O documento descreve um estudo sobre o acompanhamento farmacoterapêutico de pacientes hipertensos de alto risco cardiovascular. O estudo avaliou 29 pacientes e identificou uma média de 1,62 problemas relacionados à medicação por paciente. Após intervenções como conversas com os pacientes, houve uma leve redução na pressão arterial dos participantes ao longo de 6 meses.
1. ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO EM PACIENTES HIPERTENSOS DE MUITO
ALTO RISCO
artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
PHARMACEUTICAL CARE IN HYPERTENSIVE PATIENTS WITH VERY HIGH CARDIOVASCULAR RISK
DANIELE DE PAULA FARIA 1 , PAULA ROSSIGNOLI 2, CASSYANO J CORRER 3, RODRIGO A.P.SOUZA 4
1
Farmacêutica da Farmácia Escola – Universidade Positivo, Farmacêutica pela
Universidade Positivo.
2
Professora do Curso de Farmácia – Universidade Positivo, Mestre em Ciências
Farmacêuticas – UFPR.
3
Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPR, Professor do Curso de Farmácia – UFPR.
4
Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPR, Farmacêutico da Farmácia Escola –
Universidade Positivo.
RESUMO
Pacientes hipertensos de muito alto risco cardiovascular necessitam de um controle
rigoroso da pressão arterial. O acompanhamento farmacoterapêutico vem colaborar na busca
de efetividade e segurança do tratamento. O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito
do acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos de muito alto risco cardio-
vascular. O estudo foi do tipo prospectivo com análise antes e depois do acompanhamento
farmacoterapêutico. Participaram da pesquisa 29 pacientes da Unidade de Saúde Jardim Ga-
bineto classificados como hipertensos de muito alto risco cardiovascular, durante um período
de 6 meses. A obesidade estava presente em 39,3% dos pacientes e diabetes em 31%. Foi
encontrada uma média de 1,62 Problema Relacionado com Medicamento, por paciente, sendo
que os PRM de efetividade corresponderam a 75,9% dos casos. Das intervenções realizadas, 31
77,5% foram verbais ao paciente. Os valores de pressão arterial apresentaram ligeira diminui-
ção ao longo dos 6 meses. O acompanhamento farmacoterapêutico em hipertensos de muito
alto risco mostrou-se eficiente na detecção e resolução de PRM, porém o tempo de 6 meses
foi insuficiente para obtenção de dados conclusivos a respeito dos valores de pressão arterial.
Palavras-chave: Hipertensão arterial; Acompanhamento farmacoterapêutico; PRM.
1 INTRODUÇÃO
complicações como as doenças cérebro-
A Hipertensão Arterial Sistêmica vascular, arterial coronariana e vascular de
(HAS) compreende uma entidade clínica extremidades, além de insuficiência cardíaca
multifatorial que se caracteriza pela presença e de insuficiência renal crônica.(1)
de valores iguais ou superiores a 140 mmHg As doenças cardiovasculares cons-
para pressão sistólica e 90 mmHg para pres- tituem a principal causa de morte no Brasil,
são diastólica, e que existe num contexto chegando a 27% dos óbitos, elevando con-
sindrômico, com alterações hemodinâmicas, sideravelmente o custo médio social do país,
tróficas e metabólicas, relacionando-se, em sendo também, responsáveis por 40% das
caráter crônico à elevação dos índices de aposentadorias precoces.(2) Cerca de 20% da
morbimortalidade. A HAS pode provocar população adulta é portadora de HAS e a baixa
1
E-mail: danielefaria1@gmail.com
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2. adesão ao tratamento e o diagnóstico tardio da saúde, de forma integrada à equipe de saú-
aumentam a gravidade do quadro, sobrecar- de. É a interação direta do farmacêutico com o
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regando e onerando os serviços de saúde.(3) usuário, visando uma farmacoterapia racional e a
Os limites de pressão arterial con- obtenção de resultados definidos e mensuráveis,
siderados normais são arbitrários e, na voltados para a melhoria da qualidade de vida.(4)
avaliação dos pacientes, deve-se consi- Entre os componentes da Atenção
derar também a presença de fatores de Farmacêutica está o Acompanhamento Far-
risco, lesões de órgãos-alvo e doenças macoterapêutico que consiste em um pro-
associadas. Esses fatores possibilitam a cesso no qual o farmacêutico coopera com
estratificação do risco cardiovascular do o paciente e outros profissionais de saúde
paciente hipertenso, importante para a mediante o desenvolvimento, execução e
decisão terapêutica e a determinação da monitorização de um plano terapêutico que
meta dos valores de pressão arterial a se- produzirá resultados terapêuticos específicos
rem atingidas com o tratamento. (1) para o paciente. Para tanto, as atividades
De acordo com a estratificação de riscos principais são: 1) identificação de Problemas
cardiovasculares(1), o grupo com maior probabili- Relacionados com Medicamentos (PRM)
dade de um evento cardiovascular é o grupo de potenciais e reais; 2) resolução de PRM
muito alto risco, pois, além de níveis de pressão reais e 3) prevenção de PRM potenciais.(4)
arterial elevados, estão associados outros fato- Problemas Relacionados com Medicamentos
res de risco cardiovascular e manifestações clí- (PRM) são falhas na farmacoterapia origi-
nicas associadas. Sendo assim, a probabilidade nadas de diversas causas que interferem
de ocorrência de um evento cardiovascular, em nos resultados terapêuticos desejados e
dez anos, é estimada em mais de 30%, estando na qualidade de vida do paciente. O PRM é
indicada a instituição de imediata e efetiva con- considerado real quando existe um problema
duta terapêutica, sendo essa conduta baseada de saúde manifestado e potencial quando
em tratamento medicamentoso associado a existe a possibilidade de sua ocorrência. A
32 tratamento não medicamentoso.(2) identificação de PRM segue os princípios
O objetivo primordial do tratamento da de necessidade, efetividade e segurança,
hipertensão é a redução da morbidade e da próprios da farmacoterapia.
mortalidade cardiovasculares. O tratamento O Segundo Consenso de Granada(5),
medicamentoso associado ao não medica- classifica os PRMs em 6 tipos:
mentoso objetiva a redução da pressão arterial
para valores inferiores a 130 mmHg de pressão Necessidade
sistólica e 80 mmHg de pressão diastólica no PRM 1 O paciente não toma o medicamento
caso de pacientes hipertensos de muito alto de que necessita.
risco cardiovascular.(1) Para que o objetivo do PRM 2 O paciente toma medicamento de
tratamento anti-hipertensivo seja alcançado, ou que não necessita.
seja, para que o tratamento seja efetivo, a nova Efetividade
prática profissional, chamada Atenção Farma- PRM 3 Inefetividade não quantitativa da
cêutica, vem colaborar de maneira importante, farmacoterapia.
pois tem como objetivo principal aumentar a PRM 4 Inefetividade quantitativa da farma-
efetividade de tratamentos medicamentosos.(4) coterapia.
A Atenção Farmacêutica é um modelo
Segurança
de prática profissional, desenvolvido no contexto
da assistência farmacêutica, que compreende PRM 5 Insegurança não quantitativa da
atitudes, valores éticos, comportamento, habili- farmacoterapia.
dades, compromissos e co-responsabilidades na PRM 6 Insegurança quantitativa da farma-
prevenção de doenças, promoção e recuperação coterapia.
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3. A identificação e resolução de PRMs, de forma a obter um bom perfil da pressão
atividades inerentes à prática do acompanha- arterial em diferentes horários.
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mento farmacoterapêutico, são fundamentais As intervenções farmacêuticas foram
para garantir o sucesso da farmacoterapia. realizadas diretamente ao paciente (verbal
Dessa forma, este estudo teve por objetivo ao paciente) e/ou ao médico (escrita, em
avaliar o efeito do acompanhamento farma- forma de carta, ao médico), dependendo da
coterapêutico sobre os resultados clínicos de causa identificada de PRM. Todas as causas
pacientes hipertensos de muito alto risco car- de PRM que se relacionassem com o tipo
diovascular, quantificar e caracterizar os PRM ou dosagem do medicamento utilizado pelo
identificados, suas causas e as intervenções paciente, foram relatadas ao médico, pois
realizadas para sua resolução. este é o profissional habilitado na prescrição
e alteração de prescrição do medicamento.
O presente estudo foi aprovado pelo
2 METODOLOGIA Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Positivo, sob o número 162/2006.
Estudo prospectivo com um grupo de
pacientes hipertensos em que foi realizada
análise antes e depois do acompanhamento 3 RESULTADOS
farmacoterapêutico.
Foram selecionados para o estudo O acompanhamento farmacoterapêu-
pacientes hipertensos de muito alto risco, tico foi realizado com 29 pacientes hiperten-
em uso de medicamentos anti-hipertensivos, sos de muito alto risco encaminhados pela
pertencentes a uma microárea da Unidade de Unidade de Saúde do Jardim Gabineto (Curi-
Saúde do Jardim Gabineto em Curitiba-PR. tiba-PR). Os dados utilizados no presente
O acompanhamento farmacotera- estudo são relativos a um período de seis
pêutico foi realizado na Farmácia-escola da meses de acompanhamento farmacotera-
Universidade Positivo, segundo o Método pêutico. A média de visitas, por paciente, du- 33
Dáder (6) por um período de 6 meses (janeiro rante este período, foi de 9,52 ± 7,22 (n = 29).
a junho de 2007), sendo avaliados valores Entre os pacientes estudados, a maioria,
de pressão arterial e demais parâmetros de 62,1% (n = 18) era do gênero masculino, a média
acordo com as co-morbidades apresentadas. de idade foi de 55,86 ±11,1 anos, com variação de
As fases do acompanhamento farma- 31 a 76 anos. A média de anos de estudo entre
coterapêutico consistiram, basicamente, em: os pacientes (n = 24) foi de 3,6 ± 3,8 anos, com
1) Primeira entrevista, onde foram coletados variação de 0 a 12 anos de estudo.
todos os dados do paciente referentes aos Com relação às co-morbidades,
problemas de saúde apresentados e os me- 31% dos pacientes (n = 9) apresentavam
dicamentos em uso; 2) Fase de avaliação, diabetes e 17,2% eram portadores de dis-
cujo objetivo foi estabelecer as suspeitas de lipidemia (n = 5). Todos os pacientes estu-
PRM de acordo com parâmetros de neces- dados (n = 29) possuíam muito alto risco
sidade, efetividade e segurança; 3) Fase de cardiovascular. A obesidade (IMC ≥ 30 kg/
intervenção, cujo objetivo foi a elaboração m2) estava presente em 39,3% (n = 11) dos
de um plano de atuação e execução das pacientes, sendo a média de IMC (Índice
intervenções necessárias para resolver os de Massa Corpórea) de 31,14 ± 6,70 (n =
PRM; 4) Avaliação dos resultados, em que 28) com o menor valor de IMC de 22 kg/m 2
foram avaliados os resultados das interven- e o maior de 50 kg/m 2.
ções realizadas. A frequência de visitas do Aspectos relacionados aos medicamentos
paciente à farmácia para monitorização da utilizados pelos pacientes foram avaliados no
PA foi individualizada para cada paciente início (Tempo 1) e após seis meses (Tempo 6) de
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4. Tabela 1 - Aspectos relacionados aos medicamentos no início e após 6 meses de acompanhamento
farmacoterapêutico (n = 29).
artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
Número de Número de
Número de Freqüência Número de
comprimidos antihipertensivos
medicamentos de tomada antihipertensivos
por dia em dose máxima
Início 4,48 ? 1,55 9,10 ? 3,64 3,17 ? 0,76 2,17 ? 0,76 0,66 ? 0,67
(T1)
Final 4,38 ? 1,64 8,62 ? 3,62 2,97 ? 0,32 2,21 ? 0,90 0,52 ? 0,69
(T6)
p=0,573
Porcentagem (%) de Pacientes
100
80
60
40
20
0
TZ
S
a
a
no
a
a
ol
a
il
l
n
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lo
pr
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34 lin
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M
nv
N
M
Pr
Fu
Si
lib
G
Medicamentos
Tempo 1 Tempo 6
Figura 2 - Medicamentos utilizados pelos pacientes (n=29) no início e no final do acompanhamento
farmacoterapêutico.
acompanhamento farmacoterapêutico conforme de acompanhamento farmacoterapêutico
apresentado na Tabela 1. são apresentados no gráfico da fig. 2.
Não houve mudança significativa com O número médio de PRM (Problemas
relação ao número de medicamentos em uso Relacionados aos Medicamentos) encontrado
(p = 0,573), número de comprimidos por dia por paciente ao longo do acompanhamento foi
(p = 0,282), frequência de uso (p = 0,110), de 1,62 ± 1,32. A Tabela 2 apresenta as frequ-
número de anti-hipertensivos (p = 0,663) ências dos tipos de PRM e das quantidades de
e número de anti-hipertensivos na dose PRM apresentadas pelos pacientes.
máxima (P = 0,103) após seis meses de As causas dos problemas de neces-
acompanhamento farmacoterapêutico. sidade, efetividade e segurança também
Os medicamentos mais utilizados foram investigadas no estudo e são apre-
pelos pacientes no início e após seis meses sentadas na Tabela 3.
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5. A partir dos PRMs identificados estudo. Os resultados são apresentados
durante o estudo, foram realizadas 40 in- nos gráficos das fig. 3 e da fig. 4.
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tervenções, sendo 9 (22,5%) intervenções
escritas ao médico e 31 (77,5%) interven-
ções verbais ao paciente. 120
110
Pressão Arterial Diastólica
Tabela 2 - Frequencia de Problemas Relacionados 100
a Medicamentos com relação ao tipo de PRM e à 90
quantidade apresentada por pacientes. 80
Pacientes 70 n=29 n=23
n=8
n=21 n=15
n=12
PRM n (%) 60
Tipo de PRM 50
0 1 2 3 4 5 6 7
Necessidade 11 (37,9) Tempo de Acompanhamento
Efetividade 22 (75,9) Figura 3 - Evolução dos valores de Pressão Arterial
Segurança 3 (10,3) Diastólica
Quantidade de PRM
120
Sem PRM 4 13,8
110
1 PRM 14 48,3
Pressão Arterial Diastólica
100
2 PRM 3 10,3
90
3 PRM 7 24,1
80
6 PRM 1 3,4
70 n=8
n=29 n=23
60
n=21 n=15
n=12 35
Tabela 3 - Causas de problemas relacionadas a 50
medicamentos identificadas e suas frequencias 0 1 2 3 4
Tempo de Acompanhamento
5 6 7
Causas n (%)
Figura 4 - Evolução dos valores de Pressão
Necessidade
Sistólica
Medicamento não prescrito 2 (18,2)
Não adesão à terapia 9 (81,8)
Efetividade 4 DISCUSSÃO
Adesão Parcial 6 (27,2)
Aspectos relacionados aos medicamen-
Baixa Dose 6 (27,2)
tos utilizados pelos pacientes apresentaram
Falência Terapêutica 1 (4,5)
pequena variação após seis meses. A maior
Interação com alimento 9 (40,9) parte dos medicamentos utilizados faz parte da
Segurança Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
Erro no processo de uso 3 (100) (RENAME), o que vem ao encontro do fato de
os pacientes serem atendidos no SUS (Siste-
ma Único de Saúde). Entre os medicamentos
Com relação a resultados clínicos, utilizados para o tratamento da hipertensão
foram monitorados valores de Pressão apenas atenolol e losartan não fazem parte da
Arterial (PA) durante os seis meses do RENAME. O anti-hipertensivo mais utilizado é o
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6. captopril, um fármaco da classe dos inibidores principal causa de PRM de efetividade (41%) foi
da ECA (IECA), seguido da hidroclorotiazida, um a interação com alimento. Nesse caso, faz-se re-
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diurético tiazídico. Todos os medicamentos para ferência especificamente ao problema de perda
o tratamento das co-morbidades fazem parte da efetividade do captopril quando do uso con-
da RENAME. Pode-se dizer que não há, neste comitante com alimento. A segunda causa, baixa
grupo de pacientes, problemas de acesso aos dose de medicamento (28%), está relacionada,
medicamentos para o tratamento da hipertensão principalmente, à perda de efetividade do trata-
e das co-morbidades. O que há é uma limitação mento ao longo do tempo, algo que é esperado
nas opções terapêuticas que estariam restritas em se tratando de terapia anti-hipertensiva. A ter-
à RENAME. Essa limitação se torna importante ceira causa identificada foi adesão parcial (26%),
nos casos em que, apesar de boa adesão ao uma causa bastante frequente para problemas
tratamento, os medicamentos estão em dose de efetividade que está relacionada a inúmeros
máxima e não são efetivos. No entanto, apenas fatores que vão desde problemas de custo e
um paciente do estudo estava com o tratamento acesso, até a dificuldade de aceitar a doença
anti-hipertensivo em dose máxima. e seu tratamento. A quarta causa, falência tera-
O ácido acetilsalicílico (AAS) é um medi- pêutica foi responsável por 5% dos problemas
camento utilizado como antiagregante plaquetá- de efetividade e está relacionada com a falta de
rio e tem como finalidade a prevenção de doença efetividade do medicamento anti-hipertensivo,
arterial coronariana. Em se tratando de pacientes já em dose máxima. Nesse caso, não existe
com muito alto risco cardiovascular, o uso de mais possibilidade de ajuste de dose, sendo
AAS deveria ser feito por todos os pacientes, no necessário substituir o esquema terapêutico.
entanto, 31,03% dos pacientes não fazem uso de Cabe destacar a importância do acompa-
AAS, caracterizando um PRM de necessidade. nhamento farmacoterapêutico na monitorização
Para a resolução dos PRMs e con- da efetividade do tratamento e detecção precoce
sequente garantia do sucesso da farmaco- de necessidade de ajustes de dose.
terapia, é importante conhecer as causas Em alguns casos, a não adesão pode
36 que originaram os PRMs. se dar também de forma involuntária e está
A principal causa para PRM 1 de ne- relacionada, muitas vezes, à falta de entendimento
cessidade, ou seja, o paciente não utiliza o do paciente sobre a forma correta do uso do
medicamento de que necessita, (fig. 3) foi a falta medicamento. A orientação sobre a necessidade
de prescrição do medicamento (83%), estando de tomar adequadamente os medicamentos
relacionada, em grande parte, com a falta de e o esclarecimento sobre as complicações
diagnóstico ou identificação do problema de da Hipertensão Arterial não controlada são
saúde pelo médico. A outra causa foi a não ade- fundamentais para resolver a baixa adesão.
são (17%) ao tratamento, ou seja, o paciente Para PRM de segurança, a única causa
foi diagnosticado, o medicamento foi prescrito, encontrada foi erro no processo de uso do me-
porém ele não aderiu ao tratamento. Não foi dicamento. Essa causa inclui, principalmente, a
identificado nenhum caso de uso desnecessário administração do medicamento em horários erra-
de um medicamento (PRM2). dos, por exemplo, uma reação adversa ocorrida
A maior parte dos PRMs encontrados pela administração do medicamento em jejum.
estavam relacionados à efetividade do tratamento. Isso pode ser resolvido por meio de orientações
Resultado semelhante foi obtido em estudos do farmacêutico ao paciente durante as visitas
como o de Garção e Cabrita(7) em que 47% dos do acompanhamento farmacoterapêutico sem
PRMs encontrados eram de efetividade e como necessidade de encaminhamento ao médico.
o estudo de Parejo(8) em que a prevalência de O maior número de intervenções
PRM de efetividade foi de 59,56%. (77,5%) ao paciente em comparação às inter-
Quatro causas diferentes foram en- venções ao médico (22,5%) justifica-se pelo
contradas para PRM de efetividade (fig. 4). A fato de a maioria dos PRMs terem sido cau-
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7. sados por fatores ligados ao comportamento pacientes (n = 29) tiveram a PA verificada e
do paciente frente ao seu tratamento (não no mês 6 (fechamento do estudo) apenas 8
artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
adesão e erro no processo de uso). Esses pacientes tiveram a pressão arterial medida.
PRMs são, portanto, passíveis de resolução
por meio de orientação direta ao paciente, sem
necessidade de encaminhamento ao médico. 5 CONCLUSÃO
As intervenções escritas ao médico cor-
responderam a um informe terapêutico ao médico O acompanhamento farmacoterapêutico
do paciente, com os parâmetros monitorados em pacientes hipertensos de muito alto risco
no período, a avaliação do caso com relato do mostrou-se eficaz na detecção de Problemas Re-
problema identificado e, em alguns casos, com lacionados aos Medicamentos, na identificação
a sugestão de conduta. As intervenções ao pa- de suas causas, na elaboração de uma interven-
ciente consistiram em orientações verbais com ção adequada e na conseqüente resolução dos
base no problema identificado. PRMs. Problemas causados por comportamento
É importante ressaltar que nas situações inadequado do paciente frente ao seu tratamen-
em que a resolução do PRM dependia de ajustes to foram mais freqüentes e foram resolvidos
de medicação, como alteração da dose, substi- por meio de uma intervenção do farmacêutico
tuição do tratamento ou inclusão de um medica- diretamente ao paciente. Com relação ao efeito
mento, a intervenção foi realizada com o médico, do acompanhamento sobre o resultado clínico,
já que a decisão sobre a terapia farmacológica do o tempo de 6 meses e a variação do número de
paciente é privativa desse profissional de saúde. medidas de pressão arterial por paciente dificul-
Quanto aos resultados clínicos, é possí- tou a obtenção de resultados conclusivos acerca
vel perceber ligeira diminuição nos valores de PA deste resultado clínico.
durante os meses do acompanhamento farma-
coterapêutico. Essa diminuição é mais evidente
nos valores de pressão arterial sistólica do que ABSTRACT
nos valores de diastólica, provavelmente por se 37
tratar de valores mais sensíveis à mudança. Hypertensive patients with very high
A análise desse resultado clínico (PA), cardiovascular risk require a strict control of
no entanto, ficou prejudicada por duas limitações blood pressure. The pharmacotherapy follow-up
da pesquisa. A primeira diz respeito ao tempo adds efficacy and safety to treatment. This study
de acompanhamento de 6 meses, período con- aimed to assess the effect of pharmacotherapy
siderado pequeno para obtenção de mudanças follow-up, community pharmacy, on hypertensive
significativas em resultados clínicos como os patients with very high cardiovascular risk. We did
valores de pressão arterial. Nesse sentido, deve- a prospective study, before-and- after treatment,
se levar em conta, que para cada mudança no in which the monitoring was conducted of 29
tratamento, seja ela a alteração do esquema hypertensive patients from Jardim Gabineto
terapêutico ou simplesmente uma melhora na Primary Care Unit for a period of 6 months.
adesão, recomenda-se um mínimo de quatro se- Obesity was present in 39.3% of patients and
manas para avaliação do resultado da alteração. diabetes by 31%. It was found an average of
A segunda limitação diz respeito ao 1.62 drug-related problems (DRP) per patient,
número de pacientes no estudo e ao número and the non effectiveness of the treatment
de pacientes que compareceram a todas as corresponded to 75.9% of the cases. Most of
visitas para que se tivesse um bom perfil da interventions were made (77.5%) verbally direct
pressão arterial ao longo dos 6 meses de to the patient. The values of blood pressure
acompanhamento. Isso fica bastante eviden- showed slight decrease over the 6 months. The
te quando se analisa os valores de PA. No pharmacotherapy follow-up in very high risk
mês 1 (início do acompanhamento), todos os hypertensive patients proved to be efficient in
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8. the detection and resolution of DRP, but the time 4 Hepler CD, Strand LM. Oportunidades y res-
of 6 months was insufficient to obtain conclusive ponsabilidades em la atención farmacêutica.
artigos acompanhamento farmacoterapêutico em pacientes hipertensos...
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