1. UNIÃO NACIONAL PARA A INDEPENDÊNCIA TOTAL DE ANGOLA
UNITA
III CONFERENCIA SOBRE A PAZ E ESTABILIDADE NA ÁFRICA AUSTRAL
Quando analisamos com alguma profundidade as razões que nos levaram à
guerra em 1975, concluimos facilmente que uma das principais razões foi, sem dúvida,
o espírito de vanguarda, no pior sentido, que catalisou a exclusão do outro que tinha
que ser afastado do caminho a qualquer custo, pois, “nós somos O ÚNICO
REPRESENTANTE DO POVO ANGOLANO”. Todas as outras razões, inclusivê a entrada em
cena das grandes potências foram, do meu ponto de vista, potenciadas por esta
desmedida ambição de VANGUARDA que estava acintosamente patente na estratégia
dos nossos compatriotas do MPLA.
Para sustentar esta ambição de vanguarda era necessário contar uma história que
fizesse sentido, que justificasse a condição de VANGURDA reclamada e isto só podia ser
feito distorcendo a história a seu favor e impondo-a como a única e verdadeira. Deste
modo o MPLA foi contando a história a sua maneira (distorcida) e um dos capítulos que
mais distorções sofreu foi sem dúvida o capítulo relacionado com o NACIONALISMO
ANGOLANO que na verdade se confunde com a luta de libertação, a luta anti-colonial e
pela independência. O MPLA usou todos os meios ao seu alcance (meios poderosos,
diga-se) para que a sua versão se firmasse, mas como a história é teimosa e a verdade
vem sempre a tona, esta história não se sustentou e o tempo vem tratando de
desconstrui-la aos poucos.
Hoje, quando nos detemos a reflectir sobre o momento político e social que o país vive
percebemos nitidamente que nos encontramos numa encruzilhada: o país vacila entre
consolidar as conquistas democráticas alcançadas, a duras penas, em 1992 e o retorno
esquizofrénico ao monolitismo que esteve na base do conflito atroz que por décadas
dilacerou o país. Esta tendência monolítica é hoje impulsionada por forças estruturadas
em torno de uma elite que se tornou poderosa e hegemônica fruto do açambarcamento
despudorado das nossas riquezas, ampliando exponencialmente as franjas de miséria e
aprofundando assustadoramente o fosso social que separa ricos e pobres. Para
sustentar este poder foi outra vez ressuscitado o fantasma da história única, distorcendo
os factos que marcaram a história recente de Angola.
2. Em 1976 a UNITA diante das gigantescas dificuldades que se colocaram naquele
contexto tinha a opção cómoda de desistir da luta e conformar-se com a situação, mas,
sob a sábia liderança de Jonas Malheiro Savimbi fez a opção mais difícil e impensável
naquelas circunstâncias: RESISTIR. Desde então a UNITA agigantou-se, descreveu
páginas de ouro da história recente de Angola, percorrendo um caminho sinuoso que
culminou em 1992 com o MPLA vergado à democracia multipartidária e à economia de
mercado, bandeiras por nós sempre defendidas. Ao agir assim assumimos a
responsabilidade histórica de patrocinar e defender por todos os meios a democracia
como plataforma incontornável para a edificação da Nação angolana.
Portanto, em relação aos factos que se pretendem hoje distorcer, forjando uma nova
versão da história única, nós somos verdadeiros protagonistas e não pudemos assistir
resignados a este exercício doentio. Quando as forças retrógrads do monolitismo se
agigantam somos chamados, mais uma vez a erguer a nossa voz, fazendo vingar
firmemente a nossa posição tal como heroicamente o fizemos em 1976. A diferença é
que hoje temos que fazê-lo com recurso a outras armas, armas não letais, mas ainda
assim muito poderosas: o conhecimento, a informação e a comunicação. O poder destas
armas está hoje fortemente incrementado a custa de uma matriz tecnológica que eleva
a sua potência a um expoente incomensurável. Precisamos, portanto, é de nos capacitar
permanentemente para nos posicionarmos criticamente no novo contexto tecnológico
e desta forma promovermos o uso racional e a nosso favor destas importantes
ferramentas.
O efeito verdadeiramente devastador que teve a primeira conferência nas hostes do
nosso adversário político demonstram que estamos no caminho certo. Conhecimento
nós temos, até porque, como protagonistas da história acumulamos conhecimento que
universidade nenhuma no mundo nos pode oferecer.
O nosso prelector de hoje é uma prova eloquente disso. Ele traz o valor agregado de
combinar a experiência forjada na luta com um percurso acadêmico ímpar o que faz dele
uma verdadeira biblioteca viva dos acontecimentos que marcaram a história recente de
Angola.
Por si só ALMERINDO JAKA JAMBA dispensa qualquer apresentação e eu vou fazê-lo
apenas em obediência à praxe que caracteriza este tipo de evento e quero desde já
dizer, Dr. Jaka Jamba, que me sinto muito honrado por ter sido escolhido para
apresentá-lo aqui.
ALMERINDO JAKA JAMBA, nasceu em Katchiungo-Huambo, em 21/03/1949, conta,
portanto 65 anos de idade.
Licenciou-se em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa (Portugal) em 1972 e é
Mestre em Relações Internacionais/Estudos Diplomáticos Superiores desde 2007, pelo
Instituto de Altos Estudos Internacionais/Centro de Estudos Diplomáticos e Estratégicos
(Paris???)
3. Conta ainda com pós-graduações em Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade
de Genebra, Suíça, 1974, e em Resolução de conflitos na Universidade de Uppsala
(Suécia), em 1998.
O Dr. Jaka Jamba é docente da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho
Neto, com a categoria de Professor Auxiliar onde lecciona as disciplinas de Filosofia e
Lógica; É também docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações
Internacionais(CIS) onde lecciona Diplomacia e Negociação Internacional.
O Professor Jaka Jamba tem os seus interesses científicos voltados para a Filosofia
africana, História da filosofia, antropologia cultural, sendo autor de vários artigos e
comunicações publicadas em diversas revistas da especialidade.
O Professor Jaka Jamba é detentor de um currículo político singular que fez dele
Membro do Governo de Transição de Angola em 1975; exerceu múltiplas funções no
Partido durante a resistência russo-cubana. Foi deputado à Assembleia Nacional pela
UNITA tendo ocupado o cargo de Vice-Presidente e foi ainda Representante
Permanente da República de Angola junto da UNESCO na vigência do GURN (2004-
2008). É actualmente o Secretário Nacional para a Cultura da UNITA.
Trata-se, como se vê, de uma figura autorizada para nos falar do tema:
A COMPLEXIDADE E A CONFLITUALIDADE DO NACIONALISMO ANGOLANO, 1961 -1991
– OS DESAFIOS DA RECONCILIAÇÃO NACIONAL