1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rodrigo Cazarotto Mateus
Repercussões psicossomáticas da hipnose em pessoas com
diabetes mellitus tipo 2
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
SÃO PAULO
2008
2. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rodrigo Cazarotto Mateus
Repercussões psicossomáticas da hipnose em pessoas com
diabetes mellitus tipo 2
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Dissertação apresentada à
Banca Examinadora como
exigência parcial para obtenção
do titulo de MESTRE em
Psicologia Clínica, no Núcleo de
Psicossomática e Psicologia
Hospitalar, sob orientação da
Profa. Dra. Mathilde Neder.
SÃO PAULO
2008
4. DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, José e Edwirges,
que com todo suporte, educação e afeto, permitiram tornar-me
o homem que sou hoje. Também às minhas queridas irmãs,
Camila e Daniela, por estarem comigo durante longos anos; e
à minha querida companheira, Carolina, a mulher com quem
escolhi trilhar esta longa jornada chamada vida.
5. AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos, que de alguma maneira, queimaram neurônios me
ajudando na confecção desta dissertação.
À minha orientadora, Profa. Dra. Mathilde Neder, pela atenção e cuidado
despendidos para me ajudar nesta empreitada.
Ao Prof. Dr. Esdras Guerreiro Vasconcellos, meu segundo orientador,
que com apoio e paciência me acolheu em seu grupo.
Ao Prof. Dr. Maurício da Silva Neubern, por ter gentilmente aceitado
participar da banca de defesa e dar significativas contribuições para a
realização deste trabalho.
À Profa. Dra. Céres Alves de Araújo, por me receber em suas aulas de
maneira gentil e dedicada.
Às Professoras do Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar:
Profa. Dra. Marlise Aparecida Bassani, Profa. Dra. Edna Kahalle e Profa. Dra.
Denise Gimenes Ramos, pelos ensinamentos recebidos.
Ao Dr. Régis Cavini Ferreira, pelas orientações dadas a respeito do
diabetes.
Ao Dr. José Roberto Leite, pelas importantes contribuições durante a
fase de qualificação.
Às amigas Flávia Amaro e Maria Aparecida Mello, pela companhia,
ajuda e complacência durante os anos iniciais do mestrado.
Ao amigo Ricardo dos Santos, pelas correções e orientações
acadêmicas.
Aos amigos Bayard Velloso Galvão e João Humberto Vanin por
introduzir-me ao vasto mundo do Dr. Milton H. Erickson.
6. RESUMO
MATEUS, RODRIGO CAZAROTTO. Repercussões psicossomáticas da
hipnose em pessoas com diabetes mellitus tipo II. São Paulo, 2008, pp.
168. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Psicologia
Clinica, Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar da PUC-SP.
Esta pesquisa é o resultado da dissertação de mestrado em Psicologia Clínica
do Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar da PUC-SP. A pesquisa
teve como objetivo verificar se existe alteração no nível de glicemia e na
sensação de bem estar em pessoas com Diabetes Mellitus tipo II após
vivenciarem situações agradáveis através da hipnose Ericksoniana, bem como
analisar os resultados encontrados nessa investigação. Dez sujeitos
compuseram o grupo intervenção e oito sujeitos compuseram o grupo controle.
Com suporte teórico obtido na revisão de literatura, procedeu-se à aplicação
dos seguintes instrumentos: questionário sócio-demográfico; entrevista
semidirigida sobre situações agradáveis; escala de cores VAS; medida do nível
de glicemia e entrevista semi-dirigida sobre intervenção. Os resultados foram
separados em cinco variáveis: dados sócio-demográficos; vivências
agradáveis; nível de glicemia; sensações de bem estar e impressões sobre
intervenção. Foi concluído que a hipnose ajudou na diminuição do nível de
glicemia dos pacientes após a última sessão, com uma média de redução
percentual de 13,20%, e todos os sujeitos da amostra indicarem sentir melhora
na sensação de bem estar após a intervenção.
Palavra Chave: Hipnose Ericksoniana; Psicossomática; Diabetes Mellitus tipo
II; Situações Agradáveis.
7. ABSTRACT
MATEUS, RODRIGO CAZAROTTO. Psychosomatics Repercussions of
Hypnosis in people with Diabetes Mellitus type II. São Paulo, 2008, pp. 168.
Dissertation (Master Degree), Postgraduate Program in Clinic Psychology,
Hospital Psychology and Psychosomatic Nucleus at PUC-SP.
This research is the result of the Master dissertation in Clinic Psychology at
Hospital Psychology and Psychosomatic Nucleus from PUC-SP. The research
aimed to check alteration on the glycemia level and on well-being sensation in
people with Diabetes Mellitus type II after experiencing pleasure situations
through the ericksonian hypnosis, as well as analyze the outcomes of the
investigation. Ten subjects compounded the intervention group and eight
subjects compounded the control group. Based on the literature revision, there
were employed the following tools: socio-demographic questionnaire; semi-
guided interview about pleasure situation; VAS – Visual Analog Scale; glycemia
level measurement and semi-guided interview about the intervention. The
results were divided in five categories: socio-demographic data, pleasure
experiences, glycemia level, well-being sensations and intervention
perceptions. It was concluded that hypnosis helped decrease patients’ glycemia
level after the last session, with a percentage reducing average of 13.20%, and
the statement of every subject pointing out the improvement on the sensation of
well-being after the intervention.
Key Words: Ericksonian Hypnosis; Psychosomatic; Diabetes Mellitus type II;
Pleasure Situations.
8. SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................5
2. OBJETIVO.....................................................................................................10
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.........................................................................11
3.1. Hipnose ..........................................................................................12
3.1.1. História da hipnose..........................................................12
3.1.2. Definição............................................................................16
3.1.3. Aplicações da hipnose.....................................................19
3.1.4. Abordagens.......................................................................20
3.1.5. Fisiologia do estado hipnótico........................................23
3.1.6. Formas de indução...........................................................24
3.1.7. Hipnose e efeitos orgânicos............................................26
3.2. Diabetes Mellitus............................................................................28
3.2.1. Pâncreas............................................................................28
3.2.2. Insulina..............................................................................29
3.2.3. Tipos de Diabetes.............................................................31
3.2.4. Etiologia.............................................................................32
3.2.5. Tratamentos......................................................................33
3.3. Saúde e Bem Estar.........................................................................36
4. MÉTODO.......................................................................................................41
4.1. Características do Estudo.............................................................41
4.2. Sujeitos...........................................................................................41
4.3. Instrumentos e Materiais...............................................................42
9. 4.4. Coleta de Dados ............................................................................43
4.5. Procedimentos...............................................................................44
4.5.1. Seleção da Amostra.........................................................44
4.5.2. Duração e Seqüência de Aplicação dos Instrumentos.44
4.5.3 - Tratamento dos Dados....................................................48
4.6. Cuidados Éticos.............................................................................49
5. RESULTADOS..............................................................................................51
5.1. Dados sócio-demográficos...........................................................53
5.2. Vivências agradáveis.....................................................................85
5.3. Níveis de Glicemia..........................................................................95
5.4. Sensação de Bem Estar ..............................................................106
5.5. Impressões sobre a intervenção................................................112
6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................................130
7. CONCLUSÃO..............................................................................................146
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................149
9. ANEXOS......................................................................................................158
11.1 ANEXO 1.......................................................................................159
11.2 ANEXO 2.......................................................................................161
11.3 ANEXO 3.......................................................................................162
11.4 ANEXO 4.......................................................................................163
11.5 ANEXO 5.......................................................................................164
11.6 ANEXO 6. .....................................................................................165
11.7 ANEXO 7. .....................................................................................167
11.8 ANEXO 8.......................................................................................168
4
10. 1. INTRODUÇÃO
“.se você sonhar que está sendo preso, seu
coração aumentara os batimentos como se isso estivesse
acontecendo de verdade. Para o seu cérebro e para o
seu coração, é verdade...”
Hebert Benson
O termo psicossomática remete hoje a uma visão ampliada e global do
ser humano, uma totalidade compreendida em todas suas dimensões, sejam
elas físicas, químicas, biológicas, sociais, emocionais ou espirituais
(VASCONCELLOS, 2000). No passado, algumas doenças (hipertensão arterial,
retrocolite ulcerativa, úlcera gastroduodenal, asma brônquica, eczema e
psoríase, hipertireoidismo, artrite reumatóide, etc.) foram chamadas de
“doenças psicossomáticas”, tentando-se traçar perfis de personalidade
específicos para cada um desses grupos de pacientes. Essa concepção foi
progressivamente se mostrando inconsistente. (MELLO, 1992).
Segundo Mello (1992), a psicossomática é uma atitude integral que
concebe o ser humano como ser biopsicossocial e não propriamente como um
ramo da psiquiatria. Compreende uma ideologia sobre a saúde (com suas
práticas e suas doenças), um campo de pesquisas sobre esses fatos e, ao
mesmo tempo, uma prática. Hoje a psicossomática estaria ligada à visão
ideológica desse movimento e às pesquisas acerca dessas idéias, sobre a
relação corpo-mente e sobre os mecanismos de produção de enfermidades. É
interessante pontuar que historicamente o termo foi evoluindo, mas desde
tempos remotos o ser humano vislumbra uma intrínseca relação entre mente-
corpo.
5
11. Existem várias intervenções tidas como psicossomáticas que mostram
essa ínfima relação da condição mente-corpo. Uma dessas intervenções é a
Hipnose, apresentada nesta pesquisa por integrar o trabalho clínico
desenvolvido por este autor, enquanto instrumento de intervenção, a saber, a
Hipnose Ericksoniana.
Atualmente, a hipnose é um tema muito estudado em diversos campos
da área da saúde. Ciências como Medicina, Odontologia, Psicologia,
Fisioterapia, entre tantas outras, dedicam-se em certa medida ao estudo de tal
tema. Oficialmente, no Brasil, apenas os conselhos de Medicina, Odontologia e
Psicologia reconhecem, legal e cientificamente, a prática da hipnose. Seu
estudo tem crescido de modo considerável e sua aplicação clínica tomou
grande impulso, principalmente no campo das psicoterapias e no terreno da
psicossomática (FERREIRA, 2006).
Baseado na observação da prática clínica, o autor do presente
trabalho pode notar interações interessantes entre vivências emocionais
proporcionadas através da hipnose e alterações orgânicas.
Como os estudos sobre memória (BENSON, 1996) mostram que se
lembrar de forma intensa de algo já vivido gera alterações orgânicas
semelhantes ou até mesmo iguais ao momento em que o evento lembrado foi
registrado, pretendeu-se, neste trabalho, propiciar aos sujeitos da pesquisa
vivências de situações agradáveis através da hipnose (lembranças
intensificadas) para averiguar:
- possíveis alterações orgânicas que possam ser consideradas
significativas;
- se essa alteração propicia mais saúde ao paciente;
6
12. - se também existem mudanças subjetivas após a experiência;
- qual a qualidade dessas mudanças.
Cabe ressaltar que são variáveis quantitativas e qualitativas que,
conforme indica Neder (1993), obrigam o pesquisador a trabalhar dentro de
uma postura rígida e controlada em relação aos dados quantitativos sem, no
entanto, deixar de trabalhar e respeitar os fenômenos individuais nas suas
especificidades em relação aos dados qualitativos.
Para estudar tais dinâmicas, torna-se necessário limitar o campo de
pesquisa, por isso procurou-se verificar, neste trabalho, os efeitos da hipnose
sobre pessoas com Diabetes Mellitus (DM) tipo 2, conforme pontos detalhados
nos parágrafos a seguir.
O Diabetes é uma enfermidade que reconhecidamente acomete o
mundo de forma assombrosa. Vários autores, assim como a própria
Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial, declaram que o
Diabetes Mellitus constitui atualmente reconhecido problema de Saúde Pública
em vários países do mundo, considerado uma enfermidade de prevalência
crescente que freqüentemente gera complicações de caráter invalidante,
contribuindo para um problema de saúde sério e para uma pesada carga
socioeconômica (BARCELÓ e RAJPATHAK, 2001). A OMS também estima
que para 2025 haja mais de 300 milhões de habitantes com diabetes em todo o
globo. O número de mortes diretas pela doença ainda não é estimado, mas
calcula-se que por ano morram mais de 9% do total de diabéticos. Altamirano
(2001) também corrobora com esses dados, afirmando que as mulheres entre
45 e 64 anos incorrem numa maior incidência da doença. Alega que tal
7
13. enfermidade é um problema globalizado, pois atinge todas as populações
mundiais, independente de poder econômico, cultura ou etnia.
Para o continente Americano, estima-se que em 2025 a população de
pessoas com Diabetes Mellitus será de aproximadamente 64 milhões e que 40
milhões delas estariam em países Caribenhos e Latino Americanos (BARCELÓ
e RAJPATHAK, 2001). Já no Brasil, segundo Andrade (1998), de toda a
população de diabéticos (aproximadamente 7% da população) 90% são
portadores do diabetes mellitus tipo II, que ocorre principalmente em adultos,
contra 10% do tipo I, predominante em jovens.
Além do alto índice de ocorrência da doença, tanto em nível global,
como no próprio Brasil, existem diversas comorbidades resultantes e
associadas à enfermidade, como obesidade, distúrbios psiquiátricos,
problemas cardiovasculares, distúrbios alimentares, entre outras enfermidades
de menor ocorrência, mas que podem levar o indivíduo ao óbito. Para se ter
uma idéia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia estimado que em
2000 as complicações crônicas do DM estariam entre as principais causas de
morte prematura em todo o mundo, sendo que, na maioria das vezes, estas
causas seriam evitáveis (GOLDENBERG et al., 2003).
Baseado nas informações ora apresentadas, diversas justificativas se
fazem presentes como argumento de incentivo para a realização desta
pesquisa. Um primeiro ponto de destaque refere-se à intenção da pesquisa,
que busca, de alguma maneira, relacionar aspectos da psique com aspectos do
soma, ou seja, busca trabalhar com o conceito de psicossomática tão
defendida pelo núcleo de pesquisa que apóia este trabalho.
8
14. Um segundo ponto de destaque seria o foco na utilização do instrumento
hipnose, que é pouco pesquisado em nosso país, apesar de ser reconhecido
cientificamente como válido pelos conselhos de Psicologia, Medicina e
Odontologia.
Um terceiro ponto a se destacar seria a relevância em relação à doença,
considerada pela OMS como de ocorrência grave e alarmante. Pesquisas
sobre Diabetes Mellitus Tipo 2 poderiam agregar conteúdo tanto para
comunidade científica como para a sociedade. As pesquisas já realizadas
sobre esse tema enfocam em grande parte estratégias de diagnóstico e
prevenção da doença. Em menor escala são pesquisas relacionadas à
intervenção terapêutica, principalmente aquelas que incentivam intervenções
não medicamentosas, o que se constituiu em fator de motivação pessoal para o
desenvolvimento desta pesquisa.
Um último fator, não menos importante, diz respeito ao interesse
pessoal deste pesquisador, que possui afinidade com o tema diabetes assim
como com o tema hipnose. Nesse sentido, contribuições diversas poderiam
ocorrer em níveis distintos com a realização da pesquisa: da contribuição
científica, passando pelas contribuições social, acadêmica e até mesmo
pessoal.
9
15. 2. OBJETIVO
Verificar se existe alteração no nível de glicemia e na sensação de bem
estar em pessoas com Diabetes Mellitus tipo II após vivenciarem situações
agradáveis através da hipnose Ericksoniana.
10
16. 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As pesquisas relacionadas à hipnose começam a ganhar corpo em
outros países a partir da década de 70, enquanto no Brasil, o interesse por tal
temática já é mais recente como se pode notar por meio de levantamento em
bases de dados como pubmed, sciencidirect, scielo e bireme. O trabalho
desenvolvido dentro dessa temática acaba se concentrando muitas vezes na
mão de poucos pesquisadores. Como ainda é um tema recente na área
científica, muitas vezes, sofre controvérsias quanto ao seu entendimento, seja
como definição, classificação ou até mesmo nos possíveis usos. É interessante
notar que historicamente o termo foi evoluindo, mas ainda há muita confusão
nessa área.
Edelweiss (1994) afirma que a hipnose adquiriu fama de estar
supostamente superada e de se constituir em fenômeno pouco sério e banal,
cuja insignificância não valia a perda de tempo para quem se enveredasse por
estudá-la. Vários fatores consonantes foram e ainda são responsáveis por
desestimular as pesquisas científicas que tenham a hipnose como objeto de
estudo. Segundo o mesmo autor, idéias conturbadas e estigmatizadas sobre
seus fenômenos são reflexos de uma trajetória histórica em que a falta de
clareza sobre sua real natureza se constituiu em ameaça para a ordem
científica, política e moral da sociedade. Nesse sentido, é natural que o estudo
sobre a hipnose tenha caído sob um desprestígio e desinteresse comum
(EDELWEISS, 1994).
11
17. Por esse motivo, antes de definir o termo hipnose torna-se necessário
contextualizar o termo historicamente para desfazer quaisquer confusões que
porventura possam estar associadas ao emprego do termo.
3.1. Hipnose
3.1.1. História da hipnose
Segundo Galvão (2003), a hipnose e a utilização de estados hipnóticos
estiveram presentes em toda história da humanidade. Ao longo de seu
desenvolvimento pode-se perceber três momentos distintos de seu uso e
aplicações:
a) Hipnose utilizada pelos povos e civilizações antigas: há mais de 4 mil anos,
no Egito, Grécia, China, África, ente outros lugares, já se tem registro do uso
da hipnose dentro de contextos religiosos, assim como medida terapêutica,
indicando sucesso em casos como paralisia, epilepsia, cegueira, etc. (CORTEZ
e OLIVEIRA, 2003; ROQUE e VILLANUEVA, 2001). Sociedades primitivas já
usavam os sons repetitivos do ritmo dos tambores e as danças ritualísticas das
tribos para induzirem um estado de transe semelhante ao da hipnose, a
exemplo do Xamanismo (ERICKSON, HERSHMAN E SECTER, 1998; ELIADE,
1998). Nesse período, também se localiza a Idade Média, pois a hipnose era
usada com os mesmos propósitos que nas civilizações citadas, principalmente
associada a rituais mágicos, cantos e orações (GALVÃO, 2003).
b) Hipnose no período de experimentação científica – Séc. XVIII e XIX: é o
chamado período científico da hipnose, pois nesse momento vários
pesquisadores começaram a testar a eficácia de tal instrumento. A maioria dos
profissionais que usavam e pesquisavam o fenômeno eram médicos, que
12
18. utilizaram a hipnose durante todo século XVIII e praticamente todo século XIX
como procedimento para aliviar a sensação de tato e de dor, visto que os
químicos analgésicos e anestésicos como clorofórmio vieram a ser
desenvolvidos somente após a primeira metade do século XIX (GALVÃO,
2003). Como citam Roque e Villanueva (2001), os principais destaques dessa
época são Franz Anton Mesmer, Marquês de Puységur, James Braid, James
Esdaille, Charcot, Berheim, Coué, Freud e Pavlov. Mesmer foi um médico
alemão do século XVIII que acreditava na existência de um “magnetismo
humano”, de um “fluido magnético” capaz de influir sobre o ser humano,
realizando várias cirurgias e anestesias sobre o chamado “sono mesmérico”,
desenvolvendo-se a partir daí a expressão Mesmerismo. Induzia tal estado
através de movimentos realizados com as mãos associados à sua fala. Teve
como um de seus alunos o Marquês de Puységur, que ajudou a divulgar o
pensamento de Mésmer. O médico britânico James Braid (1795-1859),
assistindo a uma cirurgia efetuada por Mesmer com anestesia geral provocada
pelo uso da hipnose, passou a estudar o processo vindo a reformular a teoria
de Mesmer. Braid definiu, inicialmente, o estado hipnótico como um estado
particular de “sono do sistema nervoso”, sendo citado erroneamente por muitos
autores como responsável por cunhar o termo hipnose. Méheust (1999) cita
que o termo na verdade surgiu por Henin de Cuvillers em 1823, que era
contrário à idéia de um fluido magnético de Mésmer, daí Henin de Cuvillers
referiu-se a "hipnose", como algo semelhante ao sono, um estado psíquico em
alusão ao termo grego Hypnus que simbolizava o Deus do sono na Mitologia
Grega. Segundo Méheust (1999) esse termo seria ainda mais antigo (1820),
mas não cita quem seria seu autor. De qualquer forma, ele só ganhou
13
19. notoriedade com Braid, pois este o associou ao sistema nervoso e não a um
fluido ou a alguma noção psicológica. Isso lhe permitiu maior aceitação no meio
científico, até porque as idéias sobre algo psíquico ainda se encontravam
difusas entre vários autores que perambulavam entre medicina e filosofia.
Dessa forma, o termo hipnose ficou erroneamente associado à idéia de sono.
Logo depois de haver cunhado este termo, James Braid se arrependeu, pois
percebeu que cientificamente a hipnose não poderia ser comparada ao sono,
sendo um estado justamente oposto ao sono, de intensa atividade psíquica e
mental (atenção focada em alguma idéia). Braid utilizava basicamente a
hipnose como forma de se obter a anestesia cirúrgica e de se ensinar auto-
hipnose aos pacientes, lembrando que o éter foi introduzido somente em 1846
e o clorofórmio em 1847 (CORTEZ E OLIVEIRA, 2003; GALVÃO, 2003).
Também usando hipnose para induzir analgesia e anestesia, James Esdaille,
trabalhando na Índia com pacientes sob esse efeito, realizou uma grande
quantidade de operações que incluíam amputações de braços, extração de
tumores, entre outros trabalhos cirúrgicos (ROQUE e VILLANUEVA, 2001).
Charcot (1835-1893), neurologista mais importante e conceituado de sua
época, estudou os estados hipnóticos para tratamento de pacientes histéricos.
Considerou a hipnose como um estado patológico de dissociação, comparando
o transe ao processo histérico e a anormalidades no sistema nervoso. Na
mesma época, Liébeault e Bernheim, também estudavam a hipnose e seus
fenômenos conforme descritos por Braid, pensando-a como um estado de
consciência normal e natural do ser humano, tendo um ponto de vista muito
distinto de Charcot. Liebeault e Bernheim retomaram a idéia original de Braid
de que a indução hipnótica decorria da sugestão, realizando inúmeros estudos
14
20. e experimentações científicas (CORTEZ e OLIVEIRA, 2003; GALVÃO, 2003;
ROQUE e VILLANUEVA, 2001).
Freud (1856-1939), juntamente com Breuer, deu início a um processo de
psicoterapia com hipnose em pacientes histéricos, vindo a publicar as
conclusões desse trabalho nos Estudos sobre histeria, em 1895. Freud
abandonou o uso da hipnose substituindo-a pelo método de associação livre e
vindo a desenvolver a teoria psicanalítica. Concomitantemente, Pavlov (1849-
1936), médico russo, estudou a hipnose segundo um ponto de vista
neurofisiológico. Utilizando as noções de excitação e inibição do sistema
nervoso, conseguiu posteriormente que sua teoria fosse comprovada, fazendo
com que a hipnose fosse aceita pela medicina oficial na Rússia, em especial no
tratamento das neuroses de guerra. Em meados do século XX, e
principalmente após as grandes Guerras, foi retomado o interesse pela hipnose
para tratamento das neuroses de guerra e traumas psíquicos. William
McDougall (1871-1944) e Clark Hull (1884-1952) nos Estados Unidos iniciaram
trabalhos e pesquisas experimentais nas universidades utilizando controles
científicos e estatísticos para sua mensuração (CORTEZ e OLIVEIRA, 2003;
GALVÃO, 2003).
c) Forma moderna de utilização da Hipnose: refere-se à chamada hipnoterapia
Ericksoniana, tendo sido desenvolvida por Milton Hyland Erickson (1901-
1980), psiquiatra americano do início do século XX, considerada um marco
divisório entre a hipnoterapia clássica da época da experimentação científica e
a época moderna atual. Demonstrando-a como um fenômeno natural da mente
humana, bem como sua existência e efeitos no cotidiano, utilizou a hipnose em
praticamente todos os problemas psicológicos, sendo autor de inúmeros
15
21. artigos, livros e pesquisas científicas na área. Dentre as inúmeras contribuições
de Erickson para o campo da Psicologia pode-se citar o conceito de utilização
da realidade individual do paciente. Erickson resgata de modo radical a noção
de singularidade. Tal noção, em termos epistemológicos, implica em considerar
os indivíduos como seres únicos e inéditos (NEUBERN, 2002). Ele entende
que cada paciente tem uma história e memórias particulares, as quais devem
ser usadas para se levar o sujeito à hipnose (GAYA et al., 2002). Também
contribuindo com a chamada Terapia Naturalista, as diferentes formas de
comunicação indireta, a técnica de confusão e de entremear, é considerado o
maior Hipnoterapeuta do século XX devido à sua abordagem breve, estratégica
e voltada para a solução (CORTEZ e OLIVEIRA, 2003; GALVÃO, 2003).
Conforme já mencionado, no Brasil apenas três conselhos validam o uso
de tal instrumento. Na Odontologia, o CFO (Conselho Federal de Odontologia)
foi o primeiro Conselho a regulamentar o uso da hipnose, em 1996, como
instrumento eficaz para indução de analgesia e anestesia. Na medicina, a partir
de 1999, o CFM (Conselho Federal de Medicina) autorizou seu uso. Na
psicologia, o CFP (Conselho Federal de Psicologia) reconheceu a partir de
2000 o uso da hipnose como regulamentado (BOCK, 2001).
3.1.2. Definição
Existem diversas definições para hipnose desenvolvidas no decorrer da
história. Algumas definições ainda seguem postulados arcaicos, estabelecidas
no século XIX, mas ainda usados em pesquisas recentes, como no trabalho
realizado por Vilela e Ferreira (2006). Pesquisando o uso da hipnose em
pacientes cardíacos com dificuldade de sono, esses pesquisadores definem
hipnose como um estado de atividade motora mínima semelhante ao sono.
16
22. Além de definições mais arcaicas como esta, outras sem muito embasamento
também podem ser encontradas em alguns artigos, entre elas podemos
destacar a definição de hipnose como um estado alterado de consciência no
qual as idéias são aceitas por sugestão ao invés do raciocínio lógico.
(FERNANDEZ et al., 2003). Estudos eletroencefalográficos, testes de reflexos,
pulso e pressão sanguínea revelam que a hipnose não é um estado de sono, e
sim, um estado alterado de consciência (ERICKSON, HERSHMAN e SECTER,
1998).
Concordando com essa analogia em relação ao estado de sono, Passos
e Labate (1998) afirmam que a hipnose é um estado do estreitamento de
consciência provocado artificialmente, que geralmente (mas nem sempre) se
parece com o sono, porém fisiologicamente dele se distingue, caracterizando-
se pelo aparecimento espontâneo (ou em resposta a um estímulo verbal, ou a
outro qualquer) de uma variedade de fenômenos que incluem:
1 - alteração da atenção;
2 - alteração da memória;
3 - aumento da sugestionabilidade;
4 - produção, no paciente, de idéias e respostas diferentes daquelas do
seu estado mental normal,
5 - alterações motoras e sensoriais;
6- aumento da labilidade dos processos regulados pelo sistema nervoso
autônomo.
A APA (Associação Americana de Psicologia) define hipnose como um
procedimento no qual o terapeuta ou pesquisador sugere ao paciente ou sujeito
da experiência mudanças em sensações, percepções, pensamentos ou
17
23. comportamentos (KRINGS et al., 2004). Tal definição se mostra pouco
elucidativa e é rechaçada por pesquisadores da área que atualmente tem
consenso em torno da idéia de que a hipnose é um estado focado e lógico de
atenção. Corroborando com tal idéia, pode-se citar um recente artigo publicado
na revista Seed, que informa que apesar da exata definição do conceito de
hipnose ainda estar em discussão, é de consenso entre os pesquisadores
voltados para esse tema que a hipnose envolve intensa concentração, estado
temporário de atenção modificada, relaxamento e sugestibilidade aumentada
(ANTHES, 2006; SOLOVEY e MILECHNIN, 1988). Apesar de haver grande
confusão na área, é importante diferenciar os termos sugestão e hipnose. A
sugestão será tomada aqui apenas como a capacidade, em hipnose, de
influenciar o outro. Influenciá-lo sob certas condições – basicamente pela fala,
mas não exclusivamente por ela – à produção de fenômenos específicos. Já a
hipnose, é uma condição, um processo, uma alteração de consciência, em que
a sugestão pode ser um produto privilegiado, mas não necessariamente. A
hipnose não está circunscrita à sugestão, nem depende dela necessariamente
e muito menos é redutível a ela (MARTINS E BATISTA, 2002).
Até mesmo o próprio Erickson, à sua maneira, poderia concordar com as
definições anteriores, já que em seus trabalhos, afirmava o estado de transe
ser um estado psicobiológico do homem, considerando que situações em que a
atenção e a percepção estão focalizadas e concentradas numa idéia, como
num momento de fantasia, distração ou preocupação que absorva a atenção,
são como um estado hipnótico (ROSEN, 1994).
Galvão (2003) apresenta uma definição interessante e mais completa a
respeito da hipnose, segundo a qual o processo hipnótico consiste em pensar
18
24. em algo que é sugerido por si ou por outro, de forma intensa (alta atenção) e
específica (pensamento focado). Tal processo geraria um estado no qual
seriam produzidos diversos fenômenos específicos, como regressão de idade
(reviver pensamentos de um tempo anterior), hipermnésia (rever pensamentos
passados de forma nítida), amnésia (esquecer pensamentos anteriores de
forma parcial ou total), hiperestesia (aumento da sensibilidade tátil), anestesia,
analgesia, pseudo-orientação no futuro (imaginar-se realizando algo no futuro)
entre outros, que poderiam implicar em alterações cognitivas ou fisiológicas.
3.1.3. Aplicações da hipnose
São descritas múltiplas aplicações da hipnose nas áreas da medicina,
como pediatria, dermatologia, gastroenterologia, obstetrícia, ginecologia, assim
com no uso de transtornos psicológicos (ROQUE e VILLANUEVA, 2001).
Dentre os usos mais freqüentes da hipnose, destacam-se: tratamento para
depressão, ansiedade, fobias, distúrbios sexuais, enurese noturna, asmas,
pânico, gagueiras, insônia, vícios e até mesmo no tratamento de verrugas. Sua
lista de atuação inclui ainda tratamento para dor crônica de pacientes terminais,
distúrbios alimentares, e muitos outros problemas físicos e mentais. É também
usada como meio para indução de analgesia e anestesia em procedimentos
cirúrgicos das diferentes especialidades médicas e odontológicas (ARRUDA e
MELLO, 2000; CORTEZ e OLIVEIRA, 2003; GALVÃO, 2003).
Labate (2006) confirma as citações anteriores, explicando que a
hipnose tem sido usada para alívio da dor, produzindo anestesia ou analgesia;
nos diferentes setores da clínica e cirurgia, notadamente em obstetrícia; como
tranqüilização para o alívio dos estados de ansiedade e apreensão, qualquer
que seja a sua causa; em qualquer condição na qual a psicoterapia possa ser
19
25. útil; no controle de alguns hábitos, como o tabagismo; e experimentalmente em
qualquer pesquisa, no campo psicológico ou neurofisiológico.
Cortez e Oliveira (2003) também indicam que pesquisas atuais
confirmam a eficiência da hipnose na solução ou alívio de vários sintomas que
acompanham transtornos físicos e psíquicos, sendo indicada como excelente
tratamento coadjuvante em vários casos. Esforços têm sido feitos no sentido
de demonstrar a hipnose como uma forma de tratamento específico, capaz de
solucionar diversas doenças em especial aquelas de origem psicossomática.
3.1.4. Abordagens
Como pode ser constatado no item “histórico” deste trabalho, existem
basicamente dois tipos de abordagem em relação à hipnose, das quais derivam
quaisquer outros nomes posteriores. São conhecidas como Postura Tradicional
(Clássica) e Postura Ericksoniana (Naturalista). Cada qual apresenta
considerações, a saber:
Postura Tradicional Postura Ericksoniana
Teóricos Jean-Martin Charcot, Milton H. Erickson
iniciadores da Josef Breuer e Sigmund
abordagem Freud
Entendimento do Direcionada a busca e Direcionada a possibilidade
problema recordação do passado de mudanças, usando o
passado ou não
Tipo de Taxativo, possivelmente Potente pelo direcionamento
diagnóstico patologizante e/ou de dado a uma mudança
realizado impotência frente à possível
mudança
20
26. Comunicação Muito diretivo, com Postura chamada naturalista
comandos e ordens através da noção de
diretas. utilização, conferindo
eficiência
Indução do transe Script, roteiro rígido, o Flexível, direcionada a cada
e hipnose mesmo para todos paciente, feito sob medida
pacientes
Intervenções Inúmeras técnicas Variável de acordo com a
usadas realidade individual do
paciente
Compreensão da De acordo com cada Compreensões próprias
Hipnose abordagem teórica
Hipnotizabilidade Preocupação com Necessária de acordo com
grandes intensidades dos cada caso
fenômenos e
variabilidades
Mudanças na Variabilidade e Variabilidade e intensidade
Hipnotizabilidade intensidade imutáveis não apenas diferentes no dia
a dia, como também
dependendo da motivação e
com possibilidade de serem
melhoradas
Sugestionabilidade Tão mais sugestionável o Noção de responsividade,
paciente, melhor dependendo esta mais da
capacidade de condução e
21
27. estabelecimento de rapport
do hipnoterapeuta do que do
paciente
Hipnotizabilidade e Acredita que apenas Podem ocorrer complexas
Sugestionabilidade pacientes com complexos mudanças com níveis leves
e intensos níveis podem de transe, não importando os
passar por hipnoterapia níveis de hipnotizabilidade e
sugestionabilidade
Relação Estabelecimento claro de Noção não clara de
Terapeuta- autoridade e hierarquia autoridade diminuindo a
Paciente resistência
(CABALLO, 1996; GALVÃO, 2003 GILLIGAN, 1987; HALEY, 1991, ZEIG,
1985)
Segundo Zeig (1985), na abordagem ericksoniana, alguns pontos são
cruciais no processo terapêutico, destacando-se:
a) A identificação dos recursos do paciente;
b) O diagnóstico dos valores do paciente, o desenvolvimento dos recursos
utilizando tais valores;
c) Utilização do recurso usando comunicações diretas ou indiretas;
d) Estabelecimento do ARE (Absorção, Ratificação e Eliciação);
e) Aceitação e utilização do que é apresentado pelo paciente;
f) Usar semeaduras de idéias para facilitar mudanças e a própria indução;
Rosen (1994) relata que, de acordo com a concepção de Erickson, o estado
de transe possibilita maior probabilidade de se produzirem aprendizagens e
apresenta mais disponibilidade para a ocorrência de mudanças.
22
28. 3.1.5. Fisiologia do estado hipnótico
Esse estado de atenção concentrada torna possível ao indivíduo reagir
aos estímulos e às sugestões do hipnotizador ou aos próprios comandos (auto-
hipnose). O desconhecimento pleno da mente humana dificulta a conceituação
e explicação dos mecanismos através dos quais a hipnose produz seus efeitos.
Ao contrário do que parece, durante a sessão hipnótica o córtex está em plena
atividade. Reações desencadeariam a produção de neurotransmissores
através do sistema nervoso, provocando diversas reações orgânicas.
Observam-se alterações na consciência e na memória, aumento da
susceptibilidade à sugestão, produção de reações e de idéias estranhas ao
indivíduo. Além disso, fenômenos como anestesia, analgesia, paralisia, rigidez
de músculos e alterações vasomotoras podem ser produzidos ou removidos
(VALE, 2006).
Um recente artigo divulgado na revista cientifica Seed (2006), informa
que a hipnose tem sido atualmente objeto de várias pesquisas experimentais
que apontam, através de testes neurológicos, as alterações cerebrais que ela
causa. O autor Emily Anthes (2006) cita um experimento que demonstra que a
sugestão hipnótica pode produzir mudanças no centro de processamento de
dor no cérebro. Relata que quando as pessoas estão em estado hipnótico, as
áreas cerebrais que processam a dor ficam menos ativas, fornecendo
evidencias sobre as modificações provenientes do estado hipnótico.
Parece haver uma correlação direta entre o fenômeno vivenciado
durante a hipnose as alterações neurofisiológicas correspondentes. Mathews et
al. (2000) dizem que estudos têm mostrado a ativação das regiões occipitais,
incluindo o córtex visual primário, V1. Já Damiani et al. (2006) observam que a
23
29. hipnose tem atuado também no Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático
(SNAP) aumentando de forma intensa o tônus eferente vagal. Kosslyn (2000)
diz que uma parte do cérebro chamada giro cingulado mostra alta atividade
quando o sujeito está hipnotizado. Esta área está relacionada com a atenção e
a emoção, concordando com Vale (2006) que afirma que diversas áreas do
cérebro relacionadas com a emoção e a sensação são ativadas durante o
estado hipnótico.
Câmara (1998) afirma haver indícios de uma estrutura cerebral
semelhante a uma rede, chamada formação reticular, funcionando como elo
entre a voz do hipnotizador e a massa cinzenta do hipnotizado. A tese mais
aceita é a de que as palavras do hipnotizador, processadas pelo nervo auditivo,
alcançam a ponta dessa rede, na base do cérebro, e se espalham por toda a
massa cinzenta. Quando elas chegam ao lobo frontal, concentram a atenção
do paciente em um único foco, inibindo tudo o que está ao redor.
3.1.6. Formas de indução
Segundo Ferreira (2003), Galvão (2003) e Zeig (1993), atualmente, são
seis as formas básicas pelas quais a indução à hipnose é empreendida
(podendo ou não estar conjugadas em duas ou mais):
Diminuição de estímulos tidos como inúteis: Sabendo-se ser o transe ou a
hipnose um pensar específico e intenso, quanto menos houver estimulações
que desviem do processo indutor de relaxamento, transe ou hipnose, melhor;
Relaxamento: A diminuição significativa de atividade orgânica via pensamento
(relaxando esse também), é das formas mais comuns de se possibilitar o
transe ou hipnose. Na medida em que o sujeito estiver com uma baixa
24
30. atividade do pensar, comunica-se a ele idéias a partir e com as quais se daria
esta atividade, provocando assim, o transe ou hipnose juntamente com o
processo psicoterapêutico.
Cansaço: Criar o cansaço orgânico e/ou do pensar é uma forma de fazer com
que a pessoa pense de acordo com o colocado pelo hipnoterapeuta. A
princípio, o sujeito estaria cansado demais para fazê-lo sozinho;
Direcionamento das Apreensões: Atenção é o direcionamento da atividade
psíquica, ou seja, do pensar. Na medida em que o paciente começa a
direcionar o seu raciocínio de acordo com o colocado pelo hipnoterapeuta,
cada vez mais este poderá direcionar o pensar do paciente no sentido de ter
um pensar que possibilite um melhor viver;
Aumento da atividade do pensar (psíquica): Um aumento na estimulação
neural via estimulação sensível (embora de maneira direcionada) pode ser
utilizada para passar do relaxamento (ou sono) para transe ou hipnose;
Confusão: Confusão é a quebra de raciocínio não possibilitando um raciocinar
coerente buscado pelo indivíduo. Provocá-la momentaneamente para
direcionar o raciocínio do sujeito, é uma possibilidade para que o paciente
pense na medida (ou a partir) do colocado pelo hipnoterapeuta, criando ou não
transe ou hipnose. Tal forma de indução é utilizada para que o paciente não
tenha raciocínios considerados anti-terapêuticos pelo terapeuta. Forma muito
bem apresentada por Milton H. Erickson no livro “O Homem de Fevereiro”.
Dentre as formas citadas, a mais utilizada nos consultórios e pesquisas
realizadas na área refere-se ao uso do relaxamento como método de indução
para se levar o paciente à hipnose. É também comum encontrar nas pesquisas
termos como imaginação intensa, imaginação guiada, que são entendidos
25
31. também como hipnose, trocando-se apenas um nome por outro. Nesses
trabalhos os sujeitos normalmente são induzidos, após o relaxamento, a se
direcionarem mentalmente para um lugar confortável, ou para se lembrarem de
situações boas, situações essas semelhantes para o mesmo grupo de sujeitos
(GAYA et al., 2002; LEV et al., 2002; CARTLEDGE et al., 2004).
3.1.7. Hipnose e efeitos orgânicos
Muitas pesquisas, principalmente as realizadas nas décadas anteriores,
focam seus estudos no efeito da hipnose sobre os estados de dor. Busca-se
com essas pesquisas, de alguma maneira, atenuar, evitar ou controlar estados
dolorosos, seja pela indução de analgesias ou anestesias (GAYA et al., 2002;
LEV et al., 2002). Em um experimento sobre dor, Oakley (2004) induziu,
através da hipnose, oito sujeitos a sentirem dores relacionadas a tocar em algo
muito quente e constatou que as mesmas áreas de processamento da dor no
cérebro (o tálamo, o córtex cingulado anterior e outras áreas) foram ativadas da
mesma maneira que as áreas de outros sujeitos que tocaram em uma barra de
metal a 50º C, demonstrado que a dor induzida por hipnose ativa as mesmas
áreas do cérebro ativadas pela dor real.
Atualmente, além das pesquisas referentes à dor, trabalhos com hipnose
estão abarcando diversas áreas e seus efeitos são testados de diferentes
maneiras, como por exemplo, os efeitos sobre algumas doenças. Uma dessas
pesquisas mostra a ajuda da auto-hipnose no combate ao hábito de tossir e
seus sintomas somáticos (ANBAR e HALL, 2004). Outro estudo focando a
utilização da hipnose em tratamentos de enfermidades dermatológicas
demonstrou resultados bem interessantes, como melhora em mais de 70% da
pele de pacientes com psoríase, redução de problemas de pele tidos como
26
32. corriqueiros como acne, ou até mesmo, no tratamento de verrugas
(SHENEFELT, 2002). Assim como esses, há diversos estudos em que os
pesquisadores tentam mostrar efeitos possíveis da hipnose sobre o organismo.
Nesse sentido, há que se ressaltar também, pesquisas sobre os efeitos da
hipnose em nível neuronal. Um desses estudos demonstra que alterações na
plasticidade neuronal ocorrem após uma sessão de hipnose, na qual o sujeito
vivencia imagens e sensações de formas até mais vívidas que durante o dia a
dia, o que pode ser comprovado através de exames como PET Scan
(HALSBAND, 2006; WINERMAN, 2006).
Apesar de alguns pesquisadores indicarem que as bases biológicas do
processo hipnótico ainda são contestadas e necessitam de mais pesquisas,
alguns estudos indicam diversas influências sobre o sistema biológico. Alguns
estudos indicam que a hipnose influencia a mediação celular, que por sua vez
influencia a imunidade, afetando também o eixo adrenal pituitário-hipotalâmico,
o que influencia em uma boa regulação do sistema imune. Também se
constata uma ativação de várias áreas do córtex cerebral, dependendo do
estímulo/sugestão eliciados (GRUZELIER et al., 2001; HALSBAND, 2006).
Vindo de encontro ao que foi apresentado na introdução do presente
trabalho, cabe destacar que é notadamente percebido que algo vivenciado
durante o processo hipnótico é tido como realmente vivido organicamente.
Gemignani (2000) relata um estudo em que se concluiu que a hipnose é muito
mais que uma simples sugestão. O estudo, que expôs os sujeitos a
vivenciaram situações fóbicas, demonstrou que todos os participantes da
pesquisa reagiram como se realmente estivessem diante do objeto fóbico,
27
33. tendo grandes alterações cardiorrespiratórias, bem como alterações
registradas em seus EEGs (GEMIGNANI, 2000).
Em outro estudo, Fernandez et al. (2003) citam os efeitos positivos da
hipnoterapia sobre a hipertensão, alegando que a hipnose é capaz de regular o
volume sangüíneo e, por conseguinte, propiciar um controle saudável sobre a
pressão arterial, além de promover uma ostensiva diminuição do tratamento
farmacológico.
3.2. Diabetes Mellitus
O Diabetes Mellitus (DM) compreende um grupo heterogêneo de
distúrbios metabólicos, envolvendo todos os substratos energéticos
(carboidratos, proteínas e gorduras) e caracterizado principalmente pela
hiperglicemia, resultante da deficiência de secreção ou da ação da insulina
(FERREIRA et al., 2003). Como definido por Melo et al. (2003) a DM é
considerada uma "síndrome heterogênea de etiologia múltipla, decorrente da
falta de insulina ou, também, da incapacidade da insulina em exercer
adequadamente seus efeitos". O principal órgão responsável por esse controle
é o Pâncreas.
3.2.1. Pâncreas
O pâncreas está localizado atrás e discretamente abaixo do estômago.
Sua porção endócrina é representada pelas ilhotas de Langerhans as quais
são compostas pelas células a, b, d e F e seus produtos são, respectivamente,
glucagon, insulina, somatostatina e polipeptídeo pancreático (GARCIA, 2006).
Destes, os principais hormônios são a insulina e o glucagon, responsáveis pelo
28
34. principal controle da concentração de glicose plasmática. Quando este valor
está elevado (hiperglicemia), como após uma refeição, o pâncreas recebe
sinais para liberar insulina no sangue. Entre suas ações, a insulina facilita o
transporte de glicose para o interior das células, especialmente aquelas dos
músculos e do tecido conjuntivo, promove a glicogenólise e inibe a
gliconeogênese (GUYTON, 1992). O pâncreas secreta o glucagon quando a
concentração plasmática de glicose cai abaixo das concentrações normais
(hipoglicemia). Seus efeitos geralmente são opostos aos da insulina. O
glucagon promove o aumento da degradação do glicogênio hepático em
glicose (glicogenólise) e aumenta a gliconeogênese (GARCIA, 2006).
3.2.2. Insulina
A insulina é um hormônio polipeptídico sintetizado, formado por duas
cadeias de aminoácidos. Segundo Guyton (1988), a insulina é um hormônio
produzido pelas células beta das ilhotas de Langherans pertencentes ao
pâncreas. Bioquimicamente, trata-se de um hormônio polipeptídico constituído
de duas cadeias peptídicas, desempenhando papel fundamental no
metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas (MAUGHAN et al., 2000). Ao
promover a entrada de glicose para o interior das células alvo, a insulina
apresenta efeitos de manutenção sobre o controle glicêmico, aumento da
utilização de glicose como fonte energética e promoção do armazenamento de
glicogênio no fígado e nos músculos (GUYTON, 1988). No que se refere
especificamente ao controle glicêmico, a Sociedade Americana de Diabetes
indica os seguintes valores de referência para glicemia-jejum (mínimo 8 horas):
29
35. Classificação dos valores glicêmicos (mg/dl)
Normal < 99
Pre-diabetes 101 a 125
Diabetes > 126
Fonte: American Diabetes Association, 2005
Para aferência desses dados, usa-se a coleta do sangue capilar (padrão
adotado normalmente pelos pacientes portadores de DM, chamada de auto
monitoramento glicêmico, cujos valores são 10 a 15% mais baixos que os no
plasma). É uma metodologia de baixo custo (realizada através de aparelhos
portáteis), bem reproduzível, tendo poucos fatores interferentes, como o
estresse, e exigindo do paciente apenas período mínimo de 8 horas sem
ingestão alimentar. Todavia, a glicemia fornece apenas o grau de controle no
momento da coleta do sangue (SARTORI, 2005). Alterações significativas
nestes valores podem ser entendidas como ausência ou excesso de insulina,
quebrando o estado de homeostasia orgânica (COSTA, 2005).
Devido à sua importância, pode-se perceber facilmente que a produção
deficiente de insulina, tal como acontece no diabético, irá causar diversos
malefícios ao organismo. Um deles é o elevado nível sangüíneo de glicose
(hiperglicemia), estado que pode levar à sobrecarga renal e até mesmo à
desidratação. Outro efeito observado é que as células passam a utilizar
quantidades significativas de lipídios e proteínas como fontes energéticas,
devido à ausência de glicose para exercer esta função, acarretando condições
de debilidade extrema como perda excessiva de massa corporal, deficiência de
crescimento orgânico e produção acentuada de corpos cetônicos no sangue, o
30
36. que pode levar ao coma diabético (cetoacidose) (COSTA, 2006; GUYTON,
1988).
3.2.3. Tipos de Diabetes
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a enfermidade pode ser
dividida basicamente em três grupos de ocorrência:
diabetes mellitus tipo 1 (insulino-dependente): aparece como
resultado de uma destruição das células beta produtoras de insulina por
engano, o que ocorre quando o organismo as entende como corpos estranhos.
Isso é chamado de resposta auto-imune. Este tipo de reação também ocorre
em outras doenças, como esclerose múltipla, Lúpus e doenças da tireóide.
diabetes mellitus tipo 2 (não insulino-dependente): Sabe-se que o
diabetes do tipo 2 possui um fator hereditário maior que no tipo 1. Além disso,
há uma grande relação com a obesidade e o sedentarismo. Uma de suas
peculiaridades é a inabilidade do organismo responder adequadamente a ação
da insulina produzida pelo pâncreas. Por muitas razões suas células não
conseguem metabolizar glicose suficiente da corrente sangüínea. Esta é uma
anomalia chamada de "resistência insulínica". De início, a maior parte dos
pacientes do diabetes tipo II apresenta redução do efeito da insulina em seus
alvos (os tecidos muscular e adiposo): eles ainda a produzem, mas em
quantidade insuficiente para a demanda diária. Por isso, a maioria não precisa
ser tratada com insulina. Os níveis glicêmicos podem ser normalizados com
atividade física regular, controle do peso e medicação oral (que aumente a
sensibilidade dos tecidos à insulina ou à sua produção) (AITA, SOGAYAR e
ELIASCHEWITZ, 2004).
31
37. diabetes gestacional: O diabetes gestacional é a alteração das taxas
de açúcar no sangue que aparece ou é detectada pela primeira vez na
gravidez. Pode persistir ou desaparecer depois do parto.
Grande parte das pesquisas realizadas concentra seu estudos no
diabetes mellitus tipo 1 e 2. Para cada caso de diabetes tipo 1 estima-se de 8
a 10 casos do diabetes mellitus tipo 2.
3.2.4. Etiologia
A etiologia específica do diabetes tipo 2 ainda não está estabelecida
como no diabetes tipo 1, e sabe-se que a destruição auto-imune não acontece
(GROSS et al., 2002). O diabetes mellitus tipo 2, chamado previamente de não-
insulinodependente, vem de uma forte associação da predisposição genética
do indivíduo, seu estilo de vida, os fatores ambientais e fatores emocionais
(OLIVEIRA e MILECH, 2004).
Embora as causas do DM sejam obscuras, o que se sabe, com certeza,
é existirem alguns "gatilhos" que desencadeiam as crises. O principal desses
gatilhos é o estresse contínuo, estado em que as glândulas supra-renais
liberam doses elevadas de adrenalina. Este hormônio, além de acelerar o
coração, tem a capacidade de liberar no sangue a glicose estocada no fígado e
nos músculos. Esse processo se chama glicogenólise. Para compensar a
liberação aumentada de glicose produzida pela glicogenólise, o pâncreas se
esforça em produzir quantidades extras de insulina. Se esse esforço
pancreático não for suficiente para reduzir ao normal os níveis aumentados de
glicose pelo estresse ou, pior, se o pâncreas chegar a se esgotar, o resultado
é o surgimento ou agravamento do Diabetes. É também algo mais ou menos
semelhante ao que ocorre na obesidade. Quanto mais obeso e pesado, maior é
32
38. a quantidade de insulina necessária, levando o pâncreas à fadiga. Certas
infecções também funcionam como gatilho para o Diabetes, assim como os
casos de algumas mulheres grávidas (BALLONE, 2002).
3.2.5. Tratamentos
Os tratamentos dividem-se em duas vias principais, considerados
tratamentos medicamentosos e não medicamentosos. No caso dos tratamentos
medicamentosos, dois grupos principais de químicos são usados: a insulina,
que é essencial no tratamento de DM tipo 1, mas no caso do tipo 2 não é
necessária e os medicamentos hipoglicemiantes, responsáveis por gerar a
baixa da hiperglicemia presente no DM. Os tipos mais conhecidos são as
sulfoniluréias (que aumentam a secreção de insulina pelo pâncreas), as
biguanidas (que aumentam a sensibilidade do organismo à insulina já
produzida) e a acarbose (que torna mais lenta a absorção da glicose no
intestino, dando tempo ao organismo para manter a glicemia normal). Além
destes três tipos básicos, surgiram recentemente os sensibilizadores de
insulina de última geração, chamados thiazolidinedionas, cujo principal efeito
metabólico é o aumento da sensibilidade à insulina nos tecidos periféricos,
principalmente no músculo esquelético, além de reduzirem também, em altas
doses, a produção hepática de glicose (HIRATA e HIRATA, 2006).
Referindo-se agora à abordagem não medicamentosa, algumas vias são
indicadas, a saber:
a) Educação alimentar: Adequar o paciente a alimentar-se de forma adequada e
com os alimentos adequados para que a sua glicemia permaneça estável;
b) Realização de atividade física: A indicação de exercícios físicos aeróbios e
anaeróbios, com duração, intensidade e freqüência adequadas, também traz
33
39. benefícios para o portador de DM, principalmente para o portador de DM tipo 2.
O cuidado com o excesso de atividade deve existir para que não se gere a
hipoglicemia (COSTA, 2005). Pesquisas surgem para comprovar o valor da
atividade física para o indivíduo diabético. Conforme em um grupo composto de
doze indivíduos diabéticos tipo 2, um indivíduo com o tipo 1 e um com diabetes
secundário, após atividades físicas durante um período de três meses, os
valores da hemoglobina glicosada daqueles que persistiram no treinamento
diminuíram drasticamente (DIAS et al., 2007). Em outro estudo foi constatado
que a glicemia de jejum isolada após o treinamento físico baixou. Isso poderia
ser justificado pelo efeito benéfico do exercício, tal como a melhora da
captação de glicose que se encontra aumentada durante o exercício físico,
mesmo com baixos níveis insulinêmicos. A pesquisa conclui que um programa
de exercício físico regular, de intensidade moderada, auxilia no controle
glicêmico do indivíduo com DM2, tratado ou não com insulina, sendo que seu
efeito já é observado em uma sessão de exercício (SILVA e LIMA, 2002).
c) Tratamentos Complementares: Fazem parte desse grupo a indicação dos
chamados tratamentos adjuvantes, muitas vezes tidos como
acompanhamentos alternativos. São recomendados para uso em conjunto com
os outros tratamentos, ou seja, não excluem as outras intervenções. Segundo
Kostic e Secen (2000), pesquisas usando treinamento autógeno de Shultz têm
mostrado eficiência no controle da glicemia de pacientes diabéticos tipo 2,
ajudando a reduzir o nível de glicemia de maneira significante. Outro
tratamento complementar indicado são aulas de gerenciamento de stress que
tem ajudado a prevenir e controlar doenças como o diabetes (NODA e
HAMADA, 2000). Nessa mesma linha de pensamento, a Federação
34
40. Americana de Diabetes (2005) indica algumas intervenções que também
podem ajudar o paciente diabético, dentre elas, exercícios de respiração,
terapias de relaxamento progressivo (Shultz e Jacobson) até mesmo substituir
maus pensamentos por bons pensamentos. De uma maneira um pouco mais
específica, estudos mostraram que uma técnica em particular, o biofeedback,
pode ser capaz de ajudar os pacientes com diabetes tipo 2 a manterem os
níveis de glicose sob controle. No biofeedback, um terapeuta pede ao paciente
para que ele relaxe. Enquanto isso, sensores aplicados à pele fornecem
informações a um monitor de computador sobre as alterações das funções
biológicas como a circulação, a temperatura da pele ou a tensão muscular.
Receber esse "feedback" reforça a capacidade inata do paciente de diminuir a
pulsação ou reduzir a tensão muscular, o que possui um efeito de relaxamento
(GOWER, 2007). No campo das chamadas terapias alternativas,
pesquisadores indicaram até mesmo o uso do Reike no cuidado com pacientes
diabéticos, constatando que o uso de tal intervenção ajuda a reduzir o
sofrimento dos pacientes e que, em associação a cuidados usuais de saúde, o
Reike poderia trazer benefícios terapêuticos diretos para o paciente
(GILLESPIE et al., 2007). Já em outro estudo, os autores apontam que o
potencial das terapias baseadas em energia é ótimo. Indica que tais terapias
têm poucos efeitos colaterais conhecidos e muitos efeitos benéficos possíveis,
como diminuir o nível de glicose no sangue e de sofrimento dos pacientes.
Entre essas terapias são citadas massagem corporal, acunpressura,
acupuntura, uso das cores, toque de cura, terapia magnética, ressonância de
microondas e Reiki, indicando que todas elas trabalhando equilibrando o fluxo
energético do corpo e promovem relaxamento (GUTHRIE e GAMBLE, 2001).
35
41. Até mesmo recursos como hipnose tem sido usados com pacientes diabéticos.
Em uma pesquisa foi demonstrado o uso da hipnose com adolescentes para
melhorar a aderência deles ao tratamento para diabetes. O estudo mostrou em
um acompanhamento de seis meses que seis dos sete sujeitos aderiram e
tiveram uma incrível melhora na taxa de glicose no sangue (de 476 para 148)
(RATNER et al., 1990).
Muitas dessas intervenções visam propiciar aos pacientes bem estar e
felicidade, proporcionados através de situações nas quais os portadores de
DM, seja tipo 1 ou 2, vivenciem situações prazerosas. Temática explanada logo
a seguir.
3.3. Saúde e Bem Estar
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como estado de
completo bem-estar físico, mental e social. Tal definição recebe várias criticas
de diversos profissionais da saúde, que buscam otimizar o conceito e diminuir a
idéia de que só existe saúde quando a totalidade dos critérios acima são
atendidos. É mais aceita a idéia de associação entre estar saudável e sentir-se
bem (JUNIOR, 2004).
Também não é de senso comum a definição de bem estar. Como
definido pelo dicionário Webster, bem estar é o estado de sentir-se bem, de
felicidade, virtude essencial para o homem social. Em linhas mais aprimoradas,
Giacomoni (2004) afirma que bem-estar é uma área da psicologia que tem
crescido muito ultimamente, cobrindo estudos que têm utilizado as mais
diversas nomeações, tais como: felicidade, satisfação, estado de espírito e
afeto positivo. Mais especificamente, este construto diz respeito a como e por
36
42. que as pessoas experienciam suas vidas positivamente. Também é
considerada a avaliação subjetiva da qualidade de vida. Seguindo essa linha,
de maneira mais elucidativa, Junior (2004) dá dois significados para bem estar:
o primeiro pode ser a noção subjetiva de sentir-se bem, não ter queixas, não
apresentar sofrimento somático ou psíquico, nem ter consciência de qualquer
lesão estrutural ou de prejuízo do desempenho pessoal ou social (inclusive
familiar e laboral). Aí, bem-estar significa sentir-se bem e não apenas não se
sentir mal. Mas bem-estar também significa condição de satisfação das
necessidades (conscientes ou inconscientes, naturais ou psicossociais). Nos
seres humanos, implica na satisfação das necessidades biológicas, o bem-
estar físico; das necessidades psicológicas, o bem-estar mental; e das
necessidades sociais, o bem-estar social. E não apenas satisfeitas todas essas
necessidades, mas perfeitamente (ou completamente) atendidas.
De certa maneira os estudiosos da área relacionam bem estar ao estado
de felicidade e satisfação. Uma das maneiras de tal estado ser alcançado seria
através da vivência de sensações prazerosas e diminuição de estados
dolorosos (como stress), capazes de alterar o organismo de maneira saudável,
gerando bem estar, como várias pesquisas que estão sendo realizadas
atualmente tentam demonstrar. Em uma dessas pesquisas foi demonstrado
que emoções positivas diminuem os efeitos do stress e da resposta luta-luta,
diminuindo os efeitos do stress sobre o sistema imune que passa a funcionar
melhor, gerando saúde (POST, 2005). Outra pesquisa interessante sobre
sensações prazerosas e aversivas, demonstrou que os estímulos prazerosos
estimulam áreas cerebrais diferentes dos estímulos aversivos, definindo que
existem duas áreas distintas no cérebro: uma referente a recebimento de
37
43. estímulos prazerosos (sistema de recompensa) e outra referente a estímulos
aversivos (sistema de punição) (DAGHER et al., 2001).
Com os avanços tecnológicos, as pesquisas referentes a sensações de
bem estar, prazer e estado saudável têm ganhado respaldo em explicações do
funcionamento cerebral e seus sistemas, como indicado, por exemplo, por
Watanuki e Kim (2005), que desenvolveram um estudo sobre respostas
fisiológicas induzidas por estímulos prazerosos. Eles estudaram várias
respostas do Sistema Nervoso Central, do Sistema Nervoso Autonômico, do
Sistema Imune e do Sistema Endócrino, quando estímulos prazerosos como
odores, figuras emotivas e uma história cômica típica do Japão foi apresentada
aos sujeitos. Os resultados revelaram que a atividade do córtex frontal
esquerdo aumentou com o odor agradável e um aumento da secreção de
imunoglobulina-A e uma diminuição do cortisol na saliva foram induzidos por
prazeres emocionais verbais vivenciados. Os diferentes sistemas envolvidos na
indução de emoções prazerosas são evocados por auto-estimulação do SNC e
particularmente pelo sistema de recompensa. Interessante também que a
amígdalas, próxima do sistema de recompensa, age como integradora das
emoções prazerosas. Parece que uma das principais ações de estados
prazerosos refere-se à auto-regulação e estimulação do sistema imune. Isso
pode ser constatado em um estudo sobre a concentração de IgA na saliva após
os sujeitos assistirem um vídeo de humor. O resultado indicou um aumento na
concentração de IgA na saliva dos sujeitos que se divertiram ao assistir o filme.
Em outro estudo, verificou-se que o otimismo estava relacionado a melhores
estados saudáveis, a alto número de células T-helpers e a alta de células NK.
Foi constatado também, que sentimentos mais pessimistas geram uma menor
38
44. ativação do sistema imune. Para isso ser verificado, os participantes da
pesquisa foram inoculados com o vírus influenza e foi acompanhada a resposta
imune desses pacientes. Aquelas com sentimentos mais negativos tiveram
uma menor ativação do sistema imune do que aqueles com atitudes positivas
(BARAK, 2006).
Mas não só o sistema imune parece ser ativado como resposta a
vivências emocionais positivas. Em outra pesquisa foi constatada uma alta
associação entre alta felicidade e baixa pressão sistólica, fator esse,
independente dos sujeitos fumarem, serem obesos ou da posição sócio
econômica. Em resumo, a pesquisa conclui que afetos positivos estão
relacionados ao bom funcionamento de diversos sistemas biológicos. Emoções
e sentimentos positivos estão associados com altos níveis do funcionamento
do centro serotonérgico, enquanto a deficiência da função seratonérgica está
associada a alto índice de massa corporal, resistência a insulina e pressão
sangüínea. Respostas neuroendocrinas e imunes também são examinadas
como possíveis mediadoras nos efeitos da saúde aos afetos positivos
(STEPTOE e WARDLE, 2005). Estudos realizados com imageamento cerebral
(PET e fMR) têm demonstrado uma íntima ligação entre áreas como o núcleo
acumbente, a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal, todas envolvidas
nos processos de recompensa e experiências prazerosas (PETERSON, 2005).
Num sentindo evolucionário, as emoções positivas podem oferecer
vantagens biológicas, como indicado por Danner, Snowdon e Friesen (2001),
que encontraram em seus estudos uma grande correlação entre emoções
positivas e longevidade. Os medidores mais comuns utilizados nessas
pesquisas referiam-se a mapeamento cerebral (PET Scan e fMR), nível de
39
45. cortisol e de imunoglobulinas no sangue, na saliva e na urina assim como
indicadores subjetivos como questionários, entrevistas e escalas, entre elas a
escala VAS (Visual Analog Scale), usada para determinar mudanças no índice
de bem estar e mal estar após as intervenções.
Nesse sentido, a influência de sensações de bem estar relacionadas ao
prazer e emoções positivas parece ser benéfica para a saúde, seja ajudando
no combate ao stress, seja otimizando o funcionamento do sistema imune
(diretamente ou por diminuição dos efeitos negativos do stress), ou ainda por
estimulação de outros sistemas cerebrais. Outro estudo, corroborando com
essas idéias, mostra a influência positiva da Ocitocina (substância associada a
vivências prazerosas) sobre o organismo, seja atuando como hormônio anti-
stress, seja estimulando crescimento celular saudável, ou até mesmo
estimulando a indução de hormônios gastrintestinais como a insulina. O
interessante nesse estudo é a indicação de que a estimulação da ação de tal
substância possa ser condicionada a estados psicológicos e de imaginação,
indicando os benefícios reais de terapias como hipnose ou meditação
(UVNA¨S-MOBERG, 1998).
40
46. 4. MÉTODO
4.1. Características do Estudo
O estudo caracterizou-se como uma pesquisa clínica, que visou
investigar o efeito da vivência de situações consideradas agradáveis (do ponto
de vista do sujeito) através da hipnose em pessoas com diabetes mellitus tipo
II. As vivências foram consideradas válidas desde que estivessem de acordo
com o Código Civil vigente no país no momento da pesquisa, seguindo crivo
pessoal do pesquisador, a fim de promover qualidade legal e ética para o
trabalho (vivências que contivessem conteúdo considerado pela lei como crime
seriam desconsideradas. Ex: Torturador da ditadura relata como vivência
prazerosa torturar um preso político).
O estudo foi conduzido de acordo com os instrumentos e sujeitos
discriminados a seguir, a avaliação dos resultados foi feita de acordo com a
análise quantitativa e qualitativa.
4.2. Sujeitos
Participaram da pesquisa dezoito sujeitos diagnosticados como
portadores de diabetes mellitus tipo 2, que não estão em tratamento com
insulina. Foram indicados por médicos endocrinologistas da cidade de
Campinas e por divulgação realizada através da internet.
41
47. Critérios de inclusão:
1. Ter de 18 a 65 anos;
2. Ter diagnóstico clínico de diabetes mellitus tipo 2;
3. Não estar em tratamento com insulina;
4. Escolaridade mínima de 04 anos;
5. Que apresentassem condições cognitivas de compreensão e assinem o termo
de consentimento.
Critérios de exclusão:
1. Pacientes com diagnóstico psiquiátrico delineados;
2. Pacientes que por ventura fizessem uso abusivo de drogas ou álcool;
3. Pacientes portadores de diabetes gestacional.
4.3. Instrumentos e Materiais
Os pacientes que preencheram os critérios de inclusão propostos, após
assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram submetidos
aos seguintes instrumentos, descritos a seguir:
a. Entrevista semidirigida 1, para levantamento dos dados de caracterização da
amostra (anexo 2);
b. Entrevista semidirigida 2, para levantamento de situações consideradas
agradáveis aos sujeitos (anexo 3);
42
48. c. Uso da escala VAS (Visual Analog Scale) – escala de cores, para avaliar
sensação de bem estar, antes e depois da sessão de hipnose (anexo 4);
d. Dosagem do nível de glicemia do paciente antes e depois da sessão de
hipnose, através do uso do medidor de glicemia Accu-Chek® Active,
desenvolvido pela empresa Roche (Dados técnicos no anexo 5);
e. Aplicação do protocolo de Indução para vivências de situações agradáveis em
hipnose (anexo 6);
f. Entrevista semidirigida 3, para investigar aspectos relacionados à percepção do
paciente em relação à experiência vivenciada (anexo 7);
g. Uso de um mini-gravador digital San Disk 8 GB, usado para gravar a entrevista
semidirigida 3;
h. Uso de um colchão e um travesseiro para que o paciente pudesse receber a
indução.
4.4. Coleta de Dados
O local da coleta de dados foi no consultório particular do pesquisador, o
que garantiu a privacidade de cada um dos sujeitos. O local também
apresentou as condições necessárias de equipamentos para o trabalho
(colchão, gravador digital, medidor de glicemia Accu-Chek® Active). A escolha
do local foi determinante para que não houvesse interrupção nas sessões ou a
entrada não programada de outras pessoas. O consultório situa-se na cidade
de Campinas, no estado de São Paulo – SP.
43
49. 4.5. Procedimentos
4.5.1. Seleção da Amostra: os sujeitos foram contatados inicialmente via
telefone, tendo sido convidados a participarem de forma voluntária e gratuita.
Todos foram informados a respeito do conteúdo da pesquisa e da duração do
encontro.
4.5.2. Duração e Seqüência de Aplicação dos Instrumentos: os sujeitos
passaram pelo processo em consultório de psicologia particular e foram
divididos em dois grupos:
Grupo controle: composto por oito sujeitos submetidos a uma sessão com
duração de aproximadamente uma hora. Todos chegaram ao consultório sob a
orientação de estarem em jejum por um período de pelo menos oito horas.
Foram sessões que ocorreram ao longo de uma semana, com horários
de inicio variando entre 6h30min da manhã a 8h00 da manhã. Após a coleta
desses dados, o grupo recebeu o mesmo tratamento que o grupo intervenção,
mas esses dados não fazem parte da pesquisa.
Os seguintes passos (na ordem apresentada) foram adotados em relação à
coleta dos dados junto aos sujeitos:
a. Os sujeitos, ao chegarem ao consultório em horário pré-agendado,
foram recebidos exclusivamente pelo pesquisador;
b. Após um breve esclarecimento a respeito do trabalho a ser realizado, o
pesquisador pediu ao sujeito para ler, compreender e assinar o termo de
compromisso;
44
50. c. Foi coletada a dosagem de glicemia do paciente;
d. O pesquisador aplicou a entrevista semidirigida 1, para levantamento
dos dados de caracterização do sujeito e a entrevista semidirigida 2,
para levantar as situações consideradas agradáveis e que foram usados
no protocolo de indução hipnótica.
e. Cada sujeito indicou uma cor do instrumento VAS fazendo referência a
qual estado de humor estaria sentido naquele momento;
f. Foi coletada a dosagem de glicemia do paciente;
g. A seguir foi pedido ao paciente que fechasse os olhos e se deitasse no
colchão em silêncio.
h. Após 20 minutos foi novamente coletada outra dosagem de glicemia;
i. Decorridos mais 20 minutos, foi pedido para o sujeito abrir os olhos;
j. Novamente foi pedido que o sujeito indicasse uma cor do instrumento
VAS, referindo-se qual estado de humor sentia naquele momento;
k. Outra dosagem de glicemia foi coletada;
l. Foi aplicada a entrevista semidirigida número 3, para levantamento das
percepções do sujeito em relação à experiência vivenciada;
m. Nova coleta da dosagem de glicemia do paciente;
n. Encerramento do processo com retificação sobre devolutiva da
pesquisa;
o. Oferecimento de lanche após todo o processo.
Grupo Intervenção: composto por dez sujeitos submetidos a três sessões com
duração de aproximadamente uma hora. Chegaram ao consultório sob a
orientação de estarem em jejum por um período de pelo menos oito horas.
45
51. Foram sessões que ocorreram ao longo de seis semanas (cada sujeito
vinha uma vez por semana, com horários de inicio variando entre 6h30min da
manhã a 8h00 da manhã.
Sessão 1:
Os seguintes passos (na ordem apresentada) foram adotados em relação à
coleta dos dados junto a esses sujeitos:
a. Os sujeitos, ao chegarem ao consultório em horário pré-agendado,
foram recebidos exclusivamente pelo pesquisador;
b. Após um breve esclarecimento a respeito do trabalho a ser realizado, o
pesquisador pediu ao sujeito para ler, compreender e assinar o termo de
compromisso;
c. Foi coletada a dosagem de glicemia do paciente;
d. O pesquisador aplicou a entrevista semidirigida 1, para levantamento
dos dados de caracterização do sujeito e a entrevista semidirigida 2,
para levantar as situações consideradas agradáveis e que foram usadas
no protocolo de indução hipnótica.
e. O sujeito indicou uma cor do instrumento VAS fazendo referência ao
estado de humor que sentia naquele momento;
f. Foi coletada a dosagem de glicemia do paciente;
g. A seguir foi pedido ao paciente que fechasse os olhos e se deitasse no
colchão em silêncio.
h. Inicio do protocolo de indução hipnótica adaptado aos dados levantado
no item d; (é importante ressaltar que tal protocolo foi sendo adaptado à
realidade do paciente, segundo observações do pesquisador, seguindo
uma abordagem ericksoniana)
46
52. i. Após indução da parte 1 do processo (relaxamento) foi novamente
coletado a dosagem de glicemia do paciente;
j. Continuação do protocolo de indução hipnótica adaptado aos dados
levantados no item d (parte 2 de indução);
k. Encerramento da indução;
l. O sujeito novamente indicou uma cor do instrumento VAS, referindo-se
ao estado de humor sentido naquele momento;
m. Nova coleta da dosagem de glicemia do paciente;
n. Foi aplicada a entrevista semidirigida número 3, para levantamento das
percepções do sujeito em relação à experiência vivenciada;
o. Nova coleta da dosagem de glicemia do paciente;
p. Encerramento do processo com retificação sobre devolutiva da
pesquisa;
q. Oferecimento de lanche após todo o processo.
Sessões 2 e 3:
Os seguintes passos (na ordem apresentada) foram adotados em relação à
coleta dos dados junto a cada sujeito:
a. Os sujeitos, ao chegarem no consultório em horário pré-agendado, foram
recebidos exclusivamente pelo pesquisador;
b. O sujeito indicou uma cor do instrumento VAS fazendo referência ao estado
de humor que sentia naquele momento;
c. Foi coletada a dosagem de glicemia do paciente;
d. Foi pedido a cada paciente que indicasse se queria alterar ou adicionar
alguma outra situação agradável para ser vivenciada.
47
53. e. Foi pedido ao paciente que fechasse os olhos e e se deitasse no colchão
em.
f. Início do protocolo de indução hipnótica adaptado aos dados levantados
anteriormente (é importante ressaltar que tal protocolo foi sendo adaptado à
realidade do paciente, segundo observações do pesquisador, seguindo uma
abordagem ericksoniana)
g. Após indução da parte 1 do processo (relaxamento) foi novamente coletada
a dosagem de glicemia do paciente;
h. Continuação do protocolo de indução hipnótica adaptado aos dados
levantados (parte 2 de indução);
i. Encerramento da indução;
j. O sujeito novamente indicou uma cor do instrumento VAS referindo-se ao
estado de humor sentido naquele momento;
k. Nova coleta da dosagem de glicemia do paciente;
l. Foi aplicada a entrevista semidirigida número 3, para levantamento das
percepções do sujeito em relação à experiência vivenciada;
m. Nova coleta da dosagem de glicemia do paciente;
n. encerramento do processo com retificação sobre devolutiva da pesquisa;
o. Oferecimento de lanche após todo o processo.
4.5.3 - Tratamento dos Dados:
Com os dados coletados, foram feitas análises qualitativas e
quantitativas de forma descritiva e comparativa, em seguida, procedeu-se à
divisão dos dados em 5 variáveis analisadas estaticamente. Os dados
48
54. qualitativos, em sua maioria, foram tratados por método comparativo. Os
resultados também foram apresentados através de tabelas e gráficos.
4.6. Cuidados Éticos
A seguir, serão discriminados os cuidados éticos que foram devidamente
observados durante o desenvolvimento deste trabalho:
4.6.1 - O projeto – “Situações agradáveis vivenciadas em hipnose e
diabetes mellitus tipo II”, foi submetido à aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O referido comitê
foi positivo permitindo ao pesquisador dar continuidade a pesquisa;
4.6.2 - O pesquisador assinou o Termo de Compromisso do
pesquisador, comprometendo-se a: atender os deveres institucionais básicos
da honestidade, sinceridade, competência e da discrição; pesquisar adequada
e independentemente, além de buscar, aprimorar e promover o respeito à sua
profissão; não fazer pesquisa que possa causar riscos não justificados às
pessoas envolvidas; não violar as normas do consentimento informado;
comunicar ao possível sujeito todas as informações necessárias para um
adequado consentimento informado; propiciar ao sujeito plena oportunidade e
encorajamento para fazer perguntas; excluir a possibilidade de engano
injustificado, influência indevida e intimidação e obter de cada possível sujeito
um documento assinado como evidência do consentimento informado;
4.6.3 - Foi utilizado o termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
informar aos sujeitos da pesquisa a respeito das garantias de acesso a
49
55. qualquer tempo às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios
relacionados à pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas.
4.6.4 - O sujeito terá acesso ao pesquisador a qualquer momento via
telefone e/ou e-mail impressos no Consentimento Livre e Esclarecido cuja
cópia ficará em seu poder.
4.6.5 - O sujeito terá liberdade de retirar seu consentimento a qualquer
momento e de deixar de participar do estudo, sem que isso traga prejuízo à
continuidade da assistência.
4.6.6 - O sujeito terá a salvaguarda da confidencialidade, sigilo e
privacidade.
4.6.7 - Será de conhecimento do sujeito, através do Termo de
Consentimento, que os resultados da Pesquisa serão utilizados como parte dos
requisitos para que o pesquisador obtenha o título de mestre em Psicologia; e
para futura publicação. Não haverá, no entanto, a identificação dos sujeitos,
sendo apenas mencionados os dados e local onde a pesquisa está sendo
realizada.
4.6.8 - O pesquisador poderá sugerir ao sujeito que não continue o
processo caso perceba que o mesmo não se sente à vontade ou constrangido,
neste caso, em comum acordo, poderá encaminhar o sujeito.
4.6.9 - Sempre que houver um diagnóstico médico ou uma suspeita de
indicação médica o sujeito será orientado para que procure um médico e faça
o tratamento indicado.
4.6.10 - Os sujeitos serão informados que após a conclusão da
pesquisa, serão contatados para devolutiva em grupo, para que seja feita uma
explanação geral dos resultados e conclusões do estudo.
50
56. 5. RESULTADOS
Os resultados apresentados referem-se a cinco variáveis que serão
apresentadas separadamente para posterior análise na discussão dos
resultados. São variáveis de cunho qualitativo e quantitativo tratadas por
método comparativo entre os dois grupos da pesquisa . Os dados qualitativos
foram tratados por análise de conteúdo (BARDIN, 1977) usando análise
categorial temática, ou seja, foram criadas categorias baseadas nas
informações coletadas nas entrevistas 1 e 2 em anexo e os dados, separados
nessas categorias, que foram posteriormente quantificadas. Os dados
quantitativos foram expressos de maneira estatística descritiva.
As variáveis verificadas na pesquisa são:
1. Dados sócio-demográficos: Dados coletados através de entrevista dirigida
(anexo 2), contendo questionamentos sobre idade, estado civil, nacionalidade,
sexo, número de filhos, ocupação, escolaridade, religião, tempo de diagnóstico,
tempo em tratamento, outras doenças, tipo de medicamento, exercícios físicos
e dieta alimentar;
2. Vivências agradáveis: vivências citadas pelos sujeitos da pesquisa como
agradáveis de serem vivenciadas em transe. Tais vivências foram divididas em
dez categorias: presentes importantes, conquistas, relacionamentos afetuosos,
viagens, sensações prazerosas, nascimentos, conhecer cônjuge, lugares
agradáveis, experiências religiosas e aprendizagens;
3. Níveis de Glicemia: Referem-se aos níveis de glicemia (anexo 5) coletados
durante a pesquisa. As medições foram realizadas antes, durante e após em
dois momentos: imediatamente após e dez minutos após a intervenção;
51
57. 4. Sensação de bem estar: refere-se às sensações de bem estar descritas pelo
sujeito antes e após a intervenção. São cinco cores possíveis de escolha (que
foram apresentadas em uma escala visual aos sujeitos – anexo 4): Branco (1),
Azul (2), Amarelo (3), Laranja (4) e Vermelho (5). A cor amarela é a cor
mediana da escala, e representa o estado normal. As cores anteriores
representam as sensações “mal” (azul) e “muito mal” (branco) e as cores
posteriores representam as sensações “bem” (laranja) e “muito bem”
(vermelha);
5. Impressões sobre a intervenção: Referem-se aos dados coletados na
entrevista semi-dirigida 3 (anexo 7). As respostas fechadas são apresentadas
quantitativamente, enquanto as respostas abertas foram também agrupadas
em categorias de acordo com o conteúdo das respostas.
Como a intenção da intervenção com o grupo controle foi ter apenas um
padrão de comparação no tocante ao nível de glicemia e bem estar, as
variáveis medidas foram: dados sócio-demográficos, nível de glicemia e
sensação de bem estar, que serão apresentadas e, posteriormente, analisadas.
52
58. 5.1. Dados sócio-demográficos
FAIXA ETÁRIA:
Grupo Intervenção
Gráfico 1A. Faixa Etária - Grupo
Intervenção
Abaixo de 45
30%
40% De 45 a 56
Acima de 56
30%
No que se refere aos dados de faixa etária, a média de idade desse
grupo é de 52 anos: 30% dos sujeitos têm abaixo de 45 anos de idade, 30%
tem entre 45 e 56 anos de idade e 40% dos sujeitos têm acima de 56 anos de
idade.
Grupo Controle
Gráfico 2A. Faixa Etária - Grupo Controle
25%
38% Abaixo de 45
De 46 a 56
Acima de 56
37%
53
59. No que se refere aos dados de faixa etária, a média de idade desse
grupo é de 51 anos: 25% dos sujeitos têm abaixo de 45 anos de idade, 37%
tem entre 45 e 56 anos de idade e 38% dos sujeitos têm acima de 56 anos de
idade.
Dois grupos
Gráfico 3A. Faixa Etária - Dois Grupos
28%
39% Abaixo de 45
De 45 a 56
Acima de 56
33%
No que se refere aos dados de faixa etária, a média de idade desse
grupo é de 52 anos: 28% dos sujeitos têm abaixo de 45 anos de idade, 33%
tem entre 45 e 56 anos de idade e 39% dos sujeitos têm acima de 56 anos de
idade.
SEXO:
Grupo Intervenção
Gráfico 4A. Sexo - Grupo Intervenção
20%
Mulheres
Homens
80%
54
60. No grupo de intervenção, de dez sujeitos, 80% são mulheres e 20% são
homens.
Grupo Controle
Gráfico 5A. Sexo - Grupo Controle
13%
Mulheres
Homens
87%
No grupo controle, de oito sujeitos, 87% são mulheres e 13% são
homens.
Dois grupos
Gráfico 6A. Sexo - Dois Grupos
17%
Mulheres
Homens
83%
Na combinação dos dois grupos, de dezoito sujeitos, 83% são mulheres
e 17% são homens.
ESTADO CIVIL:
55
61. Grupo Intervenção
Gráfico 7A. Estado Civil - Grupo Intervenção
10%
10% Casados
Soletiro
Viúvo
80%
Neste grupo, pode ser observado que 80% dos sujeitos são casados,
10% é solteira e 10% é viúva.
Grupo Controle
Gráfico 8A. Estado Civil - Grupo Controle
100%
Já no grupo controle, toda a amostra (100%) é casada.
Dois grupos
Gráfico 9A. Estado Civil - Dois Grupos
5% 6%
Casados
Soletiro
Viúvo
89%
56
62. Neste grupo, pode ser observado que 89% dos sujeitos são casados,
5% é solteira e 6% é viúva.
OCUPAÇÃO:
Como a amostra é pequena em ambos os grupos, a ocorrência por
ocupação foi bem diversificada, razão pela qual cada uma será apresentada
em seu respectivo grupo. Grupo Intervenção
Essa amostra indica as seguintes ocupações: aposentada, psicóloga,
professora, funcionária pública, responsável por limpeza, agrônomo, dona de
Casa, engenheiro, dentista. Cabe ressaltar que a ocupação “aposentada” é
indicada duas vezes.
Grupo Controle
Esta amostra indica as seguintes ocupações: aposentada, professora,
advogada, dona de casa, enfermeira, mecânico. Cabe ressaltar que as
ocupações “aposentada” e “dona de casa” são indicadas duas vezes.
ESCOLARIDADE:
Grupo Intervenção
Gráfico 10A. Escolaridade - Grupo Intervenção
20% Até 4 série
Até 8 série
Até 2 grau
10%
3 grau incompleto
70% 3 grau completo
57