Os arquitetos portugueses Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura conquistaram fama internacional por seus projetos originais e funcionais. Ambos receberam o Prêmio Pritzker de Arquitetura, Siza Vieira em 1992 e Souto Moura em 2011. Seus trabalhos notáveis contribuíram para a internacionalização da arquitetura portuguesa.
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1. DESTAQUE
SIZA VIEIRA E SOUTO MOURA
PESOS-PESADOS DA NOVA
ARQUITECTURA PORTUGUESA
Dois arquitectos portugueses contemporâneos conquistaram visibilidade e fama
internacionais graças à originalidade e funcionalidade dos seus projectos. Álvaro Siza
Vieira tornou-se famoso com a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, e o
Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, no Porto. Eduardo Souto
Moura é mais conhecido pelos seus projectos residenciais, embora recentemente
tenha assinado o projecto da nova Casa das Histórias de Paula Rego, um museu
dedicado à consagrada pintora portuguesa. Tanto um como outro foram galardoados
com o Prémio Pritzker de Arquitectura, da Hyatt Foundation, em 1992 e 2011
respectivamente, pelos seus trabalhos notáveis no domínio da arquitectura.
Álvaro Siza Vieira
Um arquitecto do mundo
Siza Vieira é o mais conceituado e pre- primeiro lugar no concurso para o pro- história da arquitectura, um percurso
miado arquitecto contemporâneo por- jecto de um hotel na zona histórica de que se afirma e segue a par de gran-
tuguês. Nasceu a 25 de Junho de 1933, Salzburgo, na Áustria, em 1987, em- des criadores como Le Corbusier, Adolf
em Matosinhos, e estudou arquitectu- bora a sua notoriedade internacional já Loos, Aldo Rossi, Ludwig Mies van der
ra na Escola Superior de Belas Artes do estivesse assegurada através de obras Rohe, Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto,
Porto, onde veio mais tarde a ser pro- maiores como a recuperação do bairro Walter Gropius ou Oscar Niemeyer.
fessor, tendo também dado aulas em judeu de Veneza ou a intervenção no
universidades de todo o mundo. bairro Schildersveijk, em Haia. Criou a sua própria linguagem, satura-
da não só com referências modernistas
Em Portugal, Siza Vieira criou grandes Foi discípulo de Fernando Távora, mestre internacionais mas também com o cul-
marcos na arquitectura, sendo também incontornável daquela a que se chamou tivo de um estilo em que se combinam,
um exemplo da internacionalização da “Escola do Porto”, tendo sobressaído com raro talento, ambiente natural e
arquitectura portuguesa, em mercados desde o início da sua obra pela sua origi- cultural, racionalismo e organicismo,
com o Brasil, Espanha, Alemanha, Paí- nalidade e arrojo, com destaque para a tendo desde Abril de 74, focado o
ses Baixos, Bélgica, EUA, Coreia do Sul icónica casa de chá da Boa Nova – ainda seu interesse na problemática urbana,
e muitos outros. com Távora – já lá vai meio século. De- especialmente na construção de ha-
pois vieram os anos do reconhecimento bitação social. Uma característica: uti-
O seu reconhecimento internacional internacional, durante os quais Álvaro liza revestimentos de pedra, rebocos
sairia reforçado com a conquista do Siza foi consolidando, como poucos na brancos e assimetrias inesperadas. Foi
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2. DESTAQUE
nomeado Doutor Honoris Causa pela quitectos Portugueses (1993), o Prémio bridge, mas também na Universidade de
Universidade de Lausanne (Suíça). da Fundação Aalto (1998), o Wolf Prize Columbia em Nova Iorque, em Madrid
in Arts (2001) e, mais recentemente, a na Galeria MOPU, em Sevilha, Antuér-
Após o incêndio de 1988 na baixa medalha de Ouro atribuída pelo Royal pia, Granada e Santiago de Compostela.
lisboeta, participou no projecto de Institute of British Architects, consa-
Em Portugal, a sua obra esteve exposta
reconstrução do centro histórico de grando-se deste modo como uma das
na ESBAP (Escola Superior de Belas Artes
Lisboa. A sua obra, em afirmação cres- mais marcantes figuras da arquitectura
cente, mereceu prémios nacionais e dos séculos XX e XXI. do Porto), na Galeria Almada Negreiros e
internacionais. Ganha quase todos os na Galeria Rui Alberto.
prémios que havia para ganhar. Nos Tem participado em seminários e con-
anos 80, recebe o primeiro prémio ferências em Portugal, Espanha, Itália, ÁLVARO SIZA 2
europeu de arquitectura Mies van der Alemanha, França, Noruega, Holanda, ARQUITECTO, SA
Rohe (1988) e o Prémio de Arquitectu- Suíça, Áustria, Inglaterra, Colômbia, Ar-
ra do Ano (1982), que lhe foi atribuído gentina, Brasil, Japão, Canadá e Estados Rua do Aleixo, nº 53, 2º
4150-043 Porto Portugal
pela secção portuguesa da Associação Unidos. As suas obras foram expostas, Tel.: +351 226 167 270
Internacional de Críticos de Arte. Se- entre outras cidades, em Copenhaga, Fax: +351 22 616 72 79
guidamente, além do Pritzker (1992), Aarhus (Dinamarca), Barcelona, Veneza, geral@sizavieira.pt
ganha o Prémio Nacional de Arquitec- Milão, Finlândia, Paris, Londres, Ames-
www.sizavieira.pt
tura atribuído pela Associação de Ar- terdão, Delft (Holanda), Berlim e Cam-
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3. DESTAQUE
Eduardo Souto Moura
Uma obra incontornável
Souto Moura é uma referência incontornável entre
os arquitectos que se formaram após o 25 de Abril
de 1974, sendo o arquitecto português da sua ge-
ração mais divulgado internacionalmente. Nasceu no
Porto em 1952. Entre 1974 e 1979 colaborou com o
arquitecto Álvaro Siza Vieira, tendo-se licenciado em
Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do
Porto, em 1980.
Em 1981, um Souto Moura recém-formado surpreen-
deu a comunidade dos arquitectos vencendo o con-
curso para o projecto do Centro Cultural da Secretaria
de Estado da Cultura no Porto, uma aposta profis-
sional de peso que o viria a lançar, dentro e fora de
Portugal, como um dos mais importantes arquitectos
da nova geração. O seu reconhecimento internacional
saiu igualmente reforçado, em 1987, com a conquista
do primeiro lugar no concurso para o projecto de um
hotel na zona histórica de Salzburgo, na Áustria.
Se é certo que trabalhou com Álvaro Siza Vieira, hoje
uma boa relação de longa data, cedo criou no entanto
o seu próprio estilo e espaço de trabalho influenciado
pela horizontalidade das linhas condutoras de Mies van
der Rohe, o que o fez ter nas casas o seu grande espólio
de obras. É um dos expoentes máximos da chamada
Escola do Porto.
Pela ousadia funcional e arrojo no traçado, recebeu vários
prémios ao longo da sua carreira, tendo sido distinguido
com o Prémio Pessoa e o Prémio Secil de Arquitectura
(1992 e 2004). Recebeu também o 1.º Prémio da I Bienal
Ibero-Americana pela reconversão do Convento de Santa
Maria do Bouro em pousada. Outros galardões que rece-
beu são o Prémio Internacional da Pedra na Arquitectura
(1995), a Medalha de Ouro Heinrich Tessenow (2001) e o
Prémio Internacional de Arquitectura de Chicago (2006).
E recebeu o Pritzker, em 2011, considerado como o mais
importante galardão da arquitectura mundial, equivalen-
te ao Prémio Nobel para a área da arquitectura.
A propósito do prémio atribuído a Souto Moura, dis-
se o arquitecto Nuno Grande, na revista espanhola El
Croquis: “É um dia grande para a arquitectura portu-
guesa. Foi premiado um dos seus grandes arquitectos.
A sua obra é de uma coerência inegável, Souto Moura
tem-se pautado por não se inscrever nas linhas mais
mediáticas da arquitectura. Não segue o ‘star system’,
digamos. Tem um filão muito próprio, distinguindo-se
do seu mestre Siza. Isto é um sinal de que a arqui-
tectura portuguesa está viva e que se reinventa de
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4. DESTAQUE
Pág. da esq.: Torres La Pallaresa, Barcelona,
Espanha - foto de Pedro Pegenaute;
Nesta pág.: (em cima) Casa em Llabià, Girona,
Espanha - fotos de Luís Ferreira Alves;
(em baixo à esq.) Crematório em Kortrijk,
Bélgica - foto de Luís Ferreira Alves;
(em baixo à dir.) Edifico de Novartis, Suíça -
foto de Luís Ferreira Alves.
geração para geração. Não fica presa como na ETH (Instituto de Tecnologia cesso em Óbidos, o Mercado da Cidade
a nomes. Espero que não seja o último da Universidade de Zurique) e ainda na de Braga, a Marginal de Matosinhos-
Pritzker das próximas décadas. Eventu- Escola de Arquitectura de Lausanne. Sul, o Crematório de Kortrijk (Bélgica),
almente vamos receber mais porque a Em 2011, Souto Moura foi distinguido o Pavilhão de Portugal na 11ª Bienal de
arquitectura portuguesa tem este dom pela Faculdade de Arquitectura e Artes Arquitectura de Veneza (Itália) e a Casa
de se reinventar”. da Universidade Lusíada do Porto com Llabia (Espanha).
o doutoramento Honoris Causa.
Foi professor assistente do curso de SOUTO MOURA
Arquitectura na Faculdade de Arqui- Entre as suas obras mais conhecidas, ARQUITECTOS, LDA.
tectura da Universidade do Porto e destacam-se, além do Estádio Munici-
professor convidado na Faculdade de pal de Braga (2000/03), a Casa das His- Rua Aleixo, 53, 1º - E, N
4150-043 Porto
Arquitectura de Paris-Belleville, nas tórias em Cascais, a Casa das Artes no Tel.: +351 226 169 065
Escolas de Arquitectura da Universida- Porto, a Estação de Metro da Trindade Fax: +351 226 108 092
de de Harvard, nos Estados Unidos da (Porto), o Centro de Arte Contemporâ- souto.moura@mail.telepac.pt
América, e de Dublin, na Irlanda, bem nea de Bragança, o Hotel do Bom Su-
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