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IMPLANTAÇÃO DO HACCP NA
                                                INDÚSTRIA DE ALIMENTOS




                                                             Veruschka Franca de Figueiredo
                                              Escola Politécnica da USP – Engenharia de Produção

                                                           Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto
                                              Escola Politécnica da USP – Engenharia de Produção
                                                  Universidade Paulista – Engenharia de Produção
 v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001              Faculdade Tancredo Neves – Engenharia de Produção


Resumo

    O conceito da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) é uma abordagem
sistemática para garantir a segurança do alimento. O método é baseado em vários princípios
diferentes de detecção direta ou indireta de contaminação. O objetivo é controlar a segurança do
alimento analisando os perigos em potencial, planejando o sistema para evitar problemas, envolvendo
os operadores em tomada de decisão e registro das ocorrências. O conceito da HACCP (APPCC)
deveria ser aplicado em conjunto com as Boas Práticas de Fabricação. Este artigo discute a
importância da HACCP (APPCC) na Indústria de Biscoito e que tipo de contaminação é o ponto
fraco neste produto. A experiência indicou que existem diversos problemas iniciais na implementação
da HACCP, contudo benefícios tangíveis podem ser alcançados a partir da redução das reclamações
do consumidor.

Palavras-chave: HACCP, APPCC, alimento, segurança e perigo.


1. Introdução                                      dimensão do seu significado? A qualidade
                                                   envolve muitos aspectos simultaneamente e

O    termo qualidade há muito tempo já faz
    parte do vocabulário de muitas pessoas,
mas como defini-lo de forma a atingir toda a
                                                   sofre alterações conceituais ao longo do tempo
                                                   (PALADINI, 1996).
                                                      Alguns conceitos de qualidade foram estrutu-
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001                         101


rados tendo a satisfação do consumidor como o        um sistema baseado numa forma sistemática de
elemento principal:                                  identificar e analisar os perigos associados com a
    • “Qualidade é a adequação ao uso”               produção de alimentos e definir maneiras para
       (JURAN & GRYNA, 1993).                        controlá-los (STRINGER, 1994), apresentado a
    • “Qualidade é a condição necessária de          seguir.
       aptidão para o fim a que se destina” (Or-
       ganização Européia de Controle da Quali-      a) Histórico
       dade, 1972 apud PALADINI, 1996).
    • “Qualidade é o grau de ajuste de um pro-           No início de 1970, uma série de fatos aconte-
       duto à demanda que pretende satisfazer”       ceu nos Estados Unidos em relação a problemas
       (JENKINS, 1991 apud PALADINI, 1996).          relacionados com a segurança dos produtos que
    É interessante ressaltar que esses conceitos     estavam sendo consumidos, originando o seguinte
correlacionam os interesses da empresa com o         questionamento: “Como em 1969 os EUA foram
atendimento às necessidades do cliente. Logo, para   capazes de enviar o homem à lua e em 1970
que se tenha uma contínua evolução da qualidade,     ainda temos incidentes que comprometem a
deve-se saber o quanto os consumidores estão         segurança dos nossos produtos?” A resposta
satisfeitos com os produtos que estão adquirindo.    encontrada foi que seria necessário promover
    A qualidade hoje é uma vantagem competiti-       uma mudança na forma de desenvolver e
va que diferencia uma empresa de outra, pois os      produzir alimentos, tornando-a mais científica e
consumidores estão cada vez mais exigentes em        controlada (BENNET & STEED, 1999).
relação à sua expectativa no momento de                  O termo alimento seguro é um conceito que
adquirir um determinado produto. Logo, as            está crescendo na conjuntura global, não somente
empresas que não estiverem preocupadas com           pela sua importância para a saúde pública, mas
esta busca pela qualidade poderão ficar à            também pelo seu importante papel no comércio
margem do mercado consumidor.                        internacional (BARENDSZ, 1998). Este sistema
    Quando se fala em qualidade para a indústria     foi utilizado pela primeira vez, nos anos 60, pela
de alimentos, o aspecto segurança do produto é       Pillsburg Company, junto com a NASA (National
sempre um fator determinante, pois qualquer          Aeronautics and Space Administration) e o U.S.
problema pode comprometer a saúde do                 Army Laboratories em Natick, com o objetivo
consumidor. É de se esperar, pois, que as boas       de desenvolver um programa de qualidade que,
empresas que atuam nesse ramo de atividade           utilizando algumas técnicas, desenvolvesse o
tenham algum sistema eficaz para exercer esse        fornecimento de alimentos para os astronautas
controle, um dos quais é discutido neste artigo.     da NASA (BENNET & STEED, 1999), sendo
    Julgamos que, com isso, possamos contribuir      apresentado ao público pela primeira vez em
para a discussão do tema, pois, se no Brasil há      1971, durante a conferência nacional para
empresas líderes do ramo de alimentos que estão      proteção de alimentos, realizada nos Estados
implementando sistemas de gerenciamento da           Unidos (ATHAYDE, 1999).
qualidade, ainda existe um grande número de              A legislação em segurança do alimento é
outras empresas que não aplicam ferramentas          geralmente entendida como um conjunto de
para garantir a qualidade de seus produtos.          procedimentos, diretrizes e regulamentos elabo-
                                                     rados pelas autoridades, direcionados para a
                                                     proteção da saúde pública. A HACCP foi uma
2. HACCP
                                                     ferramenta desenvolvida originalmente pelo

A     HACCP (Hazard Analysis and Critical
     Control Points) ou APPCC é a sigla para
análise de perigos e pontos críticos de controle,
                                                     setor privado para garantir a segurança do
                                                     produto e atualmente está sendo introduzida na
                                                     legislação de vários países (JOUVE, 1998).
102             Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos


    A partir de 14 de dezembro de 1995, todas as         • Há possibilidade de recontaminação do
empresas de alimentos da União Européia deve-              produto após a etapa de eliminação dos
riam ter um sistema de HACCP implementado.                 patógenos?
Este foi o resultado de diretrizes da EEC / 93-43,       • Há possibilidade do produto estragar
aprovada pelo Conselho da Europa em 14 de                  durante a distribuição ou consumo? e
junho de 1993 (GRIJSPAARDT-VINK, 1994).                  • Há um tratamento térmico final?
    No Brasil, apesar de existirem alimentos com
padrões de excelência comparáveis aos pro-            b) Conceituação
duzidos nos países do Primeiro Mundo, ainda
existem problemas que comprometem a qua-                  O conceito de HACCP permite um estudo
lidade e apresentam riscos à saúde humana             sistemático para identificar os perigos, avaliar a
(BRANDIMARTI, 1999).                                  probabilidade deles acontecerem durante o pro-
    Nas pequenas indústrias, podem ser aponta-        cessamento, a distribuição ou o uso do produto e
das como questões ainda não resolvidas a falta        definir meios para controlá-los (ILSI, 1997).
de aplicação das BPF (Boas Práticas de                    O sistema de análise de perigos e pontos
Fabricação) (BRANDIMARTI, 1999). Apesar               críticos de controle (APPCC ou HACCP) é um
das BPF e do método APPCC estarem estabele-           método embasado na aplicação de princípios
cidos na legislação por meio de leis, decretos e      técnicos e científicos de prevenção, que tem por
portarias (Portarias no 1428 / 93 e no 326 / 97 do    finalidade garantir a inocuidade dos processos de
Ministério da Agricultura (MA); Portarias             produção, manipulação, transporte, distribuição
no 40 / 98 e 46 / 98 do MA), sua aplicação apesar     e consumo dos alimentos. Esse conceito cobre
de notáveis exceções, é quase inexistente             todos os fatores que possam afetar a segurança
(BRANDIMARTI, 1999). Inicialmente, o sistema          do alimento (ATHAYDE, 1999).
HACCP desenvolvido pela “The Pillsbury                    As BPF são um pré-requisito para a imple-
Company” consistia de três princípios (JOUVE,         mentação de HACCP e esse está correlacionado
1998):                                                com a garantia da qualidade (JOUVE, 1998).
    • Análise de perigo e avaliação do risco;             A contaminação microbiológica é conhecida
    • Determinação dos pontos críticos de             como a mais ameaçadora à saúde humana;
       controle; e                                    contudo, a presença de resíduos químicos
    • Monitoramento dos PCC’s.                        também oferece grande ameaça, principalmente
    A avaliação do risco levava em consideração       quando analisados os efeitos no longo prazo.
três características (BAUMAN apud JOUVE,              Além disso, a contaminação microbiológica
1998):                                                pode ser bastante controlada, pelas Boas Práticas
    • O produto contém algum ingrediente              de Higiene, durante o manuseio e processamento
       sensível?                                      dos alimentos, enquanto a contaminação química
    • Há uma etapa do processo que elimina o          é em geral bastante difícil de ser controlada
       perigo? e                                      (BARENDSZ, 1998).
    • Há potencial de danos causados pelo                 Segundo o “Codex Alimentarius”, o sistema
       produto?                                       de HACCP consiste em seguir os seguintes
    Em 1989, expandiu-se esse processo de avali-      princípios (ILSI, 1997):
ação dos riscos para seis etapas (JOUVE, 1998):           • Identificar os perigos e analisar os riscos
    • O produto é direcionado para o consumi-                de severidade e probabilidade de ocor-
       dor na população de alto risco?                       rência;
    • O produto contém ingredientes sensíveis?            • Determinar os pontos críticos de controle
    • Há uma etapa que destrói os microorga-                 necessários para controlar os perigos iden-
       nismos patogênicos?                                   tificados;
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001                       103


   • Especificar os limites críticos para garantir   científicas. Representa uma atitude pró-ativa
      que a operação está sob controle nos pon-      para prevenir danos à saúde e enfatizar a
      tos críticos de controle (PCC);                prevenção de problemas, ao invés de se focar no
   • Estabelecer e implementar o monitora-           teste do produto final. Pode ser utilizado em
      mento do sistema;                              qualquer estágio da cadeia de produção, desde a
   • Executar as ações corretivas quando os          produção primária até a distribuição, e até
      limites críticos não foram atendidos;          mesmo nos locais que oferecem serviços de
   • Verificar o sistema; e                          alimentação e em casa (JOUVE, 1998).
   • Manter registros.                                   Entretanto, alguns dos problemas encontrados
   O embasamento do sistema de HACCP tem o           pelas pequenas indústrias na implantação dos
termo perigo como um agente nocivo, ou condi-        sistemas de HACCP são: insuficiente suporte
ção do alimento inaceitável, que pode causar         técnico, concentração de funções, disponibili-
algum efeito de saúde adverso. Segundo ILSI          dade financeira e de tempo para implementar
(1997) os perigos podem ser provocados por:          a HACCP (KIRBY apud PETA &
   • A presença inaceitável de uma contamina-        KAILASAPATHY, 1995).
      ção química, física ou microbiológica na           O “Codex Alimentarius” recomenda a
      matéria-prima, no produto semifabricado        seguinte seqüência para implementação do
      ou no produto final;                           sistema de HACCP (WHO, 1997 e ILSI, 1997):
   • Potencial de crescimento ou de sobrevi-
                                                     1. Formação da equipe de HACCP
      vência de microorganismos ou de produ-
                                                        A equipe deve ter uma formação multidisci-
      ção de substâncias químicas no produto
                                                        plinar. As pessoas devem estar familiarizadas
      semifabricado, no produto final ou no
                                                        com os produtos e seus métodos de elabora-
      ambiente da linha de produção; e
                                                        ção. As pessoas integrantes da equipe devem
   • Recontaminação do produto semifabri-
                                                        ter poder de convencimento, liderança e
      cado ou do produto final com microor-
                                                        capacidade de multiplicação dos conceitos.
      ganismos, produtos químicos ou corpos
                                                        O líder da equipe deve ter treinamento e
      estranhos.
                                                        habilidade suficiente em HACCP. O escopo
   Um alimento seguro, que não cause mal à sua
                                                        do estudo deve ser definido, sabendo-se quais
saúde e não ofereça dúvidas em relação à sua
                                                        etapas da cadeia produtiva devem ser envol-
composição e peso, é uma das mais importantes
                                                        vidas.
características da qualidade que correspondem às
expectativas do consumidor (BERG apud                2. Descrição do produto
BARENDSZ, 1998).                                        Uma detalhada descrição do produto deve ser
   Vários perigos podem comprometer a segu-             feita, incluindo sua composição química e
rança dos alimentos, tais como:                         física, o tipo de embalagem, o transporte
   • Microbiológico (coliforme fecal, salmo-            utilizado na distribuição, as condições de
      nella, listeria);                                 armazenagem e o tempo de vida útil.
   • Nutricional (consumo de gordura, nível de
                                                     3. Identificação do uso
      obesidade);
                                                        Deve-se identificar qual o público-alvo do
   • Ambiental (pesticida, metal pesado,
                                                        produto e saber se faz parte de um segmento
      nitrato);
                                                        particular da população (bebês, idosos,
   • Natural (ingredientes); e
                                                        enfermos, adultos, etc.).
   • Aditivos alimentares.
   HACCP é uma técnica sistemática e racional        4. Construção do diagrama de fluxo
para se prevenir a produção de alimentos                Deve-se resumir o fluxo de processo em um
contaminados, baseada em análises e evidências          diagrama simplificado, que forneça um
104             Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos


   esboço do processo e realce a localização dos         uma série de perguntas para cada etapa de
   perigos potenciais identificados. É importante        elaboração do produto (anexo 1).
   não negligenciar nenhuma etapa que possa              Muitos pontos críticos de controle sugerem
   afetar a segurança do alimento.                       uma análise de riscos irreal, enquanto poucos
5. Confirmação no local das etapas descritas no          PCCs identificados indicam que podem existir
   fluxograma                                            riscos que não foram considerados. Por isso, a
   Uma vez estabelecido o diagrama operacio-             etapa de identificação dos PCCs é um aspecto
   nal, deve-se efetuar a inspeção no local,             crítico do estudo de HACCP (BUCHANAM
   verificando a concordância das operações              apud PETA & KAILASAPATHY, 1995).
   descritas com o que foi representado. Esta            Note-se que existem algumas partes do
   etapa irá assegurar que os principais passos          processo ou equipamento que a empresa quer
   do processo terão sido identificados e pos-           monitorar, mas não são PCCs levantados pela
   sibilitar os ajustes necessários.                     HACCP. Estes pontos podem ser identifica-
                                                         dos como pontos de controle (PCs) da quali-
6. Listar todos os perigos, analisar os riscos e         dade e são controlados para evitar um desvio
   considerar os controles necessários                   nos PCCs, que protegem a saúde pública. Um
   Todos os perigos em potencial, relacionados           exemplo de PC pode ser um ímã, quando um
   a cada etapa do processo, devem ser identifi-         detector de metal está colocado numa etapa
   cados com base na experiência dos membros             posterior do processo, sendo este o PCC
   da equipe e nas informações de saúde pública          (BENNET & STEED, 1999).
   sobre o produto. A análise dos riscos deverá
   ser feita considerando os seguintes fatores:       8. Estabelecer limites críticos para cada PCC
   • Probabilidade de ocorrência do perigo e             Os limites críticos são aqueles que separam
      sua severidade em relação aos efeitos              os produtos aceitáveis dos inaceitáveis,
      adversos à saúde;                                  podendo ser qualitativos ou quantitativos.
   • Evolução qualitativa e quantitativa da              Cada parâmetro estabelecido deve ter o seu
      presença do perigo;                                limite crítico estabelecido, de forma a manter
   • Capacidade de multiplicação e sobrevi-              a visão clara das medidas de controle dos
      vência dos microorganismos; e                      PCCs.
   • Produção ou permanência nos alimentos               O estabelecimento desses limites deve estar
      de toxinas, agentes químicos ou físicos.           baseado nos conhecimentos disponíveis em
   Quaisquer medidas de controle existentes ou           fontes como: legislação, literatura científica,
   que poderiam ser aplicadas devem ser lista-           dados de pesquisas reconhecidas, normas
   das. Mais de uma medida de controle pode              internas da empresa, etc.
   ser necessária para controlar um perigo e          9. Estabelecer um sistema de monitoramento
   mais de um perigo pode ser controlado por             para cada PCC
   uma mesma medida de controle.                         Para assegurar que as medidas de controle
7. Determinar os pontos críticos de controle             operem como planejado nos PCCs e detectem
   (PCC)                                                 qualquer perda de controle, é necessário defi-
   Um PCC é uma etapa na qual um controle                nir um sistema de monitoramento dos PCCs.
   pode ser aplicado, sendo essencial prevenir           Neste deve estar definido qual o procedimen-
   ou eliminar um perigo relativo à segurança            to de controle que deve estar associado a cada
   dos alimentos, reduzi-lo ou mantê-lo em nível         PCC. Os métodos de controle devem ser
   aceitável. Identificar os PCCs no estudo de           rápidos, para serem efetivos. O sistema de
   HACCP pode ser facilitado utilizando-se uma           monitoração deve permitir, quando possível,
   árvore decisória, que consiste em se fazer            que os ajustes sejam feitos antes que uma
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   medida exceda os limites críticos. Medidas       confusão de que a ISO 9000 garante 100% de
   físicas e químicas são às vezes preferíveis a    produtos de primeira qualidade (STRINGER,
   testes microbiológicos, porque podem ser         1994).
   levantadas rapidamente e, muitas vezes, indi-        Entretanto, a ISO 9000 serve de suporte para
   cam a condição microbiológica do produto.        a implementação da HACCP e, juntos, são
                                                    fundamentais para promover o sucesso da
10. Estabelecer ações corretivas                    indústria de alimentos, pois suas recomendações
    Ações corretivas específicas devem ser          se complementam. A HACCP é utilizada para
    definidas para cada PCC identificado no         identificar os PCCs, enquanto a ISO 9000 é
    sistema HACCP, a fim de que possam trazer       usada para controlar e monitorar aspectos
    o PCC sob controle, definir o que fazer com o   críticos para a qualidade.
    produto que saiu enquanto o PCC estava fora         A HACCP é focada somente no que é crítico
    de controle e descobrir porque o PCC estava     para garantir um alimento seguro, livre de
    fora de controle. Os desvios e procedimentos    contaminações físicas, químicas e microbiológi-
    para disposição dos produtos devem estar        cas, que possam causar doenças ou danos ao
    documentados.                                   consumidor.
11. Estabelecer procedimento de verificação             Para implantar a ISO 9000, a empresa deve
    A aplicação de métodos de verificação e         analisar os elementos de conformidade e definir
    auditoria, procedimentos e testes, incluindo    quais atividades afetam a qualidade, definindo
    amostragem e análises aleatórias, podem ser     depois quais são os procedimentos, instruções e
    utilizadas para testar se o sistema HACCP       técnicas que devem ser empregadas para
    está funcionando corretamente. De maneira       controlar essas atividades (BENNET & STEED,
    regular ou não planejada, a informação          1999). Esta visão propicia que a política das
    disponível no sistema HACCP deve ser            empresas de alimentos evolua em direção ao
    sistematicamente analisada.                     conceito de alimento seguro, suportada por um
                                                    eficiente sistema de gerenciamento da qualidade
12. Estabelecer documentação e manter registros     (BARENDSZ, 1998).
    Os procedimentos do sistema HACCP devem             Um dos grandes problemas dos sistemas
    estar documentados, assim como os registros     HACCP e ISO 9000 é o excesso de documenta-
    das atividades de monitoramento dos PCCs,       ção, logo é importante ressaltar que somente se
    das ações corretivas relacionadas aos desvios   deve documentar o que é importante para a
    e das modificações do sistema HACCP. Estas      qualidade, a segurança dos alimentos e a
    informações devem ser mantidas para             satisfação do consumidor, além de manter
    acompanhamento e revisões subseqüentes.         sempre atualizada essa documentação. A
                                                    inclusão da HACCP como apoio ao sistema de
3. ISO 9000 e HACCP                                 qualidade da norma ISO 9000 é a melhor opção
                                                    para as indústrias alimentícias (BENNET &
    preciso notar que o certificado ISO 9000 não    STEED, 1999). A HACCP pode ser incorporada
Égarante a qualidade do produto, mas que a          ao sistema ISO 9000 e certificada como parte
empresa possui um sistema de garantia da            dele (STRINGER, 1994).
qualidade capaz de produzir produtos compatí-
veis com as especificações desejadas. Confunde-
                                                    4. Considerações Importantes
se muito este tipo de certificação com certifica-
ção de produto, estabelecendo-se uma relação
direta entre ela e a qualidade final do produto
(OLIVEIRA, 1999). Existe também a freqüente
                                                    A    adoção pelo “Codex Alimentarius” do
                                                         documento “Hazard Analysis and Critical
                                                    Control, Point System and Guidelines for its
106             Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos


Application” (Sistema de Análise de Perigo e          alimentos. As Boas Práticas de Fabricação (BPF)
Ponto Crítico de Controle e Guia para sua             são um conjunto de regras que definem formas
Aplicação) aprovou internacionalmente a               ideais de fabricação, a partir de mudanças nos
HACCP como sistema eficiente para garantir a          métodos de limpeza, comportamento das pessoas
segurança dos alimentos. Contudo, isto é o            envolvidas, equipamentos e edifícios, buscando
reflexo do excelente trabalho da indústria de         eliminar as fontes genéricas de possíveis
alimentos e da comunidade científica internacio-      contaminações de um produto (CARBALLIDO
nal para desenvolver um método que, quando            et al., 1994).
implementado corretamente, pode aumentar                  Dessa forma, é interessante que se tenha a
significativamente o controle sobre os riscos de      aplicação das BPF antes da implementação da
problemas causados à saúde da população por           HACCP, pois haverá um direcionamento dos
ingestão de alimentos (JOUVE, 1998).                  esforços para os pontos específicos de contami-
    Um grande número de informações, matérias-        nação do produto. Contudo, é possível que a
primas utilizadas, transformações químicas e          HACCP seja aplicada em conjunto com as BPF,
físicas que acontecem nas etapas de fabricação,       desde que se tenha claramente definido as
bem como os principais tipos de contaminação          diferenças entre os riscos que podem ser
inerentes ao produto, devem ser levantados para       controlados pelas BPF daqueles que exigem
utilização da ferramenta HACCP. Estes dados           modificação no processo ou algum controle
nem sempre estão disponíveis e sua pesquisa           específico.
deve ser considerada como uma etapa prelimi-              Observa-se que grande parte das contamina-
nar. Qualquer falha no levantamento dessas            ções é possível de ser evitada a partir da
informações pode significar erros no resultado        aplicação correta das BPF. Isto significa a
final do estudo de HACCP.                             necessidade de um grande comprometimento das
    Após a aplicação da HACCP, são listados os        pessoas envolvidas na fabricação do produto.
perigos significativos para aquele processo, os           Portanto, seja na aplicação da HACCP ou das
limites críticos de controle e as ações corretivas    BPF, a etapa de treinamento é importante para
a serem tomadas para minimizarem os riscos de         dar embasamento necessário à aplicação dos
contaminação, bem como as modificações                conceitos na prática, pois há uma grande
necessárias para eliminar ou possibilitar o           exigência de mudança de comportamento das
controle de determinados perigos.                     pessoas. Nesses treinamentos, devem ser
    São muito importantes os critérios a serem        mostrados de forma clara, os tipos de contami-
utilizados para determinar se existe um alto risco    nação e o que se pode fazer para evitá-los, bem
ou um risco moderado de ocorrer um perigo             como a preocupação com os problemas que a
causador de doença, injúria ou dano resultante        contaminação pode causar aos consumidores.
de uma falha em alguma operação. O excesso de
pontos críticos de controle pode significar           5. Estudo de Caso
colocar no mesmo nível os pontos que influenci-
am na segurança do produto final e aqueles que
podem ser eliminados nas etapas posteriores do
processo, levando ainda a um aumento do custo
                                                      P   ara ilustrar o que foi apresentado a cerca do
                                                          método HACCP, será relatado um estudo de
                                                      caso que se passou numa fábrica de biscoitos
do controle.                                          com aproximadamente 700 empregados.
    Quando se fala em indústria de alimentos, é          O grupo de trabalho foi formado por quatro
interessante ressaltar que muitas causas de           pessoas, sendo uma do setor de fabricação, duas
contaminação são provenientes da falta de             da embalagem e um líder de projeto. A pessoa
aplicação de procedimentos de limpeza e de            do setor de fabricação tinha um grande conheci-
comportamento das pessoas que manipulam os            mento prático de todas as etapas da fabricação de
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001                       107


biscoitos, as duas pessoas da embalagem                  montagem das instruções de trabalho
conheciam os problemas específicos da área de            (anexo 2);
empacotamento, tinham conhecimentos de                 • Aplicação da árvore decisória (anexo 1).
informática e muito interesse em desenvolver             Nesta etapa foi analisado o risco de con-
esse novo trabalho, e o líder de projeto, apesar         taminação após a aplicação das BPF. O
de não conhecer especificamente o processo de            resultado foi a identificação de três pos-
fabricação de biscoitos, tinha um embasamento            síveis situações para os pontos levantados:
teórico, conhecia a aplicação da técnica de              não eram PCC, eram PCC ou necessita-
HACCP e exercia uma função empreendedora e               vam de modificação; e
integradora, com atuação de forma participativa,       • Os PCC foram listados numa tabela
fornecedora de apoio conceitual, metodológico e          (QMS – esquema de monitoração da
tecnológico ao grupo. Todos os integrantes da            qualidade) contendo todas as informações
equipe dedicavam tempo integral à execução               necessárias para o seu controle (anexo 3).
desse projeto de implementação da HACCP e
das BPF.                                                Setores como laboratórios, técnicos e de
   Antes de iniciar os trabalhos, o grupo recebeu   gestão da qualidade deram apoio ao grupo de
do líder de projeto um treinamento para             trabalho quanto ao fornecimento de informações
conhecer o método HACCP, assim como os              conceituais referentes aos pontos levantados,
conceitos das BPF. Em seguida, o grupo de           bem como sugeriram alguns perigos que
trabalho, com o apoio do setor de recursos          deveriam ser analisados, por serem conhecidos
humanos, montou e aplicou todo o treinamento        na literatura como inerentes àquele processo
necessário para explicar ao restante dos            e/ou produto.
empregados os conceitos de HACCP e BPF, ao              Biscoito é um produto que possui baixa
mesmo tempo em que dava início no desenvol-         atividade de água, logo oferece poucas condi-
vimento dos trabalhos da seguinte forma:            ções para o desenvolvimento de microorganis-
   • Visita do grupo aos locais do processo de      mos. Com base nos resultados observados, pode-
       fabricação, desde o recebimento das maté-    se perceber que, analisando as etapas do
       rias-primas até a expedição do produto       processo de fabricação do produto, 90% dos
       acabado, com o objetivo de conhecer as       pontos críticos de controle indicados estavam
       etapas de produção;                          relacionados com a contaminação por corpos
   • Observações a respeito dos locais do           estranhos e as modificações sugeridas se
       processo de fabricação, com os possíveis     concentraram na instalação de peneiras, ímãs,
       perigos de contaminação. Nessa etapa,        filtros e detectores de metais. O controle dos
       houve uma grande participação dos em-        PCC garantiu a ausência ou a diminuição da
       pregados desses setores, fornecendo ao       presença de contaminação física, assim como o
       grupo as informações importantes sobre a     cumprimento das normas de higiene e compor-
       forma de trabalho, assim como sua vi-        tamento sugeridas pelas BPF.
       vência pessoal de acontecimentos que             Como esperado, foi observado que, para a
       nem sempre estão documentados na em-         implantação do sistema HACCP, é fundamental
       presa;                                       que os empregados que atuam diretamente na
   • Análise dos perigos de fabricação, para        fabricação estejam convencidos de que, fazendo
       identificar quais deles seriam eliminados    controle sistematizado das etapas de fabricação
       ou seus riscos minimizados pela aplicação    indicadas como pontos críticos de controle,
       das BPF;                                     haverá uma diminuição das contaminações do
   • Detalhamento das BPF que iriam atuar           produto e, conseqüentemente, um provável
       nos pontos indicados no tópico anterior e    aumento da satisfação dos consumidores.
108             Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos


    Com o objetivo de sensibilizar os trabalhado-     metida. Em seguida, essa atualização da
res da fábrica, foram utilizados nos treinamentos     documentação foi estendida para uma vez por
relatos de consumidores que tiveram algum tipo        ano.
de problema com a segurança do produto e                 Houve um acompanhamento do monitora-
também foi feita uma correlação entre a casa do       mento dos pontos críticos de controle levantados
empregado e o ambiente da fábrica, devendo-se         pela HACCP, pois foi muito comum aparecerem
manter em ambas idênticas atitudes quanto à           formulários com erro no preenchimento, sem
segurança do alimento.                                atendimento às normas estabelecidas no QMS
    À medida que as modificações solicitadas          (Esquema de Monitoramento da Qualidade) e
iam sendo implementadas e existia uma maior           sem a descrição das medidas corretivas tomadas.
exigência de mudança no comportamento para               O projeto de implementação da HACCP e das
uma cultura voltada para a segurança do               BPF começou em julho de 1997, tendo sido
produto, percebia-se o comprometimento da alta        observado um decréscimo de 25% nas queixas
administração com a implantação do HACCP.             dos consumidores por corpos estranhos em 1998
    Percebeu-se que, quando se estavam imple-         e 1999.
mentando as idéias novas da HACCP e das BPF,
as pessoas ficavam desconfiadas em relação ao         6. Conclusão
objetivo desses sistemas. Portanto, é muito
importante que essas expectativas sejam
esclarecidas e aqueles que trabalham nas funções
de gerência tenham atitudes que sirvam de
                                                      A      HACCP é uma importante método para se
                                                            fazer um estudo sistematizado dos perigos
                                                      que podem comprometer a segurança do produto
exemplo para todos, pois o comportamento              alimentício, pois tem uma atitude voltada para o
dessas pessoas é bastante observado como              controle preventivo ao longo do processo, ao
evidência de comprometimento com a empresa.           invés da inspeção do produto final.
    A implementação do sistema de HACCP                  O treinamento e comprometimento de todos
gerou um grande volume de documentação e              os envolvidos na fabricação, principalmente, e
uma preocupação com as suas atualizações. A           com destaque, a alta administração, são uma das
documentação teve de ser rotineiramente               condições básicas para o sucesso de implantação
revisada, principalmente no início da implemen-       dessa ferramenta.
tação (a cada 2 meses), pois alguns pontos,              A HACCP, quando aplicado em conjunto
quando começaram a serem monitorados,                 com as BPF, apresenta melhor resultado, pois
tiveram a necessidade de ajustes nos seus limites     existe uma complementação de esforços para
de controle. Se essa sintonia não existisse, o        controlar os pontos que oferecem perigos de
sistema poderia ter sua confiabilidade compro-        contaminação do produto.
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001                                               109



Anexo 1


                                                                       Poderia o perigo
                   Existem medidas
                                                                          identificado
           não     preventivas para   sim                                                   sim
                                                                      ocorrer em níveis
                    o controle dos                                     maiores que os
                        perigos                                          aceitáveis ou
                    identificados ?                                   poderia aumentar,
                                                                      alcançando níveis
                                                                        inaceitáveis ?


O controle nesta                     Essa etapa foi                                               Existe uma etapa
    etapa é         não              especialmente                                                subseqüente que
                                                                                                                      sim
 necessário à                     desenvolvida para      não                                      poderia eliminar
                                                                                não
 segurança do                    eliminar ou reduzir a                                              ou reduzir a
   produto ?                     provável ocorrência                                              ocorrência de um
                                  de um perigo a um                                               perigo a um nível
                                    nível aceitável ?                                                aceitável ?
           sim

                                             sim
                                                                     Não é um PCC. Pare *
                                                                                                            não
  Modificação
                                      É um PCC.

                                                                                                   É um PCC.




             Não é um PCC. Pare *                                                                             Não é um PCC. Pare *



 * Prossiga para o próximo perigo identificado no processo                                         Fonte: FAO / WHO




Anexo 2

                                                   Perigo (que se pretende
 Nº da BPF          Localização do PCC                                                             Descrição da BPF
                                                    eliminar ou reduzir)
                                                                                      Usar touca na cabeça cobrindo todo o
                       Equipamento de
      01                                                 Fio de cabelo                   cabelo e usar blusa de manga
                       mistura da massa
                                                                                                    comprida
                                                                                        Ao abrir o saco de matéria-prima
                       Equipamento de
      02                                                 Papel / papelão              observar para não rasgar o saco e cair
                       mistura da massa
                                                                                       pedaço de papel / papelão na massa
                                                                                      Observar se a lona está descosturando
                     Lona transportadora
      03                                                 Fio de algodão                 ou soltando fios na lateral e em
                       de massa crua
                                                                                             seguida fazer o reparo
      04                        ...                            ...                                            ...
      05                        ...                            ...                                            ...
110


                                                                                                                                    Anexo 3
No do Localização
                                                                    Verificação
PCC    do PCC

                                                                                                     Medida
                       Quem            Onde          Quando          Como           Norma                              Registro
                                                                                                    Corretiva
 01      Ímã do      Operador de   Tubulação de     Uma vez por     Inspeção      Ausência de      Limpar o ímã      Formulário01
      recebimento    recebimento    recebimento        dia            visual       partículas    com pano limpo,
       de gordura                  de gordura no                                  metálicas de     inspecionar a
                                       térreo                                       tamanho      barreira metálica
                                                                                   superior a     seguinte a esse
                                                                                      2 cm       ponto e enviar o
                                                                                                      material
                                                                                                 encontrado para
                                                                                                   o laboratório,
                                                                                                  para este entrar
                                                                                                 em contato com
                                                                                                 os fornecedores
 02    Detector de   Operador de         Lona       A cada duas   Passar corpo    Acionar o          Bloquear a      Formulário02
        metal da     embalagem     transportadora      horas      de prova com    detector de     produção desde
       embalagem                     de biscoitos                   partícula       metal e       as últimas duas
                                     na saída do                   metálica de     rejeitar o        horas até o
                                       túnel de                    1,5 mm de       corpo de       momento que o
                                    resfriamento                    diâmetro         prova        funcionamento
                                                                                                   do detector de
                                                                                                    metal esteja
                                                                                                 correto e chamar
                                                                                                    técnico para
                                                                                                      ajustar o
                                                                                                                                              Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos




                                                                                                    equipamento
 03        ...           ...             ...            ...            ...             ...              ...               ...
 04        ...           ...             ...            ...            ...             ...              ...               ...
GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001                                 111


Referências Bibliográficas

ATHAYDE, A.: “Sistemas GMP e HACCP garantem                OLIVEIRA, W.B.: “Qual é a certficação da sua
   produção de alimentos inócuos.” Engenharia de              empresa?” Banas Qualidade, maio de 1999.
   Alimentos, ano 5, no 23, janeiro/fevereiro, 1999.       PALADINI, E.P.: Gestão da qualidade: a nova
BARENDZ, A.W.: “Food safety and total quality                 dimensão da gerência de produção. Trabalho
   management.” Food Control, vol. 9, no 2-3, 1998.           apresentado à UFSC como parte dos requisitos de
BENNET, W.L. & STEED, L.L.: “An integrated                    concurso de professor titular na área de gerência
   approach to food safety.” Quality Press, vol. 32,          de produção. 1996.
   no 2, February, 1999.                                   PETA, C. & KAILASAPATHY, K.: “HACCP – its role
BRANDIMARTI, L.: “Comer é questão de vida ou de               in dairy factories and the tangible benefits gained
   morte.” Banas Qualidade, junho de 1999.                    through its implementation.” The Australian Journal
BRITISH QUALITY FOUNDATION: Guidance for                      of Dairy Technology, vol. 50, November, 1995.
   application of ISO 9000 in food and drink indus-        STRINGER, M.F.: “Safety and quality management
   try, 1999.                                                 through HACCP and ISO 9000.” Dairy, Food and
CARBALLIDO, J.R.; VIYELLA, A.R. & MORENO,                     Environmental Sanitation, August, 1994.
   I.J.: “Exigencias de calidad en las empresas            STRINGER, M.F.: “Safety and quality management
   alimentarias: industria carnica.” Alimentaria,             through HACCP and ISO 9000.” Dairy, Food and
   Enero-Febrero, p. 23-26, 1994.                             Environmental Sanitation, vol. 14, no 8, p. 478-481,
GRIJSPAARDT, V.C.: “HACCP in the EU.” Food-                   August, 1994.
   Technology, vol. 49 (3) 36, 1995.                       SURAK, J.G. & SIMPSON, K.E.: “Using ISO 9000
ILSI (International Life Science Institute): A simple         standards as a quality framework.” Food Tech-
   guide to understanding and applying the hazard             nology, p. 63-65, December, 1994.
   analysis critical control point concept. 2nd edition,   SURAK, J.G.: “The ISO 9000 standard – establish-
   1997.                                                      ing a foundation for quality.” Food Technology,
JOUVE, J.L.: “Principles of food safety legislation.”         November, 1992.
   Food Control, vol. 9, no 2-3, 1998.                     World Health Organization (WHO) – Food Safety
JURAN, J.M. & GRYNA, F.M.: Quality planning                  Issues. “HACCP: Introducing the Hazard
   and analysis. Printed by MvGraw-Hill, 3rd edition,         Analysis and Critical Control Point System.”
   United States of America, 1993.                            WHO/FSF/FOS/97.2, 1997.




           IMPLEMENTATION OF THE HACCP IN THE FOOD INDUSTRY
Abstract
   The Hazard Analysis Critical Control Point (HACCP) concept is a systematic approach to ensur-
ing food safety. The method is based on several different principles of direct or indirect detection of
contamination. The objective is to control food safety by analyzing the potential hazards, designing the
system to prevent problems, involving the operators in decision making and documenting events.
HACCP concepts should be applied together with Good Manufacturing Practices. This paper
discusses the importance of HACCP in Biscuit Industry and what kind of contamination is a weak
point in this product. The results indicated that there are several initial problems in implementing
HACCP, however tangible benefits can be achieved through reduced customer complaints.

Key words: HACCP, control, food, safety and hazard.

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  • 1. IMPLANTAÇÃO DO HACCP NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS Veruschka Franca de Figueiredo Escola Politécnica da USP – Engenharia de Produção Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto Escola Politécnica da USP – Engenharia de Produção Universidade Paulista – Engenharia de Produção v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001 Faculdade Tancredo Neves – Engenharia de Produção Resumo O conceito da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) é uma abordagem sistemática para garantir a segurança do alimento. O método é baseado em vários princípios diferentes de detecção direta ou indireta de contaminação. O objetivo é controlar a segurança do alimento analisando os perigos em potencial, planejando o sistema para evitar problemas, envolvendo os operadores em tomada de decisão e registro das ocorrências. O conceito da HACCP (APPCC) deveria ser aplicado em conjunto com as Boas Práticas de Fabricação. Este artigo discute a importância da HACCP (APPCC) na Indústria de Biscoito e que tipo de contaminação é o ponto fraco neste produto. A experiência indicou que existem diversos problemas iniciais na implementação da HACCP, contudo benefícios tangíveis podem ser alcançados a partir da redução das reclamações do consumidor. Palavras-chave: HACCP, APPCC, alimento, segurança e perigo. 1. Introdução dimensão do seu significado? A qualidade envolve muitos aspectos simultaneamente e O termo qualidade há muito tempo já faz parte do vocabulário de muitas pessoas, mas como defini-lo de forma a atingir toda a sofre alterações conceituais ao longo do tempo (PALADINI, 1996). Alguns conceitos de qualidade foram estrutu-
  • 2. GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001 101 rados tendo a satisfação do consumidor como o um sistema baseado numa forma sistemática de elemento principal: identificar e analisar os perigos associados com a • “Qualidade é a adequação ao uso” produção de alimentos e definir maneiras para (JURAN & GRYNA, 1993). controlá-los (STRINGER, 1994), apresentado a • “Qualidade é a condição necessária de seguir. aptidão para o fim a que se destina” (Or- ganização Européia de Controle da Quali- a) Histórico dade, 1972 apud PALADINI, 1996). • “Qualidade é o grau de ajuste de um pro- No início de 1970, uma série de fatos aconte- duto à demanda que pretende satisfazer” ceu nos Estados Unidos em relação a problemas (JENKINS, 1991 apud PALADINI, 1996). relacionados com a segurança dos produtos que É interessante ressaltar que esses conceitos estavam sendo consumidos, originando o seguinte correlacionam os interesses da empresa com o questionamento: “Como em 1969 os EUA foram atendimento às necessidades do cliente. Logo, para capazes de enviar o homem à lua e em 1970 que se tenha uma contínua evolução da qualidade, ainda temos incidentes que comprometem a deve-se saber o quanto os consumidores estão segurança dos nossos produtos?” A resposta satisfeitos com os produtos que estão adquirindo. encontrada foi que seria necessário promover A qualidade hoje é uma vantagem competiti- uma mudança na forma de desenvolver e va que diferencia uma empresa de outra, pois os produzir alimentos, tornando-a mais científica e consumidores estão cada vez mais exigentes em controlada (BENNET & STEED, 1999). relação à sua expectativa no momento de O termo alimento seguro é um conceito que adquirir um determinado produto. Logo, as está crescendo na conjuntura global, não somente empresas que não estiverem preocupadas com pela sua importância para a saúde pública, mas esta busca pela qualidade poderão ficar à também pelo seu importante papel no comércio margem do mercado consumidor. internacional (BARENDSZ, 1998). Este sistema Quando se fala em qualidade para a indústria foi utilizado pela primeira vez, nos anos 60, pela de alimentos, o aspecto segurança do produto é Pillsburg Company, junto com a NASA (National sempre um fator determinante, pois qualquer Aeronautics and Space Administration) e o U.S. problema pode comprometer a saúde do Army Laboratories em Natick, com o objetivo consumidor. É de se esperar, pois, que as boas de desenvolver um programa de qualidade que, empresas que atuam nesse ramo de atividade utilizando algumas técnicas, desenvolvesse o tenham algum sistema eficaz para exercer esse fornecimento de alimentos para os astronautas controle, um dos quais é discutido neste artigo. da NASA (BENNET & STEED, 1999), sendo Julgamos que, com isso, possamos contribuir apresentado ao público pela primeira vez em para a discussão do tema, pois, se no Brasil há 1971, durante a conferência nacional para empresas líderes do ramo de alimentos que estão proteção de alimentos, realizada nos Estados implementando sistemas de gerenciamento da Unidos (ATHAYDE, 1999). qualidade, ainda existe um grande número de A legislação em segurança do alimento é outras empresas que não aplicam ferramentas geralmente entendida como um conjunto de para garantir a qualidade de seus produtos. procedimentos, diretrizes e regulamentos elabo- rados pelas autoridades, direcionados para a proteção da saúde pública. A HACCP foi uma 2. HACCP ferramenta desenvolvida originalmente pelo A HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points) ou APPCC é a sigla para análise de perigos e pontos críticos de controle, setor privado para garantir a segurança do produto e atualmente está sendo introduzida na legislação de vários países (JOUVE, 1998).
  • 3. 102 Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos A partir de 14 de dezembro de 1995, todas as • Há possibilidade de recontaminação do empresas de alimentos da União Européia deve- produto após a etapa de eliminação dos riam ter um sistema de HACCP implementado. patógenos? Este foi o resultado de diretrizes da EEC / 93-43, • Há possibilidade do produto estragar aprovada pelo Conselho da Europa em 14 de durante a distribuição ou consumo? e junho de 1993 (GRIJSPAARDT-VINK, 1994). • Há um tratamento térmico final? No Brasil, apesar de existirem alimentos com padrões de excelência comparáveis aos pro- b) Conceituação duzidos nos países do Primeiro Mundo, ainda existem problemas que comprometem a qua- O conceito de HACCP permite um estudo lidade e apresentam riscos à saúde humana sistemático para identificar os perigos, avaliar a (BRANDIMARTI, 1999). probabilidade deles acontecerem durante o pro- Nas pequenas indústrias, podem ser aponta- cessamento, a distribuição ou o uso do produto e das como questões ainda não resolvidas a falta definir meios para controlá-los (ILSI, 1997). de aplicação das BPF (Boas Práticas de O sistema de análise de perigos e pontos Fabricação) (BRANDIMARTI, 1999). Apesar críticos de controle (APPCC ou HACCP) é um das BPF e do método APPCC estarem estabele- método embasado na aplicação de princípios cidos na legislação por meio de leis, decretos e técnicos e científicos de prevenção, que tem por portarias (Portarias no 1428 / 93 e no 326 / 97 do finalidade garantir a inocuidade dos processos de Ministério da Agricultura (MA); Portarias produção, manipulação, transporte, distribuição no 40 / 98 e 46 / 98 do MA), sua aplicação apesar e consumo dos alimentos. Esse conceito cobre de notáveis exceções, é quase inexistente todos os fatores que possam afetar a segurança (BRANDIMARTI, 1999). Inicialmente, o sistema do alimento (ATHAYDE, 1999). HACCP desenvolvido pela “The Pillsbury As BPF são um pré-requisito para a imple- Company” consistia de três princípios (JOUVE, mentação de HACCP e esse está correlacionado 1998): com a garantia da qualidade (JOUVE, 1998). • Análise de perigo e avaliação do risco; A contaminação microbiológica é conhecida • Determinação dos pontos críticos de como a mais ameaçadora à saúde humana; controle; e contudo, a presença de resíduos químicos • Monitoramento dos PCC’s. também oferece grande ameaça, principalmente A avaliação do risco levava em consideração quando analisados os efeitos no longo prazo. três características (BAUMAN apud JOUVE, Além disso, a contaminação microbiológica 1998): pode ser bastante controlada, pelas Boas Práticas • O produto contém algum ingrediente de Higiene, durante o manuseio e processamento sensível? dos alimentos, enquanto a contaminação química • Há uma etapa do processo que elimina o é em geral bastante difícil de ser controlada perigo? e (BARENDSZ, 1998). • Há potencial de danos causados pelo Segundo o “Codex Alimentarius”, o sistema produto? de HACCP consiste em seguir os seguintes Em 1989, expandiu-se esse processo de avali- princípios (ILSI, 1997): ação dos riscos para seis etapas (JOUVE, 1998): • Identificar os perigos e analisar os riscos • O produto é direcionado para o consumi- de severidade e probabilidade de ocor- dor na população de alto risco? rência; • O produto contém ingredientes sensíveis? • Determinar os pontos críticos de controle • Há uma etapa que destrói os microorga- necessários para controlar os perigos iden- nismos patogênicos? tificados;
  • 4. GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001 103 • Especificar os limites críticos para garantir científicas. Representa uma atitude pró-ativa que a operação está sob controle nos pon- para prevenir danos à saúde e enfatizar a tos críticos de controle (PCC); prevenção de problemas, ao invés de se focar no • Estabelecer e implementar o monitora- teste do produto final. Pode ser utilizado em mento do sistema; qualquer estágio da cadeia de produção, desde a • Executar as ações corretivas quando os produção primária até a distribuição, e até limites críticos não foram atendidos; mesmo nos locais que oferecem serviços de • Verificar o sistema; e alimentação e em casa (JOUVE, 1998). • Manter registros. Entretanto, alguns dos problemas encontrados O embasamento do sistema de HACCP tem o pelas pequenas indústrias na implantação dos termo perigo como um agente nocivo, ou condi- sistemas de HACCP são: insuficiente suporte ção do alimento inaceitável, que pode causar técnico, concentração de funções, disponibili- algum efeito de saúde adverso. Segundo ILSI dade financeira e de tempo para implementar (1997) os perigos podem ser provocados por: a HACCP (KIRBY apud PETA & • A presença inaceitável de uma contamina- KAILASAPATHY, 1995). ção química, física ou microbiológica na O “Codex Alimentarius” recomenda a matéria-prima, no produto semifabricado seguinte seqüência para implementação do ou no produto final; sistema de HACCP (WHO, 1997 e ILSI, 1997): • Potencial de crescimento ou de sobrevi- 1. Formação da equipe de HACCP vência de microorganismos ou de produ- A equipe deve ter uma formação multidisci- ção de substâncias químicas no produto plinar. As pessoas devem estar familiarizadas semifabricado, no produto final ou no com os produtos e seus métodos de elabora- ambiente da linha de produção; e ção. As pessoas integrantes da equipe devem • Recontaminação do produto semifabri- ter poder de convencimento, liderança e cado ou do produto final com microor- capacidade de multiplicação dos conceitos. ganismos, produtos químicos ou corpos O líder da equipe deve ter treinamento e estranhos. habilidade suficiente em HACCP. O escopo Um alimento seguro, que não cause mal à sua do estudo deve ser definido, sabendo-se quais saúde e não ofereça dúvidas em relação à sua etapas da cadeia produtiva devem ser envol- composição e peso, é uma das mais importantes vidas. características da qualidade que correspondem às expectativas do consumidor (BERG apud 2. Descrição do produto BARENDSZ, 1998). Uma detalhada descrição do produto deve ser Vários perigos podem comprometer a segu- feita, incluindo sua composição química e rança dos alimentos, tais como: física, o tipo de embalagem, o transporte • Microbiológico (coliforme fecal, salmo- utilizado na distribuição, as condições de nella, listeria); armazenagem e o tempo de vida útil. • Nutricional (consumo de gordura, nível de 3. Identificação do uso obesidade); Deve-se identificar qual o público-alvo do • Ambiental (pesticida, metal pesado, produto e saber se faz parte de um segmento nitrato); particular da população (bebês, idosos, • Natural (ingredientes); e enfermos, adultos, etc.). • Aditivos alimentares. HACCP é uma técnica sistemática e racional 4. Construção do diagrama de fluxo para se prevenir a produção de alimentos Deve-se resumir o fluxo de processo em um contaminados, baseada em análises e evidências diagrama simplificado, que forneça um
  • 5. 104 Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos esboço do processo e realce a localização dos uma série de perguntas para cada etapa de perigos potenciais identificados. É importante elaboração do produto (anexo 1). não negligenciar nenhuma etapa que possa Muitos pontos críticos de controle sugerem afetar a segurança do alimento. uma análise de riscos irreal, enquanto poucos 5. Confirmação no local das etapas descritas no PCCs identificados indicam que podem existir fluxograma riscos que não foram considerados. Por isso, a Uma vez estabelecido o diagrama operacio- etapa de identificação dos PCCs é um aspecto nal, deve-se efetuar a inspeção no local, crítico do estudo de HACCP (BUCHANAM verificando a concordância das operações apud PETA & KAILASAPATHY, 1995). descritas com o que foi representado. Esta Note-se que existem algumas partes do etapa irá assegurar que os principais passos processo ou equipamento que a empresa quer do processo terão sido identificados e pos- monitorar, mas não são PCCs levantados pela sibilitar os ajustes necessários. HACCP. Estes pontos podem ser identifica- dos como pontos de controle (PCs) da quali- 6. Listar todos os perigos, analisar os riscos e dade e são controlados para evitar um desvio considerar os controles necessários nos PCCs, que protegem a saúde pública. Um Todos os perigos em potencial, relacionados exemplo de PC pode ser um ímã, quando um a cada etapa do processo, devem ser identifi- detector de metal está colocado numa etapa cados com base na experiência dos membros posterior do processo, sendo este o PCC da equipe e nas informações de saúde pública (BENNET & STEED, 1999). sobre o produto. A análise dos riscos deverá ser feita considerando os seguintes fatores: 8. Estabelecer limites críticos para cada PCC • Probabilidade de ocorrência do perigo e Os limites críticos são aqueles que separam sua severidade em relação aos efeitos os produtos aceitáveis dos inaceitáveis, adversos à saúde; podendo ser qualitativos ou quantitativos. • Evolução qualitativa e quantitativa da Cada parâmetro estabelecido deve ter o seu presença do perigo; limite crítico estabelecido, de forma a manter • Capacidade de multiplicação e sobrevi- a visão clara das medidas de controle dos vência dos microorganismos; e PCCs. • Produção ou permanência nos alimentos O estabelecimento desses limites deve estar de toxinas, agentes químicos ou físicos. baseado nos conhecimentos disponíveis em Quaisquer medidas de controle existentes ou fontes como: legislação, literatura científica, que poderiam ser aplicadas devem ser lista- dados de pesquisas reconhecidas, normas das. Mais de uma medida de controle pode internas da empresa, etc. ser necessária para controlar um perigo e 9. Estabelecer um sistema de monitoramento mais de um perigo pode ser controlado por para cada PCC uma mesma medida de controle. Para assegurar que as medidas de controle 7. Determinar os pontos críticos de controle operem como planejado nos PCCs e detectem (PCC) qualquer perda de controle, é necessário defi- Um PCC é uma etapa na qual um controle nir um sistema de monitoramento dos PCCs. pode ser aplicado, sendo essencial prevenir Neste deve estar definido qual o procedimen- ou eliminar um perigo relativo à segurança to de controle que deve estar associado a cada dos alimentos, reduzi-lo ou mantê-lo em nível PCC. Os métodos de controle devem ser aceitável. Identificar os PCCs no estudo de rápidos, para serem efetivos. O sistema de HACCP pode ser facilitado utilizando-se uma monitoração deve permitir, quando possível, árvore decisória, que consiste em se fazer que os ajustes sejam feitos antes que uma
  • 6. GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001 105 medida exceda os limites críticos. Medidas confusão de que a ISO 9000 garante 100% de físicas e químicas são às vezes preferíveis a produtos de primeira qualidade (STRINGER, testes microbiológicos, porque podem ser 1994). levantadas rapidamente e, muitas vezes, indi- Entretanto, a ISO 9000 serve de suporte para cam a condição microbiológica do produto. a implementação da HACCP e, juntos, são fundamentais para promover o sucesso da 10. Estabelecer ações corretivas indústria de alimentos, pois suas recomendações Ações corretivas específicas devem ser se complementam. A HACCP é utilizada para definidas para cada PCC identificado no identificar os PCCs, enquanto a ISO 9000 é sistema HACCP, a fim de que possam trazer usada para controlar e monitorar aspectos o PCC sob controle, definir o que fazer com o críticos para a qualidade. produto que saiu enquanto o PCC estava fora A HACCP é focada somente no que é crítico de controle e descobrir porque o PCC estava para garantir um alimento seguro, livre de fora de controle. Os desvios e procedimentos contaminações físicas, químicas e microbiológi- para disposição dos produtos devem estar cas, que possam causar doenças ou danos ao documentados. consumidor. 11. Estabelecer procedimento de verificação Para implantar a ISO 9000, a empresa deve A aplicação de métodos de verificação e analisar os elementos de conformidade e definir auditoria, procedimentos e testes, incluindo quais atividades afetam a qualidade, definindo amostragem e análises aleatórias, podem ser depois quais são os procedimentos, instruções e utilizadas para testar se o sistema HACCP técnicas que devem ser empregadas para está funcionando corretamente. De maneira controlar essas atividades (BENNET & STEED, regular ou não planejada, a informação 1999). Esta visão propicia que a política das disponível no sistema HACCP deve ser empresas de alimentos evolua em direção ao sistematicamente analisada. conceito de alimento seguro, suportada por um eficiente sistema de gerenciamento da qualidade 12. Estabelecer documentação e manter registros (BARENDSZ, 1998). Os procedimentos do sistema HACCP devem Um dos grandes problemas dos sistemas estar documentados, assim como os registros HACCP e ISO 9000 é o excesso de documenta- das atividades de monitoramento dos PCCs, ção, logo é importante ressaltar que somente se das ações corretivas relacionadas aos desvios deve documentar o que é importante para a e das modificações do sistema HACCP. Estas qualidade, a segurança dos alimentos e a informações devem ser mantidas para satisfação do consumidor, além de manter acompanhamento e revisões subseqüentes. sempre atualizada essa documentação. A inclusão da HACCP como apoio ao sistema de 3. ISO 9000 e HACCP qualidade da norma ISO 9000 é a melhor opção para as indústrias alimentícias (BENNET & preciso notar que o certificado ISO 9000 não STEED, 1999). A HACCP pode ser incorporada Égarante a qualidade do produto, mas que a ao sistema ISO 9000 e certificada como parte empresa possui um sistema de garantia da dele (STRINGER, 1994). qualidade capaz de produzir produtos compatí- veis com as especificações desejadas. Confunde- 4. Considerações Importantes se muito este tipo de certificação com certifica- ção de produto, estabelecendo-se uma relação direta entre ela e a qualidade final do produto (OLIVEIRA, 1999). Existe também a freqüente A adoção pelo “Codex Alimentarius” do documento “Hazard Analysis and Critical Control, Point System and Guidelines for its
  • 7. 106 Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos Application” (Sistema de Análise de Perigo e alimentos. As Boas Práticas de Fabricação (BPF) Ponto Crítico de Controle e Guia para sua são um conjunto de regras que definem formas Aplicação) aprovou internacionalmente a ideais de fabricação, a partir de mudanças nos HACCP como sistema eficiente para garantir a métodos de limpeza, comportamento das pessoas segurança dos alimentos. Contudo, isto é o envolvidas, equipamentos e edifícios, buscando reflexo do excelente trabalho da indústria de eliminar as fontes genéricas de possíveis alimentos e da comunidade científica internacio- contaminações de um produto (CARBALLIDO nal para desenvolver um método que, quando et al., 1994). implementado corretamente, pode aumentar Dessa forma, é interessante que se tenha a significativamente o controle sobre os riscos de aplicação das BPF antes da implementação da problemas causados à saúde da população por HACCP, pois haverá um direcionamento dos ingestão de alimentos (JOUVE, 1998). esforços para os pontos específicos de contami- Um grande número de informações, matérias- nação do produto. Contudo, é possível que a primas utilizadas, transformações químicas e HACCP seja aplicada em conjunto com as BPF, físicas que acontecem nas etapas de fabricação, desde que se tenha claramente definido as bem como os principais tipos de contaminação diferenças entre os riscos que podem ser inerentes ao produto, devem ser levantados para controlados pelas BPF daqueles que exigem utilização da ferramenta HACCP. Estes dados modificação no processo ou algum controle nem sempre estão disponíveis e sua pesquisa específico. deve ser considerada como uma etapa prelimi- Observa-se que grande parte das contamina- nar. Qualquer falha no levantamento dessas ções é possível de ser evitada a partir da informações pode significar erros no resultado aplicação correta das BPF. Isto significa a final do estudo de HACCP. necessidade de um grande comprometimento das Após a aplicação da HACCP, são listados os pessoas envolvidas na fabricação do produto. perigos significativos para aquele processo, os Portanto, seja na aplicação da HACCP ou das limites críticos de controle e as ações corretivas BPF, a etapa de treinamento é importante para a serem tomadas para minimizarem os riscos de dar embasamento necessário à aplicação dos contaminação, bem como as modificações conceitos na prática, pois há uma grande necessárias para eliminar ou possibilitar o exigência de mudança de comportamento das controle de determinados perigos. pessoas. Nesses treinamentos, devem ser São muito importantes os critérios a serem mostrados de forma clara, os tipos de contami- utilizados para determinar se existe um alto risco nação e o que se pode fazer para evitá-los, bem ou um risco moderado de ocorrer um perigo como a preocupação com os problemas que a causador de doença, injúria ou dano resultante contaminação pode causar aos consumidores. de uma falha em alguma operação. O excesso de pontos críticos de controle pode significar 5. Estudo de Caso colocar no mesmo nível os pontos que influenci- am na segurança do produto final e aqueles que podem ser eliminados nas etapas posteriores do processo, levando ainda a um aumento do custo P ara ilustrar o que foi apresentado a cerca do método HACCP, será relatado um estudo de caso que se passou numa fábrica de biscoitos do controle. com aproximadamente 700 empregados. Quando se fala em indústria de alimentos, é O grupo de trabalho foi formado por quatro interessante ressaltar que muitas causas de pessoas, sendo uma do setor de fabricação, duas contaminação são provenientes da falta de da embalagem e um líder de projeto. A pessoa aplicação de procedimentos de limpeza e de do setor de fabricação tinha um grande conheci- comportamento das pessoas que manipulam os mento prático de todas as etapas da fabricação de
  • 8. GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001 107 biscoitos, as duas pessoas da embalagem montagem das instruções de trabalho conheciam os problemas específicos da área de (anexo 2); empacotamento, tinham conhecimentos de • Aplicação da árvore decisória (anexo 1). informática e muito interesse em desenvolver Nesta etapa foi analisado o risco de con- esse novo trabalho, e o líder de projeto, apesar taminação após a aplicação das BPF. O de não conhecer especificamente o processo de resultado foi a identificação de três pos- fabricação de biscoitos, tinha um embasamento síveis situações para os pontos levantados: teórico, conhecia a aplicação da técnica de não eram PCC, eram PCC ou necessita- HACCP e exercia uma função empreendedora e vam de modificação; e integradora, com atuação de forma participativa, • Os PCC foram listados numa tabela fornecedora de apoio conceitual, metodológico e (QMS – esquema de monitoração da tecnológico ao grupo. Todos os integrantes da qualidade) contendo todas as informações equipe dedicavam tempo integral à execução necessárias para o seu controle (anexo 3). desse projeto de implementação da HACCP e das BPF. Setores como laboratórios, técnicos e de Antes de iniciar os trabalhos, o grupo recebeu gestão da qualidade deram apoio ao grupo de do líder de projeto um treinamento para trabalho quanto ao fornecimento de informações conhecer o método HACCP, assim como os conceituais referentes aos pontos levantados, conceitos das BPF. Em seguida, o grupo de bem como sugeriram alguns perigos que trabalho, com o apoio do setor de recursos deveriam ser analisados, por serem conhecidos humanos, montou e aplicou todo o treinamento na literatura como inerentes àquele processo necessário para explicar ao restante dos e/ou produto. empregados os conceitos de HACCP e BPF, ao Biscoito é um produto que possui baixa mesmo tempo em que dava início no desenvol- atividade de água, logo oferece poucas condi- vimento dos trabalhos da seguinte forma: ções para o desenvolvimento de microorganis- • Visita do grupo aos locais do processo de mos. Com base nos resultados observados, pode- fabricação, desde o recebimento das maté- se perceber que, analisando as etapas do rias-primas até a expedição do produto processo de fabricação do produto, 90% dos acabado, com o objetivo de conhecer as pontos críticos de controle indicados estavam etapas de produção; relacionados com a contaminação por corpos • Observações a respeito dos locais do estranhos e as modificações sugeridas se processo de fabricação, com os possíveis concentraram na instalação de peneiras, ímãs, perigos de contaminação. Nessa etapa, filtros e detectores de metais. O controle dos houve uma grande participação dos em- PCC garantiu a ausência ou a diminuição da pregados desses setores, fornecendo ao presença de contaminação física, assim como o grupo as informações importantes sobre a cumprimento das normas de higiene e compor- forma de trabalho, assim como sua vi- tamento sugeridas pelas BPF. vência pessoal de acontecimentos que Como esperado, foi observado que, para a nem sempre estão documentados na em- implantação do sistema HACCP, é fundamental presa; que os empregados que atuam diretamente na • Análise dos perigos de fabricação, para fabricação estejam convencidos de que, fazendo identificar quais deles seriam eliminados controle sistematizado das etapas de fabricação ou seus riscos minimizados pela aplicação indicadas como pontos críticos de controle, das BPF; haverá uma diminuição das contaminações do • Detalhamento das BPF que iriam atuar produto e, conseqüentemente, um provável nos pontos indicados no tópico anterior e aumento da satisfação dos consumidores.
  • 9. 108 Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos Com o objetivo de sensibilizar os trabalhado- metida. Em seguida, essa atualização da res da fábrica, foram utilizados nos treinamentos documentação foi estendida para uma vez por relatos de consumidores que tiveram algum tipo ano. de problema com a segurança do produto e Houve um acompanhamento do monitora- também foi feita uma correlação entre a casa do mento dos pontos críticos de controle levantados empregado e o ambiente da fábrica, devendo-se pela HACCP, pois foi muito comum aparecerem manter em ambas idênticas atitudes quanto à formulários com erro no preenchimento, sem segurança do alimento. atendimento às normas estabelecidas no QMS À medida que as modificações solicitadas (Esquema de Monitoramento da Qualidade) e iam sendo implementadas e existia uma maior sem a descrição das medidas corretivas tomadas. exigência de mudança no comportamento para O projeto de implementação da HACCP e das uma cultura voltada para a segurança do BPF começou em julho de 1997, tendo sido produto, percebia-se o comprometimento da alta observado um decréscimo de 25% nas queixas administração com a implantação do HACCP. dos consumidores por corpos estranhos em 1998 Percebeu-se que, quando se estavam imple- e 1999. mentando as idéias novas da HACCP e das BPF, as pessoas ficavam desconfiadas em relação ao 6. Conclusão objetivo desses sistemas. Portanto, é muito importante que essas expectativas sejam esclarecidas e aqueles que trabalham nas funções de gerência tenham atitudes que sirvam de A HACCP é uma importante método para se fazer um estudo sistematizado dos perigos que podem comprometer a segurança do produto exemplo para todos, pois o comportamento alimentício, pois tem uma atitude voltada para o dessas pessoas é bastante observado como controle preventivo ao longo do processo, ao evidência de comprometimento com a empresa. invés da inspeção do produto final. A implementação do sistema de HACCP O treinamento e comprometimento de todos gerou um grande volume de documentação e os envolvidos na fabricação, principalmente, e uma preocupação com as suas atualizações. A com destaque, a alta administração, são uma das documentação teve de ser rotineiramente condições básicas para o sucesso de implantação revisada, principalmente no início da implemen- dessa ferramenta. tação (a cada 2 meses), pois alguns pontos, A HACCP, quando aplicado em conjunto quando começaram a serem monitorados, com as BPF, apresenta melhor resultado, pois tiveram a necessidade de ajustes nos seus limites existe uma complementação de esforços para de controle. Se essa sintonia não existisse, o controlar os pontos que oferecem perigos de sistema poderia ter sua confiabilidade compro- contaminação do produto.
  • 10. GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001 109 Anexo 1 Poderia o perigo Existem medidas identificado não preventivas para sim sim ocorrer em níveis o controle dos maiores que os perigos aceitáveis ou identificados ? poderia aumentar, alcançando níveis inaceitáveis ? O controle nesta Essa etapa foi Existe uma etapa etapa é não especialmente subseqüente que sim necessário à desenvolvida para não poderia eliminar não segurança do eliminar ou reduzir a ou reduzir a produto ? provável ocorrência ocorrência de um de um perigo a um perigo a um nível nível aceitável ? aceitável ? sim sim Não é um PCC. Pare * não Modificação É um PCC. É um PCC. Não é um PCC. Pare * Não é um PCC. Pare * * Prossiga para o próximo perigo identificado no processo Fonte: FAO / WHO Anexo 2 Perigo (que se pretende Nº da BPF Localização do PCC Descrição da BPF eliminar ou reduzir) Usar touca na cabeça cobrindo todo o Equipamento de 01 Fio de cabelo cabelo e usar blusa de manga mistura da massa comprida Ao abrir o saco de matéria-prima Equipamento de 02 Papel / papelão observar para não rasgar o saco e cair mistura da massa pedaço de papel / papelão na massa Observar se a lona está descosturando Lona transportadora 03 Fio de algodão ou soltando fios na lateral e em de massa crua seguida fazer o reparo 04 ... ... ... 05 ... ... ...
  • 11. 110 Anexo 3 No do Localização Verificação PCC do PCC Medida Quem Onde Quando Como Norma Registro Corretiva 01 Ímã do Operador de Tubulação de Uma vez por Inspeção Ausência de Limpar o ímã Formulário01 recebimento recebimento recebimento dia visual partículas com pano limpo, de gordura de gordura no metálicas de inspecionar a térreo tamanho barreira metálica superior a seguinte a esse 2 cm ponto e enviar o material encontrado para o laboratório, para este entrar em contato com os fornecedores 02 Detector de Operador de Lona A cada duas Passar corpo Acionar o Bloquear a Formulário02 metal da embalagem transportadora horas de prova com detector de produção desde embalagem de biscoitos partícula metal e as últimas duas na saída do metálica de rejeitar o horas até o túnel de 1,5 mm de corpo de momento que o resfriamento diâmetro prova funcionamento do detector de metal esteja correto e chamar técnico para ajustar o Figueiredo & Costa Neto – Implantação do HACCP na Indústria de Alimentos equipamento 03 ... ... ... ... ... ... ... ... 04 ... ... ... ... ... ... ... ...
  • 12. GESTÃO & PRODUÇÃO v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001 111 Referências Bibliográficas ATHAYDE, A.: “Sistemas GMP e HACCP garantem OLIVEIRA, W.B.: “Qual é a certficação da sua produção de alimentos inócuos.” Engenharia de empresa?” Banas Qualidade, maio de 1999. Alimentos, ano 5, no 23, janeiro/fevereiro, 1999. PALADINI, E.P.: Gestão da qualidade: a nova BARENDZ, A.W.: “Food safety and total quality dimensão da gerência de produção. Trabalho management.” Food Control, vol. 9, no 2-3, 1998. apresentado à UFSC como parte dos requisitos de BENNET, W.L. & STEED, L.L.: “An integrated concurso de professor titular na área de gerência approach to food safety.” Quality Press, vol. 32, de produção. 1996. no 2, February, 1999. PETA, C. & KAILASAPATHY, K.: “HACCP – its role BRANDIMARTI, L.: “Comer é questão de vida ou de in dairy factories and the tangible benefits gained morte.” Banas Qualidade, junho de 1999. through its implementation.” The Australian Journal BRITISH QUALITY FOUNDATION: Guidance for of Dairy Technology, vol. 50, November, 1995. application of ISO 9000 in food and drink indus- STRINGER, M.F.: “Safety and quality management try, 1999. through HACCP and ISO 9000.” Dairy, Food and CARBALLIDO, J.R.; VIYELLA, A.R. & MORENO, Environmental Sanitation, August, 1994. I.J.: “Exigencias de calidad en las empresas STRINGER, M.F.: “Safety and quality management alimentarias: industria carnica.” Alimentaria, through HACCP and ISO 9000.” Dairy, Food and Enero-Febrero, p. 23-26, 1994. Environmental Sanitation, vol. 14, no 8, p. 478-481, GRIJSPAARDT, V.C.: “HACCP in the EU.” Food- August, 1994. Technology, vol. 49 (3) 36, 1995. SURAK, J.G. & SIMPSON, K.E.: “Using ISO 9000 ILSI (International Life Science Institute): A simple standards as a quality framework.” Food Tech- guide to understanding and applying the hazard nology, p. 63-65, December, 1994. analysis critical control point concept. 2nd edition, SURAK, J.G.: “The ISO 9000 standard – establish- 1997. ing a foundation for quality.” Food Technology, JOUVE, J.L.: “Principles of food safety legislation.” November, 1992. Food Control, vol. 9, no 2-3, 1998. World Health Organization (WHO) – Food Safety JURAN, J.M. & GRYNA, F.M.: Quality planning Issues. “HACCP: Introducing the Hazard and analysis. Printed by MvGraw-Hill, 3rd edition, Analysis and Critical Control Point System.” United States of America, 1993. WHO/FSF/FOS/97.2, 1997. IMPLEMENTATION OF THE HACCP IN THE FOOD INDUSTRY Abstract The Hazard Analysis Critical Control Point (HACCP) concept is a systematic approach to ensur- ing food safety. The method is based on several different principles of direct or indirect detection of contamination. The objective is to control food safety by analyzing the potential hazards, designing the system to prevent problems, involving the operators in decision making and documenting events. HACCP concepts should be applied together with Good Manufacturing Practices. This paper discusses the importance of HACCP in Biscuit Industry and what kind of contamination is a weak point in this product. The results indicated that there are several initial problems in implementing HACCP, however tangible benefits can be achieved through reduced customer complaints. Key words: HACCP, control, food, safety and hazard.