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“ Dom Casmurro” , de Machado de Assis Aline Bicudo [email_address] www.literaline.blogspot.com (Contribuição do Prof. Edvaldo Rofatto)
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Sinopse     Dom Casmurro D. Casmurro é o apelido que recebe o narrador, Bento Santiago, ao tornar-se velho ensimesmado, solitário e melancólico.Ele narra seu passado, desde a adolescência. De família rica, Bentinho – como era chamado na juventude – perdeu o pai cedo e foi criado por D. Glória, sua mãe, numa confortável casa que dividiam com alguns parentes, com seus tios Cosme e Justina e José Dias. Para atender a uma promessa de D. Glória, que perdera o primeiro filho, Bentinho deveria tornar-se padre, se sobrevivesse. Na adolescência, entretanto, apaixona-se por Capitu, vizinha com quem convivia desde a infância. Alertada por José dias sobre o namoro do filho, D. Glória decide enviar logo Bentinho ao seminário. Aí, ele se torna amigo de Escobar, que sugere a solução, afinal aceita, para desonerá-lo da promessa da mãe: D. Glória adotaria um menino pobre, que se tornaria padre em seu lugar. Bentinho se forma em Direito e se casa com Capitu. Escobar desposa Sancha, amiga de Capitu, com quem tem uma filha. Depois de alguns anos, nasce Ezequiel, para alegria de Bentinho e Capitu. Um episódio trágico interrompe a rotina em que viviam. Nadando numa manhã com o mar muito agitado, Escobar morre afogado. No velório, Bentinho fica com ciúme do modo como Capitu olha para o morto. E desde então começa a observar no filho as mesmas características do falecido amigo. O fantasma do adultério povoa a imaginação de Bentinho, a ponto de decidir se separar. Capitu se muda para a Suíça com o filho. Anos depois, com a morte dela, Ezequiel volta para o Rio, onde fica por seis meses. Durante uma viagem de pesquisa arqueológica no Egito, contrai febre tifóide e morre. No final da vida, Bentinho – agora D. Casmurro – mora sozinho em uma casa que mandou construir, semelhante àquela onde havia passado a infância e a adolescência.
As áreas do enredo: 1.   Bentinho em sua casa, antes de Ir para o seminário,  tendo Encontros com Capitu e tentando escapar do  profissão de padre. 2.   Bentinho  no  seminário,  quando  conhece  Escobar,  de  quem se torna íntimo amigo e de quem recebe a sugestão  para se livrar do seminário. 3.   Bentinho já casado  e  após  um  tempo  da  separação –  decorrência de seu ciúme, que o faz crer na semelhança  do filho com Escobar e no  adultério de Capitu.
A  traição   é o fio do tecido narrativo   com o qual Machado constrói a história de Bentinho e Capitu, que, no livro, é recontada por Dom Casmurro, um bentinho amargo e desiludido, sob cujo olhar ciumento, o passado retorna  como presente narrativo. O tecido narrativo sobreposto à emoção do ciúme torna-se denso à medida que outras traições se juntam à de Capitu, adulterando o próprio sentido da vida. Por isso a tragicidade presente nesta “ópera” cantada em trio. Uma ópera sempre atual com atores novos, repetindo velhos papéis, em cenários diversos, mas em palcos familiares, em personagens múltiplos, mas   em  arquétipo único : os três vértices do triângulo . O tema do romance é o da traição que transcende a relação amorosa para se espraiar pela vida, pelos sentimentos, pelas pessoas, pelos sonhos, pelos ideais, corrompendo a existência humana rotineiramente,  transformando  bentinhos   em  casmurros  .
A teoria do velho tenor italiano –   "a vida é uma ópera"  :  digressiva e sugestiva do adultério, quando Bento afirma, que em sua ópera, ele cantou   "um  duo  terníssimo, depois um  trio , depois um   quatuor ..."   como referência ao seu drama-ópera: o   duo ,  composto de Bento e Capitu; o   trio ,  Bento, Capitu e Escobar, o   quatuor ,   quarteto formado por Bento, Capitu, Escobar e Ezequiel.  Mesmo assim, cada vez que se apresenta uma prova, sugerindo o adultério, imediatamente lança-se uma contraprova .
Vênus Capitolina
[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],“ Meu Senhor, livrai-me do ciúme! É um monstro de olhos verdes, que escarnece do próprio pasto que o alimenta. Quão felizardo é o enganado que, cônscio de o ser, não ama a sua infiel! Mas que torturas infernais padece o homem que, amando, duvida, e, suspeitando, adora.” (Shakespeare) Intertextualidade:   “Otelo”, de Shakespeare
Realismo interior: - transformação de Bento Santiago - Dom Casmurro  narra  sua vida  juvenil
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Convivência íntima com duas mulheres: -  D. Glória (uma santa!) -  Capitu (a pecadora!)
Personalidade sugerida nos olhos : segundo  José Dias, “ olhos de cigana oblíqua e dissimulada”   ( ardilosa,  hipócrita, enigmática )
[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Capitu :
(  envolventes,  fascinantes, destrutivamente sedutores  ) Segundo Bentinho, “ olhos de ressaca”
“ A confusão  era  geral.  No meio dela,   Capitu  olhou  alguns instantes para o  cadáver  tão  fixa,  tão  apaixonadamente  fixa,  que  não  admira-lhe  saltassem  algumas  lágrimas poucas e caladas. As minhas cessaram logo.  Fiquei a ver as  dela;  Capitu enxugou-as,  olhando  a  furto  para a  gente que estava na sal.  Redobrou  de  carícias  para  a  amiga,  e  quis levá-la, mas o  cadáver  parece  que  a  retinha também.  Momento  houve  em  que   os  olhos  de  Capitu  fitaram  o  defunto , quais  os  da  viúva,  sem  o  pranto  nem as palavras desta,  mas  grandes  e  abertos,   como  a  onda  do  mar  lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”
RETRATO DA SOCIEDADE : espaço = cidade do Rio de Janeiro, ao tempo do II Reinado. Bentinho, representante das elites patriarcais, vive de rendas, é culto, sofisticado, prepotente, brutal e incapaz de estabelecer diálogo com a mulher amada. A presença do agregado José Dias - personagem plana, caricatural, simbolizada pelo seu parasitismo, é uma prova da condição socioeconômica da família Santiago. José Dias cuidava de Bentinho com   "extremos de mãe e atenções de servo".  MATERIALISMO:  Capitu   – o avesso socioeconômico de Bentinho. De família pobre, busca ascensão à custa do casamento, sem medir esforços. Casar-se com Bentinho era o seu grande projeto de vida. Para alcançá-lo, enfrenta preconceitos, desigualdades financeiras. Casada, adorava sair às ruas de braço dado com o marido, a fim de que todos vissem que ficara rica.  Pádua   – pai de Capitu -  sabia que a filha de quatorze anos andava de namoro com Bentinho, mas era conivente, pois seria beneficiado: humilde funcionário duma repartição, poderia ter um genro rico.  José Dias   – figura hilariante, mescla a dignidade pedante (gostava de usar superlativos) com uma dedicação fiel de criado, esta  lhe garante a sobrevivência junto à elite, por isso enxerga de que lado deve ficar e toma partido do jovem “amo”, menos por simpatia à paixão e mais por se preocupar com o seu futuro (sugere a Bentinho uma viagem à Europa para que ele pudesse ir junto).  LINGUAGEM : utilizam-se todas as possibilidades de expressão possíveis. Ora empregam-se termos atualíssimos, ora leves arcaísmos. Há repúdio à retórica, à metáfora vazia, ao adjetivo banal e aos pormenores descritivos. Usando a técnica dos capítulos curtos e titulados, o narrador-personagem dialoga freqüentemente com o leitor, dando-lhe um cunho de cumplicidade dos fatos,   ("O resto deste capítulo é só para pedir que, se alguém tiver de ler o meu livro com alguma atenção mais do que lhe exigir o preço do exemplar, não deixe de concluir que o diabo não é tão feio como se pinta"  - cap. 92).
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CAPÍTULO PRIMEIRO  :   “ DO TÍTULO ”   Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.  –  Continue, disse eu acordando.  –   Já acabei, murmurou ele.  –   São muito bonitos.  Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me   Dom Casmurro . Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você. (...)"  Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua.   Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
CAPÍTULO II  :   “DO LIVRO” (...) digamos os motivos que me põem a pena na   mão.  Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá.   Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu.   Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos blocos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, (...). Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.  O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente.   Se só me faltassem os outros, vá um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas
conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa.  (...)Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.  Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência. filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma   "História dos Subúrbios"   (...). Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto:   Aí vindes outra vez, inquietas sombras?...  Fiquei tão alegre com esta idéia, que (...)   vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo . Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.
CAPÍTULO IV  :   “ UM DEVER AMARÍSSIMO! ” José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às idéias; não as havendo, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinqüenta e cinco anos.   Levantou-se com o passo vagaroso do costume , não aquele vagar arrastado se era dos preguiçosos,   mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da conseqüência, a conseqüência antes da conclusão . Um dever amaríssimo!
Entre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante. Nem durou muito a nossa despedida, foi o mais que pôde, em casa dela, na sala de visitas, antes do acender das velas; aí é que nos despedimos de uma vez. Juramos novamente que havíamos de casar um com outro, e não foi só o aperto de mão que selou o contrato, como no quintal, foi a conjunção das nossas bocas amorosas... Talvez risque isto na impressão, se até lá não pensar de outra maneira; se pensar, fica. E desde já fica, porque, em verdade, é a nossa defesa. O que o mandamento divino quer é que não juremos em vão pelo santo nome de Deus. Eu não ia mentir ao seminário, uma vez que levava um contrato feito no próprio cartório do céu. Quanto ao selo, Deus, como fez as mãos limpas, assim fez os lábios limpos, e a malícia está antes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes... Oh! minha doce companheira da meninice, eu era puro, e puro fiquei, e puro entrei na aula de S. José, a buscar de aparência a investidura sacerdotal, e antes dela a vocação.   Mas a vocação eras tu, a investidura eras tu.  CAPÍTULO LI / ENTRE LUZ E FUSCO
CAPÍTULO VIII:  “É TEMPO” Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia... Agora é que eu ia   começar a minha ópera.   "A vida é uma ópera"  ,  dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu... E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um capítulo.  CAPÍTULO IX: “A ÓPERA” Já não tinha voz, mas teimava em dizer que a tinha. (...)Às vezes, cantarolava, sem abrir a boca, algum trecho ainda mais idoso que ele ou tanto - vozes assim abafadas são sempre possíveis. Vinha aqui jantar comigo algumas vezes. Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera, como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:  –  A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros a numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...
CAPÍTULO XLV :  “ABANE A CABEÇA, LEITOR” Abane a cabeça leitor; faça todos os gestos de incredulidade . Chegue a deitar fora este livro, se o tédio já o não obrigou a isso antes, tudo é possível. Mas, se o não fez antes e só agora, fio que torne a pegar do livro e que o abra na mesma página,   sem crer por isso na veracidade do autor . Todavia, não há nada mais exato.   Foi assim mesmo que Capitu falou, com tais palavras e maneiras. Falou do primeiro filho, como se fosse a primeira boneca.  Quanto ao meu espanto, se também foi grande, veio de mistura com uma sensação esquisita. Percorreu-me um fluido. Aquela ameaça de um primeiro filho, o primeiro filho de Capitu, o casamento dela com outro, portanto, a separação absoluta, a perda, a aniquilação, tudo isso produzia um tal efeito, que não achei palavra nem gesto fiquei estúpido.   Capitu sorria; eu via o primeiro filho brincando no chão...
CAPÍTULO XL: “UMA ÉGUA” Ficando só, refleti algum tempo, e tive uma fantasia. Já conheceis as minhas fantasias. Contei-vos a da visita imperial; disse-vos a desta casa de Engenho Novo, reproduzindo a de Matacavalos...   A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido em Tácito que as éguas iberas concebiam pelo vento , se não foi nele, foi noutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seus livros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre; mas deixemos metáforas atrevidas e impróprias dos meus quinze anos. Digamos o caso simplesmente. A fantasia daquela hora foi confessar a minha mãe os meus amores para lhe dizer que não tinha vocação eclesiástica. A conversa sobre vocação tornava-me agora toda inteira. e, ao passo que me assustava, abria-me uma porta de saída.
CAPÍTULO XVII / OS VERMES "ELE FERE E CURA!” Quando, mais tarde, vim a saber que a lança de Aquiles também curou uma ferida que fez, tive tais ou quais veleidades de escrever uma dissertação a este propósito. Cheguei a pegar em livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e o sentido, para achar a origem comum do oráculo pagão e do pensamento israelita. Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.  –  Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhermos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.  Não lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena.   Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos fosse ainda um modo de roer o roído.
CAPÍTULO CXLVIII  :  “ É BEM, E O RESTO?”  Agora , por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada.   Mas não é este propriamente o resto do livro.   O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente.   Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo;   se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.  E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que   a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à “História dos Subúrbios.”
“ Retórica  dos  namorados,  dá-me  a  comparação  exata  e  poética  para  dizer   o  que  foram aqueles olhos  de  Capitu .  Não  me  ocorre  imagem  capaz de  dizer,  sem  quebra  da  dignidade  de  estilo,   o  que  eles  foram  e  me  fizeram.  Olhos  de ressaca? Vá  de ressaca .   É  o  que  me  dá  idéia  daquela feição  nova. Traziam  não  sei  que  fluido, misterioso e enérgico,   uma força que arrastava para  dentro,  como  a  vaga  que  se  retira  da  praia, nos  dias de  ressaca.”
“ Há um medonho abismo onde baqueia”, de Bocage Há um medonho abismo onde baqueia A impulsos de paixões a Humanidade; Impera alai terrível divindade, Que de torvos ministros se rodeia: Rubro facho a Discórdia ali meneia, Que a mil cenas de horror dá claridade; Com seus sócios, Traição, Mordacidade, Range os dentes a Inveja escura e feia: Vê-se a Morte cruel no punho alçando O ferro de sangüento e ervado gume, E a toda a natureza ameaçando. Vê-se arder, fumegar sulfúreo lume... Que estrondo! Que pavor! Que abismo infando! Mortais, não  é  o  inferno, é  o  Ciúme  !”
“ Canção na plenitude”,  de  Lya Luft   Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e  [alguns com rebeldia.) O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos.  A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,  [com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias. ( Se  Capitu  não  fosse  Capitu,  –  quem sabe? –  poderia ter sido assim:  a dos olhos de planície... )
“ AUSÊNCIA”, de Carlos Drummond de Andrade Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada,  [ aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento  [ exclamações alegres, porque a ausência,  [ essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. (  Se Bentinho não fosse Casmurro, –  quem sabe? –  talvez encontrasse no presente a perdida alegria do passado. )
De Mais Ninguém, com Marisa Monte  (dela e de A. Antunes) Se ela me deixou, a dor É minha só, não é de mais ninguém. Aos outros eu devolvo o dó, Eu tenho a minha dor. Se ela preferiu ficar sozinha Ou já tem um outro bem, Se ela me deixou, A dor é minha, A dor é de quem tem. O meu troféu foi o que restou, É o que me aquece sem me dar calor. Se eu não tenho o meu amor, Eu tenho a minha dor. A sala, o quarto, A casa está vazia, A cozinha, o corredor. Se nos meus braços Ela não se aninha, A dor é minha, a dor. Se ela me deixou, a dor É minha só, não é de mais ninguém. Aos outros eu devolvo o dó, Eu tenho a minha dor. Se ela preferiu ficar sozinha, Ou já tem um outro bem, Se ela me deixou, A dor é minha, A dor é de quem tem. É o meu lençol, é o cobertor, É o que me aquece sem me dar calor. Se eu não tenho o meu amor, Eu tenho a minha dor. A sala, o quarto, A casa está vazia, A cozinha, o corredor. Se nos meus braços Ela não se aninha, A dor é minha, a dor. Hummmh hummmh...
Fim

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O adultério e a destruição da vida em Dom Casmurro

  • 1. “ Dom Casmurro” , de Machado de Assis Aline Bicudo [email_address] www.literaline.blogspot.com (Contribuição do Prof. Edvaldo Rofatto)
  • 2.
  • 3.
  • 4. Sinopse Dom Casmurro D. Casmurro é o apelido que recebe o narrador, Bento Santiago, ao tornar-se velho ensimesmado, solitário e melancólico.Ele narra seu passado, desde a adolescência. De família rica, Bentinho – como era chamado na juventude – perdeu o pai cedo e foi criado por D. Glória, sua mãe, numa confortável casa que dividiam com alguns parentes, com seus tios Cosme e Justina e José Dias. Para atender a uma promessa de D. Glória, que perdera o primeiro filho, Bentinho deveria tornar-se padre, se sobrevivesse. Na adolescência, entretanto, apaixona-se por Capitu, vizinha com quem convivia desde a infância. Alertada por José dias sobre o namoro do filho, D. Glória decide enviar logo Bentinho ao seminário. Aí, ele se torna amigo de Escobar, que sugere a solução, afinal aceita, para desonerá-lo da promessa da mãe: D. Glória adotaria um menino pobre, que se tornaria padre em seu lugar. Bentinho se forma em Direito e se casa com Capitu. Escobar desposa Sancha, amiga de Capitu, com quem tem uma filha. Depois de alguns anos, nasce Ezequiel, para alegria de Bentinho e Capitu. Um episódio trágico interrompe a rotina em que viviam. Nadando numa manhã com o mar muito agitado, Escobar morre afogado. No velório, Bentinho fica com ciúme do modo como Capitu olha para o morto. E desde então começa a observar no filho as mesmas características do falecido amigo. O fantasma do adultério povoa a imaginação de Bentinho, a ponto de decidir se separar. Capitu se muda para a Suíça com o filho. Anos depois, com a morte dela, Ezequiel volta para o Rio, onde fica por seis meses. Durante uma viagem de pesquisa arqueológica no Egito, contrai febre tifóide e morre. No final da vida, Bentinho – agora D. Casmurro – mora sozinho em uma casa que mandou construir, semelhante àquela onde havia passado a infância e a adolescência.
  • 5. As áreas do enredo: 1. Bentinho em sua casa, antes de Ir para o seminário, tendo Encontros com Capitu e tentando escapar do profissão de padre. 2. Bentinho no seminário, quando conhece Escobar, de quem se torna íntimo amigo e de quem recebe a sugestão para se livrar do seminário. 3. Bentinho já casado e após um tempo da separação – decorrência de seu ciúme, que o faz crer na semelhança do filho com Escobar e no adultério de Capitu.
  • 6. A traição é o fio do tecido narrativo com o qual Machado constrói a história de Bentinho e Capitu, que, no livro, é recontada por Dom Casmurro, um bentinho amargo e desiludido, sob cujo olhar ciumento, o passado retorna como presente narrativo. O tecido narrativo sobreposto à emoção do ciúme torna-se denso à medida que outras traições se juntam à de Capitu, adulterando o próprio sentido da vida. Por isso a tragicidade presente nesta “ópera” cantada em trio. Uma ópera sempre atual com atores novos, repetindo velhos papéis, em cenários diversos, mas em palcos familiares, em personagens múltiplos, mas em arquétipo único : os três vértices do triângulo . O tema do romance é o da traição que transcende a relação amorosa para se espraiar pela vida, pelos sentimentos, pelas pessoas, pelos sonhos, pelos ideais, corrompendo a existência humana rotineiramente, transformando bentinhos em casmurros .
  • 7. A teoria do velho tenor italiano – "a vida é uma ópera" : digressiva e sugestiva do adultério, quando Bento afirma, que em sua ópera, ele cantou "um duo terníssimo, depois um trio , depois um quatuor ..." como referência ao seu drama-ópera: o duo , composto de Bento e Capitu; o trio , Bento, Capitu e Escobar, o quatuor , quarteto formado por Bento, Capitu, Escobar e Ezequiel. Mesmo assim, cada vez que se apresenta uma prova, sugerindo o adultério, imediatamente lança-se uma contraprova .
  • 9.
  • 10. Realismo interior: - transformação de Bento Santiago - Dom Casmurro narra sua vida juvenil
  • 11.
  • 12.
  • 13. Convivência íntima com duas mulheres: - D. Glória (uma santa!) - Capitu (a pecadora!)
  • 14. Personalidade sugerida nos olhos : segundo José Dias, “ olhos de cigana oblíqua e dissimulada” ( ardilosa, hipócrita, enigmática )
  • 15.
  • 16. ( envolventes, fascinantes, destrutivamente sedutores ) Segundo Bentinho, “ olhos de ressaca”
  • 17. “ A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira-lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas. As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as, olhando a furto para a gente que estava na sal. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la, mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto , quais os da viúva, sem o pranto nem as palavras desta, mas grandes e abertos, como a onda do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”
  • 18. RETRATO DA SOCIEDADE : espaço = cidade do Rio de Janeiro, ao tempo do II Reinado. Bentinho, representante das elites patriarcais, vive de rendas, é culto, sofisticado, prepotente, brutal e incapaz de estabelecer diálogo com a mulher amada. A presença do agregado José Dias - personagem plana, caricatural, simbolizada pelo seu parasitismo, é uma prova da condição socioeconômica da família Santiago. José Dias cuidava de Bentinho com "extremos de mãe e atenções de servo". MATERIALISMO: Capitu – o avesso socioeconômico de Bentinho. De família pobre, busca ascensão à custa do casamento, sem medir esforços. Casar-se com Bentinho era o seu grande projeto de vida. Para alcançá-lo, enfrenta preconceitos, desigualdades financeiras. Casada, adorava sair às ruas de braço dado com o marido, a fim de que todos vissem que ficara rica. Pádua – pai de Capitu - sabia que a filha de quatorze anos andava de namoro com Bentinho, mas era conivente, pois seria beneficiado: humilde funcionário duma repartição, poderia ter um genro rico. José Dias – figura hilariante, mescla a dignidade pedante (gostava de usar superlativos) com uma dedicação fiel de criado, esta lhe garante a sobrevivência junto à elite, por isso enxerga de que lado deve ficar e toma partido do jovem “amo”, menos por simpatia à paixão e mais por se preocupar com o seu futuro (sugere a Bentinho uma viagem à Europa para que ele pudesse ir junto). LINGUAGEM : utilizam-se todas as possibilidades de expressão possíveis. Ora empregam-se termos atualíssimos, ora leves arcaísmos. Há repúdio à retórica, à metáfora vazia, ao adjetivo banal e aos pormenores descritivos. Usando a técnica dos capítulos curtos e titulados, o narrador-personagem dialoga freqüentemente com o leitor, dando-lhe um cunho de cumplicidade dos fatos, ("O resto deste capítulo é só para pedir que, se alguém tiver de ler o meu livro com alguma atenção mais do que lhe exigir o preço do exemplar, não deixe de concluir que o diabo não é tão feio como se pinta" - cap. 92).
  • 19.
  • 20.
  • 21. CAPÍTULO PRIMEIRO : “ DO TÍTULO ” Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso. – Continue, disse eu acordando. – Já acabei, murmurou ele. – São muito bonitos. Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro . Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você. (...)" Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
  • 22. CAPÍTULO II : “DO LIVRO” (...) digamos os motivos que me põem a pena na mão. Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos blocos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, (...). Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa. O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas
  • 23. conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa. (...)Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal. Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência. filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma "História dos Subúrbios" (...). Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras?... Fiquei tão alegre com esta idéia, que (...) vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo . Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.
  • 24. CAPÍTULO IV : “ UM DEVER AMARÍSSIMO! ” José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às idéias; não as havendo, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinqüenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume , não aquele vagar arrastado se era dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da conseqüência, a conseqüência antes da conclusão . Um dever amaríssimo!
  • 25. Entre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante. Nem durou muito a nossa despedida, foi o mais que pôde, em casa dela, na sala de visitas, antes do acender das velas; aí é que nos despedimos de uma vez. Juramos novamente que havíamos de casar um com outro, e não foi só o aperto de mão que selou o contrato, como no quintal, foi a conjunção das nossas bocas amorosas... Talvez risque isto na impressão, se até lá não pensar de outra maneira; se pensar, fica. E desde já fica, porque, em verdade, é a nossa defesa. O que o mandamento divino quer é que não juremos em vão pelo santo nome de Deus. Eu não ia mentir ao seminário, uma vez que levava um contrato feito no próprio cartório do céu. Quanto ao selo, Deus, como fez as mãos limpas, assim fez os lábios limpos, e a malícia está antes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes... Oh! minha doce companheira da meninice, eu era puro, e puro fiquei, e puro entrei na aula de S. José, a buscar de aparência a investidura sacerdotal, e antes dela a vocação. Mas a vocação eras tu, a investidura eras tu. CAPÍTULO LI / ENTRE LUZ E FUSCO
  • 26. CAPÍTULO VIII: “É TEMPO” Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia... Agora é que eu ia começar a minha ópera. "A vida é uma ópera" , dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu... E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um capítulo. CAPÍTULO IX: “A ÓPERA” Já não tinha voz, mas teimava em dizer que a tinha. (...)Às vezes, cantarolava, sem abrir a boca, algum trecho ainda mais idoso que ele ou tanto - vozes assim abafadas são sempre possíveis. Vinha aqui jantar comigo algumas vezes. Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera, como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou: – A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros a numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...
  • 27. CAPÍTULO XLV : “ABANE A CABEÇA, LEITOR” Abane a cabeça leitor; faça todos os gestos de incredulidade . Chegue a deitar fora este livro, se o tédio já o não obrigou a isso antes, tudo é possível. Mas, se o não fez antes e só agora, fio que torne a pegar do livro e que o abra na mesma página, sem crer por isso na veracidade do autor . Todavia, não há nada mais exato. Foi assim mesmo que Capitu falou, com tais palavras e maneiras. Falou do primeiro filho, como se fosse a primeira boneca. Quanto ao meu espanto, se também foi grande, veio de mistura com uma sensação esquisita. Percorreu-me um fluido. Aquela ameaça de um primeiro filho, o primeiro filho de Capitu, o casamento dela com outro, portanto, a separação absoluta, a perda, a aniquilação, tudo isso produzia um tal efeito, que não achei palavra nem gesto fiquei estúpido. Capitu sorria; eu via o primeiro filho brincando no chão...
  • 28. CAPÍTULO XL: “UMA ÉGUA” Ficando só, refleti algum tempo, e tive uma fantasia. Já conheceis as minhas fantasias. Contei-vos a da visita imperial; disse-vos a desta casa de Engenho Novo, reproduzindo a de Matacavalos... A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido em Tácito que as éguas iberas concebiam pelo vento , se não foi nele, foi noutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seus livros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre; mas deixemos metáforas atrevidas e impróprias dos meus quinze anos. Digamos o caso simplesmente. A fantasia daquela hora foi confessar a minha mãe os meus amores para lhe dizer que não tinha vocação eclesiástica. A conversa sobre vocação tornava-me agora toda inteira. e, ao passo que me assustava, abria-me uma porta de saída.
  • 29. CAPÍTULO XVII / OS VERMES "ELE FERE E CURA!” Quando, mais tarde, vim a saber que a lança de Aquiles também curou uma ferida que fez, tive tais ou quais veleidades de escrever uma dissertação a este propósito. Cheguei a pegar em livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e o sentido, para achar a origem comum do oráculo pagão e do pensamento israelita. Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles. – Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhermos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos. Não lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena. Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos fosse ainda um modo de roer o roído.
  • 30. CAPÍTULO CXLVIII : “ É BEM, E O RESTO?” Agora , por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: "Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti". Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à “História dos Subúrbios.”
  • 31. “ Retórica dos namorados, dá-me a comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu . Não me ocorre imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade de estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá de ressaca . É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido, misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.”
  • 32. “ Há um medonho abismo onde baqueia”, de Bocage Há um medonho abismo onde baqueia A impulsos de paixões a Humanidade; Impera alai terrível divindade, Que de torvos ministros se rodeia: Rubro facho a Discórdia ali meneia, Que a mil cenas de horror dá claridade; Com seus sócios, Traição, Mordacidade, Range os dentes a Inveja escura e feia: Vê-se a Morte cruel no punho alçando O ferro de sangüento e ervado gume, E a toda a natureza ameaçando. Vê-se arder, fumegar sulfúreo lume... Que estrondo! Que pavor! Que abismo infando! Mortais, não é o inferno, é o Ciúme !”
  • 33. “ Canção na plenitude”, de Lya Luft   Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e [alguns com rebeldia.) O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, [com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias. ( Se Capitu não fosse Capitu, – quem sabe? – poderia ter sido assim: a dos olhos de planície... )
  • 34. “ AUSÊNCIA”, de Carlos Drummond de Andrade Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, [ aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento [ exclamações alegres, porque a ausência, [ essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. ( Se Bentinho não fosse Casmurro, – quem sabe? – talvez encontrasse no presente a perdida alegria do passado. )
  • 35. De Mais Ninguém, com Marisa Monte (dela e de A. Antunes) Se ela me deixou, a dor É minha só, não é de mais ninguém. Aos outros eu devolvo o dó, Eu tenho a minha dor. Se ela preferiu ficar sozinha Ou já tem um outro bem, Se ela me deixou, A dor é minha, A dor é de quem tem. O meu troféu foi o que restou, É o que me aquece sem me dar calor. Se eu não tenho o meu amor, Eu tenho a minha dor. A sala, o quarto, A casa está vazia, A cozinha, o corredor. Se nos meus braços Ela não se aninha, A dor é minha, a dor. Se ela me deixou, a dor É minha só, não é de mais ninguém. Aos outros eu devolvo o dó, Eu tenho a minha dor. Se ela preferiu ficar sozinha, Ou já tem um outro bem, Se ela me deixou, A dor é minha, A dor é de quem tem. É o meu lençol, é o cobertor, É o que me aquece sem me dar calor. Se eu não tenho o meu amor, Eu tenho a minha dor. A sala, o quarto, A casa está vazia, A cozinha, o corredor. Se nos meus braços Ela não se aninha, A dor é minha, a dor. Hummmh hummmh...
  • 36. Fim