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Carroceria de fastback 1968 vira Talladega
ano 9 #108
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9 771808 939007 80100
ISSN 1808-9399
ISSN 1808-9399
fordtorino
Garage Tech: motor V8 injetado História: T- Bucket, a essência do hot rod Técnica: ganhe potência
aumentando a taxa de compressão Viva Las Vegas: prepare-se para a edição 2014 em abril
hotrods#108fordtorinotalladega-fordf-1001954-ford1929roadster-dodgedart1975-f-1001964-morrisminorwww.cteditora.COM.BR
Ação de lixadeira garante visual
desgastado desta picape Ford
Exemplar amarelo era o que
faltava na coleção do “dogeiro”
Até “banco da sogra” é preservado
no raro modelo Ford 1929
roadster dart1975 F-1001964
Modelo inglês originalmente de 50 HP se
transforma em veloz viatura para voar na pista
Morrisde550hp
MemóriaafetivaA paixão por carros, quando reforçada por laços familiares ou de
amizade, explica o mítico universo dos Hot Rods
Editorial
Ademir Pernias e Ricardo Kruppa - editores
O
leitor habitual de Hot Rods já deve
ter chegado a esta conclusão: a
esmagadora maioria dos carros
apresentados nas páginas da revis-
ta vem acompanhada de histórias
emocionantes de sonhos de infân-
cia, homenagens a antepassados queridos
ou cultos a recordações valiosas de tempos
idos. É a memória afetiva o principal motor
(desculpem o trocadilho) do universo Hot
Rods. Apenas nesta edição, há pelo menos
dois bons exemplos disso. Na reportagem
sobre o Dodge Dart 1975, foi o tio do
proprietário, ou melhor, o Dart do tio do
proprietário, que o motivou a colecionar
exemplares do modelo. Até a cor preferida
remonta uma preferência de infância.
As histórias ficam mais emocionantes ainda
quando retratam a relação entre pai e filho,
mas que envolvem um automóvel: ou era
a picape utilizada pelo pai no trabalho no
campo, ou o muscle que deu à criança ou
adolescente, no banco do passageiro, as
primeiras emoções de ter o corpo puxado
para o encosto pela força do motor... Outra
matéria desta edição conta exatamente
a história do filho do caminhoneiro que,
depois de adulto, reúne condições para rea-
lizar não apenas o seu sonho de infância,
mas também aquele que seu pai manifestara
quando vivo: o de ter uma picape F-100,
igual à que os dois admiravam anos atrás,
numa viagem na boleia do caminhão.
Se o ser humano ocidental é apaixonado
por carros, imaginem então quando esta pai-
xão é reforçada por laços afetivos que unem
pai e filho, tio e sobrinho, velhos amigos.
Que todos tenham uma emocionante
leitura!
Sumário
CrazyTurkeyEditora
Diretores
Vera Miranda Barros
Miguel Ricardo Puerta
ChefedeRedação-Ademir Pernias / Editores-Ademir Pernias e Ricardo Kruppa - hotrods@cteditora.com.br / Textos-Aurélio
Backo, Flávio Faria, Manuel Bandeira, Victor Rodder e Vitor Giglio / EditordeArte-André Santos de Sousa- andre@
cteditora.com.br / EditordeFotografia-Ricardo Kruppa - ricardokruppa@cteditora.com.br / ConsultoriaTécnica-Norberto
Jensen, Sérgio Liebel e Cosme Santos / DigitalizaçãodeImagemeProdução-Marcio Martins, Danilo Almeida / Diretor
Administrativo-Miguel Ricardo Puerta / DiretoraComercial-Vera Miranda Barros - (11) 2068-7485 / GerenteComercial-
Geovania Alves / Contato-Dorival Sanchez Júnior / AssinaturaseAtendimentoaoLeitor - Kyka Santos - (11) 2068-7485 /9287
- assinatura@cteditora.com.br / Contabilidade-RC Controladoria e Finanças - (11) 3853-1662. Resp.: Ricardo Calheiros /
AssessoriaJurídica-Juliana T. Ambrosano / Assinaturasenúmerosatrasados-(11) 2068-7485 de segunda a sexta das 9h às 18h -
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HotRods
A Hot Rods é uma publicação mensal da Crazy Turkey Editora
e Comércio Ltda. • Redação, Administração e Publicidade: Rua
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Fones/fax: 55 11 2068-7485/ 9287. Distribuidora exclusiva para
todo o Brasil - Fernando Chinaglia Distribuidora • A Hot Rods
não admite publicidade redacional • É proibida a reprodução das
reportagens publicadas nesta edição sem prévia autorizacão • As
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Crazy Turkey Editora Ltda • Ninguém está autorizado a receber
qualquer valor em nome da Crazy Turkey Editora ou da Hot Rods.
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cteditora.com.br / JornalistaResponsável-Ademir Pernias - MTb
25815 / ImpressãoeAcabamento-Prol Editora Gráfica
Ford1929Roadster
Raro no Brasil, Ford 1929 Roadster com visual street e mecância V8 mostra
receita clássica do hot rod americano06
www.cteditora.com.br-Notwitter:@revistahotrods
Blog:www.revistahotrods.blogspot.com-Procure-nostambémnoFacebook
Picape chegou às mãos do proprietário com
pintura nova, mas logo entrou na lixadeira
Filho de caminhoneiro compra e restaura
picape F-100 em homenagem ao pai
Carroceria que servia de galinheiro se
transforma em um clássico para competição
Exemplar inglês mostra do que é capaz
um 4x4 nas pistas de arrancada
Saiba tudo sobre a cultura Tiki, que
promove o bem-estar das ilhas do Pacífico
Aficionado por Dodge, jovem monta Dart
exatamente como sonhou quando criança
22
40
58
30
52
66
F-1001964
FordF-1001954
FordTorinoTalladega
MorrisMinor
CulturaHot
DodgeDart1975
Ford1929Roadster
FilhoúnicoRaro no Brasil, Ford 1929 Roadster com
visual street e mecânica V8 mostra receita
clássica de hot rod americano
Texto: Flávio Faria::Fotos: Ricardo Kruppa
HotRods8
Ford1929Roadster
Roadster é impulsionado por um
motor Ford V8 de 302”
D
os primórdios da produção automotiva até o início
da década de 1930, a Ford foi quase soberana.
Ainda que os carros fossem ainda exclusividade
de quem tivesse os bolsos fundos (e cheios), não se
pode dizer que Henry Ford não tenha sido um dos
responsáveis pela popularização do automóvel como
meio de transporte. Depois do imenso sucesso do modelo “T”,
a gigante americana preparou a sua nova geração, “A”, que
chegou ao mercado em meados de 1927. Seguindo a linha
do primeiro modelo, os Ford “A” podiam ser encontrados com
até 20 tipos diferentes de carroceria, ao gosto do cliente, entre
sedãs (duas e quarto portas), esportivos, picapes, cupês e
conversíveis, todos compartilhando uma base em comum, mas
com grande variação de preço, de acordo com o status que
cada um conferia ao seu dono. Por isso, hoje em dia, algumas
carrocerias são mais raras do que outras. Isso porque algumas
venderam menos, foram produzidas em menor escala e, con-
sequentemente, poucas podem ser encontradas hoje em dia. E
as que resistiram não saem barato.
O Modelo “A” desta reportagem, de 1929, é um verdadeiro
clássico dos hot rods americanos. Modelo Roadster, ou con-
versível esporte, teve um número reduzido de unidades produ-
zidas e, menos ainda, importadas para o Brasil. Por isso, até
no mercado de hot rods, quem tem uma dessas não vende.
Só que este não é o pensamento do comerciante Mauro
Garbim, de São Paulo, que adquiriu o carro já com o intuito
de fazer negócios. “Sempre tive hot rods, Chevrolet 1938,
Plymouth Bomber 1929, Ford 1948, entre outros. Este Ford,
em particular, nós adquirimos para revenda”, conta ele, que
não precisou ter nenhum trabalho para restaurar o carro.
HotRods10
Ford1929Roadster
Rodas American Racing, de 15”, são
envolvidas por pneus Michelin
Ford1929Roadster
HotRods12
Street
O visual ainda guarda traços do final da década de 20.
Os para-lamas originais foram mantidos e trazem elegância
para o conjunto. A agressividade fica por conta das rodas
American Racing, de 15”, que envolvem o jogo de pneus
da marca francesa Michelin, nas medidas 205/75. A cor
preta é clássica dos hots desta época (quem nunca ouviu
falar na frase de Henry Ford: “O cliente pode ter o carro da
cor que quiser, desde que seja preto”?). Um detalhe curioso
é que, ao contrário da maioria dos projetos deste tipo, o
Roadster ainda preservou o banco traseiro retrátil, conhe-
cido por essas bandas como “banco da sogra”, inclusive
mantendo os apoios originais para os passageiros poderem
subir, nos para-lamas traseiros. A frente continua com a
imponência dos modelos da época, inclusive com a grade
cromada, com direito ao símbolo de época. Faróis também
são de época e as lanternas traseiras foram importadas.
Por dentro, a restauração foi feita com muito requinte. A cor
dos estofados e do revestimento interno cria um contraste
bonito com a pintura da carroceria. Os bancos e forros são
em couro. O volante Billet é revestido de couro, na mesma
tonalidade do interior, montado sobre a coluna de direção
Billet, cromada, mesma marca das pedaleiras. O painel, que
segue a cor do exterior, recebeu uma moldura cromada para
os instrumentos da americana Auto Meter, linha clássica para
hot rods, com o fundo claro, entre eles: manômetro de óleo,
voltímetro, velocímetro, nível de combustível e temperatura da
água. A alavanca de câmbio também é cromada, da Lokar.
Esportivo de respeito
Montado sobre o chassi feito sob medida para o modelo
está um propulsor Ford V8 de 302”, famoso por equipar o
lendário Maverick GT. Com 200cv de potência original, o
propulsor ainda recebeu um sistema de alimentação mais
ignorante, com um carburador Holley de 600cfm de vazão.
Combinado ao sistema de escape feito sob medida, a sobre-
alimentação propiciada pelo carburador de quatro câmaras
rendeu alguns cavalos extras para o motor. O câmbio é um
modelo C4, automático, de tocada muito suave, mas que
impõe respeito quando o pedal da direita é exigido. A sus-
pensão independente nos quatro eixos dá conta de segurar
o Roadster no trilho, mas não abuse demais, senão a “trasei-
rada” será forte. Para frear, o Fordinho conta com eficientes
discos na dianteira e tambores na traseira.
Mesmo que o objetivo principal seja a venda, Mauro comen-
tou que usa o Fordinho sempre que pode, inclusive para ir a
eventos e exposições. No caso dele, você não faria igual?
HotRods13
Revestimento claro
contrasta com o preto
da carroceria. Instru-
mentos são da linha
clássica da Auto Meter
Ford1929Roadster
HotRods14
Para-lama traseiro possui apoio para
permitir acesso ao “banco da sogra”
FichaTécnica
Ford1929Roadster
Parte externa
Carroceria em lata
Rodas American Racing 15”
Grade original
Lanternas traseiras importadas
Acessórios importados
Pneus Michelin 205/75
Parte interna
Bancos de couro
Forração de couro
Alavanca de câmbio Lokar
Volante Billet
Coluna de direção Billet
Pedaleiras Billet
Instrumentos Auto Meter
Mecânica
Motor Ford 302”
Carburador Holley 600cfm
Escape sob medida
Câmbio automático C-4
Suspensão independente
Freios a disco na dianteira e tambor na traseira
V8injetadoAcompanhe a instalação de um kit de injeção eletrônica em um motor V8,
que melhora a performance e evita danos aos componentes
GarageTech
Texto e fotos: Norberto Jensen
E
ste mês, a seção Garage Tech mostra como instalar
um kit importado de injeção eletrônica de combustí-
vel em um motor V8. Este kit está se tornando muito
popular, pois, além de permitir programar a inje-
ção para vários níveis de performance, o que aju-
HotRods16
O kit ainda embalado, que já vem completo
da no dia-a-dia, é útil em caso de o veículo ficar parado
por longo período, pois evita que o combustível estrague
e cause danos aos componentes do motor.
Dúvidas e sugestões, escreva para suporte@hotcustoms.com.br
01
HotRods17
O motor V8 carburado
Solte os quatro parafusos e retire também os parafusos do coletor de
admissão
O coletor de admissão está pronto para receber o kit
Abra a embalagem para mostrar os componentes do kit
Solte os parafusos de fixação do carburador
Retire o carburador com cuidado
03
05
07
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04
06
HotRods18
GarageTech
Verifique se o plate se encaixa perfeitamente ao coletor
Instale o corpo de injeção, que ocupa o espaço do próprio quadrijet
Instale a linha de alimentação de combustível
Inicialmente, coloque o primeiro plate
Coloque o segundo plate espaçador
O kit instalado
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HotRods19
Local de colocação da sonda, que vai requerer um furo com a porca
soldada ao escape
Ligue o chicote da injeção ao chicote do carro
Coloque então os sensores para leitura de temperatura
A sonda lambda, que será instalada no escape
Encaixe e rosqueie a sonda até o fim
Ao fixar o chicote, cuidado para não deixá-lo perto de partes do motor
que terão altas temperatura (coletor de escape, etc)
15
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18
HotRods20
GarageTech
A instalação está finalizada. Normalmente esses kits já têm a pré-programação dos principais motores
22
garagetech
Conecte o chicote aos sensoresAperte bem para que não haja vazamento de água
2120
HotRods21
F-1001964
Esta F-100 1964 chegou às mãos de administrador paulistano com
a pintura em ótimo estado, por isso ele fez questão de mandar
envelhecê-la um pouco
Texto: Flávio Faria::Fotos: Ricardo Kruppa
Banhodeferrugem
HotRods24
F-1001964
N
o universo dos hot rods, as picapes têm lugar de
honra. As possibilidades são muitas para quem
busca este tipo de projeto, como deixar no estilo
“street”, com visual mais original; rat, com muita
ferrugem; ou até um estilo mais envelhecido, evi-
denciando o caráter mais “bruto” deste tipo de veí-
culo, mas não tão agressivo quanto os “ratos”. Esta última
opção foi o caminho seguido pelo administrador paulista-
no José Rosnei Piccoli, conhecido como Nei, de 50 anos,
que encontrou esta F-100 1964 um dia, por acaso, em
um site de compra e venda na internet. Segundo ele, tudo
indicava que o carro estava em bom estado. “O preço
estava bom, fiquei até desconfiado, pois a caminhonete
parecia ser bonita. O veículo estava no interior de São
Paulo e, após alguma negociação, marquei de ver a
picape no dia seguinte. Um amigo me acompanhou na
viagem e fomos conhecer aquela F-100. Quando vimos o
carro, meu amigo disse que, se eu não a comprasse, ela
seria dele”, comenta o proprietário, que tratou de verificar
detalhadamente o estado do veículo. “Ela não rodava
havia anos, mas a pintura estava novinha, parecia que
havia sido feita recentemente. Muitos detalhes estavam
pintados de cinza, como para-choques, quebra-mato,
grade dianteira e aros dos faróis. Faltava colocar vidros,
maçanetas, manivelas, bancos. Na cabine, um volante
esportivo pequeno, de carro, e não havia forração e
tapeçaria. O motor era de Opala, com câmbio “clek-clek”
antigo, hidrovácuo adaptado, mas sem funcionar. Olhei
por baixo, feixes de molas dianteiro e traseiro no lugar,
cardã e diferencial no lugar. O chassi também parecia
em ordem, sem emendas, trincos ou rachaduras. Olhando
aquela F-100 montada parcialmente não tive dúvidas: o
importante era ter a cabine e a caçamba em ordem, o
resto eu daria um jeito”, explicou Nei, que na mesma hora
fechou o negócio e chamou o guincho para levar a pica-
pe para casa.
HotRods25
Interior não possui forração e os
bancos originais foram trocados por
um inteiriço
HotRods26
F-1001964
O motor escolhi-
do para impul-
sionar a picape
é um GM 4.1 de
6 cilindros. A
pintura ganhou
pinstripings
Lixa nela!
O trabalho de restauração da F-100 foi feito com muita calma.
Foram trocados acessórios externos, como lanternas, piscas e
faróis. A pintura, que chegou como nova às mãos do admi-
nistrador, teve um contato imediato com a lixadeira e foi pro-
positalmente deixada para enferrujar em pontos estratégicos.
Em seguida, foi passada uma camada de verniz, para que a
ferrugem não “comesse” a carroceria. O objetivo de Nei foi
dar um aspecto envelhecido à carroceria. “Nos encontros e
eventos sempre encontramos muitos carros originais ou hots
restaurados da melhor forma possível. Notei que não tinha
carros envelhecidos. Havia muitos rats, com muita ferrugem
mesmo, mas nenhum modelo mais sóbrio. Pesquisando mais
na internet, descobri que os carros envelhecidos estavam agi-
tando os eventos americanos há anos, mas aqui no Brasil esta
onda ainda não estava em alta. Como eu queria ter um carro
diferente e que provocasse uma sensação boa de aparência,
além da tendência atual para carros envelhecidos, não pensei
duas vezes: “Vai entrar na lixa”, decidi. No entanto, antes de
fazer qualquer mudança eu pesquisei muito para não perder
as características da caminhonete”, conta.
Se você, leitor, ficou com dó da Fordinha, não foi o úni-
co. “Minha esposa quase endoidou quando me viu lixan-
do a caminhonete”, brinca o proprietário. Ainda foram fei-
tos pinstripings, para deixar o visual ainda mais old scho-
ol. As rodas são de 15”, da Mangels, cromadas. O ar
vintage é garantido pelas calotas adaptadas do Ford 36.
As redondas estão montadas em pneus Zhone 235/75
na dianteira e Pirelli Scorpion 255/75 na traseira.
Rústica
Por dentro foi mantido o máximo de originalidade. Não foi
feita forração interna. Os bancos originais foram trocados por
um inteiriço, que combina melhor com a Fordinha. No painel,
os instrumentos originais foram mantidos, após restauração.
Para monitorar a saúde do motor ainda foram adicionados um
termômetro de água e de óleo e um medidor de combustível.
O volante é original, mas recebeu uma adaptação no cubo
para ficar mais alto e dar uma posição de direção mais con-
fortável. Até o rádio é nostálgico, original dos anos 60.
Vai de seis
Na época da reforma, Nei tinha na garagem duas opções
de motores: um GM 4.1 de seis cilindros e um Dodge V8
318”. Por uma questão de custo, ele acabou decidindo
pelo primeiro, o que com certeza não foi má ideia. A uni-
dade, moderna, tem ignição eletrônica, tuchos hidráulicos
e carburador Solex H-34, de corpo duplo. Além disso, o
sistema conta com um jogo de cabos de vela Accel 8mm,
HotRods27
HotRods28
F-1001964
Nei e sua F-100 1964: estilo
envelhecido foi obtido com a ação
de uma lixadeira na pintura
encaixadas em velas da NGK. Atualmente, a picape roda
a gasolina. O câmbio é manual, de quatro velocidades,
com acionamento no assoalho. Os freios são a tambor
nas quatro rodas, mas dão conta tranquilamente de parar
os 200cv de potência do seis cilindros.
A suspensão, embora original, teve o feixe de molas
invertido, para rebaixar um pouco a carroceria. Segundo
Nei, o carro é perfeito para pegar a estrada. “Está muito
bom de dirigir, ainda mais para viajar, é muito estável,
com a caixa de direção nova, pneus largos, mas precisa
ter braço para segurar”, conta o proprietário, que utiliza a
picape todos os dias para trabalhar. “É meu carro de uso
diário, confio muito nele. O engraçado é que encontro
muitas pessoas na rua que não conhecem este tipo de
personalização de carros antigos e vêm me perguntar de
que cor eu vou pintar”, conta, divertido.
Quem fez:
Oficina do Carlão. Tel. (11) 99770-4327.
Molas Bari. Tel. (11) 3902-­3914 e 3904-­0701.
Diferencial – Vander. Tel. (11) 3909-­7556.
FichaTécnica
FordF-1001964
Parte externa
Pintura “envelhecida”
Acessórios externos originais
Rodas Mangels 15”
Pneus Zhone 235/75 na dianteira e Pirelli Scorpion 255/75
na traseira
Pinstriping
Parte interna
Banco inteiriço
Volante original
Instrumentos originais
Termômetro de água e óleo
Medidor de combustível
Mecânica
Motor 6 cilindros 4.1L
Ignição eletrônica
Tuchos hidráulicos
Carburador Solex H-34
Cabos de velas Accel 8mm
Velas NGK
Câmbio manual de 4 velocidades
Freios a tambor
HotRods29
De modestos 50HP para mais de 500HP. Definitivamente, este não
é um Morris Minor comum...
Texto: Stav::Fotos: Matt Woods::Tradução: Vitor Giglio
MajorMinor
MorrisMinor
Q
uando falamos de veículos modificados, uma coisa
é fato: se você possui criatividade, talento e, cla-
ro, dinheiro, você consegue construir o que quiser,
a partir do que quer que seja.
Troca de motorização, modificações insanas na
parte externa, grandes alterações no interior – tudo
isso é lugar comum nas páginas de Fast Car, mas é preci-
so admitir que começar um projeto com uma boa platafor-
ma, além de te fazer economizar muitos esforços, pode te
fazer alcançar o supra-sumo das customizações.
É isso exatamente o que Antony Wilkins fez com seu
xodó, um Morris Minor.
Antes de começarmos, vale a pena dizer que este carro
foi um supercarro de arrancadas, um monstro das pistas.
Infelizmente este veículo não existe mais. Ele foi comple-
tamente destruído em um acidente pouco tempo depois
de feitas as fotos utilizadas nesta reportagem. Voltamos a
falar desta trágica parte da história mais adiante.
Se vocês já viram um Morris original por aí, há grandes
chances de ter sido em um passeio ao parque no final
de semana. Não vamos entrar aqui em detalhes sobre
a origem e história do carro, basta dizer que se trata da
versão inglesa do Volkswagen Beetle.
Também conhecidos como “Moggys”, eles foram desenvol-
vidos no início dos anos 1950, durante duas décadas, até
o início dos anos 70. Eles tinham tração traseira e um motor
original que mal chegava aos 50HP, potência que não era
capaz de fazer com que o veículo alcançasse os 80mph.
Definitivamente, não eram veículos de performance.
Mesmo assim, as pessoas amam esses carros, e se você
tiver imaginação e talento suficientes, poderá agregar
a eles a agressividade e performance. E é graças ao
inquestionável talento de Antony que este projeto surgiu.
Antony tem 45 anos, quase o mesmo número de cavalos
que o motor original do carro.
MorrisMinor
HotRods32
Police car
Na parte externa, um grande scoop foi colocado para ali-
mentar o carburador. Essa modificação fez o veículo parecer
com um Morris digno de polícia rodoviária, no entanto, sob
o capô, sua configuração é de um legítimo fora-de-estrada.
Caso você esteja se perguntando, a polícia realmente
usava esses carros, com as mesmas cores adotadas neste
projeto, por mais que esse exemplar esteja mais propício
a fugir de uma viatura.
O chassi do bólido, feito pelo próprio Antony, é tubular.
A utilização desse chassi favorece bastante a estrutura ori-
ginal do modelo. Ele permitiu, por exemplo, que Antony
substituísse o motor original por um exemplar maior. Um
pouco maior. Seis litros maior, na verdade.
O big block Chevrolet utilizado foi modificado, e não
apenas produz um barulho ensurdecedor em baixas rota-
ções, como também surpreende as pessoas nos giros mais
altos, como os 7.000RPM.
Por mais que o veículo nunca tenha passado pelo dinamôme-
tro, já que como diz Antony, “aferir não é legal, a diversão
está em testar e, se não for o suficiente, tentar algo diferente”,
é justo dizer que o Morris beira os 550HP, e isso antes de
ativar o sistema de nitro que injeta mais 150HP nele.
Quando Antony cita o prazer em testar os novos ajustes e
configurações, ele não está exagerando. Como o big block
V8 é munido da maneira tradicional, com carburadores ao
invés de um moderno sistema de injeção, ele testou algumas
configurações: com dois grandes carburadores Holley ele
alcançou sua velocidade final mais alta, enquanto com um
único, e também generoso, carburador Proform, ele con-
segue mais aceleração, atingindo assim melhores tempos,
mesmo sem tanta velocidade final. “Depende de como eu
acordo para decidir o que utilizar”, diz Antony.
Na pista
Olhe para este carro levantando as rodas dianteiras na
largada! Ele possui uma aderência fantástica graças aos
pneus Weld Draglite específicos para arrancada modelo
M/T 10x15.
Qualquer um de vocês que tenha se aventurado em com-
petir em arrancadas em veículos com tração nas quatro
rodas sabe qual a sensação de percorrer 60 pés (cerca
de 18,2 metros) em 1.6 segundo. A questão é que este
Minor atingiu a marca dos 60 pés em apenas 1.3 segun-
do. E, mais emocionante ainda, conseguiu esta proeza
com as rodas dianteiras no ar.
“Na marca dos 60 pés eu engatei a segunda, para fazer
com que as rodas dianteiras voltassem para o solo. Então
foi só segurar firme”, lembra Antony.
Segurar firme, como ele diz, também não foi um exagero.
HotRods33
Big block Chevrolet,
e outras modificações
mecânicas, aumenta-
ram a potência original
do Morris para 550 HP
HotRods34
MorrisMinor
FichaTécnica
MorrisMinor
Preparação
Motor Chevrolet 454 7.4L big block
Pistões forjados Keith Black
Carburador twin Holley 600
Exaustor Flowmaster
Sistema de nitro 150HP
Chassi tubular personalizado
Freios a disco Willwood
Pneus dianteiros Toyo
Pneus traseiros Weld Draglite
Parte Externa
Scoop
Portas em fibra de vidro
Janelas do Lexan
Coloração inspirada nos carros de polícia dos anos 60
Parte interna
Bancos Kirkey
Instrumentos Auto Meter
Cinto de segurança esportivo
Que tal colocar um veículo no solo a 140mph? Adrenali-
na suficiente, não? Emoção para qualquer superesportivo
que se preze, ainda mais para uma “viatura vintage”.
Para parar essa máquina, freios a disco ventilados na
frente e freios a disco Wilwood atrás. “E se não desse
certo era só acionar o para-quedas”, brinca Antony.
Cintos salvadores
Como mencionado no começo desse artigo, este carro não
compete mais, já que foi destruído em um grande acidente.
No entanto, Antony não está mais de luto em função disso,
pois sabe dos perigos que envolvem esse esporte.
Então, vamos aos detalhes. O que, de fato, aconteceu?
Quem poderia explicar melhor que o próprio Antony? “Eu
estava correndo em Santa Pod, quando passei por uma
mancha de óleo e fui perdendo o controle do carro, a cerca
de 130mph, até atingir o muro. Então capotei três vezes e
só me lembro do resgate chegando e de ver a frente do car-
ro, completamente destruída, no chão”, lembra.
“Eu não cheguei a quebrar nenhum osso, apesar de ter
me machucado um pouco. Estes cintos de segurança
esportivos realmente funcionam”, brinca.
Um veículo antigo se transformar em um campeão entre
dragsters pelas mãos do talentoso Antony. Apesar do aci-
dente, será que ele se arrepende de algo? “De maneira
alguma!”, finaliza.
Antony posa ao lado da sua “viatura”, que foi
destruída após um grave acidente
HotRods35
GanhodepotênciaA taxa de compressão é a quantidade de vezes em que a mistura ar/
combustível é comprimida dentro do cilindro. Se você aumentá-la terá um
ganho de potência considerável
Técnica
Texto: Manoel G. M. Bandeira::Fotos: Divulgação
HotRods36
N
esta série de artigos, estamos falando sobre
formas de ganhar alguns cavalinhos a mais no
motor. Na edição anterior, o tema foi a eficiência
volumétrica, responsável por ganhos considerá-
veis de potência. Este mês vamos falar sobre a
taxa de compressão, um dos fatores que também
podem trazer ganhos de potência ao seu motor.
Em geral, os motores mais antigos vinham com uma taxa
de compressão baixa demais. Isso para evitar o proble-
ma da pré-ignição e para economizar combustível. Pré-
ignição, batida de pino, detonação, motor grilando, são
várias formas de chamar o mesmo problema. Na verda-
de, o termo “batida de pino”, na prática, não tem nada a
ver com o que realmente acontece dentro do motor. Esta
expressão deve ter sido criada por alguém que não tinha
a mínima ideia do que acontecia dentro do motor. Porém,
devido ao barulho semelhante ao metal se chocando com
metal, fez surgir o termo que se tornou comum.
Por que acontece?
O problema da pré-ignição acontece quando a mistura
ar/combustível entra em ignição antes da hora. Ou seja,
antes do momento em que o pistão está quase chegando
ao ponto morto superior. A faísca deve ser a responsável
pela ignição, porém, às vezes, outros fatores antecipam
a explosão. Estes fatores podem ser: excesso de carvão
na cabeça do pistão (isso é comum em motores bastante
rodados), combustível de baixa qualidade, taxa de com-
pressão muito alta, velas gastas, etc.
Em geral, a faísca gera a explosão dentro do cilindro um
pouco antes de o pistão chegar ao ponto morto superior
(ponto morto superior é quando o pistão para de subir e
começa a descer). Imagine o pedalar de uma bicicleta.
Você exerce a força no pedal depois que ele passa do
ponto mais alto e começa a descer. Se você forçar o
pedal antes que ele chegue em cima, você estará forçan-
Medindo o volume da
câmara de combustão com
bureta e óleo hidráulico:
esta operação serve para
medir o volume da câmara
de combustão e também o
volume do rebaixo na
cabeça do pistão
do o pedal para trás, ao invés de forçá-lo para frente. Isso
fará com que a sua força seja desperdiçada.
No caso do motor é a mesma coisa. Se a ignição acontece
antes da hora, o pistão tem de vencer a força da explosão
para depois começar a descer. Como um motor tem vários
cilindros, e também considerando o fato de estarmos falando
em motores de 4 tempos, a força dos outros pistões e tam-
bém a própria inércia fazem com que o pistão vença a força
da explosão e consiga completar seu giro. Porém ele irá per-
der boa parte de sua potência com este trabalho extra.
Uma consideração importante: a explosão da mistura
demora um certo tempo para derramar sua força sobre a
cabeça do pistão. Então, a faísca da vela deve conside-
rar este tempo e, portanto, ela deve incendiar a mistura
um pouco antes de o pistão atingir o topo. Em geral,
motores antigos V8 e 6 cilindros em linha têm seu ponto
de ignição regulado com quatro ou cinco graus antes do
ponto morto superior. Ou seja, a faísca acontece quatro
ou cinco graus antes de o pistão estar no topo, isso devi-
do à velocidade do pistão. Se a faísca acontecesse no
exato momento em que o pistão está no topo, o efeito da
explosão empurrando o pistão para baixo demoraria uma
fração de segundo para agir, tempo suficiente para que
HotRods37
Cálculo da taxa de compressão
Ponto morto superior (PMS)
o pistão já estivesse iniciando o movimento de descida.
Assim, haveria considerável perda de potência.
Em geral, os motores têm uma marca que vai de 10 ou 15
graus depois do PMS (ponto morto superior) até 40 graus
antes do PMS. Esta gravação fica na polia do virabrequim.
Com auxílio de pistola de ponto, você consegue determi-
nar exatamente o momento da explosão. Assim, alterando
a posição do distribuidor, você pode acertar o ponto. Não
se esqueça de que estamos falando de motores antigos,
V8 4 ou 6 cilindros em linha, motores anteriores à era
da injeção eletrônica. Os motores de hoje têm sistemas
computadorizados que cuidam da ignição e da injeção
de combustível. Esses sistemas acertam o ponto e a mistura
ar/combustível, regulando automaticamente o motor.
Nos motores antigos, o distribuidor normalmente conta com
dois sistemas de avanço automático do ponto, um sistema
centrífugo com contrapesos e molas, e um sistema a vácuo, em
que uma bomba de vácuo puxa a mesa do distribuidor, avan-
çando o ponto de ignição. Assim, conforme cresce o giro do
motor, o ponto vai aumentando, ou seja, a faísca passa a ser
antecipada, dos 5 graus iniciais ela pode chegar até a 35 ou
38 graus, quando o motor alcança altos limites de giro.
A taxa de compressão é a quantidade de vezes em que a
mistura ar/combustível é comprimida dentro do cilindro. Para
medir a taxa de compressão calculamos o volume do cilin-
dro. Isso pode ser feito através da formula π * r² * h. Some
ao volume do cilindro o volume da câmara de combustão.
Este volume você encontra enchendo a câmara de combustão
no cabeçote com óleo (utilize óleo para sistemas hidráulicos,
que é mais fino e mais fácil de manusear). Para fazer isso uti-
lize uma placa de vidro ou acrílico com dois orifícios. Através
de um deles injete óleo, o ar sairá pelo outro orifício. Você
pode injetar o óleo com uma seringa graduada, uma pipeta
ou uma bureta (materiais de laboratório). Esta operação serve
para medir o volume da câmara de combustão e também o
volume do rebaixo na cabeça do pistão. Para isso, o pistão
deve estar no ponto morto superior. Somando o volume do
cilindro, o volume da câmara de combustão e o volume da
cavidade na cabeça do pistão, divida este valor pela soma
do volume da câmara de combustão mais o volume da cavi-
dade na cabeça do pistão. A taxa de compressão, então,
é a soma dos volumes do cilindro, o volume da cabeça do
pistão e o volume da câmara de combustão, divididos pelo
volume da câmara de combustão mais o volume da cabeça
do pistão. Na prática, supondo que você tenha um volume de
cilindro mais câmara mais cabeça do pistão de 500cc, e um
volume de câmara de combustão mais volume da cabeça do
pistão de 50cc, você terá uma taxa de compressão de 10x1
(dez por um), ou seja, você comprime a mistura 10 vezes.
Como fazer?
Como dissemos no início deste artigo, a taxa de com-
pressão dos motores mais antigos fica em torno de 8x1
(o motor comprime a mistura 8 vezes). Se você aumentar
a taxa para 10x1 terá um ganho de potência considerá-
vel. Para isso pode simplesmente rebaixar o cabeçote.
Aumentando a taxa você deve trocar as velas de ignição
por velas mais frias. Deve também atrasar um pouco o
ponto final, evitando assim a pré-ignição.
Quando fizer os cálculos acima, não se esqueça de conside-
rar a espessura da junta de cabeçote. Você deve considerar
a espessura da junta quando esta estiver montada. Para saber
a espessura exata, meça com um paquímetro uma junta usada.
Se você achou tudo muito confuso, mas adora mecânica,
você irá aprender a medir a taxa de compressão na prá-
tica utilizando as dicas que demos acima. A maioria dos
procedimentos escritos aqui eu aprendi perguntando nas
oficinas de preparação, experimentando e deduzindo.
Se, na minha época, eu tivesse lido um texto como este,
teria ganho muito tempo. Portanto, se você gosta mesmo
de mecânica, ponha tudo isso em prática. Se você leu a
matéria até aqui é porque gosta muito, então não desista
nunca de aprender. Mês que vem tem mais.
T-Bucket:essência
dohotrodModelo é um legítimo hot rod, mas com a vantagem de ser um modelo
extremamente simples de construir
História
Texto: Aurélio Backo::Fotos: Divulgação
HotRods38
T
udo bem, ninguém pergun-
tou, mas o meu modelo
preferido de hot rod é o
T-Bucket! E o que é exata-
mente um T-Bucket?
O modelo clássico de um
T-Bucket seria um hot rod montado a
partir da metade dianteira da carcaça
de um Ford Modelo T de 1920 até
1925, com eixo rígido muito à frente
do chassi, motor V8 exposto, coluna de
direção quase na vertical e, na parte
traseira, uma caçamba bem curta.
O Ford T foi alterado e transformado
desde o dia em que a primeira unidade
saiu da linha de montagem, em 1908.
Muitos anos depois, em 1952, o norte-
americano de origem polonesa Norm
Grabowski resolveu montar a sua ver-
são de um Ford T e acabou criando um
hot rod que viraria um clássico.
A partir de um chassi de Ford Modelo
A com várias alterações, “El Polaco”
(este era um dos seus apelidos) instalou
a porção dianteira de uma carcaça
de Ford 1922 e atrás adaptou uma
caçamba de picape Ford encurtada.
O motor escolhido foi um V8 “novinho”
de Cadillac 1952, que foi adaptado
em uma caixa mecânica de três mar-
chas de um Ford 1939. O eixo traseiro
usado era um “banjo” de Ford 1941.
Um item construtivo importante no
estilo do carro era a posição do eixo
dianteiro: o eixo de um Ford 1937 foi
instalado de maneira a ficar sozinho na
frente do carro e para isto até mesmo
o feixe de molas foi alterado para ficar
atrás do eixo dianteiro. Com tantas
peças de carros diferentes, o chassi
foi “picotado” várias vezes até o carro
ficar do jeito que Norm queria. O resul-
tado final? Excelente! O mérito de “El
Polaco” foi juntar vários elementos que
todo mundo já usava, mas de maneira
diferente. E, o mais importante de tudo,
com excelente proporção e harmonia.
A comprovação disto veio quando o
modelo apareceu na capa da revista
americana Hot Rod de outubro de
1955.
Uma revista sobre hot rods só dava
visibilidade ao modelo entre os já
Réplica do primeiro T-Bucket construído por Norm Grabowski: eixo dianteiro em destaque, quase
isolado do resto do carro
HotRods39
aficionados por carros. Mas o carro
foi apresentado a todo o povo ame-
ricano quando apareceu na impor-
tante revista Life em abril de 1957.
A reportagem era sobre corridas de
arrancada e hot rodding.
Norm vivia na Califórnia, terra do cine-
ma, e seu carro passou a aparecer em
filmagens não muito importantes até ser
escolhido para participar de um famoso
seriado semanal chamado “77 Sunset
Strip”. Este seriado, sobre um detetive
particular, foi exibido nacionalmente na
TV a partir de 1958 até o começo da
década de 60. O T-Bucket era o carro
do personagem “Kookie”, um manobris-
ta do restaurante ao lado do escritório
do detetive. O personagem “Kookie”
se transformou em um fenômeno cultural
nos Estados Unidos. Era adorado por
todos, pois fazia um lado cômico na
série, especialmente pelas garotas,
pelos seus dotes físicos, e os rapazes
adoravam... o seu hot rod! A TV trouxe
fama para o carro de Norm e até lhe
deu um nome: “Kookie Kar”.
Um T-Bucket é um legítimo hot rod, mas
com a vantagem de ser um modelo
extremamente simples de construir
(não necessariamente fácil). O motor é
exposto, só há um banco para estofar,
não precisa de portas e a carcaça para
pintar é mínima. Estas facilidades e
toda a projeção que o modelo ganhou
nas revistas, pistas de arrancada e
TV, fizeram com que o T-Bucket virasse
moda. A partir de 1964, quem qui-
sesse montar um carro destes tinha a
possibilidade de comprar um kit com
chassi e carcaça em fibra de vidro. O
sucesso desses kits fez com que outras
companhias passassem a oferecê-lo:
em 1967, a Speedway Motors; em
1969, a California Custom Roadsters
e, em 1971, a Total Performance.
Todas estas até hoje ofertam tudo
o que é necessário para montar um
T-Bucket, com exceção da última, que
foi absorvida há alguns anos pela
Speedway. Toda esta demanda e
estrutura gerada pelo T Bucket deram
força ao hot rodding e fizeram com
que produtos mais elaborados fossem
desenvolvidos como reproduções de
chassi e carcaças em fibra de mode-
los dos Ford mais novos (novo aqui
significa 1929 até 1934).
A onda do T-Bucket se alastrou pelo
mundo e aqui no Brasil um exemplar
foi montado já no início dos anos
setenta! Esta história contaríamos
nesta edição, mas agora fica para o
próximo capítulo. Não percam!
Aurélio Backo é dono da Lakester,
fabricante de carrocerias de fibra
Norm Grabowski usou uma caçamba de picape encurtada na montagem do primeiro T-Bucket (ao
pé da letra, T-Bucket significaria “balde de Ford Modelo T”)
A primeira “cópia” do carro de Norm Grabowski
foi montada já em 1956, por Tommy Ivo, usava
motor Buick e fazia o quarto de milha em 11
segundos a 190 km/h!
Chassi de T-Bucket: um quadro de tubo
retangular de 5cm x 10cm!
T-Bucket estilo década de 70: aros dianteiros
raiados e bojos de farol no estilo do Modelo T
original
FordF-1001954
Filho de ex-caminhoneiro restaura picape F-100 1954
do jeito que gostaria de ter realizado junto ao pai
Texto: Flávio Faria::Fotos: Rony Petri/Divulgação
Homenagempóstuma
HotRods42
FordF-1001954
O
amor pelos carros antigos é o maior combustível
da cultura Hot Rod. Geralmente, este tipo de sen-
timento atravessa gerações e passa de pai para
filho. O funcionário público Roni Petry, de Quedas
do Iguaçu (PR), sabe bem o que é isso. “Sempre
gostei de carros antigos, pois, como sou filho de
caminhoneiro, viajava constantemente com meu pai nas
férias escolares, época em que ainda víamos muitos car-
ros antigos desfilando pelas rodovias do nosso país. Pas-
sados alguns anos, meu pai se aposentou e, numa viagem
que fizemos, encontramos uma F-100 vermelha à venda
na cidade de Cascavel. Sem condições financeiras para
comprá-la, começamos a conversar sobre os veículos anti-
gos. Foi quando ele revelou que, na década de 1960,
trabalhava com caminhões e picapes e, se um dia pudes-
se, iria adquirir uma caminhonete antiga para restaurar.
Infelizmente meu pai faleceu em 2007 e além da nossa
relação de pai e filho, sempre fomos muito amigos. Como
eu sentia muita saudade dele, decidi encarar um projeto
que talvez fosse de alguma maneira amenizar a dor que
sentia naquele momento e realizar um sonho de nós dois”,
conta Roni, que, a partir de então, começou a procurar
picapes que atendessem ao seu anseio. “Acabei por
encontrar esta F-100 na cidade de Turvo e, após algumas
tentativas, consegui adquiri-la. Com nosso “sonho de con-
sumo” em mãos, comecei a pesquisar maneiras de perso-
nalizá-lo.Sou leitor da revista Hot Rods há anos e acabei
decidindo como queria fazer”, conta o proprietário.
Lisa de lata
Como não estava exatamente nadando em dinheiro, Roni
resolveu se organizar e comprar todo mês algumas peças,
sem pressa, mas sempre adquirindo produtos de qualida-
de. Em 2010, a restauração teve de fato início, com a
desmontagem completa da picape e o início do trabalho
de funilaria. Para a sua surpresa, o estado da lataria era
muito bom. “Lisa”, como se costuma dizer. “Foram encon-
trados apenas dois pontos mais sérios de ferrugem, que
necessitavam atenção, mas como deixei claro que não
estava com pressa, o trabalho todo demorou cerca de um
ano para ficar pronto”, conta. A cor original, azul, deu
lugar ao vermelho, remetendo à caminhonete que vira
com o pai anos antes. O pigmento se chama “Vermelho
Modena”, da Fiat, e para chegar a este patamar de
brilho, foram necessárias oito demãos de tinta. Os para-
choques foram retirados e os para-lamas foram ajustados
para dar um aspecto mais limpo à frente. A grade frontal,
que estava em bom estado, foi cromada. Os acessórios
externos, como maçanetas e espelhos, foram adquiridos
no Brasil mesmo. Os frisos são originais do modelo.
As rodas foram compradas em Curitiba, na V-Fort, e são
HotRods43
Bancos revestidos de couro
vermelho receberam emblemas com
imagens de São Cristóvão. O motor
é um V8 Y-block de 272”
modelos importados, chamados de “Smoothie”, com 15”
de diâmetro e tala 8” na dianteira e 10” na traseira. Em
volta delas está montado um jogo de pneus Cooper Cobra
nas medidas 255/60 na dianteira e 275/70 na traseira.
Tom sobre tom
Diferentemente da maioria dos projetos que costumamos
ver, que apostam no contraste de cores entre a carroceria
e a parte interna, Roni ousou fazer diferente e fez o interior
em outro tom de vermelho. Os bancos são revestidos de
couro, com imagens de São Cristóvão no centro, outra
homenagem ao pai, devoto do padroeiro dos caminhonei-
ros. Foram utilizados também carpetes grossos, que deram
um visual elegante ao interior. O painel, pintado na cor
da carroceria, conta com instrumentos originais, que foram
restaurados e aferidos para funcionar com a mecânica
refeita. O volante é modelo banjo e a coluna de direção é
cromada. Além disso, foram incorporados novos instrumen-
tos para monitoramento da pressão do óleo e da água.
Na medida
Por baixo do capô está instalado um V8 Y-block de 272”,
modelo original desta picape, que apenas recebeu um
carburador bijet, original do Maverick, e detalhes estéticos,
como novas tampas de válvulas. Radiador, ignição e cabos
de vela são da ProComp e dão um visual bacana ao cofre
da Fordinha. O câmbio é de três marchas, com acionamento
na coluna, um charme a mais para a condução do modelo.
O escape foi feito sob medida e se divide em duas saídas
na traseira. Os freios são a disco na dianteira, herdados do
Omega australiano, enquanto na traseira são utilizados tam-
bores. Com 200cv de potência original, este conjunto não
deixa a desejar e o sistema de escape emite um rugido agra-
dável ao ouvido, principalmente em altas rotações. “Chama
bastante atenção das pessoas quando ela berra alto, princi-
palmente das crianças”, pontua o proprietário.
Por enquanto, o modelo ainda não faz grandes viagens.
Segundo Roni, agora é tempo de melhorar a confiabilidade do
projeto, normal em carros antigos. “Ela ficou pronta em dezem-
bro de 2013 e ainda estou identificando pequenos problemas
que possam surgir e ir consertando até ficar como eu espero.
Tem muita coisa que eu ainda quero fazer com ela”, comenta.
Assim como o sonho do seu pai em ter uma picape restau-
rada foi a sua inspiração, Roni já faz planos para trans-
mitir essa paixão para a próxima geração. “Este primeiro
projeto será o presente do meu filho Samuel, atualmente
com sete anos, para quando ele terminar a universidade.
Já para a Sarah, minha filha de três anos, estou tendo
ideias de como será o próximo projeto. De qualquer
maneira, terei bastante tempo para aproveitar antes de
passar os “brinquedos” a eles”, finaliza.
Quem fez:
Motor: Speed Car. Tel. (45) 3227-0749.
Suspensão: Oficina do Tito. Tel. (46) 3532-1929.
Escapamento: Versalles Escapsom. Tel. (45) 3224-2560.
Interior: Santello Couros. Tel. (45) 3223-2435.
Peças alumínio: Art Billits. Tel. (41) 3657-9299.
Rodas: VFort Pneus. Tel. (41) 3254-5222.
Peças importadas: Oficina do Nando. Tel. (45) 3224-6616.
Caçamba: Stepside. Tel. (44) 3687-1357.
HotRods44
FordF-1001954
Customização incluiu pintura no
tom vermelho Modena e retirada do
para-choque. Coluna de direção é
cromada
FichaTécnica
FordF-1001954
Parte externa
Pintura vermelho “Modena”, da Fiat
Grade cromada
Para-choques retirados
Frisos originais
Acessórios externos cromados
Rodas Smoothie 15”
Pneus Cooper Cobra 255/60 na dianteira e 275/70 na traseira
Parte interna
Bancos em couro vermelho
Interior acarpetado
Volante estilo banjo
Coluna de direção cromada
Instrumentos originais
Medidores de pressão do óleo e água
Mecânica
Motor 272 Y-block
200cv de potência
Carburador bijet
Tampas de válvulas cromadas
Radiador, ignição e cabos ProComp
Câmbio de três marchas na coluna
Escape feito sob medida
Freios a disco na dianteira e tambor na traseira
HotRods45
Ford lança carroceria do modelo Coupe 1932 para restauradores nos Estados
Unidos. Lista de peças originais inclui radiadores, para-lamas e emblemas
Texto: Da Redação::Fotos: Divulgação
Novinhaemfolha
PeçasOriginais
HotRods46
A
Ford disponibilizou nos
Estados Unidos a carroceria
do Ford 5-Window Coupe
1932, vendida por meio de
licenciamento para restaura-
dores e criadores de hot rods,
mercado que conta com muitos adep-
tos no país. O programa de peças de
restauração da Ford conta com mais
de 9.000 itens licenciados para clás-
sicos que vão do Modelo T a veículos
lançados em 2007.
O Ford 5-Window Coupe 1932 se
tornou uma espécie de símbolo dos
hot rods envenenados, moda que
cresceu no pós-guerra com a cultura
das longas viagens e o retorno dos
militares aos Estados Unidos com
HotRods47
dinheiro e conhecimento técnico.
“A carroceria do Ford 5-Window
Coupe 1932 permite aos restaurado-
res criar um hot rod clássico sem ter
de recorrer ao ferro-velho”, diz Dennis
Mondrach, gerente de licenciamento
de peças de restauração da Ford.
“Ela se junta à nossa lista de peças
estampadas de aço prontas para
montagem que já inclui os clássicos
Mustangs 1965-1970 e o Ford Cou-
pe 1940”, diz.
A Ford disponibiliza a maioria das
peças necessárias para montar um
carro, como carroceria, motor e trans-
missão, peças internas, instrumentos
de aparência clássica ou personaliza-
dos e até motores e componentes de
performance da Ford Racing. “Com
elas é possível construir um carro clás-
sico ou uma versão atualizada de íco-
nes que fizeram parte da cultura dos
anos 1950 e 1960”, diz Mondrach.
Segundo ele, sempre que possível, a
Ford usa as ferramentas originais para
produzir essas peças de restauração.
Em outros casos, cria estampos novos
com as especificações originais.
A carroceria do Ford 5-Window
Coupe 1932, apresentada no SEMA
Show 2013, em Las Vegas, é feita
em chapa de metal soldada e mon-
tada com o estado da arte em equi-
pamentos para manter a integridade
dimensional e recebe tratamento
anticorrosão.
As peças são fabricadas pela United
Pacific Industries, fornecedor ofi-
cialmente licenciado, e passam por
controle rigoroso para garantir os
padrões de qualidade e autenticida-
de. A Ford licencia também peças de
reposição como para-lamas, radia-
dores e emblemas para a maioria
dos veículos produzidos pela marca.
Isso evita que os restauradores gas-
tem horas na internet ou desmanches
procurando componentes. A lista de
fornecedores e peças separadas por
modelo de veículo está disponível no
site www.fordrestorationparts.com.
Carroceria do modelo de 1932 passa a integrar
lista de peças originais para restauração
HotRods48
Edição 2014 do Viva Las Vegas, o maior evento de cultura rockabilly do
mundo, promete se superar em atrações, carros e público
Texto: Da Redação::Fotos: Ricardo Kruppa e Divulgação
Túneldotempo
VivaLasVegas
A
cidade de Las Vegas, nos Esta-
dos Unidos, irá receber, entre
os dias 17 e 20 de abril, a
17ª edição do Viva Las Vegas
Rockabilly Weekend, o maior
evento voltado para a cultura
rockabilly do mundo. O festival, que
acontece anualmente no feriado da
Páscoa, tem como objetivo reunir
bandas e fãs de todo o mundo, com
o propósito de celebrar o estilo de
vida típico dos anos 50. Desfile de
veículos da época, competições bur-
lescas, desfile de trajes típicos, aulas
de dança, festas, jogos, eleição das
melhores pin-ups e workshops com
tatuadores especializados na temáti-
ca 50’s são apenas algumas das ati-
vidades programadas para a edição
2014 do evento. Mais de 60 atra-
ções musicais estão previstas para
VivaLasVegas
esta edição, que promete superar as
anteriores, não apenas em número
de artistas, como também de público.
Atualmente o evento acontece nas
dependências do Orleans Hotel e
Cassino.
Os brasileiros interessados em partici-
par do Viva Las Vegas podem contar
com a assessoria de uma agência
de viagens que atua há mais de 11
anos no mercado. A CEO Travel, de
São Paulo, organiza sua primeira
excursão para o evento. “É a primeira
vez que organizamos uma turma para
este destino e perfil, mas estamos
acostumados a lidar com outros tipos
de eventos nos ramos de medicina,
indústria e comércio, organizando as
viagens de acordo com o perfil de
cada cliente”, explica Jorge Khouri,
diretor financeiro da empresa. Segun-
do ele, comprando o pacote por
meio de uma empresa especializada,
o viajante conta com todo o apoio
durante a viagem, expertise e know
how para o planejamento de sua via-
gem antes, durante e depois do seu
término.
Para o Viva Las Vegas, a CEO Travel
oferece pacote que inclui a parte
aérea, hotel, ingresso para o even-
to e transfer. Segundo Khouri, ao
comprar o pacote com a empresa, o
cliente terá tarifa aérea especializada
e valores negociados com os hotéis
ofertados na proposta.
Viva!
O Viva Las Vegas começou em 1998,
quando seu fundador e organizador,
Tom Ingram, que reside na Califórnia,
levou para a cidade de Las Vegas,
Nevada, um grande número de atra-
ções. E, de lá pra cá, durante os últi-
mos 16 anos, o Viva Las Vegas vem
reunindo tudo que possa se relacionar
à cultura “rock” dos anos 50: bandas,
shows, moda, carros, motos, filmes,
apresentações de burlesco e muito
mais. São quatro dias intensos, com
atrações e atividades o tempo todo,
sempre com foco nos anos 50. Em
1998, quando o festival começou,
cerca de 1.200 pessoas comparece-
ram. Ao entrar no 17º ano, os núme-
ros impressionam. Segundo a mídia,
a participação hoje é de mais de 22
mil pessoas, sendo o Car Show o
evento mais popular. E não é à toa. A
organização do Viva vem investindo
alto nos sábados, aumentando cada
vez mais a segurança, o número de
expositores de carros, peças, roupas
e acessórios, e trazendo atrações
musicais de peso para o imenso palco
que é montado em meio aos carros.
Informações:
www.vivalasvegas.net (site oficial do
Festival).
CEO Travel. www.ceotravel.com.br ou
tel. (11) 3016-0060.
Abaixo, Jorge Khouri, da
CEO Travel: expertise
de 11 anos em
eventos temáticos
HotRods50
CulturaHot
TikiKultureMergulhe neste estilo de vida inspirado na cultura das ilhas do Pacífico, que
realça o lado bom da vida. E isso mesmo estando a milhares de quilômetros
de distância da ilha tropical mais próxima
Texto: Victor Rodder::Fotos: Divulgação
S
exta-feira, meados de dezem-
bro. Para mim, o verão tinha
finalmente chegado ao hemis-
fério sul! Em Curitiba, onde
vivo, um calor absurdo: 34
graus centígrados! Mas, para
a minha sorte, oficialmente estava
de férias! Peguei os pranchões (um
pra mim, outro pra sereia), amarrei
no teto do carro e parti para a praia
ao som de um obscuro e relaxante
estilo de jazz instrumental recheado
de linhas de sax chamado “Exotica”!
No caminho, conversava com minha
co-piloto sobre a influência da cultura
Tiki nas roupas, mobiliário e até mes-
mo no comportamento das pessoas
aqui no Brasil. E me dei conta de
que nunca tinha escrito nada sobre
esse tema. Mas nunca é tarde. Então
convido vocês a um mergulho nessa
cultura que tem tudo a ver com verão,
praia e curtição.
Aqui e ali sempre vejo algum ele-
mento da cultura Tiki. Quando chega
o verão, então... Por todo o lado:
coquetéis com frutas, batidas servidas
dentro de abacaxis, roupas floridas,
hula-girls e às vezes até pequenas
estatuetas e enfeites de Moais e Tikis.
Mas será que as pessoas sabem
realmente o que é essa coisa toda
de Tiki? Ou melhor, será que elas
têm alguma ideia do que se trata,
de onde veio, o que significa? Pois
bem. Depois de pesquisar um pouco,
eu mesmo descobri que não sabia
praticamente nada. Mesmo já tendo
frequentado alguns bares Tiki, surfar
há muito tempo e curtir um “drinque
com guarda-chuvinha” e um shot fla-
mejante, eu não tinha nem raspado a
superfície dessa intrigante e apaixo-
nante cultura, que foi uma das febres
dos anos 50 nos Estados Unidos.
E, por isso, por não saber quase nada,
mas sempre pensando em trazer um
bom material sobre o assunto, resolvi
conversar com algumas pessoas que
realmente estão “por dentro”. Ainda
na praia disparei alguns e-mails, fiz
alguma pesquisa e, depois de receber
boas indicações, acabei encontrando
Christopher “Tiki Chris” Pinto, que, den-
tre outras coisas, é escritor, músico, hot
rodder e um apaixonado e profundo
conhecedor da Tiki Kulture. E não foi
nada difícil gostar dele depois de des-
cobrir que Chris, assim como eu, toca
sax tenor, dirige um PT Cruiser retrô e
tem um hot rod na garagem.
Esculpidas por volta de 1200 d.C. a 1500 d.C. pelo povo Rapanui, Moai são aquelas cabeças gigantes
da ilha de Páscoa. Mais de 887 estátuas de pedra se espalham pela Ilha, que fica no Chile e faz parte
da Polinésia Oriental, ao sul do Oceano Pacífico
HotRods52
Tiki Chris contou-me tanta coisa e me
surpreendeu tanto com a quantidade
e qualidade de suas informações,
que esta primeira parte do artigo é
praticamente toda fruto daquilo que
ele escreveu. Mas vamos aos fatos!
Histórica e geograficamente, Tiki
pode ser definido como um dos ele-
mentos mais fortes da cultura Maori –
uma das tribos da Polinésia, sobre a
qual já falamos aqui, quando contei
a história da tatuagem no ocidente.
Para os maoris, bem como para a
maioria das outras culturas polinésias,
o Tiki tem um significado religioso, e
teria sido o primeiro homem na Ter-
ra, sendo representado por estátuas
esculpidas em pedra ou madeira.
Mas isso não é, nem de perto, o que
Tiki significa nos séculos 20 e 21.
Não só nos EUA, como na maior par-
te do mundo, Tiki hoje é sinônimo de
outra cultura, que tem suas raízes tam-
bém na Polinésia, mas que foi muito
além disso. Para quem realmente vive
a moderna cultura Tiki, o “Tiki Lifesty-
le”, tudo é uma questão de viver o lado
bom da vida, e para eles isso significa
estar numa espreguiçadeira, à sombra
de uma palmeira, tomando um bom
drinque com frutas exóticas e muito rum,
ouvindo os sons da sua “Exotica music”
e as ondas quebrando numa praia
paradisíaca qualquer. E isso mesmo
estando a milhares de quilômetros de
distância da ilha tropical mais próxima.
Para eles, isso é “Tiki Kulture”.
Tudo bem. Para mim, e para a maioria
das pessoas, isso também é um desejo!
Mas para quem está realmente mer-
gulhado na Tiki Kulture isso é um estilo
de vida. E, para poder viver isso 24
horas por dia, trouxeram as palmeiras,
as ondas e a areia para dentro de seus
bares, restaurantes, casas e carros.
Mas nem todos que gostam desse estilo
precisam ser tão radicais e, na verda-
de, talvez até você já tenha um pouco
de Tiki nas veias e não saiba.
Como tudo começou
A teoria mais comumente contada é
que esse estilo surgiu quando alguns
bares com decoração havaiana e
polinésia começaram a aparecer nos
Estados Unidos depois da Segunda
Guerra Mundial. Quando os solda-
dos que retornavam do Pacífico Sul
começaram a contar a todos como
eram maravilhosas e belas as ilhas
tropicais, recheadas de hula-girls,
vestindo sarongues de palha e com
flores no cabelo, alguém teve a ideia
de devolver a eles aquele clima e
surgiram os bares Tiki. Mas essa não
é exatamente a verdade. Os bares
e restaurantes Tiki são de fato onde
tudo começou e são os responsáveis
por essa moda. Mas os primeiros
malucos nos Estados Unidos a cria-
rem um Tiki Louge estavam na Califór-
nia e fizeram isso na década de 30!
Ernest Raymond Beaumont Gantt,
mais conhecido como “Don – the
Beachcomber”, normalmente é quem
leva o crédito de ter sido o primeiro
maluco a abrir um restaurante focado
especificamente na cultura polinésia em
Hollywood, Califórnia, em 1933. Don
nasceu no Texas, mas cresceu viajando
pelas ilhas do Caribe, passou algum
tempo no Havaí e passeou bastante
pelas ilhas na região. Quando voltou
para Califórnia, pensou que seria diver-
tido criar um restaurante que trouxesse
toda aquela atmosfera para seus clientes.
E assim fez quando inaugurou o Donn
Beach!. Cerca de três anos depois, em
1937, surgiu o Trader Vic’s, restaurante
que Vic Bergeron abriu em Oakland,
Califórnia, com um tema semelhante.
Ambos os proprietários inventaram seus
próprios drinques: fortes, mas saborosos,
rapidamente se tornaram populares e
ficaram conhecidos. Os restaurantes
também agradavam pela decoração exó-
O “Tiki” propriamente dito é um dos elementos mais fortes da cultura Polinésia e tem significado reli-
gioso. Ele representa o primeiro homem na Terra, mas modernamente é símbolo de uma cultura que se
popularizou nos EUA na década de 50
Existe uma grande diferença entre hot rodders e
“tiki hot rodders”! Não há dúvida de que ambos
são apaixonados por carros pré 63, mas essa
imagem resume tudo. Esse é o Chevy 53 que
Tiki Chris vem reformando e dirigindo há prati-
camente 20 anos! Seu nome é StarDust, e com
sorte você vai poder vê-lo rodando em alguma
rua secundária da Flórida
HotRods53
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CulturaHot
tica e a atmosfera descontraída. Muito
bambu e vime por todo lado, deuses Tikis
esculpidos a mão, palmeiras, música
havaiana e lindas garotas em sarongues
apertados definiram o padrão para a era
dos Tiki bars que estava por vir.
Refresco pós-guerra
Nos anos 30 e 40, as viagens aéreas
começaram a fazer do mundo um lugar
mais próximo, e a música, a comida e
a decoração havaiana e polinésia se
tornaram mais populares nos Estados
Unidos. Não é possível deixar de citar
também a Segunda Guerra Mundial,
que levou muitos norte-americanos para
as ilhas do Pacifico, trazendo estas cul-
turas para dentro dos lares americanos.
E, com o fim da guerra, todos estavam
enjoados de coisas ruins, e se focavam
na beleza daqueles mundos, nas flores
tropicais e no pôr do sol alaranjado,
na magia das mulheres exóticas e na
brisa fresca que trazia cheiro de frutas
adocicadas. Era um alívio, um refresco
Nessa imagem de Doug P’gosh fica claro como
os anos 50 se mesclaram com a cultura Tiki. A
pintura em acrílico se chama “Tiki Invasion”e é
uma homenagem aos filmes B de sci-fi dos anos
50. Tiki bars, drinques e tudo mais misturado.
Marte precisa de Hula Girls!
para uma nação que tinha se fartado
dos horrores da guerra.
Os soldados que retornavam queriam
esquecer o lado ruim, mas, certamente,
lembrar dos bons tempos era necessá-
rio. Bares Tiki então surgiram em todos
os estados dos EUA, saindo da costa
da Califórnia em direção ao Atlântico.
Os novos proprietários de Tiki bars com-
binavam elementos do Havaí, Tahiti,
Filipinas e outras culturas do Pacífico
para decorar seus salões. Bambu,
palha e madeiras esculpidas tornaram-
-se os materiais de construção básicos.
Ídolos e máscaras Tiki adornavam as
paredes dos bares e adereços náuticos,
como redes de pesca e lustres feitos de
baiacu, encontraram um caminho para
se tonarem elementos de design. As
cozinhas chinesa e japonesa também
se infiltraram nos menus e, para criar
uma trilha sonora perfeita para estes
ambientes, músicos de jazz passaram a
combinar as batidas fortes e tribais das
canções havaianas e polinésias com os
elementos da música “cool” da época,
Os drinques e coquetéis feitos à base de rum e frutas tropicais foram o estopim da moda dos
Tiki Bars que, por sua vez, acabaram por catapultar a cultura havaiana e polinésia ao status de
“pop culture” nos anos 50
Nesta imagem, Don serve seus tradicionais
coquetéis em seu restaurante- bar em 1934
HotRods55
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CulturaHot
misturando o jazz aos sons exóticos do
Pacífico leste e sul, criando um estilo
musical que ficou conhecido como
“Exotica”. Nasceu, então, o “Pop
Polinésio.
Na próxima edição
Como sempre, vou deixar o melhor
para o final, ou seja, para as próximas
edições. Sim, tem tanto material sobre
o mundo Tiki que, provavelmente, você
ainda vai ler sobre isso nas outras duas
edições. Mas não se desespere. Se
você é uma daquelas pessoas que,
como eu, não gostam de novela,
existem vários sites especializados no
assunto e um deles é do próprio Tiki
Chris (tikilougetalk). Corra lá e descubra
um mundo de informações. Agora, se
você está com preguiça de textos em
inglês e aguenta esperar um pouco,
mês que vem eu vou contar como foi a
explosão da cultura Tiki nos anos 50
e como praticamente ela sumiu nos
anos 70, voltando com força quando
seriados para a TV como Hawaii 5-0,
Magnum e Ilha da Fantasia passaram a
ser produzidos.
E, lógico, vou voltar a falar de meninas
dançando hula e homens comedores de
fogo das ilhas do Pacífico. Vou falar de
surf, woodies e dar receitas de drinques
e pratos Tiki famosos.
Enquanto você espera, dê um pulinho
ali na minha coluna de filmes e música,
no final da revista, e mergulhe um pou-
co mais nesse universo tropical.
A pessoa que contribuiu para a matéria desse
mês, Christopher “Tiki Chris” Pinto e sua
esposa, em 2011 no Hukilau
Fosse pela praticidade de ter um veículo como este na praia, fosse pelo preço, fosse pelo charme de ter
painéis de madeira por todo o carro, os woodies são os preferidos da geração “beach” e também são
muito associados à Tiki Kulture
Hula girls! Nas paredes, nos
painéis dos carros e nas
memórias e tatuagens dos
soldados, elas sem dúvida
são um dos elementos mais
lembrados da Tiki Kulture!
FordTorinoTalladega
MaisequilibradoDe carroceria fastback que servia como “galinheiro” a um Torino Talladega para
competição: dez anos, muita história e um clássico da Nascar com sabor V8
Texto: Bruno Bocchini::Fotos: Jason Machado
FordTorinoTalladega
HotRods60
C
ansar os modelos Plymouth Superbird e Dodge
Daytona durante a temporada de 1970 da Nascar
– associação automobilística norte-americana que
controla os campeonatos de stock car dos Estados
Unidos – não era tarefa fácil para o Ford Torino
Talladega. Mas, mesmo não sendo campeão, o
carro parecia mais equilibrado, sobretudo no estilo.
Adonis Lykouropulos, paulistano de 38 anos, é entusiasta e
apaixonado por automóveis Ford. Dentre diversos modelos da
marca ao longo dos anos, ele encontrou uma carroceria do
modelo Torino fastback 1968 e, dez anos depois, transformou
o carro no icônico Torino Talladega. “Um amigo encontrou a
carroceria do fastback em um desmanche no interior de São
Paulo, e como ele sabe que sempre participei de eventos
automotivos e de corrida, me avisou. No momento em que vi a
carroceria já imaginei o Talladega”, lembra Adonis.
O Torino havia sido adquirido ainda totalmente depenado
e, da compra ao primeiro treino no Autódromo de Interlagos
(SP), passaram-se dez anos. Inicialmente, Adonis levou a
carroceria para um galpão particular – para dar início à
remoção de pintura e massa. Na sequência, foram feitas
funilaria e adaptações para homologar o carro para a dis-
puta da categoria Força Livre do Campeonato Paulista de
Automobilismo. “Deixei a carroceria em uma oficina para
trabalhar a lata, pintar, adaptar. Mas, após dois anos de
serviços, o resultado não ficou satisfatório. Decidi tirar o car-
ro de lá, após muito prejuízo financeiro”, lamenta Adonis.
A carroceria ficou sete anos parada até que, em 2009,
Adonis passou a trabalhar como gerente na Batistinha
Garage. “Entrei na Batistinha e consegui reativar a ideia
do projeto com o Torino. Nesta nova etapa, mudei o
projeto com o intuito de enquadrar o carro na categoria
Históricos V8 5000, que havia acabado de ser criada.
Consegui um motor usado em bom estado, ganhei de
presente um diferencial e, somados ao câmbio que eu já
possuía, começamos a montagem mecânica”, conta.
O grande desafio de Adonis foi a funilaria, uma vez que o
carro não possuía os para-lamas dianteiros e sequer contava
com capô. “Mas, desta vez, a sorte estava ao meu lado
e um de nossos clientes nos enviou um Torino 1968 para
restauração completa, tornando possível usar o carro como
parâmetro e molde para a confecção dos itens que faltavam
no meu. Após concluirmos a funilaria, moldamos a frente
alongada em 9” para deixar o carro tal qual a versão Talla-
dega. A pintura foi feita em duas cores, alusivas ao estilo de
pintura usado na Nascar à época, bem como a parte de
adesivagem e o número gigante na porta”, descreve Adonis.
O gosto por automóveis e velocidade começou ainda na
infância de Adonis, primeiro pela convivência com o pai e
o irmão, que foi piloto de 1979 a 1998. “Por conta da
Pintura em duas cores é alusiva ao
estilo usado na Nascar. Interior tem
bancos Sparco, volante de três raios
e contagiros Auto Meter
HotRods61
HotRods62
FordTorinoTalladega
convivência com meu irmão, sempre sonhei em ser piloto
e participar do Campeonato Paulista. Como não tive
incentivo, cheguei tarde para ser profissional, mas posso
matar minha vontade guiando o Torino vez ou outra”, diz.
“Xô, galinhas”
A carroceria fastback chegou a São Paulo em uma plata-
forma que havia saído do interior. Logo após a compra,
Adonis recebeu o carro com três galinhas dentro. “O car-
ro estava servindo de galinheiro, pois o desmanche ficava
dentro de um sítio. Obviamente eu não sabia o que fazer
com as galinhas, mas logo o motorista da plataforma se
prontificou a ficar com elas”, recorda.
Receita sem caldo de galinha
O tratamento da carroceria com funilaria e pintura ficou
a cargo da empresa Batistinha Garage – reconhecida no
segmento. Já a mecânica do Torino foi feita pela oficina
Automotor, também de São Paulo. Com motor 302 V8
de 5000cc, o conjunto conta com bielas, virabrequim e
pistões originais Ford, trabalhando a uma taxa de com-
pressão 9:1. A admissão é original em ferro fundido, e
integra o sistema um carburador Motorcraft bijet, bomba
de gasolina mecânica, coletor de escape original em fer-
ro fundido e um tanque de 70 litros.
A alimentação soma bobina MSD, módulo de ignição,
distribuidor e velas originais Motorcraft. O câmbio esco-
lhido foi um Clark de 4 marchas e a embreagem é da
EmbreMarques.Com 210 cv na roda, a melhor volta em
Interlagos registrada ficou em 2’14”850, a 188 km/h de
velocidade final. Para o futuro, Adonis pretende aliviar o
peso do carro (que está em 1.800 quilos), além de rea-
lizar upgrades no motor para conquistar mais potência e
melhores resultados nos tempos de volta em Interlagos.
Motor 302 V8 de 5000
cc preparado atinge
210 cv na roda
HotRods63
HotRods64
FordTorinoTalladega
Adonis Lykouropulos e seu Ford
Torino: do galinheiro a Interlagos
Quem fez:
Carroceria, funilaria e pintura: Batistinha Garage. Tel. (11)
3392-2233
Mecânica, câmbio, diferencial e manutenção: Automotor. Tel.
(11) 3392-1108.
FichaTécnica
FordTorinoTalladegaV8
Mecânica
Motor 302 V8, 5000cc
Bielas, virabrequim e pistões originais Ford
Taxa de compressão 9:1
Admissão original em ferro fundido
Carburador Motorcraft bijet
Bomba de gasolina mecânica
Coletor de escape original em ferro fundido
Tanque de 70 litros
Bobina MSD
Módulo de ignição, distribuidor e velas originais Motorcraft
Câmbio Clark 4 marchas
Embreagem EmbreMarques
Blocante original
Amortecedores originais
Parte externa
Rodas 17x10” Vintage Wheels
Pneus 245/55 R17
Discos de freio 280 mm duplos ventilados na frente e sólidos
na traseira
Parte interna
Bancos Sparco
Cintos U-racer
Volante de três raios Motorcraft
Contagiros Auto Meter
HotRods65
DodgeDart1975
Sonhomeu!Aficionado por Dodge, jovem paulista monta Dart
1975 exatamente do jeito que sonhou quando criança
Texto: Vitor Giglio::Fotos: Ricardo Kruppa
HotRods68
DodgeDart1975
M
uitas crianças sonham com o que gostariam
de ser quando crescerem. No entanto, Raniery
Braga, hoje com 28 anos, natural de Campinas
(SP), era uma criança especial. Quando peque-
no, sonhava com o que queria ter, e não ser.
“Aos oito anos de idade eu era louco por um
Dodge Dart preto que o meu tio tinha. Então sempre me
imaginei dono de um Dart. Dono de vários Dart, na verda-
de, e um deles teria que ser amarelo”, conta.
Mesmo sonhando com um Dart amarelo, Raniery acabou, em
sua fase adulta, adquirindo primeiramente o Dart preto de
seu tio. “Além do Dart que era do meu tio, também tinha um
branco na garagem, mas só os dois não eram suficientes. Eu
sentia que estava faltando algo. E esse “algo” era um Dodge
exatamente como eu sempre sonhei: amarelo”, conta.
Não satisfeito com “apenas” os dois modelos Dart que
ocupavam sua garagem, Raniery deu início à busca pelo
carro dos sonhos. E ele acabou por cruzar a vida do
aficionado paulista em 1999. “Um amigo comprou um
Dart 1975 amarelo, mas ele praticamente nem usava o
carro, apenas o deixava encostado. Então, em 2006, eu
comprei o carro dele, e então dei início ao projeto mais
especial da minha vida”, relembra.
HotRods69
Conjunto mecânico original do
modelo, à frente um motor 318 V8,
foi otimizado e agora rende cerca de
320 cavalos
HotRods70
DodgeDart1975
Inteiramente restaurado
O objetivo de Raniery era restaurar o modelo 75 que
estava largado, dando vida nova ao modelo sem que
ele perdesse suas características originais. Por este moti-
vo, tudo o que você enxerga na parte externa do Dart é
exatamente como seria em 1975, exceção feita à grade
dianteira, extraída do Gran Coupé 1975, e das rodas
alargadas sob medida, que medem 15x7” na dianteira e
15x8” na traseira. Os pneus são Cooper Cobra.
O veículo tomou um banho de amarelo Montego, original do
Dart. “Todo o restante foi restaurado. Na parte de fora, nada
foi confeccionado”, conta Raniery, com orgulho.
Isso vale também para o interior do veículo, onde estofamen-
to, forros, painel, volante e pedais permanecem originais.
Coloração amarelo Montego, que
consta da paleta de cores original
do modelo, foi utilizada no
exemplar de Raniery
HotRods71
HotRods72
DodgeDart1975
Preparação
Já a mecânica original do Dart 1975 entrou para a história. O
motor 318 V8 original permanece, mas os 198HP que ele era
capaz de produzir viraram lenda. O conjunto mecânico rece-
beu pistão tachado, comando de válvulas 278x286 Summit,
carburador quadrijet Holley 650 e coletores Edelbrock.
“A parte elétrica é toda da Mopar. Além disso, eu utilizo
aquela embreagem mista de cerâmica da Centerforce”,
conta o proprietário.
Cabeçote trabalhado, válvulas de titânio e escape duplo
com cano de 3” são as outras modificações, que, soma-
das, dão ao Dart cerca de 320 cavalos de potência.
Perfeccionismo
“O carro está exatamente do jeito que eu queria. Era exa-
tamente o que eu visualizava, desde a infância”, conta
Raniery sobre o projeto, que exibe um nível de perfeccio-
nismo de tirar o chapéu.
O veículo, grande xodó do rodder, só sai da garagem
em ocasiões bastante especiais. “Eu costumo usá-lo nos
encontros do Dodge Clube de Campinas, clube do qual
sou um dos responsáveis, aliás”, frisa.
Perguntando se agora então estaria satisfeito com o que
possui em sua garagem, Raniery não hesita. “Esse proje-
to está concluído, mas já estou pensando no próximo”,
afirma. Assim como uma criança, Raniery não quer nem
saber da hora de parar de brincar. Sorte nossa!
Quem fez: Nika old car. tel. (19) 3227-9555.
Raniery e seu Dodge Dart: sonho de
infãncia realizado. Interior do
veículo foi mantido com
características originais
FichaTécnica
DodgeDart1975
Parte Externa
Pintura amarela Montego
Grade dianteira do Gran Coupé 1975
Rodas 15x7” na dianteira
Rodas 15x8” na traseira
Pneus Cooper Cobra
Parte Interna
Inteiramente restaurada
Mecânica
Motor 318 V8
Comando de válvula Summit
Carburador Quadrijet Holley 650
Coletores Edelbrock
Embreagem Centerforce
Válvulas de cerâmica
Escape duplo de 3”
HotRods73
HotRods80
Vitrine
Caçambagringa
A sugestão da Stepside é o kit composto por caçamba e para-
lamas da picape C-10 americana. A caçamba tem como modelo
a peça original americana e pode ser adaptada em todos os
modelos de C-10, C-14, C-15, D-10 e A-10 brasileiras. O kit é
integrado por caixote, tampa e acabamento lateral em chapa
de aço de 1,5 mm e para-lamas em fibra de vidro com excelen-
te acabamento. Preço: R$ 2.290.
Informações: www.stepside.com.br ou tel. (44) 3687-1357.
O destaque do mês da empresa America Parts são os pneus da marca
norte-americana Mickey Thompson, disponíveis em várias medidas.
Informações: www.americaparts.com.br ou tel. Tel. (11) 2647-1496.
A Old Design, especializada em peças e acessórios para carros antigos, des-
taca este mês o serviço de restauração da lanterna traseira para o modelo
Dodge Magnum.
Informações: Tel. (19) 3454-8019 ou (19) 99705-6865.
E-mail: olddesign@hotmail.com
MickeyThompson Lanternarestaurada
O destaque da empresa As Pickups Antigas para esta edição é a caçamba modelo F-100 em chapa 16
com coluna tipo “perna de moça” modelo hot. A peça vem com armação de capota marítima com
amortecedor a gás, revestimento de chapa e é personalizada por As Pickups Antigas.
Informações: www.aspickupsantigas.com.br ou tel. (11) 4647-1374 ou (11) 97534-8722.
A sugestão da VFort Pneus é a roda de aço fechada, disponível nas medidas
15x5’’, 6’’, 7’’, 8’’ e 10’’. A peça é ideal para projetos de hot e rat rods. Disponí-
vel na furação 5x114,3/120mm. Acompanha copo central cromado.
Informações: Tel. (41) 3254-5222 ou e-mail: ruvaldow@gmail.com
CaçambaparaF-100
Rodapararat
HotRods81
HotRods82
Rock’nHots
TikiMusic&MoviesColuna traz dicas de discos e filmes para você fazer bonito naquela
festinha Tiki no quintal de casa
Por Victor Rodder
O
k! Você leu o texto de cultura deste mês e resolveu
fazer uma festa Tiki no quintal de sua casa! Des-
colou aquele bar de vime da sua avó, comprou
tochas de querosene e um estoque de garrafas
de rum e frutas tropicais está na geladeira. Ok.
Só falta a música e uns filmezinhos para deixar
rolando no DVD enquanto todos se divertem. Se você
colocar para tocar uma seleção de jazz latino, meren-
gue, cha cha cha, bossa nova e salsa, todos vão achar
normal. Mas, para uma verdadeira experiência Tiki, você
precisa de um estilo próprio de música: exotica. Exotica
significa exatamente o que parece... Uma música dife-
rente, estranha, que evoca uma atmosfera de florestas
tropicais, aldeias do Taiti, selvas africanas, luaus havaia-
ULTRALOUNGECOLECTION–COLETÂNEA–EUA-1996 AAVENTURADEKONTIKI(KON-TIKI)–EUA-2012
FORBIDDENSOUNDSOFDONTIKI–COLETÂNEA–EUA-2002 OFANTÁSTICOROBINCRUSOÉ(LT.ROBINCRUSOE,U.S.N.)–EUA-1966
HOTNEWORLEANSNIGHTS–SAMBUTERA–EUA–1999 OSAVENTUREIROSDOPACÍFICO(DONOVAN’SREEF)–EUA–1963
Ok, esse já é um pouco mais difícil de encontrar por esses dias.
Essas faixas foram originalmente gravadas e prensadas quando
só existia vinil e, depois que a moda Tiki passou, os álbuns
viraram relíquia! Mas alguém reuniu o melhor da onda e jogou
nessa coletânea que ainda é possível achar no e-bay e amazon.
com! O disco começa com a clássica “exotica” com Martin
Denny, o expoente do gênero, e por aí vai!
Na década de 90, um pessoal que estava “na vibe” se reuniu e montou
uma série de CDs chamada “Ultra Lounge”. Quase 30 álbuns compõem
essa discoteca. Tem de tudo: de Martin Denny a Sam Butera. Se você
conseguir esses discos, ou pelo menos uma parte deles, nunca mais vai
precisar se preocupar em como animar uma festa Tiki. E vai agradar até
mesmo o mais chato dos conhecedores da Tiki Kulture.
Se você curte jazz e música instrumental de qualidade não vai se arre-
pender de conhecer um pouco mais sobre este saxofonista que, duran-
te muito tempo, foi a menina dos olhos da banda de Louis Prima.
Sam Butera não é “exótico” por completo. Ao contrário. Mas estava lá
quando inventaram essa onda. Nessa coletânea de 99, várias músicas
que fazem sucesso até hoje nos tiki bars mais cools dos EUA!
Não dá para falar em Tiki Kulture sem mencionar a Disney. Vou
falar mais sobre isso na edição do mês que vem, mas já adianto
que ela é considerada por muitos como a legítima responsável
pela explosão da moda Tiki nos EUA dos anos 50. E, neste filme,
o astro Dick Van Dyke faz miséria numa ilha paradisíaca deserta,
onde caiu após saltar de seu avião, encontrar um submarino
abandonado, um chimpanzé do programa espacial dos EUA e
uma linda nativa chamada Quarta-feira.
Inspirado em fatos reais, conta a história da expedição Kon-Tiki, liderada
pelo pesquisador Thor Heyerdahl, que, em 1947, decidiu provar que a
Polinésia tinha sido ocupada primeiramente pelos povos da América do
Sul, e não pelos povos do oeste. Como? Construindo uma jangada com
os mesmos materiais de séculos atrás, chamando cinco malucos sem
experiência nenhuma no mar e se atirando numa viagem de três meses
pelo oceano Pacífico. Fácil assim!
Este é, sem dúvida, o melhor dos três filmes deste mês. Tam-
bém, não tem como errar com John Wayne interpretando o dono
de um bar na fictícia ilha franco-polinésia de Haleakola ao lado
de Lee Marvin, Cesar Romero e Dorothy Lamour. As filmagens
foram feitas nas deslumbrantes paisagens de Kauai, no Havaí, e
o resultado final foi uma comédia fantástica e um dos grandes
sucessos de bilheteria da época. Confira!
nos e por aí vai. Este tipo de música foi popularizado
por orquestras nas décadas de 50 e 60, principalmente
por Martin Denny, Esquivel, Arthur Lyman, Les Baxter e Al
Caiola. Esses títulos são difíceis de encontrar até mesmo
na internet, mas os discos que eu separei não são assim
tão obscuros.
Em relação aos filmes, não consegui ser tão objetivo. Por
isso, separei desde um drama baseado em fatos reais que foi
nominado ao Oscar em 2012 a um clássico da Disney da
década de 60, já que, para muitos, foi a Disneylândia que,
em grande parte, trouxe a onda Tiki no mundo pós-guerra,
com atrações como Adventureland e Tiki Room surgindo em
sua inauguração, em 1955. Mas é isso. Boa festa para você
e até mês que vem!
HotRods83
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  • 1. Carroceria de fastback 1968 vira Talladega ano 9 #108 R$ 14,90 9 771808 939007 80100 ISSN 1808-9399 ISSN 1808-9399 fordtorino Garage Tech: motor V8 injetado História: T- Bucket, a essência do hot rod Técnica: ganhe potência aumentando a taxa de compressão Viva Las Vegas: prepare-se para a edição 2014 em abril hotrods#108fordtorinotalladega-fordf-1001954-ford1929roadster-dodgedart1975-f-1001964-morrisminorwww.cteditora.COM.BR Ação de lixadeira garante visual desgastado desta picape Ford Exemplar amarelo era o que faltava na coleção do “dogeiro” Até “banco da sogra” é preservado no raro modelo Ford 1929 roadster dart1975 F-1001964 Modelo inglês originalmente de 50 HP se transforma em veloz viatura para voar na pista Morrisde550hp
  • 2.
  • 3. MemóriaafetivaA paixão por carros, quando reforçada por laços familiares ou de amizade, explica o mítico universo dos Hot Rods Editorial Ademir Pernias e Ricardo Kruppa - editores O leitor habitual de Hot Rods já deve ter chegado a esta conclusão: a esmagadora maioria dos carros apresentados nas páginas da revis- ta vem acompanhada de histórias emocionantes de sonhos de infân- cia, homenagens a antepassados queridos ou cultos a recordações valiosas de tempos idos. É a memória afetiva o principal motor (desculpem o trocadilho) do universo Hot Rods. Apenas nesta edição, há pelo menos dois bons exemplos disso. Na reportagem sobre o Dodge Dart 1975, foi o tio do proprietário, ou melhor, o Dart do tio do proprietário, que o motivou a colecionar exemplares do modelo. Até a cor preferida remonta uma preferência de infância. As histórias ficam mais emocionantes ainda quando retratam a relação entre pai e filho, mas que envolvem um automóvel: ou era a picape utilizada pelo pai no trabalho no campo, ou o muscle que deu à criança ou adolescente, no banco do passageiro, as primeiras emoções de ter o corpo puxado para o encosto pela força do motor... Outra matéria desta edição conta exatamente a história do filho do caminhoneiro que, depois de adulto, reúne condições para rea- lizar não apenas o seu sonho de infância, mas também aquele que seu pai manifestara quando vivo: o de ter uma picape F-100, igual à que os dois admiravam anos atrás, numa viagem na boleia do caminhão. Se o ser humano ocidental é apaixonado por carros, imaginem então quando esta pai- xão é reforçada por laços afetivos que unem pai e filho, tio e sobrinho, velhos amigos. Que todos tenham uma emocionante leitura!
  • 4. Sumário CrazyTurkeyEditora Diretores Vera Miranda Barros Miguel Ricardo Puerta ChefedeRedação-Ademir Pernias / Editores-Ademir Pernias e Ricardo Kruppa - hotrods@cteditora.com.br / Textos-Aurélio Backo, Flávio Faria, Manuel Bandeira, Victor Rodder e Vitor Giglio / EditordeArte-André Santos de Sousa- andre@ cteditora.com.br / EditordeFotografia-Ricardo Kruppa - ricardokruppa@cteditora.com.br / ConsultoriaTécnica-Norberto Jensen, Sérgio Liebel e Cosme Santos / DigitalizaçãodeImagemeProdução-Marcio Martins, Danilo Almeida / Diretor Administrativo-Miguel Ricardo Puerta / DiretoraComercial-Vera Miranda Barros - (11) 2068-7485 / GerenteComercial- Geovania Alves / Contato-Dorival Sanchez Júnior / AssinaturaseAtendimentoaoLeitor - Kyka Santos - (11) 2068-7485 /9287 - assinatura@cteditora.com.br / Contabilidade-RC Controladoria e Finanças - (11) 3853-1662. Resp.: Ricardo Calheiros / AssessoriaJurídica-Juliana T. Ambrosano / Assinaturasenúmerosatrasados-(11) 2068-7485 de segunda a sexta das 9h às 18h - assinatura@cteditora.com.br HotRods A Hot Rods é uma publicação mensal da Crazy Turkey Editora e Comércio Ltda. • Redação, Administração e Publicidade: Rua Crisólita, 238, Jardim da Glória CEP 01547-090 São Paulo SP Fones/fax: 55 11 2068-7485/ 9287. Distribuidora exclusiva para todo o Brasil - Fernando Chinaglia Distribuidora • A Hot Rods não admite publicidade redacional • É proibida a reprodução das reportagens publicadas nesta edição sem prévia autorizacão • As opiniões emitidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não são necessariamente as da revista e podem ser contrárias à mesma • A Hot Rods é marca registrada pela Crazy Turkey Editora Ltda • Ninguém está autorizado a receber qualquer valor em nome da Crazy Turkey Editora ou da Hot Rods. Internet-www.cteditora.com.br / E-mailredação-hotrods@ cteditora.com.br / JornalistaResponsável-Ademir Pernias - MTb 25815 / ImpressãoeAcabamento-Prol Editora Gráfica Ford1929Roadster Raro no Brasil, Ford 1929 Roadster com visual street e mecância V8 mostra receita clássica do hot rod americano06
  • 5. www.cteditora.com.br-Notwitter:@revistahotrods Blog:www.revistahotrods.blogspot.com-Procure-nostambémnoFacebook Picape chegou às mãos do proprietário com pintura nova, mas logo entrou na lixadeira Filho de caminhoneiro compra e restaura picape F-100 em homenagem ao pai Carroceria que servia de galinheiro se transforma em um clássico para competição Exemplar inglês mostra do que é capaz um 4x4 nas pistas de arrancada Saiba tudo sobre a cultura Tiki, que promove o bem-estar das ilhas do Pacífico Aficionado por Dodge, jovem monta Dart exatamente como sonhou quando criança 22 40 58 30 52 66 F-1001964 FordF-1001954 FordTorinoTalladega MorrisMinor CulturaHot DodgeDart1975
  • 6. Ford1929Roadster FilhoúnicoRaro no Brasil, Ford 1929 Roadster com visual street e mecânica V8 mostra receita clássica de hot rod americano Texto: Flávio Faria::Fotos: Ricardo Kruppa
  • 7.
  • 8. HotRods8 Ford1929Roadster Roadster é impulsionado por um motor Ford V8 de 302” D os primórdios da produção automotiva até o início da década de 1930, a Ford foi quase soberana. Ainda que os carros fossem ainda exclusividade de quem tivesse os bolsos fundos (e cheios), não se pode dizer que Henry Ford não tenha sido um dos responsáveis pela popularização do automóvel como meio de transporte. Depois do imenso sucesso do modelo “T”, a gigante americana preparou a sua nova geração, “A”, que chegou ao mercado em meados de 1927. Seguindo a linha do primeiro modelo, os Ford “A” podiam ser encontrados com até 20 tipos diferentes de carroceria, ao gosto do cliente, entre sedãs (duas e quarto portas), esportivos, picapes, cupês e conversíveis, todos compartilhando uma base em comum, mas com grande variação de preço, de acordo com o status que cada um conferia ao seu dono. Por isso, hoje em dia, algumas carrocerias são mais raras do que outras. Isso porque algumas venderam menos, foram produzidas em menor escala e, con- sequentemente, poucas podem ser encontradas hoje em dia. E as que resistiram não saem barato. O Modelo “A” desta reportagem, de 1929, é um verdadeiro clássico dos hot rods americanos. Modelo Roadster, ou con- versível esporte, teve um número reduzido de unidades produ- zidas e, menos ainda, importadas para o Brasil. Por isso, até no mercado de hot rods, quem tem uma dessas não vende. Só que este não é o pensamento do comerciante Mauro Garbim, de São Paulo, que adquiriu o carro já com o intuito de fazer negócios. “Sempre tive hot rods, Chevrolet 1938, Plymouth Bomber 1929, Ford 1948, entre outros. Este Ford, em particular, nós adquirimos para revenda”, conta ele, que não precisou ter nenhum trabalho para restaurar o carro.
  • 9.
  • 10. HotRods10 Ford1929Roadster Rodas American Racing, de 15”, são envolvidas por pneus Michelin
  • 11.
  • 12. Ford1929Roadster HotRods12 Street O visual ainda guarda traços do final da década de 20. Os para-lamas originais foram mantidos e trazem elegância para o conjunto. A agressividade fica por conta das rodas American Racing, de 15”, que envolvem o jogo de pneus da marca francesa Michelin, nas medidas 205/75. A cor preta é clássica dos hots desta época (quem nunca ouviu falar na frase de Henry Ford: “O cliente pode ter o carro da cor que quiser, desde que seja preto”?). Um detalhe curioso é que, ao contrário da maioria dos projetos deste tipo, o Roadster ainda preservou o banco traseiro retrátil, conhe- cido por essas bandas como “banco da sogra”, inclusive mantendo os apoios originais para os passageiros poderem subir, nos para-lamas traseiros. A frente continua com a imponência dos modelos da época, inclusive com a grade cromada, com direito ao símbolo de época. Faróis também são de época e as lanternas traseiras foram importadas. Por dentro, a restauração foi feita com muito requinte. A cor dos estofados e do revestimento interno cria um contraste bonito com a pintura da carroceria. Os bancos e forros são em couro. O volante Billet é revestido de couro, na mesma tonalidade do interior, montado sobre a coluna de direção Billet, cromada, mesma marca das pedaleiras. O painel, que segue a cor do exterior, recebeu uma moldura cromada para os instrumentos da americana Auto Meter, linha clássica para hot rods, com o fundo claro, entre eles: manômetro de óleo, voltímetro, velocímetro, nível de combustível e temperatura da água. A alavanca de câmbio também é cromada, da Lokar. Esportivo de respeito Montado sobre o chassi feito sob medida para o modelo está um propulsor Ford V8 de 302”, famoso por equipar o lendário Maverick GT. Com 200cv de potência original, o propulsor ainda recebeu um sistema de alimentação mais ignorante, com um carburador Holley de 600cfm de vazão. Combinado ao sistema de escape feito sob medida, a sobre- alimentação propiciada pelo carburador de quatro câmaras rendeu alguns cavalos extras para o motor. O câmbio é um modelo C4, automático, de tocada muito suave, mas que impõe respeito quando o pedal da direita é exigido. A sus- pensão independente nos quatro eixos dá conta de segurar o Roadster no trilho, mas não abuse demais, senão a “trasei- rada” será forte. Para frear, o Fordinho conta com eficientes discos na dianteira e tambores na traseira. Mesmo que o objetivo principal seja a venda, Mauro comen- tou que usa o Fordinho sempre que pode, inclusive para ir a eventos e exposições. No caso dele, você não faria igual?
  • 13. HotRods13 Revestimento claro contrasta com o preto da carroceria. Instru- mentos são da linha clássica da Auto Meter
  • 14. Ford1929Roadster HotRods14 Para-lama traseiro possui apoio para permitir acesso ao “banco da sogra” FichaTécnica Ford1929Roadster Parte externa Carroceria em lata Rodas American Racing 15” Grade original Lanternas traseiras importadas Acessórios importados Pneus Michelin 205/75 Parte interna Bancos de couro Forração de couro Alavanca de câmbio Lokar Volante Billet Coluna de direção Billet Pedaleiras Billet Instrumentos Auto Meter Mecânica Motor Ford 302” Carburador Holley 600cfm Escape sob medida Câmbio automático C-4 Suspensão independente Freios a disco na dianteira e tambor na traseira
  • 15.
  • 16. V8injetadoAcompanhe a instalação de um kit de injeção eletrônica em um motor V8, que melhora a performance e evita danos aos componentes GarageTech Texto e fotos: Norberto Jensen E ste mês, a seção Garage Tech mostra como instalar um kit importado de injeção eletrônica de combustí- vel em um motor V8. Este kit está se tornando muito popular, pois, além de permitir programar a inje- ção para vários níveis de performance, o que aju- HotRods16 O kit ainda embalado, que já vem completo da no dia-a-dia, é útil em caso de o veículo ficar parado por longo período, pois evita que o combustível estrague e cause danos aos componentes do motor. Dúvidas e sugestões, escreva para suporte@hotcustoms.com.br 01
  • 17. HotRods17 O motor V8 carburado Solte os quatro parafusos e retire também os parafusos do coletor de admissão O coletor de admissão está pronto para receber o kit Abra a embalagem para mostrar os componentes do kit Solte os parafusos de fixação do carburador Retire o carburador com cuidado 03 05 07 02 04 06
  • 18. HotRods18 GarageTech Verifique se o plate se encaixa perfeitamente ao coletor Instale o corpo de injeção, que ocupa o espaço do próprio quadrijet Instale a linha de alimentação de combustível Inicialmente, coloque o primeiro plate Coloque o segundo plate espaçador O kit instalado 09 11 13 08 10 12
  • 19. HotRods19 Local de colocação da sonda, que vai requerer um furo com a porca soldada ao escape Ligue o chicote da injeção ao chicote do carro Coloque então os sensores para leitura de temperatura A sonda lambda, que será instalada no escape Encaixe e rosqueie a sonda até o fim Ao fixar o chicote, cuidado para não deixá-lo perto de partes do motor que terão altas temperatura (coletor de escape, etc) 15 17 19 14 16 18
  • 20. HotRods20 GarageTech A instalação está finalizada. Normalmente esses kits já têm a pré-programação dos principais motores 22 garagetech Conecte o chicote aos sensoresAperte bem para que não haja vazamento de água 2120
  • 23. Esta F-100 1964 chegou às mãos de administrador paulistano com a pintura em ótimo estado, por isso ele fez questão de mandar envelhecê-la um pouco Texto: Flávio Faria::Fotos: Ricardo Kruppa Banhodeferrugem
  • 24. HotRods24 F-1001964 N o universo dos hot rods, as picapes têm lugar de honra. As possibilidades são muitas para quem busca este tipo de projeto, como deixar no estilo “street”, com visual mais original; rat, com muita ferrugem; ou até um estilo mais envelhecido, evi- denciando o caráter mais “bruto” deste tipo de veí- culo, mas não tão agressivo quanto os “ratos”. Esta última opção foi o caminho seguido pelo administrador paulista- no José Rosnei Piccoli, conhecido como Nei, de 50 anos, que encontrou esta F-100 1964 um dia, por acaso, em um site de compra e venda na internet. Segundo ele, tudo indicava que o carro estava em bom estado. “O preço estava bom, fiquei até desconfiado, pois a caminhonete parecia ser bonita. O veículo estava no interior de São Paulo e, após alguma negociação, marquei de ver a picape no dia seguinte. Um amigo me acompanhou na viagem e fomos conhecer aquela F-100. Quando vimos o carro, meu amigo disse que, se eu não a comprasse, ela seria dele”, comenta o proprietário, que tratou de verificar detalhadamente o estado do veículo. “Ela não rodava havia anos, mas a pintura estava novinha, parecia que havia sido feita recentemente. Muitos detalhes estavam pintados de cinza, como para-choques, quebra-mato, grade dianteira e aros dos faróis. Faltava colocar vidros, maçanetas, manivelas, bancos. Na cabine, um volante esportivo pequeno, de carro, e não havia forração e tapeçaria. O motor era de Opala, com câmbio “clek-clek” antigo, hidrovácuo adaptado, mas sem funcionar. Olhei por baixo, feixes de molas dianteiro e traseiro no lugar, cardã e diferencial no lugar. O chassi também parecia em ordem, sem emendas, trincos ou rachaduras. Olhando aquela F-100 montada parcialmente não tive dúvidas: o importante era ter a cabine e a caçamba em ordem, o resto eu daria um jeito”, explicou Nei, que na mesma hora fechou o negócio e chamou o guincho para levar a pica- pe para casa.
  • 25. HotRods25 Interior não possui forração e os bancos originais foram trocados por um inteiriço
  • 26. HotRods26 F-1001964 O motor escolhi- do para impul- sionar a picape é um GM 4.1 de 6 cilindros. A pintura ganhou pinstripings Lixa nela! O trabalho de restauração da F-100 foi feito com muita calma. Foram trocados acessórios externos, como lanternas, piscas e faróis. A pintura, que chegou como nova às mãos do admi- nistrador, teve um contato imediato com a lixadeira e foi pro- positalmente deixada para enferrujar em pontos estratégicos. Em seguida, foi passada uma camada de verniz, para que a ferrugem não “comesse” a carroceria. O objetivo de Nei foi dar um aspecto envelhecido à carroceria. “Nos encontros e eventos sempre encontramos muitos carros originais ou hots restaurados da melhor forma possível. Notei que não tinha carros envelhecidos. Havia muitos rats, com muita ferrugem mesmo, mas nenhum modelo mais sóbrio. Pesquisando mais na internet, descobri que os carros envelhecidos estavam agi- tando os eventos americanos há anos, mas aqui no Brasil esta onda ainda não estava em alta. Como eu queria ter um carro diferente e que provocasse uma sensação boa de aparência, além da tendência atual para carros envelhecidos, não pensei duas vezes: “Vai entrar na lixa”, decidi. No entanto, antes de fazer qualquer mudança eu pesquisei muito para não perder as características da caminhonete”, conta. Se você, leitor, ficou com dó da Fordinha, não foi o úni- co. “Minha esposa quase endoidou quando me viu lixan- do a caminhonete”, brinca o proprietário. Ainda foram fei- tos pinstripings, para deixar o visual ainda mais old scho- ol. As rodas são de 15”, da Mangels, cromadas. O ar vintage é garantido pelas calotas adaptadas do Ford 36. As redondas estão montadas em pneus Zhone 235/75 na dianteira e Pirelli Scorpion 255/75 na traseira. Rústica Por dentro foi mantido o máximo de originalidade. Não foi feita forração interna. Os bancos originais foram trocados por um inteiriço, que combina melhor com a Fordinha. No painel, os instrumentos originais foram mantidos, após restauração. Para monitorar a saúde do motor ainda foram adicionados um termômetro de água e de óleo e um medidor de combustível. O volante é original, mas recebeu uma adaptação no cubo para ficar mais alto e dar uma posição de direção mais con- fortável. Até o rádio é nostálgico, original dos anos 60. Vai de seis Na época da reforma, Nei tinha na garagem duas opções de motores: um GM 4.1 de seis cilindros e um Dodge V8 318”. Por uma questão de custo, ele acabou decidindo pelo primeiro, o que com certeza não foi má ideia. A uni- dade, moderna, tem ignição eletrônica, tuchos hidráulicos e carburador Solex H-34, de corpo duplo. Além disso, o sistema conta com um jogo de cabos de vela Accel 8mm,
  • 28. HotRods28 F-1001964 Nei e sua F-100 1964: estilo envelhecido foi obtido com a ação de uma lixadeira na pintura encaixadas em velas da NGK. Atualmente, a picape roda a gasolina. O câmbio é manual, de quatro velocidades, com acionamento no assoalho. Os freios são a tambor nas quatro rodas, mas dão conta tranquilamente de parar os 200cv de potência do seis cilindros. A suspensão, embora original, teve o feixe de molas invertido, para rebaixar um pouco a carroceria. Segundo Nei, o carro é perfeito para pegar a estrada. “Está muito bom de dirigir, ainda mais para viajar, é muito estável, com a caixa de direção nova, pneus largos, mas precisa ter braço para segurar”, conta o proprietário, que utiliza a picape todos os dias para trabalhar. “É meu carro de uso diário, confio muito nele. O engraçado é que encontro muitas pessoas na rua que não conhecem este tipo de personalização de carros antigos e vêm me perguntar de que cor eu vou pintar”, conta, divertido. Quem fez: Oficina do Carlão. Tel. (11) 99770-4327. Molas Bari. Tel. (11) 3902-­3914 e 3904-­0701. Diferencial – Vander. Tel. (11) 3909-­7556. FichaTécnica FordF-1001964 Parte externa Pintura “envelhecida” Acessórios externos originais Rodas Mangels 15” Pneus Zhone 235/75 na dianteira e Pirelli Scorpion 255/75 na traseira Pinstriping Parte interna Banco inteiriço Volante original Instrumentos originais Termômetro de água e óleo Medidor de combustível Mecânica Motor 6 cilindros 4.1L Ignição eletrônica Tuchos hidráulicos Carburador Solex H-34 Cabos de velas Accel 8mm Velas NGK Câmbio manual de 4 velocidades Freios a tambor
  • 30. De modestos 50HP para mais de 500HP. Definitivamente, este não é um Morris Minor comum... Texto: Stav::Fotos: Matt Woods::Tradução: Vitor Giglio MajorMinor MorrisMinor
  • 31. Q uando falamos de veículos modificados, uma coisa é fato: se você possui criatividade, talento e, cla- ro, dinheiro, você consegue construir o que quiser, a partir do que quer que seja. Troca de motorização, modificações insanas na parte externa, grandes alterações no interior – tudo isso é lugar comum nas páginas de Fast Car, mas é preci- so admitir que começar um projeto com uma boa platafor- ma, além de te fazer economizar muitos esforços, pode te fazer alcançar o supra-sumo das customizações. É isso exatamente o que Antony Wilkins fez com seu xodó, um Morris Minor. Antes de começarmos, vale a pena dizer que este carro foi um supercarro de arrancadas, um monstro das pistas. Infelizmente este veículo não existe mais. Ele foi comple- tamente destruído em um acidente pouco tempo depois de feitas as fotos utilizadas nesta reportagem. Voltamos a falar desta trágica parte da história mais adiante. Se vocês já viram um Morris original por aí, há grandes chances de ter sido em um passeio ao parque no final de semana. Não vamos entrar aqui em detalhes sobre a origem e história do carro, basta dizer que se trata da versão inglesa do Volkswagen Beetle. Também conhecidos como “Moggys”, eles foram desenvol- vidos no início dos anos 1950, durante duas décadas, até o início dos anos 70. Eles tinham tração traseira e um motor original que mal chegava aos 50HP, potência que não era capaz de fazer com que o veículo alcançasse os 80mph. Definitivamente, não eram veículos de performance. Mesmo assim, as pessoas amam esses carros, e se você tiver imaginação e talento suficientes, poderá agregar a eles a agressividade e performance. E é graças ao inquestionável talento de Antony que este projeto surgiu. Antony tem 45 anos, quase o mesmo número de cavalos que o motor original do carro.
  • 32. MorrisMinor HotRods32 Police car Na parte externa, um grande scoop foi colocado para ali- mentar o carburador. Essa modificação fez o veículo parecer com um Morris digno de polícia rodoviária, no entanto, sob o capô, sua configuração é de um legítimo fora-de-estrada. Caso você esteja se perguntando, a polícia realmente usava esses carros, com as mesmas cores adotadas neste projeto, por mais que esse exemplar esteja mais propício a fugir de uma viatura. O chassi do bólido, feito pelo próprio Antony, é tubular. A utilização desse chassi favorece bastante a estrutura ori- ginal do modelo. Ele permitiu, por exemplo, que Antony substituísse o motor original por um exemplar maior. Um pouco maior. Seis litros maior, na verdade. O big block Chevrolet utilizado foi modificado, e não apenas produz um barulho ensurdecedor em baixas rota- ções, como também surpreende as pessoas nos giros mais altos, como os 7.000RPM. Por mais que o veículo nunca tenha passado pelo dinamôme- tro, já que como diz Antony, “aferir não é legal, a diversão está em testar e, se não for o suficiente, tentar algo diferente”, é justo dizer que o Morris beira os 550HP, e isso antes de ativar o sistema de nitro que injeta mais 150HP nele. Quando Antony cita o prazer em testar os novos ajustes e configurações, ele não está exagerando. Como o big block V8 é munido da maneira tradicional, com carburadores ao invés de um moderno sistema de injeção, ele testou algumas configurações: com dois grandes carburadores Holley ele alcançou sua velocidade final mais alta, enquanto com um único, e também generoso, carburador Proform, ele con- segue mais aceleração, atingindo assim melhores tempos, mesmo sem tanta velocidade final. “Depende de como eu acordo para decidir o que utilizar”, diz Antony. Na pista Olhe para este carro levantando as rodas dianteiras na largada! Ele possui uma aderência fantástica graças aos pneus Weld Draglite específicos para arrancada modelo M/T 10x15. Qualquer um de vocês que tenha se aventurado em com- petir em arrancadas em veículos com tração nas quatro rodas sabe qual a sensação de percorrer 60 pés (cerca de 18,2 metros) em 1.6 segundo. A questão é que este Minor atingiu a marca dos 60 pés em apenas 1.3 segun- do. E, mais emocionante ainda, conseguiu esta proeza com as rodas dianteiras no ar. “Na marca dos 60 pés eu engatei a segunda, para fazer com que as rodas dianteiras voltassem para o solo. Então foi só segurar firme”, lembra Antony. Segurar firme, como ele diz, também não foi um exagero.
  • 33. HotRods33 Big block Chevrolet, e outras modificações mecânicas, aumenta- ram a potência original do Morris para 550 HP
  • 34. HotRods34 MorrisMinor FichaTécnica MorrisMinor Preparação Motor Chevrolet 454 7.4L big block Pistões forjados Keith Black Carburador twin Holley 600 Exaustor Flowmaster Sistema de nitro 150HP Chassi tubular personalizado Freios a disco Willwood Pneus dianteiros Toyo Pneus traseiros Weld Draglite Parte Externa Scoop Portas em fibra de vidro Janelas do Lexan Coloração inspirada nos carros de polícia dos anos 60 Parte interna Bancos Kirkey Instrumentos Auto Meter Cinto de segurança esportivo Que tal colocar um veículo no solo a 140mph? Adrenali- na suficiente, não? Emoção para qualquer superesportivo que se preze, ainda mais para uma “viatura vintage”. Para parar essa máquina, freios a disco ventilados na frente e freios a disco Wilwood atrás. “E se não desse certo era só acionar o para-quedas”, brinca Antony. Cintos salvadores Como mencionado no começo desse artigo, este carro não compete mais, já que foi destruído em um grande acidente. No entanto, Antony não está mais de luto em função disso, pois sabe dos perigos que envolvem esse esporte. Então, vamos aos detalhes. O que, de fato, aconteceu? Quem poderia explicar melhor que o próprio Antony? “Eu estava correndo em Santa Pod, quando passei por uma mancha de óleo e fui perdendo o controle do carro, a cerca de 130mph, até atingir o muro. Então capotei três vezes e só me lembro do resgate chegando e de ver a frente do car- ro, completamente destruída, no chão”, lembra. “Eu não cheguei a quebrar nenhum osso, apesar de ter me machucado um pouco. Estes cintos de segurança esportivos realmente funcionam”, brinca. Um veículo antigo se transformar em um campeão entre dragsters pelas mãos do talentoso Antony. Apesar do aci- dente, será que ele se arrepende de algo? “De maneira alguma!”, finaliza. Antony posa ao lado da sua “viatura”, que foi destruída após um grave acidente
  • 36. GanhodepotênciaA taxa de compressão é a quantidade de vezes em que a mistura ar/ combustível é comprimida dentro do cilindro. Se você aumentá-la terá um ganho de potência considerável Técnica Texto: Manoel G. M. Bandeira::Fotos: Divulgação HotRods36 N esta série de artigos, estamos falando sobre formas de ganhar alguns cavalinhos a mais no motor. Na edição anterior, o tema foi a eficiência volumétrica, responsável por ganhos considerá- veis de potência. Este mês vamos falar sobre a taxa de compressão, um dos fatores que também podem trazer ganhos de potência ao seu motor. Em geral, os motores mais antigos vinham com uma taxa de compressão baixa demais. Isso para evitar o proble- ma da pré-ignição e para economizar combustível. Pré- ignição, batida de pino, detonação, motor grilando, são várias formas de chamar o mesmo problema. Na verda- de, o termo “batida de pino”, na prática, não tem nada a ver com o que realmente acontece dentro do motor. Esta expressão deve ter sido criada por alguém que não tinha a mínima ideia do que acontecia dentro do motor. Porém, devido ao barulho semelhante ao metal se chocando com metal, fez surgir o termo que se tornou comum. Por que acontece? O problema da pré-ignição acontece quando a mistura ar/combustível entra em ignição antes da hora. Ou seja, antes do momento em que o pistão está quase chegando ao ponto morto superior. A faísca deve ser a responsável pela ignição, porém, às vezes, outros fatores antecipam a explosão. Estes fatores podem ser: excesso de carvão na cabeça do pistão (isso é comum em motores bastante rodados), combustível de baixa qualidade, taxa de com- pressão muito alta, velas gastas, etc. Em geral, a faísca gera a explosão dentro do cilindro um pouco antes de o pistão chegar ao ponto morto superior (ponto morto superior é quando o pistão para de subir e começa a descer). Imagine o pedalar de uma bicicleta. Você exerce a força no pedal depois que ele passa do ponto mais alto e começa a descer. Se você forçar o pedal antes que ele chegue em cima, você estará forçan- Medindo o volume da câmara de combustão com bureta e óleo hidráulico: esta operação serve para medir o volume da câmara de combustão e também o volume do rebaixo na cabeça do pistão do o pedal para trás, ao invés de forçá-lo para frente. Isso fará com que a sua força seja desperdiçada. No caso do motor é a mesma coisa. Se a ignição acontece antes da hora, o pistão tem de vencer a força da explosão para depois começar a descer. Como um motor tem vários cilindros, e também considerando o fato de estarmos falando em motores de 4 tempos, a força dos outros pistões e tam- bém a própria inércia fazem com que o pistão vença a força da explosão e consiga completar seu giro. Porém ele irá per- der boa parte de sua potência com este trabalho extra. Uma consideração importante: a explosão da mistura demora um certo tempo para derramar sua força sobre a cabeça do pistão. Então, a faísca da vela deve conside- rar este tempo e, portanto, ela deve incendiar a mistura um pouco antes de o pistão atingir o topo. Em geral, motores antigos V8 e 6 cilindros em linha têm seu ponto de ignição regulado com quatro ou cinco graus antes do ponto morto superior. Ou seja, a faísca acontece quatro ou cinco graus antes de o pistão estar no topo, isso devi- do à velocidade do pistão. Se a faísca acontecesse no exato momento em que o pistão está no topo, o efeito da explosão empurrando o pistão para baixo demoraria uma fração de segundo para agir, tempo suficiente para que
  • 37. HotRods37 Cálculo da taxa de compressão Ponto morto superior (PMS) o pistão já estivesse iniciando o movimento de descida. Assim, haveria considerável perda de potência. Em geral, os motores têm uma marca que vai de 10 ou 15 graus depois do PMS (ponto morto superior) até 40 graus antes do PMS. Esta gravação fica na polia do virabrequim. Com auxílio de pistola de ponto, você consegue determi- nar exatamente o momento da explosão. Assim, alterando a posição do distribuidor, você pode acertar o ponto. Não se esqueça de que estamos falando de motores antigos, V8 4 ou 6 cilindros em linha, motores anteriores à era da injeção eletrônica. Os motores de hoje têm sistemas computadorizados que cuidam da ignição e da injeção de combustível. Esses sistemas acertam o ponto e a mistura ar/combustível, regulando automaticamente o motor. Nos motores antigos, o distribuidor normalmente conta com dois sistemas de avanço automático do ponto, um sistema centrífugo com contrapesos e molas, e um sistema a vácuo, em que uma bomba de vácuo puxa a mesa do distribuidor, avan- çando o ponto de ignição. Assim, conforme cresce o giro do motor, o ponto vai aumentando, ou seja, a faísca passa a ser antecipada, dos 5 graus iniciais ela pode chegar até a 35 ou 38 graus, quando o motor alcança altos limites de giro. A taxa de compressão é a quantidade de vezes em que a mistura ar/combustível é comprimida dentro do cilindro. Para medir a taxa de compressão calculamos o volume do cilin- dro. Isso pode ser feito através da formula π * r² * h. Some ao volume do cilindro o volume da câmara de combustão. Este volume você encontra enchendo a câmara de combustão no cabeçote com óleo (utilize óleo para sistemas hidráulicos, que é mais fino e mais fácil de manusear). Para fazer isso uti- lize uma placa de vidro ou acrílico com dois orifícios. Através de um deles injete óleo, o ar sairá pelo outro orifício. Você pode injetar o óleo com uma seringa graduada, uma pipeta ou uma bureta (materiais de laboratório). Esta operação serve para medir o volume da câmara de combustão e também o volume do rebaixo na cabeça do pistão. Para isso, o pistão deve estar no ponto morto superior. Somando o volume do cilindro, o volume da câmara de combustão e o volume da cavidade na cabeça do pistão, divida este valor pela soma do volume da câmara de combustão mais o volume da cavi- dade na cabeça do pistão. A taxa de compressão, então, é a soma dos volumes do cilindro, o volume da cabeça do pistão e o volume da câmara de combustão, divididos pelo volume da câmara de combustão mais o volume da cabeça do pistão. Na prática, supondo que você tenha um volume de cilindro mais câmara mais cabeça do pistão de 500cc, e um volume de câmara de combustão mais volume da cabeça do pistão de 50cc, você terá uma taxa de compressão de 10x1 (dez por um), ou seja, você comprime a mistura 10 vezes. Como fazer? Como dissemos no início deste artigo, a taxa de com- pressão dos motores mais antigos fica em torno de 8x1 (o motor comprime a mistura 8 vezes). Se você aumentar a taxa para 10x1 terá um ganho de potência considerá- vel. Para isso pode simplesmente rebaixar o cabeçote. Aumentando a taxa você deve trocar as velas de ignição por velas mais frias. Deve também atrasar um pouco o ponto final, evitando assim a pré-ignição. Quando fizer os cálculos acima, não se esqueça de conside- rar a espessura da junta de cabeçote. Você deve considerar a espessura da junta quando esta estiver montada. Para saber a espessura exata, meça com um paquímetro uma junta usada. Se você achou tudo muito confuso, mas adora mecânica, você irá aprender a medir a taxa de compressão na prá- tica utilizando as dicas que demos acima. A maioria dos procedimentos escritos aqui eu aprendi perguntando nas oficinas de preparação, experimentando e deduzindo. Se, na minha época, eu tivesse lido um texto como este, teria ganho muito tempo. Portanto, se você gosta mesmo de mecânica, ponha tudo isso em prática. Se você leu a matéria até aqui é porque gosta muito, então não desista nunca de aprender. Mês que vem tem mais.
  • 38. T-Bucket:essência dohotrodModelo é um legítimo hot rod, mas com a vantagem de ser um modelo extremamente simples de construir História Texto: Aurélio Backo::Fotos: Divulgação HotRods38 T udo bem, ninguém pergun- tou, mas o meu modelo preferido de hot rod é o T-Bucket! E o que é exata- mente um T-Bucket? O modelo clássico de um T-Bucket seria um hot rod montado a partir da metade dianteira da carcaça de um Ford Modelo T de 1920 até 1925, com eixo rígido muito à frente do chassi, motor V8 exposto, coluna de direção quase na vertical e, na parte traseira, uma caçamba bem curta. O Ford T foi alterado e transformado desde o dia em que a primeira unidade saiu da linha de montagem, em 1908. Muitos anos depois, em 1952, o norte- americano de origem polonesa Norm Grabowski resolveu montar a sua ver- são de um Ford T e acabou criando um hot rod que viraria um clássico. A partir de um chassi de Ford Modelo A com várias alterações, “El Polaco” (este era um dos seus apelidos) instalou a porção dianteira de uma carcaça de Ford 1922 e atrás adaptou uma caçamba de picape Ford encurtada. O motor escolhido foi um V8 “novinho” de Cadillac 1952, que foi adaptado em uma caixa mecânica de três mar- chas de um Ford 1939. O eixo traseiro usado era um “banjo” de Ford 1941. Um item construtivo importante no estilo do carro era a posição do eixo dianteiro: o eixo de um Ford 1937 foi instalado de maneira a ficar sozinho na frente do carro e para isto até mesmo o feixe de molas foi alterado para ficar atrás do eixo dianteiro. Com tantas peças de carros diferentes, o chassi foi “picotado” várias vezes até o carro ficar do jeito que Norm queria. O resul- tado final? Excelente! O mérito de “El Polaco” foi juntar vários elementos que todo mundo já usava, mas de maneira diferente. E, o mais importante de tudo, com excelente proporção e harmonia. A comprovação disto veio quando o modelo apareceu na capa da revista americana Hot Rod de outubro de 1955. Uma revista sobre hot rods só dava visibilidade ao modelo entre os já Réplica do primeiro T-Bucket construído por Norm Grabowski: eixo dianteiro em destaque, quase isolado do resto do carro
  • 39. HotRods39 aficionados por carros. Mas o carro foi apresentado a todo o povo ame- ricano quando apareceu na impor- tante revista Life em abril de 1957. A reportagem era sobre corridas de arrancada e hot rodding. Norm vivia na Califórnia, terra do cine- ma, e seu carro passou a aparecer em filmagens não muito importantes até ser escolhido para participar de um famoso seriado semanal chamado “77 Sunset Strip”. Este seriado, sobre um detetive particular, foi exibido nacionalmente na TV a partir de 1958 até o começo da década de 60. O T-Bucket era o carro do personagem “Kookie”, um manobris- ta do restaurante ao lado do escritório do detetive. O personagem “Kookie” se transformou em um fenômeno cultural nos Estados Unidos. Era adorado por todos, pois fazia um lado cômico na série, especialmente pelas garotas, pelos seus dotes físicos, e os rapazes adoravam... o seu hot rod! A TV trouxe fama para o carro de Norm e até lhe deu um nome: “Kookie Kar”. Um T-Bucket é um legítimo hot rod, mas com a vantagem de ser um modelo extremamente simples de construir (não necessariamente fácil). O motor é exposto, só há um banco para estofar, não precisa de portas e a carcaça para pintar é mínima. Estas facilidades e toda a projeção que o modelo ganhou nas revistas, pistas de arrancada e TV, fizeram com que o T-Bucket virasse moda. A partir de 1964, quem qui- sesse montar um carro destes tinha a possibilidade de comprar um kit com chassi e carcaça em fibra de vidro. O sucesso desses kits fez com que outras companhias passassem a oferecê-lo: em 1967, a Speedway Motors; em 1969, a California Custom Roadsters e, em 1971, a Total Performance. Todas estas até hoje ofertam tudo o que é necessário para montar um T-Bucket, com exceção da última, que foi absorvida há alguns anos pela Speedway. Toda esta demanda e estrutura gerada pelo T Bucket deram força ao hot rodding e fizeram com que produtos mais elaborados fossem desenvolvidos como reproduções de chassi e carcaças em fibra de mode- los dos Ford mais novos (novo aqui significa 1929 até 1934). A onda do T-Bucket se alastrou pelo mundo e aqui no Brasil um exemplar foi montado já no início dos anos setenta! Esta história contaríamos nesta edição, mas agora fica para o próximo capítulo. Não percam! Aurélio Backo é dono da Lakester, fabricante de carrocerias de fibra Norm Grabowski usou uma caçamba de picape encurtada na montagem do primeiro T-Bucket (ao pé da letra, T-Bucket significaria “balde de Ford Modelo T”) A primeira “cópia” do carro de Norm Grabowski foi montada já em 1956, por Tommy Ivo, usava motor Buick e fazia o quarto de milha em 11 segundos a 190 km/h! Chassi de T-Bucket: um quadro de tubo retangular de 5cm x 10cm! T-Bucket estilo década de 70: aros dianteiros raiados e bojos de farol no estilo do Modelo T original
  • 40. FordF-1001954 Filho de ex-caminhoneiro restaura picape F-100 1954 do jeito que gostaria de ter realizado junto ao pai Texto: Flávio Faria::Fotos: Rony Petri/Divulgação Homenagempóstuma
  • 41.
  • 42. HotRods42 FordF-1001954 O amor pelos carros antigos é o maior combustível da cultura Hot Rod. Geralmente, este tipo de sen- timento atravessa gerações e passa de pai para filho. O funcionário público Roni Petry, de Quedas do Iguaçu (PR), sabe bem o que é isso. “Sempre gostei de carros antigos, pois, como sou filho de caminhoneiro, viajava constantemente com meu pai nas férias escolares, época em que ainda víamos muitos car- ros antigos desfilando pelas rodovias do nosso país. Pas- sados alguns anos, meu pai se aposentou e, numa viagem que fizemos, encontramos uma F-100 vermelha à venda na cidade de Cascavel. Sem condições financeiras para comprá-la, começamos a conversar sobre os veículos anti- gos. Foi quando ele revelou que, na década de 1960, trabalhava com caminhões e picapes e, se um dia pudes- se, iria adquirir uma caminhonete antiga para restaurar. Infelizmente meu pai faleceu em 2007 e além da nossa relação de pai e filho, sempre fomos muito amigos. Como eu sentia muita saudade dele, decidi encarar um projeto que talvez fosse de alguma maneira amenizar a dor que sentia naquele momento e realizar um sonho de nós dois”, conta Roni, que, a partir de então, começou a procurar picapes que atendessem ao seu anseio. “Acabei por encontrar esta F-100 na cidade de Turvo e, após algumas tentativas, consegui adquiri-la. Com nosso “sonho de con- sumo” em mãos, comecei a pesquisar maneiras de perso- nalizá-lo.Sou leitor da revista Hot Rods há anos e acabei decidindo como queria fazer”, conta o proprietário. Lisa de lata Como não estava exatamente nadando em dinheiro, Roni resolveu se organizar e comprar todo mês algumas peças, sem pressa, mas sempre adquirindo produtos de qualida- de. Em 2010, a restauração teve de fato início, com a desmontagem completa da picape e o início do trabalho de funilaria. Para a sua surpresa, o estado da lataria era muito bom. “Lisa”, como se costuma dizer. “Foram encon- trados apenas dois pontos mais sérios de ferrugem, que necessitavam atenção, mas como deixei claro que não estava com pressa, o trabalho todo demorou cerca de um ano para ficar pronto”, conta. A cor original, azul, deu lugar ao vermelho, remetendo à caminhonete que vira com o pai anos antes. O pigmento se chama “Vermelho Modena”, da Fiat, e para chegar a este patamar de brilho, foram necessárias oito demãos de tinta. Os para- choques foram retirados e os para-lamas foram ajustados para dar um aspecto mais limpo à frente. A grade frontal, que estava em bom estado, foi cromada. Os acessórios externos, como maçanetas e espelhos, foram adquiridos no Brasil mesmo. Os frisos são originais do modelo. As rodas foram compradas em Curitiba, na V-Fort, e são
  • 43. HotRods43 Bancos revestidos de couro vermelho receberam emblemas com imagens de São Cristóvão. O motor é um V8 Y-block de 272” modelos importados, chamados de “Smoothie”, com 15” de diâmetro e tala 8” na dianteira e 10” na traseira. Em volta delas está montado um jogo de pneus Cooper Cobra nas medidas 255/60 na dianteira e 275/70 na traseira. Tom sobre tom Diferentemente da maioria dos projetos que costumamos ver, que apostam no contraste de cores entre a carroceria e a parte interna, Roni ousou fazer diferente e fez o interior em outro tom de vermelho. Os bancos são revestidos de couro, com imagens de São Cristóvão no centro, outra homenagem ao pai, devoto do padroeiro dos caminhonei- ros. Foram utilizados também carpetes grossos, que deram um visual elegante ao interior. O painel, pintado na cor da carroceria, conta com instrumentos originais, que foram restaurados e aferidos para funcionar com a mecânica refeita. O volante é modelo banjo e a coluna de direção é cromada. Além disso, foram incorporados novos instrumen- tos para monitoramento da pressão do óleo e da água. Na medida Por baixo do capô está instalado um V8 Y-block de 272”, modelo original desta picape, que apenas recebeu um carburador bijet, original do Maverick, e detalhes estéticos, como novas tampas de válvulas. Radiador, ignição e cabos de vela são da ProComp e dão um visual bacana ao cofre da Fordinha. O câmbio é de três marchas, com acionamento na coluna, um charme a mais para a condução do modelo. O escape foi feito sob medida e se divide em duas saídas na traseira. Os freios são a disco na dianteira, herdados do Omega australiano, enquanto na traseira são utilizados tam- bores. Com 200cv de potência original, este conjunto não deixa a desejar e o sistema de escape emite um rugido agra- dável ao ouvido, principalmente em altas rotações. “Chama bastante atenção das pessoas quando ela berra alto, princi- palmente das crianças”, pontua o proprietário. Por enquanto, o modelo ainda não faz grandes viagens. Segundo Roni, agora é tempo de melhorar a confiabilidade do projeto, normal em carros antigos. “Ela ficou pronta em dezem- bro de 2013 e ainda estou identificando pequenos problemas que possam surgir e ir consertando até ficar como eu espero. Tem muita coisa que eu ainda quero fazer com ela”, comenta. Assim como o sonho do seu pai em ter uma picape restau- rada foi a sua inspiração, Roni já faz planos para trans- mitir essa paixão para a próxima geração. “Este primeiro projeto será o presente do meu filho Samuel, atualmente com sete anos, para quando ele terminar a universidade. Já para a Sarah, minha filha de três anos, estou tendo ideias de como será o próximo projeto. De qualquer maneira, terei bastante tempo para aproveitar antes de passar os “brinquedos” a eles”, finaliza.
  • 44. Quem fez: Motor: Speed Car. Tel. (45) 3227-0749. Suspensão: Oficina do Tito. Tel. (46) 3532-1929. Escapamento: Versalles Escapsom. Tel. (45) 3224-2560. Interior: Santello Couros. Tel. (45) 3223-2435. Peças alumínio: Art Billits. Tel. (41) 3657-9299. Rodas: VFort Pneus. Tel. (41) 3254-5222. Peças importadas: Oficina do Nando. Tel. (45) 3224-6616. Caçamba: Stepside. Tel. (44) 3687-1357. HotRods44 FordF-1001954 Customização incluiu pintura no tom vermelho Modena e retirada do para-choque. Coluna de direção é cromada FichaTécnica FordF-1001954 Parte externa Pintura vermelho “Modena”, da Fiat Grade cromada Para-choques retirados Frisos originais Acessórios externos cromados Rodas Smoothie 15” Pneus Cooper Cobra 255/60 na dianteira e 275/70 na traseira Parte interna Bancos em couro vermelho Interior acarpetado Volante estilo banjo Coluna de direção cromada Instrumentos originais Medidores de pressão do óleo e água Mecânica Motor 272 Y-block 200cv de potência Carburador bijet Tampas de válvulas cromadas Radiador, ignição e cabos ProComp Câmbio de três marchas na coluna Escape feito sob medida Freios a disco na dianteira e tambor na traseira
  • 46. Ford lança carroceria do modelo Coupe 1932 para restauradores nos Estados Unidos. Lista de peças originais inclui radiadores, para-lamas e emblemas Texto: Da Redação::Fotos: Divulgação Novinhaemfolha PeçasOriginais HotRods46 A Ford disponibilizou nos Estados Unidos a carroceria do Ford 5-Window Coupe 1932, vendida por meio de licenciamento para restaura- dores e criadores de hot rods, mercado que conta com muitos adep- tos no país. O programa de peças de restauração da Ford conta com mais de 9.000 itens licenciados para clás- sicos que vão do Modelo T a veículos lançados em 2007. O Ford 5-Window Coupe 1932 se tornou uma espécie de símbolo dos hot rods envenenados, moda que cresceu no pós-guerra com a cultura das longas viagens e o retorno dos militares aos Estados Unidos com
  • 47. HotRods47 dinheiro e conhecimento técnico. “A carroceria do Ford 5-Window Coupe 1932 permite aos restaurado- res criar um hot rod clássico sem ter de recorrer ao ferro-velho”, diz Dennis Mondrach, gerente de licenciamento de peças de restauração da Ford. “Ela se junta à nossa lista de peças estampadas de aço prontas para montagem que já inclui os clássicos Mustangs 1965-1970 e o Ford Cou- pe 1940”, diz. A Ford disponibiliza a maioria das peças necessárias para montar um carro, como carroceria, motor e trans- missão, peças internas, instrumentos de aparência clássica ou personaliza- dos e até motores e componentes de performance da Ford Racing. “Com elas é possível construir um carro clás- sico ou uma versão atualizada de íco- nes que fizeram parte da cultura dos anos 1950 e 1960”, diz Mondrach. Segundo ele, sempre que possível, a Ford usa as ferramentas originais para produzir essas peças de restauração. Em outros casos, cria estampos novos com as especificações originais. A carroceria do Ford 5-Window Coupe 1932, apresentada no SEMA Show 2013, em Las Vegas, é feita em chapa de metal soldada e mon- tada com o estado da arte em equi- pamentos para manter a integridade dimensional e recebe tratamento anticorrosão. As peças são fabricadas pela United Pacific Industries, fornecedor ofi- cialmente licenciado, e passam por controle rigoroso para garantir os padrões de qualidade e autenticida- de. A Ford licencia também peças de reposição como para-lamas, radia- dores e emblemas para a maioria dos veículos produzidos pela marca. Isso evita que os restauradores gas- tem horas na internet ou desmanches procurando componentes. A lista de fornecedores e peças separadas por modelo de veículo está disponível no site www.fordrestorationparts.com. Carroceria do modelo de 1932 passa a integrar lista de peças originais para restauração
  • 48. HotRods48 Edição 2014 do Viva Las Vegas, o maior evento de cultura rockabilly do mundo, promete se superar em atrações, carros e público Texto: Da Redação::Fotos: Ricardo Kruppa e Divulgação Túneldotempo VivaLasVegas A cidade de Las Vegas, nos Esta- dos Unidos, irá receber, entre os dias 17 e 20 de abril, a 17ª edição do Viva Las Vegas Rockabilly Weekend, o maior evento voltado para a cultura rockabilly do mundo. O festival, que acontece anualmente no feriado da Páscoa, tem como objetivo reunir bandas e fãs de todo o mundo, com o propósito de celebrar o estilo de vida típico dos anos 50. Desfile de veículos da época, competições bur- lescas, desfile de trajes típicos, aulas de dança, festas, jogos, eleição das melhores pin-ups e workshops com tatuadores especializados na temáti- ca 50’s são apenas algumas das ati- vidades programadas para a edição 2014 do evento. Mais de 60 atra- ções musicais estão previstas para
  • 49.
  • 50. VivaLasVegas esta edição, que promete superar as anteriores, não apenas em número de artistas, como também de público. Atualmente o evento acontece nas dependências do Orleans Hotel e Cassino. Os brasileiros interessados em partici- par do Viva Las Vegas podem contar com a assessoria de uma agência de viagens que atua há mais de 11 anos no mercado. A CEO Travel, de São Paulo, organiza sua primeira excursão para o evento. “É a primeira vez que organizamos uma turma para este destino e perfil, mas estamos acostumados a lidar com outros tipos de eventos nos ramos de medicina, indústria e comércio, organizando as viagens de acordo com o perfil de cada cliente”, explica Jorge Khouri, diretor financeiro da empresa. Segun- do ele, comprando o pacote por meio de uma empresa especializada, o viajante conta com todo o apoio durante a viagem, expertise e know how para o planejamento de sua via- gem antes, durante e depois do seu término. Para o Viva Las Vegas, a CEO Travel oferece pacote que inclui a parte aérea, hotel, ingresso para o even- to e transfer. Segundo Khouri, ao comprar o pacote com a empresa, o cliente terá tarifa aérea especializada e valores negociados com os hotéis ofertados na proposta. Viva! O Viva Las Vegas começou em 1998, quando seu fundador e organizador, Tom Ingram, que reside na Califórnia, levou para a cidade de Las Vegas, Nevada, um grande número de atra- ções. E, de lá pra cá, durante os últi- mos 16 anos, o Viva Las Vegas vem reunindo tudo que possa se relacionar à cultura “rock” dos anos 50: bandas, shows, moda, carros, motos, filmes, apresentações de burlesco e muito mais. São quatro dias intensos, com atrações e atividades o tempo todo, sempre com foco nos anos 50. Em 1998, quando o festival começou, cerca de 1.200 pessoas comparece- ram. Ao entrar no 17º ano, os núme- ros impressionam. Segundo a mídia, a participação hoje é de mais de 22 mil pessoas, sendo o Car Show o evento mais popular. E não é à toa. A organização do Viva vem investindo alto nos sábados, aumentando cada vez mais a segurança, o número de expositores de carros, peças, roupas e acessórios, e trazendo atrações musicais de peso para o imenso palco que é montado em meio aos carros. Informações: www.vivalasvegas.net (site oficial do Festival). CEO Travel. www.ceotravel.com.br ou tel. (11) 3016-0060. Abaixo, Jorge Khouri, da CEO Travel: expertise de 11 anos em eventos temáticos HotRods50
  • 51.
  • 52. CulturaHot TikiKultureMergulhe neste estilo de vida inspirado na cultura das ilhas do Pacífico, que realça o lado bom da vida. E isso mesmo estando a milhares de quilômetros de distância da ilha tropical mais próxima Texto: Victor Rodder::Fotos: Divulgação S exta-feira, meados de dezem- bro. Para mim, o verão tinha finalmente chegado ao hemis- fério sul! Em Curitiba, onde vivo, um calor absurdo: 34 graus centígrados! Mas, para a minha sorte, oficialmente estava de férias! Peguei os pranchões (um pra mim, outro pra sereia), amarrei no teto do carro e parti para a praia ao som de um obscuro e relaxante estilo de jazz instrumental recheado de linhas de sax chamado “Exotica”! No caminho, conversava com minha co-piloto sobre a influência da cultura Tiki nas roupas, mobiliário e até mes- mo no comportamento das pessoas aqui no Brasil. E me dei conta de que nunca tinha escrito nada sobre esse tema. Mas nunca é tarde. Então convido vocês a um mergulho nessa cultura que tem tudo a ver com verão, praia e curtição. Aqui e ali sempre vejo algum ele- mento da cultura Tiki. Quando chega o verão, então... Por todo o lado: coquetéis com frutas, batidas servidas dentro de abacaxis, roupas floridas, hula-girls e às vezes até pequenas estatuetas e enfeites de Moais e Tikis. Mas será que as pessoas sabem realmente o que é essa coisa toda de Tiki? Ou melhor, será que elas têm alguma ideia do que se trata, de onde veio, o que significa? Pois bem. Depois de pesquisar um pouco, eu mesmo descobri que não sabia praticamente nada. Mesmo já tendo frequentado alguns bares Tiki, surfar há muito tempo e curtir um “drinque com guarda-chuvinha” e um shot fla- mejante, eu não tinha nem raspado a superfície dessa intrigante e apaixo- nante cultura, que foi uma das febres dos anos 50 nos Estados Unidos. E, por isso, por não saber quase nada, mas sempre pensando em trazer um bom material sobre o assunto, resolvi conversar com algumas pessoas que realmente estão “por dentro”. Ainda na praia disparei alguns e-mails, fiz alguma pesquisa e, depois de receber boas indicações, acabei encontrando Christopher “Tiki Chris” Pinto, que, den- tre outras coisas, é escritor, músico, hot rodder e um apaixonado e profundo conhecedor da Tiki Kulture. E não foi nada difícil gostar dele depois de des- cobrir que Chris, assim como eu, toca sax tenor, dirige um PT Cruiser retrô e tem um hot rod na garagem. Esculpidas por volta de 1200 d.C. a 1500 d.C. pelo povo Rapanui, Moai são aquelas cabeças gigantes da ilha de Páscoa. Mais de 887 estátuas de pedra se espalham pela Ilha, que fica no Chile e faz parte da Polinésia Oriental, ao sul do Oceano Pacífico HotRods52
  • 53. Tiki Chris contou-me tanta coisa e me surpreendeu tanto com a quantidade e qualidade de suas informações, que esta primeira parte do artigo é praticamente toda fruto daquilo que ele escreveu. Mas vamos aos fatos! Histórica e geograficamente, Tiki pode ser definido como um dos ele- mentos mais fortes da cultura Maori – uma das tribos da Polinésia, sobre a qual já falamos aqui, quando contei a história da tatuagem no ocidente. Para os maoris, bem como para a maioria das outras culturas polinésias, o Tiki tem um significado religioso, e teria sido o primeiro homem na Ter- ra, sendo representado por estátuas esculpidas em pedra ou madeira. Mas isso não é, nem de perto, o que Tiki significa nos séculos 20 e 21. Não só nos EUA, como na maior par- te do mundo, Tiki hoje é sinônimo de outra cultura, que tem suas raízes tam- bém na Polinésia, mas que foi muito além disso. Para quem realmente vive a moderna cultura Tiki, o “Tiki Lifesty- le”, tudo é uma questão de viver o lado bom da vida, e para eles isso significa estar numa espreguiçadeira, à sombra de uma palmeira, tomando um bom drinque com frutas exóticas e muito rum, ouvindo os sons da sua “Exotica music” e as ondas quebrando numa praia paradisíaca qualquer. E isso mesmo estando a milhares de quilômetros de distância da ilha tropical mais próxima. Para eles, isso é “Tiki Kulture”. Tudo bem. Para mim, e para a maioria das pessoas, isso também é um desejo! Mas para quem está realmente mer- gulhado na Tiki Kulture isso é um estilo de vida. E, para poder viver isso 24 horas por dia, trouxeram as palmeiras, as ondas e a areia para dentro de seus bares, restaurantes, casas e carros. Mas nem todos que gostam desse estilo precisam ser tão radicais e, na verda- de, talvez até você já tenha um pouco de Tiki nas veias e não saiba. Como tudo começou A teoria mais comumente contada é que esse estilo surgiu quando alguns bares com decoração havaiana e polinésia começaram a aparecer nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Quando os solda- dos que retornavam do Pacífico Sul começaram a contar a todos como eram maravilhosas e belas as ilhas tropicais, recheadas de hula-girls, vestindo sarongues de palha e com flores no cabelo, alguém teve a ideia de devolver a eles aquele clima e surgiram os bares Tiki. Mas essa não é exatamente a verdade. Os bares e restaurantes Tiki são de fato onde tudo começou e são os responsáveis por essa moda. Mas os primeiros malucos nos Estados Unidos a cria- rem um Tiki Louge estavam na Califór- nia e fizeram isso na década de 30! Ernest Raymond Beaumont Gantt, mais conhecido como “Don – the Beachcomber”, normalmente é quem leva o crédito de ter sido o primeiro maluco a abrir um restaurante focado especificamente na cultura polinésia em Hollywood, Califórnia, em 1933. Don nasceu no Texas, mas cresceu viajando pelas ilhas do Caribe, passou algum tempo no Havaí e passeou bastante pelas ilhas na região. Quando voltou para Califórnia, pensou que seria diver- tido criar um restaurante que trouxesse toda aquela atmosfera para seus clientes. E assim fez quando inaugurou o Donn Beach!. Cerca de três anos depois, em 1937, surgiu o Trader Vic’s, restaurante que Vic Bergeron abriu em Oakland, Califórnia, com um tema semelhante. Ambos os proprietários inventaram seus próprios drinques: fortes, mas saborosos, rapidamente se tornaram populares e ficaram conhecidos. Os restaurantes também agradavam pela decoração exó- O “Tiki” propriamente dito é um dos elementos mais fortes da cultura Polinésia e tem significado reli- gioso. Ele representa o primeiro homem na Terra, mas modernamente é símbolo de uma cultura que se popularizou nos EUA na década de 50 Existe uma grande diferença entre hot rodders e “tiki hot rodders”! Não há dúvida de que ambos são apaixonados por carros pré 63, mas essa imagem resume tudo. Esse é o Chevy 53 que Tiki Chris vem reformando e dirigindo há prati- camente 20 anos! Seu nome é StarDust, e com sorte você vai poder vê-lo rodando em alguma rua secundária da Flórida HotRods53
  • 54. HotRods54 CulturaHot tica e a atmosfera descontraída. Muito bambu e vime por todo lado, deuses Tikis esculpidos a mão, palmeiras, música havaiana e lindas garotas em sarongues apertados definiram o padrão para a era dos Tiki bars que estava por vir. Refresco pós-guerra Nos anos 30 e 40, as viagens aéreas começaram a fazer do mundo um lugar mais próximo, e a música, a comida e a decoração havaiana e polinésia se tornaram mais populares nos Estados Unidos. Não é possível deixar de citar também a Segunda Guerra Mundial, que levou muitos norte-americanos para as ilhas do Pacifico, trazendo estas cul- turas para dentro dos lares americanos. E, com o fim da guerra, todos estavam enjoados de coisas ruins, e se focavam na beleza daqueles mundos, nas flores tropicais e no pôr do sol alaranjado, na magia das mulheres exóticas e na brisa fresca que trazia cheiro de frutas adocicadas. Era um alívio, um refresco Nessa imagem de Doug P’gosh fica claro como os anos 50 se mesclaram com a cultura Tiki. A pintura em acrílico se chama “Tiki Invasion”e é uma homenagem aos filmes B de sci-fi dos anos 50. Tiki bars, drinques e tudo mais misturado. Marte precisa de Hula Girls! para uma nação que tinha se fartado dos horrores da guerra. Os soldados que retornavam queriam esquecer o lado ruim, mas, certamente, lembrar dos bons tempos era necessá- rio. Bares Tiki então surgiram em todos os estados dos EUA, saindo da costa da Califórnia em direção ao Atlântico. Os novos proprietários de Tiki bars com- binavam elementos do Havaí, Tahiti, Filipinas e outras culturas do Pacífico para decorar seus salões. Bambu, palha e madeiras esculpidas tornaram- -se os materiais de construção básicos. Ídolos e máscaras Tiki adornavam as paredes dos bares e adereços náuticos, como redes de pesca e lustres feitos de baiacu, encontraram um caminho para se tonarem elementos de design. As cozinhas chinesa e japonesa também se infiltraram nos menus e, para criar uma trilha sonora perfeita para estes ambientes, músicos de jazz passaram a combinar as batidas fortes e tribais das canções havaianas e polinésias com os elementos da música “cool” da época, Os drinques e coquetéis feitos à base de rum e frutas tropicais foram o estopim da moda dos Tiki Bars que, por sua vez, acabaram por catapultar a cultura havaiana e polinésia ao status de “pop culture” nos anos 50 Nesta imagem, Don serve seus tradicionais coquetéis em seu restaurante- bar em 1934
  • 56. HotRods56 CulturaHot misturando o jazz aos sons exóticos do Pacífico leste e sul, criando um estilo musical que ficou conhecido como “Exotica”. Nasceu, então, o “Pop Polinésio. Na próxima edição Como sempre, vou deixar o melhor para o final, ou seja, para as próximas edições. Sim, tem tanto material sobre o mundo Tiki que, provavelmente, você ainda vai ler sobre isso nas outras duas edições. Mas não se desespere. Se você é uma daquelas pessoas que, como eu, não gostam de novela, existem vários sites especializados no assunto e um deles é do próprio Tiki Chris (tikilougetalk). Corra lá e descubra um mundo de informações. Agora, se você está com preguiça de textos em inglês e aguenta esperar um pouco, mês que vem eu vou contar como foi a explosão da cultura Tiki nos anos 50 e como praticamente ela sumiu nos anos 70, voltando com força quando seriados para a TV como Hawaii 5-0, Magnum e Ilha da Fantasia passaram a ser produzidos. E, lógico, vou voltar a falar de meninas dançando hula e homens comedores de fogo das ilhas do Pacífico. Vou falar de surf, woodies e dar receitas de drinques e pratos Tiki famosos. Enquanto você espera, dê um pulinho ali na minha coluna de filmes e música, no final da revista, e mergulhe um pou- co mais nesse universo tropical. A pessoa que contribuiu para a matéria desse mês, Christopher “Tiki Chris” Pinto e sua esposa, em 2011 no Hukilau Fosse pela praticidade de ter um veículo como este na praia, fosse pelo preço, fosse pelo charme de ter painéis de madeira por todo o carro, os woodies são os preferidos da geração “beach” e também são muito associados à Tiki Kulture Hula girls! Nas paredes, nos painéis dos carros e nas memórias e tatuagens dos soldados, elas sem dúvida são um dos elementos mais lembrados da Tiki Kulture!
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  • 59. MaisequilibradoDe carroceria fastback que servia como “galinheiro” a um Torino Talladega para competição: dez anos, muita história e um clássico da Nascar com sabor V8 Texto: Bruno Bocchini::Fotos: Jason Machado
  • 60. FordTorinoTalladega HotRods60 C ansar os modelos Plymouth Superbird e Dodge Daytona durante a temporada de 1970 da Nascar – associação automobilística norte-americana que controla os campeonatos de stock car dos Estados Unidos – não era tarefa fácil para o Ford Torino Talladega. Mas, mesmo não sendo campeão, o carro parecia mais equilibrado, sobretudo no estilo. Adonis Lykouropulos, paulistano de 38 anos, é entusiasta e apaixonado por automóveis Ford. Dentre diversos modelos da marca ao longo dos anos, ele encontrou uma carroceria do modelo Torino fastback 1968 e, dez anos depois, transformou o carro no icônico Torino Talladega. “Um amigo encontrou a carroceria do fastback em um desmanche no interior de São Paulo, e como ele sabe que sempre participei de eventos automotivos e de corrida, me avisou. No momento em que vi a carroceria já imaginei o Talladega”, lembra Adonis. O Torino havia sido adquirido ainda totalmente depenado e, da compra ao primeiro treino no Autódromo de Interlagos (SP), passaram-se dez anos. Inicialmente, Adonis levou a carroceria para um galpão particular – para dar início à remoção de pintura e massa. Na sequência, foram feitas funilaria e adaptações para homologar o carro para a dis- puta da categoria Força Livre do Campeonato Paulista de Automobilismo. “Deixei a carroceria em uma oficina para trabalhar a lata, pintar, adaptar. Mas, após dois anos de serviços, o resultado não ficou satisfatório. Decidi tirar o car- ro de lá, após muito prejuízo financeiro”, lamenta Adonis. A carroceria ficou sete anos parada até que, em 2009, Adonis passou a trabalhar como gerente na Batistinha Garage. “Entrei na Batistinha e consegui reativar a ideia do projeto com o Torino. Nesta nova etapa, mudei o projeto com o intuito de enquadrar o carro na categoria Históricos V8 5000, que havia acabado de ser criada. Consegui um motor usado em bom estado, ganhei de presente um diferencial e, somados ao câmbio que eu já possuía, começamos a montagem mecânica”, conta. O grande desafio de Adonis foi a funilaria, uma vez que o carro não possuía os para-lamas dianteiros e sequer contava com capô. “Mas, desta vez, a sorte estava ao meu lado e um de nossos clientes nos enviou um Torino 1968 para restauração completa, tornando possível usar o carro como parâmetro e molde para a confecção dos itens que faltavam no meu. Após concluirmos a funilaria, moldamos a frente alongada em 9” para deixar o carro tal qual a versão Talla- dega. A pintura foi feita em duas cores, alusivas ao estilo de pintura usado na Nascar à época, bem como a parte de adesivagem e o número gigante na porta”, descreve Adonis. O gosto por automóveis e velocidade começou ainda na infância de Adonis, primeiro pela convivência com o pai e o irmão, que foi piloto de 1979 a 1998. “Por conta da
  • 61. Pintura em duas cores é alusiva ao estilo usado na Nascar. Interior tem bancos Sparco, volante de três raios e contagiros Auto Meter HotRods61
  • 62. HotRods62 FordTorinoTalladega convivência com meu irmão, sempre sonhei em ser piloto e participar do Campeonato Paulista. Como não tive incentivo, cheguei tarde para ser profissional, mas posso matar minha vontade guiando o Torino vez ou outra”, diz. “Xô, galinhas” A carroceria fastback chegou a São Paulo em uma plata- forma que havia saído do interior. Logo após a compra, Adonis recebeu o carro com três galinhas dentro. “O car- ro estava servindo de galinheiro, pois o desmanche ficava dentro de um sítio. Obviamente eu não sabia o que fazer com as galinhas, mas logo o motorista da plataforma se prontificou a ficar com elas”, recorda. Receita sem caldo de galinha O tratamento da carroceria com funilaria e pintura ficou a cargo da empresa Batistinha Garage – reconhecida no segmento. Já a mecânica do Torino foi feita pela oficina Automotor, também de São Paulo. Com motor 302 V8 de 5000cc, o conjunto conta com bielas, virabrequim e pistões originais Ford, trabalhando a uma taxa de com- pressão 9:1. A admissão é original em ferro fundido, e integra o sistema um carburador Motorcraft bijet, bomba de gasolina mecânica, coletor de escape original em fer- ro fundido e um tanque de 70 litros. A alimentação soma bobina MSD, módulo de ignição, distribuidor e velas originais Motorcraft. O câmbio esco- lhido foi um Clark de 4 marchas e a embreagem é da EmbreMarques.Com 210 cv na roda, a melhor volta em Interlagos registrada ficou em 2’14”850, a 188 km/h de velocidade final. Para o futuro, Adonis pretende aliviar o peso do carro (que está em 1.800 quilos), além de rea- lizar upgrades no motor para conquistar mais potência e melhores resultados nos tempos de volta em Interlagos. Motor 302 V8 de 5000 cc preparado atinge 210 cv na roda
  • 64. HotRods64 FordTorinoTalladega Adonis Lykouropulos e seu Ford Torino: do galinheiro a Interlagos Quem fez: Carroceria, funilaria e pintura: Batistinha Garage. Tel. (11) 3392-2233 Mecânica, câmbio, diferencial e manutenção: Automotor. Tel. (11) 3392-1108. FichaTécnica FordTorinoTalladegaV8 Mecânica Motor 302 V8, 5000cc Bielas, virabrequim e pistões originais Ford Taxa de compressão 9:1 Admissão original em ferro fundido Carburador Motorcraft bijet Bomba de gasolina mecânica Coletor de escape original em ferro fundido Tanque de 70 litros Bobina MSD Módulo de ignição, distribuidor e velas originais Motorcraft Câmbio Clark 4 marchas Embreagem EmbreMarques Blocante original Amortecedores originais Parte externa Rodas 17x10” Vintage Wheels Pneus 245/55 R17 Discos de freio 280 mm duplos ventilados na frente e sólidos na traseira Parte interna Bancos Sparco Cintos U-racer Volante de três raios Motorcraft Contagiros Auto Meter
  • 67. Sonhomeu!Aficionado por Dodge, jovem paulista monta Dart 1975 exatamente do jeito que sonhou quando criança Texto: Vitor Giglio::Fotos: Ricardo Kruppa
  • 68. HotRods68 DodgeDart1975 M uitas crianças sonham com o que gostariam de ser quando crescerem. No entanto, Raniery Braga, hoje com 28 anos, natural de Campinas (SP), era uma criança especial. Quando peque- no, sonhava com o que queria ter, e não ser. “Aos oito anos de idade eu era louco por um Dodge Dart preto que o meu tio tinha. Então sempre me imaginei dono de um Dart. Dono de vários Dart, na verda- de, e um deles teria que ser amarelo”, conta. Mesmo sonhando com um Dart amarelo, Raniery acabou, em sua fase adulta, adquirindo primeiramente o Dart preto de seu tio. “Além do Dart que era do meu tio, também tinha um branco na garagem, mas só os dois não eram suficientes. Eu sentia que estava faltando algo. E esse “algo” era um Dodge exatamente como eu sempre sonhei: amarelo”, conta. Não satisfeito com “apenas” os dois modelos Dart que ocupavam sua garagem, Raniery deu início à busca pelo carro dos sonhos. E ele acabou por cruzar a vida do aficionado paulista em 1999. “Um amigo comprou um Dart 1975 amarelo, mas ele praticamente nem usava o carro, apenas o deixava encostado. Então, em 2006, eu comprei o carro dele, e então dei início ao projeto mais especial da minha vida”, relembra.
  • 69. HotRods69 Conjunto mecânico original do modelo, à frente um motor 318 V8, foi otimizado e agora rende cerca de 320 cavalos
  • 70. HotRods70 DodgeDart1975 Inteiramente restaurado O objetivo de Raniery era restaurar o modelo 75 que estava largado, dando vida nova ao modelo sem que ele perdesse suas características originais. Por este moti- vo, tudo o que você enxerga na parte externa do Dart é exatamente como seria em 1975, exceção feita à grade dianteira, extraída do Gran Coupé 1975, e das rodas alargadas sob medida, que medem 15x7” na dianteira e 15x8” na traseira. Os pneus são Cooper Cobra. O veículo tomou um banho de amarelo Montego, original do Dart. “Todo o restante foi restaurado. Na parte de fora, nada foi confeccionado”, conta Raniery, com orgulho. Isso vale também para o interior do veículo, onde estofamen- to, forros, painel, volante e pedais permanecem originais. Coloração amarelo Montego, que consta da paleta de cores original do modelo, foi utilizada no exemplar de Raniery
  • 72. HotRods72 DodgeDart1975 Preparação Já a mecânica original do Dart 1975 entrou para a história. O motor 318 V8 original permanece, mas os 198HP que ele era capaz de produzir viraram lenda. O conjunto mecânico rece- beu pistão tachado, comando de válvulas 278x286 Summit, carburador quadrijet Holley 650 e coletores Edelbrock. “A parte elétrica é toda da Mopar. Além disso, eu utilizo aquela embreagem mista de cerâmica da Centerforce”, conta o proprietário. Cabeçote trabalhado, válvulas de titânio e escape duplo com cano de 3” são as outras modificações, que, soma- das, dão ao Dart cerca de 320 cavalos de potência. Perfeccionismo “O carro está exatamente do jeito que eu queria. Era exa- tamente o que eu visualizava, desde a infância”, conta Raniery sobre o projeto, que exibe um nível de perfeccio- nismo de tirar o chapéu. O veículo, grande xodó do rodder, só sai da garagem em ocasiões bastante especiais. “Eu costumo usá-lo nos encontros do Dodge Clube de Campinas, clube do qual sou um dos responsáveis, aliás”, frisa. Perguntando se agora então estaria satisfeito com o que possui em sua garagem, Raniery não hesita. “Esse proje- to está concluído, mas já estou pensando no próximo”, afirma. Assim como uma criança, Raniery não quer nem saber da hora de parar de brincar. Sorte nossa! Quem fez: Nika old car. tel. (19) 3227-9555. Raniery e seu Dodge Dart: sonho de infãncia realizado. Interior do veículo foi mantido com características originais
  • 73. FichaTécnica DodgeDart1975 Parte Externa Pintura amarela Montego Grade dianteira do Gran Coupé 1975 Rodas 15x7” na dianteira Rodas 15x8” na traseira Pneus Cooper Cobra Parte Interna Inteiramente restaurada Mecânica Motor 318 V8 Comando de válvula Summit Carburador Quadrijet Holley 650 Coletores Edelbrock Embreagem Centerforce Válvulas de cerâmica Escape duplo de 3” HotRods73
  • 74.
  • 75.
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  • 80. HotRods80 Vitrine Caçambagringa A sugestão da Stepside é o kit composto por caçamba e para- lamas da picape C-10 americana. A caçamba tem como modelo a peça original americana e pode ser adaptada em todos os modelos de C-10, C-14, C-15, D-10 e A-10 brasileiras. O kit é integrado por caixote, tampa e acabamento lateral em chapa de aço de 1,5 mm e para-lamas em fibra de vidro com excelen- te acabamento. Preço: R$ 2.290. Informações: www.stepside.com.br ou tel. (44) 3687-1357. O destaque do mês da empresa America Parts são os pneus da marca norte-americana Mickey Thompson, disponíveis em várias medidas. Informações: www.americaparts.com.br ou tel. Tel. (11) 2647-1496. A Old Design, especializada em peças e acessórios para carros antigos, des- taca este mês o serviço de restauração da lanterna traseira para o modelo Dodge Magnum. Informações: Tel. (19) 3454-8019 ou (19) 99705-6865. E-mail: olddesign@hotmail.com MickeyThompson Lanternarestaurada O destaque da empresa As Pickups Antigas para esta edição é a caçamba modelo F-100 em chapa 16 com coluna tipo “perna de moça” modelo hot. A peça vem com armação de capota marítima com amortecedor a gás, revestimento de chapa e é personalizada por As Pickups Antigas. Informações: www.aspickupsantigas.com.br ou tel. (11) 4647-1374 ou (11) 97534-8722. A sugestão da VFort Pneus é a roda de aço fechada, disponível nas medidas 15x5’’, 6’’, 7’’, 8’’ e 10’’. A peça é ideal para projetos de hot e rat rods. Disponí- vel na furação 5x114,3/120mm. Acompanha copo central cromado. Informações: Tel. (41) 3254-5222 ou e-mail: ruvaldow@gmail.com CaçambaparaF-100 Rodapararat
  • 82. HotRods82 Rock’nHots TikiMusic&MoviesColuna traz dicas de discos e filmes para você fazer bonito naquela festinha Tiki no quintal de casa Por Victor Rodder O k! Você leu o texto de cultura deste mês e resolveu fazer uma festa Tiki no quintal de sua casa! Des- colou aquele bar de vime da sua avó, comprou tochas de querosene e um estoque de garrafas de rum e frutas tropicais está na geladeira. Ok. Só falta a música e uns filmezinhos para deixar rolando no DVD enquanto todos se divertem. Se você colocar para tocar uma seleção de jazz latino, meren- gue, cha cha cha, bossa nova e salsa, todos vão achar normal. Mas, para uma verdadeira experiência Tiki, você precisa de um estilo próprio de música: exotica. Exotica significa exatamente o que parece... Uma música dife- rente, estranha, que evoca uma atmosfera de florestas tropicais, aldeias do Taiti, selvas africanas, luaus havaia- ULTRALOUNGECOLECTION–COLETÂNEA–EUA-1996 AAVENTURADEKONTIKI(KON-TIKI)–EUA-2012 FORBIDDENSOUNDSOFDONTIKI–COLETÂNEA–EUA-2002 OFANTÁSTICOROBINCRUSOÉ(LT.ROBINCRUSOE,U.S.N.)–EUA-1966 HOTNEWORLEANSNIGHTS–SAMBUTERA–EUA–1999 OSAVENTUREIROSDOPACÍFICO(DONOVAN’SREEF)–EUA–1963 Ok, esse já é um pouco mais difícil de encontrar por esses dias. Essas faixas foram originalmente gravadas e prensadas quando só existia vinil e, depois que a moda Tiki passou, os álbuns viraram relíquia! Mas alguém reuniu o melhor da onda e jogou nessa coletânea que ainda é possível achar no e-bay e amazon. com! O disco começa com a clássica “exotica” com Martin Denny, o expoente do gênero, e por aí vai! Na década de 90, um pessoal que estava “na vibe” se reuniu e montou uma série de CDs chamada “Ultra Lounge”. Quase 30 álbuns compõem essa discoteca. Tem de tudo: de Martin Denny a Sam Butera. Se você conseguir esses discos, ou pelo menos uma parte deles, nunca mais vai precisar se preocupar em como animar uma festa Tiki. E vai agradar até mesmo o mais chato dos conhecedores da Tiki Kulture. Se você curte jazz e música instrumental de qualidade não vai se arre- pender de conhecer um pouco mais sobre este saxofonista que, duran- te muito tempo, foi a menina dos olhos da banda de Louis Prima. Sam Butera não é “exótico” por completo. Ao contrário. Mas estava lá quando inventaram essa onda. Nessa coletânea de 99, várias músicas que fazem sucesso até hoje nos tiki bars mais cools dos EUA! Não dá para falar em Tiki Kulture sem mencionar a Disney. Vou falar mais sobre isso na edição do mês que vem, mas já adianto que ela é considerada por muitos como a legítima responsável pela explosão da moda Tiki nos EUA dos anos 50. E, neste filme, o astro Dick Van Dyke faz miséria numa ilha paradisíaca deserta, onde caiu após saltar de seu avião, encontrar um submarino abandonado, um chimpanzé do programa espacial dos EUA e uma linda nativa chamada Quarta-feira. Inspirado em fatos reais, conta a história da expedição Kon-Tiki, liderada pelo pesquisador Thor Heyerdahl, que, em 1947, decidiu provar que a Polinésia tinha sido ocupada primeiramente pelos povos da América do Sul, e não pelos povos do oeste. Como? Construindo uma jangada com os mesmos materiais de séculos atrás, chamando cinco malucos sem experiência nenhuma no mar e se atirando numa viagem de três meses pelo oceano Pacífico. Fácil assim! Este é, sem dúvida, o melhor dos três filmes deste mês. Tam- bém, não tem como errar com John Wayne interpretando o dono de um bar na fictícia ilha franco-polinésia de Haleakola ao lado de Lee Marvin, Cesar Romero e Dorothy Lamour. As filmagens foram feitas nas deslumbrantes paisagens de Kauai, no Havaí, e o resultado final foi uma comédia fantástica e um dos grandes sucessos de bilheteria da época. Confira! nos e por aí vai. Este tipo de música foi popularizado por orquestras nas décadas de 50 e 60, principalmente por Martin Denny, Esquivel, Arthur Lyman, Les Baxter e Al Caiola. Esses títulos são difíceis de encontrar até mesmo na internet, mas os discos que eu separei não são assim tão obscuros. Em relação aos filmes, não consegui ser tão objetivo. Por isso, separei desde um drama baseado em fatos reais que foi nominado ao Oscar em 2012 a um clássico da Disney da década de 60, já que, para muitos, foi a Disneylândia que, em grande parte, trouxe a onda Tiki no mundo pós-guerra, com atrações como Adventureland e Tiki Room surgindo em sua inauguração, em 1955. Mas é isso. Boa festa para você e até mês que vem!