brasil
MMBB - Arquitetura no BrasilMMBB - Arquitetura no Brasil
MMBB - Arquitetura no BrasilMariana Mincarone
 
Refuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute Provence
Refuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute ProvenceRefuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute Provence
Refuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute ProvenceMarta Rocha
 
Código florestal e gerenciamento costeiro 1
Código florestal e gerenciamento costeiro 1Código florestal e gerenciamento costeiro 1
Código florestal e gerenciamento costeiro 1Thayris Cruz
 
Workshop Andy Goldsworthy - Refuges d'Art
Workshop Andy Goldsworthy - Refuges d'ArtWorkshop Andy Goldsworthy - Refuges d'Art
Workshop Andy Goldsworthy - Refuges d'ArtMarta Rocha
 

En vedette (20)

Carta de Atenas
Carta de AtenasCarta de Atenas
Carta de Atenas
 
Carta de atenas exposicion
Carta de atenas exposicionCarta de atenas exposicion
Carta de atenas exposicion
 
Carta de atenas
Carta de atenasCarta de atenas
Carta de atenas
 
Carta de Atenas
Carta de AtenasCarta de Atenas
Carta de Atenas
 
Carte de atenas.
Carte de atenas.Carte de atenas.
Carte de atenas.
 
C A R T A D E A T E N A S 1931
C A R T A  D E  A T E N A S 1931C A R T A  D E  A T E N A S 1931
C A R T A D E A T E N A S 1931
 
Carta de atenas
Carta de atenasCarta de atenas
Carta de atenas
 
1931 carta atenas
1931 carta atenas1931 carta atenas
1931 carta atenas
 
Prsentacion ciam g1
Prsentacion ciam g1Prsentacion ciam g1
Prsentacion ciam g1
 
Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)
Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)
Gerenciamento de Drenagem Urbana: Praça Julio de Castilhos (Porto Alegre)
 
Carta de Atenas 1931
Carta de Atenas 1931Carta de Atenas 1931
Carta de Atenas 1931
 
Aula2 cartas patrimoniais
Aula2 cartas patrimoniaisAula2 cartas patrimoniais
Aula2 cartas patrimoniais
 
Convento Sao Bento - Arquitetura no Brasil
Convento Sao Bento - Arquitetura no BrasilConvento Sao Bento - Arquitetura no Brasil
Convento Sao Bento - Arquitetura no Brasil
 
Altonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar Niemeyer
Altonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar NiemeyerAltonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar Niemeyer
Altonaer strasse 4-14, Hansaviertel, Oscar Niemeyer
 
Cambios en la circulación del Nudo Vial El Tropezón
Cambios en la circulación del Nudo Vial El TropezónCambios en la circulación del Nudo Vial El Tropezón
Cambios en la circulación del Nudo Vial El Tropezón
 
Revolta da Madeira (Abril de 1931)
Revolta da Madeira (Abril de 1931)Revolta da Madeira (Abril de 1931)
Revolta da Madeira (Abril de 1931)
 
MMBB - Arquitetura no Brasil
MMBB - Arquitetura no BrasilMMBB - Arquitetura no Brasil
MMBB - Arquitetura no Brasil
 
Refuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute Provence
Refuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute ProvenceRefuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute Provence
Refuges d’Art - Workshop at the Réserve Naturelle Géologique de Haute Provence
 
Código florestal e gerenciamento costeiro 1
Código florestal e gerenciamento costeiro 1Código florestal e gerenciamento costeiro 1
Código florestal e gerenciamento costeiro 1
 
Workshop Andy Goldsworthy - Refuges d'Art
Workshop Andy Goldsworthy - Refuges d'ArtWorkshop Andy Goldsworthy - Refuges d'Art
Workshop Andy Goldsworthy - Refuges d'Art
 

Similaire à A Carta de Atenas e a Av. Independência

A estética da cidade no século xix
A estética da cidade no século xixA estética da cidade no século xix
A estética da cidade no século xixFCAA
 
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011Aridson Andrade
 
PROJETO URBANISTICO I - UFRGS
PROJETO URBANISTICO I - UFRGS PROJETO URBANISTICO I - UFRGS
PROJETO URBANISTICO I - UFRGS Mariana Mincarone
 
Completa 1
Completa 1Completa 1
Completa 1070690
 
Suelton morte e vida de grandes cidades- jane jacobs
Suelton  morte e vida de grandes cidades- jane jacobsSuelton  morte e vida de grandes cidades- jane jacobs
Suelton morte e vida de grandes cidades- jane jacobsSuelton Crispiano
 
AULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdf
AULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdfAULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdf
AULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdfPaulaMariaMagalhesTe
 
Exercício de Análise II | Analysis Exercise II
Exercício de Análise II | Analysis Exercise IIExercício de Análise II | Analysis Exercise II
Exercício de Análise II | Analysis Exercise IICauê Chianca
 
05:. Paris
05:. Paris05:. Paris
05:. ParisARQ210AN
 
Apogeu da cidade medieval
Apogeu da cidade medievalApogeu da cidade medieval
Apogeu da cidade medievalDe Janks
 
6. cidade barroca e industrial
6. cidade barroca e industrial6. cidade barroca e industrial
6. cidade barroca e industrialAna Cunha
 
Resenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de Azevedo
Resenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de AzevedoResenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de Azevedo
Resenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de AzevedoIZIS PAIXÃO
 
Bairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projecto
Bairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projectoBairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projecto
Bairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projectoCeact Ual
 

Similaire à A Carta de Atenas e a Av. Independência (20)

A estética da cidade no século xix
A estética da cidade no século xixA estética da cidade no século xix
A estética da cidade no século xix
 
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011A circulação das idéias do urbanismo   Aridson Andrade - 2011
A circulação das idéias do urbanismo Aridson Andrade - 2011
 
PROJETO URBANISTICO I - UFRGS
PROJETO URBANISTICO I - UFRGS PROJETO URBANISTICO I - UFRGS
PROJETO URBANISTICO I - UFRGS
 
T1 ad alunamayramartinssilva
T1 ad alunamayramartinssilvaT1 ad alunamayramartinssilva
T1 ad alunamayramartinssilva
 
Corredores verdes
Corredores verdesCorredores verdes
Corredores verdes
 
M1D3 - Aula 1
M1D3 - Aula 1M1D3 - Aula 1
M1D3 - Aula 1
 
Completa 1
Completa 1Completa 1
Completa 1
 
Suelton morte e vida de grandes cidades- jane jacobs
Suelton  morte e vida de grandes cidades- jane jacobsSuelton  morte e vida de grandes cidades- jane jacobs
Suelton morte e vida de grandes cidades- jane jacobs
 
AULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdf
AULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdfAULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdf
AULA 13 - VAZIOS URBANOS E QUADRA ABERTA - CONCEITOS.pdf
 
Monografia
MonografiaMonografia
Monografia
 
Monografia
MonografiaMonografia
Monografia
 
Exercício de Análise II | Analysis Exercise II
Exercício de Análise II | Analysis Exercise IIExercício de Análise II | Analysis Exercise II
Exercício de Análise II | Analysis Exercise II
 
05:. Paris
05:. Paris05:. Paris
05:. Paris
 
Apogeu da cidade medieval
Apogeu da cidade medievalApogeu da cidade medieval
Apogeu da cidade medieval
 
Aula 06082007
Aula 06082007Aula 06082007
Aula 06082007
 
6. cidade barroca e industrial
6. cidade barroca e industrial6. cidade barroca e industrial
6. cidade barroca e industrial
 
Resenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de Azevedo
Resenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de AzevedoResenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de Azevedo
Resenha: Secretaria da Agricultura, Ramos de Azevedo
 
Rua Dr. Assis: um percurso sobre os fragmentos do patrimônio histórico
Rua Dr. Assis: um percurso sobre os fragmentos do patrimônio históricoRua Dr. Assis: um percurso sobre os fragmentos do patrimônio histórico
Rua Dr. Assis: um percurso sobre os fragmentos do patrimônio histórico
 
2ª aula renasc-urb
2ª aula renasc-urb2ª aula renasc-urb
2ª aula renasc-urb
 
Bairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projecto
Bairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projectoBairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projecto
Bairros em Lisboa 2012 (CEACT/UAL) - Apresentação do projecto
 

Plus de Mariana Mincarone

Eladio Dieste: análise estrutural de 2 obras
Eladio Dieste: análise estrutural de 2 obrasEladio Dieste: análise estrutural de 2 obras
Eladio Dieste: análise estrutural de 2 obrasMariana Mincarone
 
Taller Rosario 2014 Habitar el Acuifero Guarani
Taller Rosario 2014 Habitar el Acuifero GuaraniTaller Rosario 2014 Habitar el Acuifero Guarani
Taller Rosario 2014 Habitar el Acuifero GuaraniMariana Mincarone
 
Projeto Arquitetonico I - UFRGS
Projeto Arquitetonico I - UFRGSProjeto Arquitetonico I - UFRGS
Projeto Arquitetonico I - UFRGSMariana Mincarone
 
Oficina 4º DISTRITO · Porto Alegre
Oficina 4º DISTRITO · Porto AlegreOficina 4º DISTRITO · Porto Alegre
Oficina 4º DISTRITO · Porto AlegreMariana Mincarone
 

Plus de Mariana Mincarone (7)

Analise Pigneto
Analise PignetoAnalise Pigneto
Analise Pigneto
 
WS BCN Grupo 3
WS BCN Grupo 3WS BCN Grupo 3
WS BCN Grupo 3
 
Eladio Dieste: análise estrutural de 2 obras
Eladio Dieste: análise estrutural de 2 obrasEladio Dieste: análise estrutural de 2 obras
Eladio Dieste: análise estrutural de 2 obras
 
Taller Rosario 2014 Habitar el Acuifero Guarani
Taller Rosario 2014 Habitar el Acuifero GuaraniTaller Rosario 2014 Habitar el Acuifero Guarani
Taller Rosario 2014 Habitar el Acuifero Guarani
 
Projeto Arquitetonico I - UFRGS
Projeto Arquitetonico I - UFRGSProjeto Arquitetonico I - UFRGS
Projeto Arquitetonico I - UFRGS
 
Projeto Urbano I - UFRGS
Projeto Urbano I - UFRGS Projeto Urbano I - UFRGS
Projeto Urbano I - UFRGS
 
Oficina 4º DISTRITO · Porto Alegre
Oficina 4º DISTRITO · Porto AlegreOficina 4º DISTRITO · Porto Alegre
Oficina 4º DISTRITO · Porto Alegre
 

Dernier

Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...AnnaCarolina242437
 
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAnnaCarolina242437
 
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCCI.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCCJudite Silva
 
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfSimulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfAnnaCarolina242437
 
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaGESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaayasminlarissa371
 
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024CarolTelles6
 
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAntonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAnnaCarolina242437
 
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfSimulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfAnnaCarolina242437
 
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptxI.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptxJudite Silva
 

Dernier (9)

Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
 
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
 
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCCI.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
I.1 Boas Práticas fitossanitarias.pptxCC
 
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfSimulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
 
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaGESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
GESTÃO FINANceiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
 
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
 
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAntonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
 
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfSimulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
 
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptxI.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
I.2 Meios de Proteção das culturass.pptx
 

A Carta de Atenas e a Av. Independência

  • 1. A CARTA DE ATENAS UFRGS Faculdade de Arquitetura TÓPICOS ESPECIAIS EM URBANISMO I-C Mariana Mocellin Mincarone Professora Lívia Piccinini 2013/2 A AVENIDA INDEPENDÊNCIA E Porto Alegre, 2013. Com um estalo, brota no meio da Avenida Independência um senhor meio careca, com óculos redondos de armação grossa, vestido com trajes dos anos 50. Le Corbusier foi voluntário num expe- rimento desenvolvido pela equipe de Einstein para testar a Teoria Especial da Relatividade e a compressão do espaço-tempo. Por um erro de cálculo, em vez de avançar 60 minutos, Le Corbusier avançou 60 anos no tempo e acabou parando na Porto Alegre dos anos 2000. A seguir, veremos algumas das impressões do reno- mado arquiteto ao percorrer a avenida Independência.
  • 2. a carta de atenas UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2 a av. independência INTRODUÇÃO A Carta de Atenas é o manifesto urbanístico redigido e assinado, em 1933, por diversos arquitetos presentes no IV CIAM, ocorrido em 1931 na cidade de Atenas. Entre eles, destaca-se Le Corbusier, reda- tor do documento final. A Carta de Atenas aponta os principais problemas e indica soluções para a crise urbanística do começo do século XX, se propondo a traçar novas linhas de orientação a respeito do ofício dos arquitetos e urbanistas. Divide-se em 3 partes: GENERALIDADES: são abordados temas como a relação da cidade com o desenvolvimento huma- no e vice-versa, além das funções da administração pública no que diz respeito à urbe. O ESTADO ATUAL CRÍTICO DAS GRANDES CIDADES: são expostos os principais problemas das cidades da época, entre eles a alta densidade - que ocasiona falta de insolação e ventilação nas edifica- ções -, a falta de áreas verdes, a poluição industrial, a irracionalidade do transporte, etc. PONTOS DE DOUTRINA: apresenta possíveis soluções para a crise urbana. Aponta que as chaves do urbanismo estão nas quatro funções (habitar, trabalhar, recrear-se e circular). Cada habitante da ci- dade deveria ter acesso a esses quatro direitos fundamentais. Considerada um marco do Urbanismo Modernista, a Carta de Atenas preconiza a importância do planejamento urbano na cidade moderna, que deveria ser funcional e capaz de suprir as necessidades do homem. Assim, defende a análise da cidade de acordo com cada função (lazer, trabalho e habitação), sendo a função “circulação” responsável por estabelecer contato entre as demais, e define os elemen- tos mínimos necessários para cada uma das funções urbanas. No lugar dos densos centros medievais, propunha áreas residenciais nas quais os prédios se desenvolvem verticalmente, liberando o solo para circulação e presença de áreas verdes, além de possibilitar insolação e ventilação em todas habitações. Além disso, a Carta também aborda aspectos como a conservação do patrimônio histórico expressivo e é bastante revolucionária ao defender que o solo urbano deveria ser de propriedade municipal, ou seja, de propriedade pública. A Avenida Independência é o trecho de rua que tem início na Praça Dom Feliciano (sendo con- tinuação da Rua dos Andradas) e segue até a Praça Júlio de Castilhos (ponto onde se transforma em R. Mostardeiro). É um das vias que compõem o traçado radial que parte do centro de Porto Alegre, sendo uma das rotas de acesso a ele, além de ser também acesso ao Complexo Hospitalar Santa Casa. Sua origem vem dos tempos de Porto Alegre enquanto vila. Desde 1829 são encontradas referên- cias à “estrada denominada Moinhos de Vento” que, partindo do Alto da Santa Casa de Misericórdia, dava acesso aos moinhos de vento de Antônio Martins Barbosa, prosseguindo até os campos da Aldeia dos An- jos (atual Gravataí). Em 1857, essa importante artéria passou a se chamar Avenida Independência, e se consolidou - ao longo dos séculos XIX e XX - como um dos lugares favoritos da burguesia portoalegrense, que ali construiu seus palacetes. Foi descrita por Felicíssimo de Azevedo como “o mais lindo arrabalde da cidade, não só pela sua posição elevada, de onde se goza a mais bela vista, como pela solidez do terreno, que o torna o mais salubre de Porto Alegre”. Atualmente, a Av. Independência segue sendo o eixo do bairro Independência. Possui fluxo de automóveis em sentido único (oeste-leste), distribuído em três ou quatro pistas; abastece o fluxo entre zonas mais nobres da capital e o centro. Há um corredor de ônibus e lotações de pista única, com senti- do contrário dos demais automóveis (leste-oeste). As calçadas são, em geral, de largura satisfatória na maior parte dos trechos. Em relação ao uso dos lotes, observa-se que ao longo de praticamente toda extensão da Avenida existem prédios de estética modernista, em geral com comércio no térreo, além de alguns palacetes do século XX em péssimo estado de conservação. Quatro hospitais se encontram na região: Santa Casa, Hos- pital Presidente Vargas, Hospital Femina e Hospital Moinhos de Vento. Ao longo da Avenida, se situam o Colégio Marista do Rosário e a Escola Estadual Othelo Rosa. TRA BALHAR HABIT AR RECREAR-SE CIRCULAR Pç. Dom Feliciano centro zonaleste AV.INDEPENDÊNCIA ufrgs rodoviária andradas mostardeiro túnel Pç. Dom Sebastião Pç. Julio de Castilhos santa casa
  • 3. UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2 a carta de atenas a av. independência FUNÇÃO HABITAÇÃO A residência é o local onde as pessoas passam a maior e a mais prazerosa parte do dia, portanto, se torna “o centro das preocu- pações do urbanista”, segundo Le Corbusier. Entretanto, ela é con- siderada inseparável dos serviços que formam seus complementos imediatos, de modo que a cidade é vista como um todo único, mas analisada com suas funções separadas. Em questão de habitação, os problemas citados por Le Cor- busier para a cidade são: as densidades muito altas (de 1000 a 1500 habitantes por hectare), o equivocados alinhamento e proximidade das habitações ao longo das vias de comunicação, o estrangulamento dos pátios, e a implantação de moradias em zonas menos favorecidas (expostas a ventos hostis, sem vistas, sem espaço, sem insolação e sem ventilação). A visão de mundo racionalista do modernismo enxerga a habi- tação como uma “máquina de morar”. Desse modo, tendo a moradia como ponto de partida da reorganização da cidade, torna-se possível propor novas lógicas para as edificações e para a própria cidade, se- gundo as necessidades dos habitantes. Assim, o modernismo analisa internamente as moradias, para depois agrupá-las entre si conside- rando também os serviços de todos os tipos: escolas, hospitais, lojas, quadras de esportes, etc. Esta análise possibilita elencar a quantida- de de moradias e sua proporcional necessidade destes serviços que, juntos, formam uma unidade de habitação. Na Carta de Atenas, ainda não há a definição de unidade de habitação, mas em seu texto podemos ver surgir os primeiros esbo- ços dessa ideia: “a família reclama ainda a presença de instituições que, fora da moradia e em suas proximidades, sejam seus verdadei- ros prolongamentos.” A Av. Independência tem como um dos seus usos principais a moradia. Nos bairros Centro Histórico e Independência, residem aproxi- madamente 43mil habitantes. O bairro Centro apresenta densidade de 161,7hab/ha, enquanto o bairro Independência apresenta 160,2hab/ha. Estes valores são bastante baixos, se comparados com os centros urbanos medievais analisados por Le Corbusier, mas ainda são, entretanto, a 3ª e a 4ª densidades mais altas da cidade de Porto Alegre (ficando atrás apenas dos bairros Bom Fim e Cidade Baixa). A distribuição de habitações ao longo da avenida é muito mais intenso no bairro Independência, e mais esparso na ponta mais próxima do centro, onde as edificações abrigam atividades comerciais. Embora a zona conte com edificações com altura elevada, os lotes são estreitos e quase totalmente edificados, dificultando a ventilação e tornando quase que inviável a insolação na maioria das moradias. Comentário de Le Corbusier, ao percorrer a Avenida Independência: “Estou surpreso que os bairros mais densos dessa cidade sejam tão pouco densos, parece que pelo menos algum progresso fizemos desde a idade média... Mas ainda assim, olhem a quantidade de moradias voltadas para uma via de trânsito intenso! Onde estão os jardins? Olhem aquele prédio, não recebe um raio de sol e não há espaço para o ar circular! Me admira que as pessoas não estejam morrendo de cólera por aqui!” Diagrama dos lotes que apresentam USO RESIDENCIAL ao longo da Avenida Independência: zonaleste centro unidades de habitação no meio do ver- de, forman- do um bairro ou uma cida- de (desenho de Le Cor- busier para a didade de N e m o u n s , 1934) edificações de uso residencial
  • 4. a carta de atenas UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2 a av. independência residencia + comercio e estabelecimento comercial FUNÇÃO TRABALHO “Os locais de trabalho não estão mais dispostos racionalmen- te no complexo urbano: indústria, artesanato, negócios, administra- ção, comércio.” A moradia e a oficina, na antiga cidade medieval, estavam sempre atreladas uma a outra. Com o advento dos meios de trans- porte tornou-se possível grandes deslocamentos para o exercício da profissão, ocasionando o chamado “nomadismo das populações ope- rárias”. Le Corbusier defendia que as distâncias entre a habitação e o trabalho deveriam ser reduzidas ao mínimo possível. Na cidade modernista, as atividades produtivas são divididas em três tipos de estabelecimento: indústria, agricultura e comércio. Assim, na organização urbana, temos as unidades de cultivo agrícola espalhadas pelo território; a cidade linear industrial (localizada ao longo dum canal, estrada ou via férrea lineares ao lado da zona ur- bana); e os centros de trocas e de comércio, que abrigam escritórios e se localizam em zonas favorecidas da cidade, ou seja, em regiões de congruência das redes de circulação. O artesanato e as trocas ocupam regiões centrais pois são atividades essencialmente urba- nas e é nos centros das cidades que gozam de seu pleno potencial econômico e criativo. As jornadas de trabalho e o deslocamento dos trabalhadores deve respeitar a trajetória cotidiana do sol, ou seja: as horas de lazer de um trabalhador não deveria ser dissolvida no deslocamento entre moradia e trabalho, por isso a necessidade de proximidade entre essas duas atividades. A grande maioria dos lotes na Avenida Independência abrigam alguma função comercial ou de serviços. São comuns, na região: farmá- cias, lojas de roupas, bares e restaurantes, além de prédios de escritórios. É muito comum observarmos a tipologia de um edifício residencial com térreo abrigando estabelecimentos comerciais. Apesar da abundância de comércio, subentende-se que a grande maioria dos funcionários destes estabelecimentos não habite na re- gião, que é de alta renda (um aluguel de apartamento usado, no Bairro Centro, custa em média 1500 reais). Portanto, há a comodidade para os moradores de ter serviços variados na região, como preconiza a unidade de habitação, porém a questão dos deslocamentos ainda é um problema, uma vez que estes estabelecimentos comerciais não estão atrelados às residências no sentido de serem os moradores da região os funcionários destes equipamentos, e sim moradores de outras zonas mais distantes da região central que se deslocam diariamente à Av. Independência para trabalhar. Diferente do uso residencial, que é nitidamente mais intenso no bairro Independência, o uso comercial nos lotes é bastante homogêneo ao longo de toda avenida. Comentário de Le Corbusier: “É propriamente uma insanidade ter esse enorme contingente de trabalhadores vindo de todas regiões periféricas da cidade, diariamente, para trabalhar aqui. Não seria mais lógico que os moradores dessa rua ocupassem os escritórios destes prédios comerciais?” Abaixo, diagrama do USO COMERCIAL/SERVIÇOS dos lotes: zonaleste centro estabelecimento comercial, residencia + comérico e casa noturna
  • 5. UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2 a carta de atenas a av. independência Pç. Dom Feliciano Pç. Dom Sebastião Pç. Julio de Castilhos santa casa parcão redenção FUNÇÃO LAZER Os espaços de recreação urbanos devem ser reformulados. Eles requerem áreas apropriadas e devem estar situados em três ní- veis: ao redor das moradias (zonas verdes para prática de esportes e descanso); na região metropolitana (parques municipais); e em nível nacional (parques nacionais), além de estar bem articulados com o restante da cidade. As construções elevadas, erguidas a grande distância umas das outras devem liberar o solo para amplas superfícies verdes. Estes espaços verdes podem ser prolongamentos diretos ou indiretos da moradia; diretos, se cercam a própria habitação, indiretos se estão concentrados em algumas grandes superfícies não tão próximas. As- sim, diferente da cidade-burgo, onde as áreas verdes eram ilhas num tecido urbano compacto, na cidade moderna as áreas verdes devem ser parte do próprio tecido: a cidade como um parque sobre o qual s desenvolvem as atividades da vida urbana. Os espaços de lazer devem acolher as atividades coletivas da juventude, propiciar um espaço favorável às distrações, aos passeios ou aos jogos das horas de lazer: “todo bairro residencial deve com- preender a superfície verde necessária à organização racional dos jogos e esportes das crianças, dos adolescentes e dos adultos.” Comentário de Le Corbusier: “Olhem e aprendam: as áreas verdes devem estar intimamente atreladas às edificações! Vou dese- nhar para vocês:” frequentadores da praça Dom Sebastiãopraça Dom Sebastião Ao longo da Avenida independência, existem 3 praças: marcando o início da avenida no centro, a Praça Dom Feliciano; ao lado do Com- plexo Hospitalar da Santa Casa, a Praça Dom Sebastião; por fim, no ponto onde a Independência se divide em 24 de Outuro e Mostardeiro, temos a Praça Julio de Castilhos. Nenhuma destas três praças possui equipamentos para a prática de esportes, apenas áreas de estar e des- canso. São, em geral, frequentadas por transeuntes ou por funcionários e visitantes dos serviços no seu entorno, uma vez que não possuem atrativos suficientes para atrair visitantes de outras regiões. Todas elas são bastante arborizadas, funcionando como “pulmões do bairro”, como definia Le Corbusier. Embora na Avenida Independência em si não haja espaços de lazer de qualidade e áreas verdes suficientes, a avenida se encontra muito próxima a dois dos principais parques da cidade: o Parcão e a Redenção. Assim, a população residente na Av. In- dependência possui duas ótimas opções de lazer e prática de esportes em seu entorno. Quase todas ruas perpendiculares à Independência possuem vegetação abundante, servindo como as chamados “prolongamentos da moradia”, tornando-se, senão espaços de lazer propriamente ditos, pelo menos vias bastante agradáveis de serem percorridas. Mais uma vez, percebe-se que a vegetação é muito mais abundante do lado do Bairro Independência do que no Centro. Esta função urbana também não está de acordo com os ideiais da Carta de Atenas, uma vez que as áreas verdes ainda se configuram como “ilhas” na paisagem urbana, e não como desdobramento da mesma. Diagrama da presença de VEGETAÇÃO na avenida:
  • 6. a carta de atenas UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2 a av. independência FUNÇÃO CIRCULAÇÃO De acordo com o PDDUA da cidade de Porto Alegre, a Av. Independência é classificada como uma via arterial de 2° nível, que tem como funções realizar ligações intraurbanas, possui média ou alta fluidez, baixa acessibilidade e restrita ligação com o entorno. Suas prioridades de uso são realizar transporte de alta capacidade (para uma grande quantidade de passageiros), transporte coletivo segregado (corredor de ônibus e lotação) e transporte de cargas. Ou seja, é uma avenida que comporta diversos tipos de transporte, inclusive trânsito de pedestres e um alto número de ciclistas que, por falta de ciclovia apropriada, trafegam na pista junto aos carros e ônibus. Tal qual a cidade criticada pela Carta de Atenas, a Av. Independência oferece insegurança para pedestres e ciclistas, pois nela circulam veículos de alta velocidade e num fluxo intenso. As linhas de ônibus T9 e Auxiliadora e as linhas de lotação IAPI, Volta do Guerino, Auxiliadora e Mont’Serrat atravessam a Independência nos dois sentidos, sendo no sentido bairro-centro por um corredor de ônibus, e no sentido centro -bairro juntamente com os carros. O tráfego de carros é alto em todas horas do dia e se dá apenas no sentido centro-bairro, sendo o horário de pico praticamente instransitável. Mesmo assim, até para os automóveis e para o transporte público a avenida se mostra irracional quanto ao seu trânsito: em 1,5km de extensão temos nada menos do que 14 semáforos, impedindo o fluir do trânsito. Comentário de Le Corbusier: “Isso é o caos! Os pedestres estão desamparados! Quantos gases nocivos, quanto barulho, quanto perigo iminente! E veja só: um semáforo a cada 100 metros? Vocês estão todos loucos!” Diagrama da CIRCULAÇÃO na Independência: “A circulação se desdobrará por meio de vias de percurso len- to para o uso de pedestres, e de vias de percurso rápido para uso de veículos”. Na cidade tradicional, todas formas de deslocamento acontecem na mesma rua-corredor: a calçada para os pedestres e a rua asfaltada para todos os tipos de automóveis. Estas diferentes ve- locidades são, entretanto, impossíveis de conciliar, segundo a Carta de Atenas. Assim, o pedestre está sempre sujeito a insegurança, en- quanto os veículos mecânicos são obrigados a frear frequentemente, pois a distância entre cruzamentos é muito pequena. Na cidade modernista, a circulação ocupa lugar de destaque, uma vez que é a função que interconecta as outras três. Nela, as diferentes modalidades de transporte são segregadas, com percur- sos especialmente pensados para pedestres, outros para bicicletas, também para veículos lentos e veículos velozes. As distâncias entre cruzamentos deve ser de 200 a 400 metros (quando não em passa- gens de nível), pois os veículos devem ser minimamente expostos ao regime de paradas obrigatórias, e as tuas devem possuir largura-tipo uniforme de acordo com sua função. croquis com trajetos peatonais e de veículos transpote coletivo transporte coletivo (corredor) veículos particulares sentido do fluxo santa casa
  • 7. a carta de atenas e a av. independência UFRGS Faculdade de Arquitetura Tópicos Especiais em Urbanismo I-C Professora Lívia Piccinini Mariana Mocellin Mincarone 2013.2 CONCLUSÃO A Carta de Atenas, à sua época, mostra uma evolução na análise da cidade pois, ao contrário da cidade pós-liberal - onde a prioridade são as questões produtivas - a cidade moderna coloca o homem e seu bem estar como protagonistas do planejamento urbano. Como qualquer ideologia dessa magnitude e ousadia, foi intensamente criticada nas décadas posteriores. Brasília, o produto dessa ideologia, até hoje recebe duras críticas por ser uma cidade inóspita e não agradável ao ser humano. A Avenida Independência, se analisada por Le Corbusier, estaria fadada à destruição, tamanho o caos que ele veria nela. Nenhuma das 4 funções urbanas ali se desenvolve como ensina a Carta de Atenas, tendo alguns aspectos completamente antagônicos ao texto modernista (por exemplo, a circulação). Entretanto, não à toa, a Avenida Independência é - e sempre foi - um reduto das classes mais abas- tadas de Porto Alegre, um lugar onde muitos almejam habitar, seja por sua proximidade com pontos de interesse da cidade, sua vitalidade, seu fácil acesso a meios de transporte e sua qualidade de vida devido à arborização ou pela vizinhança aprazível. Le Corbusier peca ao sentenciar que qualquer via com muitos cruzamentos seria irracional para a circulação urbana, pois essa visão está submetida à lógica do transporte individual. Atualmente, verifica- se que as ruas mais agradáveis são justamente aquelas nas quais o grande número de cruzamentos gera quadras mais curtas, propiciando diferentes rotas peatonais internas nos bairros. Além disso, a proximi- dade das construções já não é um problema tão grave, devido às diversas tecnologias hoje existentes. Na questão dos deslocamentos urbanos, porém, a fala de Le Corbusier ainda se mostra bastante atual. Talvez nessa zona da cidade não percebamos isso tão nitidamente, mas o nomadismo das populações urbanas ainda é um mal que assola nossas cidades, fazendo a segregação urbana um dos mais vis problemas da atualidade. Enfim, a visão modernista da cidade elaborada no CIAM de 1931 foi, inegavelmente, de absoluta vanguarda. A prova disso é que sete décadas depois, esta análise ainda se mostra bastante lúcida e aplicá- vel para as cidades contemporâneas. Obviamente, há de se ter o bom senso de compreender as diferenças culturais e conjunturais das diferentes épocas, sem, entretanto, tirar o mérito da Carta de Atenas de ter sido um marco na história do urbanismo. ANTES DE ME CRITICAR, TENTE ME SUPERAR