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O POVO CEGO
E AS FARSAS DO PODER
u m a a v e n t u r a r e a l n o
p a í s d o f a z - d e - c o n t a
A visão e a história de uma vítima de sucessivas tentativas de homicídio
empreendidas pelo serviço secreto brasileiro
S e x o P s i q u i a t r i a P o l í t i c a
H o m o f o b i a M a t e m á t i c a E s p i o n a g e m
P r o s t i t u i ç ã o C o n s p i r a ç õ e s P e d o f i l i a
eric campos bastos guedes
Eric Campos Bastos Guedes 1 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Eric Campos Bastos Guedes 2 O Povo Cego e as Farsas do Poder
“A culpa é do hipócrita, mentiroso e esperto ao contrário,
que atira a pedra e esconde a mão.”
Estamira
Eric Campos Bastos Guedes 3 O Povo Cego e as Farsas do Poder
PREFÁCIO
Este não é um livro de ficção, lamentavelmente. Desde o início de 20071
venho sofrendo
perseguições de caráter político e diversas ameaças. Tive meu nome difamado, sofri
drogadições involuntárias e tentativas de homicídio. Sabemos que tais coisas ocorreram
no passado e que talvez ocorram em algumas partes do mundo hoje. Porém sempre
pensamos nisto como algo um tanto distante de nossa realidade. Até acontecer conosco.
A maioria dos países tem um serviço secreto. Que propósitos tem tal atividade?
Eles alegam proteger a soberania nacional e a democracia, entre outras coisas. No
entanto é difícil imaginar que um governo tão corrupto esteja, ao mesmo tempo, tão
preocupado em manter a democracia. A soberania nacional, por sua vez, continua sendo
uma abstração sem base concreta. Basta citar o caso do nióbio – mineral absolutamente
necessário para a indústria mundial. Somos o único país do mundo com quantidade
significativa de nióbio e estamos vendendo este mineral a preços risíveis. O silêncio a
esse respeito é total.
A grande mídia distrai a população com questões que nos chocam. Somos
submetidos a sucessivos sequestros emocionais e levados, assim, a ignorar os problemas
reais – aqueles cujas soluções nos trariam mais qualidade de vida, prosperidade e paz. A
mídia atribui a causa de nossos problemas ao chapéu que temos sobre cabeça e não aos
pensamentos que nutrimos dentro dela. Então, compramos um chapéu novo e mais caro
– e continuamos com nossos problemas.
O presente texto convida a uma reflexão sobre a justiça e o poder no Brasil
contemporâneo e no mundo. A sucessão dos acontecimentos por vir darão a tônica de
nossas conclusões: um sopro de esperança no futuro ou a trágica constatação de uma
realidade abjeta e inexorável.
Os nomes das pessoas e instituições envolvidas foram trocados para evitar uma
eventual proibição do comércio da presente obra, como já aconteceu com outro livro
semelhante, a saber, “O Canto dos Malditos” de Austregésilo Carrano Bueno.
Eric Campos Bastos Guedes
fator-n@hotmail.com / mathfire@gmail.com
1 Na verdade, pude verificar que um primeiro indício significativo de que estava sendo vítima de algum tipo de
conspiração ou complô surgiu em 2006, talvez antes que eu tivesse sido premiado na Olimpíada Iberoamericana de
Matemática Universitária. Este indício consiste na alteração do texto de um meu outro livro – Fórmulas para
Números Primos – alteração esta feita, presumivelmente, via Internet por algum hacker. Após 10 anos acessando a
Internet sem nunca ter tido esse tipo de problema, essa foi a primeira vez em que percebi, de modo relativamente
claro, que dados contidos no HD de meu computador foram acessados e alterados. Tal alteração foi bastante sutil
para não ser percebida imediatamente, mas nociva o bastante para fazer com que a proposta de publicação de meu
livro pela Sociedade Brasileira de Matemática fosse recusada. Sem ter conhecimento da alteração do texto, acabei
por publicá-lo eu mesmo em formato digital ao disponibiliza-lo no site www.docstoc.com .
Eric Campos Bastos Guedes 4 O Povo Cego e as Farsas do Poder
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido considerado excelente. Às
vésperas de uma eleição, Lula está a ponto de conseguir eleger sua candidata, a
ex-ministra Dilma Housseff. Perguntando a pessoas do povo, vê-se logo que Lula é muito
bem quisto pela população. Não é para menos! Hoje temos mais empregos que na época
de Fernando Henrique Cardoso, os salários subiram e o salário mínimo, em particular,
subiu bastante. O grande problema é o que tem sido feito por debaixo dos panos, sem
alarde, sem divulgação.
Venho denunciando o governo Lula por permitir que cidadãos brasileiros sejam
mortos pela ABIN – Agência Brasileira de Inteligência. A ABIN é o serviço secreto
brasileiro, o equivalente ao Serviço Nacional de Informações (SNI) da época da ditadura
militar. Muitas pessoas que trabalharam para o antigo e opressor SNI, trabalham hoje
para a ABIN. Inclusive gente envolvida com torturas, homicídios e coisas do gênero. Um
grande indício de que o presidente Lula sabe que cidadãos brasileiros estão sendo mortos
pela ABIN é o fato de que uma das funções da ABIN é justamente prover o poder
executivo de informações. Isto significa que Lula tem todo o direito de saber o que a ABIN
está fazendo. E se ele não sabe é porque não quer nem saber, isto é, não está nem aí.
Apesar de tudo, tenho que reconhecer que, talvez, Lula seja refém da ABIN. Foi a
ABIN a responsável pela criptografia do telefone presidencial. Essa criptografia protegeria,
em tese, as ligações de Lula e de seus familiares de coisas como grampos telefônicos. No
entanto, é lógico que se alguém faz a segurança das informações de outrem, poderá, se
quiser, ter acesso a tais informações. Por exemplo, o sistema criptográfico dos telefones
presidenciais pode ter uma falha que só a ABIN conhece, e a ABIN poderia se valer,
hipoteticamente, de uma tal falha para ter acesso às ligações do presidente. Não somos
governados por quem pensamos que nos governa.
Gostaria de acrescentar que essa segunda edição tem várias melhorias em relação
à primeira. Foram acrescentadas passagens antes omitidas, detalhes significativos e a
perseguição que sofri após a primeira edição. Também corrigi alguns erros que haviam na
edição precedente. Entretanto, esse texto ainda não está tão bom como gostaria que
estivesse. O motivo é que tive de apressar o trabalho para que fosse publicado antes do
segundo turno da eleição presidencial. Penso que a eleição pode mudar dramaticamente
a minha sorte – para pior. Talvez meus inimigos se sintam muito mais a vontade para
tentar me matar agora, já que Lula vai deixar a presidência da república. E se a denúncia
que lanço neste trabalho ficar erroneamente desvinculada da imagem de Dilma Rousseff,
candidata de Lula, o povo pode se enganar ao pensar que ela não tem nada a ver com os
assassinos de estado pagos a peso de ouro pelo governo federal e que trabalham para a
ABIN.
Eric Campos Bastos Guedes
Escrito em Araruama, em 5 de setembro de 2010.
Modificado em Araruama, em 30 de outubro de 2010.
Eric Campos Bastos Guedes 5 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Parte I(Introito – Ilustrando o problema com textos relacionados)
Eric Campos Bastos Guedes 6 O Povo Cego e as Farsas do Poder
http://www.obm.org.br/univ/oimu.htm
Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária
O participante não deve possuir título Universitário a nível de graduação ou equivalente e
deve estar matriculado em uma Universidade como estudante de graduação.
IX OIMU (2006)
Nome Prêmio Cidade-Estado
Rafael Daigo Hirama Ouro S.J. dos Campos – SP (1º)
Rafael Marini Silva Prata S.J. dos Campos – SP (2º)
Thomás Yoiti Sasaki Hoshina Bronze Rio de Janeiro – RJ (3º)
Felipe Rodrigues Nogueira de Souza Menção Campinas – SP (4º)
Luty Rodrigues Ribeiro Menção Fortaleza – CE (5º)
Luiz Felipe Marini Silva Menção S.J. dos Campos – SP (6º)
Eric Campos Bastos Guedes Menção Rio de Janeiro – RJ (7º)
Rafael Constant da Costa Menção Rio de Janeiro – RJ (8º)
Eric Campos Bastos Guedes 7 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Ilustríssimo Dr. Delegado do 77° DP Icaraí
Eric Campos Bastos Guedes, filho de Winter Bastos Guedes (pai) e Vanda Campos Guedes (mãe),
portador da CI nºXXXXXXXX-X, CPF nºYYYYYYYYY-YY, domiciliado à Rua Domingues de
Sá, n°422 em Icaraí, Niterói, RJ, vem por meio desta requerer registro de ocorrência e apuração
pelo seguinte: ameaça de morte, calúnia e difamação (texto abaixo, postado na página de recados da
vítima, no Orkut):
“Seu arrombado do caralho....
Ao invés de ficar entrando em uma comunidade séria de policiais pra ficar fazendo chacota de
nossas caras,porque não vai procurar um trabalho,ou algo do tipo?
Filho da puta do caralho,cú de burro desgraçado! Bastardo maldito,no mínimo deve ser algum filho
de alguma cadela desgraçada na vida que fica passabdo trotes para as autoridades...
E digo mais,se ficar de graça com a gente,é 2 palitos eu falo com uns brothers ae no Rio e consigo
seu endereço e passo você pros irmãos ae malucão,nem vem tirar que aqui é policía no baguio,se
liga ae comediagem...pra desenrolar este barato é 2 palitos,tá avisado. ”
Nestes termos
Pede deferimento
________________________________
Niterói, 7 de novembro de 2008
Eric Campos Bastos Guedes 8 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Tópico de Discussão na comunidade “Denúncias, Dúvidas,
Direito” no Orkut
Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica
Início > Comunidades > Governo e Política > DENÚNCIAS, DÚVIDAS, DIREITO. > Fórum: >
Mensagens
mostrando 1-2 de 2
2 nov (5 dias atrás)
Eric Campos
Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica
Fui internado numa clínica psiquiátrica por motivos políticos. Não havia indicação real para uma
internação, visto que eu estava calmo, lúcido e produtivo. No final da internação, como eles não
tinham como me manter mais tempo preso, deram uma agulhada no meu pé esquerdo. Quando olhei
para meu pé havia, no local da agulhada, uma gota de um líquido vermelho escuro. Não acreditei no
que eu estava vendo e não reclamei na hora porque eu estava drogado com altas doses de
antipsicóticos e tranquilizantes. Passei o dedo por cima do ponto vermelho em meu pé. Era sangue.
Desconfio que me infectaram criminosamente (talvez HIV), já que estou sendo perseguido desde
2006 por motivos políticos, principalmente depois que obtive a sétima colocação no Brasil na
Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária (em 2006) sem estudar. Gostaria, em caso
de confirmada a infecção, processar o hospital. Não há, no momento, nenhum teste que confirme
qualquer infecção, mas preciso postar isto aqui para que fique o crime bem caracterizado. Como
devo proceder?
[ eric campos bastos guedes ]
2 nov (5 dias atrás)
Dra. Nancy
Boa Tarde Érico, lamento pelo que voce passou, mas uma coisa é certa, o bem sempre vence o mal!
Como não há nenhuma indicação de infeccção ou manifestação criminosa, no meu entender, para
deixar registrada tal situação para uma confirmação ou não de um crime, se dirija a um Distrito
Policial para lavrar um Boletim de Ocorrência de Preservação de Direitos, também pode se dirigir
diretamente ao Ministério Público e deixar sua denúncia lá, espero que não esteja contaminado, é o
que te desejo de melhor, mas, se algo surgir após um tempo, voce já deixou registrado em dois
órgãos que poderão investigar o ocorrido.
Boa sorte!
Eric Campos Bastos Guedes 9 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Parte II(Vida Pregressa – Uma Pequena Autobiografia)
Eric Campos Bastos Guedes 10 O Povo Cego e as Farsas do Poder
A Matemática como princípio do pensamento lógico-racional
Gosto de Matemática desde os 7 ou 8 anos de idade2
. Naquela época abria a
Enciclopédia Novo Conhecer, ricamente ilustrada, para me divertir tentando determinar a
velocidade de translação da Terra. Não encontrando essa velocidade explicitada na
enciclopédia, imaginei que pudesse calculá-la. Primeiro supus que a Terra se movia em
uma trajetória circular em torno do Sol, o que não está lá muito distante da realidade.
Depois supus, corretamente, que o número pelo qual eu deveria multiplicar a distância da
Terra ao Sol para ter o “comprimento da trajetória” da Terra em torno do Sol era o mesmo
número pelo qual eu deveria multiplicar o raio de qualquer círculo para obter o
comprimento da circunferência. Partindo desses pressupostos, apossei-me de um
transferidor de formato circular e medi – com grau suficiente de precisão – o valor de tal
número, que estimei como sendo aproximadamente 6. Fiz isso sem saber nada a respeito
da célebre constante matemática  (lê-se “pi”), que expressa a razão entre o
comprimento da circunferência e seu diâmetro.
***
Um pouco sobre minha mãe
Eu perguntava pelas coisas que queria conhecer e geralmente elas tinham um caráter
numérico. Perguntei certa vez sobre o significado dos números que apareciam numa
bússola: “Você vai gastar o fosfato de seu cérebro”, respondeu minha mãe. Interessante
notar que ela era professora – e uma ótima professora, conforme sempre tenho ouvido
falar dela. Já imaginaram ela numa sala de aula dizendo isso para seus alunos? “Assim
vocês vão gastar o fosfato de seus cérebros”. Não é difícil imaginar porque o quociente de
inteligência do povo brasileiro – em torno de 89 pontos – está próximo da imbecilidade. A
boa professora dá sinais de caridade no trato com seus alunos na escola onde trabalha,
mas tolhe a inteligência do próprio filho. É como se ela ensinasse os desfavorecidos para
ostentar compaixão e dificultasse a vida dos mais promissores para mostrar que é melhor
que eles. Há quem seja acusado por favorecer familiares, mas sabotar a inteligência do
próprio filho é obra do diabo. Minha mãe sempre buscou manter uma imagem de
santidade e correção perante todos. O objetivo dessa sua busca é o de criar uma fachada
moralmente inatacável a fim de encobrir seus atos perversos. Ora, Vanda sabia que seu
empenho em ensinar estudantes desfavorecidos seria tido como uma atitude de caridade.
Por outro lado, ensinar ao próprio filho poderia ser visto como um tipo perigoso de
egoísmo. Por outro lado, por que um mestre se preocuparia em educar alguém inteligente
e interessado que pudesse vir a superá-lo? O único motivo que vejo para isso é imaginar
o mestre que ele toma parte, de algum modo delirante, no sucesso intelectual de seus
alunos. Fora isso, ninguém gosta da ideia de ser intelectualmente inferior a outrem. Se
não nos imaginamos tomando parte do sucesso de nosso próximo, não apreciaremos
este sucesso.
***
Sobre os dois tipos de egoísmo e sobre o perdão
2 Ao examinar criteriosamente minha cronologia, verifiquei que é muito mais provável que meu gosto pela
Matemática tenha começado a se estabelecer aos 9 ou 10 anos. Nessa idade tinha muito mais interesse por
calculadoras que as demais crianças de minha faixa etária. Eu me interessava por questões como: “Quantos
segundos há em um ano?” Então, fazia algumas contas para chegar ao resultado (cerca de trinta e um milhões).
Eric Campos Bastos Guedes 11 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Todos somos egoístas por natureza – o grande problema não é ser ou não ser, mas sim
ser ou não ser patologicamente egoísta. A diferença entre o egoísmo patológico e o sadio
é que o patológico quer ter sucesso às custas do fracasso dos demais, enquanto o sadio
procura ter sucesso tomando parte no sucesso dos outros. Uma pessoa estará sendo
patologicamente egoísta se se incomodar com o êxito de quem ela julga não merecê-lo;
estará sendo saudavelmente egoísta se admirar o êxito de outrem, porque se sente
engrandecida com o sucesso alheio, por estar tomando parte, emocionalmente, neste
sucesso. Ninguém é saudavelmente egoísta o tempo todo, nem patologicamente egoísta
por toda a vida. Normalmente nos sentimos bem com o sucesso das pessoas que
gostamos, mas nos incomodamos com o de quem detestamos. Quem, por mais delirante
que isto possa parecer, julga-se irremediavelmente superior a todos, tem a chance de
mostrar sua superioridade ao distribuir seu conhecimento a quem lhe pedir. A sabedoria é
uma das coisas que quanto mais distribuímos, mais passamos a ter. Um dos modos de
dominar um assunto com excelência é ensinar esse assunto. O ato de expor um tema a
outras pessoas é um fator importante para a fixação do conhecimento na mente do
professor. Uma pessoa saudavelmente egoísta fica feliz em ensinar, porque isto confirma,
emocionalmente, que ela sabe mais; uma pessoa patologicamente egoísta fica
desconfortável quando ensina, porque ao repassar o conhecimento que possui, julga que
seu aluno está mais próximo de saber tanto quanto o professor. O foco do egoísta
patológico está no fracasso dos demais, sua intenção é destruir quem está acima e
aumentar a vantagem que tem sobre quem está abaixo; o foco do egoísta saudável está
no próprio êxito, sua intenção é ter mais sucesso hoje do que ontem, mais amanhã do
que hoje. Para fazer isso sua estratégia consiste em cooperar para o êxito dos demais,
partindo do pressuposto que toma ele próprio parte nesse êxito. Nutrir ódio, raiva ou
antipatia pelas pessoas favorece o egoísmo patológico; já a ausência de ódio, de raiva e a
simpatia pelos demais favorece o egoísmo saudável. Perdoar as pessoas e amá-las em
espírito e em verdade é o que temos de fazer para não sermos pegos na armadilha do
egoísmo patológico. Uma estratégia para fazer isso consiste em compreender as
dificuldades alheias. De fato, se entendemos o porque de termos sido vítimas de
maldades, passamos a perdoar nossos agressores. Se não há compreensão, dificilmente
haverá perdão. É por isso que a traição de um amigo é muito mais difícil de perdoar que
as agressões de um inimigo. A traição é uma surpresa desagradável, inesperada. Se
temos um bom amigo a muitos anos, acabamos por justificar internamente nossa
amizade. Passamos a responder subconscientemente a perguntas como: “porque somos
amigos?”; “porque fulano é meu amigo?”; “porque eu sou amigo de fulano?”. Encontramos
intimamente variadas respostas para essas questões, de modo a fortalecer nossa
amizade. Quando ocorre uma traição não estamos preparados para ela. Não
encontramos boas respostas para a pergunta “porque não somos mais amigos?”; “porque
fulano me traiu?”, pois nossa fé na amizade nos levava a acreditar que esse tipo de coisa
jamais aconteceria. Então, por não compreendermos a traição de nossos amigos, será
muito mais difícil perdoá-los. Quando a agressão vem de um inimigo ela já é esperada e,
portanto, muito fácil de a entendermos. Talvez por isso se diga que o ódio e o amor estão
muito próximos. Se amamos alguém que nos decepciona, passamos a odiar essa pessoa,
pois deixamos de ter prazer na amizade com ela; se perdoamos alguém que odiamos,
deixamos de sofrer com o ódio que se foi e o sentimento de alívio pelo fim de um
sofrimento nos torna aptos a sentir amor por aquela pessoa. O amor e o ódio são vizinhos
muito próximos, mas totalmente antagônicos. O primeiro nos trás a vida e o segundo quer
nos impor a morte.
Se queremos ter sucesso será muito mais fácil obtê-lo pelo caminho do egoísmo
Eric Campos Bastos Guedes 12 O Povo Cego e as Farsas do Poder
saudável do que pelo do egoísmo patológico. E se queremos ser saudavelmente egoístas
o primeiro passo é perdoar nossos inimigos. Ora, para perdoarmos quem nos fez sofrer é
necessário que compreendamos o porque do outro. Conhecer as motivações e
dificuldades de nossos inimigos é um passo importante para conseguirmos perdoá-los.
Então, pessoas mais sábias conseguem perdoar mais. Uma pessoa mais inteligente
perdoa mais do que a menos inteligente; pessoas que conhecem mais sobre o mundo,
sobre como funciona a sociedade realmente e, em particular, pessoas que conhecem
mais sobre psicologia são mais eficientes em se tratando de perdoar as outras. Portanto,
se queremos perdoar mais, um caminho é nos tornarmos mais sábios, seja pela aquisição
de conhecimento, seja pelo aumento de nossa inteligência. O conhecimento precípuo a
que devemos buscar para conseguirmos perdoar nossos inimigos é o da psicologia. Se
somos bons psicólogos conseguimos entender melhor as dificuldades e motivações das
pessoas que nos cercam, e essa compreensão poderá conduzir ao perdão. O segundo
tipo de conhecimento que devemos buscar para alcançar o perdão é o que diz respeito à
como as pessoas se relacionam entre si de modo organizado, em instituições e
empresas. Conhecer a realidade, o mundo como ele é, nos leva a esse conhecimento. O
estudo da filosofia pode ser um meio de se chegar a esse conhecimento. Um dos
melhores meios de aprender filosofia é a pesquisa na Internet, pois ela é acessível à
maioria da população, tem baixo custo e contém uma parcela imensa de todo o
conhecimento de nossa civilização. Na Internet os canais que nos levam melhor a
aquisição de saberes são a pesquisa de textos prontos no buscador Google e na
Wikipédia; a pesquisa de vídeos – principalmente documentários – no YouTube e no
Google Vídeo; a pesquisa do que eu chamo de verdade em estado bruto em
comunidades do Orkut. A pesquisa no Orkut pode revelar muitas coisas que não estão
claras nem nos textos prontos nem nos vídeos3
. É um tipo de pesquisa que tem sido
subvalorizado, mas é um meio novo – e ainda muito mal compreendido – de chegarmos a
um conhecimento de excelente qualidade com muito pouco esforço, pois acabamos nos
divertindo ao adquirirmos e repassarmos informações em comunidades de sites de
relacionamento. O que leva a pesquisa em comunidades de sites de relacionamento ser
altamente proveitosa é o fato bem conhecido de que falamos muitas coisas nesses sites
que não diríamos face a face ou pelo telefone. Acabamos sendo mais sinceros no Orkut
do que no trabalho, na igreja ou no seio familiar. O maior problema de aprender pelo
Orkut é separar quem está sendo sincero de quem está jogando, ou trabalhando em
silêncio para sustentar falsas crenças, mitos que dificultam a vida das pessoas por serem
amplamente aceitos, embora falsos. Me parece que muitas pessoas tem criado e
sustentado grandes comunidades com a finalidade de fazer esse tipo de jogo,
perpetuando, assim, mitos malsãos que sangram a humanidade.
Mas mesmo que alcancemos grande sabedoria ela pode, ainda assim, não ser
suficiente para conseguirmos perdoar nossos inimigos. O problema é mais ter o saber
correto do que ter muito saber. Podemos ser muito inteligentes e termos muito
conhecimento. Entretanto, nunca chegaremos a ser oniscientes, sempre nos faltará saber
algo. E pode ser que o pequeno detalhe que nos falta saber seja crucial para
conseguirmos perdoar um inimigo específico. Talvez por isso Deus seja amor: ele perdoa
sempre pois conhecendo tudo, sabe também de nossas motivações e dificuldades.
3 A pesquisa em comunidades do Orkut relacionadas com os temas que queremos conhecer conduz, não raro, à
elucidação de questões cujas respostas nos são negadas pelos veículos socialmente autorizados que deveriam
responder a contento as mesmas questões – mas não o fazem. E não o fazem porque o papel de muitas instituições
bem estabelecidas e bem conceituadas está fortemente ligado à manutenção da ignorância do povo. Isso é muito
comum em medicina, por exemplo. O detentor do saber médico – e do diploma – costuma se valer da ignorância do
paciente sobre o tema para receitar remédios desnecessários que talvez tornem seu paciente realmente doente. E uma
vez estabelecida a patologia, o adoentado deverá retornar muitas outras vezes ao consultório de seu médico.
Eric Campos Bastos Guedes 13 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Se não obtivermos sucesso em conseguir perdoar um inimigo pela aquisição de
conhecimento e aumento da inteligência, há, ainda, um outro bom meio de chegarmos ao
perdão: nos sentindo bem. Se estamos nos sentindo bem, acabamos esquecendo a ira e
o ódio contra nossos agressores e nos concentramos em continuar a nos sentir bem. O
melhor meio que eu conheço para me sentir bem é criar um círculo virtuoso em torno de
meu autodesenvolvimento. Se funciona para mim, pode funcionar para outras pessoas
também.
Criamos um círculo virtuoso quando nos empenhamos com alegria e motivação em
alcançar êxitos que valorizamos. No meu caso costumo buscar êxito em atividades como
estudar livros de matemática ou física e escrever livros que julgo serem importantes.
Jogos também me deixam motivado, particularmente o xadrez. Outra atividade que me
deixa animado é participar de uma certa lista de discussão de Matemática de alto nível
onde existe o desafio de resolver interessantes problemas de matemática. É claro que
essas atividades são coisas que me motivam, que me animam, mas são as minhas
atividades motivadoras. Cada pessoa deve ter seu próprio grupo de atividades
motivadoras. Elas podem ter cunho intelectual ou físico. Tenho um grande amigo que se
tornou um excelente corredor. A corrida passou a ocupar um lugar importante em sua
vida. Ele participa de maratonas, meias-maratonas e passa bastante tempo treinando.
Sente-se muito bem ao constatar seus próprios progressos. A corrida o tornou alguém
mais feliz, mais realizado. A prática do esporte costuma nos tornar pessoas melhores.
O que quero frisar é que você deve procurar ter suas próprias atividades
motivadoras. O que me faz sentir bem pode fazer você se sentir muito mal e vice-versa.
Suas atividades motivadoras devem lhe dar prazer, ainda que esse prazer seja precedido
por um esforço persistente em sentir-se motivado por elas.
Uma regra geral é que a atividade motivadora deve ser lícita, honesta e estar
dentro da lei, pois caso contrário levará o praticante à ruína decorrente da punição
imposta pela sociedade.
Outra regra é ter uma atividade por vez – de fato, fazer várias coisas ao mesmo
tempo ou ter muitos objetivos diferentes e simultâneos é garantia de fracasso na tentativa
de estabelecer ou manter atividades motivadoras. Se quiser fazer de sua atividade
motivadora um hábito salutar, procure introduzi-lo aos poucos e jamais tente implementar
muitos hábitos de uma só vez – é muito mais fácil (mas ainda assim difícil) criar um hábito
por vez do que criar muitos hábitos de repente. Na verdade, julgo ser praticamente
impossível para a maioria das pessoas criar dois ou três hábitos de uma só vez.
Uma quarta regra útil para que você se sinta bem com uma atividade motivadora é
procurar enxergar seus próprios progressos, valorizando cada pequena vitória. Já os
insucessos devem ser psicologicamente minimizados: se você não alcançar a marca que
deseja hoje, poderá se sentir melhor dizendo a si mesmo que alcançar a tal marca
amanhã será uma vitória ainda maior, pois o esforço tempera o banquete dos vencedores.
Procure enaltecer para si mesmo cada pequeno progresso que você fizer4
; analogamente,
procure minimizar toda queda ou fracasso que lhe ocorrer. Você pode fazer isso
procurando enxergar o que ganhou de bom com aquela queda ou fracasso. Por exemplo,
um sofrimento pode nos tornar pessoas mais experientes, mais vividas e mais fortes.
Diante de uma traição, podemos dizer a nós mesmos que o erro quem cometeu foi o
4 Cada pequeno sucesso deve ser fator interno de motivação e conforto. Falar à outros sobre seu progresso o levará,
muito provavelmente, à decepção de não ser devidamente reconhecido. Você não deve depender da boa vontade de
outras pessoas em motivá-lo. É possível, inclusive, que todas as pessoas que você conhece intencionem
desestimula-lo, declaradamente ou não. Quando você fala sobre um seu objetivo ou sobre um seu sucesso para
alguém, poderá receber palavras de incentivo que não corresponderão à uma intenção verdadeira em motivá-lo, mas
devem-se tão somente essas palavras à educação. A motivação emocional e psicológica não deve vir de palavras ou
atitudes de pessoas próximas. Você mesmo deve se motivar.
Eric Campos Bastos Guedes 14 O Povo Cego e as Farsas do Poder
traidor, logo, quem deveria estar preocupado é quem errou, não nós. E se quem errou não
se preocupa, podemos dizer a nós mesmos que pessoas assim costumam fazer muitos
inimigos e isso pode ser, literalmente, fatal.
A quinta regra para estabelecer uma atividade motivadora é que você não deve
falar de seu objetivo com outras pessoas. Por exemplo, se meu objetivo é me tornar um
excelente corredor, eu não devo falar isso a ninguém, mas somente para mim mesmo.
Quando falamos de nossos objetivos para outras pessoas perdemos o sentido do desafio
e a motivação esfria. É muito mais valioso o trabalho silente em nossos próprios objetivos
que a exibição ruidosa de um esforço que pode vir a dar em nada. Se falamos de uma de
nossas metas para outrem, podemos deixar de buscá-la por nós mesmos, isto é, por
amor, e passarmos a nos ver obrigados a trabalhar na meta para mostrar que não
estávamos mentindo, que levamos realmente a sério nosso objetivo e coisas assim.
Nosso objetivo deixa de ser nosso e passa a focar o outro; deixa de ser algo de nosso
íntimo e se torna algo para ser visto pelo outro. E como é chato buscar um objetivo que
não é nosso!
***
Meu primeiro computador e a aprendizagem do xadrez
Ganhei meu primeiro computador aos 9 ou 10 anos de idade. Era um TK82C, da
Microdigital. Com ele aprendi os rudimentos de programação de computadores na
linguagem Basic, muito popular na época. Tornei-me um programador de computadores
competente para minha pouca idade. Estava sempre criando e executando programas
que me permitissem investigar o mundo dos números. Também costumava jogar xadrez
contra o computador – eu era péssimo, nunca venci uma só partida de meu modesto
TK82C. Apesar de ser um mal jogador, gostava de jogar e ensinar xadrez a quem quer
que fosse. O prazer de ensinar e aprender sempre me acompanhou.
No início, ensinei xadrez a mim mesmo. Eu devia ter entre 9 e 10 anos quando
aprendi a jogar. Mas ninguém me ensinou, eu aprendi pelas regras que estavam no
Supermanual do Escoteiro Mirim, uma publicação que se valia dos personagens da
Disney para passar conhecimentos úteis. Mas acabei cometendo um erro ao interpretar
mal as regras do Supermanual: no início eu achava que as peças do xadrez tinham que
passar por cima das do oponente para capturá-las, como no jogo de damas. Esse
equívoco durou uns três anos. Ensinei errado para um amigo, mas alguém que sabia mais
nos alertou de que estávamos jogando errado, então nós dois passamos a jogar da
maneira correta. Isso ocorreu no Colégio Salesiano Santa Rosa, quando eu cursava a
quinta série do antigo primeiro grau – o equivalente ao hoje chamado Ensino
Fundamental.
***
Sobre a inteligência e a importância de sua busca
O interesse pelo xadrez partiu de mim mesmo, ninguém em minha família jogava. Buscar
atividades inteligentes é atitude que favorece o aumento da inteligência e essa busca está
muito mais relacionada com uma pré-disposição da personalidade e do caráter do que
com uma uma arquitetura cerebral diferenciada. A inteligência está mais relacionada com
nossos anseios e motivações do que com uma genética privilegiada. Esse tipo de ideia
nos liberta da noção de que nosso quociente de inteligência – o popular QI – não depende
Eric Campos Bastos Guedes 15 O Povo Cego e as Farsas do Poder
do que fazemos. Se acreditamos que não podemos fazer nada para aumentar nossa
inteligência, nada faremos com este objetivo – e essa atitude acaba por nos tolher a
própria inteligência. Se, por outro lado, acreditamos que podemos aumentar nosso QI,
passamos a buscar atividades que nos levem a ter esse aumento. E nosso QI acaba
subindo mesmo. Esse raciocínio vai ao encontro de uma máxima devida a Henry Ford
que diz o seguinte: “Se você acredita que pode ou acredita que não pode, de qualquer
forma você está certo”. Nossas crenças nos dizem o que somos ou não capazes de fazer.
Se acreditamos que podemos resolver um problema difícil, nós nos debruçamos sobre ele
até o resolver ou até fazer progressos importantes na busca da solução do tal problema.
Mesmo que não tenhamos pleno êxito, nossa dedicação é premiada com um incremento
de nosso saber técnico e com um aumento de nossa capacidade de resolver problemas.
Claramente, a inteligência está intimamente relacionada com a capacidade de
resolver problemas. Então, uma crença útil é a de que podemos, com esforço e tempo
suficientes, resolver qualquer problema que queiramos. A grande questão é saber quanto
tempo e esforço estamos dispostos a empregar na solução de cada problema ou na
conquista de cada objetivo. Há uma sábia máxima que aconselha: “Saiba escolher suas
batalhas”. Entre todos as metas que queremos atingir, quais nos darão mais felicidade?
Quais serão mais rapidamente alcançadas? Em quais delas acreditamos mais? Que
metas nos tornarão pessoas mais realizadas após serem cumpridas? Devido à nossa
limitação referente à prazos, é fundamental saber escolher bem à que metas vamos nos
dedicar de cada vez.
***
A morte de meu avô Antônio Pereira Campos
Segundo o que minha mãe me dissera, meu avô passaria por uma intervenção cirúrgica
muito delicada e da qual pouquíssimas pessoas sobreviviam. Eu fiquei chateado com a
notícia e esperava por sua morte. Quando ele voltou para casa fiquei impressionado.
Estava aparentemente bem. Tão bem como sempre esteve. Acabei por atribuir a
sobrevivência de meu avô Antônio a uma genética privilegiada. E fiquei satisfeito por ser
seu neto.
As coisas não estavam tão bem, entretanto. Antônio – ou seu caxeta para os
antigos conhecidos – estava tomando uns remédios. Me disseram que ele estava
sofrendo de depressão ou se tratando de uma aterosclerose. Talvez os remédios que ele
tomava fossem antidepressivos, mas isso eu estou conjecturando. Naquela semana ele
fizera para mim um alteres com um cabo de vassoura e dois pesos de chumbo que ele
mesmo fabricou derretendo uns canos velhos do mesmo material. Parece que ele queria
que eu praticasse musculação em casa com aquele halter, mas não me interessei muito
por isso não. E num dia de sol, pela manhã, meu avô pegou uma escada, uma corda e se
enforcou. Estávamos somente eu e ele em casa. Antes de sair para o colégio fui me
despedir dele e o encontrei deitado no chão de seu quarto. Supus – erroneamente – que
estivesse dormindo. Tentei acordá-lo de todos os modos, sem sucesso. Fiquei intrigado:
como ele poderia ter um sono tão profundo? Achei que ele estava fingindo que não
acordava. Então peguei meu material e fui para o colégio.
Naquela época, eu e meu irmão Winter Bastos Guedes Júnior estudávamos no
Curso São Francisco de Assis, uma escola tradicional de Icaraí que tinha o melhor ensino
fundamental de Niterói. Só ia até a quarta série primária, entretanto. Depois disso éramos
encaminhados para outras escolas. Naquele tempo eu fazia a quarta série e meu irmão
devia estar na primeira ou segunda série do primário. Nós estudávamos à tarde. Naquele
Eric Campos Bastos Guedes 16 O Povo Cego e as Farsas do Poder
dia, ao terminar a aula, pediram-nos que não voltássemos direto para casa, mas que
esperássemos um pouco até sermos liberados. Ao retornar do colégio vi minha avó
chorando – coisa que nunca havia presenciado antes. Me disseram que meu avô Antônio
Caxeta havia morrido. Mas não me disseram que ele tinha se matado, nem que ele já
estava morto quando saí de casa. Simplesmente não liguei os fatos. Disseram-me que ele
falecera vítima de um aneurisma ou de uma trombose.
Em se tratando de crianças, é natural esconder tal fato. Acho, porém, que foi um
desrespeito à minha dignidade de neto não me revelarem a verdade depois de eu adulto.
Esse é um hábito que minha mãe, tia e irmão cultivaram por toda a vida: ocultar a verdade
como forma de agredir emocionalmente o familiar “eleito” para ser o saco de pancadas
emocional da família. Nesse caso, ao descobrimos a verdade por nós mesmos nos
sentimos traídos e desprestigiados por nossos familiares. Aí vem aquela conversa fiada
de “não contei para você para que você não ficasse nervoso”; “não contei para te poupar
da dor” e coisas deste gênero. E eles se fazem parecer bons praticando o que é mal.
***
A morte de meu pai Winter Bastos Guedes
Meu pai morreu de modo intrigante. Muito mais intrigante do que eu poderia supor em
minha ingênua infância.
Certo dia, quando cursava a 5ª série do ensino fundamental no Colégio Salesiano
Santa Rosa, cheguei em casa após uma surra que levei de uns valentões da escola. Eles
me surraram por eu ter feito chacota do cara que eles bateram primeiro. Eu não sabia que
seria o segundo da lista. Não vou dizer que foi uma surra merecida, mas ao menos
aprendi a não zombar de quem apanha.
Eram cerca de cinco e meia da tarde quando cheguei em casa. Lembro que ainda
não havia escurecido e que os valentões pisaram no livro de matemática adotado pela
escola. Eu estava bastante chateado com o que ocorrera. Bati na porta da sala, como
fazia todos os dias para entrar. Nada. Bati novamente. Silêncio. De repente a porta é
aberta num rompante e meu pai passa carregado numa maca, aparentemente
desacordado, sendo levado por dois enfermeiros. Ao entrar em casa sou informado de
que ele sofrera um mal estar. Tudo bem. Ele não parecia estar tão mal na maca. Não
deveria ser nada grave, ele seria medicado e voltaria logo para a casa. Ao ver a grande
quantidade de sangue sendo lavada a baldes d’água mudei de opinião. Fiquei apavorado.
Minha mãe disse que fôssemos rezar para que ele ficasse bom e não morresse. Foi a
primeira coisa realmente importante que pedi a Deus e sem dúvida a oração mais
fervorosa que já fiz.
Uma semana depois recebo a notícia de que ele havia morrido no hospital. Minha
mãe me disse que ele havia tido uma tontura quando estava no alto de uma escada. Caiu
e bateu com a cabeça num murinho, sofrendo traumatismo craniano. A tontura teria sido
causada por um infarto repentino. Provavelmente uma farsa, como descobri mais tarde, já
adulto. De fato, num primeiro momento, ao ver meu pai passando por mim numa maca,
não me alarmei: ele estava bem, não havia sangue na roupa dele. O absurdo era
evidente: não havia sangue na roupa de meu pai, mas a escada que dava acesso ao
segundo andar da casa era um rio vermelho. Ao comentar isso com minha mãe, anos
mais tarde, ela disse: “Eles trocaram a camisa dele antes de levá-lo, para não assustar
seu irmão Winter”. Com essa emenda a fraude tornou-se patente. E segue o demônio
aplaudindo as mentiras de minha família.
Cheguei à conclusão – verdadeira ou falsa, ela é mais plausível do que a que me
Eric Campos Bastos Guedes 17 O Povo Cego e as Farsas do Poder
contaram – de que meu pai havia sido morto pela ditadura. O ano era 1983 e vivíamos
ainda sob o jugo explícito da tirania militar que, embora mais branda do que nas duas
décadas anteriores, ainda podia fazer o que bem entendesse com a população. A farsa
toda seria para encobrir um crime horrendo, que de outro modo teria se tornado um
escândalo, visto ser meu pai um ex-militar honesto ao extremo, pessoa instruída e culta
ocupando posição de destaque no Ministério da Fazenda (ele trabalhava lá como
farmacêutico-bioquímico). Minha mãe deveria saber de tudo, claro. Mas teria mantido o
silêncio, mesmo após o fim da ditadura militar. Tudo isso faz sentido, mas ainda assim são
conjecturas que não pude comprovar.
Um ano após a morte de meu pai, minha mãe estava com outro companheiro. Um
chupim bebum, ignorante e boa vida. Apesar de sentir grande antipatia por ele naquela
época, hoje eu o aceito plenamente. Depois de uns 10 ou 12 anos, passei a enxergar meu
padrasto como alguém humano e amigável. Ele não tinha obrigação ou culpa nenhuma
por não atender aos requisitos que eu imaginava serem necessários a qualquer candidato
a marido de minha mãe.
Morto o chefe, a família desintegrava-se rapidamente. Minha mãe não me dava
mais atenção – eu tinha 13 anos – deixando minha criação a cargo de minha avó
Dermontina da Silva Campos e de minha tia Vera Lúcia de Campos. Vanda simplesmente
foi morar em outro lugar com Lourenço – este é o nome de meu padrasto – e com meu
irmão Winter. Não era um lugar distante, mas eu me sentia negligenciado, posto de lado
como um objeto que perdera a serventia.
Naquele momento de minha vida, eu passava pelas transformações próprias da
puberdade que se iniciava. Apesar disso, não havia sequer tido a primeira ejaculação e
sabia muito pouco sobre sexo. Só descobriria a masturbação no ano seguinte, em 1985.
Uns poucos anos antes, eu pensava que os bebês nasciam após a grande emoção da
esposa com seu casamento. Só entendi de onde vinham os bebês após assistir uma
reportagem sobre isso no Fantástico – o show da vida, programa domingueiro tradicional
da Rede Globo já naquela época.
***
Beijar uma garota
Eu queria beijar uma garota. O nome dela era Gisele. Uma menina branca e loura, filha de
uma amiga matemática de minha mãe que morava nas proximidades. Não tinha a menor
ideia de como beijá-la e não fui feliz na execução de um plano que sequer existia. Foi
meu primeiro “fora”.
Refugiei-me nos livros, onde encontrei bom material para aprender sobre coisas
que julgava importantes. Na sexta série já havia aprendido a resolver equações do
segundo grau – que eram estudadas na oitava série – e um pouco de álgebra no livro
“Álgebra I” de Augusto César Morgado e Eduardo Wagner. Nessa época frequentei um
psicólogo chamado Eduardo Nicolau que mais tarde viria a me ajudar muito, me indicando
um excelente curso de matemática: o método Kumon. Os livros não me impediram de me
sentir em desvantagem perante meus colegas, que já conheciam as meninas na
intimidade. Eu, por outro lado, sequer sabia como era o corpo nu de uma mulher. Até
então, nunca havia visto uma mulher nua, nem ao vivo nem em fotos5
. Por estranho que
5 Naquele tempo as revistas eróticas vinham embaladas num plastico preto que tapava os corpos nus das modelos,
deixando à mostra somente os títulos das revistas. Também não existiam nos jornais as figuras picantes de mulheres
seminuas, como há hoje em dia. A exibição de filmes ou programas com mulheres nuas ou em poses e trajes
provocantes era muito mais rara que nos tempos atuais. A exibição das mulheres mais sensuais e menos vestidas
ocorria em programas como O Cassino do Chacrinha e O Clube do Bolinha, mas nada comparado ao que há hoje.
Eric Campos Bastos Guedes 18 O Povo Cego e as Farsas do Poder
possa parecer, isso fez de mim um péssimo aluno e estudante, apesar de estudar mais
que os outros e ter uma inteligência um pouco maior (tenho um QI de 121).
Já na quinta série, pouco depois da morte de meu pai, comecei a faltar às aulas.
Perdi provas, inclusive de matemática. Fui fazer a 2ª chamada temendo uma possível
reprovação, pois havia estudado muito pouco a matéria. Ao fazer a prova, entretanto,
achei tudo muito fácil. Foi uma surpresa agradável. A prova era sobre dízimas periódicas
e constatei que com um mínimo de conhecimento e o uso do mero bom senso, eu podia
resolvê-la toda. Passei de ano.
Naquela época eu nutria uma paixão por Quênia Balbi, uma estudante de minha
classe cuja beleza me fascinava. A professora pedia às vezes para que eu fosse pegar as
carteirinhas dos estudantes no final da aula para devolvê-las com o carimbo de presença.
Quando estava a sós com a carteirinha de estudante de Quênia eu a beijava loucamente
– a carteirinha. Queria tocá-la. Imaginava que ela torceria o pé na saída do colégio e,
então, eu a levaria nos braços até minha casa para ser tratada. Minha imaginação ia
muito mais longe: via as paredes do Colégio Salesiano Santa Rosa cobertas por bumbuns
femininos separados dos corpos. Eu imaginava tocá-los e acariciá-los. Não me julgando
capaz de realizar meu intento com meninas de verdade, quis tocar estátuas, dessas que
costumamos ver nos museus, despidas com as nádegas a mostra. Cheguei a fazer isso
quando visitei um museu na cidade do Rio de Janeiro. Eu estava obcecado.
O que quero dizer com tudo isso é que meninos de onze anos já se preocupam
muito com garotas. E se eles não tiverem quem os oriente no sentido de uma vida sexual
e afetiva salutar, terão muitos problemas que, aparentemente, não estariam relacionados
à sexo ou vida afetiva: queda brusca do rendimento escolar, faltas, fuga da realidade e
coisas assim. Só fui beijar uma “garota” aos dezoito anos e depois disso meu
aproveitamento escolar e meu rendimento intelectual sofreram um boom. Para deslanchar
completamente ficou faltando me livrar das drogas psiquiátricas, o que só começou a
acontecer em 2006, quando eu tinha 35 anos.
***
Problemas na quinta e na sexta série
Na 6ª série saí do Curso Salesiano Santa Rosa, onde haviam me matriculado. Eu faltava
quase todos os dias e cobrava de mim mesmo um desempenho acadêmico superior,
como o que eu sempre havia tido até a quarta série, antes da morte de meu pai. As faltas
não se deviam a “vagabundagem” ou coisas assim, pois eu não saía para vadiar,
namorar, caminhar ou me divertir de algum modo. Eu só queria evitar a dor moral.
Simplesmente passei a sofrer muito na escola. Era um suplício assistir as aulas, eu não
conseguia prestar atenção ao que os professores diziam, ainda que me esforçasse para
isto, e minhas notas medíocres me faziam sentir mal. Se pelo menos eu fosse namorador,
poderia curtir mais a escola, ela teria alguma graça no recreio, pelo menos. Mas eu era
virgem e não tinha nenhum contato íntimo com garotas.
Achava que a matéria havia ficado muito mais complicada e muito maior e que por
isso já não bastava simplesmente prestar atenção às aulas para aprender as disciplinas.
Até certo ponto isso até ocorria, e eu tentei passar a estudar mais em casa para voltar a
ter boas notas e me sentir melhor por isso. Mas a verdade é que eu estava sendo
insidiosamente envenenado por drogas de uso psiquiátrico – e elas diminuem o
rendimento escolar, como bem se sabe.
Minha mãe e eu não sabíamos como lidar com a situação. Eu ainda tinha a
desculpa de ser uma criança, mas o que dizer de minha mãe? As vezes penso que ela
Eric Campos Bastos Guedes 19 O Povo Cego e as Farsas do Poder
sabia, sim, como resolver a maior parte de meus problemas, mas preferiu me abrir a porta
larga do caminho largo que leva ao inferno. Era muito mais fácil para ela me por em
clínicas, psicólogos e psiquiatras do que reconhecer que as “medicações” estavam
destruindo minha vida e que o que eu precisava de verdade era de uma “boa massagem”,
como diria dezesseis anos depois uma garota de programa chamada Sílvia. Essa atitude
conservadora e socialmente irrepreensível de minha mãe não permitiu a ela ajudar o filho
que de doze anos que se encontrava em dificuldades.
Vanda passou a me levar numa clínica que se propunha a trabalhar com
“radiestesia” ou algo do tipo. Era a clínica de um tal de frei Albino Ariesi. Situava-se na
cidade do Rio de Janeiro e eu passei a frequentar uma psicóloga lá chamada Drª
Petrônia. Ela só sabia me responsabilizar por tudo de ruim que acontecia comigo. Essa
psicóloga dizia em tom acusatório “Isto é Fuga!” e “Você se condicionou a isto”. Era
péssimo. Além de não resolver os problemas, eu saía de lá com o ego destroçado. Eu
queria ser como Einstein e Petrônia sabia disto; entretanto eu mesmo não o sabia
plenamente. Ela tentou me dissuadir de ideias dessa natureza dizendo que o trabalho de
Einstein tinha centenas de páginas e era coisa muito difícil. Talvez ela quisesse me fazer
concluir que a matemática e a ciência eram coisas tão difíceis que seria melhor nem
pensar nisso. Graças a Deus aquele demônio de saias estava errado. Inclusive, talvez por
ela ter reprovado de modo tão veemente meu desejo de ser um novo Einstein, essa a
ideia tenha ganhado força em meus pensamentos. Ora, por ela reprovar tanto meu desejo
de me tornar um cientista, entendi que Petrônia achava esse meu desejo perfeitamente
realizável. Entendi também que a possibilidade de realização de tal desejo enfurecia o
demônio de sais. Só pra contrariar, considerei muito boa a ideia de vir a ser um cientista.
Consegui terminar minha quinta série no Colégio Salesiano Santa Rosa com
dificuldades.
O fracasso de meu tratamento com Drª Petrônia fez com que minha mãe
procurasse outro profissional. Acabei chegando ao consultório do psicólogo Eduardo
Nicolau. Ele trabalhava com uma psiquiatra que receitava remédios para ele. Naquele
período, pelo que me lembro, eu estava tomando um antidepressivo chamado Tofranil e,
talvez, um outro remédio de que não me lembro. Tomei meus “remédios” durante mais de
vinte anos, sempre seguindo a prescrição médica com rigor. Até descobrir a farsa da
psiquiatria, utilizada para anular indivíduos considerados uma “ameaça” aos planos da
cúpula de poder que domina o mundo.
Na sexta série iniciei no Salesiano meus estudos. Só que não consegui cursar.
Pedimos transferência para uma outra escola: o Centro Educacional de Niterói – o popular
“Centrinho”. Lá, por algum motivo, tudo ficou muito melhor. Lembro que foi lá que retomei
meu interesse pela Matemática ao ter tirado uma ótima nota na prova. Eu apreciava o
professor dessa matéria e ele também gostava de mim. Iniciei estudos por minha própria
conta. Eles se baseavam muito mais em imaginação do que em matéria propriamente. Eu
tive muitas ideias que gostava de desenvolver. Foi também nesse tempo que comecei a
escrever meus primeiros poemas. Eu tinha uns treze anos quando escrevi meu primeiro
poema. Não era um bom poema, mas eu gostava dele. Apareceram outros que também
não eram bons, mas eu também gostava deles. Fui insistindo e não me abati com as
críticas negativas que recebia uma hora ou outra. Hoje, graças a Deus, consigo escrever
poemas de boa e de ótima qualidade. A persistência favorece o sucesso.
Antes de terminar o ano letivo, entrei em pânico. A exposição de trabalhos de
alunos – uma espécie de feira de ciências – estava se aproximando e eu não consegui
me convencer de que meu trabalho era bom o suficiente para eles. Meu trabalho era bom
para mim mesmo, mas eu achava que ele não seria apreciado nem pelos meus amigos,
nem pelo professor de matemática. Parei de ir às aulas e faltei quase o bimestre final
Eric Campos Bastos Guedes 20 O Povo Cego e as Farsas do Poder
todo. Mesmo sem ter feito as provas finais os professores do Centrinho acharam por bem
me passar de ano devido ao meu ótimo desempenho nos outros bimestres. Essa atitude
dos professores do Centrinho salvou minha alma. Fui para a sétima série.
***
A descoberta da masturbação
O psicólogo Eduardo Nicolau me ensinara, através de desenhos, o que era a
masturbação na teoria. Achei aquilo muito esquisito e totalmente sem propósito. Afinal,
que benefício poderia haver em tal conduta? Eu não fazia ideia. Por vontade própria
decidira que teria meu primeiro gozo com minha esposa, depois que casasse. Eu queria
casar virgem.
Descobri em 1985, nos meus 13 ou 14 anos, o que era a masturbação na prática.
Naquele período eu não estava frequentando a escola e minha mãe já havia se amigado
com meu padrasto Alcemir Lourenço de Souza. Numa noite eu estava deitado sozinho em
meu quarto com o membro ereto, tentando dormir. Queria que meu membro ficasse
“normal”, pois me sentia um pouco desconfortável com ele duro naquela posição. Como
ele insistia em permanecer rijo, tentei colocá-lo na posição que considerava mais normal.
Então, tentando por meu pênis numa posição que julgava mais adequada, gozei – não
tinha essa intenção, entretanto. Foi algo absolutamente natural. Nunca havia sentido
aquilo antes, foi ótimo. No início achava que o esperma saía da barriga, pois ela ficava
sempre molhada. Não queria saber o que estava acontecendo, ou como acontecia, só
sabia que me sentia muito bem com aquilo. Após alguns meses resolvi comprar revistas
eróticas. Passei a ver como as pessoas faziam sexo. Eu também queria fazer, mas não
conseguia me relacionar sexualmente com ninguém. Neste aspecto fiz a mim próprio.
Ninguém me ajudou.
Minha primeira revista erótica tinha pornografia pesada, era uma antiga Sex Appeal
em preto e branco. Tinha fotos de mulheres com homens, de homens com homens e de
mulheres com mulheres, mas eu me concentrei somente nas fotos heterossexuais, que
eram as primeiras. O resto eu nem olhava.
O “cinco contra um” foi uma grande descoberta para mim, mas eu ainda queria
muito me relacionar com garotas. Isso só foi acontecer em 1989, quando eu fiz 18 anos e
meu então psiquiatra, Eugênio Lamy Filho, entendeu que com a maioridade não havia
nenhum risco para ele se me orientasse a buscar os serviços de uma prostituta. Mas
vamos deixar este assunto para depois.
***
Sétima série no Colégio Figueiredo Costa
Depois de ser aprovado na sexta série no Centrinho, tentei fazer lá mesmo minha sétima
série. Mas foi estranho. Meus antigos amigos do ano passado estavam mudados.
Quietos, calados e um tanto reservados demais. Eu não me sentia mais bem lá. Decidi
mudar de colégio.
Foi quando surgiu a chance de estudar com meu melhor amigo no Colégio
Figueiredo Costa, então um dos grandes colégios tradicionais de Niterói. O nome desse
meu melhor amigo é Raphael Oliveira de Rezende – o corredor que mencionei antes – e
somos amigos até hoje por conta dos grandes perigos que nos irmanaram em nossas
aventuras. Mas falemos disso mais adiante.
Eric Campos Bastos Guedes 21 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Eu e Rapha não ficamos na mesma classe. Fiquei na classe dos que sabiam
menos e Rapha estava na classe dos que sabiam mais. Foi bom que fosse assim, pois
me destaquei sobremaneira junto aos que estudavam menos. E foi isso que me motivou a
estudar bastante e tentar conseguir só notas finais 10 nas disciplinas de matemática e
geometria. O Colégio Figueiredo Costa foi ótimo para mim por esse lado. Mas eu estava
ficando mais velho e ainda não havia me relacionado com garotas. Esse problema era
muito pior do que parecia, pois, no final do ano comecei a me tornar um estudante
agressivo com os demais. De compasso em punho, ameacei um folgado que zombara de
mim e, graças a Deus ficou nisso. Noutra ocasião um sujeito que fazia o segundo grau lá
implicou comigo e eu me vinguei na hora: tinha uma trave grande, de metal, usada na
quadra próxima ao pé do implicante e eu levantei essa trave um pouco e a soltei em cima
do pé dele. Ele ficou pulando num pé só e olhando assustado para mim. Eu mesmo me
assustei com o que havia acabado de fazer, e pedi desculpas imediatamente, de modo
ruidoso e suplicante, denotando algum desespero. Ninguém conversou comigo para
explicar que o que eu passei a fazer estava errado e passei a adotar, ocasionalmente,
uma conduta violenta. Isto quase destruiu minha vida. Acredito que se estivesse me
relacionando com meninas, dificilmente teria recorrido a esse tipo de comportamento para
me fazer respeitar.
Apesar de ainda não ter me relacionado sexualmente com ninguém, tinha uma
menina de quem eu gostava. Eu cheguei para ela e falei o que aconteceu: disse que
havia sonhado com ela e ela me disse que eu estava mentindo, que aquilo não tinha
acontecido. Eu tinha sonhado com ela realmente. Estávamos nus numa cama e nos
batíamos com travesseiros de penas que esvoaçavam pelo ar. Acho que quem viu esta
cena num anúncio televisivo da época talvez se lembre. Era assim mesmo, que nem o
anúncio. No meu sonho eu e ela éramos os amantes que apareciam no comercial. O
nome da garota era Andréa e o ano era 1986.
Andréa era filha de um professor de matemática e fazia a sexta série no Figueiredo
Costa. Ela tinha umas amigas gozadoras, de pele escura. Eu ajudei Andréa e suas
amigas a apresentarem um trabalho na feira de ciências. Foi uma época muito boa,
tirando a parte da violência.
Raphael deixou um pouco de lado a amizade que tinha comigo e passou a preferir
a companhia de um aluno chamado Erick Varjão, que estudava na classe dele. Varjão
sabia se defender na base da conversa, sem violência. Sabia se fazer respeitar pela
palavra e não pela força bruta. Se eu soubesse fazer isso naquela época, não teria feito
tanta bobagem na vida. Acho que deveriam haver aulas nas escolas ensinando aos
alunos como agir em certas situações, e sobre como não agir. Enquanto a educação
escolar de crianças é obrigatória, não há nada que obrigue os pais a instruírem seus filhos
sobre questões relativas à violência e à vida afetiva e sexual.
***
Férias da sétima para a oitava série
Foi nessa época que decidi entrar de cara na Matemática. Criei uma técnica diferente
para obter números primos que dois ou três anos depois viria a ser publicada na Revista
do Professor de Matemática (RPM) sob o título Uma Construção de primos, no número 15
dessa revista. Quem me ajudou muito foi a professora Renate Watanabe. Foi ela que
encaminhou esse meu primeiro trabalho para apreciação do comitê editorial da RPM. Seu
apoio e suas orientações, que recebi por carta, me foram muito valiosas. Naquele período
de férias de fim de ano pedi a minha mãe para contratar um certo professor particular de
Eric Campos Bastos Guedes 22 O Povo Cego e as Farsas do Poder
matemática para mim. Esse professor eu conhecera no próprio Figueiredo Costa. Ele
lecionou geometria lá, substituindo o professor Odilon. Foi com Odilon que tomei
conhecimento de demonstrações de teoremas em matemática. As duas primeiras
demonstrações que conheci foram a da irracionalidade de 2 e a da soma dos ângulos
internos do triângulo ser sempre 180°. Aproveitei as férias para aprender trigonometria,
geometria e álgebra. Coisas que deveriam ser estudadas nos anos seguintes. Na
verdade, naquelas férias eu passei a ter um domínio de toda a matemática da oitava série
e a entender muitas coisas do ensino médio, então chamado de segundo grau.
***
Sobre as aventuras: o barco
Aventurar-se é correr riscos na descoberta de novas fronteiras. Algumas das aventuras de
que participei com meus amigos foram inesquecíveis. Teve uma vez que eu, Rapha e meu
irmão Winter Bastos construímos um barco com madeira coletada na rua, câmaras de ar
e pranchas de isopor. Pusemos o barco na praia de São Francisco, tivemos que
carregá-lo nós mesmos, a pé, até São Francisco. Foi bastante cansativo, mas tivemos
sucesso. Nosso barco flutuou no mar e fomos remando até um lugar onde havia vários
barquinhos ancorados. Subimos num deles e não tinha ninguém por perto para nos
impedir. Mas não conseguimos entrar na cabine do barquinho, pois ela estava trancada.
Entrou água no pacote de biscoitos que levamos para fazer um lanche e perdemos um
martelo que levamos para repregar o barco caso ele ameaçasse se desmanchar, indo
uma parte para cada lado. Winter acabou tendo uma insolação por pegar muito sol na
moleira. Essa aventura foi no início de 1987, nas minhas férias da sétima para a oitava
série do antigo primeiro grau. Uns meses depois fui morar em Araruama com minha mãe,
meu irmão Winter, o enteado de minha mãe, chamado Alexssandro ou Sandro e meu
padrasto Lourenço que naquela época chamávamos de Blau.
***
Outra aventura: a grande cruz ao longe
Numa tarde, eu, Sandro e Winter vimos uma espécie de cruz ao longe e resolvemos ir até
aquela cruz para resolver o enigma e saber qual o significado dela. Mas era muito mais
longe do que podíamos ir naquela tarde. Então resolvemos ir no dia seguinte, pela
manhã. Não contamos nada para Blau nem para Vanda, pois eles iam “melar” nossos
planos. No dia seguinte iniciamos uma jornada até a misteriosa cruz. Teve uma hora que
tivemos que passar em frente a uma casinha que tinha um cão mal humorado tomando
conta. Resolvemos que um cachorro, mesmo grande e oferecendo risco, não iria impedir
nossa jornada. Então decidimos passar caminhando em frente à casinha, sem correr e
nem olhar em direção ao cão. Ele rosnou ameaçadoramente, mas ficou nisso e nós
conseguimos passar. Ao chegar na cruz misteriosa sondamos o lugar. Uma cruz grande
sobre um canteiro circular, com círculos concêntricos que se sobrepunham, os menores
sobre os maiores. Levantamos a hipótese daquele ser o túmulo de um cavalo muito bem
quisto por seu proprietário que, após a morte do animal teria resolvido e homenageá-lo
com a imensa cruz sobre o local de seu sepultamento. Voltamos para casa por outro
caminho e descobrimos que a tal cruz era o que as pessoas chamam de cruzeiro, que é
uma cruz numa parte visível da cidade que a consagra a Cristo. O cruzeiro mais famoso
do mundo é o Cristo Redentor, localizado na cidade do Rio de Janeiro. Uma estátua com
Eric Campos Bastos Guedes 23 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Jesus de braços abertos acaba tendo a forma de uma cruz mesmo.
***
Mais uma aventura: o morro misterioso
Nossa primeira aventura foi subir um morro em Niterói que tinha uma misteriosa
construção no topo. Naquela época minha mãe, meu padrasto, meu irmão e Sandro
moravam num apartamentozinho no oitavo andar de um prédio situado na rua Noronha
Torrezão, bairro de Santa Rosa, Niterói. Eu, Winter e Rapha resolvemos ir até o topo do
morro para saber do que se tratava aquela construção. Minha mãe, alarmada, fez uma
funesta previsão: “vocês vão morrer!”, mas nos deixou partir. A empregada fizera alguns
sanduíches com ovos para que levássemos em nossa pequena excursão sem guia. Acho
que chamamos Sandro para ir conosco, mas parece que ele não quis ir. Iniciamos nossa
aventura subindo uma ruazinha de um morro próximo, passamos na casa da madrinha de
Winter, que se chamava Rosa. Ela era meio enricada e morava numa casa grande perto
do morro. Nos avistou vindo ao longe e, não nos reconhecendo devido à distância,
mandou que os cães nos atacassem. Ficamos paradinhos e eles ameaçavam nos morder,
latindo ferozmente a uma pequena distância. Mas quando Rosa nos reconheceu, ordenou
que os cães retornassem. Fizemos um lanche na casa da madrinha Rosa e prosseguimos
a jornada. Teve uma ruazinha que subimos e na última casa precisávamos pedir
passagem para prosseguir. Pedimos água ali e o dono da casa nos orientou: “não vão por
tal caminho, porque tem uns marginais por lá. Sigam por este outro caminho”. Então
prosseguimos. Tivemos que jogar os sanduíches fora, pois entrou terra na sacola em que
os carregávamos. Após atravessar uma matagal queimado, chegamos até a construção.
Ela parecia abandonada, mas ao examinar melhor, avistei um sujeito sem camisa e com
uma arma de fogo num cinturão. Nos afastamos um pouco do sujeito e tentamos decidir o
que faríamos. Fiquei com medo dele nos matar. Não era bem medo o que eu sentia, mas
um receio que misturava prudência e animação. Ele podia ser um bandido ou algo assim.
Era uma situação difícil. Enquanto conversávamos o sujeito nos achou. Ele era da polícia
e nos disse que aquele era o posto de telecomunicações da polícia. Lavamos nossas
mãos com um sabão de coco metido num prego. O policial perguntou se estávamos lá
para pegar alguma pipa e dissemos que não. A vista era reveladora. De um lado estava
São Francisco e um outro morro com uma outra construção. Do outro lado víamos o
centro de Niterói, a ponte Rio-Niterói, e boa parte da Bahia de Guanabara. Era incrível.
Voltamos por outro caminho e eu escorreguei e rasguei minha calça de moletom.
Acabamos chegando no bairro de Fátima, próximo de Santa Rosa e voltamos a pé para
casa.
Essas aventuras marcaram muito minha infância e início de adolescência.
***
A descoberta do Método Kumon
Em 1983 havia iniciado um tratamento com o psicólogo Eduardo Nicolau. Ele soube de
meu grande interesse por Matemática, mas na época em que me tratava achou que esse
interesse me absorvia tanto que estava a dificultar meu amadurecimento e ingresso no
mundo adulto e real. Era como se a energia e interesse que eu investia na Matemática me
mantivessem longe de resolver questões mais mundanas, tais como arranjar uma
namorada, me relacionar afetivamente, aprender sobre a vida etc.
Eric Campos Bastos Guedes 24 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Em 1985 eu deixei de ser paciente de Eduardo Nicolau e passei a me tratar com
Drº Eugênio Lamy desde 23 de agosto daquele ano. Entretanto, Eduardo Nicolau foi um
psicólogo tão bom para mim que, mesmo eu não sendo mais seu paciente, me deu uma
dica de ouro para dominar a matemática. No final de 1986 ou início de 1987, ele me
chamou em seu consultório e me instruiu a procurar um amigo seu, chamado Faraday
Smith Correa dos Reis. O professor Faraday estava a ministrar um curso chamado
Método Kumon, que se propunha a fazer o estudante gostar de matemática através do
alcance da excelência nessa disciplina pela realização de elevado número de exercícios
de crescente complexidade. Gostei muito da ideia e procurei por Faraday para iniciar o
curso. Foi ótimo tê-lo conhecido, pois era grande apreciador e conhecedor da Matemática,
pessoa inteligente que buscava ajudar, pela via da instrução, quem mostrasse interesse
e/ou talento pela Matemática. Foi particularmente importante ter conhecido professor
Faraday naquela época, pois, num período crítico de minha vida, ele manifestou interesse
e admiração verdadeira por meu talento criador em Matemática e isso me motivou
bastante à prosseguir com o desenvolvimento de minhas ideias nessa área.
Infelizmente, de início, minha frustração afetivo-sexual dificultou muito minha
adesão de corpo e alma ao Método Kumon. Era difícil estudar matemática com tanto
empenho pensando na loura da escola6
.
***
Oitava série no Colégio Itapuca
Em 1987 eu cursava a 8ª série do ensino fundamental no colégio Itapuca, situado na rua
Noronha Torrezão. Entretanto, já sabia mais matemática do que os estudantes do ensino
médio. Não tendo interesse nas demais matérias e não vendo mais nenhuma graça nas
aulas de matemática de minha classe, expliquei isso ao diretor Tomás e pedi permissão a
ele para assistir também as aulas de matemática das classes do ensino médio. Tomás
disse que eu poderia assistir as aulas do ensino médio depois que eu conseguisse a nota
máxima em todas as matérias de minha própria classe. Descartei a ideia, pois não me
interessava por outras disciplinas, somente por matemática e geometria. Ora, é fato bem
conhecido o de que a inteligência é seletiva. Portanto, é muito natural que cada pessoa
manifeste graus diferentes de interesse por assuntos diversos. Meu pedido de assistir as
aulas de matemática das classes mais adiantadas fazia todo sentido, portanto. A
conclusão que tiro é que a escola não se interessa pelo desenvolvimento pessoal,
intelectual e social de seus alunos, mas sim pelo cumprimento de metas burocráticas.
Tendo sido impedido de estudar o que queria, passei a me interessar por outras
coisas. Eu queria muito ficar com uma menina chamada Marcela, uma loira descolada de
cabelos curtos e corpo atraente. Na verdade eu queria levá-la para meu apartamento na
Rua Comendador Queiroz, em Icaraí, onde morávamos eu, minha tia Vera Lúcia de
Campos e minha avó Dermontina da Silva Campos. Queria fazer com ela tudo que vi os
homens fazendo com as mulheres em minhas revistas de sexo explícito. Não tinha
artifício para isso, entretanto. Se naquela época eu tivesse a cabeça que tenho hoje,
poderia ter tido muitas namoradas e ficantes. Naquela época falava-se muito mais em
namoro do que em ficar. O verbo “ficar” não era usado com o significado que tem hoje, de
ficar beijando, acariciando e excitando descompromissadamente um parceiro ou parceira
eventual. Eu propus a Marcela que ela fosse comigo para minha casa para nos
relacionarmos sexualmente, mas ela não quis. Marcela se aproveitou da situação e
6 Nessa época eu cursava a oitava série do primeiro grau no Colégio Itapuca, em Santa Rosa. A loura referida no texto
chamava-se Marcela e eu havia lhe proposto que fôssemos para meu apartamento fazer sexo.
Eric Campos Bastos Guedes 25 O Povo Cego e as Farsas do Poder
passou a caçoar de mim, achando graça de minha proposta. Sua atitude autorizou os
demais alunos a caçoarem de mim também, porque perceberam minha fraqueza. Passei
a ser alvo de zombaria no Itapuca e isso me deixava p. da vida. A escola ficou
insuportável e acabei reagindo a uma dessas provocações dando um murro na cara de
um aluno. Ele, que antes era meu amigo, passou a me ignorar e quando o procurei ele
disse que chamaria o irmão mais velho que era militar para me dar uma surra. Minha vida
escolar ia de mal a pior, embora minhas notas estivessem acima da média.
***
Três pontos a ponderar
Quero destacar três coisas: primeiro, o mito de que o agressor quer ser agressor;
segundo, o silêncio sobre os malefícios do atraso da iniciação sexual dos adolescentes;
terceiro, o fato pouco estudado de que drogas psiquiátricas são legalizadas, porém ainda
são drogas. Sobre o agressor querer ser agressor quero dizer que isso não corresponde
sempre a verdade. Cada caso é um caso. Um verdadeiro agressor quer ser agressor e
pode ser. Se uma agressão ocorre, uma das perguntas que se deve procurar responder é:
“o agressor queria cometer a agressão ou ele perdeu o controle?”. Se o agressor perdeu
o controle ele precisa de ajuda, mas se ele fez o que fez por um exercício do livre arbítrio,
deverá ser punido. Responder a pergunta proposta nos orienta sobre como resolver o
problema e evitar que futuras agressões ocorram. Se queremos resolver um problema,
temos que entender o problema primeiro. O que tenho observado é a mídia eleger os
vilões do momento, cada um deles teve a sua época: Josef Fritzl, como pedófilo, raptor e
estuprador da própria filha; o casal Nardoni, pela morte de Isabela Nardoni; Suzane Von
Richtofen pelo assassinato de seus pais; o maníaco do parque, pelo estupro e morte de
muitas mulheres; Febrônio Índio do Brasil, pela morte e estupro de crianças. Examinando
esses casos, podemos nos perguntar: “o que foi feito para evitar novas tragédias como
essas?”. Não vale responder dizendo que houve um aumento da pena, por exemplo.
Aumentar a pena para um crime fará o juiz relutar um pouco mais em condenar alguém
por aquele crime. Na prática, talvez menos pessoas sejam condenadas. Além disso, se o
mero aumento da pena resolvesse o problema ia ser muito fácil acabar com a
criminalidade: bastaria punir todos os criminosos com pena máxima, digamos, uns 40
(quarenta) de reclusão. Será que o mundo passaria a ser um paraíso ou um inferno? Acho
que viveríamos num inferno. Um indício forte que aponta nessa direção é o fato de as
prisões da Islândia serem como hotéis de quatro estrelas: lá o condenado tem direito a
duas horas por dia de Internet! Se uma punição branda favorecesse o crime, a Islândia
seria um país com alto índice de criminalidade, o que não ocorre. Por outro lado, se uma
punição mais severa fosse capaz de refrear o crime, o índice de criminalidade no Brasil
deveria ser muito mais baixo que o da Islândia, o que também não acontece. Estamos
olhando na direção errada se nos propusermos a combater o crime com o aumento das
penas. Mas qual a solução para isso? Uma pista nos é dada se lembrarmos um
pensamento devido a Pitágoras: “devemos educar as crianças para não ter que punir os
homens”. Quero acrescentar que não é uma punição mais ou menos severa que irá
resolver o problema da criminalidade. Para coibir o crime, as punições devem ser
adequadas, mas não necessariamente severas. Para ilustrar o que digo lembro-me do
caso do primo de um antigo amigo de meu irmão. O amigo atendia pela alcunha de
Bob Cuspe. Ele nos contou que um primo seu – ou algum outro parente, não tenho
certeza qual – fora preso por ter cometido um pequeno roubo ou algum delito de menor
importância. Devido às ameaças, agressões e traumas que teve na prisão, saiu de lá tão
Eric Campos Bastos Guedes 26 O Povo Cego e as Farsas do Poder
revoltado que pensava em fazer coisas muito piores. O que tenho observado é que a
punição excessiva conduz a revolta do punido e à prática de crimes muito mais terríveis
que os iniciais. A prisão de uma pessoa acaba sendo uma bola de neve em que cada vez
que o preso é liberado por já ter cumprido a pena, ou por ter tido algum benefício, passa
ele a cometer crimes muito piores. Algo análogo posso afirmar sobre internações em
clínicas psiquiátricas.
Em todos os casos que citei, de Fritzl, Nardoni etc, os agressores, provavelmente,
queriam cometer os crimes. Não fizeram o que fizeram por terem, de algum modo,
perdido o controle. O meu caso é diferente. Eu iniciei uma série de atos violentos por
estar sob forte tensão e sem uma válvula de escape eficaz. Isso nos leva ao segundo
tema que quero destacar: o atraso da iniciação sexual dos adolescentes. É esse atraso,
muitas vezes, o responsável pelo comportamento violento de crianças e adolescentes
intelectualmente promissores. É esse atraso que frustra o empenho de bons estudantes
ao se sentirem na obrigação de tirar notas altas devido ao sentimento de inferioridade
que tem em relação aos seus amigos e amigas que já se relacionam sexualmente. É
como se notas excelentes compensassem um deficit na área afetivo-sexual. Em cada
ambiente procuramos o respeito dos demais – principalmente os talentos mais
promissores buscam esse respeito. A ironia é que os mais talentosos acabam
negligenciando amiúde o sexo e o afeto por terem eles uma fonte muito mais interessante
de prazer: sua inteligência e motivação. Porém, se essas crianças e adolescentes perdem
o interesse em atividades intelectuais e se não conseguem ingressar a contento no
mundo do sexo e do afeto, passam elas a correrem um risco muito grande cometerem
suicídio, assassinatos, estupros, agressões violentas e coisas do gênero. O respeito que
buscam pode não lhes ser dado, ainda que o mereçam. Isso deve acontecer bastante na
transição da infância para a adolescência e na da adolescência para a vida adulta. Não
por acaso é justamente nessas fases da vida que costumam surgir a maioria dos casos
de esquizofrenia. Pode ser que essa esquizofrenia decorra da interrupção do prazer de
ser inteligente e simultânea dificuldade em ingressar no mundo do sexo. A grande solução
não está em pílulas, comprimidos, haloperidol ou carbamazepina, mas simplesmente
numa orientação correta e bem intencionada da criança ou adolescente para fazê-los
ingressar a contento no sexo! A solução pode ser simplesmente essa! E o porque de essa
solução não estar sendo implementada é bem fácil de entender. O pai e, principalmente a
mãe, não estão a vontade com a ideia do “bebezinho” deles ter uma vida sexualmente
normal, sadia e ativa. O problema estaria muito mais na família do que na criança ou
adolescente considerado problemático. A tal da criança-problema talvez seja apenas uma
criança que precisa urgente de “uma boa massagem” – no segundo sentido da palavra,
por favor! Sobre isso quero dizer que uma pu*a na cama é muito melhor que uma dama
na sociedade.
O terceiro tema está relacionado aos dois anteriores. A maioria das pessoas pensa
que tranquilizantes realmente tornam as pessoas mais calmas. Extrapolando essa ideia,
acham que muitas pessoas que são mentalmente enfermas precisam dos tranquilizantes
para viverem em sociedade, caso contrário se tornariam agressivas e violentas. Nada
disso é verdade. Se repararmos bem, as pessoas que tomam tranquilizantes – diazepam,
haloperidol, carbamazepina, clonazepam, clozapina etc – tem mais propensão a serem
justamente as desajustadas, as frustradas, as estranhas e as que ficam de fora dos
círculos de amizade. Poder-se-ia argumentar que esse desajuste se deve à doença
dessas pessoas e que o tranquilizante estaria tratando o desajuste. Esse argumento é
uma distorção da verdade. O que vejo são pessoas adoecendo pelo uso de
tranquilizantes. Tranquilizantes estes que, ao embotar a motivação do usuário e reduzir
sua memória, atenção e capacidade de aprendizagem, sabotam o intelecto do “doente”,
Eric Campos Bastos Guedes 27 O Povo Cego e as Farsas do Poder
privando-o do que, talvez, possa ser uma de suas maiores alegrias: o sucesso escolar e
intelectual. Mais: ao reduzir a dose desses tranquilizantes ou suprimi-los, passamos por
uma síndrome de abstinência. Esta última expressão costuma ser muito mais utilizada
quando nos referimos a drogas ilegais e/ou ilícitas. Mas o fato de termos adquirido drogas
numa farmácia, com receita médica e agindo dentro da lei não transforma essas drogas
em algo diferente do que são: drogas! Nosso corpo não está nem aí para a legalidade das
drogas que utilizamos: o dano cerebral ocorrerá com drogas legais ou ilegais, em menor
ou maior grau. A redução ou supressão do uso de tranquilizantes costuma levar, como eu
estava dizendo, a uma síndrome de abstinência. Quando ela ocorre, se não estivermos
preparados, entraremos em crise e ao sairmos da crise pelo retorno ao uso das drogas
dizemos a nós mesmos: “é... eu acho que preciso realmente tomar meus remédios”. Isso
é tão errado como tratar o vício em crack ou cocaína com mais crack e mais cocaína.
Simplesmente é o modo errado de enfrentar o problema.
A relação do terceiro tema com os dois primeiros é que o uso de drogas, legais ou
não, ao frustrar a criança ou adolescente pela redução de sua capacidade de
aprendizagem, memória e atenção, favorece a agressão. Afinal, pessoas frustradas estão
muito mais propensas a cometerem agressões do que as bem relacionadas. Além disso, a
utilização de medicações psiquiátricas como o haloperidol e a clozapina tornam as
pessoas muito mais envergonhadas e medrosas, o que pode ser fatal se o usuário ainda
não iniciou sua vida sexual. De fato, o haloperidol, a clozapina e a risperidona são drogas
tranquilizantes que nos tornam pessoas afetivamente menos interessantes e sexualmente
deficitárias. Ora, levando o usuário uma vida de sucessivas frustrações de caráter afetivo,
sexual e intelectual, as drogas psiquiátricas produzem uma legião de agressores, suicidas
e incapazes. Não quero com isso justificar as graves agressões que cometi – falarei delas
ainda mais – mas quero pelo menos explicá-las. Tentar justificar o mal é impossível, pois
o mal não é justo; o que devemos, sim é entender o mal, exatamente para nos
defendermos dele. Sun-Tzu nos diz em seu livro “A arte da guerra” que conhecer o
inimigo nos garante metade da vitória sobre ele. E se estamos em guerra contra o mal,
temos que saber de onde ele vem e como ele age.
***
O porteiro gay do Colégio Itapuca
Em 1987 um homossexual de nome Geraldo – funcionário do colégio Itapuca – se
aproximou de mim. Ele me disse os maiores disparates. Disse que os tempos hoje são
outros, mais liberais e que se eu decidisse sair na rua com o pinto duro para fora das
calças, o melhor que ele poderia fazer seria ficar na minha frente para esconder meu
órgão. Aquela conversa dele era um espetáculo grotesco que assisti estupefato, mas
devido à novidade escutei o que ele dizia por algumas horas – veja bem: horas. Ele
estava tão a fim de ficar comigo que me ofereceu o gabarito dos testes do colégio Itapuca.
Recusei a ideia de cara. No fim, quando eu já estava para ir embora, me chamou para ir
para sua casa transarmos. Eu não quis. Ele era um velho asqueroso e degenerado que só
poderia dar tesão nem num Jegue tarado. Foi constrangedor, mas pelo menos aprendi um
pouco sobre como são as pessoas.
Naquela noite, em casa, fiquei profundamente angustiado. Enquanto Marcela – a
loura descolada do Itapuca – me esnobava e dava bola para outros caras, eu era
assediado por um gay. Abandonei o colégio Itapuca.
***
Eric Campos Bastos Guedes 28 O Povo Cego e as Farsas do Poder
Hábitos sexuais reprováveis
No primeiro semestre de 1987 ocorreu um pequeno incidente que mudou a história de
minha vida e isto quase me destruiu. Academicamente, perdi uns 15 anos de estudo na
UFF. Nesse tempo eu poderia ter concluído a graduação, feito o mestrado e também o
doutorado.
Estava indo ao apartamento onde Raphael morava com sua mãe Márcia e sua irmã
Raquel quando avistei, na mesma calçada, vindo em minha direção, uma menina-mulher
que devia ter mais ou menos a minha idade mesmo. Foi perto do Colégio Salesiano
Santa Rosa, ou na Rua Mário Viana, ou na Rua Santa Rosa, acho. Naquela época eu
ainda não havia me relacionado sexualmente e estava cheio dos hormônios próprios da
adolescência. Quando via uma mulher – ou mesmo quando não via – acabava a
desejando muito, mas não tinha nenhum artifício para conseguir que mulher nenhuma
transasse comigo. Na verdade, cada negativa que eu recebia ao propor sexo com
mulheres me desgastava muito, razão pela qual eu fiz poucas propostas de sexo às
pessoas. Quando aquela menina-mulher de shorts passou ao meu lado, minha mão
escorregou furtivamente até suas nádegas e ela disse: “IIIIIIhhh, garoto!”. Meu ato não foi
intencional – um lapso momentâneo em que fui guiado pela minha libido. Continuei meu
caminho e percebi que ficara naquilo: não houve nenhum tipo de repreensão mais eficaz
além do “IIIIIIhhh, garoto!”. Imaturo e cheio de “T”, passei a fazer tal coisa de modo
rotineiro. Eu sabia que era perigoso e queria parar, mas se tornou um vício. Eu realmente
tentei parar algumas vezes, mas sem êxito. Quando avistava um menina bonita a mostrar
o contorno da bunda em shortinhos ou calças jeans apertadas, logo me lembrava desse
mal hábito e ficava tentado à sair pela rua para tocar alguma mulher. Sei que para a
maioria das pessoas é difícil entender que isso era um vício: mal hábito que temos e que
é difícil pararmos por nós mesmos. O que quero dizer é que é muito mais fácil aconselhar
alguém a deixar um vício do que nós mesmos deixarmos os nossos. O alcoolismo, o
cigarro e os tóxicos são vícios que só quem os tem saberá realmente o quanto é difícil
parar. Mais que isso: certas pessoas são muito mais propensas a desenvolver vícios que
outras. É muito fácil dizermos a um alcoólatra para parar de beber porque não estamos no
corpo dele para saber o peso e a força de seu vício. Em se tratando de hábitos sexuais,
também se pode desenvolver vícios e foi isso que aconteceu comigo.
***
Mais agressões e a Marcela do Gay-Lussac
Fui estudar no Colégio Gay-Lussac, no centro de Niterói. Lá conheci outra garota que,
como a anterior, chamava-se Marcela. Mas era uma Marcela muito diferente. Branca,
cabelos curtos e negros, inteligente, estudiosa. Ela me encantava com o que dizia e com
o interesse que manifestava por ideias, conceitos e teorias. Eu gostava muito dela e
Marcela estava sempre conversando comigo sobre os livros que lia e coisas assim. Era
muito bom vê-la falar com tanto interesse e admiração dos livros que costumava ler. Mas
eu me sentia frustrado por não acreditar ser capaz de estabelecer uma relação mais
próxima com ela, tipo um namoro. Olhando em retrospecto, percebo que era isso que nós
queríamos. Ou, mesmo que não quiséssemos isto, era exatamente isto que nos faria
felizes.
Minha grande dificuldade em me relacionar a contento com o sexo oposto foi, sem
dúvida, uma barreira que demorei muito para superar e que me causava grandes e
Eric Campos Bastos Guedes 29 O Povo Cego e as Farsas do Poder
contínuas frustrações. Se eu me considerasse um estudante excelente – não bom ou
ótimo, mas excelente – as frustrações se dissipavam fácil, fácil. Na verdade eu buscava
uma excelência em relação aos outros estudantes de minha classe – isso implicava em
ser o melhor ou estar entre os melhores estudantes da sala. Nem sempre eu conseguia
isto, entretanto. Frustrado, acabei bancando o imbecil. Fustigado por um outro aluno que
bagunçava uma aula de geometria, tirando toda a graça dela, meti a ponta de um
compasso na barriga dele. O caso foi parar na diretoria, que foi complacente comigo.
Talvez a complacência do diretor se devesse ao fato de eu ser considerado um aluno
muito bom que teve um mal momento diante de outro aluno que já era considerado
problemático. Por sorte não foi feita queixa na polícia.
Após a agressão, passei a ser considerado o malfeitor de minha classe. E se não
me falha a memória, minha vítima se tornou, momentaneamente, um herói. Ele foi, após a
agressão sofrida, aclamado pela classe e carregado nos braços sob aplausos e gritos de
“viva!”7
. Apesar de eu ter sido o agressor e ele a vítima, julgo ter tido muito mais prejuízos
que ele pela minha atitude irrefletida. Marcela nunca mais falou comigo e as últimas
palavras que dirigiu a mim foram: “Cala a boca!”
Teve uma aula de história em que fomos para a sala de audio-visual assistir um
documentário a respeito do comunismo. Um outro estudante, que estava sentado atrás de
mim, me cuspiu. Reclamei com o professor, que solenemente me ignorou. Pronto. Eu
estava visado como o grande vilão de minha classe não tinha nada que eu pudesse fazer
para reverter a situação. Era difícil prestar atenção às aulas pois passaram a jogar bolas
de papel em mim, razão pela qual passei a me sentar na última fileira de carteiras da
classe, lá no fundão. Também passei a ser vítima de comentários maldosos dirigidos a
mim. Eu não podia me concentrar mais nas aulas, pois chegou a meu conhecimento que
um grupo de alunos planejava me surrar quando estivesse só. Eu também sabia que nada
do que fizesse reverteria a situação.
Apesar de tudo, nada impediu que eu tirasse a maior nota da classe na prova de
matemática. A nota 10. Meu professor comemorou isto, escrevendo vários recados
motivadores na prova, tipo “Parabéns!”, “A melhor nota!” e coisas assim. Marcela deve ter
tirado a segunda maior nota, mas cometeu pelo menos um erro, pelo que sei que sua
nota não foi o 10. Aquelas palavras me motivaram a continuar a estudar.
***
Zoofilia
O ambiente escolar no colégio Gay-Lussac havia se tornado insuportável. Minha mãe
decidiu que eu poderia ir morar com ela e o resto da família. Ela, meu irmão, meu
padrasto e seu filho Sandro já moravam em Araruama há cerca de três anos. Quando eles
7 Esse episódio ilustra bem a motivação do portador da Síndrome de Münchhausen (F68.1), também conhecida como
Síndrome do doente poli-hospitalizado. Apesar de nenhum dos personagens do episódio supra-relatado sofrer dessa
síndrome, o incidente mostra, claramente, que alguém que venha a sofrer uma agressão considerada indevida por
seu entorno social receberá carinho, aplauso e manifestação de apoio desse mesmo entorno. O portador da
Síndrome de Münchhausen busca dissimuladamente e com empenho receber essa mesma manifestação de apoio e
esse mesmo carinho de seus amigos e conhecidos. Para isso, procura, sempre que possível, passar a ideia de que foi
uma vítima inocente de reveses e infortúnios absolutamente imerecidos. Com a finalidade de desempenhar um papel
de vítima, o portador dessa patologia costuma simular doenças em si mesmo ou em familiares muito próximos (que
tecnicamente são chamados de substitutos). A fim de desempenhar o papel de vítima inocente, não hexita o portador
dessa síndrome em por sua própria integridade física em risco ou causar graves danos a familiares próximos,
podendo mesmo chegar a cometer o assassinato de familiares, desde que estejam convictos de que seu crime não
será descoberto jamais (é imprescindível que sejam sempre considerados inocentes, caso contrário deixam de
receber o carinho destinado às vítimas e passam a ser alvo da recriminação destinada aos agressores).
Eric Campos Bastos Guedes 30 O Povo Cego e as Farsas do Poder
se mudaram para lá, em 1984, fui deixado para trás, embora quisesse ter ido com eles.
Sofri horrores com a malícia dissimulada de minha tia Vera Lúcia de Campos. Antes que
se possa levantar qualquer defesa a minha tia, quero dizer que foi ela a arquiteta da morte
de sua própria mãe, minha avó Dermontina da Silva Campos. Explicarei isso
detalhadamente mais adiante.
Ao mudar para Araruama passei a frequentar o colégio homônimo, mas tive que
deixar o curso Kumon de matemática, pois naquela época (1987) não havia uma filial do
Kumon em Araruama (hoje há). Tinha já 16 anos completos, mas ainda era virgem. Não
queria continuar a sê-lo, entretanto. Mesmo tendo os hormônios a flor da pele, não era
capaz de cativar uma garota a ponto de tê-la como namorada ou ficante – fazer sexo com
as garotas de minha classe era um sonho impossível para mim. Naquela época talvez eu
concebesse a ideia de manter relações sexuais com prostitutas, mas até então não tinha
conhecimento de onde funcionasse um bordel e também não conhecia ninguém que
pudesse me instruir a esse respeito. Minha mãe nunca falara sobre isso comigo e eu não
tinha intimidade com meu padrasto Lourenço para lhe perguntar sobre coisas que eu
julgava tão íntimas. Também, não me lembro de meu irmão Winter, ou meu agora amigo
Sandro (filho de meu padrasto Lourenço), haverem comentado sobre onde se pudesse ter
sexo com meretrizes. Concluí que eles não sabiam onde eu poderia encontrar garotas de
programa.
Eu estava num mato sem cachorro. Então, decidi fazer amizade com alguém mais
simples e que encarasse o sexo com mais naturalidade do que as garotas que eu
conhecia. Quis ter intimidades com a cadela Laika, da raça fila brasileiro, que tínhamos
em casa. Numa noite chamei Laika para o quartinho onde eu dormia. Tirei a roupa e tive
uma ereção. Laika deu uma lambida no meu membro, mas não foi além disso. Quando
tentei penetrá-la, ela rosnou. Fiquei com medo dela me atacar e desisti da ideia de
penetrá-la. Depois, tive medo de contrair alguma doença por ter me encostado nela e quis
urgentemente tomar um banho. Não posso dizer que foi uma relação. No máximo, foi uma
tentativa.
***
OMERJ – Olimpíada de Matemática do Estado do Rio de Janeiro
Durante o recreio, decidi abandonar o colégio Araruama. Simplesmente pulei o muro do
pátio e fui para casa8
. Tendo deixado de me preocupar com a escola, passava, agora,
bastante tempo lendo livros de matemática e desenvolvendo ideias nessa área. Nesse
ínterim a professora Renate Watanabe – uma grande incentivadora de meus estudos –
me sugeriu que participasse da OMERJ, Olimpíada de Matemática do Estado do Rio de
Janeiro. Fiquei bastante animado com a ideia. Naquele tempo eu venerava os nomes dos
monstros sagrados da Matemática olímpica brasileira. Considerava grandes heróis os
dois únicos estudantes brasileiros que, naquela época, haviam obtido a medalha de ouro
nas Olimpíadas Internacionais de Matemática: Ralph Costa Teixeira e Nicolau Corção
Saldanha. Nunca os havia conhecido pessoalmente, mas tomei conhecimento da
existência deles através do professor Faraday. Também soube dos feitos espetaculares
desses dois grandes matemáticos pela Revista do Professor de Matemática (RPM)9
.
A OMERJ tinha duas fases. A primeira delas consistia numa prova objetiva
8 Naquele tempo (1987) era muito fácil fazer isso, pois o muro era suficientemente baixo. Depois puseram um muro
bem mais alto.
9 A Revista do Professor de Matemática (RPM) é uma publicação periódica da Sociedade Brasileira de Matemática
(SBM) destinada à professores e estudantes dessa disciplina. A professora Renate Watanabe providenciou que eu
recebesse os números da RPM regularmente, na qualidade de assinante.
Eric Campos Bastos Guedes 31 O Povo Cego e as Farsas do Poder
(assinalar com o tal do “X” a opção correta entre as 5 oferecidas) com 20 questões de
dificuldade média. Passei nessa fase com certa facilidade. Nas 20 questões da prova,
cometi um único erro. Fiquei bastante animado com isso e fiz muitas expectativas.
Vislumbrava uma premiação após a segunda fase. Entretanto, para minha grande
decepção, tive um resultado muito ruim na prova final, que tinha menos de 8 questões,
mas eram muito mais difíceis que as da primeira fase. Fiz 4 pontos em 60 e devo ter
ficado em penúltimo ou antepenúltimo lugar entre os 20 finalistas na minha categoria
(prova para o 1º ano do segundo grau)10
. Voltei desolado para Araruama.
***
Testosterona
Cabe fazer alguns comentários muito pertinentes antes de continuar. Em primeiro lugar, é
fato bem conhecido haver muito mais líderes do sexo masculino do que do sexo feminino.
Se nos perguntarmos sobre o motivo para isso, uma das resposta possíveis será o
hormônio chamado testosterona. Este hormônio é um dos grandes responsáveis pela
qualidade de liderança. Quem tem mais testosterona terá, do ponto de vista endócrino,
mais talento para liderar do que quem tem menos. E por esse hormônio ser muito mais
atuante nos homens, isso explica porque é mais comum haver mais líderes homens do
que do sexo oposto.
Uma das principais características dos líderes talvez seja agressividade. A
agressividade pode significar coisas ruins, como hostilidade, destrutividade ou violência
física, mas nem sempre isso ocorre. Agressividade também pode significar coragem e
ousadia. Pode-se encarar a agressividade como a qualidade de ser agressivo. Nesse
caso, ser agressivo pode ser interpretado como ser empreendedor ou audacioso, como
na expressão “vendedor agressivo”. Do mesmo modo, ser agressivo também pode
significar ser arrojado e corajoso, como na expressão “campanha publicitária agressiva”.
Vimos, pois, que agressividade pode nos remeter a qualidades típicas da liderança, a
saber: coragem, ousadia e empreendedorismo.
O principal hormônio regulador da agressividade no ser humano é a testosterona.
Isso nos faz entender o maior número de líderes do sexo masculino do que do feminino.
Também explica porque os homens costumam recorrer mais à violência física que as
mulheres: eles tem muito mais testosterona.
O fato notável é que impulsos sexuais e agressividade estão fortemente
relacionados. A propensão ao sexo e à agressividade parecem brotar da mesma fonte. De
fato, citando Steve Biddulph em seu livro “Criando Meninos”:
“Sexo e agressividade estão ligados de algum modo – controlados pelos mesmos centros
no cérebro e pelo mesmo grupo de hormônios.”
Uma pesquisa reveladora mostrou, em 1980, uma forte conexão entre impulsos
sexuais e delinquência juvenil. Citando a mesma fonte:
“os meninos são muito mais propensos a problemas com a polícia seis meses antes de
10 Naquela ocasião, Ralph Costa Teixeira também participou dessa mesma competição. Entretanto ele fez a prova
referente ao 3º ano do segundo grau. O professor responsável – um matemático de origem portuguesa – anunciou,
enlevado, que Ralph obtivera a medalha de ouro em sua categoria ao ser o único a resolver todas as questões da
prova com absoluta correção. O mesmo professor, que antes da realização da prova soubera de meu grande interesse
por Matemática, fez, em seu discurso de divulgação dos resultados, menção a uma certa “decepção”, sem explicar,
entretanto, exatamente a que se referia. A carapuça acabou servindo.
Eric Campos Bastos Guedes 32 O Povo Cego e as Farsas do Poder
sua primeira experiência sexual. Em outras palavras, eles se acalmam um pouco quando
começam a fazer sexo.”
O meu palpite é que da mesma fonte que brota a violência física, mina também a
energia psicossexual. A agressividade pode se transformar tanto em violência física
quanto em força sexual, bem como em intensa produção intelectual, tenha ela caráter
artístico, filosófico ou científico. Se a agressividade não for adequadamente canalizada,
ela pode estourar como violência (auto)destrutiva e descontrolada. Se nos
conscientizarmos que o atraso da iniciação sexual dos meninos pode torna-los vítimas de
chacotas, comentários maldosos e insinuações que põem em dúvida sua masculinidade,
estaremos aptos a concluir que um garoto com dificuldades em se relacionar com
meninas terá sucessivas frustrações afetivo-sexuais ao mesmo tempo em que armazena
grande agressividade. O resultado disso costuma ser trágico. Pode resultar em crimes
aparentemente inexplicáveis, como os casos em que o filho mata os pais, tios ou os avós.
Adolescentes considerados inteligentes e estudiosos, me parece, estão mais propensos a
explodir sua agressividade como violência descontrolada contra sua família. Seriam
considerados inteligentes por estarem canalizando sua energia para ciência e demais
estudos, numa tentativa de manter aberta essa válvula de escape e, assim, reduzir suas
frustrações afetivo-sexuais. Neste caso, quanto mais incentivo e facilidade encontrarem
para estudar e aprender, quanto mais recompensas justas por seus esforços eles tiverem,
mais longe irão. O caso emblemático foi o de Isaac Newton, físico e matemático inglês do
século XVII que pode muito bem ser considerado o maior cientista de todos os tempos.
Newton se absteve de relações sexuais durante toda sua longa vida e sua produção
intelectual foi algo sem precedentes. Alguns chegaram a achar que ele não era humano.
Sobre Newton, afirmou-se: “mais perto dos Deuses nenhum mortal pode chegar”. O caso
de Newton foi o de ter tido ele êxito em canalizar quase toda sua agressividade para seus
estudos, pesquisas e teorias.
***
Facada no padrasto
Após o fracasso da participação na OMERJ, retornei a Araruama. Já havia saído da
escola, desmoralizado, por não ter sido capaz de manter relações sexuais com garotas lá.
Isso não teria sido problema se eu não as desejasse. Meu desejo por garotas foi
aumentado muitas vezes após ter estabelecido o hábito de me masturbar e também
aumentou muito após a aquisição de material pornográfico. No entanto, eu permanecia
virgem. O episódio com a cadela Laika já demonstrara minha ânsia e era o tipo de coisa
da qual eu não podia fugir. Em qualquer lugar que fosse, haveria pessoas. Os homens
zombariam de mim – de um modo ou de outro – ao perceberem o quanto eu era incapaz
de ter relações com garotas. As meninas, por sua vez, continuariam a me desprezar como
amante, por culpa de minha própria imperícia. Somando minha ânsia por sexo à
persistente incapacidade de me relacionar sexualmente e à inevitável frustração disso
resultante, havia aí uma bomba relógio que esperava o momento de explodir.
Já há algumas semanas minha convivência com meu padrasto Alcemir Lourenço
de Souza estava insuportável. Lourenço tinha um palavreado grotesco e ofensivo que
dirigia especialmente a mim. Certa vez eu havia dito “Hoje vou fazer uma coisa que não
faço há muito tempo” e ele respondera de pronto “Vai dar três cagadas sem tirar o cu do
vaso”. Apesar de meu comentário ser desnecessário e pretensioso, isso não era motivo
para ter tido aquela resposta.
Eric Campos Bastos Guedes 33 O Povo Cego e as Farsas do Poder
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  • 1. O POVO CEGO E AS FARSAS DO PODER u m a a v e n t u r a r e a l n o p a í s d o f a z - d e - c o n t a A visão e a história de uma vítima de sucessivas tentativas de homicídio empreendidas pelo serviço secreto brasileiro S e x o P s i q u i a t r i a P o l í t i c a H o m o f o b i a M a t e m á t i c a E s p i o n a g e m P r o s t i t u i ç ã o C o n s p i r a ç õ e s P e d o f i l i a eric campos bastos guedes Eric Campos Bastos Guedes 1 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 2. Eric Campos Bastos Guedes 2 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 3. “A culpa é do hipócrita, mentiroso e esperto ao contrário, que atira a pedra e esconde a mão.” Estamira Eric Campos Bastos Guedes 3 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 4. PREFÁCIO Este não é um livro de ficção, lamentavelmente. Desde o início de 20071 venho sofrendo perseguições de caráter político e diversas ameaças. Tive meu nome difamado, sofri drogadições involuntárias e tentativas de homicídio. Sabemos que tais coisas ocorreram no passado e que talvez ocorram em algumas partes do mundo hoje. Porém sempre pensamos nisto como algo um tanto distante de nossa realidade. Até acontecer conosco. A maioria dos países tem um serviço secreto. Que propósitos tem tal atividade? Eles alegam proteger a soberania nacional e a democracia, entre outras coisas. No entanto é difícil imaginar que um governo tão corrupto esteja, ao mesmo tempo, tão preocupado em manter a democracia. A soberania nacional, por sua vez, continua sendo uma abstração sem base concreta. Basta citar o caso do nióbio – mineral absolutamente necessário para a indústria mundial. Somos o único país do mundo com quantidade significativa de nióbio e estamos vendendo este mineral a preços risíveis. O silêncio a esse respeito é total. A grande mídia distrai a população com questões que nos chocam. Somos submetidos a sucessivos sequestros emocionais e levados, assim, a ignorar os problemas reais – aqueles cujas soluções nos trariam mais qualidade de vida, prosperidade e paz. A mídia atribui a causa de nossos problemas ao chapéu que temos sobre cabeça e não aos pensamentos que nutrimos dentro dela. Então, compramos um chapéu novo e mais caro – e continuamos com nossos problemas. O presente texto convida a uma reflexão sobre a justiça e o poder no Brasil contemporâneo e no mundo. A sucessão dos acontecimentos por vir darão a tônica de nossas conclusões: um sopro de esperança no futuro ou a trágica constatação de uma realidade abjeta e inexorável. Os nomes das pessoas e instituições envolvidas foram trocados para evitar uma eventual proibição do comércio da presente obra, como já aconteceu com outro livro semelhante, a saber, “O Canto dos Malditos” de Austregésilo Carrano Bueno. Eric Campos Bastos Guedes fator-n@hotmail.com / mathfire@gmail.com 1 Na verdade, pude verificar que um primeiro indício significativo de que estava sendo vítima de algum tipo de conspiração ou complô surgiu em 2006, talvez antes que eu tivesse sido premiado na Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária. Este indício consiste na alteração do texto de um meu outro livro – Fórmulas para Números Primos – alteração esta feita, presumivelmente, via Internet por algum hacker. Após 10 anos acessando a Internet sem nunca ter tido esse tipo de problema, essa foi a primeira vez em que percebi, de modo relativamente claro, que dados contidos no HD de meu computador foram acessados e alterados. Tal alteração foi bastante sutil para não ser percebida imediatamente, mas nociva o bastante para fazer com que a proposta de publicação de meu livro pela Sociedade Brasileira de Matemática fosse recusada. Sem ter conhecimento da alteração do texto, acabei por publicá-lo eu mesmo em formato digital ao disponibiliza-lo no site www.docstoc.com . Eric Campos Bastos Guedes 4 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 5. PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido considerado excelente. Às vésperas de uma eleição, Lula está a ponto de conseguir eleger sua candidata, a ex-ministra Dilma Housseff. Perguntando a pessoas do povo, vê-se logo que Lula é muito bem quisto pela população. Não é para menos! Hoje temos mais empregos que na época de Fernando Henrique Cardoso, os salários subiram e o salário mínimo, em particular, subiu bastante. O grande problema é o que tem sido feito por debaixo dos panos, sem alarde, sem divulgação. Venho denunciando o governo Lula por permitir que cidadãos brasileiros sejam mortos pela ABIN – Agência Brasileira de Inteligência. A ABIN é o serviço secreto brasileiro, o equivalente ao Serviço Nacional de Informações (SNI) da época da ditadura militar. Muitas pessoas que trabalharam para o antigo e opressor SNI, trabalham hoje para a ABIN. Inclusive gente envolvida com torturas, homicídios e coisas do gênero. Um grande indício de que o presidente Lula sabe que cidadãos brasileiros estão sendo mortos pela ABIN é o fato de que uma das funções da ABIN é justamente prover o poder executivo de informações. Isto significa que Lula tem todo o direito de saber o que a ABIN está fazendo. E se ele não sabe é porque não quer nem saber, isto é, não está nem aí. Apesar de tudo, tenho que reconhecer que, talvez, Lula seja refém da ABIN. Foi a ABIN a responsável pela criptografia do telefone presidencial. Essa criptografia protegeria, em tese, as ligações de Lula e de seus familiares de coisas como grampos telefônicos. No entanto, é lógico que se alguém faz a segurança das informações de outrem, poderá, se quiser, ter acesso a tais informações. Por exemplo, o sistema criptográfico dos telefones presidenciais pode ter uma falha que só a ABIN conhece, e a ABIN poderia se valer, hipoteticamente, de uma tal falha para ter acesso às ligações do presidente. Não somos governados por quem pensamos que nos governa. Gostaria de acrescentar que essa segunda edição tem várias melhorias em relação à primeira. Foram acrescentadas passagens antes omitidas, detalhes significativos e a perseguição que sofri após a primeira edição. Também corrigi alguns erros que haviam na edição precedente. Entretanto, esse texto ainda não está tão bom como gostaria que estivesse. O motivo é que tive de apressar o trabalho para que fosse publicado antes do segundo turno da eleição presidencial. Penso que a eleição pode mudar dramaticamente a minha sorte – para pior. Talvez meus inimigos se sintam muito mais a vontade para tentar me matar agora, já que Lula vai deixar a presidência da república. E se a denúncia que lanço neste trabalho ficar erroneamente desvinculada da imagem de Dilma Rousseff, candidata de Lula, o povo pode se enganar ao pensar que ela não tem nada a ver com os assassinos de estado pagos a peso de ouro pelo governo federal e que trabalham para a ABIN. Eric Campos Bastos Guedes Escrito em Araruama, em 5 de setembro de 2010. Modificado em Araruama, em 30 de outubro de 2010. Eric Campos Bastos Guedes 5 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 6. Parte I(Introito – Ilustrando o problema com textos relacionados) Eric Campos Bastos Guedes 6 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 7. http://www.obm.org.br/univ/oimu.htm Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária O participante não deve possuir título Universitário a nível de graduação ou equivalente e deve estar matriculado em uma Universidade como estudante de graduação. IX OIMU (2006) Nome Prêmio Cidade-Estado Rafael Daigo Hirama Ouro S.J. dos Campos – SP (1º) Rafael Marini Silva Prata S.J. dos Campos – SP (2º) Thomás Yoiti Sasaki Hoshina Bronze Rio de Janeiro – RJ (3º) Felipe Rodrigues Nogueira de Souza Menção Campinas – SP (4º) Luty Rodrigues Ribeiro Menção Fortaleza – CE (5º) Luiz Felipe Marini Silva Menção S.J. dos Campos – SP (6º) Eric Campos Bastos Guedes Menção Rio de Janeiro – RJ (7º) Rafael Constant da Costa Menção Rio de Janeiro – RJ (8º) Eric Campos Bastos Guedes 7 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 8. Ilustríssimo Dr. Delegado do 77° DP Icaraí Eric Campos Bastos Guedes, filho de Winter Bastos Guedes (pai) e Vanda Campos Guedes (mãe), portador da CI nºXXXXXXXX-X, CPF nºYYYYYYYYY-YY, domiciliado à Rua Domingues de Sá, n°422 em Icaraí, Niterói, RJ, vem por meio desta requerer registro de ocorrência e apuração pelo seguinte: ameaça de morte, calúnia e difamação (texto abaixo, postado na página de recados da vítima, no Orkut): “Seu arrombado do caralho.... Ao invés de ficar entrando em uma comunidade séria de policiais pra ficar fazendo chacota de nossas caras,porque não vai procurar um trabalho,ou algo do tipo? Filho da puta do caralho,cú de burro desgraçado! Bastardo maldito,no mínimo deve ser algum filho de alguma cadela desgraçada na vida que fica passabdo trotes para as autoridades... E digo mais,se ficar de graça com a gente,é 2 palitos eu falo com uns brothers ae no Rio e consigo seu endereço e passo você pros irmãos ae malucão,nem vem tirar que aqui é policía no baguio,se liga ae comediagem...pra desenrolar este barato é 2 palitos,tá avisado. ” Nestes termos Pede deferimento ________________________________ Niterói, 7 de novembro de 2008 Eric Campos Bastos Guedes 8 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 9. Tópico de Discussão na comunidade “Denúncias, Dúvidas, Direito” no Orkut Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica Início > Comunidades > Governo e Política > DENÚNCIAS, DÚVIDAS, DIREITO. > Fórum: > Mensagens mostrando 1-2 de 2 2 nov (5 dias atrás) Eric Campos Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica Fui internado numa clínica psiquiátrica por motivos políticos. Não havia indicação real para uma internação, visto que eu estava calmo, lúcido e produtivo. No final da internação, como eles não tinham como me manter mais tempo preso, deram uma agulhada no meu pé esquerdo. Quando olhei para meu pé havia, no local da agulhada, uma gota de um líquido vermelho escuro. Não acreditei no que eu estava vendo e não reclamei na hora porque eu estava drogado com altas doses de antipsicóticos e tranquilizantes. Passei o dedo por cima do ponto vermelho em meu pé. Era sangue. Desconfio que me infectaram criminosamente (talvez HIV), já que estou sendo perseguido desde 2006 por motivos políticos, principalmente depois que obtive a sétima colocação no Brasil na Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária (em 2006) sem estudar. Gostaria, em caso de confirmada a infecção, processar o hospital. Não há, no momento, nenhum teste que confirme qualquer infecção, mas preciso postar isto aqui para que fique o crime bem caracterizado. Como devo proceder? [ eric campos bastos guedes ] 2 nov (5 dias atrás) Dra. Nancy Boa Tarde Érico, lamento pelo que voce passou, mas uma coisa é certa, o bem sempre vence o mal! Como não há nenhuma indicação de infeccção ou manifestação criminosa, no meu entender, para deixar registrada tal situação para uma confirmação ou não de um crime, se dirija a um Distrito Policial para lavrar um Boletim de Ocorrência de Preservação de Direitos, também pode se dirigir diretamente ao Ministério Público e deixar sua denúncia lá, espero que não esteja contaminado, é o que te desejo de melhor, mas, se algo surgir após um tempo, voce já deixou registrado em dois órgãos que poderão investigar o ocorrido. Boa sorte! Eric Campos Bastos Guedes 9 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 10. Parte II(Vida Pregressa – Uma Pequena Autobiografia) Eric Campos Bastos Guedes 10 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 11. A Matemática como princípio do pensamento lógico-racional Gosto de Matemática desde os 7 ou 8 anos de idade2 . Naquela época abria a Enciclopédia Novo Conhecer, ricamente ilustrada, para me divertir tentando determinar a velocidade de translação da Terra. Não encontrando essa velocidade explicitada na enciclopédia, imaginei que pudesse calculá-la. Primeiro supus que a Terra se movia em uma trajetória circular em torno do Sol, o que não está lá muito distante da realidade. Depois supus, corretamente, que o número pelo qual eu deveria multiplicar a distância da Terra ao Sol para ter o “comprimento da trajetória” da Terra em torno do Sol era o mesmo número pelo qual eu deveria multiplicar o raio de qualquer círculo para obter o comprimento da circunferência. Partindo desses pressupostos, apossei-me de um transferidor de formato circular e medi – com grau suficiente de precisão – o valor de tal número, que estimei como sendo aproximadamente 6. Fiz isso sem saber nada a respeito da célebre constante matemática  (lê-se “pi”), que expressa a razão entre o comprimento da circunferência e seu diâmetro. *** Um pouco sobre minha mãe Eu perguntava pelas coisas que queria conhecer e geralmente elas tinham um caráter numérico. Perguntei certa vez sobre o significado dos números que apareciam numa bússola: “Você vai gastar o fosfato de seu cérebro”, respondeu minha mãe. Interessante notar que ela era professora – e uma ótima professora, conforme sempre tenho ouvido falar dela. Já imaginaram ela numa sala de aula dizendo isso para seus alunos? “Assim vocês vão gastar o fosfato de seus cérebros”. Não é difícil imaginar porque o quociente de inteligência do povo brasileiro – em torno de 89 pontos – está próximo da imbecilidade. A boa professora dá sinais de caridade no trato com seus alunos na escola onde trabalha, mas tolhe a inteligência do próprio filho. É como se ela ensinasse os desfavorecidos para ostentar compaixão e dificultasse a vida dos mais promissores para mostrar que é melhor que eles. Há quem seja acusado por favorecer familiares, mas sabotar a inteligência do próprio filho é obra do diabo. Minha mãe sempre buscou manter uma imagem de santidade e correção perante todos. O objetivo dessa sua busca é o de criar uma fachada moralmente inatacável a fim de encobrir seus atos perversos. Ora, Vanda sabia que seu empenho em ensinar estudantes desfavorecidos seria tido como uma atitude de caridade. Por outro lado, ensinar ao próprio filho poderia ser visto como um tipo perigoso de egoísmo. Por outro lado, por que um mestre se preocuparia em educar alguém inteligente e interessado que pudesse vir a superá-lo? O único motivo que vejo para isso é imaginar o mestre que ele toma parte, de algum modo delirante, no sucesso intelectual de seus alunos. Fora isso, ninguém gosta da ideia de ser intelectualmente inferior a outrem. Se não nos imaginamos tomando parte do sucesso de nosso próximo, não apreciaremos este sucesso. *** Sobre os dois tipos de egoísmo e sobre o perdão 2 Ao examinar criteriosamente minha cronologia, verifiquei que é muito mais provável que meu gosto pela Matemática tenha começado a se estabelecer aos 9 ou 10 anos. Nessa idade tinha muito mais interesse por calculadoras que as demais crianças de minha faixa etária. Eu me interessava por questões como: “Quantos segundos há em um ano?” Então, fazia algumas contas para chegar ao resultado (cerca de trinta e um milhões). Eric Campos Bastos Guedes 11 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 12. Todos somos egoístas por natureza – o grande problema não é ser ou não ser, mas sim ser ou não ser patologicamente egoísta. A diferença entre o egoísmo patológico e o sadio é que o patológico quer ter sucesso às custas do fracasso dos demais, enquanto o sadio procura ter sucesso tomando parte no sucesso dos outros. Uma pessoa estará sendo patologicamente egoísta se se incomodar com o êxito de quem ela julga não merecê-lo; estará sendo saudavelmente egoísta se admirar o êxito de outrem, porque se sente engrandecida com o sucesso alheio, por estar tomando parte, emocionalmente, neste sucesso. Ninguém é saudavelmente egoísta o tempo todo, nem patologicamente egoísta por toda a vida. Normalmente nos sentimos bem com o sucesso das pessoas que gostamos, mas nos incomodamos com o de quem detestamos. Quem, por mais delirante que isto possa parecer, julga-se irremediavelmente superior a todos, tem a chance de mostrar sua superioridade ao distribuir seu conhecimento a quem lhe pedir. A sabedoria é uma das coisas que quanto mais distribuímos, mais passamos a ter. Um dos modos de dominar um assunto com excelência é ensinar esse assunto. O ato de expor um tema a outras pessoas é um fator importante para a fixação do conhecimento na mente do professor. Uma pessoa saudavelmente egoísta fica feliz em ensinar, porque isto confirma, emocionalmente, que ela sabe mais; uma pessoa patologicamente egoísta fica desconfortável quando ensina, porque ao repassar o conhecimento que possui, julga que seu aluno está mais próximo de saber tanto quanto o professor. O foco do egoísta patológico está no fracasso dos demais, sua intenção é destruir quem está acima e aumentar a vantagem que tem sobre quem está abaixo; o foco do egoísta saudável está no próprio êxito, sua intenção é ter mais sucesso hoje do que ontem, mais amanhã do que hoje. Para fazer isso sua estratégia consiste em cooperar para o êxito dos demais, partindo do pressuposto que toma ele próprio parte nesse êxito. Nutrir ódio, raiva ou antipatia pelas pessoas favorece o egoísmo patológico; já a ausência de ódio, de raiva e a simpatia pelos demais favorece o egoísmo saudável. Perdoar as pessoas e amá-las em espírito e em verdade é o que temos de fazer para não sermos pegos na armadilha do egoísmo patológico. Uma estratégia para fazer isso consiste em compreender as dificuldades alheias. De fato, se entendemos o porque de termos sido vítimas de maldades, passamos a perdoar nossos agressores. Se não há compreensão, dificilmente haverá perdão. É por isso que a traição de um amigo é muito mais difícil de perdoar que as agressões de um inimigo. A traição é uma surpresa desagradável, inesperada. Se temos um bom amigo a muitos anos, acabamos por justificar internamente nossa amizade. Passamos a responder subconscientemente a perguntas como: “porque somos amigos?”; “porque fulano é meu amigo?”; “porque eu sou amigo de fulano?”. Encontramos intimamente variadas respostas para essas questões, de modo a fortalecer nossa amizade. Quando ocorre uma traição não estamos preparados para ela. Não encontramos boas respostas para a pergunta “porque não somos mais amigos?”; “porque fulano me traiu?”, pois nossa fé na amizade nos levava a acreditar que esse tipo de coisa jamais aconteceria. Então, por não compreendermos a traição de nossos amigos, será muito mais difícil perdoá-los. Quando a agressão vem de um inimigo ela já é esperada e, portanto, muito fácil de a entendermos. Talvez por isso se diga que o ódio e o amor estão muito próximos. Se amamos alguém que nos decepciona, passamos a odiar essa pessoa, pois deixamos de ter prazer na amizade com ela; se perdoamos alguém que odiamos, deixamos de sofrer com o ódio que se foi e o sentimento de alívio pelo fim de um sofrimento nos torna aptos a sentir amor por aquela pessoa. O amor e o ódio são vizinhos muito próximos, mas totalmente antagônicos. O primeiro nos trás a vida e o segundo quer nos impor a morte. Se queremos ter sucesso será muito mais fácil obtê-lo pelo caminho do egoísmo Eric Campos Bastos Guedes 12 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 13. saudável do que pelo do egoísmo patológico. E se queremos ser saudavelmente egoístas o primeiro passo é perdoar nossos inimigos. Ora, para perdoarmos quem nos fez sofrer é necessário que compreendamos o porque do outro. Conhecer as motivações e dificuldades de nossos inimigos é um passo importante para conseguirmos perdoá-los. Então, pessoas mais sábias conseguem perdoar mais. Uma pessoa mais inteligente perdoa mais do que a menos inteligente; pessoas que conhecem mais sobre o mundo, sobre como funciona a sociedade realmente e, em particular, pessoas que conhecem mais sobre psicologia são mais eficientes em se tratando de perdoar as outras. Portanto, se queremos perdoar mais, um caminho é nos tornarmos mais sábios, seja pela aquisição de conhecimento, seja pelo aumento de nossa inteligência. O conhecimento precípuo a que devemos buscar para conseguirmos perdoar nossos inimigos é o da psicologia. Se somos bons psicólogos conseguimos entender melhor as dificuldades e motivações das pessoas que nos cercam, e essa compreensão poderá conduzir ao perdão. O segundo tipo de conhecimento que devemos buscar para alcançar o perdão é o que diz respeito à como as pessoas se relacionam entre si de modo organizado, em instituições e empresas. Conhecer a realidade, o mundo como ele é, nos leva a esse conhecimento. O estudo da filosofia pode ser um meio de se chegar a esse conhecimento. Um dos melhores meios de aprender filosofia é a pesquisa na Internet, pois ela é acessível à maioria da população, tem baixo custo e contém uma parcela imensa de todo o conhecimento de nossa civilização. Na Internet os canais que nos levam melhor a aquisição de saberes são a pesquisa de textos prontos no buscador Google e na Wikipédia; a pesquisa de vídeos – principalmente documentários – no YouTube e no Google Vídeo; a pesquisa do que eu chamo de verdade em estado bruto em comunidades do Orkut. A pesquisa no Orkut pode revelar muitas coisas que não estão claras nem nos textos prontos nem nos vídeos3 . É um tipo de pesquisa que tem sido subvalorizado, mas é um meio novo – e ainda muito mal compreendido – de chegarmos a um conhecimento de excelente qualidade com muito pouco esforço, pois acabamos nos divertindo ao adquirirmos e repassarmos informações em comunidades de sites de relacionamento. O que leva a pesquisa em comunidades de sites de relacionamento ser altamente proveitosa é o fato bem conhecido de que falamos muitas coisas nesses sites que não diríamos face a face ou pelo telefone. Acabamos sendo mais sinceros no Orkut do que no trabalho, na igreja ou no seio familiar. O maior problema de aprender pelo Orkut é separar quem está sendo sincero de quem está jogando, ou trabalhando em silêncio para sustentar falsas crenças, mitos que dificultam a vida das pessoas por serem amplamente aceitos, embora falsos. Me parece que muitas pessoas tem criado e sustentado grandes comunidades com a finalidade de fazer esse tipo de jogo, perpetuando, assim, mitos malsãos que sangram a humanidade. Mas mesmo que alcancemos grande sabedoria ela pode, ainda assim, não ser suficiente para conseguirmos perdoar nossos inimigos. O problema é mais ter o saber correto do que ter muito saber. Podemos ser muito inteligentes e termos muito conhecimento. Entretanto, nunca chegaremos a ser oniscientes, sempre nos faltará saber algo. E pode ser que o pequeno detalhe que nos falta saber seja crucial para conseguirmos perdoar um inimigo específico. Talvez por isso Deus seja amor: ele perdoa sempre pois conhecendo tudo, sabe também de nossas motivações e dificuldades. 3 A pesquisa em comunidades do Orkut relacionadas com os temas que queremos conhecer conduz, não raro, à elucidação de questões cujas respostas nos são negadas pelos veículos socialmente autorizados que deveriam responder a contento as mesmas questões – mas não o fazem. E não o fazem porque o papel de muitas instituições bem estabelecidas e bem conceituadas está fortemente ligado à manutenção da ignorância do povo. Isso é muito comum em medicina, por exemplo. O detentor do saber médico – e do diploma – costuma se valer da ignorância do paciente sobre o tema para receitar remédios desnecessários que talvez tornem seu paciente realmente doente. E uma vez estabelecida a patologia, o adoentado deverá retornar muitas outras vezes ao consultório de seu médico. Eric Campos Bastos Guedes 13 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 14. Se não obtivermos sucesso em conseguir perdoar um inimigo pela aquisição de conhecimento e aumento da inteligência, há, ainda, um outro bom meio de chegarmos ao perdão: nos sentindo bem. Se estamos nos sentindo bem, acabamos esquecendo a ira e o ódio contra nossos agressores e nos concentramos em continuar a nos sentir bem. O melhor meio que eu conheço para me sentir bem é criar um círculo virtuoso em torno de meu autodesenvolvimento. Se funciona para mim, pode funcionar para outras pessoas também. Criamos um círculo virtuoso quando nos empenhamos com alegria e motivação em alcançar êxitos que valorizamos. No meu caso costumo buscar êxito em atividades como estudar livros de matemática ou física e escrever livros que julgo serem importantes. Jogos também me deixam motivado, particularmente o xadrez. Outra atividade que me deixa animado é participar de uma certa lista de discussão de Matemática de alto nível onde existe o desafio de resolver interessantes problemas de matemática. É claro que essas atividades são coisas que me motivam, que me animam, mas são as minhas atividades motivadoras. Cada pessoa deve ter seu próprio grupo de atividades motivadoras. Elas podem ter cunho intelectual ou físico. Tenho um grande amigo que se tornou um excelente corredor. A corrida passou a ocupar um lugar importante em sua vida. Ele participa de maratonas, meias-maratonas e passa bastante tempo treinando. Sente-se muito bem ao constatar seus próprios progressos. A corrida o tornou alguém mais feliz, mais realizado. A prática do esporte costuma nos tornar pessoas melhores. O que quero frisar é que você deve procurar ter suas próprias atividades motivadoras. O que me faz sentir bem pode fazer você se sentir muito mal e vice-versa. Suas atividades motivadoras devem lhe dar prazer, ainda que esse prazer seja precedido por um esforço persistente em sentir-se motivado por elas. Uma regra geral é que a atividade motivadora deve ser lícita, honesta e estar dentro da lei, pois caso contrário levará o praticante à ruína decorrente da punição imposta pela sociedade. Outra regra é ter uma atividade por vez – de fato, fazer várias coisas ao mesmo tempo ou ter muitos objetivos diferentes e simultâneos é garantia de fracasso na tentativa de estabelecer ou manter atividades motivadoras. Se quiser fazer de sua atividade motivadora um hábito salutar, procure introduzi-lo aos poucos e jamais tente implementar muitos hábitos de uma só vez – é muito mais fácil (mas ainda assim difícil) criar um hábito por vez do que criar muitos hábitos de repente. Na verdade, julgo ser praticamente impossível para a maioria das pessoas criar dois ou três hábitos de uma só vez. Uma quarta regra útil para que você se sinta bem com uma atividade motivadora é procurar enxergar seus próprios progressos, valorizando cada pequena vitória. Já os insucessos devem ser psicologicamente minimizados: se você não alcançar a marca que deseja hoje, poderá se sentir melhor dizendo a si mesmo que alcançar a tal marca amanhã será uma vitória ainda maior, pois o esforço tempera o banquete dos vencedores. Procure enaltecer para si mesmo cada pequeno progresso que você fizer4 ; analogamente, procure minimizar toda queda ou fracasso que lhe ocorrer. Você pode fazer isso procurando enxergar o que ganhou de bom com aquela queda ou fracasso. Por exemplo, um sofrimento pode nos tornar pessoas mais experientes, mais vividas e mais fortes. Diante de uma traição, podemos dizer a nós mesmos que o erro quem cometeu foi o 4 Cada pequeno sucesso deve ser fator interno de motivação e conforto. Falar à outros sobre seu progresso o levará, muito provavelmente, à decepção de não ser devidamente reconhecido. Você não deve depender da boa vontade de outras pessoas em motivá-lo. É possível, inclusive, que todas as pessoas que você conhece intencionem desestimula-lo, declaradamente ou não. Quando você fala sobre um seu objetivo ou sobre um seu sucesso para alguém, poderá receber palavras de incentivo que não corresponderão à uma intenção verdadeira em motivá-lo, mas devem-se tão somente essas palavras à educação. A motivação emocional e psicológica não deve vir de palavras ou atitudes de pessoas próximas. Você mesmo deve se motivar. Eric Campos Bastos Guedes 14 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 15. traidor, logo, quem deveria estar preocupado é quem errou, não nós. E se quem errou não se preocupa, podemos dizer a nós mesmos que pessoas assim costumam fazer muitos inimigos e isso pode ser, literalmente, fatal. A quinta regra para estabelecer uma atividade motivadora é que você não deve falar de seu objetivo com outras pessoas. Por exemplo, se meu objetivo é me tornar um excelente corredor, eu não devo falar isso a ninguém, mas somente para mim mesmo. Quando falamos de nossos objetivos para outras pessoas perdemos o sentido do desafio e a motivação esfria. É muito mais valioso o trabalho silente em nossos próprios objetivos que a exibição ruidosa de um esforço que pode vir a dar em nada. Se falamos de uma de nossas metas para outrem, podemos deixar de buscá-la por nós mesmos, isto é, por amor, e passarmos a nos ver obrigados a trabalhar na meta para mostrar que não estávamos mentindo, que levamos realmente a sério nosso objetivo e coisas assim. Nosso objetivo deixa de ser nosso e passa a focar o outro; deixa de ser algo de nosso íntimo e se torna algo para ser visto pelo outro. E como é chato buscar um objetivo que não é nosso! *** Meu primeiro computador e a aprendizagem do xadrez Ganhei meu primeiro computador aos 9 ou 10 anos de idade. Era um TK82C, da Microdigital. Com ele aprendi os rudimentos de programação de computadores na linguagem Basic, muito popular na época. Tornei-me um programador de computadores competente para minha pouca idade. Estava sempre criando e executando programas que me permitissem investigar o mundo dos números. Também costumava jogar xadrez contra o computador – eu era péssimo, nunca venci uma só partida de meu modesto TK82C. Apesar de ser um mal jogador, gostava de jogar e ensinar xadrez a quem quer que fosse. O prazer de ensinar e aprender sempre me acompanhou. No início, ensinei xadrez a mim mesmo. Eu devia ter entre 9 e 10 anos quando aprendi a jogar. Mas ninguém me ensinou, eu aprendi pelas regras que estavam no Supermanual do Escoteiro Mirim, uma publicação que se valia dos personagens da Disney para passar conhecimentos úteis. Mas acabei cometendo um erro ao interpretar mal as regras do Supermanual: no início eu achava que as peças do xadrez tinham que passar por cima das do oponente para capturá-las, como no jogo de damas. Esse equívoco durou uns três anos. Ensinei errado para um amigo, mas alguém que sabia mais nos alertou de que estávamos jogando errado, então nós dois passamos a jogar da maneira correta. Isso ocorreu no Colégio Salesiano Santa Rosa, quando eu cursava a quinta série do antigo primeiro grau – o equivalente ao hoje chamado Ensino Fundamental. *** Sobre a inteligência e a importância de sua busca O interesse pelo xadrez partiu de mim mesmo, ninguém em minha família jogava. Buscar atividades inteligentes é atitude que favorece o aumento da inteligência e essa busca está muito mais relacionada com uma pré-disposição da personalidade e do caráter do que com uma uma arquitetura cerebral diferenciada. A inteligência está mais relacionada com nossos anseios e motivações do que com uma genética privilegiada. Esse tipo de ideia nos liberta da noção de que nosso quociente de inteligência – o popular QI – não depende Eric Campos Bastos Guedes 15 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 16. do que fazemos. Se acreditamos que não podemos fazer nada para aumentar nossa inteligência, nada faremos com este objetivo – e essa atitude acaba por nos tolher a própria inteligência. Se, por outro lado, acreditamos que podemos aumentar nosso QI, passamos a buscar atividades que nos levem a ter esse aumento. E nosso QI acaba subindo mesmo. Esse raciocínio vai ao encontro de uma máxima devida a Henry Ford que diz o seguinte: “Se você acredita que pode ou acredita que não pode, de qualquer forma você está certo”. Nossas crenças nos dizem o que somos ou não capazes de fazer. Se acreditamos que podemos resolver um problema difícil, nós nos debruçamos sobre ele até o resolver ou até fazer progressos importantes na busca da solução do tal problema. Mesmo que não tenhamos pleno êxito, nossa dedicação é premiada com um incremento de nosso saber técnico e com um aumento de nossa capacidade de resolver problemas. Claramente, a inteligência está intimamente relacionada com a capacidade de resolver problemas. Então, uma crença útil é a de que podemos, com esforço e tempo suficientes, resolver qualquer problema que queiramos. A grande questão é saber quanto tempo e esforço estamos dispostos a empregar na solução de cada problema ou na conquista de cada objetivo. Há uma sábia máxima que aconselha: “Saiba escolher suas batalhas”. Entre todos as metas que queremos atingir, quais nos darão mais felicidade? Quais serão mais rapidamente alcançadas? Em quais delas acreditamos mais? Que metas nos tornarão pessoas mais realizadas após serem cumpridas? Devido à nossa limitação referente à prazos, é fundamental saber escolher bem à que metas vamos nos dedicar de cada vez. *** A morte de meu avô Antônio Pereira Campos Segundo o que minha mãe me dissera, meu avô passaria por uma intervenção cirúrgica muito delicada e da qual pouquíssimas pessoas sobreviviam. Eu fiquei chateado com a notícia e esperava por sua morte. Quando ele voltou para casa fiquei impressionado. Estava aparentemente bem. Tão bem como sempre esteve. Acabei por atribuir a sobrevivência de meu avô Antônio a uma genética privilegiada. E fiquei satisfeito por ser seu neto. As coisas não estavam tão bem, entretanto. Antônio – ou seu caxeta para os antigos conhecidos – estava tomando uns remédios. Me disseram que ele estava sofrendo de depressão ou se tratando de uma aterosclerose. Talvez os remédios que ele tomava fossem antidepressivos, mas isso eu estou conjecturando. Naquela semana ele fizera para mim um alteres com um cabo de vassoura e dois pesos de chumbo que ele mesmo fabricou derretendo uns canos velhos do mesmo material. Parece que ele queria que eu praticasse musculação em casa com aquele halter, mas não me interessei muito por isso não. E num dia de sol, pela manhã, meu avô pegou uma escada, uma corda e se enforcou. Estávamos somente eu e ele em casa. Antes de sair para o colégio fui me despedir dele e o encontrei deitado no chão de seu quarto. Supus – erroneamente – que estivesse dormindo. Tentei acordá-lo de todos os modos, sem sucesso. Fiquei intrigado: como ele poderia ter um sono tão profundo? Achei que ele estava fingindo que não acordava. Então peguei meu material e fui para o colégio. Naquela época, eu e meu irmão Winter Bastos Guedes Júnior estudávamos no Curso São Francisco de Assis, uma escola tradicional de Icaraí que tinha o melhor ensino fundamental de Niterói. Só ia até a quarta série primária, entretanto. Depois disso éramos encaminhados para outras escolas. Naquele tempo eu fazia a quarta série e meu irmão devia estar na primeira ou segunda série do primário. Nós estudávamos à tarde. Naquele Eric Campos Bastos Guedes 16 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 17. dia, ao terminar a aula, pediram-nos que não voltássemos direto para casa, mas que esperássemos um pouco até sermos liberados. Ao retornar do colégio vi minha avó chorando – coisa que nunca havia presenciado antes. Me disseram que meu avô Antônio Caxeta havia morrido. Mas não me disseram que ele tinha se matado, nem que ele já estava morto quando saí de casa. Simplesmente não liguei os fatos. Disseram-me que ele falecera vítima de um aneurisma ou de uma trombose. Em se tratando de crianças, é natural esconder tal fato. Acho, porém, que foi um desrespeito à minha dignidade de neto não me revelarem a verdade depois de eu adulto. Esse é um hábito que minha mãe, tia e irmão cultivaram por toda a vida: ocultar a verdade como forma de agredir emocionalmente o familiar “eleito” para ser o saco de pancadas emocional da família. Nesse caso, ao descobrimos a verdade por nós mesmos nos sentimos traídos e desprestigiados por nossos familiares. Aí vem aquela conversa fiada de “não contei para você para que você não ficasse nervoso”; “não contei para te poupar da dor” e coisas deste gênero. E eles se fazem parecer bons praticando o que é mal. *** A morte de meu pai Winter Bastos Guedes Meu pai morreu de modo intrigante. Muito mais intrigante do que eu poderia supor em minha ingênua infância. Certo dia, quando cursava a 5ª série do ensino fundamental no Colégio Salesiano Santa Rosa, cheguei em casa após uma surra que levei de uns valentões da escola. Eles me surraram por eu ter feito chacota do cara que eles bateram primeiro. Eu não sabia que seria o segundo da lista. Não vou dizer que foi uma surra merecida, mas ao menos aprendi a não zombar de quem apanha. Eram cerca de cinco e meia da tarde quando cheguei em casa. Lembro que ainda não havia escurecido e que os valentões pisaram no livro de matemática adotado pela escola. Eu estava bastante chateado com o que ocorrera. Bati na porta da sala, como fazia todos os dias para entrar. Nada. Bati novamente. Silêncio. De repente a porta é aberta num rompante e meu pai passa carregado numa maca, aparentemente desacordado, sendo levado por dois enfermeiros. Ao entrar em casa sou informado de que ele sofrera um mal estar. Tudo bem. Ele não parecia estar tão mal na maca. Não deveria ser nada grave, ele seria medicado e voltaria logo para a casa. Ao ver a grande quantidade de sangue sendo lavada a baldes d’água mudei de opinião. Fiquei apavorado. Minha mãe disse que fôssemos rezar para que ele ficasse bom e não morresse. Foi a primeira coisa realmente importante que pedi a Deus e sem dúvida a oração mais fervorosa que já fiz. Uma semana depois recebo a notícia de que ele havia morrido no hospital. Minha mãe me disse que ele havia tido uma tontura quando estava no alto de uma escada. Caiu e bateu com a cabeça num murinho, sofrendo traumatismo craniano. A tontura teria sido causada por um infarto repentino. Provavelmente uma farsa, como descobri mais tarde, já adulto. De fato, num primeiro momento, ao ver meu pai passando por mim numa maca, não me alarmei: ele estava bem, não havia sangue na roupa dele. O absurdo era evidente: não havia sangue na roupa de meu pai, mas a escada que dava acesso ao segundo andar da casa era um rio vermelho. Ao comentar isso com minha mãe, anos mais tarde, ela disse: “Eles trocaram a camisa dele antes de levá-lo, para não assustar seu irmão Winter”. Com essa emenda a fraude tornou-se patente. E segue o demônio aplaudindo as mentiras de minha família. Cheguei à conclusão – verdadeira ou falsa, ela é mais plausível do que a que me Eric Campos Bastos Guedes 17 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 18. contaram – de que meu pai havia sido morto pela ditadura. O ano era 1983 e vivíamos ainda sob o jugo explícito da tirania militar que, embora mais branda do que nas duas décadas anteriores, ainda podia fazer o que bem entendesse com a população. A farsa toda seria para encobrir um crime horrendo, que de outro modo teria se tornado um escândalo, visto ser meu pai um ex-militar honesto ao extremo, pessoa instruída e culta ocupando posição de destaque no Ministério da Fazenda (ele trabalhava lá como farmacêutico-bioquímico). Minha mãe deveria saber de tudo, claro. Mas teria mantido o silêncio, mesmo após o fim da ditadura militar. Tudo isso faz sentido, mas ainda assim são conjecturas que não pude comprovar. Um ano após a morte de meu pai, minha mãe estava com outro companheiro. Um chupim bebum, ignorante e boa vida. Apesar de sentir grande antipatia por ele naquela época, hoje eu o aceito plenamente. Depois de uns 10 ou 12 anos, passei a enxergar meu padrasto como alguém humano e amigável. Ele não tinha obrigação ou culpa nenhuma por não atender aos requisitos que eu imaginava serem necessários a qualquer candidato a marido de minha mãe. Morto o chefe, a família desintegrava-se rapidamente. Minha mãe não me dava mais atenção – eu tinha 13 anos – deixando minha criação a cargo de minha avó Dermontina da Silva Campos e de minha tia Vera Lúcia de Campos. Vanda simplesmente foi morar em outro lugar com Lourenço – este é o nome de meu padrasto – e com meu irmão Winter. Não era um lugar distante, mas eu me sentia negligenciado, posto de lado como um objeto que perdera a serventia. Naquele momento de minha vida, eu passava pelas transformações próprias da puberdade que se iniciava. Apesar disso, não havia sequer tido a primeira ejaculação e sabia muito pouco sobre sexo. Só descobriria a masturbação no ano seguinte, em 1985. Uns poucos anos antes, eu pensava que os bebês nasciam após a grande emoção da esposa com seu casamento. Só entendi de onde vinham os bebês após assistir uma reportagem sobre isso no Fantástico – o show da vida, programa domingueiro tradicional da Rede Globo já naquela época. *** Beijar uma garota Eu queria beijar uma garota. O nome dela era Gisele. Uma menina branca e loura, filha de uma amiga matemática de minha mãe que morava nas proximidades. Não tinha a menor ideia de como beijá-la e não fui feliz na execução de um plano que sequer existia. Foi meu primeiro “fora”. Refugiei-me nos livros, onde encontrei bom material para aprender sobre coisas que julgava importantes. Na sexta série já havia aprendido a resolver equações do segundo grau – que eram estudadas na oitava série – e um pouco de álgebra no livro “Álgebra I” de Augusto César Morgado e Eduardo Wagner. Nessa época frequentei um psicólogo chamado Eduardo Nicolau que mais tarde viria a me ajudar muito, me indicando um excelente curso de matemática: o método Kumon. Os livros não me impediram de me sentir em desvantagem perante meus colegas, que já conheciam as meninas na intimidade. Eu, por outro lado, sequer sabia como era o corpo nu de uma mulher. Até então, nunca havia visto uma mulher nua, nem ao vivo nem em fotos5 . Por estranho que 5 Naquele tempo as revistas eróticas vinham embaladas num plastico preto que tapava os corpos nus das modelos, deixando à mostra somente os títulos das revistas. Também não existiam nos jornais as figuras picantes de mulheres seminuas, como há hoje em dia. A exibição de filmes ou programas com mulheres nuas ou em poses e trajes provocantes era muito mais rara que nos tempos atuais. A exibição das mulheres mais sensuais e menos vestidas ocorria em programas como O Cassino do Chacrinha e O Clube do Bolinha, mas nada comparado ao que há hoje. Eric Campos Bastos Guedes 18 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 19. possa parecer, isso fez de mim um péssimo aluno e estudante, apesar de estudar mais que os outros e ter uma inteligência um pouco maior (tenho um QI de 121). Já na quinta série, pouco depois da morte de meu pai, comecei a faltar às aulas. Perdi provas, inclusive de matemática. Fui fazer a 2ª chamada temendo uma possível reprovação, pois havia estudado muito pouco a matéria. Ao fazer a prova, entretanto, achei tudo muito fácil. Foi uma surpresa agradável. A prova era sobre dízimas periódicas e constatei que com um mínimo de conhecimento e o uso do mero bom senso, eu podia resolvê-la toda. Passei de ano. Naquela época eu nutria uma paixão por Quênia Balbi, uma estudante de minha classe cuja beleza me fascinava. A professora pedia às vezes para que eu fosse pegar as carteirinhas dos estudantes no final da aula para devolvê-las com o carimbo de presença. Quando estava a sós com a carteirinha de estudante de Quênia eu a beijava loucamente – a carteirinha. Queria tocá-la. Imaginava que ela torceria o pé na saída do colégio e, então, eu a levaria nos braços até minha casa para ser tratada. Minha imaginação ia muito mais longe: via as paredes do Colégio Salesiano Santa Rosa cobertas por bumbuns femininos separados dos corpos. Eu imaginava tocá-los e acariciá-los. Não me julgando capaz de realizar meu intento com meninas de verdade, quis tocar estátuas, dessas que costumamos ver nos museus, despidas com as nádegas a mostra. Cheguei a fazer isso quando visitei um museu na cidade do Rio de Janeiro. Eu estava obcecado. O que quero dizer com tudo isso é que meninos de onze anos já se preocupam muito com garotas. E se eles não tiverem quem os oriente no sentido de uma vida sexual e afetiva salutar, terão muitos problemas que, aparentemente, não estariam relacionados à sexo ou vida afetiva: queda brusca do rendimento escolar, faltas, fuga da realidade e coisas assim. Só fui beijar uma “garota” aos dezoito anos e depois disso meu aproveitamento escolar e meu rendimento intelectual sofreram um boom. Para deslanchar completamente ficou faltando me livrar das drogas psiquiátricas, o que só começou a acontecer em 2006, quando eu tinha 35 anos. *** Problemas na quinta e na sexta série Na 6ª série saí do Curso Salesiano Santa Rosa, onde haviam me matriculado. Eu faltava quase todos os dias e cobrava de mim mesmo um desempenho acadêmico superior, como o que eu sempre havia tido até a quarta série, antes da morte de meu pai. As faltas não se deviam a “vagabundagem” ou coisas assim, pois eu não saía para vadiar, namorar, caminhar ou me divertir de algum modo. Eu só queria evitar a dor moral. Simplesmente passei a sofrer muito na escola. Era um suplício assistir as aulas, eu não conseguia prestar atenção ao que os professores diziam, ainda que me esforçasse para isto, e minhas notas medíocres me faziam sentir mal. Se pelo menos eu fosse namorador, poderia curtir mais a escola, ela teria alguma graça no recreio, pelo menos. Mas eu era virgem e não tinha nenhum contato íntimo com garotas. Achava que a matéria havia ficado muito mais complicada e muito maior e que por isso já não bastava simplesmente prestar atenção às aulas para aprender as disciplinas. Até certo ponto isso até ocorria, e eu tentei passar a estudar mais em casa para voltar a ter boas notas e me sentir melhor por isso. Mas a verdade é que eu estava sendo insidiosamente envenenado por drogas de uso psiquiátrico – e elas diminuem o rendimento escolar, como bem se sabe. Minha mãe e eu não sabíamos como lidar com a situação. Eu ainda tinha a desculpa de ser uma criança, mas o que dizer de minha mãe? As vezes penso que ela Eric Campos Bastos Guedes 19 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 20. sabia, sim, como resolver a maior parte de meus problemas, mas preferiu me abrir a porta larga do caminho largo que leva ao inferno. Era muito mais fácil para ela me por em clínicas, psicólogos e psiquiatras do que reconhecer que as “medicações” estavam destruindo minha vida e que o que eu precisava de verdade era de uma “boa massagem”, como diria dezesseis anos depois uma garota de programa chamada Sílvia. Essa atitude conservadora e socialmente irrepreensível de minha mãe não permitiu a ela ajudar o filho que de doze anos que se encontrava em dificuldades. Vanda passou a me levar numa clínica que se propunha a trabalhar com “radiestesia” ou algo do tipo. Era a clínica de um tal de frei Albino Ariesi. Situava-se na cidade do Rio de Janeiro e eu passei a frequentar uma psicóloga lá chamada Drª Petrônia. Ela só sabia me responsabilizar por tudo de ruim que acontecia comigo. Essa psicóloga dizia em tom acusatório “Isto é Fuga!” e “Você se condicionou a isto”. Era péssimo. Além de não resolver os problemas, eu saía de lá com o ego destroçado. Eu queria ser como Einstein e Petrônia sabia disto; entretanto eu mesmo não o sabia plenamente. Ela tentou me dissuadir de ideias dessa natureza dizendo que o trabalho de Einstein tinha centenas de páginas e era coisa muito difícil. Talvez ela quisesse me fazer concluir que a matemática e a ciência eram coisas tão difíceis que seria melhor nem pensar nisso. Graças a Deus aquele demônio de saias estava errado. Inclusive, talvez por ela ter reprovado de modo tão veemente meu desejo de ser um novo Einstein, essa a ideia tenha ganhado força em meus pensamentos. Ora, por ela reprovar tanto meu desejo de me tornar um cientista, entendi que Petrônia achava esse meu desejo perfeitamente realizável. Entendi também que a possibilidade de realização de tal desejo enfurecia o demônio de sais. Só pra contrariar, considerei muito boa a ideia de vir a ser um cientista. Consegui terminar minha quinta série no Colégio Salesiano Santa Rosa com dificuldades. O fracasso de meu tratamento com Drª Petrônia fez com que minha mãe procurasse outro profissional. Acabei chegando ao consultório do psicólogo Eduardo Nicolau. Ele trabalhava com uma psiquiatra que receitava remédios para ele. Naquele período, pelo que me lembro, eu estava tomando um antidepressivo chamado Tofranil e, talvez, um outro remédio de que não me lembro. Tomei meus “remédios” durante mais de vinte anos, sempre seguindo a prescrição médica com rigor. Até descobrir a farsa da psiquiatria, utilizada para anular indivíduos considerados uma “ameaça” aos planos da cúpula de poder que domina o mundo. Na sexta série iniciei no Salesiano meus estudos. Só que não consegui cursar. Pedimos transferência para uma outra escola: o Centro Educacional de Niterói – o popular “Centrinho”. Lá, por algum motivo, tudo ficou muito melhor. Lembro que foi lá que retomei meu interesse pela Matemática ao ter tirado uma ótima nota na prova. Eu apreciava o professor dessa matéria e ele também gostava de mim. Iniciei estudos por minha própria conta. Eles se baseavam muito mais em imaginação do que em matéria propriamente. Eu tive muitas ideias que gostava de desenvolver. Foi também nesse tempo que comecei a escrever meus primeiros poemas. Eu tinha uns treze anos quando escrevi meu primeiro poema. Não era um bom poema, mas eu gostava dele. Apareceram outros que também não eram bons, mas eu também gostava deles. Fui insistindo e não me abati com as críticas negativas que recebia uma hora ou outra. Hoje, graças a Deus, consigo escrever poemas de boa e de ótima qualidade. A persistência favorece o sucesso. Antes de terminar o ano letivo, entrei em pânico. A exposição de trabalhos de alunos – uma espécie de feira de ciências – estava se aproximando e eu não consegui me convencer de que meu trabalho era bom o suficiente para eles. Meu trabalho era bom para mim mesmo, mas eu achava que ele não seria apreciado nem pelos meus amigos, nem pelo professor de matemática. Parei de ir às aulas e faltei quase o bimestre final Eric Campos Bastos Guedes 20 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 21. todo. Mesmo sem ter feito as provas finais os professores do Centrinho acharam por bem me passar de ano devido ao meu ótimo desempenho nos outros bimestres. Essa atitude dos professores do Centrinho salvou minha alma. Fui para a sétima série. *** A descoberta da masturbação O psicólogo Eduardo Nicolau me ensinara, através de desenhos, o que era a masturbação na teoria. Achei aquilo muito esquisito e totalmente sem propósito. Afinal, que benefício poderia haver em tal conduta? Eu não fazia ideia. Por vontade própria decidira que teria meu primeiro gozo com minha esposa, depois que casasse. Eu queria casar virgem. Descobri em 1985, nos meus 13 ou 14 anos, o que era a masturbação na prática. Naquele período eu não estava frequentando a escola e minha mãe já havia se amigado com meu padrasto Alcemir Lourenço de Souza. Numa noite eu estava deitado sozinho em meu quarto com o membro ereto, tentando dormir. Queria que meu membro ficasse “normal”, pois me sentia um pouco desconfortável com ele duro naquela posição. Como ele insistia em permanecer rijo, tentei colocá-lo na posição que considerava mais normal. Então, tentando por meu pênis numa posição que julgava mais adequada, gozei – não tinha essa intenção, entretanto. Foi algo absolutamente natural. Nunca havia sentido aquilo antes, foi ótimo. No início achava que o esperma saía da barriga, pois ela ficava sempre molhada. Não queria saber o que estava acontecendo, ou como acontecia, só sabia que me sentia muito bem com aquilo. Após alguns meses resolvi comprar revistas eróticas. Passei a ver como as pessoas faziam sexo. Eu também queria fazer, mas não conseguia me relacionar sexualmente com ninguém. Neste aspecto fiz a mim próprio. Ninguém me ajudou. Minha primeira revista erótica tinha pornografia pesada, era uma antiga Sex Appeal em preto e branco. Tinha fotos de mulheres com homens, de homens com homens e de mulheres com mulheres, mas eu me concentrei somente nas fotos heterossexuais, que eram as primeiras. O resto eu nem olhava. O “cinco contra um” foi uma grande descoberta para mim, mas eu ainda queria muito me relacionar com garotas. Isso só foi acontecer em 1989, quando eu fiz 18 anos e meu então psiquiatra, Eugênio Lamy Filho, entendeu que com a maioridade não havia nenhum risco para ele se me orientasse a buscar os serviços de uma prostituta. Mas vamos deixar este assunto para depois. *** Sétima série no Colégio Figueiredo Costa Depois de ser aprovado na sexta série no Centrinho, tentei fazer lá mesmo minha sétima série. Mas foi estranho. Meus antigos amigos do ano passado estavam mudados. Quietos, calados e um tanto reservados demais. Eu não me sentia mais bem lá. Decidi mudar de colégio. Foi quando surgiu a chance de estudar com meu melhor amigo no Colégio Figueiredo Costa, então um dos grandes colégios tradicionais de Niterói. O nome desse meu melhor amigo é Raphael Oliveira de Rezende – o corredor que mencionei antes – e somos amigos até hoje por conta dos grandes perigos que nos irmanaram em nossas aventuras. Mas falemos disso mais adiante. Eric Campos Bastos Guedes 21 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 22. Eu e Rapha não ficamos na mesma classe. Fiquei na classe dos que sabiam menos e Rapha estava na classe dos que sabiam mais. Foi bom que fosse assim, pois me destaquei sobremaneira junto aos que estudavam menos. E foi isso que me motivou a estudar bastante e tentar conseguir só notas finais 10 nas disciplinas de matemática e geometria. O Colégio Figueiredo Costa foi ótimo para mim por esse lado. Mas eu estava ficando mais velho e ainda não havia me relacionado com garotas. Esse problema era muito pior do que parecia, pois, no final do ano comecei a me tornar um estudante agressivo com os demais. De compasso em punho, ameacei um folgado que zombara de mim e, graças a Deus ficou nisso. Noutra ocasião um sujeito que fazia o segundo grau lá implicou comigo e eu me vinguei na hora: tinha uma trave grande, de metal, usada na quadra próxima ao pé do implicante e eu levantei essa trave um pouco e a soltei em cima do pé dele. Ele ficou pulando num pé só e olhando assustado para mim. Eu mesmo me assustei com o que havia acabado de fazer, e pedi desculpas imediatamente, de modo ruidoso e suplicante, denotando algum desespero. Ninguém conversou comigo para explicar que o que eu passei a fazer estava errado e passei a adotar, ocasionalmente, uma conduta violenta. Isto quase destruiu minha vida. Acredito que se estivesse me relacionando com meninas, dificilmente teria recorrido a esse tipo de comportamento para me fazer respeitar. Apesar de ainda não ter me relacionado sexualmente com ninguém, tinha uma menina de quem eu gostava. Eu cheguei para ela e falei o que aconteceu: disse que havia sonhado com ela e ela me disse que eu estava mentindo, que aquilo não tinha acontecido. Eu tinha sonhado com ela realmente. Estávamos nus numa cama e nos batíamos com travesseiros de penas que esvoaçavam pelo ar. Acho que quem viu esta cena num anúncio televisivo da época talvez se lembre. Era assim mesmo, que nem o anúncio. No meu sonho eu e ela éramos os amantes que apareciam no comercial. O nome da garota era Andréa e o ano era 1986. Andréa era filha de um professor de matemática e fazia a sexta série no Figueiredo Costa. Ela tinha umas amigas gozadoras, de pele escura. Eu ajudei Andréa e suas amigas a apresentarem um trabalho na feira de ciências. Foi uma época muito boa, tirando a parte da violência. Raphael deixou um pouco de lado a amizade que tinha comigo e passou a preferir a companhia de um aluno chamado Erick Varjão, que estudava na classe dele. Varjão sabia se defender na base da conversa, sem violência. Sabia se fazer respeitar pela palavra e não pela força bruta. Se eu soubesse fazer isso naquela época, não teria feito tanta bobagem na vida. Acho que deveriam haver aulas nas escolas ensinando aos alunos como agir em certas situações, e sobre como não agir. Enquanto a educação escolar de crianças é obrigatória, não há nada que obrigue os pais a instruírem seus filhos sobre questões relativas à violência e à vida afetiva e sexual. *** Férias da sétima para a oitava série Foi nessa época que decidi entrar de cara na Matemática. Criei uma técnica diferente para obter números primos que dois ou três anos depois viria a ser publicada na Revista do Professor de Matemática (RPM) sob o título Uma Construção de primos, no número 15 dessa revista. Quem me ajudou muito foi a professora Renate Watanabe. Foi ela que encaminhou esse meu primeiro trabalho para apreciação do comitê editorial da RPM. Seu apoio e suas orientações, que recebi por carta, me foram muito valiosas. Naquele período de férias de fim de ano pedi a minha mãe para contratar um certo professor particular de Eric Campos Bastos Guedes 22 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 23. matemática para mim. Esse professor eu conhecera no próprio Figueiredo Costa. Ele lecionou geometria lá, substituindo o professor Odilon. Foi com Odilon que tomei conhecimento de demonstrações de teoremas em matemática. As duas primeiras demonstrações que conheci foram a da irracionalidade de 2 e a da soma dos ângulos internos do triângulo ser sempre 180°. Aproveitei as férias para aprender trigonometria, geometria e álgebra. Coisas que deveriam ser estudadas nos anos seguintes. Na verdade, naquelas férias eu passei a ter um domínio de toda a matemática da oitava série e a entender muitas coisas do ensino médio, então chamado de segundo grau. *** Sobre as aventuras: o barco Aventurar-se é correr riscos na descoberta de novas fronteiras. Algumas das aventuras de que participei com meus amigos foram inesquecíveis. Teve uma vez que eu, Rapha e meu irmão Winter Bastos construímos um barco com madeira coletada na rua, câmaras de ar e pranchas de isopor. Pusemos o barco na praia de São Francisco, tivemos que carregá-lo nós mesmos, a pé, até São Francisco. Foi bastante cansativo, mas tivemos sucesso. Nosso barco flutuou no mar e fomos remando até um lugar onde havia vários barquinhos ancorados. Subimos num deles e não tinha ninguém por perto para nos impedir. Mas não conseguimos entrar na cabine do barquinho, pois ela estava trancada. Entrou água no pacote de biscoitos que levamos para fazer um lanche e perdemos um martelo que levamos para repregar o barco caso ele ameaçasse se desmanchar, indo uma parte para cada lado. Winter acabou tendo uma insolação por pegar muito sol na moleira. Essa aventura foi no início de 1987, nas minhas férias da sétima para a oitava série do antigo primeiro grau. Uns meses depois fui morar em Araruama com minha mãe, meu irmão Winter, o enteado de minha mãe, chamado Alexssandro ou Sandro e meu padrasto Lourenço que naquela época chamávamos de Blau. *** Outra aventura: a grande cruz ao longe Numa tarde, eu, Sandro e Winter vimos uma espécie de cruz ao longe e resolvemos ir até aquela cruz para resolver o enigma e saber qual o significado dela. Mas era muito mais longe do que podíamos ir naquela tarde. Então resolvemos ir no dia seguinte, pela manhã. Não contamos nada para Blau nem para Vanda, pois eles iam “melar” nossos planos. No dia seguinte iniciamos uma jornada até a misteriosa cruz. Teve uma hora que tivemos que passar em frente a uma casinha que tinha um cão mal humorado tomando conta. Resolvemos que um cachorro, mesmo grande e oferecendo risco, não iria impedir nossa jornada. Então decidimos passar caminhando em frente à casinha, sem correr e nem olhar em direção ao cão. Ele rosnou ameaçadoramente, mas ficou nisso e nós conseguimos passar. Ao chegar na cruz misteriosa sondamos o lugar. Uma cruz grande sobre um canteiro circular, com círculos concêntricos que se sobrepunham, os menores sobre os maiores. Levantamos a hipótese daquele ser o túmulo de um cavalo muito bem quisto por seu proprietário que, após a morte do animal teria resolvido e homenageá-lo com a imensa cruz sobre o local de seu sepultamento. Voltamos para casa por outro caminho e descobrimos que a tal cruz era o que as pessoas chamam de cruzeiro, que é uma cruz numa parte visível da cidade que a consagra a Cristo. O cruzeiro mais famoso do mundo é o Cristo Redentor, localizado na cidade do Rio de Janeiro. Uma estátua com Eric Campos Bastos Guedes 23 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 24. Jesus de braços abertos acaba tendo a forma de uma cruz mesmo. *** Mais uma aventura: o morro misterioso Nossa primeira aventura foi subir um morro em Niterói que tinha uma misteriosa construção no topo. Naquela época minha mãe, meu padrasto, meu irmão e Sandro moravam num apartamentozinho no oitavo andar de um prédio situado na rua Noronha Torrezão, bairro de Santa Rosa, Niterói. Eu, Winter e Rapha resolvemos ir até o topo do morro para saber do que se tratava aquela construção. Minha mãe, alarmada, fez uma funesta previsão: “vocês vão morrer!”, mas nos deixou partir. A empregada fizera alguns sanduíches com ovos para que levássemos em nossa pequena excursão sem guia. Acho que chamamos Sandro para ir conosco, mas parece que ele não quis ir. Iniciamos nossa aventura subindo uma ruazinha de um morro próximo, passamos na casa da madrinha de Winter, que se chamava Rosa. Ela era meio enricada e morava numa casa grande perto do morro. Nos avistou vindo ao longe e, não nos reconhecendo devido à distância, mandou que os cães nos atacassem. Ficamos paradinhos e eles ameaçavam nos morder, latindo ferozmente a uma pequena distância. Mas quando Rosa nos reconheceu, ordenou que os cães retornassem. Fizemos um lanche na casa da madrinha Rosa e prosseguimos a jornada. Teve uma ruazinha que subimos e na última casa precisávamos pedir passagem para prosseguir. Pedimos água ali e o dono da casa nos orientou: “não vão por tal caminho, porque tem uns marginais por lá. Sigam por este outro caminho”. Então prosseguimos. Tivemos que jogar os sanduíches fora, pois entrou terra na sacola em que os carregávamos. Após atravessar uma matagal queimado, chegamos até a construção. Ela parecia abandonada, mas ao examinar melhor, avistei um sujeito sem camisa e com uma arma de fogo num cinturão. Nos afastamos um pouco do sujeito e tentamos decidir o que faríamos. Fiquei com medo dele nos matar. Não era bem medo o que eu sentia, mas um receio que misturava prudência e animação. Ele podia ser um bandido ou algo assim. Era uma situação difícil. Enquanto conversávamos o sujeito nos achou. Ele era da polícia e nos disse que aquele era o posto de telecomunicações da polícia. Lavamos nossas mãos com um sabão de coco metido num prego. O policial perguntou se estávamos lá para pegar alguma pipa e dissemos que não. A vista era reveladora. De um lado estava São Francisco e um outro morro com uma outra construção. Do outro lado víamos o centro de Niterói, a ponte Rio-Niterói, e boa parte da Bahia de Guanabara. Era incrível. Voltamos por outro caminho e eu escorreguei e rasguei minha calça de moletom. Acabamos chegando no bairro de Fátima, próximo de Santa Rosa e voltamos a pé para casa. Essas aventuras marcaram muito minha infância e início de adolescência. *** A descoberta do Método Kumon Em 1983 havia iniciado um tratamento com o psicólogo Eduardo Nicolau. Ele soube de meu grande interesse por Matemática, mas na época em que me tratava achou que esse interesse me absorvia tanto que estava a dificultar meu amadurecimento e ingresso no mundo adulto e real. Era como se a energia e interesse que eu investia na Matemática me mantivessem longe de resolver questões mais mundanas, tais como arranjar uma namorada, me relacionar afetivamente, aprender sobre a vida etc. Eric Campos Bastos Guedes 24 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 25. Em 1985 eu deixei de ser paciente de Eduardo Nicolau e passei a me tratar com Drº Eugênio Lamy desde 23 de agosto daquele ano. Entretanto, Eduardo Nicolau foi um psicólogo tão bom para mim que, mesmo eu não sendo mais seu paciente, me deu uma dica de ouro para dominar a matemática. No final de 1986 ou início de 1987, ele me chamou em seu consultório e me instruiu a procurar um amigo seu, chamado Faraday Smith Correa dos Reis. O professor Faraday estava a ministrar um curso chamado Método Kumon, que se propunha a fazer o estudante gostar de matemática através do alcance da excelência nessa disciplina pela realização de elevado número de exercícios de crescente complexidade. Gostei muito da ideia e procurei por Faraday para iniciar o curso. Foi ótimo tê-lo conhecido, pois era grande apreciador e conhecedor da Matemática, pessoa inteligente que buscava ajudar, pela via da instrução, quem mostrasse interesse e/ou talento pela Matemática. Foi particularmente importante ter conhecido professor Faraday naquela época, pois, num período crítico de minha vida, ele manifestou interesse e admiração verdadeira por meu talento criador em Matemática e isso me motivou bastante à prosseguir com o desenvolvimento de minhas ideias nessa área. Infelizmente, de início, minha frustração afetivo-sexual dificultou muito minha adesão de corpo e alma ao Método Kumon. Era difícil estudar matemática com tanto empenho pensando na loura da escola6 . *** Oitava série no Colégio Itapuca Em 1987 eu cursava a 8ª série do ensino fundamental no colégio Itapuca, situado na rua Noronha Torrezão. Entretanto, já sabia mais matemática do que os estudantes do ensino médio. Não tendo interesse nas demais matérias e não vendo mais nenhuma graça nas aulas de matemática de minha classe, expliquei isso ao diretor Tomás e pedi permissão a ele para assistir também as aulas de matemática das classes do ensino médio. Tomás disse que eu poderia assistir as aulas do ensino médio depois que eu conseguisse a nota máxima em todas as matérias de minha própria classe. Descartei a ideia, pois não me interessava por outras disciplinas, somente por matemática e geometria. Ora, é fato bem conhecido o de que a inteligência é seletiva. Portanto, é muito natural que cada pessoa manifeste graus diferentes de interesse por assuntos diversos. Meu pedido de assistir as aulas de matemática das classes mais adiantadas fazia todo sentido, portanto. A conclusão que tiro é que a escola não se interessa pelo desenvolvimento pessoal, intelectual e social de seus alunos, mas sim pelo cumprimento de metas burocráticas. Tendo sido impedido de estudar o que queria, passei a me interessar por outras coisas. Eu queria muito ficar com uma menina chamada Marcela, uma loira descolada de cabelos curtos e corpo atraente. Na verdade eu queria levá-la para meu apartamento na Rua Comendador Queiroz, em Icaraí, onde morávamos eu, minha tia Vera Lúcia de Campos e minha avó Dermontina da Silva Campos. Queria fazer com ela tudo que vi os homens fazendo com as mulheres em minhas revistas de sexo explícito. Não tinha artifício para isso, entretanto. Se naquela época eu tivesse a cabeça que tenho hoje, poderia ter tido muitas namoradas e ficantes. Naquela época falava-se muito mais em namoro do que em ficar. O verbo “ficar” não era usado com o significado que tem hoje, de ficar beijando, acariciando e excitando descompromissadamente um parceiro ou parceira eventual. Eu propus a Marcela que ela fosse comigo para minha casa para nos relacionarmos sexualmente, mas ela não quis. Marcela se aproveitou da situação e 6 Nessa época eu cursava a oitava série do primeiro grau no Colégio Itapuca, em Santa Rosa. A loura referida no texto chamava-se Marcela e eu havia lhe proposto que fôssemos para meu apartamento fazer sexo. Eric Campos Bastos Guedes 25 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 26. passou a caçoar de mim, achando graça de minha proposta. Sua atitude autorizou os demais alunos a caçoarem de mim também, porque perceberam minha fraqueza. Passei a ser alvo de zombaria no Itapuca e isso me deixava p. da vida. A escola ficou insuportável e acabei reagindo a uma dessas provocações dando um murro na cara de um aluno. Ele, que antes era meu amigo, passou a me ignorar e quando o procurei ele disse que chamaria o irmão mais velho que era militar para me dar uma surra. Minha vida escolar ia de mal a pior, embora minhas notas estivessem acima da média. *** Três pontos a ponderar Quero destacar três coisas: primeiro, o mito de que o agressor quer ser agressor; segundo, o silêncio sobre os malefícios do atraso da iniciação sexual dos adolescentes; terceiro, o fato pouco estudado de que drogas psiquiátricas são legalizadas, porém ainda são drogas. Sobre o agressor querer ser agressor quero dizer que isso não corresponde sempre a verdade. Cada caso é um caso. Um verdadeiro agressor quer ser agressor e pode ser. Se uma agressão ocorre, uma das perguntas que se deve procurar responder é: “o agressor queria cometer a agressão ou ele perdeu o controle?”. Se o agressor perdeu o controle ele precisa de ajuda, mas se ele fez o que fez por um exercício do livre arbítrio, deverá ser punido. Responder a pergunta proposta nos orienta sobre como resolver o problema e evitar que futuras agressões ocorram. Se queremos resolver um problema, temos que entender o problema primeiro. O que tenho observado é a mídia eleger os vilões do momento, cada um deles teve a sua época: Josef Fritzl, como pedófilo, raptor e estuprador da própria filha; o casal Nardoni, pela morte de Isabela Nardoni; Suzane Von Richtofen pelo assassinato de seus pais; o maníaco do parque, pelo estupro e morte de muitas mulheres; Febrônio Índio do Brasil, pela morte e estupro de crianças. Examinando esses casos, podemos nos perguntar: “o que foi feito para evitar novas tragédias como essas?”. Não vale responder dizendo que houve um aumento da pena, por exemplo. Aumentar a pena para um crime fará o juiz relutar um pouco mais em condenar alguém por aquele crime. Na prática, talvez menos pessoas sejam condenadas. Além disso, se o mero aumento da pena resolvesse o problema ia ser muito fácil acabar com a criminalidade: bastaria punir todos os criminosos com pena máxima, digamos, uns 40 (quarenta) de reclusão. Será que o mundo passaria a ser um paraíso ou um inferno? Acho que viveríamos num inferno. Um indício forte que aponta nessa direção é o fato de as prisões da Islândia serem como hotéis de quatro estrelas: lá o condenado tem direito a duas horas por dia de Internet! Se uma punição branda favorecesse o crime, a Islândia seria um país com alto índice de criminalidade, o que não ocorre. Por outro lado, se uma punição mais severa fosse capaz de refrear o crime, o índice de criminalidade no Brasil deveria ser muito mais baixo que o da Islândia, o que também não acontece. Estamos olhando na direção errada se nos propusermos a combater o crime com o aumento das penas. Mas qual a solução para isso? Uma pista nos é dada se lembrarmos um pensamento devido a Pitágoras: “devemos educar as crianças para não ter que punir os homens”. Quero acrescentar que não é uma punição mais ou menos severa que irá resolver o problema da criminalidade. Para coibir o crime, as punições devem ser adequadas, mas não necessariamente severas. Para ilustrar o que digo lembro-me do caso do primo de um antigo amigo de meu irmão. O amigo atendia pela alcunha de Bob Cuspe. Ele nos contou que um primo seu – ou algum outro parente, não tenho certeza qual – fora preso por ter cometido um pequeno roubo ou algum delito de menor importância. Devido às ameaças, agressões e traumas que teve na prisão, saiu de lá tão Eric Campos Bastos Guedes 26 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 27. revoltado que pensava em fazer coisas muito piores. O que tenho observado é que a punição excessiva conduz a revolta do punido e à prática de crimes muito mais terríveis que os iniciais. A prisão de uma pessoa acaba sendo uma bola de neve em que cada vez que o preso é liberado por já ter cumprido a pena, ou por ter tido algum benefício, passa ele a cometer crimes muito piores. Algo análogo posso afirmar sobre internações em clínicas psiquiátricas. Em todos os casos que citei, de Fritzl, Nardoni etc, os agressores, provavelmente, queriam cometer os crimes. Não fizeram o que fizeram por terem, de algum modo, perdido o controle. O meu caso é diferente. Eu iniciei uma série de atos violentos por estar sob forte tensão e sem uma válvula de escape eficaz. Isso nos leva ao segundo tema que quero destacar: o atraso da iniciação sexual dos adolescentes. É esse atraso, muitas vezes, o responsável pelo comportamento violento de crianças e adolescentes intelectualmente promissores. É esse atraso que frustra o empenho de bons estudantes ao se sentirem na obrigação de tirar notas altas devido ao sentimento de inferioridade que tem em relação aos seus amigos e amigas que já se relacionam sexualmente. É como se notas excelentes compensassem um deficit na área afetivo-sexual. Em cada ambiente procuramos o respeito dos demais – principalmente os talentos mais promissores buscam esse respeito. A ironia é que os mais talentosos acabam negligenciando amiúde o sexo e o afeto por terem eles uma fonte muito mais interessante de prazer: sua inteligência e motivação. Porém, se essas crianças e adolescentes perdem o interesse em atividades intelectuais e se não conseguem ingressar a contento no mundo do sexo e do afeto, passam elas a correrem um risco muito grande cometerem suicídio, assassinatos, estupros, agressões violentas e coisas do gênero. O respeito que buscam pode não lhes ser dado, ainda que o mereçam. Isso deve acontecer bastante na transição da infância para a adolescência e na da adolescência para a vida adulta. Não por acaso é justamente nessas fases da vida que costumam surgir a maioria dos casos de esquizofrenia. Pode ser que essa esquizofrenia decorra da interrupção do prazer de ser inteligente e simultânea dificuldade em ingressar no mundo do sexo. A grande solução não está em pílulas, comprimidos, haloperidol ou carbamazepina, mas simplesmente numa orientação correta e bem intencionada da criança ou adolescente para fazê-los ingressar a contento no sexo! A solução pode ser simplesmente essa! E o porque de essa solução não estar sendo implementada é bem fácil de entender. O pai e, principalmente a mãe, não estão a vontade com a ideia do “bebezinho” deles ter uma vida sexualmente normal, sadia e ativa. O problema estaria muito mais na família do que na criança ou adolescente considerado problemático. A tal da criança-problema talvez seja apenas uma criança que precisa urgente de “uma boa massagem” – no segundo sentido da palavra, por favor! Sobre isso quero dizer que uma pu*a na cama é muito melhor que uma dama na sociedade. O terceiro tema está relacionado aos dois anteriores. A maioria das pessoas pensa que tranquilizantes realmente tornam as pessoas mais calmas. Extrapolando essa ideia, acham que muitas pessoas que são mentalmente enfermas precisam dos tranquilizantes para viverem em sociedade, caso contrário se tornariam agressivas e violentas. Nada disso é verdade. Se repararmos bem, as pessoas que tomam tranquilizantes – diazepam, haloperidol, carbamazepina, clonazepam, clozapina etc – tem mais propensão a serem justamente as desajustadas, as frustradas, as estranhas e as que ficam de fora dos círculos de amizade. Poder-se-ia argumentar que esse desajuste se deve à doença dessas pessoas e que o tranquilizante estaria tratando o desajuste. Esse argumento é uma distorção da verdade. O que vejo são pessoas adoecendo pelo uso de tranquilizantes. Tranquilizantes estes que, ao embotar a motivação do usuário e reduzir sua memória, atenção e capacidade de aprendizagem, sabotam o intelecto do “doente”, Eric Campos Bastos Guedes 27 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 28. privando-o do que, talvez, possa ser uma de suas maiores alegrias: o sucesso escolar e intelectual. Mais: ao reduzir a dose desses tranquilizantes ou suprimi-los, passamos por uma síndrome de abstinência. Esta última expressão costuma ser muito mais utilizada quando nos referimos a drogas ilegais e/ou ilícitas. Mas o fato de termos adquirido drogas numa farmácia, com receita médica e agindo dentro da lei não transforma essas drogas em algo diferente do que são: drogas! Nosso corpo não está nem aí para a legalidade das drogas que utilizamos: o dano cerebral ocorrerá com drogas legais ou ilegais, em menor ou maior grau. A redução ou supressão do uso de tranquilizantes costuma levar, como eu estava dizendo, a uma síndrome de abstinência. Quando ela ocorre, se não estivermos preparados, entraremos em crise e ao sairmos da crise pelo retorno ao uso das drogas dizemos a nós mesmos: “é... eu acho que preciso realmente tomar meus remédios”. Isso é tão errado como tratar o vício em crack ou cocaína com mais crack e mais cocaína. Simplesmente é o modo errado de enfrentar o problema. A relação do terceiro tema com os dois primeiros é que o uso de drogas, legais ou não, ao frustrar a criança ou adolescente pela redução de sua capacidade de aprendizagem, memória e atenção, favorece a agressão. Afinal, pessoas frustradas estão muito mais propensas a cometerem agressões do que as bem relacionadas. Além disso, a utilização de medicações psiquiátricas como o haloperidol e a clozapina tornam as pessoas muito mais envergonhadas e medrosas, o que pode ser fatal se o usuário ainda não iniciou sua vida sexual. De fato, o haloperidol, a clozapina e a risperidona são drogas tranquilizantes que nos tornam pessoas afetivamente menos interessantes e sexualmente deficitárias. Ora, levando o usuário uma vida de sucessivas frustrações de caráter afetivo, sexual e intelectual, as drogas psiquiátricas produzem uma legião de agressores, suicidas e incapazes. Não quero com isso justificar as graves agressões que cometi – falarei delas ainda mais – mas quero pelo menos explicá-las. Tentar justificar o mal é impossível, pois o mal não é justo; o que devemos, sim é entender o mal, exatamente para nos defendermos dele. Sun-Tzu nos diz em seu livro “A arte da guerra” que conhecer o inimigo nos garante metade da vitória sobre ele. E se estamos em guerra contra o mal, temos que saber de onde ele vem e como ele age. *** O porteiro gay do Colégio Itapuca Em 1987 um homossexual de nome Geraldo – funcionário do colégio Itapuca – se aproximou de mim. Ele me disse os maiores disparates. Disse que os tempos hoje são outros, mais liberais e que se eu decidisse sair na rua com o pinto duro para fora das calças, o melhor que ele poderia fazer seria ficar na minha frente para esconder meu órgão. Aquela conversa dele era um espetáculo grotesco que assisti estupefato, mas devido à novidade escutei o que ele dizia por algumas horas – veja bem: horas. Ele estava tão a fim de ficar comigo que me ofereceu o gabarito dos testes do colégio Itapuca. Recusei a ideia de cara. No fim, quando eu já estava para ir embora, me chamou para ir para sua casa transarmos. Eu não quis. Ele era um velho asqueroso e degenerado que só poderia dar tesão nem num Jegue tarado. Foi constrangedor, mas pelo menos aprendi um pouco sobre como são as pessoas. Naquela noite, em casa, fiquei profundamente angustiado. Enquanto Marcela – a loura descolada do Itapuca – me esnobava e dava bola para outros caras, eu era assediado por um gay. Abandonei o colégio Itapuca. *** Eric Campos Bastos Guedes 28 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 29. Hábitos sexuais reprováveis No primeiro semestre de 1987 ocorreu um pequeno incidente que mudou a história de minha vida e isto quase me destruiu. Academicamente, perdi uns 15 anos de estudo na UFF. Nesse tempo eu poderia ter concluído a graduação, feito o mestrado e também o doutorado. Estava indo ao apartamento onde Raphael morava com sua mãe Márcia e sua irmã Raquel quando avistei, na mesma calçada, vindo em minha direção, uma menina-mulher que devia ter mais ou menos a minha idade mesmo. Foi perto do Colégio Salesiano Santa Rosa, ou na Rua Mário Viana, ou na Rua Santa Rosa, acho. Naquela época eu ainda não havia me relacionado sexualmente e estava cheio dos hormônios próprios da adolescência. Quando via uma mulher – ou mesmo quando não via – acabava a desejando muito, mas não tinha nenhum artifício para conseguir que mulher nenhuma transasse comigo. Na verdade, cada negativa que eu recebia ao propor sexo com mulheres me desgastava muito, razão pela qual eu fiz poucas propostas de sexo às pessoas. Quando aquela menina-mulher de shorts passou ao meu lado, minha mão escorregou furtivamente até suas nádegas e ela disse: “IIIIIIhhh, garoto!”. Meu ato não foi intencional – um lapso momentâneo em que fui guiado pela minha libido. Continuei meu caminho e percebi que ficara naquilo: não houve nenhum tipo de repreensão mais eficaz além do “IIIIIIhhh, garoto!”. Imaturo e cheio de “T”, passei a fazer tal coisa de modo rotineiro. Eu sabia que era perigoso e queria parar, mas se tornou um vício. Eu realmente tentei parar algumas vezes, mas sem êxito. Quando avistava um menina bonita a mostrar o contorno da bunda em shortinhos ou calças jeans apertadas, logo me lembrava desse mal hábito e ficava tentado à sair pela rua para tocar alguma mulher. Sei que para a maioria das pessoas é difícil entender que isso era um vício: mal hábito que temos e que é difícil pararmos por nós mesmos. O que quero dizer é que é muito mais fácil aconselhar alguém a deixar um vício do que nós mesmos deixarmos os nossos. O alcoolismo, o cigarro e os tóxicos são vícios que só quem os tem saberá realmente o quanto é difícil parar. Mais que isso: certas pessoas são muito mais propensas a desenvolver vícios que outras. É muito fácil dizermos a um alcoólatra para parar de beber porque não estamos no corpo dele para saber o peso e a força de seu vício. Em se tratando de hábitos sexuais, também se pode desenvolver vícios e foi isso que aconteceu comigo. *** Mais agressões e a Marcela do Gay-Lussac Fui estudar no Colégio Gay-Lussac, no centro de Niterói. Lá conheci outra garota que, como a anterior, chamava-se Marcela. Mas era uma Marcela muito diferente. Branca, cabelos curtos e negros, inteligente, estudiosa. Ela me encantava com o que dizia e com o interesse que manifestava por ideias, conceitos e teorias. Eu gostava muito dela e Marcela estava sempre conversando comigo sobre os livros que lia e coisas assim. Era muito bom vê-la falar com tanto interesse e admiração dos livros que costumava ler. Mas eu me sentia frustrado por não acreditar ser capaz de estabelecer uma relação mais próxima com ela, tipo um namoro. Olhando em retrospecto, percebo que era isso que nós queríamos. Ou, mesmo que não quiséssemos isto, era exatamente isto que nos faria felizes. Minha grande dificuldade em me relacionar a contento com o sexo oposto foi, sem dúvida, uma barreira que demorei muito para superar e que me causava grandes e Eric Campos Bastos Guedes 29 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 30. contínuas frustrações. Se eu me considerasse um estudante excelente – não bom ou ótimo, mas excelente – as frustrações se dissipavam fácil, fácil. Na verdade eu buscava uma excelência em relação aos outros estudantes de minha classe – isso implicava em ser o melhor ou estar entre os melhores estudantes da sala. Nem sempre eu conseguia isto, entretanto. Frustrado, acabei bancando o imbecil. Fustigado por um outro aluno que bagunçava uma aula de geometria, tirando toda a graça dela, meti a ponta de um compasso na barriga dele. O caso foi parar na diretoria, que foi complacente comigo. Talvez a complacência do diretor se devesse ao fato de eu ser considerado um aluno muito bom que teve um mal momento diante de outro aluno que já era considerado problemático. Por sorte não foi feita queixa na polícia. Após a agressão, passei a ser considerado o malfeitor de minha classe. E se não me falha a memória, minha vítima se tornou, momentaneamente, um herói. Ele foi, após a agressão sofrida, aclamado pela classe e carregado nos braços sob aplausos e gritos de “viva!”7 . Apesar de eu ter sido o agressor e ele a vítima, julgo ter tido muito mais prejuízos que ele pela minha atitude irrefletida. Marcela nunca mais falou comigo e as últimas palavras que dirigiu a mim foram: “Cala a boca!” Teve uma aula de história em que fomos para a sala de audio-visual assistir um documentário a respeito do comunismo. Um outro estudante, que estava sentado atrás de mim, me cuspiu. Reclamei com o professor, que solenemente me ignorou. Pronto. Eu estava visado como o grande vilão de minha classe não tinha nada que eu pudesse fazer para reverter a situação. Era difícil prestar atenção às aulas pois passaram a jogar bolas de papel em mim, razão pela qual passei a me sentar na última fileira de carteiras da classe, lá no fundão. Também passei a ser vítima de comentários maldosos dirigidos a mim. Eu não podia me concentrar mais nas aulas, pois chegou a meu conhecimento que um grupo de alunos planejava me surrar quando estivesse só. Eu também sabia que nada do que fizesse reverteria a situação. Apesar de tudo, nada impediu que eu tirasse a maior nota da classe na prova de matemática. A nota 10. Meu professor comemorou isto, escrevendo vários recados motivadores na prova, tipo “Parabéns!”, “A melhor nota!” e coisas assim. Marcela deve ter tirado a segunda maior nota, mas cometeu pelo menos um erro, pelo que sei que sua nota não foi o 10. Aquelas palavras me motivaram a continuar a estudar. *** Zoofilia O ambiente escolar no colégio Gay-Lussac havia se tornado insuportável. Minha mãe decidiu que eu poderia ir morar com ela e o resto da família. Ela, meu irmão, meu padrasto e seu filho Sandro já moravam em Araruama há cerca de três anos. Quando eles 7 Esse episódio ilustra bem a motivação do portador da Síndrome de Münchhausen (F68.1), também conhecida como Síndrome do doente poli-hospitalizado. Apesar de nenhum dos personagens do episódio supra-relatado sofrer dessa síndrome, o incidente mostra, claramente, que alguém que venha a sofrer uma agressão considerada indevida por seu entorno social receberá carinho, aplauso e manifestação de apoio desse mesmo entorno. O portador da Síndrome de Münchhausen busca dissimuladamente e com empenho receber essa mesma manifestação de apoio e esse mesmo carinho de seus amigos e conhecidos. Para isso, procura, sempre que possível, passar a ideia de que foi uma vítima inocente de reveses e infortúnios absolutamente imerecidos. Com a finalidade de desempenhar um papel de vítima, o portador dessa patologia costuma simular doenças em si mesmo ou em familiares muito próximos (que tecnicamente são chamados de substitutos). A fim de desempenhar o papel de vítima inocente, não hexita o portador dessa síndrome em por sua própria integridade física em risco ou causar graves danos a familiares próximos, podendo mesmo chegar a cometer o assassinato de familiares, desde que estejam convictos de que seu crime não será descoberto jamais (é imprescindível que sejam sempre considerados inocentes, caso contrário deixam de receber o carinho destinado às vítimas e passam a ser alvo da recriminação destinada aos agressores). Eric Campos Bastos Guedes 30 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 31. se mudaram para lá, em 1984, fui deixado para trás, embora quisesse ter ido com eles. Sofri horrores com a malícia dissimulada de minha tia Vera Lúcia de Campos. Antes que se possa levantar qualquer defesa a minha tia, quero dizer que foi ela a arquiteta da morte de sua própria mãe, minha avó Dermontina da Silva Campos. Explicarei isso detalhadamente mais adiante. Ao mudar para Araruama passei a frequentar o colégio homônimo, mas tive que deixar o curso Kumon de matemática, pois naquela época (1987) não havia uma filial do Kumon em Araruama (hoje há). Tinha já 16 anos completos, mas ainda era virgem. Não queria continuar a sê-lo, entretanto. Mesmo tendo os hormônios a flor da pele, não era capaz de cativar uma garota a ponto de tê-la como namorada ou ficante – fazer sexo com as garotas de minha classe era um sonho impossível para mim. Naquela época talvez eu concebesse a ideia de manter relações sexuais com prostitutas, mas até então não tinha conhecimento de onde funcionasse um bordel e também não conhecia ninguém que pudesse me instruir a esse respeito. Minha mãe nunca falara sobre isso comigo e eu não tinha intimidade com meu padrasto Lourenço para lhe perguntar sobre coisas que eu julgava tão íntimas. Também, não me lembro de meu irmão Winter, ou meu agora amigo Sandro (filho de meu padrasto Lourenço), haverem comentado sobre onde se pudesse ter sexo com meretrizes. Concluí que eles não sabiam onde eu poderia encontrar garotas de programa. Eu estava num mato sem cachorro. Então, decidi fazer amizade com alguém mais simples e que encarasse o sexo com mais naturalidade do que as garotas que eu conhecia. Quis ter intimidades com a cadela Laika, da raça fila brasileiro, que tínhamos em casa. Numa noite chamei Laika para o quartinho onde eu dormia. Tirei a roupa e tive uma ereção. Laika deu uma lambida no meu membro, mas não foi além disso. Quando tentei penetrá-la, ela rosnou. Fiquei com medo dela me atacar e desisti da ideia de penetrá-la. Depois, tive medo de contrair alguma doença por ter me encostado nela e quis urgentemente tomar um banho. Não posso dizer que foi uma relação. No máximo, foi uma tentativa. *** OMERJ – Olimpíada de Matemática do Estado do Rio de Janeiro Durante o recreio, decidi abandonar o colégio Araruama. Simplesmente pulei o muro do pátio e fui para casa8 . Tendo deixado de me preocupar com a escola, passava, agora, bastante tempo lendo livros de matemática e desenvolvendo ideias nessa área. Nesse ínterim a professora Renate Watanabe – uma grande incentivadora de meus estudos – me sugeriu que participasse da OMERJ, Olimpíada de Matemática do Estado do Rio de Janeiro. Fiquei bastante animado com a ideia. Naquele tempo eu venerava os nomes dos monstros sagrados da Matemática olímpica brasileira. Considerava grandes heróis os dois únicos estudantes brasileiros que, naquela época, haviam obtido a medalha de ouro nas Olimpíadas Internacionais de Matemática: Ralph Costa Teixeira e Nicolau Corção Saldanha. Nunca os havia conhecido pessoalmente, mas tomei conhecimento da existência deles através do professor Faraday. Também soube dos feitos espetaculares desses dois grandes matemáticos pela Revista do Professor de Matemática (RPM)9 . A OMERJ tinha duas fases. A primeira delas consistia numa prova objetiva 8 Naquele tempo (1987) era muito fácil fazer isso, pois o muro era suficientemente baixo. Depois puseram um muro bem mais alto. 9 A Revista do Professor de Matemática (RPM) é uma publicação periódica da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) destinada à professores e estudantes dessa disciplina. A professora Renate Watanabe providenciou que eu recebesse os números da RPM regularmente, na qualidade de assinante. Eric Campos Bastos Guedes 31 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 32. (assinalar com o tal do “X” a opção correta entre as 5 oferecidas) com 20 questões de dificuldade média. Passei nessa fase com certa facilidade. Nas 20 questões da prova, cometi um único erro. Fiquei bastante animado com isso e fiz muitas expectativas. Vislumbrava uma premiação após a segunda fase. Entretanto, para minha grande decepção, tive um resultado muito ruim na prova final, que tinha menos de 8 questões, mas eram muito mais difíceis que as da primeira fase. Fiz 4 pontos em 60 e devo ter ficado em penúltimo ou antepenúltimo lugar entre os 20 finalistas na minha categoria (prova para o 1º ano do segundo grau)10 . Voltei desolado para Araruama. *** Testosterona Cabe fazer alguns comentários muito pertinentes antes de continuar. Em primeiro lugar, é fato bem conhecido haver muito mais líderes do sexo masculino do que do sexo feminino. Se nos perguntarmos sobre o motivo para isso, uma das resposta possíveis será o hormônio chamado testosterona. Este hormônio é um dos grandes responsáveis pela qualidade de liderança. Quem tem mais testosterona terá, do ponto de vista endócrino, mais talento para liderar do que quem tem menos. E por esse hormônio ser muito mais atuante nos homens, isso explica porque é mais comum haver mais líderes homens do que do sexo oposto. Uma das principais características dos líderes talvez seja agressividade. A agressividade pode significar coisas ruins, como hostilidade, destrutividade ou violência física, mas nem sempre isso ocorre. Agressividade também pode significar coragem e ousadia. Pode-se encarar a agressividade como a qualidade de ser agressivo. Nesse caso, ser agressivo pode ser interpretado como ser empreendedor ou audacioso, como na expressão “vendedor agressivo”. Do mesmo modo, ser agressivo também pode significar ser arrojado e corajoso, como na expressão “campanha publicitária agressiva”. Vimos, pois, que agressividade pode nos remeter a qualidades típicas da liderança, a saber: coragem, ousadia e empreendedorismo. O principal hormônio regulador da agressividade no ser humano é a testosterona. Isso nos faz entender o maior número de líderes do sexo masculino do que do feminino. Também explica porque os homens costumam recorrer mais à violência física que as mulheres: eles tem muito mais testosterona. O fato notável é que impulsos sexuais e agressividade estão fortemente relacionados. A propensão ao sexo e à agressividade parecem brotar da mesma fonte. De fato, citando Steve Biddulph em seu livro “Criando Meninos”: “Sexo e agressividade estão ligados de algum modo – controlados pelos mesmos centros no cérebro e pelo mesmo grupo de hormônios.” Uma pesquisa reveladora mostrou, em 1980, uma forte conexão entre impulsos sexuais e delinquência juvenil. Citando a mesma fonte: “os meninos são muito mais propensos a problemas com a polícia seis meses antes de 10 Naquela ocasião, Ralph Costa Teixeira também participou dessa mesma competição. Entretanto ele fez a prova referente ao 3º ano do segundo grau. O professor responsável – um matemático de origem portuguesa – anunciou, enlevado, que Ralph obtivera a medalha de ouro em sua categoria ao ser o único a resolver todas as questões da prova com absoluta correção. O mesmo professor, que antes da realização da prova soubera de meu grande interesse por Matemática, fez, em seu discurso de divulgação dos resultados, menção a uma certa “decepção”, sem explicar, entretanto, exatamente a que se referia. A carapuça acabou servindo. Eric Campos Bastos Guedes 32 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 33. sua primeira experiência sexual. Em outras palavras, eles se acalmam um pouco quando começam a fazer sexo.” O meu palpite é que da mesma fonte que brota a violência física, mina também a energia psicossexual. A agressividade pode se transformar tanto em violência física quanto em força sexual, bem como em intensa produção intelectual, tenha ela caráter artístico, filosófico ou científico. Se a agressividade não for adequadamente canalizada, ela pode estourar como violência (auto)destrutiva e descontrolada. Se nos conscientizarmos que o atraso da iniciação sexual dos meninos pode torna-los vítimas de chacotas, comentários maldosos e insinuações que põem em dúvida sua masculinidade, estaremos aptos a concluir que um garoto com dificuldades em se relacionar com meninas terá sucessivas frustrações afetivo-sexuais ao mesmo tempo em que armazena grande agressividade. O resultado disso costuma ser trágico. Pode resultar em crimes aparentemente inexplicáveis, como os casos em que o filho mata os pais, tios ou os avós. Adolescentes considerados inteligentes e estudiosos, me parece, estão mais propensos a explodir sua agressividade como violência descontrolada contra sua família. Seriam considerados inteligentes por estarem canalizando sua energia para ciência e demais estudos, numa tentativa de manter aberta essa válvula de escape e, assim, reduzir suas frustrações afetivo-sexuais. Neste caso, quanto mais incentivo e facilidade encontrarem para estudar e aprender, quanto mais recompensas justas por seus esforços eles tiverem, mais longe irão. O caso emblemático foi o de Isaac Newton, físico e matemático inglês do século XVII que pode muito bem ser considerado o maior cientista de todos os tempos. Newton se absteve de relações sexuais durante toda sua longa vida e sua produção intelectual foi algo sem precedentes. Alguns chegaram a achar que ele não era humano. Sobre Newton, afirmou-se: “mais perto dos Deuses nenhum mortal pode chegar”. O caso de Newton foi o de ter tido ele êxito em canalizar quase toda sua agressividade para seus estudos, pesquisas e teorias. *** Facada no padrasto Após o fracasso da participação na OMERJ, retornei a Araruama. Já havia saído da escola, desmoralizado, por não ter sido capaz de manter relações sexuais com garotas lá. Isso não teria sido problema se eu não as desejasse. Meu desejo por garotas foi aumentado muitas vezes após ter estabelecido o hábito de me masturbar e também aumentou muito após a aquisição de material pornográfico. No entanto, eu permanecia virgem. O episódio com a cadela Laika já demonstrara minha ânsia e era o tipo de coisa da qual eu não podia fugir. Em qualquer lugar que fosse, haveria pessoas. Os homens zombariam de mim – de um modo ou de outro – ao perceberem o quanto eu era incapaz de ter relações com garotas. As meninas, por sua vez, continuariam a me desprezar como amante, por culpa de minha própria imperícia. Somando minha ânsia por sexo à persistente incapacidade de me relacionar sexualmente e à inevitável frustração disso resultante, havia aí uma bomba relógio que esperava o momento de explodir. Já há algumas semanas minha convivência com meu padrasto Alcemir Lourenço de Souza estava insuportável. Lourenço tinha um palavreado grotesco e ofensivo que dirigia especialmente a mim. Certa vez eu havia dito “Hoje vou fazer uma coisa que não faço há muito tempo” e ele respondera de pronto “Vai dar três cagadas sem tirar o cu do vaso”. Apesar de meu comentário ser desnecessário e pretensioso, isso não era motivo para ter tido aquela resposta. Eric Campos Bastos Guedes 33 O Povo Cego e as Farsas do Poder