Este documento discute a história do desenvolvimento territorial e econômico da região de Piracicaba no Brasil, desde as atividades de abastecimento e pecuária nos séculos XVI-XVIII até a economia cafeeira no século XIX. Também destaca a importância de preservar o patrimônio cultural e histórico para entender o passado e projetar o futuro de forma sustentável.
1. Cartilha do Patrimônio Cultural de Piracicaba : referência
de ação patrimonial no território paulista e brasileiro
Mirza Pellicciotta
Doutora em História Cultural (Unicamp) e coordenadora
do Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal de Campinas
2. Sentidos de preservação
Qualidade de vida
Desenvolvimento sustentável
identidade
Bens edificados
Propósitos e desafios de toda e
Bens culturais
qualquer sociedade... questões,
no entanto, que se tornam
essenciais quando os processos
de desenvolvimento se aceleram
Saberes e Fazeres
Paisagem
3. As projeções de futuro necessitam se somar a um maior entendimento do passado porque corremos o risco de que
nossos agentes não se reconheçam mais em meio a tantos redesenhos produtivos, e também porque um olhar
sobre o passado implica em reconhecer passos, em identificar esforços e em reconhecer as superações que se
fizeram necessárias para se alcançar tais níveis de desenvolvimento
4. Precisamos perceber de maneira mais profunda o engendramento de um "mundo paulista" que se acha contido no
território que deu lugar aos nossos municípios e regiões; um "mundo paulista" que tornou possível a nossa própria
constituição. E para tanto, torna-se essencial reconhecer a existência de processos que no curso do tempo fizeram
nascer áreas especializadas, redes produtivas, núcleos rurais e urbanos... processos que em vários aspectos e
sentidos permaneceram vivos no prolongamento de funções e atribuições especializadas de caráter centenário.
5. As lavouras paulistas de cana de açúcar começaram a surgir nas últimas décadas do
século XVIII na porção sul da Capitania, no chamado “quadrilátero do açúcar” (entre
os atuais municípios de Piracicaba, Mogi Guaçu, Campinas e Itu). data deste período
a abertura e instalação de grandes propriedades monocultistas, a introdução do
trabalho escravo africano, a transformação dos sistemas viários, o desenvolvimento
do comércio internacional, uma série de inovações tecnológicas, além de uma
profunda transformação ambiental.
6. Casa do Padre Ignácio/Cotia
Numa escala ainda mais recuada, as atividades de abastecimento e de pecuária (dimensões fundantes do
mundo paulista desde os primeiros séculos de formação) também fizeram nascer e sobreviver atividades,
áreas e redes especializadas. As atividades de abastecimento, em especial, foram responsáveis pela
fixação dos colonizadores no território paulista ainda no século XVI e se traduziram no cultivo e
comercialização de gêneros procedentes das culturas indígenas e européia para uma população que
pouco a pouco se espraiava pelos sertões.
7. No século XVIII, com a descoberta do ouro nos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, a produção
de gêneros se faria intensificada, transformando-se o território paulista numa zona de abastecimento da região
das minas. A região da atual Piracicaba integrava um território de papel central nestas atividades, fornecendo
gêneros através de caminhos fluviais e terrestres, entre eles, a Estada para a Vila da Constituição, o Picadão de
Cuiabá, a Estrada dos Goiases. Com o passar do tempo, ainda, a chegada de novas populações promoveu uma
grande diversificação de gêneros sem no entanto alterar as antigas dinâmicas de comércio, mas sim amplia-las.
8. A pecuária, em meio a tudo isso, ganhou forma no curso do século XVIII e contou desde suas origens com a
fixação de outras populações (em particular, de mineiros); esta atividade foi promotora não apenas de força
motriz e alimentos, mas de um sistema viário que transformou de maneira profunda a dinâmica interna e
externa deste território, podendo-se atribuir as origem da logística contemporânea ao papel de
entrocamento viário que no século XVIII passou a ser desempenhado pelas picadas e estradas de tropas e
carroças, substituídas no final do século XIX pelas redes ferroviárias.
9. No âmbito da produção agrícola, a chamada “economia cafeeira” que entrou em cena substituindo os canaviais, promoveu a partir de
meados do século XIX um novo conjunto de transformações, entre eles a transformação do trabalho escravo para o trabalho livre; a
intensificação da agricultura para exportação; a expansão do comércio internacional; a substituição acelerada da cobertura vegetal pela
produção de café (e cultivo diversificado de gêneros); a entrada massiva de grupos populacionais procedentes das mais variadas regiões
do Brasil e do mundo (cerca de 70 grupos étnicos); a intensificação da urbanização; a complexificação dos sistemas de escoamento
(estradas tropeiras, linhas férreas, estradas de rodagem, aviação); a complexificação e divesificação do uso de tecnologias na produção. A
economia cafeeira, neste caso, seria responsável pela complexificação, integração e mercantilização de uma grande variedade de
atividades rurais e urbanas, redesenhando não apenas o território da atual RMC, mas todo o território paulista.
10. A ausência de um entendimento mais detalhado destes processos nos dificulta compreender as trajetórias singulares de
desenvolvimento tecnológico e inovação presentes no curso do tempo, oi ainda, o desempenho de papéis e funções de tempos
imemoriais – que muitas vezes, por se fazerem desconhecidas das populações contemporâneas, impõem dificuldades para a projeção
do futuro. Este limite de entendimento nos leva também a refletir sobre as razões do desinteresse e descuido com que muitos
municípios tratam de seu patrimônio histórico. Desvendar nossa paisagem cultural: eis aqui uma tarefa que nos próximos anos poderá
nos ajudar a potencializar ainda mais os nossos caminhos de desenvolvimento.
11. Sentidos de patrimônio
valorar os testemunhos
(cultura, história, ambiente, arquitetura,
arqueologia, turismo, afetividade)
registrar, reconhecer, manter
respeitar a propriedade
“escolher” coletivamente
Conselho
municipal
12. Sentidos de gestão da preservação e do patrimônio
Conselho
municipal
tombamento sociedade
Propósitos de
Projetos de coletividade
desenvolvimento Desafios de
sustentabilidade
13. Obra do/pelo bem comum
“Toda a cidade tem uma história (...) Ela está presente na cultura
de seu povo, nos ciclos de seu desenvolvimento econômico e
social, nas obras ilustres, e também nas edificações, memória
visível da evolução urbana. Selecionar na cidade e em seu
entorno exemplares de arte, arquitetura, ou ainda conservar as
paisagens naturais constituem ações significativas para a
integração desses elementos à história. Assim, eles podem
cumprir a função social, contando o que aconteceu no
desenvolvimento humano em cada época”
“A escolha e a manutenção de determinados
valores através das edificações e obras de arte,
principalmente quando feitas de uma maneira
clara, com participação de segmentos da
comunidade (...) podem contribuir para o
desenvolvimento de uma cidade”
“É meta do IPPLAP incentivar modos de atuação junto à
comunidade, promovendo ações que estimulem o cidadão
comum a identificar os bens de patrimônio, resgatando com
isso parte da história da coletividade. Estas ações podem gerar
uma relação positiva de compartilhar-se as responsabilidades
entre o cidadão e o Pode Público no lugar onde se vive,
elevado o civismo e a valorização da história da cidade”