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O RECRUTAMENTO NO FUTEBOL

Instituto Politécnico de Santarém
Escola Superior de Desporto de Rio Maior
Mestrado em Desporto
Modalidade Desportiva I
1º Ano / 1º Semestre

Mestrando: Mário Rocha
Regente: Professor Doutor João Paulo Costa

Fevereiro 2014
Índice
Introdução ………………………………………………………………………………………………………………3
Objetivos ………………………………………………………………………………………………………………. 4
O Talento ………………………………………………………………………………………………………………..6
Fatores Responsáveis pela Identificação, Seleção e Desenvolvimento de Talentos 8
As características do talento futebolístico ……………………………………………………………. 10
O Processo de Deteção, Identificação, Seleção e Desenvolvimento do Talento …… 11
O erro associado à Maturação ……………………………………………………………………………… 14
Um caso de sucesso …………………………………………………………………………………………….. 16
Implicações teóricas e práticas ……………………………………………………………………………. 18
Conclusão …………………………………………………………………………………………………………….. 21
Revisão Bibliográfica …………………………………………………………………………………………….. 22
Introdução
O Futebol pertence a um grupo de modalidades desportivas com características
específicas e comuns, habitualmente designadas por jogos desportivos coletivos (JDC).
Sem diminuir a importância das restantes características, são as relações de oposição
entre os elementos das duas equipas em confronto e de cooperação entre os
elementos da mesma equipa, ocorridas num contexto aleatório, que traduzem a
essência do jogo de Futebol (Garganta, 2001, cit. por Pacheco, 2012).
Apesar deste carácter coletivo da modalidade, existem atletas que se destacam de
outros atletas por terem um desempenho acima da média, e que assim contribuem
decisivamente para o global da sua equipa.
Frequentemente é questionada com admiração a emergência do desempenho
excecional de determinados atletas no desporto. O entendimento sobre esse
desempenho excecional que não pode surgir do nada, nem do abstrato, tem originado
uma curiosidade de investigadores e treinadores sobre qual seria o percurso
necessário para se alcançar semelhante nível, e possivelmente, com isso, poder
potenciar semelhantes proezas noutros indivíduos com maior regularidade (Silva,
2009).
Quando estivermos perante atletas que detenham de uma capacidade que é
excecional e que está acima do que é normal no desporto em questão, podemos
classificar estes indivíduos como talentos.
Segundo Garganta (2009) “um talento é alguém capaz de uma performance acima da
média num dado domínio e em vários momentos.”. Um talento possui características
que o demarcam de outros indivíduos não considerados talentos e que permitem, por
vezes, predizer a sua potencial performance no futuro (Franks, Williams, Reilly, &
Nevill, 1999, cit. por Moita, 2008).
Segundo Jorge Castelo em 2004, uma das funções fundamentais do treinador no
processo de formação de uma equipa de futebol, a curto e médio prazo, é de
selecionar talentos e utilizá-los sempre que possível, independentemente de serem
jovens e desconhecidos. Neste sentido, os Clubes para além de terem um setor de
formação constituído por equipas de futebol de diferentes grupos etários (escolas,
infantis, iniciados, juvenis, juniores) e treinadores especializados que dirigem a sua
evolução desportiva, necessitam igualmente de uma rede de observadores para
acompanhar os diferentes jogadores e jogos que se realizam ao longo do País (Castelo,
2004).
Objetivos
O objetivo deste trabalho está centrado naquilo que foi solicitado na unidade
curricular “Modalidade Desportiva I”, que foi realizar uma revisão do estado da arte
sobre a área específica que será alvo de intervenção quando realizarmos o nosso
estágio, e quem sabe, o campo específico da nossa intervenção futura.
O tema que mais me tem suscitado interesse, e que por isso foi o que abordei nesta
proposta de revisão de literatura, é o recrutamento de jovens atletas pelos clubes.
Neste momento não existe muita literatura convincente sobre este tema, e por isso
tive algumas dificuldades em reunir alguma informação que eu considerasse
pertinente, e que fosse proveitosa para uma intervenção prática futura.
No entanto acho que apesar de ser pouca a informação disponível até ao momento, as
novas tecnologias, aliadas a uma constante produção científica poderão ser
determinantes para melhorias substanciais a curto prazo no conhecimento existente
do recrutamento.
Após a literatura consultada sobre esta área, foram alvo de revisão o talento
(definição, fatores preditivos e caraterísticas) e as etapas de deteção, identificação,
seleção e desenvolvimento do talento. Além disso aproveitei uma tese de mestrado
(Moita, 2008), que dá umas “luzes” sobre como funciona o processo do recrutamento
no Sporting Clube de Portugal.
Por fim abordei um dos principais erros que normalmente os treinadores cometem,
que tem a ver com a questão da Maturação.
Depois de feita a revisão de literatura, fiz um transfer para o que vai ser a minha
intervenção futura: expus um sistema de observação que criei noutra unidade
curricular da licenciatura, e objetivei como poderá consistir uma intervenção futura
nesta área.
Estado da arte

O Talento
Ter talento reflete ter determinadas atitudes, diferenças individuais, habilidades, ou
potencialidades que em última análise fazem parte da estratégia evolutiva da espécie
humana. Se fôssemos semelhantes, cresceríamos e evoluiríamos para organismos cada
vez mais especializados. Neste caso estaria posta em causa a adaptação a condições
variáveis e a taxa de mudança cultural estaria comprometida passando a ser assim
lenta e previsível. Ao contrário a diversidade será então a base da nossa capacidade
criadora.
Segundo Garganta (2009) “um talento é alguém capaz de uma performance acima da
média num dado domínio e em vários momentos”. Um talento possui características
que o demarcam de outros indivíduos não considerados talentos e que permitem, por
vezes, predizer a sua potencial performance no futuro (Franks, Williams, Reilly, &
Nevill, 1999, cit. por Moita, 2008). Garganta (2009) diz ainda que o talento está em
constante desenvolvimento, e daí podemos apurar a necessidade e a existência de um
processo com condições essenciais onde possa emergir. O jogador talentoso, segundo
Jiménez Sánchez (2007, cit. por Pacheco) será o resultado de um conjunto complexo e
dinâmico de experiências, prática deliberada, “coaching” (orientação), eficácia, êxito e
desejo de excelência.
Vários estudos têm permitido reforçar a importância da relação entre o tempo de
prática acumulada numa atividade e o nível de desempenho conseguido pelos
praticantes nessa actividade (Abernethy, 1994; Hodges & Starkes; 1996; Krampe &
Ericsson, 1996; Helsen et al., 1998; Helsen & Starkes, 1999).
Outros refutam a convicção de que a prática altamente estruturada é, por si só,
suficiente para induzir desempenhos superiores (Scanlan et al., 1993; Burland &
Davidson, 2002).
Apesar disto existe uma parte hereditária que poderá ser muito importante, porém
não será decisiva, para a formação do talento desportivo. O quadro que se segue diz
respeito ao nível de hereditariedade das capacidades motoras.

O desempenho é a parte visível do talento e depende da interação de vários
constrangimentos (Garganta, 2009). O apoio parental, adequada condução do
processo de treino, as influências culturais e o efeito da idade relativa, têm sido
considerados determinantes para viabilizar o acesso à excelência desportiva (Burland
& Davidson, 2002; Baker et al., 2003, cit. por Garganta, 2009).
A natureza dá ao ser humano um potencial que uma prática assídua e relevante
transforma em capacidade (Garganta, 2009). À medida que os cientistas examinam as
carreiras dos seres humanos mais proficientes, menor parece ser o papel atribuído ao
“talento inato” e mais significativo se revela o contributo da aprendizagem/treino
(Garganta, 2009).
Verifica-se em vários estudos uma tendência para selecionar e identificar como
talentosos os jogadores nascidos nos primeiros meses do ano de distribuição das
idades pelos diversos (Silva, 2009). Ao detetarmos esta tendência nas equipas jovens
do Futebol português, podemos melhorar os processos de seleção e reduzir essa
propensão que delimita o número de possíveis selecionados para desenvolverem o
potencial talento, e em último caso diminui a qualidade global do futebol apresentado
(Silva, 2009).
Fatores Responsáveis pela
Desenvolvimento de Talentos

Identificação,

Seleção

e

GO Tani (2002) apresenta a habilidade motora como um elemento diferenciador. A
ação no desporto é entendida como um comportamento tático (Greco, 2007), uma
espécie de ação inteligente que necessita de ser desenvolvida ou aprendida. Nesse
processo, são muitos os fatores, das áreas cognitiva, afetiva e psicomotora do
comportamento humano que influenciam o desenvolvimento, bem como fatores do
indivíduo, do ambiente e da tarefa em si (Gallahue & Ozmun, 2005).

As Habilidades técnicas
No processo do treino dos jovens, o lado da inteligência e o da técnica devem ser
privilegiados, como refere Mesquita (2007) a técnica e a tática devem estar situadas a
um só tempo, ou seja, são duas faces da mesma moeda.
A natureza aleatória e imprevisível do jogo exige a adoção de uma atitude tática
constante. Tal exige, então, que os praticantes possuam uma adequada capacidade de
decisão, que decorre duma ajustada leitura do jogo, para poderem materializar a ação
através de recursos motores específicos, genericamente designados por técnica
(Garganta, 2002).
De acordo com Malina et al. (2004), um dos principais componentes envolvidos em
atletas jovens num desporto específico é a habilidade técnica. Williams e Reilly (2000)
também se referem a este componente, enfatizando que, na maioria dos desportos,
futebol incluído, a especialização ou excelência pode ser alcançada através de
diferentes combinações de habilidades, sub-habilidades, atributos e capacidades. No
caso particular do futebol, a avaliação das competências técnicas adquire particular
relevância, considerando que o futebol é um desporto que exige habilidades refinadas
de condução, controlo e passe ou remate (Vaeyens et al. 2006).
“A excelência desportiva requer, cada vez mais, uma perspetiva “inteira” dos
processos de treino e competição e o entendimento mais ajustado parece ser o que
amplia mais o raio de ação destes processos e não tanto o que os miniaturiza
(Garganta, 2004)

Desta forma, o caminho até à excelência desportiva decorre, portanto, de uma fusão
complexa de habilidades, capacidades e competências, cuja feição emerge das
capacidades do praticante e do modo como é realizada a aprendizagem e o treino
(Ericsson, 2003).

Sociais
Demográ
ficos/biol
ógicos

Psicológic
os

Talento

Maturaçã
o
Biológica

Tática

Técnica

Aptidão
Física

FATORES RESPONSÁVEIS PELA IDENTIFICAÇÃO, SELEÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE TALENTOS
As características do talento futebolístico
Para que o processo de identificação e recrutamento de talentos ocorra de forma
organizada, é essencial que o clube em questão defina elementos chave para
sabermos quais as características que podemos identificar nos jogadores (Franks et al.,
1999, cit. por Moita, 2008).
Segundo Garganta (1995, cit. por Pacheco, 2012), de uma forma geral, na deteção de
talentos é fundamental estar atento a pressupostos que indiciem o talento de um
jogador de futebol, que podem ser os seguintes:


Habilidade técnica em velocidade;



Disponibilidade tática;



Eficiência orgânica e muscular: agilidade, velocidade, reação rápida, rápidas
mudanças de sentido e direção;



Valor moral elevado: auto-controlo, coragem, auto-confiança, combatividade,
carácter.

De uma forma mais concreta pode-se fazer referência ao Ajax, um clube em que essas
características estão bem definidas e que funcionam como traços fundamentais de
avaliação indispensáveis para criar o tal modelo de jogador do clube. É o chamado
sistema TIPV: T simboliza técnica, aquilo que o jogador pode fazer com a bola; I é para
inteligência, entendida aqui como cultura tática; P é para personalidade, um aspeto
muito importante para os detetores de talento e formadores do Ajax; V significa
velocidade, pois para jogar no Ajax é muito importante não só a velocidade simples,
mas também é imperioso ter rapidez com a bola nos pés (Lobo, 2003, cit. por Moita,
2008).
Estes critérios de seleção fazem com que os jogadores pertencentes ao Ajax possuam
logo, aquando da sua entrada no clube, estas características: técnica elevada,
inteligência, personalidade interessante e uma boa rapidez de execução (Kormelink &
Seeverens, 1997, cit. por Moita, 2008), ficando mais facilitada a tarefa de
desenvolvimento desses mesmos jogadores.
O sucesso do modelo (TIPV) fez com que alguns clubes da Premier League Inglesa
formulassem também modelos semelhantes, tais como TAEV (talento, atitude,
equilíbrio e velocidade) e HIPV (habilidade, inteligência, personalidade e velocidade),
emergindo como uma marca primordial na identificação de talentos (Stratton et al.,
2004, cit. por 2008).
Reconhecendo então que cada clube deverá uniformizar um modelo de jogador e
partindo do pressuposto que o ideal será formar jogadores inteligentes que sejam
facilmente adaptáveis a vários modelos de jogo, parece que esse objetivo será
alcançado mais rapidamente, se os clubes tiverem preocupações em recrutar
jogadores cada vez mais cedo e que já possuam características favoráveis para atingir
esse modelo.

O Processo de Deteção,
Desenvolvimento do Talento

Identificação,

Seleção

e

A deteção de Talentos refere-se à descoberta de potenciais craques que atualmente
não estão envolvidos no desporto em questão. Por causa da popularidade do futebol e
do grande número de crianças que participam, a deteção de jogadores não é um
grande problema, quando comparado com desportos minoritários. A Identificação de
talentos refere-se ao processo de reconhecimento de atuais praticantes com potencial
para se tornarem jogadores de elite. Implica prever o desempenho ao longo de vários
períodos de tempo, medindo atributos físicos, fisiológicos, psicológicos e sociológicos,
bem como habilidades técnicas, isoladamente ou em combinação (Regnier et al., 1993,
cit. por Williams & Reilly, 2000). É feita uma tentativa de combinar uma variedade de
características de desempenho, que podem ser de aprendizagem ou de formação
inata. Uma questão-chave é saber se o indivíduo tem o potencial de beneficiar de um
programa sistemático de suporte e treino. A Identificação de talentos foi vista como
parte do desenvolvimento de talentos que pode ocorrer em várias etapas dentro do
processo. O Desenvolvimento de talentos implica que os jogadores sejam fornecidos
com um ambiente de aprendizagem adequado para que eles tenham a oportunidade
de demonstrar todo o seu potencial. A área de desenvolvimento de talentos tem
recebido considerável interesse nos últimos tempos, levando vários pesquisadores a
sugerir que houve uma mudança de ênfase na deteção e identificação de talentos para
orientação de talentos e desenvolvimento). Por fim, a seleção de talentos envolve o
processo contínuo de identificação de jogadores, em várias etapas, que demonstram
níveis de desempenho, tendo em conta os pré-requisitos para a inclusão numa
determinada equipa ou dentro da equipa. A Seleção envolve a escolha do indivíduo ou
grupo de indivíduos mais adequados para realizar a tarefa dentro de um contexto
específico (Borms, 1996, cit. por Williams & Reilly). É particularmente pertinente no
futebol, uma vez que apenas 11 jogadores podem ser selecionados para jogar a
qualquer momento.

A questão da deteção, seleção e promoção de talentos no desporto, de uma forma
geral, tanto no aspeto conceitual teórico quanto no metodológico, é uma temática
atual e amplamente discutida no mundo inteiro. Especificamente no caso do futebol, é
um tema que tem gerado diversas discussões tanto a nível académico como a nível dos
Clubes. Desta forma, Maia (1993, cit. por Pacheco, 2012), define “deteção de
talentos”, como a possibilidade de efetuar um prognóstico a longo prazo de alguém
que revela atributos e capacidades necessárias para fazer parte integrante de uma
população de atletas de excelência desportiva. Para efetuar esta previsão é necessário
a presença de um “talento”, embora Seabra et al. (2001, cit. por Pacheco, 2012) afirma
que tal instrumento não existe, o que coloca sérios entraves não só à identificação do
talento como ao próprio prognóstico. Os mesmos autores consideram a “seleção de
talentos” a operação a partir da qual se efetua um prognóstico a curto prazo para o
indivíduo situado num grupo de atletas. Este prognóstico baseia-se no postulado de
que o indivíduo situado num grupo de atletas. Este prognóstico a curto prazo para o
indivíduo situado num grupo de atletas. Este prognóstico baseia-se no postulado de
que o indivíduo em causa possui atributos e capacidades necessárias para fazer parte
integrante de uma população de atletas de excelência desportiva.
Desta feita, constata-se que o grande objetivo da identificação de talentos é a de
aumentar a probabilidade de selecionar jogadores de elite no futuro, em idades mais
baixas (Franks et al., 1999, cit. por Moita, 2008).
Segundo Stratton et al. (2004, cit. por Moita, 2008), a maioria dos clubes concorda que
sem um processo de detecção, seleção e recrutamento de “talentos” até os
treinadores mais experientes e talentosos terão dificuldades em preparar uma equipa
para competir ao mais alto nível.
Também Leal & Quinta (2001, cit. por Moita, 2008) acreditam que a criação de um
departamento de seleção e deteção de talentos num clube é uma das premissas
fundamentais na potenciação de todo o processo de formação.
Hoje em dia, o processo de identificação e recrutamento de talentos, na maior parte
dos clubes incide essencialmente em jovens com sete ou mais anos de idade (Stratton
et al., 2004, cit. por Moita, 2008), o que nos leva a pensar que quanto mais cedo forem
recrutados talentos com determinadas características, maior será o seu processo de
evolução no clube. Nessa altura, a ênfase deve ser colocada na provisão de treinadores
e treinos apropriados e, também, de estruturas de suporte, que possibilitarão aos
jovens jogadores uma maior potenciação das suas qualidades (Stratton et al., 2004, cit.
por Moita, 2008). Franks et al. (1999, cit. por Moita, 2008) é da mesma opinião e
refere que identificar e recrutar um potencial jogador em idades mais baixas garante
que esse jogador receba posteriormente no clube treino especializado, de forma a
poder evoluir progressivamente e a potenciar ainda mais o seu talento.
A partir de uma perspetiva científica, a busca da excelência pode ser dividido em
quatro fases fundamentais (Russell, 1989; Borms, 1996). Estes podem ser distinguidos
como “deteção”, “seleção”, ”identificação” e “desenvolvimento”.

O erro associado à Maturação
Não raramente, os observadores apercebem-se, não de habilidades específicas do
Futebol, mas de algo relacionado com vantagem maturacional. (Garganta, 2009).
Atualmente é crescente o número de estudos que visam identificar e analisar
parâmetros morfológicos e físicos de crianças e adolescentes inseridos em treinos
sistemáticos nas mais variadas modalidades desportivas (Davis, Barnette, Kiger,
Mirasola & Young, 2004, cit. por Mortatti et al., 2013). O conhecimento do perfil
relacionado a essas variáveis e dos seus respetivos comportamentos e respostas ao
processo de treino é fundamental para o contexto da especialização desportiva.
Esse conhecimento juntamente com a utilidade e fidedignidade desses parâmetros
podem auxiliar pesquisadores, técnicos e preparadores físicos nos processos de
deteção, seleção e promoção do talento desportivo.
Além disso, também poderiam ser utilizados para orientar o próprio processo de
treino, aumentando a eficácia relativa da aptidão física, sobretudo nas variáveis que
podem determinar o sucesso no desporto (Davis et al., 2004, cit. por Mortatti, 2013)
No futebol, a tendência de orientação do processo de escolha dos jovens jogadores é,
atualmente, selecionar atletas de maior estatura e peso corporal, tendo, portanto, o
“tamanho corporal” um papel central (Gil, Gil J., Ruiz, Irazusta A. & Irazusta J., 2010,
cit. por Mortatti, 2013). No entanto, essa orientação relativa ao “tamanho corporal” no
processo de deteção e promoção do talento, na maioria das vezes, está baseada
somente nos valores absolutos das variáveis morfológicas e físicas, negligenciando o
status do desenvolvimento biológico dos avaliados (Mortatti et al., 2013).
Dessa forma, indivíduos que se encontram num nível maturacional tardio são
comparados aos seus pares de desenvolvimento mais precoce numa mesma faixa
etária, fazendo com que, muitas vezes, haja uma avaliação enviesada no processo que,
por sua vez, poderia não ser a mais apropriada e efetiva (Mortatti et al., 2013).
Nesse sentido, para além da análise pontual do tamanho corporal, assumindo-se a
importância dessa variável na orientação da seleção, promoção e desenvolvimento de
talentos, há a necessidade de se identificar o processo de desenvolvimento biológico
com o objetivo de relativizar os valores das variáveis morfofuncionais pelo nível
maturacional do avaliado (Malina, Bouchard, & Bar-Or, 2004).
A identificação do nível maturacional, por sua vez, pode ser realizada por vários
métodos tais como a maturação óssea, maturação dental, maturação das
características sexuais secundárias e maturação somática (Malina et al., 2004).
Dentre desses possíveis métodos, a avaliação das características sexuais secundárias,
proposta por Tanner (1962, cit. por Mortatti et al., 2013), é bastante difundida no meio
desportivo, porém os procedimentos para tal avaliação podem gerar algum tipo de
constrangimento entre os avaliados. Além disso, a auto avaliação pode ser influenciada
pela análise subjetiva do avaliador, limitando, na prática, a utilização e a confiabilidade
do método (Malina et al., 2004)
De acordo com Seabra et al. (2001, cit. por Pacheco, 2012), a performance motora das
crianças e dos jovens está significativamente relacionada com o seu estatuto
maturacional. Parece evidente que crianças e jovens com a mesma idade cronológica
variam consideravelmente no seu estado de maturação biológica, exercendo esta
alguma influência no processo de crescimento e no desempenho motor (Malina et al.,
2004). Tais variações também parecem ter influência no que diz respeito às
oportunidades de sucesso no futebol competitivo (Vaeyens et al., 2005, cit. por
Pacheco, 2012). Muitos jovens futebolistas são excluídos com o aumento da idade e da
especialização desportiva ou seja quando as características físicas e técnicas
específicas de uma modalidade desportiva são aperfeiçoadas e quando se atinge a fase
final da maturação física (Chibane et al., 2009, cit. por Pacheco 2012). Este fato muitas
vezes verifica-se porque a tendência nos escalões mais baixos é selecionar futebolistas
maturacionalmente avançados, mas que no futuro essa característica não será
suficiente para eles terem uma competência elevada no jogo.
Um Caso de Sucesso

Miguel Moita realizou um estudo em 2008 junto da Academia de Futebol do Sporting
Clube de Portugal (Monografia de Licenciatura em Alto Rendimento, na Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto). Neste estudo realizou entrevistas junto dos
responsáveis pelo Recrutamento do clube, o que nos pode elucidar sobre como é que
funciona a identificação e seleção de talentos de um dos casos de maior sucesso a
nível Internacional.
Segundo Moita (2008) as características identificadas como fundamentais para que um
jovem atleta entre na formação do Sporting estão em total sintonia com aquilo que é o
modelo de jogador pretendido pelo clube. Para além disso, existe também a
preocupação de realizar o processo de deteção, seleção e recrutamento cada vez mais
cedo e em idades em que os atletas tenham grande margem de progressão. Jean Paul
refere que “a partir dos sub-16 e sub-17, se não são jogadores em relação aos quais
nós prespetivemos possibilidades de integração no futebol sénior, não se justifica nós
contratarmos. Isto significa que eles têm que ser melhores do que os que já temos e
preencherem também outro requisito, que é vermos neles a capacidade de integrarem
a nossa Equipa A.” (Moita, 2008).
Aurélio Pereira, citado por Moita em 2008, refere que os indicadores a serem levados
em conta no recrutamento de jovens talentos para o SCP são uma habilidade com a
bola acima da média, depois a velocidade e por fim o aspeto mental que, apesar de
não se conseguir ver numa primeira observação, é o que posteriormente faz a
diferença entre os tais jogadores que têm habilidade natural e outras qualidades. O
mesmo Aurélio Pereira, em relação à importância da personalidade, relata-nos o caso
de Cristiano Ronaldo: “quando veio aqui treinar à experiência com doze anos (…),
depois de observá-lo em campo e realmente ver que tinha qualidades, foi a sua
qualidade mental que mais me impressionou e que me levou a escrever o que escrevi
na altura (…), pois no segundo dia já conseguia atrair as atenções por parte dos
colegas. E a título de exemplo, num treino que realizou com jogadores um ano
superiores, a certa altura estava para receber uma bola de costas na área e foi alvo de
uma marcação muito apertada, então ele voltou-se para trás e de repente disse “Oh
miúdo, tem calma!!!”. E isto para mim, funcionou como um “click” para dar o aval à
sua contratação.” (Moita, 2008).
Implicações Teóricas e Práticas
Sistema de Observação de Talentos
Na unidade curricular de “Observação e Análise da Técnica Desportiva”, da
Licenciatura em Treino Desportivo, juntamente com os meus colegas de grupo, criei
um instrumento de observação que consistia em tirar dados quantitativos no
momento da análise do vídeo, para posterior avaliação. O nosso primeiro objetivo
seria considerar as variáveis técnica, física, psicológica e tática, mas não foi possível, e
apenas consideramos a variável técnica. Isto deveu-se ao facto de não haver literatura
que nos apoiasse, pelo motivo de serem variáveis bastante subjetivas. No entanto o
meu objetivo é desenvolver este instrumento, uma vez que este só se encontra numa
fase muito inicial.
Para isso quero desenvolver competências, e arranjar estratégias que me possibilitem
observar e avaliar com rigor os aspetos ligados à inteligência do jogo e à capacidade
mental do atleta. Juntamente a isto posso acrescentar a avaliação das capacidades
físicas no jogo, mas neste caso, não o consegui anteriormente, não por serem
capacidades pouco objetivas (antes pelo contrário), mas porque serão precisas novas
tecnologias que possibilitem a avaliação das destas capacidades motoras. A tecnologia,
na minha opinião, também deverá ser fulcral para avaliar a variante psicológica e
tática. Através de tecnologia de ponto, mais propriamente, câmaras que permitam
apanhar ao mesmo tempo, um plano do jogador de perto, para avaliar pormenores
técnicos e detalhes de nível psicológico, mas também visto de um plano global, para
observar o comportamento tático, mais direcionado para a tomada de decisão dentro
de um ponto de vista coletivo.
Em relação ainda ao instrumento que realizei, optei por fazer uma classificação de
cada comportamento técnico, em que o classificava de 0 a 6, tendo em conta as
componentes críticas associadas a cada gesto. Por exemplo, na receção, as
componentes críticas eram: Deslocação para a bola; Decisão rápida do tipo de receção;
não deixar “morrer” a bola; Confiança na receção da bola; Pé de receção desloca-se ao
encontro da bola; e perna de apoio ligeiramente fletida. Se observadas estas 6
componentes críticas estaríamos perante uma receção de bola com avaliação “6”
(Muito Bom). No final o objetivo era fazer uma média de todas as avaliações de
receções durante um jogo ou mais do que um jogo, e dar uma avaliação do atributo
“receção”, e o mesmo se faria perante os outros gestos técnicos, o que possibilitaria
no final de tudo isto obter uma avaliação da técnica precisa e rigorosa.
Com isto penso que já tenho a variável técnica, com um pouco mais de
aperfeiçoamento, bem encaminhada. A isto resta obter a tecnologia necessária,
pensando que será este o melhor caminho, para aliar os outros atributos (inteligência,
psicológico e físico). Na minha opinião poderá ser esta a base para construir um
instrumento sólido, que permita avaliar rigorosa e criteriosamente, se estamos
perante um atleta que pode interessar ou não, tendo em conta aquilo que o clube
pretende, com o modelo de jogador e o modelo de jogo a servir de pressupostos para
a decisão final.
É importante também não esquecer a variável maturacional, que poderá influenciar
todas as outras variáveis, principalmente a variável física. Segundo os autores
consultados este é o principal erro cometido por treinadores ou responsáveis pelo
recrutamento. O que acontece é que os atletas que estão mais avançados
maturacionalmente são sempre mais escolhidos que os outros, e estes não são
necessariamente os que irão singrar no futuro (Malina et al., 2004). Por isso é
importante considerar esta variável no instrumento para não haver erros na deteção
do talento.

Transfer para a Intervenção Prática
Em relação à minha intervenção no estágio, poderei ser importante nesta área do
recrutamento, principalmente se estiver num contexto em que o clube tenha
possibilidade real de recrutar jogadores. Sinceramente, penso que seria uma mais-valia
nesta área, uma vez que tenho conhecimento do modo como funciona nos clubes de
topo a nível nacional, e tenho consciência do que poderia ser melhorado nesses
contextos, e o principal alvo de melhoria é sem dúvida o rigor científico. É fundamental
criar um instrumento fidedigno e objetivo que permita identificar e selecionar o
talento no futebol jovem. Tenho noção que com algum apoio de tecnologia de ponta
poderia criar um instrumento muito poderoso para servir de base para todo o
recrutamento do clube. Se não houver possibilidade deste apoio de alguma tecnologia,
construo um instrumento também válido, que permita ser de utilidade para o clube.
Se não houver esta possibilidade de intervir nesta área, porque muitas das vezes o
recrutamento já está instituído no clube de uma forma fechada, e por isso a
intervenção seria reduzida, o futebol de formação seria para mim uma alternativa que
me agrada bastante, e onde eu poderia intervir de uma forma igualmente proveitosa
para o clube, tendo em conta as minhas competências e experiência no envolvimento
com o treino de jovens atletas.
Conclusão
Depois da revisão de literatura que foi consultada para conhecer as tendências atuais
do processo de identificação, deteção e seleção de talentos, obtive um conhecimento
razoável do que é que se está a fazer nesta área, da forma como os clubes estão
organizados no recrutamento e como é que se poderá intervir de forma a melhorar um
campo que ainda está pouco desenvolvido até à data.
Depois de revistas as tendências atuais do recrutamento, pude ter uma noção clara
que ainda não existe um instrumento científico e rigoroso para ser utilizado neste
processo. Isto leva os treinadores, observadores técnicos, ou outros responsáveis pelo
recrutamento a enveredar por observações, que o senso comum normalmente
caracteriza de observações a “olho nu”, o que provoca muitos erros aquando da
deteção, depois na identificação e também na seleção dos melhores atletas. Partindo
do pressuposto que estas são as principais fases do processo de escolha dos atletas
podemos dizer que os erros começam logo quando se fazem num momento inicial as
captações, até à escolha num momento final da equipa que vai jogar num clube de
topo a nível nacional. O que isto quer dizer é que o talento muitas das vezes pode
estar escondido num clube de bairro, em que os observadores observam de forma
muito pouco rigorosa, e que por isso nunca vai chegar a passar por estas fases até
chegar a um contexto em que as suas capacidades poderiam ser desenvolvidas de uma
forma muito superior.
O nível de maturação é um dos erros que se cometem com maior regularidade. É
muito comum um atleta estar muito mais desenvolvido maturacionalmente que outros
jogadores. Este atleta vai dar muito mais nas vistas a estes observadores que
observam a “olho nu”, e outros atletas que no futuro irão desenvolver capacidades
que permitem resultados superiores, serão preteridos por estes jovens que estão
numa fase maturacional mais avançada. Penso que no futuro, se intervir na área do
recrutamento irei estar especialmente atento a este aspeto, que acho de extrema
importância, e que tem sido um pouco posto de lado pelos treinadores.
Revisão Bibliográfica

Castelo, J. (2004). Futebol, Organização Dinâmica do Jogo. Edições FMH.
Garganta, J. (2009). Identificação, Seleção e Promoção de Talentos nos Jogos
Desportivos: Factos, mitos e equívocos. Atas do II Congresso Internacional de Deportes
de Equipo. Universidad de A Coruña.
Malina, R., Eisenmann, J., Cumming, S., Ribeiro, B., Aroso J. (2004). Maturity-associated
variation in the growth and functional capacities of youth football players 13-15 years.
Eur J Appl Physiol. 91(5-6):555-62.
Moita, M. (2008). Um percurso de sucesso na formação de jogadores em Futebol.
Estudo realizado no Sporting Clube de Portugal – Academia Sporting/Puma.
Dissertação de licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto
Mortatti, A., Honorato, R., Moreira, A., & Arruda, M. (2013). O uso da maturação
somática na identificação morfofuncional em jovens jogadores de futebol. Revista
Andaluza de Medicina del Deporte. 6(3): 108-114.
Pacheco, A. (2012). Indicadores Morfológicos, Funcionais e Técnicos na Identificação
de Jovens Talentos no Futebol. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto.
Silva, C. (2009). Tempo-oportunidade para a prática e o efeito da idade relativa na
seleção de jovens no futebol português – Estudo comparativo entre clubes de elite e
não elite. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
Williams, A. & Reilly, T. (2000). Talent Identification and development in soccer.
Journal of Sports Sciences, 18, 657-667

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O Recrutamento de Jovens Atletas no Futebol

  • 1. O RECRUTAMENTO NO FUTEBOL Instituto Politécnico de Santarém Escola Superior de Desporto de Rio Maior Mestrado em Desporto Modalidade Desportiva I 1º Ano / 1º Semestre Mestrando: Mário Rocha Regente: Professor Doutor João Paulo Costa Fevereiro 2014
  • 2. Índice Introdução ………………………………………………………………………………………………………………3 Objetivos ………………………………………………………………………………………………………………. 4 O Talento ………………………………………………………………………………………………………………..6 Fatores Responsáveis pela Identificação, Seleção e Desenvolvimento de Talentos 8 As características do talento futebolístico ……………………………………………………………. 10 O Processo de Deteção, Identificação, Seleção e Desenvolvimento do Talento …… 11 O erro associado à Maturação ……………………………………………………………………………… 14 Um caso de sucesso …………………………………………………………………………………………….. 16 Implicações teóricas e práticas ……………………………………………………………………………. 18 Conclusão …………………………………………………………………………………………………………….. 21 Revisão Bibliográfica …………………………………………………………………………………………….. 22
  • 3. Introdução O Futebol pertence a um grupo de modalidades desportivas com características específicas e comuns, habitualmente designadas por jogos desportivos coletivos (JDC). Sem diminuir a importância das restantes características, são as relações de oposição entre os elementos das duas equipas em confronto e de cooperação entre os elementos da mesma equipa, ocorridas num contexto aleatório, que traduzem a essência do jogo de Futebol (Garganta, 2001, cit. por Pacheco, 2012). Apesar deste carácter coletivo da modalidade, existem atletas que se destacam de outros atletas por terem um desempenho acima da média, e que assim contribuem decisivamente para o global da sua equipa. Frequentemente é questionada com admiração a emergência do desempenho excecional de determinados atletas no desporto. O entendimento sobre esse desempenho excecional que não pode surgir do nada, nem do abstrato, tem originado uma curiosidade de investigadores e treinadores sobre qual seria o percurso necessário para se alcançar semelhante nível, e possivelmente, com isso, poder potenciar semelhantes proezas noutros indivíduos com maior regularidade (Silva, 2009). Quando estivermos perante atletas que detenham de uma capacidade que é excecional e que está acima do que é normal no desporto em questão, podemos classificar estes indivíduos como talentos. Segundo Garganta (2009) “um talento é alguém capaz de uma performance acima da média num dado domínio e em vários momentos.”. Um talento possui características que o demarcam de outros indivíduos não considerados talentos e que permitem, por vezes, predizer a sua potencial performance no futuro (Franks, Williams, Reilly, & Nevill, 1999, cit. por Moita, 2008). Segundo Jorge Castelo em 2004, uma das funções fundamentais do treinador no processo de formação de uma equipa de futebol, a curto e médio prazo, é de selecionar talentos e utilizá-los sempre que possível, independentemente de serem jovens e desconhecidos. Neste sentido, os Clubes para além de terem um setor de formação constituído por equipas de futebol de diferentes grupos etários (escolas, infantis, iniciados, juvenis, juniores) e treinadores especializados que dirigem a sua
  • 4. evolução desportiva, necessitam igualmente de uma rede de observadores para acompanhar os diferentes jogadores e jogos que se realizam ao longo do País (Castelo, 2004).
  • 5. Objetivos O objetivo deste trabalho está centrado naquilo que foi solicitado na unidade curricular “Modalidade Desportiva I”, que foi realizar uma revisão do estado da arte sobre a área específica que será alvo de intervenção quando realizarmos o nosso estágio, e quem sabe, o campo específico da nossa intervenção futura. O tema que mais me tem suscitado interesse, e que por isso foi o que abordei nesta proposta de revisão de literatura, é o recrutamento de jovens atletas pelos clubes. Neste momento não existe muita literatura convincente sobre este tema, e por isso tive algumas dificuldades em reunir alguma informação que eu considerasse pertinente, e que fosse proveitosa para uma intervenção prática futura. No entanto acho que apesar de ser pouca a informação disponível até ao momento, as novas tecnologias, aliadas a uma constante produção científica poderão ser determinantes para melhorias substanciais a curto prazo no conhecimento existente do recrutamento. Após a literatura consultada sobre esta área, foram alvo de revisão o talento (definição, fatores preditivos e caraterísticas) e as etapas de deteção, identificação, seleção e desenvolvimento do talento. Além disso aproveitei uma tese de mestrado (Moita, 2008), que dá umas “luzes” sobre como funciona o processo do recrutamento no Sporting Clube de Portugal. Por fim abordei um dos principais erros que normalmente os treinadores cometem, que tem a ver com a questão da Maturação. Depois de feita a revisão de literatura, fiz um transfer para o que vai ser a minha intervenção futura: expus um sistema de observação que criei noutra unidade curricular da licenciatura, e objetivei como poderá consistir uma intervenção futura nesta área.
  • 6. Estado da arte O Talento Ter talento reflete ter determinadas atitudes, diferenças individuais, habilidades, ou potencialidades que em última análise fazem parte da estratégia evolutiva da espécie humana. Se fôssemos semelhantes, cresceríamos e evoluiríamos para organismos cada vez mais especializados. Neste caso estaria posta em causa a adaptação a condições variáveis e a taxa de mudança cultural estaria comprometida passando a ser assim lenta e previsível. Ao contrário a diversidade será então a base da nossa capacidade criadora. Segundo Garganta (2009) “um talento é alguém capaz de uma performance acima da média num dado domínio e em vários momentos”. Um talento possui características que o demarcam de outros indivíduos não considerados talentos e que permitem, por vezes, predizer a sua potencial performance no futuro (Franks, Williams, Reilly, & Nevill, 1999, cit. por Moita, 2008). Garganta (2009) diz ainda que o talento está em constante desenvolvimento, e daí podemos apurar a necessidade e a existência de um processo com condições essenciais onde possa emergir. O jogador talentoso, segundo Jiménez Sánchez (2007, cit. por Pacheco) será o resultado de um conjunto complexo e dinâmico de experiências, prática deliberada, “coaching” (orientação), eficácia, êxito e desejo de excelência. Vários estudos têm permitido reforçar a importância da relação entre o tempo de prática acumulada numa atividade e o nível de desempenho conseguido pelos praticantes nessa actividade (Abernethy, 1994; Hodges & Starkes; 1996; Krampe & Ericsson, 1996; Helsen et al., 1998; Helsen & Starkes, 1999). Outros refutam a convicção de que a prática altamente estruturada é, por si só, suficiente para induzir desempenhos superiores (Scanlan et al., 1993; Burland & Davidson, 2002).
  • 7. Apesar disto existe uma parte hereditária que poderá ser muito importante, porém não será decisiva, para a formação do talento desportivo. O quadro que se segue diz respeito ao nível de hereditariedade das capacidades motoras. O desempenho é a parte visível do talento e depende da interação de vários constrangimentos (Garganta, 2009). O apoio parental, adequada condução do processo de treino, as influências culturais e o efeito da idade relativa, têm sido considerados determinantes para viabilizar o acesso à excelência desportiva (Burland & Davidson, 2002; Baker et al., 2003, cit. por Garganta, 2009). A natureza dá ao ser humano um potencial que uma prática assídua e relevante transforma em capacidade (Garganta, 2009). À medida que os cientistas examinam as carreiras dos seres humanos mais proficientes, menor parece ser o papel atribuído ao “talento inato” e mais significativo se revela o contributo da aprendizagem/treino (Garganta, 2009). Verifica-se em vários estudos uma tendência para selecionar e identificar como talentosos os jogadores nascidos nos primeiros meses do ano de distribuição das idades pelos diversos (Silva, 2009). Ao detetarmos esta tendência nas equipas jovens do Futebol português, podemos melhorar os processos de seleção e reduzir essa propensão que delimita o número de possíveis selecionados para desenvolverem o potencial talento, e em último caso diminui a qualidade global do futebol apresentado (Silva, 2009).
  • 8. Fatores Responsáveis pela Desenvolvimento de Talentos Identificação, Seleção e GO Tani (2002) apresenta a habilidade motora como um elemento diferenciador. A ação no desporto é entendida como um comportamento tático (Greco, 2007), uma espécie de ação inteligente que necessita de ser desenvolvida ou aprendida. Nesse processo, são muitos os fatores, das áreas cognitiva, afetiva e psicomotora do comportamento humano que influenciam o desenvolvimento, bem como fatores do indivíduo, do ambiente e da tarefa em si (Gallahue & Ozmun, 2005). As Habilidades técnicas No processo do treino dos jovens, o lado da inteligência e o da técnica devem ser privilegiados, como refere Mesquita (2007) a técnica e a tática devem estar situadas a um só tempo, ou seja, são duas faces da mesma moeda. A natureza aleatória e imprevisível do jogo exige a adoção de uma atitude tática constante. Tal exige, então, que os praticantes possuam uma adequada capacidade de decisão, que decorre duma ajustada leitura do jogo, para poderem materializar a ação através de recursos motores específicos, genericamente designados por técnica (Garganta, 2002). De acordo com Malina et al. (2004), um dos principais componentes envolvidos em atletas jovens num desporto específico é a habilidade técnica. Williams e Reilly (2000) também se referem a este componente, enfatizando que, na maioria dos desportos, futebol incluído, a especialização ou excelência pode ser alcançada através de diferentes combinações de habilidades, sub-habilidades, atributos e capacidades. No caso particular do futebol, a avaliação das competências técnicas adquire particular relevância, considerando que o futebol é um desporto que exige habilidades refinadas de condução, controlo e passe ou remate (Vaeyens et al. 2006).
  • 9. “A excelência desportiva requer, cada vez mais, uma perspetiva “inteira” dos processos de treino e competição e o entendimento mais ajustado parece ser o que amplia mais o raio de ação destes processos e não tanto o que os miniaturiza (Garganta, 2004) Desta forma, o caminho até à excelência desportiva decorre, portanto, de uma fusão complexa de habilidades, capacidades e competências, cuja feição emerge das capacidades do praticante e do modo como é realizada a aprendizagem e o treino (Ericsson, 2003). Sociais Demográ ficos/biol ógicos Psicológic os Talento Maturaçã o Biológica Tática Técnica Aptidão Física FATORES RESPONSÁVEIS PELA IDENTIFICAÇÃO, SELEÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE TALENTOS
  • 10. As características do talento futebolístico Para que o processo de identificação e recrutamento de talentos ocorra de forma organizada, é essencial que o clube em questão defina elementos chave para sabermos quais as características que podemos identificar nos jogadores (Franks et al., 1999, cit. por Moita, 2008). Segundo Garganta (1995, cit. por Pacheco, 2012), de uma forma geral, na deteção de talentos é fundamental estar atento a pressupostos que indiciem o talento de um jogador de futebol, que podem ser os seguintes:  Habilidade técnica em velocidade;  Disponibilidade tática;  Eficiência orgânica e muscular: agilidade, velocidade, reação rápida, rápidas mudanças de sentido e direção;  Valor moral elevado: auto-controlo, coragem, auto-confiança, combatividade, carácter. De uma forma mais concreta pode-se fazer referência ao Ajax, um clube em que essas características estão bem definidas e que funcionam como traços fundamentais de avaliação indispensáveis para criar o tal modelo de jogador do clube. É o chamado sistema TIPV: T simboliza técnica, aquilo que o jogador pode fazer com a bola; I é para inteligência, entendida aqui como cultura tática; P é para personalidade, um aspeto muito importante para os detetores de talento e formadores do Ajax; V significa velocidade, pois para jogar no Ajax é muito importante não só a velocidade simples, mas também é imperioso ter rapidez com a bola nos pés (Lobo, 2003, cit. por Moita, 2008). Estes critérios de seleção fazem com que os jogadores pertencentes ao Ajax possuam logo, aquando da sua entrada no clube, estas características: técnica elevada, inteligência, personalidade interessante e uma boa rapidez de execução (Kormelink & Seeverens, 1997, cit. por Moita, 2008), ficando mais facilitada a tarefa de desenvolvimento desses mesmos jogadores. O sucesso do modelo (TIPV) fez com que alguns clubes da Premier League Inglesa formulassem também modelos semelhantes, tais como TAEV (talento, atitude,
  • 11. equilíbrio e velocidade) e HIPV (habilidade, inteligência, personalidade e velocidade), emergindo como uma marca primordial na identificação de talentos (Stratton et al., 2004, cit. por 2008). Reconhecendo então que cada clube deverá uniformizar um modelo de jogador e partindo do pressuposto que o ideal será formar jogadores inteligentes que sejam facilmente adaptáveis a vários modelos de jogo, parece que esse objetivo será alcançado mais rapidamente, se os clubes tiverem preocupações em recrutar jogadores cada vez mais cedo e que já possuam características favoráveis para atingir esse modelo. O Processo de Deteção, Desenvolvimento do Talento Identificação, Seleção e A deteção de Talentos refere-se à descoberta de potenciais craques que atualmente não estão envolvidos no desporto em questão. Por causa da popularidade do futebol e do grande número de crianças que participam, a deteção de jogadores não é um grande problema, quando comparado com desportos minoritários. A Identificação de talentos refere-se ao processo de reconhecimento de atuais praticantes com potencial para se tornarem jogadores de elite. Implica prever o desempenho ao longo de vários períodos de tempo, medindo atributos físicos, fisiológicos, psicológicos e sociológicos, bem como habilidades técnicas, isoladamente ou em combinação (Regnier et al., 1993, cit. por Williams & Reilly, 2000). É feita uma tentativa de combinar uma variedade de características de desempenho, que podem ser de aprendizagem ou de formação inata. Uma questão-chave é saber se o indivíduo tem o potencial de beneficiar de um programa sistemático de suporte e treino. A Identificação de talentos foi vista como parte do desenvolvimento de talentos que pode ocorrer em várias etapas dentro do processo. O Desenvolvimento de talentos implica que os jogadores sejam fornecidos com um ambiente de aprendizagem adequado para que eles tenham a oportunidade
  • 12. de demonstrar todo o seu potencial. A área de desenvolvimento de talentos tem recebido considerável interesse nos últimos tempos, levando vários pesquisadores a sugerir que houve uma mudança de ênfase na deteção e identificação de talentos para orientação de talentos e desenvolvimento). Por fim, a seleção de talentos envolve o processo contínuo de identificação de jogadores, em várias etapas, que demonstram níveis de desempenho, tendo em conta os pré-requisitos para a inclusão numa determinada equipa ou dentro da equipa. A Seleção envolve a escolha do indivíduo ou grupo de indivíduos mais adequados para realizar a tarefa dentro de um contexto específico (Borms, 1996, cit. por Williams & Reilly). É particularmente pertinente no futebol, uma vez que apenas 11 jogadores podem ser selecionados para jogar a qualquer momento. A questão da deteção, seleção e promoção de talentos no desporto, de uma forma geral, tanto no aspeto conceitual teórico quanto no metodológico, é uma temática atual e amplamente discutida no mundo inteiro. Especificamente no caso do futebol, é um tema que tem gerado diversas discussões tanto a nível académico como a nível dos Clubes. Desta forma, Maia (1993, cit. por Pacheco, 2012), define “deteção de talentos”, como a possibilidade de efetuar um prognóstico a longo prazo de alguém que revela atributos e capacidades necessárias para fazer parte integrante de uma
  • 13. população de atletas de excelência desportiva. Para efetuar esta previsão é necessário a presença de um “talento”, embora Seabra et al. (2001, cit. por Pacheco, 2012) afirma que tal instrumento não existe, o que coloca sérios entraves não só à identificação do talento como ao próprio prognóstico. Os mesmos autores consideram a “seleção de talentos” a operação a partir da qual se efetua um prognóstico a curto prazo para o indivíduo situado num grupo de atletas. Este prognóstico baseia-se no postulado de que o indivíduo situado num grupo de atletas. Este prognóstico a curto prazo para o indivíduo situado num grupo de atletas. Este prognóstico baseia-se no postulado de que o indivíduo em causa possui atributos e capacidades necessárias para fazer parte integrante de uma população de atletas de excelência desportiva. Desta feita, constata-se que o grande objetivo da identificação de talentos é a de aumentar a probabilidade de selecionar jogadores de elite no futuro, em idades mais baixas (Franks et al., 1999, cit. por Moita, 2008). Segundo Stratton et al. (2004, cit. por Moita, 2008), a maioria dos clubes concorda que sem um processo de detecção, seleção e recrutamento de “talentos” até os treinadores mais experientes e talentosos terão dificuldades em preparar uma equipa para competir ao mais alto nível. Também Leal & Quinta (2001, cit. por Moita, 2008) acreditam que a criação de um departamento de seleção e deteção de talentos num clube é uma das premissas fundamentais na potenciação de todo o processo de formação. Hoje em dia, o processo de identificação e recrutamento de talentos, na maior parte dos clubes incide essencialmente em jovens com sete ou mais anos de idade (Stratton et al., 2004, cit. por Moita, 2008), o que nos leva a pensar que quanto mais cedo forem recrutados talentos com determinadas características, maior será o seu processo de evolução no clube. Nessa altura, a ênfase deve ser colocada na provisão de treinadores e treinos apropriados e, também, de estruturas de suporte, que possibilitarão aos jovens jogadores uma maior potenciação das suas qualidades (Stratton et al., 2004, cit. por Moita, 2008). Franks et al. (1999, cit. por Moita, 2008) é da mesma opinião e refere que identificar e recrutar um potencial jogador em idades mais baixas garante que esse jogador receba posteriormente no clube treino especializado, de forma a poder evoluir progressivamente e a potenciar ainda mais o seu talento.
  • 14. A partir de uma perspetiva científica, a busca da excelência pode ser dividido em quatro fases fundamentais (Russell, 1989; Borms, 1996). Estes podem ser distinguidos como “deteção”, “seleção”, ”identificação” e “desenvolvimento”. O erro associado à Maturação Não raramente, os observadores apercebem-se, não de habilidades específicas do Futebol, mas de algo relacionado com vantagem maturacional. (Garganta, 2009). Atualmente é crescente o número de estudos que visam identificar e analisar parâmetros morfológicos e físicos de crianças e adolescentes inseridos em treinos sistemáticos nas mais variadas modalidades desportivas (Davis, Barnette, Kiger, Mirasola & Young, 2004, cit. por Mortatti et al., 2013). O conhecimento do perfil relacionado a essas variáveis e dos seus respetivos comportamentos e respostas ao processo de treino é fundamental para o contexto da especialização desportiva. Esse conhecimento juntamente com a utilidade e fidedignidade desses parâmetros podem auxiliar pesquisadores, técnicos e preparadores físicos nos processos de deteção, seleção e promoção do talento desportivo. Além disso, também poderiam ser utilizados para orientar o próprio processo de treino, aumentando a eficácia relativa da aptidão física, sobretudo nas variáveis que podem determinar o sucesso no desporto (Davis et al., 2004, cit. por Mortatti, 2013) No futebol, a tendência de orientação do processo de escolha dos jovens jogadores é, atualmente, selecionar atletas de maior estatura e peso corporal, tendo, portanto, o “tamanho corporal” um papel central (Gil, Gil J., Ruiz, Irazusta A. & Irazusta J., 2010, cit. por Mortatti, 2013). No entanto, essa orientação relativa ao “tamanho corporal” no processo de deteção e promoção do talento, na maioria das vezes, está baseada somente nos valores absolutos das variáveis morfológicas e físicas, negligenciando o status do desenvolvimento biológico dos avaliados (Mortatti et al., 2013).
  • 15. Dessa forma, indivíduos que se encontram num nível maturacional tardio são comparados aos seus pares de desenvolvimento mais precoce numa mesma faixa etária, fazendo com que, muitas vezes, haja uma avaliação enviesada no processo que, por sua vez, poderia não ser a mais apropriada e efetiva (Mortatti et al., 2013). Nesse sentido, para além da análise pontual do tamanho corporal, assumindo-se a importância dessa variável na orientação da seleção, promoção e desenvolvimento de talentos, há a necessidade de se identificar o processo de desenvolvimento biológico com o objetivo de relativizar os valores das variáveis morfofuncionais pelo nível maturacional do avaliado (Malina, Bouchard, & Bar-Or, 2004). A identificação do nível maturacional, por sua vez, pode ser realizada por vários métodos tais como a maturação óssea, maturação dental, maturação das características sexuais secundárias e maturação somática (Malina et al., 2004). Dentre desses possíveis métodos, a avaliação das características sexuais secundárias, proposta por Tanner (1962, cit. por Mortatti et al., 2013), é bastante difundida no meio desportivo, porém os procedimentos para tal avaliação podem gerar algum tipo de constrangimento entre os avaliados. Além disso, a auto avaliação pode ser influenciada pela análise subjetiva do avaliador, limitando, na prática, a utilização e a confiabilidade do método (Malina et al., 2004) De acordo com Seabra et al. (2001, cit. por Pacheco, 2012), a performance motora das crianças e dos jovens está significativamente relacionada com o seu estatuto maturacional. Parece evidente que crianças e jovens com a mesma idade cronológica variam consideravelmente no seu estado de maturação biológica, exercendo esta alguma influência no processo de crescimento e no desempenho motor (Malina et al., 2004). Tais variações também parecem ter influência no que diz respeito às oportunidades de sucesso no futebol competitivo (Vaeyens et al., 2005, cit. por Pacheco, 2012). Muitos jovens futebolistas são excluídos com o aumento da idade e da especialização desportiva ou seja quando as características físicas e técnicas específicas de uma modalidade desportiva são aperfeiçoadas e quando se atinge a fase final da maturação física (Chibane et al., 2009, cit. por Pacheco 2012). Este fato muitas vezes verifica-se porque a tendência nos escalões mais baixos é selecionar futebolistas maturacionalmente avançados, mas que no futuro essa característica não será suficiente para eles terem uma competência elevada no jogo.
  • 16. Um Caso de Sucesso Miguel Moita realizou um estudo em 2008 junto da Academia de Futebol do Sporting Clube de Portugal (Monografia de Licenciatura em Alto Rendimento, na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto). Neste estudo realizou entrevistas junto dos responsáveis pelo Recrutamento do clube, o que nos pode elucidar sobre como é que funciona a identificação e seleção de talentos de um dos casos de maior sucesso a nível Internacional. Segundo Moita (2008) as características identificadas como fundamentais para que um jovem atleta entre na formação do Sporting estão em total sintonia com aquilo que é o modelo de jogador pretendido pelo clube. Para além disso, existe também a preocupação de realizar o processo de deteção, seleção e recrutamento cada vez mais cedo e em idades em que os atletas tenham grande margem de progressão. Jean Paul refere que “a partir dos sub-16 e sub-17, se não são jogadores em relação aos quais nós prespetivemos possibilidades de integração no futebol sénior, não se justifica nós contratarmos. Isto significa que eles têm que ser melhores do que os que já temos e preencherem também outro requisito, que é vermos neles a capacidade de integrarem a nossa Equipa A.” (Moita, 2008). Aurélio Pereira, citado por Moita em 2008, refere que os indicadores a serem levados em conta no recrutamento de jovens talentos para o SCP são uma habilidade com a bola acima da média, depois a velocidade e por fim o aspeto mental que, apesar de não se conseguir ver numa primeira observação, é o que posteriormente faz a diferença entre os tais jogadores que têm habilidade natural e outras qualidades. O mesmo Aurélio Pereira, em relação à importância da personalidade, relata-nos o caso de Cristiano Ronaldo: “quando veio aqui treinar à experiência com doze anos (…), depois de observá-lo em campo e realmente ver que tinha qualidades, foi a sua qualidade mental que mais me impressionou e que me levou a escrever o que escrevi na altura (…), pois no segundo dia já conseguia atrair as atenções por parte dos colegas. E a título de exemplo, num treino que realizou com jogadores um ano superiores, a certa altura estava para receber uma bola de costas na área e foi alvo de uma marcação muito apertada, então ele voltou-se para trás e de repente disse “Oh
  • 17. miúdo, tem calma!!!”. E isto para mim, funcionou como um “click” para dar o aval à sua contratação.” (Moita, 2008).
  • 18. Implicações Teóricas e Práticas Sistema de Observação de Talentos Na unidade curricular de “Observação e Análise da Técnica Desportiva”, da Licenciatura em Treino Desportivo, juntamente com os meus colegas de grupo, criei um instrumento de observação que consistia em tirar dados quantitativos no momento da análise do vídeo, para posterior avaliação. O nosso primeiro objetivo seria considerar as variáveis técnica, física, psicológica e tática, mas não foi possível, e apenas consideramos a variável técnica. Isto deveu-se ao facto de não haver literatura que nos apoiasse, pelo motivo de serem variáveis bastante subjetivas. No entanto o meu objetivo é desenvolver este instrumento, uma vez que este só se encontra numa fase muito inicial. Para isso quero desenvolver competências, e arranjar estratégias que me possibilitem observar e avaliar com rigor os aspetos ligados à inteligência do jogo e à capacidade mental do atleta. Juntamente a isto posso acrescentar a avaliação das capacidades físicas no jogo, mas neste caso, não o consegui anteriormente, não por serem capacidades pouco objetivas (antes pelo contrário), mas porque serão precisas novas tecnologias que possibilitem a avaliação das destas capacidades motoras. A tecnologia, na minha opinião, também deverá ser fulcral para avaliar a variante psicológica e tática. Através de tecnologia de ponto, mais propriamente, câmaras que permitam apanhar ao mesmo tempo, um plano do jogador de perto, para avaliar pormenores técnicos e detalhes de nível psicológico, mas também visto de um plano global, para observar o comportamento tático, mais direcionado para a tomada de decisão dentro de um ponto de vista coletivo. Em relação ainda ao instrumento que realizei, optei por fazer uma classificação de cada comportamento técnico, em que o classificava de 0 a 6, tendo em conta as componentes críticas associadas a cada gesto. Por exemplo, na receção, as componentes críticas eram: Deslocação para a bola; Decisão rápida do tipo de receção; não deixar “morrer” a bola; Confiança na receção da bola; Pé de receção desloca-se ao encontro da bola; e perna de apoio ligeiramente fletida. Se observadas estas 6 componentes críticas estaríamos perante uma receção de bola com avaliação “6”
  • 19. (Muito Bom). No final o objetivo era fazer uma média de todas as avaliações de receções durante um jogo ou mais do que um jogo, e dar uma avaliação do atributo “receção”, e o mesmo se faria perante os outros gestos técnicos, o que possibilitaria no final de tudo isto obter uma avaliação da técnica precisa e rigorosa. Com isto penso que já tenho a variável técnica, com um pouco mais de aperfeiçoamento, bem encaminhada. A isto resta obter a tecnologia necessária, pensando que será este o melhor caminho, para aliar os outros atributos (inteligência, psicológico e físico). Na minha opinião poderá ser esta a base para construir um instrumento sólido, que permita avaliar rigorosa e criteriosamente, se estamos perante um atleta que pode interessar ou não, tendo em conta aquilo que o clube pretende, com o modelo de jogador e o modelo de jogo a servir de pressupostos para a decisão final. É importante também não esquecer a variável maturacional, que poderá influenciar todas as outras variáveis, principalmente a variável física. Segundo os autores consultados este é o principal erro cometido por treinadores ou responsáveis pelo recrutamento. O que acontece é que os atletas que estão mais avançados maturacionalmente são sempre mais escolhidos que os outros, e estes não são necessariamente os que irão singrar no futuro (Malina et al., 2004). Por isso é importante considerar esta variável no instrumento para não haver erros na deteção do talento. Transfer para a Intervenção Prática Em relação à minha intervenção no estágio, poderei ser importante nesta área do recrutamento, principalmente se estiver num contexto em que o clube tenha possibilidade real de recrutar jogadores. Sinceramente, penso que seria uma mais-valia nesta área, uma vez que tenho conhecimento do modo como funciona nos clubes de topo a nível nacional, e tenho consciência do que poderia ser melhorado nesses contextos, e o principal alvo de melhoria é sem dúvida o rigor científico. É fundamental criar um instrumento fidedigno e objetivo que permita identificar e selecionar o talento no futebol jovem. Tenho noção que com algum apoio de tecnologia de ponta
  • 20. poderia criar um instrumento muito poderoso para servir de base para todo o recrutamento do clube. Se não houver possibilidade deste apoio de alguma tecnologia, construo um instrumento também válido, que permita ser de utilidade para o clube. Se não houver esta possibilidade de intervir nesta área, porque muitas das vezes o recrutamento já está instituído no clube de uma forma fechada, e por isso a intervenção seria reduzida, o futebol de formação seria para mim uma alternativa que me agrada bastante, e onde eu poderia intervir de uma forma igualmente proveitosa para o clube, tendo em conta as minhas competências e experiência no envolvimento com o treino de jovens atletas.
  • 21. Conclusão Depois da revisão de literatura que foi consultada para conhecer as tendências atuais do processo de identificação, deteção e seleção de talentos, obtive um conhecimento razoável do que é que se está a fazer nesta área, da forma como os clubes estão organizados no recrutamento e como é que se poderá intervir de forma a melhorar um campo que ainda está pouco desenvolvido até à data. Depois de revistas as tendências atuais do recrutamento, pude ter uma noção clara que ainda não existe um instrumento científico e rigoroso para ser utilizado neste processo. Isto leva os treinadores, observadores técnicos, ou outros responsáveis pelo recrutamento a enveredar por observações, que o senso comum normalmente caracteriza de observações a “olho nu”, o que provoca muitos erros aquando da deteção, depois na identificação e também na seleção dos melhores atletas. Partindo do pressuposto que estas são as principais fases do processo de escolha dos atletas podemos dizer que os erros começam logo quando se fazem num momento inicial as captações, até à escolha num momento final da equipa que vai jogar num clube de topo a nível nacional. O que isto quer dizer é que o talento muitas das vezes pode estar escondido num clube de bairro, em que os observadores observam de forma muito pouco rigorosa, e que por isso nunca vai chegar a passar por estas fases até chegar a um contexto em que as suas capacidades poderiam ser desenvolvidas de uma forma muito superior. O nível de maturação é um dos erros que se cometem com maior regularidade. É muito comum um atleta estar muito mais desenvolvido maturacionalmente que outros jogadores. Este atleta vai dar muito mais nas vistas a estes observadores que observam a “olho nu”, e outros atletas que no futuro irão desenvolver capacidades que permitem resultados superiores, serão preteridos por estes jovens que estão numa fase maturacional mais avançada. Penso que no futuro, se intervir na área do recrutamento irei estar especialmente atento a este aspeto, que acho de extrema importância, e que tem sido um pouco posto de lado pelos treinadores.
  • 22. Revisão Bibliográfica Castelo, J. (2004). Futebol, Organização Dinâmica do Jogo. Edições FMH. Garganta, J. (2009). Identificação, Seleção e Promoção de Talentos nos Jogos Desportivos: Factos, mitos e equívocos. Atas do II Congresso Internacional de Deportes de Equipo. Universidad de A Coruña. Malina, R., Eisenmann, J., Cumming, S., Ribeiro, B., Aroso J. (2004). Maturity-associated variation in the growth and functional capacities of youth football players 13-15 years. Eur J Appl Physiol. 91(5-6):555-62. Moita, M. (2008). Um percurso de sucesso na formação de jogadores em Futebol. Estudo realizado no Sporting Clube de Portugal – Academia Sporting/Puma. Dissertação de licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Mortatti, A., Honorato, R., Moreira, A., & Arruda, M. (2013). O uso da maturação somática na identificação morfofuncional em jovens jogadores de futebol. Revista Andaluza de Medicina del Deporte. 6(3): 108-114. Pacheco, A. (2012). Indicadores Morfológicos, Funcionais e Técnicos na Identificação de Jovens Talentos no Futebol. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Silva, C. (2009). Tempo-oportunidade para a prática e o efeito da idade relativa na seleção de jovens no futebol português – Estudo comparativo entre clubes de elite e não elite. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Williams, A. & Reilly, T. (2000). Talent Identification and development in soccer. Journal of Sports Sciences, 18, 657-667