SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  8
Télécharger pour lire hors ligne
ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO EM PACIENTES HIPERTENSOS DE MUITO
ALTO RISCO




                                                                                                                   artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
PHARMACEUTICAL CARE IN HYPERTENSIVE PATIENTS WITH VERY HIGH CARDIOVASCULAR RISK
DANIELE DE PAULA FARIA 1 , PAULA ROSSIGNOLI 2, CASSYANO J CORRER 3, RODRIGO A.P.SOUZA 4
1
  Farmacêutica da Farmácia Escola – Universidade Positivo, Farmacêutica pela
Universidade Positivo.
2
  Professora do Curso de Farmácia – Universidade Positivo, Mestre em Ciências
Farmacêuticas – UFPR.
3
  Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPR, Professor do Curso de Farmácia – UFPR.
4
  Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPR, Farmacêutico da Farmácia Escola –
Universidade Positivo.


RESUMO

         Pacientes hipertensos de muito alto risco cardiovascular necessitam de um controle
rigoroso da pressão arterial. O acompanhamento farmacoterapêutico vem colaborar na busca
de efetividade e segurança do tratamento. O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito
do acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos de muito alto risco cardio-
vascular. O estudo foi do tipo prospectivo com análise antes e depois do acompanhamento
farmacoterapêutico. Participaram da pesquisa 29 pacientes da Unidade de Saúde Jardim Ga-
bineto classificados como hipertensos de muito alto risco cardiovascular, durante um período
de 6 meses. A obesidade estava presente em 39,3% dos pacientes e diabetes em 31%. Foi
encontrada uma média de 1,62 Problema Relacionado com Medicamento, por paciente, sendo
que os PRM de efetividade corresponderam a 75,9% dos casos. Das intervenções realizadas,                                                       31
77,5% foram verbais ao paciente. Os valores de pressão arterial apresentaram ligeira diminui-
ção ao longo dos 6 meses. O acompanhamento farmacoterapêutico em hipertensos de muito
alto risco mostrou-se eficiente na detecção e resolução de PRM, porém o tempo de 6 meses
foi insuficiente para obtenção de dados conclusivos a respeito dos valores de pressão arterial.
         Palavras-chave: Hipertensão arterial; Acompanhamento farmacoterapêutico; PRM.


1 INTRODUÇÃO
                                                                   complicações como as doenças cérebro-
        A Hipertensão Arterial Sistêmica                           vascular, arterial coronariana e vascular de
(HAS) compreende uma entidade clínica                              extremidades, além de insuficiência cardíaca
multifatorial que se caracteriza pela presença                     e de insuficiência renal crônica.(1)
de valores iguais ou superiores a 140 mmHg                                As doenças cardiovasculares cons-
para pressão sistólica e 90 mmHg para pres-                        tituem a principal causa de morte no Brasil,
são diastólica, e que existe num contexto                          chegando a 27% dos óbitos, elevando con-
sindrômico, com alterações hemodinâmicas,                          sideravelmente o custo médio social do país,
tróficas e metabólicas, relacionando-se, em                        sendo também, responsáveis por 40% das
caráter crônico à elevação dos índices de                          aposentadorias precoces.(2) Cerca de 20% da
morbimortalidade. A HAS pode provocar                              população adulta é portadora de HAS e a baixa

1
    E-mail: danielefaria1@gmail.com




                                      RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
adesão ao tratamento e o diagnóstico tardio              da saúde, de forma integrada à equipe de saú-
                                                                          aumentam a gravidade do quadro, sobrecar-                de. É a interação direta do farmacêutico com o
artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...




                                                                          regando e onerando os serviços de saúde.(3)              usuário, visando uma farmacoterapia racional e a
                                                                                   Os limites de pressão arterial con-             obtenção de resultados definidos e mensuráveis,
                                                                          siderados normais são arbitrários e, na                  voltados para a melhoria da qualidade de vida.(4)
                                                                          avaliação dos pacientes, deve-se consi-                          Entre os componentes da Atenção
                                                                          derar também a presença de fatores de                    Farmacêutica está o Acompanhamento Far-
                                                                          risco, lesões de órgãos-alvo e doenças                   macoterapêutico que consiste em um pro-
                                                                          associadas. Esses fatores possibilitam a                 cesso no qual o farmacêutico coopera com
                                                                          estratificação do risco cardiovascular do                o paciente e outros profissionais de saúde
                                                                          paciente hipertenso, importante para a                   mediante o desenvolvimento, execução e
                                                                          decisão terapêutica e a determinação da                  monitorização de um plano terapêutico que
                                                                          meta dos valores de pressão arterial a se-               produzirá resultados terapêuticos específicos
                                                                          rem atingidas com o tratamento. (1)                      para o paciente. Para tanto, as atividades
                                                                                   De acordo com a estratificação de riscos        principais são: 1) identificação de Problemas
                                                                          cardiovasculares(1), o grupo com maior probabili-        Relacionados com Medicamentos (PRM)
                                                                          dade de um evento cardiovascular é o grupo de            potenciais e reais; 2) resolução de PRM
                                                                          muito alto risco, pois, além de níveis de pressão        reais e 3) prevenção de PRM potenciais.(4)
                                                                          arterial elevados, estão associados outros fato-         Problemas Relacionados com Medicamentos
                                                                          res de risco cardiovascular e manifestações clí-         (PRM) são falhas na farmacoterapia origi-
                                                                          nicas associadas. Sendo assim, a probabilidade           nadas de diversas causas que interferem
                                                                          de ocorrência de um evento cardiovascular, em            nos resultados terapêuticos desejados e
                                                                          dez anos, é estimada em mais de 30%, estando             na qualidade de vida do paciente. O PRM é
                                                                          indicada a instituição de imediata e efetiva con-        considerado real quando existe um problema
                                                                          duta terapêutica, sendo essa conduta baseada             de saúde manifestado e potencial quando
                                                                          em tratamento medicamentoso associado a                  existe a possibilidade de sua ocorrência. A
                         32                                               tratamento não medicamentoso.(2)                         identificação de PRM segue os princípios
                                                                                   O objetivo primordial do tratamento da          de necessidade, efetividade e segurança,
                                                                          hipertensão é a redução da morbidade e da                próprios da farmacoterapia.
                                                                          mortalidade cardiovasculares. O tratamento                       O Segundo Consenso de Granada(5),
                                                                          medicamentoso associado ao não medica-                   classifica os PRMs em 6 tipos:
                                                                          mentoso objetiva a redução da pressão arterial
                                                                          para valores inferiores a 130 mmHg de pressão             Necessidade
                                                                          sistólica e 80 mmHg de pressão diastólica no              PRM 1 O paciente não toma o medicamento
                                                                          caso de pacientes hipertensos de muito alto               de que necessita.
                                                                          risco cardiovascular.(1) Para que o objetivo do           PRM 2 O paciente toma medicamento de
                                                                          tratamento anti-hipertensivo seja alcançado, ou           que não necessita.
                                                                          seja, para que o tratamento seja efetivo, a nova          Efetividade
                                                                          prática profissional, chamada Atenção Farma-              PRM 3 Inefetividade não quantitativa da
                                                                          cêutica, vem colaborar de maneira importante,             farmacoterapia.
                                                                          pois tem como objetivo principal aumentar a               PRM 4 Inefetividade quantitativa da farma-
                                                                          efetividade de tratamentos medicamentosos.(4)             coterapia.
                                                                                   A Atenção Farmacêutica é um modelo
                                                                                                                                    Segurança
                                                                          de prática profissional, desenvolvido no contexto
                                                                          da assistência farmacêutica, que compreende               PRM 5 Insegurança não quantitativa da
                                                                          atitudes, valores éticos, comportamento, habili-          farmacoterapia.
                                                                          dades, compromissos e co-responsabilidades na             PRM 6 Insegurança quantitativa da farma-
                                                                          prevenção de doenças, promoção e recuperação              coterapia.




                                                                                                          RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
A identificação e resolução de PRMs,           de forma a obter um bom perfil da pressão
atividades inerentes à prática do acompanha-            arterial em diferentes horários.




                                                                                                            artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
mento farmacoterapêutico, são fundamentais                      As intervenções farmacêuticas foram
para garantir o sucesso da farmacoterapia.              realizadas diretamente ao paciente (verbal
Dessa forma, este estudo teve por objetivo              ao paciente) e/ou ao médico (escrita, em
avaliar o efeito do acompanhamento farma-               forma de carta, ao médico), dependendo da
coterapêutico sobre os resultados clínicos de           causa identificada de PRM. Todas as causas
pacientes hipertensos de muito alto risco car-          de PRM que se relacionassem com o tipo
diovascular, quantificar e caracterizar os PRM          ou dosagem do medicamento utilizado pelo
identificados, suas causas e as intervenções            paciente, foram relatadas ao médico, pois
realizadas para sua resolução.                          este é o profissional habilitado na prescrição
                                                        e alteração de prescrição do medicamento.
                                                                O presente estudo foi aprovado pelo
2 METODOLOGIA                                           Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
                                                        Positivo, sob o número 162/2006.
       Estudo prospectivo com um grupo de
pacientes hipertensos em que foi realizada
análise antes e depois do acompanhamento                3 RESULTADOS
farmacoterapêutico.
       Foram selecionados para o estudo                          O acompanhamento farmacoterapêu-
pacientes hipertensos de muito alto risco,              tico foi realizado com 29 pacientes hiperten-
em uso de medicamentos anti-hipertensivos,              sos de muito alto risco encaminhados pela
pertencentes a uma microárea da Unidade de              Unidade de Saúde do Jardim Gabineto (Curi-
Saúde do Jardim Gabineto em Curitiba-PR.                tiba-PR). Os dados utilizados no presente
       O acompanhamento farmacotera-                    estudo são relativos a um período de seis
pêutico foi realizado na Farmácia-escola da             meses de acompanhamento farmacotera-
Universidade Positivo, segundo o Método                 pêutico. A média de visitas, por paciente, du-                                  33
Dáder (6) por um período de 6 meses (janeiro            rante este período, foi de 9,52 ± 7,22 (n = 29).
a junho de 2007), sendo avaliados valores                        Entre os pacientes estudados, a maioria,
de pressão arterial e demais parâmetros de              62,1% (n = 18) era do gênero masculino, a média
acordo com as co-morbidades apresentadas.               de idade foi de 55,86 ±11,1 anos, com variação de
       As fases do acompanhamento farma-                31 a 76 anos. A média de anos de estudo entre
coterapêutico consistiram, basicamente, em:             os pacientes (n = 24) foi de 3,6 ± 3,8 anos, com
1) Primeira entrevista, onde foram coletados            variação de 0 a 12 anos de estudo.
todos os dados do paciente referentes aos                        Com relação às co-morbidades,
problemas de saúde apresentados e os me-                31% dos pacientes (n = 9) apresentavam
dicamentos em uso; 2) Fase de avaliação,                diabetes e 17,2% eram portadores de dis-
cujo objetivo foi estabelecer as suspeitas de           lipidemia (n = 5). Todos os pacientes estu-
PRM de acordo com parâmetros de neces-                  dados (n = 29) possuíam muito alto risco
sidade, efetividade e segurança; 3) Fase de             cardiovascular. A obesidade (IMC ≥ 30 kg/
intervenção, cujo objetivo foi a elaboração             m2) estava presente em 39,3% (n = 11) dos
de um plano de atuação e execução das                   pacientes, sendo a média de IMC (Índice
intervenções necessárias para resolver os               de Massa Corpórea) de 31,14 ± 6,70 (n =
PRM; 4) Avaliação dos resultados, em que                28) com o menor valor de IMC de 22 kg/m 2
foram avaliados os resultados das interven-             e o maior de 50 kg/m 2.
ções realizadas. A frequência de visitas do                      Aspectos relacionados aos medicamentos
paciente à farmácia para monitorização da               utilizados pelos pacientes foram avaliados no
PA foi individualizada para cada paciente               início (Tempo 1) e após seis meses (Tempo 6) de




                           RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
Tabela 1 - Aspectos relacionados aos medicamentos no início e após 6 meses de acompanhamento
                                                                          farmacoterapêutico (n = 29).
artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...




                                                                                                                             Número de                                      Número de
                                                                                                                 Número de              Freqüência        Número de
                                                                                                                           comprimidos                               antihipertensivos
                                                                                                              medicamentos               de tomada antihipertensivos
                                                                                                                                por dia                              em dose máxima
                                                                           Início                                4,48 ? 1,55             9,10 ? 3,64 3,17 ? 0,76                              2,17 ? 0,76                0,66 ? 0,67
                                                                           (T1)
                                                                           Final                                 4,38 ? 1,64             8,62 ? 3,62 2,97 ? 0,32                              2,21 ? 0,90                0,52 ? 0,69
                                                                           (T6)
                                                                             p=0,573
                                                                               Porcentagem (%) de Pacientes




                                                                                                                 100
                                                                                                                     80
                                                                                                                     60
                                                                                                                     40
                                                                                                                     20
                                                                                                                      0
                                                                                                                                TZ




                                                                                                                                                                                                                   S
                                                                                                                                                                                                       a

                                                                                                                                                                                                             a
                                                                                                                                                                    no
                                                                                                                                                              a




                                                                                                                                                                                                                            a
                                                                                                                                                                              ol



                                                                                                                                                                                              a
                                                                                                                          il




                                                                                                                                                    l




                                                                                                                                                                                    n
                                                                                                                                          a
                                                                                                                                                   lo
                                                                                                                       pr




                                                                                                                                                                                                   in

                         34                                                                                                                                                                                 lin
                                                                                                                                                         op




                                                                                                                                                                                                                        tin
                                                                                                                                                                                          id




                                                                                                                                                                                                                  AA
                                                                                                                                                                                   rta
                                                                                                                                         id




                                                                                                                                                                          ol
                                                                                                                                               no
                                                                                                                               C




                                                                                                                                                                    pi




                                                                                                                                                                                                  rm
                                                                                                                                                                                         am
                                                                                                                     to



                                                                                                                                     m




                                                                                                                                                                                                        su
                                                                                                                                                                         en




                                                                                                                                                                                                                       ta
                                                                                                                                                        ild




                                                                                                                                                                               sa
                                                                                                                            H




                                                                                                                                                               di
                                                                                                                                              ra
                                                                                                                  ap



                                                                                                                                    se




                                                                                                                                                                                              fo




                                                                                                                                                                                                                   as
                                                                                                                                                                                                       In
                                                                                                                                                              ife
                                                                                                                                                    et



                                                                                                                                                                     At



                                                                                                                                                                                     cl
                                                                                                                                                                              Lo
                                                                                                                                         op




                                                                                                                                                                                              et
                                                                                                                                ro
                                                                                                                 C




                                                                                                                                                                                   en
                                                                                                                                                   M




                                                                                                                                                                                                                  nv
                                                                                                                                                          N




                                                                                                                                                                                          M
                                                                                                                                     Pr
                                                                                                                               Fu




                                                                                                                                                                                                                  Si
                                                                                                                                                                               lib
                                                                                                                                                                              G




                                                                                                                                              Medicamentos
                                                                                                                                                                                                        Tempo 1             Tempo 6
                                                                          Figura 2 - Medicamentos utilizados pelos pacientes (n=29) no início e no final do acompanhamento
                                                                          farmacoterapêutico.


                                                                          acompanhamento farmacoterapêutico conforme                                                      de acompanhamento farmacoterapêutico
                                                                          apresentado na Tabela 1.                                                                        são apresentados no gráfico da fig. 2.
                                                                                  Não houve mudança significativa com                                                             O número médio de PRM (Problemas
                                                                          relação ao número de medicamentos em uso                                                        Relacionados aos Medicamentos) encontrado
                                                                          (p = 0,573), número de comprimidos por dia                                                      por paciente ao longo do acompanhamento foi
                                                                          (p = 0,282), frequência de uso (p = 0,110),                                                     de 1,62 ± 1,32. A Tabela 2 apresenta as frequ-
                                                                          número de anti-hipertensivos (p = 0,663)                                                        ências dos tipos de PRM e das quantidades de
                                                                          e número de anti-hipertensivos na dose                                                          PRM apresentadas pelos pacientes.
                                                                          máxima (P = 0,103) após seis meses de                                                                   As causas dos problemas de neces-
                                                                          acompanhamento farmacoterapêutico.                                                              sidade, efetividade e segurança também
                                                                                  Os medicamentos mais utilizados                                                         foram investigadas no estudo e são apre-
                                                                          pelos pacientes no início e após seis meses                                                     sentadas na Tabela 3.




                                                                                                                                              RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
A partir dos PRMs identificados                   estudo. Os resultados são apresentados
durante o estudo, foram realizadas 40 in-                nos gráficos das fig. 3 e da fig. 4.




                                                                                                                                                              artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
tervenções, sendo 9 (22,5%) intervenções
escritas ao médico e 31 (77,5%) interven-
ções verbais ao paciente.                                                                120


                                                                                         110




                                                           Pressão Arterial Diastólica
Tabela 2 - Frequencia de Problemas Relacionados                                          100


a Medicamentos com relação ao tipo de PRM e à                                             90

quantidade apresentada por pacientes.                                                     80


                                      Pacientes                                           70       n=29   n=23
                                                                                                                                              n=8

                                                                                                                    n=21    n=15
                                                                                                                                     n=12
PRM                                 n         (%)                                         60


Tipo de PRM                                                                               50
                                                                                               0    1      2         3       4        5       6       7

Necessidade                        11       (37,9)                                                         Tempo de Acompanhamento


Efetividade                        22       (75,9)       Figura 3 - Evolução dos valores de Pressão Arterial
Segurança                           3       (10,3)       Diastólica
Quantidade de PRM
                                                                                         120
Sem PRM                             4        13,8
                                                                                         110
1 PRM                              14        48,3
                                                           Pressão Arterial Diastólica



                                                                                         100
2 PRM                               3        10,3
                                                                                          90
3 PRM                               7        24,1
                                                                                          80
6 PRM                               1          3,4
                                                                                          70                                                   n=8
                                                                                                   n=29   n=23

                                                                                          60
                                                                                                                     n=21   n=15
                                                                                                                                     n=12                                                 35
Tabela 3 - Causas de problemas relacionadas a                                             50

medicamentos identificadas e suas frequencias                                                  0    1       2         3          4
                                                                                                               Tempo de Acompanhamento
                                                                                                                                          5       6       7



Causas                                  n      (%)
                                                         Figura 4 - Evolução dos valores de Pressão
Necessidade
                                                         Sistólica
Medicamento não prescrito               2   (18,2)
Não adesão à terapia                    9   (81,8)
Efetividade                                              4 DISCUSSÃO
Adesão Parcial                          6   (27,2)
                                                                  Aspectos relacionados aos medicamen-
Baixa Dose                              6   (27,2)
                                                         tos utilizados pelos pacientes apresentaram
Falência Terapêutica                    1    (4,5)
                                                         pequena variação após seis meses. A maior
Interação com alimento                  9   (40,9)       parte dos medicamentos utilizados faz parte da
Segurança                                                Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
Erro no processo de uso                 3    (100)       (RENAME), o que vem ao encontro do fato de
                                                         os pacientes serem atendidos no SUS (Siste-
                                                         ma Único de Saúde). Entre os medicamentos
       Com relação a resultados clínicos,                utilizados para o tratamento da hipertensão
foram monitorados valores de Pressão                     apenas atenolol e losartan não fazem parte da
Arterial (PA) durante os seis meses do                   RENAME. O anti-hipertensivo mais utilizado é o




                            RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
captopril, um fármaco da classe dos inibidores             principal causa de PRM de efetividade (41%) foi
                                                                          da ECA (IECA), seguido da hidroclorotiazida, um            a interação com alimento. Nesse caso, faz-se re-
artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...




                                                                          diurético tiazídico. Todos os medicamentos para            ferência especificamente ao problema de perda
                                                                          o tratamento das co-morbidades fazem parte                 da efetividade do captopril quando do uso con-
                                                                          da RENAME. Pode-se dizer que não há, neste                 comitante com alimento. A segunda causa, baixa
                                                                          grupo de pacientes, problemas de acesso aos                dose de medicamento (28%), está relacionada,
                                                                          medicamentos para o tratamento da hipertensão              principalmente, à perda de efetividade do trata-
                                                                          e das co-morbidades. O que há é uma limitação              mento ao longo do tempo, algo que é esperado
                                                                          nas opções terapêuticas que estariam restritas             em se tratando de terapia anti-hipertensiva. A ter-
                                                                          à RENAME. Essa limitação se torna importante               ceira causa identificada foi adesão parcial (26%),
                                                                          nos casos em que, apesar de boa adesão ao                  uma causa bastante frequente para problemas
                                                                          tratamento, os medicamentos estão em dose                  de efetividade que está relacionada a inúmeros
                                                                          máxima e não são efetivos. No entanto, apenas              fatores que vão desde problemas de custo e
                                                                          um paciente do estudo estava com o tratamento              acesso, até a dificuldade de aceitar a doença
                                                                          anti-hipertensivo em dose máxima.                          e seu tratamento. A quarta causa, falência tera-
                                                                                    O ácido acetilsalicílico (AAS) é um medi-        pêutica foi responsável por 5% dos problemas
                                                                          camento utilizado como antiagregante plaquetá-             de efetividade e está relacionada com a falta de
                                                                          rio e tem como finalidade a prevenção de doença            efetividade do medicamento anti-hipertensivo,
                                                                          arterial coronariana. Em se tratando de pacientes          já em dose máxima. Nesse caso, não existe
                                                                          com muito alto risco cardiovascular, o uso de              mais possibilidade de ajuste de dose, sendo
                                                                          AAS deveria ser feito por todos os pacientes, no           necessário substituir o esquema terapêutico.
                                                                          entanto, 31,03% dos pacientes não fazem uso de                      Cabe destacar a importância do acompa-
                                                                          AAS, caracterizando um PRM de necessidade.                 nhamento farmacoterapêutico na monitorização
                                                                                    Para a resolução dos PRMs e con-                 da efetividade do tratamento e detecção precoce
                                                                          sequente garantia do sucesso da farmaco-                   de necessidade de ajustes de dose.
                                                                          terapia, é importante conhecer as causas                            Em alguns casos, a não adesão pode
                         36                                               que originaram os PRMs.                                    se dar também de forma involuntária e está
                                                                                    A principal causa para PRM 1 de ne-              relacionada, muitas vezes, à falta de entendimento
                                                                          cessidade, ou seja, o paciente não utiliza o               do paciente sobre a forma correta do uso do
                                                                          medicamento de que necessita, (fig. 3) foi a falta         medicamento. A orientação sobre a necessidade
                                                                          de prescrição do medicamento (83%), estando                de tomar adequadamente os medicamentos
                                                                          relacionada, em grande parte, com a falta de               e o esclarecimento sobre as complicações
                                                                          diagnóstico ou identificação do problema de                da Hipertensão Arterial não controlada são
                                                                          saúde pelo médico. A outra causa foi a não ade-            fundamentais para resolver a baixa adesão.
                                                                          são (17%) ao tratamento, ou seja, o paciente                        Para PRM de segurança, a única causa
                                                                          foi diagnosticado, o medicamento foi prescrito,            encontrada foi erro no processo de uso do me-
                                                                          porém ele não aderiu ao tratamento. Não foi                dicamento. Essa causa inclui, principalmente, a
                                                                          identificado nenhum caso de uso desnecessário              administração do medicamento em horários erra-
                                                                          de um medicamento (PRM2).                                  dos, por exemplo, uma reação adversa ocorrida
                                                                                    A maior parte dos PRMs encontrados               pela administração do medicamento em jejum.
                                                                          estavam relacionados à efetividade do tratamento.          Isso pode ser resolvido por meio de orientações
                                                                          Resultado semelhante foi obtido em estudos                 do farmacêutico ao paciente durante as visitas
                                                                          como o de Garção e Cabrita(7) em que 47% dos               do acompanhamento farmacoterapêutico sem
                                                                          PRMs encontrados eram de efetividade e como                necessidade de encaminhamento ao médico.
                                                                          o estudo de Parejo(8) em que a prevalência de                       O maior número de intervenções
                                                                          PRM de efetividade foi de 59,56%.                          (77,5%) ao paciente em comparação às inter-
                                                                                    Quatro causas diferentes foram en-               venções ao médico (22,5%) justifica-se pelo
                                                                          contradas para PRM de efetividade (fig. 4). A              fato de a maioria dos PRMs terem sido cau-




                                                                                                            RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
sados por fatores ligados ao comportamento                pacientes (n = 29) tiveram a PA verificada e
do paciente frente ao seu tratamento (não                 no mês 6 (fechamento do estudo) apenas 8




                                                                                                                artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
adesão e erro no processo de uso). Esses                  pacientes tiveram a pressão arterial medida.
PRMs são, portanto, passíveis de resolução
por meio de orientação direta ao paciente, sem
necessidade de encaminhamento ao médico.                  5 CONCLUSÃO
         As intervenções escritas ao médico cor-
responderam a um informe terapêutico ao médico                    O acompanhamento farmacoterapêutico
do paciente, com os parâmetros monitorados                em pacientes hipertensos de muito alto risco
no período, a avaliação do caso com relato do             mostrou-se eficaz na detecção de Problemas Re-
problema identificado e, em alguns casos, com             lacionados aos Medicamentos, na identificação
a sugestão de conduta. As intervenções ao pa-             de suas causas, na elaboração de uma interven-
ciente consistiram em orientações verbais com             ção adequada e na conseqüente resolução dos
base no problema identificado.                            PRMs. Problemas causados por comportamento
         É importante ressaltar que nas situações         inadequado do paciente frente ao seu tratamen-
em que a resolução do PRM dependia de ajustes             to foram mais freqüentes e foram resolvidos
de medicação, como alteração da dose, substi-             por meio de uma intervenção do farmacêutico
tuição do tratamento ou inclusão de um medica-            diretamente ao paciente. Com relação ao efeito
mento, a intervenção foi realizada com o médico,          do acompanhamento sobre o resultado clínico,
já que a decisão sobre a terapia farmacológica do         o tempo de 6 meses e a variação do número de
paciente é privativa desse profissional de saúde.         medidas de pressão arterial por paciente dificul-
         Quanto aos resultados clínicos, é possí-         tou a obtenção de resultados conclusivos acerca
vel perceber ligeira diminuição nos valores de PA         deste resultado clínico.
durante os meses do acompanhamento farma-
coterapêutico. Essa diminuição é mais evidente
nos valores de pressão arterial sistólica do que          ABSTRACT
nos valores de diastólica, provavelmente por se                                                                                             37
tratar de valores mais sensíveis à mudança.                       Hypertensive patients with very high
         A análise desse resultado clínico (PA),          cardiovascular risk require a strict control of
no entanto, ficou prejudicada por duas limitações         blood pressure. The pharmacotherapy follow-up
da pesquisa. A primeira diz respeito ao tempo             adds efficacy and safety to treatment. This study
de acompanhamento de 6 meses, período con-                aimed to assess the effect of pharmacotherapy
siderado pequeno para obtenção de mudanças                follow-up, community pharmacy, on hypertensive
significativas em resultados clínicos como os             patients with very high cardiovascular risk. We did
valores de pressão arterial. Nesse sentido, deve-         a prospective study, before-and- after treatment,
se levar em conta, que para cada mudança no               in which the monitoring was conducted of 29
tratamento, seja ela a alteração do esquema               hypertensive patients from Jardim Gabineto
terapêutico ou simplesmente uma melhora na                Primary Care Unit for a period of 6 months.
adesão, recomenda-se um mínimo de quatro se-              Obesity was present in 39.3% of patients and
manas para avaliação do resultado da alteração.           diabetes by 31%. It was found an average of
         A segunda limitação diz respeito ao              1.62 drug-related problems (DRP) per patient,
número de pacientes no estudo e ao número                 and the non effectiveness of the treatment
de pacientes que compareceram a todas as                  corresponded to 75.9% of the cases. Most of
visitas para que se tivesse um bom perfil da              interventions were made (77.5%) verbally direct
pressão arterial ao longo dos 6 meses de                  to the patient. The values of blood pressure
acompanhamento. Isso fica bastante eviden-                showed slight decrease over the 6 months. The
te quando se analisa os valores de PA. No                 pharmacotherapy follow-up in very high risk
mês 1 (início do acompanhamento), todos os                hypertensive patients proved to be efficient in




                             RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
the detection and resolution of DRP, but the time        4    Hepler CD, Strand LM. Oportunidades y res-
                                                                          of 6 months was insufficient to obtain conclusive             ponsabilidades em la atención farmacêutica.
artigos  acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...




                                                                          data about the values of blood pressure.                      Pharm Care Esp. 1999;1:35-47.
                                                                                   Key words: Hypertension; pharmacothe-
                                                                          rapy follow-up; drug-related problems.                   5    Comité de Consenso. Segundo Consenso
                                                                                                                                        de Granada sobre Problemas Relaciona-
                                                                                                                                        dos con Medicamentos. Ars Pharmaceu-
                                                                          REFERÊNCIAS                                                   tica. 2002; 43:179-187.

                                                                          1   Mion Jr D, Kohlmann Jr O, Machado CA,                6    Machuca M, Fernández-Llimós F, Faus
                                                                              Amodeo C, Gomes MAM, Praxedes JN,                         MJ. Método Dáder. Manual de acompa-
                                                                              et al. V Diretrizes Brasileiras de Hiperten-              nhamento farmacoterapêutico. Espanha:
                                                                              são Arterial. São Paulo: Sociedade Brasi-                 GIAF-UGR, 2003.
                                                                              leira de Cardiologia, Sociedade Brasileira
                                                                              de Hipertensão, Sociedade Brasileira de              7    Garção, JA ; Cabrita, J. Evalution of a phar-
                                                                              Nefrologia; 2006.                                         maceutical care program for hypertensive
                                                                                                                                        patients in rural Portugal. J Am Pharm
                                                                          2   Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de                Assoc. 2002;42(6):858-864.
                                                                              Políticas de Saúde. Plano de reorganização
                                                                              da atenção à hipertensão arterial e ao diabe-        8    Parejo, MIB. Problemas relacionados
                                                                              tes mellitus: manual de hipertensão arterial              con los medicamentos como causa de
                                                                              e diabetes mellitus. Brasília: Ministério da              consulta em el servicio de urgências del
                                                                              Saúde, 2002.                                              Hospital Universitário Virgen de las Nieves
                                                                                                                                        de Granada. Universidad de Granada.
                                                                          3   Brasil. Secretaria Municipal de Saúde de                  Tese de Doutorado. Granada, 2003.
                                                                              Curitiba. Protocolo de atenção à hipertensão
                         38                                                   arterial sistêmica. Curitiba: Secretaria
                                                                              Municipal de Saúde, 2004.




                                                                                                          RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008

Contenu connexe

Similaire à Acompanhamento de hipertensos de alto risco

Dissertação ana c. melchiors
Dissertação ana c. melchiorsDissertação ana c. melchiors
Dissertação ana c. melchiorsLASCES UFPR
 
Adesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitual
Adesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitualAdesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitual
Adesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitualadrianomedico
 
Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...
Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...
Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...Vilma Rodrigues
 
Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...
Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...
Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...adrianomedico
 
Hp idiopática 2015
Hp idiopática 2015Hp idiopática 2015
Hp idiopática 2015gisa_legal
 
1. AINES e hipertensos na odontologia.pdf
1. AINES e hipertensos na odontologia.pdf1. AINES e hipertensos na odontologia.pdf
1. AINES e hipertensos na odontologia.pdfHudsonUDF
 
Investigação hemodinâmica da hp 2015
Investigação hemodinâmica da hp 2015Investigação hemodinâmica da hp 2015
Investigação hemodinâmica da hp 2015gisa_legal
 

Similaire à Acompanhamento de hipertensos de alto risco (13)

Dissertação ana c. melchiors
Dissertação ana c. melchiorsDissertação ana c. melchiors
Dissertação ana c. melchiors
 
Hip
HipHip
Hip
 
Aula 1
Aula 1Aula 1
Aula 1
 
Texto 11 anti-hipertensivos
Texto 11 anti-hipertensivosTexto 11 anti-hipertensivos
Texto 11 anti-hipertensivos
 
Adesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitual
Adesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitualAdesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitual
Adesão ao tratamento anti hipertensivo uma análise conceitual
 
PRM para aula 2.pdf
PRM para aula 2.pdfPRM para aula 2.pdf
PRM para aula 2.pdf
 
Texto 6 odonto na has
Texto 6   odonto na hasTexto 6   odonto na has
Texto 6 odonto na has
 
Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...
Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...
Análise do perfil epidemiológico de um grupo de pacientes portadores de doenç...
 
Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...
Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...
Adesão do usuário hipertenso ao tratamento e a interface com o saber sobre o ...
 
Hp idiopática 2015
Hp idiopática 2015Hp idiopática 2015
Hp idiopática 2015
 
1. AINES e hipertensos na odontologia.pdf
1. AINES e hipertensos na odontologia.pdf1. AINES e hipertensos na odontologia.pdf
1. AINES e hipertensos na odontologia.pdf
 
Investigação hemodinâmica da hp 2015
Investigação hemodinâmica da hp 2015Investigação hemodinâmica da hp 2015
Investigação hemodinâmica da hp 2015
 
Hipertensão
HipertensãoHipertensão
Hipertensão
 

Acompanhamento de hipertensos de alto risco

  • 1. ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO EM PACIENTES HIPERTENSOS DE MUITO ALTO RISCO artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... PHARMACEUTICAL CARE IN HYPERTENSIVE PATIENTS WITH VERY HIGH CARDIOVASCULAR RISK DANIELE DE PAULA FARIA 1 , PAULA ROSSIGNOLI 2, CASSYANO J CORRER 3, RODRIGO A.P.SOUZA 4 1 Farmacêutica da Farmácia Escola – Universidade Positivo, Farmacêutica pela Universidade Positivo. 2 Professora do Curso de Farmácia – Universidade Positivo, Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPR. 3 Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPR, Professor do Curso de Farmácia – UFPR. 4 Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPR, Farmacêutico da Farmácia Escola – Universidade Positivo. RESUMO Pacientes hipertensos de muito alto risco cardiovascular necessitam de um controle rigoroso da pressão arterial. O acompanhamento farmacoterapêutico vem colaborar na busca de efetividade e segurança do tratamento. O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito do acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos de muito alto risco cardio- vascular. O estudo foi do tipo prospectivo com análise antes e depois do acompanhamento farmacoterapêutico. Participaram da pesquisa 29 pacientes da Unidade de Saúde Jardim Ga- bineto classificados como hipertensos de muito alto risco cardiovascular, durante um período de 6 meses. A obesidade estava presente em 39,3% dos pacientes e diabetes em 31%. Foi encontrada uma média de 1,62 Problema Relacionado com Medicamento, por paciente, sendo que os PRM de efetividade corresponderam a 75,9% dos casos. Das intervenções realizadas, 31 77,5% foram verbais ao paciente. Os valores de pressão arterial apresentaram ligeira diminui- ção ao longo dos 6 meses. O acompanhamento farmacoterapêutico em hipertensos de muito alto risco mostrou-se eficiente na detecção e resolução de PRM, porém o tempo de 6 meses foi insuficiente para obtenção de dados conclusivos a respeito dos valores de pressão arterial. Palavras-chave: Hipertensão arterial; Acompanhamento farmacoterapêutico; PRM. 1 INTRODUÇÃO complicações como as doenças cérebro- A Hipertensão Arterial Sistêmica vascular, arterial coronariana e vascular de (HAS) compreende uma entidade clínica extremidades, além de insuficiência cardíaca multifatorial que se caracteriza pela presença e de insuficiência renal crônica.(1) de valores iguais ou superiores a 140 mmHg As doenças cardiovasculares cons- para pressão sistólica e 90 mmHg para pres- tituem a principal causa de morte no Brasil, são diastólica, e que existe num contexto chegando a 27% dos óbitos, elevando con- sindrômico, com alterações hemodinâmicas, sideravelmente o custo médio social do país, tróficas e metabólicas, relacionando-se, em sendo também, responsáveis por 40% das caráter crônico à elevação dos índices de aposentadorias precoces.(2) Cerca de 20% da morbimortalidade. A HAS pode provocar população adulta é portadora de HAS e a baixa 1 E-mail: danielefaria1@gmail.com RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
  • 2. adesão ao tratamento e o diagnóstico tardio da saúde, de forma integrada à equipe de saú- aumentam a gravidade do quadro, sobrecar- de. É a interação direta do farmacêutico com o artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... regando e onerando os serviços de saúde.(3) usuário, visando uma farmacoterapia racional e a Os limites de pressão arterial con- obtenção de resultados definidos e mensuráveis, siderados normais são arbitrários e, na voltados para a melhoria da qualidade de vida.(4) avaliação dos pacientes, deve-se consi- Entre os componentes da Atenção derar também a presença de fatores de Farmacêutica está o Acompanhamento Far- risco, lesões de órgãos-alvo e doenças macoterapêutico que consiste em um pro- associadas. Esses fatores possibilitam a cesso no qual o farmacêutico coopera com estratificação do risco cardiovascular do o paciente e outros profissionais de saúde paciente hipertenso, importante para a mediante o desenvolvimento, execução e decisão terapêutica e a determinação da monitorização de um plano terapêutico que meta dos valores de pressão arterial a se- produzirá resultados terapêuticos específicos rem atingidas com o tratamento. (1) para o paciente. Para tanto, as atividades De acordo com a estratificação de riscos principais são: 1) identificação de Problemas cardiovasculares(1), o grupo com maior probabili- Relacionados com Medicamentos (PRM) dade de um evento cardiovascular é o grupo de potenciais e reais; 2) resolução de PRM muito alto risco, pois, além de níveis de pressão reais e 3) prevenção de PRM potenciais.(4) arterial elevados, estão associados outros fato- Problemas Relacionados com Medicamentos res de risco cardiovascular e manifestações clí- (PRM) são falhas na farmacoterapia origi- nicas associadas. Sendo assim, a probabilidade nadas de diversas causas que interferem de ocorrência de um evento cardiovascular, em nos resultados terapêuticos desejados e dez anos, é estimada em mais de 30%, estando na qualidade de vida do paciente. O PRM é indicada a instituição de imediata e efetiva con- considerado real quando existe um problema duta terapêutica, sendo essa conduta baseada de saúde manifestado e potencial quando em tratamento medicamentoso associado a existe a possibilidade de sua ocorrência. A 32 tratamento não medicamentoso.(2) identificação de PRM segue os princípios O objetivo primordial do tratamento da de necessidade, efetividade e segurança, hipertensão é a redução da morbidade e da próprios da farmacoterapia. mortalidade cardiovasculares. O tratamento O Segundo Consenso de Granada(5), medicamentoso associado ao não medica- classifica os PRMs em 6 tipos: mentoso objetiva a redução da pressão arterial para valores inferiores a 130 mmHg de pressão Necessidade sistólica e 80 mmHg de pressão diastólica no PRM 1 O paciente não toma o medicamento caso de pacientes hipertensos de muito alto de que necessita. risco cardiovascular.(1) Para que o objetivo do PRM 2 O paciente toma medicamento de tratamento anti-hipertensivo seja alcançado, ou que não necessita. seja, para que o tratamento seja efetivo, a nova Efetividade prática profissional, chamada Atenção Farma- PRM 3 Inefetividade não quantitativa da cêutica, vem colaborar de maneira importante, farmacoterapia. pois tem como objetivo principal aumentar a PRM 4 Inefetividade quantitativa da farma- efetividade de tratamentos medicamentosos.(4) coterapia. A Atenção Farmacêutica é um modelo Segurança de prática profissional, desenvolvido no contexto da assistência farmacêutica, que compreende PRM 5 Insegurança não quantitativa da atitudes, valores éticos, comportamento, habili- farmacoterapia. dades, compromissos e co-responsabilidades na PRM 6 Insegurança quantitativa da farma- prevenção de doenças, promoção e recuperação coterapia. RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
  • 3. A identificação e resolução de PRMs, de forma a obter um bom perfil da pressão atividades inerentes à prática do acompanha- arterial em diferentes horários. artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... mento farmacoterapêutico, são fundamentais As intervenções farmacêuticas foram para garantir o sucesso da farmacoterapia. realizadas diretamente ao paciente (verbal Dessa forma, este estudo teve por objetivo ao paciente) e/ou ao médico (escrita, em avaliar o efeito do acompanhamento farma- forma de carta, ao médico), dependendo da coterapêutico sobre os resultados clínicos de causa identificada de PRM. Todas as causas pacientes hipertensos de muito alto risco car- de PRM que se relacionassem com o tipo diovascular, quantificar e caracterizar os PRM ou dosagem do medicamento utilizado pelo identificados, suas causas e as intervenções paciente, foram relatadas ao médico, pois realizadas para sua resolução. este é o profissional habilitado na prescrição e alteração de prescrição do medicamento. O presente estudo foi aprovado pelo 2 METODOLOGIA Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Positivo, sob o número 162/2006. Estudo prospectivo com um grupo de pacientes hipertensos em que foi realizada análise antes e depois do acompanhamento 3 RESULTADOS farmacoterapêutico. Foram selecionados para o estudo O acompanhamento farmacoterapêu- pacientes hipertensos de muito alto risco, tico foi realizado com 29 pacientes hiperten- em uso de medicamentos anti-hipertensivos, sos de muito alto risco encaminhados pela pertencentes a uma microárea da Unidade de Unidade de Saúde do Jardim Gabineto (Curi- Saúde do Jardim Gabineto em Curitiba-PR. tiba-PR). Os dados utilizados no presente O acompanhamento farmacotera- estudo são relativos a um período de seis pêutico foi realizado na Farmácia-escola da meses de acompanhamento farmacotera- Universidade Positivo, segundo o Método pêutico. A média de visitas, por paciente, du- 33 Dáder (6) por um período de 6 meses (janeiro rante este período, foi de 9,52 ± 7,22 (n = 29). a junho de 2007), sendo avaliados valores Entre os pacientes estudados, a maioria, de pressão arterial e demais parâmetros de 62,1% (n = 18) era do gênero masculino, a média acordo com as co-morbidades apresentadas. de idade foi de 55,86 ±11,1 anos, com variação de As fases do acompanhamento farma- 31 a 76 anos. A média de anos de estudo entre coterapêutico consistiram, basicamente, em: os pacientes (n = 24) foi de 3,6 ± 3,8 anos, com 1) Primeira entrevista, onde foram coletados variação de 0 a 12 anos de estudo. todos os dados do paciente referentes aos Com relação às co-morbidades, problemas de saúde apresentados e os me- 31% dos pacientes (n = 9) apresentavam dicamentos em uso; 2) Fase de avaliação, diabetes e 17,2% eram portadores de dis- cujo objetivo foi estabelecer as suspeitas de lipidemia (n = 5). Todos os pacientes estu- PRM de acordo com parâmetros de neces- dados (n = 29) possuíam muito alto risco sidade, efetividade e segurança; 3) Fase de cardiovascular. A obesidade (IMC ≥ 30 kg/ intervenção, cujo objetivo foi a elaboração m2) estava presente em 39,3% (n = 11) dos de um plano de atuação e execução das pacientes, sendo a média de IMC (Índice intervenções necessárias para resolver os de Massa Corpórea) de 31,14 ± 6,70 (n = PRM; 4) Avaliação dos resultados, em que 28) com o menor valor de IMC de 22 kg/m 2 foram avaliados os resultados das interven- e o maior de 50 kg/m 2. ções realizadas. A frequência de visitas do Aspectos relacionados aos medicamentos paciente à farmácia para monitorização da utilizados pelos pacientes foram avaliados no PA foi individualizada para cada paciente início (Tempo 1) e após seis meses (Tempo 6) de RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
  • 4. Tabela 1 - Aspectos relacionados aos medicamentos no início e após 6 meses de acompanhamento farmacoterapêutico (n = 29). artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... Número de Número de Número de Freqüência Número de comprimidos antihipertensivos medicamentos de tomada antihipertensivos por dia em dose máxima Início 4,48 ? 1,55 9,10 ? 3,64 3,17 ? 0,76 2,17 ? 0,76 0,66 ? 0,67 (T1) Final 4,38 ? 1,64 8,62 ? 3,62 2,97 ? 0,32 2,21 ? 0,90 0,52 ? 0,69 (T6) p=0,573 Porcentagem (%) de Pacientes 100 80 60 40 20 0 TZ S a a no a a ol a il l n a lo pr in 34 lin op tin id AA rta id ol no C pi rm am to m su en ta ild sa H di ra ap se fo as In ife et At cl Lo op et ro C en M nv N M Pr Fu Si lib G Medicamentos Tempo 1 Tempo 6 Figura 2 - Medicamentos utilizados pelos pacientes (n=29) no início e no final do acompanhamento farmacoterapêutico. acompanhamento farmacoterapêutico conforme de acompanhamento farmacoterapêutico apresentado na Tabela 1. são apresentados no gráfico da fig. 2. Não houve mudança significativa com O número médio de PRM (Problemas relação ao número de medicamentos em uso Relacionados aos Medicamentos) encontrado (p = 0,573), número de comprimidos por dia por paciente ao longo do acompanhamento foi (p = 0,282), frequência de uso (p = 0,110), de 1,62 ± 1,32. A Tabela 2 apresenta as frequ- número de anti-hipertensivos (p = 0,663) ências dos tipos de PRM e das quantidades de e número de anti-hipertensivos na dose PRM apresentadas pelos pacientes. máxima (P = 0,103) após seis meses de As causas dos problemas de neces- acompanhamento farmacoterapêutico. sidade, efetividade e segurança também Os medicamentos mais utilizados foram investigadas no estudo e são apre- pelos pacientes no início e após seis meses sentadas na Tabela 3. RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
  • 5. A partir dos PRMs identificados estudo. Os resultados são apresentados durante o estudo, foram realizadas 40 in- nos gráficos das fig. 3 e da fig. 4. artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... tervenções, sendo 9 (22,5%) intervenções escritas ao médico e 31 (77,5%) interven- ções verbais ao paciente. 120 110 Pressão Arterial Diastólica Tabela 2 - Frequencia de Problemas Relacionados 100 a Medicamentos com relação ao tipo de PRM e à 90 quantidade apresentada por pacientes. 80 Pacientes 70 n=29 n=23 n=8 n=21 n=15 n=12 PRM n (%) 60 Tipo de PRM 50 0 1 2 3 4 5 6 7 Necessidade 11 (37,9) Tempo de Acompanhamento Efetividade 22 (75,9) Figura 3 - Evolução dos valores de Pressão Arterial Segurança 3 (10,3) Diastólica Quantidade de PRM 120 Sem PRM 4 13,8 110 1 PRM 14 48,3 Pressão Arterial Diastólica 100 2 PRM 3 10,3 90 3 PRM 7 24,1 80 6 PRM 1 3,4 70 n=8 n=29 n=23 60 n=21 n=15 n=12 35 Tabela 3 - Causas de problemas relacionadas a 50 medicamentos identificadas e suas frequencias 0 1 2 3 4 Tempo de Acompanhamento 5 6 7 Causas n (%) Figura 4 - Evolução dos valores de Pressão Necessidade Sistólica Medicamento não prescrito 2 (18,2) Não adesão à terapia 9 (81,8) Efetividade 4 DISCUSSÃO Adesão Parcial 6 (27,2) Aspectos relacionados aos medicamen- Baixa Dose 6 (27,2) tos utilizados pelos pacientes apresentaram Falência Terapêutica 1 (4,5) pequena variação após seis meses. A maior Interação com alimento 9 (40,9) parte dos medicamentos utilizados faz parte da Segurança Relação Nacional de Medicamentos Essenciais Erro no processo de uso 3 (100) (RENAME), o que vem ao encontro do fato de os pacientes serem atendidos no SUS (Siste- ma Único de Saúde). Entre os medicamentos Com relação a resultados clínicos, utilizados para o tratamento da hipertensão foram monitorados valores de Pressão apenas atenolol e losartan não fazem parte da Arterial (PA) durante os seis meses do RENAME. O anti-hipertensivo mais utilizado é o RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
  • 6. captopril, um fármaco da classe dos inibidores principal causa de PRM de efetividade (41%) foi da ECA (IECA), seguido da hidroclorotiazida, um a interação com alimento. Nesse caso, faz-se re- artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... diurético tiazídico. Todos os medicamentos para ferência especificamente ao problema de perda o tratamento das co-morbidades fazem parte da efetividade do captopril quando do uso con- da RENAME. Pode-se dizer que não há, neste comitante com alimento. A segunda causa, baixa grupo de pacientes, problemas de acesso aos dose de medicamento (28%), está relacionada, medicamentos para o tratamento da hipertensão principalmente, à perda de efetividade do trata- e das co-morbidades. O que há é uma limitação mento ao longo do tempo, algo que é esperado nas opções terapêuticas que estariam restritas em se tratando de terapia anti-hipertensiva. A ter- à RENAME. Essa limitação se torna importante ceira causa identificada foi adesão parcial (26%), nos casos em que, apesar de boa adesão ao uma causa bastante frequente para problemas tratamento, os medicamentos estão em dose de efetividade que está relacionada a inúmeros máxima e não são efetivos. No entanto, apenas fatores que vão desde problemas de custo e um paciente do estudo estava com o tratamento acesso, até a dificuldade de aceitar a doença anti-hipertensivo em dose máxima. e seu tratamento. A quarta causa, falência tera- O ácido acetilsalicílico (AAS) é um medi- pêutica foi responsável por 5% dos problemas camento utilizado como antiagregante plaquetá- de efetividade e está relacionada com a falta de rio e tem como finalidade a prevenção de doença efetividade do medicamento anti-hipertensivo, arterial coronariana. Em se tratando de pacientes já em dose máxima. Nesse caso, não existe com muito alto risco cardiovascular, o uso de mais possibilidade de ajuste de dose, sendo AAS deveria ser feito por todos os pacientes, no necessário substituir o esquema terapêutico. entanto, 31,03% dos pacientes não fazem uso de Cabe destacar a importância do acompa- AAS, caracterizando um PRM de necessidade. nhamento farmacoterapêutico na monitorização Para a resolução dos PRMs e con- da efetividade do tratamento e detecção precoce sequente garantia do sucesso da farmaco- de necessidade de ajustes de dose. terapia, é importante conhecer as causas Em alguns casos, a não adesão pode 36 que originaram os PRMs. se dar também de forma involuntária e está A principal causa para PRM 1 de ne- relacionada, muitas vezes, à falta de entendimento cessidade, ou seja, o paciente não utiliza o do paciente sobre a forma correta do uso do medicamento de que necessita, (fig. 3) foi a falta medicamento. A orientação sobre a necessidade de prescrição do medicamento (83%), estando de tomar adequadamente os medicamentos relacionada, em grande parte, com a falta de e o esclarecimento sobre as complicações diagnóstico ou identificação do problema de da Hipertensão Arterial não controlada são saúde pelo médico. A outra causa foi a não ade- fundamentais para resolver a baixa adesão. são (17%) ao tratamento, ou seja, o paciente Para PRM de segurança, a única causa foi diagnosticado, o medicamento foi prescrito, encontrada foi erro no processo de uso do me- porém ele não aderiu ao tratamento. Não foi dicamento. Essa causa inclui, principalmente, a identificado nenhum caso de uso desnecessário administração do medicamento em horários erra- de um medicamento (PRM2). dos, por exemplo, uma reação adversa ocorrida A maior parte dos PRMs encontrados pela administração do medicamento em jejum. estavam relacionados à efetividade do tratamento. Isso pode ser resolvido por meio de orientações Resultado semelhante foi obtido em estudos do farmacêutico ao paciente durante as visitas como o de Garção e Cabrita(7) em que 47% dos do acompanhamento farmacoterapêutico sem PRMs encontrados eram de efetividade e como necessidade de encaminhamento ao médico. o estudo de Parejo(8) em que a prevalência de O maior número de intervenções PRM de efetividade foi de 59,56%. (77,5%) ao paciente em comparação às inter- Quatro causas diferentes foram en- venções ao médico (22,5%) justifica-se pelo contradas para PRM de efetividade (fig. 4). A fato de a maioria dos PRMs terem sido cau- RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
  • 7. sados por fatores ligados ao comportamento pacientes (n = 29) tiveram a PA verificada e do paciente frente ao seu tratamento (não no mês 6 (fechamento do estudo) apenas 8 artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... adesão e erro no processo de uso). Esses pacientes tiveram a pressão arterial medida. PRMs são, portanto, passíveis de resolução por meio de orientação direta ao paciente, sem necessidade de encaminhamento ao médico. 5 CONCLUSÃO As intervenções escritas ao médico cor- responderam a um informe terapêutico ao médico O acompanhamento farmacoterapêutico do paciente, com os parâmetros monitorados em pacientes hipertensos de muito alto risco no período, a avaliação do caso com relato do mostrou-se eficaz na detecção de Problemas Re- problema identificado e, em alguns casos, com lacionados aos Medicamentos, na identificação a sugestão de conduta. As intervenções ao pa- de suas causas, na elaboração de uma interven- ciente consistiram em orientações verbais com ção adequada e na conseqüente resolução dos base no problema identificado. PRMs. Problemas causados por comportamento É importante ressaltar que nas situações inadequado do paciente frente ao seu tratamen- em que a resolução do PRM dependia de ajustes to foram mais freqüentes e foram resolvidos de medicação, como alteração da dose, substi- por meio de uma intervenção do farmacêutico tuição do tratamento ou inclusão de um medica- diretamente ao paciente. Com relação ao efeito mento, a intervenção foi realizada com o médico, do acompanhamento sobre o resultado clínico, já que a decisão sobre a terapia farmacológica do o tempo de 6 meses e a variação do número de paciente é privativa desse profissional de saúde. medidas de pressão arterial por paciente dificul- Quanto aos resultados clínicos, é possí- tou a obtenção de resultados conclusivos acerca vel perceber ligeira diminuição nos valores de PA deste resultado clínico. durante os meses do acompanhamento farma- coterapêutico. Essa diminuição é mais evidente nos valores de pressão arterial sistólica do que ABSTRACT nos valores de diastólica, provavelmente por se 37 tratar de valores mais sensíveis à mudança. Hypertensive patients with very high A análise desse resultado clínico (PA), cardiovascular risk require a strict control of no entanto, ficou prejudicada por duas limitações blood pressure. The pharmacotherapy follow-up da pesquisa. A primeira diz respeito ao tempo adds efficacy and safety to treatment. This study de acompanhamento de 6 meses, período con- aimed to assess the effect of pharmacotherapy siderado pequeno para obtenção de mudanças follow-up, community pharmacy, on hypertensive significativas em resultados clínicos como os patients with very high cardiovascular risk. We did valores de pressão arterial. Nesse sentido, deve- a prospective study, before-and- after treatment, se levar em conta, que para cada mudança no in which the monitoring was conducted of 29 tratamento, seja ela a alteração do esquema hypertensive patients from Jardim Gabineto terapêutico ou simplesmente uma melhora na Primary Care Unit for a period of 6 months. adesão, recomenda-se um mínimo de quatro se- Obesity was present in 39.3% of patients and manas para avaliação do resultado da alteração. diabetes by 31%. It was found an average of A segunda limitação diz respeito ao 1.62 drug-related problems (DRP) per patient, número de pacientes no estudo e ao número and the non effectiveness of the treatment de pacientes que compareceram a todas as corresponded to 75.9% of the cases. Most of visitas para que se tivesse um bom perfil da interventions were made (77.5%) verbally direct pressão arterial ao longo dos 6 meses de to the patient. The values of blood pressure acompanhamento. Isso fica bastante eviden- showed slight decrease over the 6 months. The te quando se analisa os valores de PA. No pharmacotherapy follow-up in very high risk mês 1 (início do acompanhamento), todos os hypertensive patients proved to be efficient in RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008
  • 8. the detection and resolution of DRP, but the time 4 Hepler CD, Strand LM. Oportunidades y res- of 6 months was insufficient to obtain conclusive ponsabilidades em la atención farmacêutica. artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos... data about the values of blood pressure. Pharm Care Esp. 1999;1:35-47. Key words: Hypertension; pharmacothe- rapy follow-up; drug-related problems. 5 Comité de Consenso. Segundo Consenso de Granada sobre Problemas Relaciona- dos con Medicamentos. Ars Pharmaceu- REFERÊNCIAS tica. 2002; 43:179-187. 1 Mion Jr D, Kohlmann Jr O, Machado CA, 6 Machuca M, Fernández-Llimós F, Faus Amodeo C, Gomes MAM, Praxedes JN, MJ. Método Dáder. Manual de acompa- et al. V Diretrizes Brasileiras de Hiperten- nhamento farmacoterapêutico. Espanha: são Arterial. São Paulo: Sociedade Brasi- GIAF-UGR, 2003. leira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de 7 Garção, JA ; Cabrita, J. Evalution of a phar- Nefrologia; 2006. maceutical care program for hypertensive patients in rural Portugal. J Am Pharm 2 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assoc. 2002;42(6):858-864. Políticas de Saúde. Plano de reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabe- 8 Parejo, MIB. Problemas relacionados tes mellitus: manual de hipertensão arterial con los medicamentos como causa de e diabetes mellitus. Brasília: Ministério da consulta em el servicio de urgências del Saúde, 2002. Hospital Universitário Virgen de las Nieves de Granada. Universidad de Granada. 3 Brasil. Secretaria Municipal de Saúde de Tese de Doutorado. Granada, 2003. Curitiba. Protocolo de atenção à hipertensão 38 arterial sistêmica. Curitiba: Secretaria Municipal de Saúde, 2004. RUBS, Curitiba, v.1, n.3, p.29-36, set./dez. 2008