O documento descreve um estudo hidrogeológico da qualidade da água na área de extração de areia do Rio Paraíba do Sul em Tremembé, SP. Amostras de água foram coletadas de uma cava inativa, foz do rio Piracuama e poço construído, e analisadas fisicoquimicamente e bacteriologicamente. Os resultados mostraram águas com baixo oxigênio dissolvido e alto potencial redutor, indicando condições ambientais redutoras que favorecem a dissolução de meta
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Diniz_et_all_13CBGE
1. MONITORAMENTO HIDROGEOLÓGICO DA QUALIDADE DA ÁGUA
PROVENIENTE DA ÁREA DA VÁRZEA DO RIO PARAÍBA DO SUL
SUJEITA À EXTRAÇÃO DE AREIA, NO MUNICÍPIO DE TREMEMBÉ, SP
Hélio Nobile Diniz¹; Márcia Helena Galina¹; Mariuza Figueiredo Lindeberg² ; Getúlio
Teixeira Batista²
RESUMO
A extração de areia no vale do rio Paraíba do Sul é praticada por meio de cavas
submersas, processo em que o solo, na maioria das vezes, proveniente do cultivo de arroz, depois
de retirado é lançado nas cavas abandonadas situadas nas suas imediações. Por meio de
procedimentos técnicos que englobaram obras e instalações de equipamentos - poços e
piezômetros - análises laboratoriais da água e do solo, testes de vazão e trabalho de gabinete, o
presente trabalho objetivou elaborar análises físico-químicas e bacteriológica de três locais
distintos na área de várzea do Rio Paraíba do Sul: uma cava inativa, da foz do canal do rio
Piracuama e de um poço construído, que possui um piezômetro acoplado e outro localizado a 1,5
de distância.
ABSTRACT
The exploitation of sand in the Paraíba do Sul River Basin is is made by means of
underwater caves, a process in which the soil, mostly, from the cultivation of rice, is removed and
released in the abandoned pits located nearby. Through technical procedures, including equipment
installations - wells and piezometers - laboratory analysis of water, soil testing and office-work, the
issue of this paper was present results from physico-chemical and bacteriological analysis of the
water from three separate locations in the area of floodplain of the Paraiba do Sul River: an
inactive pit, the mouth of the river channel Piracuama and a well constructed, which has a coupled
piezometer and the other located 1.5 away
Palavras-chave: mineração, cavas, análises físico-químicas
¹ Instituto Geologico, Av. Miguel Stéfano, 3900, Água Funda, São Paulo, SP, CEP 04301-300
² UNITAU - Rua Quatro de Março, 432 - Centro - Taubaté - SP - Cep: 12020-270
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 1
2. 1- INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
A mineração é considerada a principal atividade subsidiária dos processos de urbanização
e crescimento econômico, no entanto, ela é acompanhada de profundos impactos no ambiente
natural devido à falta de ações integradas para a minimização desses efeitos. Sausen (1988).
A extração de areia no vale do rio Paraíba do Sul é praticada por meio de cavas
submersas, um processo que se dá por meio da retirada da capa de solo argiloso, com espessura
de até 2 m, pouco permeável, com infiltração desprezível (camada de solo apropriado para as
culturas de arroz). Reis (2005).Depois de retirado, o solo é lançado nas cavas abandonadas
situadas nas suas imediações. Vários lagos artificiais abastecidos pelo nível d’água do aquífero
sedimentar quaternário tem transformado a paisagem na área de várzea do rio Paraíba.
Por meio de procedimentos técnicos que englobaram obras e instalações de equipamentos
- poços e piezômetros - análises laboratoriais da água e do solo, testes de vazão e trabalho de
gabinete, procurou-se efetuar análises físico-químicas e bacteriológica das águas de uma cava
inativa, da foz do canal do rio Piracuama e de um poço construído (identificado como poço 3 no
trabalho geral, coordenadas UTM 443,768E e 7463,275N, Fuso 23, SAD 696), que possui um
piezômetro acoplado e outro localizado a 1,5 de distância.
Figura 1. Localização da área de estudo. Bacia do Rio Paraíba do Sul, município de Tremembé e
Mineração Paraíso na imagem de satélite Ikonos2.
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 2
3. 2- MATERIAIS E METODOLOGIA
A metodologia do trabalho englobou procedimentos técnicos relacionados a obras e
instalações de equipamentos, análises laboratoriais e trabalho de gabinete.
Durante o ano de 2009, foram perfurados quatro poços tubulares revestidos com tubos de
PVC geomecânicos de 4” de diâmetro, os quais possuem a finalidade específica de definir as
características hidrodinâmicas, hidroquímicas e bacteriológica do aqüífero sedimentar quaternário
na área da Mineração Paraíso, no município de Tremembé. Nas proximidades dos poços, foram
perfurados conjuntos de piezômetros, dois para cada poço, sendo revestidos com tubos
geomecânicos de 2” de diâmetro. Os poços e piezômetros atravessam toda a sequência de solo e
depósitos aluvionares quaternários até a camada de argila verde de alteração dos sedimentos
terciários (folhelhos e argilitos betuminosos) da Formação Tremembé, do Grupo Taubaté. Nas
profundidades dos poços e piezômetros que atravessam os depósitos arenosos foram instalados
tubos de filtro, em PVC, formando uma seção filtrante.
Parâmetros hidroquímicos e bacteriológicos foram avaliados durante a amostragem, sendo
alguns no campo, por meio do equipamento multiparamétrico marca Horiba, modelo W-22XD (pH,
temperatura, condutividade, turbidez, oxigênio dissolvido, profundidade, sólidos totais dissolvidos
e potencial de oxirredução) e outros no Laboratório de Pesquisas Biológicas Aplicadas ao Meio
Ambiente, do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (Coliformes Totais, Coliformes
Termotolerantes e Bactérias Heterotróficas). Os demais parâmetros foram analisados no
Laboratório de Águas do Departamento de Engenharia Civil (DQO, DBO 5, Fósforo Total, Cloretos,
Nitrato, Nitrito, Nitrogênio Amoniacal, Sulfato e Ferro Total). Algumas análises mais completas e
que atendem aos parâmetros da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, foram efetuadas no
Laboratório de Controle Sanitário (RVOC) da SABESP de São José dos Campos.
3- RESULTADOS E CONCLUSÕES
Durante os meses de março e abril de 2010, ainda é grande a quantidade de chuva na
área da várzea do rio Paraíba do Sul, conforme demonstram dados de uma estação
meteorológica lá instalada, portanto trata-se de um período em que a cava inativa mantém um
equilíbrio entre as quantidades de entrada e saída de água, cujo aporte principal é proveniente
das precipitações e as descargas ocorrem devido à evapotranspiração. Nessas condições há uma
tendência a um pH e Eh mais neutro devido ao aporte das águas precipitadas (o pH da água das
chuvas é igual a 7). A partir do final de abril, os níveis d´água do aquífero sedimentar no local do
poço instalado começam a cair, acompanhando os níveis d´água da cava inativa.
As águas provenientes do aquífero sedimentar quaternário tem um potencial óxido-redutor
mais negativo, mostrando um ambiente bastante redutor, provocado pela ausência de oxigênio
dissolvido, pois o aquífero é confinado por uma camada de solo argiloso, orgânico, impermeável,
com espessura média de 0,7 m. A água da cava inativa também acompanha o ambiente redutor
do aqüífero, com atenuação devido ao ambiente pantanoso, onde há muitas raízes e vegetais
mortos consumindo o oxigênio disponível. Um ambiente redutor propicia o aumento da dissolução
dos metais, por ionização, e sendo assim, as águas do poço analisado, por apresentar Eh mais
negativo que as águas da cava, apresentam proporcionalmente uma quantidade maior de íon
ferro, como pode ser observado no gráfico de Ferro Total da Figura 1.
Os resultados das análises químicas e bacteriológicas, obtidos a partir da análise das
águas coletadas do poço, da cava inativa e da foz do canal do rio Piracuama, encontram-se na
Tabela 1 e são discutidos a seguir.
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 3
5. A figura 1 apresenta os gráficos contendo as análises dos parâmetros físicos dessas águas
(pH, Eh e metais dissolvidos) em função do período de coleta (tempo, em horas) com os gráficos
dos níveis d´água monitorados no poço em função do tempo de monitoramento (horas, desde o
início das medidas) e das precipitações atmosféricas (em dias), sendo que todos os gráficos
representam no eixo das abscissas períodos de tempo correlatos.
0
Inundações p/
arroz desvio
Nível d´água (m)
1
água do Piracuama
Oscilações devido à influência
das águas do rio Paraíba do Sul
2
tempo (h)
3
2000 4000 6000 8000
7
Poço 3
Cava Inativa
Foz Canal Piracuama
6
pH
tempo (h)
5
2000 4000 6000 8000
-300
Poço 3
-200 Cava Inativa
Foz Canal Piracuama
Eh (mV)
-100
0
tempo (h)
100
2000 4000 6000 8000
8
Poço 3
Ferro Total (mg/L)
6 Cava Inativa
Foz Canal Piracuama
4
2
tempo (h)
0
2000 4000 6000 8000
120
110
100
90
Precipitação (mm)
80
70
60
50
40
30
20
10
Data
0
0
0
7/ 010
4/ 010
7/ 0
0
0
0
0
0
0
10
0
1/ 0
0
10
2/ 0
0
/1 1 1
1
1
1
1
0
0
0
0
01
01
30 201
13 201
27 201
10 201
24 201
8/ 201
5/ 201
1
3/ 201
1
14 201
11 201
25 201
11 201
01
23 201
21 201
18 201
2/ 01
16 201
22 /20
19 /20
17 /20
28 20
3 1 /2 0
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/
/
/
/
/
/
0/
/
/
/
/
4/
5/
6/
/3
/3
/4
/5
/7
/8
/8
/9
/9
10
11
12
2
/6
/7
/1
/2
/2
/3
9/
/1
/1
/1
/1
12
26
Figura 1. Gráficos do pH, Eh e Ferro Total em função do tempo em comparação com os gráficos de
níveis d´água do Poço e das precipitações.
No dia 14 de julho de 2010 ocorreram fortes chuvas na área, e a partir daí os níveis d´água
do poço começaram a subir. No entanto, o principal fator desta mudança foi o aumento da
descarga do rio Paraíba do Sul, originado nas barragens de montante (Paraibuna e Santa Branca)
e que afetou os níveis d´água dos poços situados próximos, pois o canal intercepta lateralmente o
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 5
6. aquífero sedimentar quaternário que passa a receber água do rio. As oscilações da descarga do
rio são visíveis no gráfico dos níveis d´água do poço, na figura 1.
O pH e Eh das águas da cava inativa e do poço acompanharam as oscilações de entrada
de água proveniente do rio Paraíba do Sul, mas não apresentaram muitas variações, com
exceção do teor de Ferro iônico que cresce no período seco, pois a ausência de águas
atmosféricas na cava e no poço torna-se cada vez mais redutor.
Em novembro de 2010 houve aumento nas precipitações, as quais se intensificaram a
partir de dezembro. Assim, o pH e Eh sofreram inversão de tendência, já que o aumento da água
atmosférica torna o ambiente menos redutor devido ao maior equilíbrio do potencial
hidrogeniônico e do potencial de óxido-redução nas águas das chuvas. Acompanhando essa
tendência, o teor de Ferro iônico também decresce, no aquífero e na cava inativa.
Na coleta realizada em 01 de fevereiro de 2011 houve um acréscimo inesperado das
condições redutoras da cava inativa e do poço, com Eh bem mais redutor. Na referida coleta, a
cava inativa apresentou-se interligada com outras cavas também inativas, técnica utilizada pelo
minerador para aumentar o escoamento da água superficial, da cava inativa para outras cavas e
dessas para o rio Paraíba do Sul. Esse aumento do escoamento provavelmente diminuiu o
oxigênio dissolvido na cava inativa por aumento do consumo devido à remobilização da matéria
orgânica vegetal existente no fundo da cava o que provocou um Eh ainda mais negativo.
Assim sendo, o mês de fevereiro de 2011 foi o que apresentou maior ambiente redutor,
tanto para a cava inativa quanto para o aqüífero sedimentar quaternário no local do poço. De
forma coerente, no mês seguinte (março de 2011) o Ferro Total apresentou significativo aumento
no teor, em ambos os locais.
O pH médio das águas subterrâneas do Poço foi de 5,84 e o desvio padrão de 0,23 (12
amostras). Para as águas da cava inativa o pH médio foi de 5,88 e o desvio padrão de 0,23 (12
amostras). Para as águas da foz do canal do rio Piracuama, o resultado foi de 6,08 e o desvio
padrão de 0,19 (3 amostras).
A condutividade média das águas subterrâneas do Poço foi de 16,71 mS/m e o desvio
padrão de 6,05 (12 amostras). Para as águas da cava inativa, a condutividade média foi de 10,83
mS/m e o desvio padrão de 7,89 (12 amostras). Para as águas da foz do canal do rio Piracuama
foi de 3,33 mS/m e o desvio padrão de 1,52 (3 amostras).
Os sólidos totais dissolvidos das águas subterrâneas do Poço foi de 112 mg/L e o desvio
padrão de 40 (11 amostras). Para as águas da cava inativa, os sólidos totais dissolvidos foram de
57 mg/L e o desvio padrão de 33 (11 amostras). Para as águas da foz do canal do rio Piracuama
foi de 20 mg/L e o desvio padrão de 10 (3 amostras).
A condutividade é um parâmetro que indica a quantidade de sólidos totais dissolvidos em
uma solução. Por correlação, pode-se estabelecer a relação entre estes dois parâmetros em uma
solução quando se tem sua média. Assim, para as águas subterrâneas do Poço a relação entre a
condutividade (em mS/m) e os sólidos totais dissolvidos (em mg/L) foi de 0,15, para as águas da
cava inativa de 0,19 e para as águas da foz do canal do rio Piracuama, de 0,17.
O oxigênio dissolvido nas águas subterrâneas apresentam normalmente valores inferiores
a 3 mg/L, mas aumentam para valores acima de 8 mg/L quando as águas são bombeadas e
amostradas na superfície do terreno. Para a cava inativa os valores também são baixos (média de
4,07 mg/L e desvio padrão de 2,31 para 12 amostras) indicando que há problemas para a vida
animal (peixes), enquanto que para as águas da foz do canal do rio Piracuama, a média foi de
7,43 mg/L com desvio padrão de 0,73 para 3 amostras e, nessas águas a existência de peixes é
bastante evidenciada pela quantidade de predadores (garças brancas) que nelas se alimentam.
A temperatura média das águas subterrâneas do poço é de 21,3 oC (12 amostras) e o
desvio padrão é de 0,8 , indicando que há pouca variação anual. As águas da cava inativa, por
estarem em contato direto com a atmosfera apresentam uma temperatura média ligeiramente
maior (22,9 oC) e o desvio padrão também é maior (4,2), indicando maior variação anual. A
correlação desse parâmetro com as águas da foz do canal do rio Piracuama não é consistente e
não foi considerada, pois o período de amostragem destas águas é pequeno (apenas 3 meses).
Outra comparação que se faz necessária é entre os parâmetros químicos (Cloretos,
Nitrogênio Amoniacal e Fosfatos) analisados nos três ambientes, com os gráficos dos níveis d
´água do Poço e com os gráficos das precipitações (Figura 2).
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 6
7. 0
Inundações p/ cultivo do
arroz c/ desvio das águas
Nível d´água (m)
1
Oscilações devido à influência do canal do rio Piracuama
das águas do rio Paraíba do Sul
2
tempo (h)
3
2000 4000 6000 8000
300
Poço 3
Cloretos (mg/L)
200 Cava Inativa
Foz Canal Piracuama
100
tempo (h)
0
2000 4000 6000 8000
Nitrogênio Amonia (mg/L)
10
Poço 3
8 Cava Inativa
6 Foz Canal Piracuama
4
2
tempo (h)
0
2000 4000 6000 8000
1,0
Poço 3
Fósforo Total (mg/L)
Cava Inativa
Foz Canal Piracuama
0,5
tempo (h)
0,0
2000 4000 6000 8000
120
110
100
90
Precipitação (mm)
80
70
60
50
40
30
20
10
Data
0
0
0
10
1
0
0
10
0
10
7/ 0
0
0
0
0
0
0/ 0
0
1/ 0
0
2/ 0
0
11
1
1
1
0
0
01
01
10 201
24 201
8/ 201
1
14 201
11 201
01
01
18 201
2/ 01
30 201
13 201
27 201
1
5/ 201
1
3/ 201
25 01
11 201
01
16 201
20
1 9 /2 0
1 7 /2 0
3 1 /2 0
28 20
20
22 /20
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/2
/
/
/
/
/
/
4/
5/
6/
/
/
/
/3
/3
/4
/5
/6
/7
/7
/8
/8
/9
/9
10
11
12
2
/1
/1
/2
/2
/3
9/
7/
4/
/1
/1
/1
/1
12
26
23
21
Figura 2. Gráficos dos teores de Cloretos, Nitrogênio Amoniacal e Fósforo Total em função do
tempo, em comparação com os gráficos de níveis d´água do Poço e das precipitações.
Os cloretos, no caso das águas subterrâneas e superficiais da várzea do rio Paraíba do
Sul, são provenientes tanto de águas servidas (consumo de sal de cozinha pela população e que
chegam ao rio por lançamento de esgotos não tratados) como de derivados de organoclorados
utilizados nos defensivos agrícolas dispersos na área da rizicultura.
Na cava, os teores de cloreto pouco variam, pois originam-se das águas do canal do rio
Piracuama, onde a carga de esgotos domésticos dos bairros rurais do município de
Pindamonhangaba e Tremembé que chega até a cava não foram tratados. No aqüífero junto à
cava, os teores que vinham sendo próximos aos encontrados na cava inativa, sobem bruscamente
após períodos de chuvas mais intensas, e o mesmo não ocorre na cava inativa, levantando a
suspeita que seu aumento é devido à infiltração das águas pluviais com carga de pesticidas
organoclorados que foram lançados no solo durante o período de germinação do arroz, em
outubro e novembro de 2010.
A concentração média de cloretos nas águas subterrâneas do Poço (108,44 mg/L) é bem
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 7
8. maior que nas águas da cava inativa (29,93 mg/L) e da foz do canal do rio Piracuama (24,04
mg/L). Mas, o maior contraste corresponde ao desvio padrão encontrado, de 98,51 para o Poço,
7,90 para a cava inativa e 0,76 para a foz do canal do rio Piracuama. A discrepância entre os
valores encontrados para o Poço indica que algum evento mudou bruscamente a concentração de
cloretos nas águas subterrâneas e, o aumento ocorrido a partir de outubro e outro maior, a partir
de dezembro de 2010, parecem estar associados ao lançamento dos pesticidas organoclorados
durante a fase de crescimento do arroz que ocorre durante os processos de inundações da
cultura, com a consequente infiltração destes produtos nas águas subterrâneas.
O nitrogênio amoniacal tem sua origem no uso de fertilizantes durante a calagem do solo,
feita imediatamente antes do plantio do arroz irrigado, nos meses de agosto e setembro. Durante
o período seco, a partir de abril, sua quantidade é insignificante, tanto no Poço quanto na cava
inativa, como é mostrado no gráfico na Figura 2. À medida que a água do canal do rio Piracuama
é desviada para irrigação do arroz, a partir do mês de outubro, há um aumento do teor de
nitrogênio amoniacal no aquífero sedimentar (Poço) enquanto na cava inativa e foz do canal esse
aumento não ocorre, o que mostra que a uréia (nitrato de amônia) utilizada na fertilização,
dissolve-se na água de irrigação e infiltra no aquífero sedimentar quaternário nas áreas dos
tabuleiros de plantio de arroz.
Em análises efetuadas para determinação da dureza, conteúdo de cálcio e de magnésio,
verificou-se, em coleta realizada em março de 2011, que as águas subterrâneas da área da
várzea do rio Paraíba do Sul possuem uma expressiva quantidade de dureza que varia entre 50 e
70 mg/L no aquífero sedimentar quaternário, enquanto que nas águas superficiais sua quantidade
varia entre 6 e 17 mg/L indicando um acúmulo proveniente da fertilização com calcário dolomitíco
do solo antes do plantio, o que geralmente ocorre nos meses de agosto e setembro. Da mesma
forma, a quantidade de cálcio varia entre 2 e 58 mg/L nas águas subterrâneas e entre 5 e 10 mg/L
nas águas superficiais. O conteúdo de magnésio corrobora estes resultados, variando entre 8 e 68
mg/L nas águas subterrâneas e, entre 1 e 7 mg/L nas águas superficiais.
O fósforo total é composto principalmente por fosfatos cuja origem está no uso de
fertilizantes agrícolas para o plantio do arroz. O teor no Poço é sempre maior que na cava inativa,
pois há consumo de fósforo pelas macrófitas que se desenvolvem nesta cava, enquanto é
acumulativo nas águas subterrâneas, pois nelas não há organismos que consomem o fósforo
(ocorre principalmente na forma de fosfatos). Nos meses chuvosos há diluição e o teor de fósforo
total diminui, tanto na cava inativa quanto no aquífero sedimentar quaternário (Poço).
Quanto aos teores de sulfatos observados e discriminados na Tabela 1, pode-se mencionar
que, através da ação da bactéria Desulfovibrio (que reduz o sulfato nas águas), o transforma em
ácido sulfídrico (volátil) que causa mal odor ao ambiente paludal. Nas águas onde ocorre
produção de H2S, os sedimentos tornam-se escuros devido à formação de FeS, como ocorre nas
argilas orgânicas da várzea do rio Paraíba do Sul. Observou-se também diluição dos sólidos totais
com diminuição dos teores, devido ao aporte de água atmosférica durante o período chuvoso que
vai de novembro de 2010 a março de 2011.
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 8
9. 0
Inundações p/ cultivo do arroz
c/ desvio das águas do rio Piracuama
Nível d´água (m)
1
Oscilações provenientes da entrada
das águas do rio Paraíba do Sul
2
tempo (h)
3
2000 4000 6000 8000
100
Poço 3
80
DBO (mg/L)
Cava Inativa
60 Foz Canal Piracuama
40
20
tempo (h)
0
2000 4000 6000 8000
Coliformes Totais (NMP)
1000000
100000
10000 Poço 3
Cava Inativa
1000
Foz Canal Piracuama
100
10
tempo (h)
1
2000 4000 6000 8000
100000
Poço 3
10000
Col.Termo. (NMP)
Cava Inativa
1000 Foz Canal Piracuama
100
10
tempo (h)
1
2000 4000 6000 8000
120
110
100
90
Precipitação (mm)
80
70
60
50
40
30
20
10
Data
0
0
0
0
0
0
2/ 0
0
0
9/ 010
7 / 0 10
4/ 0 1 0
0
7/ 0
0
0
0
0
0
0
0/ 0
10
2/ 0
/1 11
1
1
1
1
26 2 0 1
2 3 20 1
21 20 1
1 6 20 1
27 2 0 1
8/ 201
5/ 201
3 / 20 1
1
1
1 4 20 1
25 201
11 201
18 2 0 1
2/ 01
30 2 01
13 201
10 2 0 1
2 4 2 01
1
11 201
01
22 /2 0
1 9 /2 0
1 7 /2 0
3 1 20
28 2 0
/2
/2
/2
/2
/2
1/
/
4/
5/
6/
/
/
/
/
/
/
/
/
/
/
/3
/3
/4
/5
/6
/7
/7
/8
/8
/9
/9
10
11
12
/1
/2
/2
/3
/1
/1
/1
/1
12
Figura 3. Gráficos dos teores de DBO, quantidades de Coliformes Totais e de Coliformes
Termotolerantes, em função do tempo, comparados com os gráficos de níveis d´água do Poço e das
precipitações.
Verifica-se que a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) apresenta pouca variação anual
para o poço, neste caso está relacionada com a provável existência microbacteriana nas águas
subterrâneas do aqüífero sedimentar quaternário. Contudo, para a cava é maior sua variação e
apresenta um pico após as intensas chuvas do dia 14 de julho de 2010, decrescendo
paulatinamente no restante do ano de 2010 até o início de 2011.
Outra relação que pode ser feita de forma consistente é, entre a Demanda Química de
Oxigênio, o conteúdo de Coliformes Totais e o de Coliformes Termotolerantes (Figura 3). A
quantidade de coliformes totais sofre pouca variação no Poço. Na cava inativa, cujos níveis d
´água acompanham os níveis do Poço, há um aumento no número de coliformes totais à medida
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 9
10. em que o nível d´água desce, entre abril e julho de 2010. A partir de novembro de 2010, quando
há contribuição das águas provenientes do desvio das águas do canal do rio Piracuama e das
águas pluviais, o seu número decresce paulatinamente, apresentando uma associação com o
aumento da quantidade de água advindas das fontes externas, nas águas superficiais da cava
inativa. Os coliformes termotolerantes também são pouco significativos no poço. Contudo, na cava
inativa, seu número aumenta com o período seco (inverno) e diminui no verão, no período
chuvoso.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contaminações advindas das águas superficiais, em contato com as águas subterrâneas
nas cavas abertas, abandonadas ou em operação, espalham-se pelos depósitos arenosos e
contaminam suas águas rapidamente, devido ao alto valor de Transmissividade e de
Condutividade Hidráulica. (DINIZ, et al, 2010, DINIZ e MICHALUATE, 2002)
A agricultura é reconhecidamente uma fonte potencial de contaminação das águas
subterrâneas. A oxidação da amônia, derivada de fertilizantes com uréia, em um processo
biológico aeróbico, a transforma em nitrito, sob ação do grupo de bactérias Nitrosomonas e, ao
final, em nitrato, pelo grupo Nitrobacter (CHAPELLE, 2001). Como a circulação das águas
superficiais e subterrâneas, na área da várzea do rio Paraíba do Sul é muito rápida, em grande
parte a amônia não sofre oxidação, com um conseqüente baixo teor de nitrito e nitrato.
Por fim, vale destacar que as características químicas das águas do aquífero sedimentar
quaternário são influenciadas pela exposição das cavas ao ar atmosférico, resultando em
aumento do pH, turbidez, cor, nitrogênio amoniacal e oxigênio dissolvido.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio financeiro recebido da FAPESP - Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São, por meio do Processo no 2008/05400-9.
6. REFERÊNCIAS
CHAPELLE, F.H. Ground-water microbiology and geochemistry. 2ª Ed., John Wiley & Sons,
New York, 468 p., 2000
DINIZ, H. ; GALINA, M. H. ; BASTISTA, G. T. ; TARGA, M. S. . Hydrogeological characteristics of
the Paraíba do Sul river flood plains: a case study of a mining area in the Tremembé municipality,
SP, Brazil (doi:10.4136/ambi-agua.155) (Portuguese). Revista Ambiente & Água, v. 5, p. 76-107,
2010.
DINIZ, H.N.; MICHALUATE, W.J. Interpretação de testes de vazão em poços tubulares
profundos - dimensionamento e especificações de bombas submersas. 1ª Ed., Instituto
Geológico do Estado de São Paulo, São Paulo, v.1, 78 p., 2002
GALINA, M. H., DINIZ, H., QUINTANILHA, J. A., BASTISTA, G. T. The increase of artificial lakes as
a result of sand mining activities, in the Paraíba do Sul Rivers Basin, São Paulo State, Brazil. In:
GEOgraphic Object-Based Image Analysis, 2010, Gent. GEOBIA. Gent, Belgiun, 2010.
REIS, B.J. Avaliação da expansão da atividade de extração de areia na planície aluvial da
bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul no trecho entre Jacareí e Pindamonhangaba no
período de 1993 a 2003. Dissertação de Mestrado em Ciências Ambientais, Universidade de
Taubaté, Taubaté, 112 p, 2005
13o Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Página 10